Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS Prof. Dr. Éder Rodrigo Gimenes Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração Douglas Crivelli Revisão Textual Leandro Vieira Web Designer Thiago Azenha FATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Políticas Públicas e Sociais Éder Rodrigo Gimenes Paranavaí - PR.: Fatecie, 2018. 81 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira da Silva. As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock PALAVRA DA DIREÇÃO Prezado Acadêmico (a), É com muita satisfação que inauguramos um novo mundo de oportunidades e expansão de nossa instituição, que estrapolam os limites físicos e permite por meio da tecnolgias digitais que o processo ensino educação ocorra de formas ainda mais dinâmicas e em consonância com o estilo de vida da sociedade contemporânea. Empregamos agora no Ensino a Distância toda a dedicação e recursos para oferecer a você a mesma qualidade e excelência que virou a marca de nosso grupo educanional ao longo de nossa história. Queremos lembrar a você querido aluno (a), que a Faculdade Fatecie nasceu do sonho de um grupo de professores em contribuir com a sociedade por meio da educação. Motivados pelo desafio de empreender, tornaram o sonho realidade com a autorização da faculdade fatecie no ano de 2007. Desde o princípio a fatecie parte da crença no sonho coletivo de construção de uma sociedade mais democrática e com oportunidades para todos, onde a educação prepara para a cidadania de qualidade. Toda dedicação que a comunidade acadêmica teve ao longo de nossa história foi reconhecido ao conquistarmos por duas vezes consecutivas o título de Faculdade Número 1 do Paraná. Um feito inédito para paranavaí e toda região noroeste. No ranking, divulgado pelo mec em 2014 e 2015, a Fatecie foi destaque como a faculdade melhor avaliada em todo o estado. Posição veiculada em nível nacional pela Revista Exame e Folha de São paulo, apontando a Fatecie como a 1ª colocada no Paraná. Essas e outras conquistas que obtivemos ao longo dos nossos 10 anos de história tem como base a proposta global da faculdade fatecie, que consiste em criar um ambiente voltado para uma abordagem multidisciplinar, crítica e reflexiva, onde se desenvolvem as atividades ensino, pesquisa e extensão. Para isso, a Fatecie conta com um corpo docente composto, em sua maioria, por professores com mestrado e doutorado e com ampla experiência profissional nas mais diversas áreas do mercado e da educação. Seja bem-vindo! Direção Faculdade Fatecie A U T O R Prof. Dr. Éder Rodrigo Gimenes Doutor em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Segundo Lí- der do grupo de pesquisa “Cultura Política, Comportamento e Democracia” (UEM/CNPq), pesquisador do “Núcleo de Pes- quisas em Participação Política” (NUPPOL - UEM). Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências So- ciais e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Políti- cas Públicas da UEM, docente dos cursos de Gestão Pública e de Gestão das Organizações do Terceiro Setor no Centro Uni- versitário de Maringá (UniCesumar). Autor de artigos publica- dos em periódicos nacionais e internacionais, de capítulos de livros, da obra “Eleitores e partidos políticos na América Latina” e organizador das coletâneas “Participação política e democra- cia no Brasil contemporâneo”, “Comportamento político e opi- nião pública: estudos sobre Brasil e América Latina” e “Poder legislativo e cultura política: valores, atitudes, trajetória e com- portamento político dos vereadores e vereadoras do Estado de Santa Catarina”. Coordenador do projeto de pesquisa “Ações coletivas, participação institucional e políticas públicas: rela- ções entre Estado e sociedade civil nos municípios brasileiros”. APRESENTAÇÃO O que são políticas públicas? Como são formuladas e implementadas? Quais os papeis dos nossos representantes, dos gestores públicos e da popu- lação nesses processos? E qual a relação entre voto, participação, políticas públicas e democracia? São muitas perguntas, as quais parecem requerer distintas respostas, mas nesta disciplina de Políticas Públicas e Sociais, percorreremos juntos o caminho que nos levará a conhecer de maneira mais específica os aspectos que permeiam cada uma das temáticas acima mencionadas, tendo o intuito de que, ao fim desta jornada, cada aluno seja capaz de responder às perguntas aqui apresentadas. Nesse sentido, esta disciplina tem como objetivo tratar de maneira ampla sobre as políticas públicas, de modo que as quatro unidades didáticas e o estudo de caso conformam a construção do conhecimento sobre o tema, complementan- do-se de maneira dialógica. Na primeira unidade, discutiremos acerca dos conceitos de Estado e governo, que, não raras vezes, tanto a população em geral quanto indivíduos ligados à gestão pública entendem como sinônimos. Por meio de distinções terminoló- gicas e de suas caracterizações, oferecemos a possibilidade de interpretação do que, de fato, constituem Estado e governo. Para contribuir com tal definição teórica, apresentamos também aspectos que conformam o Estado e o governo no Brasil atualmente. A segunda unidade de estudos, versa sobre as políticas publicas, partindo da noção de democracia e de sua relação com o tema da unidade e em diálogo com o conteúdo da unidade de estudos anterior. Nesse sentido, discorreremos sobre os conceitos e a tipologia de políticas públicas, bem como sobre a con-tribuição de entes privados à sua consecução por conta da responsabilidade social empresarial. Já a terceira unidade, aprofunda o conhecimento ao abordar dois expressivos aspectos teóricos sobre o tema desta disciplina, quais sejam: as distinções que configuram as políticas de Estado e as políticas de governo e as etapas que compõem o ciclo de realização de uma política pública. Ademais, complementamos esta unidade com uma análise empírica exemplificativa da etapa mais relevante do ciclo de políticas públicas e sua avaliação. Por im, em nossa quarta unidade, aprenderemos sobre o contexto em que as políticas públicas são conformadas no Brasil, tendo como ponto de partida o processo de redemocratização e o texto constitucional em vigor desde 1988. Em seguida, avançaremos para caracterizarmos a participação social no Brasil, discutindo, em seções distintas, as ações coletivas e as instituições participa- tivas. Tais conteúdos nos permitirão conhecer com maior detalhamento o im- pacto e o papel de organizações da sociedade civil, do associativismo, dos mo- vimentos, dos conselhos e conferências de políticas públicas, das audiências públicas e orçamentos participativos à construção de políticas. Diante de tais conteúdos, esperamos que as perguntas expostas nesta apre- sentação serão respondidas ao longo das unidades de estudos, e minha expectativa é que percorramos juntos o caminho de construção do co- nhecimento sobre a temática das políticas públicas e sociais. Esse caminho é, ainda que figurativamente, como uma viagem. Embarquemos juntos, então, neste estudo! SUMÁRIO CAPÍTULO 1 08 | Estado e Governo CAPÍTULO 2 23 | Políticas Públicas CAPÍTULO 3 39 | Ciclo de Políticas Públicas CAPÍTULO 4 59 | Instituições Participativase Políticas Públicas PÁGINA 8 CAPÍTULO 1 ESTADO E GOVERNO Prof. Dr. Éder Rodrigo Gimenes Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar o Estado em suas interpretações clássicas relacionadas ao poder e ao contratualismo; • Abordar aspectos conceituais acerca do governo e suas diferentes for- mas, sistemas e regimes; • Abordar aspectos contemporâneos da conformação do Estado e do go- verno no Brasil. Plano de Estudo: • O Estado • O governo • Estado e governo no Brasil PÁGINA 9 INTRODUÇÃO Como definir Estado e governo? Se há distinções entre os termos, quais são? Essas questões são exploradas nesta primeira unidade de estudos, na qual abordaremos teorias e aspectos normativos que tratam do surgimento do Esta- do, dos elementos constitutivos, governos e de como esses dois conceitos se apresentam no Brasil hoje. Para tanto, iniciaremos esta discussão refletindo sobre a importância e a neces- sidade de compreender autores que elaboraram teorias e análises em períodos distintos do nosso, os quais são considerados clássicos. O que são clássicos e por que ler esses autores e textos? Esta é uma pergunta de resposta simples, mas que merece atenção: os clássicos são autores que produziram teorias explicativas ao período em que viveram de maneira autêntica e que servem como modelo para reflexão da realidade até hoje. Segundo Bobbio (2000), clássicos são autores que produziram teorias que permanecem atuais, de modo que a necessidade de releitura sempre se torna aparente e, ao reler, reinterpretar, ou seja, mais importante do que ler um clássico considerando-o como registro histórico, é lê-lo sob a perspectiva de que é possível a reflexão acerca de temas e objetos para análises, pesquisas, hipóteses e investigações. É esta a posição contemplada na disciplina de Políticas Públicas e Sociais, de modo geral, e nesta unidade, em específico, no qual apresentamos as bases políticas, filosóficas e históricas da constituição dos Estados nacionais e dos governos, com ênfase específica no caso brasileiro na última seção de estudos. Desta maneira, esta unidade de estudos corresponde à base para a discussão sobre as relações entre Estado, governo e políticas públicas, com planos a entender tal relacionamento no Brasil. Bons estudos! PÁGINA 10 1 O ESTADO Diversos autores apresentam conceitos de Estado, desde aqueles mais sim- ples ou sintéticos até outros mais complexos e detalhados. Segundo Azambuja (2005), é difícil estabelecer uma definição única por conta da complexidade que o Estado assume enquanto fato social. Ainda assim, o referido autor apresenta seu conceito (ou sua visão) sobre o Es- tado como uma organização político-jurídica, com governo e territórios próprios, que visa ao bem público. Segundo Azambuja (2005), para que tal objetivo se cumpra, a necessidade de hierarquização entre governantes e governados se impõe. As discussões acerca do conceito de Estado decorrem desde muito antes da Era Moderna, como pontuam Montaño e Duriguetto (2011, p. 19): O Estado, e as análises sobre ele, não tem origem na era moderna. Efetivamente, desde a antiga Grécia existem pre- ocupações e estudos sobre o Estado e os governos, e suas relações entre si e com o povo. A vida na pólis grega, as- sim como na res publica romana, despertaram o interesse e a reflexão de filósofos e autoridades políticas. Em idêntico sentido, a pulverização das cidades-Estado na Itália tam- bém determinou a preocupação com a unificação delas. No que tange à unificação da Itália, tal debate está presente em O Príncipe (1512), de Nicolau Maquiavel, considerado um pai da Filosofia Política Moderna e um dos mais importantes fundadores da Ciência Política. PÁGINA 11 SAIBA MAIS Secretário diplomático da República de Florença no início do século XVI, Ma- quiavel dedicou suas obras à questão do Estado real, capaz de impor a ordem. Na referida obra, o autor expôs argumentos que podem ser sintetizados na im- portância da manutenção do poder como chave explicativa para a política, ou seja, a ação política do governante deveria ter como objetivo a manutenção de sua condição/posição de poder. O autor refletiu sobre como seria mais importante escrever acerca da verdade efetiva dos fatos, ao invés de suas aparências ou de pensar sobre o “dever ser” (posição filosófica). Para ele, o mundo não deveria ser pensado como lugar ideal, mas caberia ao homem buscar a verdade real, a fim de ser possível transformar a realidade. No caso do príncipe, essa busca seria pautada pelo co- nhecimento do uso do poder e de como mantê-lo, para o que precisaria aprender a utilizar os recursos disponíveis para a satisfação de seus interesses e neces- sidades. Essa sabedoria era o que Maquiavel pretendia expor ao Príncipe, por meio de seus conselhos e regras. Segundo o autor, o Príncipe precisaria de virtù e fortuna. A virtù correspon- deria ao poder, à glória e à honra pelas quais o homem deveria lutar, e não se referia exatamente à força bruta e violência, mas à sabedoria para o uso da força e a tornar público aos súditos sua capacidade de manter seus domí- nios e, se não pudesse ser amado, ser ao menos respeitado ou temido pelos cidadãos. Por outro lado, a fortuna estaria relacionada à visão que o Príncipe deveria transmitir aos seus súditos, de homem viril e corajoso. Nesses termos, a aparência era mais importante do que o ser. Em resumo: o Príncipe deveria governar com violência e astúcia. Dentre os conselhos ao Príncipe, Maquiavel pontuou situações que ilustram a importância da manutenção do poder, como o cuidado que o soberano deveria ter em parecer bom, mesmo que não o fosse, e a preocupação em demonstrar à sociedade que seu objetivo seria realizar a justiça e promover o bem comum, ainda que sua atuação efetiva se desse com vistas à conservação de seu status quo. Nos séculos posteriores a Maquiavel e à sua noção de Estado, temos muitos autores que, especialmente ao longo dos séculos XVI e XVIII, contribuíram ao desenvolvimento da Teoria Política e seguem relevantes até os dias atuais, seja por inovações conceituais ou pela atualidade das temáticas abordadas. Dentre as discussões desses pensadores, destaca-se o debate em torno da formação do Estado Moderno sob a perspectiva dos contratualistas. PÁGINA 12 A partir de distintas perspectivas acerca de como os homens se comportariam em seu estado de natureza (condição abstrata da humanidade, antes da introdu- ção de estruturas e normas sociais), Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jac- ques Rousseau discorreram acerca do estabelecimento de um contrato entre os indivíduos para a vida em coletividade, o que teria originado o Estado. Para Thomas Hobbes, em seu estado de natureza, os homens seriam agentes racionais que buscariam a maximização de seu poder e agiriam conforme seus interesses próprios, numa condição de guerra contra todos, pelo fato de sua obra “Leviatã” (1651) argumentar em favor do Estado como autoridade real. Para o autor, o estado de natureza seria comparável à guerra e só poderia ser evitado, caso todos os indivíduos entregassem suas armas a um terceiro – o soberano –por meio de um contrato social que garantisse que todos os demais também o fizessem. O que levaria os indivíduos racionais a entregarem sua liberdade ao soberano, seria o fato de que a vida no estado de natureza implicaria em preocupação constante com a própria sobrevivência, pois em um contexto em que todos os atos são justificáveis, não havia direitos que protegessem os indivíduos. Nesse sentido, o contrato social, que concederia autoridade indivisível ao soberano, seria um mal necessário para evitar o destino cruel dos homens diante da não contenção de seus impulsos destrutivos. Contudo, cabe destacar que o contrato social seria estabelecido entre os indivíduos, sendo o soberano um ente externo à parte do contrato. John Locke viveu ao longo do século XVII e foi contemporâneo de Hobbes du- rante partes de suas vidas. Locke destacou-se como o primeiro pensadora ar- ticular os princípios liberais de governo, quais sejam: preservação dos direitos à liberdade, vida e propriedade, busca pelo bem público e a punição aos que violassem os direitos do homem. Em sua obra “Dois tratados sobre o Governo civil” (publicada originalmente após 1689), o autor afirmou que os indivíduos aceitariam o contrato social e se submeteriam a um governo por esperar que ele regulasse acordos e conflitos com neutralidade. O autor entendia que, no estado de natureza, os indivíduos conviveriam em relativa harmonia por boa parte do tempo, agindo com razão e tolerância, de modo que os conflitos não seriam necessariamente comuns. Entretanto, com o aumento da densidade populacional, a escassez de recursos e o surgimento do dinheiro, teriam surgido desigualdades econômicas, que levaram a mais conflitos, o que gerou a dependência, pelas sociedades de leis e juízes. O terceiro autor contratualista é Jean-Jacques Rousseau nascido na Suíça no século XVIII, cuja teoria era de que a política deveria ser exercida pelo povo, de forma soberana. Sua argumentação sobre a formação do Estado encontra-se em duas obras. Em “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” (1755), o autor desenvolveu uma história hipotética da huma- nidade, na qual afirmou que a trajetória dos homens ao longo dos séculos sofreu uma alteração em sua condição de liberdade quando do surgimento da proprie- PÁGINA 13 REFLITA dade privada, de modo que a história da humanidade seria de desigualdade e se iniciou quando os demais membros de uma sociedade legitimaram a afirmação daquele que chamou um pedaço de terra de seu. A partir dessa história hipotética, Rousseau discutiu em “Do contrato social” (1762) sobre as condições para que fosse estabelecido um pacto legítimo, no qual os homens, após terem perdido sua liberdade natural, tivessem garantida suas liberdades civis, o que decorreria da existência de igualdade entre os indivíduos. Nesse contexto, o Estado seria responsável por determinar o funcionamento da política e se constituiria como o conjunto de indivíduos responsável pela elaboração de leis e cumpridores delas, o que significa que a liberdade do povo estaria relacionada à sua obediência às normas por cada cidadão, parte integrante do poder soberano. Isso significaria que o corpo administrativo do Estado seria subordinado ao soberano (povo). Para Rousseau, a partir do momento em que uma sociedade elegesse represen- tantes, a liberdade findaria, pois a vontade geral não se manifestaria por meio da vontade dos representantes. PÁGINA 14 2 O GOVERNO Segundo o verbete apresentado por Levi (2010, p. 553) no “Dicionário de Políti- ca”, considerando uma conceituação de linguagem corrente, [...] pode-se definir Governo como o conjunto de pessoas que exercem o poder político e que determinam a orienta- ção política de uma determinada sociedade. É preciso, po- rém, acrescentar que o poder de Governo, sendo habitual- mente institucionalizado, sobretudo na sociedade moderna, está normalmente associado à noção de Estado. Nesse sentido, caberia as definições de dois conjuntos de atores sociais rele- vantes: os governantes, aqueles que regem o funcionamento do Estado, e os governados, sujeitos ao poder instituído. Contudo, o mesmo autor destaca haver uma segunda concepção, mais próxima à realidade dos Estados modernos, a qual considera como governo não apenas o conjunto de atores que detêm o po- der de dirigir o Estado, mas também o complexo de órgãos institucionais onde o poder se desenvolve. Em se tratando de sua origem, Levi (2010, p. 553-554) afirma que a necessi- dade de governos é anterior ao surgimento dos Estados, ainda que os primei- ros governos assumissem formas rudimentares e o funcionamento do governo pode ocorrer de maneira mais ou menos autônoma com relação aos indivíduos, os governados. Em outras palavras, significa que, conforme sua estrutura, um governo pode buscar aproximação ou distanciamento com relação à população, bem como atender ou ignorar suas necessidades e demandas, ou mesmo permitir ou negar a possibilidade de manifestação e participação política e social. Conforme compõem sua estrutura, é possível definir a origem da força de um governo (e, por conseguinte, de um Estado): o consenso e apoio popular, ou a imposição e a coerção sobre a população. Diante do exposto, um governo é resultado da soma de, ao menos, três aspectos relevantes: a forma por meio da qual o governo é instituído, o sistema de funcio- namento desse governo e as instituições que compõem sua estrutura e que, em consequência, definem o regime político em vigor. As formas de governo tratam dos modelos institucionais por meio dos quais uma sociedade é administrada, o que implica afirmar que corresponde, então, à ma- neira como é exercida a função de chefia de Estado. Nesses termos, são dois os principais modelos de formas de governo nas sociedades contemporâneas: a república diz respeito ao governo em que o posto de chefe de Estado pode ser ocupado por um indivíduo ou por um conjunto, desde que eleito (s) pelo povo, seja de maneira direta (eleições com votos individuais) ou indireta PÁGINA 15 (em assembleias primárias ou representativas), para administrar bens de interesse público com vistas ao bem-estar da população (MATTEUCCI, 2010); e a monarquia, cujo chefe de Estado é um monarca, imperador ou rei, o qual goza de poderes absolutos e exerce seu cargo de maneira vitalícia até sua morte ou abdicação, com seu sucessor descendente de sua linhagem familiar direta por hereditariedade, sem realização de eleições para chefe de Estado (FARIA, 2017). Em se tratando dos sistemas de governo, estes dizem respeito às maneiras como o poder político é exercido no âmbito de um Estado, ou seja, como os governos se organizam, de modo que pode haver dois tipos de sistemas: o par- lamentarismo, é o sistema de governo no qual há distribuição de poder entre Executivo e Legislativo, cabendo ao segundo proporcionar a sustentação política do governo, seja de maneira direta ou indireta, e onde, enquanto o chefe de Es- tado representa a sociedade. O Legislativo é composto por membros vencedores das eleições e, portanto, representantes do povo, sendo o primeiro ministro eleito entre os eleitos, pelo partido que obteve o maior número de assentos; e o presidencialismo, cuja figura central é o presidente, que concentra os cargos de chefe de Estado e chefe de governo no comando do Poder Executivo, e demais Poderes – Legislativo e Judiciário – atuam de maneira independente do primeiro (FARIA, 2017). Por fim, com relação aos regimes políticos, que se caracterizam pelo conjunto de leis e instituições que conformam a organização dos Estados e a maneira como ocorre o exercício do poder para com os cidadãos, ou seja, os regimes políticos determinam a relação entre governantes e governados e as maneiras como as formas e os sistemas de governo operam, uma vez que definem aspectos como, a centralização ou distribuição do poder, a repressão ou ampliação de liberdades individuais e políticas, a política interventora ou liberal do Estado na economia e a composição do arcabouço jurídico. É possível inferir que diferentes tipos de regimes políticos emergiram ao longo dos séculos, destacando-se na História a existência de Estados: absolutistas, pautados pela concentração do poder na figura do Rei e pela utilização de meios repressivos e violentos contra os cidadãos, que contrariassem ou con- testassem as leis; autoritários, caracterizados pela concentração do poder nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos não eleitos, os quais agem de maneira dominadora para manter sua condição por meio da imposição da obediência da população às leis e da apatia e despolitização dos cidadãos; totalitários, pau- tados pela concentração do poder em um indivíduo que controla o Estado de maneira rígida e submete os cidadãos à condição de subordinação total, quando seobserva a existência de uma ideologia oficial imposta à população e torna- se coletiva, bem como a repressão a organizações políticas e a persistência de partido único; ditatoriais, com concentração do poder em um indivíduo ou PÁGINA 16 grupo político, com consequente desconsideração da existência de divisão dos poderes e forte opressão a qualquer tipo de manifestação política contrária aos seus interesses, além da manutenção da ordem ocorrer pelo controle das Forças Armadas e os direitos civis e políticos dos indivíduos serem suprimidos; e demo- cráticos, que se constitui em um regime político no qual a soberania é exercida pela população, que elege representantes por meio de eleições. 3 ESTADO E GOVERNO NO BRASIL O Estado federativo brasileiro se caracteriza pelo exercício de competência de cada nível da federação com corpo administrativo próprio, sendo que as uni- dades federativas têm representação paritária em uma das casas legislativas ( Senado) e representação proporcional (respeitando limites mínimo e máxi- mo de representantes) em outra casa legislativa (a Câmara dos Deputados) do Congresso Nacional e deve ser respeitada a tripartição dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (RABAT, 2002). Nesse sentido, o Estado federativo é pautado pela pactuação entre entes fe- derados, que se submetem a regras majoritárias a um Legislativo comum e a Poderes Executivo e Judiciário federais. De acordo com Höffe (2005), o pacto federativo consiste na união de entes federados que, dotados de autonomia, submetem-se ao poder central e soberano. Conforme Arretche (2002), o federalismo implica em reciprocidade e cooperação entre o governo central e os governos subnacionais, a fim de manter o equilíbrio determinado no texto constitucional com relação às suas autonomias administrativas, políticas, tributárias e financeiras. Cabe destacar que as unidades da federação gozam de autonomia, mas não dispõem de soberania e representação na ordem internacional, sendo de responsabilidade da União (o Estado federativo) representar o conjunto de entes. Em se tratando especificamente da Constituição de 1988, esta oferece garantias institucionais à manutenção do pacto federativo e, segundo Biondini (2007), um dos destaques na Carta Magna, com relação ao federalismo, foi a determinação dos municípios como entes federados, o que culminou na defi- nição de normas para repartição de receitas tributárias e contribuiu para a ex- pansão da capacidade tributária dos entes federados. Dentre outros aspectos, a distribuição de recursos tributários de maneira a contemplar especialmente municípios de regiões menos desenvolvidas, foi responsável pelo surgimento de um grande número de pequenas municipalidades. O desenvolvimento do Estado federativo brasileiro é perpassado por um conjun- to de aspectos de naturezas social, econômica, jurídica, política e cultural, dentre as quais destaca-se o funcionamento do governo nacional. PÁGINA 17 SAIBA MAIS Com relação à forma e ao sistema de governo brasileiros, verificamos a estabili- dade das características desde 1889, quando a monarquia foi substituída como forma de governo por ocasião da proclamação da república, o que ocorreu em paralelo à alteração do sistema de governo parlamentarista pelo presidencialis- mo, que persiste até os dias atuais. Em 1993, foi realizado um plebiscito referente à forma e ao sistema de governo, quando a república venceu a monarquia com cerca de 87% dos votos válidos e o presidencialismo superou o parlamentarismo com aproximadamente 69% dos votos válidos. Enquanto forma e sistema de governo gozam de certa estabilidade no governo brasileiro, o regime político foi alterado diversas vezes desde a independência em 1822, em termos absolutistas, totalitários, autoritários e de- mocráticos. Atualmente, a configuração do regime político nacional é de demo- cracia semidireta, de modo que a democracia brasileira é considerada como modelo de participação reconhecida em todo o mundo, especialmente por conta do desenvolvimento de mecanismos de engajamento políticos dos indivíduos nas discussões sobre recursos e políticas públicas, o que retomaremos nas pró- ximas unidades de estudos. Neste momento, cabe destacar alguns aspectos de nosso regime democrático, com destaque à pluralidade partidária, que permite, por um lado, a ampla ofer- ta de propostas e interesses em disputa, mas implica, por outro lado, em difi- culdade de parcela significativa do eleitorado em diferenciar partidos (BORBA; GIMENES; RIBEIRO, 2015) e estabelecer vínculos com eles (GIMENES, 2015), especialmente em contextos de conformações de governos de coalizão, onde muitos partidos participam do governo (LIMONGI, 2006). Ademais, ressalte-se que nosso sistema eleitoral tem distintas regras para os muitos cargos em disputa (vereador, prefeito, deputado estadual, deputado fe- deral, governador, senador e presidente) e uma regra de cotas míninas para candidaturas que suscita muitas discussões referentes ao seu efeito sobre a conformação dos legislativos (AYRES; OLIVEIRA; GIMENES, 2017). Contudo, finalizamos esta unidade destacando um aspecto de extrema impor- tância: para além do sufrágio universal, dispomos de múltiplas possibilidades de espaços de participação individual, coletiva e institucional, por meio dos quais a população pode se pronunciar e organizar para encaminhar demandas, comu- nicar interesses e articular seu engajamento à construção de políticas públicas. PÁGINA 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim desta primeira unidade de estudos, na qual abordamos inicial- mente distintas concepções sobre o surgimento do Estado, com a finalidade de destacar dois elementos que permanecem relevantes à organização dos Esta- dos nacionais na contemporaneidade: o poder e o pacto social (contrato). Sobre tais elementos, é relevante destacar que há um ponto que reúne esses autores clássicos e suas teorias, uma vez que Maquiavel, Hobbes, Locke e Rou- sseau têm em comum um aspecto central: o Estado como construção humana. Na sequência, destacamos o conceito de governo e seus principais aspectos– formas, sistemas e regimes – com a finalidade de possibilitar a interpretação de que governos são elementos constitutivos do Estado, daí a diferença entre ambos. Ademais, a seção sobre o tema buscou evidenciar como são possíveis múltiplos arranjos de governos, diante da combinação dos elementos acima menciona- dos, de modo que é preciso atenção ao compararmos resultados de Estados nacionais com relação a políticas públicas e outros aspectos políticos, por conta das configurações dos governos de cada Estado. Finalizamos esta unidade de estudos conhecendo aspectos relevantes da conformação contemporânea do Estado e do governo brasileiro, cujo intuito foi de apresentar um patamar, ainda que breve e exploratório, sobre as maneiras como o Estado, o poder, a pactuação social, a forma e o sistema de governo, encontram-se atrelados na atual configuração de nosso regime democrático, sobre o qual trataremos com maior detalhamento – tanto teórico quanto empírico com relação ao Brasil - em nossas próximas unidades de estudos, tendo em vista avançarmos nas discussões que nos permitam compreender de maneira mais aprofundada as relações entre Estado, governo e políticas públicas na realidade brasileira do século XXI. PÁGINA 19 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME LIVRO Título: Teoria Política Moderna: uma introdução Autor: Isabel de Assis Ribeiro de Oliveira Editora: Universidade Federal do Rio de Janeiro Sinopse: nesse livro, a autora apresenta sua leitura de clássicos da teoria política moderna, com o objetivo de introduzir o estudante universitário - mas não só ele - numa vertente importante de nossa cultura. Os autores aqui considerados, contribuíram de forma decisiva para a constituição da ordem própria à modernidade, sob a qual ainda vivemos. É nesse campo de ideias que fo- ram concebidas, dentre outras, as figuras do cidadão e seusdireitos, das instituições governamentais de cunho representativo e princípios de legitimação do poder, que caracterizam os sistemas políticos da modernidade. É também nele que a luta política se delineia como legítima forma de renovação social. Este livro oferece um primeiro tratamento do tema e incentiva, no leitor, o desejo de aprofundar a pesquisa. Título: Cruzada Ano: 2005 Sinopse: ainda em luto pela repentina morte de sua esposa, o ferreiro Balian junta-se ao seu distante pai, Baron Godfrey, nas cruzadas a caminho de Jerusalém. Após uma jornada muito difícil até à cidade santa, o jo- vem valente entra no séquito do rei leproso Balduíno IV, que deseja lutar contra os muçulmanos para seu próprio ganho político e pessoal. PÁGINA 20 NA WEB Apresentação: Na Biblioteca Digital Mundial há uma linha cronológica com fatos históricos, políticos, religiosos, filosóficos, artísticos, científicos, tecnológicos e econômicos da humanidade desde 8.000 anos antes de Cristo. Disponível em: <https://www.wdl.org/pt/>. PÁGINA 21 REFERÊNCIAS ARRETCHE, M. Relações federativas nas políticas sociais. Educação & Socie- dade, Campinas, v. 23, n. 80, set. 2002. p. 25-48. AYRES, C. S. L. S. S., OLIVEIRA, R. A.; GIMENES, É. R. O Legislativo municipal catarinense sob a perspectiva de gênero: origem, trajetória e adesão à democra- cia. Revista E-Legis, n. 22, jan. abr. 2017. p. 25-43. AZAMBUJA, D. Teoria geral do Estado. São Paulo: Globo, 2005. BIONDINI, I. V. F. O arranho federativo e o processo de descentralização. 144 f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) – Escola de Governo Paulo Neves de Carvalho, Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2007. BOBBIO, N. Teoria Geral da Política. VERSIANI, D. B. (Trad.). Rio de Janeiro: Campus, 2000. BORBA, J.; GIMENES, É. R.; RIBEIRO, E. A. Bases sociais, atitudinais e com- portamentais do apartidarismo brasileiro. Novos Estudos CEBRAP, n. 101, mar. 2015. p. 27-55. FARIA, E. H. Teoria política e tópicos de política contemporânea. Maringá: UniCesumar, 2017. GIMENES, É. R. A relação dos eleitores com partidos políticos em novas democracias: partidarismo na América Latina. 2015. 240 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015. HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: Nova Cultural, 2000. LEVI, L. Governo. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política, 13. ed., 4. reimp. Brasília: Universidade de Brasília, 2010. LIMONGI, F. Presidencialismo e Governo de Coalizão. In: AVRITZER, L.; ANAS- TASIA, F. (Orgs). Reforma política no Brasil. Belo Horizonte: Universidade Fe- deral de Minas Gerais, 2006. LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 2001. PÁGINA 22 MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. MATTEUCCI, N. República. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 13. ed., 4. reimp. Brasília: Universidade de Brasília, 2010. MONTAÑO, C.; DURIGUETTO, M. L. Estado, classe e movimento social. 3. ed. 1a reimp. São Paulo: Cortez, 2011. RABAT, M. N. A federação: centralização e descentralização do poder político no Brasil. Brasília: Câmara dos Deputados, 2002. Disponível em: <http://bd.ca- mara.gov.br/bd/handle/bdcamara/1460>. Acesso em: 11 set. 2018. ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigual- dade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 2002. ______. Do contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 1999. PÁGINA 23 CAPÍTULO 2 POLÍTICAS PÚBLICAS Prof. Dr. Éder Rodrigo Gimenes Objetivos de Aprendizagem: • Expor as relações entre democracia, representação e congruência políti- ca com relação às políticas públicas; • Analisar o conceito e a tipologia das políticas públicas; • Abordar as relações entre as políticas públicas e as ações de responsa- bilidade social. Plano de Estudo: • Democracia e políticas públicas; • Políticas públicas; • Políticas públicas e responsabilidade social. PÁGINA 24 INTRODUÇÃO DA UNIDADE De modo geral, há duas perspectivas para refletirmos sobre políticas públicas: a primeira diz respeito a aspectos econômicos e a segunda, a elementos de natureza social. Enquanto a primeira tem caráter universal às populações e remete, por exemplo, às definições sobre ações financeiras por parte dos governos, a segunda remete a coletividades específicas, que devem ser atendidas em suas demandas também distintas. Neste material didático, adotamos a perspectiva de discussão das políticas públicas sociais, que também podem ser denominadas de políticas sociais. Para tanto, a primeira seção desta unidade trata do conteúdo do regime demo- crático, em diálogo com o exposto na unidade anterior e avança ao expor dois elementos importantes à reflexão sobre políticas públicas em democracias: os partidos políticos como mediadores do voto e da representação, e a congruência enquanto possibilidade de mensuração da qualidade da representação. Na segunda seção, são apresentados os conceitos de políticas públicas, bem como discutida a dificuldade em estabelecer uma definição única ao termo. Além disso, expomos uma proposta de tipologia às muitas possibilidades de conformação de políticas públicas. Por fim, nossa terceira seção tratamos da discussão contemporânea acerca do papel compartilhado pelo poder público (primeiro setor da economia) com empresas privadas (segundo setor) e organizações da sociedade civil (terceiro setor) para a consecução dessas políticas. Tal contextualização é salutar ao avanço de nosso estudo, cujos próximos passos dependerão da compreensão do conteúdo tanto desta unidade, quanto de nossa primeira unidade de estudos. Boa reflexão! PÁGINA 25 1 DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS Um governo democrático seria aquele responsivo aos cidadãos, ou seja, que oferece respostas às necessidades e demandas dos cidadãos, os quais devem ter oportunidades de formular e expressar suas preferências, de maneira individual e coletiva, bem como de ter tais preferências consideradas pelo governo, quando da elaboração de ações e gestão da máquina pública (DAHL, 1997). Bobbio (1998, p. 326) corrobora a concepção do autor anteriormente mencionado, ao postular a democracia como “um método ou um conjunto de regras de procedimento para a constituição de governo e para a formação das decisões políticas (ou seja, das decisões que abrangem toda a comunidade) mais do que de uma determinada ideologia”. Nesses termos, outra distinção fundamental desse regime é a proteção e garantia de direitos humanos e sociais, de liberdades individuais de expressão e manifestação e de participação social, política, cultural e religiosa. Em termos empíricos, é possível vislumbrarmos três diferentes maneiras, por meio das quais governos democráticos se desenvolvem. A primeira maneira é a democracia direta, que remete à Ágora grega e diz respeito à possibilidade de que, para cada assunto de interesse público, os cidadãos possam participar de discussões e votar. A segunda maneira é a democracia indireta, também conhecida como representativa, que corresponde àqueles regimes nos quais os indivíduos participam da escolha dos representantes, por meio do voto, e depois são os eleitos que deliberam em nome e (espera-se) em favor da coletividade. A terceira maneira é denominada democracia semidireta e reúne características dos modelos direto e semidireto, de modo que permite a participação e envolvimento nas discussões e deliberações de maneira ampliada, por meio do voto e de instrumentos, como plebiscitos, audiências e conferências (BOBBIO, 1998). Considerando, que a democracia é o regime político que permite o desenvolvimento da gestão pública de maneira efetiva, na busca pela garantia de justiça social e da melhor utilização dos recursos públicos com vistas à realização do bem comum e da promoção de equidade social, é importante aprofundarmosnosso conhecimento sobre ela. Considerando que o funcionamento da democracia é permeado por um conjunto de instituições, destacamos aquelas que possuem natureza política e são essenciais à manutenção do regime por conta de sua relação com o principal mecanismo de participação política democrática: o voto. Nesse sentido, destacamos dois aspectos vitais à relação entre o voto e as políticas públicas, quais sejam: os partidos políticos e a congruência política. PÁGINA 26 Segundo Schattschneider (1942), a democracia é impensável sem a existência de partidos políticos. De acordo com Baquero e Borba (2008, p. 2), “a literatura que se desenvolveu posteriormente a esta afirmação, aceitou pacificamente e sem ressalvas esta formulação como um dos poucos teoremas válidos na Ciência Política” e são muitos os autores que corroboram com a máxima, de que os partidos políticos são essenciais à democracia (PASQUINO, 2010). Entre os cientistas políticos, a definição de partidos políticos de Weber (2012 [1922]) é tratada como clássica e afirma que tais instituições são voluntariamen- te criadas, baseadas em livre recrutamento e objetivam a obtenção de votos em eleições para cargos políticos. Em diálogo com o autor clássico e com Sartori (1982), Pasquino (2010) afirma, que a classificação de uma organização como partido depende do atendimento de três condições: estruturas que permitam a participação dos inscritos, possibilidade de formulação de um programa de políticas públicas e a perduração da instituição para além de um ciclo eleitoral. Basicamente, as funções dos partidos estariam relacionadas à educação política da população, à mobilização para a participação, à criação de raízes partidárias entre o eleitorado, ao recrutamento de liderança e à articulação e agregação de interesses de grupos sociais de modo, que os partidos em democracias como a brasileira, seriam mediadores da relação entre a sociedade e o Estado, pois, só podem ser eleitos como nossos representantes, aqueles indivíduos que disputam eleições após uma escolha por parte das legendas partidárias. Nesse sentido, com relação ao seu papel governativo, os partidos devem organizar o governo, controlar o desempenho administrativo e buscar viabilizar a implementação de suas propostas de políticas públicas (MAIR, 2003). Para além dos partidos e das eleições depois de eleitos, os nossos represen- tantes devem, em alguma medida, legislar e/ou atuar considerando as vontades, desejos, anseios, necessidades, demandas e interesses da população. As democracias representativas contemporâneas são caracterizadas por eleições e, especialmente nas últimas décadas, distintos campos da Ciência Política e também das demais áreas da Ciências Sociais, se dedicam a compreender em que medida o ato do voto seria suficiente (ou não) para que os cidadãos tivessem assegurado que os governos atuariam no sentido de atender às suas demandas. Dentre tais estudos, há aqueles que tratam da verificação de congruência política entre representantes e representados. PÁGINA 27 REFLITA Urbinati (2006) afirma, que a representação política iria além do momento eleitoral, ainda que as eleições sejam, apesar de limitadas, fundamentais ao aprendizado democrático pelos indivíduos. A congruência política se constitui em análise acerca da medida em que as de- cisões tomadas pelos representantes correspondem às preferências daqueles que são representados. Ainda que não seja especificamente sinônimo de repre- sentação, a congruência se constituiria em indicador adequado à mensuração dessa relação e contribuiria para verificarmos o quanto os cidadãos se sentem contemplados ou se identificam com as deliberações de seus representantes, o que teria consequentes efeitos sobre a confiança que depositam nos governos e no regime político como um todo. Por outro lado, os estudos de congruência po- lítica permitiriam, também, verificarmos em que medida os representantes con- sideram as opiniões e necessidades de seus representados quando deliberam acerca de políticas públicas e demais temáticas. Para além dos estudos precursores sobre o tema, (MILLER; STOKES, 1963; PAGE; SHAPIRO, 1983), destacamos que Carreirão (2015), primeiro pesquisa- dor brasileiro a se dedicar à congruência política, apontou, em importante ba- lanço bibliográfico acerca do tema, que seria possível classificar tais estudos em duas vertentes: a primeira seria pautada pela comparação entre opiniões e preferências dos representados com as preferências de seus representantes e as propostas de campanha de seus partidos; a segunda maneira seria a compa- ração as opiniões e preferências dos eleitores com relação às políticas efetiva- mente aprovadas por seus representantes. Contudo, devemos nos lembrar que, independentemente da vertente analítica adotada e dos resultados que apontem congruência ou incongruência política entre representantes e representados, a representação é, per se, um processo, o que implica na necessidade de que sua avaliação seja realizada em perspec- tiva dinâmica, uma vez que a proximidade ou afastamento entre eleitores e re- presentantes tendem a variar ao longo do tempo, assim como a capacidade de nossos representantes de atenderem (ou não) as necessidades e demandas da população no que tange às políticas públicas. PÁGINA 28 SAIBA MAIS Há países onde são permitidas candidaturas avulsas (de indivíduos sem filiação a partidos) ou por grupos políticos organizados, como o Movimiento al Socialis- mo (MAS), na Bolívia, que se autointitula movimento social “não partidário”. Fonte: Mayorga (2003). PÁGINA 29 2 POLÍTICAS PÚBLICAS Como o Estado visa servir à população, cabe à gestão pública trabalhar de modo a atender as necessidades dos cidadãos, por meio de ações que visem otimizar a responsabilidade e a transparência dos atos públicos. Assim, a gestão pública está relacionada ao desenvolvimento político do Estado, cujas alterações não têm, necessariamente, relação direta com seu desenvolvimento econômico, o que implica inferir que as reformas pelas quais o Estado moderno tem passado tendem a gerar muitos conflitos, uma vez que confrontam a visão do Estado burocrático em contrapartida a inovações que podem contribuir para o desenvolvimento e aprimoramento do processo de administração pública. Diante desse contexto, cabe ao Estado a implementação de ações que atendam aos interesses e necessidades da população, especialmente quando Estado e governo se manifestam sob o regime democrático. O meio para tal implementação corresponde às políticas públicas. Políticas públicas constituem mecanismos de efetivação das deliberações do poder público para com a população. Considerando sua amplitude em termos de áreas de ação e atuação, bem como as distinções que pode assumir conforme os arranjos entre Estado e governo, não há um conceito único para tratar do tema. Para Souza (2006), as políticas públicas correspondem ao campo de conhecimento que tem como finalidade a realização efetiva das ações de governo, bem como suas avaliações em depender dos resultados dessa análise, também a proposição de mudanças com relação à execução das atividades. Rodrigues (2010) entende, que políticas públicas é o conjunto de processos por meio dos quais diferentes grupos, com demandas e interesses distintos, debatem com vistas à tomada de decisões coletivas que direcionem caminhos ao desenvolvimento de determinadas áreas em um âmbito da sociedade (municipal, estadual ou federal). PÁGINA 30 Por fim, expomos o verbete produzido por Amabile (2012), que apresenta um conjunto de características que permeiam o conceito de políticas públicas, quais sejam: • Decisões que envolvem questões de ordem pública e que gozam de abrangência ampla, com vistas à satisfação de interesses de coletivida- des; • Estratégias de atuação pública com capacidade de impactar na realidade; • Representam a concretização das ações governamentais e se desenvol- vem por meio de um processocomplexo. Diante do exposto, é possível sintetizar as diversas definições de políticas pú- blicas como um conjunto de ações administrativas, programas e decisões go- vernamentais adotadas por atores públicos (gestores, membros do Executivo ou Legislativo) com vistas à garantia de direitos que tangenciam a cidadania, de modo que as políticas públicas encontram-se sempre em diálogo com as Cons- tituições. Nesse sentido, [...] mesmo nem sempre encontrando correspondência per- feita em normas constitucionais, as políticas públicas no mínimo não podem ferir esses preceitos e são, sob muitos aspectos, o braço executivo de direitos expressos na Cons- tituição (KERSTENETZKY, 2015, p. 175). Considerando tal perspectiva, os direitos sociais que as políticas públicas visam atender as mais diversas áreas, como educação, saúde, transporte público, lazer, cultura, habitação, previdência social ou pautas de minorias, o que significa que o foco das políticas públicas não é um campo de atuação, mas a garantia de cidadania ampla, isso quer dizer que nem todas as ações contemplarão a totalidade da população. Contudo, cabe destacar que tais ações podem ser direcionadas a atender demandas ou necessidades de segmentos sociais, culturais, étnicos ou econômicos que estejam em condição social-política que inspire cuidados. Desta forma, as políticas públicas podem afetar tanto a população como um todo quanto grupos específicos, independentemente de aspectos, tais como gê- nero, faixa etária, nível de escolarização, religião, qualificação profissional, tipo de vínculo empregatício etc. Isso significa, tanto a diversificação de áreas e gru- pos atendidos quanto a universalização da preocupação com o alcance do bem- estar da sociedade como um todo, ainda que a contribuição efetiva do Estado para tanto venha a ser eventualmente pequena. PÁGINA 31 SAIBA MAIS A discussão sobre vertentes explicativas, interpretações teóricas, principais conceitos e os autores que se destacam no campo de estudos das políticas pú- blicas foi sistematizado em balanço de literatura por Agum, Riscado e Menezes (2015). Fonte: o autor. Conforme Brancaleon et al. (2015), considerando a multiplicidade de modelos por meio dos quais podemos pensar classificações das políticas públicas, ne- nhuma divisão ou categorização será exata, mas ainda assim simplifica e escla- rece sobre o tema, além de possibilitar a identificação de aspectos relevantes e o direcionamento de nosso olhar para melhor entendermos o campo das políticas públicas. Diante de tal argumento, os autores oferecem um modelo de classificação para diferenciarmos as políticas públicas, composto por quatro categorias: a. Políticas Públicas distributivas - as chamadas políticas distributi- vas não consideram a limitação dos recursos públicos e buscam privilegiar não a sociedade como um todo, mas uma parcela da população. Um risco iminente advindo das políticas distributivas é a ocorrência do que conhecemos como clientelismo, assistencia- lismo etc.; b. Políticas Públicas redistributivas - por meio destas é que se alo- cam bens ou serviços a segmentos específicos da sociedade me- diante recursos que são extraídos de outros grupos específicos; c. Políticas Públicas regulatórias - são as mais facilmente identifica- das e envolvem prioritariamente os policymakers, a administração pública e a burocracia estatal, além de outros grupos de interesse. As políticas regulatórias conformam-se em ordens e proibições, decretos e portarias; d. Políticas Públicas constitutivas - são elas que estabelecem as ‘re- gras do jogo’, as normas e procedimentos a partir das quais devem ser formuladas e implementadas outras políticas (BRANCALEON, 2015, p. 2-3). PÁGINA 32 Diante desse contexto, é consenso entre os autores dos campos da Ciência Polí- tica e da Administração Pública a responsabilidade do Estado para com a gestão de políticas públicas. Contudo, por conta de um conjunto de aspectos que per- passam o sucateamento da máquina pública, a proliferação de práticas ilícitas e corrupção, as crises econômicas e o desenvolvimento da globalização, não são raros os casos de entes públicos (prefeituras, governos estaduais ou mes- mo governos federais) que declaram dificuldades e assumem sua debilidade em arcar com as políticas públicas, sejam elas das mais diversas áreas. 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL Conforme destacado no fim da seção anterior, já há algumas décadas as ações de políticas públicas não tem sido desenvolvidas exclusivamente pelo poder pú- blico. Tal situação tem se revelado não apenas possível, mas também tem se repetido nacional e internacionalmente, de modo que Amabile (2012, p. 390) afirma que: [...] são de responsabilidade da autoridade formal legal- mente constituída para promovê-las, mas tal encargo vem sendo cada vez mais compartilhado com a sociedade civil por meio do desenvolvimento de variados mecanismos de participação no processo decisório. Um dos caminhos por meio dos quais o compartilhamento da responsabilida- de pelas políticas públicas tem se desenvolvido é a inclusão da população nas discussões e deliberações, o qual será abordado na última unidade de estudos desta disciplina. Outra forma de compartilhamento do processo de construção de políticas pú- blicas pelo Estado em parceria com setores da sociedade é a responsabilidade social empresarial. Atualmente, as empresas privadas buscam diferenciais com- petitivos para se destacarem no mercado. Nesse sentido, é perceptível que as empresas não estão focadas apenas na melhoria da qualidade da produção de bens e prestação de serviços, uma vez que a tecnologia e a especialização da mão de obra têm permitido àquelas organizações dotadas de maior capital, condições de competição praticamente igualitárias. Para Silva et al. (2004): [...] as organizações empresariais necessitam estar abertas a um processo contínuo de mudança em que a orientação dos investimentos, a utilização de novas tecnologias e a ex- ploração dos recursos naturais estejam de acordo com as necessidades atuais e futuras da sociedade. PÁGINA 33 Já Fucs (2007, p. 74) afirma que [...] nos últimos anos, virou uma espécie de sacrilégio criti- car as ações de responsabilidade social das empresas. Elas se tornaram tão valorizadas pela sociedade que, hoje, qual- quer empresa que se preze precisa ter seu projeto social. Nesse cenário, a responsabilidade social por parte das organizações privadas tem sido assunto recorrente, e tem se tornado prática num número crescente de empresas. Afinal, ao mesmo tempo em que realizam trabalhos sociais, as em- presas ganham reconhecimento junto à população, vislumbrando a possibilidade de um aumento de seu número. Esses trabalhos sociais, realizados pelas organizações do setor privado, são denominadas ações de responsabilidade social. Por responsabilidade social, o Instituto Ethos (2007) conceitua como a gestão por parte das organizações, de maneira ética e transparente perante toda a so- ciedade, com estabelecimento de metas compatíveis com o desenvolvimento social sustentável, de modo a preservar recursos ambientais e culturais, promo- vendo a redução das desigualdades sociais. Nesse sentido, Mendonça e Carreira (2006, p. 1) complementam: A responsabilidade social empresarial vem se tornando uma importante ferramenta para a sustentabilidade das organizações. O gestor deve estar atento às suas relações éticas e ser transparente em relação a todo o público que se relaciona com a empresa para o desenvolvimento do seu negócio e da sociedade, de maneira a preservar também os recursos ambientais para as gerações futuras. PÁGINA 34 É importante salientar que, além de agregar valor às marcas em curto prazo, a responsabilidade social contribui para o aumento da confiança dos consumidores nos produtos e serviços prestados pela empresa, constituindo uma vantagem competitiva em médio prazo (MAZZEI; ROCHA, 2003). Sobre as ações de responsabilidade social,Reich afirma, ainda, que elas podem ser consideradas como práticas de boa gestão para as empresas quando con- tribuem, de fato, para o aumento dos lucros da organização. Porém, o professor questiona acerca do direito das empresas de decidir sobre as ações de interesse público, uma vez que oficialmente tal prerrogativa compete ao Estado (FUCS, 2007, p. 76). Assim, fica evidente que uma empresa socialmente responsável é aquela que se preocupa com a sociedade e assume caráter ativo na promoção de mudanças no cenário social, preocupando-se não apenas com a satisfação de seus clientes e proprietários, mas também o meio em que está inserida e com aqueles com os quais se relaciona, direta ou indiretamente. Em se tratando da responsabilidade social empresarial, cabe, ainda, destacar um aspecto importante a ser atentado pelos gestores públicos, por gestores das empresas privadas que atuam no mercado e também por gestores de organi- zações do Terceiro Setor: para além das relações binárias do Estado com a so- ciedade (estabelecida tanto por meio da participação institucional quanto das ações coletivas) e do Estado com o mercado (quando empresas desenvolvem diretamente ações de responsabilidade social), há, ainda, a interconexão desses três atores sociais para o desenvolvimento de ações que visam a consecução de políticas públicas. Tal situação ocorre quando as empresas privadas não realizam suas ações dire- tamente em comunidades, por exemplo, nem optam por doar recursos ou trans- ferir montantes que seriam destinados a impostos para utilização pelo poder público, mas decidem criar suas próprias entidades com fins sociais ou esta- belecem parcerias com organizações do Terceiro Setor para transferir recursos financeiros, materiais ou de mão de obra para o desenvolvimento das ações das entidades. Tais parcerias são positivas tanto às empresas, por conta da visibilidade posi- tiva que geram, quanto para as organizações do Terceiro Setor, cujos recursos geralmente são limitados para a consecução das atividades, e também para o Estado, uma vez que contribui para a redução da pressão social interven- ção de ações coletivas para sanar determinado problema, desde que a parceria estabelecida produza resultados consistentes e adequados às necessidades sociais da população a ser atendida, uma vez que tal aspecto é central às políticas públicas. PÁGINA 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) aluno (a), concluímos, aqui, uma parte de nossa viagem rumo ao entendimento sobre as relações entre Estado, governo e políticas públicas. Até esta etapa, nossos diálogos versaram, especialmente, em torno da conceituação desses tripés que norteiam nossas discussões no âmbito deste material de estudos. Contudo, avançamos também no sentido de compreender outros importantes aspectos, quais sejam: a maneira como Estado e governo estão organizados e articulados no Brasil, a relevância da democracia ao funcionamento da gestão pública no país e os papeis dos partidos políticos e da congruência política com relação ao voto e, por fim, a responsabilidade social empresarial como maneira suplementar de desenvolvimento de ações sociais e de políticas públicas. Esse caminho constitui a base necessária à conformação da visão de um es- pecialista que busque compreender, de fato, como se estruturam as políticas públicas, para o que, por exemplo, por serem múltiplos e diante da impossibilida- de de uma abordagem única, discorrer sobre o conceito de políticas públicas é essencial ao conhecimento sobre as distintas possibilidades de desenvolvimento de ações desta natureza, as quais serão analisadas em nossa próxima unidade de estudos. Diante das bases até aqui constituídas, podemos avançar para conhecer a rea- lidade cultural, histórica, social, econômica e política brasileira sob a perspectiva da conformação das ações sociais e das políticas públicas ao longo do período republicano, com ênfase tanto às distintas mobilizações e articulações de atores individuais e coletivos ao longo do tempo, quando das principais políticas públi- cas decorrentes da abertura do Estado ao diálogo no atual período democrático. Caminhemos, então, rumo ao entendimento acerca dos arranjos constituintes das políticas públicas e de como é possível compreender o processo de sua consecução enquanto ciclo social. PÁGINA 36 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO NA WEB Capa do livro: Título: Dicionário de Políticas Públicas Autor: Carmen Lúcia Freitas de Castro, Cynthia Rúbia Braga Gontijo e Antônio Eduardo de Noronha Amábile Editora: Universidade Estadual de Minas Gerais Sinopse: o Dicionário disponibiliza conceitos relaciona- dos à teoria e à prática das políticas públicas para es- tudantes, pesquisadores, gestores públicos e cidadãos interessados na compreensão da gestão pública con- temporânea e suas relações internas e externas. FILME Pôster do filme: Título: Quanto vale ou é por quilo? Mais valem pobres na mão do que pobres roubando Ano: 2005 Sinopse: O filme faz uma comparação com tráfico de es- cravos do século 17, ao mesmo que critica as ONGs e suas captações de recursos, junto ao governo e empresas privadas. Por meio da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará, o Ob- servatório de Políticas Públicas (OPP/UFCE) apresenta documentos oficiais, notícias e resultados de pesquisas científicas voltadas ao debate sobre o forta- lecimento social, crítico e propositivo de políticas públicas no Ceará e no Brasil. Disponível em: <https://oppceufc.wordpress.com/tag/biblioteca/> PÁGINA 37 REFERÊNCIAS AGUM, R.; RISCADO, P.; MENEZES, M. Políticas públicas: conceitos e análise em revisão. Agenda Política, v. 3, n. 2, jul./dez. 2015. p. 12-42. AMABILE, A. P. N. Políticas públicas. In: CASTRO, C. L. F.; AMABILE, A. E. N.; GONTIJO, C. R. B. (Orgs.). Dicionário de políticas públicas. Belo Horizonte: Universidade Estadual de Minas Gerais, 2012. p. 390-391. BAQUERO, M.; BORBA, J. A (re)valorização dos partidos políticos no Brasil via capital social. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas, v. 2, n. 1, jan./jun. 2008. BOBBIO, N. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. BRANCALEON, B. B.; YAMANAKA, J. S.; CASTRO, J. M.; CUOGHI, K. G.; PAS- CHOALOTTO, M. A. C. Políticas públicas: conceitos básicos. 2015 Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/303682/mod_resource/content/1/ MaterialDidatico_EAD%2017%2004%202015.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2018. CARREIRÃO, Y. S. Representação política como congruência entre as preferên- cias dos cidadãos e as políticas públicas: uma revisão da literatura internacional. Revista Opinião Pública, v. 21, n. 2, ago. 2015. p. 393-430. DAHL, R. A. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1997. FUCS, J. Entrevista Robert Reich: “Ação social é só relações públicas”. Revista Época, n. 490, p. 74-76, 08 out. 2007. INSTITUTO Ethos. Conceitos básicos e indicadores de responsabilida- de empresarial. 5. ed. São Paulo, 2007. Disponível em: <https://www3.ethos. org.br/wp-content/uploads/2014/05/Conc_Bas_e_Indic_de_Respon_Soc_Em- pres_5edi.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2018. KERSTENETZKY, C. L. Políticas públicas sociais. In: AVELAR, L.; CINTRA, A. O. (Orgs.). Sistema político brasileiro: uma introdução. 3. ed. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung; São Paulo: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, 2015. MAIR, P. Os partidos políticos e a democracia. Revista Análise Social, v. 38, n. PÁGINA 38 167, p. 277-293, 2003. MAYORGA, R. A. Bolivia: metamorfosis del sistema de partidos. Revista Íco- nos, n. 16, may. 2003. p. 96-105. MAZZEI, B. B.; ROCHA, E. E. R. B. O lixo reciclável como alternativa de renda – um estudo nas empresas socialmente comprometidas na cidade de Maringá. In: SEMANA DO ADMINISTRADOR DE MARINGÁ, 23, 2003, Maringá. Anais... Maringá: UEM, 2003. MENDONÇA, S. B.; CARREIRA, S. S. Análise dos programas de responsabili- dade social de algumas empresas localizadasna região noroeste do Paraná. In: SEMANA DO CONTADOR DE MARINGÁ, 18, 2006, Maringá. Anais... Maringá, UEM, 2006. MILLER, W. W.; STOKES, D. E. Constituency influence in Congress. American Political Science Review, v. 57, 1963. p. 45–56. PAGE, B.; SHAPIRO, R. Y. Effects of public opinion on policy. American Political Science Review, v. 77, n. 1, 1983. p. 175-190. PASQUINO, G. Curso de Ciência Política. Parede (Portugal): Principia, 2010. RODRIGUES, M. M. A. Políticas Públicas. São Paulo: Publifolha, 2010. SARTORI, G. Partidos e sistemas partidários. Rio de Janeiro/Brasília: Zahar/ Universidade de Brasília, 1982. SCHATTSCHNEIDER, E. E. Party government. New York: Holt, Reiner and Tur- ner, 1942. SILVA, A. F.; GIMENES, É. R.; OLIVEIRA, V. B.; LEONARDO, V. S. A importância da gestão ambiental para as organizações. In: SEMANA DO CONTADOR DE CIANORTE, 12, 2004, Cianorte. Anais... Cianorte: UEM, 2004. SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão de literatura. Sociologias, Porto Ale- gre, v. 8, n. 16, jul./dez. 2006. p. 20-45. URBINATI, N. O que torna a representação democrática? Lua Nova, v. 67, 2006. p. 191-228. WEBER, M. (1922). Economia e sociedade. Fundamentos da Sociologia com- preensiva, v. 2. 4. ed. 3. reimpr. Brasília: Universidade de Brasília, 2012. PÁGINA 39 CAPÍTULO 3 CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Prof. Dr. Éder Rodrigo Gimenes Objetivos de Aprendizagem: • Apresentar as distinções entre políticas de Estado e políticas do governo; • Abordar aspectos referentes aos processos que compõem o ciclo de po- líticas públicas; • Analisar distintos resultados de avaliação de uma política pública de âm- bito nacional no Brasil, como forma de exemplo. Plano de Estudo: • Políticas de Estado e políticas de governo; • Ciclo de políticas públicas; • Avaliação de políticas públicas: exemplo empírico. PÁGINA 40 INTRODUÇÃO Não raras vezes, temos a percepção de que algumas políticas públicas tramitam ou tramitaram de maneira lenta e outras foram aprovadas e implementadas com extrema rapidez. Seria impressão, desconhecimento ou a sensação está corre- ta? Os processos que envolvem a criação de políticas podem, de fato, ser lentos ou rápidos, a depender de aspectos como os atores envolvidos na discussão e a urgência em sanar ou minimizar problemas. Daí a existência de políticas de Estado e políticas de governo, bem como a necessidade de conhecer seus processos. Nesse sentido, a primeira seção versa sobre políticas de Estado e políticas de governo, distinção necessária à reflexão sobre os mecanismos que permeiam a definição, a implementação e a persistência ou extinção das políticas públicas ao longo do tempo e espaço. Na segunda seção, tratamos do ciclo de atividades que compõem uma política pública, desde o início da discussão (entrada da temática na agenda pública), passando pela formulação e implementação da política e até sua avaliação, cuja finalidade é de geração de feedback aos diversos atores sociais envolvidos. A título de aprofundamento do conhecimento acerca do ciclo de políticas públi- cas, oferecemos como exemplo um compêndio de resultados decorrentes de distintas análises relacionadas ao Programa Bolsa Família, cuja abordagem se revelou múltipla tanto em termos metodológicos quanto de maneiras como os pesquisadores vislumbraram a referida política e seus desdobramentos. Após esses avanços, caminharemos rumo à exploração de aspectos que rela- cionam Estado, governo e políticas públicas, considerando seu ciclo como um todo, com a democracia no Brasil, de modo a conhecer com maior detalhamento os avanços em termos de participação social. Bons estudos! PÁGINA 41 1 POLÍTICAS DE ESTADO E POLÍTICAS DE GOVERNO Nas unidades anteriores deste livro, discutimos os conceitos, aspectos histó- ricos, as tipologias e características, e a conformação de Estado e governo no Brasil. Nesta unidade, ao tratar de políticas públicas, cabe retomar brevemente as distinções entre os termos: Estado diz respeito à concentração ou dispersão do poder; enquanto governo se refere à forma, sistema e regime por meio dos quais o exercício do poder ocorre. Em termos práticos, seria como dizer que o Estado apresenta a definição de quantas pessoas comandam os processos políticos; enquanto o governo diz res- peito de como a organização dos mandatários (os governantes) é exercida em termos de gestão pública. Retomados esses conceitos, em somatória com o conceito de políticas públicas, como responsabilidade do poder público para com coletividades que necessitam de serviços específicos, é importante entendermos como tais políticas são inter- pretadas: políticas de Estado ou políticas de governo. As políticas de Estado se caracterizam pelo envolvimento com a estrutura burocrática de funcionamento da máquina pública, como agências de Estado, instâncias de discussão e de deliberação, bem como estudos técnicos e, até mesmo, realização de consultorias antes da entrada em pauta legislativa. Nesse processo, não raras vezes, dois conjuntos de atores para além daqueles perten- centes ao Poder Executivo se fazem relevantes. O primeiro grupo de influência na elaboração de políticas de Estado são os po- líticos, seja por meio de partidos e suas bancadas, (de situação ou de oposição ao governo, conforme as coalizões) ou por meio de sua influência nos postos legislativos e cadeiras de secretarias, ministérios ou cargos de alto escalão. O segundo grupo é composto por membros da sociedade civil, mobilizados com a finalidade de exercer pressão para que um projeto ou ação seja contemplado em pautas de deliberação de políticas, de conferir visibilidade a um tema ou de coibir decisões políticas que desrespeitem a vontade de uma coletividade, seja ela ampla ou restrita. Tal grupo compreende atores individuais (por meio de manifestações online ou “off-line”, abaixo-assinados, greves, ocupações etc.) ou coletivos (movimentos sociais, associações, sindicatos, comunidades religiosas, organizações do Terceiro Setor, empresários etc.) que visam vocacionar suas demandas e opiniões. PÁGINA 42 Conforme explica Almeida (2016, on-line)2: Políticas de Estado, por sua vez, são aquelas que envolvem as burocracias de mais de uma agência do Estado, justa-mente, e acabam passando pelo Parlamento ou instâncias diversas de discussão, depois que sua tramitação dentro de uma esfera (ou mais de uma) da máquina do Estado envolveu estudos técnicos, simulações, análises de impacto horizontal e vertical, efeitos econômicos ou orçamentários, quando não um cálculo de custo-benefício levando em conta a trajetória completa da política que se pretende implementar. Para além do reconhecimento de demandas populares ou coletividades es- pecíficas e da tensão entre atores políticos, uma política de Estado se caracte- riza, ainda, pela necessidade de ampla discussão de ordem financeira acerca do impacto sobre o orçamento do ente estatal e sua relação custo-benefício em termos de despesas e resultados quantitativos e qualitativos. Dado que políticas de Estado são construídas para perpetuarem-se na estrutura de funcionamento da máquina pública, o processo de criação, alteração ou ex- tinção de uma política de tal natureza é moroso. O trabalho da burocracia pode levar meses, bem como o eventual exame e discussão no Parlamento, pois políticas de Estado, que respondem efetivamente a essa designa- ção, geralmente envolvem mudanças de outras normas ou disposições pré-existentes, com incidência em setores mais amplos da sociedade (ALMEIDA, 2016, on-line)2. Em contrapartida, a elaboração de políticas de governo é mais simples e ágil, especialmente pelo fato de que são formuladas de maneira unilateral e têm al- cance, na maioria das vezes, mais restrito do que políticas de Estado. Políticas de governo são aquelas que o Executivo decide num processo bem mais elementar de formulação e imple- mentação de determinadas medidas, para responder às demandas colocadas na própria agenda política interna –pela dinâmica econômica ou política-parlamentar, por exemplo – ou vindos de fora, como resultado de eventos internacionais com impacto doméstico (ALMEIDA, 2016, on-line)2. PÁGINA 43 Nesse sentido, ainda que tratem de temáticas ou áreas de ação que possam vir a exigir deliberações complexas, os trâmites necessários à aprovação de polí- ticas de governo são mais curtos e cabem, geralmente, ao plano administrativo específico ou a níveis de competência, como secretarias ou ministérios. Diante de tais conceitos, percebemos que políticas de Estado e políticas de go- verno não são termos intercambiáveis, não são sinônimos e não refletem o mes- mo processo de deliberação. Ainda que uma política definida por um governo possa atender, em alguma medida, o clamor popular, ou que determinada políti- ca de Estado seja definida exclusivamente pelo Poder Executivo diante de uma conjuntura específica, as diferenças persistem. Assim, para além da relação entre atendimento aos anseios da população ou decisão baseada em elites políticas ou burocráticas, é preciso, ao gestor público, atentar para: • A rede de interações que permeou a formulação de acordos, parcerias, estudos, aprovações e debates, que culminaram em determinada lei que define uma política pública. • Os impactos dessa alteração no campo das políticas públicas, de modo a verificar as diferenças em termos de investimento e retorno (custo- benefício) orçamentário/financeiro, econômico, social, cultural e político. A relação entre redes de interações e impactos prospectivos, é essencial para refletirmos sobre a natureza de uma determinada política pública: ação de Estado ou ação de governo. As discussões sobre a distinção são inúmeras e retomadas a cada nova rodada de debates sobre criação, ampliação, reformulação, adequação ou extinção de uma determinada política pública. É assim no mundo todo e não há distinções no caso brasileiro, em que, por exemplo, são candentes os debates acerca de políti- cas públicas de saúde (FLEURY, 2003), educação (OLIVEIRA, 2011; OGIBA, 2016), transferência condicionada de renda (AZEVEDO, 2007; RÊGO; PIN- ZANI, 2013a; 2013b), para refugiados (DIAS et al., 2011), entre outros. PÁGINA 44 REFLITA Busque, na internet, a legislação referente ao seu município na página da Câma- ra de Vereadores e procure identificar se políticas públicas aprovadas remetem a políticas de Estado ou de governo. Há clareza nas informações disponíveis? O estudo sobre as políticas públicas no Brasil, contudo, não é de competência desta unidade. Por se tratar de temática de grande importância à gestão pública e, por conseguinte, à construção do conhecimento por parte de futuros gestores públicos, aspectos relacionados às lutas históricas e sociais no Brasil, avanços e retrocessos ocorridos ao longo do período republicano sob distintos regimes políticos, bem como acerca do desenvolvimento da participação, integrarão nossas próximas unidades de estudo, com destaque ao impacto do compartilhamento da responsabilidade de sua formulação com a sociedade civil, por meio de ações coletivas e da participação institucional. PÁGINA 45 2 CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Durante muitas décadas, as políticas públicas foram analisadas apenas como resultados de demandas e articulações de interesses de ordem política. Nesses termos, a ênfase das investigações e debates recaia sobre o processo decisó- rios no âmbito da gestão pública (FARIA, 2003). Apenas a partir da década de 70, a atenção voltou ao contexto geral que culmina em uma política pública, de modo que a perspectiva de análise de trâmites foi substituída pela pluralização de objetos analisados, o que significou que o olhar científico e da administração pública, voltou-se para as distintas etapas relacionadas às políticas públicas, desde o surgimento de demandas até a avaliação dos indicadores depois da política em prática ou em funcionamento. Esse conjunto de etapas corresponde ao ciclo político de uma política pública. Conforme Amábile (2012), não há definição única para o termo “políticas públi- cas”. De modo semelhante, também não há unanimidade com relação às etapas que compõem um ciclo político de políticas públicas. Contudo, autores como Trevisan e Van Bellen (2008), Chiari (2012), Azeredo, Luiza e Baptista (2012), Secchi (2012) e Brancaleon et al. (2015) apontam, distintos conjuntos de etapas analíticas. Brancaleon et al. (2015) propõe o ciclo de políticas como um conjunto de cinco atividades e, ao final, haveria uma retroalimentação do sistema, conforme exposto na figura a seguir. Figura 1 - Esquema do ciclo de política pública Fonte: Brancaleon et al. (2015, p. 3). PÁGINA 46 SAIBA MAIS Dentre os autores anteriormente mencionados, são três as etapas recorrentes: formulação, implementação e avaliação. Nesta seção, trataremos dessas etapas e, também, da agenda que, apesar de não ser destacada por todos os autores, é essencial ao início e a retroalimentação do ciclo. Cabe destacar que a tomada de decisão está contemplada na discussão enquanto ação a ser empregada nas diversas etapas do ciclo. À explicação sobre cada etapa antecede um breve conceito decorrente da revisão de literatura sobre o campo das políticas e de avaliação de sua implementação, publicado no Boletim de Informações Sociais da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Com relação à construção de agenda, pode ser definida como o espaço de constituição da lista de problemas ou assuntos que chamam a atenção de governos e cidadãos, convertidas em demandas que policy makers escolhem ou são compelidos a escolher (AZEREDO; LUIZA; BAPTISTA, 2012, p. 9). A agenda diz respeito ao conjunto de discussões, temáticas, problemas ou de- mandas relevantes ao poder público, mas não dependem exclusivamente do próprio governo para sua composição, uma vez que diferentes atores individuais e coletivos, como partidos ou políticos, meios de comunicação, associações ou lideranças expressivas, podem expor como aspectos problemáticos à comunidade política, merecedores de atenção e intervenção públicas (SECCHI, 2012). A formulação compreende a fase de elaboração de alternativas e escolha de uma delas, uma vez que um problema tenha sido identificado e tenha expressão suficiente para provocar uma resposta dos agentes governamentais (AZEREDO; LUIZA; BAPTISTA, 2012, p. 9). Em se tratando de segurança pública, a urgência pela intervenção federal no Rio de Janeiro por conta das condições de insegurança e violência são exemplo de política de governo, enquanto a instalação de unidades de polícia pacificadora (UPPs) decorreu de estudos e discussões que conformaram uma política de Estado. PÁGINA 47 A partir do momento em que determinado tema ou assunto se torna pauta de dis- cussões, ou seja, passa a compor a agenda pública, inicia-se o processo de aná- lise da questão, o qual é sucedido pela formulação de proposta de intervenção pública por meio de uma ação política. Tal intervenção deve considerar tanto se há perspectiva de alcance da coletividade que necessita daquela política pública quanto os resultados esperados em decorrência da aplicação dessa legislação (TREVISAN; VAN BELLEN, 2008), e tal processo finda com a tomada de decisão acerca da política pública a ser implementada. A implementação diz respeito à etapa em que as intenções, construídas na fase de formulação da política, se convertem em ações, ou a fase em que se im- plantam intenções para se obter impactos e consequências (AZEREDO; LUIZA; BAPTISTA, 2012, p. 9). Nesse sentido, a fase de implementação corresponde ao período em que determinada política pública aprovada entra em vigor, ou seja, trata-se do momento do ciclo em que a deliberação pública se efetiva à popu- lação. Nesse sentido, essa etapa se compõe de uma sucessão de tomadas de decisões e de monitoramento das ações, pois diante de eventualidades ou da verificação de falhas de planejamento, faz-se necessária a alteração
Compartilhar