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REPRESENTACAO POLITICA APLICAÇÃO DO CONCEITO E QUALIDADE DA REPRESENTAÇÃO É difícil encontrar quem discorde que há grupos minoritários sub-representados na maior parte das democracias contemporâneas. Isso significa que há perspectivas sociais que têm seus interesses mais bem representados do que outras. De modo geral, é sabido que pessoas mais influentes e de classes mais altas são mais bem representadas na política do que trabalhadores menos favorecidos. Em vista disso, Young (2006) nos chama atenção para uma questão muito relevante: o grupo sobrerrepresentado politicamente, que tende a ser composto por homens, brancos, de meia- idade, cristãos, produz políticas com base em suas perspectivas sociais. Entretanto, as políticas produzidas por tais indivíduos com frequência são entendidas como políticas neutras ou universais. Com isso, muitas vezes chegamos a um lugar onde o identitário é o outro, conforme enuncia o filósofo do direito Silvio de Almeida (2018). É como se grupos sociais politicamente privilegiados fossem desprovidos de identidade e perspectiva próprias. A exclusão sistemática de determinadas perspectivas por esse grupo privilegiado, inclusive, é uma especificidade que revela a parcialidade política presente. Na representação normativa proposta por Young (2006), os representantes atuam como representantes de perspectivas e não como representantes de interesses. Para a autora, as instituições democráticas precisam dar conta de garantir igualdade para grupos sociais minoritários. Isso por meio de recursos sem os quais tais grupos estruturalmente minoritários ou desfavorecidos permanecerão excluídos dos espaços de representação oficial, recursos tais como cotas, incentivos, nomeações em cargos, sorteios, formação de eleitorado por segmentos socioeconômicos e profissionais etc. Young (2006) se propõe a discutir qual a melhor forma de garantir a representação específica de certos grupos. Ela acredita que o desenho institucional, por meio do sistema eleitoral, contribui efetivamente para o aumento da representatividade. Ela sugere o sistema em que cada distrito eleitoral (no caso do Brasil, os estados) elege mais de um representante, por meio de representação proporcional, ou seja, que as cadeiras do parlamento sejam distribuídas proporcionalmente, em função dos votos recebidos pelos partidos, diferentemente do sistema majoritário exercido nos EUA, por exemplo, onde apenas um representante por distrito é eleito e isso pode culminar em uma representação distorcida, em que o candidato pode ser eleito sem a maioria dos votos, desde que some mais votos do que seus opositores. REPRESENTACAO POLITICA Se você se familiarizou com a solução proposta por Young (2006), acertou: esse é o sistema eleitoral exercido no Brasil para eleger representantes do parlamento, das assembleias legislativas e das câmaras municipais. É um sistema que é vantajoso, sim, por garantir representação de minorias, uma vez que cada distrito tem direito a mais de uma cadeira (de 8 a 70), permitindo uma maior pluralidade do resultado. Todavia, ainda assim, temos histórico de resultados bastante distorcidos, de modo que é recorrente a sub-representação de mulheres, pessoas negras, indígenas, população LGBT+, entre outros grupos. Foi considerando esses vieses que alguns outros mecanismos institucionais foram acionados para se garantir maior representação de alguns grupos. As cotas para candidaturas de gênero, a reserva de 30% de financiamento público para candidaturas femininas, o tempo de TV distribuído também em função do número de candidaturas negras são alguns dos exemplos disso. A cientista política Flávia Biroli (2018) nos ajuda a lembrar que a sub-representação de determinados grupos sociais em prol da sobrerrepresentação de outros não é um problema desses grupos sociais, mas um problema da nossa democracia. É ela que precisa – por meios como esses citados – dar conta de reparar as desigualdades e produzir um sistema político mais justo e inclusivo. Biroli (2018) rememora que, apesar de as mulheres e os negros, por exemplo, terem uma longa trajetória de sub-representação na política eleitoral e partidária, esses grupos estão fazendo política, exercendo pressões, debatendo problemas e soluções, há muitos anos, em outras esferas, fora de espaços oficiais de representação, como comitês, comissões, associações etc. E essas esferas, segundo Young (2006), também são espaços essenciais de exercício e aprimoramento da democracia onde são mantidos os vínculos entre eleitores e representantes conforme requeridos pelo modelo proposto pela autora.
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