Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 2 HISTÓRIA DO ESTUDO DA LINGUAGEM ............................................................ 5 2.1 Linguística moderna .............................................................................................. 8 2.2 Surgimento da Linguística Geral e seus precursores ............................................ 8 3 INTRODUÇÃO A LINGUÍSTICA .......................................................................... 11 3.1 O que significa linguística .................................................................................... 13 3.2 Linguística Moderna ............................................................................................ 14 3.3 Linguagem ........................................................................................................... 15 3.4 A Fala .................................................................................................................. 16 3.5 Linguagem verbal ................................................................................................ 17 3.6 Linguagem não verbal ......................................................................................... 18 4 FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS TENDÊNCIAS TEÓRICAS .............................. 19 4.1 Abordagens estruturalista, gerativista, funcionalista e interacional da linguagem 22 4.1.1 Estruturalismo: língua e estrutura ..................................................................... 22 4.1.2 Gerativismo: linguagem e mente ...................................................................... 23 4.1.3 Funcionalismo: língua e função ........................................................................ 25 4.1.4 Interacional: língua e interação ......................................................................... 25 5 PRINCÍPIOS FONÉTICOS.................................................................................... 26 5.1 Fonética e Fonologia ........................................................................................... 29 5.2 Fonética ............................................................................................................... 31 5.2.1 Fonética articulatória ......................................................................................... 31 5.2.2 Fonética auditiva ............................................................................................... 32 5.2.3 Fonética acústica .............................................................................................. 32 5.2.4 Fonética instrumental ........................................................................................ 32 5.2.5 Fonema 33 6 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS ................................... 35 3 6.1 Modalidade linguísticas e variações .................................................................... 37 6.1.1 Diatópica: variações regionais ou geográfica ................................................. 38 6.1.2 Diacrônica: variações de linguística histórica ................................................... 39 6.1.3 Diastrática: variações de linguística social ...................................................... 40 6.2 Variação de registro, estilística ou diafásica ........................................................ 40 6.3 Diferentes níveis de linguagem ........................................................................... 40 6.3.1 Linguagem Informal ........................................................................................ 41 6.3.2 Linguagem Formal ........................................................................................... 42 6.4 Preconceito linguístico ......................................................................................... 42 7 LINGUÍSTICA GERAL E LINGUÍSTICA APLICADA ........................................... 43 7.1 O ensino da segunda língua ................................................................................ 46 7.2 Abordagens norteadoras para o ensino da segunda língua ................................ 47 8 A LÍNGUA INGLESA AO LONGO DA HISTÓRIA ............................................... 50 8.1 Língua global ....................................................................................................... 53 8.2 Ascensão do inglês.............................................................................................. 55 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 58 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 HISTÓRIA DO ESTUDO DA LINGUAGEM De acordo com Fiorin (2010), o interesse pela linguagem é muito antigo e se expressa por meio de mitos, lendas, canções, rituais ou trabalhos eruditos que buscam reconhecer essa capacidade humana. Ela remonta ao século IV a.C., quando os primeiros estudos ocorreram por questões religiosas que levaram os hindus a estudarem sua língua, para que os textos sagrados reunidos no Veda não sofressem modificações no momento de serem declamados. Gramáticos hindus, incluindo Panini (século IV a.C.), se dedicaram a descrever e criar meticulosamente modelos analíticos de sua língua, estes descobertos pelo ocidente no final do século XVIII. Os gregos atentaram-se em definir as relações entre o conceito e a palavra que o designa, ou seja, tentaram responder a pergunta: haverá uma relação necessária entre a palavra e o seu significado? Platão argumenta muito bem essa questão no Crátilo de Platão (437 a.C), já Aristóteles avançou os estudos noutra direção, tentando produzir uma análise precisa da estrutura linguística, principiou a elaborar uma teoria da frase, a distinguir as partes do discurso e a enumerar as categorias gramaticais. Dentre os latinos, destaca-se Varrão que, na esteira dos gregos, dedicou-se à gramática, esforçando-se por defini-la como ciência e arte (LYONS, 1987). Os modistas na Idade Média, consideraram que a estrutura gramatical das línguas é una e universal, em consequência, as regras da gramática são independentes das línguas em que se realizam. A religiosidade no século XVI, acionada pela Reforma, provoca a tradução dos livros sagrados em numerosas línguas, apesar de manter-se a predominância do latim como língua universal. O conhecimento de outras línguas até então desconhecidas são trazidas por viajantes, comerciantes e diplomatas, sendo que em 1502 surge o mais antigo dicionário poliglota, do italiano Ambrósio Calepino. Em 1660, a linguagem se funda na razão, é a imagem do pensamento, e, partindodos princípios de análise estabelecidos, não se prendem a uma língua particular, mas servem a toda e qualquer língua, surgindo, assim, o modelo para grande número de gramáticas do século XVII, como a “Grammaire générale et raisonnée de Port Royal”, ou Gramática de Port Royal, de Lancelot e Arnaud. 6 O conhecimento de um número maior de línguas vai provocar, no século XIX, o interesse pelas línguas vivas, pelo estudo comparativo dos falares, em detrimento de um raciocínio mais abstrato sobre a linguagem, observado no século anterior. É nesse período que se desenvolve um método histórico, instrumento importante para o crescimento das gramáticas comparadas e da Linguística Histórica (FIORIN, 2010). O pensamento linguístico contemporâneo, formou-se a partir dos princípios metodológicos elaborados naquela época e que preconizavam a análise dos fatos observados. No estudo comparado das línguas, comprova-se que as línguas se transformam com o tempo, independentemente da vontade dos homens, seguindo uma necessidade própria e manifestando-se de forma regular. 1.1 Surgimento da Linguística Histórica A Linguística Histórica como área do conhecimento nasceu a partir da publicação de Franz Boop em 1816. Esse grande estudioso da época, publicou sua obra sobre o sistema de conjugação do sânscrito comparado ao grego, ao latim, ao persa e ao germânico, sendo assim considerado o marco do surgimento da Linguística Histórica. A descoberta de semelhanças entre essas línguas e de grande parte das línguas europeias, demonstrou que existe entre elas uma relação de parentesco, constituindo, portanto, uma família, a indo-europeia. Por meio da língua indo-europeia que se pode chegar ao meio do método histórico-comparativo (WHITNEY, 2010). No seculo XIX ocorreu um grande progresso na investigação do desenvolvimento histórico das línguas, o qual foi acompanhado por uma descoberta fundamental e alterou, modernamente, o próprio objeto de análise dos estudos sobre a linguagem, a língua literária até aquele momento. Segundo Whitney (2010), a partir da publicação do livro intitulado “Do sistema de conjunção do sânscrito comparado com o sistema de conjunção das línguas gregas, latina, persa e germânica” de Franz Bopp, a comparação das línguas permitiu determinar o parentesco de uma nação com outra e remontar de forma segura às tradições mais antigas, razão pela qual ela interessava, sobretudo, ao historiador e ao etnólogo. A partir daí Bopp nos faz prever este fenômeno cuja aparente regularidade parecia permitir a fundação de uma ciência inteiramente à 7 parte. Esse fenômeno é a mudança linguística. À nova ciência cabia, então, mostrar a ação das leis que fizeram com que idiomas saídos de um mesmo berço evoluíssem em direções tão diversas. Esse estudo se referia, sobretudo, à fonética. No século XIX, a referência à biologia no tratamento dos fatos humanos é geral, e a teorização do novo objeto se dá a partir do modelo fornecido por essa ciência. A linguagem é, então, entendida ao modo de um organismo vivo. Isso que parecia uma metáfora inicialmente, termina mais tarde por ser tornar literal. Em 1863, August Schleicher, principal representante dessa tradição, afirma: "as línguas são organismos naturais que, independentemente da vontade humana, crescem, se desenvolvem, envelhecem e morrem. [...] A glótica ou ciência da linguagem é, consequentemente, uma ciência natural". Nesse mesmo texto, Schleicher explica seu famoso esquema da evolução das línguas indo-europeias, concebido sob a forma de uma árvore genealógica: A uma época remota da vida da espécie humana, houve uma língua primitiva [...] a língua indo-germânica. Após ter sido falada por uma série de gerações, série durante a qual o povo que a falava cresceu provavelmente e se estendeu, ela adquiriu pouco a pouco em diferentes partes de seu domínio um caráter diferente, de modo que, no final, duas línguas daí saíram. É possível mesmo que muitas línguas tenham se formado e somente duas sobrevivido e se desenvolvido; a mesma observação se aplica às divisões ulteriores. Essa inclusão dos estudos linguísticos no domínio das ciências naturais, colocava um problema: a assimilação da língua comparada a organismos vivos, a crença na existência de princípios e leis naturais que regem a história das línguas. A ideia de árvore genealógica, conduziu a um apagamento total da dimensão humana da linguagem e reduziu os estudos a um ramo da fisiologia. Essa visão da dimensão humana manteve-se até o último quarto do século XIX e iria fazer parte dos estudos da linguagem do ponto de vista da linguística naturalista (WHITNEY, 2010). A linguística moderna nasce precisamente nesse momento, quando o sujeito, sentido e sociedade são resgatados. A semântica, a geografia linguística, a crioulística, a pragmática, mas também aquilo que seria chamado de fonologia e todas as disciplinas vêm reintroduzindo aquilo que havia sido excluído dos estudos da linguagem. Para Whitney (2010), a linguagem não é um organismo natural, mas um produto humano, e a linguística deve, por extensão, ser situada no interior das ciências homem. 8 2.1 Linguística moderna A Linguística moderna, embora também se ocupe da expressão escrita, considera a prioridade do estudo da língua falada como um de seus princípios fundamentais. Com a divulgação dos trabalhos de Ferdinand de Saussure (1857- 1913), professor da Universidade de Genebra, no início do século XX, investigou-se sobre a linguagem e a Linguística que, a partir desses estudos, passaram a ser reconhecida como estudo científico. Dois alunos de Saussure, em 1916, publicam o Curso de Linguística Geral, a partir de anotações de feitas em aula, numa obra que se tornou fundadora da nova ciência (LYONS, 1987). Considerado o pai da linguística moderna, Saussure foi o primeiro a mostrar que a língua está presente na cultura humana desde os seus primórdios. Com ele, a linguística ganhou autonomia como ciência. Ele entendia a linguística como um ramo da ciência mais geral dos signos, e propôs que fosse chamada de Semiologia. No passado, a linguística não era autônoma, mas sujeita às demandas de outros estudos, como lógica, filosofia, retórica, história e crítica literária. O século XX trouxe uma mudança central e completa nessa atitude, expressa na nova natureza científica da linguística, centrada na observação dos fatos linguísticos (FIORIN, 2013). O método científico pressupõe que a observação dos fatos precede o estabelecimento de hipóteses, e que os fatos observados são sistematicamente investigados por meio da experimentação e teoria apropriada. Um trabalho científico consiste em observar e descrever fatos com base em certos pressupostos teóricos formulados pela linguística, ou seja, os linguistas abordam os fatos guiados por um referencial teórico particular, sendo assim, diferentes descrições e explicações podem existir para o mesmo fenômeno, dependendo do referencial teórico escolhido pelos pesquisadores (FIORIN, 2013; SAUSSURE, 1969). 2.2 Surgimento da Linguística Geral e seus precursores O suíço Ferdinand Saussure foi o primeiro linguista a desenvolver estudos na área. Os temas principais trabalhados em suas obras foram: língua, fala, signo linguístico, significante, significado, sintagma, sincronia e diacronia. Seus estudos foram essenciais para a linguística se tornar uma ciência autônoma. Saussure é 9 considerado o pai da linguística moderna, ele reorganizou o estudo sistemático da linguagem e das línguas de maneira a tornar possíveis as realizações da linguística do século XX. O marco do nascimento do estruturalismo foi a publicação do Cours de linguistique générale (Curso de linguística geral), em 1916 (LYONS, 1987), obra sobre a qual se construiu toda a linguística moderna, resultado de anotações de aulas reunidas e publicadaspor dois dos alunos de Saussure: Ch. Bally e A. Sechehaye. Na linguística, há vertentes que correspondem a diferentes níveis de análise: a fonologia (estudo das unidades sonoras); a sintaxe (estudo da estrutura das frases) e a morfologia (estudo das formas das palavras) que, juntas, constituem a gramática e a semântica (FIORIN, 2013). Para Saussure a linguística ganha seu objeto específico: a língua. A língua é um “sistema de signos”, um conjunto de unidades que estão organizadas formando um todo. É ele que considera o signo como a associação entre significante (imagem acústica) e significado (conceito). É fundamental mencionar que não se pode confundir a imagem acústica com o som; ela é psíquica e não física. Ela é a imagem que fazemos do som no nosso cérebro. Saussure define língua como sendo parte da linguagem: Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, simultaneamente, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos (SAUSSURE, 1969, p. 17). De acordo com Fiorin (2013), Saussure define a linguagem como sendo geral, que pode estar presente em diferentes domínios e que é, simultaneamente, individual e social, não se restringindo por uma unidade ou sistema. Saussure fez distinções importantes, a primeira diz respeito à língua vs. fala. Para ele, a língua é um sistema abstrato, um fato social, geral, virtual. A fala, ao contrário, é a realização concreta da língua pelo sujeito falante, sendo circunstancial e variável. Ele excluiu a fala do campo da linguística, relatando que ela depende do indivíduo e não é sistemática. A outra distinção é a que separa a sincronia (o estado atual do sistema da língua) e diacronia (sucessão, no tempo, de diferentes estados da língua em evolução). Ele não considera a diacronia nos estudos da linguística, pois segundo ele, é incompatível a noção de sistema e evolução. Reside aí a 10 importância dos conceitos de língua, valor e diacronia. É com eles que Saussure institui a base da linguística como ciência (FIORIN,2010). Segundo Martelotta (2009), Saussure concebe significado da fala como sendo um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir seu pensamento pessoal, e um mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações. No século XX, quase que simultaneamente surgem distintas correntes de estudo de semiótica. Nos Estados Unidos, numa tradição ligada ao empirismo, os estudos foram propostos pelo filósofo e lógico Charles Sanders Peirce (1839-1914). Além de filósofo, Peirce foi pedagogista, cientista, linguista e matemático, e deixou sua contribuição para os avanços em diversas áreas do conhecimento. Seus estudos foram essenciais para o progresso da semiótica e da filosofia. A semiótica peirciana estuda os signos associados à lógica. Considera-se que tudo no mundo é signo, como o ser humano, as suas ações, suas ideias e seus objetos. Tudo isso por possuir uma visão pragmática, considerando válido somente o conhecimento com aplicabilidade social. Com viés racionalista, Saussure iniciou uma corrente pensando a partir das estruturas da linguagem. Na União Soviética, os filólogos Potebnia (1835-1891) e Viesselovski propuseram uma perspectiva mais culturalista. Essas são as matrizes que desencadearam as principais vertentes de estudo contemporâneas (GREIMAS, 2016). O russo Roman Jakobson (1896-1982) foi um importante estudioso da área, considerado um dos maiores linguistas do século XX. Jakobson dedicou seus estudos à comunicação e análise da estrutura da linguagem. Identificou seis funções da linguagem correspondentes a cada um dos seis elementos: emotiva, poética, fática, metalinguística, referencial e conativa. Em cada uma delas, predomina um dos elementos da comunicação (WINCH, 2012). Avram Noam Chomsky (1928), linguista, filósofo, sociólogo, cientista e ativista político norte-americano, desenvolveu estudos sobre a cognição. Considerado o pai da linguística moderna (Linguística e Gramatica Gerativa), seus estudos foram de suma importância para o desenvolvimento da área da psicologia cognitiva. O modelo de Chomsky foi reconhecido como dominante na época e, ainda hoje, tem respaldo 11 entre os círculos de linguistas. Os estudos de Chomsky nos indicam que os seres humanos apresentam uma predisposição genética que permite a aquisição da linguagem. Assim, ele utiliza o termo “estado inicial” para caracterizar o que seria um dispositivo de aquisição da língua. Considerado um dos maiores defensores da linguagem como instinto humano, Chomsky, em meados da década de 50, criou a Teoria Gerativa, que afirma que a aquisição da língua é provinda de um órgão mental, como se fosse uma faculdade psicológica presente em cada indivíduo. A faculdade de linguagem pode ser razoavelmente considerada "um órgão linguístico" no mesmo sentido em que na ciência se fala, como órgãos do corpo, em sistema visual ou sistema imunológico, ou sistema circulatório. Compreendendo deste modo, que um órgão não é alguma coisa que possa ser removida do corpo, deixando intacto o resto, um órgão é um subsistema que é parte de uma estrutura mais complexa. Chomsky fala que a "linguagem é um instinto humano instalado em nosso cérebro, ou seja, existe um dispositivo ativado na mente quando a criança alcança certa idade, e por isso lembramos apenas de certo momento de nossa infância" (apud PINKER, 2002). Em sua teoria, Chomsky defende que todo ser humano possui uma gramática internalizada. Com isso, ele quis dizer que em nossa mente possuímos mecanismos que comportam estruturas de todas as línguas e os fonemas também, cabendo ao indivíduo, ao adquirir a linguagem, selecionar o que será usado e excluir o que não lhe servirá. Ou seja, para uma criança falar, ninguém precisa lhe ensinar, pois ela já possui todas as estruturas essenciais para a aquisição da linguagem, e ela consegue adquirir uma língua apenas observando algum falante dessa língua. Portanto, quando uma criança observa a fala de um adulto, ela está observando as regras que este utiliza na sua comunicação, logo, então, ela assimila e internaliza esses dados e cria as próprias regras ao falar em repetição ao que foi observado. Mas essa internalização simultânea só lhe é possível durante o seu período crítico, ou seja, antes da puberdade, período em que nosso cérebro está propício para aprender (PINKER, 2002). 3 INTRODUÇÃO A LINGUÍSTICA Fiorin (2010), discorre um pouco sobre a história da língua e como ela foi 12 construída ao longo do tempo. Dos mitos às mais elaboradas especulações filosóficas, Fiorin sempre ressaltou o problema da origem da linguagem, seu surgimento, seus primeiros passos. As crenças e as religiões atribuem para essa fonte poderes divinos, animais e criaturas místicas imitadas pelo homem. Lendas, mitos, canções e até antigos rituais atestam para esse interesse. No que diz respeito à linguística comparativa, podemos reconstruir o passado distante das línguas e derivar leis linguísticas específicas que nos permitem traçar a vida das palavras, seus movimentos e transformações em diferentes línguas. Além dessas investigações, a decifração do material arqueológico também revelou as seguintes descobertas: inscrições em línguas passadas, nomes de deuses, nomes de lugares, grupos étnicos, etc. (WHITNNEY, 2010). Com contribuições significativas de arqueólogos e paleontólogos, a linguística procura determinar como as línguas surgiram e desde quando os humanos falam. Poderemos considerar que a linguagem teve um tempo de desenvolvimento com progressão lentae laboriosa, se transformando no sistema complexo de significação e de comunicação que é hoje. Ainda na antiguidade, os hindus eram conhecidos pela sua agudeza no tratamento da linguagem verbal. Com a redescoberta do sânscrito (língua sagrada da Índia antiga), no século XIX, apareceram os sofisticados estudos de linguagem que os hindus tinham feito em épocas remotas. Os motivos pelos quais eles se interessavam pela linguagem eram de caráter religioso, e estabeleceram pela palavra uma relação íntima com as divindades, mas nem por isso seus estudos eram menos rigorosos (PETTER, 2002). Na Grécia antiga, os pensadores debateram por muito tempo se as palavras imitavam as coisas ou se os nomes eram dados apenas por convenção. Estes pensadores tinham discussões acaloradas sobre a própria organização da linguagem. Perguntavam se as palavras se organizavam conforme a ordem existente no mundo, seguindo princípios que têm como referência as semelhanças ou as diferenças (FIORIN, 2013). Conforme Fiorin (2013), em Roma, a preservação dos textos religiosos no judaísmo, a difusão das novas religiões para os elitistas - como o cristianismo e o islamismo - e o estabelecimento de tradições literárias vernáculas nos Estados- nações da Europa renascentista, são exemplos do contexto em que a língua, a 13 princípio, era uma ferramenta e que, a partir disso, tornou-se um objeto de estudo. Os reflexos linguísticos medievais buscavam desenvolver uma teoria geral da linguagem, baseada na autonomia da gramática sobre a lógica. Consideraram, então, três modalidades (modus) manifestados pela linguagem natural: o modus essendi (de ser), o intellingendi (de pensar) e o significandi (de significar). Portanto, há uma enorme quantidade de evidências de que pessoas de diferentes faixas etárias sempre prestaram atenção à linguagem. Mas foi somente após a criação da linguística que esse surgimento da curiosidade humana tomou a forma de uma ciência com seus próprios assuntos e métodos. Na história da constituição da Linguística, há dois momentos chave: o século XVII, sendo o século das gramáticas gerais, e o século XIX, com suas gramáticas comparadas. No século XVII, os estudos da linguagem são fortemente marcados pelo racionalismo. Os pensadores desta época concentram-se em estudar a linguagem enquanto representação do pensamento e procuram mostrar que as línguas obedecem a princípios racionais e lógicos. 3.1 O que significa linguística Como o termo linguagem pode ter um uso muito pouco especializado, podendo referir-se desde a linguagem dos animais até outras manifestações como música, dança, pintura, pantomima, etc. Deve-se enfatizar que a linguística se concentra apenas no estudo científico da linguagem humana. Nesse sentido, nota- se que todas as línguas (verbais ou não verbais) possuem uma importante característica em comum, o sistema de língua de signos utilizado para a comunicação. Essa semelhança possibilitou pensar em uma ciência que estuda todos os sistemas de signos. Saussure chamou isso de Semiologia e Peirce de Semiótica (FIORIN, 2010). Conforme citado por Fiorin (2010), a linguística é, portanto, parte dessa ciência geral; estuda as modalidades de sistemas de signos, as línguas naturais, como a forma de comunicação mais desenvolvida e difundida. Uma pintura, uma dança ou um gesto, podem expressar de formas diversas um mesmo conteúdo básico, mas só a linguagem verbal consegue traduzir com maior eficiência qualquer um desses sistemas semióticos. As línguas naturais situam-se numa posição de 14 destaque entre os sistemas sígnicos pois possuem propriedades de flexibilidade e adaptabilidade, que permitem expressar conteúdos bastante diversificados, como emoções, sentimentos, ordens, perguntas, afirmações, e também possibilitam falar do presente, do passado ou do futuro (PETTER, 2012). Não confunda linguística com aprender muitos idiomas. Um linguista deve ser capaz de “falar” uma ou mais línguas, saber como funcionam as línguas, suas semelhanças e diferenças. A linguística é incomparável com os estudos gramaticais tradicionais. Ao observar a linguagem em uso, os linguistas tentam descrever e explicar os fatos, os padrões fonéticos, padrões gramaticais e vocabulários usados. Não se avalia esse uso em relação a outros padrões, como o moral, estético ou crítico. Esses julgamentos não são considerados pelo linguista, pois sua função é estudar toda e qualquer expressão linguística como um fato merecedor de descrição e explicação em um quadro científico adequado (MARTELLOTA, 2008). 3.2 Linguística Moderna De acordo com Martelotta (2008), a linguística é definida na maioria dos manuais especializados, como a disciplina que estuda cientificamente a linguagem. Segundo o autor, essa definição pouco elucidativa por sua simplicidade, nos obriga a fazer algumas considerações importantes. Primeiramente é necessário entender o termo "linguagem", que nem sempre é empregado com o mesmo sentido, e também delimitar o que significa estudar cientificamente a linguagem. Além disso, não podemos esquecer que existem outras áreas do conhecimento interessadas em estudar a linguagem à sua maneira. Isso permite contrastar a linguística com várias ciências ou disciplinas relacionadas para esclarecer seus campos de atividade. Segundo Fiorin (2013), a linguística moderna é estruturada como a ciência da linguagem. Ao contrário da gramática, a linguística não pretende ser prescritiva (não pretende prescrever modos de falar), mas descritiva e explicativa (o que é linguagem e por que ela é?). Assim como os químicos não dizem que uma reação é certa ou errada, ou os biólogos que uma determinada espécie não deveria existir ou que é feia, ou os astrônomos que não classificam os corpos celestes como bons ou maus, os linguistas não condenam uma forma particular de falar, mas procuram descrever e explicar as construções, as formas. Por exemplo, explicar por que aparece o 15 chamado gerundismo, por que se usa o pronome ‘lhe’ em função de objeto direto em lugar dos pronomes que serviriam para expressar essa função sintática: o, a, os, as. 3.3 Linguagem Linguagem é o sistema através do qual o ser humano comunica suas ideias e sentimentos, seja através da fala, da escrita ou de outros signos convencionais. Fiorin (2010) compreende as línguas naturais, notadamente diversas, como manifestações de algo mais geral: a linguagem. Tal constatação fica mais patente se pensarmos em traduzi-la para o inglês, que possui um único termo language, usado para os dois conceitos língua e linguagem. É necessário, então, que se procure distinguir essas duas noções. O desenvolvimento dos estudos linguísticos levou muitos estudiosos a proporem definições da linguagem, próximas em muitos pontos e diversas na ênfase atribuída a diferentes aspectos considerados centrais pelo seu autor. São apresentadas duas propostas de texto: a de Saussure e a de Chomsky, que pressupõem uma teoria geral da linguagem e da análise linguística (FIORIN, 2010). Fiorin (2010), salienta o conceito de Saussure que considerou a linguagem "heteróclita e multifacetada", pois abrange vários domínios e é, simultaneamente, física, fisiológica e psíquica, que pertence ao domínio individual e social. Saussure ainda destaca que a linguagem não se deixa classificar em nenhuma categoria de fator humano, pois não se sabe como inferir sua unidade. A linguagem envolve uma complexidade e uma diversidade de problemas que suscitam a análise de outras ciências, como a Psicologia, a Antropologia, etc., além da investigação linguística, não se prestando, portanto, para objeto de estudo dessa ciência. Para tanto, Saussure separou uma parte de todas as línguas, a linguagem, um objeto classificável unificado. A linguagem é o produto social da capacidade de falar, o conjunto necessário de convenções adotadaspelos corpos sociais para permitir que os indivíduos exerçam essa capacidade. (SAUSSURE,1969). A língua é, para Saussure, "um sistema de signos", isto é, um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente em um todo. É "a parte social da linguagem", exterior ao indivíduo, não podendo ser modificada pelo falante que 16 obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade, (FIORIN, 2010). 3.4 A Fala O conjunto linguagem-língua contém outro elemento: a fala. Neste contexto a fala é um ato individual, nela resulta das combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua, expressando-se pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas combinações (SAUSSURE,1969). A distinção linguagem/língua/fala se situa como o objeto de estudo da Linguística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma, que investiga a língua, e outra, que analisa a fala. As duas partes são inseparáveis, visto que são interdependentes, pois a língua é condição para se produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade, portanto, de duas linguísticas: a da língua e a da fala. Saussure focou em seu trabalho a linguística da língua, produto social depositado no cérebro de cada um e sistema supraindividual que a sociedade impõe ao falante (LYONS,1987). Os adeptos do princípio de Saussure, procuraram explicar a própria linguagem examinando as relações que unem os elementos do discurso e, assim, conseguir determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações. A língua é considerada uma estrutura constituída por uma rede de elementos, em que cada um tem um valor funcional determinado. A teoria de análise linguística que se desenvolveu, herdeira das ideias de Saussure, foi denominada estruturalismo. Todas as línguas naturais são, seja na forma falada, ou na forma escrita, linguagens. Neste sentido, sua definição é que toda língua natural possui um número finito de sons (e um número finito de sinais gráficos que os representam, se for escrita). Mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em número infinito, cada sentença só pode ser representada como uma sequência finita desses sons (ou letras) (PETTER, 2002). Um linguista que descreve qualquer uma das línguas naturais determina quais dessas sequências finitas de elementos são sentenças e quais não são, ou seja, o que é dito e o que não é, naquela língua. A análise das línguas naturais deve 17 permitir determinar as propriedades estruturais que distinguem a língua natural de outras linguagens. Chomsky acredita que tais propriedades são tão abstratas, complexas e específicas que não poderiam ser aprendidas a partir do nada por uma criança em fase de aquisição da linguagem. Essas propriedades já devem ser "conhecidas" da criança antes de seu contato com qualquer língua natural e devem ser acionadas durante o processo de aquisição da linguagem. Para Chomsky, portanto, a linguagem é uma capacidade inata e específica da espécie, isto é, transmitida geneticamente e própria da espécie humana (PETTER, 2002). Assim, a linguagem tem propriedades universais e, para construir uma teoria geral da linguagem baseada nesses princípios, esses pesquisadores se propuseram a encontrar essas propriedades. Essa teoria é conhecida como generativismo. 3.5 Linguagem verbal A língua como forma de expressão é composta por um conjunto de signos criados voluntariamente a partir de uma convenção e que são aceitos como corretos pelos falantes. São essas convenções da linguagem que diferenciam um grupo do outro. Com isso, confirma a língua como um instrumento coletivo, de norma social. Dessa forma, pode-se afirmar que a linguagem verbal é “[...] objetiva, definidora, cerebral, lógica e analítica, voltada para a razão e a ciência, a interpretação e a explicação [...]” (AGUIAR, 2004, p. 28). A linguagem verbal apresenta-se por duas formas de linguagem, uma falada e outra escrita, que manifesta variações na forma de se expressar. Na linguagem oral, os recursos utilizados são diferentes da linguagem escrita, começando pelo espaço. Na escrita, a presença física do interlocutor é inexistente. Enquanto na oral ocorre um diálogo com o interlocutor, onde ambos muitas vezes ocupam o mesmo ambiente. A fala, sendo o principal recurso da linguagem oral, utiliza-se da altura e tom da voz e de outras características para a clareza do diálogo e da comunicação. As palavras são decifradas por partes, a partir da fala e da escrita, primeiro um signo e depois o outro, formando assim unidades maiores. É ao final da uma leitura ou da audição que temos o texto completo, a mensagem que se quer passar. Na linguagem escrita, a forma de comunicação se dá por palavras que, 18 através de frases e textos, têm a intenção de informar a mensagem de maneira clara e coerente para que o interlocutor compreenda. Assim, o sistema de sinais ‘alfabeto’ é o recurso principal da linguagem escrita no Ocidente, a partir dos fonemas, representados pelos sons da fala (AGUAIR, 2004). Para utilizarmos a linguagem verbal e necessário conhecer os vocábulos, considerando ser um meio de comunicação em sociedade. A exemplo disso, um bebê, antes de apreender a falar, vai se apropriando do código verbal a partir de sons interpretados pelos adultos em um arremedo de fala infantil. É dessa forma que surge, nesse caso, um sentimento de naturalidade da linguagem infantil. Conforme Aguiar (2004), a linguagem verbal tem influência também no aspecto psicoemocional do ser humano, pois afeta o estado de ânimo e as emoções. Por exemplo, quando recebemos um elogio ou dizemos algo que valoriza o outro, isso mexe com a autoestima e com o estado de espírito para um lado positivo, alegre. Ao contrário, se criticamos ou discutirmos, ficamos tristes, aborrecidos. Essas situações mostram o quanto a área intelectual e a afetiva estão relacionadas. No entanto, são duas as linguagens que estão conectadas: a verbal e não verbal. 3.6 Linguagem não verbal A linguagem não verbal pode ser definida como sendo a linguagem “[...] das imagens, das metáforas e dos símbolos, expressa sempre em totalidades que não se decompõem analiticamente” (AGUIAR, 2004, p. 28). Na linguagem não verbal não há presença de palavras, por isso ela segue outro tipo de código. Apesar da ausência da palavra, existe uma linguagem que constrói a mensagem que se pretende passar. Utiliza-se para isso outros instrumentos, como imagens, gestos e sinais. Considera-se, também, como linguagem não verbal, a manifestação da pessoa que recebe a mensagem, pois essa geralmente expressa corporalmente diversas reações, como de atenção, agrado ou desagrado. Tanto o emissor quanto o receptor da mensagem passada através de linguagem não verbal apresentam os indícios de significados que devem ser compartilhados por quem passa ou recebe a mensagem. Cada tipo de linguagem não verbal tem sua própria forma de expressão, seus 19 códigos e suas finalidades, como o exemplo da Libras, que é normativa como a escrita. As tecnologias digitais são um novo gênero de linguagem verbal e não verbal, como o e-mail, os chats (bate-papo), os fóruns on-line (espaços de opinião e debate), as redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, WhatsApp...) e os elementos comunicativos utilizados nessas tecnologias, como, por exemplo, os emojis (ícones representados com carinhas que tem nome, ou significado oficial e é utilizado em aplicativos e sistemas diferentes, principalmente no Facebook e no WhatsApp), os links de hipertexto, entre outros (CASTRO, 2013). 4 FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS TENDÊNCIAS TEÓRICAS Os celtas são historicamente o primeiro povo registrado nas Ilhas Britânicas. Estudos anteriores mostram vestígios da migração de outros povos que viveram na regiãomuito antes dos celtas, que influenciaram os dialetos das línguas indo- europeias, mas, com os celtas, conhecemos a história como ela é. Eles se estabeleceram na Grã-Bretanha por volta de 1.000 a.C. até 100 d.C., até a chegada dos romanos nas Ilhas Britânicas (MOREIRA; GOMES; RESGALA, 2015). A primeira invasão romana foi por volta do ano 5 a.C. Depois de muitas invasões, aquele antigo grande império tomou conta da região e outras influências começaram a aparecer na economia, na política, na sociedade em geral e, claro, na língua. No entanto, o poder romano diminuiu com a ascensão de outras nações europeias que também invadiram as Ilhas Britânicas. Povos do norte da Europa, como os saxões, ali se estabeleceram após ataques violentos e sangrentos que mataram parte da população local. Essa destruição dos saxões causou o fim da cultura celta, das sobreposições e do dialeto germânico que deu origem ao inglês. Desde então, a história da língua inglesa mostrou que havia Old English (inglês Antigo), Middle English (inglês Médio) e Modern English (inglês Moderno). Este último ainda é falado, assim como as mudanças dinâmicas pelas quais toda língua natural deve passar. (MOREIRA; GOMES; RESGALA, 2015). A linha do tempo para tais fenômenos é aproximadamente a seguinte: • Old English (500-1100) — com forte influência celta e latina; • Middle English (1100-1500) — com forte influência francesa; 20 • Modern English (de 1500 até agora) — padronização da língua inglesa. Não devemos esquecer que o Cristianismo foi trazido para as Ilhas Britânicas pela invasão romana, e São Patrício foi o missionário responsável pela conversão dos celtas à religião cristã. Claro que esse processo deixou sua marca na língua inglesa, nas línguas latina, romana e cristã, provocando a repetição do vocabulário religioso e dos textos bíblicos. Durante o período do inglês antigo, os conquistadores vikings também influenciaram a língua inglesa, pois sua presença no território da Grã-Bretanha durou mais de 200 anos. Como a língua viking era de origem germânica, essa influência estava presente no inglês. Para os falantes de hoje, o inglês antigo é irreconhecível na pronúncia e na escrita em comparação com o inglês moderno. No entanto, sua pronúncia era próxima da grafia, que era diferente do inglês atual. Gramaticalmente, os substantivos também eram masculinos e femininos – influenciados por línguas como o latim, que tinha substantivos neutros, o inglês antigo também usava substantivos neutros. Mesmo os verbos são conjugados e flexionados, o que o inglês moderno não faz. Hoje, o inglês é conjugado no presente e no passado, e outros tempos são formados com modais ou verbos auxiliares (CELCE-MURCIA; LARSEN-FREEMAN, 1999). A influência da língua inglesa não parou por aí. Após mil anos de invasão e turbulência, os normandos franceses invadiram a Inglaterra e lá se estabeleceram por mais de 200 anos. Mais uma vez, depois de muitas batalhas sangrentas e mortes tanto do lado inglês quanto do francês, os normandos assumiram o controle da Inglaterra. Por causa dessa conquista e de outras batalhas que venceu, Guilherme, duque da Normandia, que liderou o massacre na famosa Batalha de Hastings em 1066, ficou conhecido como Guilherme, o Conquistador. Os acontecimentos levaram ao fortalecimento do cristianismo na região e à adoção da língua dos conquistadores. Naquela época, a língua valorizada pelas famílias reais inglesas era o francês, porque os próprios conquistadores e seguidores não falavam inglês na época. O resultado foi aprender francês em busca de ascensão social. Com a presença e o fortalecimento da língua francesa, teve início o Middle English. No entanto, como aconteceu na época romana, os franceses também perderam o poder após quase três séculos de domínio. O nacionalismo inglês dominou e, por volta do século 15, quando o vocabulário se tornou mais rico, 21 o inglês se tornou a língua dominante e mais influente da região. Também concorreram documentos escritos em inglês, deixando para trás o latim e o francês, colaborando com o surgimento da literatura e lançando conceitos nas esferas administrativa, política e social da organização inglesa (MOREIRA; GOMES; RESGALA, 2015) O inglês agora retém palavras de origem latina e as usa de maneira mais formal. No entanto, devido à influência do francês, o inglês médio perdeu suas inflexões mencionadas no inglês antigo. A pronúncia das vogais inglesas também ocorreu nos séculos XV e XVI, o que mudou significativamente foi a pronúncia dessas vogais e ditongos. The Great Vowel Shift refere-se à mudança vocálica mais importante da época, que causou a atual falta de correlação entre palavras escritas e faladas em inglês, observada principalmente nas vogais. Por exemplo, nas palavras fine, mine e shine, a vogal /i/ é pronunciada como /ai/, então o som /i/ representa um som ditongo nesses casos. As palavras fit, istuda e rippida têm uma pronúncia curta de /I/, o que difere das palavras carno, grade e meri, que, embora escritas com duas vogais, não pronunciam o ditongo. Esta combinação sonora / ea / é pronunciada mais longa / i: /, cuja duração é indicada foneticamente por dois pontos (:). O período do inglês moderno foi uma época de padronização e unificação da língua inglesa, possibilitada pela imprensa, o sistema postal, por volta de 1500, a concentração do centro administrativo, político, social e econômico da Inglaterra e a educação média de notas altas e distribuição ortográfica padronizada. Por exemplo, os verbos auxiliares em inglês foram indubitavelmente introduzidos nos séculos XVI e XVII e ainda são usados em negativas e perguntas em inglês. No século XVIII, outra desordem afetou o inglês: a dupla negação, como a frase portuguesa “Eu não conheço ninguém aqui”, em inglês "I don't know nobody here", foi considerada gramaticalmente incorreta (MOREIRA; GOMES; RESGALA, 2015). Quando chegou o século XIX, o colonialismo britânico começou a se firmar. Desde então, os povos das Ilhas Britânicas deixaram seus territórios e continuaram a conquistar outros territórios. Assim, eles retomaram não só sua cultura, mas também sua língua, que passou a influenciar cada vez mais o mundo (MOREIRA; GOMES; RESGALA, 2015). Não podemos negar que houve diversidade ao longo de seus dois mil anos de história, o que pode tê-la tornado menos regular do que, por 22 exemplo, as línguas latinas. De qualquer forma, a posição do inglês como língua global cresceria ainda mais com a ascensão dos Estados Unidos no século XX. Os laços entre a Inglaterra e os Estados Unidos, que perduram até hoje, estendem-se aos negócios e à política, mantendo até mesmo o idioma entre as duas nações próximo ao entendimento, embora sotaques diferentes tenham dado aos seus falantes nativos uma identidade distinta (CRYSTAL, 2003). 4.1 Abordagens estruturalista, gerativista, funcionalista e interacional da linguagem 4.1.1 Estruturalismo: língua e estrutura Desde Saussure, temos uma compreensão da linguagem como um sistema de signos, um código que serve à comunicação e à troca de informações. Observe que, nessa formulação, a presença do interlocutor é um componente da fala. O entendimento de Saussure rompe com o entendimento oitocentista da linguística comparada, onde a linguagem seria a expressão do pensamento, e assim abre uma nova forma de trabalhar, pois a vê como um sistema em que apenas o signo adquire sentido ou valor e se relaciona com outros signos ao seu redor. No curso de Linguística Geral (SAUSSURE, 2012), temos algumas características da linguagem: é a parte social da linguagem porque pertence à comunidade, sendo externa ao indivíduo que não pode formá-la. Esses argumentos apontam para a inclusão da linguagem em um campo de estudo que considera sua relação com o mundo exterior, e mesmo a interdependência internados componentes desse sistema. É importante notar que para os estruturalistas a realidade e seus objetos concretos não são importantes, não são considerados, pois a estrutura da linguagem é considerada abstrata. Nesse ponto, pode-se afirmar que o estruturalismo não pode pensar a referência entre linguagem e realidade, pois o referente está sempre dentro do sistema dado. Outras coisas que revelam o retorno da linguagem sobre si mesma e a determinação das combinações, onde todas as possibilidades já estão dadas, fecham o conceito de linguagem, portanto, o conceito de interpretação, e não permitem chegar ao nível das situações orais ou a natureza subjetiva de sua construção de significado. 23 Saussure optou por não se debruçar sobre essas questões, mas considerou suas possibilidades ao distinguir entre linguagem e fala, isto é, uso coletivo e uso individual; entre sincronia e diacronia. Em síntese, ao propor a dicotomia, Saussure não negava a possibilidade de trabalhar com as coisas que deixou, tanto quanto propunha a criação de um campo de estudo denominado semiologia que analisaria diversos tipos de coisas não linguísticas. Os formalistas sempre tentam se opor a esse pressuposto saussuriano (de que para lidar com as relações internas de um sistema abstrato - a linguagem - é preciso distanciar-se de tudo que lhe é próprio). Principalmente, Saussure tentou evitar um retorno ao conceito de linguagem como referência, o que reduziria a complexidade do sistema à ideia de que as palavras existem para representar objetos da realidade, ou seja, relacionar-se com eles, o que também requer percepção de que as palavras têm um significado predefinido. Então devemos entender que a inovação de Saussure foi tratar a língua como um sistema abstrato a ser estudado segundo suas estruturas internas, de modo que a fonologia, a morfologia e a sintaxe avançaram muito a partir da análise. Além de Saussure, o linguista Roman Jakobson também deixou importantes obras da fonologia à gramática, da aquisição da linguagem aos estudos das afasias. 4.1.2 Gerativismo: linguagem e mente Na efervescência dos estudos estruturalistas, surgem estudos generativos que enfatizam a relação entre linguagem e mente, pois se acredita que as regras e princípios linguísticos estão enraizados na mente humana. O formalismo se situa no campo de pesquisa da tradição empírica porque acredita em sua existência “[...] um mecanismo mental inato de aquisição [...]” (RAPOSO, 1992, p. 36) de língua, colocando a questão da ordem biológica da faculdade de linguagem. Também ocorre a volta da noção de língua como expressão do pensamento, ou seja, de simetria entre referente e mundo. Dessa forma, a interpretação seria, simplesmente, a compreensão do dizer, tal como ele fora proferido, isto é, literalmente. Segundo Chomsky, apenas os membros da espécie humana adquirem e falam línguas naturais espontaneamente, o que é uma das razões do sucesso evolutivo de nossa espécie. É importante notar que ele, como todos os teóricos dessa linha, não está interessado no significado social da linguagem, mas na 24 aquisição da linguagem, na capacidade humana de produzir linguagem, focando seus estudos na competência natural do falante, e não subestimar a importância do uso da linguagem desse orador ideal. Como esta teoria olha para a linguagem do ponto de vista biológico, sua aquisição é uma questão de amadurecimento e desenvolvimento do "órgão" mental e não de aprendizagem. Portanto, cada falante teria em sua mente um conjunto de princípios inerentes, que seriam uma gramática universal, e por meio dos quais ele poderia desenvolver o mecanismo da linguagem. Definindo melhor o conceito de gramática universal, descobrimos que ela é a soma dos princípios linguísticos característicos da espécie humana. O objetivo central da pesquisa generativa é conhecer a natureza exata e as propriedades dessa gramática. Segundo essas ideias, o ensino da língua materna baseado em regras fora da gramática interna do falante seria desnecessário e prejudicial ao aprendizado natural. Como a criança já conhece a estrutura da língua quando a usa, não seria necessário introduzi-la na gramática. Chomsky observa o problema com o modelo de dados primários (gramática geral) e gramática final (adulto), dizendo que esse modelo é idealista porque ignora a lacuna quantitativa e qualitativa que existe entre os dados primários e o sistema final: o conhecimento de um adulto, sua gramática embutida. Assim, o curso do processo de maturação dos órgãos da linguagem não é idêntico para todas as pessoas, ainda mais porque depende de aspectos que não são apenas mentais. Podemos pensar que o autor está pensando em externalizar o desenvolvimento da linguagem. No entanto, isso não é verdade, pois Chomsky também defende a independência dos princípios formais da gramática, semântica e pragmática internalizada. A questão importante aqui é a possibilidade de criar significado sem considerar aspectos fora da estrutura mental da linguagem. Outro aspecto importante dos estudos formalísticos de Chomsky é sua aplicação ao estudo da inteligência artificial, possibilitada pelos avanços científicos que permitiram que os estudos da aquisição da linguagem humana fossem utilizados para desenvolver outras formas de linguagem. 25 4.1.3 Funcionalismo: língua e função O funcionalismo é um ramo da linguística que vê a linguagem relacionada ao seu uso, segundo essa teoria, o significado das palavras estaria relacionado às suas condições de funcionamento. Maria Helena de Moura Neves (1997) iniciou essa pesquisa linguística no Brasil com sua obra A Gramática Funcional. No entanto, os pontos de partida do pensamento funcionalista estão no estudo da pragmática: atos de fala, intencionalidade, relação entre falantes. A seguir, você conhecerá brevemente os principais autores desse campo de pesquisa, que levou ao desenvolvimento da linguística textual, por exemplo (ou teoria do texto). Segundo Rodolfo Ilari (2003), outro propósito dos funcionários é explicar as características formais da linguagem por meio das funções que desempenham. Na segunda metade do século XX, o linguista inglês M.A.K. Halliday entende que cada frase cumpre simultaneamente três funções, que ele chamou de ideacional, interpessoal e textual, consistindo em (ILARI, 2003): ✓ Ideacional: fornecer representações do mundo. ✓ Interpessoal: instaurar diferentes formas de interlocução como perguntar, afirmar, ordenar, assumir graus diferentes de comprometimento em relação àquilo que se diz. ✓ Textual: monitorar o fluxo de informação nova em um determinado contexto. Outro conceito-chave de funcionamento é o conceito de escolha. De acordo com esse conceito, o falante constrói seu enunciado escolhendo entre várias possibilidades oferecidas pelo sistema linguístico (após produzir qualquer frase, escolhemos simultaneamente palavras, estruturas gramaticais, contornos entoacionais, etc.). Compreender o significado de uma frase é, portanto, equivalente a entender por que certas opções foram escolhidas e outras rejeitadas. Pelo seu valor de seleção, a funcionalidade eleva o papel do locutor e as características da mensagem que ele produz, e cria uma abertura importante no estudo do texto e do estilo. 4.1.4 Interacional: língua e interação De acordo com Richter (2000), a aprendizagem de línguas com uma abordagem interativa é o resultado da interação entre o programa nativo do aprendiz e a linguagem produzida na conversa do aprendiz com um interlocutor fluente. 26 Embora o interacionismo considere a programação inata da linguagem, ele difere da teoria inata principalmente porque diz que memória, percepção, pensamento, significado e afetividade devem estar interligados para possibilitar o aprendizado da língua. Para pesquisadores interacionistas,a linguagem é uma das manifestações da cognição humana. A maneira como uma criança adquire a linguagem verbal, por exemplo, é por meio de estruturas semânticas subjacentes, não por meio da assimilação de estruturas sintáticas superficiais, que, segundo Richter, são justificadas pelas relações de objetos específicos. A aprendizagem semântica da qual estamos falando depende da cognição do aluno e, com base nessa abordagem teórica, o desenvolvimento cognitivo da linguagem se deve mais à complexidade das estruturas sintáticas. Assim, acreditamos que o desenvolvimento cognitivo se baseia em dois fatores: I) sistemas cognitivos inatos ou existentes (adquiridos e estruturais) responsáveis pelo aumento gradual das habilidades de interpretação e comunicação; II) sistemas nativos de aprendizagem gramatical, que seriam o ponto de contato entre a interação e a natividade relacionada ao crescimento da capacidade de perceber, processar e organizar informações. Ressalte-se que, do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo, o significado refere-se à forma, que deve ser considerada na prática docente de línguas e o ensino das funções da língua deve estar direcionado para suas formas possíveis. 5 PRINCÍPIOS FONÉTICOS De início, vale ressaltar que existem diferenças entre aprender a ler e escrever. Antes de ir para a escola, as crianças já preparam suas hipóteses de escrita. À medida que crescem, começam a decodificar símbolos gráficos e a reconhecer palavras. No entanto, essa decodificação não garante que eles tenham habilidades de leitura e escrita competentes, pois a alfabetização implica um processo mais complexo: diz respeito à capacidade de uma pessoa ler e escrever em diferentes contextos comunicativos. Nesse sentido, os alfabetizadores costumam estar mais interessados em classificar a leitura e a escrita de seus alunos como corretas ou incorretas conforme 27 a gramática tradicional. Um professor em busca de um processo de alfabetização entende que o aluno ainda não conhece todo o sistema gráfico e está atento aos diversos contextos que fazem a criança escrever de acordo com seu dialeto regional e social. Isso significa que o processo de alfabetização considera os textos espontâneos dos alunos e observa as conexões que eles fazem entre a realidade fonética e o uso ortográfico. É assim que se considera o esforço da criança em combinar ortografia e fonologia, ou seja, letra e fonema. Como nem sempre há uma conexão direta entre o som e a ortografia, a conexão não é totalmente previsível - no entanto, não é aleatória. Conforme as palavras de Magda Soares (2003, p. 18 documento on-line): [...] escrever é registrar sons e não coisas. Então, a criança vai viver um processo de descoberta: escrevemos em nossa língua portuguesa e em outras línguas de alfabeto fonético, registrando o som das palavras, e não aquilo a que as palavras se referem. A partir daí a criança vai passar a escrever abstratamente, colocando no papel as letras que ela conhece, numa tentativa de, realmente, escrever “casa”, sem o recurso de utilizar desenhos para dizer aquilo que quer. Então, depois que a criança passa pela fase silábica para registrar o som (o som que ela percebe primeiro é a sílaba), ela vai perceber o som do fonema e chega o momento em que ela se torna alfabética. No entanto, quando uma criança se torna alfabetizada, ela deve aprender a ler e escrever segundo as regras ortográficas. Afinal, ela começa com a necessidade de adotar um sistema alfabético, bem como sistemas de ortografia e escrita. Como esses sistemas não possuem base lógica, a criança deve passar por um processo de aprendizagem, ou seja, trabalhar sistematicamente as relações entre fonemas e grafemas. Essa relação indica que as primeiras hipóteses de escrita das crianças estão intimamente relacionadas à oralidade. Assim, em seus escritos, as semivogais de alguns ditongos geralmente não aparecem (em palavras como louco, a semivogal ‘u’ é suprimida porque não é pronunciada fortemente); a palavra muito aparece nasalizada (muinto); a vogal ‘o’ no final da palavra é substituída por ‘u’, por exemplo (bolo se torna bolu). Essas estruturas ilustram a necessidade de vincular a alfabetização com o reconhecimento da variedade linguística. Se um professor não prestar atenção em como os alunos falam, eles podem aumentar sua dificuldade em aprender as relações entre letras e sons. Também existe o risco de apenas codificadores e decodificadores de sinal serem ensinados. Para promover a leitura e a escrita complexas, é necessário atentar para as representações gráficas e alfabéticas da 28 língua portuguesa. Segundo Cagliari (1997), tudo o que é ensinado na escola está diretamente relacionado à leitura. Portanto, é essencial para o desenvolvimento e manutenção da aprendizagem, e assim o aluno deve estar pronto para ler o mundo. Nesse sentido, a ortografia deve ser tratada pela leitura e a pronúncia correta não deve ser uma prioridade - embora o ensino também seja importante. Faraco e Moura (2006) defendem que o sistema gráfico português é constituído por letras que representam maioritariamente unidades fonéticas, mas não são o único critério para reconhecer a grafia de uma palavra. Afinal, a história etimológica pode determinar a ortografia. No entanto, o maior obstáculo para combinar ortografia e fonemas é a pronúncia diferente das palavras, que surge em função de mudanças de tempo, regiões, faixa etária do falante, etc. Nesse sentido, esse panorama complexo afeta o processo de alfabetização da criança. Como a mudança da língua é contínua e dinâmica, sua regularidade é aleatória, o que afeta o processo de aprender a soletrar conforme o chamado padrão civilizado. A linguagem falada é muito mais utilizada, oferece acesso mais fácil e rápido e atinge as mais diversas situações; linguagem escrita requer algum tipo de ensino. Portanto, as duas variedades linguísticas que mais se chocam no processo de alfabetização são a chamada língua vernácula e a língua cultural. A linguagem cultural tem prestígio social e segue as regras estabelecidas pela gramática tradicional, e a linguagem popular é usada em situações informais e não segue as normas comuns. Um aluno que passa pelo processo de alfabetização aprende a reconhecer essas diferenças e passa a considerá-las como aspectos definidores na interpretação do texto, do discurso, da informação. Além disso, ele pode se comunicar em diferentes contextos e entender diferentes referências de mensagens. Sendo assim, é possível trabalhar com o conceito de letramento porque a gramática normativa organiza diretrizes para a representação escrita da língua. Essa opção tem prestígio social e, cabe à escola garantir o acesso a esse conhecimento. Dessa forma, é possível criar uma base para os alunos que os farão desfrutar dos benefícios da educação formal. Mas ensinar a variedade padrão não é apenas isso. Uma razão para tal é a importância do mito do declínio da língua, porque o conceito de fracasso escolar 29 anda de mãos dadas com o conceito de proficiência linguística. Nesse sentido, a escola deve considerar a língua principal como segunda opção e como parâmetro de comparação com outras. Portanto, não reforça as diferenças criadas socialmente e oferece igualdade de condições a todos os alunos de acordo com suas dificuldades individuais. É claro que todas as crianças que passam pelo processo de alfabetização terão dificuldades inerentes àquelas que ingressam no sistema escrito da língua. No entanto, sabe-se que uma criança que ouve e pronuncia as palavras de maneira diferente da pronúncia normal pode soletrar as palavras corretamente. É por isso que a alfabetização é determinada pela proximidade da fala e da escrita: um aluno que interage em uma comunidade que fala uma língua escrita tem maiores chances de sucessona aplicação das regras ortográficas. Basicamente, pode ser difícil para todos os usuários de português saber com quais letras a palavra ‘exceção’ é escrita já que o fonema /s/ é representado por grafias diferentes. No entanto, todos os falantes pronunciam esta palavra da mesma forma. No entanto, alguns falantes pronunciam palavras com mudança fonêmica, e tal diversidade cria dificuldades em identificar um padrão de escrita para o idioma. Observe alguns exemplos: Buginganga: bugiganga – Abóbra: abóbora – Flauda: fralda – Dible: drible – Estrupo: estupro – Boeiro: bueiro – Carangueijo: caranguejo – Prazeirosamente: prazerosamente – Salchicha: salsicha – Supertição: superstição. Em conclusão, quanto mais as crianças se envolverem em práticas interativas que lhes permitam ler o mundo, mais preparadas estarão para os desafios da aquisição da ortografia. Além disso, é necessário estabelecer inicialmente uma hipótese sobre a correspondência direta de letras e sons. Consequentemente, falantes de versões linguísticas menos valorizadas têm as mesmas habilidades de alfabetização e numeramento. 5.1 Fonética e Fonologia A linguagem é a ferramenta mais perfeita para a comunicação humana. No uso diário, é uma parte tão natural e necessária da vida humana, que sua característica complexa não é percebida. Falantes de uma língua transmitem 30 significados (pensamentos, sentimentos, emoções) por meio dos sons da fala e se comunicam socialmente sem compreender sua organização interna, o sistema que a constitui. Cada língua determina de uma maneira sistemática os sons, tornando-se objeto de estudo da fonologia. Contudo, na fonética, o objeto de estudo é a realidade física dos sons produzidos pelos falantes de uma língua. A fonética e a fonologia são, portanto, os ramos da linguística responsáveis pelo estudo dos sons da fala. Por compartilharem o mesmo fenômeno que seus objetos de estudo, são consideradas ciências relacionadas. No entanto, esse mesmo objeto é visto de diferentes perspectivas (MASSINI-CLAGLIARI; CAGLIARI, 2012). A fonética como ciência trabalha com os próprios sons, como eles são produzidos, percebidos e quais aspectos físicos estão envolvidos em sua realização. A fonologia, por outro lado, lida com a função e a organização desses sons em sistemas. Em geral, a fonética analisa a formação de sons como "s", "m" e "r" de acordo com suas correlações articulatórias, acústicas e perceptivas, enquanto a fonologia se concentra em analisar as possibilidades de combinação desses sons. A estrutura interna da língua impede combinações (SOUZA; SANTOS, 2016). Assim, enquanto a fonética como ciência é principalmente de natureza descritiva, a fonologia é uma ciência explicativa e interpretativa orientada para a análise da função linguística dos sons nos sistemas (MASSINI-CLAGLIARI; CAGLIARI, 2012). Por constituírem duas abordagens diferentes de um mesmo objeto de pesquisa (os sons da fala), a forma de ver, analisar e transcrever os fatos linguísticos do foneticista difere da do fonólogo. É por isso que a transcrição fonética dos segmentos é apresentada entre colchetes [ ] e a transcrição fonológica (fonêmica) com barras simples // (MASSINI-CLAGLIARI; CAGLIARI, 2012). Em vista disso, podemos classificar em dois níveis de reprodução sonora: nível fonético e nível fonológico. Ainda que os sons estejam presentes no curso da fala, eles são abordados como entidades separadas para fins de análise. Isso porque, ao reconhecer as mensagens, os falantes as interpretam como entidades que operam com base em um sistema fonológico. Como os sons são meios de transmitir significado, os falantes de uma língua não os utilizam ou percebem com base em todas as suas sonoridades, mas com base na função que cumprem na língua. 31 A fonética compreende os sons produzidos pelos falantes de línguas em toda a sua diferença, enquanto a fonologia desconsidera essa diferença para perceber o sistema característico da língua. A fonética pode auxiliar a fonologia referindo-se aos sons como uma realidade perceptível. 5.2 Fonética A fonética é a ciência que fornece métodos para descrever, classificar e transcrever os sons da fala, principalmente os sons utilizados na linguagem humana (SILVA, 2003). Portanto, podemos pensá-la como a ciência do aspecto material dos sons, independentemente da função que possam ter em uma determinada língua. Portanto, os métodos de pesquisa fonética estão mais próximos das ciências naturais (MORI, 2012). As principais áreas de pesquisa da fonética são (SILVA, 2003): ✓ Fonética articulatória; ✓ Fonética auditiva; ✓ Fonética acústica; ✓ Fonética instrumental. Como a fonética articulatória é o campo de estudo mais antigo e, portanto, o mais firmemente enraizado na tradição da fonética linguística enraizada na pesquisa clássica (MASSINI-CLAGLIARI E CAGLIARI, 2012), a maioria dos livros existentes é dedicada a uma descrição detalhada deste subcampo em detrimento de outros. Aqui descrevemos todos os aspectos desta ciência em geral. 5.2.1 Fonética articulatória Inclui o estudo da produção da fala do ponto de vista fisiológico e articulatório (SILVA, 2003). Segundo Souza e Santos (2016), a dimensão articulatória é aquela que considera o que acontece no trato vocal ao fazer chamadas. Nesse sentido, compreender o mecanismo de produção da fala (órgãos e estruturas) é essencial para uma adequada descrição articulada do fone. Considerando os limites fisiológicos impostos ao trato vocal, podemos dizer que a gama de sons que podem ser encontrados nas línguas naturais é limitada. De fato, um conjunto de cerca de 120 símbolos é suficiente para classificar consoantes 32 e vogais em línguas naturais. Todas as línguas naturais têm consoantes e vogais - então a fonética articulatória está interessada em explicar como esses sons são produzidos com a maior precisão possível. (SILVA, 2003). 5.2.2 Fonética auditiva A pesquisa de percepção da fala é na maioria das vezes uma tentativa de identificar as pistas acústicas que os falantes usam para fazer julgamentos fonéticos. Por exemplo, quais são os sinais acústicos que permitem a um falante identificar que a consoante [b] ocorreu na palavra "bye" (ou, por exemplo, na palavra "barco")? A compreensão da percepção da fala avançou significativamente com melhorias na análise acústica da fala e na síntese de fala da máquina. A capacidade de analisar um sinal acústico e a capacidade de produzir amostras de fala sintetizadas se complementam na compreensão atual de como as pessoas percebem a fala. Aprendendo a perceber a fala humana, podemos desenvolver melhor máquinas capazes de interpretar e tomar decisões linguísticas com base em sinais acústicos (KENT; READ, 2015). 5.2.3 Fonética acústica Inclui o estudo das características físicas dos sons da fala e sua transmissão do falante ao ouvinte (SILVA, 2003). A acústica da fala é difícil de entender, apesar da fisiologia e das observações. O completo entendimento da acústica da fala requer que os parâmetros acústicos sejam relacionados a modelos fisiológicos (mecanismos envolvidos na produção do trato vocal de vogais e consoantes) e julgamentos perceptivos baseados no sinal acústico (KENT; READ, 2015). 5.2.4 Fonética instrumental Isso inclui o estudo das características físicas da fala, considerando o apoio de instrumentos de laboratório (SILVA, 2003). Este ramo da fonética dá suporte ao anterior e fornece suporte técnico para sua implementação. O software de análise acústica é um exemplo de instrumento desenvolvido para auxiliar o fonético na realização da análise. Por exemplo, o uso do ultrassom tem sido útil para descrever configurações de articulação mais precisas. Aparelhos de monitoramento da fala e eletroencefalografia para testes de processamento da fala e eletroglotógrafos têm 33 sidoamplamente utilizados para estudar as funções oscilatórias das cordas vocais durante a produção da fala. 5.4 Fonologia A organização da cadeia sonora da fala é guiada por alguns princípios. Tais princípios agrupam segmentos consonantais e vocálicos em cadeias e determinam a ordem das sequências sonoras possíveis em uma determinada língua. Os falantes têm intuições sobre os conjuntos de sons permitidos e excluídos em sua língua (SILVA, 2003). Nesse sentido, a fonologia estuda diferenças sonoras que se correlacionam com diferenças de significado (por exemplo, [p]ato/[m]ato), ou seja, estuda relacionados à função que desempenham em um determinado idioma, às diferenças de significado e sua importante relação na formação de sílabas, morfemas e palavras. A fonologia também se refere à parte da teoria geral da linguagem humana que trata das propriedades universais do sistema de sons das línguas naturais (para os sons que podem ocorrer nas línguas naturais) (MORI, 2012). 5.2.5 Fonema Cada língua tem um certo número de unidades sonoras, cuja tarefa é determinar a diferença de significado de uma palavra em relação a outra. Por exemplo, a palavra ['kasa] "caça" se distingue de ['kaza] "casa" por dois fonemas diferentes [s] e [z]. Esses tipos de segmentos que permitem distinguir o significado em uma língua são chamados de fonemas. Assim, /s/ e /z/ são dois fonemas em português, pois quando usados no mesmo contexto fonológico (mesmo lugar na sílaba) distinguem itens lexicais em português (MORI, 2012). Esses segmentos, chamados de fonemas, são partes constituintes da linguagem humana, caracterizados pelo fato de serem as menores partes discretas do sistema linguístico e serem linearmente organizados em diferentes línguas. O fato de os segmentos serem as menores unidades de análise não significa que não possam ser decompostos em unidades menores. Os fonemas são compostos de funções que vêm juntas. Se tomarmos como exemplo o fone [p], este fonema possui as seguintes propriedades, entre outras (SOUZA; SANTOS, 2016): ✓ [p]: 34 ✓ + Consonantal ✓ − Vocálico ✓ − Nasal ✓ − Sonoro Não é possível produzir uma batida após a outra (ou seja, produzi-las de forma linear e contínua, o que permitiria a segmentação) - todas as batidas juntas são necessárias para formar o som [p]. Mas é possível substituir o valor da linha. Se a palavra [−sonoro] for substituída pela palavra [+sonoro], o som resultante é o fonema [b] (SOUZA; SANTOS, 2016). Sendo a linguagem um sistema de signos, podemos basicamente estudar apenas os significados (por exemplo, focando apenas em suas propriedades físicas ou materialidade), estudar as conexões existentes entre o significante e o significado, ou o nível de expressão e conteúdo, é natureza mais claramente linguística, porque diz respeito à relação básica dos sistemas de linguagem: a função semiótica. Assim, os sons não são vistos simplesmente como sons em si mesmos, mas como relações entre eles e relações que os conectam no nível do conteúdo (SOUZA; SANTOS, 2016). Assim, um dos objetivos da fonologia é criar sistemas fonológicos de línguas, ou seja, um conjunto de elementos abstratos interconectados que os falantes usam para distinguir e delimitar as unidades funcionais de sua língua (MORI, 2012). O procedimento usual para identificar fonemas é procurar por duas palavras significativas diferentes que compartilhem uma cadeia de som idêntica. Assim, definimos /f/ e /v/ como fonemas separados em português (observe o uso de cruzes na transcrição de fonemas) porque as palavras "faca" e "vaca" representam uma oposição fonêmica. Dizemos que o par mínimo "faca/vaca" caracteriza os fonemas /f, v/, por outro lado, em um ambiente idêntico. Algumas palavras são suficientes para caracterizar dois fonemas (SILVA, 2003). Em geral, dois sons diferentes, mas fisicamente semelhantes, podem agir como se fossem elementos iguais ou diferentes. É a isso que Saussure se referia quando desenvolveu o conceito de valor, que está relacionado a todo sistema linguístico. O mesmo som encontrado em diferentes sistemas linguísticos pode representar diferentes valores dependendo de sua relação com outros elementos existentes. Assim, o valor de um elemento não é apenas o que ele é, mas também o 35 que ele não é, ou seja, de quais outros elementos ele é e de quais ele difere (SOUZA; SANTOS, 2016). Em conclusão, pode-se dizer que toda língua tem um número limitado de sons cuja tarefa é distinguir o significado de uma palavra em relação a outra. Os sons que desempenham esse papel são chamados de fonemas e ocorrem em séries sintagmáticas que se combinam de acordo com as regras fonológicas de cada língua (MORI, 2012). 6 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS São chamadas de variações linguísticas as diferentes formas de falar o idioma de uma nação, visto que a língua padrão de um país não é homogênea. O sistema de línguas é formado por um conjunto de variantes que podem ser socioculturais, estilísticos, regionais, etários e ocupacionais. Isso faz com que cada grupo social, de diferentes ocupações, faixas etárias e regiões, criem o seu próprio dialeto, que é a sua forma de comunicação coloquial. Desta maneira, é possível perceber que as variações linguísticas estão presentes nas comunicações verbais das pessoas, em diferentes partes do mundo. Elas ocorrem sob influências dos contextos social, regional e histórico, em que tais processos de construção da fala ajudam a caracterizar como o sujeito vai se comunicar com o seu grupo. Segundo Faraco, (2008) uma língua viva sempre apresenta variações, isso significa que, enquanto uma língua tiver falantes nativos, ela será dinâmica e heterogênea. De acordo com Cecato (2017), descreve que a língua muda para se conservar e é exatamente isso que acontece. Para entender de maneira mais concreta essa afirmação, é possível comparar a língua a uma construção: sem revisões periódicas, ela desmorona. Pode parecer paradoxal afirmar que a língua muda para se conservar, mas é exatamente o que acontece. Esse é um cenário que nos ajuda a entender o processo de mudança de maneira geral. No âmbito das mudanças linguísticas, é importante exemplificar as causas mais evidentes e como a mudança pode ser percebida no cotidiano. Para tornar a compreensão desses aspectos mais clara, podemos empregar como exemplo as hipóteses para descrever as mudanças ocorridas no português brasileiro (PB): a hipótese evolucionista, que trabalha com a pressuposição de que a língua se 36 comporta como um ser biológico, obedecendo a um determinismo linguístico (o meio determinaria a mudança); a hipótese crioulista, que fundamenta o contato entre a língua do colonizador (português) e as línguas dos colonizados (africanos e ameríndios) como criador de certas particularidades da nossa língua; e a internalista (mais difundida que as outras), que propõe uma explicação interna ao sistema da língua para as mudanças ocorridas (CECATO, 2017). Cecato (2017), afirma que os estudiosos desses aspectos da língua costumam dividir as mudanças em dois grupos: mudança linguística e mudança gramatical ou lexical. O importante, nesse caso, é estar atento ao fato de que, dependendo do estágio dos estudos linguísticos, uma ou outra explicação receberá maior crédito. Também é interessante compreender que as leis que explicam as mudanças sonoras são um resumo do que aconteceu em determinada área e em determinado grupo de falantes, assim como a explicação com base em analogia e empréstimo recobre apenas determinado conjunto de mudanças. Outro conceito importante a ser abordado em relação às mudanças na língua é a variação linguística, condicionada por: mudança gramatical ou lexical. Essa mudança se dá quando um item lexical (palavra) ganha ou perde valor de uso na própria língua. Afirma-se, por exemplo,
Compartilhar