Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROJETO DE COMPONENTES MECÂNICOS AULA 3 Prof. Julio Almeida CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) à nossa terceira aula de Projetos de Componentes Mecânicos. Nesta aula, veremos conceitos gerais de uma transmissão de potência mediante um par de engrenagens. Existe, em termos práticos, uma boa quantidade de tipos de engrenagens, sendo que as classificadas como: a) cilíndricas de dentes retos, b) helicoidais (ou de dentes inclinados), c) cônicas e d) parafuso coroa sem-fim contemplam a grande totalidade dos casos e aplicações recorrentes na indústria mecânica. No geral, as engrenagens podem ser aplicadas nas mais variadas situações, havendo, porém, algumas características peculiares, dentre as quais se podem destacar: a) pequenas distâncias entre eixos, b) eixos paralelos, reversos ou ortogonais, c) suportam sobrecargas elevadas e d) apresentam razão de velocidade angular constante. São, comparativamente às correias e correntes de transmissão, mais caras e, consequentemente, mais resistentes. Os rendimentos, exceto para o caso de parafusos coroa sem-fim, ficam na faixa dos 98%. As engrenagens retas são as mais simples de todas e apresentam usinagem mais facilitada. Têm como inconveniente principal o problema do ruído, característico da “marcha-ré” dos nossos automóveis. As engrenagens helicoidais fazem a compensação desse problema de ruído devido a uma condição de engrenamento mais suave, apresentando, entretanto, a presença de uma componente axial de esforço ao longo do eixo, o que obriga a utilização correspondente de mancais de escora (mancais axiais) no sistema. As engrenagens cônicas, que podem ser de dentes retos ou inclinados (espirais), trabalham normalmente numa disposição de eixos a 90º, favorecendo assim a transmissão de potência entre eixos que necessitam estar configurados nessa posição. Por fim, o sistema parafuso coroa sem-fim contempla um pinhão similar a um parafuso (da onde decorre a denominação) e uma coroa com dentes curvos e abaulados que permitem o encaixe perfeito do parafuso. Esse sistema tem por objetivo principal trabalhar com grandes relações de multiplicação, que podem chegar a 1:100, apresentando, porém, rendimentos bastante inferiores ao caso geral das engrenagens. 3 CONTEXTUALIZANDO Assim como foi discutido e apresentado para o caso das transmissões por correias e correntes, inúmeros são os sistemas mecânicos que apresentam algum tipo de transmissão por engrenagens. Podem ser sistemas robustos contemplando engrenagens de aço-carbono de elevada resistência, como também sistemas mais simplificados e menores, contemplando engrenagens confeccionadas em algum tipo de polímero ou resina, por exemplo. As engrenagens são caracterizadas mediante o seu módulo, parâmetro esse que define basicamente a dimensão do dente correspondente. O módulo, medido em milímetros, é normalizado de acordo com normas específicas sobre o assunto, sendo função direta e decorrente da ferramenta ou processo de usinagem utilizado na confecção da engrenagem. Dentro dessa perspectiva, cabe questionar: quando devo optar pela utilização de uma engrenagem reta ou de uma engrenagem helicoidal? O que acontece caso eu opte por uma engrenagem de módulo maior ao originalmente calculado? Qual a influência de um maior número de entradas no caso dos parafusos sem-fim? TEMA 1 – ENGRENAGENS: GENERALIDADES Engrenagens são dispositivos, normalmente cilíndricos, dotados de dentes nas suas extremidades, que permitem, mediante uma condição adequada de acoplamento entre os dentes, uma transmissão de movimento e, consequentemente, de potência entre eixos distintos. São dispositivos mais robustos que as correias e correntes de transmissão, permitindo assim uma maior capacidade quanto à absorção de sobrecargas. Não apresentam qualquer problema no contexto do escorregamento, dado apresentarem uma relação de velocidades angulares constante, e são, via de regra, mais caros do que as transmissões por elementos flexíveis (correias e correntes). As engrenagens são confeccionadas a partir de ferramentas ou processos de geração típicos, apresentando assim, e, em decorrência da ferramenta selecionada, um parâmetro característico e que define basicamente o tamanho do dente de cada engrenagem. Trata-se do módulo, medido em milímetros e padronizado normalmente a partir de números inteiros. Cada ferramenta pode ainda apresentar variações no seu ângulo de pressão, sendo 4 que os valores de 14,5º, 17,5º, 20º e 25º são valores típicos e usuais nos processos de geração de engrenagens. O ângulo de pressão de 20º corresponde ainda à condição do chamado engrenamento normal, condição essa que deverá ser seguida e considerada quando não houver informações claras e diretas nos desenhos de fabricação, folhas de processo, memórias de cálculo ou qualquer ouro tipo de documento relacionado ao par de engrenagens considerado. O perfil convencionalmente utilizado na confecção dessas rodas é o chamado perfil evolvental (ou simplesmente evolvente). Ele apresenta usinagem mais simplificada e uma direção invariável do esforço atuante sobre os dentes. Quadro 1 – Módulos padronizados (valores em mm) Fonte: Budynas. Figura 1 – Ferramenta de usinagem e ângulos de pressão da engrenagem Fonte: Boston. 5 Figura 2 – Exemplo de redutor por engrenagens Fonte: www.industriahoje.com.br TEMA 2 – ENGRENAGENS CILÍNDRICAS DE DENTES RETOS Engrenagens cilíndricas de dentes retos ou simplesmente engrenagens retas correspondem a uma boa e econômica alternativa para a transmissão de potência entre eixos paralelos. Os dentes são alinhados com o eixo de rotação da engrenagem, caracterizando transmissões não tão suaves e consequentemente mais ruidosas do que os outros tipos de engrenagens. A roda menor, normalmente designada como pinhão, é a roda motora, enquanto a roda maior, designada como coroa, corresponde à roda movida. Figura 3 – Engrenagens cilíndricas de dentes retos Fonte: Projetista de Máquinas. 6 Figura 4 – Engrenagem cilíndrica de dentes retos internos Fonte: http://www.fortunatoadriani.com.br Como formulário convencional para o caso de engrenagens retas, tem- se: Onde: dp= diâmetro primitivo da engrenagem dc = diâmetro de cabeça (externo) da engrenagem dr = diâmetro de raiz (interno) da engrenagem a = distância entre centros m = módulo da engrenagem p = passo normal da engrenagem z = número de dentes da engrenagem hc = altura de cabeça do dente hr = altura de raiz do dente h = altura total do dente Novamente, pode-se considerar que o torque transmitido, no caso, pelo pinhão, depende da potência transmitida e da rotação do eixo correspondente. Na prática, tem-se: 7 Ou, a partir da relação de transmissão: i = relação de transmissão f1 = frequência do pinhão (rps = Hz) N = potência transmitida (W) n1 = rotação do pinhão (rpm) n2 = rotação da coroa (rpm) O projeto de um par de engrenagens é normalmente um processo extenso e que envolve uma boa quantidade de fatores ou coeficientes de correção. Esse processo é baseado em formulações disponibilizadas pela AGMA (American Gear Manufacturers Association), entidade responsável pelas pesquisas, estudos e publicações técnicas correspondentes ao assunto engrenagens. Na prática, porém, e de forma mais direta, é possível determinar ou calcular o módulo mínimo necessário para um par de engrenagens transmitir com segurança um determinado nível de potência. Trata-se da equação de Lewis, cuja formulação matemática corresponde a: Ko = fator de sobrecarga (tabelado) Y = fator de forma de Lewis (tabelado) b = largura da engrenagem FT = força tangencial CS = coeficiente de segurança esc = tensão de escoamento domaterial da engrenagem Para o caso de engrenagens retas, sugere-se, ainda, uma relação prática entre o módulo e a largura da engrenagem na forma: 8 Tabela 1 – Fator de sobrecarga Fonte: Budynas. Tabela 2 – Fator de forma de Lewis Fonte: Boston. 9 TEMA 3 – ENGRENAGENS HELICOIDAIS Diferentemente das engrenagens retas, as helicoidais (ou de dentes inclinados) apresentam uma transmissão suave e numa condição de ruído bastante inferior ao caso das primeiras. O engrenamento ocorre de forma mais gradual e ao longo de um percurso maior, permitindo assim uma maior capacidade de transmissão de potência para um mesmo tamanho de engrenagem. Pares dessa natureza, entretanto, geram a presença de cargas axiais decorrentes da inclinação dos dentes, ocasionando e exigindo a presença de pelo menos um mancal axial (ou de escora) no eixo de transmissão correspondente. Figura 5 – Engrenagens helicoidais Fonte: Projetista de Máquinas. As engrenagens helicoidais, ao serem usinadas, utilizam basicamente a mesma ferramenta adotada para o caso da usinagem de engrenagens retas, havendo, porém, uma certa inclinação da ferramenta quando da sua entrada no disco a ser usinado. Isso acarreta a presença de três passos (distância consecutiva entre dois dentes) distintos na configuração final da engrenagem: o passo normal (ou passo da ferramenta), o passo no plano transversal e o passo axial, cujas relações matemáticas valem: Onde: px= passo axial da engrenagem pt = passo no plano transversal da engrenagem = ângulo de hélice da engrenagem 10 Figura 6 – Passos da engrenagem helicoidal Fonte: Juvinall. Em decorrência ainda dessa inclinação da ferramenta, surge a presença de um ângulo de pressão no plano transversal, bem como um módulo transversal correspondente, cujas relações matemáticas são dadas por: Onde: = ângulo de pressão da engrenagem t = ângulo de pressão no plano transversal da engrenagem No contexto do projeto de um par helicoidal, prevalecem as mesmas condições descritas anteriormente, sendo que, na prática e numa aproximação inicial, torna-se possível determinar o módulo mínimo necessário para esse par transmitir com segurança um determinado nível de potência. Dessa forma, a equação de Lewis pode ser reescrita na forma: Onde: mt = módulo no plano transversal da engrenagem Para o caso de engrenagens helicoidais, sugere-se agora uma relação prática e direta entre o módulo e o passo axial da engrenagem na forma: 11 Figura 7 – Ângulos de pressão no plano normal e transversal da engrenagem Fonte: Juvinall. TEMA 4 – ENGRENAGENS CÔNICAS As engrenagens cônicas apresentam a condição de dentes afunilados e concebidos a partir de um cone de referência. São engrenagens normalmente dispostas em ângulos de 90º e que se encontram disponíveis na concepção de dentes retos ou dentes inclinados (ou curvos). As cônicas retas, similares às cilíndricas de dentes retos, apresentam uma condição de ruído mais desfavorável, enquanto as cônicas curvas, similares às helicoidais, são mais silenciosas nesse contexto. Devido ainda à disposição dos eixos, engrenagens cônicas também apresentam a presença de uma componente axial de esforço, exigindo a utilização de mancais axiais nos eixos de transmissão correspondentes. Figura 8 – Engrenagens cônicas Fonte: Projetista de Máquinas. 12 Figura 9 – Engrenagens cônicas de nylon Fonte: www.zonhwa.com A equação de Lewis original prevalece para o projeto das engrenagens cônicas, não havendo, nessas circunstâncias, qualquer ajuste a ser realizado na referida equação. Deve-se dar atenção especial, entretanto, para as recomendações acerca da largura dessas engrenagens, para as quais sugere- se a utilização do maior valor numérico dentre as seguintes relações: Onde: L = comprimento do cone primitivo da engrenagem Figura 10 – Ângulos dos cones primitivos e comprimento do cone primitivo de engrenagens cônicas Fonte: Juvinall. 13 De onde se pode considerar: Onde: rp1 = raio primitivo do pinhão rp2 = raio primitivo da coroa 1 = ângulo do cone primitivo do pinhão 2 = ângulo do cone primitivo da coroa TEMA 5 – PARAFUSO COROA SEM-FIM Por fim, tem-se o sistema parafuso coroa sem-fim, para o qual as considerações e premissas apresentadas para o caso geral de engrenagens praticamente perdem a validade. Trata-se de um fuso, similar a um parafuso, que aciona uma coroa com dentes curvos e abaulados visando obter, quase na totalidade das aplicações, elevadas relações de transmissão. Na prática, esses sistemas trabalham com relações de transmissão (ou multiplicação) que variam de 1:10 até 1:100, em média, não havendo assim uma grande preocupação com o nível de potência transmitido. São sistemas que apresentam, em função da sua própria concepção, rendimentos bastante inferiores ao caso geral das engrenagens, podendo atingir faixas de apenas 50 a 60% em determinadas situações. Figura 11 – Parafuso coroa sem-fim Fonte: Projetista de Máquinas. 14 O projeto de sistemas parafuso coroa sem-fim não apresenta relações que possam ser simplificadas, como no caso dos demais tipos de engrenagem, dado que o número de considerações e variáveis envolvidas é bem mais significativo. Propomos, nessas circunstâncias, apresentar as relações fundamentais e geométricas existentes, permitindo ao leitor uma avaliação global sobre o referido sistema. Figura 10 – Relações fundamentais num sistema parafuso coroa sem-fim Fonte: Juvinall. Onde: L= avanço do sem-fim ângulo de avanço do sem-fim px = passo axial do sem-fim pt = passo transversal da coroa NW = número de entradas do sem-fim d0 = diâmetro externo do sem-fim Dt = diâmetro externo da coroa 15 dr = diâmetro de raiz do sem-fim Dr = diâmetro de raiz da coroa a = adendo (tabelado) b = dedendo (tabelado) c = folga do dente Tabela 3 – Relações fundamentais, pinhão e coroa sem-fim Fonte: Shigley. FINALIZANDO Finalizando, em nossa terceira aula, vimos importantes conceitos no contexto das transmissões de potência mediante um par de engrenagens. Engrenagens retas, helicoidais e cônicas foram avaliadas no contexto das suas principais particularidades, como também em termos de projetos simplificados que permitem a determinação de um módulo mínimo preliminar para atendimento à condição de potência de cada problema. Os sistemas compostos por parafusos e coroas sem-fim também foram avaliados no tocante às suas principais relações geométricas e fundamentais. Excetuando-se os sistemas por parafusos coroa sem-fim, observou-se que os rendimentos das engrenagens em geral ficam na faixa dos 98%, caracterizando ainda uma maior capacidade de transmissão de potência e de atendimento à sobrecargas do que no caso das transmissões por elementos flexíveis. Após esta aula, o(a) aluno(a) será capaz de reconhecer e identificar os principais tipos de engrenagens, suas principais características e parâmetros geométricos, como também avaliar condições de projeto preliminares e que permitam a definição de um módulo mínimo necessário para cada condição. 16 REFERÊNCIAS BOSTON GEAR CATALOG. Disponível em: <http://www.bostongear.com/ecatalog >. Acesso em 17 nov. 2017. BUDYNAS, R. G.; NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley. São Paulo: Bookman, 2013. FORTUNATO ADRIANI. Disponível em: <http://www.fortunatoadriani.com.br>. Acesso em 17 nov. 2017. GLEASON. Gears and Gears Manufacturing. Disponível em: <http://www.gleason.com>. Acesso em 17 nov. 2017. –. INDÚSTRIA HOJE. Disponível em: <http://www.industriahoje.com.br>. Acesso em 17 nov. 2017. JUVINALL, R. Fundamentos do projeto de componentes de máquinas. São Paulo: LTC, 2007.MOTT, R. Elementos de máquinas em projetos mecânicos. São Paulo: Pearson, 2005.
Compartilhar