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Renato Ribeiro de Almeida Direito Eleitoral Sumário 03 CAPÍTULO 4 – Como funciona a justiça eleitoral? .............................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 4.1 Período das eleições: das campanhas eleitorais à diplomação ......................................05 4.1.1 Campanha eleitoral e captação de votos ...........................................................05 4.1.2 Pesquisa eleitoral.............................................................................................07 4.1.3 Propaganda política .......................................................................................08 4.1.4 Diplomação ....................................................................................................10 4.2 Financiamento das campanhas ..................................................................................11 4.2.1 Financiamento ................................................................................................11 4.2.2 Prestação de contas .........................................................................................14 4.2.3 Ação por doação irregular a campanha eleitoral ...............................................14 4.3 Eleições ..................................................................................................................15 4.3.1 Preparação .....................................................................................................15 4.3.2 O dia do pleito ...............................................................................................16 4.3.3 Resultados: totalização e proclamação ..............................................................17 4.4 Ações Judiciais Eleitorais ...........................................................................................18 4.4.1 AIJE ...............................................................................................................18 4.4.2 AIME ..............................................................................................................19 4.4.3 RCED .............................................................................................................19 4.4.4 Ação rescisória ...............................................................................................19 Síntese ..........................................................................................................................20 Referências Bibliográficas ................................................................................................21 Capítulo 4 05 Introdução Você já parou para pensar como são reguladas todas as movimentações antes e durante as elei- ções? É fácil para o cidadão notar o período de eleições, principalmente por conta da presença das campanhas eleitorais, mas quais são as regras que disciplinam essas campanhas? É permiti- do utilizar qualquer meio para o convencimento do eleitorado? Certamente que não! O Direito Eleitoral é aquele que disciplina e garante o processo democrático, ou seja, regula todas as atividades para conferir maior legitimidade de todo o processo perante a sociedade. Nesse sentido, ele delimita o que pode e o que não pode ser feito na campanha, bem como a forma como é permitido financiá-las. A fim de garantir a vontade normativa e pleitear direitos referentes ao processo eleitoral, estão disponíveis diferentes tipos de ações judiciais, as quais podem resultar em impugnações de can- didaturas e até cassações de mandatos. Essa competência é da Justiça Eleitoral, em sua função jurisdicional. Sendo assim, neste último capítulo, aprenderemos como são as campanhas, suas formas de financiamento, os ilícitos que ocorrem no processo, a diplomação dos candidatos eleitos e as ações judiciais eleitorais cabíveis a cada hipótese de conflito e/ou disputa eleitoral. Vamos aos estudos? 4.1 Período das eleições: das campanhas eleitorais à diplomação Para o Direito Eleitoral, o conceito de processo possui dois sentidos, um amplo e outro estrito. O sentido amplo é aquele que representa a formação e a manifestação da vontade eleitoral, que se mostra na eleição. Já o sentido estrito corresponde ao controle jurídico das matérias eleitorais, ou seja, é o próprio processo jurisdicional. A seguir veremos alguns dos principais elementos do processo eleitoral em sentido amplo para melhor entendimento do assunto. 4.1.1 Campanha eleitoral e captação de votos A campanha eleitoral é compreendida por atos e procedimentos técnicos empregados por candi- datos e agremiações, com a finalidade de influenciar os eleitores e obter votos, para, então, ter sucesso na disputa do cargo. Assim, são desenvolvidas atividades como atos de mobilização e apoio, debates, difusão de ideais e projetos, produção e divulgação de propaganda, pesquisas e consultas populares, além de discussões com os adversários. Como funciona a justiça eleitoral? 06 Laureate- International Universities Direito Eleitoral O período de campanha se inicia no dia 16 de agosto do ano eleitoral, 45 dias antes do pleito. Ela deverá sempre ser pautada na licitude dos atos voltados para a captação e conquista de votos. Figura 1 – É indispensável a propaganda eleitoral, a fim de viabilizar todas as atividades envolvidas, além da captação de recursos Fonte: Damaratskaya Alena, Shutterstock. No sentido amplo, o processo eleitoral constitui um fenômeno social que se caracteriza por uma relação jurídica complexa estabelecida entre os diversos atores envolvidos, com a finalidade de prover os cargos em disputa. Os direitos dos candidatos incluem situações jurídicas, faculdades, prerrogativas e poderes con- feridos àquele que pretende exercer o direito de sufrágio passivo de forma válida. Podemos dizer que os principais direitos a serem ressaltados são: • princípio da anterioridade ou anualidade (legislação reguladora do processo eleitoral que não pode ser alterada a menos de um ano antecedente ao pleito); • registro de candidatura, mediante requerimento individual perante à Justiça Eleitoral, caso o partido não o solicite; • obtenção de recursos para financiamento de campanha; • uso exclusivo do nome e número pelos quais foi registrado; • imunidade formal (salvo em situação de flagrante de delito ou prisão cautelar decretada em sentença penal condenatória por crime inafiançável, não poderá o candidato ser preso desde 15 dias antes do pleito e até 48 horas após o encerramento da eleição); 07 • livre manifestação de pensamento; • concessão de entrevistas em veículos de mídia (as entrevistas podem ser dadas antes do período eleitoral começar); • realização de todo tipo lícito de propaganda eleitoral; • não ser impedido de fazer propaganda lícita; • promoção e divulgação de pesquisas eleitorais; • fiscalização de todo o processo eleitoral, incluindo atos praticados pelos concorrentes; • acompanhamento e fiscalização da votação, apuração e totalização dos votos. Além dos direitos, os candidatos também possuem deveres, que são condutas cuja realização é imposta. No âmbito do direito eleitoral, podemos classificar os deveres enquanto deveres do candidato para consigo mesmo; deveres do candidato com a sociedade e os cidadãos em geral; deveres do candidato com o próprio partido; deveres do candidato para com a Justiça Eleitoral; e deveres do candidato para com os demais candidatos concorrentes. Dessa forma, a campanha se coloca enquanto fenômeno complexo, resultado de relações jurídi- cas estabelecidas entre candidatos, partidos e a sociedade. Alguns dos elementos que integram a campanha serão melhor explorados nos próximos tópicos e subtópicos deste capítulo. 4.1.2 Pesquisa eleitoral A pesquisa eleitoral, por sua vez, corresponde ao levantamento e interpretação dos dados refe- rentes à opinião e/ou preferência do eleitorado em relação aoscandidatos que disputam aquele pleito específico. Figura 2 – As pesquisas são importantíssimas para o acompanhamento e a avaliação dos partidos durante o período eleitoral Fonte: Graphic farm, Shutterstock. As pesquisas dão base para a definição de estratégias e tomadas de decisões ao longo da cam- panha. Contudo, elas também exercem influência sobre o eleitorado e, portanto, uma pesquisa que apresenta alguma distorção pode gerar um direcionamento equivocado dos votos dos elei- tores. Isso pode fragilizar a legitimidade das eleições. 08 Laureate- International Universities Direito Eleitoral É por servir como instrumento de marketing e propaganda que as pesquisas eleitorais devem ser submetidas a controle estatal. Elas podem ser internas ou externas. As internas têm a circulação restringida ao partido, e não podem ser difundidas para além das instâncias do partido. O Direito Eleitoral se atém às pesqui- sas externas, cuja divulgação se dirige ao eleitorado. Aliás, vale ressaltar que não se deve confundir pesquisa com enquete. A enquete é menos rigo- rosa quanto ao âmbito, à abrangência e ao método, já que configura coleta informal de dados. Assim, não é necessário seu registro, apenas a exigência de que seja informado com clareza que não se trata de uma pesquisa eleitoral. O artigo 33 da Lei das Eleições veda a realização de enquetes relacionadas ao processo eleito- ral durante o período de campanha. Como esse período não se encontra especificado na lei, o marco é fixado no dia 16 de agosto do ano eleitoral. Ademais, toda pesquisa elaborada para divulgação externa deve ser registrada na Justiça Elei- toral até cinco dias antes da sua divulgação, contando com a formulação de requerimento junto aos órgãos judiciais competentes para o registro das candidaturas. A lei não especifica a data a partir do qual há a exigência do registro das pesquisas, mas tem sido fixada a data de 01 de janeiro do ano do pleito. O registro de pesquisa deve ser feito pela internet, no Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais (SRPE), cujo programa está disponibilizado nos tribunais eleitorais. Uma vez concluído o registro, as informações e dados respectivos ficam disponíveis para todos pelo prazo de 30 dias. O artigo 34 da mesma lei faculta as agremiações o requerimento do acesso ao sistema interno da Justiça Eleitoral da coleta de dados das entidades que divulgaram pesquisas, sendo preservada a identidade daqueles que responderam à pesquisa. Uma vez defe- rido esse requerimento, a empresa não pode se negar a fornecer os dados solicitados. Caso não sejam atendidas as prescrições legais, o registro e a divulgação da pesquisa podem ser impugnados por partido, coligação, candidato ou Ministério Público. A impugnação é regida pelo artigo 96 da Lei das Eleições e cabe suspensão liminar. As pesquisas falsas, fictícias e aque- las que tiverem resultados distorcidos são tipos penais disciplinados nos artigos 33, parágrafo 4o e 34 da Lei de Eleições, respectivamente. Cabe ressaltar, ainda, que a pesquisa envolve o direito fundamental de manifestação do pen- samento e de liberdade de informação. Por essa razão, o requerimento de registro de pesquisa não pode ser indeferido, assim como a Justiça Eleitoral não pode proibir a divulgação de uma pesquisa devidamente registrada. Por fim, em relação à divulgação, ela pode ocorrer em qualquer momento, até mesmo no dia das eleições. Entretanto, os levantamentos de intenção de voto realizados no próprio dia do pleito só poderão ser divulgados depois das 17 horas, após o encerramento da votação na circunscrição respectiva. A seguir, entenderemos um pouco mais sobre as propagandas políticas. 4.1.3 Propaganda política A propaganda política é a veiculação de concepções ideológicas com vistas à obtenção ou ma- nutenção do poder estatal. O art. 17 da Constituição Federal assegura o direito de antena aos partidos políticos. Ele corresponde ao acesso gratuito ao rádio e à televisão, para que façam valer as liberdades de informação e de expressão, também previstos no texto constitucional. 09 Por se tratar de um importante mecanismo de influência sobre o eleitorado, com o objetivo de captação de votos, as propagandas estão submetidas ao controle estatal. A propaganda política pode ser de quatro espécies: partidária, intrapartidária, eleitoral e insti- tucional. VOCÊ QUER VER? O filme No, lançado em 2012, trata-se de um drama de ficção histórica. Ele retrata o plebiscito de 1988 no Chile, convocado pelo governo ditatorial para consultar a população quanto ao apoio conferido aos militares. O protagonista, um publicitário, encarrega-se da campanha pelo “Não”. O filme mostra diferentes táticas de propagan- da política empregadas, por isso vale a pena ser visto. A propaganda partidária é regulamentada nos artigos 45 a 49 da Lei Orgânica dos Partidos Políticos, bem como pela Resolução n. 20.034/97 do Tribunal Superior Eleitoral. Ela consiste na divulgação de ideias, projetos e programas do partido. Por meio dela, a agremiação pode difundir melhor seu projeto e sua imagem, aproximando-se da população. A propaganda partidária é veiculada em horário nobre, entre 19:30 e 22:00, podendo ser gra- vada em estúdio ou em um ambiente aberto. Sua gratuidade se dá a medida em que o veículo emissor é ressarcido pelos cofres públicos com o mecanismo de compensação tributária. O tem- po de propaganda varia em função da representação parlamentar do partido. A propaganda intrapartidária, por sua vez, é facultada aos postulantes a candidatura e só pode ser realizada nos 15 dias que antecedem a convenção. Ela está estabelecida no artigo 36 da Lei das Eleições, e é dirigida somente aos filiados do partido que participarão da convenção. Por isso, é vedado o uso de meio de comunicação em massa. Já a propaganda eleitoral é aquela elaborada pelos partidos políticos e seus respectivos candi- datos com a finalidade de captar votos do eleitorado para investidura em cargo público-eletivo. Ela está regulada pela Lei das Eleições, nos artigos 36 a 58, e pelo Código Eleitoral, nos artigos 240 a 256. É vedada propaganda eleitoral no dia do pleito. A Justiça Eleitoral produziu um material a respeito de tudo o que o eleitor precisa saber para identificar a propaganda eleitoral antecipada. Isso porque, muitas vezes, ela pode ser confundida com a propaganda partidária, que não tem data específica para ser disponibilizada. Leia mais no link: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2017/ Agosto/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-propaganda-eleitoral-antecipada>. VOCÊ QUER LER? O artigo 96 da Lei das Eleições disciplina o procedimento por meio do qual pode haver repre- sentação por propaganda eleitoral ilícita. O procedimento específico conta com o princípio da celeridade, visto o curto período de campanha e o impacto que as campanhas tem no dia a dia do eleitorado. Os prazos, portanto, são em dias corridos e contados em horas. 10 Laureate- International Universities Direito Eleitoral Figura 3 – A Lei das Eleições também regula o direito de resposta, quando há desvirtuação de informação a respeito de candidato ou partido Fonte: diy13, Shutterstock. É importante ressaltar que as restrições legais à propaganda eleitoral não ferem os direitos fun- damentais de livre manifestação do pensamento e informação, pois se atentam aos princípios da igualdade, normalidade e legitimidade da eleição. Tendo em vista que muitos candidatos não respeitam a lei no que se refere à propagan- da no dia do pleito, especialmente por meio de distribuição de “santinhos”, a Justiça Eleitoral elaborou uma série de perguntas e respostas para que o eleitor compreenda se há ilegalidade. A série pode ser consultada no link: <http://www.tre-sp.jus.br/impren- sa/noticias-tre-sp/perguntas-e-respostas/propaganda-eleitoral>. VOCÊ QUER LER? Por fim, há, também, a propaganda institucional, que consiste em atender ao princípio da pu- blicidade, ou seja, a prestação de informaçõesde interesse público, com caráter informativo e educativo. É um direito de todos e dever do Estado. 4.1.4 Diplomação Passado o pleito e a totalização de votos, a diplomação é a fase final do processo eleitoral. Trata-se de ato formal, por meio do qual aqueles que foram eleitos são credenciados e habilita- dos oficialmente a investirem nos seus respectivos mandatos políticos. A posse e o exercício dos cargos se dão posteriormente, de forma externa à Justiça Eleitoral. O diploma simboliza a vitória do pleito e apresenta caráter declaratório, pois não constitui a fonte de onde emana o direito de o eleito exercer seu mandato, que é a vontade do povo mani- festada nas urnas. No diploma, devem constar o nome do candidato, a legenda e o cargo ou a sua classificação como suplente. 11 Com exceção de alguns recursos e ações eleitorais que podem ser iniciadas posteriormente ou que estão em andamento, a diplomação demarca o fim da jurisdição eleitoral. No tópico a seguir, estudaremos mais a fundo sobre o dinheiro utilizados nas campanhas elei- torais. 4.2 Financiamento das campanhas O financiamento político das campanhas eleitorais é, certamente, um dos assuntos mais co- mentados na área eleitoral. Está nos jornais, nos grupos políticos e em discussões acadêmicas. Ele também foi amplamente discutido na última reforma política aprovada em 2017. Por isso, dedicamos um tópico deste capítulo para explicar melhor sua problemática e possíveis soluções. 4.2.1 Financiamento As campanhas eleitorais demandam uma alta quantia de recursos, seja para os partidos, seja para os candidatos. Especialmente em candidaturas majoritárias, são gastas altas quantias de recursos, de forma legal e ilegal. Ocorre que o financiamento privado enseja dúvidas quanto à influência que o doador exercerá no mandato daquele que recebeu recursos para viabilizar sua campanha e, consequentemente, sua eleição. Em geral, há três modelos de financiamento de campanha: o público, o privado e o misto. Alguns países adotam sistemas que se utilizam exclusivamente do público, exclusivamente do privado (pessoa jurídica e pessoa física) ou de ambos, sendo o último modelo usado no Brasil. No financiamento exclusivamente público, as campanhas são financiadas em sua integralidade por recursos públicos. Seus defensores alegam que é uma forma de reduzir a corrupção e o trá- fico de influência, uma vez que entes privados não podem cobrar por terem financiado alguém. Contudo, outros alegam que, nesse modelo, ainda há investimento de recursos privados em campanha, mas de forma ilegal. Já o modelo exclusivamente privado não emprega nenhum recurso público. Ele é criticado por tornar a disputa eleitoral uma disputa mercadológica, de forma que os entes privados enxergam as eleições como uma forma de investimento no que lhes favorecerá no futuro. As experiências anteriores têm mostrado que o financiamento privado é também um grande foco de corrupção, por tráfico de influência, fraude a processos licitatórios, entre outros. 12 Laureate- International Universities Direito Eleitoral Figura 4 – As doações para as campanhas são uma fonte polêmica de financiamento das campanhas eleitorais Fonte: Watchara Ritjan, Shutterstock. Por fim, há o modelo misto, ou seja, ele conta com recursos públicos, mas admite doações pri- vadas para a complementação dos gastos das campanhas. No âmbito dos recursos públicos, há três formas de execução: • há uma quantia determinada destinada a candidatos e partidos políticos; • há reembolso de gastos de campanhas dentro de um teto estipulado; • há uma determinação de alguns custos que serão arcados pelo Estado, tal como acesso à televisão e rádio. Quanto aos recursos privados, é sempre permitida a doação de pessoa física, dentro de limites estipulados por lei, a candidatos e a partidos políticos. Em relação às pessoas jurídicas, podem variar as formas de doação, como exclusiva a partidos (não a candidatos); a partidos e candida- tos; a execução de despesas independentes, sem vinculação a partido ou candidato. No Brasil, como dito anteriormente, o modelo é misto, havendo teto de gastos para as campa- nhas eleitorais. A atribuição para definir os limites é do Tribunal Superior Eleitoral, variando con- forme o tipo de cargo público-eletivo. Para esse cálculo, são contabilizadas todas as despesas, independentemente de sua fonte de recurso. O descumprimento do teto tem por consequência a sanção de multa em 100% da quantia ultrapassada e a apuração da ocorrência de abuso do poder econômico. Além disso, o financiamento público é proveniente de quatro fontes principais: Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário); custeio da propaganda partidária gratuita em rádio e televisão; custeio da propaganda eleitoral gratuita; e Renúncia Fiscal, dada a vedação de instituição de impostos sobre patrimônio, renda e serviços de partidos políticos. Vale ressaltar que os recursos do fundo partidário são para financiamento da agremiação como um todo, e não exclusivamente das campanhas, mas é inegável que grande parte de seus recursos é utilizado para esse fim. 13 O projeto de reforma política de 2017 também trata da composição do fundo partidá- rio. A alteração prevista dispõe que o fundo obterá seus recursos a partir de 30% do total de emendas parlamentares de bancada da Lei Orçamentária Anual em ano eleito- ral. A outra fonte de recurso será o montante referente à isenção fiscal das emissoras de rádio e TV, exibida em 2016 e 2017, fora do período eleitoral. Para entender melhor, consulte os links: <https://g1.globo.com/politica/noticia/como-fica-o-financiamento- -de-campanhas-apos-a-aprovacao-da-reforma-politica.ghtml> e <http://www.bbc. com/portuguese/brasil-41507850>. VOCÊ SABIA? A fim de cumprir com a transparência, a doação de entes privados é submetida à regulação com- plexa, com obrigação de minuciosa prestação de contas à Justiça Eleitoral. Até 2015, a lei auto- rizava a doação por parte de pessoa jurídica, mas com o veto ao artigo da Lei n. 13.165/2015, bem como a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 4.650/DF, foi declarada a inconstitu- cionalidade dessa forma de doação, por violação da igualdade política e dos princípios republi- cano e democrático. É admitida, portanto, somente a modalidade de pessoa física, no limite de até 10% do rendimento da pessoa no ano anterior. As doações podem abranger dinheiro, bens estimáveis em dinheiro, cessão de usos de móveis, prestação de serviços etc. Em se tratando de recursos financeiros, as doações podem ser efetua- das na conta específica do partido ou do candidato por diferentes meios previstos em lei. Que algumas fontes são vedadas? O art. 24 da Lei das Eleições estipula que são vedados recursos oriundos, entre outros, de entidade estrangeira, entidade sindical, entidade de utilidade pública, pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior, entidades beneficentes, entidades religiosas e entidades esportivas. VOCÊ SABIA? As despesas consideradas gastos para registro estão disciplinadas no art. 26, caput, da Lei das Eleições. Já nos art. 39 e 100-A da mesma lei temos disposições feitas para coibir a “compra de votos”, que é a prática de oferecer, em troca dos votos, alguma vantagem ao eleitor. 14 Laureate- International Universities Direito Eleitoral 4.2.2 Prestação de contas A administração financeira da campanha é de responsabilidade do próprio candidato e por pessoa designada por ele, ou seja, o administrador financeiro. São ambos solidariamente res- ponsáveis pelas informações financeiras e contábeis apresentadas na prestação de contas da campanha. O processo de prestação de contas instaurado perante a Justiça Eleitoral tem caráter administrativo e é público. A prestação é o instrumento oficial que permite a fiscalização e o controle financeiro das cam- panhas eleitorais. Ela deve ser elaborada no Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE), programadisponibilizado pela Justiça Eleitoral. O controle da prestação de contas visa maior transparência no processo e na legitimidade das eleições, imperando a transparência absoluta, já que se trata do legítimo exercício do mandato político. Ainda que o candidato desista, tenha seu registro indeferido, renuncie ou venha a falecer, deverá ser feita sua prestação de contas referente ao período em que participou do processo eleitoral, mesmo que não tenha havido qualquer movimentação financeira na campanha. Nas eleições majoritárias, a prestação deve ser feita por chapa. O artigo 28, parágrafo 4o da Lei das Eleições, determina que, durante a campanha, partidos, coligações e candidatos devem prestar contas parciais. As contas finais, por sua vez, devem ser apresentadas até o trigésimo dia após as eleições. Se houver dois turnos, o candidato deverá apresentar uma única vez, vinte dias após o segundo turno. A inobservância do prazo impede a diplomação do candidato eleito, contudo, a não aprovação das contas não impede a diploma- ção por si, sendo necessário julgamento de ação eleitoral própria. O procedimento inicia quando há a apresentação da prestação no sistema informático da Justiça Eleitoral para tal fim, sendo publicado o edital. Abre-se, então, um prazo de três dias para a impugnação das contas, que pode ser feita por partido, coligação, candidato, Ministério Público ou qualquer outro interessado. O órgão de auditoria e controle interno da Justiça Eleitoral exa- minará e decidirá acerca da regularidade das contas, emitindo, ao final, um parecer. Constatados indícios de irregularidade, poderão ser requisitadas informações do candidato e do partido, bem como poderão ser determinadas diligências, que devem ser cumpridas no prazo de 72 horas. Se o órgão técnico concluir pela desaprovação ou aprovação com ressalvas, o candi- dato terá vista dos autos para se manifestar, também no prazo de 72 horas. Feita a manifestação, o órgão técnico poderá ratificar ou alterar suas conclusões. Encerrada a fase técnico-contábil, o Ministério Público terá vista dos autos para emitir um pare- cer em 48 horas. Seguido disso, a Justiça Eleitoral deve decidir sobre a regularidade das contas. 4.2.3 Ação por doação irregular a campanha eleitoral As sanções impostas contra quem infringe as normas a respeito da doação só podem ser feitas por poder jurisdicional. Assim, contra o infrator deve ser instaurado um processo próprio, não podendo a sanção ser aplicada por poder de polícia puramente. O rito a ser seguido é o disposto no artigo 22 da Lei Complementar n. 64/90, já que a sanção acarreta em declaração de inelegibilidade. Contudo, também se aplicam elementos do artigo 96 da Lei das Eleições, podendo disciplinar as sanções por descumprimento à Lei n. 9.504/97. No pólo passivo, a figura do doador e do beneficiário da doação irregular podem ser alvos de ação própria. 15 A demanda poderá ser ajuizada pelo Ministério Público até o final do exercício financeiro do ano em que receber a comunicação da Receita Federal de que há indício de excesso de doação ao cruzar os dados com a Justiça Eleitoral. A competência, por sua vez, é do juízo do eleitoral do domicílio civil do doador, não de domicílio eleitoral. O provimento jurisdicional tem caráter condenatório e a decisão é impugnável median- te recurso eleitoral (prazo de 24 horas) dirigido ao Tribunal Regional Eleitoral. A seguir, entenderemos com mais detalhes sobre as eleições. 4.3 Eleições Tudo o que estudamos até agora tem como ápice o dia da eleição, que é quando a vontade popular é manifestada nas urnas. No Brasil, as eleições são praticadas desde o período de colônia, para o governo local, mas muito evoluiu até a atual situação que consagrou o direito ao sufrágio ativo enquanto universal, assim como ampliou o rol daqueles que podem exercer seu direito ao sufrágio na forma passiva. Dado seu caráter essencial para a democracia, sistema sob o qual se estrutura a república brasi- leira, há a necessidade de se estabelecer garantias do processo. Tudo deve ser feito para que seja assegurado o livre exercício do voto e a normalidade da votação. Para isso, o processo eleitoral enseja garantias. As garantias possuem a função de propiciar o exercício efetivo de direitos fundamentais, asse- gurando a eficácia do direito substancial. A fim de resguardar o direito de sufrágio, o cidadão e eleitor está dotado de garantias. Duas principais são o sigilo ao voto e o direito de locomoção, que restringe, à forma da lei, a possibilidade de detenção de eleitores, fiscais e delegados de partidos políticos e candidatos. Vamos entender melhor como funciona o processo? 4.3.1 Preparação Nos dias que antecedem as eleições, a Justiça Eleitoral toma inúmeras providências que vão assegurar o tranquilo seguimento do pleito. São desenvolvidos e preparados os sistemas de informática; os locais de votação são estipulados; constitui-se mesas receptoras de votos e justi- ficativas; preparam-se as urnas, os materiais de votação e de justificativas. Os sistemas informáticos são específicos da Justiça Eleitoral, desenvolvidos pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral ou encomendados por ele, uma vez que só podem ser instalados em equipa- mentos de propriedade da própria Justiça Eleitoral. O local de votação é a seção eleitoral. Ela deve ser próxima à residência dos eleitores, o que facilita o exercício ao sufrágio por cooperar com o deslocamento. As seções especiais devem ser criadas em penitenciárias e unidades de internação de adolescentes, a fim de que presos provi- sórios e adolescentes tenham assegurado seu direito. As seções também devem ser instaladas em locais de fácil acesso, para viabilizar a entrada por parte de pessoas portadoras de deficiências físicas ou com alguma dificuldade de locomoção. Em geral, os locais de votação devem ser em edifícios públicos, contudo, não havendo suficien- tes, poderão ser utilizados edifícios particulares. 16 Laureate- International Universities Direito Eleitoral A mesa receptora é composta por um presidente, primeiro e segundo mesários, dois secretários e um suplente. É facultada ao Tribunal Regional Eleitoral a dispensa do segundo secretário e do suplente. A composição da mesa está disciplinada no Código Eleitoral, sendo que o artigo 120 estabelece aqueles impedidos de compor a mesa. O artigo 63 da Lei de Eleições, por sua vez, faculta a partido político a reclamar de nomeação da mesa. Julgados os pedidos de registro de candidatura, é realizada, em sessão pública, a preparação das urnas. Esse processo pode ser acompanhado e fiscalizado pelo Ministério Público, pela OAB e pelos representantes dos partidos políticos. 4.3.2 O dia do pleito No dia do pleito, o presidente da mesa é a autoridade que deve zelar pelo bom andamento dos trabalhos de votação em sua seção e, portanto, possui poder de polícia. Também lhe compete verificar credenciais de fiscais, adotar procedimentos para emissão do relatório da zerésima (cé- dula que indica que nenhum voto foi depositado na urna) antes do início, autorizar os eleitores a votar ou justificar, resolver as dificuldades, receber as impugnações dos fiscais referentes à identidade do eleitor, zelar pela preservação do material, encerrar a votação e remeter à Justiça Eleitoral a mídia gravada pela urna eletrônica, além do boletim da urna, dos relatórios, da ata e de outros documentos. Cabe aos mesários identificar o eleitor e entregar o comprovante de votação ou de justificativa, bem como as demais obrigações incumbidas. Já aos secretários, cabe distribuir aos eleitores as senhas de entrada, lavrar a ata da mesa receptora e cumprir as demais obrigações. Figura 5 – A votação inicia às 8 horas e é encerrada até as 17 horas, caso não haja mais eleitor presente dentro da seção Fonte: Lucasmello, Shutterstock. Dentro da seção, os membros da mesa receptora não poderão ostentar qualquer item de pro- paganda política. Aos fiscais, permite-se apenasa sigla do partido em seus crachás. Ao eleitor, é facultado a utilização de vestimentas e objetos com propaganda dos candidatos que apoia, desde que o faça de maneira silenciosa e individual. O eleitor também deve apresentar qualquer documento oficial com foto. Além disso, aos poucos, vem sendo implementado no país o sistema de identificação biométrica para votação. 17 Giuseppe Janino é secretário de Tecnologia de Eleições do Tribunal Superior Eleitoral, sendo um dos criadores do sistema de segurança que envolvem o sistema do voto ele- trônico. No link a seguir, você pode acompanhar uma entrevista acerca da segurança do sistema: <http://www.ebc.com.br/tecnologia/2016/03/nao-existe-sistema-inviola- vel-diz-criador-da-urna-eletronica>. VOCÊ O CONHECE? Os brasileiros residentes no exterior podem votar nas eleições presidenciais. As seções eleitorais são as sedes de consulados e embaixadas, contanto que haja ao menos 30 eleitores naquela circunscrição. Para votar no exterior, o brasileiro deve residir naquela circunscrição e estar de- vidamente alistado. Há, ainda, o voto em trânsito. Poderão votar em trânsito os brasileiros que, com antecedência de até 45 dias da data do pleito, indiquem onde pretendem votar. Para entender melhor, vamos analisar um caso. Caso Joaquim é residente e tem seu domicílio eleitoral na cidade de São Paulo, onde deveria votar nas próximas eleições federais. Contudo, ele foi convidado pelos organizadores de um congresso a dar algumas palestras em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais. O congresso ocorrerá na semana anterior e seguinte ao fim de semana da data do pleito. Preocupado porque quer participar das eleições, Joaquim procura alternativas e descobre que é possível votar em trânsito, desde que seja avisado previamente à Justiça Eleitoral, indicando o local onde estará na data. O primo de Joaquim é candidato a Senador pelo estado de São Paulo, e o rapaz se anima com a notícia de que poderá votar no dia, não tendo que justificar. Entretanto, ao se dirigir ao cartório para indicar onde votará, descobre que, como estará em unidade da federação diversa do seu domicílio eleitoral, só poderá votar para Presidente. Um mês antes da eleição o congresso é cancelado por questões de financiamento. Joaquim, então, pretende voltar para sua cidade e votar em São Paulo, assim poderá escolher todos os cargos, inclusive depositar sua confiança em seu primo para Senador. Ocorre que, como já havia indicado que estaria em Juiz de Fora, ele não poderá votar em São Paulo, apenas justificar, pois não estará na lista de eleitores daquela seção para a respectiva eleição. Com a habilitação do voto e trânsito, o eleitor não poderá votar em sua seção originária para determinada eleição, e, caso não compareça ao local indicado, terá que justificar sua ausência. Se estiver dentro da unidade da federação que corresponde a seu domicílio eleitoral, poderá votar para Presidente, Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual/Distrital. Caso esteja em outra unidade da federação, poderá apenas votar para Presidente. Nesse caso, fica dispensado de votar nas demais eleições que ocorrem simultaneamente à presidencial, uma vez que já cumpriu seu dever político-eleitoral. 4.3.3 Resultados: totalização e proclamação Terminado o período de votação, o presidente da mesa procederá ao comando que realiza a apuração de urna, emitindo o Boletim de Urna (BU). 18 Laureate- International Universities Direito Eleitoral O BU é um relatório impresso que serve de prova do resultado apurado. Ele deve ser assinado pelo presidente e por fiscais (caso estejam presentes). Uma via é fixada em local visível da se- ção, três são encaminhadas com a ata ao cartório eleitoral e uma é entregue aos fiscais, caso presentes. A não expedição do BU configura crime previsto no artigo 313 do Código Eleitoral. Após sua impressão, uma mídia é gravada de forma criptografada com o resultado e é enviada ao servidor central. Reunidos todos os dados das seções eleitorais, os votos são totalizados. Antes da proclamação dos resultados, aguarda-se o decurso de prazos para que candidatos, partidos e coligações ou Ministério Público examinem a documentação pertinente e apresentem reclamações, caso jul- guem pertinentes. Assim, após esse processo, serão proclamados os resultados. 4.4 Ações Judiciais Eleitorais O processo jurisdicional eleitoral da ênfase a alguns princípios já conhecidos no âmbito do direi- to processual, como devido processo legal, celeridade, imparcialidade dos agentes, correlação entre a imputação e a sentença (no direito eleitoral, a correlação se dá essencialmente entre os fatos e conteúdo que aprecia o mérito, e não do pedido e a sentença, sendo mais semelhante ao processo penal), impulso oficial, persuasão racional do juiz, motivação das decisões judiciais, publicidade, lealdade, instrumentalidade do processo, gratuidade, prioridade na tramitação para idosos e portadores de doenças graves. A seguir veremos algumas das principais ações judiciais eleitorais. Para um estudo mais completo das seguintes ações, sugerimos a leitura conjunta com a legislação referente. 4.4.1 AIJE As Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) seguem o rito tratado no artigo 22 da Lei Com- plementar n. 64/90. Compreendem ação de investigação judicial eleitoral por abuso de poder (art. 19 a 22 da Lei Complementar n. 64); ação por captação ou gasto ilícito de recurso para fins eleitorais (art. 30-A Lei das Eleições); ação por captação ilícita de sufrágio (art. 41-A Lei das Eleições); e ação por conduta vedada (art. 73 Lei das Eleições). A causa de pedir de todas essas ações elencadas é o abuso de poder. Em todas elas se almeja a cassação do registro ou a perda do diploma, sendo a inelegibilidade objeto direto da AIJE ape- nas por abuso de poder. Nas demais, a inelegibilidade pode vir a ser consequência da cassação de registro ou diploma. Na AIJE por abuso de poder, o objeto é a cassação de registro ou diploma e inelegibilidade por oito anos. O bem tutelado é a legitimidade, a normalidade e a sinceridade das eleições. Na segunda ação elencada, captação ou uso ilícito de recurso, o objeto é a negação de diploma ou cassação, sendo a inelegibilidade consequência indireta. O bem tutelado é a higidez da campa- nha e igualdade na disputa. Já na ação por captação ilícita de sufrágio, o objeto é a cassação de registro ou diploma e mul- ta, tendo a mesma consequência indireta da anterior. O bem tutelado, por sua vez, é a liberdade do eleitor. Por fim, a ação por conduta vedada tem como objeto o mesmo da ação por captação ilícita de sufrágio e o bem tutelado é a igualdade de chances na disputa e moralidade administrativa. 19 As decisões finais são recorríveis por recurso eleitoral, agravo interno, embargos de declaração, recurso especial eleitoral, recurso ordinário eleitoral, recurso extraordinário, embargos de diver- gência (no Supremo Tribunal Federal, apenas). 4.4.2 AIME A Ação de Impugnação por Mandato Eletivo (AIME) tem previsão no artigo 14, parágrafos 10 e 11 da Constituição Federal. O bem tutelado é a cidadania, a lisura e o equilíbrio do pleito, bem como a legitimidade da representação política. São três os fundamentos possíveis para a ação: abuso de poder econômico, corrupção e fraude. Seu objeto é a desconstituição do mandato e a cassação, e não acarreta na sanção de inelegi- bilidade, uma vez que isso é resultado de AIJE. A AIME deve tramitar em segredo de justiça, além de a sua sistemática recursal ser idêntica à referente à AIJE. 4.4.3 RCED Previsto no artigo 262 do Código Eleitoral, o Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED) não é cabível para abuso de poder, que deve ser discutido nas duas modalidades de ações vistas anteriormente. Os fundamentos para RCED são inelegibilidade superveniente, inelegibilidade constitucional e falta de condição de elegibilidade. O rol é taxativo e, portanto, não admite ampliação. Apesar do nome,é importante salientar que a natureza jurídica do RCED não é recursal, mas, sim, de ação, já que a diplomação não é decisão judicial, sendo mera atividade administrativa da Justiça Eleitoral. Nota-se que nem se quer é da Justiça Eleitoral a escolha de conferir mandato ao candidato diplomado, mas, sim, do povo, por meio da vontade manifestada nas urnas. A competência é originária do Tribunal Superior Eleitoral para conhecer e julgar RCEDs referen- tes a eleições presidenciais, federais e estaduais; e do Tribunal Regional Eleitoral para eleições municipais. Contra acórdão do TRE, cabe recurso especial ao Tribunal Superior Eleitoral, en- quanto decisão, quando de sua competência originária, é recorrível mediante recurso extraordi- nário ao Supremo Tribunal Federal. 4.4.4 Ação rescisória A ação rescisória eleitoral encontra previsão no artigo 22, I, j, do Código Eleitoral. Ela suscita análise de dois juízos: rescindente e rescisório. O primeiro é o preliminar que consiste no pedido e para a análise do qual é necessária a invocação de uma das hipóteses legalmente previstas. A decisão desse juízo possui natureza desconstitutiva e desfaz o julgado impugnado. Uma vez desconstituída a decisão transitada em julgado, inicia a formulação do juízo rescisório, o qual promove novo julgamento da causa. O artigo 22 do Código Eleitoral não esclareceu as hipóteses cabíveis e, portanto, são aplicáveis as do Código de Processo Civil (art. 966) por analogia. O procedimento, contudo, é especial. Quanto aos efeitos, caso o pedido de registro de candidatura tenha sido indeferido com fun- damento em inelegibilidade, a procedência da rescisória acarretará no deferimento. Ao mesmo tempo, tendo sido imposta sanção de inelegibilidade pelo artigo 22, XIV da Lei Complementar n. 64/90, a procedência do pedido rescisório extinguirá a inelegibilidade, restabelecendo a elegi- bilidade do autor. Para impugnar a decisão, são cabíveis agravo interno, embargos declaratórios e recurso extraordinário. SínteseSíntese Concluímos neste capítulo o estudo de como funcionam as campanhas, as irregularidades que podem ocorrer durante as eleições e as ações judiciais eleitorais. Agora, você já sabe o que é e o que não é permitido, como funciona os meses de campanha e quais são os meios jurídicos contenciosos para resolver as disputas colocadas nessa arena do Direito. Sendo assim, você teve a oportunidade de: • aprender como funciona o período de campanha, incluindo as propagandas, as pesquisas e a captação de votos; • compreender como funciona a diplomação dos candidatos e o que ela significa; • entender as regras e a regulação referente ao financiamento de campanha, além do motivo de ser um tema que merece tanta atenção; • ter uma visão mais completa de como funciona o dia da eleição e todas as movimentações exigidas para que a eleição ocorra com legitimidade e segurança; • conhecer as diferentes ações judiciais eleitorais cabíveis para os diferentes tipos de conflito. 21 Referências AGRA, Walber de Moura. Manual Prático de Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2016. BBC BRASIL. Entenda o novo fundo público para campanhas eleitorais aprovado na Câmara. Brasília, 04 out. 2017. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/ brasil-41507850>. Acesso em: 18/12/2017. BRASIL. Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 1990. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp64.htm>. Acesso em: 18/12/2017. ______. Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Diário Oficial da União. Brasília, 1965. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/ codigo-eleitoral-1/codigo-eleitoral-lei-nb0-4.737-de-15-de-julho-de-1965>. Acesso em: 15/12/2017. ______. Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995. Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal. Diário Oficial da União. Brasília, 1995. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9096.htm>. Acesso em: 15/12/2017. ______. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições. Diário Oficial da União. Brasília, 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L9504.htm>. Acesso em: 15/12/2017. ______. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da União. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 15/12/2017. ______. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 05/10/2017. ______. Tribunal Regional Eleitoral. Propaganda eleitoral: Resolução TSE 23.457/2015. Brasília. Disponível em: <http://www.tre-sp.jus.br/imprensa/noticias-tre-sp/perguntas-e-respostas/ propaganda-eleitoral>. Acesso em: 18/12/2017. ______. Tribunal Regional Eleitoral. Tudo o que você precisa saber sobre propaganda eleitoral antecipada. Brasília, 17 ago. 2017. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias- tse/2017/Agosto/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-propaganda-eleitoral-antecipada>. Acesso em: 18/12/2017. GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. Bibliográficas 22 Laureate- International Universities Direito Eleitoral NO. Direção de: Pablo Larraín. Estados Unidos: Imovision, 2012. 117 min. Color. PEDROSA, Leyberson. “Não existe sistema inviolável”, diz criador da urna eletrônica. EBC, 10 mar. 2016. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/tecnologia/2016/03/nao-existe-sistema- inviolavel-diz-criador-da-urna-eletronica>. Acesso em: 18/12/2017. PEREIRA, Rodolfo Viana; ROLLEMBERG, Gabriela (Orgs.). Teses sobre a Reforma Política: Memória da participação da ABRADEP nas reformas de 2015. Brasília: ABRADEP, 2016. 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Introdução 4.1 Período das eleições: das campanhas eleitorais à diplomação 4.1.1 Campanha eleitoral e captação de votos 4.1.2 Pesquisa eleitoral 4.1.3 Propaganda política 4.1.4 Diplomação 4.2 Financiamento das campanhas 4.2.1 Financiamento 4.2.2 Prestação de contas 4.2.3 Ação por doação irregular a campanha eleitoral 4.3 Eleições 4.3.1 Preparação 4.3.2 O dia do pleito 4.3.3 Resultados: totalização e proclamação 4.4 Ações Judiciais Eleitorais 4.4.1 AIJE 4.4.2 AIME 4.4.3 RCED 4.4.4 Ação rescisória Síntese Bibliográficas art33ii art33iii art33v art33vi art33vii. art33vii
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