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VM - Direito Digital

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Direito Digital (Relações privadas e internet) – Prof. Marcel Edvar Simões
E-mail: mam.simoes@uol.com.br
Grupo no Telegram: Direito Digital c/ ProfMarcel Simões(acesse e ingresse pelo link: t.me/direitodigitalprofmarcel)
https://unipead-my.sharepoint.com/personal/marcel_simoes_docente_unip_br/_layouts/15/onedrive.aspx?id=%2Fpersonal%2Fmarcel%5Fsimoes%5Fdocente%5Funip%5Fbr%2FDocuments%2FRela%C3%A7%C3%B5es%20Privadas%20e%20Internet%20%282021%29%2FRela%C3%A7%C3%B5es%20Privadas%20e%20Internet%20%282021%29%20%2D%20Material&originalPath=aHR0cHM6Ly91bmlwZWFkLW15LnNoYXJlcG9pbnQuY29tLzpmOi9nL3BlcnNvbmFsL21hcmNlbF9zaW1vZXNfZG9jZW50ZV91bmlwX2JyL0V0ek1hRlg2T1VOTmkxendFTUcxWmhFQm53ZVo5OXVwbE1NMks4WHlZS3dINmc_cnRpbWU9V3FMa3NSX08yRWc
Bibliografia:
I. Básica:
a. TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020
b. LIMA, Marcelo Chiavassa de Mello Paula; ANDRADE, Vitor Morais de. Manual de Direito Digital. São Paulo: Tirant no Blanch, 2020
10/02/2021
→ Legislação fundamental:
· Constituição Federal
· Código Civil
· Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da Internet)
· Decreto n. 8.771/2016 (Regulamentação do Marco Civil da Internet)
· Lei n. 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD)
· Decreto n. 7.962/2013 (Regulamentação do e-commerce)
→Mapa do curso: nove eixos fundamentais
1º Eixo: Internet/ Direito Digital e relações jurídicas de direito da personalidade. 
Temas: privacidade, proteção de dados, direito ao esquecimento.
2º Eixo: Internet/Direito Digital e relações jurídicas contratuais. 
Temas: contratos eletrônicos, comércio eletrônico, relações jurídicas de consumo.
3º Eixo: Internet/Direito Digital e relações jurídicas empresariais.
Temas: estabelecimento virtual, título de crédito eletrônico, criptomoedas
4º Eixo: Internet/Direito Digital e relações jurídicas de “propriedade” (imaterial) ou titularidade, inclusive de direito de autor.
Tema: bens digitais.
5º Eixo: Internet/Direito Digital e relações jurídicas de direito de família.
Temas: “Cyber-adultério”; bens digitais e regime de bens.
6º Eixo: Internet/Direito Digital e relações jurídicas sucessórias.
Temas: herança digital
7º Eixo (transversal em relação aos demais): Internet/Direito Digital e relações de responsabilidade civil.
Temas: responsabilidade civil dos provedores/ IA e responsabilidade civil.
8º Eixo (transversal em relação aos demais): regulamentação da internet. Marco Civil da Internet.
9º Eixo (transversal em relação aos demais): noções gerais de Direito da Tecnologia.
→P1. INTRODUÇÃO GERAL AO DIREITO DIGITAL E À INTERNET
Outros nomes da matéria: direito privado digital, direito digital, relações privadas.
É importante lembrar, aqui, da Teoria Geral da Relação Jurídica, e da distinção entre relações jurídicas...
→TEORIA GERAL DA RELAÇÃO JURÍDICA
É importante lembrar, aqui, da teoria geral da relação jurídica e da distinção entre relações jurídicas de direito público e relações jurídicas de direito privado (sendo que nos concentraremos nestas últimas durante o semestre).
· Obs. relação jurídica é o que importa ao direito.
· São elementos da relação jurídica: sujeito, objeto, fato jurídico constitutivo da relação, e garantia da relação jurídica (ação)
· Conteúdo: poderes versus deveres
1. Teoria Geral da Relação Jurídica
Segundo a teoria geral da relação jurídica (importante instrumento desenvolvido por alemães no século XIX para pensar e compreender os fenômenos jurídicos), toda a relação que interessa ao Direito (chamada de relação jurídica) é composta de 4 elementos:
i. Sujeitos;
ii. Objeto;
iii. Fato jurídico constitutivo da relação: fato da realidade sobre o qual incide uma norma jurídica, e que coloca os sujeitos em relação, acerca de um específico objeto; e
iv. Garantia, que corresponde ao conceito de ação, isto é, ao conjunto de meios que o ordenamento jurídico confere aos sujeitos em relação, destacadamente ao sujeito ativo, para assegurar a realização do seu direito, a realização do seu interesse. 
Toda e qualquer relação jurídica tem, ainda, um conteúdo, que não se confunde com nenhum desses quatro elementos, e que é dado pelo entrelaçamento, pelo encontro entre os poderes jurídicos (por exemplo, direitos subjetivos) do sujeito ativo e os deveres jurídicos do sujeito passivo.
Quatro esquemático n.1 da Teoria Geral da Relação Jurídica
Qual é o conceito de Teoria Geral da Relação Jurídica?
O Direito, conjunto de normas que disciplinam as condutas sociais, objetiva a coexistência pacífica dos indivíduos. Para que isso seja possível, as suas normas têm caráter impositivo, sendo garantidas pelo Estado, que é responsável por aplicar as sanções a cada um que infringe as suas normas.
Dessa forma, o Direito possui regras de conduta, que disciplinam algumas relações sociais, influenciando o comportamento dos indivíduos.
Assim, essas relações sociais que importam para o Direito são as chamadas relações jurídicas.
As relações jurídicas são relações entre dois ou mais indivíduos, das quais decorrem consequências importantes, devendo, pois, existir uma normatização, por exemplo, no contrato de compra e venda, ou no casamento.
Pode-se dizer, então, que uma relação jurídica seria uma relação entre dois ou mais indivíduos, e por meio desse vínculo as normas jurídicas incidem, por serem as consequências relevantes para o Direito.
É importante dizer que uma relação jurídica pode conter direitos e deveres para as partes, sendo que, normalmente, uma parte tem um direito relacionado à prestação que a outra é obrigada.
Duas teorias se contrariam a respeito do conceito de relação jurídica. A Teoria Jusnaturalista afirma que a relação jurídica é aquela relação social assim reconhecida pelo Direito, uma vez que é anterior ao próprio Direito; já a Teoria Positivista expressa que a relação jurídica só existe a partir da normatização pelo Direito, ou seja, as normas é que fazem surgir as relações jurídicas.
Portanto, a Teoria Geral da Relação Jurídica irá estudar todas as implicações relativas às relações jurídicas ocorridas normalmente no meio social.
https://www.jurisway.org.br/v2/pergunta.asp?idmodelo=6397#:~:text=Pode%2Dse%20dizer%2C%20ent%C3%A3o%2C,conseq%C3%BC%C3%AAncias%20relevantes%20para%20o%20Direito.
24/02/2021
Nos diversos campos do Direito, encontramos relações jurídicas dotadas de especiais características, de peculiaridades, mas sempre com os 4 elementos indicados, e sempre tendo como conteúdo uma gama de poderes jurídicos e de deveres jurídicos.
Nos próximos quadros, ilustraremos a estrutura:
i. Da relação jurídica obrigacional contratual; e
ii. Da relação jurídica de direito de personalidade.
É um estudo importante porque os dois assuntos centrais do nosso curso são:
i. Os contratos eletrônicos, por um lado; e
ii. O respeito aos direitos da personalidade na rede, como a privacidade e a proteção de dados, por outro lado.
Quadro esquemático n. 2: estrutura da relação jurídica obrigacional contratual (art. 233 a 420 e 421 a 853 do Código Civil)
Especificamente sobre os chamados contratos eletrônicos, é importante destacar, desde logo, que NÃO se trata de um novo tipo contratual (que esteja ao lado de outros tipos contratuais, como, por exemplo, o contrato de compra e venda, o contrato de locação, o contrato de mútuo etc. – todos estes caracterizados pelo seu específico conteúdo), mas sim e um fenômeno que tem a ver com a forma de contratação, com a conclusão do contrato.
Assim, o termo “contrato eletrônico” corresponde a qualquer contrato (vale dizer, a qualquer tipo contratual) quando celebrado por meio eletrônico – destacadamente, pela internet.
Quadro esquemático n.3: estrutura da relação jurídica de direito da personalidade (art. 11 a 21 do Código Civil)
→ AULA 2 – 24/02/2021
→ Conceitos de Direito da Internet, Direito da Informática, Direito Digital e Direito de Tecnologia
Segundo uma corrente doutrinária (que nos parece a mais precisa), Direito da Internet é DIFERENTE de Direito da Informática que é DIFERENTE de Direito Digital, que é DIFERENTE de Direitoda Tecnologia.
→ Direito da Internet: ramos do Direito que tem por objeto a disciplina jurídica da rede conhecida como Internet.
→ Direito da Informática: ramo do Direito que tem por objeto a disciplina jurídica dos computadores ligada à propriedade imaterial, isto é, no que tange á propriedade imaterial sobre os aspectos do software e do hardware.
→ Direito Digital: ramo do Direito que tem por objeto a disciplina dos problemas jurídicos envolvendo não apenas os computadores, mas também os dispositivos eletrônicos análogos que utilizam programas (software) em geral, e as múltiplas situações que surgem na chamada Sociedade de Informação.
→ Direito da Tecnologia: ramo do Direito que tem por objeto a disciplina dos novíssimos problemas que surgem com o avanço da tecnologia em geral, no contexto da chamada Revolução 4.0 (robôs ou inteligência artificial, jurimetria, etc.).
Na realidade, então:
Direito da Internet < Direito da Informática < Direito Digital < Direito da Tecnologia.
A internet, sem dúvida alguma, é o coração de todos esses ramos, na atualidade.
→ INTERNET: conceito e breve histórico
Conceito de internet: é um sistema global de redes de computadores interconectadas, que usam um conjunto próprio de protocolos de comunicação (Internet Protocol Suite – TCP/IP) para interligar dispositivos ao redor do mundo.
· É uma “rede de redes de computadores/dispositivo”
· É tida atualmente como importante meio de comunicação.
Internet → DIFERENTE de Rede Mundial de Computadores (em inglês, World Wide Web, também conhecida pelos termos web ou WWW). 
A rede mundial de computadores é um sistema de documentos em hipermídia, os quais são interligados e executados na internet.
· É uma “rede de documentos em hipermídia”
· Obs. conceito de hipertexto: é o termo que remete a um texto ao qual se agregam outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas, no meio digital denominadas hiperligações. Essas hiperligações ocorrem na forma de termos destacados no corpo do texto principal, ícones gráficos ou imagens e tem a função de interconectar os diversos conjuntos de informação.
Através dessa rede de dispositivos que é a internet são executados:
i. A rede mundial de computadores (world wide web);
ii. Correio eletrônicos (e-mail);
iii. Telefonia;
iv. Compartilhamento de arquivos;
v. Serviços de streaming;
vi. Etc.
→ Origem da Internet, sua regulamentação e o surgimento da contratação eletrônica e do comércio eletrônico
· 1958. Os EUS criam a ARPA (Advanced Resarch Projects Agency), hoje DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), agência destinada a coordenar os contratos de investigação federais.
· 1969. A DARPA, inaugura a rede ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), com o objetivo de garantir uma segura e sobrevivente (se necessário) rede de comunicações para organizações ligadas à investigação científica na área de defesa. A ARPANET é considerada a “mãe” da internet. Sua finalidade, em suma, era militar: interligar as bases militares e os departamentos de pesquisa do governo americano.
· Embora tenha sido a ARPANET usada também, em 1972, para uma operação de venda de maconha entre estudantes da Universidade de Stanford e estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), naquela que para muitos foi, alegadamente, a primeira transação de e-commerce da história...
· Na verdade, só é importante ressalvar que nesse episódio não chegou a ser concluída uma transação/transferência monetária online. Foi uma troca de mensagens sobre um interesse de compra (por esse motivo, alguns consideram que a primeira transação verdadeira teria sido realizada somente em 1994, como veremos). Mas afinal: pode-se dizer que houve nesse episódio um verdadeiro contrato de compra e venda?
· Resposta: SIM! Pois os elementos essenciais de compra e venda estiveram presentes (elementos do plano da existência: ACORDO sobre a COISA e o PREÇO). 
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.
  Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço.
· Década de 1980. Surge o nome INTERNET (=Interconnected Networks), quando a tecnologia da ARPANET passou a ser usada para ligar universidades e grandes empresas.
· 1987. Passam a ser permitidos conteúdos e comunicações de índole comercial. Meados da década de 1980: nasceu a internet moderna.
· Início da década de 1990: surge a World Wide Web, como resultado de um projeto suíço com o intuito de compartilhar facilmente documentos científicos.
· Década de 1990: é a década da “explosão” da internet no mundo.
· 05 de julho de 1994: é fundada a Amazon, uma das primeira (e hoje a maior) empresa de comércio eletrônico do tipo “varejista pela internet” do mundo.
· 1994. Foi criado o site NetMarket, por jovens formandos na universidade britânica LSE (entre, eles, Daniel Kohn)
Por meio desse site, teria sido feita a primeira transação online com efetivo pagamento. Pela primeira vez, tinham criado um sistema seguro online envolvendo cartões de crédito.
E o primeiro produto a ser vendido foi um CD do cantor Sting, em 11 de agosto de 1994. O comprador foi um homem chamado Phil Brandenberger, morador da Philadelphia.
· 1995. Fundação do E-bay
· 05 de agosto de 1999: fundado o MercadoLivre
As compras online na China atingiram 253 bilhões de dólares na primeira metade de 2015, correspondendo a 10% do total de vendas no varejo na China, no período.
→ Breve histórico da internet no Brasil
· A internet no Brasil se desenvolveu junto ao meio acadêmico e científico no final dos anos 1980. No seu início, o acesso era restrito a professores e funcionários de universidades e instituições de pesquisa.
· Em 1988, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) conseguiu se conectar à Universidade de Maryland.
· Em 1994, alunos da USP criaram inúmeras páginas na Web.
· Em 1995, foi realizada a primeira transmissão a longa distância entre estados brasileiros, realizada por São Paulo e Rio Grande do Sul.
· Em maio de 1995, a internet deixou de ser exclusividade das universidades e da iniciativa privada para se tornar de acesso público
Ainda em 1995, é criado o Comitê Gestor da Internet no Brasil, com a atribuição de coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços de internet no país, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Criado pela Portaria Interministerial n. 147 de 31 de maio de 1995 (posteriormente alterada pelo Decreto n. 4.829/2003).
→ Princípios para Governança e Uso da Internet no Brasil (Decálogo do CGI.br), aprovados por consenso pelos membros do Comitê em 2009 (Resolução CGI.br/RES/2009/03/P):
i. Liberdade, privacidade e direitos humanos;
ii. Governança democrática e colaborativa;
iii. Universalidade;
iv. Diversidade;
v. Inovação;
vi. Neutralidade da rede;
vii. Inimputabilidade da rede;
viii. Funcionalidade, segurança e estabilidade;
ix. Padronização e interoperabilidade;
x. Ambiente legal e regulatório.
Tais princípios têm servido de guia para a atuação do CGI.br, sendo também referência para atores e atividades relacionados com a governança da internet no Brasil e no mundo. Como exemplo da sua influência, temos a Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) que foi inspirada e baseada nos princípios do CGI.br
Aula n. 4
Em 06/01/2003, foi criado o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), associação civil sem fins lucrativos criada e supervisionada pelo Comitê Gestor (CGI.br) para coordenar os diversos projetos, iniciativas e serviços em áreas de importância fundamental para o funcionamento e desenvolvimento da internet no país.
O NIC.br é, portanto, órgão vinculado ao CGI.br, tendo sido criado com o objetivo de implementar as decisões e os projetos do CGI.br.
Além de implementar as decisões e projetos do CGI.br, o NIC.br tem entre suas atribuições:i. Coordenar o registro de nomes de domínio (Registro.br);
ii. Estudar, responder e tratar incidentes de segurança no Brasil (CERT.br);
iii. Estudar e pesquisar tecnologias de rede e operações (Ceptro.br);
iv. Produzir indicadores sobre as tecnologias da informação e da comunicação (Cetic.br);
v. Implementar e operar os Pontos de Troca de Tráfego (IX.br);
vi. Viabilizar a participação da comunidade brasileira no desenvolvimento global da Web e subsidiar a formulação de políticas públicas (Ceweb.br)
vii. Abrigar o escritório da W3C (no Brasil).
Obs. a W3C (World Wide Web Consortium) é um consórcio internacional com 450 membros (entre empresas, órgãos governamentais e organizações independentes) que é a principal organização de padronização da WWW, estabelecendo padrões para a criação e interpretação de conteúdos para a Web. É UM ESPÉCIE DE ABNT DA WEB.
Em 1996 surgiram os dois primeiros portais de internet privados do Brasil: o ZAZ (antecessor do Terra) e o UOL. O governo também desenvolve um serviço permitindo a entrega da declaração do imposto de renda por meio da internet.
Em 2014: advento do Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965/2014).
Em 2016, mais de 50% dos domicílios brasileiros estão conectados à internet.
Em 2016, as vendas em varejo no e-commerce no Brasil atingiram cerca de 17 bilhões de dólares.
Em 18/09/2020, a maior parte da Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n. 13.709/2018) entra em vigor. Entraram em vigor (finalmente, após uma complexa tramitação) os artigos 1º ao 51 e 60 a 64 da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). 
As sanções (arts. 52, 53 e 54), contudo, só entrarão em vigor em 01/08/2021.
Como culminação do breve histórico da internet no Brasil, portanto, chegamos à entrada em vigor da maior parte da LGPD no dia 18/09/2020, lembrando que:
i. Os arts. 55-A e 55-L; além dos arts. 58-A e 58-B (relativos à Autoridade Nacional de Proteção de Dados – ANPD) já estavam em vigor desde 28/12/2018;
ii. Os arts 52, 53 e 54 (relativos às sanções) somente entrarão em vigor em 01/08/2021;
iii. Os demais artigos (1º ao 51 e 60 a 64), correspondentes à maior parte da lei, entraram em vigor no dia 18/09/2020, após uma complexa tramitação legislativa.
→ CONTRATOS ELETRÔNICOS
→ Conceitos introdutórios
Conceito de contrato: contrato é o acordo entre duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial. Este é o conceito expresso no art. 1.321 do Código Civil Italiano, igualmente aplicável ao Direito Brasileiro).
O contrato é uma espécie de negócio jurídico, que se caracteriza (i) por ser de formação, no mínimo, bilateral; e (ii) por se destinar à constituição, regulação ou extinção de relações jurídicas patrimoniais.
ENZO ROPPO: o contrato é a formalização jurídica de uma operação econômica (= operação de circulação de riqueza).
Conceito de contrato eletrônico: contrato eletrônico é o contrato celebrado por meio de computadores (ou outros dispositivos eletrônicos equivalentes que utilizem softwares) interligados entre si, em rede local ou na internet, isto é, é o contrato celebrado pela forma eletrônica, em ambiente virtual.
A palavra eletrônico está relacionado à eletrônica, que é a parte da física que trata de circuitos elétricos – a comunicação de dados via computador se faz por meio de impulsos elétricos, o que caracteriza como comunicação eletrônica.
Expressões sinônimas ou quase-sinônimas encontradas na doutrina: contratos do comércio eletrônico (Cláudia Lima Marques), contratos por meio eletrônico (Maurício de Souza Matte), contratos telemáticos (denominação utilizada na França, a partir da ideia de que há, neles, uma conjugação da informática com as telecomunicações).
Portanto, o conceito de contrato eletrônico se desenvolve, em primeiro lugar, ligado à forma de celebração do contrato, forma essa que envolve a transmissão eletrônica de dados (e sobre forma, consultem os artigos 104, 107 e 108 do Código Civil). A princípio, os demais elementos de existência e requisitos de validade dos contratos seriam os mesmos: mesmas regras quanto à capacidade dos agentes, a licitude do objeto. Assim estaríamos diante de contratos já conhecidos (como compra e venda, prestação de serviços, locação, doação etc.).
Contudo, na medida em que o objeto do contrato celebrado por meio eletrônico passa a poder ser entregue pelo fornecedor não apenas fisicamente (quando se tratar, por exemplo, de um bem material), mas também, em alguns casos, eletronicamente (quando se tratar de um bem imaterial, como por exemplo um software, uma música ou um e-book que seja disponibilizado por meio de download de arquivos), passamos a ter, aí, uma categoria de objeto muito própria (pelo objeto, e não pela forma) dos contratos eletrônicos. Veja-se o livro de BRUNO ZAMPIER, Bens Digitais.
RICARDO LUIS LORENZETTI, abordando outro ângulo do tema, afirma que a caracterização do contrato eletrônico pode se dar na forma empregada para a sua celebração, para o seu cumprimento ou para a sua execução. Pode ocorrer eletronicamente apenas uma das etapas, duas ou três, de modo parcial ou total.
Conceito de contrato informático (que não se confunde com contrato eletrônico): contrato informático é o contrato que tem por objeto o equipamento ou o serviço de informática, incluindo o desenvolvimento, a venda e a distribuição de hardware, ou de software, ou de outros bens ou serviços relacionados.
São três espécies fundamentais (segundo José de Oliveira Ascenção):
i. Contrato de hardware (tem por objeto um equipamento);
ii. Contrato de software (tem por objeto um programa de computador); e
iii. Contrato de manutenção ou assistência (prestação de serviços).
Caso prático: a compra de um microcomputador pelo site de uma loja é um contrato eletrônico ou um contrato informático?
Resposta: ambos! A forma é eletrônica (contrato eletrônico); e o objeto é um bem informático do tipo hardware (contrato informático)
24/03/2021 – Aula 6
→ 2. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS EM GERAL E FORMAÇÃO DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS
→ Existem três modelos quanto à formação dos contratos CONSENSUAIS. O acordo contratual se forma por três modos:
2.1 Modelo tradicional para proposta e aceitação (a marca é a sucessitividade das manifestações de vontade). Formação mediante conjugação de oferta (proposta) e aceitação. 
É o que mais acontece, é o modelo adotado pelos códigos, o modelo que é disciplinado preferencialmente pelo CC/2002 (art. 427 a 435). Tal modelo vem como Common Law inglês.
2.1.1. Como subespécie do modelo baseado na proposta e na aceitação, temos o modelo da formação do contrato por adesão a cláusulas predeterminadas. Trata-se de uma invenção alemã. Caracteriza-se pela existência de cláusulas já predispostas pela contraparte, as quais não podem ser discutidas pelo aderente. Tem o objetivo de economizar tempo. Segundo A. Tomasetti, o contrato por adesão é um mal necessário, e esse é um dos motivos pelo qual a lei criou mecanismos de proteção ao aderente, como a interpretação contrária ao interesse daquele que as estipulou (art. 423 do Código Civil). O poder de predisposição das cláusulas é exercido por quem tem o poder contratual, que não se confunde com poder econômico, mas sim de mercado.
  Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
É importante ressaltar que grande parte dos contratos celebrados na internet são contratos de adesão (ou contratos por adesão), ou seja, aqueles em que uma das partes (o aderente) não tem poderes para discutir as cláusulas contratuais. É a regra no campo dos contratos para consumo (chamados, em Direito Digital, de B2C – business to consumer).
Muitas vezes, a adesão se dá por meio de um clique no “aceito” os “termos de uso” do site (e/ou aplicativo) em que se está navegando. Importante examinar, aqui, a problemática dos contratos de adesão eletrônicos (shrink-wrap e click-wrap) e dos termos e condições de uso (browse-wrap) – estes últimos, aliás, muito contestados judicialmente, quandonão haja efetivo conhecimento (ou garantia de conhecimento) pelo usuário.
Nos contratos de adesão, celebrados na internet via termos de uso (e política de privacidade) ou não, sempre que houver relação de consumo, aplica-se a disciplina do art. 54 do CDC.
Dos Contratos de Adesão
        Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 
        § 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.
        § 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.
        § 3o - Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.    (Redação dada pela nº 11.785, de 2008)
        § 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.
É imprescindível a elaboração de Termos de Uso e Política de Privacidade como primeiro passo na proteção jurídica de um site e/ou aplicativo de uma empresa, isto é, para obediência da atividade empresarial desempenhada às normas de Direito Digital Privado, inclusive à LGPD (esses dois documentos podem ser consolidados em único arquivo/link):
· Termos de uso: neles, deve-se descrever o conteúdo e finalidade do site ou aplicativo, informando as “regras internas” para uso. Deve-se incluir a proibição de postagens ofensivas ou imorais; e a vedação da reprodução de informações por pessoas não detentoras do direito autoral respectivo.
· Política de privacidade: nela é preciso informar como são utilizadas as informações inseridas por usuários e se estas serão compartilhadas com outras pessoas ou empresas parceiras; ou ainda se as informações serão utilizadas para pesquisas que proporcionem melhorar o desempenho do site/aplicativo.
→ Shrink-wrap, click-wrap e browse-wrap
i. Shrink-wrap: diz respeito às compras de software no estabelecimento físico do fornecedor, cujos termos contratuais que vincularão as partes não podem ser visualizados antes da compra do produto, mas tão somente no decorrer da instalação do software, garantindo-se ao adquirente a possibilidade efetiva (o direito) de devolução do produto se não concordar com os termos da licença. Note-se: pare do conteúdo do contrato só aparece na hora da instalação. Importância da ciência do aderente, para poder ser vinculado em um contrato.
ii. Click-wrap: diz respeito a contratos celebrados inteiramente em meio eletrônico, em que o consumidor tem a oportunidade de ler as cláusulas contratuais antes de manifestar, expressamente, o seu consentimento, ou não, clicando em uma caixa de diálogo indicativa de expressões do tipo “eu aceito” ou outras semelhantes. São considerados como contratos de adesão juridicamente vinculantes, desde que o texto acompanhando a caixa ou ícone indique claramente que ao ticar no box ou clicar no ícone de “aceito’ o usuário está concordando com os termos do acordo.
iii. Browse-wrap: são os termos e condições de uso, disponibilizados habitualmente no canto inferior de uma página da internet em um hiperlink, (supostamente) vinculando toda e qualquer pessoa, que tão somente acesse o respectivo site, sem ao menos chamar a atenção do usuário para a existência desses termos, ou nem exigindo a manifestação de anuência a tais termos. Note-se: se o usuário nem ao menos tem consciência da existência de tais termos, eles ficam descaracterizados como contratos ou condições gerais, não podem vincular os destinatários.
É claro que também existem casos de contratos eletrônicos que são amplamente negociados em ambiente virtual – esses são chamados de paritários, em oposição aos contratos de adesão.
São paritários, geralmente, os contratos eletrônicos interempresariais (chamados em Direito Digital de B2B – business do business). Sua disciplina é dada pelo Código Civil.
2.2. Modelo da simultaneidade das declarações formativas do contrato (ocorre com frequência em sede dos contratos plurilaterais, como o contrato de sociedade. Não se consegue discernir aí o que seria proposta e o que seria aceitação).
2.3. Modelo das “punctações”, ou puntações, ou pontuações, ou negociação pormenorizada das cláusulas contratuais entre as partes (a despeito de se tratar de um modelo extremamente disseminado na atualidade, o CC/2002 perdeu a oportunidade de tratar dele).
Troca conjugada entre oferta e aceitação. Ocorre quando as partes se reúnem e discutem cláusula por cláusula (ou trocam diversas versões e minutas do texto contratual ao longo do tempo, virtualmente ou não). É o modelo dos grandes contratos da atualidade. Cada cláusula equivale a um pequeno contrato, exigindo dos técnicos que intervêm nessa formação um grande trabalho. Forma-se quando há o consenso final sobre todas as cláusulas; contrato é, então, fruto do acordo.
07/04/2021 – Aula 7 – Relações Privadas e Internet
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4. Detalhamento do “modelo 1” (Modelo tradicional para proposta e aceitação) quanto á formação dos contratos consensuais: o modelo da proposta e da aceitação.
Art. 427. A proposta de contrato OBRIGA o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio ou das circunstâncias do caso.
→Imprecisão técnica do dispositivo: a proposta não obriga o proponente. A proposta vincula o proponente (vincular-se = ser adstrito a manter a oferta. O oferente vincula-se por sua oferta e à sua oferta – vincula-se nos termos da oferta)
→ Conceito de proposta: negócio jurídico unilateral receptício que constitui a primeira manifestação de vontade, a que se há de seguir a aceitação, para que se conclua o negócio jurídico bilateral (contrato). CF. Pontes de Miranda, t. XXXVIII, p.26 e p.50)
A proposta deve conter todos os elementos contratuais necessários, para que a contraparte possa simplesmente aceitar (a proposta tem de ser completa; a aceitação tem de ser pura, simples e tempestiva).
→ Eficácia da proposta: ocorre com a chegada da proposta à possibilidade de conhecimento do destinatário (prevalece o entendimento, portanto, no sentido da teoria da recepção – trata-se de negócio jurídico receptício). Dispensa-se o efetivo conhecimento da proposta pelo destinatário para que esta vincule (não se poderia deixar isso ao alvedrio do destinatário – respeito à boa-fé objetiva: este tem o dever de estar a par do que lhe chega).
No sentido da teoria da expedição temos Paulo Lobo.
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I – se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. 
Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante.
→ Contratos entre presentes versus contratos entre ausentes: essa distinção diz menos respeito à presença física dos contratantes num mesmo espaço do que ao aspecto temporal, o aspecto da instantaneidade ou simultaneidade na troca de informações e manifestações. Não importa tanto a distância física, mas sim a instantaneidade na troca de informações.
Conceitos: o contrato entre presentes é aquele no qual se verifica a instantaneidade na troca de informações no momento da formação do contrato. O contrato entre ausentes é aquele no qual esta instantaneidade não se verifica, havendo ao menos em tese o decurso de um lapso de tempo significativo entre a proposta e a possibilidade do seu conhecimento pelo destinatário.
Em sede de internet, algumas ofertas podem ser consideradas entre presentes (quando há interatividade, por exemplo, uma sala de chat ou bate papo ou webcam; compras em sites também, segundo Tartuce e Paulo Lobo) e outras entre ausentes,como por meio de mensagens eletrônicas (por e-mail, por exemplo) sendo que neste último caso claramente não há instantaneidade. 
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
II – se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV – se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
Sobre este inciso IV, são três momentos em que pode chegar ao oblato (destinatário) a revogação (retratação):
1. Antes ou junto da proposta. Consequência: o proponente se desvincula.
2. Entre a chegada da proposta ao oblato e a expedição da sua aceitação. Consequência: o proponente estava vinculado, e se a revogação causou dano, haverá aí o dever de indenização (cf. Orlando Gomes e Darcy Bessone)
3. Após a aceitação pelo destinatário: a revogação é ineficaz.
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.
 Bibliografia correlata: PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Borsói, v. 38, pp. 26-38 (§§ 4.189 a 4.192).
→ Imprecisão técnica do dispositivo: o termo “requisitos” foi utilizado aí de forma incorreta, em termos da teoria dos três planos do mundo jurídico e no que diz respeito à terminologia consagrada pelo Prof. Antônio Junqueira de Azevedo... a oferta ao público deve conter os elementos essenciais ao contrato (elementos de existência), para gerar a eficácia de vinculação equivalente à proposta.
→ “Requisitos” está aí por “elementos”.
→ Oferta ao público versus invitação à oferta
1. Oferta ao público: deve conter todos os elementos do contrato.
2. Invitação à oferta: é o ato jurídico stricto sensu. É um chamado (eventualmente, pode ser publicidade). Também gera eficácia jurídica (vinculação aos termos do convite feito, com responsabilidade em termos de veracidade e seriedade), mas é diverso da oferta ao público, que confere aos sujeitos o poder de aceitar.
14/04/2021
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.
 Aceitação.
1. Conceito: negócio jurídico unilateral receptício por meio do qual o oblato entra em acordo com a proposta de contrato efetuada, gerando, assim, o contrato.
2. Características: a aceitação deve ser pura e simples, e a todos os pontos ou cláusulas da proposta, para que possa resultar o acordo gerador do contrato.
3. Espécies: pode ser expressa, tácita ou pelo silêncio (neste último caso, somente quando o silêncio equivalha a aceitação).
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições ou modificações, importará nova proposta.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.
 Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.
  Imprecisão técnica do dispositivo: o termo “inexistente” não foi empregado aí de forma totalmente técnica, científica, de acordo com a teoria dos três planos do mundo jurídico. Aceitação, no caso, houve. Existiu, portanto. Somente ocorre que o ato seguinte praticado (retratação, que é revogação) opera desde o plano da existência (é uma contramanifestação de vontade), com a retirada da manifestação de consentimento que corresponde à aceitação. Cf., a respeito, F. C. Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, t. XXXVIII, pp. 53-54.
O dispositivo estaria tecnicamente preciso com uma redação semelhante à seguinte: “Passa a ser inexistente a aceitação havida” ou “Deixa de existir a aceitação ocorrida”
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:
 
 Como regra, nos contratos entre ausentes, foi adotada, quanto à sua formação, a teoria da agnição, na sub-modalidade teoria da expedição. 
Contratos entre ausentes → Teoria da expedição (agnição)
É isso que está no caput deste artigo 434. As exceções (relacionadas nos incisos do art. 434) referem-se a casos em que o CC adotou a teoria da agnição (e não a da cognição, o que significa que não há a necessidade de o proponente abrir e ler a carta com a aceitação, ou ler o e-mail, mas apenas receber) na modalidade teoria da recepção.
Desta forma, há na doutrina quem afirme que o CC adotou a teoria da expedição mitigada.
 
 A norma quanto ao tempo da formação do contrato (teoria da expedição) não colide com o caráter receptício da aceitação (esta produz efeito – o efeito da geração do contrato – quando chega ao proponente, mas é como se retroagisse ao momento da expedição, para fins de marco temporal). Dito de outro modo: a expedição é como se fosse condicionada à efetiva chegada à esfera de conhecimento do proponente (se acabar nunca chegando, nunca haverá o contrato).
 
 Teorias quanto ao momento da formação do contrato:
1. Da agnição (ou da declaração)
1.1. Da declaração propriamente dita
1.2. Da expedição (art. 434, caput)
1.3. Da recepção (exceções dos incisos do art. 434)
2. Da cognição (ou da informação)
3. Da confirmação (citada por ANDERSON SCHREIBER): o contrato se forma no momento em que o aceitante recebe a confirmação de que o proponente recebeu a aceitação.
 
I – no caso do artigo antecedente;
 
II – se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
 
III – se ela não chegar no prazo convencionado.
Os contratos eletrônicos apresentam uma característica marcante (embora não essencial) de distanciamento físico entre os contratantes, bem como de impessoalidade.
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5. Conclusão ou formação dos contratos eletrônicos.
5.1. Momento da conclusão dos contratos eletrônicos:
(i) Contrato eletrônico é entre ausentes ou entre presentes? R: Depende! Regra geral, é entre presentes. Senão vejamos:
(ii) A maioria da doutrina afirma que os contratos eletrônicos podem ser qualificados como entre ausentes ou entre presentes, a depender do caso. Serão entre presentes aqueles interativos, isto é, firmados com proximidade cronológica, contato direito, possibilidade de simultaneidade, instantaneidade, de expedição instantânea da aceitação, com a presença do elemento “tempo real” (e.g., chat ou sala de bate-papo, compra em site, webcam, Whatsapp se estiverem os dois online). Serão entre ausentes aqueles com intermediação, ausência de instantaneidade, intervalo entre proposta e aceitação (e.g., e-mail; Whatsapp ou mensagens de celular em que um dos sujeitos não está online). 
Mas há autores que dizem que os contratos eletrônicos são sempre entre presentes (e.g., PAULO LOBO, que o afirma mesmo para o caso do e-mail) ou predominantemente entre presentes, como TARTUCE (que afirma que são predominantemente entre presentes, até mesmo em sede de e-mail, mas ao final de sua análise admite que e-mail será entre ausentes).
(iii) No que tange a contratos eletrônicos entre presentes, não há maiores dúvidas quanto ao momento da formação.
(iv) Regra geral do momento da conclusão nos contratos entre ausentes: teoria da expedição (forma-se o contrato quando a aceitação é expedida). Obs.: há alguns autores como RODRIGO REBOUÇAS que afirmam que, pela importância das exceções do art. 434, na verdade o Código Civil teria adotado a teoria da recepção.
(v) Para parte considerável da doutrina, para os contratos eletrônicos entre ausentes também vale essa regra geral da teoria da expedição (art. 434). Mas há autores que afirmam que, para contratos eletrônicos entre ausentes, deve ser aplicada a teoria da recepção (e.g., TARTUCE), havendo o enunciado n. 173 das Jornadas de Direito Civil nesse sentido:Enunciado n. 173 da III Jornada de Direito Civil: “A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente.” (Obs.: crítica a esse enunciado: não é o que está na lei!)
ANDERSON SCHREIBER cita, ainda, que alguns autores têm defendido a teoria da confirmação, segundo a qual o contrato estará formado no momento em que o aceitante recebe a confirmação de que o proponente recebeu a aceitação (isso porque nos contratos eletrônicos, a insegurança com a teoria da expedição se acentua, visto que o aceitante, por vezes, se limita a clicar uma tela ou um botão, sem que lhe reste qualquer prova desse ato – só o proponente poderia afirmar se a aceitação foi expedida e recebida, o que seria atenuado pela teoria da confirmação).
5.2. Local da conclusão dos contratos eletrônicos (entre partes fisicamente distantes Notem: não é tanto o problema dos contratos entre ausentes no sentido estrito do conceito). Matéria importante para a determinação do foro de julgamento (em especial nas hipóteses em que o foro de eleição for o lugar da celebração do contrato) e para a determinação da lei aplicável.
(i) Regra geral do local da conclusão dos contratos entre partes fisicamente ausentes (inclusive eletrônicos): lugar em que foi expedida a proposta (cf. art. 435 CC. Segundo comentário de NELSON ROSENVALD no Código Civil Comentado coord. pelo Ministro Cezar Peluso, essa seria uma regra dispositiva: as partes poderiam reputar o local da aceitação como o da celebração do contrato). Não há antinomia com o art. 9º, § 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB (este deve ser interpretado como residência e não domicílio do proponente, ou seja, como o lugar em que o proponente está quando faz a proposta), para fins de definição de foro e lei aplicável.
(ii) Exceção à regra geral: contratos eletrônicos para consumo. Em se tratando de relação de consumo, o foro deve ser sempre o mais acessível/favorável ao consumidor (art. 101, I, do Código de Defesa do Consumidor – CDC; art. 22, II do CPC/2015), e também se sustenta o mesmo quanto à lei aplicável (lei mais favorável ao consumidor).
(iii) Atenção à caracterização das relações de consumo. Uso da oferta ao público e invitação ao contrato dirigida ao público, ao invés de proposta. Somente publicidade já basta para vincular. Arts. 30 a 38 CDC. Lembrando que relação de consumo é aquela que se forma entre um fornecedor, isto é, alguém que fornece, com habitualidade, produtos ou serviços no mercado (conceito no art. 3º CDC) e um consumidor, isto é, alguém que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, isto é, sem ser para revenda ou para reempregar em sua atividade profissional ou empresarial – salvo, nesse último caso, quando provada a vulnerabilidade, consoante a teoria finalista mitigada adotada pela jurisprudência do STJ (conceito no art. 2º CDC)
Relações Privadas e Internet
Aula n. 09
28.04.2021
Marcel Edvar Simões
Procurador Federal
Mestre e Doutor em Direito Civil pela Faculdade de Direito da USP Professor de Direito Digital e Direito Civil
· E-mail: mam.simoes@uol.com.br
· Grupo no Telegram: Direito Digital c/ Prof Marcel Simões (acesse e ingresse pelo link: t.me/direitodigitalprofmarcel)
· Link para a pasta com material da disciplina no onedrive: https://unipead- my.sharepoint.com/:f:/g/personal/marcel_simoes_docente_unip_br/EtzMaFX6OU NNi1zwEMG1ZhEBnweZ99uplMM2K8XyYKwH6g
Ponto III. Internet e direitos da personalidade
1. Relações jurídicas de direito da personalidade.
1.1. Conceito: são as relações jurídicas que têm por conteúdo os chamados direitos da personalidade. Estes, por seu turno, são os direitos subjetivos inerentes à pessoa humana, inatos, e que têm por objeto os aspectos mais importantes, essenciais, da pessoa, nas suas dimensões física, moral e intelectual (conceito de FRANCISCO AMARAL, adaptado).
1.2. Fundamento: direto ao respeito à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III CF). Os direitos da personalidade, no âmbito das relações entre os particulares (assim como os direitos fundamentais, no âmbito das relações entre o particular e o Estado) correspondem à primeira linha de defesa do direito ao respeito à dignidade humana – o mais importante direito da esfera jurídica individual de cada pessoa.
1.3. Direito geral de personalidade (corresponde ao direito ao respeito à dignidade da pessoa humana) vs. direitos da personalidade (são emanações do direito geral de personalidade, compondo um rol aberto).
1.4. Características dos direitos da personalidade:
a) Absolutismo ou caráter absoluto (oponibilidade erga omnes). As relações jurídicas de direito da personalidade apresentam sujeito passivo universal (os direitos da personalidade são oponíveis erga omnes, isto é, se voltam contra todos: todos os demais sujeitos têm que respeitar o direito da personalidade.
b) Intransmissibilidade (ou inalienabilidade, ou ainda indisponibilidade)
c) Irrenunciabilidade.
d) Impossibilidade de limitação voluntária (permanente e geral).
e) Imprescritibilidade.
f) Impenhorabilidade.
g) Impossibilidade de desapropriação.
h) Vitaliciedade.
i) Numerus apertus ou não taxatividade.
j) Extrapatrimonialidade.
1.5. Rol de direitos da personalidade previstos pelo Código Civil, ou reconhecidos pela doutrina e pela jurisprudência, ou em processo de reconhecimento:
1.5.1. Previstos no CC:
1.5.1.1. direito à integridade física (ou direito meramente limitado a atos de disposição
sobre o próprio corpo): arts. 13 e 14 CC.
1.5.1.2. direito à não submissão a tratamento médico de risco (art. 15 CC).
1.5.1.3. direito ao nome (arts.16 a 18 CC) e ao pseudônimo (art. 19 CC).
1.5.1.4. direito à palavra (art. 20).
1.5.1.5. direito à imagem (art. 20).
1.5.1.6. direito à honra (art. 20).
1.5.1.7. direito à vida privada (abrangendo direito à proteção da intimidade): art. 21 CC.
1.5.2. Não previstos no CC:
1.5.2.1. direito ao esquecimento (cuja presença no ordenamento jurídico brasileiro foi recentemente negada pelo STF, mas vislumbra-se a possibilidade de rediscussão no futuro*)
1.5.2.2. direito à memória e/ou direito à verdade (será um direito da personalidade?
Ou um direito fundamental, apenas?)
1.5.2.3. direito à identidade pessoal, direito à identidade (de gênero, pessoal etc.). REsp n.º 1063304, por exemplo.
1.5.2.4. direito à saúde, como direito à liberdade sexual.
1.5.2.5. direito à identidade genética (que não implica que se reconheça, exatamente,
uma relação de paternidade).
1.5.2.6. direito à autodeterminação informacional e à proteção dos dados pessoais**
** Em decisão proferida em 07.05.2020, o Supremo Tribunal Federal, em votação quase unânime (10 votos a 1), referendou a medida cautelar deferida pela Ministra Rosa Weber no âmbito de cinco Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Acórdão Publicado - Referendo na Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade 6.387 - Distrito Federal). Nesse julgado, o STF reconheceu a existência no sistema jurídico brasileiro de um direito fundamental autônomo à proteção de dados pessoais e um direito fundamental implícito à autodeterminação informativa ou informacional, espinha dorsal da Lei Geral de Proteção de Dados.
* Leiam a entrevista da Professora Karina Fritz sobre o tema em: https://www.migalhas.com.br/quentes/340757/direito-ao-
esquecimento-esta-implicito-na-cf-diz-especialista
2. Direito à privacidade
2.1. Sede legal: art. 21 CC (previsão expressa do direito à vida privada como direito da personalidade);
art. 5º, X CF (previsão expressa dos direitos fundamentais à intimidade e à vida privada.
2.2. Privacidade, intimidade e vida privada. Para alguns autores, são termos sinônimos. Contudo, entendemos que a melhor doutrina é a que adota a seguinte sistematização (cf. MARCELO MARINELI, Privacidade e Redes Sociais Virtuais):
(i) direito à privacidade (gênero): direito da personalidade atribuído a toda pessoa de manter certos momentos, aspectos, informações e dados relacionados à própria vida ao abrigo deinvasões e divulgações não autorizadas. É sustentável que a pessoa jurídica também seja titular desse direito. Abrange duas espécies (dois círculos concêntricos ligados à privacidade):
(i.1.) direito à vida privada: é a esfera de maior amplitude. Diz respeito ao indivíduo em face de seus parentes, amigos, e pessoas próximas, como colegas de trabalho e relações comerciais. É o direito à privacidade inserido em um contexto de convivência social (exemplos: e-mails, fatos ocorridos na residência, viagens, momentos de lazer, hábitos consumistas, estilo de vida etc.)
(i.2.) direito à intimidade: é o círculo de amplitude mais reduzida. Diz respeito ao indivíduo consigo mesmo, apenas. Está ausente o elemento da convivência social. Exemplos: diário; dores e traumas que a pessoa mantém reservadas para si; paixões secretas; preferências sexuais íntimas; a inviolabilidade da nudez. São dados que permanecem inacessíveis a conhecidos e amigos (e às vezes até mesmo a familiares). Abrange, para alguns, intimidade pessoal e intimidade do casal.
* Essa distinção foi agasalhada no voto do Min. Ayres Brito no julgamento pelo STF da ADIn n. 4.277 (j.
em 05.05.2011) – reconhecimento das uniões homoafetivas.
2.3. Enunciados das Jornadas de Direito Civil:
Enunciado n. 404:
“404 - Art. 21. A tutela da privacidade da pessoa humana compreende os controles espacial, contextual e temporal dos próprios dados, sendo necessário seu expresso consentimento para tratamento de informações que versem especialmente o estado de saúde, a condição sexual, a origem racial ou étnica, as convicções religiosas, filosóficas e políticas.”
Enunciado n. 405:
“405 - Art. 21. As informações genéticas são parte da vida privada e não podem ser utilizadas para fins diversos daqueles que motivaram seu armazenamento, registro ou uso, salvo com autorização do titular.”
2.4. Casos famosos envolvendo direito à privacidade no Brasil fora do ambiente da internet:
2.4.1. Caso Chico Buarque e Celina Sjostedt (2005). Fotografias tiradas por um paparazzo e publicadas em revistas de celebridades. Questão central do caso, que não chegou a ser judicializado, foi a autoexposição de pessoa pública. Na França, apenas a título de comparação, só se negocia a foto de quem autoriza a publicação por escrito.
Chico Buarque defendeu que teve a privacidade violada ao ser fotografado em uma praia no Rio de Janeiro aos beijos com Celina Sjostedt, esposa do dono de um estúdio de música frequentado pelo artista. A fotografia estampou a capa de duas revistas em 2005. Dias após o episódio, Celina publicou uma nota dizendo que, apesar de ser casada, tem uma vida independente do marido, mas que não era namorada do cantor.
2.4.2. Casos de revista íntima no ambiente de trabalho (vedação – inclusive no art. 373 CLT).
2.4.3. ADIn n.º 4815 (julgada pelo STF em 10.06.2015; acórdão publicado em 01.02.2016), conhecida como “ADIn das biografias”.
Decisão Final:
O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para dar interpretação conforme à Constituição aos artigos 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto, para, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação artística, produção científica, declarar inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas).
2.4.4. Caso Marisa Letícia e divulgação de dados médicos e exames.
2.5. O direito à privacidade é, em última análise, um direito de exclusão: o direito de decidir se e até que ponto/momento eu posso ter uma informação pessoal divulgada.
2.6. Cabe tanto tutela preventiva (ação inibitória) quanto tutela repressiva
(ação condenatória em obrigação de fazer, não fazer e indenizatória).
2.7. Mas, em face deste direito, como fica o “direito de expressão” previsto constitucionalmente? Como ficam a liberdade de expressão (art. 5º, IX CF) e a liberdade de imprensa (art. 220 CF)? Como cotejar as duas normas? R: sempre haverá a necessidade de uma análise no caso concreto. Técnica da ponderação, de ALEXY.
2.8. Critérios que vem sendo utilizados na jurisprudência do STJ para a ponderação de direitos fundamentais (privacidade vs. liberdade de expressão/imprensa):
(i) se a informação tem ou não tem característica de interesse público.
(ii) se a pessoa é ou não é uma pessoa pública (pessoa pública tem sua esfera de vida privada, mas o tratamento é diferente, seria uma esfera naturalmente menor de privacidade).
(iii) se a pessoa se colocou ou não na situação de ter a sua vida privada
exposta (assumiu o risco). E.g.: mulher que faz topless em praia.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu em 2004 que uma mulher que fez topless em uma praia pública em Santa Catarina e teve uma foto publicada em um jornal não seria indenizada por danos morais. Ela alegou que se expôs apenas às pessoas da praia e não a um veículo de circulação nacional. Segundo o jornal, a cena foi publicada sem chamada sensacionalista ou uso irregular da foto e o fotógrafo tinha direito a fazer a imagem.
2.9. Casos envolvendo direito à privacidade no ambiente da internet no Brasil:
2.9.1. Caso Daniela Cicarelli e Renato Malzoni (2006). Foi o primeiro grande debate acerca da privacidade na internet no Brasil (2006).
A modelo Daniela Cicarrelli conseguiu em 2007 que um vídeo dela com o namorado em cenas íntimas em uma praia na Espanha fosse retirado do YouTube. A decisão foi tomada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (o Youtube havia sido retirado do ar por alguns dias por decisão do juiz de primeiro grau, causando revolta entre seus usuários). O caso gerou grande repercussão e chegou a veículos internacionais, como o jornal The New York Times. Apesar dos esforços em retirar as imagens do ar, muitos usuários do site relocaram as imagens na internet em diversos sites diferentes. Em 2015, o STJ determinou que fosse paga uma indenização pela empresa no valor de R$ 500 mil a Cicarelli (ela havia pedido R$ 94 milhões). Caso julgado antes do advento do Marco Civil da Internet.
2.9.2. Caso Carolina Dieckman – resultou na edição da Lei n. 12.737/2012, que introduziu
no CP o art. 154-A, prevendo o crime de invasão de dispositivo informático:
“Art. 154-A Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.”
Relações Privadas e Internet
Aula n. 11
(aula gravada e disponibilizada em 05.05.2021)
Marcel Edvar Simões
Procurador Federal
Mestre e Doutor em Direito Civil pela Faculdade de Direito da USP Professor de Direito Digital e Direito Civil
· E-mail: mam.simoes@uol.com.br
· Grupo no Telegram: Direito Digital c/ Prof Marcel Simões (acesse e ingresse pelo link: t.me/direitodigitalprofmarcel)
· Link para a pasta com material da disciplina no onedrive: https://unipead- my.sharepoint.com/:f:/g/personal/marcel_simoes_docente_unip_br/EtzMaFX6OUNNi1zwEMG1ZhEBnweZ99upl MM2K8XyYKwH6g
Importância do Direito da Tecnologia, do Direito Digital e do Direito da Proteção de
Dados na atualidade. Trata-se de microssistema jurídico.
No último dia 14/04/21, o Ministério da Educação aprovou uma resolução que altera as diretrizes curriculares nacionais da graduação em Direito, incluindo a obrigatoriedade das disciplinas de Direito Financeiro e Direito Digital nos cursos de graduação.
FUNDAMENTOS DA LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
(LEI N. 13.709/2018 – LGPD)
Parte 1: Fundamentos Fático-Sociais
1. Sociedade da Informação (SI). É o modelo sucessor da Sociedade Industrial
1.1. Pluralidade de expressões: sociedade de (ou da) informação,sociedade global de informação, era da informação, sociedade digital, sociedade de risco (expressão popularizada pelo sociólogo alemão Ulrich Beck – vivemos numa sociedade em que o risco, e risco anormal!, intenso, faz parte e é elemento central da rotina de todos nós... Chernobyl, Bug do Milênio, Aquecimento Global, Pandemia, vírus de computador e malwares que podem derrubar sistemas vitais da vida em sociedade), sociedade de massa, sociedade globalizada, sociedade em rede (expressão do sociólogo espanhol Manuel Castells), sociedade pós-moderna, sociedade pós industrial, sociedade do espetáculo, modernidade líquida (expressão do sociólogo polonês Zygmunt Bauman)... aspectos diferentes, mas interligados, de uma mesma realidade.
1.2. Papel central do nascimento da internet para a configuração desse novo modelo de sociedade. A
internet é o instrumento da sociedade de informação.
1.3. Origem da expressão “sociedade da informação”:
(i) o precursor do conceito foi economista FRITZ MACHLUP, já em 1962, em estudo sobre o efeito das patentes na pesquisa, falando sobre uma indústria do conhecimento;
(ii) ALVIN TOFLER, escritor e futurista americano, já falava nos anos 1970 de uma era ou sociedade
da informação;
(iii) OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) utiliza a expressão pela primeira vez em 1975, ligada a uma economia da informação;
(iv) na Europa, a expressão “sociedade de informação” é cunhada em 1993 por JACQUES DELORS, então Presidente da Comissão da Comunidade Econômica Europeia, por ocasião do Conselho de Kopenhagen. Foco de Delors nas “estradas da informação” (criação de um sistema de infraestrutura de informações para o futuro da Europa)
· Ulrich Beck (1944-2015)
· Jacques Delors (1925 - )
1.4. Base da sociedade da informação: informação como meio de criação do conhecimento. Ligação com uma economia da informação, ou economia do conhecimento. A informação em si como um “bem de consumo sem rival” (na medida em que pode ser usado por uma multiplicidade de pessoas, ao contrário do que ocorre com os bens corpóreos). E notem: há 40 anos atrás, a informação era um bem muito mais caro (jornal impresso, etc.).
1.5. Conceito de sociedade da informação: novo paradigma de sociedade, no qual a energia é progressivamente substituída pela informação, como fonte primeira do progresso social, tendo como produto essencial a prestação de serviços novos. Baseia- se no uso ótimo das novas tecnologias da informação e da comunicação, com o respeito aos princípios democráticos, da igualdade e da solidariedade, visando o reforço da economia e da prestação de serviços públicos e, ao final, a melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.
A informação (inclusive os dados pessoais!) passa a ser o bem mais importante.
A manchete da capa da revista The Economist de 06 de maio de 2017 (“The World’s most valuable resource”) apontou categoricamente que os dados pessoais são o principal recurso da nossa época.
E é por isso que temos uma lei voltada à proteção de dados pessoais (LGPD), a
qual está tão “na moda” na atualidade
2. Características da sociedade da informação:
2.1. Tendência de queda dos custos relativos e disponibilidade universal da
informação;
2.2. Introdução do tempo real na informação e na sociedade (reconfiguração de noções de tempo e espaço na transmissão de informações, “ao vivo”, e na noção de pertencimento – aldeia global).
Depois, veio ainda a introdução da noção de tempo virtual ou digital (ainda mais rápido do que o tempo real: várias ações devendo ser realizadas simultaneamente, ultrapassando a barreira do tempo real... e isso repercute também sobre o jurídico, a atividade jurídica. “Se a fórmula jurídica estiver errada, em uma peça por exemplo, mesmo que se possa corrigi-la, o custo do tempo pode ser fatal”).
Tempo digital é implacável, exigente.
2.3. Novos riscos para as pessoas e a vida em sociedade: crimes cibernéticos, novas violações ao direito geral da personalidade (por exemplo, ao direito ao esquecimento na internet), ciberterrorismo etc.
Parte 2: Fundamentos Conceituais
*Alguns dispositivos conceituais fundamentais da Lei Geral de Proteção
de Dados (Lei n. 13.709/2018):
“Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
Parágrafo único. As normas gerais contidas nesta Lei são de interesse nacional e devem ser observadas pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)”
“Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se:
I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou
identificável;
II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural; há quem faça a distinção entre dado, informação e conhecimento.
(...)
X - tratamento: toda operação realizada com dados pessoais, como as que se referem a coleta, produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração; Cobre todo o ciclo do tratamento do dado, da sua coleta ou produção à sua eliminação.
“Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente poderá ser realizado nas seguintes
hipóteses:
I - mediante o fornecimento de consentimento pelo titular;
II - para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador;
III - pela administração pública, para o tratamento e uso compartilhado de dados necessários à execução de políticas públicas previstas em leis e regulamentos ou respaldadas em contratos, convênios ou instrumentos congêneres, observadas as disposições do Capítulo IV desta Lei; (Grande problema! Abertura! Poder para o Estado... “instrumentos congêneres”. Crítica do Prof. Marcos Perez no artigo “Invasão de Privacidade Chancelada por Lei”, publicado na Revista Piauí em 29/09).
IV - para a realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível,
a anonimização dos dados pessoais;
V - quando necessário para a execução de contrato ou de procedimentos preliminares
relacionados a contrato do qual seja parte o titular, a pedido do titular dos dados;
VI - para o exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral, esse último nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem);
VII - para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiro;
VIII - para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária; (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019)
IX - quando necessário para atender aos interesses legítimos do controlador ou de terceiro, exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais; ou (ENORME PROBLEMA: o que são interesses legítimos? O lucro é? Muitas controvérsias... Interesse justo? Muito aberto... Primeira pista dada pelo site da Comunidade Europeia: aquilo que não está previsto em lei como obrigação, nem em contrato, mas é necessário pela atividade do controlados... e.g., segurança dos dados do cliente. No âmbito dos considerandos do GDPR, temos que o Considerando 47 apresenta alguns exemplos mais claros e delimitados de legítimo interesse, como aqueles concernentes ao marketing direto (comercialização direta) e à prevenção de fraudes.)
X - para a proteção do crédito, inclusive quanto ao disposto na legislação pertinente.”
* Outro conceito fundamental: algoritmo.
Algoritmoé, sobretudo, uma linguagem lógica. Corresponde a uma sequência lógica, finita e definida de ações executáveis ou regras que visam obter uma solução para um determinado tipo de problema. É, a rigor, uma receita, um conjunto de instruções, um passo a passo, relativo ao procedimento necessário para a resolução de uma tarefa. Tem a ver com o como fazer, e não com o que fazer. É um conceito antigo, que existe há séculos na matemática, valendo citar o o algoritmo de Euclides, que é datado de por volta de 300 a.C. (é um método simples e eficiente de encontrar o máximo divisor comum MDC entre dois números inteiros diferentes de zero)
Um algoritmo não se liga, necessariamente, a um programa de computador. A sua implementação pode ser feita por um computador, mas também até mesmo por um ser humano. Contudo, se trata de uma noção fundamental para a ciência da computação.
Ligação importante do conceito de algoritmo com a máquina de Turing, de Alan
Turing.
Uma marco na história da computação:
· 1943: ALAN TURING dirige o projeto Colussus, utilizando uma máquina ordenadora para decifrar as mensagens codificadas dos alemães na 2ª Guerra Mundial (decifrar o código Enigma). Peculiaridade de TURING: partir do tipo de problemas que a máquina poderia resolver, seguindo regras lógicas.
· Filme: O Jogo da Imitação (2014)
Parte 3: Fundamento no Direito Comparado
* A nossa LGPD tem forte inspiração no Regulamento (UE) 2016/679, mais conhecido como Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) ou General Data Protection Regulation (GDPR), da União Europeia.
· Trata-se de regulamento sobre a privacidade e a proteção de dados pessoais, aplicável a todos os indivíduos na União Europeia e Espaço Econômico Europeu, disciplinando também a exportação de dados pessoais para fora da União Europeia. É aplicável a todas as empresas que operem no Espaço Econômico Europeu, independentemente do seu país de origem.
· Diversos conceitos-chave da LGPD encontram sua chave hermenêutica no GDPR, a
exemplo do conceito de legítimo interesse.
ESTRUTURA DA LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
(LEI N. 13.709/2018 – LGPD)
· Norma fundamental da LGPD:
· A privacidade e o sigilo dos dados pessoais são a regra geral; as hipóteses de tratamento são a exceção.
· Estrutura básica da lei dada pela sua divisão em dez capítulos:
· Capítulo I – Disposições Preliminares (arts. 1º a 6º). Normas conceituais
· Capítulo II – Do Tratamento de Dados Pessoais (art. 7º a 15). Requisitos e hipóteses de tratamento; tratamento de dados pessoais sensíveis; tratamento de dados pessoais de crianças e adolescentes; término do tratamento de dados;
· Capítulo III – Dos Direitos do Titular (arts. 17 a 22).
· Capítulo IV – Do Tratamento de Dados Pessoais pelo Poder Público (arts. 23 a 32).
· Capítulo V – Da Transferência Internacional de Dados (arts. 33 a 36).
· Capítulo VI – Dos Agentes de Tratamento de Dados Pessoais (arts. 37 a 45). O controlador e o operador de dados pessoais; o encarregado pelo tratamento dos dados (pessoa natural, profissional especializado); responsabilidade e ressarcimento dos danos (entendemos que se trata de responsabilidade objetiva pelo risco da atividade, com as excludentes do art. 43, e com previsão de solidariedade entre controlador e operador em casos específicos, de acordo com o nexo com a conduta de cada um).
· Capítulo VII – Da Segurança e do Sigilo de Dados (arts. 46 a 51). Boas práticas e
governança.
· Capítulo VIII – Da Fiscalização (arts. 52 a 54). Seção I (e única, na verdade – má técnica
legislativa): sanções administrativas. Não está em vigor ainda!
· Capítulo IX – Da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e do Conselho Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade (arts. 55 a 59).
· Capítulo X – Disposições Finais e Transitórias (arts. 60 a 65). Inclusive disposições relativas à
sua complexa entrada em vigor – art. 65
Seção II
Do Tratamento de Dados Pessoais Sensíveis
Art. 11. O tratamento de dados pessoais sensíveis somente poderá ocorrer nas
seguintes hipóteses:
I - Quando o titular ou seu responsável legal consentir, de forma específica e destacada,
para finalidades específicas;
II - Sem fornecimento de consentimento do titular, nas hipóteses em que for
indispensável para:
a) cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador;
b) tratamento compartilhado de dados necessários à execução, pela administração
pública, de políticas públicas previstas em leis ou regulamentos;
c) realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a
anonimização dos dados pessoais sensíveis;
d) exercício regular de direitos, inclusive em contrato e em processo judicial, administrativo e arbitral, este último nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem);
e) proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiro;
f) tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária; ou (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência
g) garantia da prevenção à fraude e à segurança do titular, nos processos de identificação e autenticação de cadastro em sistemas eletrônicos, resguardados os direitos mencionados no art. 9º desta Lei e exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais.
CAPÍTULO III
DOS DIREITOS DO TITULAR
Art. 17. Toda pessoa natural tem assegurada a titularidade de seus dados pessoais e garantidos os direitos fundamentais de liberdade, de intimidade e de privacidade, nos termos desta Lei.
Art. 18. O titular dos dados pessoais tem direito a obter do controlador, em relação aos
dados do titular por ele tratados, a qualquer momento e mediante requisição:
I - Confirmação da existência de tratamento;
II - Acesso aos dados;
III - Correção de dados incompletos, inexatos ou desatualizados;
IV - Anonimização, bloqueio ou eliminação de dados desnecessários, excessivos ou tratados em desconformidade com o disposto nesta Lei;
V - Portabilidade dos dados a outro fornecedor de serviço ou produto, mediante requisição expressa e observados os segredos comercial e industrial, de acordo com a regulamentação do órgão controlador;
V - portabilidade dos dados a outro fornecedor de serviço ou produto, mediante requisição expressa, de acordo com a regulamentação da autoridade nacional, observados os segredos comercial e industrial;	(Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019)	Vigência
VI - Eliminação dos dados pessoais tratados com o consentimento do titular, exceto nas
hipóteses previstas no art. 16 desta Lei;
VII - Informação das entidades públicas e privadas com as quais o controlador realizou
uso compartilhado de dados;
VIII - Informação sobre a possibilidade de não fornecer consentimento e sobre as
consequências da negativa;
IX - Revogação do consentimento, nos termos do § 5º do art. 8º desta Lei.
Seção III
Da Responsabilidade e do Ressarcimento de Danos
Art. 42. O controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade de tratamento de dados pessoais, causar a outrem dano patrimonial, moral, individual ou coletivo, em violação à legislação de proteção de dados pessoais, é obrigado a repará-lo.
§ 1º A fim de assegurar a efetiva indenização ao titular dos dados:
I - O operador responde solidariamente pelos danos causados pelo tratamento quando descumprir as obrigações da legislação de proteção de dados ou quando não tiver seguido as instruções lícitas do controlador, hipótese em que o operador se equipara ao controlador, salvo nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta Lei;
II - Os controladores que estiverem diretamente envolvidos no tratamento do qual decorreram danos ao titular dos dados respondem solidariamente, salvo nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta Lei.
§ 2º O juiz, no processo civil, poderá inverter o ônus da prova a favor do titular dos dados quando, a seu juízo, for verossímil a alegação, houver hipossuficiência para fins de produção de provaou quando a produção de prova pelo titular resultar-lhe excessivamente onerosa.
§ 3º As ações de reparação por danos coletivos que tenham por objeto a responsabilização nos termos do caput deste artigo podem ser exercidas coletivamente em juízo, observado o disposto na legislação pertinente.
§ 4º Aquele que reparar o dano ao titular tem direito de regresso contra os demais responsáveis, na medida de sua participação no evento danoso.
Art. 43. Os agentes de tratamento só não serão responsabilizados quando provarem:
I - Que não realizaram o tratamento de dados pessoais que lhes é atribuído;
II - Que, embora tenham realizado o tratamento de dados pessoais que lhes é
atribuído, não houve violação à legislação de proteção de dados; ou
III - Que o dano é decorrente de culpa exclusiva do titular dos dados ou de
terceiro.
Seção I
Das Sanções Administrativas
Art. 52. Os agentes de tratamento de dados, em razão das infrações cometidas às normas previstas nesta Lei, ficam sujeitos às seguintes sanções administrativas aplicáveis pela autoridade nacional: (Vigência)
I - Advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas;
II - Multa simples, de até 2% (dois por cento) do faturamento da pessoa jurídica de direito privado, grupo ou conglomerado no Brasil no seu último exercício, excluídos os tributos, limitada, no total, a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) por infração;
III - Multa diária, observado o limite total a que se refere o inciso II;
IV - Publicização da infração após devidamente apurada e confirmada a sua ocorrência;
V - Bloqueio dos dados pessoais a que se refere a infração até a sua regularização;
VI - Eliminação dos dados pessoais a que se refere a infração;
VII - (VETADO);
VIII - (VETADO);
IX - (VETADO).
X - (VETADO);	(Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)	(Promulgação partes vetadas)
XI - (VETADO);	(Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)	(Promulgação partes
vetadas)
XII - (VETADO).	(Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)	(Promulgação partes
vetadas)
X - suspensão parcial do funcionamento do banco de dados a que se refere a infração pelo período máximo de 6 (seis) meses, prorrogável por igual período, até a regularização da atividade de tratamento pelo controlador; (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
XI - suspensão do exercício da atividade de tratamento dos dados pessoais a que se refere a infração pelo período máximo de 6 (seis) meses, prorrogável por igual período; (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
XII - Proibição parcial ou total do exercício de atividades relacionadas a tratamento de
dados. (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
Art. 65. Esta Lei entra em vigor:	(Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019)
I - Dia 28 de dezembro de 2018, quanto aos arts. 55-A, 55-B, 55-C, 55-D, 55-E, 55-F, 55- G, 55-H, 55-I, 55-J, 55-K, 55-L, 58-A e 58-B; e	(Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
I-A – dia 1º de agosto de 2021, quanto aos arts. 52, 53 e 54;	(Incluído pela Lei nº
14.010, de 2020)
II - 24 (vinte e quatro) meses após a data de sua publicação, quanto aos demais
artigos.	(Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
II - em 3 de maio de 2021, quanto aos demais artigos.	(Redação dada pela Medida
Provisória nº 959, de 2020)	(Convertida na Lei nº 14.058, de 2020)
II - 24 (vinte e quatro) meses após a data de sua publicação, quanto aos demais
artigos.	(Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
Muito obrigado pela atenção! Até a próxima!
Contato:
· E-mail: mam.simoes@uol.com.br
· Grupo no Telegram: Direito Digital c/ Prof Marcel Simões (acesse e ingresse pelo link: t.me/direitodigitalprofmarcel)
Aula 1
→ Slide 2
2.10. Do direito à privacidade ao direito à proteção de dados pessoais.
Acesse essa matéria, relativa ao conteúdo da aula n. 10 do curso, assistindo ao vídeo disponível em https://youtu.be/Wb-_8YFmqkg (de 23min até 1h46min do vídeo).
→ Slide 3
2.11. Tipos de ameaça e violação ao direito à privacidade na internet (em especial nas redes sociais virtuais):
2.11.1. Exposição de fatos, imagens e áudios.
2.11.2. Exposição do término de relacionamentos e relações extraconjugais.
2.11.3. Exposição de brigas e desentendimentos sociais.
2.11.4. Cobrança de dívidas.
2.11.5. Exposição de enfermidades.
2.11.6. Exposição de vídeos ou imagens íntimas (cenas de nudez ou atos sexuais). Nudes.
2.11.7. Revenge Porn. Cf. art. 21 do Marco Civil da Internet: as redes sociais são obrigadas a retirar qualquer material contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, imediatamente após o recebimento da notificação da vítima, sob pena de responder subsidiariamente com o autor da revenge porn.
2.11.8. Cyberbullyng. Comportamentos de intimidação na internet. (Há projeto de lei para combater).
2.11.9. Cyberstalking.
2.11.10. Data mining e o usuário como produto. Caso de 2018 envolvendo o uso de informações sobre os usuários do facebook com relação à eleição do Presidente Trump (“venda de dados”).
2.11.11. Geolocalização.
2.11.12. Perfis falsos em redes sociais.
2.11.13. Invasão de perfis.
→ Slide 4
2.12. Disciplina do marco civil da internet (Lei n. 12.965/2014):
“Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros.” Não há o dever de controle prévio de conteúdo pelo provedor de acesso ou conexão! Exemplos de provedores de conexão: NET/Claro; Vivo.
“Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.”
§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do material.
§ 2º A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar a liberdade de expressão e demais garantias previstas no art. 5º da Constituição Federal.
§ 3º As causas que versem sobre ressarcimento por danos decorrentes de conteúdos disponibilizados na internet relacionados à honra, à reputação ou a direitos de personalidade, bem como sobre a indisponibilização desses conteúdos por provedores de aplicações de internet, poderão ser apresentadas perante os juizados especiais.
§ 4º O juiz, inclusive no procedimento previsto no § 3º , poderá antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, existindo prova inequívoca do fato e considerado o interesse da coletividade na disponibilização do conteúdo na internet, desde que presentes os requisitos de verossimilhança da alegação do autor e de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.” Obs.: provedor de aplicações – exemplo: Portal O Globo. Engloba o provedor de correio eletrônico, o provedor de hospedagem e o provedor de conteúdo. O STJ inclusive vinha entendendo a sua responsabilidade como subjetiva, antes do advento do Marco Civil...
→ Slide 5
“Art. 20. Sempre que tiver informações de contato do usuário diretamente responsável pelo conteúdo a que se refere o art. 19, caberá ao provedor de aplicações de internet comunicar-lhe os motivos e informações relativos à indisponibilização de conteúdo, com informações que permitam o contraditório e a ampla defesa em juízo, salvo expressa previsão legal ou expressa determinação judicial fundamentada em contrário.
Parágrafo único. Quando solicitado pelo usuário que disponibilizou o conteúdo tornado indisponível, o provedor de aplicações de internet que exerce essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos substituirá o conteúdo tornado indisponível pela motivação ou pela ordem judicial que deu fundamento à indisponibilização.”

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