Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

www.facebook.com/groups/livrosparadownload
www.jspsi.blogspot.com
Dados In ternacionais de Catalogação na Publicação (c ip) 
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Rosenberg, M arshall B.
Comunicação não-violenta : técnicas para aprimorar relacionamentos pes­
soais e profissionais / Marshall B. Rosenberg ; [tradução Mário Vilela]. — 
São PauLo : Ágora, 2006.
Título original: Nonviolent com m unication: a language o f life. 
Bibliografia.
ISB N 978-85-7183-826-0
1. Com unicação interpessoal 2. Conduta de vida 3. Não-violência 4. Re­
lações interpessoais I. Título.
05-8849 CDD-153.6
índ ice para catálogo sistem ático:
1. Com unicação não-violenta : Psicologia 153.6
Compre em lugar de fotocopiar.
Cada real que você dá por um livro recompensa seus autores 
e os convida a produzir mais sobre o tema; 
incentiva seus editores a encomendar, traduzir e publicar 
outras obras sobre o assunto; 
e paga aos livreiros por estocar e levar até você livros 
para a sua inform ação e o seu entretenimento.
Cada real que você dá pela fotocópia não autorizada de um livro 
financia um crime 
e ajuda a matar a produção intelectual em todo o mundo.
Comunicação não-violentd
TÉCNICAS PARA APRIMORAR RELACIONAMENTOS 
PESSOAIS E PROFISSIONAIS
Marshall B. TCosenberg
C'':€ 5 f
EDITORA
ÁGORA
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA 
Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais 
Copyright © 2003 by Marshall B. Rosenberg 
Direitos desta tradução adquiridos por Summus Editorial
Editora executiva: Soraia Bini Cury 
Assistente de produção: Claudia Agnelli 
Tradução: Mário V ilela 
Revisão técnica: Dominic Barter 
Capa: Renata Buono 
Projeto gráfico e diagramação: Acqua Estúdio Gráfico 
Fotolitos: Casa de Tipos
2a edição
Editora Ágora
Departamento editorial:
Rua Itapicuru, 613 - 7fl andar 
05006-000 - São Paulo - SP 
Fone: (11) 3872-3322 
Fax: (11) 3872-7476 
http://www.editoraagora.com.br 
e-mail: agora@editoraagora.com.br
Atendimento ao consumidor: 
Summus Editorial 
Fone: (11) 3865-9890
Vendas por atacado:
Fone: (11) 3873-8638 
Fax: (11) 3873-7085 
e-mail: vendas@summus.com.br
Impresso no Brasil
Agradecimentos
Sou grato por ter podido estudar e trabalhar com o profes­
sor Cari Rogers na época em que ele pesquisava os com ponen­
tes de um a relação de apoio. Os resultados dessa pesquisa d e ­
sem penharam papel-chave no desenvolvim ento do processo 
de com unicação que descreverei neste livro.
Serei e ternam ente grato ao professor M ichael Hakeem, 
por ter m e ajudado a ver as limitações científicas e os riscos so­
ciais e políticos de praticar a psicologia como fui treinado: um 
m odo de en tender os seres hum anos com base em patologias. 
Ver as limitações desse m odelo m e estim ulou a procurar for­
m as de praticar um a psicologia diferente, baseada na crescen­
te clareza a respeito de como nós, seres hum anos, deveríam os 
viver.
Também sou grato a George Miller e a George Albee, pelos 
esforços para alertar os psicólogos quanto à necessidade de e n ­
contrar m aneiras m elhores de disseminar a psicologia. Eles m e 
ajudaram a ver que a enorm e quantidade de sofrimento em nos­
so planeta requer m odos mais eficazes de distribuir habilidades 
tão necessárias quanto aquelas oferecidas por um a abordagem 
clínica.
Gostaria de agradecer a L u cy Leu po r ter editado este livro e 
criado o m anuscrito final; a Rita Herzog e Kathy Smith pela as­
sistência no processo de edição; e a Darold Milligan, Sonia Nor- 
denson, M elanie Sears, Bridget Belgrave, M arian Moore, Kittrell 
McCord, Virginia Hoyte e Peter Weismiller pela ajuda adicional.
Por fim, gostaria de expressar m inha gratidão à amiga 
Annie Muller. Ela m e encorajou a ser mais claro no referente 
aos fundam entos espirituais de m eu trabalho, o que o fortale­
ceu e enriqueceu m inha vida.
Úuando conheci Marshall Rosenberg, uma comunicação pro­
funda se estabeleceu im ediatam ente entre nós, pois além de 
term os em comum os ideais de paz, fom os influenciados pelos 
mesmos mestres.
0 presente livro é um best-seller internacional. Ele acompanha 
e reforça um novo m étodo de resolução pacífica de conflitos. 
Seu principal m érito é nos ensinar a nos colocarmos no lugar 
do outro, desenvolvendo a em patia, que é de grande ajuda até 
em casos mais difíceis de rupturas e má comunicação. 
Marshall Rosenberg e sua equipe introduziram o método de 
comunicação não-vio lenta no Brasil há alguns anos, e esta 
obra encontrará um "solo" já fertilizado.
De todo coração desejo grande sucesso a esta imensa co n tri­
buição para o desenvolvim ento de uma cultura de paz no 
Brasil e no mundo.
PlERRE W eil
0 trabalho do dr. Marshall Rosenberg sobre a comunicação 
não-vio lenta revela, in icialm ente, a profundidade que a cul­
tura de guerra adquiriu, tan to na nossa linguagem quanto 
nos relacionamentos. Por outro lado, sua habilidade pedagó­
gica nos encoraja a entrar em contato com esse centro de hu­
m anidade, onde nos reconhecemos como aprendizes de novos 
modos de estar e de nos articular com os outros e com o 
mundo. Além de ser uma via de autoconhecim ento, a com u­
nicação não-vio lenta é um instrum ento eficiente e mais do 
que oportuno para capacitar aqueles que - com prom etidos 
com a im plem entação de uma Cultura de Paz - visam se 
auto -educar para restabelecer a confiança m útua entre pes­
soas, instituições, povos e nações.
L ia D is k in 
Associação Palas Athena
Marshall Rosenberg oferece ferram entas das mais eficientes 
para cuidarmos da saúde e dos relacionamentos. A c n v conec­
ta a alma das pessoas, promovendo sua regeneração. É o ele­
m ento que fa lta em tudo que fazemos.
D e e p a k C h o p r a 
autor de As sete leis espirituais do sucesso
A notável mensagem do dr. Marshall fornece aos professores 
passos simples para a com unicação pacífica e uma nova 
maneira de trabalhar com crianças e pais.
B a r b a r a M o f f it i 
Diretora executiva do Centro Am ericano 
de Educadores Montessori
As técnicas dinâm icas de Marshall Rosenberg transform am 
potenciais conflitos em diálogos pacíficos. Ele ensina fe rra ­
mentas simples para desarmar argum entos perigosos e criar 
conexões de compaixão com a fam ília , amigos e outros co­
nhecidos. Eu recomendo este livro com entusiasmo.
J o h n G r ay
autor de Homens são de M arte , mulheres são de Vênus
Acredito que os princípios e as técnicas deste livro podem li­
teralm ente m udar o mundo, porém, mais im portante do que 
isso, eles podem m elhorar a qualidade de vida entre com pa­
nheiros, filhos, vizinhos, colegas de trabalho e todas as pes­
soas com as quais interagim os. M inha recom endação não 
poderia ser mais enfática.
J a c k Ca n f ie l d
co -au to r da série Histórias para aquecer o coração
Sumário
Prefácio.............................................................................................. 1 3
1. D O FUNDO DO CORAÇÃO - O CERNE DA COMUNICAÇÃO
NÃO-VIOLENTA.................................................................................................... 1 9
2 . A COMUNICAÇÃO QUE BLOQUEIA A COMPAIXÃO......................... 3 7
3 . O b s e r v a r s e m a v a l i a r ............................................................................ 4 9
4 . I d e n t if ic a n d o e e x p r e s s a n d o s e n t im e n t o s ............................. 6 3
5. A s s u m in d o a r e s p o n s a b il id a d e p o r n o s s o s
s e n t im e n t o s ....................................................................................................... 7 9
6 . P e d in d o a q u il o q u e e n r iq u e c e r á n o s s a v i d a ...................... 1 0 3
7 . R e c e b e r c o m e m p a t ia ............................................................................... 1 3 3
8 . O p o d e r d a e m p a t ia ................................................................................... 1 5 9
9 . C o n e c t a n d o - n o s c o m p as s iv a m e n t e c o m n ó s m e s m o s . . . . 1 7 9
1 0 . E x p r e s s a n d o a r a iv a p l e n a m e n t e .................................................. 1 9 7
1 1 . O u s o d a f o r ç a p a r a p r o t e g e r ...................................................... 2 2 3
1 2 . L ib e r t a n d o -n o s e a c o n s e l h a n d o o s o u t r o s ......................... 2 3 5
1 3 . E x p r e s s a n d o a p r e c ia ç ã o n a c o m u n ic a ç ã o
n ã o - v io l e n t a .................................................................................................... 2 5 3
E pílogo ............................................................................................................................. 2 6 5
Bibliografia .................................................................................................................... 2 6 9
índice rem issivo .......................................................................................................... 2 7 3
Sobre o c n v c e a c n v ................................................................................................. 2 8 3
Prefácio
Crescer como pessoa de cor na África do Sul do Apartheid, 
na década de 1940, não era nada agradável. Principalm ente se 
você era brutalm ente lem brado da cor de sua pele a cada m o ­
m ento do dia. Depois, ser espancado aos 10 anos por jovens 
brancos que o consideravam negro demais e em seguida por jo ­
vens negros que o consideravam branco demais era um a expe­
riência hum ilhante que poderia levar qualquer um à vingança 
violenta.
Fiquei tão indignado com essa vivência que m eus pais de­
cidiram me levar para a índia e me deixar por algum tem po com 
m eu avô, o lendário M ohandas K aram chand Gandhi, para que 
eu pudesse aprender com ele a lidar com a raiva, a frustração, a 
discriminação e a hum ilhação que o preconceito racial violento 
pode provocar. Naqueles dezoito meses, aprendi mais do que 
esperava. Hoje, m eu único arrependim ento é que eu tinha ape­
nas 13 anos e, ainda por cima, era aluno medíocre. Se eu fosse 
mais velho, um pouco mais sensato e pensasse mais, poderia ter
13
I MARSHALL B. ROSENBERG I
aprendido m uito mais. No entanto, as pessoas devem se con ten­
tar com o que recebem e não ser dem asiado gananciosas - um a 
lição fundam ental no m odo de vida não-violento. Como pode­
rei esquecer isso?
Uma das m uitas coisas que aprendi com m eu avô foi a com ­
preender a profundidade e a am plitude da não-violência e a re ­
conhecer que somos todos violentos e precisamos efetuar um a 
m udança qualitativa em nossas atitudes. Com freqüência, não 
reconhecem os nossa violência porque somos ignorantes a res­
peito dela. Presum im os que não somos violentos porque nossa 
visão da violência é aquela de brigar, matar, espancar e guerrear
- o tipo de coisa que os indivíduos com uns não fazem.
Para m e fazer com preender isso, m eu avô m e fez desenhar 
um a árvore genealógica da violência, usando os m esm os princí­
pios usados nas árvores genealógicas das famílias. Seu argu­
m ento era que eu entenderia m elhor a não-violência se com ­
preendesse e reconhecesse a violência que existe no m undo. 
Toda noite, ele m e ajudava a analisar os acontecim entos do dia
- tudo que eu experim entara, lera, vira ou fizera aos outros - e 
a colocá-los na árvore, sob as rubricas "física" (a violência em 
que se tivesse em pregado força física) ou "passiva" (a violência 
em que o sofrim ento tivesse sido mais de natureza em ocional).
Em poucos meses, cobri um a parede de m eu quarto com 
atos de violência "passiva", a qual m eu avô descrevia como mais 
insidiosa que a violência "física". Ele explicava que, no fim das 
contas, a violência passiva gerava raiva na vítima, que, como in ­
divíduo ou m em bro de um a coletividade, respondia v iolenta­
m ente. Em outras palavras, é a violência passiva que alim enta a 
fornalha da violência física. Em razão de não com preenderm os 
ou analisarm os esse conceito, todos os esforços pela paz não 
frutificam, ou alcançam apenas um a paz tem porária. Como po-
14
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
demos apagar um incêndio se antes não cortamos o suprim en­
to de combustível que alim enta as chamas?
M eu avô sem pre enfatizou de forma eloqüente a necessida­
de da não-violência nas comunicações - algo que M arshall Ro- 
senberg vem fazendo de m odo adm irável há muitos anos, em 
seus escritos e seminários. Li com considerável interesse seu 
livro Comunicação não-violenta - Aprimorando seus relacionamentos 
pessoais e profissionais e fiquei im pressionado com a profundida­
de do trabalho e a simplicidade das soluções.
A m enos que "nos tom em os a m udança que desejamos ver 
acontecer no m undo" (como diria m eu avô), nenhum a m u d an ­
ça jam ais acontecerá. Infelizmente, estamos todos esperando 
que os outros m udem prim eiro.
A não-violência não é um a estratégia que se possa utilizar 
hoje e descartar am anhã, nem é algo que nos tom e dóceis ou fa­
cilmente influenciáveis. Trata-se, isto sim, de inculcar atitudes 
positivas em lugar das atitudes negativas que nos dom inam . 
Tudo que fazemos é condicionado por motivações egoístas ("Que 
vantagem eu levo nisso?"), e essa constatação se revela ainda 
mais verdadeira num a sociedade esm agadoram ente m aterialis­
ta, que prospera com base num duro individualismo. N enhum 
desses conceitos negativos leva à construção de um a família, co­
m unidade, sociedade ou nação hom ogênea.
Não é im portante que nos reunam os nos m om entos de cri­
se e dem onstrem os patrio tism o agitando a bandeira; não b as­
ta que nos tornem os um a superpotência, construindo um arse­
nal que possa destruir várias vezes este m undo; não é suficiente 
que subjuguem os o resto do m undo com nosso poderio militar, 
porque não se pode construir a paz sobre alicerces de medo.
A não-violência significa perm itirm os que venha à tona 
aquilo que existe de positivo em nós e que sejamos dom inados
15
I MARSHALL B. ROSENBERG I
pelo amor, respeito, compreensão, gratidão, compaixão e preo­
cupação com os outros, em vez de o sermos pelas atitudes ego­
cêntricas, egoístas, gananciosas, odientas, preconceituosas, sus­
peitosas e agressivas que costum am dom inar nosso pensam ento. 
É com um ouvirm os as pessoas dizerem: "Este é um m undo 
cruel, e, se a gente quer sobreviver, tam bém tem de ser cruel". 
Tomo hum ildem ente a liberdade de discordar de tal argum ento.
O m undo em que vivemos é aquilo que fazemos dele. Se 
hoje é impiedoso, foi porque nossas atitudes o to rnaram assim. 
Se m udarm os a nós mesmos, poderem os m udar o m undo, e 
essa m udança começará por nossa linguagem e nossos m étodos 
de comunicação. Recom endo entusiasticam ente este livro e a 
aplicação do processo de Com unicação Não-Violenta que ele 
prega. É um prim eiro passo significativo para m udarm os nossa 
com unicação e criarmos um m undo mais compassivo.
A r u n G a n d h i 
Fundador e presidente do 
M. K. Gandhi Institute for Nonviolence
16
P alavras são janelas (ou são paredes)
Sinto-me tão condenada por suas palavras,
Tão julgada e dispensada.
Antes de ir, preciso saber:
Foi isso que você quis dizer?
Antes que eu me levante em minha defesa, 
Antes que eu fale com mágoa ou medo,
Antes que eu erga aquela muralha de palavras, 
Responda: eu realmente ouvi isso?
Palavras são janelas ou são paredes.
Elas nos condenam ou nos libertam.
Quando eu falar e quando eu ouvir,
Que a luz do amor brilhe através de mim.
Há coisas que preciso dizer,
Coisas que significam muito para mim.
Se minhas palavras não forem claras,
Você me ajudará a me libertar?
Se pareci menosprezar você,
Se você sentiu que não me importei,
Tente escutar por entre as minhas palavras 
Os sentimentos que compartilhamos.
R u th B e b e r m e y e r
1 . Do fundo do coração
0 CERNE DA
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA
O que eu quero em minha vida é compaixão, um fluxo 
entre mim mesmo e os outroscom base numa entrega 
mtítua, do fundo do coração.
M a r s h a l l B . R o s e n b e r g
Introdução
Acredito que é de nossa natureza gostar de dar e receber de 
forma compassiva. Assim, duran te a m aior parte da vida, tenho 
m e preocupado com duas questões: o que acontece que nos 
desliga de nossa natureza compassiva, levando-nos a nos com ­
portarm os de m aneira violenta e baseada na exploração das o u ­
tras pessoas? E, inversam ente, o que perm ite que algumas pes­
soas perm aneçam ligadas à sua natureza compassiva m esm o nas 
circunstâncias mais penosas?
M inha preocupação com essas questões começou na in fân ­
cia, por volta do verão de 1943, quando nossa família se m udou 
para Detroit. Na segunda sem ana após nossa chegada, eclodiu 
um conflito racial, que com eçou com um incidente num parque 
público. Nos dias seguintes, mais de quarenta pessoas foram 
mortas. Nosso bairro ficava no centro da violência, e passamos 
três dias trancados em casa.
19
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Quando term inaram os tum ultos raciais e com eçaram as 
aulas, descobri que o nom e pode ser tão perigoso quanto qual­
quer cor de pele. Q uando o professor disse m eu nom e durante 
a chamada, dois m eninos m e encararam e perguntaram , com 
veneno: "Você é kike?" Eu nunca tinha ouvido aquela palavra e 
não sabia que algumas pessoas a utilizavam de m aneira depre­
ciativa para se referir aos judeus. Depois da aula, os dois já es­
tavam m e esperando: eles m e jogaram no chão, m e chutaram e 
m e bateram .
Desde aquele verão de 1943, venho exam inando aquelas 
duas questões que m encionei. O que nos perm ite, por exem ­
plo, perm anecer sintonizados com nossa natureza compassiva 
até nas piores circunstâncias? Penso em pessoas como Etty Hil- 
lesum, que continuou compassiva m esm o quando sujeita às 
grotescas condições de um campo de concentração alem ão. Na 
época, ela escreveu:
Não é fácil me amedrontar. Não porque eu seja corajosa, mas por­
que sei que estou lidando com seres humanos e que preciso tentar 
ao máximo compreender tudo que qualquer pessoa possa fazer. E 
foi isso o que realmente importou hoje de manhã - não que um 
jovem oficial da Gestapo, contrariado, tenha gritado comigo, mas, 
sim, que eu não tenha me sentido indignada, antes tenha sentido 
verdadeira compaixão e desejado perguntar: "O senhor teve uma 
infância muito infeliz? Brigou com a namorada?". É, ele parecia 
atormentado e obcecado, mal-humorado e fraco. Eu gostaria de ter 
começado a tratá-lo ali mesmo, pois sei que jovens dignos de pena 
como ele se tomam perigosos tão logo fiquem soltos no mundo.
(Etty H illesum, A diary)
20
I COMUNICAÇÃO IMÃO-VIOLENTA I
Enquanto estudava os fatores que afetam nossa capacidade 
de nos m anterm os compassivos, fiquei im pressionado com o 
papel crucial da linguagem e do uso das palavras. Desde então, 
identifiquei um a abordagem específica da com unicação — falar 
e ouvir — que nos leva a nos entregarm os de coração, ligando- 
nos a nós m esm os e aos outros de m aneira tal que perm ite que 
nossa compaixão natu ral floresça. D enom ino essa abordagem 
Com unicação Não-Violenta, usando o term o "não-violência" na 
m esm a acepção que lhe atribuía Gandhi — referindo-se a nosso 
estado compassivo natural quando a violência houver se afastado 
do coração. Embora possamos
~ i s ✓ M C L U Í U L M v ivras nao raro m duzem a m a­
goa e à dor, seja para os outros, seja para nós mesmos. Em 
algumas com unidades, o processo que estou descrevendo é co­
nhecido como com unicação compassiva; em todo este livro, a 
abreviatura cnv será utilizada para se referir à com unicação 
não-violenta.
Uma m a n e ira d e c o n c e n t r a r a a te n ç ã o
A cnv se baseia em habilidades de linguagem e comunicação 
que fortalecem a capacidade de continuarm os hum anos, mesmo 
em condições adversas. Ela não tem nada de novo: tudo que foi 
integrado à cnv já era conhecido havia séculos. O objetivo é nos 
lem brar do que já sabemos — de como nós, hum anos, devería­
mos nos relacionar uns com os outros — e nos ajudar a viver de 
modo que se m anifeste concretam ente esse conhecim ento.
A cnv nos ajuda a reform ular a m aneira pela qual nos ex ­
pressam os e ouvim os os outros. Nossas palavras, em vez de se­
não considerar "violenta" a m a­
neira de falarmos, nossas pala-
c n v : uma forma de comunicação 
que nos leva a nos entregarmos 
de coração.
21
I MARSHALL B. ROSENBERG I
rem reações repetitivas e autom áticas, tornam -se respostas 
conscientes, firm em ente baseadas na consciência do que esta­
mos percebendo, sentindo e desejando. Somos levados a nos 
expressar com honestidade e clareza, ao m esm o tem po que d a ­
m os aos outros um a atenção respeitosa e empática. Em toda 
troca, acabamos escutando nossas necessidades mais p ro fu n ­
das e as dos outros. A cnv nos ensina a observarm os cuidado­
sam ente (e sermos capazes de identificar) os com portam entos 
e as condições que estão nos afetando. A prendem os a identifi­
car e a articular claram ente o que de fato desejam os em d e­
term inada situação. A form a é simples, mas profundam ente 
transform adora.
À m edida que a cnv substitui nossos velhos padrões de de­
fesa, recuo ou ataque diante de ju lgam entos e críticas, vamos 
percebendo a nós e aos outros, assim como nossas intenções e 
relacionam entos, por um enfoque novo. A resistência, a postu ­
ra defensiva e as reações violentas são minimizadas. Q uando 
nos concentram os em to rnar mais claro o que o ou tro está ob­
servando, sentindo e necessi­
tando em vez de diagnosticar e 
julgar, descobrimos a p ro fund i­
dade de nossa própria com pai­
xão. Pela ênfase em escutar 
p ro fundam ente — a nós e aos 
outros —, a cnv prom ove o res­
peito, a atenção e a em patia e gera o m ú tuo desejo de nos e n ­
tregarm os de coração.
Embora eu m e refira à cnv como "processo de com unica­
ção" ou "linguagem da compaixão", ela é mais que processo ou 
linguagem. N um nível mais profundo, ela é um lem brete per-
Quando utilizamos a c n v para 
ouvir nossas necessidades mais 
profundas e as dos outros, perce­
bemos os relacionamentos por 
um novo enfoque.
22
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
m anente para m anterm os nossa atenção concentrada lá onde é 
mais provável acharm os o que procuram os.
Existe a história de um hom em agachado debaixo de um 
poste de ilum inação, procurando algum a coisa. Um policial pas­
sa e pergunta o que ele está fazendo. "Procurando as chaves do 
carro", responde o hom em , que parece ligeiram ente bêbado. 
"Você as perdeu aqui?", pergunta o policial. "Não, perdi no b e ­
co." Vendo a expressão intrigada do policial, o hom em se apres­
sa a explicar: "É que a luz está m uito m elhor aqui".
Acho que m eu condicionam ento cultural m e leva a con­
centrar a atenção em lugares onde é im provável que eu consi­
ga o que quero. Desenvolvi a
cn v co m o u m a m a n e ira d e faz e r Vamos fazer brilhar a luz da
b r ilh a r a lu z d a co n sc iên c ia — consciência nos pontos em que
d e c o n d ic io n a r m in h a a te n ç ã o a possamos esperar achar aquilo
se concentrar em pontos que te- que procuramos.
n h am o potencial de m e dar o
que procuro. O que almejo em m inha vida é compaixão, um 
fluxo entre m im e os outros com base num a entrega m útua, do 
fundo do coração.
Essa característica da compaixão, que denom ino "entregar- 
se de coração", se expressa na letra da canção "Given to", com ­
posta por m inha amiga R uth Beberm eyer em 1978:
Nunca me sinto mais presenteada 
Do que quando você recebe algo de mim - 
Quando você compreende a alegria que sinto 
ao lhe dar algo.
E você sabe que estou dando aquilo não 
para fazer você ficar me devendo,
23
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Mas porque quero viver o amor 
que sinto por você.
Receber algo com boa vontade 
pode ser a maior entrega.
Eu nunca conseguiria separar as duas coisas.
Quando você me dá algo,
Eu lhe dou meu receber.
Quandovocê recebe algo de mim,
Eu me sinto tão presenteada.
Q uando nos entregam os de coração, nossos atos brotam da 
alegria que surge e resplandece sem pre que enriquecem os de 
boa vontade a vida de outra pessoa. Isso beneficia tan to quem 
doa quanto quem recebe. Este últim o aprecia o presente sem se 
preocupar com as conseqüências que acom panham o que foi 
dado por medo, culpa, vergonha ou desejo de lucrar alguma 
coisa. Quem doa se beneficia daquele reforço de auto-estim a que 
se produz sem pre que vemos nossos esforços contribuírem para 
o bem -estar de alguém.
Para usarm os a cnv, as pessoas com quem estamos nos co­
m unicando não precisam conhecê-la, ou m esm o estar m otiva­
das a se com unicar com passivam ente conosco. Se nos ativermos 
aos princípios da cnv, motivados som ente a dar e a receber com 
compaixão, e fizermos tudo que puderm os para que os outros 
saibam que esse é nosso único interesse, eles se unirão a nós no 
processo, e acabaremos conseguindo nos relacionar com com ­
paixão uns com os outros. Não estou dizendo que isso sempre 
aconteça rapidam ente. Afirmo, en tretanto , que a compaixão 
inevitavelm ente floresce quando nos m antem os fiéis aos princí­
pios e ao processo da cnv.
24
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
O PROCESSO DA C1W
Para chegar ao m útuo desejo de nos entregarm os de cora­
ção, concentram os a luz da consciência em quatro áreas, às 
quais nos referirem os como os quatro com ponentes do modelo 
da cnv.
Primeiramente, observamos o que está de fato acontecendo 
num a situação: o que estamos vendo os outros dizerem ou faze­
rem que é enriquecedor ou não para nossa vida? O truque é ser 
capaz de articular essa observação sem fazer nenhum julgam ento 
ou avaliação — mas simplesmente dizer o que nos agrada ou não 
naquilo que as pessoas estão fa­
zendo. Em seguida, identifica- Os quatro componentes da c n v : 
mos como nos sentimos ao ob- 1. observação;
servar aquela ação: magoados, 2. sentimento;
assustados, alegres, divertidos, 3. necessidades;
irritados etc. Em terceiro lugar, 4 . pedido.
reconhecemos quais de nossas
necessidades estão ligadas aos sentimentos que identificamos aí. 
Temos consciência desses três componentes quando usamos a cnv 
para expressar clara e honestam ente como estamos.
Uma m ãe poderia expressar essas três coisas ao filho adoles­
cente dizendo, por exemplo: "Roberto, quando eu vejo duas 
bolas de meias sujas debaixo da m esinha e mais três perto da tv, 
fico irritada, porque preciso de mais ordem no espaço que usa­
mos em comum".
Ela im ediatam ente continuaria com o quarto com ponente
— um pedido bem específico: "Você poderia colocar suas meias 
no seu quarto ou na lavadora?" Esse com ponente enfoca o que 
estamos querendo da outra pessoa para enriquecer nossa vida 
ou torná-la mais maravilhosa.
25
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Assim, parte da cnv consiste em expressar as quatro infor­
mações m uito claram ente, seja de form a verbal, seja por outros 
meios. O outro aspecto dessa fo rm a de comunicação consiste 
em receber aquelas m esmas quatro informações dos outros. Nós 
nos ligamos a eles prim eiram ente percebendo o que estão ob­
servando e sentindo e do que estão precisando; e depois desco­
brindo o que poderia enriquecer suas vidas ao receberem a 
quarta inform ação, o pedido.
À m edida que m antiverm os nossa atenção concentrada 
nessas áreas e ajudarm os os outros a fazerem o m esm o, esta­
belecerem os um fluxo de com unicação dos dois lados, até a 
com paixão se m anifestar na tu ra lm ente : o que estou observan­
do, sentindo e do que estou necessitando; o que estou pedindo 
para enriquecer m inha vida; o que você está observando, sen­
tindo e do que está necessitando; o que você está pedindo para 
enriquecer sua vida...
0 p rocesso da cnv
As ações concretas que estamos observando e que afetam
nosso bem-estar;
Como nos sentim os em relação ao que estamos observando;
As necessidades, valores, desejos etc. que estão gerando nos­
sos sentimentos;
As ações concretas que pedim os para enriquecer nossa vida.
Ao usarm os esse processo, podem os começar nos expres­
sando ou então recebendo com em patia essas quatro inform a­
26
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
ções dos outros. Dos capítulos 3 ao 6, aprenderem os a perceber 
e a expressar verbalm ente cada u m desses com ponentes, m as é 
im portan te ter em m ente que a cnv não consiste n um a fó rm u ­
la preestabelecida; antes, ela se 
adapta a várias situações e esti­
los pessoais e culturais. E m bo­
ra eu, por conveniência, me 
refira à c n v com o "processo" 
ou "linguagem ", é possível rea ­
lizar todas as quatro partes do 
processo sem p ro n u n c iar um a
só palavra. A essência da cnv está em nossa consciência da 
queles quatro com ponentes, não nas palavras que efetiva 
m ente são trocadas.
As duas partes da c n v :
1. expressar-se honestamente 
por meio dos quatro compo­
nentes;
2. receber com empatia por meio 
dos quatro componentes.
Aplicando a cnv em no ssa vida e no m undo
Q uando utilizamos a c n v e m nossas interações — com nós 
mesmos, com outra pessoa ou com um grupo —, nós nos colo­
camos em nosso estado compassivo natural. Trata-se, portanto, 
de um a abordagem que se aplica de m aneira eficaz a todos os 
níveis de com unicação e a diversas situações:
• relacionam entos íntimos;
• famílias;
• escolas;
• organizações e instituições;
• terapia e aconselham ento;
• negociações diplomáticas e comerciais;
• disputas e conflitos de toda natureza.
27
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Algumas pessoas usam a cnv para estabelecer m aior grau de 
profundidade e afeto em seus relacionam entos íntimos. Eis o 
depoim ento de um a participante de um de nossos seminários, 
em San Diego:
'2; 'ViOOÔOG ’ -'C'
Quando aprendi como posso receber (escutar) e dar (expressar) 
por meio da c n v , superei a fase em que me sentia agredida e feita 
de capacho e comecei a realmente escutar as palavras e a captar 
nelas os sentimentos subjacentes. Eu me dei conta do homem com 
quem tinha estado casada por 28 anos, um homem muito sofrido.
Ele havia pedido o divórcio uma semana antes do seminário 
[sobre c n v J . Para encurtar uma história bem comprida, estamos 
aqui hoje - juntos - e estou ciente da contribuição que [a c n v ] 
deu para termos um final feliz. [...] Aprendi a escutar sentimen­
tos, a expressar minhas necessidades, a aceitar respostas que nem 
sempre queria ouvir. Ele não está aqui só para me agradar, nem 
eu estou aqui para dar felicidade a ele. Ambos aprendemos a 
crescer, a aceitar e a amar de modo que ambos possamos nos rea­
lizar.
Outros usam a cnv para estabelecer relacionam entos mais 
eficazes no trabalho. Uma professora de Chicago escreve:
Há cerca de um ano venho utilizando a c n v em minha turma de 
alunos especiais. Ela pode funcionar até mesmo com crianças que 
têm desenvolvimento retardado da linguagem, dificuldades de
28
aprendizado e problemas de comportamento. Um aluno de nossa 
sala cospe, diz palavrões, grita e espeta outros alunos com lápis 
quando se aproximam de sua carteira. Eu lhe dou a deixa: "Por 
favor, diga isso de outro jeito. Use sua conversa de girafa". [Em 
alguns seminários, para demonstrar a cm , usam-se fantoches de 
girafa.] Na mesma hora, ele se levanta, olha para a pessoa de 
quem está com raiva e diz com toda a calma: "Por favor, você po­
deria sair de perto da minha carteira? Eu fico com raiva quando 
você fica tão perto de m i m Os outros alunos em geral respon­
dem com algo nesta linha: “Me desculpe, eu tinha esquecido que 
isso deixa você aborrecido
Comecei a pensar em minha frustração com essa criança e tentar 
descobrir do que (além de harmonia e ordem) eu precisava. Per­
cebi quanto tempo eu dedicava ao planejamento das aulas e como 
minha necessidade de ser criativa e contribuir estava sendo pas­
sada para trás pela necessidade de manter o bom comportamen­
to da classe. Também senti que não estava atendendo às necessi­
dades educacionais dos outrosalunos. Quando ele tinha alguma 
demonstração de raiva na aula, comecei a dizer: "Preciso que 
você preste atenção em mim". Eu talvez tivesse de dizer isso cem 
vezes ao dia, mas ele acabava captando a mensagem e geralmen­
te se concentrava na aula.
'OtX'*
Um a médica de Paris escreve:
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA
Cada vez mais, uso a c m na prática clínica. Alguns pacientes 
perguntam se sou psicóloga, explicando que seus médicos não cos­
tumam se interessar pela maneira que vivem ou lidam com as
29
I MARSHALL B. ROSENBERG I
doenças. A c n v me ajuda a compreender quais são as necessida­
des dos pacientes e o que eles precisam ouvir em determinado mo­
mento. Acho que isso ajuda sobretudo no relacionamento com he­
mofílicos e aidéticos, pois ocorre tanta raiva e dor que é comum a 
relação entre o paciente e o profissional de saúde ficar seriamen­
te abalada. Faz pouco tempo, uma aidética que venho tratando 
hâ cinco anos me disse que o que mais a tinha ajudado foram mi­
nhas tentativas de achar maneiras para ela desfrutar o dia-a- 
dia. Nesse sentido, a c n v me auxilia muito. Antes, quando sabia 
que um paciente tinha uma doença fatal, eu freqüentemente me 
atinha ao prognóstico, e, assim, era difícil estimulá-los sincera­
mente a viver a vida. Com a c n v , desenvolvi uma nova consciên­
cia, bem como uma nova linguagem. Fico assombrada em ver 
quanto ela se encaixa bem em minha prática clínica. À medida 
que me envolvo cada vez mais na dança da c n v , sinto mais ener­
gia e alegria no trabalho.
Outros, por sua vez, em pregam esse processo na política. 
Uma m inistra francesa, ao visitar a irmã, no tou quanto esta e o 
m arido estavam se com unicando e respondendo um ao outro 
de m aneira diferente. Encorajada pela descrição que fizeram da 
cnv, m encionou que, na sem ana seguinte, estaria negociando 
com a Argélia algumas questões delicadas, referentes a procedi­
m entos de adoção. Embora o tem po fosse curto, despachamos 
para Paris um instru tor que falava francês, a fim de trabalhar 
com a m inistra. Posteriorm ente, ela atribuiu grande parte do 
sucesso de suas negociações na Argélia às novas técnicas de co­
municação que tinha adquirido.
Em Jerusalém , durante um sem inário ao qual com parece­
ram israelenses de diversas convicções políticas, os participantes
30
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
usaram a cnv para se expressar a respeito do problem a da Cis- 
jordânia, extrem am ente polêmico. M uitos dos colonos israelen­
ses que ali se estabeleceram acreditam que cum priam um a de­
term inação religiosa ao fazê-lo; eles estão enredados num 
conflito não apenas com os palestinos, mas tam bém com israe­
lenses que reconhecem o desejo palestino de ter soberania n a ­
cional na região. D urante um a sessão, um de m eus instrutores 
e eu criamos um m odelo de escuta com em patia usando a cnv. 
Em seguida, convidamos os participantes a se alternarem nos 
papéis uns dos outros. Passados vinte m inutos, um a colona de­
clarou que, caso seus opositores políticos se m ostrassem capazes 
de ouvi-la do m esm o m odo que havia acabado de ser ouvida, 
ela estaria disposta a considerar abrir m ão de suas reivindica­
ções fundiárias e sair da Cisjordânia para algum lugar em terri­
tório in ternacionalm ente reconhecido como israelense.
Hoje, em todo o m undo, a cnv serve como recurso valioso 
para com unidades que enfrentam conflitos violentos ou graves 
tensões de natureza étnica, religiosa ou política. O avanço do 
treinam ento em cnv e seu uso em mediações entre partes em 
conflito em Israel, no território da Autoridade Palestina, na Ni­
géria, em Ruanda, em Serra Leoa e em outros lugares têm sido 
motivo de especial satisfação para mim. Certa vez, m eus asso­
ciados e eu estivemos em Belgrado durante três dias muitíssimo 
tensos, treinando cidadãos que trabalhavam pela paz. Logo ao 
chegarmos, vimos estam pada no rosto dos participantes um a 
expressão de visível desespero, pois o país estava então envolvi­
do num a guerra brutal na Bósnia e na Croácia. À m edida que o 
Ireinam ento avançou, começamos a ouvir o som de riso em 
suas vozes, ao expressarem sua profunda gratidão e alegria por 
le re m encontrado o recurso de que precisavam. Nas duas sem a­
nas seguintes, trabalhando na Croácia, em Israel e na Palestina,
31
I MARSHALL B. ROSENBERG I
to rn a m o s a v e r c id ad ão s d ese sp e rad o s de p aíses a rra sad o s p e la 
g u e rra re c u p e ra re m o â n im o e a co n fian ça a p a r t i r do t r e in a ­
m e n to e m CNV q u e receb iam .
Sinto-me abençoado por poder viajar o m undo todo ensi­
nando às pessoas um processo de comunicação que lhes dá 
poder e alegria. Agora, com este livro, estou feliz e empolgado 
por poder com partilhar com você a riqueza da Comunicação 
Não-Violenta.
Resum o
A cnv nos ajuda a nos ligarmos uns aos outros e a nós m es­
mos, possibilitando que nossa compaixão na tu ra l floresça. Ela 
nos guia no processo de reform ular a m aneira pela qual nos ex­
pressamos e escutamos os outros, m ediante a concentração em 
quatro áreas: o que observamos, o que sentimos, do que neces­
sitamos, e o que pedim os para enriquecer nossa vida. A cnv p ro ­
move m aior profundidade no escutar, fom enta o respeito e a 
em patia e provoca o desejo m útuo de nos entregarm os de cora­
ção. Algumas pessoas usam a cnv para responder compassiva­
m ente a si mesmas; outras, para estabelecer m aior p rofund i­
dade em suas relações pessoais; e outras, ainda, para gerar 
relacionam entos eficazes no trabalho ou na política. No m undo 
inteiro, utiliza-se a cnv para m ediar disputas e conflitos em 
todos os níveis.
A c n v em ação
“Assassino, matador de crianças!”
Intercalados em todo este livro, há diálogos in titu lados "A c n v 
em ação" Eles se destinam a proporcionar o gostinho de um
32
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
in t e r c â m b io r e a l e m q u e u m d o s in t e r lo c u to r e s a p l iq u e o s 
p r in c íp io s d a c o m u n ic a ç ã o n ã o - v io le n t a . E n t r e ta n to , a c n v 
n ã o é m e r a m e n te u m a l in g u a g e m , n e m u m c o n ju n to d e té c ­
n ic a s p a r a u s a r a s p a la v r a s ; a c o n s c iê n c ia e a in te n ç ã o q u e 
a c n v a b ra n g e p o d e m m u i t o b e m se e x p re s s a r p e lo s i lê n c io 
(u m a c a r a c te r ís t ic a d o e s ta r p re s e n te ) , p e la e x p re s s ã o fa c ia l 
e p e la l in g u a g e m c o rp o ra l. O s d iá lo g o s d e “A c n v e m a ç ã o " 
q u e você le r á s ã o v e rs õ e s n e c e s s a r ia m e n te d e s t i la d a s e re s u ­
m id a s d e in te r c â m b io s d a v id a re a l, n o s q u a is m o m e n to s d e 
e m p a t ia s i le n c io s a , n a r r a t iv a s , h u m o r , g e s to s e tc . c o n t r ib u i ­
r ia m p a r a q u e s e e s ta b e le c e s s e e n t r e a s d u a s p a r te s u m a c o ­
n e x ã o m a is n a t u r a l d o q u e p o d e p a r e c e r q u a n d o s e c o n d e n ­
s a m o s d iá lo g o s n a fo r m a im p re s s a .
Num a mesquita do campo de refugiados de Deheisha 
(em Belém, na Cisjordânia), eu estava apresentando a com u­
nicação não-v io lenta a cerca de 170 m uçulm anos palestinos. 
Na época, as atitudes para com os americanos não eram po­
sitivas. De repente, enquanto falava, percebi que uma onda 
de tu m u lto abafado se espalhava entre o público. "Estão co­
chichando que você é am ericano!", alertou meu intérprete, 
no mesmo m om ento em que um dos participantes se levan­
tava subitam ente. Olhando fixo para mim, ele gritou a plenos 
pulmões: “Assassino!" De im ediato, uma dúzia de outras vozes 
se ju n to u a ele em coro: "Assassino! M atad o r de crianças! As­
sassino!"
Felizmente, fui capaz de concentrar minha atenção no 
que aquele hom em estava sentindo e necessitando. No caso 
em questão, eu tinha algum as pistas. A cam inho docampo de 
refugiados, eu tinha visto várias latas vazias de gás lacrim o­
gêneo, que haviam sido atiradas contra o campo na noite an­
33
terior. Em cada uma delas, estavam claram ente marcadas as 
palavras m a d e in usa (fabricado nos Estados Unidos). Eu sabia 
que os refugiados tinham m uita raiva dos eua por fornecerem 
gás lacrim ogêneo e outras armas a Israel.
D irig i-m e ao homem que havia me chamado de assassino:
eu Você está com raiva porque você gostaria que meu go­
verno usasse seus recursos de form a diferente? (E u n ã o 
s a b ia s e m e u p a lp i t e e s ta v a c e r to ; n o e n ta n to , o f u n ­
d a m e n t a l e ra m e u e s fo r ç o s in c e ro d e m e s in to n iz a r 
c o m s e u s e n t im e n to e s u a s n e c e s s id a d e s .) 
ele Pode ter certeza de que estou! Você acha que precisa­
mos de gás lacrimogêneo? Precisamos é de esgotos, 
não do gás lacrimogêneo de vocês! Precisamos de mo­
radias! Precisamos te r nosso próprio país! 
eu Então você está furioso e gostaria de algum apoio para 
m elhorar suas condições de vida e obter a independên­
cia política?
ele Você sabe o que é viver 27 anos aqui, do je ito que 
tenho vivido com a fam ília - filhos e tudo mais? Você 
possui a mais pálida noção do que isso tem sido para 
nós?
eu Está me parecendo que você está m uito desesperado e 
que está im aginando se eu ou qualquer outra pessoa 
pode realm ente com preender o que significa viver nes­
sas condições. Foi isso mesmo que você quis dizer? 
ele Você quer compreender? M e diga: você tem filhos? 
Eles vão à escola? Eles têm p la y g r o u n d s l M eu filho 
está doente! Ele brinca no esgoto a céu aberto! Sua 
sala de aula não tem livros! Você já viu uma escola que 
não tem livros?
I MARSHALL B. ROSENBERG I
34
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
eu Estou ouvindo quanto é penoso para vocês criarem 
suas crianças aqui. Você gostaria que eu soubesse que 
o que você quer é o que todos os pais desejam para os 
filhos — uma boa educação, a oportunidade de brincar 
e crescer num am biente saudável... 
ele É isso mesmo! 0 básico! Direitos humanos - não é isso 
que vocês americanos dizem? Por que não vêm mais de 
vocês aqui para ver que tipo de direitos humanos vocês 
estão trazendo para cá? 
eu Você gostaria que mais americanos tomassem cons­
ciência da enorm idade do sofrim ento que ocorre aqui 
e vissem profundam ente as conseqüências de nossas 
ações políticas?
Nosso diálogo continuou; ele expressando sua dor por 
quase vinte minutos mais, e eu procurando escutar o senti­
m ento e a necessidade por trás de cada frase. Não concordei 
nem discordei. Recebi as palavras dele não como ataques, mas 
como presentes de outro ser hum ano que estava disposto a 
com partilhar comigo sua alm a e suas profundas vu lnerab ili- 
dades.
Uma vez que se sentiu compreendido, o homem foi 
capaz de me ouvir explicar o m otivo de eu estar naquele 
campo. Uma hora depois, o mesmo homem que havia me cha­
mado de assassino estava me convidando para ir a sua casa 
para um ja n ta r de ramadã.
35
2 . A comunicação que 
bloqueia a compaixão
Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com 
o critério com que julgardes, sereis julgados.
M a t e u s 7 , 1
Ao estudar a questão do 
que nos afasta de nosso estado 
natu ral de compaixão, identifi-
Certas formas de comunicação 
nos alienam de nosso estado 
compassivo natural.quei algumas formas específicas
de linguagem e com unicação que acredito contribuírem para 
nosso com portam ento violento em relação aos outros e a nós 
mesmos. Para designar essas formas de comunicação, utilizo a 
expressão "comunicação alienante da vida".
J ulgam entos moralizadores
Um tipo de comunicação alienante da vida é o uso de julga­
mentos moralizadores que subentendem um a natureza errada ou 
maligna nas pessoas que não agem em consonância com nossos 
valores. Tais julgamentos aparecem em frases como: "O teu proble­
ma é ser egoísta demais", "Ela é preguiçosa", "Eles são preconcei­
tuosos", "Isso é impróprio". Culpa, insulto, depreciação, rotulação, 
crítica, comparação e diagnósticos são todos formas de julgamento.
37
I MARSHALL B. ROSENBERG I
No mundo dos julgamentos, o Certa vez, o poeta sufi Rumi
que nos importa é QUE/l/l "É" O escreveu: "Para além das idéias 
QUÊ. de certo e errado, existe um cam ­
po. Eu m e encontrarei com você 
lá". No entanto, a comunicação alienante da vida nos prende 
num m undo de idéias sobre o certo e o errado — um m undo de 
julgam entos, um a linguagem rica em palavras que classificam e 
dicotomizam as pessoas e seus atos. Q uando em pregam os essa 
linguagem, julgam os os outros e seu com portam ento enquanto 
nos preocupam os com o que é bom, m au, norm al, anorm al, 
responsável, irresponsável, inteligente, ignorante etc.
M uito antes de ter chegado à idade adulta, aprendi a m e co­
m unicar de um a m aneira impessoal que não exigia que eu re ­
velasse o que se passava dentro de mim. Q uando encontrava 
pessoas ou com portam entos de que não gostava ou que não 
com preendia, reagia considerando que fossem errados. Se m eus 
professores m e determ inavam um a tarefa que eu não queria 
fazer, eles eram "medíocres" ou estavam "exorbitando". Se al­
guém m e dava um a fechada no trânsito, m inha reação era gri­
tar: "Palhaço!" Quando usam os tal linguagem, pensam os e nos 
com unicam os em term os do que há de errado com os outros 
para se com portarem desta ou daquela m aneira — ou, ocasio­
nalm ente, o que há de errado com nós mesmos para não com ­
preenderm os ou reagirmos do m odo que gostaríamos. Nossa
atenção se concentra em classi- 
Analisar os outros é, na realida- ficar, analisar e determ inar ní-
de, uma expressão de nossas ne- veis de erro, em vez de fazê-lo
cessidades e valores. no que nós e os outros necessi­
tam os e não estamos obtendo. 
Assim, se m inha m ulher deseja mais afeto do que estou lhe 
dando, ela é "carente e dependente". Mas, se quero mais a ten ­
38
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
ção do que m e dá, então ela é "indiferente e insensível". Se m eu 
colega aten ta mais aos porm enores do que eu, ele é "cricri e 
compulsivo". Por outro lado, se sou eu quem presta mais a ten ­
ção aos detalhes, ele é "lambão e desorganizado".
Estou convicto de que todas essas análises de outros seres 
hum anos são expressões trágicas de nossos próprios valores e 
necessidades. São trágicas porque, quando expressamos nossos 
valores e necessidades de tal forma, reforçamos a postura defen­
siva e a resistência a eles nas próprias pessoas cujos com porta­
m entos nos interessam. Ou, se essas pessoas concordam em agir 
de acordo com nossos valores porque aceitam nossa análise de 
que estão erradas, é provável que o façam por medo, culpa ou 
vergonha.
Todos pagamos caro quando as pessoas reagem a nossos va­
lores e necessidades não pelo desejo de se entregar de coração, 
mas por medo, culpa ou vergonha. Cedo ou tarde, sofreremos 
as conseqüências da dim inuição da boa vontade daqueles que se 
subm etem a nossos valores pela coerção que vem de fora ou de 
dentro. Eles tam bém pagam um preço emocional, pois p rova­
velm ente sentirão ressentim ento e m enos auto-estim a quando 
reagirem a nós por medo, culpa ou vergonha. Além disso, toda 
vez que os outros nos associam a qualquer desses sentim entos, 
reduzim os a probabilidade de que no futuro venham a reagir 
com passivam ente a nossas necessidades e valores.
Aqui, é im portante não confundir juízos de valor com ju lga­
mentos moralizadores. Todos fazemos juízos de valor sobre as qua­
lidades que admiramos na vida; por exemplo, podemos valorizar 
a honestidade, a liberdade ou a paz. Os juízos de valor refletem o 
que acreditamos ser m elhor para a vida. Fazemos julgamentos mo­
ralizadores de pessoas e com portam entos que estão em desacordo 
com nossos juízos de valor; por exemplo, "A violência é ruim;
39
pessoas que m atam outras são más". Se tivéssemos sido criados 
falandoum a linguagem que facilitasse exprimir compaixão, te ­
ríamos aprendido a articular diretam ente nossas necessidades e 
nossos valores, em vez de insinuarm os que algo é ou está errado 
quando eles não são atendidos. Por exemplo, em vez de "A vio­
lência é ruim", poderíamos dizer: "Tenho m edo do uso da violên­
cia para resolver conflitos; valorizo a resolução de conflitos por 
outros meios".
A relação entre linguagem e violência é tem a das pesquisas 
de O. J. Harvey, professor de psicologia na U niversidade do 
Colorado. Ele tom ou am ostras aleatórias de obras literárias de 
países m undo afora e tabulou a freqüência das palavras que 
classificam e julgam as pessoas. Seu estudo constata elevada cor­
relação entre o uso freqüente dessas palavras e a incidência de 
violência. Não m e surpreende saber que existe consideravel­
m ente m enos violência em culturas nas quais as pessoas p e n ­
sam em term os das necessidades hum anas do que em outras 
nas quais as pessoas se rotulam de "boas" ou "más" e acreditam 
que as "más" m erecem ser punidas. Em 75% dos program as 
exibidos nos horários em que existe m aior probabilidade de as
crianças am ericanas estarem as- 
Classificar e julgar as pessoas sistindo à tv, o herói ou m ata 
estimula a violência. pessoas, ou as espanca. Tal vio­
lência costum a constituir o "clí­
m ax" do espetáculo. Os telespectadores (a quem se ensinou que 
os m aus m erecem castigo) sentem prazer em ver essa violência.
Na raiz de grande parte ou talvez de toda violência — ver­
bal, psicológica ou física, entre familiares, tribos ou nações —, 
está um tipo de pensam ento que atribui a causa do conflito ao 
fato de os adversários estarem errados, e está a correspondente 
incapacidade de pensar em si mesmos ou nos outros em term os
I MARSHALL B. ROSENBERG I
40
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
de vulnerabilidade — o que a pessoa pode estar sentindo, te ­
m endo, ansiando, do que pode estar sentindo falta, e assim por 
diante. D urante a Guerra Fria, testem unham os essa perigosa 
m aneira de pensar. Nossos líderes viam os russos como um "im ­
pério do mal" dedicado a destruir o American way oflife. Os líde­
res russos se referiam ao povo am ericano como "opressores im ­
perialistas" que tentavam subjugá-los. N enhum dos dois lados 
reconhecia o m edo que se escondia por trás daqueles rótulos.
F azendo comparações
Outra forma de julgam ento é o uso de comparações. No livro 
How to m akeyourself miserable [Como enlouquecer você mesmo: o poder 
do pensamento negativo], Dan Greenberg demonstra por meio do 
hum or o poder insidioso que o
pensam ento comparativo pode Comparações são uma forma de 
exercer sobre nós. Ele sugere julgamento, 
que, se os leitores tiverem um
desejo sincero de tornar suas vidas infelizes, devem aprender a se 
comparar a outras pessoas. Para aqueles que não estão familiari­
zados com essa prática, Greenberg fornece alguns exercícios. O 
primeiro mostra as figuras de corpo inteiro de um hom em e um a 
m ulher que encarnam o presente ideal de beleza física expresso 
pela mídia. Os leitores são instruídos a tom ar suas próprias m edi­
das corporais, compará-las às indicadas nas figuras daqueles dois 
espécimes atraentes e ficar m atutando sobre as diferenças.
O exercício cum pre o que prom ete: quando fazemos essas 
comparações, começamos a nos sentir infelizes. No m om ento 
em que já estamos tão deprimidos quanto julgam os possível, 
nós viramos a página e descobrimos que o prim eiro exercício 
tinha sido só aquecim ento. Já que a beleza física é relativam en-
I MARSHALL B. ROSENBERG I
te superficial, Greenberg nos oferece agora a oportunidade de 
nos com pararm os aos outros em algo que im porta para valer: 
as realizações pessoais. Ele escolhe ao acaso alguns indivíduos 
com quem possam os nos com parar. O prim eiro nom e que ele 
diz te r achado é o de W olfgang A m adeus M ozart. Greenberg 
enum era os idiom as que M ozart falava e as obras im portantes 
que compôs quando ainda era adolescente. O exercício nos 
instru i então a nos lem brar de nossas respectivas realizações 
n a atual fase de nossa vida, com pará-las com o que M ozart já 
havia conseguido aos 12 anos e refletir longam ente sobre as di­
ferenças.
Por m eio daquele exercício, até os leitores que nunca con­
seguem sair da infelicidade auto-im posta são capazes de ver 
quanto esse tipo de pensam ento bloqueia a compaixão, tanto 
por si próprios quanto pelos outros.
N egação de responsabilidade
O utro tipo de com unicação alienante da vida é a negação 
de responsabilidade. A com unicação alienante da vida turva 
nossa consciência de que cada um de nós é responsável por seus 
próprios pensam entos, sentim entos e atos. O uso corriqueiro da
ponsabilidade pessoal por nossos atos fica obscurecida nesse 
tipo de linguagem. A expressão "fazer alguém sentir-se" (como 
em "Você m e faz sentir culpado") é outro exem plo da m aneira 
pela qual a linguagem facilita a negação da responsabilidade 
pessoal por nossos sentim entos e pensam entos.
Nosso linguagem obscurece a 
consciência da responsabilidade 
pessoal.
expressão "ter de" (como em 
"Há algum as coisas que você 
tem de fazer, quer queira, quer 
não") ilustra de que modo a res-
42
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Em Eichmann em Jerusalém, livro que docum enta o ju lg a­
m ento do oficial nazista A dolph E ichm ann por crimes de guer­
ra, H annah A rendt conta que ele e seus colegas davam um 
nom e à linguagem de negação de responsabilidade usada por 
eles. C ham avam -na de Amtssprache, que se poderia traduzir li­
vrem ente como "linguagem de escritório", ou "burocratês". 
Por exem plo, se lhe perguntassem por que ele tom ara certa a ti­
tude, a resposta poderia ser: "Tive de fazer isso". Se lhe perg u n ­
tassem por que "teve de fazer", a resposta seria: "Ordens supe­
riores", "A política institucional era essa", "Era o que m andava 
a le i" .
Negamos responsabilidade por nossos atos quando os atri­
buím os a:
• forças vagas e impessoais ("Limpei m eu quarto porque tive 
de fazê-lo");
• nossa condição, diagnóstico, histórico pessoal ou psicológico 
("Bebo porque sou alcoólatra");
• ações dos outros ("Bati no m eu filho porque ele correu para 
a rua");
• ordens de autoridades ("M enti para o cliente porque o chefe 
m e m andou fazer isso");
• pressão do grupo ("Comecei a fum ar porque todos os m eus 
amigos fumavam");
• políticas, regras e regulam entos institucionais ("Tenho de 
suspender você por conta dessa infração; é a política da es­
cola");
• papéis determ inados pelo sexo, idade e posição social ("De­
testo ir trabalhar, m as vou porque sou pai de família");
• impulsos incontroláveis ("Fui tom ado por um desejo de 
com er aquele doce").
43
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Certa vez, durante um a discussão entre pais e professores 
sobre os perigos de um a linguagem que implicasse ausência de 
escolha, um a m ulher objetou, irada: "Mas existem algumas coi­
sas que você tem de fazer, gostando ou não! E não vejo nada de 
errado em dizer aos m eus filhos que há coisas que tam bém eles 
têm de fazer". Q uando pedi que desse um exem plo de algo que 
"tinha de fazer", ela respondeu: "É fácil! Q uando eu sair daqui 
esta noite, tenho de ir para casa e cozinhar. Eu detesto cozinhar! 
Detesto do fundo da alma, m as venho fazendo isso todos os dias 
há vinte anos, até quando estava m uito doente, porque é um a 
das coisas que a gente sim plesm ente precisa fazer". Eu lhe disse 
que estava consternado em ouvir que ela passara tan to tem po 
de sua vida fazendo algo que detestava só porque se achava 
compelida a fazê-lo, e que eu esperava que ela pudesse encon­
trar possibilidades m elhores aprendendo a linguagem da cnv.
Tenho o prazer de inform ar que ela aprendeu rápido. No 
final do seminário, foi para casa e anunciou à família que não 
queria mais cozinhar. A oportunidade de receberm os algum re ­
torno de seus familiares ocorreu três sem anas depois, quando osdois filhos chegaram para parti- 
Podemos substituir uma lingua- cipar de um seminário. Eu esta-
gem que implique falta de esco- va curioso para saber como ti-
Iha por outra que reconheça a n h am reagido à declaração da
possibilidade de escolha. mãe. O filho mais velho suspi­
rou — "Marshall, eu simples­
m ente pensei: 'Graças a Deus!'" Vendo m inha expressão in tri­
gada, ele explicou: "Pensei comigo m esm o: Talvez ela 
finalm ente pare de reclam ar duran te as refeições!'"
Em outra ocasião, quando eu prestava consultoria a um a 
secretaria m unicipal de ensino, um a professora observou: "De­
testo dar nota. Acho que elas não ajudam e ainda criam m uita 
ansiedade nos alunos. Mas tenho de dar, é a política da secreta­
44
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
ria". Tínham os acabado de praticar como introduzir na sala de 
aula um tipo de linguagem que aum entasse a consciência da res­
ponsabilidade pessoal. Sugeri que a professora substituísse a 
frase "Tenho de dar nota porque é a política da secretaria" por 
esta, completando-a: "Eu opto por dar nota porque desejo..." Ela 
respondeu sem hesitação: "Eu opto por dar nota porque desejo 
m anter o emprego". Apressou- 
se a acrescentar: "Mas não gosto 
de dizer dessa m aneira. Faz que 
eu m e sinta tão responsável pelo 
que faço..." Respondi: "É exata­
m ente por isso que quero que 
você diga dessa maneira".
Com partilho dos sentim entos do rom ancista e jornalista 
francês George Bernanos quando escreve:
'O ’
Já acreáito há muito tempo que, se a eficiência caáa vez maior 
da tecnologia de destruição um dia fizer que nossa espécie desa­
pareça da Terra, não terá sido a crueldade a responsável por 
nossa extinção, menos ainda a indignação que a crueldade des­
perta ou as represálias e vinganças que ela atrai [...], mas sim a 
docilidade, a falta de responsabilidade do homem moderno, sua 
desprezível aceitação subserviente de qualquer decreto comum.
Os horrores que já vimos, os horrores ainda maiores que logo ve­
remos, são sinal não de que os homens rebeldes, insubordinados 
e indomáveis estejam aumentando em número no mundo todo, e 
sim de que aumenta constantemente o número de homens obe­
dientes e dóceis.
Ficamos perigosos quando não 
temos consciência de nossa res­
ponsabilidade por nossos com­
portamentos, pensamentos e 
sentimentos.
45
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Outras form as de comunicação alienante da vida
Com unicar nossos desejos como exigências é outra forma 
de linguagem que bloqueia a compaixão. Uma exigência am ea­
ça os ouvintes explícita ou im plicitam ente com culpa ou p u n i­
ção se eles não a atenderem . É um a form a de comunicação 
com um em nossa cultura, especialm ente entre aqueles que 
detêm posições de autoridade.
M eus filhos m e deram algumas lições valiosas sobre exigên­
cias. De algum a forma, m eti em m inha cabeça que, como pai,
era m eu papel fazer exigências. 
Nunca conseguimos forçar as Contudo aprendi que, mesm o 
pessoas a fazer nada. que eu fizesse todas as exigên­
cias do m undo, isso não os leva­
ria a fazer coisa alguma. É um a lição de hum ildade no exercício 
do poder, para aqueles entre nós que acreditam que, por sermos 
pais, professores ou adm inistradores, é nossa tarefa m udar as 
outras pessoas e fazê-las se com portar. Pois ali estavam aqueles 
jovens me m ostrando que eu não conseguiria obrigá-los a nada. 
No máxim o poderia, por m eio da punição, fazê-los desejar ter 
feito o que eu queria. E eles acabaram m e ensinando que, sem ­
pre que eu fosse tolo o bastante para fazer isso, teriam meios 
para me fazer desejar não tê-los punido!
Voltaremos a esse assunto quando aprenderm os a diferen­
ciar pedidos e exigências — parte im portante da cnv.
A com unicação alienante da vida tam bém se associa ao 
conceito de que certos atos m erecem recom pensa e outros p u ­
nição. Tal form a de pensar se 
o pensamento baseado em expressa pelo verbo "merecer",
“quem merece o quê" bloqueia a como em "João m erece ser pu-
comunícação compassiva. nido pelo que fez". Ela presum e
46
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
"maldade" da parte das pessoas que se com portam de determ i­
nadas m aneiras e dem anda algum a punição para fazê-las se a r ­
rependerem e se em endarem . Acredito ser do interesse de todos 
que as pessoas m udem não para evitarem punições, mas por 
perceberem que a m udança as beneficiará.
A m aioria de nós cresceu usando um a linguagem que, em 
vez de nos encorajar a perceber o que estamos sentindo e do
que precisamos, nos estim ula a
. . A comunicação alienante da vidarotular, comparar, exigir e pro-
. . . . , tem profundas raízes filosóficas eferir julgam entos. Acredito que
políticas.a com unicação a lien an te da
vida se baseia em concepções sobre a natureza hum ana que 
exerceram influência duran te vários séculos. Tais visões dão ê n ­
fase a nossa maldade e nossa deficiência inatas, bem como a n e ­
cessidade de educar para controlar nossa natureza ineren te­
m ente indesejável. É com um que esse tipo de educação nos faça 
questionar se há algo errado com os sentim entos e as necessida­
des que possamos estar vivenciando. Aprendem os desde cedo a 
isolar o que se passa dentro de nós.
A com unicação alienante da vida tanto se origina de socie­
dades baseadas na hierarquia ou dom inação quanto sustenta 
essas sociedades. Onde quer que um a grande população se e n ­
contre controlada por um núm ero pequeno de indivíduos para 
o benefício desses últimos, é do interesse dos reis, czares, n o ­
bres etc. que as massas sejam educadas de forma tal que a m en ­
talidade delas se torne sem elhante à de escravos. A linguagem 
do "errado", o "deveria" e o "tenho de", é perfeitam ente ade­
quada a esse propósito: quanto mais as pessoas forem instru í­
das a pensar em term os de julgam entos m oralizadores que im ­
plicam que algo é errado ou m au, mais elas serão treinadas a 
Consultar instâncias exteriores — as autoridades — para saber a
47
I MARSHALL B. ROSENBERG I
definição do que constitui o certo, o errado, o bom e o mau. 
Q uando estamos em contato com nossos sentim entos e necessi­
dades, nós, hum anos, deixamos de ser bons escravos e lacaios.
R esum o
É de nossa natureza gostarm os de dar e receber com com ­
paixão. Entretanto, aprendem os m uitas formas de "com unica­
ção aliénante da vida" que nos levam a falar e a nos comportar de 
maneiras que ferem aos outros e a nós mesmos. Uma forma de co­
m unicação aliénante da vida é o uso de julgam entos moraliza- 
dores que implicam que aqueles que não agem em consonância 
com nossos valores estão errados ou são m aus. O utra form a 
desse tipo de com unicação é fazer comparações, que são capa­
zes de bloquear a compaixão tan to pelos outros quanto por nós 
mesmos. A comunicação aliénante da vida tam bém prejudica 
nossa com preensão de que cada um de nós é responsável por 
seus próprios pensam entos, sentim entos e atos. Com unicar n o s ­
sos desejos na form a de exigências é ainda outra característica 
da linguagem que bloqueia a compaixão.
48
3 . Observar sem avaliar
OBSERVEM!!! Há poucas coisas tão importantes, tão 
religiosas, quanto isso.
P ASTO R F R E D E R IC K B u EC H N E R
Posso lidar com você me dizendo 
O que eu fiz ou deixei de fazer.
E posso lidar com suas interpretações.
Mas, por favor, não misture as duas coisas.
Se você quer deixar qualquer assunto confuso,
Posso lhe dizer como fazer:
Misture o que eu faço
Com a maneira que você reage a isso.
Diga-me que você está decepcionada 
Com as tarefas inacabadas que você vê,
Mas me chamar de "irresponsável"
Não é um modo de me motivar.
E me diga que fica magoada
Quando digo "não" às suas aproximações,
Mas me chamar de um homem "frígido"
Não vai melhorar suas chances.
49
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Sim, posso lidar com você me dizendo 
0 que fiz ou deixei de fazer.
E posso lidar com suas interpretações.
Mas, por favor, não misture as duas coisas.
M arshall B. R osenberg
O prim eiro com ponenteda cnv acarreta necessariam ente 
separar observação de avaliação. Precisamos observar claram en­
te, sem acrescentar n enhum a avaliação, o que vemos, ouvimos 
ou tocamos que afeta nossa sensação de bem-estar.
As observações constituem um elem ento im portante da cnv, 
em que desejamos expressar clara e honestam ente a outra pes­
soa como estamos. No entanto, ao com binarm os a observação 
com a avaliação, dim inuím os a probabilidade de que os outros 
ouçam a m ensagem que desejamos lhes transmitir. Em vez dis­
so, é provável que eles a escutem como crítica e, assim, resistam 
ao que dizemos.
A cnv não nos obriga a permanecermos completamente obje­
tivos e a nos abstermos de avaliar. Ela apenas requer que m ante­
nham os a separação entre nossas observações e nossas avaliações. 
A cnv é um a linguagem dinâmica, que desestimula generalizações
estáticas; ao contrário, as avalia- 
Quando combinamos observação ções devem sempre se basear nas 
com avaliação, as pessoas teu- observações específicas de cada 
dem a receber isso como crítica. momento e contexto. O sem anti-
cista Wendell Johnson observou 
que criamos m uitos problemas para nós mesmos ao usarmos 
um a linguagem estática para expressar ou captar um a realidade 
que está sempre m udando: "Nossa linguagem é um instrum en­
to imperfeito, criado por hom ens antigos e ignorantes. É um a
50
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
linguagem animista, que nos convida a falar a respeito de esta­
bilidade e constância s, de sem elhanças, norm alidades e tipos, de 
transform ações mágicas, curas rápidas, problem as simples e so­
luções definitivas. No entanto, o m undo que tentam os simboli­
zar com essa linguagem é um m undo de processos, m udanças, 
diferenças, dimensões, funções, relações, crescimentos, in te ra ­
ções, desenvolvimento, aprendizado, abordagem, complexidade. 
E o desencontro entre este nosso m undo sem pre em m utação e 
as formas relativam ente estáticas de nossa linguagem é parte de 
nosso problema".
N um a canção que ilustra a diferença entre avaliação e ob­
servação, m inha colega R uth Beberm eyer m ostra o contraste 
entre linguagem estática e linguagem dinâmica:
Í ‘K.' >
Nunca vi um homem preguiçoso; 
já vi um homem que nunca corria 
enquanto eu o observava, e já vi 
um homem que às vezes dormia 
entre o almoço e o jantar, e ficava 
em casa em dia de chuva; 
mas ele não era preguiçoso.
Antes que você me chame de louca, 
pense: ele era preguiçoso ou
apenas fazia coisas que rotulamos de "preguiçosas"?
Nunca vi uma criança burra;
já vi criança que às vezes fazia
coisas que eu não compreendia,
ou as fazia de um jeito que eu não planejara;
já vi criança que não conhecia
51
I MARSHALL B. ROSENBERG I
as mesmas coisas que eu; 
mas não era uma criança burra.
Antes de chamá-la de burra,
pense: era uma criança burra ou
apenas sabia coisas diferentes das que você sabia?
Procurei quanto pude, 
mas nunca vi um cozinheiro.
Já vi alguém que combinava 
ingredientes que depois comíamos, 
uma pessoa que acendia o fogo 
e cuidava do fogão que cozinhava a carne.
Vi todas essas coisas, mas não vi cozinheiro.
Diga-me o que você vê:
você está vendo um cozinheiro ou alguém
fazendo coisas que chamamos de cozinhar?
0 que alguns chamam de preguiçoso 
outros chamam de cansado ou tranqüilo;
0 que alguns de nós chamamos de burro 
para outros é apenas um saber diferente.
Então, cheguei à conclusão 
de que evitaremos toda confusão 
se não misturarmos o que podemos ver 
com o que é nossa opinião.
E, por isso mesmo, também quero dizer 
que sei que esta é apenas minha opinião.
Em bora os efeitos de rótulos negativos como "preguiçoso" 
e "burro" sejam mais evidentes, até um rótulo positivo ou apa­
52
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
ren tem ente neutro como "cozinheiro" lim ita nossa percepção 
da totalidade do ser de outra pessoa.
A FORMA MAIS ELEVADA DE INTELIGÊNCIA HUMANA
Certa vez, o filósofo indiano J. K rishnam urti disse que ob­
servar sem avaliar é a form a mais elevada de inteligência h u m a­
na. Q uando li essa afirmação pela prim eira vez, o pensam ento 
"Que disparate!" passou por m inha cabeça antes que eu perce­
besse que acabara de fazer um a avaliação. Para a m aioria de 
nós, é difícil fazer observações que sejam isentas de ju lgam en­
to, crítica ou outras formas de análise sobre as pessoas e seu 
com portam ento .
Adquiri aguda consciência dessa dificuldade quando traba­
lhei n um a escola prim ária onde eram freqüentes as dificuldades 
de com unicação entre os professores e o diretor. A Secretaria de 
Ensino havia me pedido que os ajudasse a resolver o conflito. 
Eu deveria conversar prim eiro com os professores e depois com 
estes e o diretor juntos.
Iniciei a reunião perguntando aos professores: "O que o d i­
retor está fazendo que en tra em conflito com as necessidades de 
vocês?" A resposta foi rápida: "Ele fala mais que a boca!" Eu 
havia pedido um a observação, mas, em bora a expressão "falar 
mais que a boca" m e desse informações de como aquele profes­
sor avaliava o diretor, ela não descrevia o que este dissera ou f i ­
zera que levara o professor a interpretar que ele "falava mais 
que a boca".
Q uando assinalei isso, outro professor disse: "Sei o que ele 
quer dizer: o diretor fala demais!" Em vez de um a observação 
clara do com portam ento do diretor, era mais um a vez um a ava­
liação (de quanto o diretor falava). Um terceiro professor então
53
I MARSHALL B. ROSENBERG I
declarou: "Ele acha que é o único capaz de dizer algo que valha 
a pena". Expliquei que inferir o que outra pessoa pensa não é a 
m esm a coisa que observar seu com portam ento. Por fim, um 
quarto professor arriscou: "Ele quer sempre ser o centro das 
atenções". Quando apontei que aquilo tam bém era um a inferên­
cia (do que outra pessoa está querendo), dois professores disse­
ram em coro: "Bem, sua pergunta é m uito difícil de responder!"
Mais tarde, trabalham os jun tos para criar um a lista que 
identificasse comportamentos específicos do diretor que os incom o­
davam, e nos asseguramos de que essa lista estivesse isenta de 
avaliações. Por exemplo, o diretor costum ava contar histórias 
de sua infância e suas experiências de guerra duran te as re u ­
niões com os docentes; como resultado, as reuniões às vezes de­
m oravam vinte m inutos além da conta. Q uando perguntei se já 
tinham com unicado seu aborrecim ento ao diretor, responde­
ram que haviam tentado, mas que o fizeram apenas com co­
m entários de caráter avaliador. Nunca tinham feito nenhum a 
referência a com portam entos específicos (o hábito de contar 
histórias, por exemplo) e concordaram em trazê-los à baila 
quando nos reuníssem os todos.
Quase tão logo começou a reunião geral, en tendi do que os 
professores falavam. Não im portando o que estivesse sendo dis­
cutido, o diretor sempre dizia: "Isso me lem bra de quando ..." — 
e iniciava um a história sobre a infância ou a guerra. Esperei que 
os professores expressassem seu m al-estar com o com porta­
m ento do diretor. Entretanto, em vez de Comunicação Não- 
Violenta, eles aplicaram condenação não-verbal: alguns revira­
ram os olhos, outros bocejaram ostensivam ente, outro ficou 
olhando o relógio.
A güentei essa situação penosa até que finalm ente pergun­
tei: "Alguém vai dizer algum a coisa?" Seguiu-se um silêncio
54
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
constrangido. O professor que havia se pronunciado prim eiro 
em nossa reunião anterior criou coragem, olhou direto para o 
diretor e disse: "Ed, você fala mais que a boca".
Como m ostra essa história, nem sem pre é fácil nos livrar­
mos dos velhos hábitos e dom inarm os a capacidade de separar 
a observação da avaliação. Os professores acabaram conseguin­
do esclarecer para o diretor os atos específicos que os aborre­
ciam. O diretor escutou de boa vontade e então disparou: "Por 
que n en h u m de vocês m e disse isso antes?" Reconheceu ter 
consciência do hábito de contar histórias e, em seguida, com e­
çou a contar uma a respeito! Eu o interrom pi, observando (com 
bom hum or) que ele estava fazendo aquilo de novo. Term ina­
mos nossa reunião desenvolvendo m aneiras pelas quais os p ro ­
fessores poderiam gentilm ente fazer o diretor saber quando 
suas histórias não estavam sendo apreciadas.
D istinguindo observações de avaliações
A tabela a seguir distingue observações isentas de avalia­
ções daquelas que têm avaliações associadas.
Comunicação Exemplo de observação Exemplo de observação
1. Usar o verbo ser sem Você é generoso demais. Quando vejo você dar
com avaliação associada isenta de avaliação
ind icar que a pessoa 
que avalia aceita a 
responsabilidade pela 
avaliação.
para os outros todo o 
d inheiro do almoço, acho 
que está sendo generoso 
demais.
2. Usar verbos de João vive deixando as João só estuda na véspera
conotação avaliatória. coisas para depois. das provas.
(con tinua )
55
I MARSHALL B. ROSENBERG I
(con tinuação)
Comunicação
3. Im plicar que as 
inferências de uma 
pessoa sobre os 
pensamentos, 
sentimentos, intenções 
ou desejos de outra são 
as únicas possíveis.
4. C onfundir previsão com 
certeza.
5. Não ser específico a 
respeito das pessoas a 
quem se refere.
6. Usar palavras que 
denotam habilidade 
sem indicar que se está 
fazendo uma avaliação.
7. Usar advérbios e 
adjetivos de maneiras 
que não indicam que 
se está fazendo uma 
avaliação.
Exemplo de observação 
com avaliação associada
0 traba lho dela não será 
aceito.
Se você não fizer refeições 
balanceadas, sua saúde f i ­
cará prejudicada.
Os estrangeiros não 
cuidam da própria casa.
Zequinha é péssimo 
jogador de fu tebo l.
Carlos é feio.
Exemplo de observação 
isenta de avaliação
Acho que o trabalho dela 
não será aceito. Ou: Ela 
disse que o trabalho dela 
não seria aceito.
Se você não fizer refeições 
balanceadas, tem o que 
sua saúde fique 
prejudicada.
Não vi aquela fam ília es­
trangeira da outra rua 
lim par a calçada.
Em v in te partidas, 
Zequinha não marcou 
nenhum gol.
A aparência de Carlos não 
me atrai.
Note-se que as palavras sempre, nunca, jam ais etc. expressam 
observações quando usadas das seguintes maneiras:
• Sempre que vi Ricardo ao telefone, ele falou pelo m enos 
m eia hora.
• Não consigo m e lem brar de você jam ais ter escrito para mim.
56
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Às vezes, tais palavras são usadas como exagero de lingua­
gem — caso em que se associam avaliações às observações:
• Você está sempre ocupado.
• Ela nunca está quando precisamos dela.
Q uando essas palavras são usadas como exagero de lingua­
gem, é com um provocarem não compaixão, mas reações defen­
sivas.
Palavras como freqüentemente e raramente tam bém podem 
contribuir para confundir observação com avaliação.
Avaliações Observações
Você raram ente faz o que eu quero. Nas últim as três vezes em que comecei 
alguma atividade, você disse que nâo 
queria fazê-la.
Ele aparece aqui com freqüência. Ele aparece aqui pelo menos três vezes 
por semana.
Resum o
O prim eiro com ponente da cnv acarreta necessariam ente 
que se separe observação de avaliação. Q uando combinamos 
observações com avaliações, os outros tendem a receber isso 
como crítica e resistir ao que dizemos. A cnv é um a linguagem 
dinâmica que desestim ula generalizações estáticas. Em vez 
disso, as observações devem ser feitas de m odo específico, para 
um tem po e um contexto determ inado. Por exemplo, "Zequi- 
nha não m arcou n en h u m gol em vinte partidas", em vez de 
"Zequinha é péssimo jogador de futebol".
57
I MARSHALL B. ROSEIMBERG I
: A cisiv em ação
“ 0 p a le s t r a n te m a is a r r o g a n te q u e já t i v e m o s ! ”
Este diálogo ocorreu durante um seminário que eu conduzia. 
Após cerea de meia hora de apresentação, fiz uma pausa para 
abrir espaço para m anifestações dos participantes. Um deles 
levantou a mão e declarou: "Você é o palestrante mais arro­
gante que já tivemos!"
Tenho várias opções para escolher quando as pessoas se diri­
gem a m im dessa maneira. Uma delas é levar a mensagem a 
mal; sei que faço isso quando sinto grande necessidade de me 
curvar, me defender ou arranjar desculpas. Outra opção (na 
qual estou bem treinado) é atacar a outra pessoa pelo que 
considero um ataque contra mim. Naquele dia, escolhi uma 
terceira opção: concentrar-m e no que poderia estar por trás 
da afirm ação daquele hom em.
eu (d e d u z in d o d a s o b s e rv a ç õ e s q u e e le e s ta v a fa z e n d o ) 
Será que você está reagindo por eu te r dem orado tr in ­
ta minutos corridos para apresentar minhas idéias até 
vocês terem tido chance de falar? 
ele Não! Falando, você faz tudo parecer simples demais. 
eu ( te n t a n d o e s c la re c e r m e lh o r ) Você está reagindo por 
eu não te r d ito nada sobre como, para algumas pes­
soas, pode ser difícil pôr o processo em prática? 
ele Não, não para algumas pessoas — para você! 
eu Então você está reagindo por eu não ter dito que o 
processo às vezes pode ser difícil para mim mesmo? 
ele Isso mesmo.
eu Você está aborrecido porque você teria apreciado 
algum tipo de sinal de minha parte que indicasse que 
eu mesmo tenho alguns problemas com o processo?
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
ele (d e p o is d e u m a p e q u e n a p a u s a ) É isso mesmo. 
eu ( m a is re la x a d o , a g o ra q u e e s ta v a e m c o n ta t o c o m o 
s e n t im e n t o e a n e c e s s id a d e d a p e s s o a e d i r ig in d o 
m in h a a te n ç ã o p a r a o q u e e la p o d e r ia e s ta r m e p e d in ­
d o ) Você gostaria que eu reconhecesse agora mesmo 
que esse processo pode ser difícil para eu mesmo colo­
car em prática? 
ele Sim.
eu ( te n d o e s c la re c id o s u a o b s e rv a ç ã o , s e u s e n t im e n t o e 
s e u p e d id o , fa ç o u m a in t r o s p e c ç ã o p a r a v e r s e e s to u 
d is p o s to a fa z e r o q u e e/e p e d e ) É, esse processo m ui­
tas vezes é difícil para mim. Ao longo do seminário, 
você provavelm ente me ouvirá descrever vários inci­
dentes em que lutei - ou perdi com pletam ente o con­
ta to - com esse processo, essa consciência que estou 
apresentando para vocês. Mas o que me faz persistir 
são as conexões de proximidade com outras pessoas, 
conexões que acontecem quando consigo me m anter 
no processo.
vC^OO'/1 ■ ■ E x e rc íc io 1 ■■ . - W '
O b s e r v a ç ã o o u a v a l ia ç ã o ?
Para determ inar sua habilidade de discernir entre observações e 
avaliações, faça o exercício a seguir. Circule o núm ero de qualquer 
afirm ação que seja uma observação pura, sem nenhuma avaliação 
associada.
1. O ntem , João estava com raiva de mim sem nenhum motivo.
2. Ontem à noite, Lúcia roeu as unhas enquanto assistia à tv.
I MARSHALL B. ROSENBERG I
3. Marcelo não pediu minha opinião durante a reunião.
4. Meu pai é um homem bom.
5. M aria trabalha demais.
6. Luís é agressivo.
7. Cláudia fo i a primeira da fila todos os dias desta semana.
8. M eu filh o freqüentem ente deixa de escovar os dentes.
9. A ntônio me disse que eu não fico bem de amarelo.
10. M inha tia reclama de algum a coisa toda vez que fa lo eom ela.
A q u i e s t ã o m i n h a s r e s p o s t a s p a r a o e x e r c íc io 1 :
1. Se você circulou esse número, discordamos. Considero "sem ne­
nhum m otivo" uma avaliação. Também considero uma avaliação 
in ferir que João estava com raiva. Ele podia estar magoado, am e­
drontado, triste ou outra coisa. Exemplos de observações sem 
avaliação poderiam ser "João me disse que estava com raiva" ou 
"João esmurrou a mesa".
2. Se você circulou esse número, estamos de acordo em que se fez 
uma observação à qual não estava associada nenhum a avaliação.
3. Se você circulou esse número, estamos de acordo em que se fez 
uma observação à qual não estava associada nenhum a avaliação.
4. Se você circulou esse número, discordamos. Considero "homem 
bom" uma avaliação. Uma observação sem avaliação poderia ser 
"Duranteos últim os 25 anos, meu pai tem doado um décimo de 
seu salário a obras de caridade".
5. Se você circulou esse número, discordamos. Considero "demais" 
uma avaliação. Uma observação sem avaliação poderia ser "Maria 
passou mais de sessenta horas no escritório esta semana".
6. Se você circulou esse número, discordamos. Considero "agressivo" 
uma avaliação. Uma observação sem avaliação poderia ser "Luís 
bateu na irmã quando ela mudou de canal".
60
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
7. Se você circulou esse núm ero, estamos de acordo em que se fez 
uma observação à qual não estava associada nenhuma avaliação.
8. Se você circulou esse núm ero, discordamos. Considero "freqüen­
tem ente" uma avaliação. Uma observação sem avaliação poderia 
ser "Esta semana, meu filho deixou duas vezes de escovar os den­
tes antes de dormir".
9. Se você circulou esse núm ero, estamos de acordo em que se fez 
uma observação à qual não estava associada nenhuma avaliação.
10. Se você circulou esse núm ero, discordamos. Considero "reclama" 
uma avaliação. Uma observação sem avaliação poderia ser "M inha 
tia telefonou para mim três vezes esta semana, e em todas falou 
de pessoas que a trataram de algum a maneira que não a agradou".
I MARSHALL B. ROSENBERG I
A MÁSCARA
Sempre uma máscara
Branca e segura na mão magra
Ela sempre tinha uma máscara diante do rosto...
E em verdade o pulso 
Que a segurava com leveza 
Era adequado à tarefa.
Às vezes, entretanto,
Não haveria um arrepio,
Um tremor na ponta dos dedos - 
Ainda que bem leve -,
Ao segurar a máscara?
Durante anos e anos, fiquei curioso,
Mas não ousei perguntar,
E então...
Num movimento grosseiro,
Olhei por trás da máscara 
E não encontrei 
Nada...
Ela não tinha rosto.
Ela havia se tornado 
Meramente a mão 
Que segurava a máscara 
Com elegância.
ANÔNIMO
4 . Identificando e
expressando sentimentos
O prim eiro com ponente da cnv é observar sem avaliar; o 
segundo é expressar como nos sentimos. O psicanalista Rollo 
May afirma que a pessoa m adura se torna capaz de diferenciar 
sentim entos em m uitas nuanças: algumas experiências são for­
tes e apaixonadas, ao passo que outras são delicadas e sensíveis, 
tal qual os diferentes trechos de um a sinfonia. Entretanto, para 
m uitos de nós, os sentim entos são, nas palavras de May, "limi­
tados como as notas de um toque de clarim".
0 ALTO CUSTO DOS SENTIMENTOS NÃO-EXPRESSOS
Nosso repertório de palavras para rotular os outros costum a 
ser m aior do que o vocabulário para descrever claram ente nos­
sos estados emocionais. Passei 21 anos em escolas am ericanas e, 
durante todo esse tem po, não m e lembro de ninguém ter me 
perguntado como eu estava m e sentindo. Os sentim entos sim ­
plesm ente não eram considerados im portantes. O que se valo-
63
I MARSHALL B. ROSENBERG I
rizava era "a m aneira certa de pensar" — tal como definida por 
aqueles que detinham posições de h ierarquia e autoridade. 
Somos ensinados a estar "direcionados aos outros", em vez de 
em contato com nós mesmos. A prendem os a ficar sem pre im a­
ginando: "O que será que os outros acham que é certo eu dizer 
e fazer?"
Uma interação com um a professora quando eu tinha uns 9 
anos dem onstra como a alienação de nossos sentim entos pode 
começar. Uma vez, eu m e escondi num a sala de aula porque al­
guns m eninos estavam m e esperando do lado de fora para me 
bater. Uma professora m e viu e pediu que eu saísse da escola. 
Quando expliquei que estava com m edo de sair, ela declarou: 
"M enino grande não pode ter medo". Alguns anos depois, isso 
foi reforçado quando comecei a praticar esportes. Era típico dos 
treinadores valorizar atletas dispostos a "dar tudo de si" e con­
tinuar jogando, não im portando a dor física que estivessem sen­
tindo. Aprendi a lição tão bem que, certa vez, joguei beisebol 
por um mês com o pulso quebrado.
Num seminário de cnv, um universitário falou do colega de 
quarto que ligava o aparelho de som tão alto que ele não con­
seguia dormir. Q uando pedi que expressasse o que sentia q u an ­
do isso acontecia, o estudante respondeu: "Sinto que não é 
certo tocar música tão alto à noite". Expliquei que, quando ele 
dizia a palavra sinto seguida de que, estava expressando um a 
opinião m as não revelando seus sentim entos. Pedi que tentasse 
novam ente expressar seus sentim entos, e ele respondeu: "Acho 
que, quando as pessoas fazem coisas como esta, é um distúrbio 
de personalidade". Expliquei que aquilo ainda era um a opinião, 
e não um sentim ento. Ele fez um a pausa pensativa e então 
anunciou com veemência: "Não tenho absolutam ente nenhum 
sentim ento a respeito disso!"
64
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Era óbvio que esse estudante tinha fortes sentim entos a res­
peito daquilo. Infelizmente, não sabia como tom ar consciência 
de seus sentim entos, quanto mais como expressá-los. Essa difi­
culdade de identificar e expressar sentim entos é com um — e, 
em m inha experiência, é especialm ente com um entre advoga­
dos, engenheiros, policiais, executivos e militares de carreira, 
pessoas cujo código profissional as desencoraja a m anifestar 
emoções. Para as famílias, o preço se torna alto quando os 
m em bros não são capazes de com unicar suas emoções. Reba 
M clntire, cantora de country e western, escreveu um a música de­
pois da m orte do pai e lhe deu o título: "The greatest m an I 
never knew " ("O m aior hom em que nunca conheci"). Ao fazê-
lo, ela sem dúvida estava expressando os sentim entos de m u i­
tas pessoas que nunca conseguem estabelecer a conexão em o­
cional que gostariam de ter com os pais.
Ouço regularm ente afirmações como: "Não m e interprete 
mal, sou casada com um hom em maravilhoso, mas nunca sei o 
que ele está sentindo". Uma dessas m ulheres insatisfeitas tro u ­
xe o m arido a um seminário, durante o qual ela lhe disse: "Sinto 
como se estivesse casada com um a parede". O m arido então fez 
um a excelente imitação de parede: ficou sentado, calado e im ó­
vel. Exasperada, ela se virou para m im e exclamou: "Veja! É isso 
que acontece o tem po todo. Ele fica sentado e não diz nada. É 
exatam ente como se eu estivesse vivendo com um a parede".
Respondi: "Está me parecendo que você está se sentindo 
solitária e querendo mais contato emocional com seu marido". 
Q uando ela concordou, ten tei m ostrar que era im provável que 
afirmações como "Sinto que estou vivendo com um a parede" 
despertassem a atenção do m arido para seus sentim entos e d e ­
sejos. Na verdade, era mais provável que fossem ouvidas como 
críticas do que como convite para se conectar com os sen tim en­
65
I MARSHALL B. ROSENBERG I
tos da esposa. Ademais, esse tipo de afirmação freqüentem ente 
leva a profecias que acabam por acarretar sua própria concreti­
zação. Por exemplo, um m arido ouve críticas por se com portar 
como um a parede; ele fica m agoado, é desencorajado e não res­
ponde, confirm ando assim a im agem de parede que a esposa 
tem dele.
Os benefícios de enriquecer o vocabulário de nossos senti­
m entos são evidentes não apenas em relacionam entos íntimos, 
mas tam bém no m undo profissional. Certa vez, fui contratado 
para dar consultoria aos m em bros do departam ento de tecnolo­
gia de um a grande empresa suíça, incom odados com a desco­
berta de que os funcionários de outros departam entos os esta­
vam evitando. Q uando se perguntou aos outros funcionários o 
porquê, eles responderam : "Detestamos ir lá consultar aquelas 
pessoas. É como falar com um bando de m áquinas!" O proble­
m a dim inuiu depois que passei algum tem po com os m embros 
do departam ento de tecnologia e os estim ulei a expressar mais 
sua hum anidade na com unicação com os colegas.
Em outra ocasião, eu estava trabalhando com os adm inis­
tradores de um hospital que andavam preocupados com um a 
im inente reunião com os médicos do estabelecim ento. Queriam 
apoio para um projeto que os médicos recentem ente haviam re ­
jeitado por dezessete votos a um . Os adm inistradores estavamansiosos para que eu dem onstrasse como eles poderiam utilizar 
a cnv ao falar com os médicos.
Ensaiamos o encontro e, no papel de u m adm inistrador, co­
mecei dizendo: "Estou com m edo de abordar esse assunto". Es­
colhi começar dessa m aneira porque pude sentir quanto os ad ­
m inistradores ficavam am edrontados ao se prepararem para 
confrontar outra vez os médicos. Antes que eu pudesse conti­
nuar, um dos adm inistradores m e in terrom peu para protestar:
66
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
"Você não está sendo realista! Nunca poderíam os dizer aos m é­
dicos que estamos com medo".
Quando perguntei por que parecia tão impossível reconhe­
cer que estavam com m edo, ele respondeu sem hesitação: "Se 
confessássemos que estamos com medo, eles nos fariam em p e ­
dacinhos!" A resposta não m e surpreendeu; já ouvi m uitas 
vezes as pessoas dizerem que não conseguem jam ais se im agi­
nar expressando seus sentim entos no local de trabalho. E n tre­
tanto, fiquei satisfeito em saber que um dos adm inistradores 
efetivam ente decidiu arriscar expressar sua vulnerabilidade na 
tem ida reunião. Em vez da abordagem habitual, que consistia 
em parecer estritam ente lógico, ele escolheu expressar seus sen ­
tim entos e os motivos pelo quais desejava que os médicos m u ­
dassem de posição. Percebeu como os médicos reagiram de 
forma diferente a ele. No final, ficou espantado e aliviado q u an ­
do, em vez de ter sido "feito em pedacinhos" pelos médicos, 
estes reverteram sua posição e
votaram por apoiar o projeto Expressar nossa vulnerabilidade 
por dezessete votos contra um . pode ajudar a resolver conflitos.
A quela reviravolta dram ática
ajudou os adm inistradores a perceberem e a apreciarem o im ­
pacto potencial de expressar a vulnerabilidade de cada um — 
até m esm o no local de trabalho.
Por fim, deixe-m e contar um incidente pessoal que me e n ­
sinou os efeitos de esconder nossos sentim entos. Eu estava 
dando um curso de cnv para um grupo de estudantes de áreas 
urbanas decadentes. Q uando entrei na sala no prim eiro dia, os 
alunos, que estavam conversando anim adam ente uns com os 
outros, ficaram quietos. "Bom dia!", cum prim entei. Silêncio. 
Senti-me m uito desconfortável, mas tive m edo de expressar 
isso. Em vez disso, continuei com m eu m odo mais profissional.
67
I MARSHALL B. ROSENBERG I
"Neste curso, estudarem os um processo de com unicação que, 
espero, vocês achem útil no relacionam ento em casa e com os 
amigos".
C ontinuei a apresentar inform ações sobre a cnv, mas n in ­
guém parecia estar escutando. Uma moça, procurando na bolsa, 
achou um a lixa e começou a lixar vigorosam ente as unhas. Os 
alunos próxim os às janelas colaram seus rostos no vidro, como 
se estivessem fascinados pelo que acontecia na rua lá embaixo. 
Comecei a m e sentir cada vez mais desconfortável, mas conti­
nuei não dizendo nada. Finalm ente, um aluno, que decerto 
tinha mais coragem do que eu estava dem onstrando ter, dispa­
rou: "Você odeia estar com negros, não?" Fiquei atordoado, mas 
percebi im ediatam ente como eu m esm o havia contribuído para 
essa percepção por parte do estudante, ao ten tar esconder m eu 
desconforto.
"Eu estou m e sentindo nervoso", admiti, "mas não porque 
vocês sejam negros. M eus sentim entos têm a ver com não co­
nhecer n inguém aqui e desejar ter sido aceito quando entrei 
nesta sala". Essa expressão de m inha vulnerabilidade teve um 
efeito acentuado nos alunos. Eles com eçaram a perguntar sobre 
mim, a contar coisas sobre eles m esm os e a expressar curiosida­
de sobre a cnv.
S e n tim e n to s v e r s u s n ão -se tm tim en to s
Uma confusão com um gerada por nossa linguagem é o uso 
do verbo sentir sem realm ente expressar n en h u m sentim ento. 
Por exemplo, na frase "Sinto que não consegui um acordo 
justo", a palavra sinto poderia ser mais precisam ente substituída 
por penso, creio ou acho. Em geral, os sentim entos não estão sen­
do claram ente expressos quando a palavra sentir é seguida de:
68
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
A. Termos como que, como, como se:
"Sinto que você deveria saber isso m elhor do que ninguém ". 
"Sinto-m e como um fracassado".
B. Vocábulo que seguido de pronom es como eu, ele, ela, eles, isso 
etc.:
"Sinto que eu tenho de estar constantem ente disponível". 
"Sinto que isso é inútil".
C. Vocábulo que seguido de nom es ou palavras que se referem 
a pessoas:
"Sinto que Lúcia tem sido bastante responsável".
"Sinto que meu chefe está m e m anipulando".
sentir quando estamos de fato
expressando um sentim ento: podem os dizer "Estou me sen tin ­
do irritado" ou, simplesmente, "Estou irritado".
Na cnv, distinguimos entre as palavras que expressam sen ­
tim entos verdadeiros e aquelas que descrevem o que pensamos 
que somos.
A. Uma descrição do que pensam os que somos:
"Sinto que sou m au violonista".
Nessa afirmação, estou avaliando m inha habilidade como vio­
lonista, em vez de expressar claramente meus sentimentos.
B.Expressões de sentim entos verdadeiros:
"Estou m e sentindo desapontado comigo mesm o como vio­
lonista".
"Sinto como se estivesse vivendo 
com um a parede".
Distinga sentimentos de pen­
samento s.
Em contrapartida, não é 
necessário usarm os a palavra Distinga entre 0 QUE SENTIMOS e 
O QUE PENSA/MOS que somos.
69
I MARSHALL B. ROSENBERG I
"Sinto impaciência comigo m esm o como violonista". 
"Sinto-m e frustrado comigo m esm o como violonista". 
Portanto o sentim ento real por trás de m inha avaliação de 
m im m esm o como "m au" violonista pode ser de decepção, im ­
paciência, frustração ou algum a outra emoção.
Da m esm a forma, é útil diferenciar palavras que descrevem 
o que pensam os que os outros estão fazendo à nossa volta de
palavras que descrevem senti- 
Dístínga entre O QUE sentia/ios e m entos reais. Eis alguns exem-
COrt/lO ACHAMOS que os outros pios de afirmações que podem
reagem ou se comportam a ser facilmente confundidas com
nosso respeito. expressões de sentim entos; na
verdade, elas revelam mais 
sobre como achamos que os outros estão se comportando do que sobre 
o que realm ente estamos sentindo:
A. "Sinto-me insignificante para as pessoas com quem traba­
lho".
A palavra insignificante descreve como acho que os outros 
estão m e avaliando, e não um sentim ento real, que, nessa 
situação, poderia ser "Sinto-m e triste" ou "Sinto-m e deses- 
tim ulado."
B. "Sinto-m e incom preendido."
Aqui, a palavra incompreendido indica m inha avaliação do 
nível de com preensão de outra pessoa, em vez de um sen­
tim ento real. Nessa situação, posso estar m e sentindo ansio­
so, ou aborrecido, ou estar sentindo algum a outra emoção.
C. "Sinto-m e ignorado".
70
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Mais um a vez, isso é mais um a interpretação das ações dos 
outros do que um a descrição clara de como estou m e sen­
tindo. Sem dúvida, terá havido m om entos em que pensa­
mos estar sendo ignorados e nosso sentim ento terá sido de 
alívio, porque queríam os ser deixados sozinhos. Da m esm a 
forma, terá havido outros m om entos em que nos sentimos 
magoados por estar sendo ignorados, porque queríam os par­
ticipar.
Palavras como ignorado tendem a expressar como interpreta­
mos os outros, e não como nos sentimos. Eis aqui um a am ostra de 
palavras que podem ser usadas dessa m aneira:
am eaçado
atacado
aviltado
coagido
cooptado
criticado
desacreditado
desam parado
desapontado
dim inuído
enclausurado
encurralado
enganado
ignorado
intimidado
mal com preendido
m altratado
m anipulado
m enosprezado
negligenciado
podado
pressionado
preterido
provocado
rejeitado
sobrecarregado
subestimado
traído
usado
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Construindo um vocabulário para os sentim entos
Ao expressar nossos sentimentos, seria m uito útil se utilizás­
semos palavras que se referem a emoções específicas em vez de 
palavras vagas ou genéricas. Por exemplo, se dissermos "Sinto- 
m e bem a esse respeito", a palavra bem pode significar alegre, ex­
citado,aliviado ou várias outras emoções. Palavras como bem ou 
m al im pedem que o ouvinte se conecte facilmente ao que pode­
mos de fato estar sentindo.
As listas a seguir foram compiladas para ajudar você a a u ­
m entar sua capacidade de articular seus sentim entos e de des­
crever claram ente um a am pla gama de estados emocionais.
Como é provável que você se sinta quando suas 
necessidades e s t ã o sendo atendidas:
à vontade
absorto
agradecido
alegre
alerta
aliviado
amistoso
amoroso
anim ado
atônito
ávido
bem -hum orado
calmo
carinhoso
complacente
com preensivo
concentrado
confiante
confiável
consciente
contente
criativo
curioso
despreocupado
em ocionado
empolgado
encantado
encorajado
engraçado
entretido
72
I COMUNICAÇÃO IMÃO-VIOLENTA I
entusiasm ado orgulhoso
envolvido otimista
equilibrado ousado
esperançoso pacífico
esplêndido plácido
estim ulado pleno
excitado radiante
extasiado relaxado
exuberante resplandecente
exultante revigorado
falante satisfeito
fascinado seguro
feliz sensível
glorioso sereno
gratificado surpreso
grato terno
inspirado tocado
interessado tranqüilo
livre útil
m aravilhado vigoroso
maravilhoso vivo
m otivado
73
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Como é provável que você se sinta quando suas 
necessidades n ã o e s t ã o sendo atendidas:
abandonado confuso
abatido consternado
aflito culpado
agitado deprimido
alvoroçado desam parado
amargo desanim ado
am argurado desapontado
am edrontado desatento
angustiado desconfiado
ansioso desconfortável
apático descontente
apavorado desesperado
apreensivo desencorajado
arrependido desiludido
assustado desolado
aterrorizado despreocupado
atorm entado encabulado
austero encrencado
bravo enojado
cansado entediado
carregado envergonhado
cético exagerado
chateado exaltado
chato exasperado
chocado exausto
cium ento fraco
74
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
frustrado nervoso
fulo obcecado
furioso oprimido
hesitante perplexo
horrorizado perturbado
hostil pesaroso
im paciente pessimista
impassível péssimo
incom odado preguiçoso
indiferente preocupado
infeliz rancoroso
inquieto receoso
inseguro rejeitado
insensível relutante
instável ressentido
irado segregado
irritado sem graça
irritante sensível
irritável solitário
letárgico sonolento
magoado soturno
m al-hum orado surpreso
malvado taciturno
melancólico tem eroso
m onótono tenso
mortificado triste
75
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Resum o
O segundo com ponente necessário para nos expressarm os 
são os sentim entos. Desenvolver um vocabulário de sen tim en­
tos que nos perm ita nom ear ou identificar de form a clara e es­
pecífica nossas emoções nos conecta mais facilm ente uns com 
os outros. Ao nos perm itirm os ser vulneráveis por expressar­
mos nossos sentim entos, ajudam os a resolver conflitos. A cnv 
distingue a expressão de sentim entos verdadeiros de palavras e 
afirmações que descrevem pensam entos, avaliações e in terp re­
tações.
Exercíc io 2
E xpressando sentim entos
Se você quiser verificar se estamos de acordo a respeito da ex­
pressão verbal dos sentim entos, faça um círculo ao redor do nú­
mero em fren te de cada uma das afirm ações que corresponda a 
sentim entos que estão sendo expressos verbalm ente.
1. Acho que você não me ama.
2. Estou triste porque você está partindo.
3. Fico com medo quando você diz isso.
4. Quando você não me cum prim enta, s into -m e negligenciado.
5. Estou fe liz que você possa vir.
6. Você é nojento.
7. Sinto vontade de bater em você.
8. S in to -m e mal interpretado.
9. S in to-m e bem a respeito do que você fez por mim.
10. Não tenho nenhum valor.
76
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Aqui e s t ã o m in h a s r e s p o s t a s p a r a o e x e r c íc io 2:
1. Se você circulou esse número, discordamos. Não considero que 
"Você não me ama" seja um sentim ento. Para mim, a frase expres­
sa o que a pessoa acha que a outra está sentindo, e não o que ela 
mesma está sentindo. Quando a palavra s in to é seguida de pro­
nomes como eu, vo cê , e le , e la , e les , is s o , q u e , c o m o ou c o m o se, 
o que se segue geralm ente não é o que eu consideraria um senti­
m ento. Exemplos de expressões de sentim entos poderiam ser 
“Estou triste" ou "Estou me sentindo angustiado".
2. Se você circulou esse núm ero, estamos de acordo em que um sen­
tim en to fo i expresso verbalm ente.
3. Se você circulou esse número, estamos de acordo em que um sen­
tim en to fo i expresso verbalm ente.
4. Se você circulou esse núm ero, discordamos. Não considero que 
n e g lig e n c ia d o seja um sentim ento. Para mim, essa palavra expres­
sa o que a pessoa pensa que outra está fazendo a ela. Uma ex­
pressão de sentim ento poderia ser "Quando você não me cum pri­
m enta à porta, s into -m e solitário".
5. Se você circulou esse número, estamos de acordo em que um sen­
tim en to fo i expresso verbalm ente.
6. Se você circulou esse número, discordamos. Não considero que
n o je n t o seja um sentim ento. Para mim, essa palavra expressa o
que uma pessoa pensa da outra, e não como ela se sente. Uma ex­
pressão de sentim ento poderia ser “S in to-m e enojado".
7. Se você circulou esse número, discordamos. Não considero que t e r 
v o n ta d e d e b a te r e m a lg u é m seja um sentim ento. Para mim, isso 
expressa o que uma pessoa se imagina fazendo, e não como ela 
está se sentindo. Uma expressão de sentim ento poderia ser “Estou 
furioso com você"
8. Se você circulou esse número, discordamos. Não considero que
m a l in t e r p r e ta d o seja um sentim ento. Para mim, essa expressão
I MARSHALL B. ROSENBERG I
diz o que uma pessoa acha que a outra está fazendo. Nesse caso, 
uma expressão de sentim ento poderia ser "S into-m e frustrado", 
ou "Sinto-m e desestimulado".
9. Se você circulou esse núm ero, estamos de acordo em que um sen­
tim en to foi expresso verbalm ente. No entanto, a palavra bem é 
vaga quando utilizada para expressar um sentim ento. Geralm en­
te podemos expressar nossos sentim entos mais claram ente usan­
do outras palavras — por exemplo, nesse caso, aliviado, g ra tific a ­
do ou estim ulado.
10. Se você circulou esse núm ero, discordamos. Não considero que 
"Não tenho nenhum valor" seja um sentim ento. Para mim, a frase 
expressa o que uma pessoa pensa de si mesma, e não o que ela 
está sentindo. Exemplos de uma expressão de sentim entos pode­
riam ser "Sou cético quanto aos meus próprios talentos" ou 
"Sinto-m e digno de pena".
78
5 . Assumindo a responsabilidade 
por nossos sentimentos
As pessoas não são perturbadas pelas coisas, mas pelo 
modo que as vêem.
E p ic t e t o
Ouvindo um a m ensagem negativa : quatro opções
No terceiro com ponente da o que os outros fazem pode ser o
cnv reconhecem os a raiz de estímulo para nossos sentimen-
nossos sentim entos. A cnv au- tos, mas não a causa.
m enta nossa consciência de que
o que os outros dizem e fazem pode ser o estímulo, mas nunca a 
causa dos nossos sentim entos. Com ela, vemos que nossos sen­
tim entos resultam de como escolhemos receber o que os outros 
dizem e fazem, bem como de nossas necessidades e expectativas 
específicas naquele m om ento. Com esse terceiro com ponente, 
somos levados a aceitar a responsabilidade pelo que fazemos p a ­
ra gerar os nossos próprios sentim entos.
Q uando alguém nos dá um a m ensagem negativa, seja ver­
bal, seja não-verbal, tem os quatro opções de como recebê-la. 
Uma delas é tom ar aquilo como pessoal e escutar apenas acu­
sação e crítica. Por exemplo, alguém está zangado e diz: "Você é’
79
I MARSHALL B. ROSENBERG I
a pessoa mais egocêntrica que eu já vi!" Escolhendo tom ar isso 
como pessoal, poderíam os reagir assim: "Oh, eu deveria ter sido
mais sensível!" Aceitamos o jul- 
Quatra opções de como receber gam ento da outra pessoa e nos
ra nossa auto-estim a, pois ela 
nos conduz a sentim entos de culpa, vergonha e depressão.
Uma segunda opção é culpar o interlocutor. Por exemplo, 
em resposta à frase "Você é a pessoa mais egocêntrica que eu já
verdade, é você que é egocêntrico!". Quando recebem os m en ­
sagens assim e culpamos o interlocutor, é provável que sinta­
mos raiva.
Q uando recebem os um a m ensagem negativa, um a terceira 
opção seria ilum inar nossa consciência a respeito dos próprios
sen tim entos e necessidades. 
3. Escutar nossos próprios senti- Assim, poderíam os responder:
mentos e necessidades. "Quando ouço você dizer que
você já viu, fico magoado, porque preciso de algum reconheci­
m ento por m eus esforços em levar em consideração suas prefe­
rências". Ao focarmos a atenção em nossos próprios sentim en­
tos e necessidades, n o s consc ien tiza m os de que nosso atual 
sentim ento de m ágoa deriva da necessidade de que nossos es­
forços sejam reconhecidos.
Finalmente, um a quarta opção, ao receberm os um a m ensa­
gem negativa, seria virar o foco para a consciência dos senti-
mensagens negativas:
1. Culpar a nós mesmos.
culpamos. Escolhemos essa al­
ternativa a um grande custo pa-
2. culpar os outros.
vi", poderíam os protestar: "Você 
não tem o direito de dizer isso! 
Estou sempre levando suas n e ­
cessidades em consideração. Na
sou a pessoa m ais egoísta q u e
80
m entos e necessidades da outra 4. Escutar os sentimentos e ne-
pessoa, tais como expressos na- cessidades dos outros,
quele m om ento. Por exemplo,
poderíam os perguntar: "Você está magoado porque precisa de 
mais consideração por suas preferências?"
Aceitamos a responsabilidade, em vez de culpar outras pes­
soas por nossos sentim entos, ao reconhecerm os nossas próprias 
necessidades, desejos, expectativas, valores ou pensam entos. 
Observe a diferença entre as seguintes expressões de desapon­
tam ento:
E xemplo 1
A:"Você m e desapontou ao não aparecer na noite passada."
B: "Fiquei desapontado quando você não apareceu, porque eu 
queria conversar a respeito de algumas coisas que estavam 
me incom odando."
Na frase A, a pessoa atribui a responsabilidade pelo desa­
pontam ento som ente à atitude da outra pessoa. Em B, o senti­
m ento de desapontam ento é reconhecido no desejo da própria 
pessoa que fala, o qual não está sendo atendido.
E xemplo 2
A: "Fiquei realm ente irritado por eles terem cancelado o con­
trato."
B: "Q uando eles cancelaram o contrato, senti-m e realm ente 
irritado, porque fiquei pensando que aquilo tinha sido de 
um a irresponsabilidade absurda."
Na frase A, a pessoa atribui sua irritação exclusivam ente 
ao com portam ento da outra pessoa, ao passo que, na frase B,
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
81
I MARSHALL B. R O S B N B E R G I
ela aceita a responsabilidade por seus sentim entos, ao reconhe­
cer o pensam ento por trás deles. Ela reconhece que seu m odo 
recrim inatório de pensar havia gerado sua irritação. Na cnv, 
entretanto , encorajaríam os essa pessoa a ir um passo além , 
identificando o que ela está querendo: qual de seus desejos, n e ­
cessidades, expectativas ou esperanças não foi atendido? Como 
verem os, quanto mais formos capazes de relacionar nossos sen­
tim entos às nossas próprias necessidades, mais fácil será para os 
outros reagir com passivam ente. Para relacionar seus sen tim en­
tos ao que ela estava querendo, a pessoa da frase B poderia ter 
dito:
"Q uando eles cancelaram o contrato, fiquei realm ente irri­
tado, porque eu tinha esperanças de recontratar os empregados 
que dispensamos no ano passado".
Faça distinção entre doar de co- O m ecan ism o básico de
ração e ser motivado pela culpa. motivação pela culpa é atribuir
a responsabilidade por seus sen­
tim entos a outras pessoas. Q uando os pais dizem "M amãe e 
papai ficam tristes quando você tira notas ruins na escola", estão 
deixando implícito que as atitudes da criança são a causa da fe­
licidade ou infelicidade deles. Na aparência, ser responsável 
pelos sentim entos dos outros pode ser facilm ente confundido 
com preocupação positiva. Parece que a criança se im porta com 
os pais e sente-se m al porque eles estão sofrendo. Entretanto, se 
crianças que assum em esse tipo de responsabilidade m udam de 
com portam ento, conforme os desejos dos pais, elas agem não 
de coração, mas apenas para evitar a culpa.
Ajuda se reconhecerm os alguns padrões com uns de lingua­
gem que tendem a m ascarar a responsabilidade por nossos p ró ­
prios sentim entos:
82
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
1. O uso de expressões e pronom es impessoais, como algo e 
isso: "Algo que realm ente m e enfurece é quando erros de 
ortografia aparecem em nossos folhetos para o público"; 
"Isso m e aborrece m uito".
2. Afirmações que som ente m encionam as ações de outros: 
"Q uando você não m e liga em m eu aniversário, fico m a­
goado"; "Mamãe fica desapontada quando você não term i­
na de comer".
3. O uso da expressão "Sinto-m e [um a emoção] porque..." , 
seguida de um a pessoa ou pronom e pessoal que não seja 
"eu": "Sinto-me m agoado porque você disse que não m e 
am ava"; "Sinto-m e zangado porque a supervisora não 
cum priu sua promessa".
Em cada um desses casos, Ligue seu sentimento à sua ne-
podem os aprofundar a cons- cessidade: "Sinto-me assim por-
ciência de nossa própria respon- qUe eu..."
sabilidade ao substitu irm os a
frase original por “Sinto-me assim porque eu ..." Por exemplo:
1. "Sinto-me realm ente enfurecido quando erros de ortografia 
como esse aparecem em nossos folhetos para o público, por­
que eu quero que nossa com panhia projete um a imagem 
profissional".
2. "Mamãe fica desapontada quando você não term ina de 
comer, porque eu quero que você cresça forte e saudável".
3. "Sinto-m e zangado por a supervisora não ter cum prido sua 
promessa, porque eu contava com aquele fim de sem ana 
prolongado para ir visitar m eu irmão".
A S NECESSIDADES NA RAIZ DOS SENTIMENTOS
Julgam entos, críticas, diagnósticos e interpretações dos o u ­
tros são todas expressões alienadas de nossas necessidades. Se
83
I MARSHALL 6. ROSENBERG I
alguém diz "Você nunca m e com preende", está na verdade nos
dizendo que sua necessidade de ser com preendido não está
sendo satisfeita. Se um a esposa 
Julgamentos dos outros são ex- „diz Voce tem trabalhado ate pressões alienadas de nossas pró- , , ..tarde todos os dias desta sema- prias necessidades insatisfeitas. „ ,na; voce am a o trabalho mais
do que a mim", ela está dizendo que sua necessidade de conta­
to íntim o não está sendo atendida.
Quando expressamos nossas necessidades indiretam ente, 
através do uso de avaliações, interpretações e imagens, é prová­
vel que os outros escutem nisso um a crítica. E, quando as pes­
soas ouvem qualquer coisa que Quando expressamos nossas ne- . ,soe como critica, elas tendem acessidades, temos mais chance de .investir sua energia na autode-
vê-las satisfeitas. lesa ou no contra-ataque. Se
desejamos obter um a reação compassiva dos outros, expressar 
nossas necessidades interpretando ou diagnosticando o com por­
tam ento deles é jogar contra n ó s m esm o s. Em vez disso, q u an ­
to mais d iretam ente conseguirmos conectar nossos sen tim en to s 
a nossas próprias necessidades, mais fácil será para os outros 
reagirem a estas com compaixão.
Infelizm ente, a m aioria de nós nunca foi ensinada a pensar 
em term os de necessidades. Estamos acostum ados a pensar no 
que há de errado com as outras pessoas sempre que nossas n e ­
cessidades n ão são satisfeitas. Assim, se desejam os que os ca­
sacos sejam pendurados n o arm ário, podem os classificar nossos 
filhos de preguiçosos por deixá-los sobre o sofá. Ou podem os in ­
terpretar nossos colegas de trabalho como irresponsáveis q uan ­
do eles não desem penham suas tarefas do jeito que preferiría­
mos que eles fizessem.
Um a vez, fui convidado a fazer um a m ediação no sul da Ca­
lifórnia, entre alguns proprietários de terras e trabalhadores ru-
84
I c o m u n ic a ç ã o NÃO-VIOLENTA I
rais m igrantes, cujos conflitos estavam ficando cada vez mais 
hostis e violentos. Comecei a reunião perguntando a eles duas 
coisas: "Do que é que cada um de vocês precisa? E o que vocês 
gostariam de pedir ao outrolado em relação a essas necessida­
des?" Um trabalhador rural gritou: "O problem a é que essas 
pessoas são racistas!" Um fazendeiro respondeu ainda mais alto: 
"O problem a é que essas pessoas não respeitam a lei e a ordem!" 
Como freqüentem ente acontece, os dois grupos tinham mais 
habilidade para analisar o erro que percebiam nos outros do 
que para expressar claram ente suas necessidades.
Certa vez, em situação parecida, encontrei-m e com um 
grupo de israelenses e palestinos que desejavam estabelecer a 
confiança m útua necessária para levar paz a sua terra. Abri a 
sessão com as mesmas perguntas: "Do que vocês estão precisan­
do e o que vocês gostariam de pedir uns aos outros em relação 
a essas necessidades?" Em vez de colocar d ire tam ente suas 
necessidades, um m ukhtar (algo como um prefeito de aldeia) p a ­
lestino respondeu: "Vocês estão agindo com o um bando de n a ­
zistas!" É pouco provável que um a afirmação dessa consiga ob­
ter a cooperação de um grupo de israelenses!
Quase im ediatam ente, um a m ulher israelense se levantou e 
respondeu: “M ukhtar, o que você disse foi algo totalm ente in ­
sensível!" Ali estavam pessoas que haviam se reunido para cons­
tru ir um a relação de confiança e harm onia, mas, já no prim eiro 
intercâmbio, as coisas estavam piores do que antes de com eça­
rem. Isso em geral acontece quando as pessoas estão acostum a­
das a analisar e culpar um as às outras, em vez de expressarem 
com clareza aquilo de que precisam. Nesse caso, a m ulher pode­
ria ter respondido ao m ukhtar com base em suas próprias neces­
sidades e reivindicações dizendo, por exemplo: "Preciso de mais 
respeito em nosso diálogo. Em vez de nos dizer como o senhor
85
I MARSHALL B. ROSENBERG I
acha que estamos agindo, o senhor poderia nos dizer o que o 
pertuba no que estamos fazendo?"
Em m inha experiência, repetidas vezes pude ver que a par­
tir do m om ento em que as pessoas começam a conversar sobre 
o que precisam, em vez de falarem do que está errado com as 
outras, a possibilidade de encontrar m aneiras de atender às n e ­
cessidades de todos aum enta enorm em ente. Eis a seguir algumas 
das necessidades hum anas básicas que todos compartilhamos:
Autonomia
• escolher seus próprios sonhos, objetivos e valores
• escolher seu próprio plano para realizar esses sonhos, obje­
tivos e valores
Celebração
• celebrar a criação da vida e os sonhos realizados
• elaborar as perdas: entes queridos, sonhos etc. (luto)
Integridade
• autenticidade
• autovalorização
• criatividade
• significado
Interdependência
• a c e i ta ç ã o
• am or
• apoio
• apreciação
• calor hum ano
• com preensão
86
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
• com unhão
• confiança
• consideração
• contribuição para o enriquecim ento da vida (exercitar o 
poder de cada um, doando aquilo que contribui para a 
vida)
• empa tia
• encorajam ento
• honestidade (a honestidade que nos fortalece, capacitando- 
nos a aprender com nossas limitações)
• proxim idade
• respeito
• segurança emocional
Lazer
• diversão
• riso
Comunhão espiritual
• beleza
• harm onia
• inspiração
• ordem
• paz
Necessidades físicas
• abrigo
• água
• alim ento
• ar
• descanso
• expressão sexual
87
I MARSHALL B. ROSENBERG
• m ovim ento, exercício
• proteção contra formas de vida ameaçadoras: vírus, bacté­
rias, insetos, predadores
• toque
A DOR DE EXPRESSARMOS NOSSAS NECESSIDADES VERSUS 
A DOR DE NÃO AS EXPRESSARMOS
Num m undo onde somos freqüentem ente julgados severa­
m ente por identificarmos e revelarmos nossas necessidades, fazer 
isso pode ser bastante assustador. As m ulheres, em especial, estão 
sujeitas a críticas. D urante séculos, a imagem da m ulher am oro­
sa tem sido associada ao sacrifício e à negação de suas próprias 
necessidades, com o objetivo de cuidar dos outros. Devido ao fato 
de as m ulheres serem socialmente ensinadas a considerar o cui­
dado com os outros como sua m aior obrigação, elas m uitas vezes 
aprenderam a ignorar as próprias necessidades.
Num seminário, discutimos o que acontece às m ulheres 
que internalizam essas crenças. Essas m ulheres, se chegarem a 
pedir o que desejam, farão isso de um a m aneira que tanto refli- 
tirá quanto reforçará a crença de que elas não têm n en h u m di­
reito legítimo a suas necessidades e de que estas não são im por­
tantes. Por exemplo, por ter m edo de pedir o que precisa, um a 
m ulher pode sim plesm ente deixar de dizer que ela teve um dia 
cheio, está cansada e gostaria de ter algum tem po à noite para 
si mesma; em vez disso, suas palavras saem como se fossem 
um a causa judicial: "Você sabe, não tive um m om ento para 
m im m esm a o dia todo. Passei todas as camisas, lavei as roupas 
da sem ana toda, levei o cachorro ao veterinário, fiz o jantar, fiz 
a m arm ita do almoço e liguei para todos os vizinhos para avisar 
da reunião do bairro, então [im plorando]... que tal se você...?"
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
"Não!", vem a rápida resposta. Seu melancólico pedido provoca 
resistência de seus ouvintes, em vez de compaixão. Eles têm di­
ficuldade para ouvir e valorizar as necessidades por trás dos p e ­
didos e, assim sendo, reagem negativam ente a sua débil ten ta ­
tiva de argum entar de um a posição em que ela "deveria" ou 
"mereceria" obter dos outros. No final, a m ulher é novam ente 
persuadida de que suas necessidades não im portam , sem perce­
ber que elas foram expressas de tal m aneira que seria im prová­
vel obter um a reação favorável.
M inha m ãe esteve um a vez num sem inário em que outras 
m ulheres estavam discutindo quanto era assustador expressar 
suas necessidades. De repen te , ela se levantou , deixou a sala 
e não voltou por um longo tem -
m ãe, a senhora está bem?"
"Estou", ela respondeu, "mas de repente percebi uma coisa 
que foi m uito difícil para eu aceitar".
"O que foi?"
"Acabei de tom ar consciência de que tive raiva de seu pai 
durante 36 anos por ele não atender às m inhas necessidades, 
mas agora percebo que não disse a ele n enhum a vez com clare­
za do que necessitava".
A revelação de m inha m ãe foi precisa. Não consigo m e lem ­
brar de n en h u m a vez em que ela tenha expressado suas neces­
sidades a m eu pai. Ela dava dicas e fazia todo tipo de rodeio, 
mas nunca pedia diretam ente o que precisava.
Tentamos com preender por que foi tão difícil para ela fazer 
isso. M inha m ãe cresceu n um a família econom icam ente em po­
brecida. Ela se lem brava de que, quando criança, pedia as coi­
po. Ela finalm ente reapareceu, 
parecendo m uito pálida. Na p re­
sença do grupo, perguntei: "Ma-
Se não valorizarmos nossas ne­
cessidades, os outros também 
podem não valorizá-las.
89
I MARSHALL B. ROSENBERG I
sas e era repreendida pelos irm ãos e irmãs: "Você não deveria 
pedir isso! Você sabe que som os pobres. Você acha que é a única 
pessoa na família?" Com o tem po, ela acabou ficando com 
m edo de que pedir o que ela necessitava só levasse à desapro­
vação e à crítica.
Ela contou um caso de infância sobre um a das irm ãs, que 
tinha sido operada do apêndice e mais tarde ganhado um a linda 
bolsinha de presente de outra irmã. Na ocasião, m inha m ãe tinha 
14 anos. Ah, como ela sonhava ter um a bolsa lindam ente cober­
ta de contas como a da irmã, m as não se atrevia a abrir a boca! 
Então, adivinhe: ela fingiu um a dor lateral e levou a história até 
o fim. A família a levou a vários médicos. Eles não foram capa­
zes de dar um diagnóstico e optaram por fazer um a cirurgia ex­
ploratória. Isso havia sido um a aposta ousada da parte de m inha 
mãe, mas funcionou — ela ganhou um a bolsinha idêntica! 
Quando ela ganhou a ambicionada bolsa, m inha m ãe ficou exta­
siada, apesar da dor que sentia por causa da cirurgia. Duas enfer­
meiras entraram e um a delas m eteu um term ôm etro em sua 
boca. M inha m ãe disse "Hum, hum " para m ostrar a bolsa à se­
gunda enfermeira, que respondeu: "Oh, para mim?! Não preci­
sava, m uito obrigada!" E levou a bolsa. M inha m ãe ficouperple­
xa, e nunca conseguiu imaginar como dizer: "Não quis dizer que 
a estava dando a você. Por favor, devolva-a para mim". Sua his­
tória revela de forma pungente quanto pode ser doloroso q uan­
do as pessoas não comunicam abertam ente suas necessidades.
Ü A ESCRAVIDÃO EMOCIONAL À LIBERTAÇÃO EMOCIONAL
No desenvolvim ento em direção a um estado de libertação 
emocional, a maioria de nós parece passar por três estágios na 
m aneira como nos relacionam os com os outros.
90
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Estágio 1: Nesse estágio, que eu costum o denom inar escra­
vidão emocional, acreditamos que somos responsáveis pelos sen­
tim entos dos outros. Achamos que devemos nos esforçar cons­
tan tem ente para m anter todos felizes. Se eles não parecem 
felizes, sentim os-nos responsáveis e compelidos a fazer alguma 
coisa a respeito. Isso pode facilm ente nos levar a ver as próprias 
pessoas que são mais próxim as de nós como fardos.
Aceitar a responsabilidade pelos sentim entos dos outros 
pode ser m uito prejudicial aos relacionam entos íntimos. É ro ti­
neiro para m im ouvir variações do seguinte tema: "Vivo assus­
tada por estar num relacionam ento. Cada vez que vejo m eu 
parceiro sofrer ou precisar de algum a coisa, fico m uito ansiosa. 
Sinto como se estivesse num a
prisão, sin to-m e sufocar, e aí Primeiro estágio — escravidão
tenho de sair do relacionam en- emocional: vemos a nós mesmos
to o mais rapidam ente possí- como responsáveis pelos sentí-
vel". Essa reação é com um en- mentos dos outras.
tre aqueles que vivem o am or
como negação das próprias necessidades, a fim de atender às 
necessidades da pessoa amada. Nos prim eiros dias de um rela­
cionam ento, os am antes tipicam ente se relacionam um com o 
outro com alegria e compaixão, a partir de um sentim ento de li­
berdade. O relacionam ento é empolgante, espontâneo, m aravi­
lhoso. Com o tem po, porém , à m edida que o relacionam ento se 
torna "sério", os parceiros podem começar a assum ir a respon­
sabilidade pelos sentim entos u m do outro.
Se eu fosse um parceiro de um relacionam ento am oroso e 
estivesse consciente de estar fazendo isso, poderia reconhecer a 
situação explicando: "Não consigo suportar quando me perco 
em relacionam entos. Q uando vejo m inha am ada sofrendo, eu 
m e perco e aí sim plesm ente tenho de m e libertar". Entretanto,
91
I MARSHALL B. ROSENBERG I
se não atingi esse nível de consciência, é provável que culpe 
m inha parceira pela deterioração do relacionam ento. Aí, eu p o ­
deria dizer: "M inha am ada tem tantas necessidades e é tão de­
pendente que isso está causando m uita tensão em nosso rela­
cionam ento". Num caso desses, seria m elhor m inha parceira 
rejeitar a noção de que há qualquer coisa de errado com suas 
necessidades. Só tornaria pior um a situação que já seria ruim se 
ela aceitasse essa culpa. Em vez disso, ela poderia ter um a rea­
ção em pática para com a dor de m inha escravidão emocional: 
"Então, você está em pânico. É m uito difícil para você m anter a 
dedicação e o am or que tivemos sem tom ar isso um a responsa­
bilidade, um dever, um a obrigação... Você sente sua liberdade 
se acabando, porque você acha que tem de tom ar conta de m im 
o tem po todo". Entretanto, se em vez de um a resposta em páti­
ca ela pergunta: "Você está se sentindo tenso porque tenho exi­
gido m uito de você?", então é provável que nós dois fiquemos 
enredados na escravidão emocional, tornando m uito mais difí­
cil que o relacionam ento sobreviva.
Estágio 2: Nessa fase, tom am os consciência do alto custo de 
assum ir a responsabilidade pelos sentim entos dos outros e por 
ten tar satisfazê-los em detrim ento de nós mesmos. Q uando per-
esse estágio jocosam ente de estágio ranzinza, pois, quando con­
frontados com o sofrimento da outra pessoa, tendem os a fazer 
com entários ranzinzas como: "O problem a é seu\ Não sou res­
ponsável por seus sentim entos!" Para nós, fica claro aquilo pelo 
que não somos responsáveis, mas ainda tem os de aprender
Segundo estágio — "ranzinza": 
sentimos raiva; não queremos 
mais ser responsáveis pelos senti­
mentos dos outros.
cebemos quanto de nossa vida 
perdem os e quão pouco respon­
demos ao cham ado de nossa 
p rópria alm a, podem os ficar 
com raiva. Costum o cham ar
92
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
como ser responsáveis para com os outros de um a m aneira que 
não nos escravize em ocionalm ente.
À m edida que emergimos do estágio da escravidão em ocio­
nal, pode ser que continuem os a carregar resquícios de m edo e 
culpa po r term os nossas próprias necessidades. Assim, não su r­
preende que acabemos expressando essas necessidades de m a­
neiras que parecem rígidas e inflexíveis para os outros. Por 
exemplo, durante um a pausa num de m eus seminários, um a 
jovem expressou quanto gostara dos insights que ganhara em 
relação a seu próprio estado de escravidão emocional. Quando 
o sem inário recom eçou, sugeri ao grupo um a atividade. A 
m esm a jovem então declarou, positivam ente: "Eu preferiria 
fazer algum a outra coisa". Senti que ela estava exercendo seu 
direito recém -descoberto de expressar suas necessidades — 
mesm o que elas fossem contrárias às dos outros.
Para encorajá-la a descobrir o que queria fazer, perguntei: 
"Você quer fazer alguma outra coisa, m esm o que isso entre em 
conflito com m inhas necessidades?" Ela pensou por um m o ­
m ento e então gaguejou: "Sim... h ã ... quero dizer, não". Sua 
confusão reflete como, no estágio "ranzinza", ainda temos de 
en tender que a libertação em ocional consiste em m uito mais do 
que sim plesm ente afirm ar nossas necessidades.
Lem bro-m e de um incidente que aconteceu duran te a 
transição de m inha filha M aria para a libertação em ocional. 
Ela sem pre havia sido a "garotinha perfeita", que negava suas 
próprias necessidades para a tender aos desejos dos outros. 
Q uando percebi quanto era freqüente ela reprim ir seus p ró ­
prios desejos para agradar aos outros, conversei com ela a res­
peito de como eu gostaria que ela expressasse suas necessida­
des com mais freqüência. Q uando m encionam os o assunto 
pela prim eira vez, M aria protestou, desolada: "Mas, papai, eu
93
I MARSHALL B. ROSENBERG I
não quero desapontar ninguém !" Tentei m ostrar a ela como 
sua honestidade seria um presente mais precioso para os o u ­
tros do que procurar se acom odar para evitar que eles se abor­
recessem. Também expliquei m aneiras pelas quais ela poderia 
estabelecer em patia com as pessoas, quando elas estivessem 
aborrecidas, sem tom ar para si a responsabilidade por seus sen­
tim entos.
Algum tem po depois, vi evidências de que m inha filha es­
tava com eçando a expressar mais abertam ente suas necessida­
des. Recebi um a ligação do diretor de sua escola, aparen tem en­
te perturbado por um a conversa que ele tivera com Maria, que 
chegara à escola vestindo um macacão. "Maria", ele dissera, 
"garotas não se vestem dessa m aneira". Ao que ela respondera: 
"Vá se f...!" Ouvir isso foi m otivo de comemoração: M aria tinha 
progredido da escravidão em ocional para o estágio "ranzinza"! 
Ela estava aprendendo a expressar suas necessidades e arris- 
cava-se a lidar com a contrariedade dos outros. É claro que ela 
ainda tinha de afirm ar suas necessidades de um a m aneira con­
fortável e que respeitasse as necessidades dos outros, mas tive 
confiança de que com o tem po isso ocorreria.
Estágio 3: Na terceira etapa, a libertação emocional, respon­
dem os às necessidades dos outros por com paixão, n unca por 
medo, culpa ou vergonha. Desse modo, nossas ações estão nos
realizando, assim como àqueles 
que são o objeto de nossos es­
forços. Aceitamos total respon­
sabilidade por nossas intenções 
e ações, m as não pelos sen ti­
m entos dos outros. Nesse está­
gio, tem os consciência de que n unca poderem os satisfazer 
nossas próprias necessidades à custa dos outros. A libertação
Terceiro estágio — libertação 
emocional: assumimos a respon­sabilidade por nossas intenções e 
ações.
94
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
em ocional envolve afirm ar claram ente o que necessitamos, de 
um a m aneira que deixe óbvio que estamos igualm ente em pe­
nhados em que as necessidades dos outros sejam satisfeitas. A 
cnv foi elaborada para nos ajudar a conviver nesse nível.
Resum o
O terceiro com ponente da cnv é o reconhecim ento das n e ­
cessidades que estão por trás de nossos sentim entos. O que os 
outros dizem e fazem pode ser o estímulo, m as nunca a causa de 
nossos sentim entos. Q uando alguém se com unica de forma n e ­
gativa, tem os quatro opções de como receber essa mensagem: 1. 
culpar a nós mesmos; 2. culpar os outros; 3. perceber nossos 
próprios sentim entos e necessidades; 4. perceber os sentim entos 
e necessidades escondidos por trás da m ensagem negativa da 
outra pessoa.
Julgam entos, críticas, diagnósticos e interpretações dos o u ­
tros são todos expressões alienadas de nossas próprias necessi­
dades e valores. Quando os outros ouvem críticas, tendem a in ­
vestir sua energia na autodefesa ou no contra-ataque. Q uanto 
mais diretam ente puderm os conectar nossos sentim entos a n o s­
sas necessidades, mais fácil será para os outros reagir compassi­
vam ente.
N um m undo onde com freqüência somos julgados severa­
m ente por identificarmos e revelarm os nossas necessidades, 
fazer isso pode ser m uito assustador, especialm ente para as m u ­
lheres, que são ensinadas socialmente a ignorar as próprias n e ­
cessidades para cuidar dos outros.
No decorrer do desenvolvim ento da responsabilidade em o­
cional, a m aioria de nós passa por três estágios: 1. a "escravidão 
emocional" — acreditar que somos responsáveis pelos sen ti­
95
I MARSHALL 8. ROSENBERG 1
m e n t o s d o s o u t r o s ; 2 . o " e s t á g io r a n z in z a " — n o q u a l n o s r e c u ­
s a m o s a a d m i t i r q u e n o s im p o r t a m o s c o m o s s e n t im e n t o s e n e ­
c e s s id a d e s d e q u a lq u e r o u t r a p e s s o a ; 3 . a " l i b e r t a ç ã o e m o c io n a l " 
— n a q u a l a c e i t a m o s t o t a l r e s p o n s a b i l id a d e p o r n o s s o s p r ó p r io s 
s e n t im e n t o s , m a s n ã o p e lo s s e n t im e n t o s d o s o u t r o s , e a o m e s ­
m o t e m p o t e m o s c o n s c iê n c ia d e q u e n u n c a p o d e r e m o s a t e n d e r 
a n o s s a s p r ó p r ia s n e c e s s id a d e s à c u s ta d o s o u t r o s .
A c n v em a ç ã o
“Tragam de volta o estigm a da ileg itim id ad e!”
Uma aluna de comunicação não-vio lenta que trabalhava 
como voluntária numa instituição de distribuição de a lim en­
tos ficou chocada quando uma colega idosa vociferou de trás 
de um jornal: "0 que precisamos fazer neste país é trazer de 
volta o estigma da ilegitim idade!"
A reação habitual da m ulher a esse tipo de afirm ação teria 
sido não dizer nada, ju lgar a colega severa mas silenciosa­
m ente, e mais tarde processar seus próprios sentim entos em 
segurança e longe da cena. Mas dessa vez ela se lembrou de 
que tinha a opção de escutar os sentimentos e necessidades 
por trás das palavras que a haviam chocado.
m u lher (prim eiram ente verificando seu p a lp ite sobre ao que 
se referia a observação da colega) Você está lendo 
algum a coisa sobre a gravidez de adolescentes no 
jornal?
colega Estou, é inacreditável quantas delas estão fazendo 
isso!
m u lher (agora procurando escutar o sentim ento da colega e 
que necessidade n ão -a ten d id a poderia es tar dando
96
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
o r ig e m a esse s e n t im e n to ) Você está se sentindo 
alarm ada porque gostaria que os jovens tivessem fa ­
mílias estáveis? 
c o le g a E claro! Sabe, meu pai teria me m atado se eu tivesse 
fe ito uma eoísa dessas! 
m u lh e r Então você está se lembrando de como era para as 
meninas de sua geração que ficavam grávidas? 
c o le g a Com certeza! Sabíamos o que nos aconteceria se f i ­
cássemos grávidas. Tínhamos medo disso o tem po 
todo, não era como é com essas meninas de hoje. 
m u lh e r Você está aborrecida porque não há mais medo de 
punição para as meninas que ficam grávidas hoje em 
dia?
colega Bem, pelo menos o medo e a punição funcionavam ! 
Aqui diz que há garotas dorm indo por aí eom rapazes 
diferentes só para ficarem grávidas! É isso mesmo! 
Elas têm bebês e o resto da sociedade paga por isso!
A m ulher percebeu dois sentim entos diferentes naquela 
afirm ação: o espanto pelas garotas estarem deliberadam ente 
ficando grávidas e o aborrecim ento pelo fa to de os contri­
buintes acabarem pagando por crianças nascidas dessa m a­
neira. Ela escolheu por qual sentim ento ofereceria em patia:
m u lher Você está espantada por perceber que hoje em dia as 
pessoas estão ficando grávidas sem nenhum a consi­
deração pela reputação, conseqüências, estabilidade 
financeira... todas essas coisas que vocês costumavam 
considerar?
c o le g a ( s e n t in d o -s e o u v id a e m s e u e s p a n to , e la a g o r a p a s ­
s o u p a ra seu o u t r o s e n t im e n t o , o d e a b o r re c im e n to .
97
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Como acontece com freqüência quando há um a m is­
tura de sentim entos presentes, o in terlo cu to r re to r­
na àquele que ainda não recebeu atenção em pática. 
N ão é necessário que o ouvin te dê o retorno a um a 
com plexa m istura de sentim entos de um a vez; o 
fluxo de com paixão continuará à m edida que cada 
sentim ento aparecer de novo em sua vez.) Sim, e adi­
vinhe quem acaba pagando por isso? 
mulher Parece que você está exasperada porque gostaria que 
o dinheiro de seus impostos fosse usado para outras 
finalidades. É isso mesmo? 
colega C ertam ente que sim! Você sabia que meu filho e 
m inha nora querem um segundo filho, mas não 
podem tê -lo - mesmo eles tendo dois empregos - 
porque eusta m uito caro? 
m u lher Será que você está triste com isso? Você provavel­
m ente adoraria ter mais um neto... 
colega Sim, e não é só para m im que isso faria diferença. 
mulher ...e seu filho poder ter a fam ília que deseja... (Embo­
ra o p a lp ite da m ulher fosse apenas parc ia lm ente 
correto, ela não interrom peu o fluxo de em patia , per­
m itin do que a colega continuasse e percebesse outra 
preocupação.)
colega Sim, e eu tam bém acho que é triste para uma crian­
ça ser filho único. 
m u lher Ah, entendo. Você gostaria que Cátia tivesse um ir- 
mãozinho? 
colega Isso seria ótim o.
Nesse ponto, a m ulher percebeu uma espécie de alívio na 
colega. Passou-se um m om ento de silêncio. A m ulher ficou
98
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA 1
surpresa ao descobrir que, embora ela ainda desejasse expres­
sar as próprias opiniões, a urgência e a tensão haviam se dis­
sipado, porque ela não se sentia mais "adversária" da colega. 
Ela compreendeu os sentim entos e necessidades por trás das 
afirm ações de sua colega e não sentiu mais que as duas esti­
vessem a vários mundos de distância.
mulher Sabe, quando você disse no começo que deveríamos 
trazer de volta o estigma da ilegitim idade (0 ), fiquei 
realm ente assustada (S), porque é m uito im portante 
para mim que todas nós aqui tenham os um profundo 
carinho pelas pessoas que precisam de ajuda (N). A l­
gumas das pessoas que vêm aqui procurando ajuda 
são pais adolescentes (0), e quero ter certeza de que 
eles sejam bem recebidos (N). Você se im portaria de 
me dizer como se sente quando vê Deise ou Ana e 
seus namorados entrarem aqui? (P)
A m ulher se expressou em c nv , usando todas as quatro 
partes do processo: observação (0 ), sentim ento (S), necessida­
de (N) e pedido (P).
0 diálogo continuou, com várias outras trocas de idéias, 
até que a m ulher teve a confirm ação do que precisava, de que 
a colega de fa to oferecia carinho e ajuda respeitosa aos pais 
solteiros adolescentes. Ainda mais im portante, o que a m ulher 
ganhou fo i uma nova experiênciaem expressar discordância 
de uma maneira que satisfazia suas necessidades de honesti­
dade e respeito m útuo.
Ao mesmo tem po, a colega ficou satisfeita por ter com ­
pletam ente ouvidas suas preocupações quanto à gravidez
99
I MARSHALL B. ROSENBERG I
adolescente. Ambos os lados se sentiram compreendidos e a 
relação de beneficiou do fa to de elas terem com partilhado 
sua compreensão e suas diferenças sem hostilidade. Na au­
sência da c nv , o relacionam ento delas poderia ter começado a 
se deteriorar a partir desse m om ento, e o trabalho que ambas 
desejavam fazer em conjunto — cuidar e ajudar as pessoas - 
poderia te r sido prejudicado.
Exercíc io 3 
R e c o n h e c e n d o n e c e s s id a d e s
Para praticar a identificação de necessidades, faça um círculo ao 
redor do núm ero em fren te de todas as afirm ações abaixo em 
que a pessoa estiver assumindo a responsabilidade por seus sen­
tim entos.
1. Você me irrita quando deixa docum entos da empresa no chão da 
sala de conferências.
2. Fico com raiva quando você diz isso, porque quero respeito e ouço 
suas palavras como um insulto.
3. S in to -m e frustrada quando você chega atrasado.
4. Estou triste por você não vir para jantar, porque eu estava espe­
rando que pudéssemos passar a noite juntos.
5. Estou desapontado porque você disse que faria aquilo e não o fez.
6. Estou desm otivado porque gostaria de já te r progredido mais em 
meu trabalho.
7. As pequenas coisas que as pessoas dizem às vezes me magoam.
8. S in to -m e fe liz porque você recebeu aquele prêmio.
9. Fico com medo quando você levanta a voz.
100
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
10. Estou grato por você te r me oferecido uma carona, porque eu 
precisava chegar em casa antes das crianças.
A q u i e s t ã o m i n h a s r e s p o s t a s p a r a o e x e r c íc io 3 :
1. Se você circulou esse número, discordamos. Para mim, essa a fir­
mação implica que o com portam ento da outra pessoa é exclusi­
vam ente responsável pelos sentim entos de quem falou. Ela não 
revela as necessidades ou pensamentos que estão contribuindo 
para os sentimentos dessa pessoa. Para tan to , a pessoa poderia te r 
dito: "Fico irritado quando você deixa documentos da companhia 
no chão da sala de conferências, porque quero que nossos docu­
mentos sejam guardados em segurança e fiquem acessíveis".
2. Se você circulou esse núm ero, concordamos em que a pessoa está 
assumindo a responsabilidade por seus sentimentos.
3. Se você circulou esse número, discordamos. Para expressar as ne­
cessidades ou pensamentos subjacentes a seus sentimentos, a 
pessoa poderia te r dito: "S into-m e frustrada quando você chega 
atrasado, porque eu esperava que conseguíssemos poltronas na 
primeira fila".
4. Se você circulou esse número, concordamos em que a pessoa está 
assumindo a responsabilidade por seus sentimentos.
5. Se você circulou esse número, discordamos. Para expressar as ne­
cessidades ou pensamentos subjacentes a seus sentimentos, a 
pessoa poderia ter dito: "Quando você disse que faria aquilo e de­
pois não o fez, fiquei desapontada, porque eu gostaria de poder 
confiar em sua palavra".
6. Se você circulou esse número, concordamos em que a pessoa está 
assumindo a responsabilidade por seus sentimentos.
7. Se você circulou esse núm ero, discordamos. Para expressar as ne­
cessidades ou pensamentos subjacentes a seus sentimentos, a
101
I MARSHALL B. ROSENBERG I
pessoa poderia te r dito: "Às vezes, quando as pessoas dizem a lgu­
mas coisinhas, fico m agoado porque quero ser valorizado, e não 
criticado".
8. Se você circulou esse número, discordamos. Para expressar as ne­
cessidades e pensamentos subjacentes a seus sentimentos, a pes­
soa poderia ter dito: "Quando você recebeu aquele prêmio, fiquei 
feliz, porque eu esperava que você fosse reconhecido por todo o 
trabalho que dedicou àquele projeto".
9. Se você circulou esse número, discordamos. Para expressar as ne­
cessidades e pensamentos subjacentes a seus sentimentos, a pes­
soa poderia ter dito: "Quando você levanta sua voz, fico com 
medo, porque digo para m im mesma que alguém pode se ferir 
aqui, e preciso te r a certeza de que todos estamos seguros".
10. Se você circulou esse número, concordamos em que a pessoa está 
assumindo a responsabilidade por seus sentimentos.
102
6 . Pedindo aquilo que 
enriquecera nossa vida
Já cobrimos nesse ponto os primeiros três com ponentes da 
cnv, que abordam o que estamos observando, sentindo e necessi­
tando. Aprendem os a fazer isso sem criticar, analisar, culpar ou 
diagnosticar os outros, e de um a m aneira mais provável de ins­
pirar compaixão. O quarto e últim o com ponente desse proces­
so aborda a questão do que gostaríamos de pedir aos outros para en ­
riquecer nossa vida. Quando nossas necessidades não estão 
sendo atendidas, depois de expressarmos o que estamos obser­
vando, sentindo e precisando, fazemos então um pedido espe­
cífico: pedimos que sejam feitas ações que possam satisfazer 
nossas necessidades. Como podem os expressar nossos pedidos 
de m odo que os outros estejam mais dispostos a responder com ­
passivam ente a nossas necessidades?
U sando \ jma linguagem de ações positivas
Em prim eiro lugar, devemos expressar o que estamos pedin­
do, e não o que não estamos pedindo. "Como é que você faz um
103
I MARSHALL B. ROSENBERG I
'Não faça'?", diz um verso de canção infantil de m inha colega 
R uth B eberm eyer. "Tudo que sei é que sinto 'Não v o u ' q u an ­
do m e dizem 'Não faça'". Essa
dos quando pedidos são form ulados de forma negativa: as pes­
soas costum am ficar confusas quanto ao que está realm ente 
sendo pedido, e, além disso, solicitações negativas provavel­
m ente provocarão resistência.
Num seminário, um a m ulher, frustrada porque o m arido 
estava passando tem po demais no trabalho, descreveu como 
seu pedido tinha se voltado contra ela: "Pedi que ele não pas­
sasse tanto tem po no trabalho. Três semanas depois, ele reagiu 
anunciando que havia se inscrito n u m torneio de golfe!". Ela 
havia com unicado a ele com sucesso o que ela não queria — que 
ele passasse tanto tem po no trabalho —, mas tinha deixado de 
pedir o que ela realmente queria. Solicitada a reform ular seu p e ­
dido, ela pensou por um m inuto e disse: "Eu queria ter-lhe dito 
que desejava que ele passasse pelo m enos um a noite por sem a­
na em casa com as crianças e comigo".
D urante a Guerra do Vietnã, pediram -m e que a debatesse na 
televisão com um hom em cujas opiniões eram diferentes das 
m inhas. O program a foi gravado em videotape, de m odo que 
pude assisti-lo em casa naquela noite. Q uando m e vi na tela me 
com unicando de m aneira que não gostaria de estar m e com u­
nicando, fiquei m uito chateado. Eu disse para m im mesmo: "Se 
alguma vez eu participar de outra discussão, estou determ inado 
a não fazer o que fiz naquele programa! Não serei defensivo. 
Não deixarei que ele me faça de bobo". Observe como falei para 
m im m esm o do que eu não queria fazer, em vez de o que eu 
queria fazer.
use uma linguagem positiva ao 
fazer pedidos.
le tra de música revela dois p ro ­
blemas com um ente encontra -
104
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Uma chance de m e redim ir apareceu logo na semana se­
guinte, quando fui convidado a continuar o debate no mesmo 
program a. Por todo o trajeto até o estúdio, repeti para m im 
m esm o todas as coisas que eu não queria fazer. Assim que o 
program a teve início, o hom em começou a falar exatam ente da 
m esm a m aneira que falara na sem ana anterior. Durante uns 
dez segundos depois que ele term inara de falar, consegui não 
me com unicar da m aneira que estava m e lem brando de não 
fazer. De fato, eu não disse nada. Simplesmente fiquei sentado 
lá. Assim que abri m inha boca, porém, as palavras começaram 
a sair de todas as m aneiras que eu estivera tão determinado a 
evitar! Foi um a lição dolorosa sobre o que pode acontecer 
quando identifico som ente o que não quero fazer, semesclare­
cer o que quero fazer.
Certa vez, fui convidado a trabalhar com alguns estudantes 
secundários que sofriam um a longa lista de agravos do diretor. 
Eles o consideravam racista e procuravam m aneiras de se des­
forrar. Um pastor, que trabalhava em contato estreito com os jo ­
vens, ficou profundam ente preocupado com a possibilidade de 
haver violência. Em respeito ao pastor, os estudantes concorda­
ram em se reun ir comigo.
Eles com eçaram descrevendo o que eles viam como discri­
minação da parte do diretor. Depois de ouvir várias de suas acu ­
sações, sugeri que, ao continuarem , eles esclarecessem o que de­
sejavam do diretor.
"O que adiantaria isso?" — zom bou um aluno, contrariado. 
"Nós já fomos falar com ele para dizer o que queremos. A res­
posta dele foi: 'Saiam daqui! Não preciso que sua gente venha 
me dizer o que fazer!'"
Perguntei aos alunos o que eles haviam pedido ao diretor. 
Eles se lem bravam de ter dito que não queriam que ele lhes dis-
105
I MARSHALL B. ROSENBERG I
sesse como usar o cabelo. Sugeri que eles poderiam ter recebi­
do um a resposta mais cooperativa se eles tivessem expresso o 
que queriam, em vez de o que não queriam . Eles tam bém h a ­
viam dito ao diretor que gostariam de ser tratados com justiça, 
ao que ele se tornara defensivo, negando com veem ência jamais 
ter sido injusto. Arrisquei o palpite de que o diretor teria reagi­
do mais favoravelm ente se eles tivessem reivindicado ações 
mais específicas, em vez de pedirem um com portam ento vago 
como "tratam ento justo".
Trabalhando juntos, encontram os m aneiras de expressar 
suas solicitações n um a linguagem de ação positiva. Ao final da 
reunião, os alunos haviam especificado 38 atitudes que gosta­
riam que o diretor tomasse, incluindo "Gostaríamos que o se­
n h o r concordasse com a participação de alunos negros nas de­
cisões sobre as norm as de vestuário" e "Gostaríamos que o 
senhor se referisse a nós como 'alunos negros', e não como 'sua 
gente'". No dia seguinte, os alunos apresentaram suas reivindi­
cações ao diretor, usando a linguagem de ações positivas que 
havíam os praticado; naquela noite, recebi um telefonem a eufó­
rico deles: o diretor havia concordado com todas as 38 reivin­
dicações!
Além de utilizarmos um a linguagem positiva, devemos evi­
tar frases vagas, abstratas ou ambíguas e form ular nossas solici­
tações na forma de ações concretas que os outros possam reali­
zar. Uma tira de quadrinhos m ostra um hom em que havia caído 
num lago. E nquanto ele luta para nadar, grita para a cadela na 
margem: "Lassie, vá procurar ajuda!" No quadrinho seguinte, a 
cadela está deitada no divã de um psicanalista. Todos sabemos 
quanto as opiniões variam sobre o que constitui "ajuda": alguns 
m embros de m inha família, quando lhes peço para ajudar na la­
vagem dos pratos, pensam que "ajuda" significa "supervisão".
106
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Um casal com problem as que com pareceu a um sem inário 
dá outro exem plo de quanto a linguagem inespecífica pode 
atrapalhar a com preensão e a comunicação. "Quero que você 
m e deixe ser eu mesma", a m ulher declara ao marido. "Mas eu 
deixo!", ele responde. "Não, você não deixa!", ela insiste. Soli­
citada a se expressar na linguagem de ações positivas, a m ulher 
disse: "Quero que você m e dê a liberdade de crescer e de ser eu 
m esm a". Uma frase dessas, porém , é tão vaga e propensa a p ro ­
vocar um a resposta defensiva quanto a anterior. Ela se esforçou 
para form ular sua solicitação
/- /v I C I I I U 9 .o que eu quero e que voce sor-
ria e diga que tudo o que eu faço está bem". É com um que o uso 
de um a linguagem vaga e abstrata mascare esse tipo de jogo in ­
terpessoal de opressão.
Uma falta de clareza sem elhante aconteceu entre um pai e 
o filho de 15 anos quando vieram se aconselhar comigo. "Tudo 
o que quero é que você comece a dem onstrar u m pouco de 
responsabilidade", alegou o pai. "É pedir demais?" Sugeri que 
especificasse o que o filho precisaria fazer para dem onstrar a 
responsabilidade que ele queria. Depois de um a discussão 
sobre como to rnar mais clara sua solicitação, o pai respondeu 
envergonhado: "Bem, isso não soa m uito bem, m as quando 
digo que quero responsabilidade, o que quero m esm o dizer é 
que desejo que ele faça o que eu digo sem questionar — que 
pule quando eu disser para pular, e que faça isso sorrindo". Ele 
então concordou comigo que, se o filho se com portasse daque­
la m aneira, estaria dem onstrando obediência, e não responsa­
bilidade.
com clareza, e então admitiu: 
"Isso é m eio esquisito, mas se 
for para eu ser precisa, acho que
Formular pedidos em linguagem 
clara, positiva e de ações concre­
tas revela o que realmente que­
remos.
107
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Assim como esse pai, m uitas vezes usamos um a linguagem 
vaga e abstrata para indicar como querem os que as outras pes­
soas se sin tam ou sejam , sem especificar um a ação concreta 
que os outros possam fazer p ara alcançar aquele estado. Por 
exem plo, um patrão faz um esforço sincero para ob ter um re ­
torno , dizendo aos empregados: 
Uma linguagem vaga favorece a "Quero que vocês se sintam li-
confusão interna. vres para se expressarem em m i­
nha presença". Essa afirmação 
com unica o desejo do patrão de que os empregados se "sintam 
livres", mas não o que eles poderiam fazer para se sentirem 
dessa forma. Em vez disso, o patrão poderia utilizar a linguagem 
de ações positivas para fazer sua solicitação: "Gostaria que vocês 
m e dissessem o que posso fazer para facilitar a vocês que se sin­
tam mais livres para se expressarem em m inha presença".
Enfim, para ilustrar como o 
A depressão é a recompensa que uso de um a linguagem vaga fa-
ganhamos por sermos "bons". vorece a confusão interna, gos­
taria de apresentar um a conver­
sa que eu invariavelm ente tinha, em m eu trabalho como 
psicólogo clínico, com os m uitos pacientes que vinham m e pro ­
curar se queixando de depressão. Depois de eu m ostrar empa- 
tia com a profundidade dos sentim entos que o paciente tinha 
acabado de expressar, nossos diálogos costum avam continuar 
da seguinte m aneira:
eü 0 que você está querendo e não está obtendo? 
paciente Não sei o que quero. 
eu Achei que você fosse dizer isso. 
paciente Por quê?
eu M inha teoria é que ficam os deprimidos porque não 
estamos obtendo o que queremos, e isso acontece
108
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
porque nunca nos ensinaram a obter o que queremos. 
Em vez disso, fom os ensinados a ser bons meninos e 
meninas e bons pais e mães. Se vamos ser qualquer 
uma dessas coisas boas, é melhor nos acostumarmos a 
ficar deprimidos. A depressão é a recompensa que ga­
nhamos por sermos "bons". Mas, se você quer sentir- 
se melhor, esclareça o que gostaria que as pessoas f i ­
zessem para to rnar a vida mais maravilhosa para você. 
paciente Eu só quero que alguém me ame. Isso não é pedir de­
mais, é?
eu E um bom começo. Agora eu gostaria que você escla­
recesse o que você gostaria que as pessoas fizessem 
para satisfazer sua necessidade de ser amado. Por 
exemplo, o que eu poderia fazer nesse mom ento? 
paciente Bem, o senhor sabe...
eu Não estou certo de que saiba. Gostaria que você me 
dissesse o que gostaria que eu ou os outros fizessem 
para lhe dar o am or que você procura.
PACIENTE Isso é difícil...
eu Sim, pode ser difíc il form ular solicitações claras. Mas 
pense em quanto será difícil para os outros responder 
à nossa solicitação se nós mesmos não temos clareza 
quanto ao que queremos. 
paciente Estou começando a tornar mais claro o que desejo 
que os outros façam para atender à m inha necessida­
de de amor, mas é constrangedor... 
eu Sim, freqüentem ente é constrangedor. Então, o que 
você gostaria que eu ou os outros fizéssemos? 
paciente Se fo r para realm ente refletir sobre o que estou pe­
dindo quando peço para ser amado, acho que quero 
que adivinhem o que eu quero antes mesmo que eu
109I MARSHALL B. ROSENBERG I
tom e consciência do meu desejo. E então quero que 
ele seja sempre realizado.
eu Estou grato por sua clareza. Espero que agora você 
possa com preender que não é provável que você en­
contre alguém que possa atender sua necessidade de 
amor, se isso é o que a pessoa precisa saber fazer.
M uitas vezes, m eus clientes puderam ver como a falta de 
consciência sobre o que desejavam dos outros havia contribuí­
do significativamente para suas frustrações e depressão.
F a z e n d o p e d id o s c o n s c ie n t e m e n t e
Às vezes, podem os ser capazes de form ular um pedido claro 
sem colocá-lo em palavras. Suponha que você esteja na cozi­
nha, e sua irmã, que está assistindo à televisão na sala, grite: 
"Estou com sede!" Nesse caso, talvez seja óbvio que ela está p e ­
dindo que você lhe traga um copo de água da cozinha.
Entretanto, em outras ocasiões, podem os expressar nosso 
desconforto e presum ir erroneam ente que o ouvinte com preen­
deu nosso pedido subjacente. Por exemplo, um a m ulher pode­
ria dizer ao m arido: "Estou aborrecida porque você se esqueceu
da m anteiga e das cebolas que 
Pode não ficar claro para o ou- lhe Pedi que comprasse para o
vinte o que queremos que ele ja n ta r E m b o r a , para ela, possa
faça quando simplesmente ex- parecer óbvio que ela está pe-
pressamos nossos sentimentos. dindo para ele voltar à loja, o
m arido pode pensar que suas 
palavras foram ditas apenas para ele sentir-se culpado.
É ainda mais com um que ao falar sim plesm ente não ten h a ­
mos consciência do que estamos pedindo quando falamos. Con­
110
versam os com os outros ou falamos a eles sem saber como esta­
belecer um diálogo em conjunto com eles. Jogamos palavras e 
usamos a presença dos outros
como se fossem um a cesta de É comum não termos consciência
lixo. Nessas situações, o ouvin- do Que estamos pedindo,
te, incapaz de discernir um a so­
licitação clara nas palavras de quem fala, pode sentir o tipo de 
desconforto ilustrado no caso a seguir.
Eu estava sentado em frente a um casal no trenzinho que 
leva os passageiros a seus respectivos term inais no aeroporto de 
Dallas-Fort W orth. Para passageiros que estão com pressa para 
pegar um avião, o ritmo de lesma do trem pode m uito bem ser 
irritante. O hom em se virou para a esposa e disse com in tensi­
dade: "Nunca vi um trem andar tão devagar em toda a m inha 
vida!" Ela não disse nada, parecendo tensa e desconfortável a 
respeito de que resposta ele estava esperando dela. Ele então fez 
o que m uitos de nós fazemos quando não estamos obtendo a 
resposta que queríamos: ele se repetiu. Numa voz acentuada- 
m ente mais forte, ele exclamou: "Nunca vi um trem andar tão 
devagar em toda a m inha vida!"
A esposa, sem saber o que responder, pareceu ainda mais 
perturbada. Em desespero, ela se virou para ele e disse: "A ve­
locidade deles é controlada eletronicam ente". Eu não esperava 
que essa inform ação o satisfizesse, e de fato não o satisfez, pois 
ele repetiu pela terceira vez, e ainda mais alto: "Nunca vi um 
TREM ANDAR TÃO DEVAGAR EM TODA MINHA VIDA!" A paciência da
m ulher estava claram ente esgotada, pois ela retrucou irritada: 
"Bem, o que você quer que eu faça? Que salte lá para fora e em ­
purre?" Agora havia duas pessoas angustiadas!
Que tipo de resposta o hom em estava querendo? Acredito 
que ele queria ouvir que seu desconforto estava sendo com-
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
MARSHALL B. ROSENBERG I
preendido. Se a esposa tivesse sabido disso, ela poderia ter res­
pondido: "Parece que você está com m edo de que percamos
nosso avião e contrariado por- 
Solicitações não acompanhadas que preferiria u m trem m ais rá.
dos sentimentos e necessidades pido ligando esses term inais^
do solicitante podem soar como N o diálogo adma< a m ulher
exigências. escutou a frustração do marido,
mas não conseguiu entender o que ele estava pedindo. Igual­
m ente problem ática é a situação oposta: quando as pessoas 
fazem seus pedidos sem prim eiro com unicar os sentim entos e 
necessidades por trás deles. Isso é especialm ente verdadeiro 
quando o pedido assum e a forma de um a pergunta: "Por que 
você não vai cortar o cabelo?" Essa pergunta pode facilm ente 
ser entendida pelos jovens como um a exigência ou u m ataque, 
a m enos que os pais se lem brem de prim eiro revelar seus p ró ­
prios sentim entos e necessidades: "Estamos preocupados, p o r­
que seu cabelo está ficando tão comprido que pode im pedir 
você de ver as coisas, especialmente quando está em sua bicicle­
ta. Que tal cortá-lo?"
Entretanto, é mais comum que as pessoas conversem sem
estar conscientes do que estão pedindo. "Não estou pedindo
nada", elas podem observar, Quanto mais claros formos a res- ,apenas tive vontade de dizer 
peito do que queremos obter, „ 4isso . Acredito que sempre que 
mais provável será que o consi- , ,dizemos algo a outra pessoa, es-
gamos. tamos pedmdo alguma coisa em 
troca. Pode ser simplesmente um a conexão de empatia — um r e ­
conhecimento verbal ou não-verbal, como no caso do hom em n o 
trem, de que nossas palavras foram compreendidas. Ou podem os 
estar pedindo honestidade: desejamos saber qual é a reação h o ­
nesta do ouvinte a nossas palavras. Ou ainda podemos estar p e ­
112
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
dindo um a ação que satisfaça a nossas necessidades. Quanto mais 
claros formos a respeito do que queremos da outra pessoa, mais 
provável será que nossas necessidades sejam atendidas.
P e d i n d o u m r e t o r n o
Como sabemos, a m ensagem que enviam os nem sempre é 
a m ensagem que é recebida. Geralm ente dependem os de pistas 
verbais para determ inar se nossa m ensagem foi com preendida 
da m aneira que queríam os. Mas, se não tem os certeza de que 
foi recebida como pretendíam os, precisamos ter um a m aneira 
de solicitar claram ente um a resposta que nos diga como a m e n ­
sagem foi ouvida, de m odo que corrija qualquer m al-en ten- 
dido. Em algumas ocasiões, bas­
ta um a pergunta simples como Para ter certeza de que a mensa- 
"Está claro?" Em outras, para gem que enviamos é a mesma 
nos sentirm os confiantes de que que foi recebida, podemos pedir
fomos realm ente com preendi- ao ouvinte que a repita para nós.
dos, precisamos de mais do que
um "Sim, eu entendi". Nessas ocasiões, podem os pedir aos o u ­
tros para nos repetirem em suas próprias palavras o que eles nos 
ouviram dizer. Temos então um a oportunidade de reform ular 
partes de nossa m ensagem de m odo que resolva qualquer dis­
crepância que possamos ter notado no retorno que recebemos.
Por exemplo, um a professora se aproxim a de um aluno e 
diz: "Pedro, fiquei preocupada quando dei um a olhada em m eu 
diário de classe ontem . Quero ter certeza de que você sabe dos 
trabalhos de casa dos quais dei falta. Você pode passar em 
m inha sala depois da aula?" Pedro resm unga: "ok, eu sei" — e 
então vira as costas, deixando a professora sem saber se sua 
m ensagem foi recebida com precisão. Então ela pergunta: "Você
113
I MARSHALL B. ROSENBERG I
poderia repetir o que eu acabei de dizer?" Pedro então respon­
de: "A senhora disse que tenho de perder o futebol e ficar de­
pois da aula porque a senhora não gostou de m eu dever de 
casa". Tendo confirmadas suas suspeitas de que Pedro não 
ouviu a m ensagem que ela queria transmitir, a professora tenta
Expresse apreciação quando o U m a afirm aüva com o *V o„
pode facilm ente fazer Pedro p ensar que está sendo re p re e n ­
dido. Já que a professora percebe que Pedro respondeu sin ­
ceram ente ao pedido de re to rno , ela pode dizer: "M uito obri­
gada po r m e dizer o que você escu tou , m as vejo que não 
consegui ser tão clara quanto gostaria. Então, deixe-m e ten ta r 
de novo".
Quando começamos a pedir aos outros para repetir o que 
nos ouviram dizer, isso pode parecer esquisito, porque tais p e ­
didos raram ente são feitos. Q uando enfatizo a im portância de 
nossa capacidade de form ular esses pedidos, é comum que as 
pessoas expressem reservas. Elas ficam preocupadas com rea­
ções como: "O que você acha que eu sou, surdo?" Ou: "Pare 
com seus joguinhos psicológicos". Para evitar esse tipo de res-
xando claro que não estamos testando sua capacidade auditiva, 
e sim nos certificando de que nos expressamos com clareza. E n­
tretanto, se o ouvinte responder: "Ouvi o que você disse, não
recolocá-la, mas tom a cuidado 
com sua próxim a observação.
ouvinte tenta atender a seu pedi­
do de repetição.
cê não m e ouviu direito", "Não 
foi isso o que eu disse" ou "Vo­
cê está m e in te rp re tan d o mal"
Demonstre empatia com um ou­
vinte que não queira atender seu 
pedido.
posta, podem os explicar às pes­
soas com antecedência por que 
às vezes poderem os pedir que 
elas repitam nossas palavras, dei-
114
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
sou estúpido!" — então tem os a opção de nos concentrarm os 
em seus sentim entos e necessidades e perguntar, em voz alta 
ou em silêncio: "Você está dizendo que ficou chateado porque 
deseja respeito por sua capacidade de com preender as coisas?"
P edindo honestidade
Depois que nos expressamos abertam ente e recebemos a 
com preensão que desejávamos, é com um que fiquemos ansio­
sos para saber qual a reação da outra pessoa ao que dissemos. 
Geralm ente, a honestidade que 
gostaríam os de receber tom a 
um de três caminhos:
• Às vezes, gostaríam os de 
saber quais os sentim entos 
que foram estimulados pelo que dissemos, e as razões desses 
sentim entos. Poderíam os perguntar isso dessa m aneira: 
"Gostaria que você m e dissesse como se sente a respeito do 
que acabei de falar e suas razões para sentir-se assim".
• Outras vezes, gostaríamos de saber algo a respeito dos pensa­
m entos de nosso interlocutor em resposta ao que ele acabou 
de ouvir-nos dizer. Nesses
m om entos, é im portante es- b) o que o ouvinte está pensan-
pecificar que pensam entos do; ou
gostaríamos que ele com par­
tilhasse conosco. Por exemplo, poderíam os dizer "Gostaria 
que você m e dissesse se prevê que m inha proposta terá su ­
cesso e, caso contrário, o que você acha que pode im pedir seu 
sucesso", em vez de sim plesm ente "Gostaria que você me
Depois de nos expressarmos de 
forma vulnerável, é comum que 
quekamos saber: 
a) o que o ouvinte está sentindo;
115
I MARSHALL B. ROSENBERG I
dissesse o que acha do que acabei de dizer". Q uando não es­
pecificamos quais os pensam entos que gostaríamos de saber, 
a outra pessoa pode se dem orar respondendo com pensa­
m entos que não são os que procuram os.
• Às vezes, ainda, gostaríamos de saber se a pessoa está dispos­
ta a tom ar certas atitudes que recom endam os. Um pedido
desses poderia ser: "Gostaria 
c) se o ouvinte está disposto a que você m e dissesse se estaria
tomar determinada atitude. disposto a adiar nosso encontro
por um a semana".
O u s o d a c n v r e q u e r q u e e s te ja m o s c o n s c ie n te s d a f o r m a e s ­
p e c í f ic a d e h o n e s t id a d e q u e d e s e ja m o s r e c e b e r , e q u e fa ç a m o s 
e s se p e d id o d e h o n e s t id a d e e m l i n g u a g e m o b je t i v a .
F azendo pedidos a ijm grupo
Q uando nos dirigimos a um grupo, é especialm ente im por­
tan te que sejamos claros a respeito do tipo de com preensão ou 
honestidade que desejamos obter dele depois de nos expressar­
mos. Q uando não somos claros quanto à resposta que deseja­
mos, podem os iniciar conversas im produtivas que term inam 
sem satisfazer as necessidades de ninguém .
Ocasionalm ente, fui convidado a trabalhar com grupos de 
cidadãos preocupados com o racismo em suas comunidades. 
Um problem a que é com um aparecer nesses grupos é que suas 
reuniões são tediosas e infrutíferas. Essa falta de produtividade 
é m uito dispendiosa para os m em bros, que não raro devem gas­
tar seus limitados recursos para providenciar transporte e cuida­
do às crianças, para que possam com parecer às reuniões. Frus­
116
trados com as longas discussões que ofereciam poucos rumos, 
m uitos m em bros abandonaram os grupos, declarando que 
aquelas reuniões eram um a perda de tem po. Além disso, as m u ­
danças institucionais que eles estão lu tando para fazer geral­
m ente não são do tipo que acontece rápida ou facilmente. Por 
todas essas razões, quando esses grupos efetivam ente se re ú ­
nem , é im portante que eles usem bem o tem po de que dispõem 
juntos.
Conheci os m em bros de um desses grupos, que havia se o r­
ganizado para produzir m udanças no sistema escolar local. Eles 
acreditavam que vários pontos do sistema escolar eram discrimi­
natórios para com os alunos com base na raça. Pelo fato de suas 
reuniões serem im produtivas e o grupo estar perdendo m em ­
bros, eles me convidaram para observar suas discussões. Sugeri 
que eles conduzissem sua reunião como de costume, e eu lhes 
diria se visse qualquer m aneira pela qual a cnv pudesse ser útil.
Um hom em iniciou a reunião cham ando a atenção do 
grupo para um artigo recente de jornal, no qual um a mãe afro- 
am ericana fazia reclamações e manifestava preocupações a res­
peito de como o diretor da escola tratava a filha dela. Em res­
posta, um a m ulher contou um a situação que havia ocorrido 
com ela quando era aluna da mesma escola. Um a um, os m em ­
bros relataram experiências sem elhantes. Depois de vinte m i­
nutos, perguntei ao grupo se suas necessidades estavam sendo 
atendidas pela discussão em andam ento. N inguém disse que 
sim. "Isso é o que sem pre acontece nessas reuniões!" — disse 
um hom em indignado. "Tenho coisas m elhores a fazer com 
m eu tem po do que sentar aqui e ouvir as mesmas besteiras de 
sempre!"
Dirigi-me então ao hom em que havia iniciado a discussão: 
"Você poderia m e dizer que resposta estava esperando do grupo
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
117
I MARSHALL B. ROSENBERG I
ao trazer o artigo de jornal?" — "Achei que fosse interessante", 
ele respondeu. Expliquei que eu estava perguntando que tipo
de resposta ele desejava obter 
do grupo, e não o que ele acha­
va do artigo. Ele pensou um 
pouco e en tão adm itiu: "Não 
tenho certeza do que queria".
E acredito que essa seja a 
razão pela qual vinte m inutos 
do precioso tem po do grupo haviam sido desperdiçados num 
discurso infrutífero. Q uando nos dirigimos a um grupo sem di­
zermos claram ente o que desejamos em resposta, é com um que 
se sigam discussões im produtivas. Entretanto, se apenas um 
m em bro do grupo tiver consciência da im portância de se solici­
tar claram ente a resposta desejada, essa pessoa pode estender 
sua consciência para todo o grupo. Por exemplo, quando aque­
le hom em em especial não definiu que resposta desejava, um 
m em bro do grupo poderia ter dito: "Estou confuso sobre como 
você deseja que respondam os a sua história. Você estaria dispos­
to a dizer qual resposta deseja de nós?" Intervenções como essa 
podem evitar o desperdício do precioso tem po do grupo.
As conversas freqüentem ente se arrastam indefinidam ente, 
sem satisfazer as necessidades de ninguém , porque não está 
claro se quem iniciou a conversa obteve ou não o que queria. 
Na índia, quando as pessoas recebem a resposta que desejavam 
em conversas que elas mesmas iniciaram, elas dizem: "Bas!" Isso 
significa: "Você não precisa dizer mais nada. Estou satisfeito e já 
estou pronto para passar a outro assunto". Embora não ten h a ­
mos um a palavra como essa em nosso idioma, ainda podem os 
nos beneficiar de desenvolver e prom over a "consciência do 
bas" em todas as nossas interações.
Num grupo, perde-se muito 
tempo quando as pessoas não 
estão certas de que tipo de res­
posta desejam em retorno a suas 
palavras.
118
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
P e d id o s v e r s u s ex ig ên c ia s
Pedidos são recebidos como Quando outra pessoa ouve de nós
exigências quando os outros uma exigência, ela vê duas op-
acreditam que serão culpados ções: submeter-se ou rebelar-se.
ou punidos se não os a tende­
rem.Q uando as pessoas nos ouvem fazer um a exigência, elas 
enxergam apenas duas opções: subm issão ou rebelião. Em 
am bos os casos, a pessoa que faz o pedido é percebida como 
coercitiva, e a capacidade do ouvinte de responder compassiva­
m ente ao pedido é diminuída.
Q uanto mais tiverm os culpado, punido ou acusado os o u ­
tros quando não atenderam a nossas solicitações no passado, 
m aior será a probabilidade de que nossos pedidos sejam agora 
en tend idos com o exigências.
Também pagam os pelo uso des- Como saber se é uma exigência
sas táticas pelos outros. Q uanto ou um pedido: observe o que
mais as pessoas que fazem par- quem pediu fará se a solicitação
te de nossa vida tiverem sido não for atendida,
acusadas, punidas ou forçadas a
sentirem -se culpadas por não fazerem o que os outros pedi­
ram, mais provavelm ente elas levarão essa bagagem a todo re ­
lacionam ento posterior e ouvirão em cada solicitação um a ex i­
gência.
Vejamos duas variações de um a m esm a situação. José diz a
sua amiga Maria: "Estou me
j ̂ É uma exigência se quem fez asentindo solitário e gostaria que
„ solicitação critica ou julga avoce saísse comigo esta noite .
T outra pessoa em seguida.Isso e um pedido ou um a exi-
gência? A resposta é que não saberemos até observarmos como 
José tratará Maria se ela não concordar. Suponha que ela res-
119
I MARSHALL B. ROSENBERG I
ponda: "José, estou m uito cansada. Se você quer te r com pa­
nhia, que tal encontrar outra pessoa para sair com você esta 
noite?" Se José disser: "É tão típico de você ser assim egoísta!", 
então a solicitação terá sido na verdade um a exigência. Em vez 
de oferecer sua em patia à necessidade de M aria de descansar, 
ele a culpou.
Agora considere um a segunda cena:
josÉ Estou me sentindo solitário e gostaria que você saísse com i­
go esta noite.
Ma r ia José, estou m uito cansada. Se você quer te r com panhia, que 
ta l encontrar outra pessoa para sair com você esta noite? 
(José se vira de costas sem d izer palavra.)
Ma r ia (sentindo que e/e está chateado) A lgum a coisa está te abor­
recendo?
josÉ Não.
Ma r ia Vamos lá, José, posso sentir que há algum a coisa acontecen­
do. Qual é o problema?
josÉ Você sabe quanto estou me sentindo solitário. Se você me 
amasse de verdade, sairia à noite comigo.
Também é uma exigência se quem Novam ente, em vez de ofe-
fez a solicitação tenta fazer a ou- rccer a empatia, José interpreta
tra pessoa sentir-se culpada. a resposta de M aria como signi­
ficando que ela não o am a e, por 
isso, o rejeitou. Q uanto mais in terpretarm os como rejeição o
não-atendim ento de nossas solicitações, mais provável será que 
nossos pedidos sejam entendidos como exigências. Isso leva a 
um a profecia que acarreta sua própria concretização, pois, 
quanto mais as pessoas ouvirem exigências, m enos elas gosta­
rão de estar perto de nós.
120
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Por outro lado, saberíamos que a solicitação de José havia 
sido verdadeiram ente um pedido, e não um a exigência, se sua 
resposta a M aria tivesse expressado um reconhecim ento respei­
toso de seus sentim entos e necessidades. Por exemplo: "Então, 
Maria, você está se sentindo exausta e precisando de descanso 
esta noite?"
Podem os ajudar os outros a acreditarem que estam os p e ­
dindo, e não exigindo, indicando que som ente gostaríamos que 
a pessoa atendesse ao nosso pedido se ela puder fazê-lo de sua 
livre vontade. Assim, poderíam os perguntar: "Você estaria dis­
posta a pôr a mesa?", em vez de
"Gostaria que você pusesse a É um pedido se a pessoa que
m esa". E n tre tan to , a m aneira pediu oferece em seguida sua
mais poderosa de com unicar que empatia para com as necessida-
estam os fazendo um genu íno des da outra pessoa,
pedido é oferecer nossa em p a­
tia às pessoas quando elas não atendem ao nosso pedido. De­
m onstram os que estamos pedindo, e não exigindo, pela m aneira 
que reagimos quando os outros não nos atendem . Se estivermos 
preparados para dem onstrar um a com preensão empática do 
que im pede que a pessoa faça o que pedimos, então, por m inha 
definição, fizemos um pedido, e não um a exigência. Escolher 
pedir em vez de exigir não significa que devamos desistir sem ­
pre que alguém disser não à nossa solicitação. Significa que não 
tentarem os convencer a pessoa antes de oferecermos nossa em ­
patia para com o que a está im pedindo de dizer sim.
D efinindo nosso objetivo ao fazer pedido s
Expressar pedidos genuínos tam bém requer um a consciên­
cia do nosso objetivo. Se nosso objetivo é apenas m udar as pes-
121
I MARSHALL B. ROSENBERG I
soas e seu com portam ento ou obter o que querem os, então a 
cnv não é um a ferram enta apropriada. O processo foi desenvol­
vido para aqueles de nós que 
NOSSO objetivo é um relaciona- gostariam que os outros m udas.
mento baseado na sinceridade e sem £ respondessem, mas SQ_
na empatia. m ente se eles escolherem fazer
isso de livre vontade e com compaixão. O objetivo da cnv é es­
tabelecer um relacionam ento baseado na sinceridade e na em- 
patia. Quando os outros confiam que nosso compromisso m aior 
é com a qualidade do relacionam ento, e que esperam os que 
esse processo satisfaça às necessidades de todos, então elas 
podem confiar que nossas solicitações são verdadeiram ente p e ­
didos, e não exigências camufladas.
É difícil m an ter a consciência desse objetivo, especialmente 
com pais, professores, gerentes e outros cujo trabalho se baseia 
em influenciar pessoas e obter resultados com portam entais. 
Uma m ãe que voltava a um de m eus seminários depois do in ­
tervalo do almoço anunciou: "Marshall, fui para casa e tentei. 
Não funcionou". Pedi que ela descrevesse o que fizera.
"Fui para casa e expressei m eus sentim entos e necessida­
des, exatam ente como praticam os. Não fiz críticas, nem julguei 
m eu filho. Eu sim plesm ente disse: 'O lhe, quando vejo que 
você não fez as tarefas que disse que faria, fico m uito decep­
cionada. Gostaria de poder chegar em casa e encontrar a casa 
em ordem e suas tarefas cum pridas'. Então eu fiz um pedido: 
disse a ele que gostaria que ele arrum asse suas coisas im edia­
tam ente."
"Parece que você expressou claram ente todos os com po­
nentes", com entei. "O que aconteceu?"
"Ele não arrum ou suas coisas."
"E o que aconteceu depois?", perguntei.
122
"Eu disse que ele não poderia passar pela vida sendo tão 
preguiçoso e irresponsável".
Pude ver que aquela m ulher ainda não era capaz de distin­
guir entre expressar pedidos e fazer exigências. Ela ainda esta­
va definindo o processo como bem -sucedido apenas se ela obti­
vesse o atendim ento a seus "pedidos". D urante as fases iniciais 
do aprendizado desse processo, podem os nos flagrar aplicando 
os com ponentes da cnv m ecanicam ente, sem ter consciência de 
seu propósito subjacente.
Às vezes, porém , m esm o quando temos consciência de 
nosso objetivo e expressamos nosso pedido cuidadosam ente, al­
gum as pessoas ainda assim podem ouvir nele um a exigência. 
Isso é especialm ente verdadeiro quando ocupam os posições de 
autoridade e estamos falando com pessoas que tiveram expe­
riências passadas com figuras coercitivas de autoridade.
Uma vez, o adm inistrador de um a escola secundária me 
convidou para dem onstrar aos professores como a cnv poderia 
ajudá-los a se com unicar com alunos que não estavam coope­
rando como eles gostariam.
Pediram -m e que eu m e reunisse com quarenta alunos que 
haviam sido considerados "social e em ocionalm ente desajusta­
dos". Fiquei im pressionado com a m aneira pela qual rótulos 
como esse servem de profecias que acabam acarretando a p ró ­
pria concretização. Se você fosse um estudante rotulado assim, 
isso não lhe daria com justiça a perm issão de se divertir um 
pouco na escola resistindo a fazer o que quer que lhe pedissem? 
Ao rotularm os as pessoas, tendem os a agir com relação a elas de 
um a forma que contribui para criar o próprio com portam ento 
que nos incom oda, queentão percebem os como um a confirm a­
ção de nosso próprio diagnóstico. Já que aqueles estudantes sa­
biam que tinham sido classificados como "social e em ocional­
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
123
I MARSHALL B. ROSENBERG I
m ente desajustados", não fiquei surpreso quando, ao entrar na 
sala, vi que a m aioria deles estava pendurada na janela gritan­
do obscenidades para os colegas no pátio abaixo. Comecei fa­
zendo um pedido: "Gostaria que todos vocês se aproxim assem e 
sentassem, para que eu possa dizer a vocês quem sou e o que 
gostaria que fizéssemos hoje". Cerca de m etade dos estudantes 
se aproxim ou. Sem ter certeza de que todos eles haviam m e es­
cutado, repeti m eu pedido. Com isso, o restante dos estudantes 
se sentou, com exceção de dois rapazes, que continuaram p en ­
durados no parapeito. Infelizm ente para mim, esses dois eram 
os maiores alunos da turm a.
"Com licença", eu disse a eles, "um dos senhores poderia 
m e dizer o que vocês me ouviram dizer?" Um deles se virou 
para m im e relinchou: "Sim, você disse que nós tín h amos que 
ir até ali e sentar". Pensei comigo mesmo: "Ô, ô, ele entendeu 
m eu pedido como um a exigência".
Eu disse bem alto: "Senhor". Aprendi a sempre tratar de 
"senhor" pessoas com bíceps como o dele, especialm ente q u an ­
do um deles tem um a tatuagem . "O senhor estaria disposto a 
m e dizer como eu poderia tê-lo feito en tender o que eu queria, 
de m odo que isso não soasse como se eu estivesse lhe dando 
um a ordem?" "Hein?!" Tendo sido condicionado a esperar exi­
gências da parte de autoridades, ele não estava acostum ado à 
m inha abordagem diferente. "Como posso fazê-lo en tender o 
que espero do senhor sem que soe como se não m e importasse 
com o que o senhor gostaria?", repeti. Ele hesitou por um m o­
m ento e deu de ombros: "Eu não sei".
"O que está acontecendo entre o senhor e eu nesse m o ­
m ento é um bom exemplo do que eu gostaria que conversásse­
mos hoje. Acredito que as pessoas podem gostar m uito mais da 
com panhia um as das outras quando sabem dizer o que querem
124
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
sem dar ordens aos outros. Quando eu digo ao senhor do que 
eu gostaria, não estou dizendo que o senhor tenha de fazê-lo, 
sob pena de eu tom ar sua vida um inferno. Não sei como dizer 
isso de m aneira que o senhor possa acreditar." Para m eu alívio, 
isso pareceu fazer sentido para o rapaz, que, jun tam ente com o 
amigo, saltou para se ju n ta r ao grupo. Em certas situações, 
como essa, pode dem orar algum tem po antes que nossos ped i­
dos sejam vistos claram ente pelo que são.
Ao fazermos um pedido, tam bém ajuda se procurarm os em 
nossa m ente pensam entos do tipo dem onstrado a seguir, que 
autom aticam ente transform am pedidos em exigências:
• Ele deveria se arrum ar sozinho.
• Espera-se que ela faça o que eu peço.
• Eu mereço um aum ento.
• Tenho motivos para querer que eles fiquem até mais tarde.
• Tenho o direito de ter mais tem po de folga.
Q uando form ulam os nossas necessidades dessa m aneira, 
estamos fadados a julgar os outros quando eles não fazem o que 
pedimos. Tive esse tipo de pensam ento arrogante um a vez, 
quando m eu filho mais novo não estava levando o lixo para 
fora. Q uando dividimos as tarefas domésticas, ele concordara 
com essa tarefa, mas todos os dias era um a luta para colocar o 
lixo para fora. Todos os dias eu lembrava a ele: "Cada um de nós 
faz a sua parte" — com o único objetivo de fazer que ele puses­
se o lixo para fora.
Finalm ente, um a noite escutei mais aten tam ente o que ele 
estivera m e dizendo o tem po todo a respeito do motivo pelo 
qual o lixo não estava sendo posto para fora. Escrevi a canção a 
seguir depois da discussão daquela noite. Depois que m eu filho
125
pôde sentir m inha em patia por sua posição, ele com eçou a pôr 
o lixo para fora sem que eu tivesse de lem brá-lo disso.
A c a n ç ã o de Brett
Se eu entender claramente
Que você não quer me dar nenhuma ordem,
Geralmente responderei a seu chamado.
Mas, se você vier até mim
Como um patrão superior e poderoso,
Você se sentirá como se tivesse se chocado contra uma parede.
E, quando você me lembrar de forma tão reverente 
De todas as coisas que você já fez por mim,
Será melhor se preparar:
Lá vem outro golpe!
A í você pode gritar,
Pode cuspir,
Gemer, resmungar, ter um ataque;
Nem assim vou levar o lixo para fora.
Agora, mesmo que você mude seu jeito,
Vai demorar um pouco
Antes que eu possa perdoar e esquecer,
Porque, para mim, parece que você 
Não me via como outro ser humano 
Até que eu estivesse de acordo com todos os seus padrões.
TCesum o
O quarto com ponente da cnv aborda a questão do que gosta­
ríamos de pedir uns aos outros para enriquecer nossa vida. Tentamos
I MARSHALL B. ROSENBERG I
126
] COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
evitar frases vagas, abstratas ou ambíguas, e nos lem bram os de 
usar um a linguagem de ações positivas, ao declararmos o que 
estamos pedindo, em vez de o que não estamos.
Quando falamos, quanto mais claros formos a respeito do 
que desejamos obter como retorno, mais provável será que o 
consigamos. Uma vez que a m ensagem que enviamos nem sem ­
pre é a m esm a que é recebida, precisamos aprender como des­
cobrir se nossa m ensagem foi ouvida com precisão. Especial­
m ente ao nos expressarmos para um grupo, precisamos ser 
claros quanto à natureza da resposta que desejamos obter. Caso 
contrário, poderem os estar iniciando conversas im produtivas 
que desperdiçam um tem po considerável do grupo.
Pedidos são percebidos como exigências quando os ouvin­
tes acreditam que serão culpados ou punidos se não os a tende­
rem . Podemos ajudar os outros a confiar em que estamos fazen­
do um pedido, e não um a exigência, se indicarmos nosso desejo 
de que eles nos atendam som ente se puderem fazê-lo de livre 
vontade. O objetivo da cnv não é m udar as pessoas e seu com ­
portam ento para conseguir o que queremos, mas, sim, estabe­
lecer relacionam entos baseados em honestidade e empatia, que 
acabarão atendendo às necessidades de todos.
A cnv em ação
Expressando receios a respeito do háb ito de fum ar 
do m elhor am igo
Zeca e Luís têm sido os melhores amigos um do outro por 
mais de trin ta anos. Zeca, um não-fum ante , já fez tudo o que 
podia ao longo desses anos para convencer Luís a largar o há­
bito de fum ar dois maços por dia. Um dia, percebendo que 
durante o últim o ano a tosse in term itente do amigo vem pio-
127
I MARSHALL B. ROSENBERG I
rando, Zeca acaba explodindo com toda a energia e a v ita li­
dade que estiveram escondidas em sua raiva e seu medo sem 
poderem ser expressas.
ze c a Luís, sei que já falam os sobre isso uma dúzia de vezes, 
mas escute: estou com medo de que seus malditos cigar­
ros acabem m atando você! Você é meu m elhor amigo, e 
quero que você fique vivo pelo m áxim o de tem po pos­
sível. Por favor, não pense que o estou ju lgando — não 
estou. Estou apenas realm ente preocupado. (No passado, 
quando Zeca tentara fazê -lo parar, Luís freqüentem ente 
acusara Zeca de estar ju lgando-o .)
Luís Não, sei que você está preocupado. Somos amigos há 
m uito tem po... 
z e c a (fazendo um pedido) Você gostaria de parar?
Luís Bem que eu queria.
z e c a (ouvindo os sentim entos e necessidades que impedem 
que Luís concorde em a tend er ao pedido) Você está com 
medo de ten ta r porque não quer fracassar?
Luís É... Vocè sabe quantas vezes antes eu já tente i... Conhe­
ço gente que me despreza porque não consigo parar. 
z e c a (adiv inhando o que Luís gostaria de pedir) Eu não des­
prezo você. E, se você tentasse e falhasse de novo, eu 
ainda assim não o faria . Eu só gostaria que você te n ­
tasse.
L u ís Obrigado. Mas você não é o único... É to d o m undo: 
posso ver nos olhos deles — eles acham que sou um f ra ­
casso.
z e c a (dem onstrando em patia com o sentim ento de Luís) É de­
mais ter de se preocupar com o que os outros podem 
pensar, quando parar de fu m ar jáé difícil o bastante?
128
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
luís Eu realm ente odeio a idéia de que possa ser um viciado, 
que tenho algum a coisa que não posso controlar...
(Zeca encara Luís, a cabeça balança a firm ativam en te ; o 
interesse e a atenção de Zeca aos sentim entos e neces­
sidades m ais profundos do am igo se revelam através de 
seus olhos e do silêncio que se segue.) 
luís Quero dizer, eu nem gosto mais de fum ar. Você se sente 
um pária se fum a em público. É embaraçoso. 
zeca (continuando a dem onstrar em patia ) Parece que você 
realm ente gostaria de parar, mas está com medo de não 
conseguir — e do que isso faria a sua auto -im agem e au­
toconfiança.
luís Sim, acho que é isso... Sabe, acho que nunca falei sobre 
isso antes. Geralm ente, quando as pessoas me dizem para 
parar de fum ar, eu simplesmente as m ando para aquele 
lugar. Gostaria de parar, mas não quero toda essa pres­
são das pessoas. 
zeca Não quero pressionar você. Não sei se eu poderia aliviar 
seu medo de não conseguir, mas certam ente gostaria de 
apoiá -lo de todas as form as que puder. Isto é... se você 
quiser...
luís Sim, eu quero. Estou realm ente comovido com sua preo­
cupação e disposição de ajudar. Mas... suponha que eu 
ainda não esteja pronto para tentar, tam bém está tudo 
bem para você? 
zeca É claro, Luís, vou continuar gostando de você do mesmo 
je ito . Só que quero gostar de você por mais tem po! (Já 
que o pedido de Zeca era verdadeiram ente um pedido, e 
não um a exigência, ele m antém seu compromisso p ara 
com a qualidade do relacionam ento, independentem en­
te da resposta de Luís. Ele expressa essa consciência e o
129
I MARSHALL B. ROSENBERG I
respeito pela necessidade de au to nom ia de Luís através 
das palavras "Vou continuar gostando de você do m es­
mo je ito " , enquanto expressa sua própria necessidade 
de “g o star de você p o r m ais tempo".)
L u ís Bem, então talvez eu ten te de novo... Mas não conte a 
mais ninguém, o k ? 
zeca Claro, você decide quando estará pronto; não m enciona­
rei isso para ninguém.
Exerc íc io 4
E xpressando pedidos
Para verificar se concordamos a respeito da clara expressão dos 
pedidos, circule o núm ero em fren te de qualquer uma das frases
a seguir em que a pessoa esteja claram ente solicitando que a lgu­
ma ação específica seja feita.
1. Quero que você me compreenda.
2. Gostaria que você me dissesse uma coisa que eu fiz de que você 
gostou.
3. Gostaria que você sentisse mais confiança em si mesmo.
4. Quero que você pare de beber.
5. Gostaria que você me deixasse ser eu mesma.
6. Gostaria que você fosse honesto comigo a respeito da reunião de
ontem .
7. Gostaria que você dirigisse dentro do lim ite de velocidade.
8. Gostaria de conhecer m elhor você.
130
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
9. Gostaria que você demonstrasse respeito por minha privacidade.
10. Gostaria que você preparasse o ja n ta r mais vezes.
A qui e s tã o m in h as r e s p o s ta s p a r a o ex e rc íc io 4:
1. Se você circulou esse núm ero, discordamos. Para mim, a palavra 
com preenda não expressa claram ente uma ação específica que 
está sendo solicitada. Em vez disso, a pessoa poderia te r dito: 
"Quero que você repita para m im o que você me ouviu dizer".
2. Se você circulou esse número, concordamos em que a frase ex­
pressa claram ente o que a pessoa está pedindo.
3. Se você circulou esse núm ero, discordamos. Para mim, a expres­
são "sentir mais confiança" não expressa claram ente uma ação 
específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia te r dito: 
"Gostaria que você fizesse um tre inam ento em pensamento a fir ­
m ativo, que acredito que aum entaria sua autoconfiança".
4. Se você circulou esse núm ero, discordamos. Para m im , a expres­
são "parar de beber" não expressa claram ente o que a pessoa quer, 
e, sim, o que ela não quer. Ela poderia ter dito: “Quero que você 
me diga quais de suas necessidades a bebida satisfaz e que con­
versemos sobre outras maneiras de satisfazer essas necessidades".
5. Se você fez um círculo em volta desse núm ero, não concordamos. 
Para mim, a expressão "me deixar ser eu mesma" não expressa cla­
ram ente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa 
poderia ter dito: "Quero que você me diga que não vai abandonar 
nosso relacionam ento, mesmo que eu faça algumas coisas de que 
você não goste".
6. Se você fez um círculo ao redor desse núm ero, discordamos. Para 
mim, a expressão “ser honesto comigo" não expressa claram ente 
uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia 
ter dito: “Quero que você me diga como se sente a respeito do que 
eu fiz e o que gostaria que eu tivesse fe ito de modo diferente".
131
I MARSHALL B.ROSENBERG I
7. Se você fez um círculo em volta desse número, concordamos que 
a frase expressa claram ente o que a pessoa está pedindo.
8. Se você fez um círculo ao redor desse número, não concordamos. 
Para mim, essa frase não expressa claram ente uma ação específi­
ca que está sendo solicitada. A pessoa poderia te r dito: "Gostaria 
que você me dissesse se estaria disposto a se encontrar comigo 
para alm oçar uma vez por semana".
9. Se você fez um círculo ao redor desse número, discordamos. Para 
mim, a expressão "demonstrar respeito por minha privacidade" 
não expressa claram ente uma ação específica que está sendo so­
licitada. A pessoa poderia ter d ito: "Gostaria que você concordas­
se em bater na porta antes de entrar em meu escritório".
10. Se você fez um círculo ao redor desse número, não estamos de 
acordo. Para mim, a expressão “mais vezes" não expressa clara­
m ente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa 
poderia ter d ito : "Gostaria que você preparasse o jan ta r toda se­
gun da-fe ira à noite".
132
7 . Receber com empatia
Os últim os quatro capítulos As áuas partes da CNv;
descreveram os quatro compo- . expressar-se com honestidade
nentes da cnv: o que observa- . receber com empatia.
m o s, sentim os e do que precisa­
mos, e o que desejamos pedir para enriquecer nossa vida. Agora 
deixarem os de lado a auto-expressão para aplicar esses mesmos 
quatro com ponentes ao processo de prestar atenção no que os 
outros estão observando, sentindo, precisando e pedindo. C ha­
m am os essa parte do processo de com unicação de "receber com 
em patia".
P resen ça : não eaça nada , apenas esteja lá
A em patia é a com preensão respeitosa do que os outros 
estão vivendo. O filósofo chinês Chuang-Tzu afirm ou que a ver­
dadeira em patia requer que se escute com todo o ser: "Ouvir so­
m ente com os ouvidos é um a coisa. Ouvir com o intelecto é
133
I MARSHALL B. ROSENBERG 1
outra. Mas ouvir com a alm a não se limita a um único sentido 
— o ouvido ou a m ente, por exemplo. Portanto, ele exige o es­
vaziam ento de todos os sentidos. 
Empatia: esvaziar a mente e E, quando os sentidos estão va-
oMvir com todo o nosso ser. zios, então todo o ser escuta.
Então, ocorre um a com preen­
são direta do que está ali m esm o diante de você que não pode 
nunca ser ouvida com os ouvidos ou com preendida com a 
m ente".
Ao nos relacionarm os com os outros, a empatia ocorre so­
m ente quando conseguimos nos livrar de todas as idéias precon­
cebidas e julgam entos a respeito deles. M artin Buber, filósofo is­
raelense nascido na Áustria, descreve essa qualidade de presença 
que a vida exige de nós: "Apesar de todas as semelhanças, cada 
situação da vida tem, tal como um a criança recém-nascida, um 
novo rosto, que nunca foi visto antes e nunca será visto nova­
m ente. Ela exige de você um a reação que não pode ser prepara­
da de antem ão. Ela não requer nada do que já passou; ela requer 
presença, responsabilidade; ela requer você".
A presença que a em patia requer não é fácil de m anter. "A 
capacidade de dar atenção a alguém que sofre é um a coisa 
m uito rara e difícil; é quase um milagre; é um milagre", afirma
a escritora francesa Sim one 
Pergunte antes de oferecer con- Weil. "Quase todos os que pen-selhos ou estimulo. sam ter essa capacidade não a
possuem." Em vez de empatia, 
tendem os a ter um a forte prem ência de dar conselhos ou enco­
rajam ento e de explicar nossa própria posição ou sentim ento. A 
empatia, por outro lado, requer que se concentre p lenam ente a 
atenção na m ensagem da outra pessoa. Damos aos outros o 
tem po e espaço de que precisam para se expressarem com pleta­
134
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
m ente e sentirem -se com preendidos. Há um ditado budista que 
descreve apropriadam ente essa capacidade: "Não faça nada, só 
fique sentado".
M uitas vezes é frustrante alguém precisar de em patia e nós 
presum irm os que essa pessoa precisa de encorajam ento ou de 
conselhos "para consertar a situação". Aprendi um a lição com 
m inha filha, que m e ensinou a verificar se conselhos ou enco­
rajam ento são bem -vindos antes de oferecê-los. Um dia, ela es­
tava se olhando no espelho e disse: "Sou feia como um porco".
"Você é a criaturinha mais linda que Deus jamais pôs na 
face da Terra", declarei. Ela m e lançou um olhar de exaspera­
ção, exclamou "Oh, papai!" e bateu a porta ao sair do quarto. 
Mais tarde descobri que ela estava querendo algum a empatia. 
Em vez de m eu encorajam ento na hora errada, eu poderia ter 
perguntado: "Você está se sentindo decepcionada com sua apa­
rência hoje?"
M inha amiga Holley H um phrey identificou alguns com por­
tam entos com uns que nos im pedem de estar presentes o bas­
tante para nos conectarm os aos outros com em patia. A seguir 
estão alguns exemplos desses obstáculos:
• Aconselhar: "Acho que você deveria...", "Por que é que você 
não fez assim?"
• Competir pelo sofrimento: "Isso não é nada; espere até ouvir 
o que aconteceu comigo".
• Educar: "Isso pode acabar sendo um a experiência m uito po ­
sitiva para você, se você apenas..."
• Consolar: "Não foi sua culpa, você fez o m elhor que pôde".
• Contar um a história: "Isso m e lem bra um a ocasião..."
• Encerrar o assunto: "Anime-se. Não se sinta tão mal".
• Solidarizar-se: "Oh, coitadinho..."
135
I MARSHALL B. ROSENBERG I
• Interrogar: "Q uando foi que isso começou?"
• Explicar-se: "Eu teria telefonado, m as..."
• Corrigir: "Não foi assim que aconteceu".
No livro Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas, o rabino 
Harold K ushner descreve quanto foi doloroso para ele, quando 
seu filho estava m orrendo, ouvir as palavras que as pessoas ofe­
reciam no intuito de fazê-lo sentir-se melhor. Ainda mais doloro­
sa foi a constatação de que durante vinte anos ele estivera dizen­
do as mesmas coisas a outras pessoas em situação semelhante!
Acreditar que tem os de "consertar" situações e fazer os o u ­
tros sentirem -se m elhor im pede que estejamos presentes. 
Aqueles de nós no papel de conselheiros ou psicoterapeutas 
somos especialm ente suscetíveis a essa crença. Uma vez, q u an ­
do eu estava trabalhando com 23 profissionais de saúde m ental, 
pedi que eles escrevessem, palavra por palavra, como eles res­
ponderiam a um paciente que dissesse: "Estou m e sentindo 
m uito deprimido. Simplesmente, não vejo nenhum a razão para 
continuar vivendo". Recolhi as respostas que eles escreveram e 
anunciei: "Agora vou ler em voz alta o que cada um de vocês 
escreveu. Im aginem -se no papel da pessoa que expressou o sen­
tim ento de depressão e levantem suas mãos depois de cada frase 
que vocês ouvirem que lhes dê a sensação de que foram com ­
preendidos". As mãos se levantaram para apenas três das 23 res­
postas. Perguntas como "Quan- 
A compreensão intelectual blo- do isso com eçou?" foram a
queia a empatia. resposta mais comum; elas dão
a aparência de que o profissio­
nal está obtendo as informações necessárias para diagnosticar e 
depois tratar o problem a. Na verdade, essa com preensão in te ­
lectual de um problem a bloqueia o tipo de presença que a em-
136
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
patia requer. Q uando estam os pensando a respeito das pa la­
vras de alguém , escutando como elas se relacionam com nossas 
teorias, estamos olhando para as pessoas, mas n ão estamos com 
elas. O ingrediente-chave da em patia é a presença: estamos to ­
talm ente presentes com a outra parte e com aquilo pelo que ela 
está passando. Essa qualidade de presença distingue a empatia 
da com preensão m ental ou da solidariedade. Em bora possamos 
ocasionalm ente escolher nos solidarizarmos com os outros ao 
sentir o que eles sentem , é útil ter consciência de que no m o­
m ento em que estamos oferecendo nossa solidariedade, não es­
tam os oferecendo nossa empatia.
P rocurando escutar sentim entos e necessidades
Na c n v , não im porta que palavras as pessoas usem para se 
expressar, procuram os escutar suas observações, sentim entos e 
necessidades, e o que elas estão pedindo para enriquecer suas 
vidas. Im agine que você em prestou o carro a u m novo vizinho 
que o procurou num a emergência pessoal. Q uando sua família 
descobre, eles reagem com vee­
m ência: "Você é um bobo por Não importa o que os outros
confiar n u m com pleto estra- digam, apenas ouvimos o que
nho!" O diálogo que veremos eles estão (a) observando, (b)
daqui a pouco mostra como en- sentindo, (c) necessitando e (d)
trar em sintonia com os senti- pedindo,
m entos e necessidades dos fa­
miliares, em contraste com 1. culpar-se por tom ar a m ensagem 
como pessoal e 2. culpar e julgar a eles.
Nessa situação, é óbvio o que a família está observando e ao 
que está reagindo: o fato de você ter em prestado o carro a um 
quase desconhecido. Em outras situações, isso pode não ser tão
137
I MARSHALL B. ROSENBERG I
claro. Se um colega nos diz: "Você não é bom para trabalhar em 
equipe", podem os não saber o que ele está observando, em bo­
ra possamos quase sem pre adivinhar qual o com portam ento 
que deflagrou essa afirmação.
O diálogo a seguir, ocorrido n u m seminário, dem onstra a 
dificuldade de se concentrar nos sentim entos e necessidades dos 
outros quando estamos acostum ados a assum ir a responsabili­
dade por seus sentim entos e a tom ar as m ensagens como pes­
soais. A m ulher no diálogo queria aprender a ouvir os senti­
m entos e necessidades por trás de algumas afirmações do 
m arido. Sugeri que ela adivinhasse seus sentim entos e necessi­
dades e depois os confirmasse com ele.
Declaração do marido: De que adianta conversar com você?
Você nunca escuta. 
m u lh e r Você está insatisfeito comigo? 
eu Quando você diz "comigo", está im plicando que os 
sentim entos dele são o resultado do que você fez. Eu 
preferiria que você perguntasse: "Você está insatisfei­
to porque estava precisando de...?", e não "Você está 
insatisfeito comigo?" Isso concentraria sua atenção no 
que está acontecendo dentro dele e dim inuiria a pro­
babilidade de você tom ar a mensagem como pessoal. 
m u lh e r Mas o que eu poderia dizer? "Você está insatisfeito 
porque você...?" Porque você o quê? 
eu Pegue sua pista a partir do conteúdo da mensagem do 
marido: "De que adianta conversar com você? Você 
nunca escuta". Do que é que ele está precisando e não 
está conseguindo quando diz isso? 
m u lh e r ( p ro c u r a n d o d e m o n s t r a r e m p a t ia c o m a s n e c e s s id a ­
d e s q u e e s tã o s e n d o e x p re s s a s a t r a v é s d a m e n s a g e m
138
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
do m arido) Você está se sentindo infeliz porque acha 
que eu não o compreendo? 
eu Observe que você está se concentrando no que ele está 
sentindo, e não no que ele está precisando. Acredito que 
você achará as pessoas menos ameaçadoras se escutar 
do que elas preci-
Preste atenção às necessidades
sam, e nao do que dos outros, é não ao que eles es-elas estao pensan-
. .. tão pensando de você.do a seu respeito.
Em vez de ouvir que ele está infeliz porque acha que 
você não o escuta, concentre-se no que ele está preci­
sando, dizendo: "Você está infeliz porque sente necessi­
dade de..."
m u lher (ten tando de novo) Você está infeliz porque sente ne­
cessidade de ser escutado?eu Era nisso que eu estava pensando. Faz algum a d iferen­
ça para você ouvi-lo dessa maneira? 
m u lher Definitivam ente, sim - uma grande diferença. Vejo o 
que está acontecendo eom ele sem ouvir que eu fiz 
qualquer coisa errada.
P arafraseando
Depois de concentrarmos nossa atenção no que os outros 
estão observando, sentindo, necessitando e no que eles estão p e ­
dindo para enriquecer a própria vida, podemos desejar lhes dar 
um retorno, parafraseando o que compreendemos. Quando abor­
damos a questão dos pedidos (capítulo 6), discutimos como pedir 
essa confirmação; agora veremos como oferecê-la aos outros.
Se recebemos com precisão a m ensagem da outra pessoa, 
nossa paráfrase confirmará isso para ela. Por outro lado, se nos­
sa paráfrase estiver incorreta, a pessoa terá a oportunidade de
139
I MARSHALL B. ROSENBERG I
corrigi-la. O utra vantagem de escolhermos repetir a m ensagem 
para a outra pessoa é que isso lhe dá tem po para refletir no que 
disse e um a oportunidade de m ergulhar mais profundam ente 
em si mesma.
A cnv sugere que nossa paráfrase tom e a form a de pergun­
tas que revelem nossa com preensão, ao m esm o tem po que es­
tim ulam quaisquer correções necessárias da parte da outra pes­
soa. As questões podem se concentrar em:
A. O que os outros estão observando: "Você está reagindo à 
quantidade de noites em que estive fora na sem ana passa­
da?"
B. Como os outros estão se sentindo e quais as necessidades 
que estão gerando esses sentim entos: "Você está magoado 
porque gostaria de receber mais reconhecim ento por seus 
esforços do que obteve?"
C. O que os outros estão pedindo: "Você está querendo que eu 
exponha m eus motivos para ter dito o que disse?"
Essas perguntas requerem que procuremos perceber o que 
está acontecendo dentro das outras pessoas, ao mesmo tempo 
que as estimulam a corrigir-nos, se o que percebemos não for cor­
reto. Observe a diferença entre as perguntas acima e estas abaixo:
A. "Você está se referindo a qual atitude m inha?"
B. "Como você está se sentindo?" "Por que você está se sen­
tindo assim?"
C. "O que você quer que eu faça?"
Esse segundo grupo de perguntas solicita informações sem 
antes se conectar com a realidade afetiva da outra pessoa. Em-
140
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
bora elas possam parecer ser a m aneira mais direta de nos ligar­
mos ao que está acontecendo dentro da outra pessoa, descobri 
que perguntas como essas não
pessoas a im pressão de que somos um professor inquirindo-os 
ou u m psicólogo em terapia. E ntretanto, se efetivam ente deci­
dirmos pedir informações dessa m aneira, pude constatar que as 
pessoas se sentirão mais seguras se prim eiro revelarm os os sen­
tim entos e necessidades dentro de nós que estão gerando a p er­
gunta. Assim, em vez de perguntar a alguém "O que eu fiz?", 
poderíam os dizer: "Estou m e sentindo frustrado porque gosta­
ria de ser mais claro a respeito daquilo a que você está se refe­
rindo. Você estaria disposto a m e dizer o que eu fiz para me ver 
dessa m aneira?" Embora essa etapa possa não ser necessária — 
ou m esm o útil —, em situações em que nossos sentim entos e 
necessidades sejam claram ente transm itidos pelo contexto ou 
pelo tom de voz, recom endo-a em especial naqueles m om entos 
em que as perguntas que fazemos são acom panhadas de em o­
ções fortes.
Como determ inar se um a ocasião requer que repitam os 
para as pessoas as m ensagens que elas nos passam ? C ertam en­
te, se não tem os certeza de que com preendem os a m ensagem 
com exatidão, podem os usar um a paráfrase para provocar um a 
correção do nosso palpite. Mas, m esm o que estejamos confian­
tes de que com preendem os nosso interlocutor, podemos sentir 
que este está esperando um a confirmação de que sua m ensa­
gem foi adequadam ente recebida. Ele pode até m esm o expres­
sar esse desejo abertam ente, perguntando: "Está claro?" Ou: 
"Você en tendeu o que eu disse?" Nesses m om entos, é usual que
são o cam inho mais seguro para 
obter as inform ações que busca­
mos. M uitas delas podem dar às
Ao solicitar informações, primei­
ro expresse seus próprios senti­
mentos e necessidades.
141
I MARSHALL B. ROSENBERG I
nosso interlocutor se sinta mais seguro ao ouvir um a paráfrase 
clara do que um simples "Sim, entendi".
Por exemplo, logo depois de participar de um treinam ento 
de cnv, um a voluntária de um hospital foi solicitada por algu­
mas enferm eiras a conversar com um a paciente idosa: "Já dis­
semos para essa m ulher que ela não está tão doente assim e que 
ela m elhoraria se tomasse seu remédio, mas tudo o que ela faz 
é ficar sentada no quarto o dia inteiro repetindo: 'Q uero m o r­
rer. Quero m orrer'". A voluntária se aproxim ou da paciente 
idosa e, tal como as enferm eiras haviam predito, a encontrou 
sentada sozinha, sussurrando repetidas vezes: "Quero m orrer".
"Então a senhora gostaria de m orrer", a voluntária ofereceu 
sua empatia. Surpresa, a m ulher parou sua cantilena e pareceu 
aliviada. Ela com eçou a falar sobre como ninguém entendia 
quanto ela se sentia mal. A voluntária continuou repetindo os 
sentim entos da m ulher; não dem orou m uito para o diálogo 
ficar tão cheio de calor hum ano que elas estavam sentadas com 
os braços envolvidos uns nos outros. Mais tarde, naquele dia, as 
enferm eiras perguntaram à voluntária sobre sua fórm ula m ági­
ca: a paciente havia começado a com er e a tom ar o rem édio, e 
aparèntem ente estava mais anim ada. Em bora as enferm eiras ti­
vessem tentado ajudá-la com conselhos e encorajam ento, não 
foi senão quando de sua interação com a voluntária que ela re ­
cebeu aquilo de que verdadeiram ente precisava: conexão com 
outro ser hum ano que pudesse escutar seu profundo desespero.
Não há regras infalíveis com relação a quando se deve p a ­
rafrasear, mas de m odo geral é seguro presum ir que pessoas que 
expressam m ensagens intensam ente emocionais apreciarão nos
ouvir repetir o que ouvim os de- 
Repita ao interlocutor mensa- las. Quando nós m esm os esta-
gens emocionalmente carrega- m os falando, podem os facilitar
das. as coisas para quem nos ouve se
142
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
dem onstrarm os claram ente quando querem os ou não que nos­
sos ouvintes confirm em o que nos ouviram dizer.
Há ocasiões em que podem os escolher não repetir verbal­
m ente as afirmações de alguém em respeito a certas norm as 
culturais. Por exemplo, certa vez, um hom em chinês participou 
de um sem inário para aprender como escutar os sentim entos e 
necessidades por trás das falas do pai. Por não suportar as críti­
cas e os ataques que ouvia constantem ente do pai, ele tinha 
horror de visitá-lo e evitava vê-lo por meses a fio. O hom em 
veio m e ver dez anos depois e contou que sua capacidade de es­
cutar os sentim entos e necessi-
, ,. Só parafraseie quando isso con-dades havia transform ado radi- 
, , . tribuir para maior compaixão ecalm ente o relacionam ento com
. . , entendimento.o pai, a ponto de eles agora des­
frutarem um a relação próxim a e am orosa. Entretanto, em bora 
escute os sentim entos e necessidades do pai, ele não parafraseia 
o que escuta. "Nunca digo isso em voz alta", explicou. "Em 
nossa cultura, falar diretam ente com as pessoas sobre seus sen­
tim entos é algo a que não estão acostum adas. Entretanto, gra­
ças ao fato de eu não mais ouvir o que ele diz como um ataque, 
mas como seus próprios sentim entos e necessidades, nossa rela­
ção se to rnou m aravilhosa".
"Então, você nunca falará diretam ente com ele sobre senti­
m entos, mas é útil ser capaz de escutá-los?", perguntei.
"Não, agora acho que provavelm ente estou pronto", ele 
respondeu. "Agora que tem os um relacionam ento tão sólido, se 
eu lhe disser Tapai, gostaria de lhe falar diretam ente sobre o 
que estamos sentindo', acho que ele já poderia estar pronto 
para isso".
Q uando verbalizamos o que ouvimos do outro, o tom de 
voz que utilizamos é m uito im portante. Q uando as pessoas nos
143I MARSHALL B. ROSENBERG I
ouvem repetir o que disseram, é provável que estejam sensíveis 
ao m enor indício de crítica ou sarcasmo. Da m esm a forma, elas 
são negativam ente afetadas por um tom declarativo, que im pli­
que que estamos lhes dizendo o que está acontecendo dentro 
delas. Entretanto, se estivermos conscientem ente escutando os 
sentim entos e necessidades das outras pessoas, nosso tom de 
voz com unicará que estamos procurando saber se com preende­
mos corretam ente — e não alegando que com preendem os.
Também precisamos estar preparados para a possibilidade 
de que a intenção por trás de nossa paráfrase seja m al-interpre- 
tada. "Não m e venha com essa baboseira de psicologia!", a pes­
soa pode nos dizer. Se isso acontecer, podem os continuar a nos 
concentrar nos sentim entos e necessidades de nosso in terlocu­
tor; talvez vejam os nesse caso que ele não confia em nossas m o­
tivações e precisa de mais com preensão de nossas intenções 
antes de ser capaz de apreciar ouvir nossas paráfrases. Como já 
vimos, todo tipo de crítica, ataque, insulto e ju lgam ento desapa­
rece quando concentram os nossa atenção em ouvir os senti­
m entos e necessidades por trás de um a m ensagem . Q uanto mais
com necessidades insatisfeitas pedindo que contribuam os para 
seu bem -estar. Q uando recebemos as m ensagens com essa cons­
ciência, nunca nos sentimos desumanizados pelo que os outros 
têm a nos dizer. Somente nos sentim os desum anizados quando 
nos enredam os em imagens pejorativas de outras pessoas ou 
pensam entos negativos sobre nós mesmos. Como diz o escritor 
e mitólogo Joseph Campbell, "Temos de esquecer a preocupação
Por trás de mensagens intimida- 
doras, estão simplesmente pes­
soas pedindo para satisfazermos 
suas necessidades.
praticarm os isso, mais percebe­
remos um a verdade simples: por 
trás de todas essas m ensagens 
que perm itim os que nos intim i­
dem estão simples indivíduos
144
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
com o que os outros vão pensar Uma mensagem difícil se torna
de nós se quisermos estar em uma oportunidade de enriquecer
harm onia". Começamos a sentir a vida de alguém.
essa harm onia quando m ensa­
gens que anteriorm ente recebíamos como críticas ou culpa co­
m eçam a ser vistas como os presentes que são: oportunidades de 
ajudar as pessoas que estão sofrendo.
Se acontecer com freqüência desconfiarem de nossas m oti­
vações e de nossa sinceridade quando parafraseam os suas pala­
vras, podem os precisar exam inar nossas próprias intenções 
mais de perto. Talvez estejamos repetindo e acionando os re ­
cursos da cnv de m aneira mecânica, sem m anter um a clara 
consciência de nosso propósito. Podemos nos perguntar, por 
exemplo, se estamos mais em penhados em aplicar o processo 
"corretam ente" do que em nos ligarmos ao ser hum ano à nossa 
frente. Ou talvez, m esm o que estejamos usando a cnv em sua 
forma, nosso único interesse seja m udar o com portam ento da 
outra pessoa.
Algumas pessoas resistem a parafrasear, considerando isso 
um a perda de tem po. Um subprefeito explicou durante um a 
sessão prática: "Sou pago para dar fatos e soluções, não para 
sentar e fazer psicoterapia com cada um que en tra em m eu es­
critório". Esse m esm o subprefeito, porém , estava sendo con­
frontado por cidadãos indignados, que iam vê-lo com suas preo­
cupações apaixonadas e saíam insatisfeitos por não terem sido 
escutados. Alguns desses cida­
dãos mais tarde me confessa- Parafrasear poupa tempo. 
ram: "Q uando você vai ao escri­
tório dele, ele lhe dá um m onte de fatos, mas você n unca sabe 
se ele o escutou prim eiro. Q uando isso acontece, você com e­
ça a não confiar mais nos dados que ele apresenta". Parafrasear
145
I MARSHALL B. ROSENBERG I
tende a poupar tem po, não a desperdiçá-lo. Estudos de negocia­
ções trabalhistas dem onstram que o tem po necessário para a tin ­
gir a solução do conflito é reduzido à m etade quando cada n e ­
gociador concorda, antes de responder, em repetir precisam ente 
o que o interlocutor anterior disse.
Lem bro-m e de um hom em que no início era cético quanto 
ao valor da paráfrase. Ele e a esposa estavam participando de 
um seminário de cnv, num a época em que seu casam ento esta­
va sendo afetado por problem as sérios. D urante o seminário, a 
esposa disse a ele: "Você nunca m e escuta".
"Escuto, sim", ele respondeu.
"Não, você não escuta".
Dirigi-me então ao m arido: "Receio que você tenha acaba­
do de dar razão a ela. Você não respondeu de um a m aneira que 
a faça saber que você estava escutando o que ela dizia".
Ele ficou intrigado com o que eu estava querendo dizer, de 
modo que pedi permissão para interpretar o papel dele (permis­
são esta que deu de bom grado, já que não estava tendo m uito su­
cesso naquilo). Sua esposa e eu tivemos então o seguinte diálogo:
esposa Você nunca me escuta.
eu (no papel do m arido) Parece que você está terri­
velm ente frustrada porque gostaria de sentir uma 
ligação maior entre nós quando conversamos.
A m ulher se debulhou em lágrimas quando finalm ente re ­
cebeu essa confirmação de que ela tinha sido compreendida. 
Virei-me para o m arido e expliquei: "Acredito que isso seja o 
que ela vem dizendo a você que precisa, um retom o de seus 
sentim entos e necessidades como um a confirmação de que ela 
foi ouvida". O m arido pareceu pasmo. "Isso é tudo o que ela que­
ria?'', ele perguntou, não acreditando que algo tão simples p u ­
desse ter tido impacto tão grande na esposa.
146
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Pouco tem po depois, ele pôde experim entar em prim eira 
m ão essa satisfação, quando a esposa lhe.repetiu um a frase que 
ele tinha dito com grande intensidade emocional. Saboreando a 
paráfrase da esposa, ele olhou para m im e declarou: "É válido". 
É um a experiência pungente receber um a prova concreta de 
que alguém está conectado a nós com empatia.
M antendo a em patia
Recom endo perm itir que os outros tenham am pla oportu ­
nidade de se expressar antes de com eçar a propor soluções ou 
solicitar ajuda. Q uando procedem os depressa demais com rela­
ção ao que as pessoas estão nos pedindo, podem os não trans­
m itir interesse genuíno por seus sentim entos e necessidades; 
em vez disso, as pessoas podem ter a im pressão de que estamos 
com pressa de nos livrarm os delas ou de dar um a solução pa­
liativa a seu problem a. Além disso, um a m ensagem inicial é 
m uitas vezes como a ponta de um iceberg: ela pode ser seguida 
de sentim entos ainda não expressos, mas relacionados — e, 
não raro, mais poderosos. M antendo nossa atenção concentra­
da no que está acontecendo dentro dos outros, oferecemos a 
eles um a chance de explorar e expressar seu eu interior com 
profundidade. Nós interrom períam os esse fluxo se desviásse­
mos nossa atenção m uito rapidam ente para seu pedido ou para 
nosso próprio desejo de nos expressarmos.
Suponha que um a m ãe nos
procure, dizendo: "M eu filho 
está impossível. Não im porta o 
que eu lhe diga para fazer, ele 
não escuta". Poderíam os d e ­
m onstrar o que ouvimos dos
Permanecendo em empatia, per­
mitimos que nossos interlocuto­
res atinjam níveis mais profun­
dos de si mesmos.
147
I MARSHALL B. ROSENBERG I
seus sentimentos e necessidades, dizendo: "Parece que você está 
desesperada e gostaria de encontrar algum modo de se com uni­
car com seu filho". Uma paráfrase como essa freqüentem ente en ­
coraja a pessoa a olhar para dentro de si. Se verbalizamos ade­
quadam ente seu sentimento, a m ãe poderia abordar outros 
sentimentos: "Talvez seja m inha culpa. Estou sempre gritando 
com ele". Como ouvintes, poderíam os continuar a acom panhar 
os sentimentos e necessidades que estão sendo expressos e dizer, 
por exemplo: "Você está se sentindo culpada porque às vezes gos­
taria de ter sido mais compreensiva do que tem sido com ele?" Se 
a m ãe continuar a se sentir compreendida em função de nossas 
repetições, ela poderá avançar ainda mais para dentro de seus 
sentimentos e declarar: "Souum fracasso como mãe". C ontinua­
mos a acom panhar os sentimentos e necessidades que estão 
sendo expressos: "Então, você está se sentindo desestimulada e 
gostaria de se relacionar de forma diferente com ele?" Persistimos 
nesse modo até que a pessoa tenha esgotado todos os seus senti­
m entos com relação a esse assunto.
Que evidências podem os ter 
de que entram os adequadam en­
te em empatia com a outra pes­
soa? Em prim eiro lugar, quando 
alguém percebe que tudo que 
está acontecendo dentro de si 
recebeu plena compreensão em ­
pática, sente-se aliviado. Podemos tom ar consciência desse fenô­
m eno ao percebermos um correspondente alívio da tensão em 
nosso corpo. Um segundo sinal, ainda mais óbvio, é que a pes­
soa pára de falar. Se não temos certeza de ter dedicado tem po su­
ficiente ao processo, podem os perguntar: "Há algo mais que você 
gostaria de dizer?"
Sabemos que a pessoa que fala 
recebeu empatia quando: (a) há 
um alívio de tensão ou (b) o fluxo 
de suas palavras chega ao fim.
148
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA 1
Quando a dor bloqueia n o ssa capacidade
DE OFERECER EM P ATI A
É impossível dar algo a alguém se nós próprios não o 
temos. Da m esm a forma, se não tem os a capacidade ou a dis­
posição de oferecer em patia, apesar de nossos esforços, isso é 
geralm ente um sinal de que estam os carentes demais de em ­
patia para poderm os oferecê-la aos outros. Às vezes, se reco­
nhecerm os abertam ente que nosso próprio sofrim ento está nos 
im pedindo de responder com
em patia, a outra pessoa pode Precisamos de empatia para po-
chegar até nós com a em patia dermos dar empatia. 
de que precisamos.
Em outras ocasiões, pode ser necessário nos equiparmos 
com algum a em patia em ergencial de "primeiros socorros", p res­
tando atenção no que está acontecendo conosco, com a mesma 
qualidade de presença e atenção que oferecemos aos outros. 
Certa vez, o ex-secretário-geral das Nações Unidas, Dag Ham- 
marskjõld, disse: "Quanto mais fielmente você escutar a voz 
dentro de você, m elhor escutará o que está acontecendo do lado 
de fora". Se nos treinam os para sentir em patia por nós mesmos, 
freqüentem ente experim entam os um a liberação natural de 
energia que, em poucos segundos, nos perm ite estar presentes 
para o outro. Se isso não acontecer, porém, terem os algumas 
outras opções.
Poderemos gritar — de forma não-violenta. Lembro-me de 
passar três dias fazendo mediações entre duas gangues cujos 
membros estavam se m atando uns aos outros. Uma delas se cha­
mava "Os Egípcios Negros"; a outra, "Departamento de Polícia de 
East Saint Louis". O placar estava em dois a um — um total de 
três mortos em um mês. Depois de três dias tensos tentando reu ­
nir esses grupos para se ouvirem e resolverem suas diferenças, eu
149
I MARSHALL B. ROSENBERG I
estava dirigindo para casa e pensando que nunca mais queria es­
tar no meio de um conflito pelo resto de m inha vida.
A prim eira coisa que vi quando entrei pela porta dos fu n ­
dos foi m eus filhos se agarrando num a briga. Eu não tinha ener­
gia para lhes oferecer em patia, então gritei de form a não-vio- 
lenta: "Ei, estou num a situação de m uito sofrimento! Neste 
m om ento, eu realm ente não quero ter de lidar com a briga de 
vocês! Só quero um pouco de paz e sossego!" M eu filho mais 
velho, na época com 9 anos, parou de brigar, o lhou para m im e 
perguntou: "Você quer conversar sobre isso?" Descobri que, se 
formos capazes de falar de nosso sofrim ento sem máscaras e 
sem culpar ninguém , até outras pessoas que tam bém estão so­
frendo às vezes são capazes de escutar nossas necessidades. É 
claro que eu não ia querer gritar "Qual é o problem a com 
vocês? Vocês não sabem se com portar m elhor? Acabei de che­
gar em casa depois de um dia duro!" — nem tam pouco insinuar 
de forma algum a que a culpa era do com portam ento deles. 
Posso gritar de form a não-violenta cham ando a atenção para 
m inhas próprias necessidades desesperadas e m eu sofrimento 
naquele m om ento.
Entretanto, se a outra parte tam bém estiver passando por 
tal intensidade de sentim entos e não conseguir nem nos escu­
tar nem nos deixar em paz, o terceiro recurso é nos rem over­
m os fisicamente da situação. Damos a nós m esm os o tem po e a 
oportunidade de conseguir a em patia necessária para voltar 
com outro estado de espírito.
R esum o
A em patia é a com preensão respeitosa do que os outros 
estão vivenciando. Em vez de oferecermos em patia, m uitas
150
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
vezes sentim os um a forte urgência de dar conselhos ou encora­
jam ento e de explicar nossa própria posição ou nossos senti­
m entos. Entretanto, a em patia requer que esvaziemos nossa 
m ente e escutemos os outros com a totalidade de nosso ser.
Na cnv, não im porta quais palavras os outros usem para se 
expressar, sim plesm ente prestam os atenção em suas observa­
ções, sentim entos, necessidades e pedidos. Podemos então dese­
jar repetir o que ouvimos, parafraseando o que com preende­
mos. Perm anecem os assim em em patia, perm itindo que os 
outros tenham am pla oportunidade de se expressar antes de 
começar a propor soluções ou pedir por amparo.
Precisam os sentir em patia para dar em patia. Q uando 
percebem os que estamos sendo defensivos ou incapazes de ofe­
recer em patia, precisamos (a) parar, respirar, sentir em patia por 
nós mesmos, ou (b) gritar de modo não-violento ou (c) dar-nos 
um tem po.
A c nv em ação
U m a esposa se conecta ao m arido agon izante.
Um paciente acabou de ser diagnosticado num estágio adian­
tado de câncer do pulm ão, A cena a seguir, em sua casa, en­
volve uma enferm eira visitante, o paciente e sua esposa, e re­
presenta uma últim a oportunidade para que ele se conecte 
em ocionalm ente à esposa e discuta sua m orte antes de ser in ­
ternado no hospital. A esposa começa a conversa com a en­
ferm eira, reclamando sobre a fisioterapeuta que fazia parte 
da equipe de cuidados domésticos designada para cuidar de 
seu marido.
I MARSHALL B. ROSENBERG I
esposa Ela é má fisioterapeuta. 
enfermeira (escutando com em patia o que a m ulher está 
sentindo e desejando) Você está aborrecida e 
querendo ver outra qualidade nos cuidados com 
seu marido?
esposa Ela não faz nada. Ela o fez parar de andar quan­
do o pulso acelerou. 
enfermeira (continuando a escutar os sentim entos e neces­
sidades da m ulher) É porque você quer que seu 
marido melhore e tem medo de que ele não se 
fortaleça se a fisioterapeuta não forçá-lo? 
esposa (com eçando a chorar) Sim, estou com tan to 
medo!
enfermeira Você está com medo de perdê-lo? 
esposa Sim, estivemos juntos por tan to tem po... 
enfermeira (escutando outros sentim entos p o r trás do 
m edo) Você está preocupada com como você se 
sentirá se ele morrer? 
esposa Eu simplesmente não consigo im aginar como
vou viver sem ele. Ele sempre esteve a meu lado 
para me amparar. Sempre. 
enfermeira Então você fica triste quando pensa em viver 
sem ele?
esposa Para mim, não há mais ninguém senão ele. Ele é
tudo o que tenho, sabe? M inha filha nem fala 
comigo.
enfermeira Parece que você se sente frustrada quando você 
pensa em sua filha porque gostaria de te r tido 
uma relação diferente com ela. 
esposa Eu gostaria de te r tido, mas ela é uma pessoa tão
egoísta... Nem sei por que me dei ao trabalho de 
te r filhos. De que me adianta isso agora?
152
enferm eira Está m e p a re c e n d o q u e v o c ê p o d e e s ta r c o m u m 
p o u c o d e ra iv a e d e s a p o n ta d a p o rq u e d e s e ja r ia 
t e r m a is a p o io da fa m í l ia d u r a n te a d o e n ç a de 
seu m a r id o .
esposa Sim, ele está tão doente... Não sei como vou 
conseguir sobreviver a isso sozinha. Não tenho 
ninguém ... nem mesmo para conversar, exceto 
você aqui... agora. Nem mesmo ele fala sobre 
isso. Olhe para ele! (O m arido continua quieto e 
impassível.) Ele não diz nada! 
enferm eira Você está triste, desejando que vocês dois pudes­sem apoiar um ao outro e sentir-se mais ligados? 
esposa Sim. (Ela faz um a pausa e depois faz um pedi­
do.) Converse com ele do je ito que você conver­
sa comigo.
enferm eira (desejando com preender claram ente a necessi­
dade que está sendo expressa p o r trás do pedi­
do da m ulher) Você está querendo que ele seja 
escutado de uma maneira que o ajude a expres­
sar o que está sentindo? 
esposa Sim, sim, é exatam ente isso! Quero que ele se
sinta à vontade para fa lar e quero saber o que ele 
está sentindo. (Usando o p alp ite da enfermeira, a 
m ulher consegue prim eiro to m ar consciência do 
que queria e depois encontrar as palavras para 
articu lá -lo . Esse é um m om ento-chave: m uitas 
vezes é difícil para as pessoas identificar o que 
elas querem num a situação, m uito embora pos­
sam saber o que não querem. Vemos como um 
pedido claro — “converse com ele do je ito que 
você conversa com igo" — é um presente que dá
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA
153
I MARSHALL B. ROSENBERG I
ENFERMEIRA
MARIDO
ENFERMEIRA
MARIDO
ENFERMEIRA
MARIDO
ENFERMEIRA
MARIDO
ENFERMEIRA
MARIDO
à outra pessoa condições de ajudar. A enferm ei­
ra agora é capaz de ag ir de m aneira que ela sabe 
estar em harm onia com os desejos da mulher. 
Isso a ltera a atm osfera do quarto, pois a enfer­
m eira e a m ulher agora "trabalham juntas", e 
am bas com compaixão.)
(virando-se para o m arido) Como você se sente 
quando ouve o que sua esposa me disse?
Eu realm ente a amo.
Você está contente de ter uma oportunidade de 
conversar com ela sobre isso?
Sim, precisamos conversar sobre isso.
Você estaria disposto a dizer como se sente a 
respeito do câncer?
(após breve silêncio) Não m uito bem. (As pala­
vras bem e m al são com um ente usadas para des­
crever sentim entos quando as pessoas ainda não 
conseguiram identificar a emoção específica que 
estão sentindo. Expressar seus sentim entos mais 
precisamente o ajudaria a estabelecer a conexão 
emocional que ele está buscando com a esposa.) 
(encorajando-o a te n ta r ser m ais preciso) Você 
tem medo de morrer?
Não, não é medo. (Perceba como o pa lp ite incor­
reto da enferm eira não a trap a lh a o fluxo contí­
nuo de diálogo.)
Você sente raiva de morrer? (Por esse paciente 
não ser capaz de verbalizar suas experiências 
in ternas com facilidade, a enferm eira continua 
a lhe dar apoio no processo.)
Não, raiva não.
154
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
e n fe rm e ira (n e s s e p o n to , d e p o is d e d o is p a lp i t e s in c o r re to s , 
e la d e c id e e x p re s s a r o s p r ó p r io s s e n t im e n to s ) 
Bem, agora estou curiosa quanto ao que você 
pode estar sentindo e imagino se você poderia 
me contar.
m a r id o Acho que estou pensando em como ela vai se 
cuidar sem mim . 
enfermeira Ah, você está preocupado com que ela tenha di­
ficuldade de viver bem sem você? 
m a r id o Sim, estou preocupado com que ela sinta minha 
falta.
e n fe rm e ira (c o n s c ie n te d e q u e p a c ie n te s te r m in a is m u ita s 
v e ze s s e a g a r ra m à v id a p o r p r e o c u p a ç ã o c o m 
a q u e le s q u e e s tã o d e ix a n d o p a r a t r á s ; e sse s p a ­
c ie n te s m u i t a s v e ze s p re c is a m d e u m a g a r a n t ia 
d e q u e s e u s e n te s q u e r id o s c o n s e g u e m a c e i t a r 
s u a m o r te a n te s d e s e p e r m it i r e m i r e m b o ra ) 
Você gostaria de ouvir como sua esposa se sente 
quando você diz isso?
MARIDO Sim.
Nesse ponto, a esposa se ju n ta à conversa. Ainda na presença 
da enferm eira, os dois começam a se expressar abertam ente 
um ao outro. Nesse diálogo, a esposa começa com uma recla­
mação sobre a fisioterapeuta. Porém, depois de uma conversa 
na qual ela se sente recebida com em patia, é capaz de esta­
belecer que o que realm ente busca é uma conexão mais pro­
funda com o marido durante esse m om ento crítico da vida.
155
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Exercíc io 5
D i f e r e n c ia n d o r e c e b e r c o m e m p a t i a
DE RECEBER SEM EMPATIA
Se você gostaria de fazer um exercício para verificar se nos com u­
nicamos adequadam ente a respeito da em patia, faça um círculo 
ao redor do núm ero em fren te de cada diálogo abaixo em que a 
pessoa B está respondendo com em patia ao que está acontecen­
do com a pessoa A.
1. Pessoa A: Como eu pude fazer algo tão estúpido?
Pessoa B: Ninguém é perfeito; você está sendo m uito duro consi­
go mesmo.
2. Pessoa A: Se você me perguntar, acho que devíamos mandar 
todos esses im igrantes de volta ao lugar de onde vieram.
Pessoa B: Você realm ente acha que isso resolveria algum a coisa?
3. Pessoa A: Você não é Deus!
Pessoa B: Você está se sentindo frustrado porque gostaria que eu 
admitisse que há outras maneiras de interpretar esse assunto?
4. Pessoa A: Você acha m uito natural que eu faça tudo para você. 
Fico im aginando o que você faria sem mim.
Pessoa B: Isso não é verdade! Eu valorizo o que você faz por mim.
5. Pessoa A: Como você pôde me dizer uma coisa dessas?
Pessoa B: Você está m agoado porque eu disse aquilo?
6. Pessoa A: Estou furiosa com meu marido. Ele nunca está por perto 
quando preciso dele.
Pessoa B: Você acha que ele deveria estar mais próxim o do que 
costuma estar?
7. Pessoa A: Detesto quando engordo.
Pessoa B: Talvez fazer umas corridas ajudasse.
156
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
8. Pessoa A: Estou uma pilha de nervos com o planejam ento do ca­
sam ento de minha filha. A fam ília do noivo não está ajudando. 
Quase todos os dias eles mudam de idéia sobre que tipo de casa­
m ento querem.
Pessoa B: Então você está nervosa com os preparativos e gostaria 
que a fam ília do fu tu ro genro tivesse mais consciência das com ­
plicações que a indecisão deles causa para você?
9. Pessoa A: Quando meus parentes aparecem sem avisar com an te ­
cedência, s into -m e invadida. Isso me lembra como meus pais cos­
tum avam não levar em conta minhas necessidades e planejavam 
coisas para mim.
Pessoa B: Sei como você se sente. Eu costumava me sentir assim 
tam bém .
10. Pessoa A: Estou decepcionado com seu desempenho. Eu queria que 
seu departam ento tivesse dobrado sua produção no mês passado. 
Pessoa B: Compreendo que você esteja decepcionado, mas tive ­
mos m uitas faltas por m otivo de doença.
A qui e s t ã o m in h a s r e s p o s t a s p a r a o e x e r c íc io 5:
1. Não circulei esse número, porque entendo a pessoa B oferecendo 
encorajam ento, e não recebendo com em patia o que a pessoa A 
está expressando.
2. Vejo a pessoa B tentando educar a pessoa A, em vez de receber 
com em patia o que esta está expressando.
3. Se você circulou esse número, concordamos. Vejo a pessoa B re­
cebendo com em patia o que a pessoa A está expressando.
4. Vejo a pessoa B discordando e se defendendo, e não recebendo 
com em patia o que está acontecendo com a pessoa A.
5. Vejo a pessoa B assumindo a responsabilidade pelos sentimentos 
da pessoa A, e não recebendo com em patia o que está acontecen­
157
I MARSHALL B. ROSENBERG I
do com esta. A pessoa B poderia te r dito: "Você está magoado 
porque queria que eu tivesse concordado em fazer o que você me 
pediu?"
6. Se você circulou esse número, concordamos em parte. Vejo a pes­
soa B receptiva aos pensamentos da pessoa A. No entanto, acre­
d ito que nos conectamos mais profundam ente quando recebemos 
os sentim entos e necessidades que estão sendo expressos em vez 
dos pensamentos. Assim, eu teria preferido que a pessoa B tives­
se d ito : “Então você está furiosa porque gostaria que ele estives­
se por perto mais vezes do que costuma estar?"
7. Vejo a pessoa B aconselhando a pessoa A, e não recebendo com 
em patia o que está acontecendo com ela.
8. Se você circundou esse número, estamos de acordo. Vejo a pessoa 
B recebendo com em patia o que a pessoa A está expressando.
9. Em minha opinião, a pessoa B presumiu que compreendeu o que 
a pessoa A disse e está falando sobre seus própriossentimentos. 
Ela não está recebendo com em patia o que está acontecendo com 
a pessoa A.
10. Vejo que a pessoa B começa a se concentrar nos sentimentos da 
pessoa A, mas em seguida passa a se explicar.
158
8 . O poder da empatia
E m patia que cura
Cari Rogers descreveu o impaclo da em patia em quem a re ­
cebe: "Quando [...] alguém realm ente o escuta sem julgá-lo, 
sem ten ta r assum ir a responsabilidade por você, sem tentar 
moldá-lo, é m uito bom. [...] Quando sinto que fui ouvido e es­
cutado, consigo perceber m eu
m undo de um a m aneira nova e A empatia nos Permite > erceber
ir em frente. É espantoso como "osso mundo de uma maneira
problem as que parecem insolú- nova e ir em frente ■
veis se to rnam solúveis quando alguém escuta. Como confusões 
que parecem irremediáveis viram riachos relativam ente claros 
correndo, quando se é escutado".
Uma de m inhas histórias favoritas sobre a em patia veio da 
diretora de um a escola inovadora. Ela voltou do almoço um dia 
e encontrou Milly, um a aluna do ensino básico, sentada em seu 
escritório e parecendo arrasada, esperando para vê-la. A dire­
159
I MARSHALL B. ROSENBERG I
tora se sentou jun to a Milly, que começou: "Sra. A nderson, a 
senhora já teve um a sem ana em que tudo que faz magoa al­
guém, mas a senhora nunca quis m agoar ninguém de forma n e ­
nhum a?"
"Sim", respondeu a diretora. "Acho que com preendo". 
Milly então passou a descrever sua semana. "Eu já estava um 
pouco atrasada para um a reunião m uito im portante", continu­
ou a diretora, "ainda estava com m eu casaco, e ansiosa para não 
deixar um a sala cheia de gente m e esperando. Então, pergun­
tei: 'Milly, o que posso fazer por 
"Não apenas nada..." você? ' Milly se aproxim ou, agar­
rou m eus ombros com as mãos, 
olhou-m e bem nos olhos e disse com m uita firmeza: 'Sra. A n­
derson, não quero que a senhora faça nada; só quero que me 
escute'".
"Aquele foi um dos m om entos de aprendizado mais signifi­
cativos de m inha vida — e ensinado por um a criança —, por isso 
pensei: 'Não im porta a sala cheia de adultos esperando por 
m im !' Milly e eu passamos para um banco que nos dava mais 
privacidade e nos sentamos, com m eu braço ao redor de seus 
om bros, sua cabeça em m eu peito, e seu braço em volta de 
m inha cintura, e falou até se dar por satisfeita. E sabe de um a 
coisa? Não dem orou tanto tem po assim."
Um dos aspectos mais gratificantes de m eu trabalho é ouvir 
como as pessoas usaram a cnv para fortalecer sua capacidade de 
se conectar com em patia aos outros. M inha amiga Laurence, 
que m ora na Suíça, descreveu como ficou aborrecida quando o 
filho de 6 anos saiu correndo enraivecido enquan to ela ainda 
falava com ele. Isabelle, sua filha de 10 anos, que a havia acom ­
panhado a um sem inário recente de cnv, observou: "Então você 
está com m uita raiva, m am ãe. Você gostaria que ele conversas-
160
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
se quando está com raiva, e não que fosse em bora correndo". 
Laurence ficou m aravilhada de como, ao ouvir as palavras de 
Isabelle, ela sentiu um a im ediata diminuição da tensão e, mais 
tarde, conseguiu ser mais com preensiva com o filho, quando ele 
voltou.
Um professor de faculdade descreveu como o relaciona­
m ento entre alunos e professores fora afetado quando vários 
m em bros do corpo docente aprenderam a ouvir com em patia e 
a se expressar de forma mais vulnerável e honesta. "Os estu ­
dantes se abriram cada vez mais e nos contaram a respeito de 
vários problem as pessoais que estavam interferindo em seus es­
tudos. Q uanto mais eles falavam a respeito disso, mais trabalhos 
eles conseguiam term inar. Embora escutá-los dessa forma nos 
tomasse um bocado de tem po, ficamos contentes em passá-lo 
dessa m aneira. Infelizm ente, o diretor se aborreceu; ele disse 
que não éramos terapeutas e deveríamos passar mais tem po e n ­
sinando e m enos tem po conversando com os alunos."
Quando perguntei como os docentes haviam lidado com 
isso, o professor respondeu: "Tivemos empatia com a preocupa­
ção do diretor. Percebemos que ele ficou aborrecido e queria ter 
certeza de que não estávamos nos envolvendo em coisas com as 
quais não conseguiríamos lidar. Também percebemos que ele 
precisava de um a garantia de que o tem po gasto nas conversas 
não estava roubando tem po de nossas responsabilidades com o 
ensino. Ele pareceu aliviado pela forma como o escutamos. Con­
tinuam os a conversar com os estudantes, porque pudem os ver 
que quanto mais os escutávamos, m elhor eles iam nos estudos".
Q uando trabalham os num a instituição estruturada h ierar­
quicam ente, há um a tendência a ouvir ordens e julgam entos 
daqueles que estão acima de nós na hierarquia. Embora possa­
mos facilm ente ter em patia com nossos colegas e com aqueles
161
I MARSHALL B. ROSENBERG I
É mais difícil ter empatia com em Posição de m enor poder, po-
aqueles que parecem ter mais demos nos perceber sendo de-
poder, status ou recursos. fensivos ou nos justificando, em
vez de term os empatia, na p re ­
sença daqueles que identificamos como nossos "superiores". Foi 
por isso que fiquei particularm ente satisfeito ao saber que aque­
les professores haviam se lem brado de estabelecer um a conexão 
em pática com seu diretor, tan to quanto com seus alunos.
E m patia e a capacidade de ser vulnerável
Por sermos convocados a revelar nossos pensam entos e n e ­
cessidades mais profundos, às vezes podem os achar desafiador 
nos expressarmos em cnv. Entretanto, essa expressão fica mais 
fácil depois que entram os em em patia com os outros, porque te ­
rem os então tocado sua hum anidade e percebido as qualidades
que com partilham os. Q uanto 
Quanto mais temos empatia pela mais nos conectam os com os
outra pessoa, mais seguros nos sentim entos e necessidades por
sentimos. trás das palavras das outras pes­
soas, m enos assustador se torna 
nos abrirmos para elas. Com freqüência, as situações em que 
somos mais relutantes em expressar vulnerabilidade são aque­
las em que desejamos m anter um a "im agem durona", por m edo 
de perderm os a autoridade ou o controle.
Uma vez m ostrei m inha vulnerabilidade a alguns m em bros 
de um a gangue de rua de Cleveland, ao reconhecer a mágoa 
que estava sentindo e m eu desejo de ser tratado com mais res­
peito. "Ei, olhem " — um deles observou — "ele está magoado; 
coitadinho!" — e então todos os colegas com eçaram a rir em 
coro. Aqui, outra vez, eu podia interpretá-los como se aprovei­
tando de m inha vulnerabilidade (opção 2 — culpar os outros)
162
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
ou en trar em em patia com os sentim entos e necessidades por 
trás de seu com portam ento (opção 4).
Se, no entanto, eu tiver um a imagem de que estou sendo 
hum ilhado e que estão se aproveitando de mim, posso me sen­
tir ferido, irritado ou am edrontado demais para poder entrar em 
empatia. Num m om ento desses, eu precisaria me retirar fisica­
m ente para oferecer a m im m esm o alguma empatia, ou obtê-la 
de um a fonte confiável. Depois de descobrir as necessidades que 
haviam sido despertadas em m im de forma tão poderosa e tendo 
sido acolhido com empatia, eu estaria então pronto para re to r­
nar e oferecer m inha em patia ao outro lado. Em situações de so­
frimento, recom endo prim eiro obter a empatia necessária para ir 
além dos pensam entos que ocupam nossas cabeças, de modo 
que nossas necessidades mais profundas sejam reconhecidas.
Quando escutei a ten tam ente a observação do m em bro da 
gangue — "Ei, olhem, ele está magoado. Coitadinho!" — e o 
riso que se seguiu, senti que ele e os amigos estavam contraria­
dos e não queriam se subm eter a m anipulações e culpa. Eles p o ­
diam estar reagindo a pessoas que no passado usaram frases 
como "isso me m agoou" para dem onstrar desaprovação. Já que 
eu não confirmei isso com eles em voz alta, eu não tinha como 
saber se m eu palpite estava de fato correto. Entretanto, bastou 
concentrar m inha atenção ali paraim pedir que eu tomasse 
aquilo como pessoal ou ficasse com raiva. Em vez de julgá-los 
por m e ridicularizarem ou m e tratarem desrespeitosam ente, 
concentrei-m e em escutar o sofrimento e as necessidades por 
trás daquele com portam ento.
"Ei", disparou um deles, "o que você está nos dando é um 
m onte de bobagens! Suponha que haja m em bros de um a outra 
gangue aqui, eles tenham arm as e você não. Você diz para sim ­
plesm ente ficarmos parados e conversarmos com eles? Que bes­
teira!"
163
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Então todos com eçaram a rir de novo, e mais um a vez eu 
dirigi m inha atenção a seus sentim entos e necessidades: "Então 
parece que vocês estão realm ente fartos de aprender coisas que 
não têm nen h u m a relevância nessas situações?"
"É, e se você morasse neste bairro, saberia que isso é um 
m onte de bobagens."
"Então vocês precisam ter certeza de que alguém que lhes 
ensine algum a coisa tenha conhecim ento do seu bairro?"
“É isso mesmo. Alguns daqueles caras detonariam você 
antes que pudesse soltar duas palavras de sua boca!"
"E você precisa ter certeza de que alguém que ten ta lhes 
ensinar algo com preenda os perigos que existem aqui?" Conti­
nuei a escutá-los dessa m aneira, às vezes verbalizando o que eu 
ouvira, às vezes não. Isso continuou por 45 m inutos, e então 
percebi um a m udança: eles sentiram que eu os estava realm en­
te com preendendo. Um conselheiro do program a no tou a m u ­
dança e perguntou a eles em voz alta: "O que vocês acham 
desse hom em ?" O rapaz que m e causara mais dificuldades res­
pondeu: "Ele é o m elhor palestrante que já tivemos".
Espantado, o conselheiro se 
virou para m im e sussurrou: 
Nós dizemos muita coisa ao es- "Mas você não disse nada!" Na
cutarmos os sentimentos e neces- verdade, eu havia dito m uita
sídades das outras pessoas. coisa, ao dem onstrar que não
havia nada que eles jogassem 
em cima de m im que não pudesse ser traduzido em sentim en­
tos e necessidades hum anos e universais.
U sando a em patia para afastar o perigo
A capacidade de oferecer em patia a pessoas em situações 
tensas pode afastar o risco potencial de violência.
164
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Uma professora no decadente centro urbano de Saint Louis 
relatou u m incidente em que ela ficou deliberadam ente depois 
da aula para ajudar um aluno, em bora os outros professores a 
tivessem alertado para deixar o edifício no final das aulas para 
sua própria segurança. Um estranho en trou em sua sala, onde 
aconteceu o seguinte diálogo:
rapaz Tire a roupa!
professora (notando que ele estava trem endo) Estou per­
cebendo que isso é m uito assustador para voeê. 
rapaz Você me ouviu? P..., tire a roupa! 
professora Sinto que você está realm ente irritado neste 
m om ento e quer que eu faça o que voeê me diz. 
rapaz Isso mesmo, e você vai se machucar se não fizer. 
professora Gostaria que você me dissesse se há algum a ou­
tra maneira de atender a suas necessidades que 
não me machuque. 
rapaz Eu disse para tirar a roupa! 
professora Estou percebendo quanto você quer isso. Ao 
mesmo tem po, quero que você saiba quanto es­
tou me sentindo péssima e assustada, e como eu 
ficaria grata se você fosse embora sem me ferir. 
rapaz M e dê a sua bolsa.
A professora deu sua bolsa ao estranho, aliviada por não ser 
estuprada. Mais tarde descreveu como, a cada vez que ela ofe­
recia sua em patia ao rapaz, ela podia senti-lo m enos determ ina­
do a prosseguir com o estupro.
Um oficial da polícia m etropolitana que participava certa 
vez de um curso de acom panham ento em c n v fez este relato:
165
MARSHALL B. ROSENBERG I
Estou muito feliz por você nos ter feito praticar a empatia com 
pessoas irritadas, da última vez. Apenas alguns dias depois de 
nossa aula, fu i prender alguém num conjunto habitacional. 
Quando eu o trouxe para fora, meu carro foi cercado por cerca de 
sessenta pessoas gritando coisas como: "Solte-o! Ele não fez nada! 
Vocês da polícia são um bando de porcos racistas!" Embora eu es­
tivesse cético de que a empatia pudesse ajudar, eu não tinha m ui­
tas outras opções. Então, disse os sentimentos que estavam che­
gando a mim, coisas como: "Então vocês não confiam em meus 
motivos para prender este homem? Vocês acham que tem a ver 
com a raça?" Depois de vários minutos continuando a dar voz a 
seus sentimentos, o grupo ficou menos hostil. No final, eles abri­
ram caminho para que eu chegasse até meu carro.
Finalm ente, eu gostaria de ilustrar como um a moça usou a 
em patia para evitar a violência duran te seu plantão noturno 
n u m centro de desintoxicação de drogas em Toronto. A moça 
contou essa história durante o segundo seminário de cnv a que 
compareceu. Uma noite, às onze horas, algumas sem anas d e ­
pois do prim eiro treinam ento dela em cnv, um hom em que ob­
viam ente estivera tom ando drogas entrou e exigiu um quarto. 
A m oça começou a explicar que todos os quartos haviam sido 
ocupados aquela noite. Ela estava para dar ao hom em o ende­
reço de outro centro de desintoxicação quando ele a derrubou 
no chão. "Q uando dei por mim, ele estava sentado sobre m eu 
peito, segurando um a faca jun to à m inha garganta e gritando: 
'Sua p ..., não m inta para mim! Você tem um quarto, sim!'"
166
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Ela então começou a aplicar o que tinha aprendido, ouv in ­
do os sentim entos e as necessidades do hom em .
"Você se lem brou de fazer isso naquelas condições?", p er­
guntei, impressionado.
"Que escolha eu tinha? O desespero às vezes nos torna 
bons comunicadores! Sabe, M arshall, aquela recom endação que 
você nos fez no seminário realm ente me ajudou. Na verdade, 
acho que ela salvou m inha vida."
"Que recom endação?"
"Lembra quando você disse para nunca dizer m as... a um a 
pessoa com raiva? Eu estava pronta para começar a discutir com 
ele; eu estava prestes a dizer: 'Mas eu não tenho quarto!'; aí me 
lembrei de sua recom endação. Eu realm ente a gravei porque, 
na sem ana anterior, eu estava discutindo com m inha mãe, e ela 
m e disse: 'Cada vez que você responde mas a tudo o que eu falo, 
tenho vontade de m atar você!' Imagine, se m inha própria m ãe 
ficava com raiva suficiente para querer me m atar por falar 
aquela palavra, o que aquele hom em teria feito? Se eu houves­
se dito: 'Mas eu não tenho quarto!', quando ele gritou comigo, 
não tenho dúvida de que ele teria cortado m inha garganta. E n­
tão, em vez disso, respirei fundo e disse: 'Parece que você está 
realm ente com raiva e quer ter
por Deus, m ereço respeito! Es­
tou cansado de ninguém m e respeitar. M eus pais não me res­
peitam . Eu vou ser respeitado!' C oncentrei-m e em seus pensa­
m entos e necessidades e disse: 'Você está farto de não obter o 
respeito que deseja?"'
"Por quanto tem po continuou essa conversa?", perguntei.
"Ah, mais uns 35 m inutos", ela respondeu.
um quarto '. Ele respondeu gri­
tando: 'Posso ser viciado, mas,
Ofereça sua empatia, em vez de 
falar 'mas...' para uma pessoa 
com raiva.
167
I MARSHALL B. ROSENBERG I
"Isso deve ter sido apavorante".
"Não, não depois das prim eiras interações, porque aí ficou 
evidente outra coisa que aprendem os aqui. Q uando me concen­
trei em escutar seus sentim entos e necessidades, parei de vê-lo
como um m onstro. Pude ver, 
Quando escutamos os sentimen- „ ,exatam ente como voce disse,
tos e necessidades das pessoas, que as pessoas que parecem serparamos de vê-las como mons- m onstros sao apenas seres hu- 
tros. . ,m anos cuja linguagem e com ­
portam ento às vezes nos im pedem de perceber sua natureza 
hum ana. Q uanto mais eu conseguia concentrar m inha atenção 
em seus sentim entos e necessidades, mais eu o via como um a 
pessoa desesperada cujas necessidades não estavam sendo a ten ­
didas. Tornei-me confiante de que se eu m antivesse m inha 
atenção nisso, eu não seria ferida. Depois que ele recebeu a em- 
patia de que precisava, saiu de cima de mim, pôs de lado a faca 
e eu o ajudeia encontrar um quarto em outro centro."
M aravilhado por ela ter aprendido a responder com empa- 
tia num a situação tão extrem a, perguntei, curioso: "O que você 
está fazendo de novo aqui? Parece que você já dom inou a cnv 
e deveria estar ensinando aos outros o que aprendeu".
"É que agora preciso que você m e ajude com um a coisa di­
fícil", ela disse.
"Estou quase com m edo de perguntar. O que poderia ser 
mais difícil do que aquilo?"
"Preciso que você me ajude com m inha m ãe. Apesar de 
todo o insight que tive com aquele fenôm eno do m as..., sabe o 
que aconteceu? No jan tar da noite seguinte, quando contei à 
m inha m ãe o que tinha acontecido com aquele hom em , ela 
disse: 'Você vai fazer seu pai e eu term os um infarto se ficar 
nesse emprego. Você sim plesm ente tem de encontrar outro tra-
168
balho!' Então, adivinhe o que pode ser difícil ter empatia com
eu respondi? 'Mas, mãe, é mi- aqueles que estão mais próximos
n h a v id a ! '" de nós.
Eu não poderia ter pedido 
um exem plo mais poderoso de quanto pode ser difícil respon­
der com em patia aos m embros de nossa própria família!
E m patia ao ouvirmos um “Mã o !” d e alguém
Devido à nossa tendência a en tender como rejeição q uan­
do alguém diz "Não!" ou "Não quero fazer isso!", é im portante 
que sejamos capazes de ter em ­
patia com essas mensagens. Se Ter empatia com o não de al­
as tom arm os como pessoais, po- guém nos protege de tomá-lo
demos nos sentir magoados sem como pessoal.
com preender o que realm ente
está acontecendo dentro da outra pessoa. E ntretanto, quando 
trazem os à luz da consciência os sentim entos e necessidades por 
trás do não de alguém, tem os clareza do que essa pessoa está 
querendo e que a impede de responder da forma como gosta­
ríamos.
Uma vez, durante o intervalo de um seminário, convidei 
uma m ulher a se ju n ta r a m im e a outros participantes para to ­
m arm os um sorvete nas redondezas. "Não!", ela respondeu 
bruscam ente. O tom de sua voz me levou a in terpretar sua res­
posta como um a rejeição, até que me lembrei de escutar os sen­
tim entos e necessidades que ela poderia estar expressando a tra­
vés de seu não. Eu disse: "Tenho a impressão de que você está 
com raiva. É isso mesmo?"
"Não", ela respondeu. "É só que eu não quero ser corrigida 
toda vez que abro a boca."
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
169
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Pensei então que ela estava com medo, e não com raiva. 
Confirmei isso perguntando: "Então você está receosa e quer se 
proteger de estar num a situação em que você possa ser julgada 
pelo m odo que se comunica?"
"Sim", ela afirmou. "Posso m e im aginar sentada com vocês 
na sorveteria e você prestando atenção em tudo o que digo."
Descobri então que a m aneira pela qual eu estivera dando 
retorno aos participantes do sem inário tinha sido assustadora 
para ela. M inha em patia por sua m ensagem to rnara seu não 
inofensivo para mim: escutei seu desejo de não querer receber 
esse tipo de retorno em público. G aranti-lhe que não avaliaria 
sua comunicação em público e depois discuti com ela m aneiras 
de dar m eu retorno de m odo a deixá-la segura. E, sim, ela 
acom panhou o grupo para o sorvete.
E m patia para reanimar dm a conversa m orna
Todos nós já nos vimos no m eio de conversas m ornas. Tal­
vez estejamos n u m evento social, ouvindo as palavras sem sen­
tir nenhum a conexão com quem fala. Ou talvez estejamos escu­
tando um babbleonian*, term o jocoso criado por m eu amigo 
Kelly Bryson para designar alguém que desperta em seus ouvin­
tes o medo de um a conversa interm inável. A vitalidade se esvai 
da conversa quando perdem os a conexão com os sentim entos e 
necessidades que ocasionaram as palavras de quem fala, e com 
as solicitações associadas a essas necessidades. Isso é com um 
quando as pessoas conversam sem ter consciência do que estão
* Bryson criou com o verbo preposicionado b a b b le o n (tagarelar, falar 
sem parar sem dar chance aos outros de entrar na conversa) o substanti­
vo b a b b le o n ia n , palavra cujo som remete em inglês a B a b y lo n ia n (que, 
assim como em português, significa "babilónico").
170
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
sentindo, necessitando ou pedindo. Em vez de nos envolvermos 
num a troca de energia vital com outros seres hum anos, percebe­
mos que nos tornam os cestas de lixo para suas palavras.
Como e quando interrom per um a conversa m orta e trazê- 
la de volta à vida? Sugiro que o m elhor m om ento para in te r­
rom per é quando ouvimos um a palavra a mais do que deseja­
ríamos. Q uanto mais esperamos, mais difícil fica ser educado 
quando decidimos intervir. Nossa intenção ao interrom per não 
é dom inar a conversa, mas ajudar quem fala a se conectar com 
a energia vital por trás das palavras que estão sendo ditas.
Fazemos isso sintonizando os possíveis sentim entos e n e ­
cessidades. Assim, se um a tia está repetindo a história de como 
vinte anos atrás o m arido a abandonou com dois filhos peque­
nos, podem os interrom per dizendo: "Então, tia, parece que a
senhora ainda está m agoada e
. . , , , Como trazer uma conversa degostaria de ter sido tratada de
. „ . volta à vida? Interrompendo-am odo mais justo . As pessoas
. , , com empatia.nao tem consciência de que fre­
qüentem ente é de em patia que elas precisam. Elas tam bém não 
percebem que é mais provável que elas recebam essa em patia se 
expressarem os sentim entos e necessidades que estão vivos 
dentro delas, em vez de recontarem histórias de injustiças e di­
ficuldades passadas.
Outro m odo de trazer um a conversa de volta à vida é ex ­
pressar abertam ente nosso desejo de nos conectarm os mais p ro ­
fundam ente com nosso interlocutor e pedir informações que 
nos ajudem a estabelecer essa conexão. Uma vez, num coque­
tel, eu estava no meio de um abundante fluxo de palavras que, 
en tretanto , para mim, estavam parecendo sem vida. "Descul­
pem -m e", interrom pi, dirigindo-m e ao grupo de nove outras 
pessoas no m eio do qual eu m e encontrava, "estou ficando im ­
171
I MARSHALL B. ROSENBERG I
paciente porque quero estar mais ligado a vocês, m as nossa con­
versa não está criando o tipo de conexão que eu gostaria. Eu 
gostaria de saber se a conversa que estamos tendo está a tenden­
do às suas necessidades, e, se sim, quais dessas necessidades es­
tão sendo atendidas".
Todas as nove pessoas ficaram olhando para m im como se 
eu tivesse atirado um rato na poncheira. Felizmente, lembrei- 
m e de escutar os sentim entos e necessidades que estavam sendo 
expressos através de seu silêncio. "Vocês estão aborrecidos com 
m inha interrupção, porque vocês teriam preferido continuar a 
conversa?", perguntei.
Depois de outro silêncio, um dos hom ens respondeu: "Não, 
não estou aborrecido. Eu estava pensando sobre o que você p er­
guntou. Não, eu não estava gostando da conversa. Na verdade, 
estava totalm ente entediado com ela".
Na ocasião, fiquei surpreso ao ouvir essa resposta, porque 
aquele hom em era o que estava falando mais! Agora não estou
mais surpreso: desde então, des- 
0 que entedia quem ouve tam- cobri que conversas que são de-
bém entedia quem fala. sinteressantes para quem ouve
o são igualm ente para quem
fala.
Você pode estar tentando im aginar como podem os reunir 
coragem para interrom per alguém no meio de um a frase, tão 
diretam ente. Uma vez realizei um a pesquisa informal, colocan­
do a seguinte questão: "Se você está usando mais palavras do 
que alguém deseja ouvir, você prefere que essa pessoa finja es­
tar escutando ou que o interrom pa?" Das m uitas pessoas a 
quem perguntei isso, quase todas expressaram sua preferência 
por serem interrom pidas. Suas respostas m e deram coragem, ao 
m e convencerem de que é um sinal de m aior consideração in-
172
I COM UNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA
terrom per as pessoas do que 
fingir escutá-las. Todos nós q u e ­
rem os que nossas palavras en ri­
queçam os outros, e não que 
sejam um fardo para eles.As pessoas preferem que os ou­
vintes as interrompam a fingi­
rem estar escutando.
E m patia pelo silêncio
Uma das m ensagens pelas quais é mais difícil term os em pa­
tia é o silêncio. Isso é especialm ente verdadeiro quando nos ex­
pressamos de forma vulnerável e precisamos saber como os o u ­
tros estão reagindo às nossas palavras. Nessas ocasiões, é fácil 
projetarm os nossos piores m edos na falta de resposta e nos es­
quecerm os de nos conectarm os aos sentim entos e necessidades 
que estão sendo expressos pelo silêncio.
Uma vez, quando estava trabalhando com a equipe de um a 
com panhia, eu falava sobre algum a coisa profundam ente em o­
tiva e comecei a chorar. Q uando olhei, recebi um a resposta do 
diretor da em presa que não m e foi fácil receber: silêncio. Ele 
virou o rosto para longe de mim, o que in te rp re te i como um a 
expressão de desaprovação. Fe­
lizmente, lembrei-me de concen­
trar m inha atenção no que p o ­
deria estar acontecendo dentro 
dele, e disse: "Por sua resposta a
m eu choro imagino que o senhor o está desaprovando, e prefe­
riria ter um consultor mais no controle de seus sentim entos tra ­
balhando com sua equipe".
Se ele tivesse respondido "Sim", eu teria sido capaz de acei­
tar que tínham os valores diferentes no que diz respeito a ex ­
pressar emoções, sem com isso de algum a form a pensar que es-
Tenha empatia pelo silêncio escu­
tando os sentimentos e necessi­
dades por trás dele.
173
tava errado por ter expressado rainhas emoções como fiz. Mas, 
em vez de "Sim", o diretor respondeu: "Não, de jeito nenhum . 
Eu estava apenas pensando como m inha esposa gostaria que eu 
conseguisse chorar". Ele continuou e revelou que a esposa, de 
quem estava se divorciando, sempre reclam ara que viver com 
ele era como viver com um a pedra.
D urante os anos em que trabalhei como psicoterapeuta clí­
nico, um a vez fui contatado pelos pais de um a jovem de 20 
anos que estava sob cuidados psiquiátricos e duran te vários 
meses se subm etera a m edicam entos, in ternações e eletrocho- 
que. Ela havia ficado m uda três m eses antes de os pais terem 
me procurado. Q uando eles a trouxeram a m eu consultório, ela 
teve de ser ajudada porque, se fosse deixada por si m esm a, não 
se moveria.
Em m eu consultório, ela se encolheu na cadeira, trem endo, 
os olhos no chão. Tentando m e conectar com em patia com os 
sentim entos e necessidades que estavam sendo expressos a tra­
vés de sua m ensagem não-verbal, eu disse: "Percebo que você es­
tá assustada e gostaria de ter certeza de que é seguro falar. Isso 
está correto?"
Ela não dem onstrou n enhum a reação. Então, expressei 
m eus próprios sentim entos, dizendo: "Estou m uito preocupado 
com você e gostaria que m e dissesse se há algum a coisa que eu 
possa dizer ou fazer para que você se sinta mais segura". Ainda 
não houve n enhum a reação. Pelos quaren ta m inutos seguintes, 
continuei a in terpretar seus sentim entos e necessidades ou a ex­
pressar os m eus próprios. Não houve reação visível, nem 
m esm o o m enor sinal de reconhecim ento de que eu estava te n ­
tando me com unicar com ela. Finalm ente, disse-lhe que estava 
cansado e que gostaria que ela retornasse no dia seguinte.
I MARSHALL B. ROSENBERG I
174
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Os dois dias seguintes foram iguais ao prim eiro. Continuei 
a concentrar m inha atenção nos sentim entos e necessidades 
dela, às vezes expressando verbalm ente o que com preendia e 
outras fazendo isso de forma silenciosa. De vez em quando, eu 
expressava o que estava acontecendo comigo mesmo. Ela fica­
va sentada trem endo em sua cadeira, sem dizer nada.
No quarto dia, quando ela ainda não havia respondido, 
aproxim ei-m e e segurei sua mão. Sem saber se m inhas palavras 
estavam com unicando m inha preocupação, eu esperava que o 
contato físico pudesse fazer isso com mais eficácia. Ao prim eiro 
contato, seus músculos ficaram tensos, e ela se encolheu mais 
ainda em sua cadeira. Eu estava para soltar sua mão quando 
senti que ela estava cedendo ligeiramente; então, continuei se­
gurando. Depois de alguns instantes, percebi um progressivo re ­
laxam ento da parte dela. Segurei sua mão por vários m inutos 
enquanto conversava com ela da m esm a forma como tinha feito 
nos dias anteriores. Ela ainda não disse nada.
Q uando chegou no dia seguinte, ela parecia ainda mais 
tensa do que antes, mas houve um a diferença: ela estendeu 
um a m ão fechada em m inha direção, enquanto virava o rosto 
para longe de mim. Primeiro fiquei confuso com o gesto, mas 
depois percebi que ela tinha algum a coisa na m ão que queria 
que eu pegasse. Pegando sua m ão na m inha, abri seus dedos. Na 
palm a de sua m ão estava um bilhete am arrotado com a seguin­
te mensagem : "Por favor, ajude-m e a dizer o que tenho por 
dentro".
Fiquei extasiado em receber aquele sinal de seu desejo de 
se comunicar. Depois de mais um a hora de encorajam ento, ela 
finalm ente disse um a prim eira frase, devagar e com receio. 
Q uando repeti para ela o que a ouvira dizer, ela pareceu alivia­
da e então continuou a falar, de form a lenta e receosa. Um ano
175
I MARSHALL B. ROSENBERG I
depois, ela m e m andou um a cópia dos seguintes trechos de seu 
diário:
Saí do hospital, para longe dos eletrochoques e dos remédios for­
tes. Isso foi mais ou menos em abril Os três meses depois disso 
estão completamente em branco em minha mente, assim como os 
três anos e meio antes de abril.
Dizem que depois de ter saído do hospital, passei um tempo em 
casa sem comer, sem falar, e querendo ficar na cama o tempo 
todo. Então me encaminharam ao dr. Rosenberg para terapia.
Não me lembro muito dos dois ou três meses seguintes, exceto de 
estar no consultório do dr. Rosenberg e conversar com ele.
Eu tinha começado a "acordar" desde aquela primeira sessão 
com ele. Eu tinha começado a compartilhar com ele coisas que me 
incomodavam, coisas que eu nunca teria sonhado contar a nin­
guém. E me lembro de quanto aquilo significou para mim. Era 
tão difícil falar! Mas o dr. Rosenberg se importava comigo e de­
monstrava isso, e eu queria conversar com ele. Depois das sessões, 
eu sempre ficava contente de ter deixado sair alguma coisa. Lem­
bro-me de ter ficado contando os dias, até mesmo as horas, até 
minha próxima sessão com ele.
Também aprendi que encarar a realidade não é de todo mau.
Estou percebendo cada vez mais as coisas que preciso enfrentar, 
coisas que preciso sair e fazer por mim mesma.
Isso é assustador. E é muito difícil. E é desanimador que, mesmo 
que eu tente com muito empenho, ainda possa fracassar de modo 
tão terrível. Mas a parte boa da realidade é que estou vendo que 
ela também inclui coisas maravilhosas.
No ano que passou, aprendi quanto pode ser maravilhoso com­
partilhar de mim mesma com as outras pessoas. Acho que na ver-
176
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
dade só aprendi uma parte, sobre como é empolgante falar com 
as pessoas e elas realmente escutarem — e às vezes até mesmo 
compreenderem de verdade.
C ontinuo a me espantar com o poder curativo da empatia. 
Repetidas vezes tenho testem unhado pessoas transcendendo os 
efeitos paralisantes da dor psicológica, quando elas têm contato 
suficiente com alguém que as 
possa escu tar com em patia.
Como ouvintes, não precisamos A empatia está em nossa capací-
de insights sobre dinâmica psico- dade de estarmos presentes.
lógica ou de treinam ento em
psicoterapia. O que é essencial é nossa capacidade de estarmos 
presentes em relação ao que realm ente está acontecendo den ­
tro da outra pessoa — em relação aos sentim entos e necessida­
des únicos que um a pessoa está vivendo naquele mesmo ins­
tante.
Resum o
Nossa capacidade de oferecer em patia pode nos perm itir 
continuar vulneráveis, desarm ar situações de violência em po­
tencial, ajudar a ouvir a palavra não sem tom á-la como rejeição, 
reviver um a conversa sem vida e até a escutar os sentim entos e 
necessidades expressos através do silêncio. Repetidas vezes, aspessoas transcendem os efeitos paralisantes da dor psicológica, 
quando elas têm suficiente contato com alguém que as possa es­
cutar com empatia.
177
9 . Conectando-nos 
com passiva mente 
com nós mesmos
Que nós nos tomemos a mudança cjue buscamos no 
mundo.
M a h a t m a G a n d h i
Já vimos como a cnv contri- a utilidade mais importante da
bui para nossos relacionam en- cnv pode ser no desenvolvimento
tos com amigos e com a família, da autocompaixão.
no trabalho e na política. Sua
aplicação mais decisiva, porém , talvez seja na m aneira que tra ­
tam os a nós mesmos. Q uando in ternam ente somos violentos 
para com nós mesmos, é difícil ter um a compaixão verdadeira 
pelos outros.
Lem brando como som os especiais
Na peça M il palhaços, de Herb Gardner, o protagonista se re ­
cusa a entregar o sobrinho de 12 anos às autoridades do servi­
ço social de m enores, declarando: "Quero que ele conheça exa­
tam ente a coisa especial que ele é, senão ele não perceberá 
quando ela começar a ir embora. Quero que ele perm aneça des­
perto e [...] veja [...] as possibilidades mais loucas. Quero que 
ele saiba que vale a pena fazer de tudo só para dar ao m undo
179
I MARSHALL B. ROSENBERG I
um pequeno pontapé quando se tem essa chance. E quero que 
ele saiba a razão sutil, fugidia e im portante pela qual ele nasceu 
um ser hum ano e não um a cadeira".
Estou gravem ente preocupado com o fato de que m uitos de 
nós perdem os a consciência da "coisa especial" que somos; es­
quecemos a "razão sutil, fugidia e im portante" que o tio queria 
tão apaixonadam ente que o sobrinho soubesse. Q uando concei­
tos críticos a respeito de nós m esm os im pedem que vejamos a 
beleza que tem os dentro de nós, perdem os a conexão com a 
energia divina que é nossa origem. Condicionados a nos vermos 
como objetos — e como objetos cheios de falhas — , será su r­
preendente que m uitos de nós acabemos tendo um a relação 
violenta com nós mesmos?
Uma área im portante na qual essa violência pode ser substi­
tuída pela compaixão é na auto-avaliação que fazemos a cada 
m om ento. Como desejamos que todos os nossos atos levem ao 
enriquecim ento de nossa vida, é fundam ental saber como avaliar
mos de maneira que promova , c ,, , ,n r der e a fazer escolhas duradouras
mos ensinados a nos avaliar freqüentem ente conduz mais ao ódio 
por nós mesmos do que ao aprendizado.
A v a l ia n d o a n ó s m e s m o s q u a n d o
FOMOS MENOS QUE PERFEITOS
Numa atividade de rotina em m eus seminários, peço aos 
participantes que se lem brem de alguma ocasião recente em que 
eles fizeram alguma coisa que gostariam de não ter feito. Em se­
guida, observamos como eles falaram consigo mesmos imediata-
Usamos a c n v para nos avaliar- os eventos e condições de m a­neira que nos ajudem a apren-
crescimento, em vez de ódio por 
nós mesmos.
que sirvam a nossos propósitos. 
Infelizmente, a m aneira como fo-
180
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
m ente após terem cometido o que em linguagem com um cham a­
mos de "erro". Algumas frases típicas são: "Isso foi burrice!"; 
"Como pude fazer um a coisa tão idiota?"; "O que há de errado co­
migo?"; "Estou sempre pisando na bola"; "Isso foi tão egoísta!"
Essas pessoas foram ensinadas a julgar a si m esm as de um 
m odo que implica que o que elas fizeram foi errado ou ruim; 
sua auto-recrim inação implícita pressupõe que elas m erecem 
sofrer pelo que fizeram. É trágico que tantos de nós fiquemos 
enredados no ódio por nós mesmos, em vez de nos beneficiar­
mos dos erros, que m ostram nossas limitações e nos guiam em 
direção ao crescimento.
M esm o quando às vezes "aprendem os um a lição" com os 
erros pelos quais nos julgam os com tan ta severidade, p reo ­
cupo-m e com a natureza da energia por trás daquele tipo de 
m udança e aprendizado. Eu gostaria que a m udança fosse esti­
m ulada por um claro desejo de m elhorar nossa vida e a dos o u ­
tros, em vez de por energias destrutivas como a vergonha ou a 
culpa.
Se o m o d o com o nos avaliamos nos faz sentir vergonha, e, 
em conseqüência disso, m udam os nosso com portam ento, esta­
remos perm itindo que nosso crescimento e aprendizado sejam 
guiados pelo ódio por nós mesmos. A vergonha é um a forma de 
ódio por si próprio, e as atitudes tom adas em reação à vergonha 
não são livres e cheias de alegria. M esmo que nossa intenção se­
ja a de nos com portarm os com mais gentileza e sensibilidade, se 
as pessoas sentirem a vergonha ou a culpa por trás de nossas 
ações, será m enos provável que elas apreciem o que fazemos do 
que se form os motivados puram ente pelo desejo h u m a n o de 
contribuir para a vida.
Em nosso vocabulário, há um a palavra com enorm e poder 
de criar vergonha e culpa. Essa palavra violenta, que é com um 
usarm os para avaliar a nós mesmos, está tão profundam ente ar-
181
I MARSHALL B. ROSENBERG I
raigada em nossa consciência que m uitos de nós teriam proble­
mas para im aginar a vida sem ela. É o verbo dever, usado em fra­
ses como em "Eu deveria saber" ou "Eu deveria te r feito aqui­
lo". Na maioria das vezes em que usamos esse verbo com nós 
mesmos, resistimos ao aprendizado, porque "dever" implica que
não há escolha. Seres hum anos, 
ao ouvirem qualquer tipo de
Evite dizer Eu deveria ! exigência, tendem a resistir, por­
que ela ameaça nossa au tono­
mia — nossa forte necessidade de term os escolhas. Temos essa 
reação à tirania m esm o quando se trata da tirania interior, na 
forma de um "deveria".
Uma expressão sem elhante de exigência interior ocorre na 
seguinte auto-avaliação: "O que estou fazendo é sim plesm ente 
terrível. Eu realm ente tenho de fazer algum a coisa a respeito!" 
Pense por um m om ento em todas as pessoas que você já ouviu 
dizerem: "Eu realm ente tenho de parar de fumar". Ou: "Eu real­
m ente tenho que fazer algum a coisa para m e exercitar mais". 
Elas vivem dizendo o que "devem" fazer e vivem resistindo a 
fazê-lò, porque seres hum anos não foram feitos para ser escra­
vos. Nós não fomos feitos para sucum bir às ordens do "dever" e 
do "tenho de", venham elas de fora ou de dentro de nós m es­
mos. E, se viermos a ceder e nos subm eter a essas ordens, nos­
sas ações se originarão de um a energia destituída da alegria de 
viver.
T raduzindo julgam entos sobre si m esm o
E EXIGÊNCIAS INTERNAS
Quando continuam ente nos com unicam os com nós m es­
mos por meio de julgam entos, culpa e exigências internas, não
182
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
surpreende que a auto-im agem corresponda ao sentim ento de 
que somos "mais parecidos com um a cadeira do que com um 
ser hum ano". Uma prem issa básica da cnv é que ao julgarmos 
que alguém está errado ou agindo mal, o que estamos realm en­
te dizendo é que essa pessoa não está agindo em harm onia com 
nossas necessidades. Se por acaso julgam os a nós mesmos, o 
que estam os dizendo é: "Eu
m esm o não estou agindo em Julgamentos de si mesmo, assim
harm onia com m inhas próprias como todos os julgamentos, são
necessidades". Estou convenci- expressões trágicas de nossas ne-
do de que, se aprendem os a nos cessidades insatisfeitas.
avaliar em term os de se e em
que grau nossas necessidades estão sendo preenchidas, é mais 
provável que aprendam os algum a coisa com essa avaliação.
Então, quando estamos fazendo algo pouco enriquecedor, 
nosso desafio é o de nos auto-avaliarm os a cada m om ento de 
form a tal que leve a um a m udança:
(1) na direção em que gostaríamos de ir, e
(2) por respeito e compaixão para com nós mesmos, em vez 
de por ódio, culpa ou vergonha.
0 LUTO NA CNV
Depois de um a vida inteira de educação formal e socializa­
ção, provavelm ente é tarde demais para a m aioria de nós tre i­
narm os nossa m ente a pensar só em term os do que precisamos 
e valorizamos a cada m om ento. Entretanto, do m esm o modo 
que aprendem os a traduzir julgam entos quando conversamos 
com os outros, podem os nos treinar para reconhecer quando 
nosso diálogo interno é baseadoem julgam entos e m udar o foco 
da atenção para nossas necessidades subjacentes.
183
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Por exem plo, se nos percebem os reagindo com recrim ina­
ção a algo que fizemos ("Veja só, estraguei tudo de novo!"), 
podem os parar rapidam ente e nos questionar: "Que necessida­
de m inha não foi atendida e está sendo expressa por meio 
desse ju lgam ento m oral?" Q uando efetivam ente nos conecta­
mos a nossas necessidades — e pode haver várias camadas 
delas —, percebem os um a notável m udança em nosso corpo. 
Em vez da vergonha, culpa ou depressão que provavelm ente 
sentim os quando nos criticamos por term os "estragado tudo 
de novo'', terem os um núm ero variado de sentim entos. Seja 
tristeza, frustração, decepção, m edo, angústia ou qualquer 
ou tro sentim ento, a natu reza nos dotou deles com um a finali­
dade: eles nos m obilizam para agir, perseguindo e realizando o 
que precisam os ou valorizamos. O im pacto desses sentim entos 
em nosso espírito e em nosso corpo é substancialm ente dife­
ren te da desconexão que é causada pela culpa, vergonha e de­
pressão.
Na cnv, o processo de luto ajuda-nos a entrar em conexão 
plena com as necessidades insatisfeitas e com os sentim entos
que são gerados quando fomos 
m enos que perfeitos. É um a ex­
periência de arrepend im ento , 
mas um tipo de arrependim en­
to que nos ajuda a aprender 
com o que fizemos, sem nos 
culparm os ou nos odiarm os. 
Vemos como nosso com porta­
m ento foi contrário às nossas próprias necessidades e valores, e 
nos abrimos a sentim entos que se originam dessa consciência. 
Q uando a consciência se concentra naquilo que de fato precisa­
mos, somos naturalm ente impelidos a agir em direção a possi-
Lamentar na c n v : conectar-nos 
com os sentimentos e necessida­
des não-atendidas que foram es­
timulados por ações passadas 
pelas quais agora nos arrepen­
demos.
184
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
bílidades mais criativas para que aquela necessidade seja a ten ­
dida. Ao contrário dos julgam entos moralizadores de quando 
nos culpamos, que tendem a obscurecer tais possibilidades e a 
perpetuar um estado de autopunição.
P erdoando a nós m esm o s
Passamos do processo de enlutar para o perdão a nós m es­
mos. Voltando a atenção àquela parte de nós que escolheu agir 
daquela m aneira, levando à situação atual, nos questionam os: 
"Q uando m e com portei da m aneira da qual agora m e arrepen ­
do, qual de m inhas necessidades eu buscava atender?" Acredi­
to que os seres hum anos estão sempre a serviço de necessidades 
e valores. Isso é verdadeiro tan to se a ação atender à necessida­
de quanto se não atender a ela, e tanto se acabarmos com em o­
rando a ação quanto se nos arrependerm os dela.
Q uando escutamos a nós m esm os com empatia, ouvimos 
tam bém as necessidades subjacentes. O perdão a nós mesmos 
ocorre no m om ento em que essa conexão empática acontece. 
Somos então capazes de reconhecer que nossa escolha foi um a 
te n ta tiv a de serv ir à v ida, 
m esm o que o processo de lu to 
ten h a nos m ostrado como ela 
falhou em atender a nossas n e ­
cessidades.
Um aspecto im portante da 
autocom paixão é sermos capa­
zes de te r em patia por ambas as partes de nós mesmos: a parte 
que se arrepende de um a ação passada e a parte que executou 
aquela ação. Os processos de lu to e perdão a nós m esm os nos 
libertam no sentido do aprendizado e do crescimento. Conec­
Perdõo a nós mesmos na c n v : co­
nectar-nos com a necessidade 
que estávamos tentando atender 
quando tomamos a atitude da 
qual agora nos arrependemos.
185
I MARSHALL B. ROSENBERG I
tando-nos a cada m om ento com nossas necessidades, au m en ­
tam os nossa capacidade criativa de agirmos em harm onia com 
elas.
A LIÇÃO DO TERMO DE BOLINHAS
Eu gostaria de ilustrar os processos de luto e perdão a nós 
mesmos lem brando um acontecim ento pessoal. No dia anterior 
a um im portante seminário, comprei um terno leve cinza-claro 
para usar no evento. No final do concorrido seminário, um e n ­
xam e de participantes me abordou pedindo m eu endereço, a u ­
tógrafo ou outras informações. Com a hora de outro com pro­
misso se aproxim ando, apressei-me em atender às solicitações 
dos participantes, assinando e rabiscando em m uitos pedaços de 
papel à m inha frente. E nquanto saía correndo pela porta, enfiei 
m inha caneta — sem a tam pa — no bolso de m eu terno novo. 
Uma vez lá fora, descobri, para m eu horror, que em vez do lindo 
terno cinza-claro, eu agora tinha um terno de bolinhas!
D urante vinte m inutos, fui agressivo comigo mesmo: "Co­
mo pude ser tão descuidado? Que coisa mais estúpida de fazer!" 
Eu havia acabado de arru inar um terno novinho: se algum a vez 
eu precisei de compaixão e compreensão, foi naquele m om en­
to; no entanto, ali estava eu respondendo a m im m esm o de 
um a m aneira que estava me fazendo sentir pior do que nunca.
Felizmente, depois de apenas vinte m inutos, percebi o que 
estava fazendo. Parei, procurei ver qual necessidade m inha não 
tinha sido atendida quando botei a caneta sem tam pa no bolso 
e me perguntei: "Qual é a necessidade que está por trás de eu 
m e julgar 'descuidado' e 'idiota'?"
Vi im ediatam ente que era a necessidade de cuidar m elhor 
de m im mesmo: de ter dado mais atenção às m inhas necessida-
186
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
des enquanto eu corria para atender às necessidades dos outros. 
Assim que toquei essa parte de m im mesmo e me conectei ao 
desejo profundo de ser mais consciente e cuidadoso com m i­
nhas próprias necessidades, m eus sen tim entos m udaram . 
Houve um a liberação de tensão em m eu corpo, à m edida que se 
dissiparam a raiva, a vergonha e a culpa que eu estava abrigan­
do em relação a m im mesmo. Fiz m eu luto pelo terno arruinado 
e a caneta sem tam pa, enquanto m e abria para sentim entos de 
tristeza que agora apareciam ju n tam en te com a vontade de cui­
dar m elhor de m im mesmo.
Em seguida, voltei m inha atenção para a necessidade que eu 
estava atendendo quando coloquei a caneta sem tam pa em m eu 
bolso. Reconheci quanto eu dava valor ao cuidado e à conside­
ração para com as necessidades das outras pessoas. É claro que, 
ao cuidar tão bem das necessidades dos outros, eu não dem ons­
trara um respeito similar a m im mesmo. Mas, em vez de me cul­
par, senti um a onda de compaixão por m im mesmo, à m edida 
que percebia que até m inha pressa e o ato de guardar a caneta 
sem pensar se originavam do fato de eu atender à m inha própria 
necessidade de responder aos outros de forma atenciosa.
Nessa posição de compaixão, consigo acom odar ambas as 
necessidades: por um lado, a de responder de forma atenciosa às 
necessidades dos outros, e, por
te em situações sem elhantes e
chegar a soluções com mais habilidade do que se perder essa 
consciência n u m m ar de julgam entos sobre m im mesmo.
outro, a de ter mais consciência 
e cuidado comigo. Estando cons­
ciente de ambas as necessidades, 
consigo im aginar m aneiras de 
m e com portar de m odo diferen-
Temos compaixão para conosco 
quando conseguimos acomodar 
to das as partes de nós mesmos e 
reconhecer as necessidades e va­
lores expressos por cada uma 
dessas partes.
I MARSHALL B. ROSENBERG I
“ MÃO FAÇA NADA QUE NÃO SEJA POR PRA ZER!”
Além dos processos de luto e perdão a nós mesmos, um as­
pecto da autocom paixão que costum o enfatizar é a energia por 
trás de qualquer ação que realizamos. Q uando aconselho "Não 
faça nada que não seja por prazer", alguns acham que sou radi­
cal ou até m esm o louco. Entretanto, acredito sinceram ente que 
um a forma im portante de autocom paixão é fazer escolhas m o­
tivadas puram ente por nosso desejo de contribuir para a vida, e 
não por medo, culpa, vergonha, dever ou obrigação. Quando 
tem os consciência do propósito enriquecedor para a vida que 
está por trás de um a ação que fazemos, quando a energia da
alma que nos m otiva é simples­
m ente a de to rnar a vida mara­
vilhosa para nós e para os ou ­
tros, então até o trabalho duro 
contém um elem ento de prazer. 
Inversam ente, um a atividade 
que dg outro m odo seria prazerosa deixa de sê-lo se for execu­
tada por obrigação, dever, medo, culpa ou vergonha, e acabará 
gerando resistência.
No capítulo 2, consideramos substituir um a linguagem que 
implica falta de alternativas por outra que reconhece a possibi­
lidade de escolha. Muitos anos atrás, comecei um a atividade 
que aum entou significativamente a quantidade de prazer e ale­
gria disponíveis em m inha vida, enquanto dim inuía a depres­
são, a culpa e a vergonha. Ofereço-a aqui como um a m aneira 
possível de aprofundar a compaixão por nós m esm os e nos a ju ­
dar a viver nossa vida a partir de atividades prazerosas, através 
de nossa perm anência num a clara consciência da necessidade 
enriquecedora da vida que está por trás de tudo o que fazemos.
Queremos agir motivados pelo 
desejo de contribuir para a vida, 
e não por medo, culpa, vergonha 
ou obrigação.
188
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
S u b s t i tu in d o “t e n h o d e e a z e r ” f o r “e s c o lh o f a z e r ” 
Primeiro passo
O que você faz em sua vida que você não sente ser praze­
roso? Relacione num pedaço de papel todas as coisas que você 
diz a si m esm o que tem de fazer, qualquer atividade que você 
deteste mas faz assim mesmo, porque percebe que não tem es­
colha.
Quando revisei m inha própria lista pela prim eira vez, só o 
fato de ver quanto ela era grande me deu um insight a respeito 
de por que tanto de m eu tem po era gasto sem apreciar a vida. 
Percebi quantas coisas eu estava fazendo n u m dia com um me 
convencendo a acreditar que eu tinha de fazê-las.
O prim eiro item de m inha lista foi "escrever laudos clíni­
cos". Eu detestava fazer aqueles laudos, mas passava pelo 
m enos um a hora de agonia fazendo-os todos os dias. M eu se­
gundo item foi "levar as crianças para a escola de carro em m eu 
dia do rodízio de carona".
Segundo passo
Depois de com pletar a lista, reconheça claram ente para si 
m esm o que você está fazendo essas coisas porque escolheu fa­
zê-las, não porque você tem de fazê-las. Coloque a palavra esco­
lho na frente de cada item que você listou.
Lem bro-m e de m inha própria resistência a esse passo. "Es­
crever laudos clínicos", insisti comigo mesmo, "não é algo que 
eu escolha fazer! Eu tenho de fazê-los. Sou psicólogo clínico. 
Tenho de escrever esses laudos".
Terceiro passo
Depois de ter reconhecido que você escolheu fazer um a ati­
vidade específica, entre em contato com a intenção por trás da
189
I MARSHALL B. ROSENBERG I
escolha com pletando a frase: "Escolho porque quero
Inicialmente, tive dificuldade para identificar o que eu que­
ria quando escrevia m eus laudos. Vários meses antes, já havia 
concluído que os laudos não eram úteis o bastante para m eus 
pacientes para justificar o tem po que eles m e tom avam ; então, 
por que eu continuava a investir tanta energia em sua elabora­
ção? Acabei percebendo que estava escolhendo escrever os lau ­
dos unicam ente porque queria a renda que eles ofereciam. Des­
de que reconheci isso, nunca mais escrevi outro laudo. Não 
posso descrever quanto fico feliz só de pensar em quantos lau ­
dos clínicos deixei de escrever desde aquele m om ento, 35 anos 
atrás! Quando percebi que o dinheiro era m inha m otivação p ri­
mária, im ediatam ente vi que poderia encontrar outras m anei­
ras de cuidar de m im mesmo do ponto de vista financeiro, e que 
de fato eu preferiria procurar comida nas latas de lixo a escre­
ver outro laudo clínico.
nei o m otivo por trás daquela tarefa, apreciei os benefícios que 
m eus filhos estavam tendo por freqüentarem aquela escola. 
Eles poderiam facilmente cam inhar até a escola do bairro, mas 
a escola onde eles estudavam estava bem mais em harm onia 
com m eus valores educacionais. Continuei a levar as crianças 
para a escola, mas com um a energia diferente: em vez de "Ah, 
não, hoje é m eu dia no rodízio de carona para a escola", eu es­
tava consciente de m eu propósito, que era dar a m eus filhos um a 
qualidade de educação que era m uito im portante para mim. É 
claro que, enquanto dirigia, eu às vezes precisava m e lem brar
A cada escolha que você fizer, es­
teja consciente de que necessida­
de ela atende.
O próxim o item de m inha 
lista de tarefas desagradáveis era 
levar as crianças de carro para a 
escola. Porém, quando exami-
190
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
um as duas ou três vezes de concentrar m inha m ente no propó­
sito ao qual m inha ação estava servindo.
C u l t iv a n d o a c o n s c iê n c ia d a e n e r g ia
POR TRÁS DE NOSSAS AÇÕES
Ao explorar a frase "E scolho______porque q u e ro ______ ",
você pode descobrir — como aconteceu comigo no caso do ro ­
dízio de carona das crianças — que há valores im portantes por 
trás das escolhas que você fez. Estou convencido de que depois 
que ganham os clareza a respeito da necessidade que está sendo 
atendida por nossas ações, podem os sentir estas como prazero­
sas, m esm o quando envolvem trabalho duro, desafios ou frus­
trações.
Para alguns itens de sua lista, porém , você pode descobrir 
um a ou mais das seguintes motivações:
1. Por dinheiro
O dinheiro é um a das principais formas de recom pensa ex­
trínseca em nossa sociedade. As escolhas m otivadas por um de­
sejo de recom pensa acabam custando caro: elas nos privam da 
alegria de viver que vem das ações que são baseadas na clara in ­
tenção de contribuir para um a necessidade hum ana. O dinhei­
ro não é um a "necessidade", tal como a definimos na cnv; é 
um a das inúm eras estratégias que podem ser selecionadas para 
atender a um a necessidade.
2. Por aprovação
Assim como o dinheiro, a aprovação dos outros é um a 
forma de recom pensa extrínseca. Nossa cultura nos educou
191
I MARSHALL B. ROSENBERG I
para term os fome de recompensas. Freqüentam os escolas que 
utilizavam meios extrínsecos para nos m otivar a estudar; cres­
cemos em lares onde éramos recom pensados por sermos bons 
m eninos e m eninas, e punidos quando nossos responsáveis ju l­
gavam que não o tínham os sido. Assim, como adultos, facil­
m ente nos convencemos a acreditar que a vida consiste em 
fazer coisas em troca de recompensas; estamos viciados em ga­
nh ar sorrisos, tapinhas nas costas e julgam entos verbais de que 
somos "boas pessoas", "bons pais", "bons cidadãos", "bons tra­
balhadores", "bons amigos" etc. Fazemos coisas para que as pes­
soas gostem de nós, e evitamos coisas que possam levá-las a não 
gostar de nós ou a nos punir.
Acho trágico que trabalhem os tão duro para com prar amor 
e presum am os que precisamos nos anu lar e fazer coisas para os 
outros para que gostem de nós. Na verdade, é quando faze­
mos as coisas puram ente no espírito de m elhorar a vida que 
vem os os outros nos apreciando. Essa apreciação, porém , é ape­
nas um m ecanism o de feedback que confirma que nossos esfor­
ços tiveram o efeito desejado. O reconhecim ento de que esco­
lhem os usar nossa capacidade para servir à vida e que fizemos 
isso com sucesso nos traz a verdadeira alegria de celebrar a nós 
mesmos de um a m aneira que a aprovação dos outros nunca p o ­
derá nos oferecer.
3. Para evitar uma punição
Alguns de nós pagam imposto de renda prim ariam ente 
para evitar a punição. Como conseqüência, é provável que nos 
aproxim em os desse ritual anual com certo grau de ressentim en­
to. Eu m e lembro, porém , de como em m inha infância m eu pai 
e m eu avô pensavam de modo diferente a respeito do pagam en-
192
T ~ * r
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
to de impostos. Eles haviam emigrado da Rússia para os Estados 
Unidos e tinham vontade de apoiar um governo que eles acre­
ditavam estar protegendo as pessoas de um a m aneira que o czar 
não fizera. Im aginando as m uitas pessoas cujo bem -estar estava 
sendo garantido pelo dinheiro de seus impostos, eles sentiam 
um sincero prazer ao m andaremseus cheques para o governo 
am ericano.
4. Para evitar a vergonha
Pode haver algumas tarefas que escolhemos fazer simples­
m ente para evitar a vergonha. Sabemos que, se não as fizermos, 
acabarem os sofrendo Um severo julgam ento sobre nós mesmos 
e escutarem os nossa própria voz nos dizendo que há algo de e r­
rado ou de estúpido conosco. Se fizermos algum a coisa estim u­
lados som ente pelo anseio de evitar a vergonha, geralm ente 
acabarem os por detestar aquilo.
5. Para evitar a culpa
Em outras ocasiões, podem os pensar: "Se eu não fizer isso, 
as pessoas ficarão desapontadas comigo". Temos m edo de aca­
bar sentindo culpa por deixar­
mos de satisfazer as expectativas 
das outras pessoas em relação a 
nós. Há um m undo de diferença 
entre fazer algum a coisa pelos 
outros para evitar a culpa e 
fazê-la por causa de um a clara 
consciência de nossa própria
necessidade de contribuir para a felicidade de outros seres h u ­
manos. A prim eira alternativa representa um m undo cheio de 
infelicidade; a segunda, um m undo cheio de prazer.
Esteja consciente das ações mo­
tivadas pelo desejo por dinheiro 
ou pela aprovação dos outros, ou 
pelo medo, vergonha ou culpa, 
saiba o preço que você paga por 
elas.
193
I MARSHALL B. ROSENBERG I
6. Por dever
Q uando usamos um a linguagem que nega a possibilidade 
de escolha — por exemplo, term os e expressões como deveria, 
tenho de, preciso, não posso, esperam que eu faça etc. —, nosso com ­
portam ento surge de um vago sentim ento de culpa, dever ou 
obrigação. Considero essa a mais socialmente perigosa e pes­
soalm ente desafortunada de todas as m aneiras pelas quais agi­
mos quando somos isolados de nossas necessidades.
No capítulo 2, vimos como o conceito da Amtssprache p e r­
m itiu que Adolf E ichm ann e seus colegas m andassem dezenas 
de m ilhares de pessoas para a m orte, sem se sentirem em ocio­
nalm ente afetados ou pessoalm ente responsáveis. Q uando fala­
mos um a linguagem que nos nega a possibilidade de escolha, 
renunciam os à vida em nós m esm os por um a m entalidade de 
robô que nos separa de nossa própria essência.
Depois de exam inar a lista 
O comportamento mais perigoso de itens que criou você taIvez
de todos pode consistir em fazer decida parar de fazer certas coi- 
as coisas “porque esperam que sas no m esmo espírito em que 
façamos. escolhi deixar de lado os laudos
clínicos. Pode parecer radical, 
mas é possível fazer as coisas som ente por prazer. Acredito que 
à m edida que nos engajamos de m om ento a m om ento no p ra ­
zer de enriquecer a vida — m otivados som ente pelo desejo de 
enriquecê-la — nos compadecemos de nós mesmos.
R esum o
A aplicação mais crucial da cnv pode ser em como tratam os 
a nós mesmos. Quando com etem os erros, podem os utilizar os 
processos de luto e perdão da cnv para nos m ostrar onde pode-
194
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
mos crescer, em vez de nos enredarm os em julgam entos m ora- 
lizadores sobre nós mesmos. Ao avaliarmos nosso com porta­
m ento em term os de nossas próprias necessidades não-atendi- 
das, o ím peto pela m udança surge não da vergonha, culpa, 
raiva ou depressão, mas de nosso genuíno desejo de contribuir 
para o nosso bem -estar e o dos outros.
Também cultivam os a autocom paixão ao escolhermos 
conscientem ente em nóssa vida diária agir apenas a serviço de 
nossas próprias necessidades e valores, em vez de por obrigação, 
por recom pensas extrínsecas, ou para evitar a culpa, a vergonha 
ou a punição. Se revisarmos as ações sem alegria às quais cos­
tum am os nos sujeitar e substituirm os "tenho de fazer" por "es­
colho fazer", descobriremos mais prazer e integridade em nossa 
vida.
195
1 0 . Expressando 
a raiva 
plenamente
O assunto da raiva nos dá um a oportunidade única de m er­
gulharm os mais profundam ente na cnv. Devido ao fato de ex­
por m uitos aspectos desse processo a um exam e minucioso, a 
expressão da raiva claram ente dem onstra a diferença entre a 
cnv e outras formas de comunicação.
Gostaria de sugerir que m atar pessoas é superficial demais. 
Matar, espancar, culpar, ferir os outros — física ou m entalm en­
te — são todas expressões superficiais do que acontece dentro 
de nós quando sentimos raiva. Se estivermos verdadeiram ente 
com raiva, vamos querer um a m aneira m uito mais poderosa de 
nos expressarmos.
Essa com preensão vem Matar pessoas é superficial de-
como u m alívio para m uitos mais.
grupos com os quais trabalho
que sofrem opressão e discriminação e desejam aum entar seu 
poder de provocar m udanças. Grupos como esses ficam inqu ie­
tos quando ouvem o term o "comunicação não-violenta" ou a
197
I MARSHALL B. ROSENBERG I
palavra "compaixão", porque foram m uitas vezes forçados a su­
focar sua raiva, acalmar-se e aceitar o statu quo. Eles desconfiam 
de abordagens que vêem sua raiva como um a qualidade inde­
sejável que precisa ser expurgada. Entretanto, o processo que 
estamos descrevendo não nos encoraja a ignorar, sufocar ou e n ­
golir a raiva, m as sim a expressar a essência de nossa raiva, 
com pletam ente e de todo o coração.
D is t in g u in d o e s t ím u l o e c a u s a
O prim eiro passo para expressarm os com pletam ente a raiva 
na cnv é dissociar a outra pessoa de qualquer responsabilidade 
por nossa raiva. Livramo-nos de pensam entos como "essa pes­
soa me deixou com raiva quando fez aquilo". Esse tipo de p en ­
sam ento nos leva a expressar nossa raiva superficialmente, cul­
pando ou punindo a outra pessoa. Vimos anteriorm ente que o
causa do que outra pessoa fez. Podemos identificar o com porta­
m ento da outra pessoa como estímulo, mas é im portante esta­
belecermos um a clara diferenciação entre estím ulo e causa.
Gostaria de ilustrar essa distinção com um exem plo de m eu 
trabalho n um a prisão sueca. M inha tarefa era m ostrar a prisio­
neiros que haviam se com portado de modo violento como ex­
pressar com pletam ente sua raiva, em vez de matar, espancar ou 
estuprar outras pessoas. D urante um exercício que pedia que 
eles identificassem o estím ulo para sua raiva, um prisioneiro es­
creveu: "Três sem anas atrás, fiz um pedido às autoridades da 
prisão e elas ainda não responderam ". Sua frase foi um a clara
Nunca ficamos com raiva por 
causa do que os outros dizem ou 
fazem.
com portam ento dos outros p o ­
de ser um estím ulo para nossos 
sentim entos, mas não a causa. 
Nunca ficamos com raiva por
198
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
observação de um estímulo, descrevendo o que outras pessoas 
fizeram.
Então pedi a ele que identificasse a causa de sua raiva: 
"Quando isso aconteceu, você ficou com raiva por causa do quê7"
"Acabei de lhe dizer!", ele exclamou. "Fiquei com raiva p o r­
que eles não responderam a m eu pedido!" Ao igualar estímulo e 
causa, ele havia se convencido a pensar que fora o com porta­
m ento das autoridades da prisão que o fizera ficar com raiva. 
Esse é um hábito fácil de adquirir num a cultura que usa a culpa 
como meio de controlar ^s pessoas. Nessas culturas, torna-se im ­
portante enganar as pessoas para que elas pensem que podemos 
fazer os outros se sentirem de determ inada maneira.
Q uando a culpa é um a tática de m anipulação e coerção, é 
útil confundir estím ulo e causa. Como m encionei antes, crian­
ças que ouvem que "M amãe e
papai ficam tristes quando você Para motivar pela culpa, misture
tira notas ruins" são levadas a estímulo e causa, 
acred itar que seu com porta­
m ento é a causa do sofrim ento dos pais. A m esm a dinâmica é 
observada entre parceiros íntimos: "Fico realm ente desaponta­
da quando você não está aqui em m eu aniversário". Nossa lin ­
guagem facilita o uso dessa tática indutora de culpa.
Dizemos: "Você m e faz ficar com raiva", "Você me magoa 
fazendo isso", "Estou triste porque você fez aquilo". Usamos 
nossa própria linguagem de m uitas m aneiras diferentes para 
nos iludirm os com a crença de que nossos sentim entos resultam 
do que os outros fazem. O prim eiro passono processo de ex­
pressar p lenam ente nossa raiva é perceber que o que as outras 
pessoas fazem nunca é a causa de como nos sentimos.
Então, qual é a causa da raiva? No capítulo 5, discutimos as 
quatro opções que tem os quando confrontados com um a m en-
199
I MARSHALL B. ROSENBERG I
A causa da raiva está em nosso sa§em ou um com portam ento 
pensamento - em idéias de cul- de c!ue não gostamos. A raiva é 
pa e julgamento. gerada (l uando escolhemos a se­
gunda opção: sem pre que esta­
mos com raiva, estamos julgando alguém culpado — escolhe­
mos brincar de Deus julgando ou culpando a outra pessoa por 
estar errada ou m erecer um a punição. Eu gostaria de sugerir 
que essa é a causa da raiva. Mesmo que de início não tenham os 
consciência disso, a causa da raiva está localizada em nosso p ró ­
prio pensam ento.
A terceira opção descrita no capítulo 5 é fazer brilhar a luz 
da consciência sobre nossos próprios sentim entos e necessida­
des. Em vez de usarm os nosso raciocínio para fazer um a análi­
se m ental do que alguém fez de errado, optam os por nos conec­
tarm os á vida que está dentro de nós. Essa energia vital é mais 
palpável e acessível quando nos concentram os no que precisa­
mos a cada m om ento.
Por exemplo, se alguém chega atrasado para um com pro­
misso e precisamos saber que a pessoa se im porta conosco, p o ­
demos nos sentir magoados. Se, em vez disso, nossa necessidade 
é passar o tem po de forma útil e construtiva, podem os nos sen ­
tir frustrados. Mas, se, por outro lado, precisamos m esm o é de 
m eia hora de solidão calma, podem os nos sentir gratos pelo 
atraso da pessoa e ficar satisfeitos com isso. Assim, não é o com ­
portam ento das outras pessoas, e sim nossas próprias necessida­
des que causam nossos sentim entos. Quando estamos conecta­
dos a nossas necessidades, sejam elas de encorajam ento, de ter 
um propósito útil ou de solidão, estamos em contato com nossa 
energia vital. Podemos ter sentim entos fortes, mas nunca fica­
mos com raiva. A raiva é o resultado de pensam entos alienan- 
tes da vida que estão dissociados de nossas necessidades. Ela in ­
200
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
dica que acionam os nossa cabeça para analisar e julgar alguém, 
em vez de nos concentrarm os em quais de nossas necessidades 
não estão sendo atendidas.
Além dessa terceira opção, de nos concentrarm os em nos­
sas próprias necessidades e sentim entos, podem os escolher a 
qualquer m om ento fazer brilhar a luz da consciência nos senti­
m entos e necessidades da outra pessoa. Quando escolhemos 
essa quarta opção, tam bém nunca sentimos raiva. Não estamos 
reprim indo a raiva; estamos vendo como a raiva simplesmente 
não acontece a cada m om ento em que estamos plenam ente p re ­
sentes com os sentim entos e necessidades da outra pessoa.
T oda raiva tem um âmago que serve à vida
"Mas", você me perguntará, "não há circunstâncias nas 
quais a raiva é justificável? Não é necessário ter 'justa 
indignação' ante a poluição descuidada e irrefletida do am bien­
te, por exem plo?" M inha resposta é que acredito firm em ente 
que sem pre que apóio em qualquer grau a consciência de que 
há coisas tais como "ações descuidadas", "ações conscienciosas", 
"pessoas gananciosas" ou "pes­
soas éticas", estou contribuindo Quando julgamos os outros, con- 
para com a violência neste pia- tribuímos para a violência 
neta. Em vez de concordarm os
ou discordarm os a respeito do que são as pessoas que m atam , 
estupram ou poluem o am biente, acredito que serviremos m e­
lhor à vida se concentrarm os nossa atenção nas nossas neces­
sidades.
Vejo toda raiva como resultado de pensam entos alienantes 
da vida e causadores de violência. No âmago de toda raiva está 
um a necessidade que não está sendo atendida. Assim, a raiva
201
I MARSHALL B. ROSENBERG I
pode ser valiosa se a utilizarmos como um despertador para nos 
acordar — para perceberm os que tem os um a necessidade que 
não está sendo atendida, e que estamos pensando de m aneira 
tal que torna im provável que ela venha a ser atendida. Para ex­
pressarmos p lenam ente a raiva, precisamos ter plena consciên­
cia dessa nossa necessidade. Além disso, é preciso ter energia 
para fazer que essa necessidade seja atendida. A raiva, porém, 
nos rouba energia ao direcioná-la para punir as pessoas, em vez
de a tender a nossas necessida- 
Use a raiva como um chamado des. Em vez de entrarm os em
de despertar. "justa indignação", recom endo
que nos conectemos com empa- 
tia a nossas próprias necessidades ou às dos outros. Isso pode 
exigir um a grande prática, em que repetidas vezes substituímos 
conscientem ente a frase "Estou com raiva porque eles..." por 
"Estou com raiva porque estou precisando de...".
Certa vez me ensinaram um a lição notável, quando eu traba­
lhava com alunos de um reformatório infantil em Wísconsin. Em 
dois dias consecutivos, m eu nariz foi atingido de maneiras no ta­
velmente semelhantes. Da primeira vez, levei um a dura cotovela­
da quando intercedia num a briga entre dois alunos. Fiquei tão ira­
do que tive de me controlar para não revidar o golpe. Nas ruas de
Detroit, onde eu cresci, era preci- 
A raiva nos rouba energia ao di- so bem m enos do que um a coto- 
rigi-la para ações punitivas. velada no nariz para me deixar
furioso. No segundo dia, enfren­
tei situação semelhante, fui atingido no mesmo nariz (e portanto 
com mais dor física), contudo sem nem um a pontinha de raiva!
Ao refletir profundam ente sobre a experiência naquela no i­
te, reconheci que em m inha m ente eu havia rotulado a primeira 
criança como um "moleque mimado". Aquela imagem estava em
202
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
m inha cabeça antes mesmo que seu cotovelo atingisse m eu nariz, 
e, quando isso aconteceu, já não era mais simplesmente um co­
tovelo atingindo m eu nariz. Era: "Aquele m oleque malcriado não 
tinha o direito de fazer isso!" Fiz outro juízo da segunda criança; 
vi-a como um a "criatura comovente". Já que eu tinha um a te n ­
dência a m e preocupar com essa criança, embora m eu nariz esti­
vesse mais m achucado e sangrando m uito mais gravemente no 
segundo dia, não senti raiva nenhum a. Eu não poderia ter rece­
bido um a lição mais poderosa para me ajudar a ver que não é o 
que a outra pessoa faz, mas as imagens e as interpretações em 
m inha própria cabeça que provocam m inha raiva.
E s t í m u l o v e r s u s c a u s a : im p l ic a ç õ e s p r á t i c a s
Enfatizo a distinção entre causa e estím ulo por razões p rá­
ticas e táticas, além de filosóficas. Gostaria de ilustrar esse ponto 
voltando a m eu diálogo com John, o prisioneiro sueco:
Jo hn Três semanas atrás, f i z uma solicitação às autoridades da 
prisão e elas ainda não responderam a meu pedido.
eu Então, quando isso aconteceu, você ficou com raiva por 
causa do quê?
JOHN Acabei de lhe dizer. Eles não responderam a meu pedido!
eu Espere aí. Em vez de dizer "Estou com raiva porque 
eles...", pare e tom e consciência do que você está dizen­
do a si mesmo que está lhe dando tan ta raiva.
Jo hn Não estou dizendo nada a mim mesmo.
eu Pare, vá devagar, apenas escute o que está acontecendo 
dentro de você.
John (após re fle tir um pouco em silêncio) Estou dizendo a 
mim mesmo que eles não têm respeito por seres hum a-
203
I MARSHALL B. ROSENBERG I
nos; eles são um bando de burocratas frios e sem alma
que não ligam a m ínim a para ninguém, a não ser para
eles mesmos! Eles são um verdadeiro bando de...
eu Obrigado, já basta. Agora você sabe por que está com 
raiva — é esse tipo de pensamento.
Jo hn Mas o que há de errado em pensar dessa maneira?
eu Não estou dizendo que há a lgo de errado em pensar
dessa maneira. Observe que se eu disser que há algo de 
errado com você por pensar dessa maneira, estarei pen­
sando da mesma maneira a respeito de você. Eu não 
disse que é e r ra d o ju lg ar as pessoas, cham á-las de "bu­
rocratas sem alma" ou de ro tular suas ações como sem 
consideração ou egoístas. Entretanto,é esse tipo de pen­
sam ento de sua parte que faz com que você sinta m uita 
raiva. Concentre sua atenção em suas necessidades; quais 
são elas, nessa situação?
JOHN (d e p o is d e u m lo n g o s i lê n c io ) Marshall, eu preciso do 
curso que estou pedindo. Se eu não o tiver, com tan ta 
certeza quanto o fa to de que estou sentado aqui agora,
• vou acabar voltando para essa prisão depois de ter 
saído.
eu Agora que sua atenção está em suas necessidades, como 
você se sente?
Jo hn Com medo.
eu Agora, coloque-se no lugar de uma autoridade da pri­
são. Se eu fo r um prisioneiro, é mais provável que con­
siga a tend er a m inhas neces- 
Quando tomamos consciência de sidades se eu v ier a té você
nossas necessidades, a raiva cede dizendo; “Ei, realm ente preciso
lugar a sentimentos que servem desse curso e tenho medo do
à v ida. que vai acontecer comigo se
204
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
eu não conseguir...', ou se eu o abordar enxergando em 
você um burocrata sem rosto? Mesmo que eu não diga 
essas palavras em voz alta, meus olhos revelarão esse 
tipo de pensamento. De que maneira é mais provável 
que eu tenha minhas necessidades atendidas?
(John olha fixam ente para o chão, sem dizer nada.)
eu Ei, cara, o que está acontecendo?
Jo hn Não posso fa lar sobre isso.
Três horas depois, John se 
aprox im ou de m im e disse:
"Marshall, eu queria que você 
tivesse m e ensinado dois anos 
atrás o que m e ensinou esta 
m anhã. Eu não teria m atado m eu m elhor amigo".
Toda violência resulta de as pessoas se iludirem, como 
aquele jovem prisioneiro, e acreditarem que sua dor se origina 
dos outros e que, portanto, eles m erecem ser punidos.
Uma vez, vi m eu filho mais novo pegar um a m oeda de cin­
qüenta centavos do quarto de sua irmã. Eu disse: "Brett, você 
perguntou à sua irm ã se podia pegar isso?". "Eu não peguei 
dela", ele respondeu. Agora eu tinha de encarar m inhas quatro 
opções. Eu poderia tê-lo cham ado de m entiroso, o que, en tre ­
tanto, teria trabalhado contra o atendim ento de m inhas neces­
sidades, um a vez que julgar outra pessoa dim inui a probabilida­
de de que nossas necessidades venham a ser atendidas. A decisão 
sobre onde concentrar m inha atenção naquele m om ento era 
crucial. Se eu fosse julgá-lo um m entiroso, isso m e levaria num a 
direção. Se eu interpretasse que ele não m e respeitava o bastan­
te para m e dizer a verdade, isso teria apontado para outra dire­
ção. E ntretanto, se eu entrasse em em patia com ele naquele
A violência vem da crença de que 
as outras pessoas nos causam so­
frimento e portanto merecem ser 
punidas.
205
I MARSHALL B. ROSENBERG I
m om ento, ou expressasse sem máscaras o que estava sentindo, 
eu aum entaria m uito a probabilidade de ter m inhas necessida­
des atendidas.
A m aneira pela qual ex­
pressei m inha escolha — que 
acabou se revelando útil nessa 
situação — não foi tanto pelo 
que eu disse, mas pelo que eu fiz. 
Em vez de julgá-lo como m en­
tiroso, tentei escutar seus senti­
m entos: ele estava com medo, e 
sua necessidade era se proteger 
contra um a punição. Ao entrar 
em em patia com ele, tive a chance de fazer um a conexão em o­
cional a partir da qual poderíam os ambos ter nossas necessida­
des atendidas. E n tre tan to , se eu o tivesse abordado do pon to de 
vista de que ele estava m entindo — m esm o que eu não tivesse 
expressado isso de viva voz —, seria m enos provável que ele se 
sentisse seguro ao expressar a verdade sobre o que acontecera. 
Eu teria então me tornado parte do processo: pela própria a titu ­
de de julgar outra pessoa m en ­
os julgamentos dos outros contri- tirosa, eu estaria contribuindo
buem para criar profecias que acar- para criar um a profecia que
retam a própria concretização. acarretaria a própria concreti­
zação. Por que as pessoas iriam 
querer dizer a verdade, sabendo que seriam julgadas e punidas 
ao fazê-lo?
Gostaria de sugerir que, quando nossa cabeça está cheia de 
julgam entos e análises de que os outros são maus, gananciosos, 
irresponsáveis, m entirosos, corruptos, poluidores, que valori­
zam os lucros mais do que a vida ou se com portam de m aneira
Temos quatro opções quando es­
cutamos uma mensagem difícil:
1. Culpar a nós mesmos;
2. Culpar os outros;
3. Perceber nossos próprios sen­
timentos e necessidades;
4. Perceber os sentimentos e ne­
cessidades dos outros.
2 0 6
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
que não deveriam, poucos deles estarão interessados em nossas 
necessidades. Se desejamos proteger o m eio am biente e procu­
rarm os um executivo de grande empresa com um a atitude de 
"Sabe, você é um verdadeiro assassino do planeta e não tem o 
direito de abusar da Terra dessa m aneira", reduzimos drastica­
m ente nossas chances de ter nossas necessidades atendidas. É 
raro o ser hum ano que consegue se concentrar em nossas n e ­
cessidades quando as expressamos por meio de imagens de 
quanto ele está errado. É claro que podemos te r sucesso em u ti­
lizar tais julgam entos para intim idar as pessoas, de modo que 
atendam a nossas necessidades. Se elas se sentirem am edronta­
das, culpadas ou envergonhadas a ponto de m udar suas atitu­
des, podem os vir a acreditar que é possível "ganhar" dizendo às 
pessoas o que há de errado com elas.
N um a perspectiva mais ampla, porém, percebemos que, ca­
da vez que nossas necessidades são atendidas dessa maneira, 
não apenas perdemos, mas contribuímos de íorm a m uito tangí­
vel para a violência no planeta. Podemos ter resolvido um pro­
blem a imediato, mas terem os criado outro. Quanto mais as pes­
soas ouvirem culpa e julgam entos, mais defensivas e agressivas 
elas se tornarão e m enos se im portarão com nossas necessida­
des no futuro. Assim, mesmo que nossa necessidade atual seja 
atendida — que as pessoas façam o que querem os —, pagare­
mos por isso mais tarde.
Quatro passos para expressar a raiva
Vamos dar um a olhada no que o processo de expressar ple­
nam ente nossa raiva realm ente requer de concreto. O primeiro 
passo é parar e não fazer nada além de respirar. Abstemo-nos de 
fazer qualquer m ovim ento para culpar ou pun ir a outra pes­
207
soa. Simplesmente ficamos quie­
tos. Então, identificamos os p en ­
sam entos que estão gerando 
nossa raiva. Por exemplo, supo­
nham os que entreouvim os um a 
frase que nos faz acreditar que 
fomos excluídos de um a conver­
sa por causa de nossa raça. Per­
cebemos nossa raiva, param os e 
reconhecem os o pensam ento se 
agitando em nossa cabeça: "É injusto agir daquela m aneira. Ela 
está sendo racista". Sabemos que todos os julgam entos desse 
tipo são expressões trágicas de necessidades não-atendidas, de 
m odo que passamos à etapa seguinte e nos conectam os com as 
necessidades por trás desses pensam entos. Se eu julgar que al­
guém é racista, a necessidade pode ser de inclusão, igualdade, 
respeito ou conexão.
Para nos expressarmos plenam ente, nós agora abrimos a 
boca e expressamos a raiva — mas esta já se transform ou em n e ­
cessidades e em sentimentos relacionados a elas. Entretanto, arti­
cular esses sentimentos pode exigir um bocado de coragem. Para 
mim, é fácil me irritar e dizer às pessoas: "Isso é coisa de racista!" 
Na verdade, posso até gostar de dizer algo assim, mas descer até 
o nível dos sentim entos e necessidades mais profundos por trás 
de um a frase como essa pode ser m uito assustador. Para expres­
sar plenam ente nossa raiva, podem os dizer à pessoa: "Quando 
você entrou nessa sala, começou a conversar com os outros, não 
falou nada comigo e então fez um comentário sobre brancos, fi­
quei realm ente enojado e m uito assustado. Isso despertou em 
m im todo tipo de necessidade de ser tratado com igualdade. Eu 
gostaria que você me dissesse como se sente quando digo isso".
I MARSHALL B. ROSENBERG 1
Passos para expressar a raiva:
1. Parar. Respirar;
2. Identificar nossos pensamen­
tos que estão julgando as pes­
soas;
3. conectar-nos a nossas necessi­
dades;
4. Expressar nossos sentimentose necessidades não-atendidas.
208
O f e r e c e n d o e m p a t i a p r im e ir o
Na m aioria dos casos, porém , é preciso que haja mais um a 
etapa antes que possamos esperar que a outra parte entre em 
conexão com o que está acontecendo dentro de nós. Uma vez 
que é com um que os outros tenham dificuldades para receber 
nossos sentim entos e necessidades em tais situações, precisare­
mos prim eiro oferecer nossa em patia a eles, se quisermos que 
nos escutem . Q uanto mais em patia tivermos com relação ao 
que os leva a se com portarem de m aneira que não atenda a nos­
sas necessidades, mais provável será que eles consigam dar re ­
ciprocidade mais tarde.
Nos últimos trinta anos, ti-
Quanto mais escutarmos os ou­ve bastante experiência conver- . ,
tros, mais eles nos escutarao.san d o em cnv com p essoas q u e
abrigam crenças fortes sobre raças e grupos étnicos específicos. 
Certa m anhã, fui apanhado num aeroporto por um a van que 
m e levaria à cidade. Uma m ensagem da central chegou ao m o­
torista pelo alto-falante: "Apanhar o sr. Fishm an na sinagoga da 
avenida principal". O hom em a m eu lado na van m urm urou: 
"Esses judeus acordam bem cedo para arrancar o dinheiro de 
todo m undo".
D urante vinte segundos, saiu fumaça de m inhas orelhas. 
Anos antes, m inha prim eira reação teria sido querer agredir fi­
sicamente essa pessoa. Agora, respirei fundo algumas vezes e 
então dei a m im mesmo alguma empatia pela mágoa, m edo e fú ­
ria que estavam fervendo dentro de mim. Cuidei de m eus sen­
tim entos. Perm aneci consciente de que m inha raiva não vinha 
do passageiro ao lado nem da afirm ação que ele fizera. Seu 
com entário havia deflagrado um vulcão dentro de mim, mas eu 
sabia que m inha raiva e m eu m edo profundo vinham de um a
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
209
I MARSHALL B. ROSENBERG I
fonte bem mais íntim a do que aquelas palavras que ele acabara 
de pronunciar. Recostei-me no assento e sim plesm ente deixei 
que os pensam entos violentos fossem em bora por si mesmos. 
Até saboreei a im agem de m im m esm o efetivam ente agarrando 
sua cabeça e esm agando-a.
Tendo dado a m im m esm o essa empatia, pude então con­
centrar m inha atenção na natureza hum ana por trás da m ensa­
gem daquele hom em , após o que as prim eiras palavras a saírem 
de m inha boca foram: "Você está sentindo...?" Tentei en trar em 
em patia com ele, escutar seu sofrimento. Por quê? Porque eu 
queria enxergar a beleza que havia nele e tam bém que ele com ­
preendesse p lenam ente o que eu sentira quando ele fez seu co­
m entário. Eu sabia que não receberia esse tipo de com preensão 
se houvesse um a tem pestade se arm ando dentro dele. M inha 
intenção foi me conectar a ele e dem onstrar um a em patia res­
peitosa pela energia vital dentro 
/Mantenha-se consciente dos sen- dele, que estava por trás do co-
timentos violentos que surgem m entário . M inha experiência
em sua mente, sem julgá-los. m e disse que se eu conseguisse
oferecer m inha em patia, ele 
seria capaz de m e escutar em troca. Não seria fácil, m as ele con­
seguiria.
"Você está se sentindo frustrado?", perguntei. "Parece que 
você teve algumas más experiências com judeus."
Ele m e encarou por um m om ento. "Sim! Essa gente é as­
querosa, eles fazem qualquer coisa por dinheiro."
"Você sente desconfiança e necessidade de se proteger quan­
do faz transações financeiras com eles?"
"Isso mesmo!", ele exclamou, continuando a emitir mais ju l­
gamentos, enquanto eu escutava os sentimentos e necessidades 
por trás de cada um deles. Quando concentramos nossa atenção
210
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Quando escutamos os sentimen­
tos e necessidades da outra pes­
soa, reconhecemos nossa huma­
nidade em comum.
nos sentim entos e necessidades das outras pessoas, percebemos 
nossa hum anidade em com um . Quando escuto que ele está re ­
ceoso e quer se proteger, reconheço que tam bém tenho a neces­
sidade de m e proteger e que tam bém sei como é sentir medo. 
Q uando m inha consciência se 
concentra nos sentim entos e 
necessidades de outro ser h u ­
m ano, enxergo a universalidade 
de nossa experiência. Tive um 
enorm e conflito com o que se
passava em sua cabeça, mas aprendi que gosto mais dos seres 
hum anos se não ouço o que eles pensam . Especialmente com 
pessoas que têm esse tipo de pensam ento, aprendi a apreciar a 
vida m uito mais apenas escutando o que se passa em seu cora­
ção, e não caindo nas arm adilhas do que está em sua cabeça.
Aquele hom em continuou despejando sua tristeza e frus­
tração. Antes que eu percebesse, ele já acabara com os judeus 
e passara para os negros. Ele estava cheio de sofrim ento a res­
peito de um a série de assuntos. Depois de quase dez m inutos 
que eu apenas escutei, ele parou: ele sentira que fora com ­
preendido.
Então eu o deixei saber o que se passava dentro de mim:
eu Sabe, quando você começou a falar, senti m uita raiva, 
m uita frustração, tristeza e desânimo, porque minhas 
experiências com os judeus foram m uito diferentes 
das que você teve, e porque queria que você tivesse 
tido o tipo de experiências que eu tive. Você poderia 
me contar o que me ouviu dizer? 
h o m e m Olha, não estou dizendo que todos eles são...
211
I MARSHALL B.ROSENBERG I
eu Desculpe, espere um pouco, espere. Você poderia me 
contar o que me ouviu dizer? 
h o m e m Do que você está falando?
eu D eixe-m e repetir o que estou tentando dizer. Eu real­
m ente gostaria que você apenas escutasse a dor que 
sinto quando ouço suas pala- 
O que precisamos é que a outra vras. É realm ente im portante
pessoa escute verdadeiramente para mim que você escute isso.
nosso sofrimento. Eu estava dizendo que sinto
uma profunda tristeza, porque 
minhas experiências com judeus foram m uito d iferen­
tes. Eu apenas queria que você tivesse tido algumas 
experiências que fossem diferentes das que você des­
creveu. Poderia agora me contar o que você me ouviu 
dizer?
h o m e m Você está me dizendo que não tenho o direito de fa lar 
da maneira que falei. 
eu Não, eu gostaria que você me entendesse de form a d i­
ferente. Eu realm ente não quero culpar você. Não 
tenho nenhuma vontade de culpar você.
M inha intenção era desacelerar a conversa, porque em 
m inha experiência, sempre que as pessoas ouvem qualquer
grau de culpa, elas deixam de 
As pessoas não escutam nossa escutar nossa dor. Se aquele 
dor quando acham que têm hom em dissesse "Aquelas coisas 
culpa de algo. <lue eu disse foram terríveis,
foram com entários racistas", ele 
não teria escutado m inha dor. Se as pessoas acharem que fize­
ram algo de errado, então elas não terão com preendido p lena­
m ente nossa dor.
2 1 2
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Eu não queria que ele ouvisse culpa, porque queria que 
soubesse o que havia acontecido no m eu coração quando ele fez 
seu com entário. Culpar é fácil. As pessoas estão acostum adas a 
ouvir culpa; às vezes elas concordam com ela e se odeiam — o 
que não as im pede de voltarem a se com portar da m esm a m a­
neira — e às vezes nos odeiam por cham á-las de racistas ou do 
que quer que seja — o que tam bém não im pede seu com porta­
m ento. Se sentimos a culpa entrando em sua m ente, como senti 
na van, podem os precisar ir mais devagar, recuar e ouvir a dor 
delas um pouco mais.
A v a n ç a n d o e m n o s s o p r ó p r io r i t m o
Provavelm ente, a parte mais im portante do aprendizado de 
como viver o processo que estamos discutindo é avançarmos 
em nosso próprio ritmo. Podemos nos sentir estranhos ao nos 
desviarmos dos com portam entos habituais que nosso condicio­
nam ento to rnou autom áticos, mas se nossa intenção é viver a 
vida conscientem ente em harm onia com nossos valores, então 
terem os de avançar em nosso próprio ritm o.
Um amigo m eu, Sam Williams, escreveu os com ponentes 
básicos do processo num pequeno cartão que ele usava como 
"cola" no trabalho. Q uando o chefe o confrontava, Sam parava, 
consultava o cartão em suam ão e dava a si m esm o um tem po 
para se lem brar de como responder. Q uando perguntei se os co­
legas o estavam achando um pouco estranho, sempre olhando 
para sua m ão e dem orando tanto tem po para form ar suas fra­
ses, Sam respondeu: "Na verdade, não dem ora tanto tem po 
assim, mas, mesm o que demorasse, ainda valeria a pena. Para 
mim, é im portante saber que estou respondendo às pessoas da 
m aneira que realm ente desejo". Em casa, ele foi mais aberto e
213
I MARSHALL B. ROSENBERG I
explicou à esposa e aos filhos por que estava se dando ao traba­
lho de consultar o cartão. Sempre que havia um a discussão na 
família, ele sacava o cartão e dem orava um tem po antes de res­
ponder. Depois de mais ou m enos um mês, ele sentiu-se segu­
ro o bastante para deixar o cartão de lado. Então, um a noite, ele 
e seu filho Scottie, de 4 anos, estavam tendo um conflito a res­
peito da televisão e as coisas não estavam indo bem. "Papai", 
disse Scottie com urgência, "pegue o cartão!"
Para aqueles de vocês que desejam aplicar a cnv, especial­
m ente em situações desafiadoras de raiva, sugiro o exercício a 
seguir. Como já vimos, nossa raiva vem de julgam entos, rótulos
mais freqüência em sua cabeça, usando como ponto de partida 
a frase: "Não gosto de pessoas que são..." R eúna todos esses ju l­
gam entos negativos de sua cabeça e então pergunte a si mesmo: 
"Quando faço essa idéia a respeito de alguém, do que estou p re­
cisando e não estou obtendo?" Dessa m aneira, você estará tre i­
nando estruturar o pensam ento em termos de necessidades não- 
atendidas, e não de julgam entos de outras pessoas.
A prática é essencial, porque a m aioria de nós foi criada, se 
não nas ruas de Detroit, em algum lugar apenas ligeiram ente 
m enos violento. Julgar e culpar se to rnou natural para nós. Para
sam ente antes de falar, e m uitas 
vezes apenas respirar fundo e 
não falar nada. Tanto aprender o processo quanto aplicá-lo leva
atendida.
Pratique traduzir cada julga­
mento numa necessidade não-
e acusações a respeito do que as 
pessoas "deveriam" fazer e do 
que elas "merecem". Liste os 
julgam entos que flutuam com
Vá no seu ritmo.
praticar a cnv, precisamos pros­
seguir devagar, pensar cuidado-
tem po.
214
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
R e s u m o
Culpar e pun ir os outros são expressões superficiais de 
raiva. Se desejamos expressar p lenam ente nossa raiva, o pri­
m eiro passo é eximir a outra pessoa de qualquer responsabilida­
de por nossa raiva. Em vez disso, fazemos brilhar a luz da cons­
ciência sobre nossos próprios sentim entos e necessidades. Ao 
expressarm os nossas necessidades, é bem mais provável que 
elas sejam atendidas do que se julgarmos, culparmos ou pu n ir­
mos os outros.
Os quatro passos para expressar a raiva são: (1) parar e res­
pirar; (2) identificar nossos pensam entos que indicam ju lga­
m entos; (3) conectar-nos com nossas necessidades; e (4) ex­
pressar nossos sentim entos e necessidades não-atendidas. Às 
vezes, entre os passos 3 e 4, podem os escolher entrar em empa- 
tia com a outra pessoa, de m odo que ela possa nos escutar m e­
lhor quando nos expressarmos no passo 4.
Precisamos avançar em nosso próprio ritm o tanto ao apren­
derm os quanto ao aplicarmos a cnv.
A c n v em ação
U m pai e um adolescente conversam sobre um assunto 
potencia lm ente fatal.
Nesse episódio, Carlos, de 15 anos, pegou o carro de Jorge, um 
am igo da fam ília, sem permissão. Ele saiu para se divertir com 
os amigos e devolveu o carro intacto à garagem, onde sua 
fa lta não havia sido notada. Entretanto, depois disso, a filha 
de Jorge (Eva, de 14 anos), que tam bém tinha participado do 
passeio, contou ao pai o que tinha acontecido. Jorge então
215
I MARSHALL B. ROSENBERG I
inform ou ao pai de Carlos, que agora está abordando o filho.
O p a i c o m e ç o u re c e n te m e n te a p r a t ic a r a c n v .
pai Fiquei sabendo que você, a Eva e o Ricardo pegaram o 
carro do Jorge sem pedir permissão.
Carlos Não, não pegamos!
pai (fa lando a lto ) Não m inta para mim ; isso só piorará as 
coisas! (Ele então se lem bra de prim eiro se conectar a 
seus próprios sentim entos e necessidades, para poder 
continuar conectado ao filho.) Sente-se aí por um m o­
m ento; preciso pensar. (O lhando para dentro de si 
mesmo, ele vê quanto está com raiva e com medo. Ele 
está com raiva porque está dizendo para si mesm o: 
"Carlos deveria saber o que pode ou não pode fazer!" 
E: "Que m entiroso e/e se tornou!" Ele está com medo, 
pensando em todas as conseqüências potenciais não 
apenas da ação de Carlos, mas de seu próprio erro de 
avaliação do que o filho poderia fazer. "Foi estúpido 
de m inha parte presum ir que ele sabia o que podia ou 
não podia fazer". "Alguém poderia ter m orrido nessa 
brincadeira!" Ele cai em si: "Opa, preciso trad u zir os 
rótulos estúpido e mentiroso em sentim entos e neces­
sidades. Para estúpido, acho que o sentim ento é a de­
cepção comigo mesmo; eu gostaria de pensar que o 
conhecia melhor. E, quanto a mentiroso, estou com 
m uito medo porque quero estar seguro de receber in ­
form ações precisas para lidar com essa situação". Si­
lêncio, enquanto ele pensa em como recom eçara con­
versa.) Carlos, você está com medo de ser castigado se 
me disser a verdade?
Carlos É, v o c ê s e m p re p e g a tã o p e s a d o q u a n d o fa ç o a lg u m a 
c o is a de q u e n ã o g o s ta . ..
216
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
pai Você está dizendo que gostaria de receber mais com ­
preensão e um tra tam en to mais justo para o que você 
faz?
Carlos Ah, claro! Até parece que vou receber um tratam ento 
justo e compreensivo de você! 
pai (silenciosamente, para si m esm o: "Rapaz, como fico 
com raiva quando ele diz isso! Ele não enxerga quan­
to me esforço? Eu realm ente preciso de um pouco de 
respeito pelo quanto isso é difícil, e acho que tam bém 
preciso que ele se im porte um pouco pelo medo que 
estou sentindo".) Está me parecendo que você acha 
que, não im porta o que diga, você não será tratado 
com justiça.
Carlos E você se im porta de me tra tar com justiça? Quando 
acontece algum a coisa, você só quer alguém para 
poder castigar. Além do mais, grande coisa! Mesmo 
que realm ente tenham os pego o carro, ninguém se 
machucou e o carro está de volta ao lugar onde esta­
va. Quero dizer, isso não é nenhum crime. 
pai Você está com medo de que haverá conseqüências 
drásticas se você adm itir te r pegado o carro e quer 
acreditar que será tra tado com justiça? 
carlos Sim.
pai (dando um tem po em silêncio, para a conexão se
aprofundar) 0 que eu posso fazer para que você acre­
dite nisso? 
carlos Prometa nunca mais me castigar. 
pai (consciente de que o castigo não a judará Carlos a de­
senvolver a consciência das possíveis conseqüências
de seu com portam ento, mas apenas contribuirá para 
m aio r dissociação e resistência, o p a i expressa dispo­
217
I MARSHALL B. ROSENBERG I
sição de concordar com o pedido de Carlos) Eu estaria 
disposto a esse acordo se você concordasse em conti­
nuar dialogando comigo. Isto é, conversarmos até que 
eu esteja convencido de que você tem consciência de 
todas as possíveis conseqüências de ter pegado aquele 
carro. Porém, no fu tu ro , se acontecer de eu não ter 
certeza de que você enxerga o perigo em potencial da­
quilo em que está se metendo, eu ainda poderei usar a 
força - mas só para proteger você.
Carlos Uau, maravilha! É ótim o saber que sou tão estúpido 
que você tem de usar a força para me proteger de mim 
mesmo!
pai (perdendo o contato com suas próprias necessidades, 
diz em silêncio: “Rapaz, há m om entos em que eu po ­
deria sim plesm ente m a ta r o pirralho... Fico furioso 
quando ele diz coisas como essa! Realmente, não p a ­
rece que ele se im porta... Que diabos, do que estou 
precisando agora? Preciso saber, j á que estou me es­
forçando tanto, que ele pelo menos se im po rta com i­
go". G ritando com raiva) Sabe,Carlos, quando você diz 
coisas como essa, fico realm ente furioso. Estou me es­
forçando m uito para ficar de seu lado nessa situação, 
mas quando ouço coisas como essa... Olhe, preciso 
saber se você está sequer com vontade de continuar 
conversando comigo.
Carlos Eu não ligo.
pai Carlos, eu realm ente quero escutá-lo, e não cair em 
meus velhos hábitos de culpá-lo e am eaçá-lo sempre 
que alguma coisa me aborrece. Mas, quando ouço você 
dizer coisas como "É ótim o saber que sou tão estúpi­
do" no tom de voz que acabou de usar, é difícil me
218
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
controlar. Você poderia me ajudar nisso. Isto é, se você 
preferir que eu escute você em vez de cu lpá-lo e 
am eaçá-lo. Senão, suponho que minha outra opção 
seja apenas lidar com isso da maneira que estou acos­
tum ado a lidar com as coisas.
Carlos E como seria isso?
pai Bem, neste m om ento, acho que eu estaria dizendo: "Ei, 
você está de castigo por dois anos: sem televisão, sem 
carro, sem dinheiro, sem namoro, sem nada!"
CARLOS Bem, então acho que quero que você faça as coisas do 
je ito novo.
pai (com hum or) Estou contente de ver que seu senso de
autopreservação ainda está intacto. Agora preciso que 
você me diga se está disposto a me dar um pouco de 
honestidade e vulnerabilidade.
Carlos 0 que você quer dizer com "vulnerabilidade"? 
pai Significa que você me diz o que realm ente está sentin­
do a respeito das coisas sobre as quais estamos conver­
sando, e eu lhe digo o mesmo de minha parte, (com 
voz firm e) Você está disposto? 
carlos O k , vou tentar.
pai (com suspiro de alívio) Obrigado. Estou grato por sua
disposição de tentar. Eu lhe contei? 0 Jorge pôs a Eva 
de castigo por três meses. Ela não vai ter permissão de 
fazer nada. Como você se sente a respeito disso? 
carlos Cara, que péssimo! Isso é tão injusto! 
pai Eu gostaria de ouvir seus reais sentimentos sobre isso. 
carlos Eu lhe disse: é to ta lm en te injusto! 
pai (percebendo que Carlos não está em contato com o 
que ele está sentindo, decide te n ta r adivinhar) Você 
está triste porque ela está tendo de pagar tão caro pelo 
erro que cometeu?
219
I MARSHALL B. ROSENBERG I
carlos Não, eu não quis dizer isso. Quero dizer, na verdade o 
erro não foi dela. 
pai Ah, então você está chateado porque ela está pagando
por algo que originalm ente fo i idéia sua? 
carlos Bem, sim, ela só fez o que eu disse a ela para fazer. 
pai Está me parecendo que você está um tan to m agoado
por dentro, vendo que tipo de efe ito sua decisão teve 
para a Eva. 
carlos Mais ou menos isso.
pai Carlinhos, eu realm ente preciso saber se você está
pronto para perceber que suas ações têm conseqüên­
cias.
carlos Bem, eu não pensei no que poderia dar errado. Sim, 
acho que realm ente pisei feio na bola. 
pai Prefiro que você veja a coisa como algo que você fez
que não saiu do je ito que queria. E eu ainda preciso ter 
certeza de que você tem consciência das conseqüên­
cias. Você poderia me dizer o que está sentindo nesse 
m om ento a respeito do que fez? 
carlos Eu me sinto realm ente estúpido, pai... Eu não queria 
magoar ninguém. 
pai (traduzindo em sentim entos e necessidades os ju lg a ­
m entos que Carlos faz de si m esm o) Então você está 
triste e arrependido do que fez, porque gostaria que as 
pessoas confiassem que você não magoaria ninguém? 
carlos Sim, eu não queria causar tantos problemas. Eu sim­
plesmente não pensei nisso. 
pai Você está dizendo que gostaria de te r pensado mais a
respeito e tido uma idéia mais clara antes de agir? 
carlos (refletindo) Sim...
pai Bem, é reconfortante para mim ouvir isso, e, para que
as coisas fiquem bem de verdade com o Jorge, eu gos-
220
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA
taria que você fosse fa la r com ele e lhe dissesse o que
você acabou de me dizer. Você estaria disposto a fazer
isso?
Carlos Mas, pai, isso é de dar medo! Ele vai ficar uma fera!
pai Sim, ê provável que fique. Essa é uma das conseqüên­
cias. Você está disposto a te r responsabilidade por seus 
atos? Eu gosto do Jorge, quero que ele continue sendo 
meu amigo, e aposto que você gostaria de m anter sua 
am izade com Eva. Não é verdade?
Carlos Ela é uma de minhas melhores amigas.
pai Então, vamos lá vê-los?
Carlos (com medo e re lu tância) Bem... o k . Sim, acho que sim.
pai Você está com medo e precisando saber se estará se­
guro se fo r lá fa lar com ele?
CARLOS Sim.
pai Iremos juntos. Estarei lá por você e com você. Estou 
realm ente orgulhoso de você por estar disposto a isso.
1 1. 0 uso da força 
para proteger
Quando o uso da força é inevitável
Q uando duas partes em disputa tiveram cada um a a opor­
tunidade de expressar plenam ente o que estão observando, sen­
tindo, precisando e pedindo, e quando cada um a entrou em 
em patia com a outra, geralm ente se pode chegar a um a solução 
que atenda às necessidades de ambos os lados. No mínimo, os 
dois lados podem concordar de boa vontade em discordar.
Em algumas situações, porém , a oportunidade para um diá­
logo desses pode não existir, e o uso da força pode ser necessá­
rio para proteger a vida ou os direitos individuais. Por exemplo, 
a outra parte pode não estar disposta a se comunicar, ou algum 
perigo im inente pode não dar tem po para que essa com unica­
ção se faça. Nessas situações, pode ser que precisemos recorrer 
à força. Se o fizermos, a cnv requer que diferenciemos entre o 
uso protetor e o uso punitivo da força.
223
I MARSHALL B. ROSENBERG I
0 PENSAMENTO POR TRÁS DO USO DA FORÇA
A intenção por trás do uso protetor da força é evitar danos ou 
injustiças. A intenção por trás do uso punitivo da força é fazer que 
as pessoas sofram por seus atos percebidos como inadequados. 
Quando agarramos um a criança que está correndo na rua para 
impedir que ela se m achuque, estamos aplicando a força proteto­
ra. O uso da força punitiva, por outro lado, poderia envolver um 
ataque físico ou psicológico, como espancar a criança ou dar-lhe 
um a reprim enda como: "Como você pôde ser tão estúpida? Você 
deveria ter vergonha de si mesma!"
Quando praticamos o uso protetor da força, estamos nos 
concentrando na vida ou nos direitos que desejamos proteger, 
sem julgarmos nem a pessoa, nem o com portam ento. Não cul­
pam os nem condenam os a criança que corre para a rua; nosso 
pensam ento é dirigido apenas a protegê-la do perigo. (A respei­
to da aplicação desse tipo de força em conflitos sociais e políticos,
veja o livro de Robert Irwin, 
A intenção por trás do uso da Nonviolent social defense.) A pre-
força como proteção é apenas, missa por trás do uso protetor da
como o nome indica, proteger — força é que algumas pessoas se
não é punir, culpar ou condenar. com portam de m aneira prejudi­
cial a si mesmas e aos outros, de­
vido a algum tipo de ignorância. Assim, o processo corretivo é 
voltado para educar, não para punir. A ignorância inclui: (a) 
um a falta de consciência das conseqüências de nossas ações; (b) 
um a incapacidade de perceber como nossas necessidades podem 
ser atendidas sem prejudicar os outros; (c) a crença de que temos 
o "direito" de punir ou ferir os outros porque eles "merecem"; e 
(d) pensam entos delirantes que envolvem, por exemplo, ouvir 
um a "voz" que nos instrui a m atar alguém.
224
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA 1
Ações punitivas, por outro lado, baseiam -se na premissa de 
que as pessoas fazem coisas ruins porque são más, e de que para 
corrigir a situação, é preciso fazer que elas se arrependam . Sua 
"correção" é efetuada através de ações punitivas idealizadas 
para fazê-las: (1) sofrerem o bastante para perceberem quanto 
suas ações são erradas; (2) arrependerem -se; e (3) m udarem . 
Na prática, porém , é mais provável que em vez de gerarem a r­
rependim ento e aprendizado, ações punitivas produzam ressen­
tim ento e hostilidade, e que alim entem a resistência ao próprio 
com portam ento que estamos buscando.
TlPO S DE FORÇA PUNITIVA
O castigo físico, como bater nas pessoas, é um exemplode 
uso punitivo da força. Descobri que o assunto do castigo corpo­
ral provoca fortes sentim entos entre os pais. Alguns defendem 
obstinadam ente a prática, citando a Bíblia: "'Quem poupa a va­
ra odeia seu filho! B porque os pais não batem mais nos filhos 
que a delinqüência é hoje tão avassaladora". Eles estão conven­
cidos de que bater em nossas crianças demonstra que as am a­
mos porque estabelece limites claros. Outros pais igualm ente 
insistem que bater em crianças dem onstra falta de am or e é in e­
ficaz, pois ensina às crianças que, quando não restar outra alter­
nativa, sempre poderem os recorrer à violência física.
M inha preocupação pessoal é que o medo que as crianças 
têm do castigo físico possa obscurecer sua consciência da com ­
paixão que existe por trás das exigências dos pais. Estes comu- 
m ente m e dizem que "têm de" usar força punitiva, porque não 
vêem outra m aneira de influenciar os filhos a fazerem "o que é 
bom para eles". Reforçam suas opiniões com histórias de crian­
ças que expressam estar contentes por "verem a luz" depois de 
terem sido punidas. Tendo criado quatro filhos, sinto profunda
225
em patia com os pais no que diz 
respeito aos desafios diários que 
enfrentam para educar os filhos 
e m antê-los em segurança. E n­
tretanto , isso não dim inui m i­
nha preocupação com o uso de castigos físicos.
Em prim eiro lugar, fico im aginando se as pessoas que p ro ­
clamam o sucesso desse tipo de punição têm consciência dos 
inúm eros casos de crianças que se voltam contra o que poderia 
ser bom para elas, sim plesm ente por escolherem lu tar contra a 
coerção, em vez de sucum birem a ela. Em segundo lugar, o su ­
cesso aparente do castigo físico em influenciar um a criança não 
significa que outros m étodos não pudessem ter funcionado 
igualm ente bem. Finalm ente, com partilho das preocupações 
de m uitos pais a respeito das conseqüências sociais de se em ­
pregar o castigo físico. Q uando os pais escolhem usar a força, 
podem ganhar a batalha de obrigar as crianças a fazer o que 
eles querem , mas, nesse processo, não estarão perpetuando 
um a norm a social que justifica a violência como m eio de resol­
ver diferenças?
Além do castigo físico, outras formas de uso da força podem 
ser consideradas punitivas. Uma delas é o uso da culpa para de­
sacreditar outra pessoa: por exemplo, um pai pode rotu lar o
filho como "errado", "egoísta" 
As punições também incluem co- ,ou 'im aturo" quando ele nao selocar rótulos que expressam jul- com porta de determ inada ma-gamentos e retirar privilégios. neira. O utra forma de força p u ­
nitiva é a retirada de alguns meios de gratificação, como q u an ­
do os pais cortam a mesada ou a perm issão para sair. Nesse tipo 
de punição, a retirada da afeição ou do respeito é um a das 
ameaças mais poderosas de todas.
I MARSHALL B. ROSENBERG I
o medo do castigo corporal obs­
curece nas crianças a consciência 
da compaixão subjacente às exi­
gências dos pais.
226
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Os CUSTOS D A PUNIÇÃO
Q uando nos subm etem os a fazer algum a coisa apenas com 
o propósito de evitar um a punição, nossa atenção é desviada do 
valor da própria ação. Em vez disso, estamos nos concentrando 
nas conseqüências que podem acontecer se deixarmos de agir 
daquela m aneira. Se o desem penho de um trabalhador é guia­
do pelo m edo da punição, o serviço é feito, mas o m oral é afe­
tado; mais cedo ou mais tarde, a produtividade dim inuirá. A 
auto-estim a tam bém dim inui quando a força punitiva é utiliza­
da. Se as crianças escovam os 
dentes porque sentem vergonha 
e m edo do ridículo, sua saúde 
bucal pode melhorar, m as seu 
respeito por si m esm as ganhará 
cáries. Além disso, como todos 
sabemos, punições custam m ui­
to em term os de boa vontade.
Q uanto mais formos vistos como 
agentes de punição, mais difícil será para os outros responde­
rem com passivam ente a nossas necessidades.
Eu estava visitando um amigo, diretor de escola, em seu es­
critório, quando ele percebeu pela janela um m enino grande 
batendo em outro m enor. "Com licença", ele disse, saltou e cor­
reu para o pátio. A garrando o aluno maior, ele lhe deu um tapa 
e o repreendeu: "Isso lhe ensinará a não bater em pessoas m e­
nores!" Quando o diretor voltou para dentro, observei: "Não 
acho que você tenha ensinado àquela criança o que você p e n ­
sou que estava ensinando. Suspeito que, em vez disso, o que 
você lhe ensinou foi a não bater em pessoas m enores do que ele 
quando alguém m aior — como o diretor — pode estar olhando!
Quando temos medo de ser puni­
dos, concentramo-nos nas conse­
qüências, não em nossos próprios 
valores.
O medo da punição diminui a 
auto-estima e a boa vontade.
227
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Se você fez algum a coisa, parece-m e que foi reforçar a noção de 
que a m aneira de obter o que você quer de alguém é batendo 
nessa pessoa".
Em situações como essa, recom endo em prim eiro lugar e n ­
trar em em patia com a criança que está se com portando de 
forma violenta. Por exemplo, se visse um a criança bater em 
outra depois de ser xingada por esta, eu poderia verbalizar m i­
nha empatia: "Você está com raiva porque gostaria de ser tra ta ­
do com mais respeito?". Se eu tivesse deduzido corretam ente e 
a criança confirmasse que era verdade, eu continuaria então ex­
pressando m eus próprios sentim entos, necessidades e pedidos 
nessa situação, sem insinuar nen h u m a culpa: "Estou triste p o r­
que gostaria que nós encontrássem os m aneiras de obter respei­
to que não tornem as pessoas nossas inimigas. Gostaria que 
você m e dissesse se estaria disposto a explorar comigo algumas 
outras m aneiras de obter o respeito que você deseja".
ÜU AS PERGUNTAS QUE REVELAM AS LIMITAÇÕES DA PUNIÇÃO
Duas perguntas nos ajudam a enxergar por que é im prová­
vel que obtenham os o que querem os se usarm os a punição para 
m udar o com portam ento das pessoas. A prim eira pergunta é: 
"O que eu quero que essa pessoa faça que seja diferente do que 
ela está fazendo agora?" Se fizermos apenas essa prim eira p e r­
gunta, a punição pode parecer eficaz, porque a ameaça ou o 
exercício da força punitiva pode m uito bem influenciar o com ­
portam ento da pessoa. Entretanto, com a segunda pergunta se 
torna evidente que não é provável que a punição funcione: 
"Quais quero que sejam as razões dessa pessoa para fazer o que 
estou pedindo?"
228
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Raram ente nos preocupamos com a segunda pergunta, mas, 
quando o fazemos, logo percebemos que a punição e a recom pen­
sa interferem na capacidade das 
pessoas de fazerem as coisas 
pelos motivos que gostaríamos 
que elas tivessem. Acredito que é 
decisivo termos consciência da 
importância das razões das pes­
soas para se comportarem como pedimos. Por exemplo, se dese­
jamos que as crianças limpem o quarto por gostar de ordem, e não 
para agradar aos país, culpar ou punir obviamente não seriam es­
tratégias eficazes. Muitas vezes, as crianças limpam o quarto m o­
tivadas pela obediência à autoridade ("porque m am ãe disse para 
eu fazer isso"), pelo desejo de evitar um a punição ou por medo de 
aborrecerem os pais ou de serem rejeitadas por eles. A cnv, entre­
tanto, estimula um nível de desenvolvimento ético baseado na au ­
tonom ia e na interdependência, pelo qual reconhecemos a res­
ponsabilidade por nossas próprias ações e temos consciência de 
que nosso próprio bem -estar e o dos outros são um a coisa só.
0 USO PROTETOR DA FORÇA NAS ESCOLAS
Gostaria de descrever como alguns estudantes e eu usamos 
a força protetora para trazer à ordem um a situação caótica n u ­
m a escola especial. Essa escola foi idealizada para alunos que 
haviam tom ado bom ba ou sido expulsos de salas de aula con­
vencionais. A adm inistração e eu esperávam os poder dem ons­
trar que um a escola baseada nos princípios da cnv seria capaz de 
sensibilizar esses estudantes. M inha tarefa era treinar os profes­
sores n a cnv e servircomo consultor pelo resto do ano. Com 
apenas quatro dias para preparar os professores, não consegui 
esclarecer suficientem ente a diferença entre a cnv e a permissi-
Pergunta 1: O que eu quero que 
essa pessoa faça?
Pergunta 2: Que motivos desejo 
que essa pessoa tenha para fa­
zê-lo?
229
I MARSHALL B. ROSENBERG I
vidade. Como resultado, alguns professores estavam ignorando 
situações de conflito e de com portam ento perturbador, em vez 
de intervirem nessas situações. Acuados por um pandem ônio 
crescente, os adm inistradores estavam prestes a fechar a escola.
Q uando pedi para falar com os estudantes que mais haviam 
contribuído para a turbulência, o diretor selecionou oito garo­
tos, com idades entre 11 e 14 anos, para se reunirem comigo. 
Seguem-se alguns trechos do diálogo que tive com os alunos:
eu (expressando meus sentim entos e necessidades,
sem fazer perguntas de sondagem ) Estou m uito 
aborrecido com os relatos dos professores de que 
as coisas estão ficando fora de controle em m ui­
tas das aulas. Eu gostaria m uito que essa escola 
tivesse sucesso. Tenho esperança de que vocês 
possam me ajudar a entender quais são os pro­
blemas e o que pode ser fe ito a respeito deles. 
g u ilh e rm e Os professores dessa escola são uns idiotas, cara!
eu Você está dizendo, Guilherm e, que está revoltado
com os professores e deseja que eles mudem al­
gumas das coisas que fazem? 
g u ilh e rm e Não, cara, eles são uns idiotas porque simples­
m ente ficam parados e não fazem nada. 
eu Você quer dizer que está aborrecido porque quer
que eles atuem mais quando aparecem proble­
mas. (Essa é um a segunda te n ta tiva de c ap ta r os 
sentim entos e necessidades.) 
g u ilh e rm e É isso aí, cara. Não importa o que qualquer um faça,
eles só ficam parados ali sorrindo como uns idiotas. 
eu Você poderia me dar um exemplo de como os
professores não fazem nada?
230
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
g uilh er m e Fácil. Essa m anhã mesmo, um carinha entrou na 
sala levando uma garrafa de uísque no bolso da 
fren te das calças. Todos viram aquilo; a professo­
ra tam bém viu, mas fez de conta que não.
eu Está me parecendo, então, que você não tem res­
peito pelos professores quando eles apenas ficam 
parados sem fazer nada. (Essa fo i um a ten ta tiv a 
de entender m ais.)
GUILHERME Claro.
eu Estou desapontado, pois quero que eles sejam ca­
pazes de resolver as coisas com os alunos, mas está 
parecendo que não fui capaz de mostrar a eles o 
que quis dizer.
A discussão então se voltou para um problem a particular­
m ente urgente, o dos alunos que não queriam estudar e esta­
vam perturbando os que queriam .
eu Estou ansioso para te n ta r resolver esse problema, por­
que os professores estão me dizendo que isso é o que 
mais os incomoda. Eu gostaria que vocês me contassem 
quaisquer idéias que você tivessem.
JOÃO 0 p ro fe s s o r d e v e r ia u s a r u m ra tã (bastão coberto de
couro que era carregado p o r alguns diretores de e s c o ­
la em S a in t Louis para m in is trar castigos corporais).
eu Então você está dizendo, João, que quer que os professo­
res batam nos alunos quando eles perturbarem os outros.
JOÃO Essa é a única maneira de os alunos pararem de se com ­
portar como idiotas.
eu Então você duvida que qualquer outro meio possa funcio­
nar. (Ainda tentando captar os sentimentos de João.)
Jo ão (balança a cabeça em concordância.)
231
MARSHALL B. ROSENBERG I
EU
PEDRO
EU
Pedro
EU
PEDRO
EU
PEDRO
EU
GUILHERME
Sinto-m e desestimulado se essa é a única maneira. 
Detesto essa maneira de resolver as coisas e quero 
descobrir outras.
Por quê?
Por várias razões. Por exemplo, se eu fizer vocês 
pararem de aprontar na escola usando o ratã, gos­
taria que vocês me dissessem o que acontece se 
três ou quatro de vocês em quem eu tiver batido 
na aula estiverem perto do meu carro na hora em 
que eu fo r para casa?
(sorrindo) Aí é melhor ter um bastão bem grande, 
cara!
(sentindo estar certo de que com preendi a m en­
sagem de Pedro e de que ele sabia disso, conti­
nuo, sem p ara fraseá-lo ) Foi o que eu quis dizer. 
Gostaria que você visse que estou preocupado 
com essa maneira de resolver as coisas. Sou dis­
traído demais para me lem brar de sempre carregar 
um bastão bem grande, e, mesmo que eu me lem ­
brasse, detestaria acertar alguém com ele.
Você poderia chutar o imbecil para fora da escola. 
Você está sugerindo, Pedro, que gostaria que nós sus­
pendêssemos ou expulsássemos os garotos da escola? 
Sim.
Também não gosto dessa idéia. Quero mostrar que 
existem outras maneiras de resolvermos as d ife ­
renças na escola, sem termos de expulsar as pes­
soas. Eu me sentiria um fracassado se isso fosse o 
m elhor que pudéssemos fazer.
Se um carinha não está fazendo nada de útil, co­
mo é que você não pode colocá-lo numa sala de 
não fazer nada?
232
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
EU
GUILHERME
EU
GUILHERME
EU
GUILHERME
Você está sugerindo, W ill, que gostaria que tivés­
semos uma sala para onde m andar as pessoas se 
elas perturbassem os outros alunos?
É isso mesmo. Não adianta elas ficarem na sala 
de aula, se não estão fazendo nada de útil. 
Fiquei m uito interessado nessa idéia. Gostaria de 
ouvir como você acha que uma sala dessas pode­
ria funcionar.
Às vezes você vem para a escola e simplesmente 
sente vontade de zoar; você não tem vontade de 
fazer nada de útil. Então, simplesmente teríamos 
uma sala onde os alunos ficariam até terem von­
tade de fazer algum a coisa.
Estou entendendo o que você quer dizer, mas 
estou prevendo que o professor ficará preocupa­
do em saber se os alunos irão de livre vontade 
para a sala de não fazer nada.
(confiante) Eles irão.
Eu disse que achava que o plano poderia funcionar se p u ­
déssemos m ostrar que o objetivo não era punir, mas oferecer 
um lugar aonde ir para aqueles que não estavam com vontade 
de estudar, ao mesm o tem po que daríam os àqueles que quises­
sem estudar um a chance de fazê-lo. Também sugeri que um a 
sala de não fazer nada teria mais chances de sucesso se as pes­
soas soubessem que fora um a idéia dos próprios alunos, e não 
um decreto dos professores.
Estabeleceu-se um a sala de não fazer nada para os alunos que 
estivessem aborrecidos e não tivessem vontade de fazer os traba­
lhos da escola, ou cujo comportamento estivesse impedindo os 
outros de aprender. Às vezes, os alunos pediam para ir; às vezes os 
professores pediam que os alunos fossem. Colocamos a professora
233
I MARSHALL B. ROSENBERG I
mais bem adaptada à c n v na sala de não fazer nada, onde ela teve 
algumas conversas m uito produtivas com os garotos que foram 
para lá. Esse arranjo teve um imenso sucesso na restauração da 
ordem na escola, porque os alunos que o idealizaram tornaram 
sua finalidade clara para seus colegas: proteger os direitos dos alu­
nos que queriam aprender. Usamos o diálogo com os alunos para 
demonstrar aos professores que havia outros meios de resolver 
conflitos, além de ignorar o conflito ou usar a força punitiva.
R esum o
Em situações em que não há um a oportunidade de com uni­
cação, como naquelas em que há perigo im inente, podemos pre­
cisar recorrer à força como meio de proteção. A intenção por trás 
do uso protetor da força para proteção é evitar danos ou injusti­
ças, e nunca punir ou fazer que as pessoas sofram, se arrependam 
ou m udem . O uso punitivo da força tende a gerar hostilidades e 
reforçar a resistência ao próprio com portam ento que buscamos 
obter. A punição diminui a boa vontade e a auto-estima, e desvia 
nossa atenção do valor intrínseco de um a ação para suas conse­
qüências externas. Culpar e punir não contribuem para as m oti­
vações que gostaríamos de inspirar nos outros.
A humanidade 
Tem dormido
— E ainda dorme —
Embalada pelas 
Limitadas alegrias 
De seus amores restritos.
T e i l h a r d d e C h a r d i n , t e ó l o g o
234
1 2 . Libertando-nos e 
aconselhando os outros
Libertando- nos de velhos condicionam entosTodos nós aprendem os coisas que nos lim itam como seres 
h um anos — seja de pais bem -intencionados, de professores, 
de religiosos ou de outras pessoas. Passado adiante através de 
gerações, até de séculos, m uito desse aprendizado cultural 
destrutivo está tão enraizado em nossa vida que nem tem os 
mais consciência dele. N um de seus núm eros, o com ediante 
Buddy Hackett, criado com endo a comida pesada da mãe, afir­
m ou que até te r en trado para o Exército nunca tinha percebi­
do que era possível deixar a m esa sem sentir azia. Da m esm a 
m aneira, a dor ocasionada por condicionam entos culturais n o ­
civos é um a parte tão in tegran te de nossa vida que não conse­
guim os m ais perceber sua presença. É preciso m uita energia 
e consciência para reconhecer esse aprendizado destrutivo e 
transform á-lo em pensam entos e atitudes que valorizam e ser­
vem a própositos da vida.
235
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Isso requer um a com petência diferenciada para lidar com as 
necessidades e a capacidade de en trar em contato com nós m es­
mos; ambas as coisas são difíceis para as pessoas de nossa cul­
tura. Não só nunca fomos educados para com preender nossas 
necessidades, como somos freqüentem ente expostos a um a for­
mação cultural que bloqueia ativam ente essa nossa consciência. 
Como m encionei antes, herdam os um a linguagem que serviu a 
reis e a elites poderosas em sociedades baseadas na dominação. 
As massas foram desencorajadas de desenvolver a consciência de 
suas próprias necessidades; ao contrário, foram educadas para 
serem dóceis e subservientes à autoridade. Nossa cultura implica 
que as necessidades são negativas e destrutivas; a palavra necessi­
tada, quando aplicada a um a pessoa, sugere que ela é inadequa­
da ou imatura. Quando as pessoas expressam suas necessidades, 
freqüentem ente são rotuladas de "egoístas", e o uso do pronom e 
pessoal "eu" m uitas vezes é considerado um sinal de egoísmo ou 
de carência.
Ao nos encorajar a separar a observação da avaliação, a re ­
conhecer os pensam entos e necessidades que dão forma a nos­
sos sentim entos e a expressar nossos pedidos em linguagem 
clara e proativa, a cnv aum enta nossa consciência do condicio­
nam ento cultural que nos influencia em qualquer instante. E
trazer esse condicionam ento à 
Podemos nos libertar do condi- da consciência é um passo
cionamento cultural. fundam ental para quebrar seu
dom ínio sobre nós.
Resolvendo conflitos interiores
Podemos aplicar a cnv para resolver os conflitos interiores 
que freqüentem ente resultam em depressão. No livro Revolution
236
in psychiatry, Ernest Becker atribui a depressão a "alternativas 
cognitivam ente reprimidas". Isso significa que, quando transcor­
re dentro de nós um diálogo im pregnado de julgam entos, nos 
tornam os alienados daquilo que precisamos, por isso, impedidos 
de agir para atender a essas necessidades. A depressão é indica­
tiva de um estado de alienação de nossas necessidades.
Uma m ulher que estudava a cnv estava sofrendo de um 
surto profundo de depressão. Ela foi solicitada a identificar as 
vozes dentro de si quando se sentia mais deprim ida e a escrevê- 
las na form a de diálogo, como se essas vozes estivessem falando 
um a com a outra. As duas prim eiras linhas de seu diálogo 
foram:
voz 1 (a "profissional") Eu deveria fazer algo mais por minha 
vida. Estou desperdiçando minha educação e meus ta ­
lentos.
voz 2 (n "mãe responsável") Você não está sendo realista.
Você é mãe de dois filhos e não consegue nem dar con­
ta dessa responsabilidade; então, como pode dar conta 
de qualquer outra coisa?
Observe como essas m ensagens interiores estão infestadas de 
termos e expressões que denotam julgam ento, como deveria, des­
perdiçando m inha educação e meus talentos e não consegue dar conta. 
Variações desse diálogo ocorreram durante meses na cabeça da­
quela m ulher. Ela então foi solicitada a im aginar a voz da "profis­
sional" tom ando um a "pílula de cnv" para reform ular sua m en ­
sagem da seguinte forma: "Quando acontece (a), sinto-me (b), 
porque preciso de (c). Portanto, agora eu gostaria de (d)".
Mais tarde, ela substituiu o "Eu deveria fazer algo mais com 
m inha vida. Estou desperdiçando m inha educação e m eu ta len ­
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
237
I MARSHALL B. ROSENBERG I
to" por “Quando passo tanto tem po em casa com m eus filhos 
sem exercer m inha profissão, sinto-me deprim ida e desestimula- 
da, porque preciso da realização que outrora tive em m eu tra ­
balho. Portanto, agora gostaria de encontrar um emprego de meio 
expediente em m inha profissão".
Aí foi a vez de a voz da "mãe responsável" passar pelo m es­
mo processo. Suas frases iniciais — "Você não está sendo realis­
ta. Você é m ãe de dois filhos e não consegue nem dar conta dessa 
responsabilidade; então, como pode dar conta de qualquer outra 
coisa?" — foram transformadas em: "Quando m e imagino indo 
trabalhar, sinto-me am edrontada, porque preciso ter certeza de que 
as crianças estarão sendo bem cuidadas. Portanto, agora eu gostaria 
de planejar um meio de proporcionar cuidados de qualidade para 
m eus filhos enquanto trabalho e de encontrar tem po suficiente 
para ficar com as crianças quando eu não estiver cansada".
Essa m ulher sentiu um im enso alívio assim que traduziu 
suas m ensagens interiores para a cnv. Ela conseguiu penetrar 
por trás das m ensagens alienantes que estava repetindo e ofere­
cer em patia a si m esm a. Embora ainda fosse enfrentar desafios
Cuidando de nosso m eio intekno
Quando estamos enredados em pensam entos de crítica, 
culpa ou raiva, é difícil estabelecer um meio in terno saudável
Se formos capazes de escutar 
nossos próprios sentimentos e 
necessidades e de entrar em em­
patia com eles, poderemos nos li­
bertar da depressão.
práticos, como garantir cuida­
dos de qualidade para os filhos e 
o apoio do marido, ela não esta­
va mais sujeita ao diálogo in te ­
rior cheio de julgam entos que a 
im pediam de ter consciência de 
suas próprias necessidades.
238
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
p a ra n ó s m esm o s. A cnv n o s a ju d a a c ria r u m estad o m e n ta l 
m ais pacífico , ao n o s e n c o ra ja r a n o s c o n c e n tra rm o s n a q u ilo 
q u e v e rd a d e ira m e n te d ese jam o s, e m vez de n a q u ilo q u e está e r ­
ra d o co m os o u tro s o u com n ó s m esm o s.
Uma participante de um a oficina de três dias na cnv relatou 
profunda transform ação pessoal. Um de seus objetivos no semi­
nário era cuidar m elhor de si mesma, mas ela acordou ao rom ­
per da segunda m anhã com a pior dor de cabeça de que podia se 
lem brar de ter tido recentem en­
te. "Normalmente, a prim eira concentre-se no que deseja, não 
coisa que eu faria seria analisar no que deu errado. 
o que eu havia feito de errado.
Será que eu comi algo que não devia? Deixei o estresse tom ar 
conta de m im ? Fiz isso, deixei de fazer aquilo? Mas, já que eu es­
tava aprendendo a usar a cnv para cuidar m elhor de mim 
mesma, em vez disso perguntei: 'O que preciso fazer por mim 
m esm a nesse m om ento a respeito dessa dor de cabeça?'"
"Sentei na cama e fiz massagens m uito lentas na nuca, de­
pois m e levantei e fiz outras coisas para cuidar de m im naquele 
exato m om ento, em vez de m e m altratar. M inha dor de cabeça 
dim inuiu a tal ponto que fui capaz de atravessar todo aquele dia 
de seminário. Essa foi um a transform ação m uito, m uito grande 
para mim. O que com preendi quando entrei em em patia com a 
dor de cabeça foi que eu não havia me dado atenção suficiente 
no dia anterior, e a dor de cabeça era um a m aneira de m e dizer 
isso: 'Preciso de mais atenção!' Acabei m e dando a atenção de 
que precisava e consegui então participar do seminário. Tive do­
res de cabeça por toda a m inha vida, e esse foi um ponto de m u ­
tação dos mais notáveis para mim."
Em outro seminário, um participante m e perguntou como 
a cnv poderia ser utilizada paranos libertar das m ensagens que
239
I MARSHALL B. ROSENBERG I
provocam raiva quando estamos dirigindo em vias expressas. 
Aquele era um assunto familiar para mim! D urante anos, eu 
precisei viajar de carro pelos Estados Unidos, a trabalho, e fica­
va esgotado pelas m ensagens incitando a violência que m e pas­
savam pela cabeça. Todos os que não dirigiam segundo os m eus 
parâm etros eram arquiinimigos, vilões. Os pensam entos fervi­
lhavam na m inha m ente: "Que diabo de problem a tem esse ca­
ra!? Será que ele nem olha por onde está dirigindo?" Nesse es­
tado m ental, tudo que eu queria era pun ir o outro m otorista, e, 
já que não podia fazer isso, a raiva se alojava em m eu corpo e 
cobrava seu preço.
Acabei aprendendo a traduzir m eus julgam entos em senti­
m entos e necessidades e a oferecer empatia a mim mesmo: "Ra­
paz, fico petrificado de medo quando as pessoas dirigem dessa
perceber como eu podia criar um a situação m enos estressante pa ­
ra m im mesmo, simplesmente tom ando consciência do que esta­
va sentindo e precisando, em vez de culpar os outros.
Mais tarde, decidi praticar a em patia em relação aos outros 
m otoristas e fui recom pensado com um a prim eira experiência 
gratificante. Fiquei preso atrás de um carro que ia m uito abaixo 
do limite de velocidade e ainda desacelerava em cada cruza­
m ento. Soltando fumaça e resm ungando "isso não é jeito de di­
rigir", percebi o estresse que estava causando a m im m esm o e 
voltei m eu pensam ento para o que o outro m otorista poderia 
estar sentindo e necessitando. Percebi que a pessoa estava p e r­
dida, sentindo-se confusa e desejando que aqueles que estavam 
atrás dela tivessem algum a paciência. Quando a estrada se alar-
Desarme o estresse escutando 
seus próprios sentimentos e ne­
cessidades.
maneira; eu realm ente gostaria 
que eles percebessem quanto é 
perigoso o que estão fazendo!" 
Uau! Fiquei impressionado de
240
gou o suficiente para eu ultrapassar, vi que o outro m otorista 
era um a m ulher perto dos 80 anos com expressão de terror no 
rosto. Fiquei feliz por m inha
tentativa de em patia ter m e im - Desarme o estresse estabeíecen-
pedido de buzinar ou em pregar do empatia com os outros,
m inha tática habitual de d e ­
m onstrar m eu descontentam ento com as pessoas cuja forma de 
dirigir m e aborrecia.
Substituindo diagnósticos com a cnv
M uitos anos atrás, depois de ter investido nove anos de 
m inha vida na form ação e certificação necessárias para me 
qualificar com o psicoterapeuta, deparei com um diálogo entre 
o filósofo israelense M artin Buber e o psicólogo am ericano 
Cari Rogers, em que Buber questionava se era possível praticar 
psicoterapia no papel de psicoterapeuta. Buber estava v isitan­
do os Estados Unidos na ocasião e tinha sido convidado, ju n ­
tam ente com Cari Rogers, a participar de um a discussão num 
hospital psiquiátrico, para um grupo de profissionais de saúde 
m ental.
Nesse diálogo, Buber postulava que o crescim ento pessoal 
ocorre por m eio do encontro de dois indivíduos que se expres­
sam de form a vulnerável e au têntica no que ele cham ou de 
"relação eu -tu " . Ele não acreditava ser provável que existisse 
esse tipo de relacionam ento quando as pessoas se encontravam 
nos papéis de terapeuta e paciente. Rogers concordava que a 
autenticidade era um pré-requisito para o crescimento, mas 
sustentava que terapeutas esclarecidos poderiam optar por 
transcender seu próprio papel e ter um autêntico encontro com 
os pacientes.
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
241
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Buber era cético. Ele era da opinião de que, m esm o que os 
profissionais estivessem dispostos e fossem capazes de se re la­
cionar com os pacientes de forma autêntica, tais encontros se­
riam impossíveis enquanto os pacientes continuassem a se ver 
como pacientes e a seus psicoterapeutas como psicoterapeutas. 
Ele observou que o próprio processo de m arcar horários para se 
encontrar com alguém em seu consultório e pagar honorários 
para ser "consertado" reduzia a probabilidade de que um rela­
cionam ento autêntico se desenvolvesse entre duas pessoas.
Esse diálogo lançou luz sobre a própria ambivalência que 
eu tivera durante m uito tem po com relação ao distanciam ento 
clínico — um a regra sacrossanta na terapia psicanalítica que me 
fora ensinada. N orm alm ente, trazer os próprios sentim entos e 
necessidades para a psicoterapia era considerado um sinal p a to ­
lógico por parte do terapeuta. Psicoterapeutas com petentes de­
veriam ficar de fora do processo da terapia e funcionar apenas 
como um espelho, no qual os pacientes deveriam projetar suas 
transferências, que então deveriam ser trabalhadas com a ajuda 
do psicoterapeuta. Eu com preendia a teoria por trás de se m an ­
ter os processos interiores do psicoterapeuta fora da terapia e de 
se proteger contra o perigo de abordar conflitos interiores à 
custa do paciente. Entretanto, eu sem pre me sentira desconfor­
tável ao m anter a distância em ocional necessária e, ainda por 
cima, acreditava nas vantagens de trazer a m im m esm o para 
dentro do processo.
Assim, comecei a experim entar substituir a linguagem clíni­
ca por aquela da cnv. Em vez de interpretar o que m eus pacien­
tes estavam dizendo de acordo com as teorias de personalidade 
que eu havia estudado, tornei-m e presente às suas palavras e es­
cu tei com em patia. Em vez de diagnosticá-los, revelei o que 
estava acontecendo dentro de m im mesmo. No início, isso foi
242
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
assustador. Fiquei preocupado com a reação dos colegas à a u ­
tenticidade com a qual eu estava entrando no diálogo com os 
pacientes. E ntretanto, os resultados foram tão gratificantes, 
tanto para os pacientes quanto
para m im mesmo, que logo su- Em vez de interpretar os clientes,
perei toda a hesitação. Desde estabeleci empatia com eles; em
1963, o conceito de trazer a si vez de diagnosticá-los, expus-me.
m esm o integralm ente para a re ­
lação pacien te-terapeuta deixou de ser herético, mas, quando 
comecei a trabalhar dessa m aneira, recebi m uitos convites para 
falar a grupos de psicoterapeutas que m e desafiavam a dem ons­
trar esse novo papel.
Uma vez, fui solicitado por um grande n úm ero de profis­
sionais de saúde m ental, reunidos n u m hospital psiquiátrico 
estadual, a dem onstrar como a cnv poderia ajudar no aconse­
lham ento de pessoas em sofrimento. Depois de m inha apresen­
tação de um a hora, solicitaram que eu entrevistasse um a p a ­
ciente e desse um a avaliação e recom endação de tra tam ento . 
Conversei com a m ãe de três filhos, de 29 anos, por cerca de 
m eia hora. Depois que ela deixou o recinto, a equipe responsá­
vel por seus cuidados expôs suas questões: "Dr. Rosenberg", 
com eçou seu psiquiatra, "por favor, faça um diagnóstico dife­
rencial. Em sua opinião, essa m ulher está m anifestando um a 
reação esquizofrênica ou esse é um caso de psicose induzida por 
drogas?"
Respondi que não m e sentia à vontade com essas pergun­
tas. M esmo quando trabalhava num hospital psiquiátrico, d u ­
rante m eu treinam ento, nunca tive certeza de como encaixar as 
pessoas nas classificações diagnosticas. Desde então, eu havia 
lido pesquisas que indicavam um a falta de concordância entre 
psiquiatras e psicólogos com relação a esses term os. Os relatos
243
I MARSHALL B. ROSENBERG I
concluíam que o diagnostico de pacientes em hospitais psiquiá­
tricos dependia mais de qual escola o psiquiatra havia freqüen- 
tado do que das características dos pacientes.
Eu relutaria em ap licar esses term os, continuei, m esm o que 
houvesse um uso consistente, porque não conseguia ver como 
eles poderiam beneficiar os pacientes. Na m edicina alopática, 
identificar precisam ente o processo patológico que criou a 
doença m uitas vezes dá um a direção clara ao tratam ento, mas 
eu não percebia essa m esm a relação no campo que cham am os 
de saúde m ental. Em m inha experiência, em reuniõespara a 
discussão de casos em hospitais, a equipe gastava a m aior parte 
do tem po deliberando a respeito do diagnostico. Q uando o 
tem po disponível am eaçava se esgotar, o psiquiatra responsável 
pelo caso poderia solicitar aos dern^is que o ajudassem a elabo­
rar um plano de tratam ento . Com freqüência, essa solicitação 
era ignorada, em favor de mais discussão acerca do diagnóstico.
Expliquei ao psiquiatra que, em vez de pensar em term os 
do que há de errado com um paciente, a cnv m e estim ula a fazer 
a m im mesmo as seguintes perguntas. O que essa pessoa esta 
sentindo? Do que ela precisa? C o m o estou m e sentindo em re­
lação a essa pessoa, e que necessidades estão por trás desses sen­
tim entos? Que ação ou decisão eu pediria a essa pessoa para 
tom ar, acreditando que isso a faria viver mais feliz?" Uma vez 
que nossas respostas a essas perguntas revelariam m uito de nós 
mesmos e de nossos valores, nos sentiríamos m uito mais vu lne­
ráveis do que se fô ssem os simplesmente diagnosticar a outra
pessoa.
Em outra ocasião, fui cham ado a dem onstrar como a cnv 
poderia ser ensinada a pessoas diagnosticadas como esquizofrê­
nicas crônicas. Com cerca de oitenta psicólogos, psiquiatras, as­
sistentes sociais e enfermeiros assistindo, quinze pacientes assim
244
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
diagnosticados foram reunidos no palco. Q uando m e apresentei 
e expliquei a finalidade da cnv, um dos pacientes expressou 
um a reação que pareceu irrelevante ao que eu estava dizendo. 
Ciente de que ele havia sido diagnosticado como esquizofrêni­
co crônico, sucum bi à m entalidade clínica e presum i que m inha 
incapacidade de com preendê-lo se devia à sua confusão m ental. 
"Você parece estar tendo dificuldades para acom panhar o que 
estou dizendo", observei.
Então, outro paciente interveio: "Eu com preendo o que ele 
está dizendo". Ele então passou a explicar a relevância das pala­
vras do outro no contexto de m inha introdução. Reconhecendo 
que o hom em não estava confuso, mas que eu simplesmente 
não havia com preendido a relação entre nossos pensam entos, fi­
quei desapontado com a facilidade com a qual eu atribuíra a ele 
a responsabilidade pela interrupção da comunicação. Gostaria 
de ter reconhecido m eus próprios sentim entos, dizendo, por 
exemplo: "Estou confuso. Gostaria de entender a relação entre 
o que eu disse e sua resposta, mas não consigo. Você estaria dis­
posto a explicar como suas palavras têm relação com o que eu 
disse?"
Exceto esse breve desvio para a m entalidade clínica, a ses­
são com os pacientes prosseguiu com sucesso. A equipe, im ­
pressionada com as respostas dos pacientes, ficou im aginando 
se eu considerava aquele grupo de pacientes mais cooperativo 
do que o habitual. Respondi que, quando eu evitava diagnosti­
car as pessoas e, em vez disso, perm anecia conectado à vida que 
acontecia dentro delas e em m im mesmo, as pessoas geralm en­
te respondiam de forma positiva.
Um m em bro da equipe então pediu que um a sessão sem e­
lhan te fosse realizada como experiência de aprendizado, com 
alguns dos psicólogos e psiquiatras como participantes. Nisso, os
245
I MARSHALL B. ROSENBERG I
pacientes que estavam no palco trocaram de lugar com vários 
voluntários na platéia. Ao trabalhar com a equipe, tive muitas 
dificuldades para explicar a um psiquiatra a diferença entre a 
compreensão intelectual e a empatia da cnv. Sempre que alguém 
do grupo expressava seus sentim entos, ele oferecia sua com ­
preensão da dinâmica psicológica desses sentimentos, em vez de 
entrar em empatia com eles. Q uando isso aconteceu pela tercei­
ra vez, um dos pacientes na platéia explodiu: "Você não vê que 
está fazendo de novo? Você está in terpretando o que ela está di­
zendo, em vez de entrar em empatia com seus sentimentos!"
Ao adotarm os as habilidades e a consciência da cnv, pode­
mos aconselhar os outros em encontros que são genuínos, aber­
tos e m útuos, em vez de recorrerm os a relações profissionais ca­
racterizadas pelo distanciam ento emocional, diagnósticos e 
hierarquia.
R esum o
A cnv m elhora a com unicação interior, ao nos ajudar a tra ­
duzir m ensagens internas negativas em sentim entos e necessi­
dades. Nossa capacidade de distinguir nossos próprios sen ti­
m entos e necessidades e de en trar em em patia com eles pode 
nos libertar da depressão. Podemos então reconhecer o ele­
m ento de escolha em todas as nossas ações. Ao m ostrar como 
nos concentrarm os naquilo que realm ente desejamos, em vez 
de naquilo que há de errado com os outros ou com nós m es­
mos, a cnv nos dá as ferram entas e a com preensão de que p re ­
cisamos para criar um estado m ental mais pacífico. Profissio­
nais de aconselham ento e psicoterapia tam bém podem utilizar 
a cnv para criar relacionam entos com os pacientes que sejam 
m útuos e autênticos.
246
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
A ciw em ação
Lidando com ressentim entos e ju lg am en to s que fazem os 
de nós mesmos
Um estudante de com unicação não-vio lenta com partilha a 
seguinte história:
Eu acabara de voltar de meu primeiro sem inário residencial 
em c n v . Uma am iga que eu não encontrava havia dois anos 
estava me esperando em casa. íris fora bibliotecária de esco­
la durante 25 anos. Encontrei-a pela primeira vez durante 
uma difícil trilha pela floresta que havia culm inado num 
je jum solitário de três dias nas montanhas. Depois de escutar 
m inha descrição entusiasmada da c n v , íris revelou que ela 
ainda estava magoada com o que uma das líderes da jornada 
havia dito a ela seis anos antes. Eu me lembrava claram ente 
daquela pessoa: Lívia, o bicho do m ato, com as paímas das 
mãos sulcadas de cortes provocados pelas cordas que haviam 
segurado firm em ente seu corpo contra a m ontanha; ela in­
terpretava excrementos de animais, uivava no escuro, dança­
va sua alegria, gritava sua verdade e mostrou as nádegas para 
nosso ônibus quando nos despedimos pela últim a vez. 0 que 
íris ouvira Lívia dizer durante uma das sessões de verdade pes­
soal fo i o seguinte: "íris, não suporto gente como você, sem­
pre nojenta de tão gentil e doce, o tem po todo a frágil b iblio - 
tecariazinha que você é. Por que você simplesmente não 
deixa isso e segue em frente?"
Durante seis anos, íris ouvira a voz de Lívia na cabeça e, du­
rante todo esse tem po, ela estivera respondendo a Lívia m en­
ta lm ente. Estávamos ambos ansiosos para descobrir como 
uma consciência da cnv poderia afetar aquela situação. In ter­
pretei o papel de Lívia e repeti sua frase para íris.
247
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Ír is (esquecendo-se da cnv, ouve crítica e recrim inação) Você 
não tem o direito de me dizer isso. Você não sabe que tipo 
de pessoa ou de bibliotecária eu sou! Levo minha profis­
são a sério e, para sua inform ação, me considero uma 
educadora, assim como qualquer professora... 
eu (com a consciência da cnv, escutando com em patia, 
como se fosse Lívia) Está me parecendo que você está 
com raiva porque quer que eu conheça e reconheça quem 
você realm ente é antes de criticá-la . É isso mesmo? 
ír is Isso mesmo! Você simplesmente não tem nem idéia de 
quanto me custou só me inscrever para essa trilha. Olhe! 
Aqui estou eu: consegui term inar, não é? Enfrentei todos 
os desafios desses catorze dias e os superei todos! 
eu (como Lívia) Estou escutando que você se sente magoada 
e teria gostado de obter algum reconhecim ento e valori­
zação por todo o trabalho duro e pela coragem que de­
monstrou?
Seguiram -se algumas trocas de palavras a mais, depois das 
quais íris mostrou uma mudança; essas mudanças m uitas 
vezes podem ser observadas fisicam ente quando uma pessoa 
sente-se "escutada" como desejava. Por exemplo, a pessoa po­
de relaxar e respirar mais fundo nesse m om ento. Isso com fre ­
qüência indica que a pessoa recebeu em patia adequada e 
pode agora desviar sua atenção para outra coisa que não o 
sofrim ento que estivera expressando. Às vezes, elas estão 
prontaspara ouvir os sentim entos e necessidades de outros. 
Outras vezes, é preciso mais uma rodada de em patia para 
atender a outra área de sofrim ento na pessoa. Nessa situação 
com íris, pude perceber que havia outra parte dela que preci­
sava de atenção antes que fosse capaz de escutar Lívia. íris t i ­
248
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
vera seis anos de oportunidade para se recrim inar por não ter 
dado uma resposta honrada no próprio local. Depois da m u­
dança sutil, ela im ediatam ente continuou:
íris Que diabos, eu devia te r d ito tudo isso a ela seis anos 
atrás!
eu (com o eu mesmo, um am igo em em patia ) Você está frus­
trada porque gostaria de ter se articulado m elhor na oca­
sião?
ÍRIS S in to -m e uma idiota! Eu sabia que não era uma "frágil 
biblio tecariazinha”, mas por que não disse isso a ela? 
eu Então voeê gostaria de te r estado em conexão consigo 
mesma o bastante para dizer isso? 
íris Sim. E tam bém estou furiosa comigo mesma! Gostaria de 
não te r deixado que ela me tratasse daquele jeito . 
eu Você gostaria de te r sido mais positiva do que foi? 
íris Exatam ente, preciso me lem brar de que tenho o direito de 
me orgulhar daquilo que sou.
Iris ficou calada por alguns segundos. Então disse estar pron­
ta para praticar a c n v e escutar de form a diferente o que Lívia 
lhe disse:
eu (com o Lívia) íris, não suporto gente como você, sempre 
nojenta de tão gentil e doce, o tem po todo a frágil biblio­
tecariazinha que você é. Por que você simplesmente não 
deixa disso e segue em frente? 
íris (escutando os sentim entos, necessidades e pedidos de Lí­
via) Ah, Lívia, está me parecendo que você está realm en­
te frustrada... frustrada porque... porque eu... (Aqui Iris se 
flag ra num engano comum. A o u tiliza r a p a lavra eu, ela
249
I MARSHALL B. ROSENBERG I
atribu i os sentim entos de Lívia a si mesma, em vez de a a l­
gum desejo da p arte de Lívia que gerou o sentimento. Isto 
é, em vez de “você está frustrada porque queria algo d i­
ferente de mim", ela pensou: "você está frustrada porque 
eu sou de determ inado jeito".) 
íris (ten tando de novo) Ok, Lívia, parece que você está real­
m ente frustrada porque está querendo... hum... está que­
rendo...
Ao ten ta r sinceram ente me identificar com Lívia em minha 
interpretação, de repente senti um lampejo de consciência do 
que eu (como Lívia estava ansiando obter: "Conexão! É o que 
estou querendo! Quero me sentir conectada... a você, íris! E es­
tou tão frustrada com toda essa doçura e gentileza que se in ­
terpõem no cam inho que quero estraçalhar com elas para 
poder realm ente tocar você!"
Sentamos ambos um tan to atordoados depois daquela explo­
são, e então íris disse: "Se eu soubesse que isso era o que ela 
queria,, se ela tivesse conseguido me dizer que o que ela de­
sejava era uma conexão de verdade comigo... Puxa, quero 
dizer, isso parece quase amor".
Embora ela nunca tenha encontrado a verdadeira Lívia para 
verificar esse insight, depois daquela sessão prática de c nv , íris 
conseguiu obter uma resolução interior para o conflito que a 
incomodava insistentem ente e passou a achar mais fácil es­
cutar com uma nova consciência quando as pessoas à sua 
volta lhe diziam coisas que ela anteriorm ente teria interpre­
tado como "recriminações".
250
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
. ..quanto mais você se tornar um conhecedor da gratidão, menos 
você será vítima do ressentimento, da depressão e do desespero. A 
gratidão funcionará como um elixir que gradualmente dissolve­
rá a concha dura de seu ego — sua necessidade de possuir e con­
trolar — e transformará você num ser generoso. O senso de gra­
tidão produz uma verdadeira alquimia espiritual, torna-nos 
magnânimos — de almas grandes.
Sa m K een
251
1 3 . Expressando apreciação na 
com unicação não-violenta
A INTENÇÃO POR TRÁS DA APRECIAÇÃO
"Você fez um trabalho m uito bom nesse relatório."
"Você é um a pessoa m uito sensível."
"Foi m uito gentil de sua parte me oferecer carona para casa 
na noite passada."
Frases como essas são tipicamente pronunciadas como ex­
pressões de apreciação na comunicação alienante da vida. Talvez 
você esteja surpreso que eu con­
sidere elogios e cum prim entos Cumprimentos são muitas vezes
como alienantes da vida. Obser- julgamentos dos outros, ainda
ve, porém, que a apreciação ex- que positivos.
pressada dessa form a revela
pouco do que está acontecendo dentro de quem fala e estabele­
ce que quem fala está em posição de julgar. Defino julgam entos
— tanto positivos quanto negativos — como comunicação alie­
nan te da vida.
253
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Nos treinam entos que oferecemos em empresas, é com um 
eu encontrar gerentes que defendem a prática do elogio e das 
congratulações, alegando que "funciona". "As pesquisas m os­
tram ", eles afirmam, "que se um gerente congratula os subordi­
nados, estes trabalham mais. E o m esm o acontece nas escolas: 
se os professores elogiam os alunos, estes estudam mais". Tendo 
revisado essas pesquisas, acredito que quem recebe esse tipo de 
elogio de fato trabalha mais — mas só inicialm ente. Uma vez 
que eles percebam a m anipulação por trás da apreciação, sua 
produtividade cairá. No entanto, o que mais me perturba é que 
a beleza da apreciação é estragada quando as pessoas começam 
a perceber a intenção oculta de conseguir algo delas.
Além disso, quando usamos o reforço positivo como meio 
de influenciar os outros, pode não ficar claro como eles estão re ­
cebendo a m ensagem . Há um cartum em que um índio norte- 
am ericano diz ao outro: "Veja como uso a psicologia m oderna 
com esse cavalo!" Ele então leva o seu amigo para um lugar de 
onde o cavalo pode escutar sua conversa e exclama: "Tenho o 
cavalo mais rápido e mais corajoso de todo o Oeste!" O cavalo 
parece triste e diz para si mesmo: "E agora? Ele deve ter saído e 
com prado outro cavalo".
Q uando usam os a cnv pa- 
Expresse apreciação como forma ra expressar apreciação, é p u ­
de celebrar, e não de manipular. ram en te para celebrar, não
para obter algo em troca. Nos­
sa única intenção é celebrar como nossa vida foi enriquecida 
pelos outros.
O S TRÊS COMPONENTES DA APRECIAÇÃO
A cnv d is tin g u e c la ra m e n te trê s c o m p o n e n te s ao e x p re s sa r­
m o s aprec iação :
254
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
1. as ações que contribuíram para nosso bem -estar;
2. as necessidades específicas que foram atendidas;
3. os sentim entos agradáveis gerados pelo atendim ento 
dessas necessidades.
A seqüência desses ingred ien tes pode variar; às vezes, 
todos os três podem ser expressos por um sorriso, ou por um 
simples "obrigado". Entretanto,
se querem os garantir que nossa Agradecer na c n v : "Isso é o que
apreciação seja p lenam ente re- vocg fez- ,-ss0 g 0 qUe sjnto; essa
cebida, vale a pena desenvolver ^ minha necessidade que foi
a eloqüência para expressar ver- atendida",
balm ente todos os três com ­
ponen tes. O diálogo a seguir ilustra como elogios podem ser 
transform ados em apreciação que abrange todos os três com po­
nentes:
participante (abordando-m e ao fin a l de um sem inário) Mars­
hall, você é brilhante! 
eu Não estou desfrutando da sua apreciação tan to
quanto gostaria. 
participante Por quê, o que você quer dizer? 
eu Ao longo de minha vida, já fui chamado de uma in­
finidade de nomes; no entanto, não me lembro de 
ter aprendido nada quando dizem o que sou. Gos­
taria de aprender com sua apreciação e desfrutá-la, 
mas, para isso, eu precisaria de mais informações. 
participante Como o quê?
eu Em primeiro lugar, gostaria de saber o que eu disse
ou fiz que tornou sua vida mais maravilhosa. 
participante Bem, você é tão inteligente...
255
I MARSHALL B. ROSENBERG I
eu Creio que você tenha acabado de me dar o u t r o
ju lgam ento , que ainda me deixa sem saber o que 
fiz para to rn ar sua vida mais maravilhosa.
A participante pensa um pouco e então mostra as notas que
tom ou durante o seminário: "Vejanesses dois exemplos. Fo­
ram essas duas coisas que você disse".
eu Ah, então foram essas duas coisas que falei que
você apreciou.
PARTICIPANTE Sim.
eu Agora, gostaria de saber como você se sente em
relação a eu te r falado essas duas coisas.
participante Esperançosa e aliviada.
eu Agora eu gostaria de saber quais necessidades
suas foram atendidas quando fa le i essas duas coi­
sas.
participante Tenho um filho de 18 anos e não tenho consegui­
do me com unicar com ele. Tenho procurado de­
sesperadamente algum a orientação que possa 
ajudar a me relacionar com ele de form a mais 
amorosa, e essas duas coisas que você falou me 
deram a orientação que eu estava procurando.
Tendo ouvido as três informações — o que fiz, como ela se 
sentiu e quais de suas necessidades foram atendidas —, pude 
então celebrar a apreciação ju n tam en te com ela. Se ela tivesse 
inicialm ente expressado sua apreciação na cnv, poderia ter 
soado assim: "Marshall, quando você disse essas duas coisas 
(m ostrando-m e suas anotações), senti m uita esperança e alívio, 
porque tenho procurado um a m aneira de estabelecer um a co­
256
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
nexão com m eu filho, e isso m e deu a orientação que estava 
p rocurando".
R ecebe mo apreciação
M uitos de nós não recebem os elogios de boa vontade. Tor­
tura-nos pensar se os m erecem os. Preocupam o-nos com o que 
se espera de nós — especialm ente se temos professores ou ge­
rentes que usam o elogio como instrum ento para increm entar a 
produtividade. Ou ficamos nervosos por term os de correspon­
der à apreciação. Acostum ados a um a cultura em que comprar, 
trabalhar para ganhar e m erecer são os m odos padrão de in te r­
câmbio, m uitas vezes nos sentim os desconfortáveis com o sim ­
ples ato de dar e receber.
A c n v n o s e n c o ra ja a receber apreciação com a mesma qua­
lidade empática que expressamos ao escutar outras mensagens. 
Ouvimos o que fizemos que contribuiu para o bem -estar dos o u ­
tros; escutamos seus sentim entos e as necessidades que fo r a m 
atendidas. Aceitamos em nosso coração a alegre realidade de que 
cada um de nós pode m elhorar a qualidade de vida dos outros.
Aprendi a receber elogios de boa vontade com m eu amigo 
Nafez Assailey. Ele era m em bro de um grupo de palestinos q u e 
eu convidara a ir à Suíça para
u m tre in a m e n to em cnv, n u m a Receba apreciação sem se sentir
época em q u e as p re c a u ç õ e s d e superior e sem falsa modéstia.
segurança haviam tornado im ­
possível treinar grupos mistos de palestinos e israelenses em 
qualquer de seus respectivos territórios. Ao final do seminário, 
Nafez veio falar comigo: "Esse treinam ento será m uito valioso 
para trabalharm os pela paz em nossa terra", reconheceu. "Gos­
taria de agradecer a você da m aneira que nós, m uçulm anos 
sufis, fazemos quando desejamos expressar um a especial apre-
257
I MARSHALL B. ROSENBERG I
ciação de algum a coisa". Prendendo o polegar no m eu, ele me 
olhou nos olhos e disse: "Beijo o Deus em você que perm ite que 
você nos dê o que deu". Aí, beijou m inha mão.
A expressão de agradecim ento de Nafez m e ensinou um a 
m aneira diferente de receber apreciação. Geralm ente, ela é re ­
cebida de um a entre duas posições opostas. Em um extrem o 
está o egocentrismo: acreditar que somos superiores porque fo­
mos apreciados. Em outro extrem o está a falsa hum ildade, n e ­
gando a im portância da apreciação com desm erecim ento: "Ah, 
não foi nada". Nafez m e m ostrou que eu poderia receber apre­
ciação com alegria, consciente de que Deus deu a todos o poder 
de enriquecer a vida dos outros. Se tenho consciência de que é 
esse poder de Deus operando através de m im que m e dá o poder 
de enriquecer a vida dos outros, então posso evitar tan to a a r­
m adilha do ego quanto a falsa hum ildade.
Uma vez, Golda Meir, quando prim eira-m inistra de Israel, 
repreendeu um de seus ministros: "Não seja tão hum ilde, você 
não é tão grande". As linhas a seguir, atribuídas à escritora con­
tem porânea M arianne Williamson, servem como outro lem bre­
te para que eu evite a arm adilha da falsa hum ildade:
Nosso maior medo não é o de sermos inadequados. Nosso maior 
medo é o de sermos poderosos além da conta.
É nossa luz, e não nossas trevas, que nos amedronta. Você é um 
filho de Deus. Sua pretensa humildade não contribuirá para o 
mundo.
Não há nada de iluminado em se encolher para que as outras 
pessoas não se sintam inseguras perto de você.
Nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de 
nós. Não apenas em alguns de nós, mas em todas as pessoas.
258
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
E ao deixarmos nossa própria luz brilhar, inconscientemente da­
mos aos outros a mesma permissão.
Quando nos libertamos de nosso medo, nossa presença automati­
camente liberta os outros.
■;xxsooocy v;j
A Â1MS1A POR APRECIAÇÃO
Paradoxalm ente, apesar de nosso desconforto em receber 
elogios, a maioria de nós anseia por ser genuinam ente reconhe­
cido e apreciado. D urante um a festa-surpresa realizada para 
mim, um amigo de 12 anos de idade sugeriu um joguinho p a ­
ra ajudar a apresentar os convidados uns aos outros. Deveríamos 
escrever um a pergunta e colocá-la num a caixa. Depois as p es­
soas, um a a uma, deveriam sortear um a pergunta e respondê- 
la em voz alta.
Tendo recentem ente trabalhado como consultor para vários 
departam entos assistenciais e organizações industriais, fiquei 
im pressionado com a freqüência com que as pessoas expressa­
vam a falta de apreciação no trabalho. "Não im porta quanto tra ­
balhe duro", suspiravam, "você nunca ouve um a palavra agra­
dável de ninguém . Mas com eta um único erro e sempre haverá 
alguém caindo em cima." Então, para aquele jogo, escrevi a p e r­
gunta: "Que tipo de elogio alguém poderia expressar para fazê- 
lo pular de alegria?"
Uma m ulher tirou essa pergunta de dentro da caixa, leu-a 
e com eçou a chorar. Como diretora de um abrigo para m u lh e­
res vítimas de violência doméstica, ela devotava um a considerá­
vel energia todos os meses para criar um a program ação que 
agradasse o m aior núm ero possível de pessoas. No entanto,
259
I MARSHALL B. ROSENBERG I
todas as vezes que a program ação era apresentada, alguém sem ­
pre reclamava. Ela não conseguia se lem brar de jam ais ter rece­
bido apreciação por seus esforços para elaborar um a program a­
ção adequada. Tudo isso passara por sua m ente enquanto ela lia 
m inha pergunta, e a ânsia por apreciação a levou às lágrimas.
Ao ouvir a história daquela m ulher, outro amigo m eu disse 
que ele tam bém gostaria de responder à pergunta. Todos os de­
mais então pediram sua vez; várias pessoas choraram ao res­
ponder.
Embora a ânsia por apreciação — em contraponto a "ata­
ques" m anipulativos — seja particularm ente evidente no traba­
lho, ela tam bém afeta a vida familiar. Certa noite, quando apon­
tei que ele deixara de executar 
Tendemos a registrar o que está ,, , .um a tarefa dom estica, m eu
dando errado, não o que está dan- filho Brett respondeu: "Papai,
do certo. você tem consciência de q u a n ­
tas vezes você d iz o que está errado, m as quase nunca diz o que 
está certo?" Sua observação calou fundo em mim. Percebi como 
estava o tem po todo procurando melhorias, mas m al parava 
para celebrar as coisas que estavam indo bem. Eu tinha acaba­
do de term inar um sem inário com mais de cem participantes, 
todos os quais tinham feito um a avaliação m uito boa do sem i­
nário, com exceção de um a pessoa. E ntretanto, o que ficara em 
m inha m ente fora a insatisfação daquela única pessoa.
Naquela noite, escrevi um a canção que começava assim:
Se eu for 98% perfeito 
em qualquer coisa que faça, 
será dos 2 % que estraguei 
que me lembrarei no final.
2 6 0
Ocorreu-m e que eu tinha um a chance de adotar a perspec­
tiva de um a professora que conheci. Um de seus alunos, não 
tendo estudado para a prova, resignou-se a entregar um pedaço 
de papel em branco comseu nom e no alto. Mais tarde, ele ficou 
surpreso quando a professora lhe devolveu a prova com um a 
nota de 14%. "Por que eu tive 14% ?", ele perguntou, incrédu­
lo. "Pelo capricho", ela respondeu. Desde o "toque de despertar" 
de m eu filho Brett, venho tentando ter mais consciência do que 
os outros à m inha volta fazem que enriquece m inha vida e tento 
afiar m inhas habilidades de expressar essa apreciação.
Super amuo a relutância em expressar apreciação
Fiquei profundam ente comovido por um trecho do livro de 
John Powell, The secret ofstaying in love [0 segredo do amor eterno], 
no qual ele descreve a tristeza por não ter conseguido durante 
o tem po de vida do pai expressar quanto o apreciava. Como m e 
parece doloroso perder a chance de apreciar as pessoas que fo­
ram as m aiores influências positivas em nossa vida!
Im ediatam ente, veio-me à m ente m eu tio Julius Fox. 
Q uando eu era m enino, ele vinha todos os dias oferecer cuida­
dos de enferm agem à m inha avó, que estava totalm ente parali­
sada. Enquanto cuidava dela, ele sempre tinha um sorriso calo­
roso e am oroso em seu rosto. Não im portava quanto a tarefa 
parecesse desagradável a m eus olhos de m enino, m eu tio a tra ­
tava como se m inha avó estivesse lhe fazendo o m aior favor do 
m undo ao perm itir que ele cuidasse dela. Isso m e deu um m a­
ravilhoso modelo de força masculina, ao qual recorri m uitas 
vezes desde então.
Eu m e dei conta de que nunca havia expressado apreciação 
por m eu tio, que agora estava doente e prestes a m orrer. Pensei
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
261
I MARSHALL B. ROSENBERG I
em fazer isso, mas pude sentir m inha própria resistência: 
"Tenho certeza de que ele já sabe quan to significa para mim, 
não preciso dizer isso em voz alta; além do mais, ele pode ficar 
constrangido se eu puser isso em palavras". Assim que esses 
pensam entos en traram em m inha cabeça, eu soube que eles 
não eram verdadeiros. Eu havia presum ido inúm eras vezes que 
os outros sabiam da intensidade de m inha apreciação por eles, 
para mais tarde descobrir que não sabiam. E, m esm o quando as 
pessoas ficavam constrangidas, elas ainda assim queriam ouvir 
um elogio verbalizado.
Ainda hesitante, disse a m im m esm o que palavras não p o ­
deriam fazer justiça à profundidade do que eu desejava com u­
nicar. No entanto, rapidam ente descartei esse pensam ento: sim, 
as palavras podem ser veículos m uito limitados para transm itir 
as realidades que sentimos em nosso coração, mas, como apren­
di, "tudo o que vale a pena fazer tam bém vale a pena ser feito 
de forma limitada!".
No fim das contas, logo m e vi sentado ju n to ao tio Julius 
num a reunião de família, e as palavras sim plesm ente fluíram de 
dentro de mim. Ele as aceitou com alegria e sem constrangi­
m ento. Transbordando com os sentim entos daquela noite, vol­
tei para casa, escrevi um poem a e o m andei para ele. Mais tarde 
m e disseram que todos os dias até m orrer, três sem anas depois, 
m eu tio pedia que lessem o poem a para ele.
R esum o
Cum prim entos convencionais freqüentem ente tom am a 
form a de julgam entos, ainda que positivos, e às vezes são feitos 
com a intenção de m anipular o com portam ento dos outros. A 
cnv nos encoraja a expressar apreciação som ente para celebrar.
2 6 2
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Colocamos: (1) a ação que contribuiu para nosso bem -estar; (2) 
a necessidade específica que foi atendida; e (3) o sentim ento de 
prazer que foi gerado em conseqüência disso.
Q uando recebemos elogios expressos dessa m aneira, pode­
mos aceitá-los sem n en h u m sentim ento de superioridade ou de 
falsa hum ildade, celebrando jun tam ente com a pessoa que nos 
oferece sua apreciação.
263
Epílogo
-v i
Uma vez perguntei a m eu tio Julius como ele desenvolvera 
um a capacidade tão notável de doar com compaixão. Ele pare­
ceu sentir-se honrado com m inha pergunta, sobre a qual refle­
tiu antes de responder isto: "Tive a sorte de ter bons professo­
res". Q uando perguntei quem tinham sido eles, ele lembrou: 
"Sua avó foi a m elhor professora que tive. Você viveu com ela 
quando ela já estava doente, de m odo que não pôde saber como 
ela realm ente era. Por exemplo, sua m ãe já lhe contou sobre a 
ocasião, duran te a Depressão, em que ela levou um alfaiate, a 
esposa e dois filhos deles para viverem com ela por três anos, 
depois que o hom em perdeu a casa e o negócio?" Eu me lem ­
brava bem dessa história. Ela m e deixara m uito impressionado 
quando m inha m ãe a contou pela prim eira vez, porque nunca 
consegui en tender como m inha avó havia encontrado espaço 
para a família do alfaiate quando ela já criava os nove filhos 
num a casinha de tam anho modesto!
265
I MARSHALL B. ROSENBERG I
Tio Julius relem brou a com paixão de m inha avó em algu­
mas outras histórias, que eu havia escutado quando criança. 
Então ele perguntou: "Com certeza, sua m ãe deve ter lhe con­
tado sobre Jesus".
"Sobre quem?"
"Jesus."
"Não, ela nunca me falou sobre Jesus."
A história sobre Jesus foi o precioso presente final que re ­
cebi de m eu tio antes dele m orrer. É um a história verdadeira, de 
um a ocasião em que um hom em bateu à porta dos fundos de 
m inha avó pedindo um pouco de comida. Isso não era inco- 
m um . Embora m inha avó fosse m uito pobre, toda a vizinhança 
sabia que ela dava comida a qualquer um que aparecesse à sua 
porta. O hom em tinha barba e cabelos pretos rebeldes e despen­
teados; suas roupas estavam em farrapos e ele usava um a cruz 
pendurada no pescoço, feita de galhos am arrados com cordas. 
M inha avó o convidou a entrar em sua cozinha para comer 
algo, e, enquanto ele comia, ela perguntou seu nom e.
"Meu nom e é Jesus", ele respondeu.
"E o senhor tem sobrenom e?", ela perguntou.
"Eu sou Jesus, o Senhor". (O inglês de m inha avó não era 
m uito bom. Um outro tio, Isidor, mais tarde m e disse que e n ­
trou na cozinha quando o hom em ainda estava com endo e 
vovó apresentou o estranho como "seu O ssenhor"...)
Enquanto o hom em ainda comia, m inha avó perguntou 
onde ele morava.
"Eu não tenho lar."
"Bem, onde o senhor vai passar esta noite? Está frio."
"Eu não sei".
"O senhor gostaria de ficar aqui?", ela ofereceu.
Ele ficou sete anos.
2 6 6
I COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA I
Q uanto à com unicação não-violenta, m inha avó tinha um 
dom natural. Ela nem pensou em quem "era" aquele hom em . 
Se o tivesse feito, provavelm ente o teria julgado louco e se li­
vrado dele. Mas, não, ela pensava em o que as pessoas sentem 
e do que precisam. Se elas têm fome, alim ente-as. Se não têm 
um teto sobre a cabeça, dê-lhes um lugar para dormir.
M inha avó adorava dançar, e m inha m ãe se lem bra dela d i­
zendo sempre: "Nunca ande quando puder dançar". E, assim, 
encerro este livro a respeito da linguagem da compaixão com 
um a canção a respeito de m inha avó, que falava e vivia a lin ­
guagem da Comunicação Não-Violenta.
Um dia, um homem chamado Jesus
Apareceu à porta de minha avó.
Ele pediu um pouco de comida,
Mas ela não o deixou mais só.
Ele disse que era Jesus, o Senhor;
Ela não foi a Roma para confirmar.
Ele ficou por vários anos,
Assim como muitos outros sem lar.
Foi a maneira judaica
Que ela me ensinou o que Jesus tinha a dizer.
Daquele modo precioso,
Ela me ensinou o que Jesus tinha a dizer.
E era: "Alimente os famintos, cure os doentes,
E então se dê um tempinho.
267
Nunca ande quando puder dançar;
Faça da sua casa um aconchegante n inho".
Foi à sua maneira judaica
Que ela me ensinou o que Jesus tinha a dizer.
Daquele modo precioso,
Ela me ensinou o que Jesus tinha a dizer.
'. ..■ •’ . . > <300«
I MARSHALL B. ROSENBERG I
w w w .n o n v i o l e n t e o m m u n i e a ti o n .c o m
Por favor, visite o site acim a (em inglês) para obter mais in ­
form ações sobre a com unicação n ão -v io len ta e sobre o a u ­
tor, para conhecer links com sites regionais relacionados à 
c n v e para conseguir m aterial de referência sobre

Mais conteúdos dessa disciplina