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ÉTICA DOCENTE SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 1 A cultura e a sociedade ............................................................................................. 5 1.1 O conceito de sociedade....................................................................................... 7 1.2 Cultura e sociedade .............................................................................................. 7 1.3 Ética e a Sociedade .............................................................................................. 9 2 Código de Ética do profissional pedagogo .............................................................. 12 2.1 A ética profissional e o ambiente de trabalho do pedagogo................................ 16 2.2 Código de Ética e atuação profissional ............................................................... 17 3 O ethos na Antiguidade ........................................................................................... 19 3.1 Relação de pertencimento com o ethos cultural ................................................. 27 4 Ética medieval ......................................................................................................... 29 4.1 As características da Ética Medieval .................................................................. 30 4.2 A antropologia da queda ..................................................................................... 31 4.3 Os principais representantes da ética medieval .................................................. 31 4.4 Santo Agostinho: o livre arbítrio .......................................................................... 31 4.5 São Tomás de Aquino ........................................................................................ 32 4.6 Pedro Abelardo ................................................................................................... 32 4.7 Renascimento e Humanismo .............................................................................. 32 4.8 Cultura Renascentista ......................................................................................... 33 4.9 O Humanismo Renascentista ............................................................................. 34 4.10 Renascimento Literário ................................................................................ 34 4.11 Renascimento Artístico ................................................................................ 35 4.12 Renascimento Científico .............................................................................. 35 5 O pensamento pedagógico de Rousseau ............................................................... 36 5.1 A criança e suas especificidades ........................................................................ 38 5.2 O Projeto Pedagógico Moderno em Kant............................................................ 39 5.3 A visão moderna de Kant sobre a educação ...................................................... 41 6 CULTURA E DIVERSIDADE CULTURAL NO MUNDO ATUAL ............................. 44 6.1 Multiculturalismo: origens e propostas ................................................................ 47 6.2 A Origem do Multiculturalismo ............................................................................ 48 6.3 Diferentes abordagens do multiculturalismo e suas principais vertentes ............ 48 6.4 Multiculturalismo na escola: práticas interculturais na EJA ................................. 50 7 ÉTICA DAS VIRTUDES NA MODERNIDADE ........................................................ 51 7.1 A ética e a crise moral na modernidade .............................................................. 55 7.2 Educando e convivendo em uma comunidade ética ........................................... 58 7.3 Uma formação para viver bem com e para os outros em instituições justas ...... 59 8 As diferenças culturais no cotidiano escolar ........................................................... 60 8.1 O valor da prática pedagógica cultural para o educando .................................... 63 8.2 Práticas culturais criativas no interior da escola ................................................. 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 68 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 1 A CULTURA E A SOCIEDADE Os indivíduos são criadores e propagadores de cultura, manifestando-a de diversas maneiras em sua vida cotidiana. Portanto, entender a cultura é essencial como educador e cidadão porque a cultura permeia toda experiência social. A cultura traz conhecimento e enriquecimento para a sociedade. Quando bem cultivada, ela pode ser divulgada por meio de eventos que valorizam e enriquecem o espaço.Definir cultura não é uma tarefa fácil porque ela gera interesses multidisciplinares e ainda é estudada em diversas áreas como sociologia, antropologia, história. Em cada uma destas áreas, a cultura é estudada com diferentes enfoques. Segundo Cuche (2002), a palavra cultura tem sido utilizada em vários campos semânticos, substituindo outros termos, como mentalidade, espírito, tradição e ideologia. Em seus estudos, Williams (2007) afirma que a palavra cultura tem origem em colore, e este, por sua vez, originou o termo em latim cultura, que apresentava vários significados como habitar, cultivar, proteger e honrar com veneração. Até o século XVI, o termo cultura era utilizado para se referir a sentidos como ter cuidado com algo, por exemplo, com os animais ou mesmo com o desenvolvimento da colheita, ou terra cultivada. A partir do final do século XX, ganha destaque um sentido mais figurado de cultura, metaforicamente relacionada a desenvolvimento agrícola, a palavra passa a designar também o esforço despendido para o desenvolvimento das faculdades humanas. Assim, as obras artísticas começam a representar a cultura. Cuche (2002) menciona que o antropólogo britânico Edward Burnett Tylor escreveu a primeira definição etnológica da cultura em 1871. Nesta definição, ele propõe que a cultura resulta do aprendizado cultural, e não da transmissão biológica. Assim, a cultura passa a ser todo o complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou ainda qualquer capacidade adquirida pelo indivíduo, que vive em sociedade. Entretanto, Tylor afirmava sobre o conceito do evolucionismo, para o qual haveria uma escala evolutiva de progresso cultural que as sociedades primitivas tinham que percorrer para chegar ao nível das sociedades ditas civilizadas. Franz Boas, apontado como o inventor da etnografia e precursor nos estudos de observação direta das sociedades primitivas, já em1942 mostrava-se contrário ao evolucionismo e trouxe em suas pesquisas um conceito contemporâneo de cultura (BOAS, 2010). Frente a tantas interpretações e usos do termo cultura, é possível adotar três concepções fundamentais, que segundo Cuche (2002) se denominam da seguinte forma: • modos de vida de um grupo; • obras de arte, bem como atividades intelectuais e do entretenimento; • desenvolvimento humano. Na primeira concepção, a cultura se mostra como interação social dos indivíduos, que constroem seus modos de pensar e sentir, bem como seus valores. Segundo Chauí (1995), é preciso atentar sobre a necessidade de abrir o conceito de cultura, vendo-a também como uma invenção coletiva de símbolos e que os indivíduos e grupos são seres culturais. O termo lida com a cultura de forma mais restrita, referindo-se a obras de arte e práticas, atividade intelectual e entretenimento visto principalmente como atividade econômica. Este conceito visa construir certos significados e focar em atingir certos tipos de público. Uma terceira compreensão da cultura enfatiza o papel que ela pode desempenhar como determinante do desenvolvimento social. Com base nesses estudos, as atividades culturais são praticadas como uma forma de pedagogia social, com o objetivo de despertar atitudes críticas e promover a atuação política dos indivíduos em seu ambiente social. Essas atividades visam promover o crescimento cognitivo de todos os indivíduos, incluindo aqueles com necessidades especiais ou problemas de saúde. As atividades culturais consistem em importante ferramenta para estimular atitudes críticas e enfrentar problemas sociais, como a violência. Para Canclini (1987), a cultura é considerada como uma parte da socialização de classes e grupos, na formação das concepções políticas e no estilo que a sociedade adota em diferentes linhas de desenvolvimento. Na atualidade, a cultura pode ser compreendida como um conceito mais amplo: todos os indivíduos passam a ser produtores de cultura, as atividades artísticas se concentram na produção cultural e a cultura se torna um instrumento para o desenvolvimento político e social, onde o campo cultural se confunde com o social. 1.1 O conceito de sociedade Entende-se por sociedade a junção de indivíduos entre os quais se estabelecem alguns tipos de relações, como econômicas, políticas e culturais. Em uma sociedade, é possível observar a unidade linguística e a cultura de seus membros, sob as mesmas leis, costumes, tradições, unidos por um objetivo que possa interessar ao grupo. A ideia de sociedade está intimamente relacionada com as relações humanas resultantes da interdependência entre os seus membros. Turner (2008) mantém intenso diálogo intelectual com pensadores clássicos e contemporâneos que forneceram contribuições significativas sobre a conceituação da sociedade. Os autores explicam que não pretendiam fazer um trabalho sobre a história da teoria social. Alternam entre contribuições modernas e clássicas ao conceito de sociedade, evitando a construção de um roteiro intelectual que enfatize o contraste entre determinados autores e seus conceitos. Ao contrário, enfatizam que, embora os autores discutidos no livro tenham matrizes teóricas diferentes, suas análises apresentam certos meios de convergência para compreender a sociedade moderna. O argumento central é de que a sociedade apresenta três conceituações relevantes: sociedade como estrutura, sociedade como solidariedade e sociedade como processo criativo. Essas três concepções inicialmente formuladas no final do século XIX têm experimentado consideráveis transformações ao longo do tempo. Os autores realçam as múltiplas formas pelas quais esses três sentidos se vinculam, ora se entrelaçando, ora mantendo relações conflituosas. A concepção de sociedade como estrutura procura ressaltar os aspectos de competição, conflito, concorrência e rivalidade entre os atores sociais (ELLIOT; TURNER, 2010). Ao mesmo tempo, também contempla dimensões morais e de regras de conduta que permeiam as relações sociais. 1.2 Cultura e sociedade A sociologia surge com dois fatos básicos: o de que o comportamento dos seres humanos revela padrões regulares e repetitivos, e o de que os seres humanos são animais sociais, e não criaturas isoladas (CHYNOI, 1975). Quando observamos as pessoas à nossa volta tendemos mais a notar-lhes as idiossincrasias (maneira pessoal de ver, sentir e reagir; propensão) e singularidades pessoais do que as semelhanças. Charles Cooley (1969, p.91) diz: Não se dá o caso de que, quanto mais próxima estiver uma coisa do nosso hábito de pensamento, tanto mais claramente vemos o indivíduo? O princípio é muito semelhante ao que faz que todos [os chineses] nos sejam muito parecidos; vemos os tipos por ser tão diferente daquele que estamos acostumados a ver, mas somente quem vive dentro dele é capaz de perceber plenamente as diferenças entre os indivíduos. Os aspectos recorrentes da atividade humana formam a base de toda ciência social. Tentando explicar as aparentes leis da atividade humana e os fatos da vida coletiva, os sociólogos criaram dois conceitos - sociedade e cultura. A sociedade humana não pode existir sem cultura, e a cultura humana existe apenas na sociedade. O conceito de relação social é fundamental no fato de que o comportamento humano é direcionado a inúmeras outras pessoas. Homens e mulheres não apenas vivem juntos e compartilham opiniões, crenças e costumes comuns, mas também interagem constantemente e moldam seu comportamento de acordo com o comportamento e as expectativas dos outros. A interação não é um evento momentâneo, é um processo contínuo de ação e reação. Uma relação social consiste em um padrão de interação entre as pessoas. Então, de um ponto de vista, a sociedade é uma rede de relações sociais. A sociedade é um grupo no qual homens e mulheres vivem juntos, não uma organização limitada por um objetivo ou objetivos específicos. Em qualquer sociedade, grupos menores podem ser encontrados dentro de grupos maiores, e os indivíduos pertencem a vários grupos ao mesmo tempo. A sociedade pode, portanto, ser analisada a partir dos grupos que a formam e de suas relações mútuas. Toda sociedade tem um estilo de vida ou cultura que define formas apropriadas ou necessárias de pensar, agir e sentir. Em Sociologia, a cultura se refere à totalidade do que aprendem os indivíduos como membros da sociedade. Na visão de Taylor (1911), a cultura é o todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer aptidões adquiridas pelo homem como membro da sociedade (CUCHE, 2002). Para George Murdock, antropólogo americano, a cultura é, em grande parte, “ideacional”: refere-se aos padrões, às crenças e às atitudes em função dos quais agem as pessoas (CUCHE, 2002). A importância da cultura é que ela fornece o conhecimento e as técnicas que permitem às pessoas sobreviver física e socialmente e administrar e controlar o mundo ao seu redor na medida do possível. O homem é o único animal que possui cultura; é de fato uma das principais diferenças entre o homem e os outros animais. O que é importante sobre a definição de cultura é que ela é aprendida e compartilhada. O comportamento universal, mesmo que não aprendido ou exclusivo de um indivíduo, não faz parte da cultura. Mas a cultura pode influenciar ou moldar não apenas comportamentos não aprendidos, como reflexos, mas também peculiaridades pessoais. 1.3 Ética e a Sociedade O vínculo entre a ética e a sociedade revela o eixo fundamental no qual temos que pensar nossa existência enquanto indivíduos singulares, mas também membros de uma coletividade. Na nossa relação com os outros e com a natureza produzimos a cultura que é uma espécie de segunda pele na qual nos movemos. A cultura é uma extensão de nós mesmos, conformeexplica Ortega y Gasset. No mesmo sentido afirma Reale (1989, p. 180): “A cultura, tudo somado, nasce do homem e ao homem se destina, o que explica que deve ser concebida como um ente moral, não obstante, sua radical historicidade”. O vínculo entre o projeto de sociedade concebida como valor e nossa subjetividade como caminho de liberdade é a forma como deve a vida humana ser concebida e realizada. Esse é um eixo fundamental que liga a escola culturalista brasileira através de Miguel Reale aos herdeiros de Ortega y Gasset membros da denominada Escola de Madri. Esse eixo contempla a tensão existente entre a solidão radical e a vida em sociedade, como traduz a filósofa e herdeira de Ortega y Gasset, Maria Zambrano (2004, p. 157): “O lugar do indivíduo é a sociedade, porém o lugar da pessoa é o espaço íntimo”. Aproximando existência individual e sociedade, ética e cultura, não assumimos a formação de uma síntese eclética, mas reconhecemos que a subjetividade agregada ao ambiente cultural é a forma mais adequada de compreender o homem atual. A ligação entre ética e sociedade nos faz rejeitar a ideia de um momento histórico que deixou para trás valores e projetos ocidentais. Os valores centrais ocidentais permanecem. Os problemas atuais, e existem, não violam o eixo axiológico que identifica a sociedade ocidental. Se não podemos voltar à velha vida, a melhor escolha é aprofundar o sentido do núcleo ético mencionado acima. Evita que os desafios modernos nos levem a uma vida unilateral centrada no prazer e no consumo de curto prazo, entendido, explicamos, não como o consumo crescente de bens devido ao enriquecimento da sociedade, mas como o uso dos bens como entretenimento e o afasta de sua vida mais íntima, uma forma de compensar o esquecimento de si mesma. Portanto, o consumo não é um fenômeno moderno, mas observado desde o início do século XX, quando a abundância de bens foi associada ao esquecimento de si mesmo, que foi a raiz da crise identificada por pensadores como Ortega y Gasset e Karl. Jaspe. Falamos de ética e sociedade porque entendemos que existe um elo intransponível entre elas. O homem nasce e vive numa sociedade que, como ele, é histórica. Sempre vivemos em grupos, mas “a novidade do nosso tempo é que o existente não está separado do mundo” (Carvalho, 1998, p. 12). O fato de a vida humana acontecer em sociedade não significa que as pessoas não tenham intimidade. Ele está com você parte do tempo, mas sua subjetividade não está separada de seu entorno. A vida se desenvolve na cultura, que é uma espécie de segunda pele e nasce da objetividade dos valores. Portanto, quando falamos de vida social, entendemos que ela tem um suporte moral, pois grupos de pessoas se movimentam em espaços relacionais, moldam a natureza, criam ciência e desenvolvem normas de convivência baseadas nos valores que nutrem e nos valores materiais. Os princípios morais não são objetivados ou assumidos automaticamente, portanto a liberdade é um aspecto fundamental da existência. A vida humana é uma jornada de liberdade possível. A liberdade se realiza nas circunstâncias, como diz o filósofo José Ortega y Gasset, vem do reconhecimento de que existem exigências absolutas em nossas vidas que não podem ser ignoradas. Portanto, quando uma sociedade recebe uma experiência histórico-cultural compatível com as normas que ela criou, ela experimenta momentos de conforto, caso contrário, ela mergulha na crise. Ciclos de maior e menor conforto se sucedem na história. As crises culturais não são necessariamente momentos ruins, elas fornecem um julgamento de valor. O nosso tempo vive uma daquelas crises que começaram no século passado, mas que não romperam com os valores centrais do Ocidente e com o caminho estabelecido nos tempos modernos. A ética é uma das questões mais importantes no contexto da nossa sociedade, tanto na vida pública como na privada. Somos éticos quando refletimos sobre o que fazemos, quando medimos e categorizamos nossas ações de acordo com quem somos e o que podemos fazer com base na valorização do outro, seja o próximo, a sociedade ou até mesmo o planeta. Sem ética, não sabemos viver em nenhuma área de nossas vidas. Sem ética, somos alienados, ou seja, personagens que se distanciam da deliberação da sociedade sobre o propósito da vida. A ética é uma atitude e, portanto, uma ação, que sem dúvida é mediada por princípios como o respeito à subjetividade, à dignidade da pessoa humana, à diversidade e outros. Mas este não é um ato limpo. Em vez disso, trata da relação entre pensamento e ação. Nesse sentido, para chegar à ética, devemos lutar para desmistificar a separação entre teoria e prática. Esta é uma das questões mais fundamentais quando falamos de ética como a filosofia prática que ela realmente é. A ética é a capacidade de pensar e agir com base no princípio da autonomia pessoal, em que cada sujeito questiona o que pensa e faz, considerando que questionar é em si pensamento e ação que tem consequências concretas. Aqueles que não pensam por si mesmos são levados a pensar o que os outros definiram como verdade para eles. É nesse sentido que muitos absorvem a automutilação que é decretada contra eles. A heteronômica pode até ser moral, mas não é ética, porque se a moral é uma afirmação de costume ou previamente estabelecida, então a ética exige o seu questionamento. No entanto, falamos de ética como uma palavra mágica que, com uma simples afirmação, ganha uma validade concreta. Tem dois lados. Por outro lado, muitos acreditam que basta “falar” sobre ética para ser ético. Por outro lado, é verdade que a palavra ética tem um poder performativo radical. Quando digo ética, a palavra saltita à minha volta e exige que eu a pratique. Isso significa que se alguém fala de ética sem ser ético, a contradição está aberta. Ao mesmo tempo, vivemos em uma sociedade caracterizada por uma relação direta com a informação e uma certa compreensão da informação, que parece não oferecer muito espaço e tempo para o cultivo da subjetividade, o que nos permitiria inventar a ética entre nós. As relações não são mais pautadas em princípios éticos, pois a esfera da subjetividade, ou seja, o interior, o autoconhecimento, o autoquestionamento e a crítica social já não existem. O que costumávamos chamar de "alma". Nos vários contextos da nossa vida, vivemos mudanças profundas que alteram a forma como vemos e assim agimos no mundo. As novas tecnologias, a Internet, as redes sociais têm levantado muitas questões, para as quais a filosofia, a antropologia, a sociologia e o campo da educação procuram uma resposta. A contradição do mundo da informação e a desvalorização da comunicação e da educação é uma delas, nossa cultura também degrada a cultura. 2 CÓDIGO DE ÉTICA DO PROFISSIONAL PEDAGOGO O código de ética é um instrumento apresentado em forma de documento cujo objetivo é delinear os princípios, a missão e os valores de uma determinada profissão, sendo, portanto um guia para o funcionamento de cada profissional. Visto que a profissão de pedagogo pode promover a ampliação do conhecimento dos alunos e o desenvolvimento da maturidade nos mais diversos casos, é muito importante e necessária a aplicação de normas éticas nas atividades do profissional pedagógico. Ao observar que a ética está relacionada ao agir de acordo com os padrões pré-estabelecidos visando o bem ao seu próximo, observamos que ética no meio profissional envolve, o cumprimento de normas estabelecidas pela sociedade e por determinado grupo de trabalho, no entanto, é possível identificar elementos universais que configuram a ética profissional, tais como responsabilidade, comprometimento, assiduidade, honestidade e competência. Tendo em vista que o ambiente escolar desenvolve um papel fundamental na formação de indivíduos, tanto na alfabetizaçãoe construção de conhecimento quanto no desenvolvimento ético e moral, o profissional da educação muitas vezes torna-se um referencial na formação do caráter e na construção dos valores desses alunos. Sendo assim o presente trabalho discutirá sobre o quanto à postura ética do profissional da educação poderá influenciar neste processo. Na busca por códigos de ética que norteiam a conduta de um profissional da educação, foi possível identificar um código de ética do profissional pedagogo, que de acordo com a “Associação universitária de pedagogia do Brasil” (2009), apresenta a este profissional fundamentos e condutas que o orientam no exercício de sua profissão, pautados na legislação vigente. O Código orienta ao pedagogo que no exercício da profissão, deve pautar-se no respeito, na dignidade e na integridade do ser humano, objetivando o desenvolvimento harmônico do ser e dos seus valores, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os resultados propostos e a qualidade satisfatória da educação. O código prevê, inclusive, penalidades para a não observância das normas, que podem culminar com a cassação do direito de exercer a profissão. Portanto, a profissão “professor” está amparada por um código de ética, onde permite entender melhor como deverá exercer sua profissão de forma ética, assegurando o bem aos outros em seu ambiente de trabalho, principalmente aos alunos assistido pelo mesmo. Professores são agentes transformadores, em que além de repassar conhecimentos científicos, previstos por currículos escolares, transmitem princípios e valores que servem como referencial para seus alunos, pois enquanto docentes carregam consigo a necessidade de formar o indivíduo como aluno e também como cidadão. Assim como da mesma forma em que o professor pode influenciar no processo de desenvolvimento social das crianças, o mesmo também é um agente formador de opinião e incentivador ao pensamento crítico. É importante então que o professor busque capacitações que o auxiliem nesse processo, adequando às novas tecnologias e as novidades apresentadas no mundo atual, para conseguir oferecer ao aluno a oportunidade para construir e reconstruir conhecimentos à luz do pensamento reflexivo e crítico. Os educadores profissionais ainda não possuem um código de ética organizado pelo governo federal ou órgãos reguladores A profissão de pedagogo foi regulamentada no final do ano de 2017, com a aprovação do Projeto de Lei nº 6.847/17, pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. No entanto, estudantes e pedagogos da Associação Universitária de Pedagogia do Brasil (AUNIPEDAG. BR) criaram um Código de Ética para a profissão do pedagogo, baseado em documentos legais como a Constituição Federal do Brasil (1988), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394 – LDB, e as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia (Resolução nº 1 do MEC/CNE, de 05 de maio de 2006), entre outras. A AUNIPEDAG.BR, situada no município de São Paulo/SP, organizou por iniciativa própria, em 2009, o Código de Ética do Profissional Pedagogo, no qual estão presentes as questões fundamentais para o exercício do profissional pedagogo, tais como: princípios, deveres fundamentais, impedimentos, direitos, sigilo profissional, trabalho científico, divulgação, relações profissionais, medidas disciplinares e disposições gerais (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). Composto por 22 artigos, o Código de Ética Profissional do pedagogo, da AUNIPEDAG.BR, reúne fundamentos que orientam as condutas do pedagogo, valorizando a Pedagogia enquanto campo científico profissional. Ancorado nas legislações que conduzem a Pedagogia, a educação, a formação do pedagogo e sua prática, tais como a Constituição Federal do Brasil de 1988, a LDBEN – Lei nº 9.394/96 e as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia, Resolução nº 1 do MEC/CNE de 2006, bem como as resoluções que complementam essas legislações (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). O Artigo 1º se refere aos requisitos para atuar como profissional pedagogo, conferindo ao profissional licenciado em Pedagogia a atuação junto à docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar, bem como nas demais áreas em que sejam solicitados conhecimentos pedagógicos. Um pedagogo profissional pode atuar tanto em contexto escolar quanto extraescolar, além disso, está apto a atuar como especialista educacional em gestão, planejamento, controle, supervisão e trabalho pedagógico, conforme mencionado no Artigo 64º da LDB, Lei nº 9.394/96 (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). Dessa maneira, o Código de Ética, conforme organizado pela AUNIPEDAG. BR, indica que a prática profissional do pedagogo será conduzida: No respeito, na dignidade e na integridade do ser humano, objetivando o desenvolvimento harmônico do Ser e dos seus valores, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os resultados propostos e a qualidade satisfatória da educação; b) Na defesa da democracia, respeitando as posições filosóficas, políticas, religiosas e culturais, analisando crítica e historicamente a realidade em que atua, buscando a socialização do saber; c) Na promoção do bem-estar dos sujeitos e da comunidade atuando a favor destes com aplicação de várias áreas do conhecimento humano, selecionando métodos, técnicas e práticas que possibilitem a consecução do ato de educar; d) Na responsabilidade profissional por meio de um constante desenvolvimento pessoal, científico, técnico e ético; e) Na definição de suas responsabilidades, direitos e deveres de acordo com os princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no Estatuto da Criança, Adolescente e no Estatuto do Idoso na legislação educacional em vigor (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015, p. 11). Atuar de forma coerente, digna, honesta e respeitosa com a pessoa, com o indivíduo com vontade de aprender e com toda a sociedade, fazendo da sua prática um instrumento de mudança e colocando-se à disposição como iniciador das mudanças necessárias. Constituindo, assim, conforme consta no segundo capítulo, sobre os deveres fundamentais, em sua prática profissional, tais como: • respeitar a dignidade e os direitos fundamentais da pessoa humana; • atuar com elevado padrão de competência, senso de responsabilidade, zelo, discrição e honestidade; • manter-se atualizado com os conhecimentos científicos e técnicos sobre o desenvolvimento humano por meio de pesquisas; • colocar-se a serviço do bem comum da sociedade, sem permitir que prevaleça qualquer interesse particular ou de classe; • ter uma filosofia de vida que permita o respeito à justiça, a transmissão de segurança e a firmeza para todos aqueles com quem se relaciona profissionalmente; • respeitar os códigos sociais e as expectativas morais das comunidades com as quais realize seu trabalho; • assumir somente a responsabilidade de tarefas para as quais está capacitado, recorrendo a outros especialistas sempre que for necessário; • zelar para que o exercício profissional seja efetuado com a máxima dignidade, recusando e denunciando situações em que o indivíduo esteja correndo risco ou o exercício profissional esteja sendo aviltado; • oferecer serviços profissionais de forma voluntária em campanhas educativas e situações de emergência, dentro de suas capacidades; • manter a atitude de colaboração e solidariedade com colegas; • denunciar ao Conselho Federal e/ou Regional de Pedagogia as instituições públicas, ou privadas onde as condições de trabalho não sejam dignas, ou depreciem, monetária e moralmente, nas diferentes mídias, a formação e a atuação do profissional pedagogo; • dar conhecimento ao Conselho Federal e/ou Regionalde Pedagogia as instituições públicas e particulares que tenham atos que possam prejudicar alunos, suas famílias, membros da comunidade ou outros profissionais; • lutar pela expansão da Pedagogia e defender a qualidade na sua profissão; • denunciar falhas em regulamentos, normas e programas da instituição em que trabalha, quando estes estiverem ferindo os princípios e as diretrizes curriculares do Curso de Pedagogia, bem como o Código de Ética, mobilizando, inclusive, o Conselho Regional caso seja necessário; • denunciar ao Conselho Regional os profissionais Pedagogos e/ou as Instituições que não atendam aos preceitos científicos da profissão e que, notoriamente, ferem o Código e outros parâmetros legais; • empregar com transparência as verbas sob a sua responsabilidade, de acordo com os interesses e as necessidades coletivas dos usuários (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). O pedagogo deve cumprir as normas técnicas e os princípios teóricos que embasam a ação do profissional pedagogo, não deixando de divulgar os conhecimentos científicos, artísticos e tecnológicos inerentes à profissão (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). 2.1 A ética profissional e o ambiente de trabalho do pedagogo Compreender o alcance da ética profissional no ambiente de trabalho de um pedagogo requer compreender o conceito relacionado à ética profissional. A ética profissional refere-se a um conjunto de normas morais que os sujeitos utilizam para orientar sua conduta profissional. Sendo a ética norteadora para todos os sujeitos em todas as instâncias, como individuais, sociais, profissionais, entre outros, a ética profissional medeia princípios e valores próprios do sujeito para a sua atuação em atividades relacionadas ao trabalho (CHAUÍ, 1995). Esta é entendida como a ciência dos deveres, especialmente dos deveres profissionais, formando assim um conjunto de normas de comportamento profissional e classificando o código de ética profissional, no qual os direitos, deveres e responsabilidades dos membros de uma determinada classe são explicados por competências profissionais. A pedagogia, como área de conhecimento que estuda a natureza e a finalidade da educação da sociedade, mantém sua distinção e ainda considera meios adequados para o desenvolvimento da educação e dos sujeitos, pode ser considerada uma ciência prática, cujo objetivo é descobrir os objetivos e formas de intervir de forma metódica e organizacional. Naquelas áreas de atividade educacional que estão relacionadas à transferência de conhecimento e métodos de operação e assimilação ativa, que também têm uma importância relevante nos processos. Como entendemos, a ética profissional é extremamente importante em todas as áreas de atuação profissional, mas principalmente na área da educação, a ética profissional é ainda mais poderosa. Nesse sentido, Ortega e Santiago (2009) referem que no ambiente profissional do pedagogo, ao atuar com pessoas, habilidades, competências, limitações, desafios, sentimentos e valores em uma dinâmica de constante transformação e ampliação da complexidade do campo prático, torna-se necessariamente urgente a reflexão e a discussão das melhores formas de agir diante das circunstâncias que se apresentam, muitas vezes caracterizando dilemas éticos. 2.2 Código de Ética e atuação profissional Com a regulamentação da profissão de pedagogo aprovada pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP), no Projeto de Lei (PL) n° 6.847/17, o convite destina-se apenas a quem tenha obtido o diploma pedagógico básico para a docência e exercício de atividades que exijam conhecimentos pedagógicos, além de: planejar, implementar e avaliar programas e projetos de treinamento em diversos espaços organizacionais; gestão do trabalho pedagógico e da prática educativa em escolas e instituições não planificadoras; avaliar e implementar as políticas públicas formuladas pelo executivo nas instituições de ensino; desenvolver, planejar, gerenciar, coordenar, monitorar, revisar, controlar e dirigir os processos de treinamento; ensino de disciplinas pedagógicas e afins na formação de professores; realiza recrutamento e seleção em programas educacionais em instituições educacionais e não acadêmicas; desenvolver técnicas de treinamento em diversas áreas do conhecimento (GOULART, 2017). O propósito de criar o regulamento da profissão do pedagogo é definir os critérios relativos à sua formação e qualificação no contexto do trabalho, considerando que o seu exercício profissional exige conhecimentos teóricos e técnicos, ou seja, pode ser exercido apenas por profissionais que se formaram na escola. Cursos pedagógicos reconhecidos pelo Ministério da Educação, que alertam para as consequências desta profissão como possível risco e desvantagem social para a educação. Para a fiscalização da orientação, o Projeto de Lei nº 6847/17 prevê a criação do Conselho Federal de Pedagogia para atuar em conjunto com os conselhos regionais. A proposta desse PL ainda tramita em caráter conclusivo na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) (GOULART, 2017). A criação do regulamento da profissão de pedagogo tem por objetivo definir os critérios relativos à sua formação e qualificação em contexto de trabalho, considerando que o seu exercício profissional exige conhecimentos teóricos e técnicos, ou seja, só pode ser praticado por profissionais formados escola. Cursos pedagógicos reconhecidos pelo Ministério da Educação, que alertam para as consequências desta profissão como possível risco e desvantagem social para a educação (LIBÂNEO, 2011). Portanto, o pedagogo deve ter conhecimento dos princípios éticos gerais que regem a conduta humana e aplicá-los em seu trabalho diário. Assim, a ética profissional de um pedagogo está no exercício consciente de sua profissão. Por exemplo: o pedagogo profissionalmente ético reconhece que os conteúdos íntimos referentes à história pregressa de seu público-alvo devem ser protegidos e resguardados, implicando a ruptura da confiança caso sejam indevidamente expostos, podendo também acarretar danos morais, sociais e emocionais se o pedagogo não conduzir de forma ética esses conteúdos (LIBÂNEO, 2011). Um pedagogo deve encarar a profissão com dignidade, respeito e honestidade. A ética profissional do pedagogo traz a consciência da diversidade dos saberes pedagógicos e das práticas educativas democráticas para a existência dos saberes infanto-juvenis, o que contribui para o pleno desenvolvimento do pensamento para a estruturação e ação das questões socialmente críticas. A ética do profissional pedagogo deriva de sua formação pessoal, compreendida pela virtude, pelo caráter, pela conduta, pela moral, pela tolerância, pela presença e pelo afeto. O sujeito que se dispõe a ser pedagogo necessita compreender que a sua existência será norteada pelo exercício das suas atividades profissionais no seu dia a dia (LIBÂNEO, 2011). Piaget (1978) refere sobre a importância da formação contínua dos pedagogos, afirmando que organizar programas e construir teorias é tão essencial quanto realizar reformas pedagógicas eficazes e revalorizar o corpo docente por meio de constante formação intelectual e moral do corpo docente. Em outras palavras, para refletir eticamente a atividade dos educadores, é preciso ampliar gradual e continuamente a formação dos educadores, levando em conta os processos decorrentes das múltiplas mudanças na existência da sociedade, porque isso se deve à formação dos educadores, modernização contínua da formação funcional do pedagogo, o que afeta a sua ética profissional. 3 O ETHOS NA ANTIGUIDADE O ethos é um conceito fundamental da Antropologia da Grécia Antiga, sendo um modo analisar como o homem grego experiênciava os mitos, entendidos como meios culturais responsáveis por construira linguagem, os arquétipos e a realidade na pólis. Em geral, esses estudos sobre o homem, se encontram nos problemas no campo da história e filosofia. Alguns estudiosos acreditam que a Retórica de Aristóteles foi escrita como um manual prático que separaria a ética da persuasão. Por isso, esses autores afirmam que Aristóteles não teria a retórica como fundamentada eticamente. É crucial entender essa obra em seus possíveis funcionamentos sociais: Simrell (1928 apud SMITH, 1984, p. 3), por exemplo, afirma que a Retórica é como um livro de receitas linguísticas que meramente satisfaz o “deturpado” apetite humano, pois, para esse intérprete, se Aristóteles fosse o último estudioso de retórica, ela não passaria de um método justificado por uma necessidade circunstancial (não por seu valor inerente). Comentadores como Fuller (1931 apud SMITH, 1984, p. 3), por outro lado, argumentaram que a Retórica encorajava oradores a persuadirem, ainda que sem considerarem a ética. Esse comentador sustentou que o tratamento retórico de Aristóteles era feito com base na discussão política de sua época e não por um viés moral. Hunt (1961 apud SMITH, 1984, p. 3), por sua vez, afirmou que a Retórica é completamente separada tanto da moralidade quanto da pedagogia, sendo uma análise não moral do processo de persuasão. Oastes (1963 apud SMITH, 1984, p. 3) também parece concordar com Hunt, porém aquele é ainda mais contundente ao afirmar que a característica mais notável da Retórica seria o imoralismo. Como observamos antes, o passado fala na interpretação hermenêutica a estrutura atual e ateniense conta a teoria de Aristóteles: são cinco pensar a leitura da tradição segundo a dialética do círculo hermenêutico Gadamer.O próprio autor da Retórica criticou os manuais que precederam sua obra, pois estes apenas indicavam, segundo o filósofo, aquilo que as partes do discurso deveriam conter, mas eles não disseram nada sobre a prova artística que tornaria o leitor hábil em usá-la etimemas. Aristóteles define, então, a retórica não como a arte de persuadir, mas antes a arte de discernir os meios de persuasão; para ele, a retórica seria “a capacidade de descobrir a cada caso com o fim de persuadir” (Aristóteles, Retórica, I, 1356a2). Diversos autores leem a Retórica de Aristóteles à luz de outros escritos deste autor. Esse procedimento hermenêutico busca a coerência da interpretação à luz de textos que distribuído sob o mesmo nome de autor para que a leitura seja influenciada pelo tempo e pela história da recepção da obra. Segundo William Grimaldi (1987), a noção de persuasão aristotélica fornece aos leitores os meios necessários para tomar uma decisão ansiosa”. Aqueles que interpretam a Retórica para defender a persuasão a qualquer custo estariam, por conseguinte, interpretando-a mal. O estudioso moderno Gill (1984) segue a mesma linha de pensamento e procura entender a Retórica em relação a outras obras, como a Ética a Nicômaco e a Poética. Há, assim, numerosos julgamentos éticos relativamente aos ensinamentos aristotélicos, que se justificam, por vezes, através de outros trabalhos atribuídos ao filósofo. Aristóteles adverte que existem questionamentos sobre o caráter moral que, se feitos, podem perturbá-lo ou criar conflito. Isso ocorre porque, como Aristóteles argumenta, os falantes também são julgados por seus julgamentos anteriores, e tais julgamentos compõe sua pessoa pública. Sobre a avaliação do locutor, Aristóteles nos lembra que o que é usual o que nos faz felizes é o que admiramos nas outras pessoas. Para o autor embora há uma hierarquia na retórica, qualidades admiradas. Então nós admiramos mais que ama mais seus amigos do que aquele que ama seu dinheiro, porque amar seus amigos seria mais virtuoso. E ainda, considerando o personagem de Sócrates no Górgias, ele declara que seria é mais honroso sofrer injustiça do que cometê-la. Um debate sobre o tema da honra seria daí o núcleo da reputação passada. Para Aristóteles, trata-se de hierarquia que o orador deve primeiro revelar: o que é mais honroso, então seja foi revelado pela primeira vez. Além disso, o falante deve explicar a si mesmo o que os ouvintes acham necessário pendência o que o público considera mais respeitável é mais persuasivo do que o que é respeitável de fato. Determinar a crença do público é útil para uma adaptação bem-sucedida construir credibilidade. Assim vemos que o ethos aristotélico não está apenas no falante, como Platão e Isócrates parecem argumentar, mas também entre o público. Você pode dizer isso essas considerações estão relacionadas com a tendência hermenêutica que estamos discutindo aqui oportunidade: Ambos são destacados observando a influência do contexto falar. Em sua discussão sobre felicidade e virtude no capítulo V do livro I da Retórica, o autor lista os principais atributos que a audiência tende a admirar, que incluem bom nascimento, sorte, saúde, beleza, bons amigos, bons filhos, fama, honra, dinheiro e bom gosto. Tudo isso seria parte de uma reputação prévia, que é considerada constitutiva do ethos pela leitura de Smith (1984, p. 6), que reitera a importância do contexto para tal reputação prévia. Por exemplo, um oligarca seria mais admirado em Esparta do que em Atenas e um democrata seria mais admirado em Atenas do que em Esparta. Aristóteles adverte que existem afirmações sobre o caráter moral que, se feitas pode perturbá-lo ou criar conflito. Isso ocorre porque, como Stagirite argumenta, os falantes também são julgados por seus julgamentos passado e esse seria o pano de fundo de sua persona pública. Sobre a avaliação do locutor, Aristóteles nos lembra que o que é usual o que nos faz felizes é o que admiramos nas outras pessoas. Para o autor embora há uma hierarquia na retórica, qualidades admiradas. Então nós admiramos mais que ama mais seus amigos do que aquele que ama seu dinheiro, porque amar seus amigos seria mais virtuoso e ainda, considerando o personagem de Sócrates no Górgias, ele declara que seria é mais honroso sofrer injustiça do que cometê-la. Um debate sobre o tema da honra seria daí o núcleo da reputação passada. Para Aristóteles, trata-se de hierarquia que o orador deve primeiro revelar: o que é mais honroso, então seja foi revelado pela primeira vez. Além disso, o falante deve explicar a si mesmo o que os ouvintes acham necessário pendência o que o público considera mais respeitável é mais persuasivo do que o que é respeitável de fato. Determinar a crença do público é útil para uma adaptação bem-sucedida construir credibilidade. Assim vemos que o ethos aristotélico não está apenas no falante, como Platão e Isócrates parecem argumentar, mas também entre o público. Você pode dizer isso essas considerações estão relacionadas com a tendência hermenêutica que estamos discutindo aqui oportunidade: Ambos são destacados observando a influência do contexto falar podem ser entendidos como extensão ou herança da preceptiva retórica. O discurso de um orador se ligaria aos seus feitos prévios e à sua vida pregressa; semelhantemente, uma obra se ligaria a outras obras do mesmo autor e àquelas que dividiram com ela a atenção do leitorado em sua história de recepção. A forte conexão entre escolha e caráter é também desenvolvida no livro II da Ética a Nicômaco, em que Aristóteles (Ética a Nicômaco, II, 3, 1105a) afirma que o ato virtuoso reflete um caráter virtuoso apenas quando três condições são satisfeitas: (há consciência do ato realizado; as escolhas para realizar tal ato são pessoais e os recursos da ação são derivados de um caráter imutável. Além disso, o caráter moral seria transmitido através da escolha do estilo a ser proferido pelo orador, que é a expressão do caráter, visto que há um estilo apropriado para cada estado moral. O estado moral seria um princípio adquirido que se torna um hábitopermanente do caráter. Os oradores que escolhem um estilo apropriado ao seu estado moral criam um senso de caráter; a seleção de palavras é, igualmente, uma forma pela qual o caráter moral é transmitido através da escolha. Segundo Jesus (2013, p. 64), para Aristóteles, o “discurso, portanto, deve carregar a dramatização de cujo caráter o orador deve ser portador, de modo que o éthos se apresenta a Aristóteles como o principal meio de persuasão, apesar de deixar patente que o ideal seria o discurso Aristóteles (Retórica, 1388b) também adverte os oradores a terem familiaridade com caracteres diferentes na audiência – o jovem, o velho, os que estão no auge da vida, os nobres, os ricos e os poderosos. Para ajudar os oradores, ele faz uma descrição de cada grupo. Sendo assim, uma audiência tem caráter e caracteres. Uma audiência tem um ethos próprio a que os oradores devem atender, e aos quais se devem adaptar a fim de elevar seu próprio ethos.Além disso, os oradores podem mover a audiência conforme o ethos do orador e modificar os hábitos dos ouvintes e seus valores. Embora seja difícil de ser alcançado, esse seria o tipo mais poderoso de persuasão (Aristóteles, Retórica, 1388b). Kennedy (1991, p. 38) resume o conceito de ethos em Aristóteles da seguinte forma: para o orador deveria se mostrar, através do seu discurso, um homem de bem pois uma pessoa que pareça virtuosa teria maior capacidade de inspirar a confiança dos ouvintes a respeito daquilo que fala. Esse seria, portanto, o sentido mais restrito de ethos. Cícero, no Orator, refere-se apenas a esse sentido mais amplo e de maneira muito en passant: “pois duas são as coisas que, bem empregadas pelo orador, podem tornar admirável a eloquência. Uma delas, que os gregos chamam ético, é adequada às naturezas, aos modos de proceder e a todos os costumes da vida. Para Cícero, que retoma aqui as ideias de Aristóteles, o orador, além de cuidar da parte racional do discurso, ou seja, da argumentação demonstrativo, deve desenvolver aspectos discursivos (tanto o que se diz quanto o que se faz próprio discurso), que mexem com as emoções dos ouvintes e leitores. Um daqueles olhares é uma atmosfera que, como sugere a passagem de Cícero, é uma manifestação da natureza (natural/ moralidade) por meio da fala do falante. Para garantir o sucesso de seu discurso, o orador deve para expressar a natureza do discurso de acordo com as circunstâncias, ou seja, de acordo com o propósito (Provavelmente temos um legado de novas condições legais aqui na estrutura social que a advocacia é uma prática generalizada e institucionalmente estabelecida) e ouvintes. No entanto, há algumas vezes em que Arpinat usa a palavra grega (ethos). Cícero afirma estar particularmente interessado em traduzir não apenas a filosofia grega, mas também a filosofia latina. Sua dificuldade é digna de nota é um pensador romano que traduziu o conceito grego de ethosix. Cícero se refere à natureza e como explicá-lo, provavelmente porque ele pensou que a atmosfera em geral era aquela a manifestação da natureza de um indivíduo (natural) através de seu caminho de progresso (mais). No que diz respeito ao falante, tal manifestação deve ocorrer na fala. Isso é o que eu te avisei Aristóteles (Retórica, 1356a): "mas é necessário que [isto é, desperte confiança nos ouvintes] é o efeito do discurso, não a opinião prévia de que o falante é de certa natureza pessoa". Na chamada Roma republicana, o caráter do cidadão desempenhou um papel central tanto em tanto na vida privada como na vida pública com impacto significativo oratório latino. Os romanos acreditavam que não apenas esse caráter foi essencialmente preservado constante em uma pessoa, que determina suas ações, mas também na maioria dos casos o personagem permaneceu o mesmo de geração em geração na mesma família. É interessante observarmos que não há em nenhum tratado de retórica romana que tenha chegado aos nossos dias, ao menos de nosso conhecimento, uma só palavra em latim que corresponda diretamente ao grego ethos. No primeiro século d.C., Quintiliano, por exemplo, vale-se da palavra grega afirmando não haver um equivalente latino: Ora, segundo a tradição dos antigos, são dois os modos de persuasão: um é chamado pelos gregos de pathos, termo que nós traduzimos corretamente e precisamente por afeto (adfectus); o outro é o ethos, termo a que, pelo menos em minha opinião, falta equivalência na língua latina – nós o tratamos por moralidades (mores) e é disso que vem o fato de aquela parte da filosofia ethike ser dita moral. Mas tanto Quintiliano quanto Cícero abordam o ethos com as maneiras latinas e natural (cf. MAIO, 1988, p. 5), embora Quintiliano (Instit. orat., 6, 2, 9) afirme que escritores mais cuidadosos preferiram especificar o significado da palavra em vez de traduzi-la. Conforme Scatolin (2009, p. 106), ao usar a palavra conciliare, Cícero mudaria o foco da representação do orador para a sua ação. Em uma importante passagem do De oratore (II,182), Antônio explicita as características éticas de um bom orador: Tem muita força, então, para a vitória, que se aprovem o caráter, os costumes, os feitos e a vida dos que defendem as causas e daqueles em favor de quem as defendem, e, do mesmo modo, que se desaprovem os dos adversários, bem como que se conduzam à benevolência os ânimos daqueles perante os quais se discursa, tanto em relação ao orador como em relação ao que é defendido pelo orador. Cativam-se os ânimos pela dignidade do homem, por seus feitos, por sua reputação; pode-se orná-los com maior facilidade, se, todavia, existem, do que forjá-los, se absolutamente não existem. Ora (Sed), são vantajosos, no orador, a brandura (lenitas) da voz, a expressão de pudor no rosto, a afabilidade nas palavras e, se acaso fazes alguma reivindicação com maior rispidez, parecer fazê-lo contrariado e por obrigação. Exibir sinais de afabilidade, generosidade, brandura, devoção e de um ânimo grato, não ambicioso, não avaro, é extremamente útil; e tudo aquilo que é próprio de homens honestos, modestos, não de homens severos, obstinados, contenciosos, hostis, granjeia enormemente a benevolência e a afasta daqueles em que tais elementos não estão presentes; sendo assim, esses mesmos elementos devem ser lançados contra os adversários de maneira inversa. Cícero (De oratore, II, 121 e 128) assinala, assim, que os juízes devem ser conquistados pelo orador e, para tanto, faz-se necessária a lenitas. O conceito de lenitas é importante na retórica ciceroniana, pois permite estabelecer um ponto de contato entre os aspectos éticos e estruturais do discurso (Cf. De orat., II, 64 e Orat., 53). No que diz respeito à decisão, a lenitas é a qualidade da deliberação sábia e misericordiosa dos juízes em relação à justiça (Cf. Part. Orat., 78). Para Fantham (1973, p. 263), isso teria uma correspondência bem próxima ao conceito aristotélico de ἐπιείκεια, mas em sentido mais geral (Cf, Aristóteles, Retórica, 1.2. 1356); ἐπιείκεια – razoável, moderado – é um importante elemento para o ideal de ethos, no qual Aristóteles define o seu orador. Fantham acredita que a escolha de Cícero acerca dos conceitos de lenis e lenitas lhe permitiram incluir conotações estruturais que não estavam presentes na ἐπιείκεια aristotélica. Como podemos observar, Cícero revela também nessa passagem as características éticas de um bom orador. Na segunda parte de sua fala (iniciada pela conjunção adversativa sed), o autor afirma, porém, que mesmo um orador sem tais méritos poderia compensar certas deficiências através de recursos como a lenitas. Esse recurso seria mais bem aproveitado, portanto, em casos em que há menor possibilidade de se inflamar o ânimo dos juízes. Antônio diz ainda que o orador que o fizer terá um poder maior do que a própria causa em si (FANTHAM, 1973, p. 265).Uma grandediferença entre o que afirma Cícero do que afirma Aristóteles sobre o caráter do orador reside no fato de que, para Aristóteles, o ethos do cliente não era importante, visto que o orador desenvolvia seu discurso em primeira pessoa. Sendo assim, quando Aristóteles (Retórica, II, 1, 1355a-1356a) afirma que o ethos do orador é o elemento mais importante em uma defesa, ele não está considerando o cliente, ou qualquer outra parte, na defesa. Isso porque, na oratória forense grega, era o próprio acusado que proferia o seu discurso (por vezes, poderia inclusive recorrer a um discurso escrito por outrem) Cícero, então, adapta seu conceito à oratória romana, na qual as figuras do orador e do cliente estão presentes e são igualmente importantes em seu contexto.Desse modo, o conciliare de Cícero tinha a função de criar confiança (facere fidem) tanto para o caráter e atitudes do defensor (patronus) quanto de seu cliente (Cf. MAY, 1988, p. 6). A escolha do verbo conciliare nos parece, assim, muito apropriada para isso, como também para outras categorias de prova, justamente por se tratar de um verbo tão geral. Isso evita a distinção entre o papel descritivo da prova “ética” e o papel emotivo da crença pelos ouvintes (πιστις δια των ακροατων). Assim, o conceito de ethos apresentado pelo Arpinate tem um caráter muito mais amplo do que aquele apresentado por Aristóteles: trata-se de um ethos atento e mais complexamente associado ao discurso. Além disso, não é difícil entender por que a autoapresentação do orador significaria a aquisição de credibilidade para o cliente (Cf. JESUS, 2013, p. 63), já que, em tese, o trabalho do advogado era tido como um favor pessoal. No que diz respeito ao ethos dos poetas, Cícero, em suas poucas ponderações sobre esta questão que chegaram até nós, parece não distinguir a persona poética do autor empírico.Embora o Arpinate tenha escrito, ele próprio, poesia amorosa, muitas são as críticas, em seus textos preceptivos e não preceptivos, que confundem essas duas instâncias. Como afirma Vasconcellos (2010, p. 112), devemos, no entanto, estar atentos para o fato de que Cícero, assim como prescreveu em sua obra retórica que o orador deveria adaptar seu ethos a seu discurso e a sua audiência, poderia também adaptar sua persona a cada escrito seu em acordo com o que lhe parecia mais adequado. Acreditamos que o ethos e a hermenêutica podem nos orientar a pensar a questão do ego, o eu-lírico ou eu-poético na poesia antiga, como já discutimos, com certeza. Os conceitos de grego e latim parecem se separar e outros adotam a ideia de um escritor que misturar em seu texto. Diferentes noções de autoria xvii parecem se entrelaçar velha ideia como aponta Vasconcellos (2010, pp. 115-116), Veyne e sua obra polêmica parece introduzir uma ideia sedutora de poesia feita de erudição, muito mais do que vida. A dignidade do especialista é enfatizada diante da riqueza do texto denso e belo saturação de código. Ao mesmo tempo é também um texto triste e frio, pois é completamente cortado. O teórico literário Compagnon (1998) considera que o autor da obra não teria seu monopólio de sentido, mas também que não se afaste do objeto que inventou: o autor seria a dimensão da literatura. Essa é praticamente a direção que podemos enfrentar o antigo conceito de autoria. Para colocar Veyne em perspectiva, também há algum respeito observação de autoridades antigas: o ethos de Aristóteles, como mostrado, não deriva de uma um buraco negro, apenas da vida humana, da vida do escritor e de seu texto. De jeito nenhum defenderíamos aqui uma biografia romantizada, mas também não poderíamos aceitá-la Aspectos mais extremos do estruturalismo francês, como Roland Barthes (1984), pelo autor falecido e excluído do quadro interpretativo. Como nos tempos antigos, temos uma compreensão inequívoca da relação entre o autor e seu discurso: no estudo documentários culturais, a Antiguidade nos encontra, contemporâneos. De uma perspectiva hermenêutica, nossas dúvidas sobre nossos preconceitos (preconceitos) respeito pelo trabalho é realmente uma obrigação tão compreensiva funcionalidade para criar e distribuir discursos antigos é essencial. Você pode dizer depois de um pouco de reflexão, que existem ambiguidades no funcionamento da cultura escrita antiga semelhante ao nosso: as próprias autoridades antigas responderam à pergunta de maneira diferente. Uma pergunta sobre a relação entre o autor e sua escrita. Com isso em mente, até faz sentido um profundo problema hermenêutico dos objetos culturais (especialmente os antigos) completo, não é um ponto de vista completamente ingênuo e outro completamente saber se é sobre a organização interna e os botões formados pela organização vamos falar sobre exógeno. Mas defendemos que há também uma dialética semelhante à atual a proposta de Gadamer para um círculo hermenêutico: é possível que o interior de um texto conte aspectos essenciais e gerais de antigas práticas alfabéticas, também é possível conhecimento geral e científico de assuntos e códigos pode informar o leitor moderno para um texto, reciprocamente. Se tomarmos um exemplo típico como a poesia de Ovídio, sua atividade em Roma muitas vezes se torna um tópico de discussão. No entanto, cabe ao tradutor determinar sua localização a ressonância dialética do texto que a poesia e a vida de uma nação podem suscitar a seu favor da interpretação de sua obra, porque a poesia, como qualquer produto humano deixado para trás na terra, não é feito não só de arte, mas também de vida. 3.1 Relação de pertencimento com o ethos cultural As bases que compõem a ética das virtudes, só fazem sentido quando articuladas à vivência de cada pessoa, sendo preciso considerar a especificidade da história de cada povo. Estas questões do reconhecimento entre diferentes culturas são difíceis de serem identificadas diretamente a partir das obras de Aristóteles, tendo em vista que a noção de cultura foi desenvolvida apenas no século XIX. Contudo, mesmo que o termo cultura não tenha sido utilizado de forma literal na Grécia Antiga, havia uma extensa tradição de se transmitir os legados sobre as artes, a ética, a política, a filosofia e hábitos que se difundiram ao longo de gerações. Os costumes que foram herdados ao longo de séculos, propiciaram o que os modernos chamariam de cultura, sendo, portanto, pertinente vincular a temática da cultura aos estudos da filosofia moral. Como, sob este ponto de vista a consciência histórica é capaz de revisar a própria história e as interpretações das teorias do conhecimento, é necessário que um estudo sobre A ética esteja fundamentado em observações e análises sobre a interação entre as culturas. Isto reforça a ideia de que os valores são construídos e modificados ao longo do tempo, o que conduz à compreensão de que a ética é extensiva à cultura. Jamais poderá será possível entender um ethos considerando apenas o individual, pois os costumes se configuram na história da coletividade, em um sistema de tradições, rituais e valores, sendo algo que está arraigado nas formações sociais. Por isto, a ética é mais do que um saber para o indivíduo, já que se efetiva tão somente no âmbito das relações de pertencimento coletivo. No entendimento de tais questões deve-se considerar a existência de relações de poder que se desdobram na emergência de um ethos dominante que se sustenta como moral universal, tendendo a definir para o conjunto das relações sociais uma visão própria sobre o dever ser e perceber o mundo. É importante perceber que a proposta de reinterpretar a ética e a virtude, envolve uma proposta educativa, cuja responsabilidade é fazer com que as pessoas se tornem mais sensíveis em relação aos valores éticos, entendendo o ser humano como único, ou seja, que o ensino da ética das virtudes no campo educação, possaser iniciada por meio de grandes temas, como a liberdade, a política, a convivência com as diferenças, que permitem reflexões sobre como essas questões foram pensadas em diferentes épocas, encaminhando à compreensão de tais conceitos em relação à experiência de cada aluno. A ética das virtudes abrange as dimensões das singularidades nos processos formativos, seja na condição de aluno, seja na condição de professor, desenvolvendo um processo de construção coletiva, no qual aquele que ensina e aquele aprende estão imersos em trocas de experiências. Esta disposição é crucial, considerando a formação como uma possibilidade de desenvolver as capacidades de alunos e professores. Quando se trata de relacionar ética e cultura, as principais questões que emergem sobre tais temas, envolvem duas perspectivas antagônicas. A primeira corrobora o monoculturalismo cultural, situação em que o choque entre as diferentes culturas, representa uma ameaça aos valores iluministas do Ocidente. A resposta etnocêntrica defenderia que as instituições públicas, não poderiam reconhecer as outras identidades (CESAREO, 2002). Agrega-se a isto, por outro lado, pressupostos do relativismo cultural, cuja direção é a de negar que uma comunidade local aspirasse a uma universalidade. Acrescenta, ainda, os argumentos segundo os quais negação do 104 compartilhamento dos ethos, preservaria as culturas de sua fragmentação. O simulacro destes binômios estaria composto por desacordos epistemológicos e morais, razão pela qual as bases destas argumentações partiriam de diferentes tradições sobre um mesmo problema. Esta condição de encontro entre culturas, ilustra como diferentes contextos históricos podem culminar em dificuldades na aplicação dos sentidos originários dos conceitos. Mesmo que um exercício analítico seja indispensável, um dos problemas em categorizar outra cultura, diz respeito a uma dedução de pressupostos universais a todas as normas de eticidade. Cada cultura desenvolve seu próprio ethos, transmitindo valores específicos que promovem a convivência em comunidade. Em diferentes séculos, as releituras da filosofia moral pouco debateram a ideia de cultura, seja por conta dos condicionantes históricos, seja por conta dos objetivos em se construir grande sistemas teóricos generalizantes, objetivando dar ênfase às grandes narrativas. Contudo, este olhar para o ethos local, deveria ser algo muito pertinente para a filosofia moral, que ignorou, desconheceu ou negligenciou um olhar sobre as comunidades locais, formando uma visão unilateral ao enfatizar uma perspectiva etnocêntrica sobre os costumes de cada povo. Desse modo, não compete apenas à filosofia pensar a importância de uma ética delimitada, evitando um saber acabado e único para definir a realidade de cada éticalocal. O campo da ética deve ser composto por uma convergência de saberes e debates interdisciplinares, podendo se articular a outros ramos do conhecimento. A busca para compreender a ética em diferentes culturas, envolve a descrição filosófica de uma realidade desconhecida, ou melhor, se trata de uma realidade a ser conhecida. A proposta de contribuir com a formação de professores, ao elucidar as categorias de ética e virtude, não objetiva certeza ou assepsia teórica, pois se trata de percurso sinuoso no campo político-social, envolvendo problemas que tangenciam reformulações sobre a ética em sala de aula. 4 ÉTICA MEDIEVAL A ética medieval tinha a função de ordenar a vida pessoal e social por meio de um conjunto de virtudes, visando à busca da paz e da felicidade. Uma, a paz, entendida como modo de viver em comunidade, remetendo para a dimensão política; outra, a felicidade, como fim do ser humano, valorando a ação como transcendência.A prática da virtude exige o hábito de moldar o caráter virtuoso, dotando-o de dignidade, responsabilidade e autonomia, e alinhando-o no horizonte da paz e da felicidade. Embora a ética tenha desaparecido dos currículos universitários porque sua existência foi obscurecida pela metafísica e pela lógica, ela é fundamental para a visão de mundo ocidental, e seus pilares e direções estão sendo revisitados com vistas ao bem comum (DUARTE, 2021). A ética é a área que resta do medievo com pertinência mais atual. Sem dúvida um sinal dos tempos, de ordenação relativizada, débil e manipulável. Na perspetiva da filosofia e da educação não são modelos ou bandeiras nostálgicas que se procuram na ética medieval; são razões, fundamentos e sentidos para compreender o ser humano agindo no mundo, muitas vezes em contracorrente (VIERIA, 2021). Mas são também a razão, o sentido e o fundamento para recordar as liberdades que a ética exige. Essa é a condição para que as pessoas questionem suas relações consigo mesmas, com os outros (humanos ou não) e com o mundo (CHAVES- TANNÚS, 2020). A ética filosófica cristã não surgiu do nada. Os filósofos medievais foram fortemente influenciados pelos grandes filósofos gregos pagãos e escolas filosóficas como os estóicos, aristotélicos e platônicos (FRIAS, 2020; VASCONCELOS, 2022). Os filósofos cristãos acolheram as teorias éticas antigas que podiam ser harmonizadas com a fé cristã. Podemos dizer, por isso, que a ética cristã é uma síntese do pensamento filosófico grego com o pensamento cristão.Os filósofos medievais cristãos adotaram os clássicos conceitos éticos dos gregos, tais como: felicidade;alma;bem;mal;virtude;liberdade.Estes conceitos gregos e muitos outros foram adaptados com os conceitos éticos e religiosos do cristianismo como pecado, graça, salvação, caridade, etc (PÁTARO e DE ARAÚJO, 2021). 4.1 As características da Ética Medieval A principal característica da ética medieval é ser fundamentada na cosmovisão cristã. Ela se distingue, portanto, da ética grega antiga nos seguintes aspectos: • Distanciamento das coisas do mundo: na ética medieval cristã, o fim último do homem deixa de estar neste mundo. Os filósofos medievais defendiam que o amor a Deus era a principal condição para o homem alcançar a perfeição moral; • Valorização da subjetividade: a ética medieval dá ênfase ao aspecto subjetivo humano, por isso, conceitos como liberdade e intenção serão fundamentais para ela. Diferente da ética antiga em que o homem grego estava estritamente https://www.filosofiadoinicio.com/2021/09/etica-grega-antiga.html relacionado com a pólis, a ética cristã valorizará a relação entre os indivíduos e Deus. 4.2 A antropologia da queda Os povos medievais acreditavam que as leis e os regulamentos eram feitos por Deus. De acordo com a ética cristã, fazer o mal significava quebrar os mandamentos de Deus. A ética medieval cristã defendia que o homem era um ser caído devido ao pecado original, cometido por Adão. Portanto, a vontade do homem era fraca para cumprir perfeitamente as leis de Deus. Para que um homem caído obtenha a salvação, ele deve viver uma vida santa. 4.3 Os principais representantes da ética medieval • Santo Agostinho: este importante filósofo medieval teve como principal influência a filosofia de Platão; • São Tomás de Aquino: o Doutor Angélico, como é chamado Tomás, elaborou sua filosofia tendo como base a filosofia de Aristóteles; • Pedro Abelardo: renomado lógico medieval, Abelardo inovou a ética cristã dando ênfase na intenção do indivíduo, não apenas na ação. 4.4 Santo Agostinho: o livre arbítrio O conceito ético mais importante desenvolvido por Santo Agostinho é o do livre- arbítrio. Deus deu ao homem o dom da liberdade. As ações humanas não são determinadas pelo destino fatal, mas sim pela vontade de cada um.Visto que Deus é infinitamente bom, a ideia de livre arbítrio também é importante para explicar como o mal pode existir nas criações de Deus. Agostinho argumenta que o mal existe justamente para a liberdade.O homem pode escolher se aproximar ou se afastarde Deus (ESCOBAR, 2021). O afastamento de Deus é, para Agostinho, o mal . O mal, que é uma ação contrária à vontade Divina, será definido como pecado. O pecador é aquela pessoa https://filosofiadoinicio.com/2022/03/santo-agostinho.html em que o corpo domina a alma. Além disso, Agostinho afirma que aqueles que vivem em pecado abusam de sua liberdade e se tornam escravos. Por outro lado, aqueles que levam uma vida que satisfaz a vontade de Deus são verdadeiramente livres. Para Agostinho, a alma é criação de Deus e é superior ao corpo. A alma deve dominar o corpo para a prática do bem.O conceito de livre arbítrio mostra como a subjetividade é importante para a ética medieval. A liberdade na ética antiga centrava-se na relação entre os seres humanos e a sociedade. No pensamento cristão, a liberdade é entendida como um meio de agir de acordo com o código de Deus. 4.5 São Tomás de Aquino Tomás de Aquino foi um dos maiores filósofos medievais, ele conseguiu harmonizar a filosofia aristotélica com o pensamento cristão, por isso, muito de sua ética se deve à Aristóteles. Tomás concorda com Aristóteles que o fim último do homem é a felicidade, mas não concorda que a felicidade seja alcançada através da contemplação. Para o filósofo medieval, Deus é a fonte dessa felicidade. 4.6 Pedro Abelardo A ética de Pedro Abelardo é chamada “Ética da intenção”. Para ele, todas as ações humanas devem ser consideradas neutras, indiferentes. É a vontade de uma pessoa que decide se uma ação é boa ou má. Por exemplo, uma pessoa que faz caridade com o propósito de se exibir está agindo de forma imoral. As ações não fazem parte da ética de Abelardo. A intenção é a chave para determinar a ação. Uma pessoa forçada a fazer algo errado não peca, a menos que tenha essa intenção. O pecado, portanto, nasce do consentimento ao ato praticado. 4.7 Renascimento e Humanismo O humanismo foi um movimento intelectual que se manifestou nas artes e na filosofia. Os filósofos humanistas tinham o objetivo de trazer à tona questões relacionadas com o universo humano, afastando-se do pensamento teocêntrico da época anterior, a Idade Média. Trata-se, portanto, do rompimento de paradigmas, buscando assim, uma nova forma de compreender o mundo, a partir de diversos questionamentos realizados pelos filósofos da época. Com o desenvolvimento do cientificismo e a corrente do empirismo, a verdade passou a ser percebida não apenas como vinda de Deus, mas também como resultado do pensamento e da reflexão sobre a condição humana no mundo. O Renascimento foi um movimento artístico e filosófico que teve início no século XV na Península Itálica e que aos poucos, foi se espalhando pelo continente europeu.Esta nova visão de mundo surge quando o sistema feudal começa a se enfraquecer. A terra passa a perder valor e o comércio será a atividade mais lucrativa. Com o crescimento comercial surge uma nova classe social, a burguesia e o renascimento reflete essas mudanças (PÁTARO e DE ARAÚJO, 2021). Ao mesmo tempo, com a revalorização dos textos da Antiguidade Clássica, a ciência ganha um novo impulso. As pesquisas de cientistas como Copérnico, Galileu, Kepler, Newton, etc., vieram confrontar diversos dogmas da Igreja Católica, que aos poucos, foi perdendo influência, sobretudo com a reforma protestante.Podemos perceber que o Renascimento foi um importante período de transformação social, cultural, política e econômica que influenciou o pensamento da época. Na área da educação, a expansão de diversas escolas e universidades foram essenciais para a difusão do humanismo renascentista. Foram incluídas disciplinas como a filosofia, língua grega, poesia, e assim, se produz a expansão do humanismo pela Europa.Inspirado nos valores da Antiguidade Clássica e gerado pelas modificações estruturais da sociedade, resultou na reformulação total da vida medieval, dando início à Idade Moderna. Florença, a cidade italiana considerada “Berço do Renascimento”O Renascimento originou-se na Itália, devido ao florescimento de cidades como Veneza, Gênova, Florença, Roma e outras.Enriqueceram com o desenvolvimento do comércio no Mediterrâneo, criando uma rica burguesia comercial e, no processo de afirmação social, dedicaram-se às artes juntamente com alguns príncipes e papas. 4.8 Cultura Renascentista A cultura renascentista teve quatro características marcantes, a saber: • Racionalismo – os renascentistas estavam convictos de que a razão era o único caminho para se chegar ao conhecimento, e que tudo podia ser explicado pela razão e pela ciência. • Experimentalismo – para eles, todo conhecimento deveria ser demonstrado através da experiência científica. • Individualismo – nasceu da necessidade do homem conhecer a si próprio, buscando afirmar a sua própria personalidade, mostrar seus talentos, atingir a fama e satisfazer suas ambições, através da concepção de que o direito individual estava acima do direito coletivo. • Antropocentrismo – colocando o homem como a suprema criação de Deus e como centro do universo. 4.9 O Humanismo Renascentista O humanismo foi um movimento de glorificação do homem e da natureza humana, que surgiu na Itália em meados do século XIV.O ser humano, a mais perfeita criação do Criador, foi capaz de compreender, modificar e até dominar a natureza. O pensamento humanista provocou uma revolução na educação universitária com a introdução de disciplinas acadêmicas como poesia, história e filosofia (VASCONCELOS, 2022). Os humanistas buscaram interpretar o cristianismo baseando-se nos escritos de autores antigos como Platão. O estudo dos textos antigos estimulou o gosto pelos estudos históricos e o conhecimento de línguas clássicas como o latim e o grego.A partir do século XIV, ao mesmo tempo que os renascentistas se dedicavam ao estudo das línguas clássicas, diferentes dialetos davam origem às línguas nacionais.Gestado nessa época, o humanismo se tornou referência para muitos pensadores nos séculos seguintes, inclusive para os filósofos iluministas do século XVIII. 4.10 Renascimento Literário O Renascimento deu origem a grandes gênios da literatura, entre eles: • Dante Alighieri: escritor italiano autor do grande poema “Divina Comédia“. https://www.todamateria.com.br/racionalismo/ https://www.todamateria.com.br/antropocentrismo/ https://www.todamateria.com.br/humanismo-renascentista/ https://www.todamateria.com.br/humanismo/ https://www.todamateria.com.br/o-principe-de-maquiavel/ https://www.todamateria.com.br/a-divina-comedia/ https://www.todamateria.com.br/a-divina-comedia/ • Maquiavel: autor de “O Príncipe“, obra precursora da ciência política onde o autor dá conselhos aos governadores da época. • Shakespeare: considerado um dos maiores dramaturgos de todos os tempos. Abordou em sua obra os conflitos humanos nas mais diversas dimensões: pessoais, sociais, políticas. Escreveu comédias e tragédias, como “Romeu e Julieta“, “Macbeth“, “A Megera Domada“, “Otelo” e várias outras. • Miguel de Cervantes: autor espanhol da obra “Dom Quixote“, uma crítica contundente da cavalaria medieval. • Luís de Camões: teve destaque na literatura renascentista em Portugal, sendo autor do grande poema épico “Os Lusíadas“. 4.11 Renascimento Artístico No século XVI, o principal centro de arte renascentista passou a ser Roma. Os principais artistas plásticos do renascimento foram:Leonardo da Vinci: Matemático, físico, anatomista, inventor, arquiteto, escultor e pintor, ele foi um gênio absoluto. A Mona Lisa e A Última Ceia são suas obras primas. Rafael Sanzio: foi um mestre da pintura, famoso pela doçura de suas madonas. A Madona do Prado foi considerada a mais perfeita. Michelangelo: artista italiano cuja obra foi marcada pelo humanismo. Além de pintor foi um dos maiores escultores do Renascimento. Entre suas obras destacam-se a Pietá, David, O
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