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UNIDADE 4 - Do direito contratual eletronico as relacoes consumeristas AMPLI

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Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao longo desta Unidade, você irá:
· descrever o direito contratual eletrônico;
· definir relações consumeristas na era digital;
· explicar o cenário cibernético.
Introdução da Unidade
Falar em Direito Cibernético demanda, necessariamente, que falemos sobre direito contratual e sobre as relações consumeristas que estão relacionadas ao ciberespaço. 
É isso mesmo! Você já parou para pensar que praticamente tudo o que fazemos ao longo do cotidiano envolve a celebração de contratos? Os negócios jurídicos estão presentes nas nossas vidas desde a mais simples relação interpessoal até a mais complexa. 
E não seria diferente com relação às ações que perfazem em âmbito digital, afinal de contas, você já sabe que o Direito e o Estado tutelam as relações que ocorrem no mundo virtual. 
Por isso, os negócios jurídicos que lá são firmados, os contratos que daí surgem, desde quando acessamos determinado serviço, adquirimos algum bem, ou até mesmo pelo simples ato de contratar um provedor de Internet, por exemplo, invocam a preocupação do direito cibernético, e há nesse contexto, obrigatoriamente, relação contratual e, em algumas situações, relação de consumo. 
Para tanto, é fundamental que o profissional responsável por lidar com os desafios do mundo cibernético conheça o direito contratual eletrônico, bem como que esteja atento aos desafios proporcionados pelas dimensões consumeristas nesse panorama. 
Além do mais, considerando a importância de que você esteja atento aos principais tópicos do Direito Cibernético contemporâneo, note que é fundamental que você também conheça algumas questões criminais. Para isso, estudaremos os crimes praticados por meio eletrônico e a questão do tratamento jurídico da criança e do adolescente nesse contexto. 
Por fim, abordaremos a matéria dos riscos e fraudes no cenário cibernético, com atenção à perícia computacional e à metodologia para obtenção de evidências, além da caracterização das provas eletrônicas e sua tipificação legal. Bons estudos! 
Introdução da aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você verá o direito contratual eletrônico e aprenderá sobre responsabilidade civil dos provedores.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao longo desta aula, você irá:
· explicar contratação eletrônica;
· definir responsabilidade civil dos provedores;
· descrever direito contratual eletrônico..
Situação-problema
A partir de agora estudaremos o chamado Direito Contratual Eletrônico.
Para que você possa compreender com tranquilidade como se dá a disciplina jurídica dos contratos no meio cibernético, é fundamental, antes de tudo, que você esteja a par da doutrina geral dos contratos, conforme a legislação brasileira. 
Nesse sentido, começamos a pontuar os elementos imprescindíveis do direito contratual brasileiro, preparando-o para entender como ocorre a aplicação desses institutos e em que medida isso acontece no campo das relações travadas em ambiente virtual. 
Dessa maneira, você estará preparado para enxergar o perfil jurídico das tratativas negociais efetivadas pelos meios digitais, com razoável capacidade de entender os termos, as normas aplicáveis e as possíveis consequências advindas da prática de atos ilícitos, notadamente pelos provedores de Internet. 
À medida que as relações humanas passaram a constituir-se em meio digital, é natural que o Direito Cibernético se estruture, também, à luz da doutrina contratual, para extrair daí os preceitos por meio dos quais pode pensar a tutela jurídica dos negócios entabulados no ciberespaço. Uma empresa de tecnologia guardava com sigilo e extrema cautela documentos digitais referentes à nova versão do sistema operacional que estava prestes a ser disponibilizado aos usuários. 
Vários acordos e negociações já haviam sido celebrados entre a empresa de tecnologia e estabelecimentos de divulgação e marketing para anunciar aquele novo produto. Emissoras de televisão e rádio, jornais e outros veículos de comunicação foram pagos antecipadamente, assim como contratos com celebridades que divulgariam o novo sistema operacional por meio das redes sociais já estavam prontos, até que um dia antes da divulgação, um indivíduo, não se sabe como, conseguiu acessar a rede de computadores que guardava todas as informações do novo sistema, inclusive o próprio produto. Como se não fosse o bastante, o usuário não identificado publicou as informações em um portal de notícias. 
A informação em pouco tempo se espalhou e diversos veículos de informação ao redor do mundo já estavam comentando sobre o vazamento. Todo o esforço empregado para que a divulgação acontecesse da forma que a empresa desejava foi em vão; os contratos firmados com as celebridades, o pagamento já realizado às empresas de marketing e aos veículos de comunicação representavam nada mais que um enorme prejuízo financeiro e uma tremenda dor de cabeça, pois não havia mais necessidade de divulgar/inaugurar um produto já conhecido para o público.
Além disso, o produto se encontrava disponível, de forma gratuita, em diversos sites. Uma simples busca no navegador possibilitava o acesso a centenas, talvez milhares de links para o download do produto, que seria vendido por R$ 100,00 a unidade. 
Em meio a essa catástrofe, advogados da empresa de tecnologia, buscando responsabilizar e obter um ressarcimento para reparar os danos sofridos, ajuizaram uma ação judicial contra outra empresa, uma provedora de internet famosa. 
A parte alegou que a provedora deveria arcar com a responsabilidade civil do dano causado, pois, apesar de ser causado por terceiro, teria sido responsável por aquele dano, na medida em que permitiu que a publicação feita pelo invasor se alastrasse e que ela ainda estivesse disponível na rede. 
Ao receber a intimação, a empresa provedora, assustada, reconhecendo o alto valor indenizatório solicitado pelo requerente, busca você, em caráter de especialista em direito cibernético, para elaborar um parecer sobre o caso. 
Afinal, a provedora é responsável por danos causados por terceiros? Existe alguma lei que regulamente esse assunto? 
Vamos juntos dar mais este importante passo dos nossos estudos!
Tenha uma excelente leitura! 
Direito contratual e sua importância
Em toda disciplina, é importante nos dedicarmos a entender, inicialmente, a conceituação da temática a ser analisada, sobre o que estudaremos e em qual terreno a técnica jurídica deverá se realizar. Com o direito civil, que lida com as relações entre os sujeitos de direito e os bens da vida, as coisas, não é diferente. 
E para o nosso caso, do Direito Cibernético, a mesma lógica deve ser seguida, especialmente no campo dos contratos, no qual há forte presença do ordenamento jurídico relativo às relações obrigacionais. Assim, contrato é “um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé, auto disciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades”, segundo Gagliano.
A manifestação de vontade é a verdadeira condição de existência dos contratos, já que não se pode falar, neste campo jurídico, de nenhuma avença que tenha sido fruto de opressão ou violência. Trata-se, assim, de um campo onde se manifesta a vontade livre, de negócio jurídico que se afirma como um instrumento de conciliação de interesses contrapostos. 
O contrato, então, realiza e conforma vontades, considera interesses, manejando-os sob a rubrica legal e do contexto de circulação de bens e serviços, de circulação de capitais – algo que é imprescindível para o desenvolvimento econômico.
Assim como a propriedade, os contratos também possuem uma função social, que necessariamente deve estar presente. Esse aspecto diz respeito, sobretudo, a uma leitura constitucional e social dos contratos, que é instituto típico de direito privado. 
Há, assim, uma relevância social nos contratos, que vai desde a característica destacada com relação ao desenvolvimento econômico até uma ideia de pacificação social e segurança jurídica.Essa socialização dos contratos, e do direito privado em geral, diga-se de passagem, vai muito além da primária noção de harmonização de interesses contrapostos, à medida que busca respeitar a dignidade humana, relativizar a igualdade das partes contratantes, isto é, considerando as posições reais e não meramente formais das partes, a presença da cláusula implícita da boa-fé objetiva (deveres de lealdade, confiança, confidencialidade e transparência), o respeito ao meio ambiente e os valores sociais do trabalho. 
Do que estudamos até aqui, é possível propor uma redefinição do contrato, para que alcance o plexo de valores constitucionais a partir dos quais, afinal, todo o direito deve ser lido, interpretado e aplicado. O contrato, então, é
negócio jurídico bilateral, por meio do qual as partes, visando a atingir determinados interesses patrimoniais, convergem as suas vontades, criando um dever jurídico principal (de dar, fazer ou não fazer), e, bem assim, deveres jurídicos anexos, decorrentes da boa-fé objetiva e do superior princípio da função social. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2020, p. 446)
A natureza jurídica do contrato é a de negócio jurídico. Domina no direito brasileiro a corrente voluntarista, isto é, a que considera a declaração de vontade como elemento predominante, inclusive à luz do disposto no art. 112 do Código Civil, segundo o qual “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que sentido literal da linguagem”. 
As críticas a essa corrente dizem respeito ao fato de que nem sempre a verdadeira premissa dos contratos é a vontade destinada a um determinado fim previamente conhecido, até mesmo porque é possível a conversão substancial do negócio, segundo o princípio da conservação, quando o negócio inicialmente entabulado, inválido, converte-se em outro válido desde que apresente os respectivos pressupostos deste último. 
Além disso, o negócio jurídico “é a manifestação de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico, pretendidos pelo agente”. 
Logo, o consentimento ou consenso é que se torna verdadeiramente importante para a formação de um contrato (negócio jurídico), formado, portanto, a partir das vontades emitidas pelos declarantes. Sem isso, o negócio jurídico será considerado inexistente. Mas o que orienta a disciplina dos contratos? Os princípios! Precisamos conhecer alguns dos principais. Vamos lá?
Os princípios são ditames superiores que fundam e informam o conjunto de regras do direito positivo. Conferem, assim, fundamento de validade e significado legitimador à integralidade da legislação. Nesse sentido, no campo do direito privado, contratual, em particular, abandona-se uma postura excessivamente patrimonialista, visando a buscar uma condição de dignidade à leitura dos contratos, centrada, assim, na pessoa humana. 
Isso faz com que haja a constitucionalização do direito civil por meio da introjeção de princípios fundamentais nas relações privadas, com verdadeira força normativa. Conheceremos, a partir de agora, os princípios mais importantes da doutrina contratual de nosso tempo.
A liberdade contratual é um elemento que está na base da autonomia da vontade, isto é, de se decidir se é oportuno ou não celebrar um contrato, ou se o contrato será com esta ou aquela pessoa, de uma forma ou de outra e em qual prazo. 
No entanto, como já podemos perceber, essa autonomia e essa liberdade não são absolutas, porque existem normas que precisam ser observadas apesar da vontade das partes, como característica da socialização que nós vimos. 
Nesse sentido, fala-se em dirigismo contratual, justamente para que se entenda que existem limitações de ordem pública aplicadas à realidade dos contratos. Então, como já foi dito, a função social, a boa-fé objetiva, a preocupação com a dignidade e o respeito ao meio ambiente são alguns exemplos desse dirigismo. 
O princípio da força obrigatória do contrato, conhecido como pacta sunt servanda, indica que o contrato faz lei entre as partes, afinal de contas, de nada valeria um contrato se o que estivesse ali estipulado não devesse ser cumprido, não fosse obrigatório. Ocorre que esse princípio não pode ser levado às últimas consequências, isto é, não possui caráter absoluto. 
Isso acontece porque inúmeras são as circunstâncias da vida real que podem modificar o funcionamento das cláusulas previstas num contrato, por exemplo. Imagine que uma prestação se torne excessivamente onerosa em virtude da ocorrência de uma pandemia que resultasse em altos índices de desemprego e bruscas quedas de renda. 
Assim é que a força obrigatória dos contratos deve ceder lugar a uma leitura conformativa, de proporcionalidade, consoante as circunstâncias concretas. Nesse contexto, a questão do equilíbrio contratual é tema de fundamental importância, sobretudo quando tratado à luz da teoria da imprevisão, que “é invocada quando um acontecimento superveniente e imprevisível torna excessivamente onerosa a prestação imposta a uma das partes, em face da outra que, em geral, se enrique à sua custa ilicitamente”.
Função social dos contratos
Já tivemos a oportunidade de discutir a função social dos contratos como uma das características relativas ao seu conceito. É certo que a constante transformação da sociedade faz com que os institutos de direito privado, como dos contratos, sofram adaptações, sobretudo considerando o fato de que precisam ser compreendidos à luz dos direitos e garantias fundamentais, bem como do dirigismo contratual que estudamos. 
Por isso é difícil e até pouco recomendável conceituar de maneira precisa e única a função social dos contratos, que, com efeito, poderá variar quanto ao sentido, de acordo com as situações concretas. No entanto, é possível dizer que a função social se manifesta numa perspectiva ou nível intrínseco ao contrato, no que diz respeito à imposição de lealdade negocial e à boa-fé objetiva na relação mútua entre as partes, a fim de assegurar equivalência material entre elas (isto é, ausência de desequilíbrio).
Por outro lado, num nível extrínseco, tem-se em mira a proteção da coletividade quanto às possíveis repercussões do contrato, isto é, quanto aos seus efeitos. Aliás, é importante que questões de ordem moral, bem como as relacionadas à proteção do meio ambiente, sejam consideradas. 
Contrato.
Para Paulo Luiz Netto Lôbo (2002, [s. p.]): 
o princípio da equivalência material busca realizar e preservar o equilíbrio real de direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para harmonização dos interesses. Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando se as mudanças de circunstâncias pudessem ser previsíveis. 
Há quem entenda diferente, de modo que tal princípio seria mais uma proveniência da função social do contrato. A boa-fé pode ser analisada sob dois diferentes prismas: subjetivo e objetivo. A boa-fé, assim entendida sob o prisma subjetivo, diz respeito a uma situação psicológica, “um estado de ânimo ou de espírito do agente que realiza determinado ato ou vivência dada situação, sem ter ciência do vício que a inquina”.
Tal estado subjetivo deriva do reconhecimento da ignorância do agente a respeito de determinada circunstância, que macularia o contrato. É diferente da boa-fé objetiva – que mais nos importa –, porque pode ser aferida, medida, comprovada, verificada. 
É porque a boa-fé objetiva é princípio contratual consagrado, delineado em conceito jurídico indeterminado, que consiste em regra de comportamento, com notável fundo ético, porém com exigibilidade do ponto de vista jurídico. 
Essa exigência de comportamento de boa-fé, segundo uma média da sociedade, do que é razoável e pertence ao bom-senso, traz consigo alguns deveres anexos, que também são exigíveis juridicamente, como os deveres de confiança,lealdade, informação, transparência, assistência, confidencialidade, etc. Um contrato válido, portanto, é aquele dever jurídico que consiste numa prestação de fazer, de não fazer ou de dar, bem como nos deveres inerentes e decorrentes da boa-fé objetiva. 
_______
💭 Reflita
Será que apenas os contratos expressamente previstos pela legislação podem ser celebrados ou é possível a celebração de contratos atípicos?
________
Além disso, é importante que você conheça os três momentos do contrato: a oferta, a aceitação e a conclusão do contrato. Com efeito, o mais importante elemento de formação dos contratos é a manifestação de vontade livre e desembaraçada, que faça convergir num acordo de vontades, que convirja, como já sabemos, em consenso. 
As negociações preliminares entre as partes demandam uma definição adequada dos termos proposta e aceitação. A proposta, também chamada de oferta, policitação ou oblação, é que dá início à formação do contrato, não dependendo, para ser realizada, de forma especial. Não é sempre que a partir da proposta a aceitação ocorrerá imediatamente, pois outras negociações ainda poderão ser feitas – a chamada puntuação, as próprias negociações preliminares. 
Nesse contexto, ainda não há vinculação de uma parte à outra. Mesmo que surja um projeto ou uma minuta de contrato, não há obrigatoriedade ainda. Só haverá responsabilização, nesse momento, se houver interesse de prejudicar a outra parte, causando-lhe dano. Essa possibilidade deve ser lida à luz da boa-fé objetiva, como já tivemos a oportunidade de explicar. 
A oferta “representa o impulso decisivo para a celebração do contrato, consistindo em uma declaração de vontade definitiva”, segundo Gonçalves. A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócio proposto, como preço, quantidade, eventuais prazos, forma de pagamento, etc., bem como deve ser séria e consciente, à medida que vincula o proponente, conforme indicado no art. 427 do Código Civil. 
Além disso, deve ser clara, completa e inequívoca, formulada em linguagem simples e direta, que possa ser compreendida. O art. 429 do Código Civil indica que a “oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos”.
Entende-se que a proposta é limitada ao estoque existente. É assim que a oferta vale como proposta obrigatória, portanto, quando reúne os elementos essenciais do contrato. A proposta não obrigatória é possibilidade que está prevista no mesmo art. 427 do Código Civil. 
Se a proposta contiver, por exemplo, cláusula expressa a respeito, como indicando a não definitividade da proposta ou a possibilidade de retirá-la a qualquer tempo, não haverá vinculação. Então, em cada caso é necessário avaliar se não há ressalva feita que desconstitui o caráter vinculante e obrigatório da proposta. 
A aceitação é a concordância com os termos da proposta. A aceitação pode ser expressa, quando a declaração do aceitante é evidente no sentido da manifestação da sua anuência, ou tácita, quando decorre do seu comportamento que acaba por revelar a sua conduta. O Código Civil apresenta duas situações nas quais a manifestação de vontade não será vinculante. 
Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos imprevistos, chegar tarde ao conhecimento do proponente, quando, por exemplo, o proponente já celebrou negócio com outra pessoa – nesse caso, esse fato (novo negócio já celebrado em função do atraso) deverá ser comunicado imediatamente ao aceitante, sob pena de perdas e danos, com base no art. 430 do Código Civil. 
Outra hipótese é a prevista no art. 433 do Código Civil, que considera “inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante” – é o caso de retratação da aceitação, isto é, o desfazimento da declaração de vontade que havia sido, inicialmente, feita pelo aceitante. 
Quanto ao momento de conclusão do contrato, algumas modalidades precisam ser comentadas. Se o contrato for celebrado entre presentes, a proposta poderá estipular ou não prazo para aceitação (GONÇALVES, 2019). Se não houver nenhum prazo, a aceitação deverá ser feita imediatamente, pois, do contrário, a oferta perderá sua força vinculativa. Se houver prazo, a aceitação deverá ocorrer dentro do lapso temporal previsto. 
Quando o contrato é celebrado entre ausentes, por correspondência (em qualquer meio), ou intermediários, a resposta pode levar algum tempo para chegar ao conhecimento do proponente. O art. 434 do Código Civil acolheu a chamada teoria da expedição, de modo que afirma que os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos, isto é, concluídos, desde quando a aceitação é expedida, exceto no caso do art. 433 (a retratação da aceitação, como vimos), bem como se o proponente houver se comprometido a esperar resposta ou se ela não chegar no prazo convencionado. 
Importância dos contratos para direito digital
Mas será que essa disciplina se aplica ao caso dos contratos eletrônicos? Claro que sim! Eventualmente, alguma ponderação deverá ser feita, no entanto, o que vimos até agora constitui a estrutura basilar para o entendimento dos contratos eletrônicos. Logo, para “o Direito Digital, os contratos têm algumas características peculiares que determinam a necessidade de aprofundar questões normalmente não aplicadas em contratos tradicionais”, segundo Peck.
Nesse sentido,
Não há que se discutir mais a validade do contrato eletrônico, visto que este entendimento já́ está pacificado e vem sendo tratado em âmbito internacional desde 1996 com as discussões da Lei Modelo da UNCITRAL, que em seu art. 5° disse o seguinte: “Não se negarão efeitos jurídicos, validade ou eficácia à informação apenas porque esteja na forma de mensagem eletrônica”.
A mesma lei tratou ainda em seu art. 11 sobre a formação e validade dos contratos, onde “salvo disposição em contrário das partes, na formação de um contrato, a oferta e sua aceitação podem ser expressas por mensagens eletrônicas. Não se negará validade ou eficácia a um contrato pela simples razão de que se utilizaram mensagens eletrônicas para a sua formação. (PECK, 2016, p. 535-536)
Além disso, o contrato eletrônico consiste numa transação realizada por meio eletrônico. As declarações de vontade são também manifestadas por meio eletrônico.
Note que
Os contratos eletrônicos seriam uma modalidade de contratos atípicos, que são aqueles em que não há haver regulamentação legal específica, onde o fator preponderante é a liberdade de contratar e o princípio da autonomia da vontade, onde as partes devem acautelar-se na fixação das normas contratuais (cláusulas), desde que estas não contrariem os princípios gerais do direito, os bons costumes e as normas de ordem pública. (PECK, 2016, p. 536-537)
Segundo Peck, atualmente os contratos eletrônicos apresentam-se sob duas formas distintas, como contratos-tipo [...] e como contratos específicos.”
O contrato-tipo, também chamado de massa, em série ou por formulários é bastante próximo do contrato de adesão. A diferença é que, embora pré-formatado, ele poderá ser alvo de discussão preliminar acerca do seu conteúdo; não há imposição do contrato (como ocorre no de adesão); as cláusulas encontram-se apenas pré-redigidas. 
São aqueles contratos com espaços em branco “no tocante à taxa de juros, prazo e condições do financiamento, a serem estabelecidos de comum acordo”, segundo Gonçalves. Por outro lado, contratos específicos são aqueles “nos quais a elaboração é feita caso a caso; dependendo do status dos contraentes ou do objeto do contrato”, para Peck. 
Além disso,
Contratos que regem operações dentro do meio digital têm algumas peculiaridades que devem ser especialmente observadas:
a) indicação clara das responsabilidades de todos os participantes da cadeia de relações envolvida, principalmente porque a Internet privilegia as relações em rede, com vários coparticipantes e especial atenção nos direitos do consumidor final;
b) estabelecer uma política de informaçãoclara;
c) política de segurança e privacidade;
d) cláusula de arbitragem;
e) territorialidade, estabelecendo os limites geográficos de ação de cada envolvido;
f) relação dos parceiros envolvidos no negócio;
g) no caso de os produtos transacionados envolverem tecnologia, estabelecer as responsabilidades por upgrades e obsolescência. 
(PECK, 2016, p. 539-540)
Nessa perspectiva, percebe-se que a contratação eletrônica é realidade que veio para ficar. É o caso do chamado contrato informático.
Contrato informático é o que tem por “objeto” o equipamento ou o serviço de informática, incluindo o desenvolvimento, a venda e a distribuição de hardware ou software e outros bens ou serviços relacionados. Todavia, o contrato eletrônico tem na sua “forma” a peculiaridade, isto é, a contratação é feita por meio da informática. (TEIXEIRA, 2020, p. 118)
Os contratos celebrados pela internet são “categorias contratuais regidas conforme o seu objeto, ou seja, compra e venda, prestação de serviços, locação etc.”, segundo Teixeira. Nós já tivemos a oportunidade de comentar o tema da responsabilidade civil dos provedores em diversas passagens. No entanto, é preciso reforçar com você alguns pontos muito importantes, a fim de consolidar o seu conhecimento. 
Em primeiro lugar, lembre-se de que a responsabilidade civil é o sistema que existe para que um agente (pessoa natural ou jurídica) que tenha praticado um ato ilícito contra outrem (pessoa física ou jurídica) responda com o seu patrimônio. 
Responsabilidade civil envolve falar em questões patrimoniais, direta ou indiretamente relacionadas à questão. Sim, estamos falando aqui da indenização. Essa indenização pode se dar em virtude de um ato ilícito resultar em prejuízos de ordem material ou de ordem moral. Nesse caso, aquele que sofrer a prática de um ato ilícito poderá acionar aquele que o praticou perante a justiça brasileira, para que seja compelido a arcar com as consequências. 
Em termos de responsabilidade civil dos provedores de internet, você deve se lembrar, então, que a princípio eles não podem ser responsabilizados por condutas que somente são atribuíveis aos usuários. Apesar disso, há hipóteses em que os provedores de internet responderão de maneira objetiva, notadamente quando se estiver diante de uma relação de consumo. 
Mas o que é essa responsabilidade objetiva? Antes de você conhecer o que isso significa, entenda o que denota a regra geral do nosso sistema de responsabilidade civil, que é a responsabilidade subjetiva. 
Para que um agente seja responsabilizado pela prática de um ato ilícito, a outra parte (a vítima, por exemplo) deverá demonstrar, num processo judicial, três aspectos: a conduta (culposa ou dolosa), o dano e o nexo causal entre ambos. 
Na responsabilidade civil subjetiva, o elemento volitivo, isto é, de vontade, quanto à intenção de praticar o ato ilícito (dolo) ou ao descuido quanto ao seu cometimento (ou até a assunção do risco de cometê-lo), nos casos de imprudência, imperícia ou negligência (que são os casos de culpa), deve ser demonstrado. Esse é o sistema geral. 
Por outro lado, no caso da responsabilidade civil objetiva, não há necessidade de demonstração do elemento volitivo, mas apenas da conduta enquanto tal, do dano e do nexo de causalidade entre ambos. Basta você pensar na palavra. 
É objetiva porque não precisa existir demonstração de elemento subjetivo. Esse sistema existe para aqueles casos em que o legislador entendeu que o causador do ato ilícito detinha, de antemão, uma incumbência de assegurar a segurança naquele determinado campo de atuação. 
Não havendo essa segurança, ou seja, não evitado um risco ordinário que o legislador entende como pertencente àquela atividade, seja por uma circunstância de fato, seja pela qualidade das partes envolvidas, havendo ato ilícito, a vítima não precisará comprovar dolo ou culpa, mas apenas a existência da conduta, do dano e do nexo causal. 
_____
📝 Exemplificando
 
Se uma pessoa proferir xingamentos contra outra numa rede virtual, ela somente será responsabilizada caso a vítima demonstre a existência do elemento volitivo na conduta da outra parte, seja para comprovar o dolo (intenção) ou a culpa (imperícia, imprudência ou negligência), segundo o sistema geral da responsabilidade civil subjetiva.
______
No caso dos provedores de internet, a responsabilidade deles é objetiva quando eles estiverem na posição de fornecedores de serviços. Perante os consumidores, ou seja, em relação aos usuários dos seus serviços, os provedores respondem objetivamente pelos atos ilícitos eventualmente causados.
Por fim, há a responsabilidade civil dos provedores apenas de modo subsidiário, em situações nas quais não tenham atuado quando deveriam, como naqueles casos de terem sido previamente notificados, como já debatemos amplamente.
____
🔁 Assimile 
A responsabilidade civil é subjetiva ou objetiva. É subjetiva quando é necessário demonstrar a existência do elemento volitivo do agente causador do ato ilícito (dolo ou culpa) e objetiva quando a responsabilização do agente causador do ilícito não depender da demonstração de tais requisitos, bastando que a mera conduta seja suficiente para o resultado danoso, isto é, comprova-se apenas a conduta em si, o dano e o nexo causal.
Conclusão
Primeiramente, é irracional responsabilizar a empresa provedora por dano causado por terceiro pelo fato de o produto ter sido divulgado inúmeras vezes e, justamente por isso, estar disponível até agora para download, na medida que há impossibilidade técnica não só de evitar comportamentos lesivos de seus usuários, como também de verificar o conteúdo de cada mensagem ou compartilhamento realizado e, ainda que fosse possível, significaria a adoção de políticas agressivas de censura da conduta, configurando uma injusta limitação à privacidade e à liberdade de expressão. 
Em segundo lugar, evidencia-se a inexistência de nexo causal existente entre o dano sofrido por terceiro e o simples ato de disponibilizar acesso a rede para diversos usuários. Se esse pedido for deferido, há de se responsabilizar também o criador da internet, pois sem ele não seria possível essa violação – algo que soa absurdo. A conexão à internet não é, nem de longe, a causa direta e imediata do dano sofrido pela empresa de tecnologia, mas sim o comportamento do usuário que ocasionou o conteúdo ilícito.
Nesse sentido é que a Lei nº 12.965/2014, ou simplesmente Lei do Marco Civil da Internet, estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil, determinando que o “provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros”.
E, ainda nesse escopo,
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá́ ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.  (BRASIL, 2014, [s. p.])
Desse modo, de acordo com as exposições feitas e a orientação do diploma legal, no caso em análise, a empresa não é responsável civilmente pelo dano causado por terceiro porque não houve ordem judicial específica e ausência de tomada de providências prévia.
Introdução da aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você compreenderá os aspectos das relações consumeristas na era digital.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao longo desta aula, você irá:
· relatar os elementos da relação de consumo;
· descrever perspectivas de direitos no e-commerce;
· definir lacunas que permeiam o Código de Defesa do Consumidor quanto ao comércio eletrônico..
Situação-problema
Depois de termos nos dedicado aos temas relacionados ao direito contratual no meio eletrônico de uma maneira ampla e conceitual, é chegado o momento de contemplar a temáticadas relações consumeristas na era digital. 
Hoje em dia, é bastante comum que as pessoas realizem transações nos meios digitais, principalmente para contratar bens ou serviços. Navegar na internet pelas páginas de websites, por exemplo, já é uma forma de estabelecer uma relação na qual somos considerados como consumidores. 
Isso se dá porque a todo momento estamos sujeitos às propagandas que surgem, as quais podem, em tese, até mesmo violar direitos que o ordenamento jurídico coloca como relacionados à proteção dos consumidores em geral. Além disso, são celebrados inúmeros contratos, como quando consentimentos são fornecidos para a colheita e compartilhamento de dados junto a provedores ou websites. 
Nesse sentido, é preciso compreender como ocorre a configuração da relação de consumo por meio do conhecimento dos seus elementos. Depois, é preciso refletir sobre as perspectivas dos direitos do consumidor na era do e-commerce (no comércio digital), para saber se existem pontos que merecem uma atenção redobrada. 
Por fim, neste estudo, conseguiremos estabelecer eventuais lacunas que permeiam o Código de Defesa do Consumidor quanto ao comércio eletrônico. 
Um homem, por meio de um site on-line, com auxílio de um atendente/vendedor remoto, realizou uma compra de dez camisas de estilo polo, da marca X, cada uma de uma cor diferente (tons de azul, rosa, verde e amarelo) a fim de renovar o seu guarda-roupa.
Uma semana depois (no dia final do prazo), a encomenda chegou, o homem abriu a embalagem e teve uma grande decepção.
Não era aquilo que ele esperava, a começar pelos tamanhos das camisas. Apesar de serem de tamanho “G”, ficaram curtas, a ponto de o comprador não ser capaz até mesmo de vesti-las. O tecido também o desagradou, pois ele esperava uma malha de algodão cardada para não ter tanta preocupação na hora de passar as camisetas, porém, ao tocar o tecido, notou que a malha era, na verdade, penteada. 
Não obstante, os tons de cor mudavam pouquíssimo entre as camisas, de modo que era quase imperceptível a alteração de uma cor para outra, algo muito diferente das imagens apresentadas no anúncio e pelo vendedor remoto. O homem, chateado, comentou a decepção com um amigo no dia seguinte, que recomendou a ele devolver as peças de roupas, já que não se adequavam às suas expectativas.
Assim o homem procurou fazer. Ao chegar em casa, um dia após o recebimento da encomenda, entrou no mesmo site e buscou ajuda para realizar o processo de devolução com o mesmo atendente que o auxiliou no momento da compra. 
No entanto, o vendedor disse não poderia realizar a devolução, já que as características do produto estavam todas descritas no anúncio e foi a própria ausência de cautela por parte do consumidor que levou a uma compra desinformada. Portanto, a loja não se responsabilizaria pelo custo de devolução e muito menos com o ressarcimento do valor pago, não só porque não era responsável pelo erro do cliente, como também porque o boleto já havia sido faturado.
Em seguida, o homem disse que essa postura representava uma violação ao Código de Defesa do Consumidor, mas o atendente respondeu imediatamente que, neste caso, não havia que se falar nesse código, porque a compra havia sido realizado pela internet. Depois de uma discussão ferrenha, o atendente disse ao cliente para “procurar os seus direitos”, caso não estivesse satisfeito.
Então, ele busca você, em caráter de especialista em relações consumeristas no comércio eletrônico, para responder aos seguintes questionamentos:
· a empresa é obrigada a realizar a devolução? 
· existe algum direito que permite ao consumidor realizar a devolução do produto? 
· caso haja essa possibilidade, ele terá que arcar com os custos da devolução? 
Agora você deve elaborar um pequeno parecer jurídico, a fim de responder às perguntas do cliente. Afinal, quem tem razão, o cliente ou o atendente? 
Vamos prosseguir foco e determinação em mais esta etapa do nosso estudo! Sigamos juntos!
Fontes legislativas do consumidor
A primeira informação a ser conhecida no campo do direito do consumidor é a sua fonte legislativa. Há um conjunto de regras e princípios específicos para o campo consumerista, os quais estão sistematicamente organizados no Código de Defesa do Consumidor (CDC), apoiado na Lei nº 8.078/1990. 
A proteção e a defesa do consumo decorrem de expresso direito fundamental, previsto no art. 5º, XXXII da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, segundo o qual “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. O CDC consiste num microssistema especializado que se refere à tutela das relações privadas de consumo.
De acordo com o art. 2º do CDC, consumidor “[...] é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. Essa noção de destinatário final causa muita polêmica na doutrina, mas é importante que conheçamos a posição do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a qual prega que o consumidor, isto é, o destinatário final da relação de consumo, é aquela pessoa, física ou jurídica que adquire bens ou utiliza serviços para si próprio, sem que isso importe no incremento de alguma atividade comercial. 
Pequenas empresas e profissionais liberais, desde que seja demonstrada vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica, também são consumidores. E o conceito de fornecedor? Ora, trata-se de um conceito muito mais amplo do que o de consumidor. Todo aquele que atua nas diversas fases do processo produtivo é considerado fornecedor para os fins legais. 
Não apenas o fabricante originário do produto, por exemplo, mas os intermediários, intervenientes, distribuidores, o comerciante final, todos são fornecedores à luz do CDC, porquanto operam, embora em fases distintas, nas etapas da cadeia produtiva. Todos, então, devem seguir as normas da legislação consumerista. 
O objeto da relação de consumo consiste num produto, que poderá ser qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial, assim como um serviço, que consiste numa atividade remunerada fornecida no mercado de consumo, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, ressalvando-se as de natureza trabalhista. 
Nesse sentido, o art. 3º do Código de Defesa do Consumidor indica que
Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. (BRASIL, 1990, [s. p.])
Inicialmente, note que a relação de consumo deve proteger a vida, a saúde e a segurança do consumidor, de modo que não é permitido que se ofereça riscos a tais bens essenciais em função de produtos ou serviços considerados como perigosos. 
Além do mais, o direito de informação é de fundamental importância na proteção do consumidor, uma vez que inclui o conhecimento adequado e claro acerca dos diferentes produtos ou serviços, que devem ser corretamente especificados em relação a quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. 
De maneira específica, perceba que a oferta no mercado de consumo está disciplinada no art. 30 do CDC (BRASIL, 1990). Trata-se de toda e qualquer informação ou conteúdo publicitário preciso o bastante, veiculado em qualquer meio ou por qualquer forma de comunicação, com relação a produtos ou serviços. 
A oferta, nesses termos, intima o fornecedor a cumprir exatamente o que foi oferecido. 
Nesse contexto, segundo o art. 35 do CDC, o consumidor poderá, de maneira alternativa, escolher uma dentre as seguintes opções: 
I – poderá exigir o estrito cumprimento, de maneira forçada, da obrigação nos exatos termos da oferta, apresentação ou propaganda; 
II – poderá aceitar um produto ou prestação de serviço que seja equivalente;
III – poderá rescindir o contrato de consumo, com direito a que lhe seja restituído eventual quantia antecipada, com atualização monetáriae perdas e danos. 
Além disso, publicidade enganosa é qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir o consumidor ao erro a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. 
Já a publicidade abusiva é a discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeite valores ambientais ou que seja capaz de incitar o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
É importante que você saiba um pouco mais sobre o chamado contrato de adesão. Previsto no art. 54 do CDC (BRASIL, 1990), o contrato de adesão é aquele no qual não houve discussão das cláusulas, sobretudo por parte do consumidor que, por consequência, meramente aderiu a ele. 
No contrato de adesão, as cláusulas ou foram aprovadas por alguma autoridade competente (como pode acontecer em contratos bancários, em que há cláusulas aprovadas pelo Banco Central) ou, como é mais comum, foram estabelecidas de maneira unilateral pelo fornecedor. 
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📝 Exemplificando
No geral, são de adesão os contratos: (i) bancários (por expressa previsão no CDC, art. 3º, §2º); (ii) de arrendamento; e, (iii) de seguro.
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E quanto às cláusulas abusivas nos contratos de consumo? O que isso significa?
Inicialmente, cabe elucidar que, basicamente, as cláusulas abusivas têm o intuito de estabelecer uma relação desigual de vantagens e desvantagens entre as partes envolvidas na relação consumerista. As situações que caracterizam a abusividade têm previsão, de forma exemplificativa, no art. 51 da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). 
Ou seja, outras hipóteses, além das estabelecidas em tal dispositivo, dão ensejo à abusividade, já que a redação da lei assinala que “são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços [...]”. Logo, no caso concreto, as hipóteses definidas servem como nortes iniciais, mas não se exaurem apenas na lei, pois dependem das circunstâncias concretas. 
São nulas de pleno direito as cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Ou seja, não têm validade as cláusulas tendentes a diminuir ou excluir o dever de o fornecedor responder por eventuais problemas em seus produtos ou na prestação de serviços. 
Igualmente, são nulas as cláusulas que subtraiam do consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, que funciona como verdadeiro instrumento de vedação ao enriquecimento ilícito, bem como as cláusulas que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, isto é, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada ou que sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.
Vistos todos os elementos da relação de consumo, bem como algumas noções gerais do Código de Defesa do Consumidor, é necessário refletir sobre as relações de consumo na era digital, afinal é fato que as ferramentas de comunicação, como a Internet, alteraram profundamente a sociedade, mas será que de algum modo alcançaram também as relações de consumo? 
Evidente que sim! Note o empresário, por exemplo, que sempre busca transpor obstáculos para levar seus produtos e serviços a quem deles precisarem, seja por terra, por água ou pelo ar! Agora ele lançou mão dos meios eletrônicos para a mesma finalidade (de transpor barreiras); trata-se de um instrumento potencial – de custo relativamente baixo – de venda de bens e serviços, segundo Teixeira.
Transformações da Web
A web acabou por ampliar a figura do faça você mesmo, fazendo com que os serviços de self-service se expandissem cada vez mais. Nesse sentido, “a internet permitiu a concretização de um dos sonhos empresariais, o da transformação do consumidor em empregado”, segundo Nunes.
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🔁 Assimile 
O fenômeno do faça você mesmo é um modo de transferir a atividade-fim para o consumidor, que é quem paga para recebê-la. Um restaurante que antes despendia gastos com um garçom para servir as mesas, mostrar o cardápio e anotar os pedidos agora dá a possibilidade de o próprio consumidor se servir, o que resulta em economia justamente ao tornar o consumidor seu próprio “funcionário”.
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Simultaneamente, mudou também o consumidor, que com os ambientes remotos de relacionamento tem muito mais conhecimento sobre seus direitos e também sabe desfrutar da negociação do seu poder de escolha, já que agora o concorrente está a um clique de distância, diferentemente de quando os limites espaciais reduziam suas opções. 
Alteração da relação de consumo.
Isso ocorre ao mesmo passo que, em contrapartida, uma reclamação ofensiva publicada nas redes sociais pode ser utilizada como prova contra o consumidor. Nesse sentido, a internet, ao mesmo tempo em que se apresenta como meio para as relações de consumo, atua como canal de denúncia, como no caso dos seguintes sites: www.reclameaqui.com.br, www.ebit.com.br, www.consumidor.gov.br, entre outros.
No entanto, apesar dessas mudanças, o Código de Defesa do Consumidor incide sobre as relações firmadas na esfera da internet? A resposta é afirmativa, desde que seja constatada, como estudamos anteriormente, a relação de consumo. Desse modo, “as regras previstas pelo Código do Consumidor, Constituição Federal de 1988, Marco Civil da Internet e Decreto nº 7.962, de 2013, aplicam-se tanto às relações tradicionais e presenciais como às relações estabelecidas por meio da Internet ou via meios digitais”, segundo Peck.
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💭 Reflita
Mas será que o Código de Defesa do Consumidor, que data de 1990 (quando as ferramentas de comunicação no Brasil estavam, ainda, nos primeiros passos), é capaz de suprir especificamente as relações consumeristas no meio digital nos dias atuais?
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Mesmo que o Código de Defesa do Consumidor possa ter o alcance estendido para contemplar o comércio eletrônico, as tratativas nele elencadas fazem menção às relações de consumo físicas, quando as partes estão presentes, ou quando estão ausentes mas há conhecimento da localização para acertar o negócio realizado, realidade diversa do comércio eletrônico atual.
Portanto, as regras criadas com a finalidade de proteger o consumidor naquele momento nem sempre se adequam ao consumo no meio digital. O direito de arrependimento, por exemplo, reforça essa tese. 
Esse direito nada mais é do que um dispositivo, inserido no CDC, que confere a possibilidade de o consumidor devolver um produto ou cancelar a execução de um serviço dentro do prazo de sete dias, contados do recebimento do produto ou da execução do serviço, quando a aquisição for realizada fora de estabelecimento comercial, resguardando o reembolso do valor despendido.
A intenção do legislador no momento de criação desse direito foi proteger o consumidor contra compras desinformadas (realizadas principalmente pelo telefone e pela televisão), tendo em vista a incapacidade dele de conhecer as qualidades físicas do bem adquirido.
Esse direito ainda prevalece atualmente, inclusive para compras realizadas na internet, o que pode ser questionado dada a relativização dessa incapacidade do consumidor em conhecer as qualidades físicas de um produto, uma vez que essas ferramentas permitiram, além da elaboração de um novo espaço de comércio, a fácil obtenção de informações. 
Entretanto, mesmo que questionável, há ainda uma necessidade de adequação à intenção do legislador com essa previsão normativa, sobretudo no caso em que incide sobre produtos exclusivamente digitais, como músicas e cursos on-line. Ora, se estes são essencialmente digitais, não haveria que se falar em incapacidade do consumidor em reconhecer as qualidades físicas do objeto, pois nem mesmo qualidades físicas tais produtos possuem. 
Nesse caso, o que existeé um abuso de direito, visto que o consumidor era, no momento da compra, plenamente capaz de conhecer o conteúdo do que estava prestes a adquirir. 
Por essas e outras lacunas é que vêm ganhando espaço novas perspectivas de direitos para o e-commerce. Dentre elas, sem dúvida a mais marcante é a referente ao projeto de lei que atualmente tramita no Congresso Nacional (Projeto de Lei nº 1.589/99), que dispõe especificamente sobre o comércio eletrônico e alguns assuntos correlatos, como a validade jurídica de documentos eletrônicos e da assinatura digital.
Dado o exposto, nota-se que essas novas tecnologias e ferramentas de comunicação, altamente dinâmicas, alteraram as relações de consumo, culminando no surgimento de lacunas legais, deixando o legislador mais uma vez encarregado da difícil tarefa de atualização e adequação das leis consumeristas ao contexto atual. Há, sem dúvida, muito o que se discutir sobre o futuro do e-commerce e mais ainda sobre as leis que o regulamentam.
Conclusão
Clientes têm razão. 
A empresa que realizou a venda é obrigada a fazer a devolução. 
Primeiramente, a afirmação de que não há que se falar em aplicação do Código de Defesa do Consumidor porque a compra foi realizada pela internet é absolutamente equivocada, já que o fato de a compra ser ou não realizada pela internet não desqualifica se tratar ali de uma relação de consumo, tampouco afasta a incidência do referido diploma normativo. 
Em verdade, para verificar se existiu relação de consumo e se há, consequentemente, alcance do Código de Defesa do Consumidor, é necessário questionar se houve a presença de alguns elementos objetivos: 
· fornecedor: “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços” (vide art. 3º, CDC); 
· consumidor: “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final” (vide art. 2°, CDC);
· produto ou Serviço: qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial, e qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (vide art. 2°, §1° e §2°, CDC).
Sendo assim, por possuir todos os elementos objetivos, é possível considerar o caso como uma relação de consumo, uma vez que existiu uma pessoa jurídica privada, nacional, que desenvolveu comercialização de produtos (fornecedor); uma pessoa física que adquiriu o produto como destinatário final (consumidor); e um bem móvel material (produto). Portanto, há a incidência da legislação protetiva do consumidor, de modo que a internet, nesse caso, representou nada mais do que uma intermediadora que facilitou a relação entre cliente e fornecedor. 
Além disso, clientes têm o direito de realizar a devolução dos produtos, que, por sinal, deverá ser feita sem custos.
Nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor afirma que 
O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. (BRASIL, 1990, [s. p.], grifo nosso)
E, ainda em seu parágrafo único, estabelece que
Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados. (BRASIL, 1990, [s. p.], grifo nosso)
Sendo assim, é defeso por lei a empresa se negar a cumprir a exigência de devolução feita pelo cliente, se essa for a sua vontade. Afinal, cada cliente tem pleno gozo do direito ao arrependimento, já que no momento da compra era incapaz de averiguar por inteiro as qualidades do produto. Está protegido, pois, contra uma compra desinformada, dentro do prazo legal. 
Finalmente, vale ressaltar que o processo de devolução deve ser feito sem custas ao cliente, pois atribuir tal responsabilidade ao consumidor é considerado uma cláusula abusiva, assim como limitar o seu acesso a direito reconhecido. 
Introdução da aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você verá os riscos e fraudes existentes no cenário cibernético.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao longo desta aula, você irá:
· definir cyberbulling;
· explicar os riscos e fraudes do cenário cibernético;
· descrever a perícia computacional e metodologia para obtenção de evidências.
Situação-problema
A partir de agora, vamos investigar o chamado Cenário Cibernético, com atenção para as questões criminais que surgem nesse meio.
Dessa maneira, trataremos de alguns crimes praticados em âmbito eletrônico, com ênfase na proteção legal destinada às crianças e aos adolescentes. Conhecer as previsões de delitos que visam a resguardar a dignidade dessas pessoas em desenvolvimento é de fundamental importância. 
Em seguida, estudaremos o chamado cyberbullying, cuja compreensão não se pode deixar de lado, já que se trata de um fenômeno que vem ocorrendo de maneira recorrente nos ambientes virtuais. 
Depois, considerando que o cenário cibernético é bastante complexo e se tornou ambiente para a concretização de negócios sobre bens e serviços, bem como para transações de criptoativos, os riscos em geral e as fraudes aumentaram significativamente. 
Por fim, trataremos do importante tema da perícia computacional, de modo a buscar o entendimento das metodologias disponíveis na atualidade para fins de obtenção de evidências. É nesse sentido, aliás, que falaremos das chamadas provas eletrônicas, à luz da legislação brasileira em vigor, tema que certamente é de grande interesse para a defesa dos direitos doravante albergados pelo Direito Cibernético.
Considere o caso hipotético de um Delegado Federal, incumbido de investigar casos de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro, que foi vítima de um ataque cibernético. Os cibercriminosos teriam de algum modo infectado o seu computador, que teve os dados criptografados, tornando o Delegado incapaz de acessar qualquer outro serviço que não fosse um único arquivo na área de trabalho, por meio do qual os criminosos solicitavam o pagamento de um resgate em criptomoedas, sob a alegação de que após o pagamento seria enviado um código por e-mail que desbloquearia o acesso, porém, caso não enviasse a quantia, dentro de 48 horas os dados seriam divulgados. 
O Delegado e sua equipe ficaram desesperados não só porque inúmeros arquivos essenciais para a formação de provas e evidências estavam inacessíveis, mas também porque, caso fossem divulgados, os investigados seriam alertados. De toda forma, todo árduo e longo processo de investigação estava ameaçado.
Todos os investigadores, assim como o Delegado, se encontravam em um dilema: seria mais adequado pagar a quantia que estavam solicitando ou não compactuar de forma alguma com aqueles criminosos?
Até que um dos investigadores teve a ideia de contratar um especialista em crimes cibernéticos, a fim de que ele pudesse contribuir para o desfecho do caso. E assim ocorreu.
O especialista foi contratado e realizou diversas perícias no aparelho do Delegado, constatando que aquilo se tratava, realmente, de um ataque cibernético, por sinal muito bem elaborado. Era um ataque apelidado de DDoS (ataque de negação de serviço distribuído). A prática consistia em aproveitar uma falha de segurança do dispositivo e fazer com que nada funcionasse. 
Não obstante, o especialista recomendou ao Delegado e sua equipe que pagassem a quantia, pois assim os criminosos não teriam mais acesso aos dados e o custoso trabalho de investigação não seria perdido. 
Por fim, o especialista sugeriu ao Delegado que tomasse cuidado com algum possível agente infiltrado em sua equipe, porque essa modalidade de ataque somente é viávelquando há acesso físico à máquina. 
Não satisfeito com a resposta, desta vez o Delegado busca você, em caráter de especialista em crimes cibernéticos e questões criminais, para realizar um contraponto ao outro especialista.
Agora você, de acordo com o caso relatado e o parecer do especialista, deve elaborar um texto que responda: o ataque é um DDoS? Se não, qual ataque seria? Como resolvê-lo? Qual recomendação você daria aos policiais? 
Vamos seguir juntos em mais esta etapa de estudos! 
Malefícios da tecnologia
O desenvolvimento tecnológico, sobretudo das ferramentas de comunicação, trouxe indiscutivelmente diversos benefícios sem os quais a vida, hoje, certamente seria mais difícil. O surgimento da Internet, por exemplo, aproximou pessoas, dissolveu limitações geográficas, democratizou o acesso ao conhecimento e potencializou o comércio eletrônico. Aquilo que antes levava anos para se realizar passou a ser feito em meses ou até mesmo dias.
No entanto, com esse desenvolvimento também vieram alguns malefícios, principalmente em relação a criminosos que se utilizam de tecnologias como ferramentas para o exercício de práticas delitivas, dando origem aos crimes cibernéticos. 
Nesse sentido,
A história ensina que o progresso é inerente ao homem, e que fomos feitos para evoluir e inovar e incondicionalmente buscar o avanço, contudo com muitos avanços pode-se ter também o retrocesso, em que no meio de tantos benefícios, indivíduos procuram oportunidades para se beneficiar com a falta de conhecimento do que é novo. (CRUZ; RODRIGUES, 2018, p. 2)
Fato é que esse novo ambiente, ao mesmo tempo em que fornece inúmeras benesses aos usuários, se torna um atrativo para cibercriminosos, pois além da alta circulação de dinheiro e informações nesse meio, os criminosos podem desfrutar dos benefícios de praticidade, agilidade e, às vezes, anonimidade que a Internet confere para perfazer as suas ações. 
Mas, afinal, o que de fato é um crime cibernético? 
Para responder a esse questionamento, é necessário se atentar às definições das palavras “crime” e “cibernética”. Em primeiro lugar, crime, simplificadamente, é toda ação ou omissão humana que de algum modo lesa ou expõe a perigo bens juridicamente tutelados, enquanto “cibernética” corresponde à ciência responsável por compreender as ferramentas de comunicação e controle de máquinas. 
Sendo assim, crime cibernético é toda ação ou omissão humana que de algum modo lesa ou expõe a perigo bens juridicamente tutelados relacionados a ferramentas de comunicação e controle de máquinas, isto é, “toda ação típica, antijurídica e culpável contra ou pela utilização de processamento automático e/ou eletrônico de dados ou sua transmissão”.
Visto isso, também é interessante conhecer a origem dessa nova modalidade de crime:
O professor Ulrich Sieber, da Universidade de Wurzburg, afirma que essa espécie de criminalidade surgiu na década de 1960, quando se iniciaram na imprensa e na literatura científica os primeiros casos do uso do computador para a prática de delitos; constituída, sobretudo, por manipulações, sabotagens, espionagem e uso abusivo de computadores e sistemas.  (SIEBER, 1992, p. 207 apud TEIXEIRA, 2020, p. 214)
No entanto, foi somente na década de 1970 que esses crimes passaram a ser estudados. Anos depois, com a evolução da informática, eles se diversificaram, passando a incluir a pirataria e a manipulação da rede bancária.
Desse momento em diante, os índices de cometimento de crimes aumentariam cada vez mais: 
Um estudo da Norton divulgado no dia 20 de setembro de 2011 mostrou que 80% dos adultos no Brasil já foram vítimas de crimes na internet, sendo que 77.000 pessoas são vítimas de crimes cibernéticos por dia no país. No mundo, são 1 milhão de pessoas vitimadas por dia, em 24 países pesquisados, cujos prejuízos chegaram a US$ 388 bilhões em 2010.  (TEIXEIRA, 2020, p. 214)
Com isso, as legislações não só do Brasil, como do mundo, não foram capazes de acompanhar esse crescimento exponencial da internet e dos crimes virtuais. No Brasil, por exemplo, leis específicas de combate a crimes virtuais, alterando o Código Penal, só entrariam em vigor em 2012, restando obviamente um lapso temporal de aproximadamente 50 anos entre o surgimento desses crimes e a criação de legislações específicas para reprimi-los. 
Tão importante quanto compreender a definição e origem, além do grande decurso de tempo até o surgimento de legislações específicas que previssem crimes cibernéticos, é conhecer como esses delitos eletrônicos ocorrem e quais são eles.
A principal forma e meio utilizado para cometer crimes é a criação de um dispositivo conhecido como malware. Trata-se de um software malicioso, popularmente conhecido como vírus de computador, que adentra em um dispositivo com a intenção de repassar informações ou causar dano ao sistema operacional. 
Esse ataque depende da interação do usuário para que se consume, de modo que somente ocorre a invasão do dispositivo no momento em que o operador abre uma mensagem ou e-mail contendo o vírus. 
Não obstante, o malware, para não ser detectado, muitas vezes se utiliza de formas de ocultação, tais como a compressão, a criptografia de código e a mutação, que têm como objetivo enganar os softwares de proteção da máquina, como os antivírus, segundo Peck. Sendo assim, um “bom” malware é aquele altamente destrutível, indetectável e com maior potencial de alastramento. 
Outro vírus de computador utilizado é o phishing. Traduzido livremente como “pescaria” ou “golpe de pescaria”, consiste em uma dissimulação na qual a vítima é atraída para que, pensando se tratar de um conteúdo legítimo, clique em um link, acesse uma página falsa ou execute algum arquivo a fim de que haja furto de dados ou acesso e elevação de privilégios. É um ataque cibernético aliado a uma técnica de engenharia social.
Também há o chamado ransomware, que é, na realidade, uma espécie de malware utilizado para o sequestro de dados, o qual conta com duas formas de atuação: concomitantes e não concomitantes. 
Na primeira categoria, o dispositivo é invadido pelo vírus, da mesma maneira que ocorre no malware, e criptografa todos os dados do aparelho, sendo deixado somente um arquivo acessível, normalmente na área de trabalho, por meio do qual um criminoso solicita um resgate – geralmente em criptomoedas – assegurando o envio de um código que retire a criptografia dos arquivos bloqueados após o pagamento. 
Ocorre que muitas vezes, mesmo após o pagamento, esse desbloqueio não ocorre, o que acaba lesando a vítima duas vezes.
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📝 Exemplificando
 
Em 12 de maio de 2017, um vírus do tipo ransomware infectou cerca de 230.000 sistemas de computador ao redor do mundo; até mesmo o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido foi afetado. 
 
O ataque foi feito por meio de e-mail, SMS ou link, que, ao serem acessados, exploravam uma vulnerabilidade do Windows para bloquear todos os serviços do dispositivo da vítima, deixando apenas uma caixa de mensagem disponível, a qual solicitava um pagamento de aproximadamente U$ 300,00 em bitcoins. A ferramenta também ameaçava aumentar o valor caso o pagamento não fosse realizado em até duas horas.
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Na segunda categoria, ou seja, não concomitante, ocorre o mesmo processo, mas nesse caso é o criminoso que procura a empresa, dizendo estar de posse de seus arquivos, utilizando-se da divulgação de alguns deles como prova e como meio de constrangimento do indivíduo, iniciando, em seguida, a negociação para cessar a publicação dos demais dados.
Além dos ataques provenientes dos vírus de computador, existem os ataques em comunicadores instantâneos. 
Normalmente, quando imaginamos crimes cibernéticos, pensamos na imagem de um indivíduo com altíssimo conhecimento técnico, que maneja diversas ferramentas complexas para perfazer o crime, mas nem sempre é assim.
Há uma modalidade de ataque, por exemplo, na qual o infrator, em posse de um SIM Card virgem da operadora de quem deseja atacar, solicita simplesmente a transferência da linha, por intermédio da operadora,para o SIM Card dele, e ao conseguir executar esse processo, adquire a posse dos códigos de autenticação de alguns aplicativos, como o WhatsApp. 
Após essa validação, por meio de SMS, o criminoso passa a interagir com pessoas e grupos daquela conta, no intuito de violar a intimidade e a privacidade da vítima, como também das pessoas próximas a ela, ou para solicitar transações financeiras para os demais usuários em uma conta ligada àquele que perfez o ataque. 
Outros tipos de ataque
Existem outros ataques muitos semelhantes a esse. O primeiro é a obtenção do código de autenticação, o qual também não demanda muito conhecimento técnico, pois envolve apenas a instalação do aplicativo pelo criminoso e um pedido do código de autenticação à vítima, que acaba sendo fornecido por intermédio de técnicas de convencimento. Em seguida, com a posse desse código, o criminoso pode simplesmente realizar o download do aplicativo e se passar pela pessoa, com o número dela, para enganar terceiros e obter vantagem. 
No ataque de impersonating, ainda mais simples que os demais, o malfeitor se passa pela vítima, informando que ela trocou de número de telefone, por exemplo, e mais uma vez empregando técnicas de engenharia social, consegue acesso a informações privilegiadas ou mesmo vantagem pecuniária, segundo Peck.
Outra modalidade de golpe é a do falso boleto. 
Esse golpe ocorre de duas maneiras. Na primeira, o criminoso encaminha um boleto presumivelmente verdadeiro para o alvo, que, por possuir vínculo com a instituição à qual o falso boleto está supostamente vinculado, paga o valor e posteriormente descobre que se trata de uma fraude.
Como se não bastasse, esse golpe também pode acontecer de uma forma mais desenvolta, que envolve inicialmente a infecção do dispositivo por um malware capaz de alterar as linhas do código numérico ou do código de barras do boleto original para a conta do criminoso.
Além disso, há o fenômeno dos botnets. São redes de computadores que foram previamente invadidos e infectados com malwares capazes de fazer com que essas máquinas sejam controladas remotamente sem a permissão de seus donos.
As finalidades desse ataque são diversas, mas normalmente estão relacionadas a mineração de criptomoedas, disseminação de malwares ou ataques coordenados.
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🔁 Assimile
O malware é um ataque cibernético que, para ser “bem-sucedido”, precisa da interação com o operador, isto é, que este clique em um link, abra um e-mail, acesse uma página contaminada, etc. Sendo assim, para que um malware seja efetivo, é necessário haver uma alta capacidade de alastramento desses meios contaminados.
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Na sequência, outra categoria de ataques cibernéticos, os ataques DDoS, chamam a atenção. “Os ataques DDoS (Distributed Denial of Service) são realizados com o objetivo de gerar indisponibilidade de servidores, criando milhares de acessos simultâneos a um site ou a qualquer outro serviço na internet”, segundo Peck. Esse ataque tem por propósito ferir um dos pilares da segurança da informação: a disponibilidade.
O cibercriminoso, reconhecendo a limitação de memória ou banda que um site ou sistema possui, por intermédio de conexões simultâneas ou envio de uma imensa quantidade de dados, gera uma sobrecarga no alvo que, não suportando essa abundância de informações, acaba “caindo” e ficando inacessível não somente aos usuários, como também aos seus administradores. 
Gera-se, assim, a indisponibilidade.
Por fim, há mais uma modalidade de ataque eletrônico: o ataque sobre o DNS. De início, note que o DNS é o sistema que permite a correspondência de nomes de domínios com endereços IP. No DNS, existem tabelas que indicam para qual IP a conexão deve ser direcionada quando certo domínio é digitado (PECK, 2020). 
Nesse sentido, os consumidores de uma empresa que desejam adquirir um produto por meio da internet, por exemplo, ao digitar no navegador o respectivo domínio, são redirecionados para um site falso, que pode conter malwares ou informações e meios escusos para subtrair indevidamente dinheiro ou dados pessoais das vítimas. 
Diante de todo esse plexo de riscos e fraudes provenientes de diferentes modalidades de crimes eletrônicos, é necessário refletir sobre a figura da criança e do adolescente no meio digital. 
Não se pode desprezar o fato de que esses novos instrumentos tecnológicos conectam as crianças e adolescentes a inúmeras oportunidades, que, por sinal, são capazes de potencializar o exercício de seus direitos fundamentais, como a liberdade de expressão (art. 13), o direito à liberdade de reunião em assembleias (art. 15), o direito à educação (arts. 28 e 29), o direito de jogar e brincar (art. 31) e vários outros apresentados na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1989, que foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990. 
Uso de tecnologia por adolescentes e crianças.
Considerando esse fenômeno é que as legislações atuais incluíram componentes regulatórios que tutelam especificamente a situação da criança e do adolescente. No meio tecnológico, especificamente, destaca-se a Seção III, da Lei nº 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados), que versa estritamente sobre o tratamento de dados pessoais de crianças e adolescentes. 
Dessa maneira, a LGPD elenca uma série de hipóteses, condições e limitações diferenciadas, com o intuito de possibilitar que a criança e o adolescente interajam com a tecnologia de forma segura. 
Nesse sentido, dispõe o art. 14, §§1° e 5° da LGPD que
· 1° O tratamento de dados pessoais de crianças deverá ser realizado com o consentimento específico e em destaque dado por pelo menos um dos pais ou pelo responsável legal. 
· 5º O controlador deve realizar todos os esforços razoáveis para verificar que o consentimento a que se refere o § 1º deste artigo foi dado pelo responsável pela criança, consideradas as tecnologias disponíveis. (BRASIL, 2018, [s. p.])
Nesse contexto, dentre os pontos de maior atenção quanto ao tratamento peculiar das crianças e adolescentes nos meios digitais, estão aqueles relacionados aos crimes que podem ser cometidos. Logo, o ordenamento jurídico brasileiro prevê uma série de delitos para proteger a dignidade sexual de crianças e adolescentes, bem como para impedir que tenham acesso a conteúdo de natureza inapropriada ou violenta. Igualmente, há disciplinas específicas quanto à questão da publicidade infantil e cyberbullying. 
Vamos começar pelos crimes que envolvem a violação da dignidade sexual no cenário cibernético. Os arts. 240 e 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preveem delitos nesse sentido quanto à pornografia infantil.
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente. 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente. 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (BRASIL, 1990c, [s. p.])
O art. 241-A do ECA também pune quem oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por intermédio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente. Já o art. 241-B pune quem adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente. 
Outros crimes e o cyberbullying
O art. 241-C tipifica, a seu turno, a conduta de simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual. Por sua vez, o art. 241-D traz uma importante tipificação que também tem muita recorrênciaem meios digitais, porquanto pune quem aliciar, assediar, instigar ou constranger criança por qualquer meio de comunicação, com o fim de com ela praticar ato libidinoso. 
Aliás, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.
Com relação à questão dos conteúdos inapropriados ou violentos, tem-se a ideia de classificação indicativa, prevista no âmbito dos arts. 74 a 76 do ECA.
Existe, ainda, a publicidade infantil, em que o mercado, de maneira ardil, aproveita a vulnerabilidade da criança e do adolescente para obter vantagens indevidamente, por intermédio de estímulos de marketing. Isso pode acarretar, além do estímulo ao consumismo e à formação de valores materialistas, incentivo à obesidade, à erotização e ao enfraquecimento dos valores culturais e democráticos.
Por fim, há o cyberbullying, cuja definição é a seguinte:
A palavra bullying tem origem na língua inglesa e faz referência a bully, que entendemos como “valentão”, aquele que maltrata ou violenta de forma constante outras pessoas por motivos supérfluos. É justamente esse ato de maltratar ou violentar o outro de forma sistemática e repetitiva que é denominado bullying. Falamos de cyberbullying, então, quando a agressão se passa pelos meios de comunicação virtual, como nas redes sociais, telefones e nas demais mídias virtuais.  (SOUZA; OLIVEIRA, 2016, p. 3)
Nesse contexto, “o termo cyberbullying descreve as formas de bullying que utilizam a tecnologia”, segundo Shariff, cujo fator objetivo é a clara intencionalidade do agente que pratica a conduta de ferir psicologicamente a vítima.
Não se pode desprezar o fato de que esses novos instrumentos tecnológicos conectam as crianças e adolescentes a inúmeras oportunidades, que, por sinal, são capazes de potencializar o exercício, inclusive, de seus direitos fundamentais, como a liberdade de expressão (art. 13), o direito à liberdade de reunião em assembleias (art. 15), o direito à educação (arts. 28 e 29), o direito de jogar e brincar (art. 31) e vários outros da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança.  (LIMA, 2020, p. 227)
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💭 Reflita 
Tendo em vista as diversas ameaças presentes no meio digital, seria plausível apenas privar o acesso de crianças e adolescentes às novas ferramentas de comunicação e interação sociais?
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Diante disso, em função das diversas ameaças incrustradas no meio digital é que o Direito não só criou normas, como maneiras para facilitar a aplicação e, consequentemente, mitigar os acontecimentos e efeitos dessas práticas, assim como evoluiu no contexto de produção de provas, fazendo uso da perícia computacional.
Tendo em vista que as múltiplas atividades praticadas pelos usuários de computadores sempre deixam rastros, o propósito da perícia computacional é descobrir esses vestígios e, a partir disso, adquirir provas que comprovem determinadas conjunturas, as quais serão úteis posteriormente em processos judiciais, sejam eles na esfera civil, criminal ou administrativa.
Para tanto, existe um procedimento metodológico computacional de transformar as mídias em evidências do delito, o qual foi traçado principalmente pela International Organization on Computer Evidence (IOCE), por meio da entidade norte-americana Scientific Working Group on Digital Evidence (SWGDE), que segue uma sucessão de ações bem definidas: obtém-se e coleta-se a mídia e, após o seu exame, extraem-se dados que serão analisados pelas ferramentas forenses. Com a análise dos dados, criam-se informações que, assim que processadas, resultam em evidências, segundo Teixeira. 
Com o passar dos anos e a evolução tecnológica cada vez mais presente no cotidiano, surgiram novas disposições legais a respeito do tema, a exemplo do Código de Processo Civil de 2015, nos arts. 411, 422, 439, 440 e 441, que promoveram a flexibilização quanto à admissibilidade de provas digitais, conferindo-lhes maior credibilidade jurídica. Afinal, prova eletrônica consiste no ato de evidenciar determinado fato por intermédio de meios eletrônicos.
Conclusão
Diante do caso exposto, devemos primeiramente analisar os fatos a fim de deduzir qual a modalidade de ataque, para, em seguida, prosseguir com a possível resolução do incidente e, finalmente, a recomendação técnica derradeira. 
a)  Dos fatos 
De acordo com o relato, o computador ficou inoperante e todos os arquivos foram criptografados, com exceção de apenas um deles, que se encontrava na área de trabalho, o qual era referente ao resgate solicitado pelos criminosos. 
b)  Modalidade do ataque
O outro especialista estava equivocado ao afirmar que o ataque se tratava de um DDoS. Esse ataque, como a sigla sugere, consiste na negação de serviço ao operador. Assim, o ataque sobrecarrega de algum modo o sistema ou a rede e impede o seu funcionamento.
 Ocorre que essa modalidade de ataque poderia incidir ou sobre algumas unidades de arquivos, impossibilitando o acesso somente a alguns documentos, ou sobre todas as funções do computador. Porém, de acordo com os fatos, não foi isso que ocorreu. 
Segundo as informações apresentadas, todo o computador ficou inoperante, mas com uma exceção, o arquivo com o “pedido de resgate”. Isso comprova a impossibilidade de o atentado ter se consumado por meio da negação de serviço, pois, do contrário, absolutamente nada poderia ser acessado.
Sendo assim, é necessário elencar outra modalidade de ataque que deu origem ao acontecimento, modalidade essa que se adequa aos fatos, o ransomware. Essa modalidade de malware consiste no sequestro de dados das vítimas e, dentre as formas de atuação, há aquela que demanda o pagamento de um resgate, também chamada de concomitante. 
c)  Possível resolução e aconselhamento
O ataque, ainda que fosse DDoS (o que não é, conforme explanado no tópico anterior), pode facilmente ser aplicado sem um intermediador que obtenha o acesso físico ao dispositivo, tal qual o ataque de tipo ransomware. Desse modo, recomendar cuidado ao Delegado para com sua equipe pode soar exagerado, de modo que o ataque poderia perfeitamente ter ocorrido sem nenhuma atuação física junto à máquina. 
Com efeito, deve-se buscar a retirada da criptografia para realizar o backup dos dados do computador do Delegado.
Por fim, recomenda-se a não realização do pagamento.

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