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LEGISLAÇÃO, ÉTICA E 
CONFORMIDADE 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Jailson de Souza Araújo
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Lei de introdução às normas do Direito brasileiro 
Esta etapa pretende apresentar a Lei de Introdução às normas do Direito 
Brasileiro, permitindo compreender alguns dos princípios e regras utilizados nos 
julgamentos promovidos pelo Poder Judiciário diante de casos concretos. Para 
tanto, analisaremos critérios contidos na Lei de Introdução às normas do Direito 
Brasileiro, base normativa que disciplina a aplicação de todas as leis brasileiras 
nos diversos ramos do Direito (Direito Civil, Direito Penal, Direito do Consumidor, 
dentre outros). 
Portanto, nesta etapa, abordaremos questões que demonstram pontos de 
contato entre o Direito e a Tecnologia da Informação e Comunicação – TIC, 
trazendo exemplos atuais que contextualizam e ilustram a presente abordagem. 
Serão demonstrados os critérios utilizados na Lei de Introdução para a adequada 
aplicação das fontes do Direito diante de situações reais levadas à apreciação 
do Poder Judiciário, inclusive em situações cotidianas dos cidadãos e das 
empresas, tais como a celebração de negócios e a realização de contratos de 
prestação de serviços e fornecimento de produtos. 
TEMA 1 – CONCEITO DE DIREITO 
É uma tarefa particularmente desafiadora conceituar o direito. Tal tarefa 
compete à Filosofia do Direito, cujas definições nos orientam no sentido de ser 
o Direito um conjunto de regras para regular a vida em sociedade, com o objetivo 
manter a paz social. Isso diz respeito a padrões de conduta e regras sobre 
questões socialmente relevantes, tais como a propriedade privada e as relações 
entre indivíduos. 
A partir do momento em que vivemos em sociedade, ficamos sujeitos a 
cumprir as regras que disciplinam a convivência social, para que ela seja 
harmoniosa, evitando conflitos e preservando a paz. Descumpridas as regras de 
conduta impostas, torna-se necessário, na defesa da paz social, a aplicação de 
uma sanção imposta pelo Estado, ou seja, a aplicação de uma punição, que, em 
situações mais graves, pode implicar até mesmo na suspensão do direito de ir e 
vir, com a imposição de pena privativa de liberdade (cumprimento de pena em 
regime fechado ou uso de tornozeleira eletrônica, por exemplo). 
 
 
3 
Segundo Gagliano e Pamplona Filho (2021), ao falar em direito, 
precisamos falar em alteridade, pois onde há Homem, há direito – expressão de 
origem latina “ubi homo, ibi jus”. Neste sentido, Gagliano e Pamplona Filho 
(2021, p. 14) lembram o exemplo da clássica obra literária de Daniel Defoe, 
“Robinson Crusoé”, o marinheiro que sobreviveu a um naufrágio e passou 28 
anos numa ilha remota, antes de ser resgatado 
Enquanto permaneceu sozinho na ilha, Robson Crusoé não precisou se 
preocupar com qualquer norma jurídica relativa à sua conduta ou à sua 
propriedade, pois suas ações não refletiam em quem quer que fosse, já que não 
havia uma “sociedade” na ilha. Todavia, ao encontrar o índio “Sexta-Feira”, surge 
a necessidade social de criar regras e padrões de conduta para preservar uma 
convivência pacífica e harmoniosa entre Robinson Crusoé e Sexta-feira. 
Gagliano (2021) conceitua o direito em duas categorias: 
• Direito objetivo: a regra imposta ao modo de agir do ser humano. Trata-
se, portanto, da norma de comportamento à qual a pessoa deve se 
submeter, sob pena de, não o fazendo, ser submetido à aplicação de uma 
sanção institucionalizada pelo Estado. Por exemplo: respeitar as normas 
de trânsito é um direito objetivo imposto ao indivíduo. 
• Direito subjetivo: a possibilidade ou faculdade individual de agir de 
acordo com o direito. Nela estão envolvidas as prerrogativas das quais 
um indivíduo é titular, obtendo certos efeitos jurídicos em virtude da norma 
estabelecida. Por exemplo, o direito subjetivo de propriedade de um 
imóvel assegura ao seu proprietário as prerrogativas de usar, vender, 
locar, dar em garantia, dentre outros direitos previstos na legislação civil. 
Para compreendermos adequadamente o Dreito, precisamos analisar as 
formas como surgem as normas jurídicas, tema que analisaremos a seguir. 
TEMA 2 – LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO 
O Decreto-Lei n. 4.647, de 4 de setembro de 1942, é conhecido como “Lei 
de Introdução às normas do Direito Brasileiro”, Lei de introdução ou 
simplesmente LINDB1. Trata-se de uma legislação criada com o objetivo de 
 
1 BRASIL. Decreto-Lei n. 4.647, de 4 de setembro de 1942. Lei de introdução às normas do 
Direito Brasileiro. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 9 set. 1942. 
 
 
4 
estabelecer princípios gerais para todas as leis e ramos do Direito, sendo a “lei 
das leis”. 
A Lei de Introdução aborda temáticas relativas a: 
• Vigência das leis; 
• Revogação de leis; 
• Conflito de leis no tempo; 
• Conflito de leis no espaço (município, estado e União); 
• Critérios de interpretação jurídica; 
• Critérios de integração entre as leis no ordenamento jurídico brasileiro. 
A Lei de Introdução traz conceitos estruturantes para a adequada 
interpretação e aplicação do Direito. Dentre eles, destacamos os seguintes 
artigos, dada sua relevância para o nosso estudo: 
Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a 
conhece. 
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
(...) 
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país 
em que se constituírem. 
Parágrafo 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e 
dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as 
peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do 
ato. 
Parágrafo 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída 
no lugar em que residir o proponente. 
O art. 3º é estruturante para adequada compreensão do Direito e da 
legislação, pois não se pode alegar ignorância para deixar de cumprir deveres 
legais. Este tema diz respeito a todo ordenamento jurídico, inclusive as leis que 
disciplinam as relações comerciais, pois de nada valeria a existência de leis se 
qualquer um pudesse justiçar seu descumprimento com base no 
desconhecimento das regras que regulamentam a sociedade. 
Tal possibilidade, inevitavelmente, traria uma grande insegurança jurídica 
para a sociedade, diante da possibilidade da não aplicabilidade da lei diante da 
mera alegação de seu desconhecimento. Na prática, correríamos um grande 
risco das leis se tornarem inócuas, pois seu cumprimento poderia ficar 
condicionado ao reconhecimento da parte sujeita à lei, de seu conhecimento 
prévio. 
 
 
5 
Para evitar tal situação, o art. 3º impõe o cumprimento da lei, 
independentemente de seu conhecimento prévio por parte do cidadão ou de 
pessoas jurídicas (empresas, associações, cooperativas, startups etc.). 
O art. 4º é fundamental para que o Direito sempre possa dar uma 
adequada solução para os conflitos de interesse que surgem na vida em 
sociedade, pois, ainda que não exista lei específica para lidar com determinado 
fato social ou econômico novo, certamente existem princípios aptos a viabilizar 
a adequada interpretação e aplicação do Direito. 
Um exemplo pertinente é o princípio da boa-fé, que corresponde a um 
padrão de conduta esperado em todas as relações contratuais, mesmo aquelas 
que, em virtude de inovação tecnológica, não estejam descritas em nenhuma 
legislação. Voltaremos a analisar o art. 4º da Lei de Introdução a seguir, no tópico 
3. 
Finalmente, o art. 9º é relevante para estabelecer a legislação aplicável 
nas hipóteses de comércio internacional, algo corriqueiro quando tratamos de 
contratos e comércio eletrônicos. 
TEMA 3 – FONTES DO DIREITO 
Adotando como base normativa a Lei de Introdução às normas do Direito 
Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942), o direitobrasileiro se origina a partir de fontes jurídicas formais e não formais. 
De acordo com Cintia Giacomelli, fontes formais correspondem aos 
elementos normativos por meio dos quais o Direito se manifesta formalmente 
para regular a vida em sociedade (2018, p. 128). O art. 4º da Lei de Introdução 
às normas do Direito Brasileiro descreve as fontes formais, correspondendo à 
lei, à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito (1942). 
Para Tartuce (2022), fontes formais são fontes independentes que 
derivam da própria lei, bastando por si para a existência ou manifestação do 
direito. Entretanto, é importante destacar que a lei constitui fonte formal direta ou 
imediata primária, enquanto a analogia, os costumes e os princípios gerais do 
direito constituem fontes formais diretas ou imediatas secundárias. 
A Lei de Introdução também prevê expressamente, em seu art. 4º, que 
“quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito”. Tal regra estabelece uma hierarquia 
entre as fontes formais do direito, sendo que, em primeiro lugar, ao julgar um 
 
 
6 
processo, o juiz deverá analisar e considerar a solução dada pela legislação 
aplicável ao caso concreto submetido à sua apreciação. Caso não haja uma lei 
aplicável ao caso levado à apreciação do Poder Judiciário, o juiz poderá utilizar, 
como fonte secundária, a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito. 
Portanto, a regra disposta no art. 4º da Lei de Introdução torna a lei a principal 
fonte do direito. 
No Brasil, há um sistema previsto na Constituição que determina a divisão 
dos Poderes da República em Executivo, Legislativo e Judiciário, separando as 
funções estatais, criando mecanismos de controle recíproco e de proteção do 
indivíduo contra eventuais abusos cometidos pelo Estado (Araújo, 2021). 
Considerando que cada Poder possui seus respectivos deveres e atribuições, 
compete ao Poder Legislativo, por meio dos representantes do povo eleitos 
democraticamente (vereadores, deputados estaduais, deputados distritais, 
deputados federais e senadores), a função típica de criar e editar leis com base 
nos direitos e garantias fundamentais (Araújo, 2021). 
É muito importante destacar que, no Direito brasileiro, há a vedação ao 
“non liquet”. Ou seja, nenhum juiz pode se negar a conhecer, analisar e julgar 
qualquer processo, sob a justificativa de inexistência de lei aplicável ao caso 
submetido a sua apreciação. Neste sentido, o artigo 140 do Código de Processo 
Civil (2015) estabelece: “Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação 
de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”. 
Isto significa que, na eventualidade de inexistência de legislação aplicável 
a um caso concreto, o juiz deverá julgar utilizando fontes formais secundárias 
(analogia, costumes ou princípios gerais do direito), ou ainda, fontes não formais 
(doutrina, jurisprudência ou equidade), tema que será tratado a seguir. Existindo 
legislação aplicável a um caso concreto, o juiz deverá mencioná-la na 
fundamentação jurídica da sua decisão. 
Observem, no acórdão2 abaixo, que envolveu um recurso interposto pela 
Microsoft em face de uma empresa que estaria utilizando software não 
licenciado: 
APELAÇÕES CÍVEIS – RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO 
INDENIZATÓRIA CUMULADA COM AÇÃO DE ABSTENÇÃO DE 
PRÁTICA DE ATO – UTILIZAÇÃO DE SOFTWARE À MINGUA DA 
RESPECTIVA LICENÇA (LEI Nº 9.609/98, ART. 9º) – PROVA 
PERICIAL CONCLUSIVA – VULNERAÇÃO AO DIREITO DE 
PROPRIEDADE INTELECTUAL – DANO MATERIAL 
 
2 Acórdão corresponde a decisão proferida por um órgão colegiado de um tribunal. 
 
 
7 
CONFIGURADO (ART. 102, LEI Nº 9.609/98) – DEVER DE 
INDENIZAR MANTIDO – QUANTUM MAJORADO – HONORÁRIOS 
RECURSAIS ARBITRADOS – RECURSO DE APELAÇÃO DA 
AUTORA PROVIDO. RECURSO DE APELAÇÃO DA RÉ 
DESPROVIDO. (destacamos) 
TJPR - 10ª C.Cível - 0074554-81.2016.8.16.0014 - Londrina - Rel.: 
DESEMBARGADOR DOMINGOS THADEU RIBEIRO DA FONSECA - 
J. 02.12.2019. 
O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná determinou que a referida 
empresa, demandada em juízo pela Microsoft, se abstivesse de utilizar os 
programas de computador indicados pela prova pericial produzida no processo, 
além de pagar à Microsoft uma indenização pelos danos materiais decorrentes 
da utilização indevida (sem licença) dos referidos softwares (2019). 
Percebam que o Desembargador Relator mencionou expressamente que 
houve violação à Lei de Software (Lei n. 9.609, de 19 de fevereiro de 1998) e a 
Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998), aplicando, 
inclusive, as sanções (penalidades) previstas naquelas legislações. Portanto, na 
fundamentação constante no acórdão, há menção expressa da legislação 
aplicável ao caso em tela, tendo sido utilizada para fundamentar o julgamento 
proferido pela 10º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. 
Voltaremos a analisar este acórdão em conteúdo posterior, ocasião em 
que abordaremos temas relacionados à propriedade intelectual e direito autoral, 
inclusive a Lei de Software. 
Em relação às fontes não formais, indiretas ou mediatas, para Tartuce 
(2022, p. 50), são aquelas que não constam expressamente na Lei de 
Introdução, sendo constituídas pela doutrina, pela jurisprudência e pela 
equidade. 
Doutrina é a interpretação da lei feita pelos estudiosos da matéria, 
sendo constituída pelos pareceres de autores jurídicos, pelos 
ensinamentos dos professores e mestres, pelas opiniões dos 
tratadistas, pelas dissertações e teses acadêmicas, apresentadas nas 
faculdades de Direito. Por esses trabalhos ou obras são demonstrados 
os defeitos e inconvenientes da lei em vigor, sendo também apontado 
o melhor caminho para emendar esses problemas e corrigi-los. 
A jurisprudência pode ser conceituada como a interpretação da lei 
elaborada pelos órgãos do Poder Judiciário. Sendo comum a aplicação 
da jurisprudência pela comunidade jurídica, deve ela ser considerada 
também parte dos costumes, caso das súmulas do Superior Tribunal 
de Justiça (STJ), do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal 
Superior do Trabalho (TST). 
A equidade pode ser conceituada como o uso do bom senso, a justiça 
do caso particular, mediante a adaptação razoável da lei ao caso 
concreto. (Tartuce, 2022, p. 50-52) 
 
 
8 
De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2021, p. 23), quando o jurista 
se depara com uma lacuna do direito, tal omissão deve ser suprida através de 
um processo de integração da norma, que se pode dar pela utilização, como 
meios complementares, da analogia, do costume, dos princípios gerais de direito 
e, finalmente, da equidade. 
Tabela 1 – Resumo esquemático 
Fontes Formais, Diretas ou 
Imediatas 
– Fonte Primária: Lei. 
– Fontes Secundárias (art. 4.º, LINDB): 
a) Analogia; 
b) Costumes; 
c) Princípios gerais do direito. 
Fontes não Formais, 
Indiretas ou Mediatas 
a) Doutrina; 
b) Jurisprudência; 
c) Equidade – diante do sistema de cláusulas gerais do 
Código Civil de 2002. 
Fonte: Tartuce, 2022. p. 81. 
TEMA 4 – CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DA LEI QUANTO À ORIGEM 
Neste tópico, pretendemos apresentar a Lei, enquanto principal fonte do 
direito brasileiro, demonstrando suas características e peculiaridades, que nos 
permitirão compreender alguns dos princípios e regras utilizados nos 
julgamentos promovidos pelo Poder Judiciário diante de casos concretos. 
Para Galiano e Pamplona Filho (2021), a lei é, por excelência, a mais 
importante fonte do direito no ordenamento positivo brasileiro. Nela se encontra 
toda a expectativa de segurança e estabilidade que se espera de um sistema 
judicial positivado, ou seja, baseado nas leis em vigor. 
Tartuce conceitua a lei como “a norma imposta pelo Estado, devendo ser 
obedecida, assumindo forma imperativa” (2021, p. 22). Segundo Tartuce (2021), 
nas sociedades contemporâneas, inclusive no Brasil, a lei é indiscutivelmentea 
mais importante fonte da ordem jurídica, tendo aplicação imediata. 
De acordo com o art. 5.º, inciso II, da Constituição: “ninguém será 
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (1988). 
A regra imposta dentre os direitos fundamentais previstos na Constituição 
Federal de 1988 corresponde justamente ao princípio da legalidade, que 
 
 
9 
estabelece a importância e a prioridade dada à lei no ordenamento jurídico 
brasileiro. 
Portanto, de acordo com Tartuce (2021), existindo uma lei aplicável a um 
caso concreto, esta deverá ser aplicada, em um processo jurídico conhecido 
subsunção, que corresponde a incidência imediata ou direta de uma norma 
jurídica. Para o autor, as leis possuem as seguintes características básicas 
(2021, p. 23): 
a) Generalidade: a norma jurídica dirige-se a todos os cidadãos, sem 
qualquer distinção, tendo eficácia erga omnes (vale para todos os 
indivíduos); 
b) Imperatividade: a norma jurídica é um imperativo, impondo deveres e 
condutas para os membros da coletividade; 
c) Permanência: a lei perdura até que seja revogada por outra ou perca a 
eficácia; 
d) Competência: a norma, para valer contra todos, deve emanar de 
autoridade competente, com o respeito ao processo de elaboração; 
e) Autorizante: o conceito contemporâneo de norma jurídica traz a ideia de 
um autorizamento (a norma autoriza ou não autoriza determinada 
conduta), estando superada a tese de que não há norma sem sanção 
(Hans Kelsen). 
Para Gagliano e Pamplona Filho, as leis também podem ser classificadas 
quanto à origem ou extensão territorial (2021, p. 18): 
a) Leis federais: criadas no âmbito da União, ordinariamente pelo 
Congresso Nacional (embora, por exceção, como as leis delegadas e as 
medidas provisórias, deva ser admitido o pronunciamento legislativo por 
outras esferas de Poder), aplicando-se a todo o país ou a parte dele 
(legislações federais de desenvolvimento regional). Ex.: Constituição 
Federal, Código Civil, Consolidação das Leis do Trabalho etc.); 
b) Leis estaduais: promulgadas pelas Assembleias Legislativas, 
destinando-se aos territórios estaduais ou a parte deles. Ex.: Constituição 
estadual, Lei de ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços) 
etc.; 
 
 
10 
c) Leis municipais: aprovadas pelas Câmaras Municipais, com 
aplicabilidade limitada ao território respectivo. Ex.: Lei Orgânica Municipal, 
Lei do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) etc. 
A Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, que instituiu o Código de 
Defesa do Consumidor, é um exemplo interessante de Lei Federal, pois sua 
aplicabilidade abrange, nos termos do art. 5º, inciso XXXII, da Constituição, a 
defesa do consumidor em território nacional, tanto nas contratações realizadas 
presencialmente (lojas, centros comerciais, supermercados etc.) quanto por 
comércio eletrônico (marketshare, redes sociais, aplicativos de comunicação, 
sites de varejo digital etc.), contanto que o fornecedor esteja sediado em território 
nacional. Voltaremos a abordar este tema em conteúdo posterior. 
Por sua vez, a Lei n. 13.914, de 29 de janeiro de 2018, instituiu a Política 
Estadual de Incentivo à Geração e Aproveitamento da Energia Solar no Estado 
da Bahia. A referida Política Estadual baiana tem por objetivo estimular, como 
forma de diminuir o consumo das diferentes fontes de energia, os investimentos 
e a implantação dos sistemas de energia solar ecologicamente corretos, 
englobando o desenvolvimento tecnológico e a produção de energia solar 
fotovoltaica e fototérmica para autoconsumo em empreendimentos particulares 
e públicos, residenciais, comunitários, comerciais e industriais, além de criar 
alternativas de emprego e renda (Brasil, 2018). Trata-se, portanto, de um 
exemplo de uma legislação estadual, cuja aplicação se dá exclusivamente no 
Estado da Bahia. 
Finalmente, a Lei n. 14.429, de 24 de fevereiro de 2022, criou o programa 
Municipal de Estímulo às Startups e ao Empreendedorismo Inovador, na cidade 
de Araraquara, no Estado de São Paulo. De acordo com o art. 2º, o Programa 
Municipal de Estímulo às Startups e ao Empreendedorismo Inovador tem por 
objetivos: 
I. o fomento e a geração de conhecimento, inovação, tecnologia e negócios; 
II. o estímulo à criação de ambientes de inovação e ao estabelecimento de 
negócios inovadores; 
III. a geração de desenvolvimento econômico e social em âmbito local e 
regional; 
IV. a valorização da inovação, da diversidade e da sustentabilidade no 
Município; 
 
 
11 
V. a valorização da humanização, do conhecimento, do desenvolvimento e 
da preservação do meio ambiente; 
VI. a atração e a retenção de talentos, visando à expansão da geração de 
conhecimento no Município. 
O programa municipal estabeleceu a possibilidade de concessão de 
auxílio financeiro aos seus beneficiários, modificando inclusive o procedimento 
de prestação de contas. 
TEMA 5 – VIGÊNCIA DAS LEIS NO TEMPO E HIERARQUIA DAS LEIS 
Quanto à vigência das leis no tempo, as leis podem ser classificadas como 
permanentes ou temporárias (Gagliano; Pamplona Filho, 2021, p. 19): 
a) Permanentes: leis estabelecidas sem prazo de vigência predeterminado. 
Trata-se da regra geral das leis brasileiras. 
b) Temporárias: leis estabelecidas com prazo limitado de vigência. É 
importante frisar que os efeitos das normas temporárias serão 
permanentes para as situações jurídicas consolidadas durante a sua 
aplicabilidade, salvo disposição legal posterior. 
Um exemplo interessante relacionado a leis temporárias é a Lei n. 14.034, 
de 5 de agosto de 2020, que dispõe sobre medidas emergenciais para a aviação 
civil brasileira em razão da pandemia da Covid-19 (Brasil, 2020). A referida Lei 
estabeleceu regras para o cancelamento e a remarcação de passagens aéreas 
até o fim da atual pandemia de Covid-19 e durante eventuais novas emergências 
de saúde pública de importância internacional. 
Dentre as regras, a Lei n. 14.034/2020 estabeleceu, em seu art. 3º, a 
possibilidade do reembolso do valor da passagem aérea ao consumidor por 
cancelamento de voo, no período compreendido entre 19 de março de 2020 e 
31 de dezembro de 2021, que será realizado pelo transportador no prazo de 12 
(doze) meses, contado da data do voo cancelado. Em substituição ao reembolso 
na forma prevista no art. 3º, poderá ser concedida ao consumidor a opção de 
receber crédito de valor maior ou igual ao da passagem aérea, a ser utilizado em 
nome próprio ou de terceiro, para a aquisição de produtos ou serviços oferecidos 
pelo transportador, em até 18 (dezoito) meses, contados de seu recebimento. 
Finalmente, quanto à hierarquia dentro do sistema nacional (Brasil, 2020): 
 
 
12 
a) Constituição: fundamento do sistema positivo, é a mais importante 
norma em um ordenamento jurídico nacional. O princípio da supremacia 
da Constituição sujeita todas as normas da ordem jurídica a uma 
conformidade tanto formal quanto material com o texto constitucional. A 
conformidade formal exige que o ato normativo tenha sido produzido de 
acordo com as regras constitucionais que disciplinam a sua edição. A 
compatibilidade material impõe que não haja contraposição entre o que a 
constituição ordena ou proíbe e o que dispõem os atos normativos que 
integram a ordem jurídica. 
b) Leis infraconstitucionais: tecnicamente, não há hierarquia entre as leis 
infraconstitucionais, mas sim apenas peculiaridades quanto à matéria 
regulável, o órgão competente para sua edição e o quórum necessário. 
c) Decretos regulamentares: atos do Poder Executivo, com a finalidade de 
prover situações previstas na lei em sentido técnico, para explicitá-la e 
dar-lhe execução; existem, ainda, os decretos legislativos, que veiculam, 
em regra, as deliberações do Congresso Nacional, e os decretos 
judiciários. 
d) Normas internas: têm por finalidade disciplinar situações específicas, 
notadamente na Administração Pública. Ex.: estatutos,regimentos 
internos, instruções normativas etc. 
Para exemplificar o conceito de decreto regulamentar, podemos citar o 
Decreto n. 10.086/2022, que regulamenta, no âmbito do Estado do Paraná, a 
nova Lei de Licitações e Contratos (Lei n. 14.133/21). Trata-se da iniciativa do 
Estado do Paraná para regulamentar o novo marco legal das contratações 
públicas no Brasil, criando regras e procedimentos para licitações de bens e 
serviços e contratações públicas centradas na inovação e no desenvolvimento 
sustentável (art. 14), estabelecendo, inclusive, regras específicas para 
contratação de soluções em tecnologia da informação e comunicação (art. 646 
e seguintes). 
Para ilustrar o conceito de normas internas, podemos mencionar a 
Resolução n. 17, de 1989, da Câmara dos Deputados, que estabelece critérios 
e diretrizes para o funcionamento da Câmara dos Deputados, para o adequado 
cumprimento de sua função legislativa federal, conforme previsto no art. 44, 45 
e 61 da Constituição de 1988. 
 
 
13 
Neste Regimento Interno, são previstas as normas para as sessões 
legislativas, o funcionamento dos órgãos da Câmara, as votações de projetos de 
lei, o Conselho de ética e decoro parlamentar, a corregedoria parlamentar, as 
comissões da Câmara (permanentes e temporárias), a ordem dos trabalhos e 
respectivos prazos, as sessões, a análise dos projetos de leis, dentre outros 
temas relevantes ao regular funcionamento da Câmara dos Deputados. 
FINALIZANDO 
Nesta etapa, analisamos o conceito de Direito, suas fontes, e abordamos 
elementos essenciais da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, 
notadamente relacionados a características e classificação da lei quanto à 
origem e à vigência das leis no tempo e hierarquia das leis. 
O estudo destes temas são importantes para adequada interpretação do 
Direito e da Legislação aplicável ao contexto da Tecnologia da Informação e 
Comunicação, inclusive para a adequada compreensão das questões que 
relacionam o Direito com a ética e com normas relativas à conformidade, no 
Brasil, tais como as leis que disciplinam tratamento de dados pessoais, 
responsabilidades de provedores de conexão e de aplicações de internet e 
proteção jurídica do consumidor de serviços digitais. 
Neste sentido, também destacamos que as temáticas relativas à 
privacidade, à segurança digital, à proteção de dados, aos crimes virtuais, dentre 
outros temas juridicamente relevantes, sob a perspectiva do incentivo ao 
desenvolvimento tecnológico e da proteção do cidadão sob o ponto de vida social 
e econômico, temas regulamentados no Brasil por meio de legislações 
específicas, dependem de uma adequada compreensão da legislação, a partir 
dos conceitos estruturantes ofertados pela Lei de Introdução às normas do 
Direito Brasileiro. 
Esperamos que os conhecimentos apresentados nesta etapa sejam úteis 
para auxiliá-lo(a) na compreensão dos temas das próximas etapas, inclusive na 
ocasião em que serão analisadas a Lei de Software e a Lei de Direitos Autorais. 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
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Curitiba: InterSaberes, 2021. 
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Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Diário Oficial da União, Brasília, 
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legislativa/legislacao/regimento-interno-da-camara-dos-deputados/arquivos-
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso 
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15 
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TARTUCE, F. Direito civil: lei de introdução e parte geral. 18. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2022. 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEGISLAÇÃO, ÉTICA E 
CONFORMIDADE 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Jailson de Souza Araújo 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Propriedade Intelectual e Direito Autoral 
Esta etapa pretende apresentar temas relacionados à propriedade 
intelectual e ao direito autoral, notadamente, a Lei Federal n. 9.609, de 19 de 
fevereiro de 1998, que dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de 
programa de computador e sua comercialização no Brasil, também conhecida 
como “Lei de Software”, e a Lei Federal n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, 
referente aos direitos autorais. 
O estudo das referidas leis permitirá compreender alguns dos princípios e 
regras inerentes à propriedade intelectual e ao direito autoral dos 
desenvolvedores de software e aplicações de internet, utilizados, inclusive, em 
processos judiciais. 
Para tanto, analisaremos o direito do autor sob uma perspectiva focada 
na utilização, no contrato de licença de uso, e nas consequências jurídicas da 
“pirataria” de software, inclusive o manejo de ações judiciais indenizatórias 
decorrente de pirataria de software, trazendo exemplos atuais que 
contextualizam e ilustram a presente abordagem. 
TEMA 1 – PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS DO AUTOR 
Inicialmente, é importante esclarecer a distinção entre propriedade 
intelectual e direito autoral. De acordo com Otávio Afonso (2009, p. 11), o termo 
propriedade intelectual é o mais abrangentee engloba matérias relacionadas 
tanto com a propriedade industrial, como marcas e patentes, quanto àquelas 
relacionadas com a proteção aos cultivares. 
Por sua vez, o direito autoral está previsto na Lei n. 9.610, de 19 de 
fevereiro de 1998 (Lei de Direitos Autorais), que se refere aos direitos de autor e 
aos direitos que lhes são conexos – aqueles direitos inerentes aos artistas, 
intérpretes ou executantes (atores, cantores, músicos executantes etc.), aos 
produtores de fonogramas e aos organismos de radiodifusão. 
Portanto, para Afonso (2009, p. 11), quando a expressão é usada no 
plural, “direitos autorais”, deve-se pressupor que esteja sendo feita a referência 
aos direitos de autor propriamente ditos e aos direitos conexos aos de autor. 
 
 
3 
Para Carlos Alberto Bittar (2019, p. 25), o direito do autor, também 
chamado de Direito Autoral, pode ser conceituado como o ramo do direito 
responsável por regular as relações jurídicas, advindas da criação e da utilização 
econômica de obras intelectuais estéticas e compreendidas na literatura, nas 
artes e nas ciências. 
A proteção dos direitos do autor está prevista na Lei de Direitos Autorais, 
que regulamentou os direitos autorais previstos, inclusive, na Constituição 
Federal de 1988, entre os Direitos e Garantias Fundamentais, no art. 5º XXVII e 
XXVIII: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
[...] 
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, 
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros 
pelo tempo que a lei fixar; 
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: 
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à 
reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades 
desportivas; 
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que 
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às 
respectivas representações sindicais e associativas; 
Portanto, os direitos do autor possuem previsão constitucional, o que 
demonstra a preocupação do legislador em proteger o autor contra o uso 
indevido ou não autorizado de suas obras. 
Segundo Otávio Afonso (2009, p. 10), o direito de autor é o direito que o 
criador de obra intelectual tem de receber os frutos resultantes da reprodução, 
da execução ou da representação de suas criações. 
Portanto, para Otávio Afonso (2009, p. 10), o direito de autor se refere às 
leis que visam garantir ao autor um reconhecimento moral e a devida 
recompensa financeira em troca da utilização da obra que ele criou. É por isso 
que, de acordo com os incisos XXVII e XXVIII do art. 5º da Constituição, 
nenhuma pessoa pode utilizar, publicar ou reproduzir uma obra intelectual sem 
ter o consentimento do autor. 
De acordo com Carlos Alberto Bittar (2019), as relações regidas pelo 
direito autoral surgem com a criação da obra, nascendo do próprio ato criador, 
direitos relacionados a um aspecto pessoal (como os direitos de paternidade, de 
nominação, de integridade da obra) e direitos inerentes à exposição da obra ao 
 
 
4 
público, como os direitos patrimoniais, como os direitos de representação e de 
reprodução da obra. 
Para Bittar (2019), as obras protegidas são as destinadas à sensibilização 
ou à transmissão de conhecimentos, como as obras de caráter literário (poema, 
romance, conto), nas artes (pintura, escultura, projeto de arquitetura, filme 
cinematográfico, fotografia) ou nas ciências (relato, tese, descrição de pesquisa, 
demonstração escrita, bula medicinal). 
Em caso de utilização, publicação ou reprodução em desrespeito aos 
direitos constitucionalmente assegurados ao autor, tal violação poderá ensejar 
sanções inclusive de natureza criminal, eis que o Código Penal Brasileiro 
estabelece que um capítulo específico para os crimes contra a propriedade 
intelectual, conforme prevê o art. 184 do Código Penal (Decreto-Lei n. 2.848, de 
7 de dezembro de 1940): 
Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. 
§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito 
de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra 
intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização 
expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, 
conforme o caso, ou de quem os represente: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto 
ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, 
adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual 
ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito 
de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de 
fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou 
fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou 
de quem os represente. 
§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, 
fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao 
usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um 
tempo e lugar previamente determinados por quem formula a 
demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização 
expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou 
executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de 
exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, 
em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 
1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só 
exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou 
indireto. 
Voltaremos a analisar esse assunto nos tópicos 4 e 5. 
O titular do direito autoral pode ser pessoa física ou jurídica, enquanto o 
autor de obra literária, artística ou científica somente pode ser pessoa física, nos 
termos do art. 11 da Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610/1998): 
 
 
5 
Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou 
científica. 
Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às 
pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei. 
Art. 12. Para se identificar como autor, poderá o criador da obra 
literária, artística ou científica usar de seu nome civil, completo ou 
abreviado até por suas iniciais, de pseudônimo ou qualquer outro sinal 
convencional. 
Cinthia Lousada (2018) alerta que a titularidade de direito autoral pode ser 
tanto da pessoa física quanto da jurídica, eis que o direito moral do autor pode 
ser transferido mediante contrato de licença, concessão ou cessão de direitos, 
nos termos dos arts. 49 a 52 da Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610/1998). 
Patrícia Peck (2022, p. 60) sustenta que o direito autoral possui dois 
aspectos distintos: um patrimonial, voltado à valorização do trabalho de inovação 
e sua remuneração adequada, e outro moral, que representa a proteção à 
integridade da obra. 
Para Peck (2022), o avanço tecnológico facilitou a modificação de obras. 
Entretanto, há softwares que permitem a criação de uma chave de proteção da 
obra original, assim como impressões digitais que identificam uma obra 
autêntica, ou seja, não alterada. 
Segundo Patrícia Peck (2021, p. 61), o direito autoral surgiu para proteger 
a inovação, permitir a remuneração do criador, dando retorno em relação ao 
investimento feito em sua criação, pois não proteger o direito autoral poderia 
desestimular a criação, eis que copiar seria mais fácil do que criar. 
Para Otávio Afonso (2009,p. 11), o respeito ao direito de autor é 
fundamental para estimular e favorecer a atividade criadora humana, permitir a 
difusão de ideias e facilitar o acesso do público em geral às obras intelectuais. 
Surge, de acordo com Afonso, o primeiro conflito de interesses na área 
autoral, entre a necessidade de harmonizar a necessidade da sociedade em ter 
acesso ao conhecimento e os direitos do criador de obras intelectuais (2009). 
Afonso defende que o ponto ideal de relacionamento e equilíbrio entre o 
autor, o editor/produtor e os usuários de obras intelectuais deve ser buscado por 
meio da norma jurídica que regula os direitos autorais, sempre levando em conta 
o estágio de desenvolvimento econômico, social e cultural do país. 
Dentre as mais diversas obras intelectuais passíveis de proteção jurídica, 
sob a perspectiva dos direitos do autor, nosso estudo demanda uma análise 
específica relacionada à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), razão 
pela qual, no próximo tópico, abordaremos a Lei n. 9.609, de 19 de fevereiro de 
 
 
6 
1998, que dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de 
computador e sua comercialização no Brasil, legislação mais conhecida como 
“Lei de Software”. 
TEMA 2 – LEI DE SOFTWARE (LEI N. 9.609/1998) 
Para Giacomelli (2018, p. 41), o conceito de software pode ser associado 
a aplicativos, programas de computador destinados ao atendimento de alguma 
necessidade de mercado, presentes em celulares, televisores, relógios, tablets. 
Para a autora, a partir do momento em que o consumidor possui liberdade 
de escolha para utilizar o software que desejar, independentemente da 
configuração original de seu hardware, surge a necessidade de proteger 
juridicamente tais programas computacionais. 
No Brasil, o tema atualmente está regulamentado pela Lei de Software, 
que traduz software como “programa de computador” e o conceitua em seu art. 
1º (Brasil, 1996): 
Art. 1º Programa de computador é a expressão de um conjunto 
organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida 
em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em 
máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, 
instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital 
ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados. 
Para Cinthia Louzada Ferreira Giacomelli (2018, p. 41), a proteção dos 
direitos autorais e patenteáveis de software é um tema ainda em construção na 
doutrina jurídica. 
De acordo com Otávio Afonso (2009, p. 13), a lei protege os programas 
de computador que, apesar de possuírem uma legislação específica (Lei de 
Software), estão expressamente indicados no art. 7º, XII da Lei n. 9.610/1998 
(Lei de Direito Autoral). 
Ainda que a Lei n. 9.609/1998 (Lei de Software) tenha dado passos 
importantes para a sua consolidação como um ramo do direito autoral, há a 
possibilidade de registro de alguns elementos dessa figura como patente, 
segundo as próprias orientações do Instituto Nacional da Propriedade Industrial 
(Inpi). 
De acordo com o Inpi (2022b), apesar de não ser obrigatório por lei, o 
registro de programa de computador é fundamental para comprovar a autoria de 
seu desenvolvimento perante o Poder Judiciário, podendo ser útil em disputas 
 
 
7 
judiciais envolvendo concorrência desleal, uso de cópias não autorizadas, 
pirataria etc., garantindo maior segurança jurídica ao seu detentor para proteger 
o seu ativo de negócio. 
De acordo com Newton Silveira (2018), o registro, ainda que facultativo, é 
sigiloso e vincula os dados do software a uma determinada data, criando 
presunção de titularidade. 
Isso significa que o registro proporciona ao autor do software uma prova 
robusta de sua autoria, inclusive em eventuais disputas judiciais envolvendo a 
autoria de software e a proteção dos direitos dos inerentes à sua exploração 
econômica. 
Segundo o Inpi, a Lei de Direito Autoral e subsidiariamente a Lei de 
Software, conferem proteção ao programa de computador em si, ou seja, à 
expressão literal do software, representado em seu código-fonte. 
O registro de programa de computador junto ao Inpi garante sua 
propriedade e a segurança jurídica necessária para proteger o desenvolvedor, 
por exemplo, no caso de eventual processo judicial sobre a autoria ou titularidade 
do software, especialmente quando este for pouco conhecido. 
O Inpi (2022a) recomenda que o programa de computador esteja 
suficientemente finalizado para seu pedido de registro ser depositado, pois, 
dessa forma, será garantida a máxima extensão possível para a proteção do seu 
código-fonte. E conforme novas versões desse mesmo software forem sendo 
desenvolvidas, estas também poderão ser registradas. 
Não há limitação para a quantidade de registros depositados sobre um 
mesmo software no Inpi (2022b). 
Giacomelli orienta que o pedido pode ser apresentado ao Inpi por meio de 
um formulário eletrônico de registro de programa de computador (e-RPC) ou e-
Patentes (2018). 
Orientações detalhadas para o procedimento podem ser obtidas no portal 
do Inpi1, que fornece tutoriais detalhados, com orientações específicas para 
preparar a documentação necessária, realizar os devidos pagamentos e 
proteger o arquivo que contém o código-fonte, por meio de criptografia, e utilizar 
um algoritmo adequado para transformá-lo em um resumo digital hash, que será 
inserido no formulário eletrônico do pedido de registro do software junto ao Inpi. 
 
1 INPI. Guia Básico de Programa de Computador. Disponível em: <https://www.gov.br/inpi/pt-
br/servicos/programas-de-computador/guia-basico>. Acesso em: 26 ago. 2022. 
https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/programas-de-computador/guia-basico
https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/programas-de-computador/guia-basico
 
 
8 
Concluído o registro do software, ele será válido por 50 anos a partir da 
sua criação ou de 1º de janeiro do ano seguinte à sua publicação, de acordo com 
o art. 2º, parágrafo 2º, da Lei de Software, que assegura ao autor: 
Art. 2º O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de 
computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos 
autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei. 
§ 1º Não se aplicam ao programa de computador as disposições 
relativas aos direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do 
autor de reivindicar a paternidade do programa de computador e o 
direito do autor de opor-se a alterações não-autorizadas, quando estas 
impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do programa 
de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação. 
§ 2º Fica assegurada a tutela dos direitos relativos a programa de 
computador pelo prazo de cinquenta anos, contados a partir de 1º de 
janeiro do ano subsequente ao da sua publicação ou, na ausência 
desta, da sua criação. 
O registro tem validade em 176 países signatários da Convenção de 
Berna de 1886, especialmente no Brasil, signatário da Convenção conforme o 
Decreto n. 75.699, de 6 de maio de 1975, tendo a Convenção entrado em vigor 
em território nacional em 20 de abril de 1975. 
Figura 1 – Fases do processo de registro de marca 
 
Fonte: E-MARCAS, 2022. Registro de Marca – Fases do Processo. 
Registrado o software, sua utilização demandará autorização prévia e 
expressa do autor da obra. Caso seja realizado uso não autorizado, será 
caracterizada a violação dos direitos do autor, infração prevista na Lei de 
Software: 
 
 
9 
Art. 12. Violar direitos de autor de programa de computador: 
Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa. 
§ 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de 
programa de computador, no todo ou em parte, para fins de comércio, 
sem autorização expressa do autor ou de quem o represente: 
Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa. 
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõeà venda, introduz no País, adquire, oculta ou tem em depósito, para 
fins de comércio, original ou cópia de programa de computador, 
produzido com violação de direito autoral. 
[...] 
Voltaremos a abordar esse assunto adiante, no tópico 5, ocasião em que 
falaremos sobre a responsabilidade civil e as ações indenizatórias decorrentes 
de pirataria de software. 
TEMA 3 – CONTRATO DE LICENÇA DE USO 
A Lei de Software (9.609/1998) disciplina, entre os arts. 9º e 11, os 
contratos de licença de uso, de comercialização e de transferência de tecnologia: 
Art. 9º O uso de programa de computador no País será objeto de 
contrato de licença. 
Parágrafo único. Na hipótese de eventual inexistência do contrato 
referido no caput deste artigo, o documento fiscal relativo à aquisição 
ou licenciamento de cópia servirá para comprovação da regularidade 
do seu uso. 
Art. 10. Os atos e contratos de licença de direitos de comercialização 
referentes a programas de computador de origem externa deverão 
fixar, quanto aos tributos e encargos exigíveis, a responsabilidade 
pelos respectivos pagamentos e estabelecerão a remuneração do 
titular dos direitos de programa de computador residente ou domiciliado 
no exterior. 
§ 1º Serão nulas as cláusulas que: 
I - limitem a produção, a distribuição ou a comercialização, em violação 
às disposições normativas em vigor; 
II - eximam qualquer dos contratantes das responsabilidades por 
eventuais ações de terceiros, decorrentes de vícios, defeitos ou 
violação de direitos de autor. 
§ 2º O remetente do correspondente valor em moeda estrangeira, em 
pagamento da remuneração de que se trata, conservará em seu poder, 
pelo prazo de cinco anos, todos os documentos necessários à 
comprovação da licitude das remessas e da sua conformidade ao caput 
deste artigo. 
Art. 11. Nos casos de transferência de tecnologia de programa de 
computador, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial fará o 
registro dos respectivos contratos, para que produzam efeitos em 
relação a terceiros. 
Parágrafo único. Para o registro de que trata este artigo, é obrigatória 
a entrega, por parte do fornecedor ao receptor de tecnologia, da 
documentação completa, em especial do código-fonte comentado, 
memorial descritivo, especificações funcionais internas, diagramas, 
fluxogramas e outros dados técnicos necessários à absorção da 
tecnologia. 
Newton Silveira (2018) alerta que, conforme o art. 11 da Lei de Software, 
os contratos de transferência de tecnologia de programa de computador devem 
 
 
10 
obrigatoriamente ser registrados perante o Inpi, com entrega obrigatória do 
código-fonte detalhado ao receptor. 
Aqui nos referimos ao chamado “software proprietário”, ou seja, aquele 
devidamente protegido e registrado perante o Inpi, que, segundo Patrícia Peck 
(2022), não concede ao usuário acesso ao código-fonte, não permite cópia, 
distribuição ou alteração, e seu uso se dá por licença de uso, existindo 
pagamento de contraprestação. 
Segundo Peck (2022), o uso de um programa de computador depende de 
autorização prévia e expressa do titular do direito. No Brasil, tal autorização é 
concedida mediante contrato para regulamentar o uso do programa, que 
corresponde à concessão de licença de uso. 
Na concessão da licença de uso, a finalidade do uso está expressa no 
documento. A licença é uma autorização específica para determinada 
modalidade de uso, permitindo apenas a forma de utilização constante no 
documento. 
Para Peck (2022, p. 74), em virtude da comercialização e distribuição 
maciça de softwares, seria impossível celebrar um contrato com cada usuário. 
Nesse caso, o titular concede ao usuário um “contrato” de licença, autorizando o 
uso do software, mediante a aceitação do usuário aos seus termos de uso, que 
resumidamente, informam: 
• Breve descrição da empresa titular, do software, seu funcionamento 
e finalidades; 
• Condutas esperadas dos usuários; 
• Isenção de responsabilidade do titular pelos atos praticados por 
usuários no software; 
• Capacidade do titular de suspender o acesso de usuários que não 
cumpram com os Termos de Uso; 
• Isenção de responsabilidade do titular no caso de indisponibilidade 
do software decorrente de casos fortuitos ou de força maior, bem 
como danos ou prejuízos causados no equipamento dos usuários por 
ações de terceiros, softwares maliciosos ou uso indevido do software; 
• Ferramentas de comunicação que o titular poderá utilizar para se 
comunicar com o usuário e vice-versa; 
• Obrigações do titular, tais como manter o ambiente do software 
confiável, preservar sua funcionalidade, garantir velocidade e 
presteza no atendimento aos usuários, dentre outros; 
• Aviso de que o software poderá sofrer manutenções preventivas ou 
emer-genciais, acarretando eventual indisponibilidade. Tal 
indisponibilidade não servirá de motivo justo para indenizações ou 
ressarcimentos de qualquer natureza aos usuários; 
• Obrigações dos usuários, tais como utilizar o software para a 
finalidade que foi concebido, fornecer dados e informações com 
compromisso de veracidade e autenticidade, arcar com as 
obrigações de indenizar na incidência de danos ao titular ou a 
terceiros, dentre outros; 
 
 
11 
• Aviso de que a propriedade intelectual do software (incluindo marcas, 
nomes comerciais e direitos autorais) estão devidamente registrados 
e pertencem ao titular, não estando o usuário autorizado a utilizá-los 
sem o seu prévio consentimento, tampouco realizar engenharia 
reversa ou tentar quebrar a proteção do código-fonte; 
• Aviso de que o titular poderá alterar, de forma unilateral e sem aviso 
prévio, os Termos de Uso e a Política de Privacidade; 
• Proibição do usuário de acessar áreas restritas do software, tais 
como áreas de administrador ou de programação, ou a utilização de 
softwares que realizem essas ações; 
• Informar que aos Termos de Uso e à Política de Privacidade aplica-
se a lei brasileira, a interpretação é no idioma português, além de 
apontar a Comarca de escolha para dirimir eventuais conflitos; 
• Informar o número de registro público do documento que é uma 
melhor prática para proteção do fornecedor. 
Apesar desse fato, Peck (2022) esclarece que a licença autoriza o uso do 
software, pois ela representa uma manifestação de vontade, e por meio da 
aceitação do termo de uso surge o contrato de licença de uso. 
No contexto do contrato de licença de uso é importante mencionar a 
existência do “software livre”, que, segundo Peck (2022, p. 73), dá ao usuário a 
liberdade para executar, copiar, distribuir, estudar, modificar e aperfeiçoar o 
programa, mais especificamente alusivo a quatro tipos de liberdade para seus 
usuários: 
a) Executar o programa, para qualquer propósito; 
b) Estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas 
necessidades (o acesso ao código-fonte é um pré-requisito para 
esta liberdade); 
c) Redistribuir cópias de modo que você possa ajudar o seu próximo; 
d) Aperfeiçoar o programa e liberar os seus aperfeiçoamentos, de 
modo que toda a comunidade se beneficie (o acesso ao código-
fonte é um pré-requisito para esta liberdade). 
Para Patrícia Peck (2022), para um programa ser considerado software 
livre, os usuários devem ter todas as liberdades mencionadas, podendo 
redistribuir livremente cópias, com ou sem modificações, gratuitamente ou 
cobrando pela distribuição, para qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem ter 
que pedir ou pagar ao autor. 
Otávio Afonso (2009, p. 85) alerta que não se pode confundir software 
livre com software grátis, pois a liberdade associada ao software livre de copiar, 
modificar e redistribuir, independe de gratuidade. Há programas que podem ser 
obtidos gratuitamente, mas seu autor não autoriza que ele seja modificado ou 
redistribuído. 
 
 
 
12 
TEMA 4 – PIRATARIA DE SOFTWARE 
Pirataria, no contexto do nosso estudo, é uma expressão popularmente 
conhecida que sugere a prática de condutas que caracterizam a violaçãode 
direitos autorais, notadamente o plágio e a contrafação. 
Tais práticas envolvem a utilização não autorizada, não licenciada de 
software ou em desacordo com os termos de uso da licença do software, nos 
termos do art. 9 da Lei de Software, visto no tópico 3. 
O Decreto n. 9.875, de 27 de junho de 2019, dispõe sobre o Conselho 
Nacional de Combate à Pirataria e aos Delitos contra a Propriedade Intelectual, 
tendo sido criado para estabelecer diretrizes para a formulação e a proposição 
de plano nacional de combate à pirataria, ao contrabando, à sonegação fiscal 
delas decorrentes e aos delitos contra a propriedade intelectual. 
O referido Decreto dá um significado jurídico à expressão “pirataria”, na 
medida em que a classifica, no parágrafo único do art. 2º, como a violação aos 
direitos autorais de que tratam a Lei de Software e a Lei de Direitos Autorais. 
De acordo com Otávio Afonso (2009), o plágio e a contrafação são as 
formas mais comuns de violação de direitos autorais. 
Para Afonso (2009), o plágio consiste em apresentar como sua a obra 
intelectual produzida por outra pessoa, podendo ser total ou parcial, e a forma 
em que se apresenta coincide com a obra plagiada, deixando de referenciar 
adequadamente a fonte de onde se reproduziu. 
Afonso defende que no plágio, mais que obter benefícios econômicos, o 
plagiador pretende prioritariamente atingir a personalidade do autor, na medida 
em que o plagiador pretende ser reconhecido como o legítimo criador da obra 
intelectual, lesando em segundo plano a utilização econômica da obra. 
Por sua vez, o art. 5º VII da Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610/1998), 
define a contrafação como a reprodução não autorizada. 
Otávio Afonso (2009) sustenta que a contrafação equivale a reproduzir 
uma obra, sem autorização, independentemente do meio utilizado. Nesse caso, 
ela atenta contra a individualidade da obra alheia, visando prioritariamente o 
contrafator obter ilicitamente vantagem econômica, sem pretender ser 
reconhecido como autor da obra contrafeita. 
 
 
13 
A legislação determina que são dois os meios de reparação, que o autor 
dispõe para garantir a defesa de seus direitos, no caso de violação autoral: as 
sanções civis e as sanções penais. 
Nessa oportunidade, retornamos à análise do acórdão2 apresentado na 
em etapa anterior, que envolveu a ação indenizatória aforada pela Microsoft em 
face de uma empresa que estaria utilizando software de sua titularidade sem a 
respectiva licença: 
APELAÇÕES CÍVEIS – RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO 
INDENIZATÓRIA CUMULADA COM AÇÃO DE ABSTENÇÃO DE 
PRÁTICA DE ATO – UTILIZAÇÃO DE SOFTWARE À MINGUA DA 
RESPECTIVA LICENÇA (LEI Nº 9.609/98, ART. 9º) – PROVA 
PERICIAL CONCLUSIVA – VULNERAÇÃO AO DIREITO DE 
PROPRIEDADE INTELECTUAL – DANO MATERIAL 
CONFIGURADO (ART. 102, LEI Nº 9.609/98) – DEVER DE 
INDENIZAR MANTIDO – QUANTUM MAJORADO – HONORÁRIOS 
RECURSAIS ARBITRADOS – RECURSO DE APELAÇÃO DA 
AUTORA PROVIDO. RECURSO DE APELAÇÃO DA RÉ 
DESPROVIDO. (destacamos) 
TJPR - 10ª C.Cível - 0074554-81.2016.8.16.0014 - Londrina - Rel.: 
DESEMBARGADOR DOMINGOS THADEU RIBEIRO DA FONSECA - 
J. 02.12.2019. (Paraná, 2019) 
O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná determinou que a empresa 
demandada em juízo pela Microsoft se abstivesse de utilizar os programas de 
computador indicados pela prova pericial produzida no processo, além de pagar 
à Microsoft uma indenização pelos danos materiais decorrentes da utilização 
indevida (sem licença) dos referidos softwares (2019). 
Percebam que o Desembargador Relator mencionou expressamente que 
houve violação ao art. 9º da Lei de Software, aplicando o art. 102 da Lei de 
Direitos Autorais, e as sanções previstas naquelas legislações. 
Portanto, a fundamentação constante no acórdão, há menção expressa a 
prova pericial produzida no processo, que demonstrou a ilegalidade do uso dos 
softwares utilizados pela empresa processada, na medida em que as licenças e 
seriais informados pela empresa processada não coincidia com os softwares 
encontrados nas máquinas periciadas, situação que caracterizou a prática 
apelidada de “pirataria de software”. 
E diante da utilização fraudulenta de uma obra intelectual, como é o caso 
do programa de computador, nos termos do art. 7º, XII, da Lei de Direitos 
Autorais, a responsabilização civil se torna aplicável, assegurando ao titular do 
 
2 Acórdão corresponde à decisão proferida por um órgão colegiado de um tribunal. 
 
 
14 
software o direito à devida indenização, notadamente a sanção civil 
indenizatória. 
No julgado em análise, a indenização correspondeu à condenação da 
empresa demandada em juízo ao pagamento de uma indenização equivalente a 
10 vezes o valor de mercado de cada software, além do pagamento de 50% das 
custas do processo e ao pagamento dos honorários dos advogados da Microsoft, 
fixados em 10% sobre o valor da condenação, tema que analisaremos a seguir. 
TEMA 5 – RESPONSABILIDADE CIVIL E AÇÕES INDENIZATÓRIAS 
DECORRENTES DE PIRATARIA DE SOFTWARE 
A Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610/1998) estabelece que, 
independentemente de medidas de natureza penal, a prática da pirataria justifica 
a aplicação de sanções civis, nos termos dos arts. 101 a 110. 
Art. 101. As sanções civis de que trata este Capítulo aplicam-se sem 
prejuízo das penas cabíveis. 
Art. 102. O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, 
divulgada ou de qualquer forma utilizada, poderá requerer a apreensão 
dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem 
prejuízo da indenização cabível. 
Art. 103. Quem editar obra literária, artística ou científica, sem 
autorização do titular, perderá para este os exemplares que se 
apreenderem e pagar-lhe-á o preço dos que tiver vendido. 
Parágrafo único. Não se conhecendo o número de exemplares que 
constituem a edição fraudulenta, pagará o transgressor o valor de três 
mil exemplares, além dos apreendidos. 
Art. 104. Quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, 
tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com 
fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, 
lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente 
responsável com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, 
respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor em caso 
de reprodução no exterior. 
Art. 105. A transmissão e a retransmissão, por qualquer meio ou 
processo, e a comunicação ao público de obras artísticas, literárias e 
científicas, de interpretações e de fonogramas, realizadas mediante 
violação aos direitos de seus titulares, deverão ser imediatamente 
suspensas ou interrompidas pela autoridade judicial competente, sem 
prejuízo da multa diária pelo descumprimento e das demais 
indenizações cabíveis, independentemente das sanções penais 
aplicáveis; caso se comprove que o infrator é reincidente na violação 
aos direitos dos titulares de direitos de autor e conexos, o valor da 
multa poderá ser aumentado até o dobro. 
Art. 106. A sentença condenatória poderá determinar a destruição de 
todos os exemplares ilícitos, bem como as matrizes, moldes, negativos 
e demais elementos utilizados para praticar o ilícito civil, assim como a 
perda de máquinas, equipamentos e insumos destinados a tal fim ou, 
servindo eles unicamente para o fim ilícito, sua destruição. 
Art. 107. Independentemente da perda dos equipamentos utilizados, 
responderá por perdas e danos, nunca inferiores ao valor que resultaria 
da aplicação do disposto no art. 103 e seu parágrafo único, quem: 
 
 
15 
I - alterar, suprimir, modificar ou inutilizar, de qualquer maneira, 
dispositivos técnicos introduzidos nos exemplares das obras e 
produções protegidas para evitar ou restringir sua cópia; 
II - alterar, suprimir ou inutilizar, de qualquer maneira, os sinais 
codificados destinados a restringir a comunicação ao público de obras, 
produções ou emissões protegidas ou a evitar a suacópia; 
III - suprimir ou alterar, sem autorização, qualquer informação sobre a 
gestão de direitos; 
IV - distribuir, importar para distribuição, emitir, comunicar ou puser à 
disposição do público, sem autorização, obras, interpretações ou 
execuções, exemplares de interpretações fixadas em fonogramas e 
emissões, sabendo que a informação sobre a gestão de direitos, sinais 
codificados e dispositivos técnicos foram suprimidos ou alterados sem 
autorização. 
Art. 108. Quem, na utilização, por qualquer modalidade, de obra 
intelectual, deixar de indicar ou de anunciar, como tal, o nome, 
pseudônimo ou sinal convencional do autor e do intérprete, além de 
responder por danos morais, está obrigado a divulgar-lhes a identidade 
da seguinte forma: 
I - tratando-se de empresa de radiodifusão, no mesmo horário em que 
tiver ocorrido a infração, por três dias consecutivos; 
II - tratando-se de publicação gráfica ou fonográfica, mediante inclusão 
de errata nos exemplares ainda não distribuídos, sem prejuízo de 
comunicação, com destaque, por três vezes consecutivas em jornal de 
grande circulação, dos domicílios do autor, do intérprete e do editor ou 
produtor; 
III - tratando-se de outra forma de utilização, por intermédio da 
imprensa, na forma a que se refere o inciso anterior. 
Art. 109. A execução pública feita em desacordo com os arts. 68, 97, 
98 e 99 desta Lei sujeitará os responsáveis a multa de vinte vezes o 
valor que deveria ser originariamente pago. 
Art. 109-A. A falta de prestação ou a prestação de informações falsas 
no cumprimento do disposto no § 6º do art. 68 e no § 9º do art. 98 
sujeitará os responsáveis, por determinação da autoridade competente 
e nos termos do regulamento desta Lei, a multa de 10 (dez) a 30% 
(trinta por cento) do valor que deveria ser originariamente pago, sem 
prejuízo das perdas e danos. 
Parágrafo único. Aplicam-se as regras da legislação civil quanto ao 
inadimplemento das obrigações no caso de descumprimento, pelos 
usuários, dos seus deveres legais e contratuais junto às associações 
referidas neste Título. 
Art. 110. Pela violação de direitos autorais nos espetáculos e audições 
públicas, realizados nos locais ou estabelecimentos a que alude o art. 
68, seus proprietários, diretores, gerentes, empresários e arrendatários 
respondem solidariamente com os organizadores dos espetáculos. 
Por sua vez, a Lei do Software (Lei n. 9.609/1996) prevê expressamente 
infrações civis e criminais, propondo sanções entre os arts. 12 a 14: 
Art. 12. Violar direitos de autor de programa de computador: 
Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa. 
§ 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de 
programa de computador, no todo ou em parte, para fins de comércio, 
sem autorização expressa do autor ou de quem o represente: 
Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa. 
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe 
à venda, introduz no País, adquire, oculta ou tem em depósito, para 
fins de comércio, original ou cópia de programa de computador, 
produzido com violação de direito autoral. 
§ 3º Nos crimes previstos neste artigo, somente se procede mediante 
queixa, salvo: 
 
 
16 
I - quando praticados em prejuízo de entidade de direito público, 
autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação 
instituída pelo poder público; 
II - quando, em decorrência de ato delituoso, resultar sonegação fiscal, 
perda de arrecadação tributária ou prática de quaisquer dos crimes 
contra a ordem tributária ou contra as relações de consumo. 
§ 4º No caso do inciso II do parágrafo anterior, a exigibilidade do tributo, 
ou contribuição social e qualquer acessório, processar-se-á 
independentemente de representação. 
Art. 13. A ação penal e as diligências preliminares de busca e 
apreensão, nos casos de violação de direito de autor de programa de 
computador, serão precedidas de vistoria, podendo o juiz ordenar a 
apreensão das cópias produzidas ou comercializadas com violação de 
direito de autor, suas versões e derivações, em poder do infrator ou de 
quem as esteja expondo, mantendo em depósito, reproduzindo ou 
comercializando. 
Art. 14. Independentemente da ação penal, o prejudicado poderá 
intentar ação para proibir ao infrator a prática do ato incriminado, com 
cominação de pena pecuniária para o caso de transgressão do 
preceito. 
§ 1º A ação de abstenção de prática de ato poderá ser cumulada com 
a de perdas e danos pelos prejuízos decorrentes da infração. 
§ 2º Independentemente de ação cautelar preparatória, o juiz poderá 
conceder medida liminar proibindo ao infrator a prática do ato 
incriminado, nos termos deste artigo. 
§ 3º Nos procedimentos cíveis, as medidas cautelares de busca e 
apreensão observarão o disposto no artigo anterior. 
§ 4º Na hipótese de serem apresentadas, em juízo, para a defesa dos 
interesses de qualquer das partes, informações que se caracterizem 
como confidenciais, deverá o juiz determinar que o processo prossiga 
em segredo de justiça, vedado o uso de tais informações também à 
outra parte para outras finalidades. 
§ 5º Será responsabilizado por perdas e danos aquele que requerer e 
promover as medidas previstas neste e nos arts. 12 e 13, agindo de 
má-fé ou por espírito de emulação, capricho ou erro grosseiro, nos 
termos dos arts. 16, 17 e 18 do Código de Processo Civil. 
Interessante observar que o parágrafo 1º do art. 12 da Lei de Software 
estabelece como requisito legal que a violação dos direitos do autor tenha 
finalidade comercial. 
Ou seja, em se tratando de usuário final, cujo uso não possua natureza 
comercial, em tese, a pena prevista no art. 12 não será imposta ao usuário. 
Entretanto, o parágrafo 2º do art. 12 é taxativo ao afirmar que o ato de 
vender, expor a venda, importar, adquirir, ocultar ou guardar, para fins de 
comércio, original ou cópia de software, produzido com violação de direito 
autoral, enseja a quem realiza tais atos a mesma pena aplicada a quem viola 
direito autoral de software, previsto no parágrafo 1º do art. 12 da Lei de Software. 
Conforme visto no tópico 4, o Poder Judiciário tem responsabilizado 
empresas que comprovadamente violam direitos autorais relacionados à 
utilização não licenciada de software, condenando os infratores ao pagamento 
de indenização a título de danos materiais, levando-se em consideração o valor 
 
 
17 
de mercado dos programas utilizados indevidamente, em virtude da prática da 
contrafação. 
Entretanto, também compete ao Poder Judiciário inibir a prática da 
pirataria, nos termos do Decreto n. 9.875, de 27 de junho de 2019, que dispõe 
sobre o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e aos Delitos contra a 
Propriedade Intelectual. 
Para tanto, o valor da indenização a ser recebida pelo autor ou titular do 
software deve, além de reparar o prejuízo sofrido pelo autor ou titular do 
software, em virtude daquilo que ele deixou de receber com o uso não licenciado 
do software, desestimular tal prática no mercado. 
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça3, por meio do Recurso 
Especial n. 1.403.865 – SP, consolidou o entendimento que: 
[...] 
A exegese do art. 102 da Lei de Direitos Autorais evidencia o caráter 
punitivo da indenização, ou seja, a intenção do legislador de que seja 
primordialmente aplicado com o escopo de inibir novas práticas 
semelhantes. 
A mera compensação financeira mostra-se não apenas conivente com 
a conduta ilícita, mas estimula sua prática, tornando preferível assumir 
o risco de utilizar ilegalmente os programas, pois, se flagrado e 
processado, o infrator se verá obrigado, quanto muito, a pagar ao titular 
valor correspondente às licenças respectivas. 
A quantificação da sanção a ser fixada para as hipóteses de uso 
indevido (ausente a comercialização) de obra protegida por direitos 
autorais não se encontra disciplinada pela Lei 9.610/98, de modo que 
deve o julgador, diante do caso concreto, utilizar os critérios que melhor 
representem os princípiosde equidade e justiça, igualmente 
considerando a potencialidade da ofensa e seus reflexos. 
É razoável a majoração da indenização ao equivalente a 10 vezes o 
valor dos programas apreendidos, considerando para tanto os próprios 
acórdãos paradigmas colacionados pela recorrente, como os 
precedentes deste Tribunal em casos semelhantes. 
[...] (Brasil, Superior Tribunal de Justiça, 2013) 
Quer-se dizer: se o Poder Judiciário condenasse o contrafator apenas ao 
pagamento da respectiva licença do software utilizado indevidamente, tal 
solução não cumpriria a função punitiva da indenização, voltada a inibir tal 
comportamento entre os usuários de soluções. 
Portanto, o rigor na condenação do uso indevido, de natureza comercial 
ou industrial, de direitos autorais que envolvam tecnologia da informação e 
comunicação, é uma medida válida, inclusive para assegurar o necessário 
 
3 Recurso Especial n. 1.403.865 - SP (2013/0207390-0). Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe, 18 
nov. 2013. 
 
 
18 
estímulo econômico ao desenvolvimento de novas tecnologias e proteger os 
investimentos realizados contra a pirataria. 
FINALIZANDO 
Nesta etapa, analisamos a proteção constitucional dos direitos do autor, 
relacionando-os com a Tecnologia da Informação e Comunicação, notadamente 
sobre a criação, registro e utilização de software. 
Para tanto, analisamos a Lei de Software e a Lei de Direitos Autorais, as 
peculiaridades inerentes ao registro de software junto ao Inpi, o contrato de 
licença de uso e as possíveis sanções civis e criminais para prática de condutas 
que caracterizem a violação de direitos autorais, notadamente o plágio e a 
contrafação. 
Finalmente, abordamos as consequências judiciais cíveis decorrentes de 
pirataria de software, apresentando as sanções civis atribuídas pelo Poder 
Judiciário para casos de violação de direitos autorais. 
Esperamos que os conhecimentos apresentados sejam úteis e que 
facilitem a compreensão dos temas dos conteúdos posteriores, ocasião em que 
analisaremos regras inerentes a Compliance. 
 
 
 
 
19 
REFERÊNCIAS 
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BITTAR, C. A. Direito de autor. rev. atualiz. e amp. por Eduardo C. B. Bittar. 7. 
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Acesso em: 26 ago. 2022. 
______. Decreto-Lei n. 9.875, de 27 de junho de 2019. Dispõe sobre o Conselho 
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Brasília/DF, DOU, 28 jun. 2019. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2019/Decreto/D9875.htm#art13>. Acesso em: 26 ago. 2022. 
______. Lei n. 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Lei de software. Disponível 
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2022. 
______. Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Lei de direitos autorais. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso 
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______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.403.865/SP, Terceira 
Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe, 18 nov. 2013. Disponível em: 
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20 
E-MARCAS. Registro de Marca – Fases do Processo (2022). Disponível 
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https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/4100000008947211/Ac%C3%B3rd%C3%A3o-0074554-81.2016.8.16.0014#integra_4100000008947211
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEGISLAÇÃO, ÉTICA E 
CONFORMIDADE 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Jailson de Souza Araújo 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Ética, boa-fé e transparência nas contratações por meios digitais, nos 
termos do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor 
A crescente oferta de serviços digitais exige uma adequada compreensão 
de seus reflexos na sociedade. Eis que as contratações realizadas no ambiente 
virtual geram consequências relevantes e devem observar e cumprir 
rigorosamente os princípios jurídicos que disciplinam e regulamentam os 
contratos, notadamente, a boa-fé e a transparência nas manifestações das 
partes e a proibição ao enriquecimento sem justa causa. 
A velocidade de crescimento da internet corresponde a um fenômeno 
mundialmente observado e suas possibilidades de uso, como o acesso rápido a 
informações, a possibilidade de negociar virtualmente, viabilizando a prática do 
comércio eletrônico em larga escala, vem quebrando paradigmas e requisitando 
do direito uma releitura de conceitos jurídicos tradicionais, como o próprio 
conceito de contrato, até então tradicionalmente formalizado em papel, e a 
adequada interpretação dos novos princípios contratuais para regular as mais 
diversas modalidades de contratos realizados por meios digitais. 
Por sua vez, a ampla oferta de internet nos lares brasileiros, a 
popularização da cobertura de internet em banda larga móvel de quarta geração 
(4G) e o início da expansão da internet de quinta geração (5G) nas capitais 
brasileiras também proporcionam uma série de mudanças de hábitos no 
consumidor brasileiro no ato de contratar e consumir produtos e serviços digitais. 
Daí decorre a necessidade de compreender o fenômeno tecnológico e ser 
capaz de realizar sua adequada interpretação jurídica, com base na Constituição 
Federal brasileira de 1988 – CF/88 (Brasil,

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