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SANEAMENTO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE AULA 5 Profª Ana Lizete Farias 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula trataremos de um tema novo, principalmente no contexto da sustentabilidade, que é sobre a importância da utilização de águas residuais por nossa sociedade, cuja demanda de água está em constante aumento, mas os recursos hídricos sofrem exigências em relação à demanda de captação e contaminação. Também olharemos o contexto em áreas urbanas e agrícolas permeado pela necessidade de desenvolver métodos mais sustentáveis para a gestão desse importante recurso nas próximas décadas. Ainda nesse sentido estudaremos a sinergia entre os serviços dos ecossistemas e a gestão das águas residuais. Depois desses temas vamos pensar sobre quais são os principais impactos na saúde da população decorrentes de saneamento ambiental inadequado. E, por fim, vamos entender a realidade dos assentamentos em áreas irregulares, onde os serviços públicos de saneamento básico são inexistentes ou precários. Em nossa prática aprenderemos sobre a utilização das águas de reúso para consumo humano na Califórnia, Estados Unidos, onde a seca drástica que assola o estado nas últimas décadas tem imposto essa necessidade de mudança. TEMA 1 – REÚSO DE ÁGUAS As águas de reuso (águas residuais), ou seja, os efluentes tratados após serem submetido a processos químicos, físicos e biológicos são um recurso valioso que pode se tornar um pilar fundamental na construção de um novo modelo de economia. Segundo dados da WWAP (Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos Nações Unidas, 2017), mais de 80% das águas residuais mundiais são despejadas no meio ambiente sem qualquer tratamento. Em países de alta renda, a motivação para avançar no tratamento de águas residuais baseia-se no desejo de manter a qualidade do meio ambiente ou ter uma fonte alternativa de água para o enfrentamento à escassez de água. No entanto, ainda segundo informações do WWAP (2017), o despejo de águas residuais não tratadas continua a ser uma prática usual, especialmente em 3 países em desenvolvimento, devido à falta principalmente de infraestrutura, capacidades e arranjos técnicos bem como financiamentos institucionais. As principais consequências da sua má utilização são os efeitos nocivos sobre a saúde humana, bem como repercussões desfavoráveis para as atividades econômicas. No Brasil, a crise hídrica em diversos estados, principalmente a partir do ano de 2014, acabou como incentivo para se fortalecer a utilização das águas de reúso como novos mananciais, ou alternativos de água potável em tempo de escassez. De lá para cá, apresentou crescimento tímido no país, mas com expectativa de que ganhe mais espaço nos próximos anos, principalmente na indústria. O projeto de água de reúso para fins industriais do hemisfério Sul com maior visibilidade no território brasileiro abastece o Polo Petroquímico de Capuava, em Mauá (SP), e outras empresas da região do ABC paulista. Batizado de Aquapolo, esse projeto é considerado o maior empreendimento para a produção de água de reúso industrial na América do Sul e o quinto maior do mundo com capacidade de produzir 1000 litros/segundo de água de reúso, dos quais fornece por contrato 650 litros/segundo para o Polo Petroquímico da Região do ABC Paulista, onde o referido volume equivale ao abastecimento de uma cidade de 500 mil habitantes (Aquapolo, 2018). Ainda segundo informações do projeto, as empresas contempladas deixaram de usar mensalmente 900 milhões de litros de água potável, ao custo de, em média, 50% menos do que a água potável (Reúso..., S.d). Sabe-se que há, no Brasil, conforme aponta Lima (2018), a existência de vários complexos industriais de pequenos e grandes portes, cujos investimentos podem ser realizados e integrados às infraestruturas de saneamento existentes, novas ou ampliadas, para viabilizar o reúso da água proveniente do tratamento de esgoto sanitário. Os gestores do projeto Aquapolo bem como especialistas no tema, no entanto, relatam que a maior dificuldade na implantação é a falta de padrão nas legislações municipais e estaduais para que os investimentos em reúso de água fossem ampliados, ou seja, há a necessidade de se fortalecer quanto aos aspectos regulatórios, clareza de propriedades e incidências tributárias, tal qual descrito por Lima (2018). 4 Dessa forma, a favor do reúso hoje tramitam no Congresso Nacional projetos de lei em textos dedicados a subsídios para empresas, redução de custos e diminuição de impostos para equipamentos utilizados em reúso, por exemplo. Há ainda uma iniciativa do Ministério das Cidades de criar a Política Nacional de Reúso de Água, mas ainda sem previsão de implantação futura imediata. De toda forma, por uma grande parte do setor industrial e governamental no mundo inteiro as águas residuais continuam a ser um recurso subvalorizado, muitas vezes visto como um fardo para ser eliminado ou um incômodo a ser ignorado. Essa percepção precisa mudar de modo a refletir corretamente seu valor, pois para além dessa visão as águas residuais são fontes potencialmente acessíveis e sustentáveis de água, energia, nutrientes, matéria orgânica e outros subprodutos úteis. Isto é especialmente importante no contexto de uma economia circular, cujo desenvolvimento econômico é equilibrado com a proteção de recursos e proteção ambiental. TEMA 2 – ÁGUAS RESIDUAIS EM SISTEMAS URBANOS E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Como vimos anteriormente, as águas residuais têm assumido um papel cada vez mais importante dentro do contexto das novas economias atreladas à busca por uma equanimidade para as questões sociais e ambientais em termos planetários. Nesse sentido, a aceleração de crescimento urbano, as mudanças nas práticas familiares e de trabalho bem como a expansão de assentamentos, principalmente por processos migratórios de grande escala desafiarão cada vez mais a prestação de serviços, dentre eles a questão do saneamento. Essa é uma situação agravada pelo impacto de eventos extremos, mudanças climáticas e migração em áreas em conflito. Mudanças nos padrões de urbanização resultaram em mais desigualdade, com os pobres em algumas regiões desenvolvidas enfrentando os mesmos desafios que os das regiões em desenvolvimento. Até 2030, a demanda global por energia e por água deve crescer 40% e 50%, respectivamente (UN- Habitat, 2016) e a maior parte desse crescimento será nas cidades, o que exigirá novas abordagens para a gestão de águas residuais e que pode fornecer 5 algumas das respostas para desafios como a produção de alimentos e o desenvolvimento industrial. Da mesma forma, podemos raciocinar em relação à agricultura, em que as lacunas de conhecimento relacionadas à poluição da água da agricultura são consideráveis. A real contribuição das culturas, pecuária e aquicultura para a poluição da água não é conhecida pela maioria das bacias e países, particularmente no mundo em desenvolvimento (FAO, 2013). Mas mesmo diante desse contexto incerto, o alto conteúdo de nutrientes, domésticos e municipais águas residuais apresenta uma opção atraente, especialmente onde os recursos hídricos convencionais são escassos ou ausentes, desde que utilizadas com as devidas precauções de segurança. Se adequadamente tratadas e aplicadas com segurança, as águas residuais são uma valiosa fonte de água e nutrientes, contribuindo para a produção de alimentos. (FAO, 1997). Outra maneira importante de utilização das águas residuais de forma diretamente para agricultura é por meios de recarga gerenciada de aquíferos onde são tratadas ou parcialmente tratadas e, após, infiltradas em aquíferos através de lagoas, trincheiras, lagoas ou poços de injeção e, posteriormente, abstraído (Dillon; Escalante; Tuinhof, 2012).O que podemos analisar e concluir com base nesses fatos é que há um caminho sem volta em relação à gestão das águas residuais, mas que isso precisa ser feito com segurança, baseado em estudos que ampliem a capacidade de sua utilização. Os sistemas a serem projetados deverão incluir características acerca da origem, componentes e nível de contaminantes para que o uso final pretendido. E para que isso aconteça, é fundamental que governos, o setor da agricultura e industrial bem como a sociedade estejam engajados quanto ao tratamento adequado dessas águas. TEMA 3 – ÁGUAS RESIDUAIS E OS ECOSSISTEMAS Da mesma forma, como vimos em relação ao tema anterior, as águas residuais, quando administradas de forma inadequada, trazem efeitos nocivos para os ecossistemas, no entanto ainda assim existem inúmeras oportunidades para criar sinergias entre ambos (WWAP, 2017). Podemos examinar essas interações com base em duas perspectivas. Primeiro, os serviços ecossistêmicos podem contribuir para o tratamento de 6 águas residuais como alternativas ou suplemento para sistemas convencionais de tratamento de água. Em segundo lugar, os recursos incorporados em águas residuais – incluindo água, nutrientes e carbono orgânico, sob circunstâncias apropriadas – serem usadas para rejuvenescimento e remediação de ecossistema, melhorando os serviços ecossistêmicos. Essas premissas estão estabelecidas no trabalho desenvolvido pela WWAP - United Nations World Water Assessment Programme (2018) no sentido de trabalhar-se com Soluções Baseadas na Natureza (SbN), ou seja, soluções que usam, ou simulam, processos naturais a fim de contribuir para o aperfeiçoamento da gestão da água. Florestas, zonas úmidas e pastagens, bem como solos e plantações, quando administrados adequadamente, fornecem uma “infraestrutura verde” de alto valor para melhorar a proteção da fonte de água. Desempenham um papel importante na regulação de vazões de água ao mesmo tempo que mantêm a qualidade dessa ao reduzirem a quantidade de sedimentos, impedindo a erosão do solo bem como a captura e retenção de contaminantes (UNEP-DHI/IUCN / TNC, 2014). As SbN trabalham com a natureza, não contra ela e por isso oferecem meios essenciais para ir além das abordagens tradicionais para aumentar os ganhos em eficiência social, econômica e hidrológica, no que diz respeito à gestão da água. Além disso, são especialmente promissoras na obtenção de progressos em direção à produção alimentar sustentável, à melhora dos assentamentos humanos, ao acesso ao fornecimento de água potável e aos serviços de saneamento, e à redução de riscos de desastres relacionados à água (WWAP, 2018). TEMA 4 – IMPACTOS NA SAÚDE AMBIENTAL Podemos trazer, com base nos textos anteriores, algumas importantes reflexões em relação ao impacto na saúde ambiental. Vimos que as questões que circunscrevem as águas residuais trazem consigo aspectos amplos envolvendo desde os altos impactos provocados pelos processos industriais, urbanização acelerada e uma agricultura que utiliza em larga escala produtos de grande periculosidade. Como uma consequência direta desses elementos, ou seja, no contexto da complexidade da nossa sociedade e do impacto que esse modelo tem 7 causado ao ambiente natural adicionamos, no caso do Brasil, os baixos índices em relação ao saneamento ambiental. Dessa forma, diversos autores apontam que há uma série de riscos que se relacionam à saúde ambiental que podem ser assim discriminados: Riscos relacionados com a ingestão de água contaminada por agentes biológicos (bactérias, vírus e parasitos), por meio de contato direto, ou por meio de insetos vetores que necessitam da água em seu ciclo biológico; Riscos derivados de poluentes químicos e radioativos, geralmente efluentes de esgotos industriais, ou causados por acidentes ambientais. Não há dúvidas que, com base na visão desses riscos, os efeitos prováveis decorrentes de um sistema de abastecimento de água são, sem dúvida, positivos, na medida em que se constituem um serviço que assegura melhoria e bem-estar da população. O fato é que a falta de saneamento básico e de rede de esgoto deixa o país em situação de maior vulnerabilidade a doenças, desde as mais corriqueiras como diarreia e doenças dermatológicas, até o agravamento de epidemias como a dengue, chikungunya e zica. Dessa forma, uma grande parcela da população que não tem acesso ao saneamento básico está suscetível a diversas doenças como descrito em Funasa (2015): Febre tifoide: infecção que se dá pelo contato direto com o portador da doença ou pelo consumo de água e alimentos contaminados com bacilos eliminados nas fezes e urina do doente. A falta de higiene e condições sanitárias precárias são determinantes para proliferação da Salmonela entérica Typhi, bactéria causadora da doença. Cólera: causada pela bactéria víbrio colérico (Vibrio cholerae), é uma doença infectocontagiosa aguda do intestino delgado. Sua contaminação dá‐se principalmente pela ingestão de alimentos contaminados, malcozidos ou o contato direto com as fezes de pessoas infectadas. A falta de higiene e saneamento é uma das principais fontes de contaminação da doença. Leptospirose: os principais transmissores da doença são os ratos urbanos, responsáveis por contaminar a água com a bactéria Leptospira, presente na urina desses roedores. A contaminação acontece quando o 8 indivíduo entra em contato com a água contaminada e a bactéria entra na corrente sanguínea através de pequenos ferimentos ou mucosas. Disenteria bacteriana: dá‐se pelo contato com fezes ou alimentos contaminados pela bactéria Shigella. Parasitoides: a convivência em ambientes insalubres, sem o saneamento correto e acesso a água potável, pode ocasionar a proliferação de parasitas humanos. O contato com água e fezes contaminadas provoca doenças proeminentes de protozoários lombrigas e vermes. A proliferação de agentes causadores de epidemias como o mosquito Aedes aegypti dá um tom ainda mais preocupante a essa questão. O saneamento básico é fundamental para que a população se sinta envolvida num conjunto de medidas para combate ao mosquito e a outras doenças, porém se existe o abandono por parte dos gestores, dificilmente os moradores se sentirão comprometidos com as ações. O abandono de regiões periféricas ou até mesmo cidades inteiras favorece a cultura do acúmulo de lixo além de outras condições favoráveis à incidência de criadouros do mosquito. Como já vimos anteriormente, há um custo econômico expressivo em toda essa situação e que estão relacionadas às Doenças Relacionadas a um Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), que atingem as populações vulneráveis e de baixa renda, destacando entre essas doenças as diarreias (Funasa, 2010). A situação do saneamento tem, portanto, reflexos imediatos nos indicadores de saúde, e um dos mais graves, mesmo não existindo indicadores mais recentes, é a taxa de mortalidade infantil no Brasil. Em 2011, essa taxa foi de 12,9 mortes por 1.000 nascidos vivos em 2011, um valor bem mais elevado que o da média mundial ou que as taxas de mortalidade infantil de Cuba (4,3‰), Chile (7,8‰) ou Costa Rica (8,6‰). Dessa forma, quanto maior o acesso ao saneamento, menor a mortalidade infantil. Outro indicador preocupante está relacionado à longevidade da população onde a esperança de vida no Brasil, de 73,3 anos em 2011, foi menor que a média da América Latina (74,4 anos) (CEBDS, 2014). 9 Trazemos alguns elementos no sentido de ilustrar a complexidade do tema, que exige soluções integradas não somente em termos institucionais e ambientais como vimos na questão das SbN - Soluções Baseadas na Natureza. TEMA 5 – SANEAMENTO EM ÁREAS IRREGULARES Grande parte de todo contexto de saneamento básico inadequado ocorre em áreasjá degradadas ou ainda, segundo a terminologia usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, assentamentos irregulares ou aglomerados subnormais. De acordo com a referida instituição, a definição de assentamentos irregulares ou aglomerados subnormais é o conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais (barracos, casas etc.) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostos, em geral, de forma desordenada e densa. Segundo o Censo 2010 do IBGE, o Brasil tinha cerca de 11,4 milhões de pessoas morando em favelas e cerca de 12,2% delas (ou 1,4 milhão) estavam no Rio de Janeiro. Considerando- se apenas a população dessa cidade, cerca de 22,2% dos cariocas, ou praticamente um em cada cinco, eram moradores de favelas (IBGE, 2010). Segundo os estudos realizados pela TrataBrasil (2016), além da carência de serviços públicos, outro aspecto que caracteriza essas ocupações é a irregularidade fundiária, a qual ocorre seja por meio da ocupação de terrenos de propriedade alheia ou mesmo localizados em áreas de proteção ambiental, tal como nas margens de rios, estuários, encostas e topos de morro. Nesses assentamentos irregulares, os serviços públicos de saneamento básico são inexistentes ou precários ocorrendo frequentes situações inadequada de água em recipientes e baldes, poços e fossas rudimentares, esgoto a céu aberto e acúmulo de lixo, além de situações de desabamentos de moradias localizadas em áreas de risco, fatores que têm grande contribuição para maior vulnerabilidade social e susceptibilidade dessa população a problemas de saúde pública, assim como contaminação do meio ambiente (TrataBrasil, 2016). Além disso, também é comum encontrar, nessas áreas, situações de ligações clandestinas às redes de abastecimento de água, as quais resultam, entre outros, em possibilidade de contaminação da água distribuída nas redes públicas, além de maiores perdas de água, sejam físicas ou financeiras. 10 Adicionalmente, os esgotos dessas áreas, na sua grande maioria, são lançados diretamente em córregos, a céu aberto ou em fossas rudimentares. A ilegalidade da ocupação dessas áreas bem como a falta de regularização fundiária perante os aspectos legais são fatores que impedem aos prestadores de serviços de ofertar, de forma regular, os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. A consequência imediata é que a população residente nesses locais tem como alternativa recorrer a formas precárias de abastecimento de água e esgotamento sanitário, causando prejuízos à saúde pública e ao seu próprio desenvolvimento. Outra questão importante que traz vultosos prejuízos financeiros aos prestadores de serviços são as ligações clandestinas às redes existentes, contribuindo para o aumento das perdas físicas de água, comprometendo a prestação dos serviços nas áreas de entorno e causando. Conforme as conclusões apontadas em TrataBrasil (2016), esse conjunto de fatores associados a outros elementos vistos em aula tornam cada vez mais distante e oneroso ao poder público o alcance da universalização dos serviços, princípio fundamental da Lei de Diretrizes Nacionais do Saneamento Básico. NA PRÁTICA Saiba mais Califórnia considera reciclar águas residuais para enfrentar seca: possibilidade de reutilizar águas contaminadas sempre gerou rejeição Californianos mudaram de opinião após anos consecutivos de secas. Os danos provocados pela seca na Califórnia obrigaram as autoridades americanas a considerar a reciclagem de águas residuais como uma opção para garantir o recurso no longo prazo. A possibilidade de reutilizar para consumo humano as águas contaminadas com urina e fezes sempre gerou rejeição por causa de seu sabor. Os californianos, contudo, começam a mudar de opinião após quatro anos consecutivos de duras condições climáticas, sem chuvas nem nevascas. A neve das montanhas de Sierra Nevada, uma das principais fontes para o consumo, praticamente desapareceu, enquanto as importações de água procedentes do rio Colorado caíram. “Todo mundo está estudando a reciclagem das águas residuais”, explicou o especialista e professor emérito da Universidade Califórnia Davis, George Tchobanoglous. “Atualmente jogamos no mar uma grande parte dessas águas, 11 quando poderíamos reutilizá-la”, afirmou. “Pode-se fazer e é rentável em grandes aglomerações costeiras”. Em um estudo publicado no ano passado, Tchobanoglous estimou que até 2020 as águas recicladas poderão alimentar uma quinta parte dos 38 milhões de habitantes de Califórnia. O estado do Texas, que também vive uma seca, começou a usar há tempo o sistema que recupera a água dos banheiros, duchas, máquinas de lavar e lava-louças para dar-lhes uma segunda vida. Os que apoiam esse método na Califórnia apontam o exemplo da usina de depuração do condado de Orange, ao sul de Los Angeles, que abriu em 2008 e cada dia trata 378 milhões de litros, suficientes para abastecer 850.000 personas. No condado de Los Angeles, há outra usina menor conhecida como West Basin, também especializada em reciclar água para consumo e uso industrial. “Até agora víamos as águas residuais como um desperdício, mas agora é um recurso de muito valor”, apontou seu responsável, Shivaji Deshmukh. Diferentemente do Texas, onde as usinas distribuem água reciclada aos consumidores, a Califórnia as realoca para os lençóis freáticos antes de ser bebida. A qualidade é igual em ambos os casos: primeiro se microfiltra a água para eliminar qualquer organismo, depois se purifica e passa por raios ultravioletas que matam as últimas bactérias. A água acaba sendo quase mais pura do que a engarrafada dos supermercados, por isso é preciso acrescentar alguns sais minerais, que dão o sabor. A NASA recorre a essa técnica na Estação Espacial Internacional. Uma máquina recolhe a urina e o suor dos astronautas para produzir a água do café ou a que é usada para escovar os dentes. O custo final desse processo pode contribuir para melhorar a imagem das águas residuais. “A água engarrafada vale cerca de 10 mil vezes mais sem que sua qualidade seja necessariamente melhor”, afirmou o porta-voz de West Basin, Ron Wildermuth. “Há um ou dois dias, essa água estava em cloacas. Agora tem uma das melhores qualidades que podemos encontrar”, afirmou, antes de beber um gole. Fonte: California..., 2015. FINALIZANDO Ao longo da nossa aula, aprendemos sobre as águas de reúso ou águas residuais como um recurso valioso que pode se tornar um pilar fundamental na construção de um novo modelo de economia. No sentido de aprendermos mais sobre a utilização desse recurso em larga escala, estudamos a sua utilização em relação às questões urbanas, ao setor industrial e à agricultura. Também aprendemos sobre águas residuais no contexto dos ecossistemas e com isso 12 aprendemos sobre as SbN – soluções baseadas na natureza. De posse desses elementos, pudemos analisar o quadro preocupante das doenças que afetam o Brasil decorrente dos baixos índices de saneamento ambiental. Por fim, de forma a somar ao nosso conhecimento, deparamo-nos com o tema das ocupações irregulares e o impacto sobre o alcance da universalização dos serviços, princípio fundamental da Lei de Diretrizes Nacionais do Saneamento Básico. Complementarmente à nossa aula, em nossa prática, vimos que a utilização das águas residuais para o consumo humano já não é uma realidade distante, como nos prova o estado da Califórnia. A realidade da escassez de água frente a questões climáticas, mas também de desperdício por parte da população direcionou as ações do governo e está mudando a cultura local. Em relação ao Brasil, vemos que esse avanço tecnológico ainda tem um longo caminho a percorrer, poisestamos trilhando aspectos básicos como doenças causadas por água contaminada. 13 REFERÊNCIAS AQUAPOLO. Disponível em: <www.aquapolo.com.br>. Acesso em: 24 jan. 2019. CALIFÓRNIA considera reciclar águas residuais para enfrentar seca. G1, 29 out. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/10/california- considera-reciclar-aguas-residuais-para-enfrentar-seca.html>. Acesso em: 24 jan. 2019. CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. 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