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PROJETO DE COMPONENTES MECÂNICOS AULA 6 Prof. Julio Almeida CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) à nossa sexta aula de Projetos de Componentes Mecânicos. Nesta aula, veremos os conceitos gerais dos parafusos ou uniões parafusadas, bem como particularidades e características gerais das uniões soldadas. Figura 1 – Exemplo de união parafusada Fonte: Full estruturas. Figura 2 – Exemplo de união soldada Fonte: Full estruturas. Existem, em termos práticos, alguns padrões gerais de tipos de roscas, sendo que a rosca unificada (padrão americano) e a rosca métrica (padrão ISO) contemplam a quase totalidade dos casos gerais das uniões parafusadas. Para o caso específico dos parafusos de potência (ou transmissores de força) se aplicam normalmente as roscas quadradas e ACME. Os parafusos de potência correspondem a dispositivos utilizados normalmente para a movimentação de cargas, transformando movimentos de 3 rotação em suaves movimentos lineares. Exemplos gerais desse tipo de aplicação podem ser encontrados nas morsas de bancada, macacos de automóveis, fusos de torno, fusos de prensas, entre outros. Quanto às uniões soldadas, que podem ser classificadas como união permanente (os parafusos em geral contemplam uniões não permanentes), deve-se considerar a necessidade de mão de obra qualificada, um maior investimento inicial e a presença de tensões residuais nas proximidades dos cordões em decorrência das variações de temperatura ocorridas entre as peças a serem unidas. A principal vantagem, por outro lado, é a possibilidade de soldagem da quase totalidade dos materiais de engenharia. CONTEXTUALIZANDO Os parafusos podem e são utilizados numa grande maioria de sistemas de fixação adotados em componentes mecânicos, em decorrência principalmente da simplicidade, custo e até mesmo facilidade para montagem e desmontagem da união. Alguns são os tipos de carregamentos atuantes sobre os parafusos, havendo, porém, uma boa quantidade de casos nos quais os parafusos acabam sendo solicitados ao corte ou cisalhamento (corte simples ou corte duplo). Na avaliação dos parafusos de potência, a premissa principal de cálculo decorre do torque necessário para movimentar o parafuso, seja na condição contrária à carga ou a favor da carga. Trata-se de um sistema cujo funcionamento está diretamente associado ao atrito atuante nos filetes da rosca e, eventualmente, no mancal (ou porca) de escora. Conforme citado, dois são os principais tipos de rosca normalmente utilizados nesses dispositivos: a rosca quadrada e rosca ACME. Quanto às uniões soldadas, deve-se efetivar uma avaliação preliminar no contexto do tipo de carregamento ao qual o cordão de solda estará submetido, sendo que nessas circunstâncias prevalecem as soldas (uniões) de topo e as soldas (uniões) sobrepostas. As juntas de topo implicam uma condição de tração ou compressão sobre o cordão de solda, e as juntas sobrepostas caracterizam uma condição de cisalhamento ou corte sobre o cordão de solda em análise. A especificação AWS faz ainda a designação das especificações dos eletrodos de soldagem a serem utilizados, caracterizando suas propriedades mecânicas e de resistência correspondentes. 4 Dentro dessa perspectiva, cabe questionar: quando devo optar pela utilização de uma união parafusada e quando por uma soldada? Posso garantir que, ao elevar o meu veículo com o uso do macaco, este permanecerá na posição elevada depois que for solta a manivela de acionamento? Que tipo de rosca devo utilizar numa união parafusada convencional? TEMA 1 – PARAFUSOS: GENERALIDADES Conforme descrito anteriormente, os parafusos estão presentes numa grande quantidade de sistemas de fixação utilizados em componentes mecânicos em geral. Isso decorre provavelmente de seu baixo custo e facilidade de aplicação, caracterizando assim as chamadas uniões não permanentes. Existem, evidentemente, desvantagens e restrições quanto à sua utilização, como a concentração de tensões nos filetes de rosca e a possibilidade de afrouxamento da união em situações de componentes dotados de vibração, por exemplo. Em situações gerais, os padrões de rosca unificada (americano) e métrica (ISO) acabam sendo utilizados numa boa quantidade dos casos das uniões parafusadas. Para o caso da rosca unificada, faz-se a sua designação a partir do diâmetro nominal (externo) do parafuso em polegadas, juntamente ao número de filetes disponível em cada polegada e ainda com a indicação do padrão de rosca considerado, por exemplo: 5/8” x 18 UNF (sendo que UNF corresponde à rosca de passo fina e UNC corresponde à rosca de passo grosso). A designação da rosca métrica é mais simples, dado que basta a letra M (indicativa de métrica), o diâmetro nominal do parafuso e o seu correspondente passo (distância consecutiva entre dois filetes adjacentes) ambos em mm, na forma: M10 x 1,5. Figura 3 – Exemplos gerais de parafusos e acessórios 5 Fonte: Ciser Parafusos e Porcas. Figura 4 – Parâmetros gerais de um parafuso Fonte: Shigley. 6 Tabela 1 – Roscas padrão ISO Fonte: Shigley. Tabela 2 – Resistências: parafusos e porcas, padrão ISO Fonte: Shigley. 7 TEMA 2 – PARAFUSOS AO CISALHAMENTO Uma união parafusada submetida à condição de cisalhamento é algo bastante comum no contexto das uniões parafusadas em geral. Trata-se da situação na qual chapas distintas são furadas e unidas mediante a utilização de parafusos posicionados de forma transversal a elas, possibilitando uniões submetidas a corte simples ou corte duplo, dependendo do número de secções do parafuso que fiquem efetivamente submetidas à condição de corte. O dimensionamento desse tipo de união é feito pela divisão da carga atuante em cada parafuso pela sua área nominal (área correspondente ao seu diâmetro externo), efetivando-se posteriormente uma comparação direta com a tensão admissível do parafuso. Nessas circunstâncias, a resistência dos parafusos de rosca métrica, por exemplo, é tomada em função da sua chamada classe de resistência, uma designação feita por dois algarismos distintos (4.8/5.8/8.8) na qual o primeiro dígito faz referência direta a um décimo da mínima resistência à tração do parafuso (em kgf/mm2) e o segundo dígito apresenta uma relação percentual de alongamento do parafuso. A tabela anterior traduz o valor desse limite ao escoamento em MPa. Figura 5 – Exemplo de parafuso em cisalhamento Fonte: Juvinall. 8 Figura 6 – Exemplo de união parafusada em corte duplo Fonte: Beer. n d P 2 4 . Onde: P = carga externa atuante; d = diâmetro nominal (externo) do parafuso; = tensão de cisalhamento do material do parafuso (t = 0,577 sesc); n = número de secções em corte (cisalhamento). Figura 7 – Exemplo de união parafusada em corte simples Fonte: Hibbeler. TEMA 3 – PARAFUSOS DE POTÊNCIA São dispositivos mecânicos utilizados para converter o movimento de rotação, da porca ou do parafuso, em um movimento relativamente lento e linear do componente acoplado ao eixo do parafuso. Como exemplos gerais de parafusos de potência, podem-se destacar as seguintes aplicações: prensas, 9 máquinas de ensaio de tração, morsas manuais, compactadores de lixo, fusos de tornos, macacos de automóveis etc. Para confecção dos parafusos de potência se adotam, basicamente, os perfis de rosca quadrada e rosca ACME. Apesar da rosca ACME não ser tão eficiente quanto a rosca quadrada (atrito adicional devido ao efeito cunha do perfil), a mesma acaba sendo preferida em decorrência da sua maior facilidade em termos de usinagem. Figura 8 – Exemplos de aplicação dos parafusos de potência Fonte: Tornoaria Zico Ltda. Fonte: Carros Blog. 10 Figura 9 – Principaistipos de rosca para parafusos de potência Fonte: Juvinall. O parafuso pode ainda ser confeccionado nas formas de rosca simples, rosca dupla ou rosca tripla. Tal condição está diretamente associada ao número de entradas do parafuso, parâmetro esse que relaciona o passo do parafuso (distância consecutiva entre dois filetes de rosca adjacentes) com o correspondente avanço da peça (distância percorrida pela porca numa volta completa), mediante a relação: pentradasnL o . Onde: L = avanço do parafuso; p = passo do parafuso. Outro componente normalmente presente nas concepções de projeto dos parafusos de potência corresponde ao mancal de escora, ou simplesmente colar. Esse dispositivo tem por objetivo principal servir de encosto ou apoio para os componentes fixos e girantes do sistema. Em decorrência do contato direto com o fuso, o mancal acaba absorvendo uma parcela do torque necessário para o acionamento do parafuso, cuja expressão corresponde a: 2 cc colar dFf T Onde: fc = coeficiente de atrito do colar; dc = diâmetro do colar. 11 Figura 10 – Exemplo de mancal de escora (colar) De posse da carga externa atuante sobre o parafuso e de seus parâmetros geométricos (diâmetro médio, passo e número de entradas), torna- se possível definir os torques necessários para o acionamento. Trata-se de duas situações distintas, ou seja, o torque máximo requerido em decorrência de o parafuso atuar contra a carga externa (elevando essa carga no caso de um macaco de automóvel, por exemplo), ou o torque de menor intensidade requerido em decorrência de o parafuso atuar a favor da carga externa (abaixando o automóvel, no exemplo anterior). Observe-se ainda que o torque de abaixamento deverá resultar sempre positivo, de forma que a carga não abaixe sozinha devido ao seu peso próprio (isso é designado como condição de autorretenção do parafuso). Para rosca quadrada: 22 cc m mm elev dFf fLd dfLFd T 22 cc m mm abaix dFf fLd LdfFd T Para rosca ACME: 2sec sec 2 cc m mm elev dFf fLd dfLFd T 2sec sec 2 cc m mm abaix dFf fLd LdfFd T Onde: F = carga externa a ser transmitida; L = avanço do parafuso; h 12 dm = diâmetro médio do parafuso; f, fc = coeficientes de atrito nos filetes da rosca e no colar; dc = diâmetro do colar; Telev = torque contra a carga ou de elevação; Tabaix = torque a favor da carga ou de abaixamento. O ângulo do filete para a rosca ACME vale 14,5º, conforme pode ser observado em figura: Figura 11 – Perfil ACME Para finalizar, torna-se necessário, em determinadas situações de projeto, a determinação do rendimento ou eficiência do parafuso de potência considerado. Nessas circunstâncias, tem-se: elevT FL e 2 Sendo que, via de regra, a eficiência destes dispositivos é relativamente baixa, podendo atingir valores da ordem de 60 a 70%. Uma das alternativas utilizadas de forma complementar e no intuito de melhorar o valor dessa eficiência corresponde à utilização de um maior número de entradas no parafuso. TEMA 4 – UNIÕES SOLDADAS: GENERALIDADES Um segundo modelo, convencionalmente utilizado para a fixação de sistemas mecânicos em geral, corresponde às uniões soldadas (ou simplesmente soldas), para as quais tem-se as seguintes considerações iniciais: 13 a. diferente dos parafusos, exigem mão de obra qualificada; b. podem ser realizadas de forma manual ou automatizada; c. o cordão de solda finalizado apresentará tensões residuais decorrentes das temperaturas envolvidas no processo de soldagem; d. tem-se a necessidade de uma preparação adequada e preliminar das peças a serem unidas; e. podem ser utilizadas para todos os tipos de carregamentos existentes; f. exigem, normalmente, um maior investimento inicial em termos de equipamentos e acessórios; g. praticamente todos os materiais de engenharia podem ser soldados. Figura 12 – Exemplos de uniões soldadas Fonte: Soldor. Fonte: www.qualixengenharia.com.br 14 Fonte: QualitySolda. Figura 13 – Tipos de bordas mais comuns Fonte: Norton. O projeto de uma união soldada, como qualquer outro dispositivo mecânico, exige a aplicação de tensões de referência e coeficientes de segurança correspondentes. Para a soldagem mediante a utilização dos eletrodos convencionais de solda, a AWS (American Welding Society) disponibiliza informações acerca das tensões de ruptura e escoamento 15 correspondentes aos principais tipos de eletrodos utilizados na indústria. De forma similar, a norma AISC (American Institute of Steel Construction), disponibiliza informações acerca dos coeficientes de segurança a serem considerados em estruturas metálicas que venham a utilizar cordões de solda. Essas informações encontram-se nas tabelas a seguir. Tabela 3 – Propriedades mínimas dos eletrodos Fonte: Shigley. Tabela 4 – Tensões permitidas pela AISC Fonte: Shigley. TEMA 5 – SOLDAS DE TOPO E SOBREPOSTAS Dos diversos tipos de uniões soldadas existentes, podem-se destacar, devido à sua simplicidade e grande quantidade de aplicações práticas, as soldas de topo e as soldas sobrepostas. As uniões de topo contemplam chapas distintas e adequadamente chanfradas nas suas extremidades, que são unidas mediante um cordão de solda contínuo ou não e estarão submetidas a cargas de tração ou compressão. As uniões sobrepostas contemplam também chapas distintas, que são agora posicionadas uma sobre a outra e unidas mediante cordões de soldas distintos, objetivando suportar cargas em cisalhamento. 16 Em ambos os casos, eventuais reforços utilizados em relação ao cordão de solda em análise não devem ser considerados no equacionamento matemático correspondente. Figura 14 – Exemplo de solda de topo Fonte: Shigley. Para a solda de topo, tem-se: adm Lh P Onde: P = carga atuante sobre o cordão de solda; L = comprimento total do cordão de solda; h = altura do cordão de solda (sem os eventuais enchimentos). Figura 15 – Exemplo de solda sobreposta Fonte: Shigley. Para a solda sobreposta, tem-se: adm La P Onde: P = carga atuante sobre o cordão de solda; L = comprimento total do cordão de solda; a = garganta do cordão de solda. Observar que para o caso das soldas sobrepostas utiliza-se o conceito da garganta do cordão de solda, ou seja, a direção da solda que irá apresentar 17 o cisalhamento caso ocorra a condição de falha. Esse valor pode ser relacionado com a altura do filete mediante a relação: 045cosha Figura 16 – Relação entre a garganta da solda e altura do filete FINALIZANDO Finalizando, em nossa sexta aula, vimos importantes conceitos no contexto da fixação de sistemas mecânicos em geral. Os parafusos ou uniões parafusadas estão presentes na quase totalidade dos sistemas mecânicos disponíveis, em decorrência seja da facilidade de aplicação seja dos custos envolvidos. Discutiram-se, assim, além das principais particularidades e tipos de parafusos, o dimensionamento de uniões submetidas à condição de cisalhamento e os parafusos de potência ou transmissores de carga. No contexto das uniões soldadas, além das suas particularidades e aplicações, diferenciamos as soldas de topo e as soldas sobrepostas devido ao fato de esses tipos de uniões contemplarem uma boa quantidade de casos envolvendo o processo de soldagem. Após esta aula, o(a) aluno(a) será capaz de reconhecer e identificar os principais tipos de parafusos, suas principais características, como também reconhecer e avaliar premissas associadas aos parafusos de potência. Projetos e cálculos simplificados de uniões soldadas de topo e sobrepostas também fizeram parte do escopo,possibilitando ao(à) aluno(a) condições para uma verificação ou dimensionamento correspondente. Leitura obrigatória Capítulos 17.2 – Parafusos de potência, 17.4 – Considerações sobre a aplicação dos parafusos de potência, 18.2 – Materiais para parafusos e suas resistências e 18.3 – Designação de roscas, do livro-texto. 18 REFERÊNCIAS BUDYNAS, R. G.; NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley. São Paulo: Bookman, 2013. CARROS BLOG. Disponível em: <https://www.carrosblog.com>. Acesso em: 20 nov. 2017. CISER PARAFUSOS E PORCAS. Disponível em: <http://www.ciser.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2017. FULL ESTRUTURAS. Disponível em: <http://fullestruturas.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2017. HAMROCK, Bernard J. Elementos de máquinas. Nova York: McGraw-Hill, 2004. JUVINALL, R. Fundamentos do projeto de componentes de máquinas. São Paulo: LTC, 2007. MOTT, R. Elementos de máquinas em projetos mecânicos. São Paulo: Pearson, 2005. QUALITYSOLDA. Disponível em:<www.qualitysolda.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2017. SOLDOR. Disponível em: <http://soldor.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2017. TORNOARIA ZICO LTDA. Disponível em: <http://www.tornoariazico.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2017.
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