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● Sobre o autor: - Filósofo sul-coreano - Linha: Estudos Culturais - Professor da Universidade de Artes de Berlim (ALE) - Nascido em 1959 (61 anos) - Indivíduo discreto, evita dar entrevistas e divulgar dados sobre sua vida pessoal - Em suas obras, trata de temas como: sexualidade, saúde mental (psico patologias: burnout, depressão e TDAH), violência, liberdade, tecnologia e cultura popular - Na obra The Burnout Society (Sociedade do Cansaço), Han caracteriza a sociedade atual e seus adoecimentos neurais (depressão, déficit de atenção, borderline e burnout) - Publicou 16 livros até o momento + Sociedade do cansaço + A topologia da violência + O que é o poder + Agonia do Eros ● Sociedade do Cansaço - Trata-se de um livro curto (época de velocidade e esgotamento) - Destaca características sociais (individuais) como a valorização dos indivíduos inquietos e hiperativos que se arrastam no cotidiano produtivo realizando múltiplas tarefas - Traduzido para o português em 2015 e sua segunda edição de 2017 foi ampliada com dois novos textos: Sociedade do Esgotamento e Tempo de celebração: a festa numa época sem celebração - Cada época tem suas enfermidades (constructo histórico e discursivo) - Violência neural: compreensão de que o sofrimento psíquico atual perpassa por desvios neuroquímicos - Não obstante, o autor vai além e relaciona tais distúrbios (burnout, hiperatividade, depressão) em sua relação direta com o modo operatório do capitalismo contemporâneo - O autor sustenta que as sociedades ocidentais não são mais designadas pela negatividade típica de épocas e dispositivos “imunológicos”, cujos mecanismos de defesa são a reação, o estranhamento e o isolamento do estranho como forma de proteção, ao invés da adaptação – ponto principal - Para além da negatividade, segundo Han, a sociedade contemporânea distingue-se pelo excesso de positividade e isso pode trazer uma sociedade repleta de deprimidos e hiperativos - A violência não vem de fora, como algo negativo e estranho, trata-se de uma violência imanente ao próprio sistema – discurso de perfeição - “Yes, we can” – slogan da campanha de Obama – expressa com precisão o excesso de positividade da sociedade do desempenho (p. 24) - Sai o “tu deves” e entre o “tu podes” (nós podemos) – remete a uma falsa liberdade que se impõe ao indivíduo o imperativo da realização, da mobilidade, da velocidade e da superação constante - Cisne Negro (2010) + Aspecto central das suas análises – reside na falsa liberdade e no processo destrutivo contido na transformação contemporânea Byung-Chul Han + A personagem principal adoece por causa de um excesso de busca pela positividade e perfeição no contexto do ballet + Teoria da fixação de metas, (proposta por Edwin Locke e Gary Latham (1981), parte do princípio de que as metas devem possuir características que podem provocar um maior nível de motivação, uma vez que a falta de motivação, muitas vezes, deixa o indivíduo sem direcionamento # Ex: empresas - premissa do capitalismo e neoliberalismo - Deslocamento da negatividade para a positividade + O Sujeito do desempenho – mais rápido e mais eficiente – substitui o sujeito da obediência (sociedade controle/disciplinar, Foucault) = SOCIEDADE PÓS-DISCIPLINAR - Os sujeitos pelo paradigma do inconsciente (Freud) + O excesso de positividade investido para alcança-lo conduz o indivíduo, de forma inexorável, ao esgotamento típico dos sofrimentos psíquicos da nossa época, que são, aos olhos de Han, especialmente a síndrome de burnout e a depressão - Palavras-chave contemporâneas: projeto, motivação, iniciativa, eficiência, flexibilidade, criatividade = avaliações positivas de indivíduos ativos - Neste aspecto, a hiperatividade, para além da rubrica psicopatológica (que é igualmente a incapacidade de dizer não) apresenta-se para Byung-Chul Han como expressão cabal da valorização do excesso de positividade - Detalhe: Segundo o DSM (Manual de Transtornos Psiquiátricos) uma justa medida de hiperatividade pode ser benéfica “a alteração no funcionamento de alguns indivíduos pode assumir a forma de um aumento acentuado na eficiência, realizações e criatividade” (APA, 2002, p. 362) - Por falta de repouso, o filósofo alemão, Nietzche (1878), declara “nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto […]” - Influenciado por Nietzche, Han considera a hiperatividade contemporânea como uma espécie de esgotamento espiritual dos nossos dias. Contra o tédio (ponto alto do descanso espiritual), o indivíduo afunda-se, inquieto na atividade - “Os ativos rolam como rola a pedra, segundo a estupidez da mecânica” (Nietzsche apub, p. 53 Humano, demasiado humano) - Ora, mas por que julgar de forma tão desprezível a atividade sôfrega dos indivíduos contemporâneos? + O sujeito contemporâneo experimenta uma contradição permanente: a liberdade coercitiva/pressionada + Empresário de si mesmo: o sujeito contemporâneo pode explorar-se a si próprio de modo ainda mais efetivo “quando se mantém aberto para tudo” (p. 69) = forma perversa de lidar com os sujeitos pautada no capitalismo + “O sujeito pós-moderno não está submisso a ninguém”, salvo a ele próprio (101) + Cisne Negro: discurso do diretor de balé “Você não tem nenhum obstáculo a superar a não ser você mesma” + Travestida de liberdade, a perseguição da meta é intransigente (violenta) e pode causar danos severos ao psiquismo dos indivíduos + Ex: Relógios inteligentes que permitem a competição consigo mesmo em esportes + As políticas públicas da área da saúde não são mais o foco principal, permitindo assim o discurso “você não tem saúde, pois você não cuida” - Não somente o discurso empresarial (management), mas as mensagens da indústria cultural, dos discursos institucionais de promoção da saúde, do bem-estar e do lazer do indivíduo + Propagam a autorrealização o que conduz os indivíduos à autodestruição - Lógica paradoxal... contemporânea + Liberdade que vem travestida em uma sociedade disciplinar (Foucault) que absolutiza desempenho e produção: # “O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploração. […] Os adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal.” (HAN, 2017, p. 30) - O tempo do trabalho TOTAL (trabalho totalitário) + “A própria pausa se conserva implícita no tempo de trabalho. Ela serve apenas para nos recuperar do trabalho, para poder continuar funcionando” (p. 113) + Na lógica do Google “as pausas servem para que sejamos mais criativos para continuar produzindo coisas novas” - Você S.A. + HAN fala de uma sociedade atual pós- marxista (alienação no outro e no trabalho), uma vez que a “alienação” não demanda mais o outro, que está na origem do conceito, mas de nós mesmos = autoalienação + Autorrealização ou autodestruição? - Adoecimento... - A perseguição patológica pela saúde + HAN destaca as contradições do tempo presente trazendo à tona igualmente a perseguição patológica pela “saúde” pautada principalmente na estética e química; no parecer bem + Numa sociedade clivada pela produção de “perdedores” em série, o depressivo é o sujeito que “[...] está cansado, esgotado de si mesmo, de lutar consigo mesmo [...].” + Para HAN, o estado de esgotamento na sociedade atual não provém da potência negativa que pressupõe uma reação (ou indignação), mas do excesso de positividade (leia-se estímulos) ● Livros imperdíveissobre preguiça - Oblomov - Bartleby o escrivão: + Conta sobre um escrivão que começa trabalhar num escritório e, em poucos dias, começa a recusar-se a obedecer a qualquer ordem e após, entra numa passividade irritante e improdutiva ● Sociedade atual - A sociedade do cansaço atual nada mais é do que a absolutização unilateral da “potência positiva”. Por isso, é também uma “sociedade do doping”. O melhoramento cognitivo (neuro- enhancement) pode não representar nenhum problema moral diante da normatividade social vigente na sociedade do desempenho - Desprovido de tempo, o sujeito do desempenho não procura mais a gênese do conflito psíquico, cuja temporalidade técnica é lenta. A medicação psiquiátrica pode atender com a urgência necessária o restabelecimento, a manutenção e o aperfeiçoamento das potencialidades do sujeito impaciente para a escavação arqueológica de cunho psicanalítico que visa a descobrir a origem do sofrimento psíquico = banalização de medicamentos psiquiátricos e super prescrição de medicamentos de desempenho ou de combate aos seus sintomas - Em um aforismo sugestivo, o antropólogo estadunidense Marshall Sahlins (2004, p. 23) sentencia: “um povo que concebe a vida exclusivamente como busca da felicidade só pode ser cronicamente infeliz” - Do mesmo modo, ao juízo de Han, a lógica social parece inequívoca: a sociedade hiperativa do desempenho só pode produzir indivíduos estafados - Com uma pergunta, o Zaratustra de Nietzsche (2011, p. 46) pode ainda nos perturbar e inquietar, provocando a reflexão: “e também vós, para quem a vida é furioso trabalho e desassossego: não estais muito cansados da vida?”. (CORBANEZI, 2018, p. 340)
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