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1 TURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1 Sumário Sumário ....................................................................................................... 1 NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................... 2 Introdução .................................................................................................... 3 A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL .................................................................... 4 A Consciência Ecológica .......................................................................... 8 Einstein (Ideas and Opinions, 1954). ....................................................... 9 CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE E DE IMPACTO AMBIENTAL ...........15 Conceito de Desenvolvimento Sustentável .............................................19 GESTÃO Ambiental e Desenvolvimento SUSTENTÁVEL ......................22 Na Busca do Desenvolvimento Sustentável ............................................24 O Desenvolvimento Sustentável e o Nível Local. ....................................25 Agenda 21 ...............................................................................................28 A Agenda 21 Brasileira ............................................................................28 As Agendas 21 Locais .............................................................................29 Educação Ambiental e o Desenvolvimento SUSTENTÁVEL ..................31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ...........................................................36 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Introdução "O século XX foi o século de fazer primeiro e analisar depois". (Pedro P. de Lima e Silva 1999). Nos meados do século XX, foi que vimos nosso planeta a partir do espaço, pela primeira vez. Vista do espaço, a Terra é uma bola frágil e pequena, dominada não pela ação e pela obra do homem, mas por um conjunto ordenado de nuvens, oceanos e formações vegetais. O fato de a humanidade ser incapaz de agir conforme essa lógica natural está alterando fundamentalmente os sistemas planetários. Muitas dessas alterações acarretam ameaças à vida. Essa realidade nova, da qual não há como fugir, tem de ser reconhecida e enfrentada. Um passo importante foi dado na Rio- 92, a Conferência da Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, na qual se consolidou a concepção de que o desafio de manter um ambiente sadio para as futuras gerações é um problema global. A questão ambiental deve ser tratada de forma global considerando que a degradação ambiental é resultante de um processo social, determinado pelo modo como a sociedade apropria-se e utiliza os recursos naturais. Não é possível pretender resolver os problemas ambientais de forma isolada. É necessário introduzir uma nova abordagem decorrente da compreensão de que a existência de uma certa qualidade ambiental esta diretamente condicionada ao processo de desenvolvimento ao processo de desenvolvimento adotado pelas nações. O modo como se dá o crescimento econômico, comprometendo o meio ambiente, seguramente prejudica o próprio crescimento, pois inviabiliza um dos fatores de produção: o capital natural. Natureza, terra, espaço sustentação e 4 conservação dos ecossistemas. A degradação ou destruição de um ecossistema compromete a qualidade de vida da sociedade, uma vez que reduz os fluxos de bens e serviços que a natureza pode oferece à humanidade. A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL A concepção do meio ambiente faz a articulação das relações entre a sociedade e a natureza nas diferentes escalas geográficas de sua intervenção, desde a local até o global. Não existem fronteiras, como as que separam os países, para os poluentes que cruzam oceanos e afetam todo tipo de vida a milhares de quilômetros de distância de sua fonte geradora. É assim que são prejudicados tanto o ser humano como o meio natural transformado por sua atividade. O conhecimento do meio ambiente, como o resultado da atuação humana sobre o meio natural, tem sido objeto de estudo e interesse em muitos campos das ciências, dentre elas a própria Geografia. Neste final de século, as preocupações com as condições ambientais alcançaram vários segmentos das esferas social, política e econômica. A crescente universalização dos problemas ambientais que afligem a humanidade implica o estabelecimento de novas reflexões acerca da utilização dos recursos da natureza, tanto nos países altamente industrializados como nos países subdesenvolvidos. É evidente que existe uma relação dinâmica, ou seja, em constante transformação, entre sociedade e natureza. É por isso que as inovações tecnológicas e o impacto ambiental devem manter um vínculo entre si. Um avanço tecnológico (como a irrigação, por exemplo) pode permitir a sobrevivência de mais pessoas, o que, por sua vez, leva à ocupação de novas terras ou ao uso mais intensivo das áreas já ocupadas. 5 No entanto, a mesma irrigação pode encaminhar-se para o esgotamento dos recursos hídricos de uma área distante, como o que está acontecendo com o mar de Aral, que está secando porque suas fontes de água foram desviadas para a irrigação. A influência do homem sobre o meio em que vive provoca mudanças que, muitas vezes, levam a alterações irreversíveis na estabilidade dos sistemas naturais. Hoje, sabe-se que a natureza pode ser vista como um conjunto de sistemas complexos, dentro do qual existem fluxos de energia entre suas diversas partes constituintes. Cada componente do meio ambiente mantém uma relação com os demais elementos. Assim, o clima, o relevo, os rios, a vegetação, os solos e os demais seres vivos interagem entre si, e qualquer mudança em apenas um desses componentes afetará o conjunto todo. Às vezes, essas mudanças podem ser muito adversas à própria vida. As terras semi-áridas do mundo, onde se expandem as áreas irrigadas, assim como as zonas costeiras dos continentes, constituem exemplos de ambientes instáveis, propensos a rápidas degenerações que podem levar à perda efetiva de recursos vivos. O resultado disso é a desertificação. Reconhece-se com facilidade a desertificação das áreas continentais. Entretanto, a enorme perda de recursos vivos dos oceanos, seja pela pesca e captura indiscriminada, seja pela contaminação dos mares e oceanos, tem as mesmas dimensões e é até mais problemática, pois ainda são pouco conhecidos os ciclos de nutrientes. De modo geral, o resultado da intervenção humana sobre o meio natural pode produzir reações em cadeia. Alterações provocadas pelo homem sobre o solo criam condições para a erosão parcial ou total. Mudanças feitas nos sistemas fluviais, a exemplo de barragens, alteram radicalmenteo regime das águas do rios. Ambientes litorâneos, que apresentam forte concentração de população, sofrem alterações radicais que modificam profundamente as condições de vida nos estuários e baias, fundamentais para a vida marinha. As duas principais atividades sócio-econômicas que provocam alterações ambientais são, sem sombra de dúvida, a agricultura e a indústria. 6 As áreas urbano-industriais representam a mais profunda modificação humana da superfície da Terra. Os efeitos da urbanização são altamente intensivos e, em muitos casos, expandem-se para muito além dos próprios limites das cidades. O planeta está atravessando um período de crescimento drástico e de mudanças fundamentais. Nosso mundo de mais de 6 bilhões de seres humanos tem de encontrar espaço, num contexto finito, para outro mundo de seres humanos. Segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), em algum momento do próximo século, a população poderá estabilizar-se entre 8 e 14 bilhões de pessoas. Em sua maior parte, esse aumento ocorrerá nos países mais pobres (mais de 90%) e em cidades já superpovoadas (90%). A atividade econômica multiplicou-se para gerar uma economia mundial de 13 trilhões de dólares, que pode quintuplicar ou decuplicar nos próximos cinqüenta anos. A produção industrial cresceu mais de cinqüenta vezes no último século, sendo que quatro quintos desse crescimento se deram a partir de 1950. Esses números refletem e já projetam profundos impactos sobre a biosfera, à medida que o mundo vai investindo em habitação, transporte, agricultura e indústria. Grande parte do crescimento econômico se faz à custa de matérias- primas de florestas, solos, mares e rios. As novas tecnologias podem permitir a desaceleração controlada do consumo perigosamente rápido dos recursos que são finitos, mas também podem criar sérios riscos, como novos tipos de poluição e o surgimento de novas variedades de formas de vida, que alterariam os rumos da evolução. Enquanto isso, as indústrias que mais dependem de recursos do meio ambiente, e que mais poluem, multiplicam-se com grande rapidez no mundo em desenvolvimento. Quando a base de recursos locais se desgasta, áreas mais amplas também podem ficar comprometidas: o desflorestamento das terras altas acarreta inundações nas terras baixas; a poluição industrial prejudica a pesca local. Esses implacáveis ciclos, localizados, passam agora ao plano nacional e regional. A deterioração das terras áridas leva milhões de refugiados ambientais a transpor as fronteiras de seus países em busca de melhores condições de vida. O desflorestamento na América Latina e na Ásia vem provocando mais inundações, com danos cada vez maiores, nos países situados em áreas mais baixas e no curso inferior dos rios. A chuva ácida e a radiação nuclear ultrapassaram as fronteiras da Europa. No mundo todos estão ocorrendo 7 fenômenos similares, como o aquecimento global e a perda de ozônio. No próximo século, poderão aumentar muitos as pressões ambientais que geram migrações populacionais, ao passo que os obstáculos a essa migração talvez sejam ainda maiores que os de hoje. Nos últimos decênios, no mundo em desenvolvimento surgiram problemas ambientais que põem em risco a vida. O número crescente de agricultores e de sem-terras vem gerando pressões nas áreas rurais. As cidades se enchem de gente, de carros e de fábricas. Entretanto, esses países em desenvolvimento têm de atuar num contexto em que se amplia o fosso entre a maioria das nações industrializadas e as em desenvolvimento, no que diz respeito aos recursos; em que o mundo industrializado impõe as normas que regem as principais organizações; e em que esse mundo industrializado já usou grande parte do capital ecológico do planeta. Tal desigualdade é o maior problema "ambiental" da terra; é também seu maior problema de desenvolvimento. Hoje, a renda per capita da maioria dos países em desenvolvimento está mais baixa do que no início da década de 1980. O aumento da pobreza e o desemprego vêm pressionando ainda mais os recursos ambientais, pois um número maior de pessoas se vê forçado a depender mais diretamente deles. A própria pobreza polui o meio ambiente, criando outro tipo de desgaste ambiental. Para sobreviver, os pobres e os famintos muitas vezes destroem seu próprio meio ambiente - derrubam florestas, permitem o pastoreio excessivo, exaurem as terras marginais e acorrem, em número cada vez maior, para as cidades já congestionadas. O efeito cumulativo dessas mudanças chega a ponto de fazer da própria pobreza um dos maiores flagelos do mundo atual. No que se refere ao consumo energético, os riscos de aquecimento do planeta e de acidificação do meio ambiente muito provavelmente tornam inviáveis até uma duplicação do consumo de energia com as atuais combinações de fontes primárias. No mundo em desenvolvimento, milhões de pessoas carecem de combustível vegetal, a principal fonte de energia doméstica de metade da humanidade, e esse número vem aumentando. A atual situação energética do mundo exige grandes mudanças. E uma nova era de crescimento econômico deve, portanto, consumir menos energia que o crescimento passado. Resta apenas esperar que o mundo formule 8 saídas alternativas de baixo consumo energético, com base em fontes renováveis, que deverão ser o alicerce da estrutura energética global do século XXI. Os problemas ambientais com que nos defrontamos não são novos. Mas só recentemente sua complexidade começou a ser entendida. Antes, nossas maiores preocupações voltavam-se para os efeitos do desenvolvimento sobre o meio ambiente. Hoje, temos de nos preocupar também com o modo como a deterioração ambiental pode impedir ou reverter o desenvolvimento econômico. É necessária uma nova abordagem, pela qual todas as nações cheguem a algum tipo de desenvolvimento que integre a produção com a conservação e ampliação dos recursos, e que as vincule ao objetivo de dar a todos uma base adequada de subsistência e um acesso mais eqüitativo aos recursos naturais. A Consciência Ecológica "Um ser humano é parte de um todo...Ele percebe a si mesmo, seus pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto...um tipo de ilusão de ótica da sua consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo nossos desejos pessoais e a nossa afeição a umas poucas pessoas próximas a nós. Nossa tarefa deve ser nos libertarmos desta prisão, expandindo nossa compaixão para abranger todas as criaturas vivas e toda a Natureza em seu esplendor. Ninguém é capaz de conseguir isso completamente, mas apenas o empenho por tal conquista é, em si próprio, uma parte da liberação e uma base sólida para nossa segurança interior". 9 Einstein (Ideas and Opinions, 1954). A consciência ecológica não nasceu do vazio. Ela emergiu frente a uma realidade insustentável de ameaça à qualidade de vida no mundo, onde a tecnologia industrial e a explosão populacional têm caminhado ao lado de grave deterioração do meio ambiente. Até aqui, o desenvolvimento tecnológico e industrial tem nos dado em troca a ameaça de uma catástrofe nuclear, a poluição do ar, das águas e do solo, e devastado nossas matas, como se a natureza tivesse o poder de se recuperar infinitamente. É neste contexto de acelerada evolução que marcou o século XX, que a consciência ecológica tornou-se algo concreto, impossível de ser ignorada. A espécie humana teve um espetacular desenvolvimento tecnológico no século XX. Mas a nossa correspondente evolução de mentalidade e praticas sociais não acompanhou essa radicalidade tecnológica, e as guerras e lutas civis que ocorreram do meio para o fim do século não nos deixam iludir. Esse comportamento, constante durante todo o decorrer da historia, deveria, no inicio do século XX, ter sido percebido como um alertade que, fossemos para onde fossemos, nossa herança genética como animais predadores ainda permanecia intacta, e muito mais do que isso, estávamos longe do ser racional, equilibrado e sensato que as nossas descobertas cientificas pareciam indicar. Nossa capacidade de criar idéias sempre foi muito superior à de avaliar as conseqüências dessas idéias, e de modo algum era um sinal de que caminhávamos para nos tornar uma espécie "pensadora", muito pelo contrario, o século XX foi o século de fazer primeiro e analisar depois. Os impulsos genuinamente animais de posse, defesa de território, dominância, amplificados pelo inicio de liberação, há alguns milhares de anos, da pressão ambiental antes imposta pela seleção natural, não tardou a gerar subprodutos, resíduos indesejados, rejeitos não analisados, desenrolares menosprezados. Como frankesnsteins fabricamos milhares de monstros mecânicos, fumigenos, cibernéticos, elétricos, eletrônicos, a laser que, se não estão destruindo diretamente seu criador ainda, já estão certamente destruindo a casa do criador. 10 Enfim, a humanidade começa a se conscientizar que seu desenvolvimento estava diretamente comprometendo a preservação ambiental. Os primeiros indícios de que o mundo começava a se preocupar com o meio ambiente surgiram na década de 60. Nesta década aconteceriam as primeiras iniciativas governamentais que se propunham a discutir o assunto. Foi também neste período que despertava a ideologia ambiental política. Na Europa os jovens que questionavam os tabus da época, como o trabalho, os problemas sexuais e a deterioração do homem, também levantaram a bandeira do ambientalismo. E em alguns desses países europeus ( Alemanha, Inglaterra, França, Itália, entre outros) surgiria no principio dos anos 80 o Partido Verde, que se consolidaria no braço político da ecologia e do pacifismo. O Partido Verde também chegaria ao Brasil em 1986. Tudo isso foi fruto de anos de contestação e da contracultura da década de 60. O embrião estava gerado e preparado para que na década seguinte surgissem os acontecimentos que despertariam de vez a atenção internacional para as questões ambientais. Em 1970 mais de trezentos mil americanos participaram do "Dia da Terra". O ato foi considerado a maior manifestação ambientalista da história, e rendeu inúmeras manchetes e destaque na mídia de todo o mundo. O ano 1972 seria chave para as discussões das questões ambientais. Naquele ano foi protagonizada a Conferência de Estocolmo, a primeira reunião de caráter oficial a tratar de assuntos ambientais. Organizada pela ONU, a Conferência reuniu representantes de 113 países e de 250 organismos não-governamentais. A reunião tinha como objetivo fazer um balanço dos problemas ambientais em todo o mundo e buscava soluções e novas políticas governamentais no sentido de reduzir os danos causados ao meio ambiente. Todas as propostas aprovadas na Conferência de Estocolmo foram rejeitadas pelo governo ditatorial brasileiro da época, que afirmava que para se chegar a um nível de desenvolvimento econômico adequado não se podia poupar qualquer esforço para alcança-lo, mesmo que isso significasse sacrificar os recursos naturais brasileiros. Um ano antes da reunião em Estocolmo era criada uma organização não- governamental que ao longo dos anos se consolidaria como talvez o maior ícone na defesa do meio ambiente no mundo, o Greenpeace. O grupo desde o principio 11 adotaria uma política de ação direta não-violenta, que consistia em chamar a atenção da opinião pública, através dos meios de comunicação. A expectativa foi sempre de pressionar os governos em favor de suas causas. Hoje o Greenpeace tem milhares de sócios espalhados ao redor do planeta. Sócios esses que bancam toda a estrutura da organização, que detém barcos, navios e até aviões próprios, fazendo dela uma poderosa arma no combate a deterioração ambiental. Em abril de 1986 um acidente na Usina de Chernobil, na antiga União Soviética, demonstrou que o mundo é muito pequeno e que os impactos ambientais devem ser analisados de forma Global. O mundo inteiro acompanhou com angústia os terríveis dias da tragédia em Chernobil. As conseqüências foram diversas. O acidente lançou um volume de radiação cerca de 30 vezes maior do que a bomba de Hiroshima. A radiação atingiu vários países europeus a chegou até o Japão. Calcula-se que cerca de cem mil pessoas irão sofrer danos genéticos ou terão câncer devido ao acidente nos 100 anos subsequentes ao ocorrido. Chernobil entraria para a história como a maior tragédia ambiental da humanidade. Assim o mundo aprenderia da pior maneira que o desenvolvimento tinha que caminhar junto com a preservação. A consciência ecológica desembarcaria tardiamente no Brasil. Já no século passado o assunto despertava a atenção de poucos, como de José Bonifácio, o patrono da independência. Bonifácio se preocupava, quase duzentos anos atrás, com o desmatamento em larga escala de nossas terras. Mas seus pensamentos de pouco adiantaram e alguns historiadores afirmam até que suas idéias tinham apenas a finalidade de justificar o fim da dominação portuguesa sobre o Brasil. Já no século XX, em 1937, era criado ao Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro parque com função de preservação ambiental no país. Ainda no governo Vargas foram criadas algumas legislações que visavam um uso menos predatório das águas, dos minérios contidos no subsolo e das matas. São estes, o Código de águas e minas, e o Código florestal brasileiro. Mas essas iniciativas ainda não foram suficientes para desenvolver uma consciência ambiental nacional. Foi somente com os ares da redemocratização vividos nos inicio dos anos 80, que começava-se a pensar em ambientalismo no país. Em 1980, a criação da 12 Política Nacional do Meio Ambiente foi a primeira de uma serie de iniciativas governamentais que estariam por vir. Em 1983 era criado no Estado de São Paulo o Consema, Conselho Estadual do Meio Ambiente. O Conselho foi o embrião da Secretaria do Meio Ambiente (SMA), que seria criada três anos mais tarde. O Consema e a SMA nasceriam para atender os novos anseios do estado, que elegia seus problemas ambientais como primordiais. Problemas como a ameaça de preservação da Floresta Atlântica na região da Serra do Mar, a entrada da cidade de São Paulo no melancólico ranking das cidades mais poluídas do mundo, e as catástrofe ambiental em Cubatão foram os primeiros desafios da recente política ambiental paulista. Aliás, a tragédia em Cubatão se tornou um capítulo a parte, pois daria à incipiente política ambiental brasileira uma estrutura mais profissional e rígida. A cidade de Cubatão foi vítima de um mau planejamento. Possuindo uma topografia complexa, a cidade foi tomada por industrias, se tornando um dos maiores pólos petroquímicos e siderúrgicos do país. Porém na época não possuía tecnologia e conhecimento necessários para abrigar tamanha estrutura. No início dos anos 80 são detectados inúmeros casos de problemas pulmonares, anomalias congênitas e abortos involuntários em moradores da cidade. Em 1984, a mesmo tempo que a cidade apresentava índices alarmantes de poluição, duas explosões e um incêndio causado por um vazamento de gás vitimaram fatalmente mais de 150 pessoas. Tudo isso fez com que a cidade ganhasse uma triste fama mundial. Era hora do estado agir. Foi assim desenvolvido o Projeto Cubatão, que detectou cerca de 320 fontes poluidoras de ar, água e solo. Hoje, depois de quase quinze anos de luta, 90% destas fontes estão controladas e Cubatão vive um período de tranqüilidade. Mas o quase desastre ecológico na cidade exigiu um pioneirismo fundamental na busca de tecnologias para solucionar problemas ambientais. Uma das grandes responsáveis pela recuperação de Cubatão foi a Cetesb, Companhia de Tecnologia de SaneamentoAmbiental. Criada em 1968 como responsável por programas na área de engenharia sanitária, hoje a Cetesb é a instituição do governo estadual incumbida de controlar a poluição. A Companhia tornou-se referência nacional e internacional no controle da qualidade das águas dos rios, do mar, represas, lagoas e águas subterrâneas. A Cetesb também 13 monitora a poluição do ar e solo. Desenvolve ainda tecnologias e normas de controle ambiental. A Constituição de 1988 foi um passo decisivo para a formulação de nossa política ambiental. Pela primeira vez na história de uma nação, uma constituição dedicou um capítulo inteiro ao meio ambiente, dividindo entre governo e sociedade a responsabilidade pela sua preservação e conservação. Para atender esta demanda constitucional foi criado um ano depois o Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. O Ibama, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, entraria no cenário nacional para preservar a qualidade ambiental, e se consolidaria como o grande monitor de nossos recursos ambientais, pois atuaria de forma mais prática do que administrativa, distribuindo fiscais por todo o país. Assim caminhava o ambientalismo no Brasil, que se tornava um dos centros internacionais do assunto, tanto que foi escolhido para sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92. A Conferência realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, marcou o início de um grande compromisso público de 180 Chefes de Estado e Governo de todo o mundo com o futuro do planeta. A Rio 92 evidenciou o esgotamento de um modelo de desenvolvimento que se mostrou ecologicamente predatório e socialmente perverso. O documento que sintetiza as preocupações com o modelo de desenvolvimento até então praticado e aponta para um modelo sustentável a ser perseguido por todos os países do mundo é a Agenda 21. A Agenda 21 tem como objetivo viabilizar o desenvolvimento sustentável e preparar o mundo para os desafios do próximo século. É também um programa de ações que busca compatibilizar o desenvolvimento econômico com justiça social e sustentabilidade ambiental. Mas a implementação da Agenda 21 depende muito mais de fatores administrativos do que técnicos, assim como analisa Roberto P. Guimarães: "O desafio de sustentabilidade que nos apresenta a Agenda 21 é eminentemente político. Antes de reduzir a questão ambiental a argumentos técnicos para a tomada de decisões racionais, deve-se forjar alianças entre os distintos grupos sociais capazes de impulsar as transformações necessárias." 14 Em 1997 foi realizado o Rio+5, evento que tinha como objetivo fazer um balanço dos cinco anos decorrentes do Rio 92. Neste evento, foi apresentado o primeiro rascunho da Carta da Terra, um movimento mundial que surgiu juntamente com a própria criação da ONU, em 1945. Sua terceira versão foi apresentada em maio de 2000 e está passando por um processo de consulta em todos os continentes. A última versão será entregue à ONU em 2002, quando passará a valer como um documento substitutivo à Declaração dos Direitos Humanos. A Carta da Terra representará um marco na história do planeta, pois será uma referência ética para todos os povos da Terra. Porém o Rio+5 evidenciou que pouco havia sido feito de fato para colocar em prática as resoluções do Rio 92 pela maioria dos países participantes da reunião da ONU, entre eles o Brasil. O ponto positivo do levantamento foi a comprovação da ampliação do trabalho das ONGs, que passaram a exercer maior atuação, porém de maneira diferenciada, como analisa Enrique Svirsky: "Até 1992, o movimento ambientalista tinha missão de denunciar e mobilizar a sociedade para os problemas, mas depois da Conferência no Rio essa forma de atuação mudou. Há demandas por um movimento com mais propostas e tecnicamente mais qualificado." É chegado um momento, às portas do século XXI, em que é inconcebível dissociar desenvolvimento e sustentabilidade. A população mundial teve mostras de quanto é impraticável a separação desses dois aspectos durante as últimas quatro décadas. O mundo, através de seus governantes, parece estar predisposto a reavaliar a concepção de desenvolvimento para garantir o bem-estar das gerações atuais e a sobrevivência das gerações futuras. Estamos na Era da Informação, e é explorando os recursos que ela nos oferece que temos que levar a conscientização ambiental a cada ponto do planeta. É como diz a frase que ficou consagrada no Rio 92: Pensando globalmente, agindo localmente. 15 CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE E DE IMPACTO AMBIENTAL As preocupações da sociedade com a escassez de recursos naturais tem sido sucessivamente reiterada e superada ao longo da história, pela descoberta das Américas, pela abertura de novos caminhos para as Índias, e pelo desenvolvimento tecnológico que propiciou ganhos de produtividade agro-pastoril e do trabalho humano. (Bezerraastoril e do trabalho humano. (Bezerra, 1996, 9). A recente, a preocupação com a escassez de recursos naturais valorizou a proteção desses recursos dando nova dimensão á questão ambiental. Essa perspectiva ganhou destaque mundial com a proclamação, pelas Nações Unidas, do Ano do Meio Ambiente, o ano de 1970, e com a convocação, também pelas Nações Unidas, das conferências mundiais sobre meio ambiente. Nos anos 70 havia duas posições polarizadoras da problemática ambiental. Uma, expressa em "Os limites do crescimento", do Clube de Roma, que propunha a paralisação imediata do crescimento econômico e populacional. Outra, expressa na declaração da Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, que propunha a correção dos danos ambientais causados pelo desenvolvimento econômico e a estabilização, a médio prazo, da população mundial. Já no fim dos anos 80, havia três posições polarizadoras da problemática ambiental. Uma, do Erth First propunha drástica redução populacional e desocupação humana de vários ecossistemas. Outra, por exemplo, do Partido Verde Alemão, que propunha nova ética ecológica e não crescimento do produto mundial bruto, através da redistribuição do poder e da realocação de recursos produtivos. Uma terceira, majoritária, expressa no relatório "Nosso Futuro relatório,"Nosso Futuro Comum" (1988) da Comissão Bruntland, que propõe a sustentabilidade ambiental e social, o planejamento familiar, e o repasse de recursos de sistemas produtivos predatórios para sistemas produtivos sustentáveis. 16 Essa abordagens do problema ambiental tem diversos enfoques, ora a paralisação do crescimento populacional, ora a paralisação do crescimento econômico, ora a correção de danos ambientais, ora a desocupação humana de alguns ecossistemas, ora a redistribuição de poder e de recursos produtivos, ora a sustentabilidade ambiental e social. No entanto, esta abordagens tem em comum o mesmo conceito de ambiente, ou seja, as relações dos homens com a natureza para preservação dos recursos naturais. A abordagem majoritária, da Comissão Bruntland (1988), reconhece o vínculo entre ambiente, ações, ambições e necessidades humanas. Este vínculo torna o ambiente inseparável do desenvolvimento e em especial do desenvolvimento sustentável. Este por sua vez é entendido como o desenvolvimento que garante o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem também às suas necessidades. Para os biólogos, os ambiente que inclui organismos em interação com o meio físico é o ecossistema, um "... sistema resultante da integração de todos fatores vivos e não vivos do ambiente" (Tasley, citado por Branco e Rocha, 1987, 20), ou seja, "... qualquer unidade que inclua todos os organismos (a 'comunidade') de uma determinada área interagindo com o meio físico de forma tal a originar um fluxo de energia definindoclaramente uma estrutura trófica, uma diversidade biológica e um ciclo de matérias (intercâmbio de matéria entre partes vivas e não vivas) ..." (Odum, citado por Branco e Rocha, 1987, 20). Estes autores definem os elementos componentes do ecossistema os elementos vivos (organismos) e não vivos (meio físico) em interações; definem a natureza destas interações fluxos de energias e informações entre organismos e meio físico; e definem a finalidade destas nem a finalidade destas interações - a nutrição e a biodiversidade. Entretanto nos ecossistemas que abrangem aglomerações de população e atividades humanas a energia e as matérias necessárias a seu desenvolvimento provem predominantemente do seu exterior. Isto possibilita o desenvolvimento destes ecossistemas tendo por limite apenas a disponibilidade de recursos naturais não importáveis. Vem dai o interesse, nos ecossistemas urbanos, pela preservação 17 do ar, da água, do solo, do silêncio, e do microfilma cujo esgotamento pode impor limites a seu desenvolvimento. As relações dos homens de apropriação e uso destes elementos da natureza são relações constitutivas do ambiente urbano, sem prejuízo de outras relações dos homens com os demais recursos naturais, inclusive com os seres vivos que convivem com o homem neste ecossistema. Para os paisagistas o ambiente e paisagem são conceitos distintos e entrelaçados. Segundo Magnoli (1986, 60), o ambiente é o resultado das interações entre a sociedade humana e a base física e biológica que a envolve, para sua sobrevivência biológica e espiritual, e a paisagem é conformações e configurações do ambiente. Segundo Macedo (1994,54) a paisagem é a expressão morfológica e temporal de um determinado objeto. Este objeto é a cada momento, o resultado da ação dos homens, dos movimentos geológicos e do movimento das águas, nos diversos pontos do planeta. Segundo Pellegrino (1989, 72) "a interação entre indivíduo e seu ambiente ... estabelece um contato de duplo sentido ... entre o sujeito interpretante e o signo objeto da interpretação ... caracterizando um processo de percepção ambiental. ..." Esses conceitos de paisagem se completam, e possibilitam identificar as relações constitutivas do ambiente urbano: a paisagem como relações entre indivíduos e objetos de percepção visual - as relações homens natureza que caracterizam o ambiente; os objetos da percepção visual como expressão morfológica do ambiente, como conformações e configurações do ambiente, A noção de ambiente também é usual para os urbanistas. Na tradição da ecologia humana, McKenzie se refere a forças seletivas, distributivas e acomodativas do meio ambiente. Park se refere "...as disposições espaciais dos assentamentos urbanos representam a acomodação da organização social a seu meio ambiente físico " (citado por Gottdiener, 1993, 36). Mas, não há qualquer pista do que Park e McKenzie entendem por meio ambiente ou por meio físico. Na tradição marxista-estruturalista, Castells (1983, 229) se refere à problemática ambiental como relações de indivíduos com o meio ambiente, com as condições de existência quotidiana, e com as possibilidades oferecidas por um modo específico de organização do consumo. Castells ainda, desvendando os temas que se entrecruzam na problemática ambiental, define o ambiente urbano como a dimensão biológica da reprodução ampliada da força de trabalho.. 18 Assim, com a contribuição dos biólogos, dos paisagistas e dos urbanistas, é possível conceituar o ambiente urbano como relações dos homens com o espaço construído e com a natureza, em aglomerações de população e atividades humanas, constituídas por fluxos de energia e de informação para nutrição e biodiversidade; pela percepção visual e atribuição de significado às conformações e configurações da aglomeração; e pela apropriação e fruição (utilização e ocupação) do espaço construído e dos recursos naturais. Este conceito de ambiente possibilita abordar qualquer localização do espaço urbanizado e construído como lugar de intercâmbio de energia das atividades humanas com a natureza para satisfação das necessidades biológicas dos organismos, como lugar susceptível de percepção visual e atribuição de significado, e como lugar de interações das atividades humanas com o espaço construído e com os recursos naturais. Essas relações compõem uma rede espacializada de relações constituintes do meio ambiente. A intensidade dessas relações, que diminui com as distâncias, que diminui com a distância (física) entre os elementos interrelacionados, define um gradiente espacial da influência da atividade considerada. Esse gradiente, até o limite dos impactos ambientais significativos, dá concretude às expressões vizinhança, e área de influência. Este conceito de ambiente possibilita ainda um melhor conceito de impacto ambiental. O conceito oficial de impacto ambiental, segundo a Resolução CONAMA 1/86, é "... qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente ..." Mas, esse conceito é muito amplo: pode abranger desde uma simples brisa até a explosão de uma bomba atômica, pois ambas alteram as propriedades do ar. É preciso graduar ou qualificar o impacto ambiental. A pista nos é dada por Murguel Branco (1984,57) que conceitua impacto ambiental como "... uma poderosa influência exercida sobre o meio ambiente, provocando o desequilíbrio do ecossistema natural." O que caracteriza o impacto ambiental, não é qualquer alteração nas propriedades do ambiente, mas as alterações que provoquem o desequilíbrio das relações constitutivas do ambiente, tais como as alterações que excedam a capacidade de absorção do ambiente considerado. 19 Assim, entendemos o impacto ambiental como qualquer alteração produzida pelos homens e suas atividades, nas relações constitutivas do ambiente, que excedam a capacidade de absorção desse ambiente. O impacto ambiental pode-se classificado das seguintes formas: · Impacto positivo ou benéfico - Quando a ação resulta na melhoria da qualidade de um fator ou parâmetro ambiental. · Impacto negativo ou adverso - Quando a ação resulta em danos à qualidade de um fator ou parâmetro ambiental. · Impacto direto - Quando resulta de uma simples relação de causa e efeito, também chamado impacto primário ou de primeira ordem. · Impacto indireto - Quando é uma reação secundária em relação à ação ou quando é parte de uma cadeia de reações; também chamado impacto secundário ou de enésima ordem (segunda, terceira, etc), de acordo com a sua situação na cadeia de reações. · Impacto local - Quando a ação afeta apenas o próprio sítio e suas imediações. · Impacto regional - Quando o efeito se propaga por uma área e suas imediações. · Impacto estratégico - Quando é afetado um componente ou recurso ambiental de importância coletiva ou nacional. · Impacto imediato - Quando o efeito surge no instante em que se dá a ação. · Impacto a médio e longo prazo - Quando o efeito se manifesta depois de decorrido certo tempo após a ação. · Impacto temporário - Quando o efeito permanece por um tempo determinado · Impacto permanente - Quando, uma vez executada a ação, os efeitos não cessam de se manifestar, num horizonte temporal conhecido. Conceito de Desenvolvimento Sustentável A grande maioria das nações do mundo reconhecem a emergência dos problemas ambientais. A destruição da camada de ozônio, acidentes nucleares, alterações climáticas, desertificação, armazenamento e transporte de resíduos perigosos, poluição hídrica, poluição atmosférica, pressão populacional sobre os recursos naturais, perda de biodiversidade são algumas das questões a serem 20 resolvidas por cada uma das nações do mundo, segundo suas respectivas especificidades. Entretanto, as complexidades dos problemas ambientais exigem mais do que medidas pontuaisque busquem resolver os problemas a partir de seus efeitos, ignorando ou desconhecendo suas causas. As questões ambientais deve serem tratadas de forma global, considerando que as degradações ambientais são resultantes de processos sociais, determinado pelo modo como as sociedades apropriam-se e utilizam os recursos naturais. Não é possível pretender resolver os problemas ambientais de forma isolada. É necessário introduzir novas abordagens, decorrentes da compreensão de que a existência de uma certa qualidade ambiental está diretamente condicionada ao processo de desenvolvimento adotado pelas nações. O termo desenvolvimento sustentável foi utilizado por Robert Allen, no artigo "How to Save the World". Allen define como sendo "o desenvolvimento requerido para obter a satisfação duradoura das necessidades humanas e o crescimento (melhoria) da qualidade de vida" [Allen apud Bellia, 1996, p.23]. Os elementos que compõem o conceito de desenvolvimento sustentável já foram mencionados, (a preservação da qualidade dos sistemas ecológicos, a necessidade de um crescimento econômico para satisfazer as necessidades sociais e a equidade - todos possam compartilhar - entre geração presente e futura). Desta forma, pode-se perceber que os ideais do desenvolvimento sustentável são bem maiores do que as preocupações específicas, a racionalização do uso da energia, ou o desenvolvimento de técnicas substitutivas do uso de bens não-renováveis ou, ainda, o adequado manejo de resíduos. Principalmente, é o reconhecimento de que a pobreza, a deterioração do meio ambiente e o crescimento populacional estão indiscutivelmente interligados. Nenhum destes problemas fundamentais pode ser resolvido de forma isolada, na busca de parâmetros ditos como aceitáveis, visando a convivência do ser humano numa base mais justa e equilibrada. O modo como se dá o crescimento econômico, comprometendo o meio ambiente, seguramente prejudica o próprio crescimento, pois inviabiliza um dos fatores de produção: o capital natural. Natureza , terra, espaço devem compor o processo de desenvolvimento como elementos de sustentação e conservação dos ecossistemas. A degradação ou 21 destruição de um ecossistema compromete a qualidade de vida da sociedade, uma vez que reduz os fluxos de bens e serviços que a natureza pode oferecer à humanidade. Logo, um desenvolvimento centrado no crescimento econômico que relegue para segundo plano as questões sociais e ignore os aspectos ambientais não pode ser denominado de desenvolvimento pois de fato trata-se de mero crescimento econômico. Sem dúvida, os novos desenvolvimentos tecnológicos podem atuar no controle da poluição causada por tecnologias mais antigas, como também as restrições quanto ao uso de agentes químicos poluentes podem ser eficazes no controle ambiental. Porém, precisamos examinar as conseqüências da imposição e/ou dependência da tecnogia presente nos processos de transferência de tecnologia dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento. Para abordar a importância da dimensão tecnológica para manutenção, elevação ou degradação da qualidade de algum sistema social, há a necessidade de se definir um grupo de critérios a serem utilizados para determinar se uma tecnologia é apropriada ou não: preocupação com o significado sócio-político das tecnologias, seu tamanho, nível de modernidade e sofisticação e o impacto ambiental causado por estas tecnologias [Bellia, 1996]. Se a eficiência econômica e a preservação ambiental parecem estar distantes de uma solução conciliadora, pode-se encontrar algumas soluções parciais em andamento na produção sustentável, como pesquisa e utilização de formas renováveis de energia, etc. É necessário que se promova à adoção de técnicas que garantam a redução/eliminação do consumo acerbado ou, da produção não sustentável, na tentativa do estabelecimento de um novo sistema econômico, consciente da questão ambiental. Em 1987 a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas apresentou ao mundo um relatório (denominado de Relatório Brundland) sobre o tema desenvolvimento. Esse relatório apresentou o conceito de desenvolvimento sustentável além de afirmar que um desenvolvimento sem melhoria da qualidade de vida das sociedades não poderia se considerado como desenvolvimento. 22 O relatório Brundland definiu desenvolvimento sustentável como um desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas. Pode-se considerar, portanto, desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento que tratando de forma interligada e interdependente a variáveis econômica, social e ambiental é estável e equilibrado garantindo melhor qualidade de vida para as gerações presentes e futuras. GESTÃO Ambiental e Desenvolvimento SUSTENTÁVEL As grandes organizações mundiais foram tomadas por "um mal", o chamado eco-realismo. Empresas químicas, petroleiras, papeleiras e siderúrgicas compreenderam que de uma certa maneira estão sendo obrigadas a realizarem uma revolução cultural: "esverdear ou morrer!". Alguns grandes empresários já estão investindo fortunas em despoluição, publicando relatórios ambientais, realizando auditorias ambientais em suas plantas, etc, em alguns casos, os objetivos alcançados em meio ambiente, já estão até mesmo na frente dos requisitados na legislação. Entretanto, todo este esforço ainda não garante às empresas que a sua performance ambiental continuará a atender necessidades políticas e da legislação continuamente. Para serem efetivos necessitam serem realizados dentro de um contexto relacionado a um sistema de gerenciamento estruturado, integrando tais esforços com as atividades de gerenciamento global e levando em consideração os possíveis aspectos de uma esperada performance ambiental. Enfim, o grande desafio, neste final de século, para as empresas, será o Gerenciamento Ambiental, pois, por atuarem em um mercado extremamente competitivo a população tem se conscientizado cada vez mais sobre alguns aspectos sociais, entre eles o meio ambiente e sua proteção/preservação. Por essa razão tem sido cada vez mais importante que as empresas demonstrem responsabilidades ambientais perante a comunidade, clientes, acionistas, órgãos ambientais, ONGs, etc. 23 A implantação de Sistemas de Gerenciamento Ambiental efetivos, podem reduzir os impactos ambientais, bem como melhorar a eficiência operacional, identificando oportunidades de redução de custos e de riscos ambientais. O objetivo básico da Gestão é a obtenção dos maiores benefícios através da aplicação dos menores esforços. Para tanto o ser humano busca otimizar o uso dos recursos que tem à disposição, sejam eles de ordem financeira, material ou humana. A partir de que o homem vai percebendo que os recursos ambientais não são infinitos, eles passaram a ser objetos de gestão ( administração), ferramenta através da qual os seres humanos poderão obter o Desenvolvimento Sustentável. O principal objetivo do desenvolvimento é o de satisfazer as necessidades e as aspirações humanas. Estas constatações estabelecem o objetivo final da Gestão Ambiental, que é portanto, contribuir para tornar o desenvolvimento sustentável, ou seja garantir que ele atenda as necessidades humanas do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas. Como destaca Sallier (1990), o conceito convida-nos a administrar nosso presente tendo em vista o futuro dos outros, através de uma arbitragem entre o desejável altuista e o possível egoísta. Como conseqüência desta arbitragem sugerida apresenta dificuldades ainda maiores do que as simples decisões dos indivíduos e da sociedade, as quais, tomadas, poderiam, até mesmo, ser amoldadas através dos recursos oferecidos pela mídia, desdeque a decisão não representasse a destruição das pessoas envolvidas. Essas dificuldades tem origem na ética e na própria Historia, a qual, com exceção de casos pontuais, não demonstra a solução de problemas parecidos anteriormente. Diante do exposto, pode-se relacionar a gestão ambiental, analogicamente, com a administração exercida por um indivíduo sobre sua própria saúde. Ele consulta os médicos com o objetivo de se manter saudável, ou de recuperar sua saúde da melhor forma possível. Os médicos, com o uso das técnicas disponíveis, fazem um "check-up" no indivíduo, estabelecendo um diagnostico dos males que o afetam. E através das técnicas e meios de tratamento buscam a recuperação do paciente da forma mais rápida possível. 24 Na Busca do Desenvolvimento Sustentável A idéia de desenvolvimento sustentável teve grande impacto, já que combinava duas abordagens há muito presente no pensamento ocidental acerca da ordem social: a idéia de que o crescimento material é a base do desenvolvimento social, a idéia de que existe um procedimento normativo aceitável na relação entre homens e o meio ambiente físico. As manifestações atuais deste modo de pensar são os programas para o desenvolvimento socioeconômico e para o meio ambiente. Na escala global eles se encontram incorporados por algumas organizações da ONU (como UNDP, UNEP). A maneira como os dois programas devem ser combinados é, no entanto, objeto de contentação. No campo da geografia este fato já foi reconhecido há muito tempo. Na primeira metade do século, geógrafos regionais franceses já diferenciavam a exploração destrutiva da criativa; e Carl Sauer, na conferência da UIG de 1938, em Amsterdã, já entrara em conflito com geógrafos do serviço de administrações coloniais a respeito do impacto da agricultura tropical moderna em grande escala sobre o ambiente físico. O desenvolvimento sustentável é, portanto, uma noção política, visto que indicam uma ampla série de objetivos referentes a diversos possíveis cursos de ação potencialmente incompatíveis, sem propor maneiras para a escolha de um deles. O desenvolvimento sustentável delimita uma arena conceitual para debate político. O desenvolvimento sustentável é também uma noção inerentemente geográfica, já que se acentua os laços inevitáveis entre a existência humana e seu ambiente físico. 25 Entre as ciências sociais, a geografia foi a que mais deu atenção a essas relações, embora a recusa em abordá-las também tenha sido, eventualmente, uma forte característica desta disciplina. Além dos aspectos político e geográficos gerais, o conceito de desenvolvimento sustentável pode também ser mais intimamente relacionado a interesses centrais da geografia política. Aliás, os geógrafos políticos deveriam engajar-se criticamente na avaliação dos efeitos que os diferentes padrões de desenvolvimento sustentáveis recomendado e seguidos pelos atores políticos tem sobre a conservação da natureza e o crescimento material. Mais especificamente, os geógrafos políticos deveriam avaliar os processos políticos pelos quais são elaborados os diversos programas de desenvolvimento sustentável para várias unidades territoriais definidas como Estados, bem como as diferentes maneiras pelas quais são mobilizados os recursos para tais programas. Deveriam também se preocupar com os padrões de distribuição de custos e benefícios derivados da implementação de tais programas e se são espacialmente diferenciados ou não. Por exemplo, como foi formada a coalizão política que tornou a preservação da floresta tropical uma prioridade dos programas de desenvolvimento sustentável, quem destes se beneficiou e como se distribuíram, espacialmente ou não, os custos e os benefícios? O Desenvolvimento Sustentável e o Nível Local. Será que a seriedade dos problemas ambientais está provocando o aumento da importância das questões referentes ao desenvolvimento sustentável na agenda política geral? Se nos basearmos nos registros históricos, a resposta deve ser: talvez. A prioridade política das políticas ambientais tem flutuado significativamente. A 26 opinião pública no mundo desenvolvido tem passado por ciclos de ansiedade e de esquecimento quanto à questão ambiental. Preocupação sobre emprego e segurança pessoal tem, por vezes, postergada a ação sobre o meio ambiente. Mas, ao longo desses ciclos, os níveis de consciência ambiental geralmente aumentaram e a institucionalização de políticas de alguma forma propiciou a criação de um patamar mínimo de atenção para com as políticas ambientais. A deteriorização efetivamente ameaçadora da qualidade ambiental provavelmente manteria o tema no foco das atenções. Mas se isso vai mesmo acontecer e quando, é uma adivinhação para todos. A possibilidade de sustentar uma agenda de qualquer tipo de desenvolvimento sustentável provavelmente depende de mecanismos diferenciados, segundo o nível de desenvolvimento socioeconômico dos países Nas comunidades tradicionais onde o contato direito entre o homem e seu ambiente é íntimo e inevitável, e onde as conexões externas são esparsas, vigora a lógica malthusiana. O aumento da população, ultrapassando a capacidade de geração de meios de subsistência da população local, dado o nível tecnológico disponível, tem muitas vezes resultado em guerra, vício e miséria, sem falar da emigração. Por isso tem havido sempre uma grande resistência contra lesões ao ambiente através do uso exagerado da terra, da água e dos recursos da biosfera. Os conhecimentos íntimos do ambiente proporcionaram incentivos poderosos para que tais populações não caíssem num cenário de tragédia comunal. As instituições tradicionais de liderança e os mecanismos duradouros de alocação de recursos, baseados no conhecimento prático acerca de como viver sob dadas circunstâncias, eram a base para a agenda do desenvolvimento sustentável tradicional. A administração colonial modernizadora e centralizadora, o governo independente e a mercantilização das trocas minaram esses arranjos tradicionais, o que foi agravado pelo aumento da população que acompanhou o processo. Nas diferentes sociedades de bem-estar capitalistas (inclui os EUA neste tipo, como um caso-limite), aparentemente está ocorrendo uma mudança na sensibilidade cultural das massas que, por falta de melhor expressão, foi chamada de pós-materialismo. 27 Inglehart (1990), que executou a maior parte do trabalho sobre esta questão através da análise de pesquisas de massa realizadas dos anos sessenta aos anos oitenta, fala em mudança cultural. Tal mudança de valores refere-se à redução da importância conferida ao bem-estar material, centrado no nível de renda, substituída pela ênfase de um senso de harmonia com o ambiente físico e social. Essa mudança foi documentada em numerosos países da Europa e nos Estados Unidos. No que se refere às pessoas, é muito pequena a influência de renda, sendo muito maior a importância da educação. É também mais forte entre os mais jovens . Estes valores dão menos peso à experiência pessoal do que ao engajamento nos movimentos sociais relativos às questões da mulher, da paz e do meio ambiente, que foram importantes nos anos oitenta. A tradicional esquerda-direita na política foi, para muitos, parcialmente redefinida: em lugar de duas posições materialistas, uma clivagem entre materialismo e pós-materialismo. A força relativa da posição pós-materialista ainda está por ser determinada. A base mais forte para a busca permanente da agenda do desenvolvimento sustentável nesses países é a presença dessa nova cultura, a qual também se traduz na esfera política. Complementar a esta mudança básica na orientação dos valores é o aparecimento de uma comunidade dedicada a questões de desenvolvimento sustentável na administração central, mas também no local. Estascomunidades políticas mantêm as questões ambientais vivas mesmo em tempos de recessão econômica. Na semiperiferia, em países médios como o Brasil, as tensões quanto ao conceito de desenvolvimento sustentável são mais difíceis de caracterizar, e o debate são mais vigoroso. Isto acontece porque as ilhas da pós- modernidade, que algumas vezes estão acompanhadas de inclinações pós-materialistas, são circundadas por mares de grupos sociais para os quais a orientação materialista na vida é predominante, por razões conhecidas. Tais grupos também perderam o conhecimento intuitivo tradicional sobre seu ambiente, que ao menos reduz um pouco a deteriorização ambiental. O impulso de crescimento sem cuidados com a renovação ou a substituição de recursos conflita claramente com os requisitos de um projeto de desenvolvimento sustentável que considere seriamente ambas as partes do argumento. 28 Agenda 21 A noção de sustentabilidade tem se firmado como o novo paradigma do desenvolvimento humano. Os países signatários dos documentos e declarações resultante das conferencias mundiais realizadas nas ultimas décadas assumiram o compromisso e o desafio de internalizar, nas políticas publicas de seus países as noções de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável. A Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992 coroa este processo com a aprovação de um documento contendo compromissos para mudança do padrão do desenvolvimento para este novo século, denominado o documento de Agenda 21 A Agenda 21 não é, portanto, um plano de governo, más uma proposta de estratégia destinada a subsidia-lo e a ser adaptada, no tempo e no espaço, às peculiaridades de cada pais e ao sentimento de sua população. Busca envolver governos, setor produtivo e comunidade numa nova visão de vida, que deve ser sustentável, procurando melhorar a qualidade de vida para as gerações futuras. É o processo que integra os aspectos sociais, ambientais, econômicos e institucionais, com o objetivo de estabelecer o desenvolvimento sustentável no futuro. A Agenda 21 Brasileira O compromisso internacional assumido juntamente com 176 países que participaram da Conferencia das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - Rio 92, a partir da Agenda Global então elaborada, o processo brasileiro foi desencadeado, de fato a partir de fevereiro de 1997, quando foi criada a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Nacional. 29 Esta comissão, formada por representantes de vários ministérios e de setores da sociedade civil definiu um programa para formulação e implementação das políticas publica compatíveis com os princípios do desenvolvimento sustentável definidos na Agenda 21. Mais que um documento, a Agenda 21 Brasileira é um processo de planejamento participativo que analisa a situação atual dos Pais, Estados, Municípios e Regiões, e planeja o futuro de forma sustentável. Esse processo esta envolvendo os chamados parceiros do desenvolvimento sustentável, isto é, os diferentes atores econômicos e sociais e os formadores de opinião vinculados não apenas à questão ambiental, mas também à participação democrática e à representação cível, para a formação de parcerias e compromissos com metas de curto, médio e longo prazo. As Agendas 21 Locais Um dos pontos fundamentais da Agenda 21 é a forte ênfase à "ação local" e à administração descentralizada. O capítulo 28 é todo dedicado às iniciativas de elaboração da Agenda Local e ao papel das esferas de governo nesse processo. É no nível local que as ações concretizam-se, pela mobilização direta das comunidades. Sugere-se, então, que a elaboração da Agenda Nacional reflita os interesses e aspirações dos níveis descentralizados da administração. Esta tarefa é particularmente difícil para o Brasil, não só por suas dimensões continentais, com mais de 5000 municípios, mas, também, pela heterogeneidade das situações (nem todos os estados têm um zoneamento econômico-ecológico; só recentemente se aprovou no parlamento uma Lei Nacional de Recursos Hídricos, 30 assim como é recente a formulação da Política Nacional para o Uso Sustentável dos Recursos Florestais Nacionais). Entretanto, apesar das dificuldades, alguns processos de Agenda Local já foram deflagrados no País. Ao contrário do que aconteceu na Europa e EUA, onde as cidades que desenvolveram suas agendas locais eram de porte médio e pequeno, no Brasil são os municípios maiores, ou as capitais dos estados, que estão enfrentando o desafio de montar sua respectiva agenda. Em termos regionais, a região Amazônica apresenta, atualmente, um avanço em direção à elaboração de sua agenda. As 9 (nove) experiências, com informações mais consistentes, compreendem as campanhas nos estados de Minas Gerais e São Paulo e de sete municípios - Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Curitiba, Vitória, Angra dos Reis e Porto Alegre. No entanto todas essas experiências são, ainda, frágeis e precisam de um forte apoio, carecendo de uma avaliação apurada. Pode-se afirmar que algumas seguiram mais de perto as recomendações da Agenda 21 Global (caso de Santos), enquanto outras estão mais no espírito do planejamento estratégico (Rio de Janeiro e Vitória). Outras, ainda, tentam internalizar nos órgãos de governo as idéias do planejamento integrado e da sustentabilidade (São Paulo, Rio e Belo Horizonte). Há aquelas em que a metodologia participativa tem sido levada ao pé da letra (Santos, Porto Alegre e Angra dos Reis). As Agendas 21 locais, quase sempre, acham-se atreladas às secretarias de meio ambiente, seja porque os seus técnicos e assessores estão mergulhados nas questões ambientais e da sustentabilidade ou porque, nesses espaços, a compatibilização do meio ambiente com o desenvolvimento tem mais consenso. Entretanto, essas iniciativas esbarram em fragilidades institucionais e é prejudicado pelo baixo poder convocatório e baixa capacidade de investimento das secretarias de meio ambiente. Outro fator a ser destacado na maioria das experiências locais, é ainda a amplitude e densidade das consultas. O envolvimento de outros atores - principalmente o empresariado - é ainda tímido e sofre a desconfiança em relação à "participação da sociedade". São baixos, ainda, a interação e o intercâmbio entre experiências de elaboração da Agenda. Organismos como a ANAMA e a ABEMA, que congregam, respectivamente, uma grande parte dos municípios e secretarias de meio ambiente do País, não têm tido 31 um papel ativo nas campanhas pelas procedimentos de regularização fundiária. Ainda quanto às populações tradicionais, o Projeto Reservas Extrativistas - RESEX tem apoiado sistemas inovadores de gerenciamento econômico, social e ambiental em áreas protegidas. Educação Ambiental e o Desenvolvimento SUSTENTÁVEL A análise da economia mundial das três últimas décadas revela que a brecha entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos tem aumentado. Nesse período a economia dos países desenvolvidos caracterizou-se por processos inflacionários, associados a um crescente desemprego, induzindo a uma combinação de políticas macroeconômicas que aumenta os problemas socio-ambientais, com o agravamento do processo de deterioração dos recursos naturais renováveis e não- renováveis nos países do Terceiro Mundo. Os processos de globalização do sistema econômico aceleram-se. Os fatores globais adquirem maior importância na definição das políticas nacionais, as quais perdem força ante as forças econômicas mundiais. Há uma redefinição do papel do Estado na economia nacional, uma crescente regionalização ou polarização da economia e uma paulatina marginalização de algumas regiões ou países, em relação à dinâmica do sistema econômico mundial. Os países que dependem de produtosbásicos são debilitados. Nesse contexto internacional começou a ser preparada a Conferência Rio- 92, na qual a grande preocupação se centrava nos problemas ambientais globais e nas questões do desenvolvimento sustentável. Nessa conferência, em relação à Educação Ambiental, destacam-se dois documentos produzidos. No Tratado de Educação ambiental para sociedades sustentáveis, elaborado pelo fórum das ONGs, explicita-se o compromisso da sociedade civil para a construção de um modelo mais humano e harmônico de desenvolvimento, onde se reconhecem os diretos humanos da terceira geração, a perspectiva de gênero, o direito e a importância das diferenças e o direito à vida, baseados em uma ética biocêntrica e do amor. O outro documento foi a Carta brasileira de Educação Ambiental, elaborada pela Coordenação de Educação Ambiental no Brasil e se estabelecem as recomendações para a capacitação de recursos humanos. A Conferência Rio-92 estabeleceu uma proposta de ação para os próximos anos, denominada Agenda 21. Esse documento procura assegurar o acesso 32 universal ao ensino básico, conforme recomendações da Conferência de Educação Ambiental (Tbilisi, 1977) e da Conferência Mundial sobre Ensino para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem (Jomtien, Tailândia, 1990). De acordo com os preceitos da Agenda 21, deve-se promover, com a colaboração apropriada das organizações não-governamentais, inclusive as organizações de mulheres e de populações indígenas, todo tipo de programas de educação de adultos para incentivar a educação permanente sobre meio ambiente e desenvolvimento, centrando-se nos problemas locais. As indústrias devem estimular as escolas técnicas a incluírem o desenvolvimento sustentável em seus programas de ensino e treinamento. Nas universidades, os programas de pós- graduação devem contemplar cursos especialmente concebidos para capacitar os responsáveis pelas decisões que visem ao desenvolvimento sustentável. Em cumprimento às recomendações da Agenda 21 e aos preceitos constitucionais, é aprovado no Brasil o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), que prevê ações nos âmbitos de Educação Ambiental formal e não- formal. Na década de 1990, o Ministério da Educação (MEC), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) desenvolvem diversas ações para consolidar a Educação Ambiental no Brasil. No MEC, são aprovados os novos "Parâmetros Curriculares" que incluem a Educação Ambiental como tema transversal em todas as disciplinas. Desenvolve-se, também, um programa de capitação de multiplicadores em Educação Ambiental em todo o país. O MMA cria a Coordenação de Educação Ambiental, que se prepara para desenvolver políticas nessa área no país e sistematizar as ações existentes. O IBAMA cria, consolida e capacita os Núcleos de Educação Ambiental (NEAs) nos estados, o que permite desenvolver Programas Integrados de Educação Ambiental para a Gestão. Várias organizações estaduais do meio ambiente (OEMAs) implantam programas de Educação Ambiental e os municípios criam as secretarias municipais de meio ambiente, as quais, entre outras funções, desenvolvem atividades de Educação Ambiental. Paralelamente, as ONGs têm desempenhado importante papel no processo de aprofundamento e expansão das ações de Educação Ambiental que se completam e, muitas vezes, impulsionam iniciativas governamentais. 33 Podemos afirmar, hoje, que as relações sociedade civil organizada entre instituições governamentais responsáveis pela educação ambiental caminham juntas para a construção de uma cidadania ambiental sustentável, baseada na participação, justiça social e democracia consciente. É evidente que o aprofundamento de processos educativos ambientais apresenta-se como uma condição para construir uma nova racionalidade ambiental que possibilite modalidades de relações entre a sociedade e a natureza, entre o conhecimento científico e as intervenções técnicas no mundo, nas relações entre os grupos sociais diversos e entre os diferentes países em um novo modelo ético, centrado no respeito e no direito à vida em todos os aspectos. É certo que a implementação do desenvolvimento sustentável passa necessariamente por um processo de discussão e comprometimento de toda a sociedade uma vez que implica em mudanças no modo de agir dos agentes sociais. No processo de implementação do desenvolvimento sustentável a educação ambiental torna-se um instrumento fundamental. O sucesso das ações que devem conduzir ao desenvolvimento sustentável dependerá em grande parte da influencia da opinião pública, do comportamento das pessoas, e de suas decisões individuais. Mesmo considerando que existe certo interesse pelas questões ambientais há que reconhecer a falta de informação e conhecimento dos problemas ambientais. Logo, a educação ambiental que tenha por objetivo informar e sensibilizar as pessoas sobre os problemas (e possíveis soluções) existentes em sua comunidade, buscando transforma essas pessoas em indivíduos que participem das decisões sobre seus futuros, exercendo desse modo o direito a cidadania torna-se instrumento indispensável no processo de desenvolvimento sustentável. Uma das formas de levar educação ambiental à comunidade é pela ação direta do professor na sala de aula e em atividades extracurriculares. Através de atividades como leitura, trabalhos escolares, pesquisas e debates, os alunos poderão entender os problemas que afetam a comunidade onde vivem; a refletir e criticar as ações que desrespeitam e, muitas vezes, destroem um patrimônio que é de todos. Os professores são a peça fundamental no processo de conscientização da sociedade dos problemas ambientais, pois buscarão desenvolver em seus alunos 34 hábitos e atitudes sadios de conservação ambiental e respeito à natureza transformando-os em cidadãos conscientes e comprometidos com o futuro do país. A partir da falência do conceito de que os recursos ambientais seriam infinitos, estes passaram a ser objeto de gestão. Mas não cabe só analisar os recursos não-renováveis como, também, discutir a questão do bem público, que muitas vezes acabou permitindo a exploração desenfreada por alguns indivíduos. Alie-se, também, que o desenvolvimento sustentável é um processo global e não pode ser confundido com a globalização. A globalização poderia ser vista por "dois lados". O primeiro é o das grandes empresas e se refere ao domínio do mercado mundial ou, em outras palavras, o aspecto comercial. Já o outro lado, o "da poluição", ótica que transcende fronteiras nacionais e que significa evitar a poluição. Essa realidade nova, da qual não há como fugir, tem de ser reconhecida - e enfrentada. Um passo importante foi dado na Rio-92, a Conferência da Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, na qual se consolidou a concepção de que o desafio de manter um ambiente sadio para as futuras gerações é um problema global. Nesse sentido, a pesquisa geográfica orientada para a temática ambiental apresenta uma visão integradora, encarando a análise das mais variadas formas de organização do espaço, resultantes da apropriação e de usos do meio natural por distintos grupos sociais, alterando e transformando constantemente o ambiente que os cerca. É necessária uma nova abordagem, pela qual todas as nações cheguem a algum tipo de desenvolvimento que integre a produção com a conservação e ampliação dos recursos, e que as vincule ao objetivo de dar a todos uma base adequada de subsistência e um acesso mais eqüitativo aos recursos naturais. Isto é a essência do desenvolvimento sustentável O sucesso das ações que devem conduzir ao desenvolvimento sustentável dependerá em grande parte da influencia da opinião pública, do comportamento das pessoas, e de suas decisõesindividuais. Mesmo considerando que existe certo interesse pelas questões ambientais há que reconhecer a falta de informação e conhecimento dos problemas ambientais. Os professores são a peça fundamental no processo de conscientização da sociedade dos problemas ambientais, pois buscarão desenvolver em seus alunos 35 hábitos e atitudes sadios de conservação ambiental e respeito à natureza transformando-os em cidadãos conscientes e comprometidos com o futuro do país. 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS MOREIRA, Antônio Cláudio M L: Conceitos de ambiente e de impacto ambiental aplicáveis ao meio urbano. Material didático da disciplina de pós-graduação AUP 5861 - Políticas públicas de proteção do ambiente urbano. São Paulo, 1999. BELLA, Vitor. Introdução a Economia do Meio Ambiente. IBAMA, 1996. 47-71 P. CORSEN, Walter H. Manual Global da Ecologia:, O que Você Pode Fazer a Respeito da Crise do Meio Ambiente. 2ª Ed. São Paulo SP, Editora Augustus, 1996. 02p, 54p. LIMA & SILVA,P.P. Uma Luz no fim do Túnel:, Ver. Arché Interdiciplinar, Univ. Cândido Mendes, Ipanema RJ; "Desenvolvimento Sustentável", ano VIII, n.º 25, pp 157-180. Conferencia das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento:, Agenda 21. Curitiba Pr, IPARDES, 1997. ROSÁRIO, Maria do & JESUS, Júlio de. Avaliação do Impacte Ambiental. Caparica Portugal, CEPGA, 1994. http://www.conferenciadeestocolmo.cjb.net/ http://www.e-meioambiente.com.br http://sites.uol.com.br/projetovida/InformaLista2.htm
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