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REPRESENTACAO POLITICA FRAUDE ELEITORAL NA PRIMEIRA REPÚBLICA: UM OLHAR PARA AS INSTITUIÇÕES Longe de dizer que ataques à lisura do processo não ocorriam, Ricci e Zulini (2016) apontam que os ataques eram feitos de maneira complexa, proferidos em diferentes etapas do processo: na provisão do alistamento e na qualificação dos eleitores; na composição das mesas eleitorais; e na diplomação dos eleitos pelas Juntas Apuradoras. Considerando cada um desses elementos, é possível compreender de forma mais ampla como acontecia o processo eleitoral. Diferentemente de hoje, quando temos uma instituição neutra que organiza os processos eleitorais (o Tribunal Superior Eleitoral - TSE e os Tribunais Regionais Eleitorais – TREs), no recorte histórico estudado, eram os próprios partidos políticos que organizavam a burocracia institucional que viabilizava as eleições (curiosamente, é como ocorre até hoje nos Estados Unidos da América). Assim, quando se tratava de alistamento e qualificação dos eleitores, as forças políticas interessadas em fraudar as eleições agiam no sentido de barrar a concessão de títulos eleitorais para as bases eleitorais de seus oponentes. Importante ressaltar que, mais do que apresentar os atributos requeridos ao direito de votar (saber ler, escrever, ser cidadão brasileiro, dentre outros), era necessário ter título de eleitor. Nessa etapa do processo, as fraudes buscavam agilizar títulos eleitorais para eleitores da base eleitoral de interesse, excluindo bases de opositores. Isso era feito por meio de invalidação de títulos, controle de inscrição de correligionários, restauração de alistamentos anteriores, dentre várias outras formas de trapaça. Por esse meio, a contestação, o direito à oposição, era sufocado pelas forças situacionistas antes mesmo de nascer. Antes de iniciar a competição eleitoral, quando havia uma força coletiva que excluía do processo uma parcela do eleitorado que viabilizaria a disputa eleitoral, a largada da corrida já era completamente dominada pelas forças governistas. Na segunda etapa, de interferência no processo legal das eleições, estava o controle partidário sobre a composição das mesas eleitorais. Novamente, escritos da literatura especializada apontam que fraudes nos processos de responsabilidade da mesa eleitoral eram amplamente relatadas: contagem dos votos, proclamação do resultado, assinaturas suspeitas, falta de documentos entregues às Juntas Apuradoras etc. Com o intento de ir além do que já se sabe sobre o processo, Ricci e Zulini (2016) se dedicaram a olhar para o (pouco estudado) controle das mesas eleitorais. O controle das mesas era importante para garantir pelo menos equilíbrio na disputa, de modo que uma mesa tomada unanimemente pela oposição poderia recusar títulos de cidadãos da base eleitoral oponente, validar títulos que haviam sido excluídos no alistamento, enfim, facilitar diferentes tipos de fraudes. Ricci e Zulini (2016) demonstram empiricamente que as elites políticas locais usavam mecanismos institucionais com o intuito de conter irregularidades. As passagens apresentadas pelos autores exemplificam momentos em que foram acionadas forças superiores para responder à acusação de fraude, sendo de grande valia para entender em que grau e, principalmente, de que modo os resultados eleitorais eram alterados na Primeira República. REPRESENTACAO POLITICA Por fim, na terceira etapa de interferência no processo eleitoral, eram fraudadas as eleições, com intervenção sobre as Juntas Apuradoras, que apuravam e contavam votos e diplomavam os vitoriosos. O estudo das contestações, realizado por Ricci e Zulini (2016), e levantado nos Anais da Câmara dos Deputados, ilumina o monopólio partidário sobre o processo eleitoral, demonstrando como atores institucionais também estiveram imbricados nessas fraudes. Delegados de polícia, tabeliães e escrivães são personagens citados como agentes da situação (Ricci; Zulini, 2016, p. 212). A atuação desses agentes indica fluidez entre as fronteiras do público e do privado, elucidando que as forças situacionistas compreendiam que os agentes do poder público agiam, também, em prol de seus interesses privados, como a garantia de resultados eleitorais.
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