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educação e trabalho aula 6

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EDUCAÇÃO E TRABALHO 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rui Valese 
 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, vamos aprofundar um pouco mais as nossas reflexões. 
Começamos apresentando alguns conceitos fundamentais que orientariam as 
nossas reflexões. Em seguida, faremos um tour por vários períodos da história 
humana e de várias sociedades, abordando como nestas se deram as relações 
entre educação e trabalho. Afora, buscando uma síntese dialética, retomaremos 
alguns conceitos e apresentaremos outros. 
Inicialmente, trataremos do sentido humano do trabalho e da educação. 
Segundo Kant, o ser humano é o único animal que precisa ser educado. Assim, 
tanto o trabalho como a educação são criações e necessidades especificamente 
humanas. Em seguida, trataremos dos sentidos objetivo e subjetivo do trabalho 
e da educação. Para finalizarmos, abordaremos a dignidade do trabalho e da 
educação e alguns princípios fundamentais para que tanto o trabalho como o 
fazer pedagógico sejam dignos. 
Nos últimos anos, tem crescido a negação de conhecimentos humanos 
fundamentais e que fizeram a diferença no progresso e na qualidade de vida de 
nós, seres humanos. Um exemplo é o crescimento dos seguidores do 
“terraplanismo” e os antivacinas. A ignorância tem sido defendida como se fosse 
benéfica para a existência humana. Cada vez mais precisamos retomar o projeto 
de esclarecimento que identificamos começando com os pré-socráticos, 
passando pelos iluministas e se reafirmando com os frankfurtianos. Como nos 
diz Agnes Heller, é hora de fazer profissão de fé. 
TEMA 1 – SENTIDO HUMANO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO 
Segundo Kant (1999, p. 11), “o ser humano é a única criatura que precisa 
ser educada”. Começaremos esse tópico tratando do sentido humano do 
trabalho e da educação. 
Até onde o nosso conhecimento já chegou, podemos afirmar que o ser 
humano é o único que tem consciência de sua existência. Parece obvio para nós, 
porém, essa condição, que foi sendo adquirida ao longo do nosso 
desenvolvimento, possibilitou nos libertarmos da natureza e produzirmos as 
condições da nossa própria existência. É essa a definição inicial que 
apresentamos de trabalho: produção da própria existência. Apesar de alguns 
pensadores como Hobbes e Locke apresentarem os seres humanos como 
 
 
3 
individualistas e competitivos, compreendemos os seres humanos, assim como 
muitos outros seres vivos, como seres gregários e colaborativos por natureza. O 
fato de afirmamos esse espírito gregário como fazendo parte da essência 
humana não significa que ignoremos que alguns indivíduos tenham 
comportamentos individualistas e competitivos. Vejamos agora algumas 
concepções de ser humano e como estas são importantes para as reflexões que 
viemos fazendo até aqui. 
Segundo Aristóteles (1991, p. 4), o ser humano1 é um zoo politikon: “o 
homem é um animal cívico [político], mais social do que as abelhas e os outros 
animais que vivem juntos”. Ao afirmar essa condição – animal político – 
Aristóteles está, por analogia à sua definição de polis (cidade), afirmando que o 
ser humano se organiza em cidades para, assim como estas, “não apenas para 
conservar a existência, mas também para buscar o bem-estar”. Ora, a cidade, 
para Aristóteles, é união de várias aldeias, cujo objetivo é o “viver bem”. Esse 
viver bem somente é possível graças a essa união de famílias (que são 
constituídas por pessoas) e aldeias em uma cidade, isto é, viver na polis, na 
cidade. 
Já para Descartes, a definição de ser humano pode ser derivada de sua 
máxima “Cogito, ergo sum”, isto é, a existência é definida por meio do pensar, 
da razão. Nessa linha de raciocínio, podemos pôr em dúvida o que quisermos. 
Porém, ao realizarmos essa operação – duvidar – nos vem uma primeira certeza: 
nós pensamos. Derivada dessa primeira certeza, uma segunda: para 
pensarmos, precisamos existir. Essa é uma diferença fundamental entre nós e 
os demais seres vivos: o ato de pensar. Somos seres pensantes. Entretanto, 
como afirma Gramsci (citado por Aranha, 1992, p. 31) sobre o ser humano, ao 
pensarmos sobre o que somos, “queremos saber [...], o que somos e em que 
coisa nos podemos tomar [...]. E isto queremos sabê-lo ‘hoje’, nas condições 
dadas hoje, pela vida ‘hodierna’ e não por uma vida qualquer e de qualquer 
homem”. 
Dessa forma, quando afirmamos que aquilo que nos diferencia dos 
demais seres vivos é o ato de pensar, não estamos falando de um pensar 
abstrato, mas concreto, objetivo, determinado e sob determinadas condições. 
 
1 Embora Aristóteles não use a expressão “ser humano”, mas “homem”, pois está se referindo 
ao sujeito do sexo masculino, nos apropriaremos do sentido – animal político – e ao aplicaremos 
a todos os seres humanos. 
 
 
4 
Pois, como afirma Marx (2001, p.10), os seres humanos se distinguem “dos 
animais logo que começam a produzir seus meios de existência, e esse passo à 
frente é a própria consequência de sua organização corporal”. Assim, é essa 
dupla forma – pensar e trabalhar – que nos caracteriza e nos diferencia dos 
demais seres vivos. Passemos, agora, a refletir sobre esse segundo aspecto da 
existência humana, que anunciamos com Marx: o trabalho. 
Por trabalho entendemos uma ação exclusivamente humana, visto que, 
diferentemente dos outros seres vivos que agem sobre a natureza, a ação 
humana é intencional e consciente. Essa ação objetiva produzir aqueles bens 
materiais e imateriais necessários à produção e reprodução também da sua 
existência material e imaterial. No entanto, o trabalho não é uma ação 
unidirecional, mas bidirecional. Isto é, o trabalho é uma ação dialética com a 
natureza, pois, na medida em que transformamos a natureza para garantir a 
nossa existência, também somos modificados por ela. 
Nesse sentido, o trabalho é uma ação dignificante, visto que é por meio 
dele que nos construímos. Essa construção é tanto física quanto intelectual e 
moral. É uma construção física, pois, para trabalharmos, dispendemos energia 
física. E, para repor a energia física dispendida enquanto trabalhamos, 
precisamos nos alimentar, fornecer os nutrientes necessários para a renovação 
dessa energia. Aqui, uma vez mais, está a nossa relação dialética com a 
natureza: esses nutrientes são fornecidos pelos alimentos que produzimos e/ou 
extraímos da natureza. 
A construção/transformação é, também, intelectual. Isso porque, para 
agirmos sobre a natureza, ou seja, trabalharmos, não o fazemos de maneira 
mecânica, automática, mas sim pensada, intencional, planejada, raciocinada. 
Mesmo quando éramos apenas coletores, caçadores e pescadores, 
precisávamos planejar tais ações: quando e como caçar, pescar e coletar; 
quanto o grupo precisava para se alimentar etc. 
Quando o ser humano criou a agricultura, aumentou ainda mais sua 
capacidade intelectual. Pensemos em todas as tarefas necessárias para garantir 
que a colheita fosse boa o suficiente para alimentar a família e/ou grupo: que 
sementes escolher e como, quando e onde plantar? Que cuidados deveriam ser 
tomados até chegar o momento da colheita? Por isso é que muitos povos, ao 
final da colheita, costumavam realizar cerimônias para agradecer e celebrar os 
frutos colhidos. Isso porque, mesmo dominando técnicas de plantio, cultivo e 
 
 
5 
colheita, sabemos que os resultados também dependem de diversos fatores, por 
exemplo, as condições climáticas. 
Por fim, essa construção/transformação é também moral na medida em 
que descobrimos que o trabalho não é uma atividade isolada, individual, mas sim 
algo que pede a colaboração de outros seres humanos e, também, de outros 
seres vivos. Da mesma forma, a relação que precisamos estabelecer com a 
natureza não pode ser predatória, mas de integração, visto que também fazemos 
parte da natureza. Quando a agredimos, também estamos nos agredindo; 
quando a exploramos, também estamos nos explorando. 
Finalizemos essetópico refletindo sobre a educação. O que falamos até 
aqui sobre o trabalho também se aplica a essa área, até porque a educação é 
um trabalho, como também uma ação exclusivamente humana. Somente nós, 
seres humanos, construímos conhecimentos e precisamos transmitir o que 
sabemos a nossos descendentes. A construção desses conhecimentos é 
histórica e social, e o fazemos de maneira também dialética na medida em que, 
por meio das nossas vivências, produzimos pensamentos que os 
experimentamos em novas ações. Contudo, por vezes, essa produção é em 
sentido contrário: primeiramente imaginamos algo, tentamos colocar em prática, 
realizamos ajustes e refletimos sobre todo o processo desde o início. 
TEMA 2 – SENTIDO OBJETIVO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO 
Antes de tratarmos do sentido objetivo do trabalho e da educação, cabe, 
primeiramente, esclarecermos o que entendemos por objetivo. Essa palavra tem 
pelos menos dois sentidos: um primeiro, como meta ou algo a ser alcançado; e 
um segundo, significando algo concreto, específico, direto. É nesse segundo 
sentido que trataremos aqui. Da mesma forma, para melhor poder compreendê-
lo, o tomemos como oposto de subjetivo, o qual abordaremos no tópico seguinte. 
Ou seja, falamos de trabalho e educação como algo objetivo, estamos pensando 
essas ações de maneira concreta, direta, sem as interferências subjetivas que 
podem sofrer. Obviamente, conseguimos realizar essa separação por estarmos 
racionalizando esses sentidos. No concreto pensado, parafraseando Karel 
Kosik, essa separação é impossível. 
Objetivamente, por meio do trabalho, consciente e intencionalmente 
transformamos a natureza para retirar dela os bens materiais e imateriais 
necessários para a produção e reprodução da nossa existência. Por meio do 
 
 
6 
trabalho tomamos consciência de que somos capazes de pensar, sentir e 
perceber o mundo ao nosso redor. Ao mesmo tempo que nos percebemos 
fazendo parte do mundo, da natureza, também nos percebemos como distintos 
dela, isto é, não estamos presos às nossas determinações. 
Ao trabalharmos, percebemos o trabalho como um paradoxo. De um lado, 
ele é necessário para a produção e reprodução da nossa existência; porém, de 
outro, por meio dele nos reificamos. Por intermédio das relações que 
estabelecemos ao trabalhar – o que acaba por tornar o trabalho uma ação 
aviltante – nos transformamos em coisa e/ou transformamos outros seres 
humanos em coisa, mercadoria. Coisificamos nossas relações com outros iguais 
a nós, como também coisificamos a própria natureza. Para fazermos uma 
reflexão sobre o sentido objetivo do trabalho e da educação, tomemos de 
empréstimo a teoria das quatro causas de Aristóteles. 
Na obra Metafísica, Aristóteles fala sobre a teoria das quatro causas: 
formal (a forma que um abjeto assume), material (o de que algo é feito), eficiente 
(o que age sobre a matéria e lhe dá a forma objetivada) e final (a finalidade para 
a qual o objeto serve). Apliquemos agora essas quatro causas tanto para o 
trabalho quanto para a educação. 
Para refletirmos sobre a causa material relacionada à educação e ao 
trabalho, precisamos responder à seguinte pergunta: de que é feito o trabalho e 
a educação? Basicamente podemos dizer que são feitos de corpo, mente, 
espírito e tempo, ou seja, são as matérias de que são feitas a educação e o 
trabalho. Enquanto os recursos materiais são necessários, mas não 
imprescindíveis para que o trabalho e a educação existam, esses quatro 
elementos são imprescindíveis, uma vez que os recursos materiais por si só não 
são suficientes para que haja educação e trabalho. Da mesma forma, estamos 
falando de corpo, mente, espírito e tempo de dois sujeitos: o que ensina (que 
também pode aprender) e o que aprende (que também pode ensinar). 
Já a causa formal é a forma que a educação e o trabalho adquirem após 
as transformações pelas quais passam o corpo, a mente, o espírito e o tempo 
dos sujeitos envolvidos nesses processos. Tomando como exemplo a educação, 
nem quem ensina nem quem aprende, após sofrerem a ação da causa eficiente, 
continuarão os mesmos, pelo contrário. Para que a nova forma se estabeleça, a 
ação é tanto manual quanto intelectual. 
 
 
7 
Já a causa eficiente da educação e do trabalho é o ser humano, visto que 
ele age sobre seu corpo, mente, espírito e tempo para transformar a si mesmo e 
superar a sua condição anterior, mesmo conservando algo que, nesse processo, 
esteve em modo stand by, em Aufhebung, para depois ser retomado. Após a 
ação da causa eficiente, temos um sujeito que é novo, mas que traz elementos 
da condição anterior. 
Por fim, temos a causa final, isto é, a finalidade pela qual a causa eficiente 
agiu sobre a material – corpo, mente, espírito e tempo. Em síntese, podemos 
dizer que a finalidade de tal ação é a produção e reprodução da existência 
material e imaterial. Quando estudamos e trabalhamos, queremos garantir a 
produção e reprodução da existência material e imaterial. 
TEMA 3 – SENTIDO SUBJETIVO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO 
Antes de apresentarmos o sentido subjetivo do trabalho e da educação, é 
necessário esclarecer o que entendemos por subjetivo. Inicialmente, por 
subjetivo costuma-se entender o sentido que um indivíduo dá a algo, sua 
interpretação individual. Porém, entendemos que esse conceito é restritivo e 
particularizado. Por subjetividade entendemos a compreensão que é relativa ao 
sujeito, e não ao indivíduo. Há uma diferenciação entre sujeito e indivíduo que 
precisamos fazer aqui para que a compreensão de subjetividade, na forma como 
a estamos tomando, seja melhor compreendida. 
Por subjetividade e sujeito estamos entendendo o que é relativo ao ser 
humano. Já por indivíduo, entendemos o sujeito particular, determinado: Paulo, 
Maria, José, Catarina, Rosa etc. Essa diferenciação é importante, pois, por 
exemplo, quando falamos da importância da educação para o ser humano – 
sujeito – isso não significa que todos os seres humanos consideram a educação 
como sendo importante. Pode ser que, para Paulo, é mais importante que seu 
filho trabalhe do que vá à escola. Isso porque, com base nas condições em que 
ele vive, o trabalho de seu filho é mais significativo por gerar renda e contribuição 
para a subsistência da sua família. 
Embora o trabalho tenha um sentido objetivo, como vimos no tópico 
anterior, ele também tem o sentido subjetivo. Isso ocorre quando simbolizamos 
e significamos o trabalho por meio da nossa subjetividade. Isto é, olhamos o 
trabalho para além do dispêndio de energia física e intelectual, que é o seu 
sentido concreto, objetivo. Consideramos o trabalho como o meio pelo qual nos 
 
 
8 
libertamos da natureza. Antes de agirmos de maneira intencional e autônoma 
em relação à natureza, éramos completamente dependentes do que ela oferecia. 
Porém, mesmo quando ainda éramos povos coletores, caçadores e pescadores, 
essa dependência começou a ser rompida e iniciou-se a autonomia do ser 
humano em relação à natureza. Esse sentido de autonomia é subjetivo: 
continuamos precisando da natureza para garantir nossa subsistência. No 
entanto, agimos sobre ela de maneira autônoma, e quando fazemos isso, isto é, 
ao trabalharmos, vamos nos modificando. É nesse estágio que assumimos a 
nossa condição de sujeitos, de Ser; enquanto sujeitos, estabelecemos relações 
com o trabalho de variadas dimensões. Vejamos algumas delas. 
Uma dessas dimensões que estabelecemos é a ontológica. Por dimensão 
ontológica estamos falando da constituição da nossa natureza, da nossa 
essência, daquilo que nos torna únicos, completamente diferentes de todos os 
demais seres vivos. Somos os únicos seres que agimos sobre a natureza de 
maneira intencional e planejada e extraímos dela os bens materiais e imateriais 
necessários à nossa existência. E, ao fazermos isso, não somente modificamos 
a natureza, mas também nos modificamos. 
Uma segunda dimensãoé a antropológica. Por meio do trabalho – e da 
educação –, nós nos humanizamos. Isto é, vamos “expulsando” o animal e nos 
transformando em seres humanos. Em sentido ingênuo, pensamos que a 
humanidade é algo natural em nós, que é da nossa essência. Porém, quando 
entramos em contato com alguns relatos da literatura científica percebemos que 
não é bem assim, e os casos são até bem numerosos. Talvez o mais conhecido 
seja o das indianas Amala e Kamala, criadas por lobos, que foram resgatadas 
quando tinham 18 meses e 8 anos, respectivamente. Na obra As Crianças 
Selvagens (1967), Lucien Malson afirma: “será preciso admitir que os homens 
não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser 
próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças 
isoladas”. Malson está se referindo ao fato dos inúmeros casos de crianças que 
viveram e foram criadas por animais, principalmente lobos e chimpanzés que, ao 
serem resgatadas, demonstravam comportamentos não humanos, mas da 
espécie animal que os havia criado. Relembremos aqui o que já afirmamos com 
Kant (1999, p. 15): “o homem é a única criatura que precisa ser educada”, e, ao 
mesmo tempo, “o homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela 
 
 
9 
educação, ele é aquilo que a educação faz dele”. Porém, “ele só pode receber 
tal educação de outros homens”. 
Trabalho e educação também têm uma dimensão econômica, que diz 
respeito à reprodução da nossa existência biológica. Por meio da educação e do 
trabalho, conseguimos produzir aqueles bens materiais que nos possibilitam a 
produção e reprodução das nossas necessidades mais básicas: alimentar-se, 
descansar e reproduzir-se. 
Já a dimensão política diz respeito às relações de cooperação e poder 
que estabelecemos por meio das e nas relações econômicas. Como vimos 
anteriormente, os seres humanos desenvolveram diferentes formas de trabalhar 
ao longo da história e das diferentes sociedades. As diferentes formas de 
organização do trabalho são caracterizadas também por diferentes relações e 
coeficientes de poder. Isto é, nessa divisão social, cada um tem uma parcela de 
poder diferente. Isso não significa que uns tenham poderes e outros não. Pelo 
contrário. Mesmo em uma relação de escravidão ou servidão, do ponto de vista 
econômico, escravos e servos são os que não têm poder em relação aos seus 
senhores. Porém, no grupo familiar e/ou nas relações de gênero, o pai/homem 
tem mais poder que os filhos(as)/mulher. 
Por fim, existe ainda a dimensão ética da educação e do trabalho. Quanto 
a uma primeira característica da dimensão ética da educação está o fato de que 
o conhecimento é compartilhado por quem sabe com quem tem pouco ou 
nenhum conhecimento. Mesmo que esse compartilhamento de conhecimento 
seja feito de maneira remunerada, ainda assim há o comprometimento ético com 
o conhecimento que é compartilhado. Outra característica da dimensão ética da 
educação e do trabalho é a interação com o meio, consigo mesmo e com o Outro. 
Não produzimos conhecimento do nada, mas, observando o mundo, o meio em 
que vivemos. Da mesma forma, nenhum ser humano produz conhecimento do 
zero, nem sem nenhuma interação direta e ou indiretamente com outros seres 
humanos. Em uma carta escrita para Roberto Hooke, em 5 de fevereiro de 1676, 
assim Isaac Newton se refere ao conhecimento que conseguira produzir em sua 
vida até então: “Se pude enxergar a tão grande distância, foi subindo nos ombros 
de gigantes”. 
 
 
10 
TEMA 4 – DIGNIDADE DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO 
Desde o aparecimento da propriedade privada e da divisão social do 
trabalho, passamos a conviver com a divisão entre o trabalho manual – 
desvalorizado – e o trabalho intelectual – valorizado. O trabalho manual era 
exercido por quem estava em condição subalterna, de submissão e inferior na 
sociedade, enquanto o trabalho intelectual era exercido por quem tinha tempo 
livre, direito ao ócio, isto é, por quem estava em posição de comando, de poder. 
Assim, uma forma de trabalho era considerada digna e superior – o intelectual – 
enquanto a outra forma – o manual – era considerada indigna e inferior, 
degradante. No entanto, todo trabalho, manual e/ou intelectual, é digno, nobre. 
Como já vimos anteriormente, nenhum trabalho é somente manual ou intelectual. 
No desempenho da atividade manual, há necessidade de atividade intelectual e 
vice-versa. Da mesma forma, ambos não necessários para garantir a produção 
e reprodução da existência humana. Dessa forma, negar trabalho a alguém é 
negar-lhe dignidade, é negar-lhe o direito de produzir e reproduzir a sua 
existência, a sua sobrevivência. 
O mesmo se aplica à educação. Ao longo da história, nem todos os 
sujeitos tiveram acesso à educação. Ao ter negado o direito ao conhecimento, a 
tais pessoas lhes foi negada uma parte considerável de sua dignidade. Por meio 
do conhecimento, parafraseando o filósofo Merleau-Ponty, reaprendemos a ver 
o mundo. Enquanto não nos apropriamos do conhecimento produzido, 
acumulado e sistematizado histórica e socialmente, nossa compreensão do 
mundo é limitada. Por isso, por exemplo, em vários momentos da história da 
humanidade e diferentes sociedades, o conhecimento foi tido e havido como de 
posse exclusiva de determinados grupos, como também, em contrapartida, foi 
tido e havido como perigoso e, portanto, proibido. É esse o sentido que podemos 
atribuir a essa afirmação de Francis Bacon: “O conhecimento é poder”. 
Não era por acaso que das sociedades antigas até praticamente o 
aparecimento da imprensa na Europa, no século XIV, ler e escrever era uma 
habilidade restrita a poucas pessoas nas mais diferentes sociedades. Da mesma 
forma, em alguns momentos da história, determinadas obras foram proibidas de 
circular entre as pessoas, pelo suposto perigo que estas representavam. Basta 
lembrarmos, por exemplo, do Index Liborum Prohibitorum – lista de livros feita 
pela Igreja Católica durante a Idade Média que eram considerados pela 
 
 
11 
autoridade religiosa como perigosos, da queima de livros considerados nocivos 
para a sociedade de acordo com a ideologia nazista realizada em 1933, na 
Alemanha – a Bücherverbrennung – ou mesmo algumas obras de autores 
marxistas que eram considerados subversivos no Brasil durante a ditadura civil-
militar. 
Trabalhar exige conhecimento, sabedoria e esforço físico e intelectual. 
Esse conhecimento pode ou não ser sistematizado. Com o surgimento da 
sociedade capitalista, o conhecimento passa a ser expropriado do artesão, 
daquele que realiza o trabalho manual e é repassado/apropriado por quem 
realiza o trabalho intelectual. 
Por meio do trabalho, conseguimos satisfazer os cinco níveis das 
necessidades segundo Maslow: o fisiológico, de segurança, sociais, estima e de 
autorrealização. Tradicionalmente, vemos o trabalho apenas como a ação que 
garante a produção e reprodução da nossa dimensão fisio-biológica: alimentar-
se, descansar e reproduzir-se. Porém, por meio do trabalho também garantimos 
um nível mais elevado das nossas necessidades que é o de segurança como 
saúde, emprego, moradia. 
Além disso, buscamos a segurança social, que é aquela garantida por 
meio do reconhecimento e pertencimento a um determinado grupo social, 
família, amigos etc. Da mesma forma, quando trabalhamos e/ou estudamos, 
queremos certo reconhecimento social por aquilo que fazemos: o professor pela 
formação dos alunos, o gari pela limpeza da cidade, o artista pelo divertimento 
de seu público e, por fim, chegamos ao quinto nível: o da autorrealização. Nesse 
nível, fazemos o que fazemos, para além da satisfação das necessidades 
anteriores, mas por propósito e missão. É o momento da autorrealização e do 
autorreconhecimento. 
Dessa forma, precisamos ressignificar o trabalho como virtude e caminho 
para a felicidade. Se as condições nas quais trabalhamos são aviltantes e 
degradamo ser humano, precisamos resgatar o sentido humanizador do 
trabalho e da educação. E o trabalho como um valor é uma aprendizagem que 
deve começar na família e continuar na escola. O fato de trabalharmos sob 
condições degradantes não significa que precisamos reforçar esse aspecto, mas 
resgatar o sentido dignificante, inclusive para que passemos a exigir melhores 
condições de trabalho. Fazendo isso, estaremos promovendo a inversão da 
lógica atual e passaremos a trabalhar para viver e não viver para trabalhar. 
 
 
12 
TEMA 5 – TRABALHO E O FAZER PEDAGÓGICO 
Agora vamos nos deter um pouco mais sobre o fazer pedagógico, 
principalmente o realizado no âmbito das escolas. Primeiramente, é necessário 
afirmar que todas as nossas ações são pedagógicas. O político, na forma como 
ele desempenha as suas funções, como também na forma como ele se relaciona 
com seus eleitores, também está educando. O pai/mãe, seja nas relações entre 
si, seja nas relações com seus filhos/as, também está educando. Entretanto, 
pensemos mais especificamente no campo educacional. A educação é um 
trabalho ao mesmo tempo intelectual e manual. O docente, assim como o 
educando, tanto dispende energia física quanto intelectual. 
Mais uma vez, retomemos Kant: o ser humano é o único animal que 
precisa ser educado. Por meio da educação, nos humanizamos. Não temos uma 
essência que se manifesta espontaneamente, mas precisamos que essa 
humanização vá se realizando aos poucos. Para que isso aconteça, duas coisas, 
pelo menos, são fundamentais: o trabalho, em seu sentido extenso, e a 
educação. Por meio do trabalho, vamos nos produzindo e reproduzindo; por meio 
da educação, sistematizamos, acumulamos e transmitimos os saberes 
acumulados. Assim, trabalho e educação têm um sentido pedagógico, isto é, nos 
ensinam como nos humanizamos. 
Em que medida o trabalho é pedagógico? 
Por meio do trabalho, o ser humano humaniza-se. Essa é uma primeira 
lição que o trabalho nos dá. Da mesma forma, uma segunda lição que 
aprendemos por meio do trabalho é que ele é uma ação intelectual e física, 
simultaneamente. Ao pensarmos o trabalho dessa forma, rompemos com a 
lógica da separação entre trabalho manual e trabalho intelectual em que este é 
valorizado e aquele é inferiorizado. 
Ao longo do nosso estudo, compreendemos que aprendemos a trabalhar 
observando alguém realizar determinada tarefa, imitando e repetindo a ação. Por 
exemplo, um/a filho/a observa a/o mãe/pai realizar alguma tarefa doméstica 
qualquer, por exemplo, fazer uma determinada comida. Em um segundo 
momento, passa da condição de observador/a e passa a imitar, ainda que em 
um primeiro momento como brincadeira para, no terceiro momento, começar a 
participar da preparação da referida comida, realizando pequenas tarefas que 
esteja em condições já de realizar para, em um momento mais avançado, 
 
 
13 
realizar a tarefa sozinho/a. Ou seja, realizamos em uma simples e corriqueira 
tarefa – cozinhar – os quatro momentos de uma aprendizagem: observação, 
imitação, repetição e ação. Por fim, por meio do trabalho vamos nos 
aperfeiçoando, isso porque, por meio do trabalho, como já vimos anteriormente, 
ao mesmo tempo que transformamos o mundo, também transformamos a nós 
mesmos e essa transformação é no sentido de nos elevarmos, de nos 
melhorarmos. Dessa forma, por meio do trabalho podemos demonstrar a 
dignidade de trabalhar. 
Para finalizarmos, retomemos a ideia do sentido pedagógico da 
educação. Esta, nas mais diferentes sociedades, ocorre de maneira formal, não 
formal e informal. A educação formal é aquela organizada pelos sistemas e 
mantenedoras de ensino, sejam públicas, sejam privadas. Há um currículo a ser 
cumprido e toda uma organização e gestão do processo ensino-aprendizagem 
com locais, tempos e divisões, entre outros elementos, que precisam ser 
respeitados para que ela seja reconhecida e os resultados sejam certificados. Já 
a educação não formal é aquela realizada por ONGs, movimentos políticos e 
sociais, empresas etc., que também pressupõem certa organização, mas que 
não seguem uma política estatal, bem como um conjunto de normas rígidas para 
que seja certificada. Por fim, temos a educação informal, que é aquela que ocorre 
sempre que nos relacionamos e interagimos socialmente. É por meio dessa 
educação, por exemplo, que são repassados os valores e crenças de uma 
família, de uma religião, da cultura, dos costumes etc. É por meio da educação 
informal que uma geração repassa a outra os costumes, as crenças e os 
costumes que caracterizam uma determinada sociedade. 
Da mesma forma que no trabalho, também na educação aprendemos por 
meio da observação, da imitação, da repetição e, por fim, do aperfeiçoamento, 
quando não nos contentamos em mais apenas repetir como se fazia, para 
começarmos a inovar, a fazermos diferente de como se fazia antes uma 
determinada atividade. Tomemos, por exemplo, o aprendizado de um 
determinado conteúdo de uma determinada disciplina: aprendermos as quatro 
operações básicas da matemática. Tradicionalmente, aprendíamos as quatro 
operações básicas aprendendo a ler os números e realizando algumas delas 
diretamente com os números. Porém, com o passar do tempo, outras formas de 
aprender as mesmas operações foram sendo criadas, por exemplo, por meio da 
 
 
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utilização de materiais que representavam os números, para torná-los mais 
concretos e não mais tão abstratos. 
Para finalizar, parafraseemos uma vez mais nosso patrono e mestre Paulo 
Freire: ao ensinarmos, demonstramos como se aprende e, ao aprendermos, 
demonstramos como se deve ensinar. 
NA PRÁTICA 
Temos a tendência de acreditar que, somente na escola ou em outros 
espaços formais, aprendemos. Porém, os espaços e momentos de 
aprendizagem são múltiplos e diversos. Na aprendizagem humana, tanto agem 
cronos, quanto kairós. Procure alguém que tenha pouca ou nenhuma 
escolaridade, mas muita sabedoria, e estabeleça um diálogo de aprendizagem 
de algo que esta faça com maestria. Em seguida, registre essa conversa e 
identifique que saberes escolarizados ela dominava, mesmo que não soubesse. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, fizemos um trabalho um pouco mais reflexivo, de 
sistematização e fechamento. Para tanto, retomamos o sentido humano do 
trabalho e da educação, e como nos humanizamos por meio dessas duas ações. 
Tratamos também do sentido objetivo e subjetivo do trabalho e da educação. 
Com base nesses dois sentidos, propomos resgatar a dignidade do trabalho e 
da educação, finalizando com uma breve reflexão sobre o trabalho e o fazer 
pedagógico tanto da educação quanto do trabalho. 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
ARANHA, M. L. de A. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992. 
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 
KANT, I. Sobre a Pedagogia. Piracicaba: Unimep, 1999. 
MARX, K. A Ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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