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Pratica de reportagens para jornalismo

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TEMA 1
DESCRIÇÃO
A construção da reportagem, suas definições, seus conceitos e sua estruturação.
PROPÓSITO
Compreender as bases conceituais da reportagem, sua estrutura, a diferença em relação à notícia e seus diversos tipos é fundamental para o exercício jornalístico e a análise de seu material.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever conceitos e fundamentos da reportagem e suas formas gerais
MÓDULO 2
Reconhecer gêneros jornalísticos da atualidade
INTRODUÇÃO
O jornalismo é normalmente definido como a produção e a distribuição de reportagens sobre eventos recentes. Existem, no entanto, diversos tipos de reportagens que não estão confinadas somente a um meio. A sociedade contemporânea é, por natureza, multimeios ou multimídia.
O jornalismo começou a ser consumido em Roma por volta de 59 anos antes de Cristo. A Acta Diurna trazia um resumo diário das discussões relevantes no Senado que afetavam a vida de todos. Desde aquele período, o jornalismo tratou principalmente de entregar notícias às pessoas. Com o tempo, o formato de entrega evoluiu de discursos públicos para incluir jornais impressos, revistas, telégrafos, rádio, televisão e, mais recentemente, plataformas online.
A reportagem noticiosa se resume como a descoberta, a seleção e a apresentação de fatos relevantes, acontecidos em um período recente e que afetam muitas pessoas ou que sejam de seu interesse.
O repórter é o especialista que busca revelar algo, a partir da coleta de fatos, observação de acontecimentos e entrevistas com testemunhas e especialistas. Concluída sua investigação, o repórter apresenta o que apurou por meio de um texto objetivo, equilibrado e imparcial, no qual contempla várias hipóteses, razões e consequências de um acontecimento.
Mas a variedade e a profundidade das notícias cresceram muito nas últimas décadas. Desde o princípio do século passado, jornais, revistas e periódicos se tornaram a principal fonte de informação para os cidadãos. Depois, o rádio e a televisão também se tornaram relevantes para a distribuição de notícias. A internet, tornada comercial a partir do final do século XX, permitiu que entrássemos na era da informação eletrônica, marcada por ser multimídia, instantânea e global.
Os pré-requisitos para o trabalho jornalístico, entretanto, permanecem os mesmos, como veremos a seguir.
ACTA DIURNA
A Acta Diurna é considerada o primeiro jornal de que se tem notícia. Foi criada pelo líder romano Júlio César e consistia em tábuas afixadas nos muros das principais localidades de Roma.
MÓDULO 1
Descrever conceitos e fundamentos da reportagem e suas formas gerais
O REPÓRTER E A REPORTAGEM
São muitas as possibilidades da origem de uma reportagem no jornalismo atual. Pode ser um fato ocorrido no governo federal, estadual ou municipal ou mesmo medidas de empresas ou organizações não governamentais que afetam a sociedade. Pode ser uma descoberta feita por especialistas, cientistas ou produtores de conhecimento em geral, empenhados em estudar um fenômeno.
Fonte: Shutterstock.com
Fonte: Shutterstock.com
O homem não vive sozinho. A maneira como se comportam seus vizinhos ou conterrâneos o afeta, portanto é de seu interesse saber sobre o mundo em que vive. Satisfazer essa curiosidade é a principal tarefa do jornalista.
Fonte: Mauricio Quevedo / Shutterstock.com
Além de realizar reportagens imparciais, um jornalista deve ter responsabilidade pela exatidão dos fatos que transmite. A sua reputação precisa ser de confiabilidade absoluta.
O jornalista deve ser sistemático em seus hábitos e pontual no cumprimento de seus compromissos. Esse profissional deve evitar prejulgamentos, deve reconhecer seus eventuais erros e ter habilidade para narrar as notícias de forma clara, organizada e crítica. Além disso, ele precisa ser direto e simples para compor a melhor narrativa de acordo com o espaço de que dispõe.
Um repórter deve se pautar pela ética profissional: perseguir a verdade, buscar os diversos lados da notícia e não obter benefícios pessoais diretos e indiretos das reportagens que produz. É importante ressaltar a diferença entre notícia e reportagem, ou reportagem noticiosa e outras reportagens, por exemplo as especiais ou suítes(Continuação e repercussão da primeira notícia.).
Reportagem Noticiosa
A reportagem noticiosa, ou factual, traz dados imediatos e factuais e é, às vezes, chamada de notícia (o que pode gerar confusão com a ideia de notícia como sinônimo do fato noticioso, daquilo que é notícia, e não do texto jornalístico).
Reportagem
A reportagem, de maneira geral, é uma continuidade da notícia, que a aprofunda e a desenvolve. Na prática, mesmo a matéria (texto jornalístico) chamada de notícia, muitas vezes replicada de uma agência de notícias ou de um comunicado oficial, tem algum grau de apuração.
A chamada reportagem pode partir de uma notícia, como a divulgação do resultado de uma pesquisa, o anúncio de alguma nova diretriz de governo ou a conquista de um campeonato por um time esportivo. A reportagem pode ser a própria notícia, como acontece no jornalismo investigativo.
Nem sempre a passagem de um “grau” de apuração a outro é clara, mas se pode tentar traçar linhas entre:
1. Notícia ou reportagem noticiosa.
2. Reportagem diária.
3. Reportagem especial.
Existem, aliás, diferentes tipos de reportagens e diferentes formas de classificá-las, algumas das quais apontaremos adiante. Mas antes precisamos apontar as diferenças entre dois conceitos: a reportagem quente e a reportagem fria.
Reportagem Quente
A reportagem quente reflete informações obtidas no calor do acontecimento. Por exemplo, a repercussão de uma decisão do Supremo Tribunal Federal que impacta a vida de muitas pessoas, ou a apuração de manchas de petróleo em praias do Nordeste brasileiro.
Reportagem Fria
A reportagem fria, também chamada de reportagem de gaveta, refere-se a objetos desvinculados do imediatismo presente. Por exemplo, o chamado perfil(Matéria sobre uma personalidade e sua história.) de um político importante ou de uma celebridade.
A BUSCA DA VERDADE, A ESSÊNCIA DA REPORTAGEM
A busca pela “verdade” é a essência do jornalismo e da reportagem. No entanto, as definições da verdade jornalística a ser buscada são polêmicas e contestadas.
A questão levou um grupo dos 30 principais repórteres dos Estados Unidos a criar o Committee of Concerned Journalists(Comitê de Jornalistas Preocupados), no final da década de 1990. Eles realizaram uma série de fóruns públicos para abordar os “padrões de notícias em declínio”. Ao longo de dois anos, o comitê se reuniu com três mil repórteres e cidadãos para conversar sobre o papel do jornalismo. Por fim, elaborou a "Declaração de Princípios Compartilhados"(Statement of shared purpose) que buscou conceituar o termo tão necessário:
Comitê de Jornalistas Preocupados
A ‘VERDADE’ JORNALÍSTICA É UM PROCESSO QUE COMEÇA COM A DISCIPLINA PROFISSIONAL DE REUNIR E VERIFICAR OS FATOS. EM SEGUIDA, OS JORNALISTAS TENTAM TRANSMITIR UM RELATO JUSTO E CONFIÁVEL DE SEU SIGNIFICADO, VÁLIDO NAQUELE MOMENTO, SUJEITO SEMPRE A UMA INVESTIGAÇÃO MAIS APROFUNDADA. OS JORNALISTAS DEVEM SER TÃO TRANSPARENTES QUANTO POSSÍVEL SOBRE AS FONTES E MÉTODOS PARA QUE O PÚBLICO POSSA FAZER SUA PRÓPRIA AVALIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES. MESMO EM UM MUNDO DE VOZES EM EXPANSÃO, A PRECISÃO É A BASE SOBRE A QUAL TUDO O MAIS É CONSTRUÍDO — CONTEXTO, INTERPRETAÇÃO, COMENTÁRIO, CRÍTICA, ANÁLISE E DEBATE. A VERDADE, COM O TEMPO, EMERGE DESSA COMUNHÃO DE FATORES.
(KOVACH; ROSENSTIEL, 2001)
É preciso ressaltar que a “verdade jornalística” não é a verdade no sentido comum da palavra, muito menos no modo como os filósofos a entendem. A verdade jornalística é um processo de “classificação” que ocorre ao longo do tempo por meio da interação “entre o público, criadores de notícias e jornalistas”, como definiram Bill Kovach e Tom Rosenstiel.
Os jornalistas perseguem o que se costuma chamar de “a melhor versão da verdade que se pode obter”. Entretanto, em meios diferentes, como jornal e televisão, a verdade de um mesmo evento pode ser diferente. Diversos estudos mostram que repórteresde jornais e de TV retratam campanhas eleitorais, por exemplo, com enfoques distintos. As prioridades dos jornais e das notícias da televisão raramente se assemelham porque os públicos são diversos, tornando também diferentes os objetivos dos relatos jornalísticos.
Quando jornalistas falam da verdade nas notícias, muitas vezes têm uma concepção da precisão de fatos específicos. Determinado entrevistado realmente disse as palavras atribuídas a ele? As cifras, os números e as grandezas da informação estão corretos? Esses são apenas alguns exemplos do que se convencionou chamar de verdade factual, a referência precisa e objetiva no relato.
Uma história, no entanto, pode ser precisa em seus detalhes e ainda assim ser construída para corroborar uma intenção enviesada. A cobertura de uma guerra, por exemplo, pode ser precisa e carregada de histórias dramáticas e humanas no particular, sem que, no entanto, seja objetiva e imparcial na narrativa ampla do conflito.
Mesmo a verdade factual pode ser vítima de erros técnicos, de menor ou maior porte. A grafia incorreta de um nome ou a transcrição imprecisa de uma declaração são ruídos na busca da verdade factual.
O jornalista está sempre imerso no labirinto de fatos, alguns visíveis outros ocultos. Ele julga personagens e acontecimentos com informações incompletas ou mesmo inconsistentes. Seu trabalho é colocar em um contexto correto o máximo das informações de que dispõe.
Em seu livro The Elements of Journalism, Kovach e Rosenstiel dizem que a disciplina de verificação dos jornalistas é o que lhes permite apurar a verdade.
A DISCIPLINA DA VERIFICAÇÃO É O QUE SEPARA O JORNALISMO DO ENTRETENIMENTO, PROPAGANDA, FICÇÃO OU ARTE. ENTRETENIMENTO — E SEU PRIMO 'INFOTAINMENT' — ENFOCA O QUE É MAIS DIVERTIDO. A PROPAGANDA SELECIONA FATOS E OS INVENTA PARA SERVIR AO PROPÓSITO REAL: PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO. A FICÇÃO INVENTA CENÁRIOS PARA OBTER UMA IMPRESSÃO MAIS PESSOAL DO QUE CHAMA DE VERDADE. SÓ O JORNALISMO SE CONCENTRA EM NARRAR O QUE ACONTECEU DA MANEIRA PRECISA.
(KOVACH; ROSENTIEL, 2013)
Kovach e Rosenstiel propõem cinco princípios intelectuais como base para “uma ciência objetiva do relato”:
Cinco princípios intelectuais de Kovach e Rosenstiel. Fonte: EnsineMe.Cinco princípios intelectuais de Kovach e Rosenstiel. Fonte: EnsineMe.
A Medicina, o Direito, a Economia ou a Psicologia possuem conhecimentos disciplinares que orientam as decisões dos profissionais, estreitando as escolhas e diminuindo as chances de erro. Os jornalistas não têm essa vantagem. Embora haja um conhecimento teórico de jornalismo, ele não é definitivo nem é seu domínio um pré-requisito para a prática.
Os jornalistas, muitas vezes, estão na posição ingrata de saber menos sobre o assunto em questão do que aqueles a quem devem questionar.
Os jornalistas adquirem experiência como resultado de estarem apurando os mesmos temas por longos períodos, mas essa forma de especialização não se compara à da maioria dos profissionais. Médicos, advogados e engenheiros dominam suas ferramentas de trabalho de uma forma que os jornalistas nem sempre podem.
Basta acompanhar a seção de cartas dos jornais e revistas. Embora respeitem a técnica dos jornalistas, muitos leitores reclamam que alguns profissionais não têm uma compreensão completa do mundo. Por exemplo, na cobertura econômica, é frequente que jornalistas confundam dívida e patrimônio líquido ou que não conheçam a terminologia jurídica básica usada em um julgamento.
ATENÇÃO
A deficiência de conhecimento dos jornalistas em determinadas áreas é um dos pontos que os tornam vulneráveis à manipulação de suas fontes. Por isso, o ceticismo é uma defesa importante, embora fraca, contra fontes que fabricam fatos ou os escondem.
Sem um conhecimento prático do assunto em questão, os jornalistas ficam vulneráveis aos especialistas de quem procuram informações, citações e pistas de reportagem. Muitos especialistas são imparciais em sua busca pelo conhecimento, mas outros têm uma agenda própria ou mesmo interesses camuflados.
Esses interesses podem decorrer de uma crença pessoal ou política. Em outros casos, podem ser devido à sua forma de ação pública que se coaduna à agenda de um patrocinador, como no caso de pesquisadores médicos que aceitam financiamento de empresas farmacêuticas.
Considere o exemplo da obesidade.
Em geral, o assunto era retratado pelo jornalismo como um problema pessoal, resultado da genética familiar e dos transtornos alimentares. Era entendido que pessoas com excesso de peso ou nasceram assim ou comiam muito.
Entidades científicas tornaram público, no entanto, que o mundo vive uma epidemia de obesidade, causada principalmente pela alimentação processada, repleta de açúcar e sal. A partir de então, o enquadramento das reportagens mudou.
As histórias pessoais cederam espaço às análises das causas estruturais da obesidade, como o marketing agressivo de cereais enriquecidos com açúcar ou a alimentação barata de sanduíches repletos de colesterol.
Embora se distanciassem da verdade, antes os jornalistas não mentiam, apenas cobriam a obesidade a partir de uma ótica restrita. O acesso a novos estudos os aproximou da verdade factual.
A maioria dos jornalistas hoje frequentou a universidade e recorre a especialistas e à ciência para embasar suas reportagens. Também existe uma maior expertise dentro do jornalismo. Embora ainda representem uma pequena fração da profissão, o número de repórteres com pós-graduação em áreas como Ciência, Saúde, Economia e Direito tem aumentado constantemente.
Aqui cabe enfatizar a distinção entre reportagem especial e reportagem especializada.
Reportagem especial é uma matéria com apuração mais cuidadosa e demorada, às vezes envolvendo mais de um repórter. Por sua produção demandar mais tempo, ela se contrapõem às reportagens diárias, as quais têm um aspecto mais cotidiano, embora extrapolem a circunscrição da notícia.
Reportagem especializada diz respeito a repórteres que se especializam em algumas áreas, como o jornalismo científico ou de saúde. O termo, porém, está caindo em desuso, sendo substituído por “setorista” (de esportes, de política, de economia etc.).
De maneira geral, os jornalistas têm sido relativamente lentos em aplicar o conhecimento sistemático ao seu trabalho diário. Embora sejam treinados na coleta e apresentação de informações, que exigem habilidades substanciais, têm dificuldades de proficiência em grande parte dos assuntos que abordam.
Por mais de um século, os jornalistas confiaram em duas ferramentas básicas: observação e entrevistas. Os repórteres são treinados para olhar primeiro para a cena de ação e depois para as declarações das partes interessadas. Observação e entrevistas são ferramentas muito úteis, por isso são usadas há tanto tempo. Elas requerem julgamento e experiência para serem usadas corretamente.
A observação e as entrevistas permitem que os jornalistas capturem apenas os aspectos dos desenvolvimentos que são observáveis e sobre os quais as partes disponíveis podem e desejam falar.
Realizar entrevistas evita que o jornalista recorra a formas mais exigentes de investigação, e as palavras do entrevistado podem ser consideradas como "fato" à medida que forem ditas. No entanto, a entrevista não é infalível. Questões como quem é entrevistado, as perguntas feitas e mesmo a hora e o local da entrevista podem afetar as respostas. Temos de lembrar ainda que as respostas estão sujeitas a erros de memória ou até mesmo à determinação de uma fonte em enganar o repórter.
Fonte: Shutterstock.com
Fonte: Shutterstock.com
No que diz respeito à observação, sua utilidade é limitada pelo fato de ocorrer em um determinado momento e a partir de uma perspectiva particular. Aspectos da vida pública que não estão na linha de visão recebem menos escrutínio do que aqueles que estão.
EXEMPLO
As atividades de lobby, por exemplo, são relatadas com menos frequência do que as atividades eleitorais. Isso não ocorre porque essas atividades têm menos influência nas políticas públicas, e sim porque são menos visíveis.Pelo mesmo motivo, os problemas de política são subnotificados até assumir a forma de um evento crítico, então dado como surpreendente. Por exemplo, a diferença de renda entre os ricos e pobres tem aumentado de forma constante no mundo, mas raramente é noticiada. Apenas quando estudos sobre o tema são lançados ou ocorrem manifestações públicas relevantes, o aumento da desigualdade recebe atenção jornalística.
Grande parte das notícias fornece o “quem”, “o quê”, “onde” e “quando” dos desenvolvimentos, mas muitas vezes omitem o “porquê”. A resposta ao “por quê?”, assim como análises e desdobramentos, é serviço da reportagem. É comum, por exemplo, que a cobertura de notícias econômicas traga explicações superficiais e estereotipadas, com foco nos efeitos de curto prazo mais óbvios. As ligações raramente vão além do nível simplista.
ATENÇÃO
O conhecimento é a chave para fortalecer o contexto da história. Para quase todos os desenvolvimentos de complexidade, mesmo a modesta, não se pode esperar que jornalistas construam um relato abrangente e inteligente, a menos que tenham conhecimento dos fatores subjacentes. O contexto indica como eventos momentâneos se encaixam no fluxo maior da política, cultura ou história.
A Internet reduziu os obstáculos para o acesso ao conhecimento. Informações confiáveis sobre uma ampla gama de assuntos de notícias estão prontamente disponíveis na rede. No entanto, o processo também não é infalível. A Internet é, ao mesmo tempo, uma mina de ouro de conteúdo sólido e um inferno de desinformação.
A menos que o repórter saiba algo sobre o assunto em questão, as chances de um erro são extremamente altas. Até mesmo estudos acadêmicos revisados por pares disponíveis na rede podem ser enganosos. Alguns são profundamente falhos, e a maioria requer interpretação para aplicá-los com precisão em reportagens aprofundadas.
O conhecimento, porém, nem sempre produz respostas precisas. Isso pode complicar a tarefa dos repórteres, alertando-os sobre o que não é conhecido, bem como sobre o que é conhecido. Às vezes, o efeito do conhecimento é desenterrar novas questões ou incertezas.
A maneira mais segura de melhorar a precisão das notícias é fazer o uso mais completo do conhecimento. O que os jornalistas têm feito tradicionalmente — identificar eventos de interesse — agora está sendo feito também por cidadãos nas redes sociais.
Se o jornalismo vai enfrentar os desafios colocados pelo ambiente de informação instantânea, simultânea e global de hoje é uma questão em aberto. A imprensa, como qualquer instituição, é conservadora em suas rotinas. As formas tradicionais de definir, estruturar e coletar as notícias são incorporadas a cada faceta da prática do jornalismo.
Fonte: Shutterstock.com
Embora a Internet forneça acesso a um depósito de conhecimento até então indisponível, ela também pressiona o jornalista a criar histórias e ter uma presença constantemente atualizada por meio de blogs, Twitter, Facebook e outras mídias sociais. A velocidade pode ser um obstáculo para a reportagem aprofundada. Em praticamente todas as situações de reportagem, o jornalista que sabe mais sobre o assunto em questão tem uma vantagem sobre aquele que sabe menos.
Assista ao vídeo a seguir e conheça o dia a dia de diferentes tipos de redação e de reportagens
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. INDIQUE A OPÇÃO QUE APRESENTA CORRETAMENTE UM EXEMPLO DE NOTÍCIA, REPORTAGEM OU REPORTAGEM ESPECIAL:
Notícia: Entrevista com coordenador do programa nacional de vacinação.
Reportagem: Aumento da tarifa dos ônibus.
Reportagem: Informação sobre a queda da bolsa de valores, com entrevista de especialistas.
Reportagem especial: Divulgação dos índices de homicídios do ano, replicando dados da secretaria de segurança de determinado estado.
Reportagem especial: Foto flagrante do momento de um acidente.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. QUAIS DAS AFIRMATIVAS ABAIXO ESTÃO CORRETAS A RESPEITO DA “VERDADE JORNALÍSTICA”?
I. A VERDADE É UMA SÓ, SEJA ELA JORNALÍSTICA SEJA FILOSÓFICA.
II. A “VERDADE JORNALÍSTICA” TEM SENTIDO DIFERENTE DO ATRIBUÍDO NO SENSO COMUM.
III. A CHAMADA VERDADE JORNALÍSTICA É UM PROCESSO E DEPENDE DE REUNIR E VERIFICAR FATOS.
Só está correta a afirmação I.
Só pode ser considerada correta a afirmação II.
Só é correta a afirmação III.
Estão corretas as afirmações I e III apenas.
Só estão corretas as afirmações II e III.
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. Indique a opção que apresenta corretamente um exemplo de notícia, reportagem ou reportagem especial:
A alternativa "C " está correta.
As reportagens especiais diferem das reportagens do dia a dia pelo tempo e os recursos que o jornalista tem para apurá-las. São pautas que demandam maior investigação. A reportagem diária, por sua vez, é uma investigação ou uma análise de um acontecimento que vai além da notícia, por exemplo, ouvindo especialistas ou outras pessoas que possam ajudar a melhor informar e contextualizar a notícia.
2. Quais das afirmativas abaixo estão corretas a respeito da “verdade jornalística”?
I. A verdade é uma só, seja ela jornalística seja filosófica.
II. A “verdade jornalística” tem sentido diferente do atribuído no senso comum.
III. A chamada verdade jornalística é um processo e depende de reunir e verificar fatos.
A alternativa "E " está correta.
A questão da verdade no jornalismo está mais relacionada a uma busca da verdade, de sua investigação, do que a uma verdade absoluta. O jornalista está imerso em fatos e, muitas vezes, em versões e faz parte de seu trabalho reuni-los, verificá-los e, na medida do possível, avaliá-los, consultando pessoas que tenham algo a dizer sobre aquele assunto.
MÓDULO 2
Reconhecer gêneros jornalísticos da atualidade
OS DIFERENTES TIPOS DE REPORTAGEM
Uma das principais funções de um jornalista é ser um vigilante cívico. Para ser efetivo, seu papel exige investigação e trabalho aprofundado. Assim, de certa maneira, todas as reportagens são investigativas porque requerem pesquisa, busca da verdade, realização de entrevistas e apresentação textual rica. Todos os repórteres são investigadores treinados para fazer perguntas, descobrir informações e escrever reportagens completas.
Fonte: Shutterstock.com
No entanto, alguns repórteres se concentram apenas nas investigações de irregularidades, com o objetivo de descobrir informações bem guardadas por fontes frequentemente hostis. Isso os obriga a serem criativos. Muitas vezes, descobrem uma injustiça que, após revelada, será corrigida. Daí o surgimento do termo reportagem investigativa.
Há formas mais relevantes de rotular as reportagens, entretanto. A seguir vamos sistematizar algumas das mais frequentes.
REPORTAGEM NOTICIOSA
A reportagem noticiosa, ou factual, busca narrar os acontecimentos imediatos, respondendo às perguntas clássicas da chamada pirâmide invertida:O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?
É produzida no calor dos acontecimentos, contra os relógios que definem os prazos de fechamento e ouvindo um número limitado de fontes e personagens. É a reportagem do dia a dia, que compõe a maior parte dos noticiários impressos, digitais e televisivos.
Vejamos a seguir alguns exemplos de boas aberturas de reportagens factuais:
Fonte: Wikipédia
“Três anos depois do maior acidente ambiental do país, com o colapso da barragem do Fundão, em Mariana, outra barragem da Vale se rompeu na mina do Feijão, em Brumadinho, também em Minas Gerais. A área administrativa da empresa e parte de uma vila foram soterradas. Das 427 pessoas que estavam no local, 279 conseguiram sair. Sete corpos foram encontrados inicialmente e havia ao menos 150 desaparecidos.” (O GLOBO, 2015).
Fonte: Shutterstock.com
“Aquela que foi classificada como ‘a nevasca do século’ nos Estados Unidos matou pelo menos 100 pessoas e bloqueou aeroportos, estradas e edifícios com uma camada de até 80 centímetros de neve. A tempestade obrigou as autoridades a fechar seis aeroportos e a declarar estado de emergência em seis Estados. Em Nova York, 18 pessoasficaram intoxicadas pelo monóxido de carbono: o gelo obstruiu os canos de escapamento dos carros.” (ESTADO DE SÃO PAULO, 2016).
Fonte: Kathy Hutchins / Shutterstock.com
“Este é o momento que Judith Hill está repetindo em sua mente nos últimos dois meses: ela estava sentada em um avião com um homem que amava, conversando, jantando, quando de repente ele perdeu a consciência. Ela gritou seu nome: Prince! Ela o sacudiu. Mas ele não voltou”. (THE NEW YORK TIMES, 2016).
Fonte: emka74 / Shutterstock.com
“John Lennon, compositor, cantor, músico, o ‘pai’ dos Beatles, foi assassinado à 1 hora da manhã (hora de Brasília) de ontem por um vagabundo. Mark David Chapman, que disparou nele 6 tiros de um revólver 38, acertando 5. O crime aconteceu no saguão de um dos prédios mais famosos de Nova York, a oeste do Central Park, o Dakota.” (FOLHA DE S. PAULO, 1980).
COMENTÁRIO
A reportagem noticiosa é o primeiro momento da notícia, que deve ser informada e contextualizada. A estrutura básica da pirâmide invertida, além de auxiliar na edição da reportagem, deixando informações complementares para o fim do texto, também responde a uma busca do jornalismo de se firmar como objetivo e imparcial.
REPORTAGEM NARRATIVA
Na história da imprensa brasileira, em geral coloca-se na revista Realidade a marca de iniciadora por aqui do uso de instrumentos do que se convencionou rotular como reportagem narrativa ou novo jornalismo. Há ainda quem use denominações como Jornalismo Literário ou Jornalismo Narrativo.
Os primórdios da reportagem narrativa, com o uso de técnicas literárias no jornalismo brasileiro, podem ser encontrados na cobertura de Euclides da Cunha para a Guerra de Canudos, em 1897, na cobertura por Oswald de Andrade de uma viagem do presidente Afonso Penna em 1909 e na produção de Joel Silveira na década de 1940.
Fonte: Registro de Flávio de Barros, Fotografo Expedicionário / Wikimedia Commons / Domínio Público.Prisão de jagunços pela cavalaria.
Mas a introdução sistemática no país do novo jornalismo é atribuída à revista Realidade, da Editora Abril, lançada em 1966. A publicação foi inovadora não só pela escolha dos temas, mas também pelo modo como estes eram apresentados. O sucesso da revista foi devido ao jornalismo baseado na reportagem e no estilo de texto, uma influência direta do New Journalism norte-americano.
A chamada reportagem narrativa se caracteriza pelos recursos de observação e redação originários ou inspirados pela literatura. Esse novo jornalismo é marcado por algumas características, como a imersão do repórter na realidade, a voz autoral no texto, o estilo, a precisão de dados e informações, o uso de símbolos e metáforas, a digressão e a humanização.
NEW JOURNALISM NORTE-AMERICANO
Popularizado pelo jornalista Tom Wolfe, que aproximava literatura e jornalismo ao empregar recursos literários para narrar eventos jornalísticos ou, simplesmente, não ficcionais.
VOCÊ SABIA
A expressão Novo Jornalismo foi criada por Tom Wolfe ao capitanear a edição de livro com antologia de perfis e ensaios de escritores como Gay Talese, Truman Capote, Hunter Thompson, Joan Didion, Norman Mailer, além dele próprio. Na introdução da antologia The New Journalism (1973), a expressão significava uma declaração de independência de todas as formas de jornalismo praticadas até então. Os textos que integravam a obra haviam sido produzidos a partir de 1962, mas os críticos atacaram Wolfe por "tentar estabelecer uma marca registrada a técnicas que existiam duzentos anos antes".
Fonte: WikipédiaO autor Tom Wolfe participa da Saudação da Casa Branca
aos Autores Americanos. Fonte: Wikipédia
Os mais destacados integrantes do New Journalism revelaram-se ambiciosos e talentosos. Muitos deles eram romancistas frustrados ou escritores de ficção que ganhavam a vida como jornalistas. Eles utilizavam suas técnicas de escritores para incrementar as ferramentas de comunicação da reportagem, tornando sua produção de não ficção melhor do que a ficção.
O Novo Jornalismo podia escrever o quanto quisesse: de 3 mil a 50 mil palavras, quantas o assunto necessitasse. Havia um público que realmente se importava com o que eles tinham a dizer. Os jornalistas de reportagem narrativa se tornaram estrelas como os astros do rock, lotando auditórios de universidades em leituras que pareciam concertos. O trabalho do Novo Jornalismo foi marcado pela distinção em seu tempo, mas até hoje não perdeu o choque do novo. As coleções de obras de Wolfe, Talese e Thompson se mantêm firmes ainda hoje. Foi um grande momento para revistas e jornais. Afinal, eram dias sem TV a cabo e Internet, quando a mídia impressa reinava entre leitores educados e culturalmente mais experientes.
Entre os anos 1960 e 1970, o Jornal do Brasil também se destacou em reportagens narrativas, caracterizadas por extensas pesquisas de campo e descrições detalhadas de ambientes e personagens, como exige o Novo Jornalismo. Sem dúvida, essa forma de abordagem noticiosa é uma das razões para a construção da mítica do jornal que até hoje se mantém.
Uma das características da reportagem narrativa é o uso de imagens e metáforas para enriquecer a descrição. A obsessão com a qualidade do texto e a apuração meticulosa também a caracterizam. Outra peculiaridade é que tais textos abrem mão da regra de colocar as principais informações no parágrafo de abertura.
Leia a seguir alguns bons exemplos de abertura da reportagem narrativa:
“Em sua maioria, os jornalistas são incansáveis voyeurs que veem os defeitos do mundo, as imperfeições das pessoas e dos lugares. Uma cena sadia, que compõe boa parte da vida, ou a parte do planeta sem marcas de loucura não os atraem da mesma forma que tumultos e invasões, países em ruínas e navios a pique, banqueiros banidos e monjas budistas em chamas — a tristeza é seu jogo do jornalista; o espetáculo, sua paixão; a normalidade, seu desconforto.” (Gay Talese, em O Reino e o Poder, livro sobre o jornal New York Times.)
“Francenildo dos Santos Costa era caseiro, tinha 24 anos, quatro bermudas, três calças jeans, cinco camisetas, três camisas, cinco cuecas, três pares de meia, um sapato e um salário de 370 reais quando tudo começou em março de 2006.” (João Moreira Salles, em "O caseiro", revista Piauí, outubro de 2008.)
“Dez horas da manhã. A conversa se desenrola num bar da Travessa do Ouvidor. Embora as portas ainda estejam fechadas, há várias pessoas em torno das mesas. Todas parecem conhecer-se. As vozes nunca se elevam. Cada gesto, ditado pelo hábito, tem um sentido particular para o garçom. Música, e especialmente a música popular do passado, é quase sempre o tema das conversas. Um recém-chegado informa que morreu alguém. Exclamações de pesar a que se seguem reminiscências sobre o morto, membro destacado da velha guarda.
— Estamos desparecendo — comenta, com leve sorriso, o homem sentado à minha frente, numa das mesas. Escuro, cabelo à escovinha, marcas de bexiga no rosto. Na parede, acima da cadeira onde ele se senta, uma plaqueta prateada informa: ‘Cadeira cativa, oferecida pela casa ao professor Alfredo da Rocha Viana Filho’. Este é o verdadeiro nome de Pixinguinha.” (Muniz Sodré, em Samba, o dono do corpo, 1998.)
O professor Felipe Pena comenta sua teoria da estrela de sete pontas, a iluminar o jornalismo literário.
REPORTAGEM INVESTIGATIVA
A reportagem investigativa talvez seja a mais nobre peça produzida pelos jornalistas. Esse gênero de reportagem revela segredos, confronta desvios de poderes constituídos e personagens relevantes das esferas pública e privada. Demanda investigação minuciosa, análise de muitos documentos, pesquisa aprofundada, perseguição de pistas, averiguação pormenorizada de comportamentos e decisões de personagens. Pode resultar em série sobre corrupção política, denúncias de fraude, desvios de conduta.
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Jornalismo investigativo
Jornalismo investigativo é encontrar, relatar e apresentar notícias que outras pessoas tentam esconder. Em termos de forma, é muito semelhante ao noticiário padrão, exceto que as pessoas no centroda história geralmente não ajudarão o jornalista e podem até tentar impedi-lo de fazer seu trabalho.
Em grande parte da rotina do jornalista, os fatos são fáceis de encontrar em lugares como tribunais e parlamentos, desastres, reuniões públicas, igrejas e eventos esportivos. As pessoas geralmente ficam satisfeitas em lhes fornecer informações. De fato, em muitos países, há profissionais que trabalham em tempo integral em relações públicas, prestando declarações, comentários, comunicados à imprensa e outras formas de informação aos jornalistas.
Em todo o mundo, porém, há pessoas que preferem manter segredo sobre determinados assuntos. Na maioria dos casos, são temas privados que não têm impacto sobre outros indivíduos, como relações dentro de uma família ou um relatório ruim da escola. As questões pessoais devem permanecer secretas.
Em muitos outros casos, porém, governos, empresas, organizações e indivíduos tentam ocultar decisões ou eventos que afetam a sociedade. O jornalismo investigativo atua ao realizar reportagens sobre um assunto importante que alguém quer manter em segredo.
A reportagem investigativa mais famosa do mundo é o chamado “Caso Watergate”, contado no livro e no filme batizados com o mesmo título: Todos os homens do presidente. Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal americano Washington Post, investigaram um crime que acabou levando à queda do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, acusado de abuso de poder e obstrução de Justiça.
Watergate foi um escândalo político que envolveu a revelação de atividades ilegais por parte da administração republicana de Nixon durante a campanha eleitoral de 1972. O caso é considerado um dos mais repercutidos da história política dos Estados Unidos.
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O escândalo começou durante a noite de 17 de junho de 1972, quando agentes da CIA foram presos no prédio do hotel Watergate, na sede do comitê eleitoral do Partido Democrata, o principal opositor do presidente. Os agentes pretendiam instalar microfones e câmaras para fazer escutas clandestinas.
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Quando o escândalo parecia cair no esquecimento, Bob Woodward e Carl Bernstein, dois jornalistas do The Washington Post, revelaram detalhes do assunto e acusaram o presidente de congelar as investigações. Os jornalistas foram orientados por uma fonte secreta, batizada de "Garganta profunda", cujas dicas os ajudaram a descobrir que as mais altas instâncias de Estado estavam envolvidas no caso de espionagem.
Fonte: Wikipédia
O caso de Watergate foi um marco na investigação jornalística, que demorou dois anos para chegar ao seu momento mais impactante: a renúncia do presidente americano. Em 24 de julho de 1974, a Corte Suprema acusou Nixon de obstruir as investigações judiciais, abuso de poder, ultraje ao Congresso e de haver utilizado a CIA e o FBI com fins políticos. Finalmente, Nixon renunciou ao seu cargo em 8 de agosto desse ano.
Pessoas podem abusar do poder que lhes é conferido, seja no governo, no mundo do comércio ou em outro grupo da sociedade. Elas podem ser corruptas, roubar dinheiro, infringir leis e cometer atos que prejudicam outros indivíduos. Também podem ser apenas incompetentes e incapazes de fazer seu trabalho adequadamente e, na maioria das vezes, tentam manter esse fato em segredo. O papel dos jornalistas é expor tais abusos.
COMENTÁRIO
Os jornalistas também têm o dever de observar como as pessoas no poder desempenham suas funções, especialmente aquelas que foram eleitas para cargos públicos. Eles devem perguntar e averiguar constantemente se os políticos estão cumprindo suas promessas eleitorais.
Cabe aos jornalistas, entretanto, somente trazer a público o delito. É papel da sociedade e das instituições punir malfeitores ou mudar regras e sistemas injustos. O noticiário convencional depende em grande parte, às vezes inteiramente, de materiais fornecidos por terceiros, como polícia, governos, empresas etc.; é fundamentalmente reativo, senão passivo. A reportagem investigativa, em contraste, depende do material coletado ou gerado por iniciativa do próprio repórter.
VOCÊ SABIA
Importante lembrar que diversos fatores podem limitar os jornalistas investigativos: interferência do proprietário dos meios de comunicação que teme perder recursos, benefícios ou atingir aliados; interferência política; retaliações econômicas contra o meio de comunicação e seus jornalistas; limitações tecnológicas que dificultam trabalhar com grande massa de informação; mão de obra qualificada limitada para dominar profundamente um tema; acesso limitado à informação por governos ou instituições não transparentes; ameaças à vida de jornalistas e editores por parte de alvos da investigação.
Leia a seguir bons exemplos de aberturas de reportagens investigativas.
“Foi fraudulenta e determinada por corrupção a concorrência pública, cujos resultados o governo divulgou ontem à noite, para construção da ferrovia Maranhão-Brasília (ou Norte-Sul): a Folha publicou os 18 vencedores, disfarçadamente, há cinco dias e antes até de serem abertos, pela estatal Valec e pelo Ministério dos Transportes, os envelopes com as propostas concorrentes. A concorrência foi iniciada, com a abertura dos envelopes, às 9h30 da última sexta-feira, dia 8.
Desde a madrugada daquele dia a Folha já circulava com o resultado para os 18 lotes de obras disputados. De posse, desde a véspera desta lista dos vencedores, não poderia publicá-la em minha coluna na pág. A-5, dado que restaria tempo para o adiamento da concorrência ou, embora com menor probabilidade, para a troca de lotes de obra, entre as empreiteiras, a Valec e o Ministério dos Transportes. O registro imediato era, porém, indispensável, já que o resultado oficial poderia sair no mesmo dia do confronto de propostas. Por isto, um anúncio ininteligível saía, na mesma sexta-feira 8, em meio do Classifolha, à pág. A-15, na sugestiva seção ‘Negócios. Oportunidades’. (JANIO DE FREITAS, em “Concorrência da ferrovia Norte-Sul foi uma farsa”, reportagem publicada na Folha de S. Paulo em 13 de maio de 1987).
“Fotografias obtidas pela Folha derrubam as conclusões do inquérito policial que investigou a morte do empresário Paulo César Farias e de sua namorada Suzana Marcolino da Silva, na madrugada de 23 de junho de 1996.
Tesoureiro do ex-Presidente Fernando Collor em campanhas políticas, PC Farias foi assassinado aos 50 anos na sua casa de praia em Guaxuma, bairro a 8 km do centro de Maceió (AL). Ao seu lado, também com um só tiro, foi encontrado o corpo de Suzana, 27.
O médico legista Fortunato Badan Palhares afirma no laudo oficial e em carta anexada posteriormente que a namorada era 4 cm maior do que PC (1,67 m contra 1,63 m), o que as imagens agora descobertas desmentem – mesmo de salto alto, ela continuava menor, indicando altura inferior a 1,60 m. Ontem, ele reafirmou suas conclusões à Folha. Com esse tamanho, é fisicamente impossível que Suzana tenha se suicidado conforme sustenta a versão oficial.
A bala a teria atingido na cabeça ou passado sobre um ombro, e não no peito, como ocorreu.” (MÁRIO MAGALHÃES, “Novas fotos derrubam a versão oficial do caso PC - Imagens mostram Suzana, de salto, menor que PC; erro na altura invalida cálculos sobre trajetória de bala”, publicada na Folha de S.Paulo em 24 de março de 1999)
JORNALISMO CONSTRUTIVO
A busca e o relato da verdade ao público são conceitos básicos do jornalismo e, muitas vezes, estão acompanhados de notícias de caráter negativo, as preferidas por boa parte das redações. Porém, também é possível relatar a verdade, com profundidade e de forma útil à sociedade, quando se reporta histórias e fatos positivos. A prática desse tipo de jornalismo, chamado de construtivo, vem ganhando, lentamente, espaço nas redações. Não se trata de oferecer conteúdo positivo com significância social limitada. As reportagens cobrem questões socialmente significativas, como mudança climática e relações raciais, mas o fazem de modo diferente.
COMENTÁRIO
Além das já citadas seis questõeselementares da prática jornalística, o jornalismo construtivo pergunta também: o que pode ser feito agora? O objetivo é alcançar uma sociedade melhor. Ao priorizar essa questão, seus proponentes estão interessados em amplificar discursos alternativos que sejam afirmativos, criativos, subnotificados e que deem voz a atores sociais sub-representados, em geral.
A análise crítica do discurso, praticada no jornalismo construtivo, revela como os textos podem destacar ou contextualizar os eventos e as questões que descrevem por meio de escolhas gramaticais e de vocabulário. Por exemplo, “o manifestante foi baleado” ou “a polícia atirou no manifestante” são formas diferentes de abordagem. O objetivo da análise crítica do discurso, estimulada por esse gênero, é desconstruir e expor os desequilíbrios de poder, vieses e discriminações que poderiam permanecer escondidos nos textos.
A reportagem construtiva pode ser ainda chamada de reportagem de soluções ou de narrativa restaurativa. As histórias relatadas por meio desses gêneros podem abranger uma ampla gama de tópicos, mas geralmente abordam questões sociais, como violência armada e tiroteios em massa.
EXEMPLO
O jornalismo construtivo pretende envolver e capacitar o público e, em última análise, melhorar a sociedade. Por exemplo, uma reportagem do New York Times, na sequência do tiroteio na boate de Orlando, concentrou-se em como as comunidades gays e latinas se uniram. As reportagens com soluções são rigorosas e baseadas em fatos que fornecem soluções confiáveis para problemas sociais.
Embora muitas reportagens relatem estatísticas de violência, o jornalismo construtivo oferece informações sobre o que está funcionando, por exemplo, no enfrentamento da epidemia de violência armada. Podemos citar o jornal inglês The Guardian, que certa vez destacou programas comunitários que demonstraram reduzir assassinatos relacionados a gangues e limitar a capacidade de munição.
Narrativas restaurativas enfocam a recuperação, a restauração e a resiliência na sequência ou em meio a tempos difíceis.
Após um tiroteio em uma escola, o jornal americano Tampa Bay Times priorizou a recuperação de um sobrevivente, focando na resiliência da vítima de sua família. Os jornalistas mais jovens são atualmente os maiores entusiastas no jornalismo de soluções, sugerindo que esse tipo de reportagem pode estar ganhando popularidade à medida que as notícias se distanciam de suas raízes tradicionais.
Jornalismo Construtivo
O jornalismo construtivo demonstra que também é possível investigar soluções ao invés de focar apenas no problema.
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Esses novos gêneros de reportagens contextuais consideram ativamente os melhores interesses da sociedade. Para seus defensores, eles podem ajudar a restaurar a confiança na mídia de notícias. As histórias não terminam depois que as notícias aparecem. O relato contextual oferece ao público uma história mais completa, geralmente com foco em como as comunidades respondem e se adaptam a determinadas questões. Embora a história específica possa ser desconhecida, as experiências e os problemas enfrentados por indivíduos e comunidades são experimentados mutuamente: crises de pobreza e disparidade econômica, tensões raciais, justiça social, tiroteios em massa, desafios à educação, desastres naturais e outros. Essa tendência também pode dar mais transparência às reportagens, ajudando a restaurar a confiança na mídia, que poderia se mover em direção a um jornalismo mais interpretativo e socialmente consciente.
 SAIBA MAIS
Surgidas entre intelectuais e ativistas dos Estados Unidos e da Europa, o jornalismo construtivo (Constructive) e o jornalismo de solução (Solution Journalism) são correntes que vêm repensar a prática da produção da notícia no mundo atual.
Embora sejam considerados distintos, os dois grupos têm a mesma proposição e são baseados no princípio de que a produção de notícias atual encontrou um ponto distante dos fundamentos do fazer jornalístico, preocupado em zelar pelo ideário da ética, liberdade e democracia, além do compromisso fundador com a verdade.
Seja construtivo seja de solução, o fundamento básico dessa nova perspectiva é que o formato de produção de notícias existente na atualidade tem produzido menos capacidade de intervenção na realidade, provocado apatia e, finalmente, afugentado o leitor, o receptor e a audiência.
Veja a seguir um exemplo de abertura de texto de reportagem construtiva:
“A CADA SEMANA, GRETE FÄLT-HANSEN RECEBE UM TELEFONEMA DE UM ESTRANHO FAZENDO UMA PERGUNTA PELA PRIMEIRA VEZ: COMO É CRIAR UMA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN? ÀS VEZES, QUEM LIGA É UMA MULHER GRÁVIDA, DECIDINDO SE VAI FAZER UM ABORTO. ÀS VEZES MARIDO E MULHER ESTÃO NA LINHA, OS DOIS EM AGONIZANTE DISCORDÂNCIA. CERTA VEZ, LEMBRA FÄLT-HANSEN, ERA UM CASAL QUE ESPEROU QUE O EXAME PRÉ-NATAL DETECTASSE UM BEBÊ TÍPICO ANTES DE ANUNCIAR A GRAVIDEZ A AMIGOS E FAMILIARES. ‘QUERÍAMOS ESPERAR’, DISSERAM AOS SEUS ENTES QUERIDOS, ‘PORQUE SE TIVESSE SÍNDROME DE DOWN, TERÍAMOS FEITO UM ABORTO’.
ELES CHAMARAM FÄLT-HANSEN DEPOIS QUE A FILHA DELA NASCEU - COM OLHOS PUXADOS, NARIZ ACHATADO E, O QUE É MAIS INCONFUNDÍVEL, A CÓPIA EXTRA DO CROMOSSOMO 21 QUE DEFINE A SÍNDROME DE DOWN. ELES TEMIAM QUE SEUS AMIGOS E FAMILIARES AGORA PENSASSEM QUE ELES NÃO AMAVAM SUA FILHA — TÃO PESADOS SÃO OS JULGAMENTOS MORAIS QUE ACOMPANHAM O DESEJO OU NÃO DE TRAZER UMA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA AO MUNDO.”
(ZANG, 2020)
REPORTAGEM FAITS-DIVERS OU DE ENTRETENIMENTO
O termo francês fait-divers foi cunhado por Roland Barthes (2009) para enquadrar reportagens de fatos diversos, como escândalos, curiosidades e bizarrices. Por muitas vezes, caracteriza-se como sinônimo da imprensa popular e sensacionalista, mas também tem a adesão dos chamados órgãos tradicionais da imprensa. A reportagem de fait-divers sempre esteve presente na imprensa, sendo um dos primeiros recursos editoriais para chamar a atenção e promover a diversão da audiência. Atualmente, o fait-divers tem ocupado cada vez mais espaços em veículos tradicionais, principalmente na internet e na televisão. O poder editorial desse gênero está no apelo ao entretenimento e no uso do humor e ou da emoção.
No desenvolvimento da atividade jornalística, os jornais de prestígio sempre deram maiores espaços para os acontecimentos de relevância pública, enquanto os assuntos voltados para o divertimento ficavam relegados a segundo plano. A imprensa popular usa desse expediente para contemplar um filão em geral pouco explorado pela mídia tradicional.
 SAIBA MAIS
Na era da internet, o fait-divers ganhou novo impulso. As notícias mais compartilhadas em redes sociais geram audiência, uma vez que o público prefere matérias fáceis, de leitura rápida e divertidas.
Fait-divers, etimologicamente, remete à notícia do dia ou ao fato do dia. Esse termo francês relaciona-se às notícias variadas, que têm importância circunstancial, constituindo-se em um elemento relevante para a promoção e a “alimentação” do entretenimento no noticiário. Assim, o crime passional, a briga de rua, o atropelamento, o assalto tendem a ser fait-divers.
Barthes considera que o fait-divers é constituído por duas notações: causalidade e coincidência. Para ele, o fait-divers é o acontecimento caracterizado pela perturbação de uma causa. Por exemplo: um médico assassina uma moça com o estetoscópio. Ou ainda pela anomalia do acaso: “Ganhou na Loteria Esportiva 40 vezes”. Dessa maneira, o fait-divers é uma arte de massa.
SEU PAPEL É PRESERVAR DENTRO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA A AMBIGUIDADE DO RACIONAL E DO IRRACIONAL, DA INTELIGIBILIDADE E DO IMPENETRÁVEL.
(BARTHES, 2009)
Um exemplo de reportagem fait-divers:
“Luana não tem mais Dado em casa. Desde o fim de semana, Dado Dolabella não mora mais com Piovani.” (MEIA HORA, 29 de outubro de 2008).
O JORNALISMO NA ATUALIDADE
Os cálculos mais recentes apontam a existência de mais de 300 mil jornalistas em atuação no mundo. O número de postos de trabalho e de publicações vem se reduzindo, no entanto, em linha agressivamente descendente.As mudanças no sistema de mídia, em especial depois da massificação da internet, afetaram a atuação dos meios de comunicação tradicionais e fizeram surgir dúvidas sobre os caminhos futuros. Há apenas uma certeza: a reportagem, relevante, aprofundada, tecnicamente bem feita e escrita, é a essência do bom jornalismo e a garantia de que este continuará sendo necessário.
Especialistas apontam as dificuldades atuais do jornalismo como resultado da precária e descoordenada transição do papel para o meio digital. O rádio e a televisão também sofrem com a concorrência do formato multimídia, que permite a informação eletrônica. Busca-se manter soluções que, no passado, foram fontes abundantes em benefícios, sendo estas soluções apoiadas agora em ferramentas de comunicação mais capazes, no entanto de resposta econômica menor.
A demora das empresas jornalísticas em liderar novos processos e a ausência de regulação pública contribuíram para acelerar a distância entre a nova geração digital globalizada e a indústria que cresceu em torno da invenção de Gutenberg no século XVI. A informação consome a atenção do público, contudo, em demasia, pode torná-lo apático. A retomada da fidelidade da audiência jornalística não tem como renunciar à produção da reportagem.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. ASSINALE EM QUAL DAS ALTERNATIVAS O TEXTO APRESENTADO NÃO CORRESPONDE AO TIPO DE JORNALISMO/REPORTAGEM ASSOCIADO A ELE:
Novo Jornalismo – “Frank Sinatra, segurando um copo de bourbon numa mão e um cigarro na outra, estava num canto escuro do balcão entre duas loiras atraentes, mas já um tanto passadas, que esperavam ouvir alguma palavra dele. Mas ele não dizia nada; passara boa parte da noite calado; só que agora, naquele clube particular em Beverly Hills, parecia ainda mais distante, fitando, através da fumaça e da meia-luz, um largo salão depois do balcão, onde dezenas de jovens casais se espremiam em volta de pequenas mesas ou dançavam no meio da pista ao som trepidante do folk rock que vinha do estéreo. (...) ele mergulhava num silêncio soturno, uma disposição nada rara em Sinatra naquela primeira semana de novembro, um mês antes de seu quinquagésimo aniversário.” (TALESE, 1966)
Reportagem noticiosa – “O presidente eleito Tancredo Neves morreu ontem, dia de Tiradentes, às 22h23, no Instituto do Coração em São Paulo. O comunicado oficial foi feito pelo porta-voz da Presidência, Antônio Britto, às 22h29. A morte de Tancredo ocorreu 38 dias após sua internação no Hospital de Base de Brasília, na véspera da posse. Nesse período, Tancredo foi submetido a sete intervenções cirúrgicas, as cinco últimas em São Paulo, para onde havia sido transferido no dia 26 de março. Tancredo Neves tinha 75 anos.” (FOLHA DE S. PAULO, 1985.)
Reportagem investigativa – “Faltavam apenas quatro dias para que a denúncia que levaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão fosse apresentada, mas o coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba tinha dúvidas sobre a solidez da história que contaria ao juiz Sergio Moro. A apreensão de Deltan Dallagnol, que, junto com outros 13 procuradores, revirava a vida do ex-presidente havia quase um ano, não se devia a uma questão banal. Ele estava inseguro justamente sobre o ponto central da acusação que seria assinada por ele e seus colegas: que Lula havia recebido de presente um apartamento triplex na praia do Guarujá após favorecer a empreiteira OAS em contratos com a Petrobras. As conversas fazem parte de um lote de arquivos secretos enviados ao Intercept por uma fonte anônima há algumas semanas”. (THE INTERCEPT, 2019)
Reportagem narrativa – “Após ter concebido serviços de mensagens instantâneas como o ‘Yo’, que envia apenas o termo Yo, e o ‘Ethan’, para se comunicar só com Ethan Gliechtenstein, criador do chat, o mundo dos aplicativos ganha agora o ‘Pooductive’, que também é uma ferramenta usada para conectar por meio do bate-papo pessoas ao redor do mundo, mas somente aquelas que estão defecando ao mesmo tempo.” (G1, 2015.)
Reportagem construtiva – “Rede de solidariedade ajuda a aquecer e alimentar moradores de rua no Rio. De madrugada grupos distribuem quentinhas e agasalhos. A chegada de uma frente fria registrando as mais baixas temperaturas do ano neste final de semana atingiu, principalmente, quem vive pelas ruas da cidade. Com uma população de rua cada vez maior, cenas de calçadas lotadas com pessoas dormindo no frio mobilizam uma rede de solidariedade de quem se dedica a ajudar o próximo”. (O GLOBO, 2019)
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2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE DEFINE CORRETAMENTE AS DIFERENÇAS ENTRE REPORTAGEM INVESTIGATIVA E REPORTAGEM CONSTRUTIVA:
A reportagem investigativa prioriza a revelação de fatos ocultos públicos e privados e de relevância pública; a reportagem construtiva pretende contribuir para o desenvolvimento social.
A reportagem investigativa quer destruir reputações; a reportagem construtiva quer preservá-las.
A reportagem investigativa precisa de mais tempo e mais recursos; a reportagem construtiva é mais fácil de fazer, muitas vezes recorrendo a press releases.
A reportagem investigativa busca dar acolhimento aos injustiçados; a reportagem construtiva fiscaliza as instituições públicas e privadas, desde escolas ao Judiciário.
A reportagem investigativa derruba governos; a reportagem construtiva dá prazer.
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GABARITO
1. Assinale em qual das alternativas o texto apresentado não corresponde ao tipo de jornalismo/reportagem associado a ele:
A alternativa "D " está correta.
A alternativa D não trata de jornalismo narrativo, também chamado de novo jornalismo, mas, sim, da reportagem de fait-divers, explorando um tema apelativo e ruidoso.
2. Assinale a alternativa que define corretamente as diferenças entre reportagem investigativa e reportagem construtiva:
A alternativa "A " está correta.
A reportagem investigativa é relevante e em defesa da transparência, envolve apurações profundas de interesse público. A reportagem construtiva é uma forma de melhorar a sociedade, buscando respostas positivas aos problemas em vez de apenas noticiá-los.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordamos a responsabilidade do jornalista em transmitir os fatos de maneira confiável, clara, organizada e crítica. Para tanto, a busca da verdade torna-se imprescindível.
Reconhecemos os conceitos relacionados à reportagem, diferenciando-a de notícia. Além disso, identificamos os diferentes tipos de reportagem da atualidade, apresentando exemplos que ilustravam suas principais características.
Por fim, aprendemos que alguns pré-requisitos para o trabalho jornalístico permanecem os mesmos embora as notícias tenham mudado em termos de profundidade.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BARTHES, R. Ensaios Críticos. Coimbra: Edições 70, 2009.
COSTA, C. Pena de Aluguel – escritores jornalistas no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras: 2005.
FRANCIS, P. Cinco tiros abrem novos negócios. São Paulo. Folha de São Paulo, 10 de dezembro de 1980.
FREITAS, J. D. Concorrência da ferrovia Norte-Sul foi uma farsa. São Paulo. Folha de São Paulo, 13 de maio de 1987.
INGRAM, D.; HENSHALL, P. The News Manual. Nova York: Estate, 2019.
KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. The Elements of Journalism. Nova York: Three Rivers Press, 2001.
PATTERSON, T. Informing the news: The need for knowledge-based reporting. Nova York: Penguin Random House, 2013.
TALESE, G. O Reino e o Poder. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
MAGALHÃES, M. Novas fotos derrubam a versão oficial do caso PC - Imagens mostram Suzana, de salto, menor que PC; erro na altura invalida cálculos sobre trajetória de bala. São Paulo. Folha de São Paulo, 24 de março de 1999.
SALLES, J. M. O Caseiro. Rio de Janeiro. Revista piauí. Outubro, 2008.
SODRÉ, M. A Narração do Fato – notas para uma teoria do acontecimento. Petrópolis: Vozes, 2012.
WEINGARTEN, M. The Gang That Wouldn't Write Straight: Wolfe, Thompson, Didion, Capote, and the New Journalism Revolution. Nova York: Three Rivers Press, 2014.ZANG, S. Os Últimos Filhos da Síndrome de Down - o teste pré-natal está mudando quem nasce e quem não. Isto é apenas o começo. Boston. The Atlantic, novembro de 2020.
EXPLORE+
Para conhecer um pouco mais os assuntos deste tema, recomentamos as seguintes leituras complementares:
· Fama e Anonimato, de Gay Talese. Esse livro está repleto de informações aparentemente inúteis, como a quantidade de vezes que os nova iorquinos piscam, mas que, nas mãos de um escritor de primeira categoria, imprimem a textura real da cidade de Nova York e o rosto de seus habitantes.
· Ensaios Críticos, de Roland Barthes. A obra é um painel essencial da reflexão do autor jornalismo, literatura e teatro.
· Notícias – Pequeno manual do Usuário, de Alain de Botton. O autor se vale de histórias típicas do noticiário — como um desastre de avião, um homicídio, um escândalo político e uma entrevista com uma celebridade — para construir uma análise incomum dos por quês das notícias.
CONTEUDISTA
Plínio Fraga
CURRÍCULO LATTES
TEMA 2 – APURAÇÃO DA REPORTAGEM
DESCRIÇÃO
A apuração da reportagem, com suas técnicas, ferramentas úteis, dificuldades, possibilidades e prevenção de erros.
PROPÓSITO
Conhecer questões técnicas e éticas da apuração jornalística é imprescindível para a capacitação do jornalista na elaboração de reportagens.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever o passo a passo na apuração de uma reportagem, com apresentação de método e técnicas empregados, e identificação de possíveis problemas nesse percurso
MÓDULO 2
Identificar erros comuns em apurações jornalísticas, bem como formas de checagem, prevenção e correção de erros
INTRODUÇÃO
A apuração de reportagem é uma etapa fundamental no trabalho jornalístico, e para realizá-la é importante ter em mente o conceito de reportagem, que revisaremos adiante, assim como identificar suas fases, com foco nessa etapa específica. Compreenderemos, aqui, a reportagem como um trabalho que exige um método e, dentro desse método, vamos aprender técnicas que podem ser utilizadas na apuração das informações. Discutiremos os exemplos a serem seguidos e identificaremos os erros a serem evitados, bem como as formas de checagem dos dados obtidos.
MÓDULO 1
Descrever o passo a passo na apuração de uma reportagem, com apresentação de método e técnicas empregados, e identificação de possíveis problemas nesse percurso
ROTINA DA ELABORAÇÃO DA REPORTAGEM
Antes de tratar da apuração, vamos relembrar o conceito de reportagem: um gênero jornalístico caracterizado pela descrição aprofundada de um conjunto de fatos. Difere da notícia – um relato mais simples e curto.
A reportagem permite narrar os fatos ocorridos e apresentá-los em perspectiva, buscando causas e consequências, mostrando interpretações e conexões entre os acontecimentos. Para Lage (2001), se a notícia é o relato de um fato, a reportagem é o relato de um conjunto de fatos e seus desdobramentos, enfatizando determinado ângulo ou ângulos. Medina (1978) destaca que, enquanto a notícia fixa o aqui e agora, a reportagem leva a um quadro interpretativo dos fatos. Se a notícia exige atualidade, a reportagem pode prescindir dela, lembram Sodré e Ferrari (1986), dedicando-se a temas não necessariamente do hoje ou do ontem; pode voltar ao passado, recente ou remoto.
A reportagem é, portanto, uma narrativa aprofundada de fatos e relatos verdadeiros, oferecendo informação, análise e interpretação. O repórter é o profissional que busca esses fatos e relatos, escolhendo de que maneira irá organizá-los a fim de atrair a atenção do seu público.
A narrativa jornalística, porém, só existe – esta é sua condição fundamental – se e somente se, como se usa na Matemática, for sustentada na realidade. Diferentemente do ficcionista, que tem liberdade para criar acontecimentos, exige-se do repórter que escreva apenas e tão somente sobre fatos.
Fonte: Photo Kozyr / Shutterstock
A reportagem começa muito antes do texto ou de qualquer palavra escrita ou falada; ela começa quando o repórter vai em busca de informações para construir seu relato – é a fase da apuração.
Fonte: GaudiLab / Shutterstock
A produção de uma reportagem exige um método de trabalho, com a definição de fases a serem seguidas e, em cada fase, etapas a serem cumpridas. O Jornalismo exige método e técnica, e a reportagem não é diferente. Para facilitar a compreensão, vamos estabelecer fases de uma rotina a ser seguida na elaboração da reportagem:
· Ideia inicial
· Pauta
· Pesquisa e apuração
· Redação
· Edição
FASE 1 – A IDEIA
De onde surge a ideia para fazer uma reportagem? Pode vir de qualquer lugar: de um fato do dia, da leitura de outra reportagem, de uma entrevista, da sugestão de um colega, da leitura de um livro, de uma música, de uma ida ao supermercado ou à praia.
O jornalista é um profissional que deve estar atento ao que se passa à sua volta, mais que atento, curioso sobre como e por que acontecem os fatos ao seu redor.
A partir da ideia, uma espécie de marco zero, o jornalista começa a pensar: será que isso renderia uma reportagem? Talvez sim, talvez não.
Por que tal assunto pode se transformar em reportagem?
O que justifica investir esforço e tempo em busca de informações sobre esse tema?
Fonte: Jonas Pereira / Senado Federal do Brasil
São os chamados critérios de noticiabilidade, que tornam um assunto mais ou menos relevante. A resposta vai depender de como essa ideia será desenvolvida e das condições objetivas existentes para a realização da reportagem. Se a ideia for aceita pela redação, o repórter passa à próxima fase.
FASE 2 - A PAUTA
A pauta é, no jargão jornalístico, um roteiro para a elaboração de uma reportagem. Consiste no detalhamento da ideia inicial, com a indicação de questões a serem respondidas, pessoas a serem ouvidas, documentos a serem buscados. É crucial que a pauta não traga conclusões, mas sim perguntas.
O jornalista não inicia seu trabalho munido de certezas, mas de dúvidas e curiosidade.
Fonte: AlisaRut / Shutterstock
Usamos aqui pauta em um de seus sentidos correntes – o roteiro de trabalho de uma reportagem –, mas pauta é também o termo utilizado rotineiramente para se referir, nas redações, ao planejamento do conjunto do trabalho da redação, seja a de uma revista semanal, de um jornal, ou de um site. O que está na pauta de hoje?, perguntamos.
 SAIBA MAIS
A pauta é, em sentido amplo, a listagem de assuntos a serem cobertos, um planejamento geral de temas e acontecimentos que um veículo de informação deverá acompanhar por determinado período. Segundo Lage (2001), a pauta generalizou-se nos jornais diários brasileiros a partir dos anos 1950 e, na década seguinte, o Jornal do Brasil chegou a publicar sua pauta, como serviço ao leitor, por algumas semanas, como um trabalho de transparência para que o público acompanhasse os assuntos que o periódico estaria cobrindo. Nos anos 1970, a pauta se generalizou nas redações.
Voltemos, porém, ao segundo uso do termo pauta: cada um dos itens desse planejamento geral do repórter, o que ele receberá (ou sugerirá) e deverá cumprir – a sua pauta.
TEMA DO ASSUNTO
LEITURA
PLANEJAMENTO
TEMA DO ASSUNTO
A pauta deve conter o tema do assunto a ser abordado na reportagem, que pode ser mais ou menos relacionado a temas do noticiário corrente, e o ângulo que se pretende destacar. Por exemplo: o tema da adoção de crianças por casais LGBTQI+. A pauta indica pessoas que podem ser entrevistadas, documentos a serem buscados, casos relacionados ao assunto. Esse roteiro de trabalho pode ser feito pelo chefe de reportagem ou sugerido pelo repórter.
LEITURA
A pauta pode sugerir leituras de outras matérias já feitas sobre o tema ou de outros conteúdos a ele relacionados – determinada entrevista, um livro, uma decisão judicial que pode ajudar o repórter a se informar sobre o assunto. Pode-se sugerir fotografias a serem realizadas ou infográficos a serem montados a partir das informações obtidas.
PLANEJAMENTO
Por fim, como instrumento de planejamento do trabalho, a pauta deve sugerir o tempo necessário para a elaboração de reportagem, com indicaçãode custos de deslocamento e viagens, se houver. Uma pauta bem detalhada, com informações e indicações úteis, é um roteiro precioso de trabalho para o início da elaboração de uma reportagem. Por tudo isso, a pauta exige uma pré-apuração antes de ser apresentada pelo repórter; caso contrário, limita-se a uma ideia de pauta, mais ou menos promissora, que pode ou não ser aceita.
Profissionais que trabalham como freelancers costumam enviar sugestões de pauta para as redações – nessa mesma perspectiva, indicando o tema, o ângulo e as pessoas a serem entrevistadas. Caso o repórter tenha alguma informação prévia sobre o tema, como, por exemplo, um artigo científico, um levantamento exclusivo, é relevante que ela conste na pauta.
ATENÇÃO
Porque parte de perguntas e não de conceitos preestabelecidos, a pauta inicial está sujeita a alterações superficiais ou consistentes ao longo do trabalho. Não é incomum que, durante a reportagem, o jornalista se depare com informações apontando que sua pauta inicial estava incompleta ou errada. Ou simplesmente que havia outro ângulo a ser abordado, mais relevante e interessante que o primeiro. A pauta é um ponto de partida, não de chegada.
FASE 3 – A APURAÇÃO
Se partiu de uma boa pauta, o repórter tem indicações precisas sobre como começar a busca por informações. A apuração é um dos pilares do trabalho jornalístico, porque garantirá a obtenção de informações a serem utilizadas na elaboração da reportagem. É o momento em que o jornalista está em contato direto com suas fontes – pessoas, instituições, dados ou documentos capazes de fornecer informações sobre o fato que se vai noticiar. Repórteres devem colher as informações junto às fontes e processá-las segundo as técnicas jornalísticas.
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A reportagem tende a ser melhor quanto mais variadas forem as fontes, pela multiplicidade e pluralidade de informações e pontos de vista apresentados. É o que torna a reportagem polifônica, palco de múltiplas vozes e capaz de oferecer interpretações sobre o conjunto de fatos narrados.
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Em busca dessa pluralidade, a apuração jornalística se traduz em método – um conjunto de procedimentos e técnicas para alcançar determinada finalidade. Assim, a apuração é um momento do trabalho jornalístico que mobiliza técnicas variadas, desde o mergulho em uma planilha de dados até a capacidade de convencer um entrevistado a compartilhar com o repórter uma informação até então guardada em segredo. Exige empenho para buscar as informações, espírito crítico para filtrá-las e organização para armazenar o conjunto de dados obtido. As técnicas de apuração incluem procedimentos variados, e destacaremos alguns a seguir.
OBSERVAÇÃO
A primeira ferramenta do repórter na apuração jornalística é a capacidade de observação do ambiente – para ser capaz de descrevê-lo mais tarde. É o momento em que o trabalho jornalístico mais se aproxima do exercício da etnografia, método de observação dos acontecimentos usado na Antropologia. Cabe ao repórter, quase como um etnógrafo durante um trabalho de campo, estar atento ao ambiente e acompanhar o decorrer dos acontecimentos. Ainda que a reportagem e a etnografia, em objetivo e prazo, tenham muitas distinções, o uso da observação é o ponto de contato entre as duas atividades.
ETNOGRAFIA
O método etnográfico foi um divisor de águas nas ciências sociais, pois havia anteriormente a figura do armchair anthropologist (o antropólogo de poltrona, ou de gabinete), ou seja, aquele pesquisador que investigava à distância, por meio de livros ou ponderações filosóficas. Já o método etnográfico pressupõe a convivência com o grupo pesquisado, a chamada observação participante, um olhar transdisciplinar, inclusive com a possibilidade de diferentes técnicas de coleta de dados, e a chamada descrição densa, que busca no acúmulo de detalhes não apenas ilustrar o grupo investigado, mas também depreender percepções sobre ele.
Observar significa, muitas vezes, tornar-se invisível, acompanhar os fatos em silêncio e guardar as perguntas para um momento oportuno. É imprescindível que o repórter fique atento ao ambiente, aos ruídos e aos silêncios, às relações de proximidade e poder entre as pessoas e às situações vividas.
No Rio de Janeiro, cidade dominada pelo confronto entre facções criminosas, os hospitais se deparam com a rotina de um fluxo constante de pessoas feridas por disparos de armas de fogo, além dos outros pacientes. Um repórter pautado para acompanhar um plantão em um desses hospitais pode ter dificuldades para estabelecer uma rotina de entrevistas longas e demoradas, já que os profissionais de saúde estarão geralmente sobrecarregados, passando sempre às pressas, mal tendo tempo para falar entre um atendimento e outro. Obter informações dos pacientes pode ser ainda mais difícil.
Nesses casos, a observação é ainda mais importante para, a partir dela, construir um relato do que ali se passa.
EXEMPLO
Uma reportagem da Folha de S.Paulo relatou, em um plantão noturno no Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio de Janeiro, parto realizado em pias (o hospital não tem maternidade), incubadeira improvisada com lençóis, vítimas de tiros sendo atendidas no chão. O que pode parecer ao repórter uma noite movimentada é quase trivial para os médicos. E o balanço feito pelo subchefe da equipe médica à reportagem da Folha de S.Paulo: “Foi um plantão tranquilo”.
O método etnográfico pode ser uma valiosa contribuição da Antropologia ao Jornalismo, ainda que uma observação participante (prolongada) ou a descrição densa nem sempre sejam possíveis no cotidiano da apuração, redação e publicação de notícias. O olhar etnográfico, como abordagem e como ponto de partida, sugere uma abertura do repórter não apenas para registrar friamente, mas para, na sua observação envolvida, conectar-se com pessoas e situações, buscando nos detalhes informações sobre aquela realidade.
EXEMPLO
Uma reportagem de O Globo, por exemplo, durante a apuração de uma matéria sobre pessoas sem documento, reparou (e relatou), na casa de uma família muito pobre, a existência de duas geladeiras – desligadas da tomada. Eram usadas como armário. Não havia comida a ser conservada.
Um parêntese: durante a pandemia do novo coronavírus, o isolamento social acabou obrigando jornalistas a reduzirem o trabalho de observação in loco. Necessária em termos sanitários, tal restrição priva o jornalista e o leitor da observação da cena dos acontecimentos, ferramenta de apuração preciosa e muito rica. A impossibilidade de observação pode ser suprida, em parte, com o recurso de entrevistas e relatos, mas nada substitui integralmente o trabalho de observação in loco. Lugar de repórter é na rua!
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ENTREVISTAS
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As entrevistas são um recurso precioso na apuração de uma reportagem. Os relatos dos entrevistados permitem compor um painel variado de vozes, tornando a reportagem mais plural, polifônica e polissêmica, no dizer de Medina (1978) – múltipla de vozes e sentidos e, portanto, mais democrática.
A partir de entrevistas é possível reconstituir um acontecimento que o repórter não presenciou e, com isso, narrá-lo de modo a cativar o leitor.
Em relação às entrevistas, vale lembrar: pessoas, ao atuarem como fontes jornalísticas, costumam ter interesses. Ao transmitir informações a um jornalista, expressam sua visão de determinado acontecimento.
Por isso, durante a apuração, é fundamental que o repórter se respalde no método jornalístico e cruze as fontes – o que no jargão jornalístico significa cotejar, comparar as informações fornecidas por fontes distintas.
ATENÇÃO
Lage (2001) nos lembra da lei das três fontes: se três pessoas que não se conhecem nem trocaram impressões contam a mesma versão de um fato que presenciaram, essa versão pode ser tomada por verdadeira. Nem sempre será possível, em todas as coberturas, cruzar a informação com três fontes independentes entre si. Mas cabe ao repórter tentar.
DOCUMENTOS
Os documentos são outro passofundamental na apuração jornalística. Compreendem:
• Balanços
• Boletins publicados pelo serviço público
• Certidões
• Contratos
• Decisões judiciais
• Declarações de bens entregues por políticos aos tribunais eleitorais
• Diários Oficiais
• Escrituras
• Papéis de arquivos públicos
• Prestações de contas
• Processos
• Promissórias
• Registros de empresas em juntas comerciais
• Registros de ocorrência
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Funcionam como fontes primárias e permitem ao repórter obter, com provas irrefutáveis, informações oficiais a respeito de um fato. É claro que o repórter não está livre de, no decorrer da apuração, deparar-se com documentos falsificados e certidões fraudadas, mas as exceções confirmam a regra sobre a relevância de, sempre que possível, buscar fontes documentais.
Os dois casos que veremos a seguir exemplificam e enfatizam a importância dos documentos na apuração jornalística:
A CANDIDATURA DE FERNANDO COLLOR DE MELLO
Fonte: WikimediaFernando Collor de Mello
A jornalista Elvira Lobato (2005) relata sua estratégia em busca de provas documentais para embasar a reportagem sobre o uso de funcionários públicos na campanha do então candidato à presidência da República Fernando Collor de Mello. A prática configurava crime eleitoral.
Como repórter da Folha de S.Paulo, ela obteve a informação quase por acaso, quando um policial a confundiu com uma assessora da campanha e pediu que ela o indicasse para o trabalho. A partir daí, Lobato começou a investigação e decidiu, justamente pela necessidade de obter provas irrefutáveis, solicitar oficialmente a informação sobre a condição dos funcionários públicos.
Entrou com um requerimento junto à Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas requisitando, em nome da Folha, informação sobre a situação de determinado funcionário – o requerimento foi respondido e informou que o servidor estava no exercício de suas funções, recebendo normalmente seu salário. A mesma providência foi tomada pela jornalista junto à Secretaria Municipal de Educação, que lhe ofereceu o mesmo tipo de informação sobre outro funcionário público que recebia normalmente seu salário, mas trabalhava na campanha eleitoral.
Lobato obteve autorização para consultar a folha de pagamentos da secretaria, tirou cópias dos comprovantes de pagamento e, para tornar a prova oficial, autenticou as cópias em cartório. Outro documento usado por Lobato na investigação foram os boletins da Polícia Militar de Alagoas, mostrando que vários policiais estavam ativos, mas trabalhavam na campanha. A observação do dia a dia da campanha – para atestar que os funcionários públicos estavam trabalhando para o candidato – e o uso de documentos se somaram como ferramentas de apuração.
O JULGAMENTO DE JOSÉ RAINHA JÚNIOR
Fonte: Marcelo Camargo/Agência BrasilJosé Rainha Júnior
Outro caso emblemático foi o da reportagem “Contradições marcam julgamento de Rainha”, publicada na Folha de S.Paulo em 22 de junho de 1997, sobre o julgamento de José Rainha Júnior, então líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Acusado de homicídio em um crime ocorrido anos antes, Rainha foi condenado pelo tribunal do júri, em Pedro Canário, cidade do interior do Espírito Santo, o que foi relatado em uma primeira reportagem. Nessa primeira e mais rápida apuração, no entanto, já foi possível perceber que havia contradições entre as provas e os testemunhos.
A repórter pôde, após a primeira matéria, voltar à cidade e mergulhar na história do caso. Além de entrevistas com os jurados, o juiz e os moradores da cidade, um documento foi fundamental: o processo. A leitura atenta desse documento permitiu conhecer o caso a fundo. As testemunhas ouvidas descreviam Rainha de vários modos, em relatos que pouco ou nada coincidiam com sua aparência. Uma das pessoas que contava tê-lo visto no local do crime falava de um homem baixo e gordo – Rainha era longilíneo, alto e magro. A leitura do processo, documento fundamental do caso, permitiu afirmar que a prova testemunhal contra Rainha era fraca e que não havia relato preciso que indicasse a presença dele no local do crime.
A reportagem, escrita com base nesse conjunto de dados – documentos, observação e entrevistas –, teve grande repercussão e influenciou decisivamente para que, por decisão do Supremo Tribunal Federal, o segundo julgamento de José Rainha Júnior (ao qual ele teria direito automático, pois a pena era superior a 20 anos) fosse retirado de Pedro Canário e realizado na capital, Vitória. Nesse segundo julgamento, Rainha foi absolvido. A reportagem (ESCÓSSIA, 2007) foi selecionada pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) para publicação na coletânea 50 anos de crimes – Reportagens policiais que marcaram o jornalismo brasileiro, da Editora Record, em 2007.
DADOS E INDICADORES
Jornalistas, em geral, não gostam de números. Mas, transmutados em dados e indicadores sobre temas variados – violência, economia, saúde –, números são parte fundamental da apuração jornalística. Auxiliam o repórter a situar o acontecimento no contexto, a dimensionar sua magnitude, produzindo comparações e permitindo medir a evolução e o impacto. Ajudam o jornalista a dar informações mais precisas sobre determinado assunto.
Meyer (2007), pioneiro na ideia de um jornalismo de precisão, propunha empregar no exercício jornalístico métodos de investigação social e atribuía à precisão um dos pilares da credibilidade jornalística. O jornalismo de precisão desenvolveu o uso de ampla base de informações, transformando-se na semente para o que depois se chamou de RAC (Reportagem com Auxílio de Computador) e, atualmente, jornalismo de dados.
Tais dados podem ser buscados pelo jornalista das seguintes maneiras:
DIRETAMENTE EM FONTES OFICIAIS
DADOS COMPILADOS POR TERCEIROS
DIRETAMENTE EM FONTES OFICIAIS
O jornalista poderá realizar pesquisas, buscando informações de órgãos oficiais como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o Ministério da Saúde.
DADOS COMPILADOS POR TERCEIROS
Caso opte por institutos, organizações não governamentais e pesquisadores dedicados à análise desse tipo de estatística, é importante que o jornalista se certifique de onde foram retiradas as informações, bem como da expertise técnica e da sobriedade dessa fonte secundária. Duas dessas instituições que analisam dados a partir de fontes oficiais são o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas de Relações Raciais (Laeser).
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, organização não governamental, produz uma publicação anual com a evolução dos números de segurança e criminalidade no país a partir dos dados oficiais do Ministério da Saúde e das Secretarias de Segurança dos estados. O Laeser, ligado à UFRJ e à Universidade de Austin, Texas, produz relatórios sobre a desigualdade racial brasileira a partir de dados do IBGE e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Com base em dados primários, elaboram análises e comparações, mostram a evolução de fenômenos e oferecem aos jornalistas informações capazes de embasar excelentes reportagens. Assim como essas duas organizações, há muitas outras que funcionam como excelentes fontes.
Fonte: Mangostar / Shutterstock
LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO
A Constituição Federal brasileira, em dois de seus artigos, trata do acesso à informação. Dedicado aos direitos e às garantias fundamentais, o artigo 5º é explícito ao incluir entre eles, no inciso XXXVII, o acesso à informação:
TODOS TÊM DIREITO A RECEBER DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS INFORMAÇÕES DE SEU INTERESSE PARTICULAR, OU DE INTERESSE COLETIVO OU GERAL, QUE SERÃO PRESTADAS NO PRAZO DA LEI, SOB PENA DE RESPONSABILIDADE, RESSALVADAS AQUELAS CUJO SIGILO SEJA IMPRESCINDÍVEL À SEGURANÇA DA SOCIEDADE E DO ESTADO.
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
O artigo 37 da mesma Constituição Federal inclui a publicidade entre os princípios da administração, ou seja, o fornecimento de informações pelos

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