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Desafio – Procedimentos de conciliação e de mediação nos serviços notariais e de registro Gian acaba de se divorciar de Ruth. Ambos têm um filho em comum, o menor de idade Douglas. Gostariam de transigir a respeito do pagamento da pensão alimentícia devida pelo pai ao garoto (detalhes como data, forma de pagamento, dentre outros), e, de preferência, que isso fosse feito da forma menos burocrática possível. Gian o procura em seu escritório de advocacia para que você o oriente quanto a algumas questões: 1) É possível transigir em relação aos alimentos, uma vez que, em se tratando de menores de idade, trata-se de um direito indisponível? Resp. Nos termos do § 1º, do art. 1.694 do Código Civil, na fixação de alimentos deve ser considerado o binômio necessidade-possibilidade, a fim de que o Alimentando receba o necessário para garantir a própria subsistência e o Alimentante não seja obrigado a arcar com prestações superiores às suas forças contributiva. Deve-se esclarecer ainda que, o Ministério Público participa dos processos da área da família sempre que houver envolvimento de crianças e adolescentes ou adultos civilmente incapazes. Deve-se ainda demonstrar a natureza da obrigação alimentar, a qual preexiste ao pedido de pagamento de pensão alimentícia, e que deve ser suportada pelas partes desde a concepção do menor. 2) É possível fazê-lo por meio de conciliação ou mediação nos serviços notariais e de registro? Há alguma exigência? Resp. Não Nos termos da Seção III, do Objeto, artigo.12 e respectivos parágrafos, Provimento 67 CNJ de 2018 é possível transigir sobre direitos indisponíveis que admitam transação, via conciliação ou mediação extrajudicial, desde que respeitados todos procedimentos e ao final sejam encaminhados ao juízo competente o termo de conciliação ou de mediação e os documentos que instruíram o procedimento e, posteriormente, em caso de homologação, entregará o termo homologado diretamente às partes. Considerando que, em uma transação sobre o direito a alimentos, a negociação num processo auto compositivo acerca do quantum, pode trazer mais efetividade na concretização desse direito, uma vez que a solução para o conflito foi construída pelas partes, com o seu consentimento, dentro de suas reais possibilidades, a mediação extrajudicial aplicada no caso em tela implicaria na quebra de Princípios norteadores dos atos da Mediação. Ou seja, o Princípio da Confidencialidade. Portanto não cabe Mediação extrajudicial em casos de prestação de serviços de alimentos vez que o Estado, no intuito de preservar relações familiares e de proteger crianças, adolescentes e idosos, dentro dos termos do artigo 155, II, CPC. Assim, entendeu-se necessário submeter à apreciação do Poder Judiciário, a resolução de conflitos que envolvam os referidos temas. Dessa forma, não se mostra viável, na atual conjuntura legislativa, a realização de conciliação ou mediação no âmbito dos serviços notariais e de registro que tenham por objeto matérias que por determinação legal dependam de chancela judicial, salvo se houver alteração legislativa. 3) Sendo possível, qual é a providência a ser tomada pelo cartório? Resp. Infelizmente os serviços notarias para serem aplicados em demandas extrajudiciais devem seguir o que se pede na Seção I, Regras Gerais, artigos 1º ao 9º do Provimento 67 CNJ de 2018. O que implica em altos custos a depender do limite territorial aonde será aplicado tal medida de mediação ou conciliação extrajudicial. Implica ainda na interferência do andamento diário das dependências notariais vez que os cartórios devem arcar com despesas de cursos de formação para seus escreventes, bem como deixa certo ar de confusão quando os tabeliães, os quais são profissionais dotados de fé pública, poderiam atuar nessas demandas sem ferir os princípios norteadores da mediação previstos no artigo 2º, Lei 13.140 de 2015. Estes, os tabeliães, DEVEM informar ao Poder Judiciário todos os procedimentos ocorridos durante a mediação extrajudicial em livros específicos sobre os atos praticados.