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Ana Luiza Bittencourt DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL II Dos crimes contra a dignidade sexual – título VI CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL ESTUPRO Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Objetividade jurídica: proteção da dignidade sexual da vítima > liberdade sexual. Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. Sujeito passivo: qualquer pessoa maior de 14 anos (se for menor, será art. 217-A). Conduta: pune-se o ato de libidinagem violento, coagido, obrigado, forçado, buscando o agente constranger a vítima à conjunção carnal (conjunção normal entre sexos opostos) ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. A expressão “outro ato libidinoso” é bastante ampla e, se não interpretada com cautela irá englobar atos como um beijo lascivo. Deve o aplicador aquilatar o caso concreto e concluir se o ato praticado foi capaz de ferir ou não a dignidade sexual da vítima com a mesma intensidade de uma conjunção carnal. Permitir que o ato seja praticado, isto é, não fazer nada para impedir, também resulta em crime de estupro. VIOLÊNCIA: deve ser material, ou seja, com emprego de força física suficientemente para impedir a vítima de reagir. GRAVE AMEAÇA: se dá através da violência moral, situação em que a vítima não vê alternativa a não ser ceder ato sexual. Deve ser algo factível de ocorrer; deve ser independente da vontade de outras pessoas; deve ser algo imediato. ATENÇÃO: de acordo com a maioria da doutrina, não há necessidade de contato físico entre o autor e a vítima, cometendo o crime o agente que, para satisfazer sua lascívia, ordena que a vítima se masturbe somente para contemplação – RT429/380. Autoria mediata: por meio disso é possível praticar estupro sem encostar na pessoa > mandar outra pessoa estuprar um terceiro mediante grave ameaça. Além disso, é possível ter estupro virtual (obrigar a prática de ato libidinoso ameaçando a fazer algo, como postar na internet). Tipo subjetivo: dolo > intenção de realizar atos de libidinagem. Consumação: se consuma com a prática do ato de libidinagem buscado pelo agente. Tentativa: admite. ATENÇÃO: praticando o agente mais de uma conduta, dentro do mesmo contexto fático, não se desnatura a unidade do crime (será um CRIME ÚNICO) > a mudança é benéfica ao acusado, devendo retroagir para alcançar fatos pretéritos (antes ocorria concurso material, mas com a mudança pela lei de 2009 isso não é mais possível. O STJ vem decidindo no sentido de que o autor de estupro e atentado violento ao pudor, praticados no mesmo contexto fático e contra a mesma vítima, tem direito à aplicação retroativa da lei 12.015/2009, de modo a ser reconhecida a ocorrência de crime único, devendo a prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal ser valorada na aplicação da pena-base referente ao crime de estupro. Qualificadoras: • §1º = lesão grave OU vítima maior de 14 e menor de 18 > 6 a 12 anos. • §2º = morte > 12 a 30 anos. Obs.: o STJ decidiu ter se caracterizado o crime de estupro qualificado na situação em que o agente, pretendendo se envolver lascivamente com uma adolescente de 15 anos, levou-a ao chão e, imobilizando-a, “roubou-lhe” um beijo. Ação penal: pública incondicionada. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (JC – SUSPRO, ANPP) Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Objetividade jurídica: dignidade sexual da vítima, lesada diante de fraude. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa acima de 14 anos. Conduta: pune-se o estelionato sexual, em que o agente, sem usar de qualquer espécie de violência ou grave ameaça, emprega fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. Ex.: baile de máscaras em que a mulher confunde o homem achando ser seu marido e tem relações com outro achando ser seu marido, o qual não se manifesta mesmo sabendo que ela confundiu. ATENÇÃO: a fraude utilizada na execução do crime não pode anular a capacidade de resistência da vítima, caso em que será estupro de vulnerável. Ex.: agente usa psicotrópicos (“boa noite cinderela”) para vencer a resistência da vítima. Tipo subjetivo: dolo. Diverge a doutrina se o delito prescinde ou não de finalidade especial de agente. É certo, porém, que se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Consumação e tentativa: consuma-se com a prática do ato de libidinagem, sendo possível a tentativa. Ação penal: pública incondicionada. IMPORTUNAÇÃO SEXUAL Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. (JC – SUSPRO, ANPP) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa. Obs.: se for menor de 14 anos caracteriza o crime do art. 218-A. Conduta: praticar, levar a efeito, fazer, realizar ato libidinoso CONTRA ALGUÉM e SEM ANUÊNCIA para se satisfazer ou a terceiro. Deve ser praticado contra alguém, ou seja, pressupõe uma pessoa específica a quem deve se dirigir o ato de autossatisfação, assim se evita a confusão de importunação com ato obsceno. Ex.: responde por importunação quem se masturba em frente de alguém porque aquela pessoa lhe desperta um impulso sexual; mas responde por ato obsceno quem se masturba em uma praça pública sem visar alguém específico. ATENÇÃO: aplica-se crime de importunação sexual se a conduta não caracteriza crime mais grave. Por isso, a falta de anuência da vítima não pode consistir em nenhuma forma de constrangimento, que aqui deve ser compreendido no sentido próprio que lhe confere o tipo de estupro – obrigar alguém à prática de ato de libidinagem – não no sentido usual, de mal-estar, de situação embaraçosa. Tipo subjetivo: dolo. Elemento subjetivo: o crime se tipifica somente se o agente atuar com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. Consumação: prática do ato libidinoso. Tentativa: apesar de teoricamente possível, na prática parece improvável > se o agente inicia a execução de qualquer ato libidinoso, há de se reconhecer a consumação. Antes disso, ocorrem apenas atos preparatórios. Ação penal: pública incondicionada. ASSÉDIO SEXUAL Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (JESP – TP, SUSPRO) § 1º Vetado. § 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. Objetividade jurídica: delito pluriofensivo: dignidade sexual e liberdade de exercício do trabalho. Sujeito ativo: só pode ser praticado por superior hierárquico ou ascendente em relação a emprego, cargo ou função. Sujeito passivo: ser subordinado do autor. Conduta: constranger (no sentido de importunar) > insistência importuna de alguém em posição privilegiada que usa dessa vantagem para obter favores sexuais de um subalterno. Obs.:não há hierarquia entre docente e discente. Tipo subjetivo: dolo. Elemento subjetivo: finalidade especial de obter vantagem ou favorecimento sexual. Consumação: há divergência entre doutrina > um lado fala que é crime formal (se consuma com o simples constrangimento) e outro lado fala que é crime habitual (prática de reiterados atos constrangedores). Majorante: + até 1/3 se a vítima for menor de 18 anos. Ação penal: pública incondicionada. CAPÍTULO I-A DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa. (JESP – TP, SUSPRO) Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo. Objetividade jurídica: tutelar a intimidade sexual. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa. Obs.: se a vítima for mulher e o crime ocorra em ambiente doméstico e familiar, aplica-se a Lei Maria da Penha (violência psicológica). Conduta: produzir (pôr em prática, levar a efeito, realizar); fotografar (imprimir a imagem de alguém por meio da fotografia); filmar (registrar por vídeo) e registrar (alocar em base de dados) > caráter ÍNTIMO e PRIVADO > qualquer situação íntima que envolva uma ou mais pessoas em ambiente restrito, não acessível ao público. ATENÇÃO: é um crime de tipo misto alternativo > se ocorrer mais de uma ação nuclear típica responderá por apenas um crime, embora isso possa refletir na dosagem de pena. Tipo subjetivo: dolo. Consumação e tentativa: com a prática de uma das ações, sendo possível a tentativa. Ação penal: pública incondicionada. CAPÍTULO II DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL ESTUPRO DE VULNERÁVEL Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 2o (VETADO) § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 4o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. Objetividade jurídica: dignidade sexual do vulnerável. Obs.: trata-se de crime hediondo. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passível: VULNERÁVEL: • Menor de 14 anos; • Mentalmente incapaz de discernir o ato; • Por qualquer causa não tenha condições de oferecer resistência. Conduta: ter conjunção carnal ou outro ato libidinoso com vulnerável, independentemente de consentimento e de já ter praticado relações sexuais passadas. Tipo subjetivo: dolo, devendo o agente ter ciência de que age em face de pessoa vulnerável. Consumação e tentativa: prática do ato, sendo possível a tentativa. Qualificadoras: são preterdolosas (dolo no antecedente e culpa no consequente): • Lesão grave: 10 a 20 anos. • Morte: 12 a 30 anos. CORRUPÇÃO DE MENORES Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Objetividade jurídica: tutelar a dignidade da pessoa menor de 14 anos. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Percebe-se que há um triângulo constituído pelo sujeito ativo (mediador), a vítima (menor de 14 anos induzida) e o “destinatário” da atividade criminosa do primeiro. Este destinatário não pode ser considerado coautor do crime, ainda que haja instigado o autor, pois a norma exige o fim de satisfazer a lascívia de outrem (e não própria). No caso, o destinatário responde por estupro de vulnerável. Sujeito passivo: menor de 14 anos. Conduta: induz (alicia, persuade) a satisfazer a lascívia de outrem. A terceira pessoa deve ser determinada. O prazo prescricional só tem início quando a vítima completar 18 anos, salvo se antes disso a ação penal já tiver sido proposta. ATENÇÃO: o ato a que o menor vulnerável é induzido não pode consistir em conjunção carnal ou atos libidinosos diversos da cópula normal, caso em que ficará configurado o crime de estupro de vulnerável, tanto pra quem induz quanto pra quem pratica. Limita-se, portanto, às práticas sexuais meramente contemplativas. Tipo subjetivo: dolo. Consumação e tentativa: com a prática do ato que importa na satisfação da lascívia de outrem, independentemente de ter alcançado o orgasmo. Admite tentativa. Ação penal: pública incondicionada. OBSERVAR 227: Mediação para servir a lascívia de outrem Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de um a três anos. § 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. § 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência. § 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. (JUSTIÇA COMUM – ANPP) Objetividade jurídica: dignidade sexual do menor de 14 anos. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: pessoa menor de 14 anos. Conduta: praticar na presença do vulnerável conjunção carnal ou outro ato libidinoso querendo ou aceitando ser observado; induzir a vítima a praticar. Tipo subjetivo: dolo, com finalidade especial de satisfazer lascívia. ATENÇÃO: a idade da vítima deve ser conhecida pelo agente. Consumação e tentativa: com a prática ou induzimento. Admite tentativa. Ação penal: pública incondicionada. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. §1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. §2º Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. §3º Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. Fere o princípio da intranscendência (a pena de pessoas físicas passam pra pessoasjurídicas) Objetividade jurídica: tutela-se a dignidade sexual de vulnerável que é submetido, induzido ou atraído à prostituição. Sujeito ativo: qualquer pessoa. No caput é aquela pessoa que convida, que oferece; no §2º, I é aquele que pratica a conjunção carnal; no II é o proprietário, gerente ou responsável do local que ocorrem os atos. Sujeito passivo: MENOR DE 18 ANOS ou DEFICIENTE MENTAL SEM DISCERNIMENTO DO ATO. Tipo objetivo: são 6 ações nucleares típicas: submeter (sujeitar); induzir (instigar); atrair (aliciar); facilitar (proporcionar meios); impedir (se opor); dificultar (criar obstáculos). A conduta pode ser comissiva ou omissiva (quando o agente tem o dever jurídico de impedir que a vítima ingresse na prostituição e nada faz, aderindo subjetivamente à conduta). Tipo subjetivo: dolo, sem finalidade específica. Consumação e tentativa: nas modalidades submeter, induzir, atrair e facilitar, consuma-se o delito no momento em que a vítima passa a se dedicar à prostituição, colocando-se de forma constante a disposição dos clientes, ainda que não tenha atendido nenhum. Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono, o crime se consuma no momento em que a vítima delibera por deixar a atividade e o agente obsta esse intento, protraindo a consumação durante todo o período do embaraço (crime permanente). Tentativa é possível. Figuras equiparadas: • o cliente do cafetão (agenciador dos menores de 18 anos), que tenha conhecimento da exploração sexual, será punido com as mesmas penas; • o proprietário, gerente ou responsável também ocorrerão na mesma pena Obs.: nas hipóteses equiparadas é indispensável que o participante do ato sexual saiba que a vítima é menor de 18 anos e maior de 14, sexualmente explorada. Já o proprietário, o gerente ou o responsável do local deve saber que ali se realizam as práticas referidas no caput, evitando-se a responsabilidade penal objetiva. Ação penal: pública incondicionada. DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave. (JUSTIÇA COMUM – SUSPRO, ANPP) Aumento de pena §1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. Exclusão de ilicitude § 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos. Objetividade jurídica: tutelar a intimidade sexual. Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. Sujeito passivo: qualquer pessoa. Conduta: são 9 ações nucleares: oferecer (propor para aceitação); trocar (permutar); disponibilizar (permitir o acesso); transmitir (remeter de um lugar ao outro); vender (ceder em troca de determinado valor); expor à venda (oferecer para alienação); distribuir (proporcionar entrega indeterminada); publicar (tornar manifesto) ou divulgar (propagar). Obs.: não são punidas as condutas de aquisição, posse e armazenamento (ao contrário das condutas do ECA). Tipo subjetivo: dolo. Consumação e tentativa: no momento em que se consuma uma das ações nucleares típicas. A tentativa é possível, exceto na ação de oferecer. Majorante: +1/3 a 2/3 se cometido: • por quem mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima: pode ser casamento; união estável; namoro. Não se inserem relações casuais, sem maior vínculo entre o agente e a vítima > o fundamento da punição mais severa é a traição da confiança; • se tiver finalidade de vingança ou humilhação: não há necessidade de prévia relação íntima de afeto, embora o mais comum seja que ela exista. Ação penal: pública incondicionada. CAPÍTULO IV DISPOSIÇÕES GERAIS AÇÃO PENAL DE TODOS OS ARTIGOS ACIMA: AÇÃO PENAL Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública incondicionada. Aumento de pena Art. 226. A pena é aumentada: I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela; IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: Estupro coletivo a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; Estupro corretivo b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. Estupro corretivo: correção de comportamento da vítima CAPÍTULO V DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de um a três anos. § 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. § 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência. § 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. Objetividade jurídica: moral sexual e liberdade sexual (quando envolve violência, ameaça e fraude). Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. ATENÇÃO: aquele que tiver sua lascívia satisfeita não comete crime, ainda que haja instigado o mediador, pois a norma exige o fim de satisfazer a lascívia de outrem (e não a própria). Sujeito passivo: qualquer pessoa. Conduta: induzir (aliciar, persuadir). Há a formação de um triângulo. Tipo subjetivo: dolo, consistente na vontade de induzir a vítima a satisfazer a lascívia de outrem. Consumação e tentativa: com o ato que importe na satisfação da lascívia de outrem, independente de se considerar satisfeito. Qualificadoras: • vítima menor de 14 e maior de 18. ATENÇÃO: se a vítima tiver menos de 14, aquele que teve relação com ela responderá por estupro de vulnerável (218) = 2 a 5 anos. • Agente possui relação familiar = 2 a 5 anos. • Violência, grave ameaça ou fraude = 2 a 8 anos. • Finalidade de lucro = +multa. Ação penal: pública incondicionada. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. §1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. §2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência. §3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-setambém multa. Objetividade jurídica: tutelar a dignidade sexual. Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. Sujeito passivo: qualquer pessoa maior de 18 anos e que tenha discernimento para o ato (se não for assim, se enquadra no 218-B). Conduta: são 5 ações nucleares: induzir (inspirar); atrair (aliciar); facilitar (afastar dificuldades), impedir (se opor); dificultar (criar obstáculo). Tipo subjetivo: dolo. Consumação e tentativa: • Induzir, atrair e facilitar: no momento em que a vítima passa a se dedicar à prostituição ou outra forma de exploração sexual, colocando-se a disposição dos clientes, ainda que não tenha atendido nenhum; • Impedir ou dificultar o abandono da exploração sexual: momento em que a vítima delibera por deixar a atividade e é obstada. Ação penal: pública incondicionada. CASA DE PROSTITUIÇÃO Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiros, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Objetividade jurídica: combater a exploração sexual. Sujeito ativo: qualquer pessoa, não só o proprietário, mas também qualquer um que tenha a posse ou a gerência do estabelecimento. Sujeito passivo: pessoa explorada sexualmente. Se o sujeito passivo for maior de 14 e maior de 18, o crime será 218- B, §2º, inciso II. Se menor de 14, o responsável do estabelecimento responderá como partícipe do crime de estupro de vulnerável. Conduta: manter, sustentar, conservar, por conta própria ou de terceiros, local que sirva à exploração sexual. O STJ decidiu que não há crime se não demonstrada a violação da liberdade de quem exerce a mercancia sexual. Tipo subjetivo: dolo. Consumação e tentativa: manutenção do estabelecimento > crime habitual. Não se admite tentativa. Ação penal: pública incondicionada. RUFIANISMO Art. 230. Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. §1º Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. §2º Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência. Rufião é a pessoa que intermedia a prática sexual > ganha dinheiro com a prostituição alheia. Objetividade jurídica: proteção àqueles que se dedicam ao meretrício. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Se o agente tem relação familiar é qualificadora: 3 a 6 anos. Sujeito passivo: pessoa que se dedica à prostituição, tendo sua atividade explorada pelo rufião. Se for menor de 18 e maior de 14 é qualificadora: 3 a 6 anos e multa. Conduta: tirar proveito da prostituição (vantagem dos lucros do trabalho da prostituta embora não precise desse sustento); fazer-se sustentar (participa dos lucros, sendo sua única forma de sustento). Tipo subjetivo: dolo. Consumação e tentativa: crime habitual que ocorrerá com a prática de atos reiterados de obtenção de proveito ou de sustento por parte do rufião. Não cabe tentativa. ATENÇÃO: é perfeitamente possível o concurso material entre casa de prostituição e rufianismo, sendo claro que o primeiro não é absorvido pelo segundo. Ação penal: pública incondicionada. PROMOÇÃO DE MIGRAÇÃO ILEGAL Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. §1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país estrangeiro. §2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se: I - o crime é cometido com violência; ou II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante. §3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às infrações conexas. Sujeito ativo: qualquer pessoa > crime comum. ATENÇÃO: o migrante ilegal não comete o crime, pois o tipo pune a promoção da migração de terceiro com o intuito de obter vantagem econômica. Sujeito passivo: Estado, que deixa de exercer o direito de controle sobre o trânsito de estrangeiros no país. Conduta: promover, impulsionar, por qualquer meio. Tipo subjetivo: dolo. Elemento subjetivo: vantagem econômica. Consumação e tentativa: com a entrada ilegal do brasileiro em outro país ou com a saída do estrangeiro do território brasileiro. Majorantes: +1/6 a 1/3 se é cometido com violência, grave ameaça ou se a vítima é colocada em situação desumana. CAPÍTULO VI DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR ATO OBSCENO Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Objetividade jurídica: pudor público, moralidade coletiva. Sujeito ativo: crime comum. Sujeito passivo: coletividade. Conduta: praticar ato obsceno em local público (praças, ruas); local aberto ao público (onde qualquer um possa entrar); local exposto ao público (local privado, mas que pode ser visto por nº indeterminado de pessoas). Tipo subjetivo: dolo. Consumação e tentativa: não se exige que o ato tenha sido presenciado por alguém, bastando a possibilidade. A maioria da doutrina admite tentativa. É prescindível que o presente se sinta ofendido com o ato. Ação penal: pública incondicionada. ESCRITO OU OBJETO OBSCENO Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo; II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter; III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno. Objetividade jurídica: pudor público. Sujeito ativo: crime comum. Sujeito passivo: coletividade. Conduta: possui 5 núcleos. Tipo subjetivo: dolo. Consumação e tentativa: não há necessidade de ofensa, apenas a prática de uma das ações nucleares. Formas equiparadas: • Vende, distribui, expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos. Aqui também não se exige a efetiva lesão ao pudor público. • Realizar, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo que tenha o mesmo caráter. • Realizar, em lugar público ou acessível ao público, ou pela rádio, audição ou recitação de caráter obsceno. Ação penal: pública incondicionada. CAPÍTULO VII DISPOSIÇÕES GERAIS AUMENTO DE PENA Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: I – (VETADO); II – (VETADO); III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime RESULTA GRAVIDEZ; IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosaou pessoa com deficiência. Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.
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