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87 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa Unidade III 7 As culturAs diAspóricAs (ÍndiA, nigériA e cAribe – JAmAicA) Nesta unidade, você vai estudar sobre os países de colonização britânica cuja cultura local exerceu influência sobre a própria cultura inglesa. Denomina-se diáspora a evasão de migrantes oriundos de países de uma determinada ex-colônia para a antiga metrópole e outros lugares. Isso nos remete ao fato de, ao visitarmos o Reino Unido, nos depararmos com indianos e africanos oriundos de países como a Nigéria e a Libéria, entre outros. Trabalharemos com a Índia, o Caribe (representado pela Jamaica) e a Nigéria. Todavia, a abordagem será mais crítica, pois não temos o objetivo de mostrar a história, como fizemos em outros capítulos, e sim de apresentar as questões e consequências da descolonização desses países e as reconfigurações culturais que eles tiveram no período pós-colonial. Como não somos indianos, jamaicanos ou africanos, não teríamos propriedade em mostrar uma história adequada. 7.1 O pós-colonial Você já deve saber que o pós-colonial apresenta uma conotação de sucessão, ou seja, o pós-colonial remete-se ao colonial simplesmente pelo fato de a colônia ter se desvinculado da antiga metrópole. Tal definição é reducionista e implicaria muita polêmica. Por essa razão, é preciso pensar uma definição mais objetiva acerca desse processo. Ascroft afirma que: Embora nós pudéssemos refinar nossa definição para que o pós-colonial se refira a toda aquela produção a qual leva em conta, de um modo ou de outro, com a realidade estável do poder colonial (incluindo suas manifestações mais recentes), o “pós-colonial” está ainda bem empregado, como ele esteve na nossa primeira edição, para se referir à pós-colonização. Esse é um processo no qual sociedades participam sob um longo período de tempo, através de diferentes fases e modos de engajamento com o poder colonizador, durante e após o período real do controle colonial direto (ASCROFT apud HALL, 2009, p. 195). Junto à questão pós-colonial, na era da pós-modernidade, teríamos a diáspora – deslocamento de contingente populacional em busca de melhores condições de vida. Vamos imaginar se seria possível firmarmos uma nação em um solo sem que haja sequer um deslocamento. A resposta é que não é possível realizar tal proeza, primeiro porque necessitamos de outra pessoa para exercermos a nossa volição da comunicação. Sendo assim, esse princípio básico é estendido à questão do deslocamento de pessoas de uma origem diferente, junto com suas ideologias, sempre para uma formação de um novo elemento – o qual, às vezes, não é tão visível a nós. 88 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 O conceito fechado de diáspora se apoia sobre uma concepção binária de diferença. Está fundado sobre a construção de uma fronteira de exclusão e depende da construção de um “outro” e de uma oposição rígida entre o dentro e o fora. Porém, as configurações sincretizadas da identidade cultural caribenha requerem a noção derridaiana de différence – uma diferença que não funciona através de binarismos, fronteiras veladas que não separam finalmente, mas são também places de passage, e significados que são posicionais e relacionais, sempre em deslize ao longo de um espectro sem começo nem fim. A diferença, sabemos, é essencial ao significado, e o significado é crucial à cultura. Mas num movimento profundamente contraintuitivo, a linguística moderna pós- sausseriana insiste que o significado não pode ser fixado definitivamente. Sempre há o “deslize” inevitável do significado na semiose aberta de uma cultura, enquanto aquilo que parece fixo continua a ser dialogicamente reapropriado. A fantasia de um significado final continua assombrada pela “falta” ou “excesso”, mas nunca é apreensível na plenitude de sua presença a si mesma (HALL, 2009, pp. 32-33). O que seria essa construção do outro? Trata-se justamente de um processo que aconteceu aqui no Brasil – o sincretismo. Basta lembrarmos as religiões práticas no Brasil. Várias delas são sincréticas – divindades africanas, de candomblé ou umbanda, junto à nossa igreja batista. No processo diaspórico, temos uma nova abertura de caminhos, pela qual se apreende e ao mesmo tempo se abre. O novo é o que Bhabha chama de entre-lugar. O espaço fronteiriço da cultura exige o encontro com o “novo”, que não seja parte de um continuum de passado e de presente. Ele cria a ideia do novo como ato insurgente de tradução cultural. Essa arte não apenas retoma o passado como causa social ou precedente estético, ela renova o passado, refigurando-o como um “entre-lugar” contingente, que inova e interrompe a atuação do presente. O “passado-presente” torna-se parte da necessidade, e não da nostalgia, de viver (BHABHA, 1998, p. 27). Como a diáspora negra pode ser analisada no Brasil? Podemos concluir que houve diáspora no Brasil também? Sim. Primeiramente, houve a diáspora negra, forçada a partir de um sistema de repressão e exploração da condição humana: a diáspora dos africanos negros. Eles chegaram ao Brasil de regiões diferentes e tiveram não só que se adaptar à cultura local, mas também que se relocar quanto aos costumes e famílias. Reforçando a concepção de Bhabha (1998), a diáspora, questão de necessidade humana, abrirá um novo caminho – o entre lugar. Não é o lugar de origem, tampouco o de destino. Trata-se de um novo lugar, um lugar no meio (entre). Não podemos jamais ir para casa, voltar à cena primária enquanto momento esquecido de nossos começos e “autenticidade”, pois há sempre algo no meio [between]. Não podemos retornar a unidade passada, pois só podemos conhecer o passado, a memória, o inconsciente através de seus efeitos, isto 89 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa é, quando este é trazido para dentro da linguagem e de lá embarcamos numa (interminável) viagem. Diante da “floresta de signos” (Baudelaire), nos encontramos sempre na encruzilhada, com nossas histórias e memórias (“relíquias secularizadas”, como Benjamin, o colecionador, as descreve) ao mesmo tempo em que esquadrinhamos a constelação cheia de tensão que se estende diante de nós, buscando a linguagem, o estilo, que vai dominar o movimento e dar-lhe forma. Talvez seja mais uma questão de buscar em casa aqui, no único momento e contexto que temos [...] (CHAMBERS apud HALL, 2009, p. 27). Quanto à globalização – processo que existe desde quando o homem iniciou suas migrações –, contudo, o termo referido tem uma conotação que apresenta uma concepção de intensidade e aproximação. Podemos verificar que: A globalização, obviamente, não é um fenômeno novo. Sua história coincide com a era da exploração e da conquista europeias e com a formação dos mercados capitalistas mundiais. As primeiras fases da dita história global foram sustentadas pela tensão entre esses polos de conflito – a heterogeneidade do mercado global e a força centrípeta do Estado-Nação –, constituindo juntas um dos ritmos fundamentais dos primeiros sistemas capitalistas mundiais. O Caribe foi um dos seus cenários chave, dentro do qual lutou-se pela estabilização do sistema europeu de Estados-nação, alcançado em uma série de acordos imperiais. O apogeu do imperialismo no final do século dezenove, as duas guerras mundiais e os movimentos pela independência nacional e pela descolonização no século XX marcaram o auge e o término dessa fase (HALL, 2009, pp. 34-35). Sendo assim, podemos dizer que o processo de descolonização – a partir da voz do centro (Grã- Bretanha) possibilitou a criação de novas identidades. Estudando um pouco sobre a Índia, a Jamaica (Caribe) e a Nigéria (África), verificaremos se a descolonização, junto à globalização, tem possibilitado essas novas identidades. Pensemos, antes de irmos ao próximo ponto. Seriapossível termos um país multicultural, como o nosso, sem que haja movimentos diaspóricos? Impossível. Temos somente a nossa identidade, surgida a partir de várias outras, que se pluralizaram e se ressignificaram com a interação. 8 As nAções diAspóricAs 8.1 Índia A Índia foi recentemente retratada no Brasil em uma novela da Rede Globo chamada Caminho das Índias – muito apreciada pelo público brasileiro. Na maioria dos meios de comunicação midiática, em representações desse tipo criam-se construções estereotipadas e, por vezes, estigmatizadas, principalmente quando se trata de uma cultura pouco conhecida. 90 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Figura 28 Mesmo com pouco conhecimento acerca do indiano ou da Índia, país de cultura milenar e exótica, tendemos a nos lembrar que este é o país dos belos tecidos, da música oriental e de divindades representadas por animais – entre eles a vaca, animal sagrado para o hindu. Porém devemos tomar muito cuidado com essas generalizações e, principalmente, com os estereótipos, fruto de nossa concepção eurocêntrica ou não asiática. Vejamos os antecedentes históricos. 8.1.1 Antecedentes históricos Sabemos que a Índia é um país milenar, com mais de 5000 anos de existência, e que apresentou várias dinastias. Todavia, vamos nos ater somente à Índia sob o domínio britânico, discutindo questões a respeito de nação, identidade e diáspora. Em 31 de dezembro de 1600, a Rainha Elizabeth I da Inglaterra outorgou uma carta real à Companhia Inglesa das Índias Orientais para comerciar com o oriente. Os primeiros navios da companhia chegaram à Índia em 1608, aportando em Surat (atualmente, Gurzarate). Quatro anos mais tarde, comerciantes ingleses derrotaram os portugueses numa batalha naval e com isso ganharam a simpatia do imperador mongol Jahangir. Em 1615, o Rei James I enviou um embaixador à corte mongol, negociando-se então um tratado de comércio pelo qual a companhia poderia erguer postos comerciais na Índia em troca de bens europeus. A companhia comerciava itens como algodão, seda, salitre, índigo e chá. Em meados do século XVII, a companhia havia estabelecido postos comerciais nas principais cidades indianas, como Bombaim, Calcutá e Madras, ademais da primeira feitoria em Surat, erguida em 1612. Em 1670, o Rei Charles II outorgou à companhia o direito de adquirir território, formar um exército, cunhar moeda e exercer jurisdição em áreas sob seu controle. No final do século XVII, a companhia se 91 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa havia tornado um “país” no subcontinente indiano, com considerável poder militar, e administrava três “presidências” (administrações coloniais regionais). Os britânicos estabeleceram uma base territorial no subcontinente pela primeira vez quando tropas financiadas pela companhia derrotaram o Nababo bengalês Siraj Ud Daulah na batalha de Plassey, em 1757. As riquezas bengalesas foram expropriadas, o comércio local foi monopolizado pela companhia e a Bengala tornou-se um protetorado sob controle direto britânico. A fome de 1769 a 1773, causada pela exigência de que os fazendeiros e artesãos bengaleses trabalhassem por remuneração irrisória, matou dez milhões de pessoas. Catástrofe semelhante ocorreu quase um século depois, depois que o Reino Unido estendeu o seu controle sobre o subcontinente, quando 40 milhões de indianos morreram de fome em meio ao colapso da indústria local. O interessante é que os motivos coloniais de exploração são os mesmos: o enriquecimento, obter vantagem sob o outro, explorar o outro. Vejamos como o Império Britânico se estabeleceu na Índia: O Império Britânico começou na Índia, apelidada de “a joia do Império”. Desde a época de Elizabeth I, a Inglaterra tinha planos de se instalar na Índia devido às suas especiarias, mas a presença inglesa só chegaria de fato em 1640, com a construção de um forte comercial. A partir daí, a Inglaterra começou seu domínio econômico, para chegar em seguida com o aparato militar e cultural. Já em 1805, a Inglaterra era dona da Índia. Com a conivência dos príncipes locais, os indianos rapidamente se tornaram empregados dos ingleses. Em 1857, porém, veio a sangrenta Revolta dos Cipaios (1857-1858), motivada por anos de opressão. Os ingleses puniram de forma cruel os indianos rebeldes. A partir daí, os laços entre os dois povos nunca mais seriam os mesmos. Um sentimento de desconfiança passou a marcar o relacionamento entre as duas culturas, levando à criação de um movimento pela independência que só seria conquistada na segunda metade do século XX (SILVA, 2005, p. 230). Nós sabemos que todo país colonizado apresenta, de alguma forma, resistência contra a penetração cultural do país colonizador, dominador, às vezes considerado civilizador – que na verdade é um castrador – direta ou indiretamente. Pode-se afirmar que a resistência direta se dá por meio do confronto armado, pela guerra e derramamento de sangue; por outro lado, a resistência indireta é aquela que se dá por meio do diálogo e manifestações culturais, dentre outros modos. Na Índia não foi diferente. Houve períodos do Raj – Reino Unido dominando o continente indiano – em que houve resistência direta. Todavia, Gandhi e seus seguidores preferiram o processo pacífico. Desse modo, a (re)estabilização de uma nação pode ocorrer também por meio direto e indireto, como forma de resistência da colonização. Para Gandhi, a palavra “nação” implica duas maneiras de entendê-la. A primeira refere-se à comunidade indiana como um todo: hindus, muçulmanos, sikhs, parsis, budistas, cristãos, pensada em 92 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 termos da sua cultura. A segunda refere-se às elites urbanas educadas na cultura ocidental. O que ele vai tentar fazer é lograr a sua reconciliação (FESTINO, 2007, p. 36). Figura 29 – Bombaim Frente a este fato, podemos considerar alguns pontos. Podemos entender uma nação – a nação indiana, por exemplo – como homogênea, estereotipada, inerte e sóbria, a partir de uma “comunidade imaginada” (ANDERSON, 1983 apud FESTINO, 2007, p. 37), ou seja, considerada unívoca, singular, em que todos os indianos seriam hindus, usariam turbantes, teriam a pele escura e os cabelos lisos, não comeriam carne de vaca, falariam a mesma língua (hindu), usariam o mesmo tipo de roupas etc. Todavia, é importante destacar que qualquer nação é, intrinsecamente, heterogênea. [A nação] torna-se uma forma liminar de representação social, um espaço que está internamente marcado pela diferença cultural e pelas histórias heterogêneas de pessoas rivais, autoridades antagônicas, e locais culturais tensos (BHABHA, 1999, p. 299 apud FESTINO, 2007, p. 39). Todavia, a diáspora não diz respeito somente à transição de indivíduos ao redor do globo. Ela afirma questões de transição cultural, identidade e transnacionalização. A questão da diáspora determina e reconfigura conceitos culturais no globo. Trata-se de uma teoria pós-colonial. E a relação entre a Índia e a Grã-Bretanha? É interessante notarmos que, para o lado britânico, a Índia ainda é uma terra bárbara, cujos costumes poderiam ser inapropriados, atrasados ou até obsoletos. Para os indianos, a independência ocorreu para que pudessem se libertar de um império dominador. Independência significa abertura dos olhos, liberdade. É interessante imaginarmos que os próprios indianos, muitas vezes, podem contribuir com uma imagem unilateral da Índia, o que torna para nós, ocidentais, uma naturalização da ideia do país. Desde de sua antiguidade, a Índia era terra de interesse de vários povos. 93 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa A sociedade subcontinental era dificilmente estática, embora a maioria das pessoas nunca tenham se aventuradopara localidades vizinhas. Eles conheceram muito pouco a respeito deles mesmos e não tinham o interesse de aprender mais, preferindo permanecer distante de estrangeiros em uma terra povoada na sua imaginação pelo outro. Habitantes da ilha chamada Índia haviam sido de interesse apenas de estrangeiros: para os gregos, os primeiros a nomearem a terra de Índica, para viajantes, comerciantes e invasores, e então mais compreensivelmente para os britânicos, com sua maneira de mapear, classificar e subdividir o território e as pessoas que gradualmente estiveram sob sua posse. O que tornou possível a própria invenção de uma comunidade nacional foi o fato de uma subjeção colonial. Era de interesse dos britânicos determinar os limites geográficos que, a partir do Ato de 1899, converteu a Índia nome de uma região em um território preciso e rosado. 8.1.2 Aspectos culturais Conforme já mencionado, vocês devem estar lembrados da telenovela Caminho das Índias, que mostrava alguns ritos e, grosso modo, a cultura indiana. Nos habituávamos a ouvir expressões como olá entre interjeições típicas de alguma língua do território indiano. Esse país apresenta uma cultura misteriosa, vasta e milenar, e a Índia é, sem dúvida, a terra do misticismo. Os indianos, apesar das diversidades como linguagem, arte, música e cinema, são extremamente ligados à nação e aos ancestrais, o que os torna uma sociedade muito tradicional. Segundo recenseamentos de 1961 e 1971, existem na Índia 1652 línguas vernáculas (sem agregação de estrangeirismos) e 67 línguas de ensino escolar em diversos níveis. A Constituição de 1950 tornou o hindi, escrito em ortografia devanágari, a língua oficial do país e enumerou as 15 línguas oficiais regionais: assamês, bengali, gujarati (ou gujerat), hindi, kanara, caxemira, malaila, marathi, oriya, pendjabi, sânscrito, sindhi, tâmil, telugu, urdu. No entanto, o hindi encontrou uma certa resistência, particularmente nos estados do sul e em Bengala, o que conduziu à manutenção do inglês como segunda língua privilegiada, de elite, que permite os contatos internacionais e a obtenção dos melhores empregos.1 O Rio Gangis O Rio Gangis é um dos símbolos mais importantes e sagrados da Índia e atrai milhares de peregrinos todos os anos para se banharem em sua águas sagradas. Mas essas águas sagradas também são o coração da cidade: tudo acontece às margens do Ganges. As pessoas se banham, lavam suas roupas, meditam, praticam ioga e jogam críquete nos chamados ghats of Ganga, degraus que permitem às pessoas aproximarem-se do rio. Há várias lendas e mitos na mitologia hindu associada com o rio Ganges. O “Ganga” era considerado uma deusa nos textos antigos dos Vedas e Puranas. A Ramayana e Mahabharata 1 Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/india/cultura-da-india.php>. Acesso em: 2 jan. 2013. 94 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 contam estórias sobre a descendência do Ganga em formas diferentes. Acredita-se que o Ganga descendeu do paraíso e é invocado nos livros religiosos para as graças serem adquiridas. Há muitas versões sobre o aparecimento (surgimento) do rio, o qual é narrado como uma tradição. De acordo com um mito popular da mitologia hindu, o Ganges era para ir ao paraíso para suavizar a fúria dos deuses com suas águas. Na mitologia hindu, há mais de uma história contada sobre a origem do Rio Ganges. O Rei Bhagiratha realizou uma penitência para encontrar a salvação das almas de seus ancestrais que foram amaldiçoados por um sábio. A fim de trazer o rio Ganges do paraíso, ele fez oferendas ao senhor Shiva e suas preces foram realizadas. O rio Ganges desceu do paraíso a partir dos cabelos de Shiva para purificar a Terra e lavar os pecados da humanidade. Pode-se afirmar, então, que o Rio Ganges, além de ser exótico para nós, apresenta uma relevância considerável para a religião hindu e para outras da Índia. Ele tem 2.525km de extensão. Nasce nos Himalaias ocidentais, no estado indiano de Uttarakhand, e flui até o sul e leste através da Planície Gangética do norte da Índia; em seguida, segue até Bangladesh, onde desemboca na Baía de Bengala. É o maior rio da Índia e o segundo maior do mundo. Pessoas de todo o mundo vêm para a Índia para se banharem no Rio Ganges e fazerem orações e oferendas. Infelizmente, uma parte considerável do rio se encontra muito poluída, pois há rituais da pira funerária em sua margem. O sistema de castas Veja o que o professor Cláudio Costa Pinheiro, da Fundação Getúlio Vargas, afirma sobre o sistema de castas: A hierarquia da sociedade indiana2 As castas correspondem a uma forma de identificar hierarquicamente os membros de uma sociedade a partir de grupos. Originalmente, representavam ocupações e seus nomes designavam serviços – carpinteiros, doceiros, lavadores etc. – que acabavam confirmando monopólios dessas castas sobre as atividades. Mas elas não representam um sistema de divisão de trabalho; pessoas de uma dada casta podem circular entre ocupações distintas na economia. O sistema de castas é complexo, tem alto grau de endogamia. Em textos clássicos do hinduísmo, como os cânticos do Rig Veda (2000-1000 a.C.) ou as leis de Manu (500 a.C.), já se encontram alusões à existência de quatro varnas que dividiam a sociedade: os brâmanes (sacerdotes e intelectuais), os xátrias (guerreiros, administradores e monarcas), os vaixás (comerciantes e agricultores) e os xudras (serviçais em geral). Alguns 2 Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2012/292/a-hierarquia-da-sociedade-indiana>. Acesso em: 7 jan. 2013. 95 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa desses textos clássicos representam códigos religiosos-legais que regulamentam condutas sociais, profissionais, aspectos morais e éticos. Os xudras incluem várias castas de “intocáveis”. Ocupações que lidavam com a morte, na preparação de enterros ou cremações, por exemplo, constituíram castas sobre as quais uma série de tabus proibia o contato, inclusive físico. Os quatro varnas originais dividem-se em jatis, normalmente identificadas como subcastas. Não se devem confundir castas com classes sociais. Embora uma casta possa ser socialmente discriminada, isso não implica que seus membros sejam pobres. O inverso também é válido: membros de uma casta prestigiada podem ser desprovidos de capital financeiro. A constituição indiana de 1950 aboliu todas as formas de discriminação, especialmente a “intocabilidade”. Isso inaugurou políticas de discriminação positiva, chamadas “políticas de reserva” (de assentos no parlamento e nas câmaras estaduais, de empregos em cargos do Estado, de vagas em universidades etc.). Portanto, tendemos a confundir sistema de castas com classe social, e o nosso imaginário a respeito desse tipo de sistema também contribui para uma visão errônea dele. Trata-se de uma cultura milenar, baseada em questões de tradição cultural religiosa antiga, mas o ocidentalismo – a intenção de ocidentalizar todo e qualquer estrato cultural – a legitima como um sistema que não pode prevalecer. Bollywood – A Hollywood indiana Sobre outro aspecto cultural da Índia: vocês já tiveram a experiência de assistir a algum filme indiano? Mesmo que não o fizeram, provavelmente já ouviram falar alguma coisa a respeito de Bollywood, que é a maior indústria cinematográfica já vista na Índia. Esse termo faz menção à Hollywood, fábrica de sonhos cinematográficos dos Estados Unidos. Muitos filmes têm abordado valores ocidentais na população e cultura, e dizem que até a influência britânica ainda está presente no subcontinente asiático, razão pela qual a língua inglesa é vista em grande parte dos filmes produzidos na Índia. O filme Taare Zameen Par – Every child is special (Toda criança é especial), produzido e dirigido por Aamir Khan, é um filme excelente, uma produção Bolywoodiana que tratada questão da dislexia na escola. O filme é interessante por mostrar que a dislexia é um problema que assola tanto a comunidade oriental quanto a ocidental, e que merece atenção dos professores, bem como um tipo de abordagem de ensino/aprendizagem mais sensível a essa questão. É um filme recomendado a nós, professores em formação. Outra produção Bolywoodiana que fez bastante sucesso no mundo inteiro é Slumdog millionaire (Quem quer ser um milionário?). O filme mostra a sorte grande de um jovem indiano de família pobre que ganha um jogo de perguntas de múltipla escolha parecido com o nosso Show do milhão. 96 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Encontro com a Índia Já mencionamos neste livro-texto a novela da Rede Globo Caminho das Índias. Ela procurou mostrar um pouco da cultura indiana: a língua (algumas expressões da língua hindu), vestimentas e adereços (principalmente aqueles realçados pelas belas atrizes da novela), comidas, casamento, religião e o sistema de castas. É muito interessante como as estereotipias são lançadas. Nós inventamos ou criamos uma imagem da Índia – a qual, nem sempre, corresponde à realidade aos olhos dos indianos. Esse tipo de fenômeno, o crítico literário e escritor palestino Edward Said denomina orientalismo, que é uma invenção do Oriente pelo Ocidente. Minha ideia, em orientalismo, é utilizar a crítica humanista para expor os campos de conflito: introduzir uma sequência mais longa de pensamento e análise em substituição às breves rajadas de fúria polêmica que paralisam o pensamento para aprisionar-nos em etiquetas e debates antagonistas cujo objetivo é uma identidade coletiva beligerante que se sobreponha à compreensão e à troca intelectual. Chamei aquilo que procuro fazer de “humanismo”, palavra que continuo teimosamente a utilizar, malgrado o abandono altivo do termo pelos sofisticados críticos pós-modernos. Por humanismo entendo, antes de mais nada, a tentativa de dissolver aquilo que Blake chamou de grilhões forjados pela mente, de modo a ter condições de utilizar histórica e racionalmente o próprio intelecto para chegar a uma compreensão reflexiva e a um desvendamento genuíno (SAID, 2007, p. 19). O encontro que tivemos e continuamos tendo com o Oriente – a Índia, no caso – com certeza é o que Said chama de fenômeno do orientalismo. Por que, quando falamos da Índia, nos vem com certeza à mente a imagem de um hindu de turbante? Por que sempre pensamos que todos os indianos são hindus e que todos consideram a vaca um animal sagrado? Essas e outras questões são foco dos estudos culturais. Figura 30 – Taj Mahal 97 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa saiba mais É importante que façamos a leitura do livro Da diáspora: identidades e mediações culturais, de Stuart Hall, principalmente a parte 1, pois nela há a questão teórica da diáspora. 8.2 nigéria Vocês já ouviram falar da Nigéria? Não somente que sua capital é Lagos, e que há muitos nigerianos no mundo inteiro, ou que há, pelo menos, seis língua faladas no país inteiro, bem como etnias. A Nigéria é um país africano de grande importância para o continente africano: além de ser produtora de petróleo, cacau e amendoim, ela é riquíssima culturalmente. Quando pensamos a respeito do continente africano, muitas vezes, o que nos vêm à cabeça são questões de injustiça, miséria e decadência humana, entre outras coisas. A escritora nigeriana Chimamanda Adichie, em sua palestra Os perigos da história única3, discute a questão de nós, não africanos, termos uma imagem da África como unidade cultural, à berlinda da humanidade. Então, após ter passado vários anos nos Estados Unidos como uma africana, eu comecei a entender a reação da minha colega para comigo. Se eu não tivesse crescido na Nigéria e se tudo o que eu conhecesse sobre a África viesse das imagens populares, eu também pensaria que a África é um lugar de lindas paisagens, lindos animais e pessoas incompreensíveis, lutando em guerras sem sentido, morrendo de pobreza e de Aids, incapazes de falar por eles mesmos, e esperando serem salvos por um estrangeiro branco e gentil. Eu veria os africanos do mesmo jeito que eu, quando criança, havia visto a família de Fide. Eu acho que essa única história da África vem da literatura ocidental. Então, aqui temos uma citação de um mercador londrino chamado John Locke, que navegou até o oeste da África em 1561 e manteve um fascinante relato de sua viagem. Após referir-se aos africanos como “bestas que não têm casas” ele escreve: “eles também são pessoas sem cabeças, que têm suas bocas e olhos em seus seios”. Eu rio toda vez que leio isso, e alguém deve admirar a imaginação de John Locke. Mas o que é importante sobre sua escrita é que ela representa o início de uma tradição de contar histórias africanas no ocidente. Uma tradição da África subsaariana como um lugar negativo, de diferenças, de escuridão, 3 Disponível em: <https://docs.google.com/file/d/0B1A5--K3ahFJMzQ2MzFmNzctYjU4MS00NjVlLTg5NGMtNzA5Mj kzYmI0Y2Rk/edit?hl=en&pli=1>. Acesso em: 2 jan. 2013. 98 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 de pessoas que, nas palavras do maravilhoso poeta Rudyard Kipling, são “metade demônio, metade criança”. E então, eu comecei a perceber que a minha colega de quarto americana deve ter, por toda a sua vida, visto e ouvido diferentes versões de uma única história. Como um professor que uma vez me disse que meu romance não era “autenticamente africano”. Bem, eu não estava completamente disposta a afirmar que havia uma série de coisas erradas com o romance, que havia falhado em vários lugares. Mas eu nunca havia imaginado que ele havia falhado em alcançar uma coisa chamada autenticidade africana. Na verdade eu não sabia o que era “autenticidade africana”. Como podemos notar, a própria escritora viveu uma história única, que pode fazer parte do nosso construto cultural acerca de uma cultura estranha a nós. Tendemos a considerar a história que lemos como legítima, correta, bonita e heroica. Esse fato acontece com as nossas crianças, que, quando educadas, são bombardeadas com informações acerca de heróis, o certo, o errado, o bonito, o feio, o bom, o ruim etc. Tendemos a generalizar que o primeiro mundo, por exemplo, é sinônimo de civilização, de exemplo, referência de modo de vida etc. O nosso objetivo aqui é aprendermos um pouquinho sobre a Nigéria, além de estudarmos as questões de identidade cultural e diáspora. Observação Embora se fale mais desta cidade do que da capital, Lagos não é a capital da Nigéria. A capital nigeriana é Abuja. 8.2.1 Antecedentes históricos Não se trata de uma história da Nigéria, mas uma das várias histórias de um país que apresenta várias nações, línguas e etnias, cujo berço de sua formação é muito anterior às civilizações europeias: O povo Nok foi uma das primeiras sociedades organizadas na região, aproximadamente em 800 a.C. Vale lembrarmos que o mapa da África nessa época era bem diferente do que conhecemos nos dias de hoje. A Nigéria, atualmente, faz fronteira com Níger, ao norte; Benin, a oeste; e Camarões, a leste. Ao nordeste, o país faz fronteira com o Lago Chade. No ano 1000, Kanem era o principal estado, enriquecendo com o comércio transaariano, e o Império Kanem-Bornu, próximo ao Lago Chade, dominou a parte norte da Nigéria por mais de 600 anos, prosperando como rota de comércio entre os norte-africanos e o povo da floresta. No início do século XIX, Usman Dan Fodio reuniu a maior parte das áreas do norte sob o controle de um império islâmico, tendo como centro Sokoto. 99 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa Os sessenta anos do domínio colonial britânico na Nigéria são caracterizados por reclasssificações frequentes de regiões diferentes parafins administrativos. Eles são sintomas do problema de unificar o país como um único estado. No início do século XIX, o Protetorado da Região Costeira de Níger é expandido para se tornar o sul da Nigéria, com sua sede de governo em Lagos. Os governantes precisaram lutar contra o domínio britânico e também combater a França na região de Borgu (uma região fronteira, que foi dividida em 1898 entre Nigéria e Daomé). Entre os séculos XVII e XIX, comerciantes europeus estabeleceram portos costeiros para o aumento do tráfico de escravos para as Américas. Em 1906 se encerraram as expedições escravistas. Em 1912, o governador Lugard é indicado para o norte e o sul da Nigéria e lhe é dada a tarefa de fundi-las. Ele o faz em 1914, quando a região inteira se torna a Colônia e o Protetorado da Nigéria. A Primeira Guerra Mundial traz uma invasão combinada francesa e britânica dos Camarões Alemães. Em 1951, o país foi dividido em regiões norte, leste e oeste, cada com uma com sua própria Assembleia Legislativa. Em 1954, uma nova constituição (a terceira em oito anos) estabelece a Federação da Nigéria e acrescenta o território federal de Lagos. Em resposta ao crescimento do nacionalismo nigeriano ao final da Segunda Guerra Mundial, o governo britânico iniciou um processo de transição da colônia para um governo próprio com base federal, concedendo independência total em 1960, tornando-se a Nigéria uma federação de três regiões, cada uma contendo uma parcela de autonomia. Em 1966, dois golpes sucessivos por diferentes grupos militares deixaram o país sob uma ditadura militar, iniciando uma sangrenta guerra civil. Uma nova constituição foi promulgada em 1977 e eleições foram realizadas em 1979. A Nigéria retornou ao governo militar em 1983. Em 1999, a Nigéria elegeu Olusegun Obasanjo como presidente nas suas primeiras eleições em 16 anos. Obasanjo e seu partido também ganharam as turbulentas eleições de 2003. Pode-se afirmar que, conforme esse panorama histórico, a Nigéria é uma nação política recente, mas como civilização ela é muito antiga. O império britânico invadiu o país no início do século XX – a Nigéria também faz parte do Commonwealth –, e é interessante notarmos também que alguns países, como Benim e Níger, faziam parte do território físico nigeriano. Os povos dessas nações interagiam muito mais antes da divisão do mundo africano pelos europeus. lembrete A nação nigeriana também era constituída por vários povos, incluindo aqueles que habitam atualmente a região do Níger. 8.2.2 Aspectos culturais É comum conhecermos países africanos por meio de filmes, música e religiões. Também nos acostumamos a associar tudo o que for negro ao africano, esquecendo que atualmente o negro constrói civilizações prósperas e vindouras em todos os continentes do globo. É comum vermos em filmes, por 100 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 exemplo, que a África é um continente homogêneo. O que normalmente é apresentado nas mídias é somente a pobreza, o descaso com o semelhante, as guerras tribais, a Aids e a corrupção. A fim de evitarmos estigmas quanto ao continente africano, e, principalmente, ao país nigeriano, será apresentada uma breve história da Nigéria e alguns dos seus aspectos culturais em que a língua inglesa fez parte para a construção do país. A Nigéria é frequentemente conhecida como um país de unidade em diversidade. Essa descrição provavelmente tem origem no fato de o país ser constituído por 400 grupos linguísticos, três principais religiões, opiniões sociopolíticas diversas e organizações e condições de tempo e clima variadas entre o norte e o sul. A cultura nigeriana é muito rica. A língua inglesa é a língua oficial, todavia, não é a única falada no país, que é constituído por mais de 400 grupos linguísticos e três nações principais: Igbo, Yoruba e Hausa-Faluni. Os yorubas ocupam as regiões do sul da Nigéria; o grupo Ibo ou Igbo fica nos estados do sudeste nigeriano; e o povo Hausa-Faluni encontra-se no nordeste da Nigéria. A língua mais comum em uso nos estados do nordeste do país é o hausa. Nos estados do oeste de Lagos, capital, as línguas mais faladas são: oyo, osun, ondo e endo, as quais constituem a maior parte do país. As pessoas se comunicam pelo yorubá – língua que também teve sua importância na formação cultural brasileira. A capoeira e as divindades espirituais que sincretizaram a religião católica do Brasil são heranças de escravos africanos iorubás. Na parte norte do país, os costumes e tradições são governados por grupos mulçumanos. A cidade de Lagos, a qual não é a capital, é uma cidade grande e apresenta problemas comuns aos grandes centros urbanos. A Nigéria exalta a plethora de costumes e tradições, culturas e festivais, que agradariam os gostos do turista comum. Nos estados do norte do país, os costumes, culturas e tradições das pessoas que são principalmente hausa/fulani, nupw, kanuri e igalaand tiv são governados por tradições de religião muçulmanas. A maioria dos festivais que ocorrem nessas áreas, tais como o Durbar em Katsinai e nos estados Kaduna, estão associadas com celebrações religiosas. O festival de pesca Argungu no estado de Kebbi, o qual tem ao longo dos anos adquirido reconhecimento internacional, é, entretanto, retirado das celebrações religiosas tradicionais. Os estados do norte da Nigéria, especialmente Sokoto, Kebbi, Jigawa, Kano, Yobe, Borno, Katsina e Kaduna são semidesérticos, com muito pouca chuva no ano. O tempo geralmente é quente durante o dia e frio durante a noite ao longo da maior parte do ano. A vestimenta comum é a babanriga, um top longo sobre as calças. A cor predominante da vestimenta é branca. Os meios mais comuns de transporte público, historicamente, como no caso de outras áreas semi e desérticas, são o camelo, o burro e o cavalo. O cavalo, na maioria das vezes, é criado para o propósito dos 101 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa festivos religiosos e tradicionais tais como o Durbar, quando eles são vestidos por cores flamboyant e são considerados participantes dos eventos. Nestes estados do norte, a educação, o sistema jurídico e as outras instituições são influenciadas pela religião muçulmana. Eles praticam o sharia (retirado do Corão) – sistema de justiça –, e a educação inicia-se pelo aprendizado da língua árabe e da leitura do Corão. Nollywood Assim como Hollywood, a Nigéria tem sua própria produção cinematográfica. Vários filmes são inspirados no cotidiano nigeriano, geralmente urbano. É interessante notar que esses filmes, embora estejam em inglês, posssuem expressões idiomáticas tão singulares. saiba mais Um site interessante para sabermos mais sobre os filmes nigerianos é: <http://www.nigeriafilms.com/>. Observação Muitos povos nigerianos, mesmo que estejam sob um país único, dividido politicamente, apresentam sua própria cultura, representada pela dança, religião, vestimenta e língua. Considerar os nigerianos como um povo homogêneo, como é costume fazermos com o continente africano, é uma falácia. 8.3 O caribe (Jamaica) Figura 31 – Bandeira da Jamaica 102 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 O que nos vem à cabeça quando falamos sobre a Jamaica? Provavelmente Bob Marley, rastafári e reggae. Com certeza esses três elementos são ícones que representam a maior ilha do Caribe. 8.3.1 Antecedentes históricos A ilha caribenha apresenta uma história muito antiga, mas pouco conhecida ou registrada. O que se sabe é que ela foi invadida por piratas e exploradores espanhóis e ingleses, entre outros, e que seus povos indígenas foram dizimados. Sabe-se que a Jamaica foi descoberta por Cristóvão Colombo em 1494, ou seja, um pouco antes do Brasil. Quando ele chegou à ilha – a qual ele chamou de Santiago – a encontrou habitada por um povo antigo denominado arawak,que residia nela desde o século VII d.C. Como toda ação colonizadora é dizimadora cultural e naturalmente, os nativos arawak foram desaparecendo devido às doenças trazidas pelos colonos europeus. O que se sabe é que o nome desse país interessantíssimo, deriva do nome xamayca, que significa “terra de madeira e água”, que lhe foi dado pelo povo arawak. O filho de Colombo, Juan Esquivel, foi autorizado a empreender sua conquista em 1509. A ilha foi governada até 1655 pelos espanhóis. A ausência de ouro na região os levou a dedicarem pouca atenção à ilha, utilizando-a sobretudo como base de abastecimento para colonos de outras áreas americanas. A Jamaica tornou-se um ponto estratégico para o reabastecimento de provisões dos navios espanhóis que iam para a América Central em busca de ouro. Dois pontos fundamentais na historiada Jamaica foram a importação de cana-de-açúcar e a vinda de escravos da África para cultivá-la. Durante quase 200 anos, a indústria do açúcar floresceu e se fortaleceu, gerando enormes fortunas, sempre apoiada em um número crescente de escravos. Os ingleses invadiram e dominaram a ilha em 1655, e fazendeiros e escravos começaram a defender a sua independência. Quando as 13 colônias americanas declararam a independência da Grã-Bretanha, a Assembleia Legislativa da Jamaica votou para se juntar a eles. Naquela época, a Espanha, a França e a Holanda também declararam guerra à Inglaterra. Um período de depressão econômica e instabilidade social seguiu-se após a abolição da escravatura em 1838, e a ilha voltou a se tornar uma colônia da Coroa sob domínio da Grã-Bretanha. Na década de 1930, os primos Alexander Bustamante e Norman Manley, fundaram o Partido Trabalhista da Jamaica e o Partido Nacional do Povo, reforçando um espírito de nacionalismo. Em 6 de agosto de 1962, a bandeira britânica foi baixada e a nova bandeira da Jamaica, preta, verde e ouro, foi hasteada em reconhecimento da independência da Jamaica. O país combina diversas nacionalidades: a maioria negra, uma minoria europeia e uma crescente população mestiça, além de imigrantes da Índia e da China. A antiga comunidade judaica expandiu-se e comerciantes árabes chegaram à ilha. Esta fusão de diversas nações formou a base do lema nacional da Jamaica: “Out of many, one people” (“Resultado de muitos, um só povo”). 103 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa Figura 32 A ilha possui grandes plantações de banana e frutas cítricas, sem contar o grande mercado de exportação de gengibre jamaicano, que cresceu com o desenvolvimento da bebida conhecida como ginger ale. Há também na Jamaica uma importante produção de café e rum. Destaca-se também o extrativismo das ricas minas de bauxita e a produção de alumínio. Atualmente, a economia da Jamaica é apoiada principalmente no turismo. A Jamaica é um mosaico cultural por apresentar um história que foi constituída pelo contato de espanhóis, britânicos e escravos africanos – população mais abundante e cultura vigente, mas um personagem interessante que contribuiu – até mesmo de forma negativa – para a história jamaicana é o capitão Harry. Um capitão que se tornou pirata, bucaneiro e cidadão jamaicano. 8.3.2 Aspectos culturais A cultura na Jamaica, e no Caribe em geral, [...] é essencialmente impelida por uma estética diaspórica. Em termos antropológicos, suas culturas são irremediavelmente “impuras”. Essa impureza, tão frequentemente construída como carga e perda, é em si mesma uma condição necessária à sua modernidade. Como observou certa vez o romancista Salman Rushdie, “o hibridismo, a impureza, a mistura, a transformação que vem de novas e inusitadas combinações dos seres humanos, culturas, ideias, políticas, filmes, canções” é “como a novidade entra no mundo”. Não se quer sugerir aqui que, numa formação sincrética, os elementos diferentes são sempre inscritos diferentemente pelas relações de poder – sobretudo as relações de dependência e subordinação sustentadas 104 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 pelo próprio colonialismo. Os momentos de independência a serem vivamente retrabalhadas são necessariamente, portanto, momentos de luta cultural, de revisão e de reapropriação. Contudo, essa reconfiguração não pode ser representada como uma “volta ao lugar onde estávamos antes”, já que, como nos lembra Chambers, “sempre existe algo no meio”. Esse “algo no meio” é o que torna o próprio Caribe, por excelência, o exemplo de uma diáspora moderna. As nações, sugere Benedict Anderson, não são apenas entidades políticas soberanas, mas “comunidades imaginadas”. Trinta anos após a independência, como são imaginadas as nações caribenhas? Esta questão é central, não apenas para seus povos, mas para as artes e culturas que produzem, onde um certo “sujeito imaginado” está sempre em jogo. Onde começam e onde terminam suas fronteiras, quando regionalmente cada uma é cultural e historicamente tão próxima de seus vizinhos e tantos vivem a milhares de quilômetros de “casa”? Como imaginar sua relação com a terra de origem, a natureza de seu “pertencimento”? E de que forma devemos pensar sobre a identidade nacional e o “pertencimento” no Caribe à luz da experiência de diáspora? (HALL, 2009, p. 34). A relação entre as culturas caribenhas e suas diásporas não pode, portanto, ser adequadamente concebida em termos de origem e cópia, de fonte primária e reflexo pálido; tem de ser compreendida como a relação entre uma diáspora e outra. Aqui o referencial nacional não é muito útil. Os Estados- Nação impõem fronteiras rígidas dentro das quais se espera que as culturas floresçam. Esse foi o relacionamento primário entre as comunidades políticas nacionais soberanas e suas “comunidades imaginadas” na era do domínio dos Estados-nação europeus. Esse foi também o referencial adotado pelas políticas nacionalistas e de construção da nação após a independência. A questão é se ele ainda constitui uma estrutura útil para a compreensão das trocas culturais entre as diásporas negras. Portanto, quando falamos de Jamaica, obrigatoriamente falamos de diáspora. Não dá para separar. O Caribe é diaspórico por natureza. Historicamente, a emigração jamaicana tem sido muito pesada. Nos fins do século XIX e início do XX, muitos jamaicanos migraram à América Central, Cuba e República Dominicana para trabalharem nas lavouras de cana e banana. Na década de 1950, a destinação primeira é o Reino Unido; mas desde a restrição da imigração para o Reino Unido, em 1962, o maior fluxo tem sido para o Canadá e os Estados Unidos. O fluxo mais pesado de emigração, particularmente para Nova Iorque e Miami, ocorreu durante a década de 1990 e continua até os dias de hoje devido à alta crise econômica. Por volta de 20.000 jamaicanos imigram para os Estados Unidos a cada ano, e outros 200.000 visitam o país anualmente. Nova Iorque, Hartford, CT, Miami e Fort Lauderdale estão entre as cidades americanas de maior população jamaicana. Em Nova Iorque, mais da metade dos expatriados jamaicanos vive no Brooklyn. As comunidades expatriadas nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá contribuem significativamente à economia jamaicana. 105 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa A diáspora jamaicana, portanto, ocorreu em 1962, mas ainda acontece até os dias de hoje. Os jamaicanos saíram em busca de melhores condições de vida. O rastafári Costumamos conhecer alguma pessoa que usa aquele penteado com dread locks, ou até mesmo trancinhas bem finas que cobrem o cabelo por inteiro. Essa tendência estética veio da Jamaica, e de uma cultura bem particular – a cultura rastafári. Esta, muitas vezes, é vista somente como moda, o que é errado, ou como um estilo musical, o reggae, que também é errado. Rastafári é uma palavra do aramaico, que foi a primeira língua da Etiópia. Ras significapríncipe e tafari quer dizer paz. Portanto, rastafári significa príncipe da paz. Há quem confunda essa cultura com religião por ela ter forte ligação com a espiritualidade. Os rastas não frequentam cultos em templos ou igrejas. São seguidores de Rastafari Makonnen, nome de batismo do Imperador etíope Haile Selassie I, que pregava a paz e a unidade entre os povos africanos e de todas as outras nações. A cultura rastafári tem uma ligação muito forte com a natureza; por essa razão, os rastas são naturalistas e vegetarianos, ou seja, não comem carne de nenhum animal. Quanto à música, ela é fortemente identificada com o reggae, que primeiramente foi somente tocada por tambores e cantada, nas montanhas, chamando-se nyabinghy – palavra que significa liberdade. Com o passar dos tempos, foram surgindo outros ritmos e variações do reggae. O mais conhecido é o reggae roots ou reggae de raiz, em que o mais importante é o sentimento. Não há regras, cada um compõe como quiser, dependendo unicamente da inspiração individual. O tema das músicas, na sua grande maioria, fala de paz, união e amor. O inglês jamaicano Como se sabe, o domínio inglês também se apodera, se apropria, da expressão da língua dominante e a legitimiza como o standard, além de escolher o que é classificado como fora do padrão, dialeto desviado ou crioulo, como afirma Mercer. Numa gama inteira de formas culturais, há uma poderosa dinâmica sincrética que se apropria criticamente de elementos dos códigos mestres das culturas dominantes e os “criouliza”, desarticulando certos signos e rearticulando de outra forma seu significado simbólico. A força subversiva dessa tendência hibridizante fica mais aparente no nível da própria linguagem (incluindo a linguagem visual) onde o crioulo, o patois e o inglês negro desestabilizam e carnavalizam o domínio linguístico do “inglês” – a língua-nação [nation- language] metadiscurso – através de inflexões estratégicas, novos índices de valor e outros movimentos performativos nos códigos semântico, sintático e léxico (MERCER apud HALL, 2009, p. 33). Portanto, não se pode falar que o inglês jamaicano seja um inglês crioulo, no sentido pejorativo cujo significado é misturado, impróprio e longe de uma variedade padrão. Tem-se de considerar que 106 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 tal língua, na Jamaica, é o inglês jamaicano, simplesmente, o qual também tem contribuído para a evolução natural – entende-se como interativa entre povos – do inglês londrino ou de outras partes da ilha britânica. Observação Muitos dizem que se fala um dialeto derivado do inglês na Jamaica – o patois. Na verdade, trata-se de uma língua crioula híbrida, resultante de uma mistura de línguas. Não é, portanto, um dialeto, pois este seria uma variação de uma língua natural (por exemplo, o dialeto caipira do português do Brasil). 8.3.3 Skinheads – as identidades em encontro Quando falamos de skinheads, pensamos em hooligans, neonazistas e grupos ultranacionalistas de jovens, de origem europeia, que lutam contra a imigração em seus países. Todavia, devemos nos ater ao início de uma contracultura que emergiu de uma realidade de pobreza nas zonas suburbanas de Londres. Tal movimento não era propriamente um movimento coeso, mas se tornou isso à medida que se criou uma identidade híbrida, a partir do encontro entre imigrantes e filhos de imigrantes jamaicanos, operários, com os jovens operários brancos. Esses grupos se formaram em prol de uma manifestação cultural importante: a música. Os skinheads, na verdade são operários londrinos, de origem europeia ou africana que se identificam com o estilo de vida, vestuário e música, na década de 1970. Eles usam jeans, coturnos e suspensórios – traje típico dos operários que trabalhavam nas fábricas. Raspavam as cabeças para evitar o piolho, muito comum naqueles ambientes. O Ska é um estilo musical antigo, do qual derivou o Reagge. Este estilo é apreciado entre os jovens skinheads. Portanto, pode-se afirmar que a cultura skinhead é o encontro entre ingleses e jamaicanos negros. lembrete É comum se associar a imagem dos skinheads a jovens neonazistas de cabeça raspada. De fato, há uma facção do movimento que se tornou racista, fascista e até neonazista. Todavia, é importante destacar que estes são minoria. 8.3.4 O reggae O reggae também influenciou bastante a nossa cultura. No Brasil há inúmeras bandas com estilos inovadores. O Maranhão, por exemplo, é considerada por muitos a Jamaica brasileira, por ter o reggae como estilo de música bastante ouvido no estado. Esse estilo também é dançado em duplas (casal), algo também inovador e próprio do Brasil. 107 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa saiba mais Procurem saber quem foi Bob Marley – figura principal do estilo reggae na Jamaica. Na internet há inúmeros sites sobre ele, além de suas músicas, nas quais o amor e a resistência são temáticas constantes. Observação Bandas de rock inglesas como The Clash e The Police possuem forte influência do ska jamaicano. As bandas brasileiras Skank e Paralamas do Sucesso também são influenciadas pelo estilo jamaicano. Interessante vermos que muitas dessas bandas são influenciadas pelo ska misturado, via Inglaterra. resumo Nesta unidade, trabalhamos com os países Índia, Nigéria e Jamaica – sendo que o último foi escolhido para representar o Caribe de uma forma geral. O enfoque principal foi dado às questões de diáspora, a qual foi determinante para a cultura desses países. Procuramos apresentar, de forma geral, aspectos históricos e culturais desses três países que também têm a língua inglesa como um idioma que contribuiu para a sua formação identitária e cultural. exercícios Questão 1. Leia o trecho da notícia a seguir, publicada em um jornal de Portugal. Chinua Achebe 1930-2013: o escritor que tinha medo de ficar sem história. Um dos pais da literatura africana moderna e autor do romance Quando Tudo se Desmorona, morreu aos 82 anos. Escreveu em inglês, mas com uma babel na cabeça. A das palavras que se dizem na transmissão oral das coisas num país de 250 etnias e onde se falam 500 línguas. Em Portugal, estão editados Quando Tudo se Desmorona, A Flecha de Deus e Um Homem Popular. 108 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 “Receio que esta triste notícia tenha sido confirmada”, declarou Mari Yamazaki, porta- voz das edições Penguin em Londres, num email enviado à France Presse, que não dá mais informações sobre o sucedido. Segundo os media nigerianos, o escritor morreu nos EUA, num hospital de Boston (Massachusetts). Chinua Achebe levou para os seus livros as 500 falas do seu país e com elas contou o colonialismo europeu como nunca antes fora contado. Morreu aos 82 anos, sem Nobel, mas com seguidores que continuam a pôr a Nigéria em destaque na geografia da literatura. Escreveu em inglês, mas com uma babel na cabeça. A das palavras que se dizem na transmissão oral das coisas num país de 250 etnias e onde se falam 500 línguas. Ele era o sábio passador de experiências, o que dá nome às coisas e ao mesmo tempo é capaz de as traduzir para prosa, construindo narrativas sobre uma identidade em mudança e dando a cada leitor a ilusão de estar entre os que se sentam à volta da tal grande árvore a ouvir o sábio. A carreira literária e ficcional deste homem natural de Ojidi, sudeste da Nigéria, onde nasceu em 1930, tem como base um contágio civilizacional em que é difícil falar de inocentes – sempre foi um crítico de corruptos e de quem se deixava corromper – mas que o Ocidente e a literatura que a Europa ia produzindo sobre África ao longo do século XX não saem bem na fotografia. Quando se fala de Chinua Achebe, fala-se de um dos mais lúcidos narradores do colonialismo europeu em África e, depois da descolonização, um homem poucodesejado não apenas durante a Guerra Civil, como pelo regime ditatorial que se seguiu e que colou a Nigéria a uma das mais trágicas nações africanas da História recente. Exilado, primeiro na Inglaterra e mais tarde nos EUA, continuou a escrever e a falar sobre a corrupção e a violência no continente africano. Chinua Achebe, o escritor que gostava de Yeats e de T. S. Eliot e que morreu em Boston, não se limitava a contemplar a paisagem à sobra da tal árvore. Foi o intermediário dessa paisagem em transformação, inaugurando um estilo que haveria de ser seguido por muitos autores africanos que, como ele, ou a partir dele, foram capazes de fazer a síntese entre um continente oral que tenta sobreviver com mais ou menos prejuízo da sua identidade, e um mundo comandado pela palavra escrita. Era assim em 1958, ano da sua estreia literária. Antes, desde o início, foram as histórias contadas em casa. Não lidas, mas ditadas pela memória. E quando pensava em histórias era assim que as via. Sons com um sentido quase mítico como nos livros que haveria de escrever mais tarde, depois do inglês se ter sobreposto na sua vida às falas do seu país. O pai, evangélico, era professor de religião, e a mãe corria a província de Igbo – onde Chinua cresceu e que foi o centro da sua literatura – a passar o Evangelho. A conversão da família ao “Deus da Europa, uno” não foi suficiente para matar a oralidade dos muitos deuses, esse plural divino que marcou também a infância do escritor que, seduzido pelas 109 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa histórias que ia ouvindo, quis encontrar as suas histórias. O medo, o perigo, como ele dizia em muitas entrevistas, era o de, no meio de tantas histórias, das histórias dos outros, não ter a sua própria história. Algo que dizia não apenas a pensar no indivíduo. Terá assim começado na escrita, a partir da necessidade de criar uma narrativa que, para ele, era uma forma de ganhar e preservar identidade. No caso de Chinua Achebe, fortemente marcada pelas origens. Por um continente e pela sua pluralidade de vozes, tragédias e sonhos. Essa tradição, hoje seguida por muitos nomes celebrados da literatura, foi iniciada com Things Fall Apart – editado em Portugal com o titulo Quando o Mundo se Desmorona (Mercado das Letras, 2008) – o primeiro dos cinco romances que escreveu e intercalou com mais de uma dezena de livros de ensaio ou poesia, e que continua a ser uma das mais vivas e inovadoras da atualidade, materializada em autores como Teju Cole (de que a Quetzal vai editar o romance Open City) ou ChimamandaNgoziAdechie (autora de Meio Sol Amarelo e A Cor do Hibisco). Fonte: LUCAS, I. Chinua Achebe 1930-2013: o escritor que tinha medo de ficar sem história. Cultura P, 22 mar. 2013. Disponível em: <http://www.publico.pt/cultura/noticia/escritor-nigeriano-chinua-achebe-morre-aos-82-anos-1588772>. Acesso em: 10 set. 2013. Considere as afirmativas que seguem: I. Achebe era um escritor nigeriano e, apesar de escrever na língua inglesa, retratava as línguas locais de seu país de origem na sua obra. II. Por ser um país colonizado e explorado, a Nigéria não conseguiu produzir uma literatura comparável à europeia. III. Achebe procurou, na sua obra, expressar a cultura, as narrativas orais e a religiosidade de sua terra natal. Está correto o que se afirma somente em: A) I. B) II. C) III. D) I e III. E) I e II. Resposta correta: alternativa D. 110 Unidade III Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Análise das afirmativas I e III – Afirmativas corretas. Justificativa: a matéria diz que o escritor retratava várias línguas no seu livro e registrava as narrativas e a cultura do seu povo. II- Afirmativa incorreta. Justificativa: o fato de a Nigéria ter sido um país colonizado não implica ter uma literatura de qualidade inferior. Na verdade, algumas das etnias lá presentes possuem tradições culturais milenares e literaturas orais antigas e de excelente qualidade. Questão 2. Leia o trecho da música de Bob Marley, cantor jamaicano, e a versão de Gilberto Gil. Texto I No woman no cry No woman no cry No woman no cry No woman no cry say, say, Say I remember when we used to sit In a government yard in Trench town Observing the hypocrites As they would mingle with the good people we meet Good friends we have Oh, good friends we’ve lost Along the way In this great future, You can’t forget your past So dry your tears, I say Fonte: MARLEY, B. No, woman no cry. In: Africa unite: the singles collection. Intérprete: Bob Marley and the Wailers. Universal, 2006. 1 CD. Faixa 8. Texto II No Woman, No Cry No Woman, No Cry No Woman, No Cry No Woman, No Cry... 111 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /1 3 Culturas de língua Inglesa Bem que eu me lembro Da gente sentado ali Na grama do aterro, sob o sol Observando hipócritas Disfarçados, rondando ao redor... Amigos presos Amigos sumindo assim Pra nunca mais Tais recordações Retratos do mal em si Melhor é deixar pra trás... Fonte: Gil, G. Não chore mais. In: Perfil: Gilberto Gil. Intérprete: Gilberto Gil. Som livre, 2005. 1CD. Faixa 3. Analise as afirmativas a seguir: I. A versão brasileira é desprovida de sentido porque o reggae é uma expressão típica da realidade jamaicana. II. A versão de Gilberto Gil perde a força porque não é uma tradução literal. III. Os temas das duas músicas são antagônicos. Assinale a alternativa correta: A) Apenas a afirmativa I está certa. B) Apenas a afirmativa II está certa. C) Apenas a afirmativa III está certa. D) Apenas as afirmativas I e III estão certas. E) Nenhuma das alternativas está certa. Resolução desta questão na plataforma. 112 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 file9201249845909.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/613102>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 2 file000339524833.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/40089>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 3 file0001800883931.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/40215>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 4 file0001134087320.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/85693>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 5 file0001039122264.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/54105>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 6 circle12.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/843781>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 7 file0002117963911.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/22164>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 8 file2631307411120.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/758271>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 9 file0001408565413.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/203636>. Acesso em: 8 jan. 2013. 113 Figura 10 file000708284163.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/99035>. Acesso em: 8 jan. 2013. Figura 11 file0001055668231.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/104182>. Acesso em: 8 jan. 2013. 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EUA/Reino Unido/Romênia/Itália, 2003, 154 minutos. CIDADÃO Kane. Dir. Orson Welles. EUA, 1941, 119 minutos. CORAÇÃO valente. Dir. Mel Gibson. EUA, 1995, 177 minutos. A DAMA de ferro. Dir. Phyllida Lloyd. Reino Unido/França, 2011, 105 minutos. O DISCURSO do rei. Dir. Tom Hooper. Reino Unido, 2010, 118 minutos. 116 ELIZABETH: A Era de Ouro. Dir. Shekhar Kapur. Reino Unido, 2007, 126 minutos. ENTRE os muros da escola. Dir. Laurent Cantet. França, 2008, 128 minutos. EXCALIBUR. Dir. John Boorman. Reino Unido/EUA, 1981, 140 minutos. GANGUES de Nova York. Dir. Martin Scorsese. EUA, 2002, 167 minutos. MERLIN. Dir. Steve Barron. EUA, 1998, 182 minutos. REI Arthur. Dir. Antoine Fuqua. EUA, 2004, 126 minutos. SUPER size me – A dieta do palhaço. Dir. Morgan Spurlock. EUA, 2004, 100 minutos. TIROS em Columbine. Dir. Michael Moore. EUA, 2002, 119 minutos. TRAINSPOTTING – Sem limites. Dir. Danny Boyle. Reino Unido, 1996, 93 minutos. WOLF creek. Dir. Greg Mclean. Austrália, 2005, 99 minutos. 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