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Justiça e Sociedade_ Impactos humanos CRÉDITO DIGITAL

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DESCRIÇÃO
Construção da ciência jurídica como um campo de conhecimento relacionado ao homem e à
busca de sua proteção.
PROPÓSITO
Fundamentar os conceitos básicos de justiça relacionados às Ciências Sociais na construção
de debates que percebam o impacto do direito nas relações humanas.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer o papel do constitucionalismo e suas relações históricas como conquistas sociais
do mundo contemporâneo
MÓDULO 2
Conceituar o processo de judicialização e conquistas relacionados à luta pelos direitos
humanos
MÓDULO 3
Identificar o papel da justiça na promoção da defesa de minorias vulnerabilizadas
INTRODUÇÃO
Este conteúdo visa relacionar a justiça, como conceito fundamental nas Ciências Jurídicas, ao
ambiente dos debates das Ciências Políticas e dos Direitos Humanos.
Vamos apresentar três momentos-chaves: o conceito, a origem (ou as origens) e os limites do
tema Poder Constituinte para a compreensão da legitimidade democrática e de seu resultado,
que é a Constituição. Em seguida, vamos melhor laborar a relação entre Estado e Direito por
meio do debate travado entre Kelsen e Schmitt no início da década de 1930 sobre quem é o
guardião da constituição. Também estudaremos o famoso caso Marbury vs Madison e o
surgimento do controle judicial das decisões (judicial review ).
Trabalharemos conceitos como: direitos humanos, dignidade humana, soberania popular e a
atuação dos chamados “grupos de pressão” e advocacy e a relação entre esses temas
quando houver.
Por fim, veremos outros conceitos como minorias vulnerabilizadas, o tratamento constitucional
dos povos indígenas, as relações étnico-raciais e a cultura afro-brasileira e, também, o racismo
estrutural, e igualmente a relação entre esses assuntos quando houver.
MÓDULO 1
 Reconhecer o papel do constitucionalismo e suas relações históricas como
conquistas sociais do mundo contemporâneo
INTRODUÇÃO AO CONSTITUCIONALISMO
Os temas Poder Constituinte, o debate Kelsen-Schmitt e o do judicial review estão ineridos no
módulo “constitucionalismo” e serão estudados para que possamos compreender melhor as
bases políticas do surgimento da supremacia constitucional e as críticas que vêm sendo feitas
à chamada “expansão do judiciário”.
Imagem: Isidore-Stanislaus Helman e Charles Monnet / Wikimedia Commons, Domínio público
 A reunião dos Estados Gerais em 5 de maio de 1789 na Salle des Menus Plaisirs no
Palácio de Versalhes. Pintura de Isidore-Stanislaus Helman e Charles Monnet, Biblioteca
Nacional da França.
É função do constitucionalismo traçar os princípios ideológicos que serão a base de toda a
organização interna da Constituição de um Estado; e o estudo dos temas propostos será de
fundamental importância para compreender o processo de publicização do Direito que resultou
na atual centralidade da Constituição.
Além disso, você verá que o debate Kelsen-Schmitt, tem se mostrado fundamental na
atualidade porque recoloca, como questão central da teoria e da prática constitucional, a
relação entre direito e política, entre direito e democracia. Da mesma forma, o estudo do
chamado judicial review , cujas origens remontam ao célebre caso Marbury vs Madison, será
muito importante para discutir separação de poderes, representatividade, o papel do
STF (Supremo Tribunal Federal) e diferenciar judicialização da política de ativismo judicial.
PODER CONSTITUINTE
A Teoria do Poder Constituinte surge mais recentemente, no século XVIII, com a publicação do
livro do abade de Sieyès (Emmanuel Joseph Sieyès (1748-1836)) : O que é o Terceiro
Estado? , publicado às vésperas da Revolução Francesa, no qual Sieyès abordou tese
inovadora que rompia com a legitimação divina e incontestável do poder.
Poder constituinte é aquele que cria a Constituição, enquanto os poderes constituídos são os
estabelecidos por ela, ou seja, aqueles que resultam de sua criação. As questões primordiais
são: titularidade, legitimidade, seus limites e sua natureza.
A titularidade do poder constituinte, que é a capacidade de fazer e determinar que se observe
uma Constituição, precisa ser legitimada para que tenha tal poder de fato. A discussão sobre a
titularidade e legitimidade está em definir quem detém soberania. Historicamente, diversos
“soberanos” foram os detentores desse poder (monarca, ditadores, nação, povo etc.)
QUANDO O POVO É O TITULAR DO PODER
CONSTITUINTE, SEU EXERCÍCIO É
CONSIDERADO DEMOCRÁTICO.
Muitas vezes, a Constituição é criada por ditadores ou grupos que conquistam o poder por
meio da força. Mas, historicamente, a teoria de que o poder constituinte é titularizado pelo povo
tornou-se vitoriosa — a chamada soberania popular. Assim, a Constituição é o resultado do
exercício dessa soberania e considerada, portanto, a lei suprema; e os poderes do Estado são
os denominados poderes constituídos, fazendo com que a soberania popular se converta em
supremacia da Constituição.
Foto: Rafapress/ Shutterstock.com
Com relação à natureza, existe diferença entre as perspectivas jusnaturalistas e as do
positivismo jurídico. Para a primeira, a natureza do poder constituinte é de um poder de direito
fundado em um direito natural, não no ordenamento vigente, e teve origem junto à teoria
desenvolvida pelo abade de Sieyés. Para o positivismo jurídico, não se reconhece um direito
preexistente ao Estado, sendo o poder constituinte um fato pré-jurídico, externo ao Direito.
O poder constituinte pode ser de dois tipos: originário ou derivado.
Poder constituinte originário é o poder de criar uma nova Constituição. Apresenta seis
características que o distinguem do derivado:
Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.
POLÍTICO
INICIAL
INCONDICIONADO
PERMANENTE
ILIMITADO JURIDICAMENTE
AUTÔNOMO
POLÍTICO
É um poder de fato (e não um poder de direito) para a doutrina dominante (paradigma do
positivismo jurídico). Ele é, portanto, anterior ao direito e cria o ordenamento jurídico de um
Estado.
INICIAL
Dá início a uma nova ordem jurídica, rompendo com a anterior. A manifestação do Poder
Constituinte tem o efeito de criar um Estado.
INCONDICIONADO
Não se sujeita a qualquer forma ou procedimento predeterminado para sua manifestação.
PERMANENTE
Pode se manifestar a qualquer tempo. Ele não se esgota com a elaboração de uma nova
Constituição.
ILIMITADO JURIDICAMENTE
Não se submete a limites determinados pelo direito anterior. Pode mudar completamente a
estrutura do Estado ou os direitos dos cidadãos, por exemplo, sem ter sua validade contestada
com base no ordenamento jurídico anterior. Por esse motivo, o STF entende que não há
possibilidade de se invocar direito adquirido contra normas constitucionais originárias. A
doutrina se divide quanto a essa característica do Poder Constituinte.
Os positivistas entendem que, de fato, o poder constituinte originário é ilimitado juridicamente;
já os jusnaturalistas dizem que ele encontra limites no direito natural, ou seja, em valores
suprapositivos.
No Brasil, a doutrina majoritária adota a corrente positivista, reconhecendo que o poder
constituinte originário é ilimitado juridicamente. Embora os positivistas defendam que o Poder
Constituinte Originário é ilimitado, é importante que todos reconheçamos, como afirma
Canotilho (2003), que ele deverá obedecer a “padrões e modelos de conduta espirituais,
culturais, éticos e sociais radicados na consciência jurídica geral da comunidade”, ou seja, a
observância de critérios de justiça, bem como os direitos humanos deve pautar a elaboração
de uma nova Constituição.
AUTÔNOMO
Tem liberdade para definir o conteúdo da nova Constituição. Muitos autores tratam essa
característica como sinônimo de ilimitado.
Vamos abordar agora uma segunda forma de Poder Constituinte: o Derivado.
O Poder Constituinte Derivado é o poder de modificar a Constituição Federal bem como de
elaborar as Constituições Estaduais, estando previsto na própria Constituição. Tem como
características ser:
Clique nas informaçõesa seguir. Clique nas informações a seguir.
JURÍDICO
DERIVADO
LIMITADO OU SUBORDINADO
CONDICIONADO
JURÍDICO
É regulado pela Constituição, estando, portanto, previsto no ordenamento jurídico vigente.
DERIVADO
É fruto do poder constituinte originário.
LIMITADO OU SUBORDINADO
A forma de seu exercício é determinada pela Constituição. Assim, a aprovação de emendas
constitucionais, por exemplo, deve obedecer ao procedimento estabelecido no artigo 60 da
Constituição Federal (CF/88).
CONDICIONADO
A forma de seu exercício é determinada pela Constituição. Assim, a aprovação de emendas
constitucionais, por exemplo, deve obedecer ao procedimento estabelecido no artigo 60 da
Constituição Federal (CF/88).
O Poder Constituinte Derivado subdivide-se em dois e ambos devem respeitar as limitações
e condições impostas pela Constituição Federal. Veja quais são:
PODER CONSTITUINTE REFORMADOR
Consiste no poder de modificar a Constituição.

PODER CONSTITUINTE DECORRENTE
É aquele que a CF/88 confere aos estados de se organizarem, por meio da elaboração de suas
próprias constituições.
GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO: DEBATE
ENTRE HANS KELSEN E CARL SCHMITT
Foto: Amazon
 Capa do livro Quem deve ser o guardião da Constituição? , Hans Kelsen, Editora
Mandamentos, 2008.
Foto: Amazon
 Capa do livro O Guardião Da Constituição, Carl Schmitt, Editora Del Rey, 2007.
O debate constitucional mantido entre Carl Schmitt (1888-1985) e Hans Kelsen (1881-1973)
sobre o guardião da Constituição é de extrema atualidade, uma vez que confronta direito e
política a partir das diferenças de visão da teoria jurídica de cada um deles.
Schmitt publicou, em 1931, a obra O guardião da Constituição em que formula uma crítica ao
Estado Constitucional e no qual busca resgatar a categoria do político em detrimento da
concepção que subordina o Estado ao direito. Logo na sequência da publicação de seu livro,
Schmitt obteve a reposta de Kelsen, em seu texto intitulado Quem deve ser o guardião da
Constituição? , publicado por Kelsen também em 1931 na revista berlinense Die Justiz .
Trabalharemos em torno deste debate e de sua atualidade.
 SAIBA MAIS
O debate travado entre Kelsen e Schmitt do início de século XX foi reacendido no Brasil
quando da Proposta de Emenda Constitucional n. 33 (PEC 33/2011), que visava modificar a
sistemática de controle de constitucionalidade ao propor que as decisões do STF fossem
submetidas ao controle do Parlamento (Congresso Nacional). As discussões em torno desta
proposta recolocaram, no centro do debate, a relação entre direito e política ou entre
constitucionalismo e democracia.
Igualmente, no debate Kelsen-Schmitt, que ofereceu a possibilidade de se estabelecer uma
reflexão mais profunda sobre política e direito, a PEC 33 também permitiu refletir melhor sobre
a relação entre os Poderes Constituídos.
Essa proposta de emenda à Constituição alterava a quantidade mínima de votos de membros
de tribunais para a declaração de inconstitucionalidade de leis, submetia o efeito vinculante de
súmulas aprovadas pelo STF à aprovação pelo Poder Legislativo e submetia ao congresso
Nacional a decisão sobre a inconstitucionalidade de emendas à Constituição.
Imagem: Shutterstock.com
Schmitt entendia que o perfil do guardião da Constituição estava em uma zona limítrofe entre a
política (fenômeno pré-jurídico) e o direito propriamente dito (direito posto). Kelsen, de modo
diverso, mostra-se favorável à instauração de um tribunal exclusivo para cuidar da guarda
constitucional visto que, na visão de Kelsen, transformar o chefe do Poder Executivo no único
defensor da Constituição implicaria uma violação à Constituição de Weimar, pois ignora a
possibilidade de violação da Constituição por parte do chefe de Estado ou de governo.
O debate entre Schmitt e Kelsen propõe a retomada de uma série de questões sobre uma
disputa de fundo que tem adquirido mais atualidade nas democracias em processo de
consolidação; qual seja, a discussão sobre o papel do Poder Judiciário e, em especial, no
que tange ao controle de constitucionalidade. A disputa entre a órbita política e a esfera jurídica
tem apresentado progressiva radicalização no mundo.
CASO MARBURY VS . MADISON
Imagem: Rembrandt Peale / Wikimedia Commons, Domínio público
 William Marbury
Imagem: Rembrandt Peale / Wikimedia Commons, Domínio público
 James Madison
O que sobressaiu neste debate foi a precedência, ou não, da política (poder) sobre o direito
(técnica), bem como a determinação da preeminência de um deles sobre o outro. No caso de
Schmitt, teve lugar a afirmação da política sobre o direito (governo dos homens) e, no caso de
Kelsen, do direito sobre a política (governo das leis). A PEC 33 também reforçou esse
entendimento de que a relação entre política e direito segue tensa e como isso se reflete na
interação entre os Poderes do Estado e especialmente na interpretação da Constituição.
JUDICIAL REVIEW
Judicial review (ou simplesmente controle judicial das leis) é o controle feito pelo Poder
Judiciário de atos do Poder Executivo e de leis promulgadas pelo Poder Legislativo. Esse
processo de judicialização da vida política e social é um fenômeno mundial que ganhou força
no Brasil especialmente em razão de a Constituição de 1988 ser extremamente ampla e tratar
de diversos temas, bem como de um sistema de controle de constitucionalidade abrangente.
Foto: Shutterstock.com
Este fenômeno não se confunde com ativismo judicial que, entre nós, é mais recente e se
manifesta de maneira pontual para atender a demandas sociais específicas não satisfeitas
pelos responsáveis pela implementação de políticas públicas. Trata-se do uso da interpretação
constitucional para suprir lacunas legislativas ou de políticas públicas voltadas para a
sociedade.
O precedente histórico famoso no estudo do judicial review e do controle de
constitucionalidade é o caso Marbury vs . Madison, do início do século XIX, mais
precisamente 1803. Trata-se de um lugar-comum, na teoria constitucional, o entendimento de
que esse caso teria fundado a prática do controle judicial da constitucionalidade das leis.
Mas vamos a um resumo do caso:
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ATIVISMO JUDICIAL
Apesar de ser um recurso importante, existe uma gama de juízes que o critica pelo
dificuldade em definir o limite desta ação no equilíbrio entre os poderes.

A CONTURBADA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 1800,
QUE DEIXA CLARA A DERROTA DOS FEDERALISTAS
AO MESMO TEMPO EM QUE DEMORAM OS
RESULTADOS DA ELEIÇÃO QUE ACABOU SENDO
DECIDA PELA CÂMARA DAS REPRESENTANTES,
DEIXA ESPAÇO PARA QUE ADAMS E OS
PERDEDORES TOMASSEM MEDIDAS PARA GARANTIR
INFLUÊNCIA FEDERALISTA NO ESTADO, SOBRETUDO
ATRAVÉS DA CRIAÇÃO DE CARGOS NO JUDICIÁRIO.
OS MIDNIGHT JUDGES , COMO SÃO CHAMADOS, SÃO
NOMEADOS ÀS PRESSAS, NO APAGAR DAS LUZES
DO MANDATO PRESIDENCIAL, NO ENTANTO NEM
TODOS RECEBEM SEU ATO DE INSTITUIÇÃO A
TEMPO, AINDA QUE NOMEADOS ALGUNS
AMANHECEM EM 4 DE MARÇO DE 1801, DIA DA
POSSE DO NOVO PRESIDENTE, SEM SUA
INSTITUIÇÃO EM MÃOS. O NOVO PRESIDENTE,
THOMAS JEFFERSON, NEGA A INSTITUIÇÃO
ÀQUELES QUE HAVIAM SIDO NOMEADOS PELO SEU
ANTECESSOR, MAS NÃO RECEBERAM OS
RESPECTIVOS DOCUMENTOS. DENTRE ESTES ESTÁ
MARBURY QUE INGRESSA NA SUPREMA CORTE
CONTRA O SECRETÁRIO DE ESTADO REPUBLICANO
MADISON, BUSCANDO SUA INSTITUIÇÃO. ESTÃO
POSTOS OS FATOS E ARMADO O CENÁRIO DA MAIS
IMPORTANTE E FAMOSA DECISÃO DA SUPREMA
CORTE AMERICANA.
(STERN, 2016, p. 193)
O direito de Marbury de tomar posse não foi garantido pela decisão, mas se afirmou um poder
muito maior à Suprema Corte. Atualmente, não é novidade encontrarmos decisões das
Supremas Cortes com teor político. Naquele momento, no entanto, de disputa de poder entre
Federalistas e Republicanos, entre Presidente e Suprema Corte, afirmar a competência da
Suprema Corte para interpretar a Constituição e para o controle de constitucionalidade foi
realmente um marco!
Com o tempo, o Direito constitucional foi ganhando centralidade, especialmente no Brasil,com
a ascensão do paradigma pós-positivista, o uso dos princípios não mais apenas como
preenchedores de lacunas, mas como normas (em igualdade de importância com as regras) de
modo que o pluralismo da vida contemporânea foi demandando cada vez mais respostas para
os momentos em que as políticas públicas não conseguiam atuar satisfatoriamente.
Mas a expansão da atuação do Poder Judiciário vem sendo alvo de muitas críticas e a principal
delas é a representatividade democrática, porque juízes não são eleitos. Barroso (2012)
contrapõe a esta crítica a noção de que democracia não se faz apenas por meio da vontade
das maiorias eleitas, mas também em tudo que visa garantir e preservar os chamados “direitos
fundamentais” de todos.
Casos considerados difíceis (hard cases ) em que o STF atuou, agindo como verdadeiro
substituto do Legislador, a despeito das discussões em torno de haver um conflito com o
princípio da separação dos Poderes:
HARD CASES
São casos em que são apresentados o volume, o contraditório, e a consciência que a
ação finda a partir do momento em que a matéria é finalmente regulamentada pelo
legislador.
Imagem: Centros de Controle e Prevenção de Doenças / Wikimedia Commons, Domínio
público
A ação de descumprimento de preceito fundamental sobre legitimidade da interrupção de
gestação de feto anencéfalo (ADPF nº 54).
Ilustração de um bebê anencéfalo
Imagem: Shutterstock.com
javascript:void(0)
A Ação que reconheceu que as uniões homoafetivas possuem status de união estável (ADI nº
4277).
À falta de regra expressa, nos casos de ambiguidades na legislação, assim como com as
transformações sociais, a Corte acaba sendo um refúgio contra majoritário para melhor
equacionar o problema.
Casos difíceis são aqueles em que a solução não é facilmente encontrada nas leis postas e no
ordenamento. Envolvem sempre questões jurídicas, políticas e morais controvertidas e uma
atuação criativa do Tribunal para adaptar o direito à complexidade social, sempre pautado pelo
princípio basilar da dignidade humana. Outros exemplos que temos de hard cases na
jurisprudência:
Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação.
Foto: Shutterstock.com
ADI (ação direta de inconstitucionalidade) nº 3510 sobre a constitucionalidade das
pesquisas em células-tronco, julgada em 2008, em que o STF decidiu que tais pesquisas não
violam o direito à vida, tampouco a dignidade da pessoa humana.
Foto: Shutterstock.com
ADC (ação declaratória de inconstitucionalidade) nº 12 sobre a constitucionalidade da
Resolução nº 7/2005 do CNJ. Em 2006, o STF decidiu pela constitucionalidade dessa norma,
que proíbe a contratação, para cargos em comissão ou função gratificada (de livre nomeação e
exoneração), de parentes até o terceiro grau de magistrados e de servidores em cargos de
chefia e direção em todas as esferas da Justiça brasileira (nepotismo).
Foto: Shutterstock.com
ADPF 347/MC (ação de descumprimento de preceito fundamental): estado de coisas
inconstitucional do sistema carcerário. Tal estado ocorre quando se verifica a existência de
um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, causado pela inércia
ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura.
Trata-se de medida excepcional, exigindo que haja, além da séria e generalizada afronta aos
direitos humanos, também a constatação de que a intervenção da Corte é essencial para a
solução do gravíssimo quadro enfrentado. Este ainda não foi decidido.
Existem muitos outros exemplos de casos em que o Supremo foi chamado a resolver uma
questão complexa apresentada pela sociedade e que a solução teve de ser criativa.
A CARTA DE WEIMAR E O
CONSTITUCIONALISMO SOCIAL
A História cria relações muito vívidas e que nos ajuda a entender os debates conduzidos até
aqui. A professora Bianca Walther recupera um evento vital da história: a Carta de Weimar e
sua relação com o constitucionalismo.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (MPFDFT-2004 – ADAPTADA). JÁ QUE, PARA KELSEN, O DIREITO
REGULA SUA PRÓPRIA PRODUÇÃO E APLICAÇÃO, A FUNÇÃO
NORMATIVA DA AUTORIZAÇÃO DESEMPENHA, PARTICULARMENTE, UM
IMPORTANTE PAPEL NO DIREITO. APENAS PESSOAS, ÀS QUAIS O
ORDENAMENTO JURÍDICO CONFERE ESTE PODER PODEM PRODUZIR
OU APLICAR NORMAS DE DIREITO. A RESPEITO DO CONCEITO, DA
ESTRUTURA E FUNÇÃO DA CONSTITUIÇÃO, SEGUNDO HANS KELSEN,
E DE SUA CONFIGURAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988,
ANALISE AS FRASES ABAIXO:
I - A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA É O FUNDAMENTO DE VALIDADE DE
TODA A ORDEM JURÍDICA NACIONAL.
II - A CONSTITUIÇÃO CONFERE UNIDADE AO ORDENAMENTO JURÍDICO,
TENDO EM VISTA QUE A ORDEM JURÍDICA NÃO É UM SISTEMA DE
NORMAS JURÍDICAS ORDENADAS NO MESMO PLANO.
III - A ORDEM JURÍDICA DE 1988 É UMA CONSTRUÇÃO ESCALONADA DE
DIFERENTES CAMADAS OU DE NÍVEIS DE NORMAS JURÍDICAS.
IV = A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E O NOVO CÓDIGO CIVIL SÃO O PONTO
COMUM AO QUAL SE RECONDUZEM TODAS AS NORMAS VIGENTES NO
ÂMBITO DO ESTADO BRASILEIRO.
ESTÃO CORRETAS AS AFIRMATIVAS:
A) I e II apenas.
B) I e III apenas.
C) II e III apenas.
D) I, II e III apenas.
E) II, III e IV apenas.
2. SOBRE O CASO MARBURY VS . MADISON (1803), ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA (PGE-PA/2011):
A) Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte dos
Estados Unidos proferiu, pela primeira vez, uma decisão que condenou o então presidente
George Washington, com fundamento na Constituição de 1787.
B) Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte criou o
modelo jurisdicional de controle de constitucionalidade concentrado e abstrato, assim como um
Tribunal Constitucional, inspirado na Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen, para decidir sobre
a validade de atos emanados pelos Poderes Executivo e Legislativo.
C) Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte criou o
modelo jurisdicional de controle de constitucionalidade difuso e concreto, assim como um
Tribunal Constitucional, inspirado no pensamento de Hans Kelsen, para decidir sobre a
validade de atos emanados pelos Poderes Executivo e Legislativo.
D) Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental porque a Suprema Corte assentou
que a imunidade do Executivo não era um valor absoluto e que, nas circunstâncias, deveria ser
ponderada com a necessidade de produção de prova em um processo penal em curso.
Determinou, assim, que o presidente John Adams entregasse ao Judiciário documentos que o
incriminavam.
E) Decidido o mérito, afirmou, em seus dicta , o princípio da supremacia da Constituição,
assim como a autoridade do Poder Judiciário para zelar por ela, inclusive invalidando os atos
emanados dos Poderes Executivo e Legislativo que a contrariem.
GABARITO
1. (MPFDFT-2004 – adaptada). Já que, para Kelsen, o Direito regula sua própria produção
e aplicação, a função normativa da autorização desempenha, particularmente, um
importante papel no Direito. Apenas pessoas, às quais o ordenamento jurídico confere
este poder podem produzir ou aplicar normas de Direito. A respeito do conceito, da
estrutura e função da Constituição, segundo Hans Kelsen, e de sua configuração na
Constituição Brasileira de 1988, analise as frases abaixo:
I - A Constituição Brasileira é o fundamento de validade de toda a ordem jurídica
nacional.
II - A Constituição confere unidade ao ordenamento jurídico, tendo em vista que a ordem
jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no mesmo plano.
III - A ordem jurídica de 1988 é uma construção escalonada de diferentes camadas ou de
níveis de normas jurídicas.
IV = A Constituição de 1988 e o novo Código Civil são o ponto comum ao qual se
reconduzem todas as normas vigentes no âmbito do Estado Brasileiro.
Estão corretas as afirmativas:
A alternativa "D " está correta.
Nas palavras de Luís Roberto Barroso (p. 368, 2009): “A fase atual é marcada pela passagem
da Constituição para o centro do debate jurídico, de onde passa a atuar como o filtro axiológicopelo qual se deva ler o direito civil. É nesse contexto que se dá a virada axiológica do direito
civil, tanto pela vinda de normas de direito civil para a Constituição, como sobretudo, pela ida
da Constituição para interpretação do direito civil, impondo um novo conjunto de valores e
princípios (…)”.
2. Sobre o caso Marbury vs . Madison (1803), assinale a alternativa correta (PGE-
PA/2011):
A alternativa "E " está correta.
O caso Marbury vs . Madison significa falar de um marco no Direito constitucional, pois foi com
esse caso, em 1803, nos Estados Unidos, que se instituiu o controle difuso de
constitucionalidade, ao afirmar que a Constituição é soberana e que os atos e as leis que a
contrariam são nulos, fazendo com que a Constituição seja contemplada como lei fundamental
e suprema da nação. Além disso, esse caso que trouxe a ideia de que o Judiciário possui mais
força na interpretação da constituição. Mas não podemos nos esquecer de que o controle
concentrado de constitucionalidade tem origem na Áustria e nas teorias de Hans Kelsen.
MÓDULO 2
 Conceituar o processo de judicialização e as conquistas relacionados à luta pelos
direitos humanos
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
Os temas proteção do indivíduo e dignidade humana, soberania popular e grupos de pressão e
advocacy estão inseridos neste módulo e estudados em conjunto para que possamos melhor
compreender esses direitos, sua origem, seus desdobramentos e relações. Especialmente o
tema dos grupos de pressão e advocacy e suas estratégias para a mudança de políticas
públicas e busca de respostas favoráveis do Legislativo, quando o Poder Executivo se mostra
inoperante ou não acompanha as demandas da complexidade social. Também a importância
da atuação desses grupos fora desses Poderes será estudada.
Foto: Shutterstock.com
A temática dos direitos humanos tem na promulgação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos pela ONU (Organização das Nações Unidas) , em 1948, o marco do
constitucionalismo moderno (estudamos constitucionalismo no nosso primeiro módulo), que
consagra direitos do cidadão, do indivíduo em face do Estado. Sabemos, historicamente, que
as ameaças aos direitos humanos podem vir do Estado e das Leis, bem como da sociedade
massificada e seus conformismos e, também, da sociedade capitalista e toda a sua rede de
desumanização.
1
Originalmente, os direitos declarados em 1948, em um contexto de pós-Segunda Guerra
Mundial tinham uma carga mais individualista e exprimia a desconfiança do cidadão contra o
Estado e todas as formas de Poder instituído e organizado. Desejava-se um Estado não
intervencionista nas liberdades e nos direitos dos cidadãos.
Com o tempo, os direitos coletivos e sociais foram ganhando mais espaço na agenda dos
direitos humanos, buscando-se até mesmo uma atuação positiva do Estado, sobretudo quando
se trata de minorias e de marginalizados (veremos mais detidamente no terceiro módulo do
nosso conteúdo, quando abordaremos o tema das minorias vulnerabilizadas).
2
Existem importantes teóricos dos direitos humanos que chegam a tratar das chamadas
dimensões (ou “gerações”, termo este mais antigo) dos Direitos Humanos. Sendo a primeira
dimensão aquela pautada nos valores de liberdade individual e concentrada nos direitos civis e
políticos em face do Estado. A segunda baseia-se no princípio de igualdade social, são os
chamados direitos econômicos, sociais e culturais.
A Constituição de Weimar (1919), na Alemanha, marca o início da ideia de um Estado Social
de Direito e influenciou, assim como a Constituição do México (1917), a elaboração da
Constituição brasileira (1934), a primeira a trazer um capítulo sobre direitos fundamentais
sociais.
Na terceira dimensão dos direitos humanos temos o valor da fraternidade e o Estado já não é
mais o único responsável para levar mais direitos àqueles vulnerabilizados, mas também os
representantes da sociedade civil, os ditos “grupos de pressão”, as organizações não
governamentais, as chamadas ações populares e as ações civis públicas. Passemos aos
estudos de cada tópico.
Imagem: JonRoma/ Wikimedia Commons, Domínio público
 A Constituição de Weimar em formato de livreto. A constituição em si exigia que fosse
entregue aos estudantes no momento de sua formatura.
PROTEÇÃO DO INDIVÍDUO E DIGNIDADE
HUMANA: BREVE HISTÓRICO
Historiadores, geralmente, apontam a origem dos direitos humanos na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, no período de eclosão da Revolução Francesa
no século XVIII, mas a verdade é que há dois antecedentes dessa declaração, que são: os Bills
of Rights das colônias norte-americanas que se rebelaram em 1776; e o Bill of Right inglês,
de 1689.
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Do ponto de vista de conceitos não há diferença significativa entre a Declaração Francesa e os
Bills norte-americanos, uma vez que são produtos do clima cultural dominado pelo
jusnaturalismo (paradigma considerando existirem direitos naturais prévios à formação da
sociedade) e pelo contratualismo (os cidadãos firmam um contrato social de proteção com o
Estado, mas esse deve respeitar o rol de direitos naturais anteriores à sociedade). Já o Bill
inglês não reconhece direitos do homem, mas alguns direitos tradicionais e consuetudinários
aos nobres em face da monarquia.
Essas declarações trouxeram a questão da relação com o ordenamento jurídico-político
interno, pois a organização do poder, por meio do direito positivo, impõe que sejam
estabelecidos direitos e deveres precisos. Então, ou os direitos enunciados nas declarações
ficam como meros princípios abstratos e ideológicos ou são positivados para que possam ser
exigíveis em face do Estado. Mas a primeira e única Constituição dos Estados Unidos (1787)
alterou essa questão ao positivar alguns dos direitos dos cidadãos previstos nessas
declarações.
Após as barbáries cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, foi fundada a ONU, em 1945,
com a assinatura da Carta das Nações Unidas. Os objetivos declarados eram restabelecer a
paz mundial, a segurança internacional e a proteção de direitos humanos básicos (todos
violados pelo nazismo na Alemanha).
Nesse clima de reconciliação internacional, a ONU promulga a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, em 1948, sendo um marco para o Direito Internacional e, também, a
primeira vez em que direitos humanos são declarados de forma global. Veremos que esse
caráter universal será bastante criticado por pensadores como Boaventura de Sousa Santos.
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Em razão desse caráter universal, os indivíduos passaram a gozar de direitos e de proteção
internacional pelo simples fato de serem pessoas, de existirem, independentemente de
nacionalidade, raça, religião, etnia, sexo e língua. O direito a ter direitos e a ter uma vida digna
como pessoa humana é um grande avanço na história do Direito internacional e se constitui no
núcleo duro da proteção do indivíduo frente às violações perpetradas inclusive por seu Estado
de origem.
 ATENÇÃO
O Brasil se rege nas suas relações internacionais por determinados princípios positivados pela
Constituição de 88 e um deles é o da prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II, CR/88).
Aqui, no Brasil, os direitos humanos positivados pelo ordenamento jurídico interno são
denominados: direitos fundamentais. Em essência, significam a mesma coisa, só variando a
nomenclatura de acordo com a localização normativa (se em Declarações e Convenções
Internacionais; se na Constituição).
O valor inerente a esse conjunto de direitos é o princípio da dignidade humana, que se
constitui em princípio jurídico de nível constitucional e encontra-se positivado como fundamento
da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, CR/88) na Constituição de 1988.
Barroso (2012, p. 44) fez uma interessante síntese do conteúdo jurídico da dignidade humana
que é composto basicamente de três elementos:
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Dignidade como valor inerente a todos os sereshumanos, como vida, igualdade, integridade
física, moral e psíquica. Este é o núcleo da proteção individual, juntamente às autonomias
privadas e públicas abaixo.
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Dignidade como autonomia de cada indivíduo de como conduzir a sua vida da melhor forma.
Aqui estão as liberdades (de consciência, de crença, de expressão, de trabalho, de
associação e outros direitos individuais). Também estão aqui os direitos de participação na
condução da coisa pública (direitos políticos). A autonomia privada e a pública exigem a
satisfação do chamado mínimo existencial como pressuposto para o exercício dessas
liberdades e dos direitos políticos (quem passa fome não tem como exercer qualquer direito de
liberdade, a necessidade escraviza). O mínimo existencial corresponde, assim, ao núcleo duro
dos direitos fundamentais sociais e premissa para o exercício de uma vida livre, igual e
autônoma.
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Dignidade como valor comunitário, no sentido de ser um limite ao exercício da autonomia
individual. O indivíduo vive em sociedade e ela possui valores que implicam responsabilidades
e deveres. Esse elemento social da dignidade visa à proteção dos direitos de terceiros; à
proteção do indivíduo contra si próprio; e, também, à proteção de valores sociais (deve haver
um consenso social e risco ao direito de outras pessoas em uma eventual violação).
SOBERANIA POPULAR E DIREITOS
HUMANOS
O conceito de soberania está intimamente relacionado ao conceito de Estado e poder político
e isso desde fins do século XVI. Matteucci (1998, p. 1179) afirma que a “soberania pretende ser
a racionalização jurídica do poder, no sentido da transformação da força em poder legítimo, do
poder de fato em poder de direito”. Com a formação dos grandes Estados, fundados na
unificação e concentração de poder, a soberania é exercida por um único soberano, que
centraliza o poder de vida e morte sobre seus súditos (aqueles sob seu domínio).
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O poder legitimava-se pela força bruta, com o tempo, além da força bruta, o poder passou a
contar com um caráter divino de justificação. Então, a soberania do monarca com base na
força e em um poder divino, deu lugar, com o tempo, à ideia de uma soberania da nação,
trazida pelo abade de Sieyés e que teve aceitação na França revolucionária (vontade da Nação
e não vontade do povo).
A ideia de vontade soberana do povo surge no mesmo século XVI com Rousseau (Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778)) . Contudo, no século XX a soberania como conceito político-
jurídico entra em crise, com o surgimento das teorias constitucionalistas, com a crise do Estado
Moderno, que se mostra incapaz de atuar como centro único e autônomo de poder.
A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, como vimos no tópico anterior, as relações
internacionais ganham novos formatos e atributos (Estados Nacionais cada vez mais
interdependentes política e economicamente), os direitos humanos passam a ser valorizados
em nível global, bem como a realidade cada vez mais plural e democrática das sociedades
esvaziaram bastante o conceito de soberania como plenitude do poder estatal.
A questão do reconhecimento de um rol de direitos humanos universais trouxe alguns
problemas também para a questão da soberania. Para aqueles que entendem que os direitos
humanos são direitos naturais, anteriores ao ordenamento posto, ao defenderem que o Estado
deve reconhecê-los admitem claramente um limite preexistente à soberania estatal.
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Mesmo para os que não seguem esse paradigma jusnaturalista, os direitos humanos passam a
ser exigíveis em seu núcleo essencial (vida, liberdade, integridade, mínimo existencial etc.),
admitindo até mesmo interferências do tipo humanitárias em outros Estados para fazer valer
tais direitos.
Na prática, os direitos humanos são invocados pela comunidade internacional para o
tratamento de estrangeiros e, mais raramente em relação a grupos das chamadas “minorias
vulnerabilizadas” (minorias étnicas, grupos religiosos, entre outros), pois os Estados ainda
atribuem muita importância à soberania (externa) e, portanto, a atuação em prol de direitos
humanos somente quando seus direitos e interesses ou direitos de seus cidadãos parecem
estar em jogo. Então, a grande crítica que se faz é justamente a consideração de que o que
se afirma universal é, em matéria de direitos humanos, a perspectiva hegemônica na disputa,
aquela que “venceu” e se estabeleceu.
Com a progressiva juridicização do Estado de Direito não faz mais sentido falar em soberania
nos moldes que vinha sendo abordada, uma vez que os poderes constituídos (como vimos no
módulo sobre Constitucionalismo) são limitados pelos direitos e pela lei. A soberania,
atualmente, atua na origem como “poder constituinte”, como criadora do ordenamento. Uma
dessas formas de manifestação do poder constituinte é a soberania popular.
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O parágrafo único, do art. 1º, da Constituição de 1988 estabelece a soberania popular como
fundamento da República:
“TODO PODER EMANA DO POVO, QUE O
EXERCE POR MEIO DE REPRESENTANTES
ELEITOS OU DIRETAMENTE, NOS TERMOS
DESTA CONSTITUIÇÃO”.
Assim, esse poder instaura um Estado Democrático de Direito, onde o Estado e o poder
político não só se sujeitam à Supremacia da Constituição, mas também à vontade popular.
O constitucionalismo, que traz em seu bojo, a ideia de separação de poderes, a supremacia da
lei e da Constituição, bem como o pluralismo social e o federalismo tende a enfraquecer e a
relativizar a ideia de soberania conforme antes concebida, mas não se pode esquecer de que a
unidade do corpo político e a coesão do corpo social devem ser mantidas por meio de
instituições democráticas fortes, sob pena de o enfraquecimento da soberania gerar um Estado
de “guerra de todos contra todos” (referência a T. Hobbes (Thomas Hobbes (1588-1679)) ).
A relação que podemos traçar entre o exercício da soberania popular e os direitos humanos
está em que tais direitos serão limites intransponíveis para o exercício do poder constituinte,
seja ele originário, seja ele derivado (decorrente e reformador).
A teoria democrática tem como soberano o povo e a elaboração da Constituição será feita por
assembleia com representantes eleitos democraticamente pelo povo. A Constituição passa a
ser a lei suprema e que reconhece os direitos humanos declarados no plano internacional
como direitos fundamentais na ordem interna.
Os poderes do Estado passam a ser constituídos e organizados de acordo com o princípio da
separação dos poderes, limitados pelos direitos e pelas garantias individuais (direitos
fundamentais).
GRUPOS DE PRESSÃO E ADVOCACY
Grupos de pressão são uma espécie de grupos de interesse (gênero). Tais grupos podem
existir organizados e ativos sem, contudo, exercerem a pressão política (Organização
partidária e eleições) . Adotam uma postura direta de influência sobre as autoridades públicas,
principalmente na esfera dos Poderes Executivo e Legislativo. Não se confundem com partidos
políticos, pois os grupos defendem interesses gerais da sociedade e não de setores
específicos.
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Advocacy é a defesa, a argumentação e a atuação em favor de uma causa que envolve a
elaboração de políticas públicas importantes para a melhora de diversos setores sociais. É um
processo de reivindicação de direitos, tendo por objetivo influir na implementação de políticas
públicas que atendam às necessidades da população.
Utiliza-se o termo advocacy para descrever ações de pressão realizadas por organizações da
sociedade civil que possuem representatividade e poder de influência para defender causas
que carecem de atuação do poder público, seja por falta de vontade política, seja por
dificuldades orçamentárias, seja por invisibilidade de determinados grupos.
Muito embora haja pouco material sobre grupos de pressão, no Brasil, eles são fundamentais
para a democracia e para a promoção de direitoshumanos porque podem contribuir para o
aperfeiçoamento das políticas públicas; para o estabelecimento de limites à ação dos poderes;
e promoção do interesse público em favor de determinadas causas sociais, como educação,
saúde etc.
São muitas as modalidades de organização de interesse, inclusive no âmbito interno do
Parlamento, onde tem sido comum a articulação de frentes parlamentares ou bancadas
informais para a promoção de direitos, valores e interesses sociais.
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 ATENÇÃO
A função dos grupos de pressão (espécie ativa dos grupos de interesse) e da prática da
chamada advocacy é tentar a mudar a lógica da luta pelo poder e influenciar governos,
parlamentares e partidos políticos a enxergarem que as políticas voltadas às melhorias sociais,
ambientais e educacionais são também instrumentos para que a luta pelo poder encontre
limites civilizatórios e não seja apenas uma estratégia para “as próximas eleições”!
Existem diversos grupos atuando para melhorar e influenciar nas políticas públicas. No
Esporte, na Educação, na Saúde, pelos direitos das mulheres e para atender a demandas dos
movimentos negros, tais como a inclusão de estudos sobre a História e a cultura afro, bem
como a liberdade de exercício de religiões de matizes africanas, demandas de reconhecimento
e por igualdade de direitos dos movimentos LGBTQIA+. Enfim, veja que são muitas frentes de
atuação.
Vamos citar alguns exemplos de organizações da sociedade civil em prol de direitos e políticas
públicas eficientes:
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Atletas pelo Brasil: uma sociedade sem fins lucrativos e pioneira em que atletas e ex-atletas
de diversas modalidades e de diferentes gerações atuam para a melhoria do Esporte, da
Educação e, consequentemente, por causas sociais nacionais através da prática da
advocacy .
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Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006): exemplo bem-sucedido de advocacy feminista em
prol dos direitos das mulheres. Houve forte atuação e pressão de movimentos feministas, de
organizações não governamentais feministas no cenário nacional que impulsionaram políticas
públicas voltadas para a efetivação da cidadania das mulheres, especialmente no que se refere
ao enfrentamento da violência.
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Instituto Oncoguia (Operação Chaminé) e ACBG Brasil: trabalham para articular melhorias
na prevenção e no tratamento de câncer, não só aos pacientes (advocacy para inclusão de
tratamentos e exames nos planos de saúde e marcação preferencial na rede pública) como aos
parentes, que acabam sendo bastante afetados psicológica e economicamente.
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Grupos de apoio à prevenção à AIDS (GAPA): atuam em prol de pessoas vivendo com
HIV/Aids e seus familiares; mulheres; adolescentes (de 10 a 19 anos), especialmente por meio
de ações de prevenção e promoção da Saúde (orientações, disponibilização de preservativos,
palestras, capacitações em saúde etc.) e na advocacy por direitos (cidadania, discriminação,
jurídicos etc.).
O CASO ANGELA DAVIS
A professora Bianca Walther nos conta sobre o ativismo judiciário nas questões dos direitos
humanos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A RESPEITO DOS MARCOS HISTÓRICOS, FUNDAMENTOS E
PRINCÍPIOS DOS DIREITOS HUMANOS, ASSINALE A OPÇÃO CORRETA
(QUESTÃO DA BANCA CESPE/CEPRASPE, 2019).
A) Segundo a doutrina contemporânea, direitos humanos e direitos fundamentais são
indistinguíveis; por isso, ambas as terminologias são intercambiáveis no ordenamento jurídico.
B) Os direitos humanos estão dispostos em um rol taxativo, internalizado pelo ordenamento
jurídico brasileiro com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
C) No Brasil, os direitos políticos são considerados direitos humanos e seu exercício pelos
cidadãos se esgota no direito de votar e de ser votado.
D) A dignidade da pessoa humana, princípio basilar da Constituição Federal de 1988, é
fundamento dos direitos humanos.
E) Em razão do princípio da imutabilidade, os direitos humanos reconhecidos na Revolução
Francesa permanecem os mesmos ainda na atualidade.
2. COM BASE NA RELAÇÃO ENTRE DIREITOS HUMANOS E ESTADO,
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) O Estado não deve buscar a efetivação dos direitos fundamentais porque esses direitos se
satisfazem com o simples reconhecimento abstrato.
B) O poder público deve atuar de modo a garantir a efetivação dos direitos e garantias
fundamentais, usando inclusive mecanismos coercitivos quando necessário.
C) Direitos humanos não são a mesma coisa, na essência, que direitos fundamentais.
D) O Estado Democrático de Direito surge do exercício da soberania popular e não tem por
limite dos direitos humanos.
E) Os direitos humanos não se aplicam a todos os indivíduos, sendo dependente de questões
de nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-filosófica.
GABARITO
1. A respeito dos marcos históricos, fundamentos e princípios dos direitos humanos,
assinale a opção correta (questão da Banca CESPE/CEPRASPE, 2019).
A alternativa "D " está correta.
Como vimos, a dignidade da pessoa humana é considerada o fundamento da proteção dos
direitos humanos, além de ser indicada como um dos pilares da República Federativa do Brasil,
conforme indica o art. 1º, III, da CR/88.
2. Com base na relação entre Direitos Humanos e Estado, assinale a alternativa correta:
A alternativa "B " está correta.
Os direitos e as garantias fundamentais não se bastam apenas pelo mero reconhecimento
abstrato. É preciso, além do reconhecimento interno, encontrar meios para efetivá-los (princípio
da efetividade dos direitos humanos – possibilidade real de ela ser efetivamente aplicada e
observada).
MÓDULO 3
 Identificar o papel da justiça na promoção da defesa de minorias vulnerabilizadas
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS
CHAMADAS MINORIAS
VULNERABILIZADAS
Minorias e grupos vulneráveis originam-se de relações em que há assimetria social
(econômica, educacional, cultural etc.). Partindo-se dessa premissa, minoria pode ser
conceituada como a existência de grupos que se distinguem da maioria, entendida essa como
aquele agrupamento generalizado, baseado na indeterminação de traços e que pertence ao
“padrão normalizado” (branco, masculino e heteronormativo), considerado majoritário em
relação a outro que dele destoa (negros, mulheres, população LGBTQI+ etc.).
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A vulnerabilidade advém das pressões impostas por esse suposto padrão de normalidade, que
pressiona o diferente. Essa exclusão social é violenta e essa violência tanto pode ser física
quanto simbólica, originária dessa opressão, que, muitas vezes, se manifesta na forma de
preconceito, discriminação e rejeição, marginalizando o diferente.
QUEM OUSA SER DIFERENTE, EM UMA
SOCIEDADE PATRIARCAL, DE PAPÉIS SOCIAIS
BEM DEFINIDOS, PARA ATUAÇÃO EM PROL DO
CAPITALISMO?
Há que se introduzir também a distinção de termos correlatos como preconceito e
discriminação, mas que designam fenômenos diversos.
O preconceito refere-se a percepções mentais negativas em face de indivíduos e de grupos
social e historicamente inferiorizados e representações do corpo social conectadas com tais
percepções. O preconceito costuma ser estudado sob duas perspectivas:
Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.
PSICOLÓGICA
SOCIOLÓGICA
PSICOLÓGICA
As abordagens psicológicas buscam respostas na dinâmica interna dos indivíduos para
encontrar as raízes do preconceito em projeções de conflitos internos e frustrações sociais.
SOCIOLÓGICA
A perspectiva sociológica abarca a categorização e a construção de estereótipos para se
desenvolver atitudes negativas e depreciativas em relação ao grupo invisibilizado nas relações
sociais intergrupais.
Já discriminação se refere à materialização de atitudes arbitrárias em razão do preconceito e
que produz a violação de direitos de indivíduos pertencentes a esses grupos minoritários e
vulneráveis. Veja asmodalidades de discriminação:
Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.
DISCRIMINAÇÃO DIRETA
DISCRIMINAÇÃO INDIRETA
DISCRIMINAÇÃO DIRETA
É o desprezo escancarado a indivíduos ou grupos, motivado pela condição racial, religiosa, de
sexo etc. Um exemplo, segundo Almeida (2019) é o que ocorre em países que proíbem a
entrada de negros, judeus, muçulmanos, pessoas de origem árabe e os persas (esses como
grupo populacional), ou ainda lojas que se recusem a atender clientes de determinada raça ou
classe social. É também aquela discriminação que existiu durante o período de segregação
racial nos EUA, imposta inclusive legalmente.
DISCRIMINAÇÃO INDIRETA
É um processo em que a discriminação de fato, em relação a grupos minoritários ou, por
exemplo, o mito da neutralidade racial, da neutralidade em relação a certos grupos
notoriamente discriminados, sem que se leve em conta a existência de diferenças econômico-
sociais significativas, geram a chamada estratificação social. Não há intenção deliberada de
discriminar, mas a norma ou a práxis social não pode ou não consegue prever as
consequências discriminatórias advindas da aplicação de um conceito de neutralidade que
esconde enormes desigualdades em relação a grupos invisibilizados e marginalizados.
A estratificação social é um fenômeno que se propaga por gerações, tornando o percurso de
vida de todos os membros de determinado grupo social – o que inclui as chances de ascensão
social, de reconhecimento e de sustento material – prejudicado de geração a geração,
perpetuando e amplificando a pobreza e a marginalização.
 ATENÇÃO
No estudo das minorias vulnerabilizadas é importante destacar a contribuição de estudos
culturais de identidades e de reconhecimento. E as identidades são produzidas a partir das
diferenças, sendo a discriminação o ato de atribuir-se significado negativo às diferenças,
cristalizando-as em de grupos excluídos.
Feita essa breve introdução, vimos que a existência de minorias vulnerabilizadas está
intimamente relacionada com preconceitos, discriminações e pobreza intergeracional. Vamos
aos assuntos propostos!
TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DOS
POVOS TRADICIONAIS E INDÍGENAS
A diversidade étnica brasileira é característica que nos faz um país plural. Apesar do extermínio
sofrido por boa parcela dos grupos indígenas (Também chamados de população tradicional.) ,
muitas populações resistiram à exploração, às doenças e à morte e, atualmente, são
reconhecidos como sujeitos de direitos a serem protegidos pela ordem jurídica nacional.
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Por um tempo, essas populações eram tratadas como um obstáculo ao desenvolvimento
nacional em razão de não cederem às pressões “civilizatórias” predominantemente
europeizada e norte-americanizada. A legislação que existia antes da Constituição de 1988 era
mais estigmatizante desses povos do que realmente emancipadora e promotora dos seus
interesses, e foi assim desde o período colonial.
O trato da população indígena, no Brasil, passou por três momentos:
O do extermínio — período colonial, tentativa de escravização, tomada de suas terras, estímulo
a conflitos entre aldeias distintas a fim de que a própria rivalidade entre eles os destruísse.
O da integração e tentativa de assimilação — Lei 6.001/73, conhecido como Estatuto do Índio é
ainda dessa fase de política de integração dos considerados silvícolas, aqueles que viviam
afastados das cidades.
O advento da Constituição de 1988 — reconhecimento de direitos, de identidade e ampliação
do sistema protetivo e de garantias.
O Estatuto do Índio (Lei 6001/73), embora seja da fase integracionista, trata-se de legislação
que se contradiz, ora defendendo a cultura indígena, ora obrigando-os a se adequarem aos
moldes da sociedade considerada “civilizada”, o que a torna ultrapassada em relação ao
disposto no art. 231, da Constituição (1988).

SÃO RECONHECIDOS AOS ÍNDIOS SUA
ORGANIZAÇÃO SOCIAL, COSTUMES, LÍNGUAS,
CRENÇAS E TRADIÇÕES, E OS DIREITOS
ORIGINÁRIOS SOBRE AS TERRAS QUE
TRADICIONALMENTE OCUPAM, COMPETINDO À
UNIÃO DEMARCÁ-LAS, PROTEGER E FAZER
RESPEITAR TODOS OS SEUS BENS.
(CF, 1988)
A questão das terras indígenas e sua demarcação é o ponto de impasse na luta por
reconhecimento e direitos. Em 2009, o STF encerrou o julgamento da Petição nº 3388 que
questionava, em ação popular ajuizada por um senador da república, a demarcação da Terra
Indígena Raposa do Sol e pedia a declaração de nulidade da Portaria nº 534 do Ministério da
Justiça, homologada pela Presidência da República em 2005.
Os Ministros da Corte Suprema decidiram pela demarcação contínua da terra indígena e
imediata retirada dos ocupantes não indígenas. Em 2019, um estudo feito sobre os avanços
naquelas terras para a organização, desenvolvimento e sobrevivência dos povos da Raposa do
Sol. O dossiê feito nos dez anos da decisão do STF mostra avanços nos aspectos social,
cultural, ambiental e econômico, pois há atividades de produção e comércio de produtos
agrícolas e artesanais nessas terras.
OS POVOS INDÍGENAS POSSUEM AUTONOMIA
DE DECISÃO E PRODUZEM DE FORMA
CONSCIENTE E RESPONSÁVEL.
Esse caso foi considerado um leading case e expôs o papel do STF como legislador positivo
e, muito embora tenha sido favorável aos povos indígenas da Raposa do Sol, a decisão traz a
tese do marco temporal que impede a demarcação de terras de povos que não se
encontravam nas terras quando da promulgação da Constituição de 1988.
Trata-se de inovação jurídica que impõe uma interpretação restritiva aos direitos dos povos
indígenas e que tem sido contestada por uma série de entidades indigenistas, além de povos
indígenas. Referida tese interpretativa trouxe à reflexão os debates sobre os limites e a
legitimidade da jurisdição constitucional em uma democracia.
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E CULTURA
AFRO-BRASILEIRA
Primeiro vamos abordar os conceitos de etnia e raça, que apesar de serem empregados,
muitas vezes, como sinônimos são palavras distintas, para depois abordarmos o que se
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entende por relações étnico-raciais e o reconhecimento da cultura afro-brasileira.
LEADING CASE
Caso decidido em tribunal que se torna um exemplo para a decisão de demais casos.
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Raça engloba mais características biológicas e fenotípicas de cor da pele, textura e cor dos
cabelos e outros traços físicos característicos.
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Etnia, de acordo com o antropólogo da USP, Munanga (2016), é um conjunto de indivíduos
que, historicamente, possuem um ancestral comum; uma língua que partilha da mesma origem,
uma religião também com a mesma origem ancestral; uma mesma cultura e coabitam
geograficamente o mesmo território.
O estudo das relações étnico-raciais é aquele aborda em conjunto a problemática dos
preconceitos, discriminações de um grupo, sem se concentrar apenas na cor, mas abarcando
também a vestimenta, a religião, a língua e a cultura de indivíduos pertencentes a um grupo
racial e étnico historicamente discriminado pela sociedade.
A inclusão de uma educação étnico-racial nas escolas, desde o ensino infantil, é fundamental
para o reconhecimento de culturas afrodescendentes e indígenas como partes da nossa
formação social. Isso favorece à construção de uma sociedade plural e democrática em que
grupos, historicamente marginalizados, sejam reconhecidos como importantes para a formação
da nossa sociedade e nossa cultura. Para que sintam orgulho de serem diferentes, mas que
essa diferença não sirva para torná-los vítimas constantes de violências físicas e institucionais.
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 EXEMPLO
Quase dois anos após a promulgação da Lei 10.639/03, líderes de religiões de matriz africana
de diferentes partes do Brasil tiveram de buscar uma conversa oficial com o presidente do
Supremo Tribunal Federal à época, ministro Nelson Jobim, com a finalidade de pedir o apoio
institucional para a inclusão no currículo dos ensinos fundamentale médio das disciplinas de
História da África e História do Negro (um exemplo de advocacy que já estudamos). Na
ocasião, protocolaram uma representação dirigida ao Ministério Público Federal para pedir o
cumprimento da lei que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação visando à inclusão de
matérias relativas à História da África e à Cultura Afro-Brasileira nas escolas.
Trata-se de uma luta pelo resgate da cultura afro-brasileira, com o reconhecimento de suas
religiões, de sua história, suas vestimentas e que isso comece pela educação primária. Com o
objetivo de as crianças não aprenderem a discriminar o diferente, mas que conheçam a história
e cultura desse diferente para entendê-la e respeitá-la.
 COMENTÁRIO
É preciso ter o cuidado de não focar a história desses grupos apenas na fase colonial e
escravocrata, para não reforçar a estigmatização. É claro que a escravidão explica muito o
racismo que vemos na sociedade, mas temos de reforçar o estudo da história desses povos,
que é rica e que foi apagada pela Grande História, a dos conquistadores.
RACISMO ESTRUTURAL
O racismo estrutural consiste em encarar o preconceito e a discriminação de raça como algo
que não só existe, mas que foi normalizado (naturalizado) pela sociedade. Isso não quer dizer
que deva ser aceito, ou que seja aceito, mas sim que constitui e marca as relações sociais
desde o período das grandes colonizações. É racismo como forma de estrutura social (nível
político, econômico e de subjetividades) e que constitui as próprias relações. A sociedade
“funcionando” no seu aspecto normal nesses três níveis (político, econômico e das
subjetividades) produz desigualdades e estratificação social.
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Há a naturalização da violência contra a população negra.

A ESTRUTURA SOCIAL É CONSTITUÍDA POR
INÚMEROS CONFLITOS – DE CLASSE, RACIAIS,
SEXUAIS ETC. –, O QUE SIGNIFICA QUE AS
INSTITUIÇÕES TAMBÉM PODEM ATUAR DE MANEIRA
CONFLITUOSA, POSICIONANDO-SE DENTRO DO
CONFLITO. EM UMA SOCIEDADE EM QUE O RACISMO
ESTÁ PRESENTE NA VIDA COTIDIANA, AS
INSTITUIÇÕES QUE NÃO TRATAREM DE MANEIRA
ATIVA E COMO UM PROBLEMA A DESIGUALDADE
RACIAL IRÃO FACILMENTE REPRODUZIR AS
PRÁTICAS RACISTAS JÁ TIDAS COMO “NORMAIS” EM
TODA A SOCIEDADE.
(ALMEIDA, 2019)
Dizer que o racismo está nas estruturas da sociedade (que se reproduz na economia, na
política, no ordenamento jurídico e nas instituições públicas e privadas) não quer dizer que ele
seja insuperável e que medidas em forma de ações e políticas antirracistas não sejam eficazes.
Além disso, importante frisar que o fato de o racismo ser estrutural não retira do indivíduo a sua
responsabilidade pelo cometimento de atos racistas, só que apenas essa responsabilização
não será suficiente para que a sociedade deixe de reproduzir preconceitos, discriminações e
desigualdades com base na raça.
 EXEMPLO
Em julgamento histórico (HC 82.424-2/RS, ano de 2004), o STF concluiu pela consumação do
crime de racismo (responsabilização individual prevista na Constituição e na Lei 7.716/89)
refutando a tese defensiva que alegava que não seria possível haver racismo por ausência de
fundamento biológico para a identificação de raças entre os seres humanos. O STF reforçou,
nesse julgado, a ideia de que o preconceito e a discriminação decorrem de representações
sociais falsas, construídas culturalmente e dirigidas contra um grupo e indivíduos que se
identificam com esse grupo. Então, a Suprema Corte reforçou o entendimento de que raça é
um conceito que só pode ser compreendido em perspectiva relacional.
As denominadas ações afirmativas são instrumentos que colaboram para tentar reverter esse
quadro de desigualdades, especialmente na educação e na inserção no mercado de trabalho.
Muitas vezes, estão associadas às ideias de cotas, tratamentos ditos “preferenciais”, sendo
chamadas pejorativamente de “discriminação inversa”.
Só que reduzir as ações afirmativas às políticas de cotas é apenas simplificar a realidade. Um
exemplo: dizer que alguém foi “beneficiado” com um emprego pelo fato de ser negro é algo
que, à primeira vista, parece injusto, mas é totalmente diferente quando se enxerga que a
decisão foi apenas um critério de desempate e que visa reparar as consequências de um
racismo estrutural na sociedade.
As ações afirmativas como respostas à discriminação institucional e à discriminação indireta
existente na sociedade não devem ser vistas como tratamentos preferenciais, mas como
medidas de combate ao racismo e às desigualdades por ele perpetradas.
ENTÃO, MELHOR ENTENDER AÇÕES
AFIRMATIVAS COMO O USO DE CRITÉRIOS
RACIAIS, ÉTNICOS OU MESMO SEXUAIS COM O
PROPÓSITO DE REDUZIR AS DESVANTAGENS
PRÉVIAS ENFRENTADAS POR DETERMINADOS
GRUPOS EM RAZÃO DESSES MESMOS
CRITÉRIOS.
Nos Estados Unidos, onde essas ações foram bastante empregadas no contexto dos
movimentos pelos direitos civis dos negros, um primeiro momento foi marcado pela proibição
de discriminações em sistemas de educação e nos sistemas de recrutamento e seleção para
postos de trabalho.
 EXEMPLO
Um desses casos emblemáticos foi o de Brown vs . Conselho de Educação, julgado pela
Suprema Corte dos EUA em 1954. Ao ter a matrícula da filha negada, em uma escola pública
de brancos, o pai da menina negra Linda Brown, que na época tinha apenas 8 anos de idade,
entrou com uma ação judicial. O argumento da escola para a exclusão da menina era baseado
em um caso de 1892, o famoso Plessy vs . Ferguson, no qual a Suprema Corte Norte-
americana negou o direito de um negro que reivindicava ter assento no mesmo vagão de trem
que os brancos. Esse caso ficou conhecido pela frase disposta na sentença: “separados, mas
iguais” (separate, but equal ), ou seja, brancos e negros eram iguais, mas deveriam
permanecer separados, o que era um contrassenso completo e uma subversão do que seja
igualdade.
No caso Brown vs . Conselho de Educação, em plena efervescência dos movimentos pelos
direitos civis dos negros, a Corte decidiu que a doutrina do “separados, mas iguais” feria a XIV
(décima quarta) Emenda Constitucional. A decisão foi no sentido de que a segregação racial
presente nas escolas públicas fazia com que as crianças negras se sentissem inferiores às
crianças brancas, o que prejudicava o aprendizado, fazendo com que muitas desistissem de
estudar, perdendo oportunidades de ascensão social. Essa decisão acabou com a segregação
nas escolas públicas norte-americanas.
Foto: Shutterstock.com
No direito brasileiro, o tema vem sendo tratado com seriedade há quase vinte anos, mas não
sem muita controvérsia. Oficialmente, foram estabelecidas cotas para negros e indígenas nos
vestibulares das universidades públicas , nas seleções de mestrado e doutorado, nas
seleções de diversos concursos públicos e isso foi um movimento positivo das instituições
públicas. O problema que vem sendo observado não é o seu uso criterioso e correto, mas o
uso deturpado e as fraudes verificadas.
PÚBLICAS
As primeiras a instituírem cotas em seus vestibulares foram a UERJ, a UnB, a UFPR e a
Universidade Estadual da Bahia.
 COMENTÁRIO
Reconhecer a existência de rica interdisciplinaridade no estudo dos direitos humanos, de
racismos, de grupos minoritários em situação de vulnerabilidade, cultura afro, cultura indígena
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é entender que, a garantia de direitos mínimos para uma existência digna, são complexos e
referidos histórica e socialmente, não podendo excluir nenhum indivíduo e nenhum grupo.
CASOS BRASILEIROS: JUSTIÇA E
VULNERABILIDADE
Vamos a conhecer esses debates na prática. Conheça o caso Angela Davis.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (VUNESP/2015) CONFORME O ANTROPÓLOGO KABENGLE
MUNANGA, DOUTOR PELA USP, O CONCEITO DE ETNIA PODE SER
DEFINIDO COMO:
A) Um grupo de pessoas que têm um ancestral comum e que possuem algumas características
físicas em comum, designando a descendência ou a linhagem.
B) Um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um ancestral comum; têm
uma línguaem comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram
geograficamente em um mesmo território.
C) Um grupo de indivíduos que possuem uma identidade biológica com qualidades
psicológicas, morais, intelectuais e culturais adjacentes a essa genética.
D) Uma ideologia que postula a divisão da humanidade em grandes grupos, que possuem
características físicas hereditárias comuns, sendo essas últimas suportes das características
psicológicas, morais e intelectuais que se situam em uma escala de valores desiguais.
E) Uma classificação hierárquica, fundamentada na relação intrínseca entre o biológico (cor da
pele, traços morfológicos) e as qualidades psicológicas, morais, intelectuais e culturais.
2. (FUMARC, SEE MG, 2018 – ADAPTADA) “EM MUITOS CASOS, A
DISCRIMINAÇÃO RACIAL COLOCA A POPULAÇÃO AFRODESCENDENTE
NOS ESTRATOS MAIS BAIXOS DA SOCIEDADE E ELES ESTÃO
AGRUPADOS ENTRE OS MAIS POBRES DOS POBRES. A
DISCRIMINAÇÃO ENFRENTADA PELA POPULAÇÃO
AFRODESCENDENTE PERPETUA CICLOS DE DESVANTAGEM E
TRANSMISSÃO INTERGERACIONAL DE POBREZA, PREJUDICANDO O
SEU DESENVOLVIMENTO HUMANO. AS BARREIRAS AO ACESSO E À
CONCLUSÃO DE UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE REPERCUTEM NO
ACESSO AO MERCADO DE TRABALHO E NOS TIPOS DE EMPREGOS
ENCONTRADOS”.
COM BASE NOS SEUS ESTUDOS, LEIA AS AFIRMATIVAS ABAIXO:
I - A DÉCADA INTERNACIONAL DE AFRODESCENDENTES É UMA
OCASIÃO PARA PROMOVER MAIOR CONHECIMENTO, VALOR E
RESPEITO ÀS CONQUISTAS DA POPULAÇÃO AFRODESCENDENTE E ÀS
SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A HUMANIDADE. É UMA FERRAMENTA
ÚTIL PARA ABRIR CAMINHO PARA O TRABALHO E A COOPERAÇÃO
FUTURA ENTRE ESTADOS, ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E
REGIONAIS, SOCIEDADE CIVIL E OUTROS, A FIM DE APRIMORAR A
SITUAÇÃO DOS AFRODESCENDENTES.
II - AS DESIGUALDADES SÃO PARTE DO LEGADO DE ERROS DO
PASSADO. RACISMO, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL
CONTRA A POPULAÇÃO AFRODESCENDENTE TÊM SUAS RAÍZES NOS
REGIMES DE ESCRAVIZAÇÃO, NO TRÁFICO DE ESCRAVIZADOS E NO
COLONIALISMO. NA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE, ESSAS
HERANÇAS SÃO REFORÇADAS PELA DISCRIMINAÇÃO INTERPESSOAL,
INSTITUCIONAL E ESTRUTURAL E MANIFESTAM-SE NA DESIGUALDADE
E MARGINALIZAÇÃO EM ÂMBITO MUNDIAL.
III - HOMENS JOVENS AFRODESCENDENTES SÃO ESSENCIALMENTE
VULNERÁVEIS. SÃO CIDADÃOS QUE CORREM MAIORES RISCOS DE
SEREM APREENDIDOS NA RUA POR OCASIÃO DA FILTRAGEM RACIAL,
ENFRENTAM MAIORES ÍNDICES DE VIOLÊNCIA POLICIAL E MORTES E,
CONSEQUENTEMENTE, CONTINUAM SENDO DETIDOS,
ENCARCERADOS E SUJEITOS A PENAS MAIORES COM MAIS
FREQUÊNCIA.
IV - MULHERES AFRODESCENDENTES SOFREM DISCRIMINAÇÕES
MÚLTIPLAS COM BASE EM RAÇA, CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA,
GÊNERO, ACESSO LIMITADO À EDUCAÇÃO, AO TRABALHO E À
SEGURANÇA. POR ISSO, A DÉCADA INTERNACIONAL DE
AFRODESCENDENTES É UMA OPORTUNIDADE NÃO SÓ DE COMBATER
A DISCRIMINAÇÃO RACIAL, MAS TAMBÉM DE ASSEGURAR O
DESFRUTE IGUALITÁRIO DOS DIREITOS HUMANOS POR TODOS.
V - AS CONDIÇÕES ECONÔMICA E SOCIAL SOBREPÕEM-SE À
CONDIÇÃO DE RAÇA E COR, OU SEJA, A DESIGUALDADE É UM
PROBLEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E OPORTUNIDADES IGUAIS
PARA TODOS.
AS AFIRMATIVAS CORRETAS SÃO:
A) I, II, III e IV.
B) I, III, IV e V.
C) I, II, IV e V.
D) I, II, III e V.
E) II, III, IV e V.
GABARITO
1. (VUNESP/2015) Conforme o antropólogo Kabengle Munanga, doutor pela USP, o
conceito de etnia pode ser definido como:
A alternativa "B " está correta.
O reconhecimento de conceitos das Ciências Sociais é fundamental para o entendimento do
papel de justiça, então, o reconhecimento passa pelo processo social das situações aqui
demarcadas.
2. (FUMARC, SEE MG, 2018 – adaptada) “Em muitos casos, a discriminação racial coloca
a população afrodescendente nos estratos mais baixos da sociedade e eles estão
agrupados entre os mais pobres dos pobres. A discriminação enfrentada pela população
afrodescendente perpetua ciclos de desvantagem e transmissão intergeracional de
pobreza, prejudicando o seu desenvolvimento humano. As barreiras ao acesso e à
conclusão de uma educação de qualidade repercutem no acesso ao mercado de trabalho
e nos tipos de empregos encontrados”.
Com base nos seus estudos, leia as afirmativas abaixo:
I - A Década Internacional de Afrodescendentes é uma ocasião para promover maior
conhecimento, valor e respeito às conquistas da população afrodescendente e às suas
contribuições para a humanidade. É uma ferramenta útil para abrir caminho para o
trabalho e a cooperação futura entre Estados, organizações internacionais e regionais,
sociedade civil e outros, a fim de aprimorar a situação dos afrodescendentes.
II - As desigualdades são parte do legado de erros do passado. Racismo, preconceito e
discriminação racial contra a população afrodescendente têm suas raízes nos regimes
de escravização, no tráfico de escravizados e no colonialismo. Na história do tempo
presente, essas heranças são reforçadas pela discriminação interpessoal, institucional e
estrutural e manifestam-se na desigualdade e marginalização em âmbito mundial.
III - Homens jovens afrodescendentes são essencialmente vulneráveis. São cidadãos
que correm maiores riscos de serem apreendidos na rua por ocasião da filtragem racial,
enfrentam maiores índices de violência policial e mortes e, consequentemente,
continuam sendo detidos, encarcerados e sujeitos a penas maiores com mais
frequência.
IV - Mulheres afrodescendentes sofrem discriminações múltiplas com base em raça,
condição socioeconômica, gênero, acesso limitado à educação, ao trabalho e à
segurança. Por isso, a Década Internacional de Afrodescendentes é uma oportunidade
não só de combater a discriminação racial, mas também de assegurar o desfrute
igualitário dos direitos humanos por todos.
V - As condições econômica e social sobrepõem-se à condição de raça e cor, ou seja, a
desigualdade é um problema de distribuição de renda e oportunidades iguais para
todos.
As afirmativas corretas são:
A alternativa "A " está correta.
A afirmativa V é a única resposta errada, pois essas condições não se sobrepõem, no sentido
de uma ser mais importante do que a outra, mas são interseccionais (classe, raça, gênero), são
sistemas de opressão inter-relacionados.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudamos poder constituinte, suas origens, seu conceito, seus limites e características. Vimos
o debate travado entre Kelsen e Schmitt sobre “Quem deve ser o guardião da Constituição”
para entender as diferenças sobre a teoria normativa (Kelsen) e o decisionismo (Schmitt).
Enquanto Kelsen entende que um Tribunal Constitucional deva controlar a constitucionalidade
das leis, Schmitt entende que o fundamento último do direito deve estar no soberano.
Estudamos também a origem do chamado judicial review e o caso histórico Marbury vs .
Madison, marcando o entendimento de que leis e atos, abaixo da Constituição, não podem
contrariá-la sob pena de serem declarados nulos.
Vimos a definição de casos difíceis e apresentamos alguns exemplos, assim como vimos que a
Constituição passou a ser o centro do ordenamento jurídico com a ascensão de novos direitos
e novos princípios.
Visitamos os principais eventos históricos que culminaram na ascensão dos direitos humanos
na arena internacional, as gerações de direitos, bem como internalização desses direitos nos
ordenamentos internos para a proteção do indivíduo e garantia da dignidade humana.
Analisamos a relação entre direitos humanos e exercício da soberania popular como
inauguradora de um Estado democrático de direito, no qual a Constituição e os direitos
fundamentais passam a ser limites para a atuação dos poderes constituídos.
Abordamos um assunto muito interessante e ainda pouco estudado que se relaciona com os
grupos de pressão e advocacy : as organizações não governamentais e sociedades sem fins
lucrativas. Elas atuam em prol do reconhecimento de direitos e implementação de políticas
públicas nas mais diversas áreas, fazendo com que grupos vulnerabilizados ganhem voz junto
aos tomadores de decisão, o que não deixa de ser uma luta pela efetividade de direitos
humanos fundamentais previstos por nossaConstituição.
Reconhecer a existência de rica interdisciplinaridade no estudo dos direitos humanos é
entender que, justamente por serem garantidores de direitos mínimos a uma existência digna,
são complexos e referidos histórica e socialmente.
Visitamos os principais conceitos que nos ajudam a melhor compreender os temas que tocam
os direitos humanos, os direitos fundamentais de grupos que historicamente foram
invisibilizados e marginalizados pela sociedade. O módulo trabalha com “minorias”
vulnerabilizadas, mas, muitas vezes, verificamos que tais minorias são, na verdade, maiorias
em termos quantitativos e populacionais (caso específico da população negra, não dos
indígenas), mas são minorias nos espaços políticos, nas escolas, nos trabalhos de maior
remuneração, nos cargos públicos de proeminência.
Estudamos o tratamento constitucional dado aos indígenas, as melhorias no amparo a eles
dado que ocorreram com a promulgação da Constituição de 1988, vimos o caso Raposa da
Serra do Sol, que muito embora tenha sido favorável àqueles grupos indígenas, representou
um retrocesso na forma como estabeleceu o marco temporal das demarcações de terras
indígenas.
Destacamos também a importância do estudo das relações étnico-raciais para o combate ao
racismo estrutural desde o ensino básico, do resgate da história, da cultura e da religião
afrodescendente para a consolidação de uma sociedade de fato plural e não discriminatória.
Estudamos racismo estrutural, seu conceito e suas implicações bem como formas de combatê-
lo, por meio de políticas antirracistas por instituições públicas e privadas bem como por meio
de ações afirmativas.
FALA, MESTRE!
Mestres de diversas áreas do conhecimento compartilham as informações que tornaram suas
trajetórias únicas e brilhantes, sempre em conexão com o tema que você acabou de estudar!
Aqui você encontra entretenimento de qualidade conectado com a informação que te
transforma.
Representatividade
Sinopse: A partir da perspectiva de sua própria trajetória, a Dra. Ivone Caetano, primeira juíza
negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre o
que é representatividade.
Sinopse: A partir da perspectiva de sua própria trajetória, a Dra. Ivone Caetano, primeira juíza
negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre o
que é representatividade.
Desigualdade social e racismo
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a relação entre desigualdade social e racismo.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a relação entre desigualdade social e racismo.
O início de uma trajetória de luta
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, conta como enganou a morte já na hora do nascimento, e
reflete sobre como a Educação é uma arma poderosa na luta pela igualdade.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, conta como enganou a morte já na hora do nascimento, e
reflete sobre como a Educação é uma arma poderosa na luta pela igualdade.
Qual o papel da Justiça na redução das desigualdades sociais?
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, discorre sobre o compromisso que a Justiça deveria ter com
a redução das desigualdades sociais.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, discorre sobre o compromisso que a Justiça deveria ter com
a redução das desigualdades sociais.
A importância dos aliados na luta contra o racismo
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, conta sua trajetória de luta contra o racismo para ingressar na
magistratura, refletindo sobre a importância de ter tido aliados ao longo desse processo.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, conta sua trajetória de luta contra o racismo para ingressar na
magistratura, refletindo sobre a importância de ter tido aliados ao longo desse processo.
Diretos das crianças, religiões de matriz africana e perseguição religiosa
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, relata o racismo existente em processos da vara de infância e
juventude envolvendo religiões de matriz africana.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, relata o racismo existente em processos da vara de infância e
juventude envolvendo religiões de matriz africana.
Definições básicas sobre o sistema de Justiça
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, explica de forma simples as divisões básicas do sistema de
Justiça brasileiro.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, explica de forma simples as divisões básicas do sistema de
Justiça brasileiro.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. Coleção Feminismos Plurais, coord. Djamila
Ribeiro. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BARROSO, Luís Roberto. O Novo Direito Constitucional Brasileiro: contribuições para a
construção teórica e prática da jurisdição constitucional no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2012,
p. 36-53.
BARROSO, Luís Roberto. Supremo Tribunal Federal: Direitos Fundamentais e Casos
Difíceis. Revista Brasileira de Direito Constitucional - RBDC n. 19 – jan./jun.2012, p. 109-137.
Consultado na internet em: abril 2021.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7 ed.
Coimbra: Almedina, 2003.
KELSEN, Hans. ¿Quién debe ser el defensor de la Constitución? Madrid: Tecnos, 1995.
KELSEN, Hans. Jurisdição constitucional. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MATTEUCCI, Nicola, 1998: verbete “Constitucionalismo”. In : Norberto BOBBIO, Nicola
MATTEUCCI & Gianfranco PASQUINO: Dicionário de Política, UnB, Brasília [original de 1983].
SCHMITT, Carl. O conceito de político. Petrópolis: Vozes, 1992.
SCHMITT, Carl. O guardião da Constituição. Belo Horizonte: Del Rey, 2007
STERN, Ana Luiza Saramago. O Caso Marbury v. Madison: o nascimento do Judicial Review
como artifício político. Revista Direito e Liberdade – RDL – ESMARN – v. 18, n. 3, p. 193-212,
set./dez. 2016. Consultado na internet em: abril 2021. Natal, 2021.
MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global,
2006.
EXPLORE+
Vamos reforçar sua leitura? Procure ler:
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, COELHO, Inocência
Mártires. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
BARSTED, Leila Linhares. Lei Maria da Penha: uma experiência bem-sucedida de
advocacy feminista.
GOFFMAN, Erving. Estigma. Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio
de Janeiro: LTC Editora, 4. ed., 1988.
Sugerimos também o lúdico, os casos que tratamos o cinema já mostrou!
Procure na internet pela exposição “Cinema do Modernismo – O filme na República de
Weimar"
Assista aos filmes:
O gabinete do Dr. Caligari , direção Robert Wiene, 1929.
The Black Power Mixtape 1967-1975, sobre o caso de Angela Davis, direção
Göran Olsson, 2011.
Branco Sai Preto Fica , direção Adirley Queiroz, 2014.
Eu não Sou seu Negro , direção Raoul Peck, 2016.
CONTEUDISTA
Bianca Walther Walther

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