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AULA 1 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA E SUBESTAÇÕES Profª Thaís Marzalek Blasi 2 INTRODUÇÃO Nesta aula abordaremos os conceitos básicos acerca de usinas hidrelétricas e informações sobre cenário brasileiro para geração hidrelétrica. Além disso, trataremos dos principais componentes das usinas: barragens, turbinas e geradores e suas principais características. TEMA 1 – CONCEITOS BÁSICOS DE USINAS HIDRELÉTRICAS 1.1 Definição de usina hidrelétrica O uso da água para mover maquinários e gerar energia remonta às antigas civilizações, que já utilizavam moinhos e rodas de água para auxiliar no trabalho. Com o passar dos anos, os seres humanos começaram a utilizar a força da água para a geração de energia elétrica, e assim surgiram as primeiras usinas hidrelétricas, no final do século XIX. As usinas hidrelétricas baseiam-se em um conjunto de obras e equipamentos que serão aqui apresentados e detalhados. Para que seja possível gerar energia elétrica, é necessário haver um desnível ou queda em um curso de água. À medida que a água flui para um ponto mais baixo de sua altura original, a energia potencial gravitacional é convertida em energia cinética, resultando no movimento do volume de água. Esse fluxo de água, ao passar por uma turbina hidráulica, converte a energia cinética em mecânica (cinética + potencial), fazendo a turbina girar e, consequentemente, movimentar o rotor do gerador acoplado. O gerador, por sua vez, converte a energia cinética do rotor em energia elétrica. Por fim, a água que passou pela turbina volta ao rio, seguindo seu curso natural. Todo esse processo de geração de energia elétrica apresenta eficiência acima de 90%. Esse é um rendimento bastante elevado quando comparado a outros métodos de geração de energia elétrica. Nesse caso, as perdas consistem em atritos nas máquinas rotativas e perdas nos equipamentos elétricos (Iberdrola, 2021). Um conceito muito relevante no contexto de geração hidrelétrica corresponde à vazão de um rio, que corresponde ao volume de água que passa em uma seção reta por unidade de tempo, sendo geralmente expressa em metros 3 cúbicos por segundo (m³/s). Esse conceito será utilizado mais adiante, em diversas definições associadas à geração hidrelétrica. Com relação às principais vantagens das usinas hidrelétricas, podemos destacar: • Possibilidade de reutilização do recurso hídrico, ou seja, a água usada para gerar energia pode ser utilizada posteriormente para outras finalidades, como irrigação ou na navegação em rios; • As hidrelétricas correspondem a empreendimentos com grande aporte de capital, mas possuem longa vida útil e baixos custos operacionais; • Permitem a regulação do fluxo de água no leito dos rios, especialmente quando há represas, controlando o fluxo de água e contribuindo para evitar cheias ou secas; • Flexibilidade na operação, podendo responder rapidamente a variações no setor elétrico, adequando rapidamente os níveis de geração e aumentando a confiabilidade e estabilidade do sistema elétrico; • São consideradas fontes renováveis de energia que não apresentam emissão de gases de efeito estufa durante o processo de geração de energia (Enel, 2021; Itaipu, 2021). 1.2 Classificação das usinas hidrelétricas É possível classificar as usinas hidrelétricas de diversas formas de acordo com o critério adotado. Em termos de potência, os sistemas de geração hidrelétrica podem ser classificados em Usinas Hidrelétricas (UHE), Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH). De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as UHE correspondem aos empreendimentos com potência instalada superior a 5 MW que não estejam enquadradas como PCH e que estejam sujeitas à autorização para exploração e aproveitamento do potencial hídrico. Já as PCHs correspondem às usinas com reservatório de até três quilômetros quadrados, com potência instalada entre 1 e 30 MW. Por fim, as CGHs devem apresentar potência instalada inferior a 1 MW. Por se tratar de usinas de menor porte, elas podem ser construídas em rios de menor vazão, sendo empreendimentos de custos menores quando em comparação às UHEs. 4 Há ainda as micro (até 100 kW) e minicentrais hidrelétricas (acima de 100 e abaixo de 1.000 kW), que, em geral, são utilizadas para fornecimento de energia para comunidades remotas ou propriedades rurais. É possível ainda classificar as usinas hidrelétricas em função do tipo de operação hidrológica: há aquelas que utilizam reservatórios de regulação, o que permite grande variação do nível do reservatório (entre os limites máximo e mínimo), sendo capazes de armazenar água e, consequentemente, energia, ao longo do tempo; e as usinas a fio d’água, ou seja, sem reservatório de regulação, operam quase sem reserva de água e, portanto, de energia, devendo turbinar ou verter quase todo o volume de água afluente. Há ainda a classificação de acordo com a queda de água: centrais de queda baixíssima (alturas menores que 10 m), baixa queda (entre 10 e 50 m), média queda (50 a 250 m) e alta queda (acima de 250 m). TEMA 2 – CENÁRIO BRASILEIRO DE GERAÇÃO HIDRELÉTRICA No Brasil, grande parte da capacidade de geração hidrelétrica foi instalada entre os anos de 1974 e 2004, e grande parte das instalações foram iniciadas nos anos 1980, tendo em vista a crise do petróleo que havia acontecido na década anterior. Concomitantemente, houve o crescimento da demanda por eletricidade com o aumento de indústrias eletrointensivas (EPE, 2007). De acordo com os dados da ANEEL, em março de 2021, o Brasil apresentava capacidade instalada total de 174.883,10 MW, sendo 58,34% da produção de energia realizada pelas UHEs, 3,12% correspondente à produção das PCHs e 0,47% das CGHs. Dessa forma, é evidente a importância das fontes hidrelétricas para geração de energia no país, uma vez que elas correspondem a aproximadamente 62% da geração (ANEEL, 2021). De acordo com o Sistema de Informações de Geração da ANEEL, até agosto de 2021 o Brasil apresentava um total de 1495 empreendimentos de geração hídrica, totalizando uma potência instalada (potência fiscalizada) de 109.375 MW e uma potência outorgada, ou seja, já autorizada para entrar em operação, superior a 111.376 MW, como podemos observar na Tabela 1. 5 Tabela 1 – Dados dos empreendimentos de geração hídrica Tipo de empreendimento Número de empreendimentos Potência outorgada (kW) Potência fiscalizada (kW) CGH 731 833.373,42 851.064,42 PCH 541 7.148.997,32 5.498.056,57 UHE 223 103.394.328,00 103.026.516,00 Total 1495 111.376.698,74 109.375.636,99 Fonte: ANEEL, 2021. Essas usinas estão espalhadas pelo território nacional, aproveitando o potencial hidrológico de cada bacia hidrográfica. De acordo com o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), o Brasil pode ser dividido em 12 regiões hidrográficas, de modo a contribuir para orientar o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos no país. Cada região apresenta um potencial hidráulico, associado às características encontradas nos rios da região. Dessa forma, o potencial hídrico disponível para a geração de energia em uma região pode ser obtido como o potencial tecnicamente viável subtraído do potencial inviabilizado devido às restrições ambientais, bem como à aplicação do recurso hídrico para outros fins, como navegação, irrigação e outras atividades que dependam do fluxo de água. Na Figura 1a, é possível visualizar as regiões do país com maior potencial hidrelétrico (tons mais escuros); na Figura 1b, estão representadas as localizações das UHEs; na Figura 1c, das PCHs; e, na Figura 1d, das CGHs. Comparando os quatro mapas, é visível a concentração das usinas, tanto as de maior como as de menor porte nas regiões do país que apresentam maior potencial hídrico.6 Figura 1 – a. Mapa do Brasil com a representação do potencial hidrelétrico total em MW; b localização das UHEs; c. localização das PCHs; d. localização das CGHs (a) (b) (c) (d) Fontes: Figura 1a – ANEEL, 2017; Figuras 1b, 1c e 1d – ANA, 2021. Na sequência, vamos abordar, em detalhes, a usina hidrelétrica de Itaipu, a qual corresponde à segunda maior usina em capacidade instalada no mundo, atrás apenas da usina de Três Gargantas, na China, com 22.400 MW. Embora não tenha a maior capacidade de geração (14.000 MW), Itaipu ainda é a maior usina hidrelétrica em geração de energia no mundo. Na década de 1960, os governos brasileiro e paraguaio iniciaram as negociações para a construção da usina que permitiria aproveitar o potencial hídrico de rio Paraná. Em 1973, foi assinado o tratado de Itaipu e, em 1974, foi 7 criada a empresa binacional Itaipu, responsável pela construção e, posteriormente, operação e gerenciamento da usina. Em maio de 1984, Itaipu começou a gerar energia, com a entrada em operação da primeira das 20 unidades geradoras da usina. Cada unidade geradora tem potência instalada de 700 MW. Em 2000, a usina estabeleceu um novo recorde de geração, de 93 milhões de MWh em um ano. Em maio de 2007, entraram em operação as duas últimas unidades geradoras previstas no projeto. Em 2016, Itaipu foi a primeira hidrelétrica no mundo a superar 100 milhões de MWh, sendo, desde então, a maior hidrelétrica do mundo em geração acumulada (Itaipu, 2021). A usina hidrelétrica de Itaipu tem 196 metros de altura, barragem com 7.919 metros de extensão, vertedouro com capacidade de vazão de 62.200 m³/s e reservatório com 170 km de extensão. Outras usinas de grande porte no Brasil são a Usina Hidrelétrica de Belo Monte (quarta maior do mundo em capacidade instalada, com 11.233 MW) e a Usina Hidrelétrica de Tucuruí (sexta maior do mundo, com capacidade instalada de 8.370 MW). TEMA 3 – BARRAGENS As barragens são obras transversais ao leito do rio. Suas principais funcionalidades são represar a água para captação e desvio, elevação do nível d’água para aproveitamento elétrico e navegação, e represamento de água para regularização de vazões (Reis, 2011). Barragens podem ser construídas com diversos materiais ou combinações desses, como concreto, terra e enrocamento (blocos de pedra ou cimento). Um exemplo é a barragem da Usina Hidrelétrica de Itaipu, representada na Figura 2, que apresenta trechos de concreto, de enrocamento e de terra. Além disso, a barragem permite obter o desnível de 120 metros entre o ponto de captação da água (tomadas de água) e as turbinas (Itaipu, 2021). 8 Figura 2 – Barragem da Usina Hidrelétrica de Itaipu Fonte: Itaipu, 2021. As barragens podem ser divididas em dois tipos: de gravidade e em arco. As barragens de gravidade são aquelas com seção vertical triangular ou trapezoidal, de modo que o peso da barragem garante estabilidade e resistência. Essas barragens geralmente são retilíneas ou levemente curvadas quando vistas de cima. Já as barragens em arco apresentam forma convexa, de modo que a maior parte das pressões hidrostáticas da água são transferidas para as laterais da barragem. Por terem essa característica, são geralmente construídas em vales muito largos ou em locais com encostas rochosas (ENEL, 2021). As barragens apresentam ainda, como parte de sua estrutura, os vertedouros, estruturas capazes de realizar o escoamento de água do reservatório, permitindo controlar o nível de água deste. Os vertedouros podem ser de superfície (também chamados de descarga livre), correspondendo a uma barreira com a altura definida pelo nível desejado do reservatório, de modo que haverá transbordamento quando o nível de água ultrapassar a altura do vertedouro. Outra possibilidade são os vertedores de fundo ou de descarga controlada, os quais são controlados por comportas, permitindo o controle do nível de água do reservatório. É importante destacar que toda água vertida não é utilizada para a geração de energia elétrica. Dessa forma, a operação das usinas deve ser feita de modo a se evitar a abertura dos vertedouros. 9 Figura 3 – Barragens: a. de gravidade; b. em arco (a) (b) Créditos: goce risteski/Adobe Stock; Real Moment/Adobe Stock. A construção de barragens deve seguir a Política Nacional de Segurança de Barragens, definida pela Lei n. 12.334/2010 e recentemente alterada pela Lei n. 14.066/2020. TEMA 4 – TURBINAS A turbina corresponde ao elemento capaz de transformar a energia da água em energia mecânica para o rotor do gerador. Essa energia mecânica é produto da queda e vazão nominal, aceleração da gravidade e massa específica da água. 10 Basicamente, as turbinas compreendem um rotor inserido em uma câmara que orienta o fluxo de água. Essa câmara pode ser em formato espiral ou aberta. Já o rotor corresponde à parte móvel da turbina, e é composto por um conjunto de pás e acoplado a um sistema de controle de velocidade que atua no sistema de distribuição do fluxo de água chamado distribuidor. Após a água passar pelo rotor, ela é direcionada, pelo tubo de sucção, para o canal de restituição (Barreto; Tiago Filho, 2008). Os principais tipos de turbinas são: de impulso (ou ação), quando o escoamento da água se dá a pressão constante; e de reação, quando o escoamento de água ocorre com variação de pressão. Com relação à trajetória do fluxo de água, as turbinas podem ser classificadas em radial (turbina Francis), axial (turbina Kaplan) ou tangencial (turbina Pelton). As turbinas Francis foram criadas nos EUA, em 1849, pelo inglês James Bicheno Francis, e é o tipo de turbina mais utilizado em hidrelétricas. É uma turbina de fluxo centrípeto, ou seja, a água ganha impulso no duto em espiral e as hélices na parte fixa, que são ajustáveis, direcionam o fluxo para as hélices do rotor. Em relação ao posicionamento do eixo, as turbinas Francis podem ser horizontais ou verticais e, em relação à velocidade de rotação do rotor, podem ser desde lentas (a partir de 55 rotações por minuto – rpm) até aplicações ultrarrápidas (até 450 rpm). Elas são utilizadas para aplicações com diferença de altura de 10 a 400 metros e fluxos de água de 2 a 100 metros cúbicos por segundo (ANEEL, 2017; Barreto; Tiago Filho, 2008; ENEL 2021). As turbinas Kaplan, por sua vez, foram desenvolvidas pelo austríaco Viktor Kaplan em 1913, que concebeu uma turbina com capacidade de ajustar o passo e a inclinação das pás da hélice de forma similar às hélices de um navio. Em relação ao distribuidor, é semelhante às turbinas Francis, com pás orientáveis para a entrada do fluxo de água no rotor. São turbinas do tipo axial, ou seja, o fluxo de água faz as hélices girarem em direção axial em relação ao eixo do rotor. Apresentam boa eficiência para usinas com pequena diferença de altura devido à possibilidade de controle do ângulo de ataque das pás, o que possibilita a aplicação em casos com grandes variações de vazões (vazões de até 200 metros cúbicos por segundo). Devido à sua maior complexidade, apresentam custos superiores às demais (ANEEL, 2017, Barreto; Tiago Filho, 2008, ENEL, 2021; Macintyre, 1983). 11 Por sua vez, as turbinas Pelton foram criadas em 1879 pelo norte- americano Lester Allan Pelton, com o objetivo de aumentar a eficiência das rodas d’água. O distribuidor das turbinas Pelton apresenta um bocal de forma apropriada para guiar a água, formando um jato cilíndrico sobre a pá do rotor, que apresenta um número de pás com formato de concha dupla, igualmente espaçadas ao longo de um disco que gira; essa estrutura é conhecida como rotor Pelton. Ao redor do rotor existem injetores que fazem jatos de água tangenciais às conchas, que impulsionam o movimento do rotor – sendo essa uma turbina do tipo tangencial. Os injetores possuem válvulascontroladas pelo regulador de velocidade que controlam a vazão de água que impulsiona o rotor. As turbinas Pelton podem ser usadas em aplicações com grandes diferenças de altura (de 300 a 1.400 metros) e vazões inferiores a 50 metros cúbicos por segundo (ANEEL, 2017; ENEL, 2021; Macintyre, 1983). Na Figura 4 são ilustrados os três tipos de turbinas previamente apresentados. Figura 4 – Turbinas hidráulicas: a. Francis; b. Kaplan; c. Pelton (a) (b) (c) Créditos: Sergei/Adobe Stock; Tunatura/Shutterstock; Satakorn/Shutterstock. 12 Os reguladores de velocidade atuam no sistema de distribuição do fluxo de água controlando a potência ativa disponibilizada ao sistema, além de controlar a rotação no caso de operação a vazio, que correspondem a 25% da vazão nominal para as turbinas Kaplan e Pelton, e 50% para as Francis. Caso as turbinas operem com vazões abaixo desses percentuais, elas passam a apresentar vibrações, oscilações no eixo e efeitos de cavitação (processo de formação de bolhas que geram desgaste da superfície, vibrações e perda de eficiência). TEMA 5 – GERADORES O gerador é o elemento responsável por converter a energia mecânica proveniente das turbinas em energia elétrica. Os geradores podem ser classificados em síncronos ou assíncronos. De modo geral, são compostos por duas partes principais, a parte fixa, denominada estator, e a parte rotativa, chamada rotor. Os geradores síncronos podem ser classificados em de baixa e de alta velocidade. Os de baixa velocidade são acionados pela turbina, e apresentam polos salientes, um grande diâmetro e pequeno comprimento axial. Já os de alta velocidade, também conhecidos como turbogeradores, são geralmente utilizados em centrais termoelétricas. As máquinas síncronas apresentam relação entre a velocidade de operação, a frequência e o número de polos do gerador, de modo que, para máquinas com velocidades mais baixas, o número de polos deve ser maior, aumentando consequentemente o tamanho do gerador. A Tabela 2 apresenta os números de polos necessários à máquina síncrona para que ela apresente a geração de energia elétrica na frequência de 60 Hz, de acordo com a velocidade de rotação do gerador. Tabela 2 – Número de polos para máquinas síncronas operando na frequência de 60 Hz Número de polos Rotação do gerador em rpm 2 3600 4 1800 6 1200 8 900 10 720 12 600 13 Fonte: Barreto; Tiago Filho, 2008. A fim de evitar que as máquinas tenham que apresentar um número maior de polos e, consequentemente, tornem-se maiores e mais caras, é possível optar por acoplar correias e polias na turbina, de modo a aumentar a velocidade. Tendo em vista que a quantidade de polos é uma característica da construção do gerador, e sabendo-se que a frequência da tensão gerada é proporcional à velocidade de rotação do gerador, é necessário estabelecer controles de velocidade de modo que a tensão de saída apresente frequência dentro dos limites estabelecidos. Os geradores assíncronos (ou geradores de indução), apresentam menores custos e maior robustez, entretanto, necessitam de bancos de capacitores para excitação e um sistema de controle mais robusto para operação isolada (sem a rede como referência) (Barreto; Tiago Filho, 2008). As principais especificações dos geradores são potência nominal, número de fases, forma de conexão, tensão nominal, aterramento, rotação nominal e sistema de excitação. A potência nominal é definida em função da potência da turbina, sendo dada em termos de potência aparente (quilovolt-ampère – kVA). São associados à potência nominal do gerador: o rendimento deste com relação à transformação da energia da turbina em energia elétrica, e a especificação do fator de potência nominal, ou seja, quanto da potência aparente corresponde à potência ativa (quilowatt – kW), e quanto corresponde à potência reativa (quilovolt-ampère- reativo – kvar). O rendimento de máquinas síncronas é na ordem de 90%, e o fator de potência geralmente opera na faixa de 0,8 a 0,9. O número de fases é relacionado com a potência nominal do gerador, de modo que os de menor porte podem apresentar conexão monofásica ou bifásica, e os de maior porte devem ser trifásicos. Ademais, a forma de conexão dos geradores trifásicos pode ser em delta ou em estrela, a depender da necessidade de um ponto neutro no local da instalação. A rotação nominal do gerador depende da turbina, que apresenta valores de rotação de acordo com a faixa de potência do gerador, tensão nominal e número de polos da máquina (Barreto; Tiago Filho, 2008). Por fim, o sistema de excitação pode ser feito de modo manual ou automático. No modo manual, um circuito de corrente contínua, classificado como serviço auxiliar, faz a tensão do gerador subir até o nível mínimo de excitação. 14 Quando a tensão nos terminais atingir 70% da tensão nominal, o circuito auxiliar é desconectado e o gerador passa a fornecer sua própria corrente de excitação, e a tensão é ajustada pelo controle de tensão de modo manual. No modo automático, o controle de tensão deve ajustar a tensão para o valor operacional após o fechamento da chave do circuito auxiliar (Moura et al., 2019). Para o acoplamento do sistema de geração com a rede, é necessário que os geradores apresentem a mesma sequência de fases, mesma frequência e a mesma tensão em módulo e ângulo, sendo, para tanto, utilizado um sincronoscópio, que é um dispositivo que mostra o instante correto para fechamento do interruptor de sincronização (Moura et al., 2019). A Figura 5a apresenta a sala de máquinas de uma usina hidrelétrica, onde estão alocados os geradores da usina. Na Figura 5b, há um estator de um gerador hidrelétrico sem o rotor. Figura 5 – Gerador hidroelétrico: a. sala de máquinas; b. estator de gerador hidrelétrico Créditos: Keith Bell/Shutterstock; vladimir salman/Shutterstock. 15 REFERÊNCIAS ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Hidroeletricidade. Disponível em: <https://portal1.snirh.gov.br/ana/apps/webappviewer/index.html?id=5094e51beb 90418aab741d9dc56ddeb9>. Acesso em: 10 nov. 2021. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Fundamentos do setor elétrico: Módulo 3 – Conceitos fundamentais de geração de energia elétrica [S.d]. Disponível em: <http://www.labtime.ufg.br/modulos/aneel/mod3_uni2_sl4.html>. Acesso em: 10 nov. 2021. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Usinas eólicas correspondem a 83% do acréscimo de potência no primeiro semestre de 2021, 5 jul. 2021. Disponível em: <<https://www.aneel.gov.br/sala-de-imprensa/- /asset_publisher/zXQREz8EVlZ6/content/id/22410865#:~:text=O%20Brasil%20c oncluiu%20o%20primeiro,desde%20o%20in%C3%ADcio%20do%20ano.>. Acesso em: 10 nov. 2021. BARRETO, E. J. F. (Coord.); TIAGO FILHO, G. L. Pequenos aproveitamentos hidrelétricos: soluções energéticas para a Amazônia. Brasília: Ministério de Minas e Energia, 2008. Disponível em: <https://www.mme.gov.br/luzparatodos/downloads/Solucoes_Energeticas_para_ a_Amazonia_Hidroeletrico.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2021. ENEL. Todas as vantagens da energia hidroelétrica. Disponível em: <https://www.enelgreenpower.com/pt/learning-hub/energias-renoveveis/energia- hidraulica/vantagens>. Acesso em: 10 nov. 2021. ENEL. Barragem. Disponível em: <https://www.enelgreenpower.com/pt/learning- hub/energias-renoveveis/energia-hidraulica/barragem>. Acesso em: 10 nov. 2021. ENEL. Turbina hidrelétrica. 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