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Por meio da ADPF nº 347, o Supremo Tribunal Federal indicou como estado de coisa inconstitucional o sistema penitenciário brasileiro. Isso, na verdade, não foi nenhuma surpresa, na medida em que o próprio saber popular já entende as condições deploráveis em que são estruturadas as prisões brasileiras. A título de conceituação, o Estado de Coisas Inconstitucional (ECI) se trata de uma técnica desenvolvida pela Colômbia, que visa proteger a dimensão objetiva dos direitos fundamentais frente a omissão estatal que pode implicar em violação massiva e continua de referidos direitos (CAMPOS, 2019). Não obstante a vergonha de termos prisões que não garantam o mínimo de dignidade humana aos criminosos, não podemos negar que estas situações constituem os maiores incubadores da criminalidade. Ora, as prisões brasileiras, sob a ótica da Constituição Federal de 1988, tem como objetivo a RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO. Tal ressocialização não é possível quando as prisões se encontram em situações de extrema miserabilidade e de violação aos próprios preceitos constitucionais. Isso implica no alto índice de reincidência, na violência dentro das prisões, na marginalização do preso após o cumprimento da pena e na estigmatização social referente às pessoas apenas. Atualmente, mesmo a Constituição vedando a aplicação de penais cruéis, o próprio sistema prisional, em si, já se apresenta como uma crueldade sem tamanha. Há, além da segregação social, um claro perfil individual sobre quem comporta essas prisões (jovens negros) o que põe em pauta mais uma discussão acerca do sistema prisional brasileiro: a segregação racial que ele estabelece na sociedade, por meio da banalização da aplicação de penas privativas de liberdade e da naturalização das situações precárias em que se encontram os presídios. Trata-se de uma nova forma de escravidão, na medida em que as pessoas negras entram dentro das prisões e são estigmatizadas de modo que, ao saírem, dificilmente conseguem superar o estigma, e acabam voltando a cometer crimes (BORGES, 2020). Vale ressaltar que as prisões como são concebidas atualmente nem sempre existiram. Foi a partir do Iluminismo que uma série de teorias foram criadas para que fossem desenvolvidos sistemas penitenciários voltados à humanização e ressocialização o preso. Autores como Beccaria já concebiam, em sua época, noções de prisão de extrema humanização e contemporâneas, mesmo que um pouco mais conservadoras do que as ideias propostas pelos progressistas contemporâneos (BITTENCOURT, 2020). REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bitencourt, C. R. TRATADO DE DIREITO PENAL 1 - PARTE GERAL. [Digite o Local da Editora]: Editora Saraiva, 2021. 9786555590333. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590333/. Acesso em: 19 Nov 2021 BORGES, Juliana. Encarceramento em massa. São Paulo: Jandaíra; Fundação Sueli Carneio, 2020 CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Estado de coisas inconstitucional. Salvador: JusPodivm, 2019.
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