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INTRODUÇÃO À PEDAGOGIA Daiane Duarte Lopes Revisão técnica Marcia Paul Waquil Assistente Social Mestre em Educação Doutora em Educação Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 L732i Lima, Caroline Costa Nunes. Introdução à pedagogia / Caroline Costa Nunes Lima, Daiane Duarte Lopes, Alex Ribeiro Nunes ; [revisão técnica: Marcia Paul Waquil]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 207 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-376-5 1. Pedagogia. I. Lopes, Daiane Duarte. II. Nunes, Alex Ribeiro. III. Título. CDU 37.01 Perspectiva crítica e evolutiva Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar a formação de pedagogos por meio de uma perspectiva crítica e evolutiva. Reconhecer os estudos de Paulo Freire acerca da Pedagogia Crítica no Brasil. Identificar, na prática do pedagogo no contexto atual, a influência da perspectiva crítica de formação. Introdução Neste capítulo, você vai analisar a formação de pedagogos em uma perspectiva crítica e evolutiva e a sua importância no contexto atual. Além disso, terá condições de aprofundar seus estudos sobre Paulo Freire e sobre a Pedagogia Crítica. Perspectiva crítica e evolutiva sobre a formação do pedagogo A formação do pedagogo é efetivada em meio à troca de saberes e comumente atravessada pela comunicação de percepções e experimentações das ativida- des vivenciadas, nas quais comportamentos, habilidades e valores existentes são estimulados a ecoar conforme houver ressonância nos sujeitos, sendo a caracterização do ato educativo inerente à formação do pedagogo como um intercessor, com vistas ao estímulo do desenvolvimento dos sujeitos no pro- cesso sociocultural. Dessa maneira, a cultura gerada pelas trocas de saberes tende a se converter em patrimônio aos sujeitos de um mesmo contexto, inspirando e reproduzindo novos saberes a outros que estejam em contextos diferentes (SCHMIED-KOWARZIK, 1983). Por exemplo, uma experiência de ensino, bem-sucedida em um determinado ambiente, tende a ser comunicada e experimentada em outros contextos, mas tem como premissa o respeito às singularidades do local. Nesse sentido, a formação do pedagogo se disponibiliza a viabilizar e conceber modos de humanizar os conhecimentos em meio à dinâmica das relações sociais na sociedade (SCHMIED-KOWARZIK, 1983). Ou seja, a relação entre os ambientes educacionais e a sociedade são caminhos que articulam os conteúdos com a complexidade de ser e estar, característica de viver da sociedade atual. Por meio de processos educativos intencionalmente estabelecidos, a forma- ção pedagógica tem, como seu percurso, um campo de estudos que se ocupa dos fundamentos e das condições de possibilidades de encontros transcorridos entre quem ensina e quem aprende de maneira dialética. Ocorre que, em função de um saber a ser comunicado ou de uma percepção de mundo a ser transmitida, a formação do pedagogo cuida da formação humana e social (BRZEZINSKI, 1996). A formação do pedagogo pressupõe, desse modo, a intencionalidade de- finindo objetivos, finalidades e formas de intervir, ofertando, assim, uma direção de sentido ao processo educacional (BRZEZINSKI, 2011). A formação do pedagogo incidirá sobre seu fazer e, consequentemente, sobre a vida dos sujeitos a quem direcionará sua prática, prolongando o ato pedagógico para além dos tempos, muitas vezes refletindo sobre o desenvolvi- mento das atividades de todo o viver dos sujeitos, em suas tarefas, seus estudos, seus trabalhos, suas participações em grupo, entre outros (NÓVOA, 1992). A formação do pedagogo deve, de preferência, ser constantemente redi- mensionada, reconhecendo o pedagogo como o cientista da educação, visto que, em seu campo prático e teórico, produz significados sobre fenômenos educativos, enquanto expressão de interesses sociais. Ou seja, a ação educa- tiva está relacionada com o projeto de gestão social e política da sociedade (NÓVOA, 1992). A escola, enquanto ambiente educacional, exerce função social essencial à formação da cidadania. As ações educativas se constituem como resultado da necessidade de elaboração de saberes e valores transmitidos pela sociedade (BRZEZINSKI, 2011). A condição social do sujeito está associada às experiências pedagógicas, as quais estiveram expostas e participativas, ocasionando a sua responsabilização e seu comprometimento com o viver em sociedade. Independente do ambiente no qual o pedagogo está inserido, por intermédio de sua prática pedagógica, constitui-se um espaço para a realização das relações institucionais e inter- Perspectiva crítica e evolutiva2 pessoais, desencadeando, a partir disso, tanto a mediação dos saberes, como os valores e as disposições internas. Assim, podemos compreender que a formação do pedagogo incide sob uma multiplicidade de dimensões no fazer pedagógico, ocasionando uma ampliação da formação integral dos sujeitos (BRZEZINSKI, 1996). O processo educativo da formação do pedagogo é viabilizado também como prática social. A prática pedagógica desenvolvida a partir da formação do pedagogo se constitui em meio às relações entre grupos e classes sociais, por meio da mediação pedagógica. Assim, a formação pedagógica carrega em si finalidades sociopolíticas, bem como formas de intervenção organizativas e metodológicas do ato educativo (BRZEZINSKI, 2011) (Figura 1). Figura 1. Práticas pedagógicas. Fonte: Timelynx/Shutterstock.com. A formação pedagógica propõe objetivos e formas de intervenção na pro- dução da cidadania, ao mesmo tempo em que promove a singularização em cada ser (PIMENTA, 2001). A partir desse entendimento, lançamos olhar com perspectivas críticas e evolutivas na formação do pedagogo por meio de uma condicionalidade dialógica entre a sua prática e o embasamento teórico e legal que a sustenta. 3Perspectiva crítica e evolutiva Tendo em vista que a formação pedagógica se estrutura em meio às relações sociais, entre grupos sociais com uma diversidade de interesses recorrentemente contrários e, dessa maneira, inerentemente envolvidos com as desigualdades sociais, a contextualização sociocultural da prática pedagógica é de extrema importância, tanto para a formulação do pedagogo, quanto para a Pedagogia como campo científico (PIMENTA, 2001). A formação pedagógica implica a humanização e, por consequência, as transformações das relações. Interessa, portanto, que a formação do pedagogo resgate os processos educacionais direcionados às constantes mudanças no desenvolvimento hu- mano. Dessa maneira, a concepção crítica e evolutiva sob os movimentos de reorientação curricular dos cursos de graduação constituem um processo histórico em constante e permanente elaboração. Você pode acompanhar no site do Ministério da Educação (MEC) todos os pareceres e a resolução que direcionam o curso de Pedagogia no Brasil: Parecer CNE/CP nº 5/2005, aprovado em 13 de dezembro de 2005, sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. Parecer CNE/CP nº 3/2006, aprovado em 21 de fevereiro de 2006. Reexame do Parecer CNE/CP nº 5/2005, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em Pedagogia – Licenciatura. Parecer CNE/CP nº 3/2007, aprovado em 17 de abril de 2007. Consulta sobre a implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, de- correntes da aprovação dos Pareceres CNE/CP nº 5/2005 e nº 3/2006, bem como da publicação da Resolução CNE/CP nº 1/2006. Parecer CNE/CP nº 9/2009, aprovado em 2 de junho de 2009. Esclarecimento so- bre a qualificação dos licenciados em Pedagogia antes da Lei nº 9.394/96 para o exercício das atuais funções de gestão escolar e das atividades correlatas e sobre a complementação de estudos com apostilamento. Perspectiva crítica e evolutiva4 Freire e a Pedagogia Críticano Brasil As percepções de Freire sobre os aspectos de empoderamento e o potencial democrático da educação o estimularam a desenvolver a linguagem de uma Pedagogia Crítica e de uma educação da esperança, sendo esses os seus maiores legados. Orientado pela crença de que valia a pena lutar pela democracia, trilhou seu viver guiado pelo pensamento de que a educação crítica é um elemento fundamental para a mudança social. Paulo Freire confi ava que a forma como os sujeitos pensam sobre política não pode ser distinguida da forma como o mundo é compreendido, entendendo a democracia como dependente da cultura que a sustenta, ou seja, a cultura pode estimular ou extinguir a democracia e como ela se apresenta (GIROUX, 2016). Nascido em Pernambuco, no Recife, em 1921, teve como pai um capitão da Polícia Militar e como mãe uma dona de casa, vivendo uma infância com muitas dificuldades financeiras e a miséria da crise de 1929 que assolou o país. Quando Freire tinha 13 anos, seu pai faleceu, ficando então com seus três irmãos sob responsabilidade da mãe, dona Edeltrudes. As restritas condições financeiras levaram a mãe de Freire a solicitar ajuda ao diretor do Colégio Oswaldo Cruz, o qual concedeu a esta matrícula gratuita e oportunizou a tarefa de ser auxiliar de disciplina e, posteriormente, professor de língua portuguesa (SCHMIED-KOWARZIK, 1983). Em 1943, Freire ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Em 1944, casou-se com Elza Maria, professora primária, com quem teve 5 filhos. Depois de formado, continuou como professor de português no Colégio Oswaldo Cruz e de Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco. Foi nomeado diretor do setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria aos 26 anos. Fundou, em 1955, o Instituto Capibaribe, no Recife, junto com outros educadores, com uma proposta de escola inovadora, atraindo diversos intelectuais (SCHMIED-KOWARZIK, 1983). Educador crítico com os meios de exploração do trabalho e preocupado com o grande número de adultos analfabetos na área rural dos estados nor- destinos, por entender estes como excluídos, Freire desenvolveu um método de alfabetização de acordo com o vocabulário do cotidiano e da realidade de quem estava aprendendo. Freire imaginou que seria mais adequado conversar sobre a realidade vivida e utilizar as palavras do contexto social desses sujeitos na alfabetização. Esse processo desencadeou nos alunos a problematização de questões sociais relacionadas ao trabalho e, a partir de palavras base somadas às discussões sobre seus cotidianos, acontecia a expansão para novas palavras, bem como a ampliação do vocabulário. 5Perspectiva crítica e evolutiva Com o Golpe Militar de 1964, Freire foi acusado de comunista e agitador, sendo levado para a prisão, onde ficou por 70 dias. Foi exilado no Chile e durante 5 anos desenvolveu trabalhos em programas de educação de adultos no Instituto Chileno para a Reforma Agrária. Entre 1969 e 1980, lecionou em Harvard, foi consultor especial do Departamento de Educação do Conselho Municipal das Igrejas, em Genebra, na Suíça, e deu consultoria educacional em vários países do terceiro mundo, bem como em países africanos de colonização portuguesa, como Guiné-Bissau e Cabo Verde. Em 1980, retornou ao Brasil, foi professor da UNICAMP e da PUC de São Paulo e foi ainda Secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo, na gestão da prefeita Luisa Erundina, entre 1989 e 1991, quando criou o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), um modelo de programa público de apoio a salas comunitárias de Educação de Jovens e Adultos (EJA), o qual é adotado por numerosas prefeituras e outras instâncias de governo até hoje. Em 1991, foi fundado, em São Paulo, o Instituto Paulo Freire para estender e elaborar as ideias desse educador, onde são mantidos os seus arquivos, além de serem realizadas numerosas atividades relacionadas com o legado e a atuação em temas da educação brasileira e mundial do pensador (SCHMIED- -KOWARZIK, 1983). Freire foi e continua sendo mundialmente reconhecido por sua contribuição para a educação e ainda é o brasileiro com mais títulos de Doutor Honoris Causa, somando 41 ao todo, entre os quais estão as universidades: Harvard, Cambridge e Oxford. Intitulado professor emérito de cinco universidades, incluindo a Universidade de São Paulo (USP), também foi agraciado com títulos conferidos pela comunidade internacional, como o prêmio da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) de Educação para a Paz, em 1986. Considerado o melhor gestor educacional da história paulistana, Freire foi aclamado Presidente de Honra da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Foi reconhe- cido como patrono da educação brasileira em 2012, estabelecido pela Lei nº 12.612, por dedicar grande parte de sua vida à alfabetização e à educação da população pobre. Faleceu em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997, aos 76 anos (SCHMIED-KOWARZIK, 1983). Freire (2008) refletiu sobre o silenciamento da classe operária e do traba- lhador rural, as quais eram constituídas, predominantemente, de analfabetos residentes das áreas de maior miséria do país. Seus estudos formaram base para o desenvolvimento de uma pedagogia crítica e reflexiva, desencadeando um método por meio da busca para inserir sentido à realidade, à natureza, aos Perspectiva crítica e evolutiva6 propósitos e às identidades entre excluídos, marginalizados e explorados, os quais chamou de oprimidos. Freire (2008) referiu o conceito de bancário, para a relação professor/aluno, enquanto depositário e depósito de conhecimentos, inferindo sobre essa relação o papel de dominador da educação. A partir disso, Freire (2008) desenvolveu a concepção de educação dialógica, estimulando a reflexão em uma educação que ofereça espaço para o diálogo entre educando, educador e ensino. Para Freire (1982), o principal objetivo da prática do educador é abrir es- paço para a reflexão, possibilitando que os educandos possam construir seus saberes por meio do conteúdo, ou seja, os saberes são constituídos na interação de conhecimentos em meio a um fluxo contínuo, inacabado e polivalente. O educador, desse modo, deve considerar seu trabalho como a construção de uma estrada por onde passará uma diversidade ilimitada de conhecimentos. Nesse sentido, Freire alertou sobre a possibilidade restritiva da relação entre sujeitos e espaços histórico-culturais que se invadem em um jogo de manipulação e conquista, no qual “Manipulação e conquista, são expressões da invasão cultural e, ao mesmo tempo, instrumentos para mantê-la, não são caminhos de libertação. São caminhos de domesticação” (FREIRE, 1982, p. 46) , referindo-se a espaços de ensino tecnicista, os quais são ancorados na memorização conteudista e na reprodução limitada do pensar. Com base no humanismo, Freire alertava sobre a aceitação da manipulação e da conquista como um limitador das interações, referindo que, para ser um humanista, é necessário seguir o caminho da dialogicidade, uma vez que ser dialógico é vivenciar o diálogo, sem jamais invadir, impor ou manipular (SCHMIED-KOWARZIK, 1983). Desse modo, o educador deve cuidar para que a interação se desenvolva de maneira fluídica, sem usar de sua posição para engendrar modos de ser, pensar, agir, conhecer, entre outros. Assim, a educação sob a ótica da Pedagogia Crítica se estrutura na trans- formação constante da realidade, por intermédio da reflexão e do diálogo em busca da humanização de si, de suas relações e do seu contexto, constituindo-se enquanto libertadora e conscientizadora. A obra de Paulo Freire ainda é uma das mais consultadas e referenciadas no mundo inteiro. Ela já foi traduzida para mais de 30 idiomas e reclama transformações culturais de extrema importância, lançando olhar e acolhendo as vozes dos povos oprimidos, direcionando-as à liberdade e à ressignificação darealidade, contribuindo para o caminho da transformação. Como acreditou Freire (1992), não é possível a existência de experiência de mudança sociopolítica sem o desenvolvimento da consciência crítica e reflexiva acerca da realidade. 7Perspectiva crítica e evolutiva Para saber mais, leia FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. A influência da perspectiva crítica da formação na prática do pedagogo no contexto atual A formação do pedagogo, constituída sob a perspectiva crítica, promove uma permanente correlação entre a teoria dos estudos, das pesquisas e da legislação com a prática pedagógica. Dessa maneira, seu posicionamento conectado às mudanças e às propostas de reformulações, constantes aos cursos de Gra- duação de Pedagogia, busca projetar a prática do pedagogo como um fazer intencionalmente dirigido para a formação humana (BRZEZINSKI, 1996). A formação do pedagogo incide sobre sua prática, assim, quanto maior o conhecimento sobre as diferenças, as mudanças e as problematizações da realidade, por meio de conteúdos e habilidades de pensamento, atitudes, responsabilização, valores e compromissos éticos, mais a sua prática estará vinculada aos processos metodológicos e organizacionais emancipatórios e transformadores. É possível, dessa forma, compreender a prática do pedagogo sob as perspectivas críticas de sua formação, enquanto agente de transformação, tanto nas instâncias educacionais, como nas sociais, bem como na resistência às forças de dominação (BRZEZINSKI, 1996). As diferenças e as adversidades encontradas no campo prático do pedagogo se constituem como estímulo para o desenvolvimento de novos métodos, novas abordagens, novas estratégias e novas crenças sobre modos e meios de ensino que possam viabilizar a aprendizagem com integralidade e comprometimento, incluindo, dessa forma, as diversidades no contexto educacional como possi- bilidades enriquecedoras para as experiências pedagógicas. Pode-se destacar o campo da diversidade em suas múltiplas expressividades e orientações, tais como: social, cultural, econômica, de gênero, de raça, de etnia, de crenças; nos mais variados grupos: de pessoas com deficiência, de populações do campo, de diferentes orientações sexuais, de sujeitos em situação de vida nas ruas das cidades, dos que estão em privação de liberdade, bem como todos os que compõem a pluralidade da sociedade, sem, no entanto, deixar de lado a singularidade do viver de cada sujeito (LIBÂNEO, 2012). Perspectiva crítica e evolutiva8 Assim, para haver uma contribuição efetivamente transformadora da forma- ção do pedagogo em sua prática no contexto atual, os legisladores e o sistema político, bem como os pesquisadores da área da educação, precisam dispor, junto às análises políticas e sociológicas da educação, uma análise pedagógica construída a partir do olhar do pedagogo. Por meio da análise pedagógica pensada, elaborada e experimentada por pedagogos, será estruturada uma prática pedagógica materializada na atuação integral destes e no desenvol- vimento dos sujeitos nas diversas condições socioculturais e institucionais (BRZEZINSKI, 1996). Dessa maneira, uma perspectiva efetivamente crítica valoriza uma política educacional formulada para e na realidade em que se encontra, pensando sobre os processos de ensino-aprendizagem nos mais complexos âmbitos práticos, da ordem interna para a externa. Ou seja, levam-se os desafios do campo prático pelo olhar, pela percepção e pela voz do pedagogo e do contexto para a elaboração de possíveis soluções (GIROUX, 2016). A criação de leis, a construção de reformas, o estabelecimento de metas quantitativas, bem como o uso de tecnologias de informação e comunicação para a criação de mecanismos de eficiência e de controle, contribuem para a ampliação e a manutenção da qualidade dos processos de ensino-aprendizagem (CURY, 2002). De acordo com Libâneo (2012), ainda há na atualidade um distanciamento entre o que a formação expõe e o que a prática impõe. Nesse sentido, torna-se restrito pensar a prática da Pedagogia apenas sob o âmbito teórico, tendo em vista a necessidade da presença, da percepção, do corpo e do sentido para sua compreensão, sendo assim, é necessário conectar o que está escrito às vivências e às problematizações sobre a realidade. Acompanhe no link abaixo a reflexão do Prof. André Azevedo da Fonseca, no vídeo Ensinar Exige Reflexão Crítica Sobre a Prática - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, sobre a Pedagogia da Autonomia, no qual o ensino e a aprendizagem envolvem o movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre o próprio fazer. https://goo.gl/UfBc6W 9Perspectiva crítica e evolutiva A prática pedagógica carrega em si um valor intrínseco: a intenciona- lidade sobre o desenvolvimento humano à constituição integral do sujeito. Desse modo, a formação do pedagogo necessita estar conectada tanto com o desenvolvimento individual, como com as relações entre os sujeitos em seus contextos e grupos sociais (LIBÂNEO, 2012). O pedagogo é o mediador do encontro do sujeito com os objetos de apren- dizagem e conhecimento. Ele apresenta o universo por intermédio dos con- teúdos, auxiliando o desenvolvimento do pensamento, das habilidades e das atitudes. No caminho para o domínio dos conhecimentos e a expansão das aprendizagens, o pedagogo deve estar disponível como agente facilitador. Na atualidade, com o fluxo constante de informações e as ideias inovadoras, é solicitado, na prática do pedagogo, o estímulo do hábito para um raciocínio crítico e com autonomia de pensamento (BRZEZINSKI, 1996). Segundo Libâneo (2012), a prática do pedagogo sob a perspectiva crítica estabelece constantemente uma luta contra a exclusão social, bem como para a elaboração de uma sociedade mais justa. Dessa forma, o desafio que se apresenta para a formação do pedagogo está em manter proximidade com a prática do pedagogo, ao mesmo tempo em que este se mantém conectado ao sujeito pelo contexto em que se desenvolve o processo de ensino-aprendizagem, tanto na singularidade, quanto na pluralidade da realidade na qual está inserido. A prática pedagógica se beneficia estando sensível à realidade em que está disposto. Por exemplo: em uma sala de aula, com 20 alunos, com idades entre 10 e 12 anos, os educandos moradores de uma comunidade carente de uma grande cidade foram estimulados a organizar um painel expositivo sobre a realidade de seu contexto. A partir desse painel, foi proposta uma reflexão sobre as possibilidades de transformação desse local relatado. Dessa forma, o pedagogo pôde contribuir com seu fazer pedagógico e com os aprendizados que as crianças podem levar para seus lares, de modo que estas possam reproduzir um pensamento crítico sobre o ambiente em que vivem e estimulem o pensamento sobre mudança e criação de soluções. Perspectiva crítica e evolutiva10 1. A formação do pedagogo se dispõe a viabilizar e conceber modos de humanizar os conhecimentos em meio a quais elementos? a) Dinâmica das relações sociais. b) Composições dos conteúdos programáticos. c) Previsões dos projetos políticos pedagógicos dos cursos de graduação. d) Diretrizes de normas e leis vigentes relacionadas à educação. e) Teorias e métodos educacionais. 2. Independente do ambiente em que o pedagogo está inserido, ele, por meio de sua prática pedagógica, constitui um espaço para quais possibilidades? a) Jogos de poder entre educadores e educandos. b) Realização das relações institucionais e interpessoais. c) Inserir conhecimentos nos educandos. d) Promover o respeito às normas e regras do ambiente educacional. e) Limitar a desordem por meio de sistemas de contensão dos educandos. 3. Para Freire (1982), qual o principal objetivo da prática do educador? a) Atribuir conhecimento conforme o conteúdo do planejamento pedagógico. b) Disponibilizar conteúdos. c) Possibilitar espaçopara reflexão. d) Explorar o que o sistema educacional pode oferecer. e) Intervir sobre o quanto o educando pode respeitar e aceitar suas condições sociais. 4. Como se estrutura a educação sob a ótica da Pedagogia Crítica? a) De acordo com as diligências de cada ambiente educacional. b) Por meio de congressos e conferências. c) Por meio das teorias base dessa Pedagogia. d) Na busca pela transformação constante da realidade. e) Conforme as normativas previstas pelas leis educacionais vigentes. 5. Na prática do pedagogo, o que o campo da diversidade, em suas múltiplas expressividades e orientações, constitui? a) Responsabilidade das instâncias governamentais. b) Responsabilidade das coordenações pedagógicas. c) Limitadores da prática pedagógica. d) Problemas difíceis de serem resolvidos. e) Estímulo para o desenvolvimento de novas estratégias. 11Perspectiva crítica e evolutiva BRZEZINSKI, I. Pedagogia, pedagogos e formação de professores. Campinas, SP: Papirus, 1996. BRZEZINSKI, I. Pedagogo: delineando identidades. Revista UFG, ano 13, n. 10, p. 120- 132, 2011. CURY, C. R. J. Legislação educacional brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. FREIRE, P. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991. FREIRE, P. Extensão ou comunicação?. 6.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. FREIRE, P. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. GIROUX, H. A. Pedagogia crítica, Paulo Freire e a coragem para ser político. Revista e-Curriculum, v. 14, n. 01, p. 296-306, 2016. LIBÂNEO, J. C. Identidade da pedagogia e identidade do pedagogo. In: BRABO, T. S. A. M.; CORDEIRO, A. P.; MILANEZ, S. G. C. (Org.). Formação da pedagoga e do pedagogo: pressupostos e perspectivas. Marília, SP: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. p. 11-34. NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992. p. 13-33. PIMENTA, S. G. (Coord.). Pedagogia, ciência da educação?. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. SCHMIED-KOWARZIK, W. Pedagogia dialética: de Aristóteles a Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1983. Leitura recomendada FREIRE, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012. Perspectiva crítica e evolutiva12 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.