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Livro Introducao a Sagrada Escritura

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Prévia do material em texto

Curso de Graduação a Distância 
 
 
 
Introdução 
à Sagrada 
Escritura 
 
(02 créditos – 40 horas) 
 
 
 
 
Autor: 
José Edmilson Schinelo 
 
 
 
 
 
Universidade Católica Dom Bosco Virtual 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
 
 
 UCDB VIRTUAL 
2 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
 
 
Missão Salesiana de Mato Grosso 
Universidade Católica Dom Bosco 
Instituição Salesiana de Educação Superior 
 
 
Chanceler: Pe. Gildásio Mendes dos Santos 
Reitor: Pe. Ricardo Carlos 
Pró-Reitora de Ensino e Desenvolvimento: Profª. Conceição A. Galvez Butera 
Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori 
Coordenadora Pedagógica: Profª. Blanca Martín Salvago 
 
 
Direitos desta edição reservados à Editora UCDB 
Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335 
www.virtual.ucdb.br 
UCDB -Universidade Católica Dom Bosco 
Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário 
Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302 
CEP 79117-900 Campo Grande – MS 
 
 
Schinelo, José Edmilson. 
Disciplina: Introdução à Sagrada Escritura 
 
José Edmilson Schinelo. Campo Grande: UCDB, 2014. 82 p. 
 
Palavras-chave: 
1. Revelação 2. Cânon 3. Inspiração 4. Geografia da Palestina 
 
 
 
0717
 UCDB VIRTUAL 
3 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
 
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO 
 
Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe 
multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que 
norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do 
seu curso. 
Elementos que integram o material 
Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para 
a avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina. 
Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a 
realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem ul-
trapassar o prazo máximo indicado pelo professor. 
Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do pro-
fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo. 
Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você 
possa aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para 
facilitar seu acesso aos materiais. 
Atividades Virtuais: atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo. 
As datas de envio encontram-se no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem. 
 
Como tirar o máximo de proveito 
Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros 
conteúdos e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de: 
· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramentas 
de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA; 
· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas 
audiovisuais, vídeo-aulas, fórum de discussão, fórum permanente de cada unidade, etc.; 
· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto 
a calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros; 
· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas 
necessidades como estudante, organize o seu tempo; 
· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza-
gem, contando com a ajuda e colaboração de todos. 
 
 UCDB VIRTUAL 
4 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
Objetivo Geral 
Propiciar noções gerais acerca dos temas introdutórios às Sagradas Escrituras 
judaico-cristãs, incluindo os conceitos de inspiração e verdade bíblica, informações sobre 
geografia e história da Palestina, o processo de surgimento e redação dos textos e as 
orientações da Igreja para o correto estudo da Bíblia. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO – SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – BÍBLIA: “LÂMPADA PARA OS PÉS E LUZ PARA O CAMINHO” ........ 11 
1.1 A Bíblia é “luz” para nosso caminhar ....................................................................... 11 
1.2 A mesa da Palavra: Bíblia, Vida, Comunidade .......................................................... 15 
1.3 Jesus nos deixou o critério principal: defesa e promoção da vida ............................... 18 
1.4 A centralidade da Bíblia na vida da Igreja ................................................................ 19 
1.5 Um livro que “tomamos emprestado” ...................................................................... 21 
1.6 Ponto de partida e ponto de chegada: a ressurreição ............................................... 22 
1.7 Os evangelhos não são biografias ........................................................................... 23 
 
UNIDADE 2 – INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A BÍBLIA ..................................... 30 
2.1 Um antigo sempre novo ......................................................................................... 30 
2.2 Diferença entre as edições evangélicas e católicas da Bíblia ...................................... 32 
2.3 Algumas diferenças entre o Primeiro e o Segundo Testamentos ................................ 33 
2.4 Manuscritos e versões da Bíblia .............................................................................. 35 
2.5 Sobre as traduções................................................................................................ 39 
2.6 Recursos presentes nas edições ............................................................................. 42 
 
UNIDADE 3 – FORMAÇÃO DO CÂNON E A QUESTÃO DA AUTORIA ...................... 49 
3.1 Livros canônicos .................................................................................................... 49 
3.2 Sobre o cânon do Primeiro Testamento ................................................................... 49 
3.3 Sobre o cânon do Segundo Testamento .................................................................. 50 
3.4 Os livros canônicos são “suficientes” para orientar os fiéis na fé ................................ 51 
3.5 Livros deuterocanônicos, apócrifos e outros livros perdidos ....................................... 52 
3.6 Autoria dos livros da Bíblia ..................................................................................... 54 
 
UNIDADE 4 – INSPIRAÇÃO E VERDADE NA BÍBLIA ............................................ 57 
 UCDB VIRTUAL 
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4.1 A inspiração divina das Escrituras ........................................................................... 57 
4.2 Um livro de verdades para a nossa fé ..................................................................... 58 
4.3 A leitura bíblica no tratado da Revelação ................................................................. 60 
4.4 As ciências auxiliares no estudo da Bíblia ................................................................ 61 
 
UNIDADE 5 – NOÇÕES DE GEOGRAFIA DA PALESTINA ...................................... 66 
5.1 Um território muito pequeno .................................................................................. 66 
5.2 Os nomes dados à Terra de Israel no decorrer da história ........................................ 70 
5.3 A Terra de Israel ocupa lugar estratégico ................................................................ 71 
5.4 O sentido religioso da Terra Prometida ................................................................... 71 
5.5 A terra de Israel se divide em quatro faixas ............................................................. 72 
 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 75 
ATIVIDADES ....................................................................................................... 77 
 
Avaliação 
A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar, isto é, a finalidade da 
avaliaçãoé propiciar oportunidades de ação-reflexão que façam com que você possa 
aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc. 
A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no final 
de cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do aluno ao 
longo de cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das atividades. Todo o 
processo será avaliado, pois a aprendizagem é processual. 
Para que possa se atingir o objetivo da avaliação formativa, é necessário que as 
atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo ao que se pede e tentando sempre 
exemplificar e argumentar, procurando relacionar a teoria estudada com a prática. 
As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de 
cada disciplina. As atividades enviadas fora do prazo serão aceitas nas seguintes condições: 
• As atividades enviadas 7 dias após o vencimento do prazo serão corrigidas com a 
pontuação normal, isto é, sem penalização pelo atraso. 
• Após os 7 dias, o professor aplicará um desconto de 50% sobre o valor da ati-
vidade. 
 
 
 UCDB VIRTUAL 
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www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
Critérios para composição da Média Semestral: 
Para fazer a Média Semestral, leva-se em conta o desempenho atingido na avaliação 
formativa e na avaliação somativa, isto é, as notas alcançadas nas diferentes atividades 
virtuais e na(s) prova(s). 
Antes do lançamento desta nota final, o professor divulgará a média de cada aluno, 
dando a oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a 
7,0 possam fazer a Segunda Chamada. 
Após a Segunda Chamada, o professor já fará o lançamento definitivo da Média 
Semestral, seguindo o procedimento abaixo: 
A prova presencial tem peso 7,0 e as atividades virtuais têm peso 3,0. Portanto, para calcular a 
Média, o procedimento é o seguinte: 
 
1. Multiplica-se o somatório das atividades por 0,30; 
2. Multiplica-se a média das notas das provas por 0,70. 
Para termos a Média Semestral, somam-se os dois resultados anteriores, ou seja: 
MS = MP x 0, 7 + SA x 0,3 
MS: Média Semestral 
MP: Média das Provas 
SA: Somatório das Atividades 
 
Assim, se um aluno tirar 10 na(s) prova(s) e tiver 10 nas atividades: 
MS = 10 x 0,7 + 10 x 0,3 = 7,0 + 3,0 = 10 
 
Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda 
poderá fazer o Exame. A média entre a nota do Exame e a Média Semestral deverá ser igual 
ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina. 
 
FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES 
 
O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu 
cronograma e tenha um controle de suas atividades: 
 
AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO ** 
Atividade 1.1 
Ferramenta: Tarefas 
 
 UCDB VIRTUAL 
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* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade (consulte o 
calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem). 
** Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade. 
 
Atividade 2.1 
Ferramenta: Questionário 
 
Atividade 2.2 
Ferramenta: Tarefas 
 
Atividade 3.1 
Ferramenta: Tarefas 
 
Atividade 4.1 
Ferramenta: Tarefas 
 
Atividade 5.1 
Ferramenta: Tarefas 
 
 UCDB VIRTUAL 
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BOAS VINDAS 
 
Olá! 
É muito bom ter você conosco! Você sabe que está começando um curso 
acadêmico, desejo que muita gente em nosso país ainda não consegue realizar! Além 
disso, trata-se de um curso de Teologia. Muitos repetirão a velha pergunta: “o que você vai 
ganhar com isso?”. Possivelmente, você tem a resposta em seu coração, mas nem sempre 
ela se traduzirá em palavras. E para algumas pessoas, as palavras não adiantariam, visto 
que outra é a lógica do mercado. O mundo capitalista não é capaz de entender quem 
deseja trilhar os caminhos de uma espiritualidade solidária e de um conhecimento mais 
profundo acerca do transcendente e da experiência de fé das pessoas. Partilhamos de sua 
alegria! Trilharemos juntos/as esse caminho. 
Nesta disciplina, você é convidado/a a olhar a Bíblia com os olhos da fé, mas 
também com a ajuda de outras ferramentas que as ciências nos oferecem. Algumas coisas 
serão uma revisão do que você já viu em sua comunidade de fé. Outras poderão se 
apresentar como novidade maior. Será uma matéria introdutória ao estudo da Bíblia. 
Disposto/a a começar?! Abra seu coração e sua mente e arregace as mangas! E a 
cada momento, lembre-se de uma importante frase preservada pelas primeiras 
comunidades cristãs: “Não tenha medo!” (Mc 6,50). Um bom estudo da Bíblia vai exigir 
confiança e abertura para que algumas verdades sejam solidificadas e outras sejam 
modificadas ou até mesmo substituídas. Com carinho e paciência, iremos adiante! 
Conte sempre conosco! 
Um abraço! 
 
Edmilson Schinelo 
 
 UCDB VIRTUAL 
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Pré-teste 
 
A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos 
prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta 
disciplina. Não fique preocupado/a com a nota, pois a atividade não será 
pontuada. 
 
1. O que é a Bíblia para você? 
2. Quais são as suas motivações para aprofundar o conhecimento das Sagradas 
Escrituras? 
3. O que você entende quando afirmarmos que a Bíblia é Palavra de Deus e palavra 
humana? 
4. Que tradução da Bíblia você costuma utilizar? E quais outras você conhece? 
5. Quando você lê a Bíblia, quais as principais dificuldades que encontra? Aponte no 
máximo três. 
6. Para você, o que é a inspiração bíblica? 
7. Que diferenças existem entre a Bíblia Hebraica e a Bíblia Cristã? E entre as edições 
católicas e as edições protestantes da Bíblia Cristã? 
8. Você já ouviu falar de algum dos documentos Dei Verbum e Verbum Domini? Se sim, 
comente do que eles tratam. 
 
Submeta o Pré-teste por meio da ferramenta Tarefas
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INTRODUÇÃO 
 
Querido/a acadêmico/a, 
 
Você está diante de um duplo desafio: por um lado, está iniciando um curso 
acadêmico. Isto significa que seu olhar sobre a Bíblia continuará sendo um olhar de fé, a 
partir de sua experiência pessoal e comunitária, mas com o acréscimo de outros critérios e 
com ajuda de novas ferramentas e de outras ciências. Com certeza, isso será oportunidade 
de crescimento, mas que precisa ser conjugado com o segundo esforço: não queremos 
transformar o texto bíblico apenas num objeto de estudo. A Palavra de Deus continuará 
sendo força transformadora e alimento para nossa espiritualidade cotidiana. A cada etapa 
do processo, assuma conosco o compromisso de sempre valorizar essas duas dimensões. 
O presente material está dividido em cinco unidades. Na primeira, falaremos da 
importância da Bíblia para nossa caminhada e para a vida da Igreja, apresentaremos 
algumas pistas de como fazer uma leitura comprometida das Escrituras Sagradas. A 
segunda unidade apresentará informações gerais sobre a Bíblia, muitas das quais já são 
conhecidas, mas requisitos básicos para qualquer estudo. A terceira parte tratará do 
processo de formação dos textos bíblicos e do surgimento do cânon. A quarta unidade será 
dedicada aos temas da Inspiração e Verdade na Bíblia e dos diferentes métodos de 
interpretação. A quinta e última unidade trará algumas informações sobre a história e a 
geografia da Palestina. 
Queremos fazer a você um pedido importante: nesta disciplina, o livro principal é a 
Bíblia. Você não pode passar pelo curso de Teologia lendo “tudo sobre a Bíblia” sem ler a 
Bíblia. Você precisa conhecer o texto bíblico. Por isso, antes mesmo de ler os comentários, 
livros de apoio, notas de rodapé, leia a Bíblia! Além disso, não tenha pressa no estudo deste 
material. 
Em relação às atividadesao final de cada unidade, elas constarão de dois tipos 
básicos de atividades: um estimulando você a trabalhar com os textos bíblicos; e outro 
oferecendo um texto de aprofundamento (algum artigo ou documento da Igreja). Tenha 
disciplina e rigor no cumprimento dos prazos, mas não faça uma leitura corrida. Tenha a 
Bíblia do lado e cada vez que se deparar com uma citação bíblica, abra o texto e confira. 
Leia todos os textos sugeridos! O estudo se tornará muito mais enriquecedor. 
 
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UNIDADE 1 
BÍBLIA: “LÂMPADA PARA OS PÉS E LUZ PARA O 
CAMINHO” 
 
OBJETIVO DA UNIDADE: Introduzir o acadêmico no estudo da Bíblia, 
apresentando-a como centro da vida da Igreja e orientação (luz) para a 
caminhada pessoal e comunitária. 
 
1.1 A Bíblia é “luz” para nosso caminhar1 
Tua palavra é lâmpada para os meus pés, Senhor. 
Lâmpada para os meus pés e luz, 
Luz para o meu caminho.2 
 
É muito cantado em nossas comunidades o refrão acima. Ele remonta às tradições 
mais antigas, tanto do povo de Israel, como das comunidades cristãs primitivas. É por esse 
refrão que queremos começar nossa conversa nesta primeira unidade de nosso curso. Você 
não foi convidado/a a estudar a Bíblia apenas para ampliar seus conhecimentos teóricos. 
Mesmo em termos acadêmicos, continua sendo de grande valor aquilo que os grupos que 
escreveram a Bíblia Hebraica sintetizaram no versículo 105 do Salmo 1193: “Tua Palavra é 
lâmpada para meus pés e luz para meu caminho.” A 
luz de uma lanterna, de um farol, nunca pode estar 
voltada para os olhos de quem caminha, deve 
iluminar a estrada. Da mesma forma, a pessoa e a 
comunidade não podem voltar a Bíblia apenas para 
os olhos. Lido desta forma, o texto cega, ao invés 
de iluminar. Função da Bíblia é iluminar a estrada 
da Vida. 
 
 
1 Seguimos aqui, com autorização do autor, a reflexão proposta por Ildo Bohn Gass (o título, inclusive é dele). 
Cf. GASS, Ildo Bohn. Porta de Entrada da Bíblia. Série Uma Introdução à Bíblia. Vol 1. São Leopoldo/São Paulo: 
CEBI/Paulus, 2003. Sugerimos que você adquira este livro pela linguagem simples e pela boa quantidade de 
informações sobre Introdução à Bíblia. 
2 A melodia normalmente cantada nas comunidades é de autoria da compositora metodista Simei Monteiro. 
3 Para quem usa traduções que não seguem o original hebraico (como é o caso da Bíblia da Ave Maria), é o 
Salmo 118. 
Fonte: http://migre.me/gWjnj 
 UCDB VIRTUAL 
12 
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A Bíblia, Palavra de Deus dada à humanidade, é um conjunto de textos poéticos, 
litúrgicos e espirituais que recolhem séculos de história de vários povos. É uma grande 
biblioteca que chegou até nós para nos ajudar na compreensão da revelação de Deus. É 
“Palavra de Deus”, mas não qualquer palavra. 
A Palavra de Deus não começa nem se encerra na Bíblia. A primeira palavra de 
Deus é sua ação criadora: O termo hebraico que normalmente traduzimos por “palavra” é 
“dabar”. Mas “dabar” significa “palavra criadora”, geradora de realidade, um acontecimento: 
“E Deus disse... E assim se fez” (Gn 1). O texto que temos em mãos é ato segundo. É ato 
reflexivo. É teologia, uma linguagem sobre Deus (GUTIÉRREZ, 1987). E em grande parte, é 
memória do povo sofrido (Ex 3,7-10), é a teologia do coração de gente simples: “Eu te 
agradeço meu Pai e Senhor porque escondestes estas coisas a sábios e entendidos e as 
revelastes aos pequeninos” (cf. Mt 11,25). 
A teologia é “um esforço de pensar o mistério... mistério que deve ser dito e não 
calado, comunicado e não guardado para si” (GUTIÉRREZ, 1987). Por isso, a Palavra Divina 
continua na vida do povo, nas comunidades. É o Divino Espírito, brisa divina, Ruáh,4 que 
agiu na criação, na libertação do Egito, em Jesus e nas primeiras comunidades. É o mesmo 
espírito que continua a agir na humanidade e no cosmos. Pense na profundidade dessa 
teologia, expressada a seguir em forma de poesia, na canção Um hino ao Divino, de Zé 
Vicente: 
Presente tu estás desde o princípio 
Nos dias da criação, divino Espírito! 
És o sopro criador que a terra fecundou 
E a vida no universo despertou! 
 
Presente tu estás desde o Egito 
Vencendo a opressão, Divino Espírito! 
És fogo e claridão, luz da libertação 
De um povo em movimento de união! 
 
Presente tu estás em Jesus Cristo 
Nos primeiros cristãos, Divino Espírito! 
Firmeza e novidade, estrela da unidade 
Amor concreto, solidariedade! 
 
Presente tu estás no sacrifício 
Na dor das multidões, Divino Espírito! 
Clamor e profecia, ternura e ousadia 
Sabor do nosso pão de cada dia!5 
 
4 Ruáh é o termo hebraico traduzido depois para Pneuma (grego) e Espírito (português). É um termo feminino, 
por isso a tradução “brisa”. 
5 Fonte: http://migre.me/h0xyB. Para ouvir a canção, acesse: http://migre.me/h0m3U. 
http://migre.me/h0xyB
http://migre.me/h0m3U
 UCDB VIRTUAL 
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www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
Além de ser lâmpada para os pés e luz para o caminho (cf. Sl 119,105), a Palavra 
Divina que encontramos na Bíblia nos ajuda a crer em Deus e a ter a vida em Jesus (cf. Jo 
20,30-31), a nos corrigir e a nos manter na retidão (cf. 2Tm 3,14-17), a verificar a solidez 
da fé (cf. Lc 1,1-4). A Bíblia não nos foi legada para que creiamos nela, mas para que, 
através dela, creiamos em Deus (cf. Jo 20,30-31). Não esqueçamos que crer é testemunhar 
(Mt 7,21-27). 
“Crer é uma experiência vital e comunitária; o mistério deve ser acolhido na oração 
e no compromisso, é o momento do silêncio e da ação” (GUTIÉRREZ, 1990). É importante 
não se esquecer deste dado para que sejamos capazes de, verdadeiramente e de coração 
aberto, escutar o que Deus tem para nos dizer, do jeito que Deus quer nos dizer. 
Portanto, mesmo num curso acadêmico, estudar a Bíblia é colaborar com a força 
do Espírito nesse grande mutirão que quer tornar realidade ainda hoje o que de fato 
significa a Palavra de Deus: acontecimento concreto na vida do mundo, encarnação (Jo 
1,14). Por isso, insistimos: a Palavra de Deus é, acima de tudo, como a luz de um farol que 
indica o caminho por onde andar. E não apenas ilumina. É também luz que aquece nossa 
esperança e nosso coração. Nela encontramos sentido para a vida, como lemos no relato do 
Caminho de Emaús (cf. Lc 24,13-35). 
O texto de Emaús é um convite para que busquemos entender o papel das 
Escrituras em nossa vida pessoal e na vida das comunidades. Faça agora uma leitura atenta 
do texto bíblico para seguirmos a conversa. 
 O caminho de Emaús nos 
ajuda a lembrar que antes de ser 
palavra escrita, a Bíblia foi palavra 
vivida: ao caminhar com os discípulos, 
Jesus não começa pela Bíblia (Palavra 
escrita), mas pela Vida (Palavra 
vivida). O interesse primeiro é pela 
situação dos discípulos, que caminham 
com o rosto sombrio (v. 16-17). Jesus 
sabia o que tinha se passado, mas o 
importante era saber, em atitude de 
escuta, a partir da experiência do outro. Se você observar com atenção, por um longo 
tempo, Jesus se põe a escutar (v. 18-24). Para iluminar a Vida, Jesus retoma a Bíblia: 
“começando por Moisés e passando pelos Profetas, interpretou-lhes as escrituras...” (cf. v. 
O caminho de Emaús, Elda Broilo. 
Uso de imagem autorizado pela autora. 
 UCDB VIRTUAL 
14 
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25-26). A Bíblia aqui não é utilizada para propósitos de ensino, não quer passar ou reforçar 
uma doutrina. Jesus recorre à Bíblia para iluminar a realidade de sofrimento, de angústia, 
de vida sem perspectivas daquelas duas pessoas. 
Vamos aprofundar no decorrer deste curso, mas adiantamos a informação de que o 
Evangelho de Lucas foi escrito depois dos anos 80 do primeiro século do Cristianismo. Os 
discípulos de Emaús são uma metáfora da situação de todas as comunidades da época 
quando a comunidadelucana escrevia o texto. Para a comunidade, Jesus não quer 
simplesmente aumentar a cultura ou o conhecimento bíblico dos discípulos. Pretende 
transformar a vida. E de fato consegue. Porém, com o auxílio das Escrituras, consegue 
somente em parte, como eles mesmos 
reconhecem (leia de novo Lc 24,32). 
A leitura da Bíblia aquece o coração, 
mas não podemos ficar nisso. É preciso abrir os 
olhos e ir à ação. E o que de fato abre os olhos é 
uma nova prática, expressada na partilha do pão 
(veja o versos 30-31). 
 Fonte: http://migre.me/gWjYJ 
O novo jeito de ser consiste na hospitalidade e na partilha realizada 
naquela comunidade. Ao compartilharem sua casa com o forasteiro e 
partilharem sua mesa com ele, uma vez o coração já aquecido pelas 
Escrituras, seus olhos se abrem e percebem a presença de Jesus em seu 
meio. Imediatamente, voltam para a comunidade de Jerusalém e anunciam 
a Boa Nova da vitória da vida sobre a morte. (GASS, 2003, p.10). 
 
Queremos aprender com história de Emaús. Queremos sentir nosso coração 
aquecido, alimentar a esperança, a mística, a espiritualidade. O curso vai nos ajudar nisso. 
Entretanto, queremos que o coração aquecido reforce e estabeleça relações de partilha e de 
solidariedade. “O Reino de Deus já está em nosso meio, mas é preciso que vá se ampliando 
e se traduzindo em um novo jeito de conviver, mais humano mais fraterno.” (GASS, 2003, 
p.10). 
O curso também pretende (com rigor acadêmico, mas não se fechando a isso e 
nem partindo disso) perscrutar as Escrituras com o auxílio também das ciências modernas, 
percorrendo caminhos da pesquisa exegética moderna, sob a orientação da Igreja. Por isso, 
será importante dedicarmos especial atenção ao que nos diz a Igreja sobre a leitura, o 
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estudo e a vivência das Sagradas Escrituras. Três documentos nos acompanharão mais de 
perto e vamos sempre recorrer a eles: 
a) A Dei Verbum, documento do Concílio Vaticano II (http://migre.me/h0kov); 
b) O documento da Pontifícia Comissão Bíblica do Vaticano, sobre A interpretação da 
Bíblia na Igreja (http://migre.me/h0kro); e 
c) A Verbum Domini, exortação apostólica de Bento XVI que é fruto do Sínodo dos 
Bispos sobre a Palavra (http://migre.me/h0kyU) 
 
 
Sugestão para seu aprofundamento: 
 
Releia Lucas 24,13-35 e observe os passos que Jesus 
realiza com os discípulos de Emaús. 
 
 
1.2 A mesa da Palavra: Bíblia, Vida, Comunidade 
Quantas vezes você já ouviu a expressão “sentar-se à mesa”? Quantas vezes você 
fez isso com sua família, amigos e amigas? Era essa a prática mais comum de Jesus! Mas a 
mesa é elemento importante de 
todas as culturas. 
Podemos afirmar que 
leitura da Bíblia é como uma 
mesa. Na cultura de Jesus, as 
pessoas se “sentavam à mesa” 
no chão, numa comunhão 
ainda maior com a mãe terra e 
a natureza. Mas aproveitemos 
as várias imagens que a figura 
da mesa nos evoca. 
O primeiro aspecto que queremos destacar é que a mesa está com os pés no 
chão. Da mesma forma, para se ler a Bíblia com proveito, é importante ter os pés bem 
fincados na vida de nossa realidade pessoal, bem como na vida sofrida dos povos. Tal 
Fonte: http://migre.me/gWkE9 
http://migre.me/h0kov
http://migre.me/h0kro
http://migre.me/h0kyU
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como uma mesa, em não sendo assim, ficaremos a balançar, não teremos firmeza. É em 
função e a partir da nossa Vida real e cotidiana que vamos ao texto sagrado (por isso, aliás, 
é sagrado). 
É para a nossa Vida que buscamos luzes, motivações, força, ânimo. Buscamos 
descobrir a vontade (o desígnio/desejo) de Deus para transformar nossas vidas e a Vida 
nas/das Igrejas e na sociedade, a fim de que estas se pareçam um pouco mais com o Reino 
de Deus. Não por menos, repetimos diariamente: “Venha a nós o teu Reino!” (Mt 6,10; Lc 
11,2). 
Uma segunda imagem: Mesa significa espaço de partilha da palavra. Nós mesmos, 
quando precisamos dialogar com uma pessoa ou grupo, costumamos dizer: “vamos sentar à 
mesa”. A mesa nos congrega, faz-nos sentar ao seu redor, sugere a comunhão, a 
comunidade. É na mesa que partilhamos a comida, o cotidiano, as ideias e os sentimentos. 
Tirar a mesa é tirar a comunhão. Assim também, a leitura bíblica certamente será mais rica 
se feita em comunidade, “ao redor de uma mesa”. Leia com atenção o que nos diz a Dei 
Verbum: 
A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo 
do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e 
distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da 
do Corpo de Cristo. Sempre as considerou, e continua a considerar, 
juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; elas, 
com efeito, inspiradas como são por Deus, e exaradas por escrito duma vez 
para sempre, continuam a dar-nos imutavelmente a palavra do próprio 
Deus, e fazem ouvir a voz do Espírito Santo através das palavras dos 
profetas e dos Apóstolos. É preciso, pois, que toda a pregação eclesiástica, 
assim como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada 
Escritura. Com efeito, nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem 
amorosamente ao encontro de Seus filhos, a conversar com eles; e é tão 
grande a força e a virtude da palavra de Deus que se torna o apoio 
vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, 
fonte pura e perene de vida espiritual. Por isso se devem aplicar por 
excelência à Sagrada Escritura as palavras: «A palavra de Deus é viva e 
eficaz» (Hebr. 4,12), «capaz de edificar e dar a herança a todos os 
santificados», (At. 20,32; cfr. 1 Tess. 2,13).” (DEI VERBUM, 1987). 
 
Em torno da mesa da Palavra, a comunidade troca ideias e amplia a compreensão 
do texto a partir de diferentes contribuições. Há um crescimento mais qualificado que só é 
possível em comunidade. A Bíblia teve um longo processo de formação. Foi um grande 
mutirão. E, lendo-a hoje também em mutirão, certamente seus frutos serão maiores e mais 
saborosos. Por isso, mesmo fazendo um curso acadêmico, você não pode se esquecer da 
dimensão comunitária da Palavra. 
A terceira imagem: mesa significa comida repartida. É sonho de Deus que seus 
filhos e filhas tenham vida abundante (Jo 10,10). O Reino de Deus é sempre comparado 
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com banquete (Lc 14,15-24). Todos os evangelhos fazem questão de destacar a 
centralidade da partilha dos pães efetuada por Jesus junto à multidão faminta no deserto: 
todo mundo se saciou e ainda sobrou comida em abundância: doze cestos.6 O evangelho de 
Lucas, de forma especial, gosta de insistir na importância da mesa. Ele destaca doze 
episódios em que se põe à mesa com os seus. Não precisa conferir na Bíblia todos os textos 
agora, mas veja que interessante essa relação: 
 Lc 5,29-32: Jesus come com publicanos, pecadores e impuros na casa de Levi. 
 Lc 7,36-50: Jesus está à mesa na casa do fariseu e ali defende a mulher pecadora. 
 Lc 9,10-17: Jesus promove a partilha do pão, um verdadeiro milagre. 
 Lc 10,38-42: Na casa de Marta e Maria, o Mestre indica o caminho do seguimento. 
 Lc 11,37-54: Na mesa do fariseu, Jesus desmascara sua hipocrisia, seu legalismo. 
 Lc 14,1-6: Estando à mesa com um fariseu, Jesus cura um hidrópico no sábado. 
 Lc 15,11-32: Deus misericordioso oferece um banquete ao pecador convertido. 
 Lc 16,19-31: Quem come o pão não partilhado, come sua própria condenação. 
 Lc 19,1-10: Na casa de Zaqueu, a presença de Jesus promove partilha. 
 Lc 22,14-20: Comer o pão repartido é fazer comunhão com o próprio Deus. 
 Lc 22,28-30: A mesa do Reino de Deus pertence a quem for fiel ao projeto de Jesus. 
 Lc 24,13-35: Na casa e no pão partilhados, Deus mesmo se revela em Emaús. 
 Lc 24,41-43: Ressuscitado, Jesus continua participando da partilha na mesa com 
seusdiscípulos de ontem e de hoje. (GASS, 2005b, p.43). 
 Resumindo as três imagens: como na história de Emaús, queremos ler a Bíblia 
partindo da Vida, da Realidade. Iluminamos essa realidade com a Palavra. E voltamos para 
a Vida, na disposição de partilhar. Observe que nossa liturgia segue também este caminho: 
o primeiro momento é a acolhida e a revisão da Vida (na missa, com essa finalidade 
mantemos o ato penitencial); temos depois a liturgia da Palavra; e, por último, a liturgia 
eucarística, a partilha do Pão. 
Mantendo os pés no chão da realidade, mantendo o respeito e fidelidade ao texto, 
buscando a leitura em comunidade, chegaremos à leitura orante, à escuta de Deus. “Pois 
Ele é um Deus que continua se manifestando para nós, não só através da Bíblia, mas 
também através das pessoas e dos acontecimentos de nossa época”. (GASS, 2003, p.12). 
 
 
 
6 Eis os textos: Mc 6,30-44 e 8,1-10; Mt 14,13-21 e 15,32-39; Lc 9,10-17; Jo 6,1-15. 
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Sugestão para seu aprofundamento: 
 
Vá agora à Bíblia e confira os textos nos quais Jesus está à mesa, de 
acordo com o Evangelho de Lucas. Anote quais os grupos sociais que 
mais aparecem ao redor de Jesus nesses momentos. 
 
1.3 Jesus nos deixou o critério principal: defesa e promoção da vida 
 
Para pessoas cristãs o critério fundamental, a principal chave de interpretação para 
ler todas as Escrituras é a pessoa de Jesus Cristo. Na teologia, muitas vezes se usa a 
expressão critério de compatibilidade cristológica. Ou seja, não partimos de livro ou 
uma doutrina, mas da experiência com o Ressuscitado. 
 
Ele mesmo resume magistralmente o princípio que deve sempre nos 
orientar. Ele mesmo diz qual é o critério para compreender a Palavra de 
Deus presente nas palavras humanas e escritas pelo povo de Israel. O 
critério central que Jesus nos fornece é a defesa da vida. Defesa da vida 
em qualquer situação em que ela se encontre diminuída, seja na doença, 
na exclusão, na pobreza, na própria morte. (GASS, 2005a, p.12). 
 
A letra do texto, seu sentido literal, é importante. Mas importa acima de tudo 
buscar o seu sentido teológico, o seu espírito. Lemos em 2 Cor 3,6 que “a letra mata, mas o 
Espírito é que dá vida”. Como aponta o Salmo 1, como nos alertam os profetas e as 
profetizas, as Escrituras querem mostrar o caminho da justiça. 
Visualizemos esse jeito de ler a Bíblia de acordo com o “triângulo hermenêutico” 
abaixo (do grego, hermenêutica significa interpretação). O texto está no centro. 
Entretanto, ele se nos apresenta como Palavra de Deus se nós o lemos a partir do 
contexto da Vida de onde ele nasceu (a história do povo da Bíblia) e aonde ele chega (a 
história do povo de hoje). Tal leitura se faz num processo. 
 
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O processo hermenêutico só estará completo quando interpretamos e atualizamos 
a mensagem daquela época para a realidade da Pessoa, da Comunidade e da Sociedade de 
hoje. A busca da mensagem do texto para a época em que foi escrito é importante. 
Entretanto, essa mensagem iluminará mais nossa caminhada, na medida em que a 
atualizamos para nossa realidade hoje. 
1.4 A centralidade da Bíblia na vida da Igreja 
A Sagrada Escrita sempre esteve e precisa continuar no centro da Igreja. Conforme 
o Concílio Vaticano II, cabe à Igreja colocar-se na escuta e a serviço da Palavra: 
O magistério da Igreja não está acima da Palavra de Deus, mas a seu 
serviço, não ensinando senão o que foi transmitido, [...] no sentido de que 
ausculta piedosamente essa palavra, guarda-a santamente e a expõe 
fielmente. Deste único depósito da fé, o magistério da Igreja tira o que nos 
propõe para ser acreditado como sendo divinamente revelado. (DEI 
VERBUM, n.10) 
 
Deus reúne pessoas e comunidades de fé e lhes oferece gratuitamente a Sua 
Palavra como orientação e alerta para que a Aliança seja refeita. Pela Palavra nos são 
oferecidas reflexões cotidianas em torno da Vida. Pois na Vida, o próprio Deus se revelou e 
se fez gente em Jesus (Jo 1,14). Por sua vez, Jesus nos brinda com o Evangelho – a Boa 
Notícia do Reino, misericórdia de Deus. O Evangelho, para as pessoas cristãs, é o centro e a 
chave de leitura de todas as Escrituras Sagradas e para a “leitura” e presença no mundo. É 
obedecendo (ob-audire: escutar interiormente) à Palavra do Evangelho que a Igreja se 
mantém fiel a Jesus e busca responder ao seu chamado: “Vem e Segue-me!”. 
É no seguimento, entretanto, que nos sentimos também enviados/as. Não para 
ações de proselitismo, como se tivéssemos que convencer as pessoas a aderirem ao nosso 
modo de pensar, à nossa doutrina. O envio que recebemos é para o serviço: “É a própria 
Palavra que nos impele para os irmãos: é a Palavra que ilumina, purifica, converte; nós 
somos apenas servidores”. (VERBUM DOMINI, n.93). 
No começo da Igreja, a única teologia que existia era o comentário à 
Escritura e a aplicação da Palavra de Deus à vida das comunidades. 
As primeiras grandes “escolas teológicas” do cristianismo (Alexandria 
e Antioquia) foram acima de tudo escolas de leitura orante da Bíblia 
(Lectio Divina).7 
 
Pode-se dizer que a teologia cristã, ou seja, a elaboração de um pensamento mais 
sistemático sobre Deus e sua Palavra, se desenvolveu quando as comunidades cristãs 
 
7 Para maior aprofundamento ler: CRB. Leitura Orante da Bíblia. Col. Tua Palavra é Vida. V. 1.São Paulo: Loyola, 
1990. 
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tiveram que explicar a si mesmas e aos outros por que a parusia prometida (a manifestação 
gloriosa da vinda de Cristo) tardava tanto e não acontecia imediatamente, como Paulo e 
os/as primeiros/as discípulos/as acreditavam. Em função disso, a base de toda teologia é a 
esperança do Reino de Deus e a elaboração espiritual (não só intelectual) desta espera 
(LAFONT, 1999). Foi necessário então, que a memória do Ressuscitado (que é o mesmo 
Crucificado), aquilo que Ele disse e fez, fosse reinterpretada gradativamente e fosse 
transmitida, primeiro por meio da tradição oral, depois através de escritos que, mais tarde, 
vieram a ser o que chamamos de Segundo Testamento ou Novo Testamento. 
Com o decorrer do tempo, quando a igreja institucional se tornou cristandade, 
deixando de se enxergar como simples sinal e passando a se considerar o Reino de Deus já 
presente na terra, a Bíblia passou a ser referência menos importante, quase secundária. Nos 
cursos de teologia clássica e na formação cristã em geral, frases bíblicas eram utilizadas 
mais para legitimar debates teológicos, perdendo muito do seu valor em si. Era quase como 
o começo dos tratados de teologia, que depois tomavam vida própria e se desenvolviam 
sem ter mais muito contato com o texto bíblico. 
Desta forma, tanto a teologia como a formação cristã geral se afastaram muito da 
Bíblia. De tal forma que para muita gente, mesmo com a facilidade de acesso ao texto 
(graças à invenção da imprensa), a Bíblia se tornou livro de gabinete ou enfeite de estante. 
No Brasil Império, por exemplo, era comum conventos de religiosos e famílias nobres 
possuírem no centro da casa uma estante para a Bíblia e no centro do pátio um pelourinho 
para que os negros escravizados fossem chicoteados. Já não se fazia mais qualquer ligação 
entre Bíblia e Vida. 
Com o Concilio Vaticano II, tanto a teologia como a vida da Igreja passou 
novamente a se deixar interrogar pela Bíblia. O Evangelho voltou a ser a referência. Muito 
rapidamente, volta a se espalhar um desejo de se conhecer e viver a Palavra. Na América 
Latina, de forma especial, floresce um forte movimento bíblico, na busca de se matar a sede 
da Palavra. E a Bíblia volta a impulsionar o testemunho profético. Milhares de irmãos e 
irmãs deram a vida pela missão a partirdo apelo escutado na Bíblia. Dom Oscar Romero, 
bispo católico de El Salvador, assassinado no dia 24 de março de 1980, é um exemplo. 
A recuperação da centralidade da Bíblia fez despertar dois aspectos: a dimensão 
profética e a dimensão sapiencial. 
A dimensão profética fez a Igreja reviver sua missão de testemunha da Vida e de 
defensora da justiça, na linha das bem-aventuranças do Evangelho. Foi esta dimensão que 
renovou a Igreja e nos ajudou a recuperar um jeito antigo e sempre novo de ir ao texto 
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bíblico: ler a Bíblia para iluminar a Vida. Fez-se e ainda se faz a atualização da leitura do 
Êxodo. 
A dimensão sapiencial conduziu a Igreja a descobrir a Palavra de Deus nas 
diferentes culturas e sabedorias dos povos diferentes. Na fonte da inculturação, está a 
leitura sapiencial da Bíblia. Desde 1970, vários autores falaram em aprofundar o “antigo 
testamento bíblico” para valorizar o que seria “o antigo testamento dos nossos povos”. 
Muitas de nossas comunidades, entretanto, ainda precisam descobrir uma Palavra 
de Deus que as reanime tanto para a profecia como para o diálogo. Uma leitura bíblica que 
parta do dia-a-dia do povo, da sua forma de organizar a vida cotidiana e as relações 
familiares também ajudará no diálogo com outras culturas. 
A Leitura Popular da Bíblia, muito desenvolvida aqui no Brasil, alicerçada no 
método histórico-crítico e no compromisso com o Evangelho: “que todos tenham vida e vida 
em abundância” (Jo 10,10) é um bom exemplo de processo hermenêutico. 
 
1.5 Um livro que “tomamos emprestado” 
Até aqui falamos da Bíblia como se fosse 
um livro “da Igreja”. De fato, estamos tratando 
do livro (ou coleção de livros) que é a base de 
nossa fé cristã. Entretanto, um estudo sério e 
respeitoso da Bíblia precisa levar em conta o 
seguinte dado: a Bíblia é um livro que “tomamos 
emprestado” de um outro povo, de uma outra 
cultura. Acima de tudo, precisamos reconhecer 
que o a Bíblia não é o livro sagrado apenas do povo cristão, não foi escrito pelos cristãos, 
mas pelo povo judeu. A Bíblia é o livro sagrado 
dos judeus. 
Poderíamos argumentar que isso é 
verdade apenas em relação ao Antigo 
Testamento. No entanto, também o Novo 
Testamento, ainda que não faça parte das atuais 
escrituras judaicas, foi escrito por pessoas e comunidades fortemente vinculadas à 
experiência do povo de Israel. Não por menos, os escritos neotestamentários insistem tanto 
Fonte: http://migre.me/h2MLJ 
Acervo pessoal, Edmilson Schinelo 
http://migre.me/h2MLJ
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na “construção teológica” de que a Igreja é no “novo Povo de Deus”, expressão tão cara à 
religião judaica. 
Além disso, também os samaritanos, desde antes de Cristo, sempre fizeram uso do 
Pentateuco como seu livro sagrado (ainda que numericamente menores, os samaritanos 
existem até os dias de hoje como grupo religioso autônomo). Antes de ser um “livro 
cristão”, portanto, a Bíblia foi e é um livro judeu-samaritano. 
Quando tomamos algo emprestado de alguma pessoa, costumamos redobrar o 
cuidado. Ao devolver, mesmo que seja apenas interior: “cuidei 
como se fosse meu”. Tal postura se faz necessária também em 
relação à Bíblia. Não vamos devolvê-la (até porque a Bíblia é 
um patrimônio de toda a humanidade!), mas temos que 
sempre repetir: “cuidamos como se fosse nossa”. 
Fonte: http://migre.me/mskTN 
A atitude de cuidado deve se traduzir em atitude de diálogo e aprendizado para 
com as demais tradições religiosas. Uma leitura da Bíblia guiada pelo Espírito nos conduzirá 
ao maior conhecimento da fé da Igreja e, ao mesmo tempo, ao respeito e à convivência 
harmoniosa entre igrejas e entre as religiões. 
1.6 Ponto de partida e ponto de chegada: a ressurreição8 
 
Saber que a Bíblia é um livro que compartilhamos entre diversas religiões e culturas 
não empobrece sua importância para nós cristãos. Até porque preservamos uma chave de 
leitura específica, que para nós é ponto de 
partida e ponto de chegada: o evento da 
Ressurreição. Este dado de fé dá um novo 
sentido a cada texto, tanto do Primeiro como 
do Segundo Testamento (mais adiante 
explicaremos o motivo do uso desta 
terminologia). 
 
8
 Nos itens 6 e 7 você vai observar que as imagens retratam figuras negras. Trata-se de um “exercício de 
mudança de óculos”. Se não é possível afirmar que Jesus era negro, também não há como afirmar que fosse 
branco. Mas normalmente não estranhamos quando vemos pinturas em que Jesus é retratado com cabelos 
loiros e olhos azuis (versão europeia). As imagens utilizadas são um trabalho dos “Pintores de Mafa”, de 
Camarões. Confira www.jesusmafa.com. 
Quando ainda era escuro... 
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Afirmar que a Ressurreição é ponto de partida e ponto de chegada para o estudo 
da Bíblia é afirmar com outras palavras a centralidade da Vida. Acreditamos que Deus nos 
criou para participarmos de sua glória e que a morte e a ressurreição de seu Filho são “as 
primícias” do que experimentaremos (1Cor 15,20). Por isso a 
importância de se levar em conta a realidade pessoal e 
comunitária no estudo da Palavra. 
Recorrendo à memória das primeiras comunidades, 
vemos que o que motivou a Escrita das Cartas, dos 
Evangelhos, dos Atos e do Apocalipse foi justamente a 
experiência junto ao Ressuscitado. Tudo teria sido em vão se 
Cristo não tivesse ressuscitado (cf. 1Cor 15,17). Se nossa 
leitura bíblica não estimular o caminho para a Ressurreição – 
diária e definitiva – vão será também o nosso esforço. 
1.7 Os evangelhos não são biografias 
No decorrer do curso, teremos ainda duas matérias em estudaremos os evangelhos 
(Evangelhos Sinóticos e Atos; Escritos Joaninos e Apocalipse). É importante, entretanto, que 
nesta introdução conversemos um pouco sobre as diferenças presentes nos evangelhos.9 
Os evangelhos não são biografia de Jesus. Quando foram escritos, não tinham a 
intenção de narrar nos detalhes o que se passou com o Nazareno. Com certo grau de 
humor, costumamos dizer o seguinte: se quisermos saber direitinho como foi a vida de 
Jesus, teremos que esperar nossa ressurreição e perguntar a ele. Mas é possível que a 
pergunta não faça mais sentido. Agora, se 
desejamos conhecer a experiência que as 
primeiras comunidades fizeram à luz do que 
Jesus disse e fez, aí sim podemos ler os 
evangelhos. E como as comunidades eram 
diferentes entre si, é normal que um mesmo 
fato a respeito da vida de Jesus tenha sido 
registrado de forma diferente por cada 
comunidade. 
 
9 O texto que segue é extraído de SCHINELO, Edmilson. O porquê das diferenças entre os evangelhos. 
Disponível em: <https://cebi.org.br/2017/02/15/o-porque-das-diferencas-entre-os-evangelhos-edmilson-
schinelo/>. Acesso em: 17 abr.2017. 
O anúncio a Maria 
A ascensão 
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Para nosso olhar de fé, sabemos que a inspiração divina permitiu essa 
multiplicidade de relatos exatamente para que pudéssemos seguir aprendendo que as 
diferenças nos enriquecem e nos complementam. Se assim não fosse apenas um evangelho 
teria sido suficiente. As diferenças entre os evangelhos, portanto, são fruto em primeiro 
lugar da vontade divina. Mas também de outras condições. Vejamos algumas. 
a) Diferentes maneiras de se contar um mesmo fato 
Em sua vida pública, Jesus 
constituiu um movimento itinerante, 
formado de mulheres e homens (veja Lc 
8,1-3) e andou por cidades e povoados 
anunciando o Reino, curando as pessoas e 
propondo um jeito novo de viver. As coisas 
que disse e fez não foram anotadas de 
imediato, foram gravadas na mente e no 
coração das pessoas, que passaram a 
contar para seus filhos efilhas, na catequese, nas celebrações, na vida das primeiras 
comunidades. A isso nós chamamos de tradição oral. Somente mais tarde teve início o 
processo de redação dos textos, inicialmente em forma de pequenas coleções (ditos de 
Jesus, relatos da paixão, coleção de parábolas, coleção de milagres, etc.). Ora, é evidente 
que um mesmo fato ou uma fala que tinham um núcleo comum adquirissem “caminhos” e 
tradições diferentes na medida em que eram transmitidos “de boca em boca” por diferentes 
grupos. Na Bíblia também funciona o famoso “quem conta um conto aumenta um ponto”. 
Esta é uma das razões pelas quais um relato difere do outro (confira, a título de 
curiosidade, o relato do episódio de Jesus caminhando sobre as águas na versão de Mc 
6,45-52 e na versão de Jo 6,16-21; se quiser, confira também com Mt 14,22-33). Veja 
também como a oração do Pai Nosso é diferente em Lc 11,1-4 e em Mt 6,9-13. 
b) Épocas e contextos diferentes 
 
Tomemos o seguinte exemplo: por defender a floresta 
e o povo empobrecido da Amazônia, contrariando os interesses 
das elites e do capital internacional, Chico Mendes foi 
assassinado em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri, no Acre. 
Seu testemunho repercute até hoje. Imaginemos o quanto 
Batismo de Jesus 
Fonte: http://migre.me/mskLG 
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seriam diferentes as histórias de sua vida se escritas nos anos que sucederem sua morte 
por gente ainda sofrendo ameaças, das histórias contadas por seus familiares e escritas por 
um neto seu que não o conheceu pessoalmente, 30 anos depois, já vivendo no Rio de 
Janeiro. Bem diferente seria também uma versão escrita por uma pessoa de algum país 
europeu que apenas escutou relatos orais. É impossível que a situação de quem escreve 
não se reflita no texto. 
O mesmo aconteceu com os evangelhos. Ao escreverem os textos, as comunidades 
também foram influenciadas pelo contexto em que viviam. Por volta do ano 70, época da 
destruição de Jerusalém pelos romanos, deve ter surgido o 
evangelho de Marcos, o primeiro dos quatro. Em várias 
passagens, o texto de Marcos é bastante marcado pelo 
silêncio e pelo medo. Em Marcos, Jesus morre em situação 
de abandono (compare Mc 15,33-39 com Jo 19,28-30). É 
como se a comunidade cristã, enfrentando a guerra e o 
massacre, estivesse repetindo o salmo: Meu Deus, meu 
Deus, porque me abandonaste! (Sl 21,2). Cerca de 30 anos 
mais tarde, quando a comunidade de Joao relata o mesmo 
fato, já quer destacar um Jesus senhor da história e 
vencedor da morte, em condições de ele mesmo entregar o 
seu espírito, dizendo que tudo está consumado (Jo 19,30). 
Diferença de contextos. 
 
c) Destinatários diferentes 
 
Nos dias de hoje os evangelhos 
se destinam às nossas comunidades de 
fé. Mas à época em que foram escritos, 
tiveram destinatários diferentes. O 
evangelho de Mateus foi escrito para 
comunidades judaico-cristãs. É comum 
que acentue aspectos importantes para o 
judaísmo, como, por exemplo, o pleno 
cumprimento da lei (Mt 5,17-18). 
Enquanto em João o próprio Jesus viaja pela Samaria com seus discípulos (Jo 4), em 
Crucificação 
A entrada triunfal em Jerusalém 
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Mateus ele diz que os discípulos não devem entrar em terras de samaritanos (Mt 10,5). O 
evangelho de Lucas tem como destinatárias as comunidades cristãs do mundo greco-
romano, menos presas às tradições judaicas. O texto de Mt 10,5 não caberia no evangelho 
de Lucas.10 
d) Diferentes acentos teológicos 
 
No essencial os evangelhos 
coincidem: Deus envia seu filho ao mundo, ele 
forma um grupo de seguidoras/es e vive 
servindo aos pobres; sua forma de agir acaba 
desagradando as autoridades judaicas e 
romanas e por esse motivo é assassinado na 
cruz; mas ressuscita e as primeiras 
anunciadoras do novo são as mulheres. Esse 
fio comum perpassa os quatro relatos: Marcos, Mateus, Lucas e João. 
Entretanto, cada evangelho tem sua especificidade teológica. Marcos apresenta 
Jesus como um curador da vida, alguém que passa a maior parte do tempo curando as 
pessoas e expulsando demônios. Mateus, por sua vez, insiste nos longos discursos de Jesus, 
apresentando-o como um rabino, um mestre da justiça. A dimensão do perdão e da 
salvação universal e mais destacada em Lucas do que em Mateus e Marcos. Para João, 
Jesus é o verbo que sempre existiu, mas ao se encarnar, ensina-nos a viver um discipulado 
de iguais. 
Outro exemplo: na 
genealogia de Mateus, Jesus é 
descendente de Abraão (Mt 1,2). 
Como Abraão é pai do povo de Israel, 
Jesus é, portanto, um bom judeu. Já 
em Lucas, Jesus não é descendente 
apenas de Abraão, mas de Adão (Lc 
3,38). Em sua visão mais 
universalista, Lucas apresenta Jesus 
 
10 Marcos tem bastante influência aramaica, pode ter sido fruto de comunidades judaicas da Palestina (apesar de 
muitos acharem que teve sua redação final em Roma. A redação final de João pode ter se dado na Ásia 
Menor, mas as tradições do “Discípulo Amado” são mais antigas e devem remontar às primeiras comunidades. 
O assunto será aprofundado no momento oportuno. 
A filha de Jairo 
Visita dos Magos 
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não como filho do povo judeu, mas de toda a humanidade. 
 
e) Uso diferente de textos do Primeiro Testamento 
 
Em função do interesse teológico 
diferente ou mesmo da diferente tradição que 
preservou o fato, as comunidades também 
recorrem a diferentes textos que teriam sido 
ditos por Jesus em momentos específicos. No 
episódio da expulsão dos vendilhões do 
templo, de acordo com Marcos, Jesus teria 
dito: Minha casa será chamada casa de oração 
para todos os povos, mas vocês fizeram dela um covil de ladrões. Já de acordo com o texto 
de João, as palavras de Jesus teriam sido outras: Não façam da casa de meu pai uma casa 
de comércio. Na verdade, enquanto o texto de Marcos recorre a Is 56,7 e a Jr 711, João faz 
uso de Zc 14,21. Ainda conforme João, os discípulos teriam se lembrado do Sl 69,10: O zelo 
por tua casa me devorará. 
Outro exemplo é a última frase que Jesus teria dito na cruz, antes da morte. 
Enquanto Marcos cita o Salmo 22,2 (Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste!), Lucas 
cita o Salmo 31,6: Em tuas mãos entrego o meu espírito! 
No relato da infância de Lucas, depois 
de nascer, Jesus volta de Jerusalém para a 
Galileia, não teria ido morar no Egito (cf Lc 
2,39-40). Em Mateus, como Jesus é 
comparado a Moisés, ele vai morar no Egito, é 
perseguido por um novo faraó (Herodes), tem 
a ajuda dos magos (como Moisés teve das 
parteiras) e proclama, no monte a nova Lei, as 
Bem-aventuranças (Mt 5.1-12). Trata-se, na versão de Mateus de uma releitura do êxodo, 
como Oseias já havia feito: Do Egito chamei o meu filho (Os 11,2). 
 
 
A fuga para o Egito 
Expulsão dos vendilhões 
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f) Um exercício prático 
Tomemos o relato das 
mulheres indo ao túmulo na 
madrugada da ressurreição, 
presente nos quatro evangelhos: Mc 
16,1-8; Mt 28,1-10; Lc 24,1-11 e Jo 
20,1-18. Muitas diferenças podem 
ser observadas entre os relatos. 
Propomos aqui que identifiquemos 
apenas algumas, com base na 
resposta às seguintes perguntas: a) 
quem são as mulheres que vão ao túmulo na madrugada da ressurreição? Quem está lá 
para avisar as mulheres que Jesus está vivo ou para dirigir-lhes alguma palavra? Qual a 
reação das mulheres? 
Comecemos pela segunda pergunta: em Marcos, encontramos um jovem de 
branco. A versão de Mateus se inspira em Marcos, mas no lugar do jovem aparece um anjo. 
Lucas também se inspira em Marcos, mas fala de dois homens com vestes resplandecentes. 
Tanto em Mateus como em Lucas funcionou o “quem conta um conto aumenta um ponto”. 
João menciona dois anjos, possivelmente 
por fazerreferência ao novo jardim não 
manchado pela morte (Jo 19,41). Se no 
antigo jardim Deus colocou os querubins 
para impedir que o ser humano chegasse à 
árvore da vida (Gn 3,24), em Jo 20,12-13 
os anjos são os primeiros a confortar a 
mulher, com a pergunta carinhosa depois 
repetida por Jesus: Por que choras? 
Observemos a diferença quanto à reação das mulheres. Em Marcos, elas fogem em 
silêncio: não contaram nada a ninguém porque tinham medo (Mc 16,8). Já vimos que o 
contexto em que se escreveu o evangelho de Marcos é marcado pelo medo da perseguição 
romana. Nos demais textos, elas contam aos discípulos. O medo ainda permanece, mas elas 
contam. O texto de Mateus acrescenta que apesar do medo, elas estavam alegres (Mt 
28,8). Sabemos que o texto de Mateus foi escrito cerca de quinze a vinte anos depois do 
O túmulo vazio 
Pentecostes 
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texto de Marcos. As comunidades ainda experimentavam o medo, mas eram capazes de 
anunciar com mais alegria a ressurreição. 
Em relação à primeira pergunta, notemos que o nome de Maria Madalena está em 
todos os textos, o que nos permite concluir que ela foi a grande apóstola da ressurreição. 
Mas não há coincidência em relação aos nomes das demais mulheres. Por quê? É muito 
possível que as comunidades tenham se recordado de mulheres que foram lideranças 
marcantes à sua própria tradição. Ou seja, para a comunidade de Marcos, além de Maria 
Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé ficaram na memória da comunidade. Já de acordo 
com Lucas, o nome de Joana foi mais mencionado e ficou gravado (Lucas fala também de 
outras mulheres). 
No caso de João, Maria Madalena vai só 
ao túmulo. E a narrativa tem um 
sentido bastante especial, baseando-se 
em dois textos do Primeiro Testamento. 
Por um lado, o texto refaz a trajetória 
da amada em busca do seu amado, 
conforme os belos poemas do Cântico 
dos Cânticos: Encontraram-me os 
guardas que rondavam a cidade: vocês 
viram o amado da minha vida? Passando por eles, contudo, encontrei o amado da minha 
vida. Agarrei-o e não vou soltá-lo (Ct 3,3-4). Por outro lado, Jo 20,1-18 apresenta-nos uma 
releitura da criação: trata-se de uma nova semana, um novo jardim e uma nova 
humanidade, representada em Jesus e em Maria Madalena. 
 
 
 
 
 
 
Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade 1.1. 
 
Jesus e Madalena 
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UNIDADE 2 
INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A BÍBLIA 
 
OBJETIVO DA UNIDADE: Apresentar informações gerais sobre a Bíblia, diferenciar o 
Primeiro Testamento do Segundo e as edições católicas das edições evangélicas. 
 
Com certeza, muitas das informações que serão apresentadas nesta unidade já são 
de seu conhecimento. É importante, entretanto, que você faça uma boa revisão. Em relação 
às informações novas, você poderá ampliá-las com a pesquisa pessoal. Leia com atenção, 
interaja e converse com seus/suas colegas de sala virtual. E, principalmente, confira os 
textos bíblicos sugeridos. 
2.1 Um antigo sempre novo 
Você já deve ter lido e até mesmo ensinado que a 
palavra Bíblia significa Livros. Trata-se do plural do termo 
grego bíblion (no português, o plural se constrói com o “s”; 
no grego, em muitas palavras, é a letra “a” que designa o 
plural). Portanto, embora a encontremos normalmente 
editada em um único volume, a Bíblia é uma coleção de 
livros, uma verdadeira biblioteca. Por isso também é 
chamada de “Sagradas Escrituras”, no plural. 
Como se sabe, a Bíblia se divide em dois grandes blocos: O 
Antigo Testamento e o Novo Testamento. Nas últimas décadas, em função do diálogo com 
o judaísmo, os cristãos se defrontam com a seguinte 
pergunta: “por que vocês chamam de antigo o que é 
sempre novo?”. Mesmo sabendo que Paulo já utilizou 
a expressão “Antigo Testamento” (2 Cor 3,14),11 
muita gente tem passado a usar Primeiro Testamento 
e Segundo Testamento. Desta forma, respeita-se a 
permanente novidade da aliança de Deus junto ao 
povo de Israel, sem excluir o que para nós, pessoas 
 
11
 O termo hebraico berit e sua tradução grega diatéque significam tanto o acordo realizado (aliança) como a 
expressão deste pacto (testamento). Foi Tertuliano (por volta do ano 200) que cunhou a expressão Novo 
Testamento, na época em que começam a surgir as primeiras listas de livros do que viria a ser o NT. 
Fonte: http://migre.me/h2Npc 
Acervo pessoal, Edmilson Schinelo 
http://migre.me/h2Npc
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cristãs, constitui-se como aliança definitiva: o envio do Seu próprio Filho ao mundo (Mc 
12,16; Rm 8,3). 
Na verdade, o Novo Testamento é uma releitura do Antigo à luz da Vida de Jesus, 
Morte e Ressurreição de Jesus. Muitos séculos antes, o profeta Jeremias falava da conclusão 
de uma nova aliança com a casa de Israel (Jr 31,31) por parte do mesmo Deus libertador 
do êxodo que dizia: “com amor eterno eu te amei” (Jr 31,3). 
Por esses motivos, utilizaremos neste material de estudo as expressões Primeiro 
Testamento e Segundo Testamento. No Primeiro, estão os livros escritos antes de Jesus 
Cristo (a.C.) que narram a caminhada do povo israelita 
junto com seu Deus. No Segundo Testamento, estão os 
livros escritos depois de Cristo (d.C.), narrando a 
caminhada de Jesus e das primeiras comunidades cristãs. 
Sinta-se à vontade para utilizar as expressões 
que julgar mais adequadas. Lembre-se de que o mais 
importante é nossa atitude de diálogo e respeito. 
 
Comparação entre a Bíblia Hebraica e a Bíblia Cristã 
Bíblias hebraica (TANAK) 
Torah 
(Lei) 
 
Nebiîm (Profetas) 
Anteriores Posteriores 
Ketubîm 
(Escritos) 
Gn 
Ex 
Lv 
Nm 
Dt 
Js 
Jz 
(1+2)Sm 
(1+2)Rs 
Is 
Jr 
Ez 
12 ”Profetas 
Menores” 
Os Jl Am Ab Jn Mq 
Na Hab Sf Ag Zc Ml 
 
Sl 
Jó 
Pr 
Rt 
Ct 
Ecl 
Lm 
Est 
Dn 
Esd-Ne 
(1+2)Cr 
Observe como se forma a sigla TaNaK: 
- Torah (que na Bíblia Cristã corresponde ao Pentateuco); 
- Nebiîm (os nossos livros Históricos + os Profetas) 
- Ketubîm (de maneira geral, correspondem aos nossos Sapienciais) 
Observe que a Bíblia Hebraica se divide em três partes: Torah (Lei), os 
Profetas e os Escritos (cf. O prólogo do Eclo, versículos 8 e 24). 
 
Fonte: http://migre.me/h2NAi 
http://migre.me/h2NAi
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2.2 Diferença entre as edições evangélicas e católicas da Bíblia 
 
As edições católicas contêm 73 livros, enquanto as edições protestantes ou 
evangélicas contêm 66 livros. A diferença entre a “Bíblia Católica” e a “Bíblia Evangélica” só 
está no Primeiro Testamento, pelo fato de os evangélicos adotarem a “Bíblia Hebraica”, que 
só contém os livros escritos em hebraico. 
Já a “Bíblia Católica” possui sete livros a mais 
(ou os evangélicos possuem sete livros a menos, 
depende do ponto de vista). São livros que foram 
escritos em grego ou cujo original hebraico se perdeu e 
que só se encontram na tradução grega da Bíblia, feita 
pelos judeus a partir do século III a.C. Comunidades 
judaicas que se instalaram no Egito, na região de 
Alexandria, além de traduzir os livros já existentes em 
hebraico, escreveram mais alguns em grego. 
Os sete livros que somente se encontram na 
“Bíblia Católica” são: Tobias, Judite, os dois livros dos Macabeus, Baruc, Sabedoria e 
Eclesiástico. Além desses livros, ainda existem passagens que originalmente foram escritas 
em grego e que se encontram nos livros de Ester e de Daniel. Por isso, essas passagens só 
estão na “Bíblia Católica” e faltam na “Bíblia Evangélica”. Em Daniel, são os capítulos 13 e 
14, bem como os cânticos de Azarias e dos três jovens na fornalha, acrescentados ao 
capítulo 3. O texto de Ester apresenta duas formas: a hebraica (capítulos 1 a 10), mais 
curta, e a grega com vários acréscimos e ampliações.Na Septuaginta, a tradução grega da Bíblia, 
também chamada em português de “Setenta”, os 
acréscimos gregos estão inseridos na introdução, 
após o capítulo 3, versículo 13; o capítulo 4, versículo 
16; capítulo 8, versículo 12 e capítulo 10, versículo 3. 
Nas edições mais modernas da “Bíblia Católica”, essas 
passagens em Ester e Daniel aparecem com letras de 
tipo diferente. 
A diferença entre a “Bíblia Católica” e a 
“Bíblia Evangélica” vem do seguinte fato: no tempo da 
Reforma Protestante, no início do século 16 d.C., na 
Tradução de João Ferreira de Almeida, 
muito usada pelo público evangélico. 
Fonte: http://migre.me/h2NSk 
Bíblia de Jerusalém. Edição de estudo 
usada pelo público católico. Fonte: 
http://migre.me/h2O0H 
http://migre.me/h2NSk
http://migre.me/h2O0H
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mesma época da invasão do Brasil pelos portugueses, era muito forte o entusiasmo por 
redescobrir a cultura da Antiguidade. Foi o tempo em que, na Europa, se redescobriram as 
obras de arte e de literatura da Grécia, de Roma, etc. Havia a ideia de “voltar às fontes” 
mais antigas. Outra razão é porque algumas práticas da Igreja Católica Romana, 
combatidas por Lutero, eram legitimadas, recorrendo-se a textos desses livros do cânon 
grego. Esse clima influenciou a Igreja e, por isso, Lutero defendeu a ideia de que era 
preciso voltar ao texto hebraico do Primeiro Testamento, que era o mais antigo da Bíblia. 
Entretanto, Lutero também recomendou a leitura de todos os livros, também dos 
sete que só estão em grego. Dizia que eram muito úteis para alimentar a fé e a piedade. 
Nas edições ecumênicas atuais da Bíblia já aparecem todos os livros. É interessante lembrar 
que a Bíblia das diversas Igrejas Orientais ainda é mais ampla que a Católica. 
 
2.3 Algumas diferenças entre o Primeiro e o Segundo Testamentos 
 
Além da diferença básica (o tempo em que foram escritos, antes de Cristo e depois 
de Cristo), transcreveremos aqui outras diferenças apontadas por Ildo Bohn Gass (2005ª, 
p.18-19). Compare com atenção. 
 
a) Tempo de redação: 1000 anos para o Primeiro e 100 para o Segundo 
Testamento 
Enquanto o Primeiro Testamento levou uns mil anos para ser escrito, o Segundo 
foi escrito no período de apenas uns cem anos. O processo é sempre o mesmo: o fato 
acontece, é transmitido de boca em boca por tradição oral, espalha-se por vários grupos 
em lugares diversos, é celebrado e só depois é fixado por escrito. 
Esse processo, abreviado no Segundo Testamento, foi muito longo no Primeiro. 
Por exemplo, a história de Abraão, tal como a lemos na Bíblia, foi escrita vários séculos 
depois de sua vida e após passar por várias etapas de redação em épocas diferentes. 
Abraão deve ter vivido mais ou menos uns 1500 anos antes de Cristo, e o livro do 
Gênesis, onde está narrada a sua memória, teve o início de sua redação ao redor de 950 
a.C. e sua redação final por volta de 400 a.C. 
 
b) No Primeiro, a maioria são livros. No Segundo, a maioria são cartas 
Os livros do Primeiro Testamento podem ser considerados, de fato, como 
“livros”, embora alguns sejam breves, como as profecias de Abdias (Obadias, na Bíblia 
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Evangélica) e Ageu. No Segundo Testamento, a maioria são cartas, algumas muito 
breves (não passam de bilhetes, como a Carta a Filemon, a de Judas, a Segunda e a 
Terceira Cartas de João). Entre seus 27 livros, 21 são cartas. É verdade que algumas, 
como a carta aos Romanos, aos Efésios, aos Hebreus, a Carta de Tiago e a Primeira 
Carta de João, têm exposição doutrinária mais extensa, não parecendo cartas. São mais 
longas e estão recheadas de sermões. De todas, a que tem menos o estilo de carta é a 
Epístola aos Hebreus. 
c) Nos originais, a maior parte do Primeiro foi escrita em hebraico. Todo 
Segundo, em grego. 
O Segundo Testamento foi todo escrito em grego, enquanto a maioria dos livros do 
Primeiro foi escrita em hebraico e algumas partes em aramaico. Os que foram escritos em 
grego (Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc) não fazem parte da 
Bíblia Hebraica, adotada pelas Igrejas Evangélicas. 
 
d) Quase todo o Primeiro foi escrito em Israel. O Segundo foi escrito em vários 
lugares. 
Há também diferenças de cultura e de lugar. A maior parte do Primeiro Testamento 
foi escrita ou editada em Israel. Só o livro do profeta Ezequiel, do Segundo Isaías (capítulos 
40 a 55), partes do Pentateuco (Gn 1-11, por exemplo), bem como alguns Salmos foram 
escritos na Babilônia. Já os livros do Segundo Testamento foram escritos em vários lugares 
com situações diferentes: Síria, Grécia, Ásia Menor, Roma. 
 
e) O Segundo é uma interpretação do Primeiro à luz do evento Jesus 
Muitas pessoas acham difícil o Primeiro Testamento. Por isso, não querem estudá-
lo. Preferem ficar somente com o Segundo Testamento. Mas é imperativo e fundamental 
estudar o Primeiro Testamento, uma vez que sem ele não podemos compreender bem o 
Segundo Testamento. Um é a continuação do outro. O Segundo é como que uma 
reinterpretação do Primeiro à luz do evento Jesus. Quem escreveu o Segundo supõe que a 
gente já conheça o Primeiro. A todo momento há citações, referências e alusões. 
Uma “curiosidade” importante: o livro do Apocalipse cita mais de 400 vezes o 
Primeiro Testamento. Compare por exemplo Ap 12,14 com Ex 19,4. Outros dois exemplos 
apenas: quando, no evangelho de João, Jesus afirma ser o Bom Pastor, trata-se de releitura 
de Ez 34. As narrativas da multiplicação dos pães remetem à história do Maná (Ex 16). 
Releia com atenção esses dois textos do Primeiro Testamento. 
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2.4 Manuscritos e versões da Bíblia 
 
Não temos acesso aos originais da 
Bíblia. E nem a “cópias de cópias” que 
sejam tão antigas, exceto no caso de 
fragmentos ou partes. Mesmo acreditando 
que o Espírito Santo ajudou na 
preservação da essência da Palavra 
transmitida, é bom saber também que as 
cópias manuscritas que temos da Bíblia não são tão antigas e possuem muitas diferenças 
entre si. Até as principais descobertas do século passado (portanto, recentes para a 
arqueologia), os mais antigos manuscritos hebraicos datavam do séc. X d.C. Edições 
modernas da Bíblia Hebraica ainda seguem como texto base o Manuscrito de Leningrado, 
que data de 1008 ou 1009 d.C.12 
Em 1896, em uma Geniza (depósito no qual eram colocados os manuscritos não 
mais em uso de uma sinagoga) no Cairo, foram encontrados fragmentos de códices. O mais 
famoso é uma cópia do livro de Sirac (Eclesiástico). Tivemos, então acesso a cópias 
fragmentadas um pouco mais antigas: séculos VII e VI d.C. 
Em 1948, foram descobertos em Qumran fragmentos maiores de todos os livros do 
Primeiro Testamento. No caso dos livros de 
Isaías, Habacuc e Salmos, os textos estavam 
completos. Os Manuscritos de Qumran 
remontam aos séculos I e II. Até então, não 
havia sido encontradas cópias tão antigas, a 
não ser no caso do pequeno Papiro de Nash 
(sec. I ou II) que preservou o texto do 
Decálogo e Dt 6,4. Um documento 
importante é o Pentateuco Samaritano, ainda 
que não existam cópias anteriores ao Sec. X 
d.C. 
 
 
12 As informações resumidas neste e nos próximos parágrafos podem ser ampliadas com a leitura do 
capítulo 7 de MANNUCCI, Valério. Bíblia, Palavra de Deus: curso de introdução à Sagrada Escritura. 
São Paulo, Paulinas, 1985, p. 108-124. 
Códice sinaítico. Fonte: http://migre.me/h2AGE 
A mais famosa das cavernas de Kumran. E a mais 
significativa em termos de descobertas. Nela foram 
encontrados mais de 15.000 fragmentos de cerca de 
200 livros. Acervo pessoal: Edmilson Schinelo 
http://migre.me/h2AGE
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Para comparar os manuscritos entre si, existe um ramo da ciência exegéticachamado critica textual, que se dedica ao confronto entre as diferentes cópias manuscritas 
de um mesmo texto encontradas em papiros, unciais trechos, em letra minúscula, 
lecionários, versões ou citações dos pais da Igreja. Como já dissemos, tais manuscritos são 
sempre fragmentos ou cópias parciais (de uma carta, de um 
evangelho, etc). 
- Os Papiros são manuscritos escritos sobre o papiro, uma espécie de 
junco. Já se encontram codificados 116 papiros, mas todos do 
século II em diante. 
- Os Unciais são manuscritos escritos sempre em letras maiúscula, na 
maioria das vezes sobre o pergaminho. Já foram catalogados mais 
de 300. O mais antigos são do século IV. 
- Os textos escritos em letra minúscula ou cursiva são mais tardios, 
datados do século IX em diante. Estão catalogados mais de 
3.000. 
- Os lecionários são manuscritos que contêm partes selecionadas dos Evangelhos, Atos ou 
Epístolas, utilizados para leitura de acordo com o calendário litúrgico. O mais antigo data 
do século V, mas já se conhecem mais de 2.250. 
- As citações bíblicas feitas pelos pais da Igreja (citações patrísticas) são milhares. 
Geralmente, estão em grego ou latim.13 
- As traduções mais antigas são chamadas de versões, até porque sempre adaptaram os 
textos. Insistimos que também delas temos apenas cópias, não os originais. 
No caso do Primeiro Testamento, as versões mais antigas são: 
- A Septuaginta (LXX), elaborada nos séculos III e II a.C., pelas comunidades judaicas nos 
séculos que se instalaram no Egito (região de Alexandria); trata-se de uma tradução 
adaptada para o grego dos escritos hebraicos. 
- As versões de Áquila, Símaco e Teodocião: datando do se. II d.C, são novas traduções 
gregas da Bíblia Hebraica para uso dos judeus que viviam fora da Palestina (diáspora). Eis o 
que disse São Jerônimo a respeito dessas traduções: “Um (Áquila) procurou traduzir palavra 
por palavra; o outro (Símaco) dá antes o sentido; o terceiro (Teodocião) não difere muito 
dos antigos (isto é, a LXX)”.14 
No começo do século III d.C., Orígenes fez um trabalho magnífico: escreveu a mão 
todo o Primeiro Testamento, colocando lado a lado, em colunas, seis versões: o texto 
 
13 Informações extraídas de WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. 4. ed. São Paulo: Paulus; São 
Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 41. 
14 S. Jerônimo, Praef. In 2 Chron. Eusebii: PL 27,223. Apud MANNUCCI, 1985, p. 13. 
Fragmento e papiro. 
Fonte: 
http://migre.me/h2Ocv 
http://migre.me/h2Ocv
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hebraico, uma transliteração do 
hebraico com letras gregas, a LXX e 
as versões de Áquila, Símaco e 
Teodocião. Infelizmente, desta obra, 
conhecida como Hexaplas, apenas 
fragmentos foram preservados. 
 Em relação ao Segundo 
Testamento são: Versão siríaca (da 
Síria); versão latina (oriunda de várias partes do Império Romano); e versão copta (Egito). 
A atenciosa comparação permitiu concluir que existiram algumas características comuns ou 
tendências homogêneas na hora de copiar e transmitir os manuscritos, dando origem a 
diferentes grupos de textos. Costuma-se agrupar os textos em três diferentes tipos: texto 
alexandrino (possivelmente mais fiel aos originais, mais breve e menos desenvolvido em 
questões de gramática ou de estilo); texto ocidental (mais livre, com maior presença de 
acréscimo em relação ao originais); Texto cesareense (tipo de texto talvez surgido no Egito, 
mas difundido em Cesárea; Mc 5,31-16,20 pode ter sido a cópia maior nesse estilo). Esses 
três podem ter sido revisados e confrontados por Luciano (310 d.C.), dando origem ao 
chamado Texto bizantino (caracterizado principalmente pela tentativa de harmonização 
entre os evangelhos e pelo polimento da 
linguagem). As versões usadas hoje para o 
Segundo Testamento têm como base o 
Textus Receptus, evidentemente confrontado 
com as edições críticas. Chamamos de Textus 
Receptus15 as primeiras versões impressas do 
Novo Testamento Grego, adaptadas do Texto 
Bizantino, feitas inicialmente por Erasmo de 
Roterdan, e depois reimpresso por outras 
pessoas. 
Observe esta evolução por meio do 
gráfico abaixo .16 
 
15 A expressão foi usada pela primeira vez no prefácio da segunda edição do NT grego publicada pelos irmãos 
Elzevir em 1633: “Textum ergo habes nunc ab omnibus receptum, in quo nihil immutatum aut corruptum 
damus”. Disponível em http://www.theopedia.com/Textus_Receptus. Acesso em 13/dez/2013. 
16 Extraído de WEGNER, Uwe, 2005, p. 45. 
 
Manuscrito do Mar Morto. Fonte: http://migre.me/h2PgU 
Parte da página 336 do NT em grego de Erasmo, o 
primeiro "Textus Receptus". O destaque é uma 
parte de Jo 18. Fonte: http://migre.me/h2PwC 
 
http://www.theopedia.com/Textus_Receptus
http://migre.me/h2PgU
http://migre.me/h2PwC
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Em substituição aos antigos rolos, começaram a surgir os códices: pedaços 
pequenos de papiros eram empilhados e amarrados, dando origem ao formato do livro tal 
qual o temos hoje. O Códice Alexandrino (também chamado de Manuscrito “A”), data da 
primeira metade do século V e contém toda a Septuaginta, além de boa parte do Segundo 
Testamento. Também é muito importante o Códice Sinaítico (“C” ou “S”) contém todo o 
Primeiro e o Segundo Testamento (incluindo o Pastor de Hermas e a Carta de Barnabé). Foi 
descoberto em 1959, no Mosteiro de Santa Catarina, na Região do Sinai, no Egito. Das suas 
1460 páginas, cerca de 800 foram recuperadas e estão disponíveis para consulta na 
internet. De grande riqueza para a pesquisa também é o Códice Vaticano (“B”) abrigado na 
Biblioteca do Vaticano. 
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Confira aqui as imagens de alguns fragmentos de manuscritos antigos: 
- Da Versão de Áquila: http://www.divine-name.info/archaeology/aquila.htm 
- Da Héxaplas: http://www.gutenberg.org/files/36610/36610-h/36610-h.htm 
- De antigos papiros: 
- http://ccat.sas.upenn.edu/rak//lxxjewpap/PGiessB.jpg 
- http://ccat.sas.upenn.edu/rak//lxxjewpap/PLitL202b.JPG 
- http://ccat.sas.upenn.edu/rak//lxxjewpap/POxy1075.jpg 
- Do Código Sinaítico: 
- http://www.codexsinaiticus.org/en/manuscript.aspx (disponível neste site para estudo) 
- http://www.snpcultura.org/vol_codex_sinaiticus_um_dos_maiores_tesouros_escritos_mundo.html 
 
2.5 Sobre as traduções 
 
Falemos um pouco das traduções que temos em português da Bíblia. O mundo 
protestante normalmente utiliza uma tradução muito boa, de João Ferreira de Almeida. 
Trata-se da primeira tradução completa para o português. A primeira edição do Segundo 
Testamento data de 1691. A tradução sempre é revista (ARA é a abreviação da edição 
“Almeida Revista e Atualizada”). Evidentemente, a Almeida não inclui os chamados 
deuterocanônicos. 
Até 50 anos atrás, no meio católico existiam duas ou três versões da Bíblia. Quase 
sempre o texto era uma tradução para o português de uma Bíblia já muito usada na Europa 
(caso da Bíblia Ave Maria) e que remetia à Vulgata latina (a tradução coordenada por S. 
Jerônimo) ou a estudos feitos a partir das línguas originais. 
Hoje esse cenário mudou completamente, sendo comum encontrarmos nas livrarias 
diversas versões bíblicas, com formatos diversos. Chega a ser inevitável a pergunta: por que 
tantas traduções? De fato, as variações no texto sagrado tendem a ser menores. 
Entretanto, os comentários introdutórios aos livros e as notas de rodapé diferem bastante, 
inclusive de acordo com a linha de pesquisa ou com a corrente de espiritualidade seguida 
pelo grupo que coordena cada edição. 
Num grupo de reflexão bíblica aconteceu um fato que pode ilustrar bem o que 
significa para os cristãos ter em suas mãos mais de uma tradução bíblica. O animador do 
encontro pediu que fosse lido em voz alta o texto de estudo,

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