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Dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos

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Ana Luiza Bittencourt 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL II 
Dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos 
CAPÍTULO I 
DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO 
ULTRAJE A CULTO E IMPEDIMENTO OU PERTURBAÇÃO DE ATO A ELE RELATIVO 
Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar 
cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à 
violência. 
Objetividade jurídica: tutela o sentimento religioso e a liberdade de culto. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. 
Sujeito passivo: 
• Na primeira modalidade, a vítima será pessoa determinada; nas demais, figurará no polo passivo a coletividade 
religiosa. 
• Na segunda, os titulares lesados são os fiéis que assistem a cerimônia como aqueles que celebram ou auxiliam a 
mesma. 
• Na terceira, tutela-se a coletividade. 
ATENÇÃO: se a vítima for índio ou comunidade indígena, a conduta será tipificada no art. 58 da Lei 6.001/73. 
Conduta: são 3 núcleos: 
• ESCARNECER (ridicularizar): o agente zomba da vítima em razão da opção religiosa ou por sua função religiosa. 
Deve ser feita de forma PÚBLICA (número indeterminado de pessoas), para pessoa determinada. 
• IMPEDIR (interromper, obstruir, proibir) ou PERTURBAR (atrapalhar, embaraçar) cerimônia ou prática de culto 
religioso. 
• VILIPENDIAR (desprezar, rebaixar, aviltar) publicamente ato ou objeto de culto religioso. 
Tipo subjetivo: pune-se apenas a conduta dolosa. 
Consumação: 
• Na conduta de ESCARNECER, consume-se no instante em que o agente zomba publicamente. 
• Na conduta de IMPEDIR ou PERTURBAR, o delito se perfaz no momento em que o agente efetivamente interrompe 
ou atrapalha a realização do ato. 
• Na conduta de VILIPENDIAR consume-se com o vilipêndio realizado. 
Majorante (causa de aumento de pena): se há violência > + 1/3. 
Ação penal: pública incondicionada. 
CAPÍTULO II 
DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS 
IMPEDIMENTO OU PERTURBAÇÃO DE CERIMÔNIA FUNERÁRIA 
Art. 209 - Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. (JESP – TP; SUSPRO) 
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à 
violência. 
Objetividade jurídica: sentimento de respeito aos mortos. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. 
Sujeito passivo: coletividade, representada pela família, amigos ou qualquer pessoa que guarde relação. O morto não 
pode ser vítima, pois não é titular de direitos. 
Conduta: impedir (evitar que comece ou prossiga) ou perturbar (atrapalhar, transtornar) enterro ou cerimônia 
funerária. 
Tipo subjetivo: dolo. 
Consumação: com o efetivo impedimento ou perturbação. 
Tentativa: admite. 
Ação penal: pública incondicionada. 
VIOLAÇÃO DE SEPULTURA 
Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária: 
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 
Objetividade jurídica: tutela-se o sentimento de respeito aos mortos. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive familiares etc. 
Sujeito passivo: coletividade. 
Conduta: violar (abrir, quebrar, devassar) e profanar (ofender, ultrajar, desrespeitar) sepultura ou urna funerária. 
Tipo subjetivo: dolo. Existem 3 posições doutrinárias: 
• Exige-se finalidade especial por parte do agente > exige sentimento de desrespeito. 
• Somente a modalidade profanar deve ser acompanhada do elemento subjetivo especial do injusto, tendo em vista 
não ocorrer esse ato sem o propósito de vilipendiar ou desprezar. 
• O propósito do agente é relevante, tendo em vista que o respeito aos mortos é inerente ao ser humano e, o praticar 
uma das condutas previstas, sabe que age em desrespeito a esse sentimento. 
Consumação: violação ou prática de qualquer ato de profanação de sepultura ou urna funerária. 
Tentativa: admite. 
Ação penal: pública incondicionada. 
O delito pode ser praticado em concurso com outros de natureza semelhante, como: 
• Calúnia contra os mortos: se o ato de profanação se traduzir em calúnia contra o extinto, haverá concurso formal 
de delitos. 
• Furto: se o agente violar a sepultura no intuito de subtrair objetos enterrados junto ao cadáver, o delito em análise 
será absorvido, por se tratar de crime-meio. Note-se que outro ato de desrespeito ao morto não será absorvido, 
nem mesmo a profanação, que não se trata de meio necessário al alcance do fim visado pelo agente. Nesse caso, 
ocorrerá concurso material. 
• Subtração ou destruição de cadáver: na hipótese em que o agente viola a sepultura com a finalidade de subtrair 
ou destruir o cadáver que ali se encontra, aplica-se o mesmo raciocínio do item anterior, vez que a primeira conduta 
constitui meio necessário ao alcance da finalidade pretendida. 
Ação penal: pública incondicionada. 
 
DESTRUIÇÃO, SUBTRAÇÃO OU OCULTAÇÃO DE CADÁVER 
Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: 
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 
Objetividade jurídica: sentimento de respeito aos mortos. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. 
Sujeito passivo: coletividade. 
Conduta: destruir (desfazer, desmanchar, destroçar), subtrair (apoderar-se) e ocultar (esconder, dissimular). 
Obs.: imprescindível que o corpo mantenha os traços mínimos identificadores da aparência humana, ou seja, que não 
tenha sido atingido pela decomposição cadavérica. Assim, não são objetos do crime em estudo o esqueleto, as cinzas, 
as múmias e as partes do corpo incapazes de se reconhecer como tal. 
ATENÇÃO: o crime em estudo admite concurso material com homicídio e infanticídio. 
Tipo subjetivo: dolo. 
Consumação: cadáver destruído; cadáver retirado da esfera de proteção; desaparecimento, ainda que temporário. 
Tentativa: admite. 
Ação penal: pública incondicionada. 
Obs.: diferentes teorias sobre natimorto e feto como cadáveres ou não: 
• 1ª teoria: natimorto e feto não são cadáveres, pois nunca respiraram e, para o Direito, não são pessoas. 
• 2ª teoria: natimorto é cadáver porque já tem o corpo pronto, com todas as características essenciais. Feto não é 
cadáver porque não está pronto. 
• 3ª teoria: natimorto e feto são cadáveres, porque têm características humanas. 
VILIPÊNDIO A CADÁVER 
Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas: 
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. 
Sujeito passivo: coletividade, bem como a família do morto. 
Conduta: vilipendiar, desprezar, aviltar, rebaixar o cadáver ou suas cinzas. 
ATENÇÃO: caso as palavras proferidas imputarem ao morto, falsamente, fato definido como crime, haverá concurso 
formal entre o art. 212 e o art. 138, §2º (calúnia). 
Tipo subjetivo: dolo. Para a maioria, mostra-se imprescindível o desejo de desprezar o corpo sem vida, com intenção 
de depreciá-lo. 
Consumação: se consuma com a prática do ato aviltante. 
Tentativa: admite. 
Ação penal: pública incondicionada.

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