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APOSTILA-COMPLETA-ÉTICA-FILOSÓFICA-1

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÉTICA FILOSÓFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS - SP 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 FILOSOFIA E ÉTICA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA ................................... 3 
1.1 Introdução ....................................................................................................... 4 
1.2 Ética como virtualidade humana – noções e conceitos .................................. 4 
1.3 Noções Fundamentais de Ética e Moral ......................................................... 7 
1.4 Noções acerca da aplicação dos conceitos Éticos e Morais ........................ 11 
1.5 Aspectos históricos da construção e formulação dos conceitos Éticos e 
Morais. .................................................................................................................. 15 
1.6 A vida social e a postura ética enquanto preceito educacional e filosófico. .. 17 
1.7 Educação como fator para humanização e socialização do homem ............ 18 
1.8 Educação para a cidadania ......................................................................... 23 
2 A FILOSOFIA COMO PRÁTICA DO PENSAMENTO HUMANO ........................ 27 
2.1 A oposição Renascimento X Barroco ........................................................... 27 
2.2 A Filosofia no contexto da transição do século XVI e XVII ........................... 31 
2.3 Francis Bacon e a crítica a esterilidade da tradição filosófica ...................... 33 
2.4 A divisão sistemática dos conhecimentos .................................................... 33 
2.5 A Ética e a prática filosófica .......................................................................... 39 
2.6 O desfio das diferenças ................................................................................ 43 
2.7 Cultura e Diversidade - Considerações sobre a multiplicidade das 
manifestações ....................................................................................................... 46 
3 INDÚSTRIA CULTURAL E IDENTIDADE ........................................................... 49 
3.1 Indústria Cultural e o conflito de gerações - Identidade ................................ 49 
3.1 Mídia, comportamento e identidade.............................................................. 52 
3.2 O processo de globalização e a perda das identidades culturais ................. 53 
3.3 Consumo ...................................................................................................... 55 
3.4 Globalização e Identidade em Milton Santos ................................................ 58 
3.5 Globalização e cultura .................................................................................. 60 
 
 
 
3.6 A globalização solidária ................................................................................ 61 
3.7 Milton Santos e os níveis de pobreza ........................................................... 63 
4 GLOBALIZAÇÃO, MODERNIDADE E CULTURA .............................................. 64 
4.1 Globalização e mundialização ...................................................................... 67 
5 A CIDADANIA MODERNA .................................................................................. 69 
5.1 Direitos políticos ........................................................................................... 69 
5.2 Direitos sociais.............................................................................................. 70 
5.3 Direitos Humanos ......................................................................................... 70 
5.4 Migração ....................................................................................................... 71 
5.5 Socialização ................................................................................................. 72 
6 SOCIEDADE, POBREZA E EXCLUSÃO ............................................................ 74 
7 A EXCLUSÃO E AS TEORIAS DA MISÉRIA ..................................................... 76 
8 A EXCLUSÃO E A POBREZA NO MUNDO ....................................................... 78 
8.1 A pobreza e a estrutura do Estado ............................................................... 80 
9 AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO: DO EVOLUCIONISMO À 
GLOBALIZAÇÃO ....................................................................................................... 82 
9.1 O desenvolvimento segundo as etapas de crescimento econômico ............ 83 
9.2 Entraves ao desenvolvimento: o tradicionalismo e a questão racial ............. 85 
10 ÉTICA DA DIVERSIDADE – AULA DE CONCLUSÃO ....................................... 86 
10.1 Ao Poeta, ao Mendigo e à Louca.................................................................. 87 
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 89 
12 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ..................................................................................... 90 
 
 
3 
 
1 FILOSOFIA E ÉTICA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
O conteúdo que vamos estudar na disciplina Ética Filosófica trata de questões 
essenciais à análise das relações sociais e das posturas dos indivíduos frente aos 
acontecimentos e eventos em sociedade. Compreender a dinâmica do pensamento 
filosófico e estabelecer noções fundamentais éticas em contraposição aos preceitos 
morais, realizando uma distinção entre os universos ético e moral, propondo um 
estudo da aplicabilidade desses conceitos, seria inicialmente um de nossos objetivos. 
O recorte temporal escolhido para as argumentações filosóficas foi a transição 
do século XVI para o XVII, período da passagem Renascimento e Barroco e o período 
de afirmação da Filosofia Moderna. Ao estudarmos o período em questão, tratando 
essencialmente das argumentações filosóficas de Francis Bacon, René Descartes e 
Bento de Espinosa, estaremos inevitavelmente estudando algumas referências dos 
filósofos clássicos (gregos). 
Interessa-nos a princípio, desenvolver uma sustentação argumentativa da 
investigação da natureza, objeto maior da filosofia, visando estabelecer um elo para 
as discussões mais atuais e que irá prescindir das fundamentações éticas nas 
análises contextuais. 
Estaremos juntos tentando promover o conhecimento dessas questões para 
adiante compreendermos a complexidade das relações sociais e, mais relevante, nos 
posicionarmos mais qualitativamente nas noções humanas diante dos dilemas éticos 
atuais. 
Para tanto estaremos disponibilizando algumas fontes, indicações e textos que 
compõem o conjunto do material da disciplina. Reserve tempo para seus estudos e o 
faça com dedicação. Espero que, ao longo do nosso convívio virtual possamos fazê-
lo de maneira prazerosa e que possamos produzir juntos, um conhecimento bastante 
relevante. Espero também, que nosso aprendizado possa ser efetivamente 
compartilhado, como estabelece a mais nobre noção de educação. 
 
 
 
4 
 
1.1 Introdução 
O texto que se segue e abre os estudos de Ética Filosófica, de autoria do 
Teólogo Leonardo Boff, apresenta noções fundamentais dos preceitos morais e éticos, 
situando uma distinção e uma noção de aplicabilidade desses conceitos na ação 
social dos indivíduos, necessária à transformação fundamental da sua condição 
sociocultural dos mesmos. 
 
 
Fonte: sul21.com.br 
 
A realidade das populações excluídas do processo histórico, a miséria e a fome 
são hoje questões primordiais a serem resolvidas e transformadas socialmente. 
Portanto a ação dos indivíduos em comunidade, a prática ética se tornam ingredientes 
essenciais para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e da vida no planeta. 
1.2 Ética como virtualidade humana – noções e conceitos 
 Que é Ética, que é Moral? É a mesma coisa ou há distinções a serem feitas? 
Há muita confusão acerca disso. 
Tentemos um esclarecimento. Na linguagemcomum e mesmo culta, Ética e 
Moral são sinônimos. Assim dizemos: aqui há um problema ético ou um problema 
moral. Com isso emitimos um juízo de valor sobre alguma prática pessoal ou social, 
se boa, se má ou duvidosa. 
 
5 
 
Mas, aprofundando a questão, percebemos que Ética e Moral não são 
sinônimos. A Ética é parte da filosofia. Considera concepções de fundo, princípios e 
valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta 
por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa índole. A Moral é 
parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por 
costumes, hábitos e valores aceitos. Uma pessoa é moral quando age em 
conformidade com os costumes e valores estabelecidos que possam ser 
eventualmente, questionados pela Ética. Uma pessoa pode ser Moral (segue 
costumes), mas não necessariamente Ética (obedece a princípios). 
 
 
 
Embora úteis estas definições são abstratas porque não mostram o processo 
como a Ética e a Moral, efetivamente, surgem. E aqui os gregos nos podem ajudar. 
Eles partem de uma experiência de base, sempre válida, a da morada 
entendida existencialmente como o conjunto das relações entre o meio físico e as 
pessoas. Chamam à morada de ethos (em grego com a letra e pronunciada de forma 
longa). Para que a morada seja morada, precisa-se organizar o espaço físico (quartos, 
sala, cozinha) e o espaço humano (relações dos moradores entre si e com seus 
vizinhos), segundo critérios, valores e princípios para que tudo flua e esteja a contento. 
Isso confere caráter a casa e às pessoas. Os gregos chamam a isso também 
de ethos. Nós diríamos Ética e Caráter Ético das pessoas. Ademais, na morada, os 
moradores têm costumes, maneiras de organizar as refeições, os encontros, estilos 
 
6 
 
de relacionamento, tensos e competitivos ou harmoniosos e cooperativos. A isso os 
gregos chamavam também de ethos (com a letra e pronunciada de forma curta). 
Nós diríamos Moral e a postura moral de uma pessoa. 
Ocorre que esses costumes (Moral) formam o caráter (Ética) das pessoas. 
Winnicot (1896 – 1971), pediatra e psicanalista inglês, estudou a importância das 
relações familiares para estabelecer o caráter das pessoas. Elas serão éticas (terão 
princípios e valores) se tiverem tido uma boa moral (relações harmoniosas e 
inclusivas) em casa. 
Os medievais não tinham as sutilezas dos gregos. Usavam a palavra Moral 
(vem de mos / mores) tanto para os costumes quanto para o caráter. Distinguiam a 
moral teórica (filosofia moral) que estuda os princípios e as atitudes que iluminam as 
práticas, e a moral prática que analisa os atos à luz das atitudes e estuda a aplicação 
dos princípios à vida. 
 
 
Fonte: gidjrj.com.br 
 
Entre a Idade Média e a Moderna, o italiano Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) 
rompe com a Moral cristã, que impõe os valores espirituais como superiores aos 
políticos. Defende a adoção de uma Moral própria em relação ao Estado. O que 
importa são os resultados, e não a ação política em si. Por isso, considera legítimo o 
uso da violência contra os que se opõem aos interesses estatais. Maquiavel influencia 
o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), que depois disso lançou o seu livro “O Leviatã”, 
diferente de Maquiavel os meios justificam os fins e enquanto Maquiavel os fins 
justificam os meios. 
Durante os séculos XVIII e XIX os grandes pensadores discutindo sobre o que 
é Ética foram: o francês Jean-Jacques Rousseau (1712 – 17780) e os alemães 
 
7 
 
Immanuel Kant (1724- 1804) e Friedrich Hegel (1770-1831). Segundo Rousseau, o 
homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer aprimoramento quase ilimitado. 
Para Kant, Ética é a obrigação de agir segundo regras universais, comuns a todos os 
seres humanos por ser derivadas da razão. O fundamento da Moral é dado pela 
própria razão humana: a noção de dever. O reconhecimento dos outros homens, como 
fim em si e não como meio para alcançar algo, é o principal motivador da conduta 
individual. Hegel divide a Ética em subjetiva ou pessoal e objetiva ou social. A primeira 
é uma consciência de dever; a segunda, formada por costumes, leis e normas de uma 
sociedade. O Estado reúne esses dois aspectos em uma “totalidade Ética”. 
Qual é Ética e a Moral vigentes hoje? É a capitalista. Sua Ética diz: bom é o 
que permite acumular mais com menos investimento e em menos tempo possível. 
Sua Moral concreta reza: empregar menos gente possível, pagar menos 
salários e impostos e explorar melhor a natureza. Imaginemos como seria uma casa 
e sociedade (ethos) que tivessem tais costumes (moral / ethos) e produzisse 
caracteres (ethos / moral) assim conflitivos? Seria ainda humana e benfazeja à vida? 
Eis a razão da grave crise atual. 
Os princípios e a prática concreta dos valores éticos, como vimos, sofreram 
alterações ao longo da história, os vários pensadores que contribuíram sobre o tema, 
no entanto, não nos deixam uma resposta definitiva para a indagação e a sociedade 
atual apresenta um profundo distanciamento entre suas teorias e práticas. 
Muito já foi trilhado no caminho da razão por respostas mais eficientes que 
contribuam para uma vida social mais estável, onde homens se respeitem 
mutuamente em prol de uma sociedade saudável, justa, virtuosa e por isso mesmo 
feliz. 
1.3 Noções Fundamentais de Ética e Moral 
Como vimos, a palavra Ética se origina do termo grego ethos, que significa 
“modo de ser”, “caráter”, “costume”, “comportamento”. De fato, a Ética é o estudo 
desses aspectos do ser humano: por um lado, procurando descobrir o que está por 
trás do nosso modo de ser e de agir; por outro, procurando estabelecer as maneiras 
mais convenientes de sermos e agirmos. Assim, pode-se dizer que a Ética trata do 
que é “bom” e do que é “mau” para nós. 
 
8 
 
Bom e mau, ou melhor, Bem e Mal, entretanto, são valores que não 
apresentam, para o ser humano, um caráter absoluto. Ao longo dos tempos, nas mais 
diversas civilizações, várias interpretações serão dadas a essas duas noções. A Ética 
acompanha esse desenvolvimento histórico, para que isso sirva de base para uma 
reflexão sobre como ser ético no tempo presente. 
Considera também como esses valores se aplicam no relacionamento 
interpessoal, pois a noção de um modo correto de se comportar e posicionar na vida 
pressupõe que isso seja feito para que cada um conviva em harmonia com os outros. 
A ética, portanto, trata de convivência entre seres humanos na sociedade. Num 
sentido mais restrito, ela se restringe às relações pessoais de cada um. Num sentido 
mais amplo - já que ninguém vive numa pequena comunidade isolada -, ela se 
relaciona com a política - da cidade, do país e do mundo. Nesse sentido, ela é 
possivelmente a área mais prática da filosofia. 
Mas, antes de mais nada, qual o significado da palavra ética, em termos 
filosóficos? 
O filósofo contemporâneo espanhol Fernando Savater apresenta uma resposta 
para essa questão em termos muito simples, num livro intitulado Ética para meu filho, 
da Editora Martins - Capa do livro de Fontes. Como diz o título, ele escreveu com o 
intuito de explicar a uma geração em formação. questão para o seu filho adolescente. 
A seguir, você pode ler um breve trecho da resposta de Savater para a questão “o que 
é ética?”. Esse é um excelente ponto de partida para você pensar no assunto: 
 
 
Fonte: saraiva.com.br 
 
9 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
11 
 
Vimos nesta breve introdução da disciplina uma distinção entre os conceitos e 
noções de moral e ética. As exposições baseadas nos pareceres do teólogo Leonardo 
Boff e nas considerações éticas de Fernando Salvater irão nos ajudar a aplicar adiante 
essa distinção e promover a compreensão desses valores nas relações sociais. Foi 
exposto, também que a noção de ética varia em relação ao contexto histórico-cultural 
e está associado a uma espécie de escolha realizadapelos indivíduos ao longo do 
seu processo de maturação. Portanto sua aplicação é decorrente da formação integral 
dos indivíduos. 
Procure considerar, no decorrer de seus estudos as conceituações e a 
aplicabilidade dos mesmos. As distinções entre os dois conceitos e as formas de 
desenvolvimento destes determinam como devemos percebê-los e aplica-los nas 
relações sociais. Adiante vamos colocar em prática a análise desses conceitos e suas 
distinções. 
1.4 Noções acerca da aplicação dos conceitos Éticos e Morais 
As duas aulas que se seguem se baseiam no texto “A evolução moral e ética e 
seus reflexos na sociedade contemporânea” de autoria de Rosângela Menta Mello e 
buscam posicionar argumentos práticos para aplicação dos conceitos éticos e morais 
nas relações sociais. Os textos e as imagens, assim como as questões instituídas 
para a reflexão poderão nos auxiliar a compreender melhor a dimensão dos conceitos 
de ética e moral. 
Antes de iniciarmos nossas atividades, vamos recordar aspectos desenvolvidos 
nas duas primeiras aulas para que possamos, adiante, situar nossa posição em 
relação às práticas morais e éticas. 
Vimos que existe uma distinção entre preceitos morais e éticos e que esta 
diferença se estabelece a partir do processo de vivência dos indivíduos em sociedade 
e que a moral estaria diretamente vinculada às normas, regras e leis sociais e que, 
assim, todos os indivíduos em sociedade estariam submetidos a ela. Por outro lado, 
a ética se desenvolveria nos indivíduos a partir de uma escolha destes para uma 
prática social além das regras e normas, posicionando argumentações construídas a 
partir do seu caráter e da sua postura individual em relação às questões sociais. 
Para tornar nosso estudo mais proveitoso estaremos a seguir situando alguns 
questionamentos para que possamos refletir sobre aspectos essenciais do nosso 
 
12 
 
conteúdo. Não será necessário responder às questões, apenas reflita sobre elas a 
partir da sua vivência ou mesmo através de uma breve pesquisa. 
 
 
 
Além destas questões situadas acima vocês poderão levantar outros aspectos 
que gostariam de esclarecer, mas nem sempre podemos abordar toda a dimensão do 
estudo, então devemos selecionar os principais problemas a serem discutidos. 
Devemos lembrar que os estudos das dimensões filosóficas e sociais da moral 
e da ética são amplos e complexos. Portanto cabe relacionar o conteúdo moral e ético 
a outros campos de análise para podermos compreender melhor esta complexidade. 
Assim iremos relacionar questões \ reflexões sobre a moral e a ética nas suas 
diversas dimensões e abordagens. (Aqui também não será necessário “responder” às 
questões, apenas refletir sobre elas, tentando construir uma argumentação que 
permita esclarecer suas dúvidas). 
 
 
 
13 
 
Vamos aprofundar a nossa reflexão analisando a seguinte imagem sobre a 
evolução do homem. 
 
 
Fonte: portaldoprofesssor.mec.gov.br 
 
Analisando a imagem acima, reflita sobre as questões que se seguem, 
buscando estabelecer análises sobre o comportamento do homem e sua “evolução”. 
 Quem é o personagem central da imagem? 
 O que ele está fazendo sempre? 
 Como ele se relaciona com a natureza e os produtos da sociedade? 
 Qual a forma de conviver, de comunicar, de se organizar desde a era da 
pedra à era do computador? 
 Que mensagem o autor desta imagem quis transmitir? 
 Você concorda com o autor? 
 
A nossa sociedade construiu ao longo de séculos um conjunto de regras e 
valores que determinaram o comportamento dos indivíduos, para que haja condições 
de convivência comum. 
Segundo Aranha; Martins, 1986, p. 303, “exterior e anterior ao indivíduo, há 
uma moral constituída, que orienta seu comportamento por meio de normas. Em 
 
14 
 
função da adequação ou não à norma estabelecida, o ato será considerado moral ou 
imoral.” Desta forma, podemos considerar que a organização social depende deste 
conjunto de normas para se estabelecer. Segundo as autoras o ser humano é capaz 
de produzir interdições, ou seja, alterações que possam acrescentar ou mudar o 
conteúdo das normas. 
Com a passagem da natureza à cultura, os usos e costumes que são 
produzidos passam a ser regulamentados pelas leis, desta forma, surge à moral para 
garantir a boa convivência entre os indivíduos. Fazendo um contraponto com a 
imagem apresentada acima, sobre a evolução do homem, podemos dizer que sempre 
existiram relações de poder entre os homens desde o início da humanidade. 
Observando os costumes, percebemos que estamos sempre olhando as 
pessoas e as coisas avaliando, emitindo juízos de valor sobre cada situação. Desta 
forma os indivíduos, em seus grupos sociais, regulamentam seus comportamentos a 
partir das normas instituídas. 
 
 
 
O aumento do grau de consciência e de liberdade, e, portanto de 
responsabilidade pessoal no comportamento moral, introduz um elemento 
contraditório que irá o tempo todo, angustiar o homem: a moral, ao mesmo tempo em 
que é um conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos 
indivíduos de um grupo, é também a livre e consciente aceitação das normas. 
(ARANHA; MARTINS, 1986, p. 304) 
 
 
15 
 
1.5 Aspectos históricos da construção e formulação dos conceitos Éticos e 
Morais 
 Percebemos que uma atitude somente será moral se estiver de acordo com 
nossa opinião, nossas ideias, nossa aceitação pessoal da norma. Somente livres 
poderemos agir de acordo com nossa consciência, com responsabilidade nas 
decisões tomadas. Este é o caráter pessoal da moral. Quando nos referimos ao 
caráter social e pessoal da moral, poderemos agir de acordo com o dogmatismo ou 
legalismo (ARANHA; MARTINS, 1986, p. 304), fortalecendo a lei, mas ao mesmo 
tempo, incutindo nas pessoas o medo a não observância da lei. Se aceitarmos o 
individualismo, corremos o risco em não haver mais a moral, uma vez cada ser 
humano poderá impor seus desejos e vontades, ou seja, na ausência de princípios. 
A partir do momento que o homem passa a viver no mundo moralmente 
estruturado, este deve se apropriar de uma consciência moral, orientando suas 
escolhas e seu discernimento. O agir humano é caracterizado pela capacidade de 
anteciparse ao resultado a ser alcançado, tornando o ato moral propriamente 
voluntário. Neste sentido o ser humano possui o desejo e a vontade. Sendo o desejo 
algo natural do ser humano, mas deve ser controlado, para que não seja negada a 
moral. 
A complexidade do ato moral reside no fato que ele provoca efeitos não só na 
vontade, mas naqueles que a cercam e na própria sociedade como um todo [...] para 
que um ato seja considerado moral, ele deve ser livre, consciente, intencional, mas 
também é preciso que não seja um ato solitário. (ARANHA; MARTINS, 1986, p. 307). 
O texto do escritor Lima Barreto “O novo Manifesto”, do início do século XX irá 
nos ajudar a entender o caráter histórico-social da moral e o caráter pessoal, 
posicionando filosoficamente, construindo argumentos para estabelecer relações da 
moral com a ética, compreendendo seus conceitos e estabelecendo conexões com a 
realidade do mundo político de hoje. Para que possamos posicionar as nossas 
conclusões acerca do assunto desenvolvido até este ponto, vamos refletir um pouco 
mais estas noções: 
 O conceito de moral, de ética, a característica do ato voluntário. 
 A organização das sociedades em função da moral e da ética. 
 A moral no tempo e no espaço. 
 
16 
 
 
 
Na evolução da sociedade humana o homem vem construindo diferentes 
pontos de vista sobre a moral e a ética. Reflita: 
 Como podemos perceber isto no modo de viver das pessoas, no 
conceito de liberdade, nas relações de poder. 
 
17 
 
A partir das reflexões acima consideramos importante que os alunos passem a 
observar a comunidade em que vivem, analisando as concepções de moral e ética. 
Se possível,entrevistem, conversem com diferentes pessoas, inclusive da 
comunidade escolar para saber o que pensam ser a moral e a ética. 
1.6 A vida social e a postura ética enquanto preceito educacional e filosófico. 
Reflexões sobre a Ética, multiculturalismo e educação1 
Vivemos um momento único na história de toda humanidade. O mundo tornou-
se uma aldeia global que partilha problemas como crises econômicas, ambientais e 
sociais. 
Somos testemunhas de uma era de enormes carências de conhecimento, de 
afetividade e de espiritualidade. Nossa sociedade é dominada por princípios voltados 
quase que exclusivamente ao lucro e a manipulação através do poder – político, 
social, econômico, religioso e interpessoal. Como as demais estruturas sociais, 
também a escola precisa assumir um novo significado (ressignificar-se) em suas 
antigas práticas, costumes e crenças. 
É inegável reconhecer que o modelo institucionalizado de escola que temos, 
de pouco ou nada adianta para as sofisticadas exigências de sobrevivência do mundo 
globalizado, que requer sujeitos autônomos, críticos, participativos, comunicativos, 
emocionalmente capazes, flexíveis a mudanças, adaptáveis a transformações, 
rápidos nas decisões, eficientes em julgamentos, enfim sujeitos com qualidades e 
habilidades, não raras vezes, opostas àquelas que a escola preconiza hoje, uma vez 
que a ideia de multiculturalidade parte do princípio da coexistência das diversas 
tradições culturais e espirituais; a capacidade humana de assimilar outras tradições 
sem rejeitar ou negar sua cultura original. 
 
 
 
1 O presente texto é de autoria da Pedagoga Regina Aparecida Freitas da Costa Diniz, especialista em Gestão Escolar. 
 
 
18 
 
1.7 Educação como fator para humanização e socialização do homem 
A busca de novos ambientes de aprendizagem, mais adequados às 
necessidades de nossos alunos e ao mundo como ele hoje se apresenta, abre-nos 
uma perspectiva para refletirmos sobre a adoção de novo referencial para a educação, 
considerando a gravidade dos problemas vivenciados não somente no setor 
educacional, mas também nas diferentes áreas do conhecimento humano. No 
entanto, não podemos desprezar os paradigmas que foram construídos ao longo do 
tempo, pois sabemos que, historicamente, a educação sempre foi um fator importante 
para a humanização e socialização do homem. 
As mudanças que estão ocorrendo no mundo da ciência tornam necessário 
rejeitar visão arcaica em que ela é compreendida como um conjunto de verdades de 
natureza acumulativa, substituindo-a por uma concepção em que as teorias científicas 
vão se sucedendo ao longo da história, de acordo com modelos explicativos 
provisórios e parciais, e realizando sucessivos saltos qualitativos que significam 
verdadeiras mudanças totais na visão de mundo. 
Nossos sistemas de pensamento não são independentes de nossa história. 
Este fato nos leva a um questionamento profundo do que é aprendizagem e dos 
conhecimentos que constituem sua matéria prima. Assim, devemos discutir com os 
educadores que não é apenas o conteúdo da ciência que muda a cada instante, mas 
o ponto de vista pelo qual ela é praticada e contemplada. Implica em uma mudança 
nas atitudes de quem a pratica, em uma nova compreensão do que se entende pelo 
estudo da realidade, em uma abordagem inovadora das disciplinas curriculares das 
metodologias de ensino. 
Nesse contexto, um multiculturalismo, desde que bem entendido, não constitui 
uma rua de mão única para autoafirmação de grupos com identidade própria. A 
coexistência em pé de igualdade de diversas formas de vida exige ao mesmo tempo 
uma integração dos cidadãos e o reconhecimento recíproco de sua qualidade de 
membro subcultural no quadro de uma cultura política comum. A sociedade pluralista 
democraticamente constituída garante as diferenciações culturais sob a condição da 
integração política. 
Os cidadãos da sociedade são autorizados a formar seu modo cultural próprio 
sob a pressuposição de eles se entendam juntos com todos os outros, como cidadãos 
da mesma coletividade política. As justificações e as autorizações culturais encontram 
 
19 
 
seus limites nas bases normativas da Constituição, unicamente a partir da qual eles 
se fundamentam. 
Nas sociedades primitivas, por exemplo, tivemos uma educação difusa, 
havendo uma distinção entre educação, ensino e doutrinação. A educação desse 
período tem um conceito genérico, enquanto que o ensino se refere à transmissão de 
conhecimentos acumulados e a doutrinação é vista como uma pseudo-educação que 
não respeita a liberdade do educando. 
A visão de mundo da Idade Média, por sua vez, estava ligada ao processo da 
natureza em relações caracterizadas pela interdependência dos fenômenos materiais 
e espirituais e na subordinação das necessidades individuais às da comunidade. 
Nessa visão orgânica assentava-se o naturalismo aristotélico e sua fundamentação 
dada por São Tomás de Aquino (1224-1275). O pensamento do filósofo grego 
Aristóteles foi adaptado ao contexto cristão por São Tomás de Aquino no século XIII, 
dando ao universo cristão uma aproximação ao conteúdo científico que iria ser uma 
das razões para o aparecimento das universidades na Europa Medieval. 
A idade moderna teve no Renascimento um dos fatores marcantes que 
reposicionou o homem como centro do significado histórico. É o período do 
antropocentrismo (o homem como o centro) e do racionalismo, com o advento da 
experimentação científica. Segundo a concepção de um novo homem, no 
renascimento Educar torna-se questão de moda e uma exigência. A cultura 
renascentista é caracteristicamente humanista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
A ética inclui, portanto o desenvolvimento cognitivo do ser humano, segundo 
Jean Piaget, a moral heterônoma, estágio ainda elementar da moralidade, respeita 
regras e normas tão somente em função de um sentimento de medo, de amor ou de 
sagrado. A pessoa se submete, pois a regra advém de um "outro" que representa 
poder. Mas este é ainda um nível insuficiente, o processo educativo deve e pode gerar 
a moral autônoma que implica um sentimento de necessidade – "aquilo que não pode 
não ser". Neste cenário, as regras não são seguidas por medo ou por amor, mas antes 
de tudo são compreendidas pela "Razão" e é o sujeito em interação com seus iguais 
que decide quais as regras e normas obrigatórias e necessárias para o convívio social. 
 
 
Fonte: biography.com 
A moral autônoma não evoca o medo, o amor e o sagrado. Repele 
simultaneamente o egocentrismo e a confiança cega na autoridade. Tende ao 
reconhecimento de princípios apoiados na cooperação, reciprocidade e na 
necessidade de convívio organizado entre os indivíduos. Neste contexto as regras e 
normas não são eternas, mas se constituem e se preservam enquanto coerentes. 
É hora de resgatar a indagação: Seriam as relações pedagógicas 
predominantes éticas? Se isto fosse verdade, nossas certezas didáticas seriam tão 
intensas? Exercitamos de fato a tolerância ou ainda insistimos em classificar e 
segregar ideias e pessoas? Suportamos o diálogo argumentativo? Ou somos ainda 
seduzidos por verdades alienígenas? 
 
21 
 
A ética na educação significa admitir que hoje é necessário respeitar a regra 
combinada, ainda que amanhã, novas circunstâncias exijam novas regras e normas. 
Isto implica leveza, leveza de saber respeitar a regra porque compreendida e 
igualmente saber transgredi-la quando necessário e em benefício do convívio social. 
Esta é uma postura ética. 
É preciso investigar, como ocorreu a construção da ética nas relações 
pedagógicas. Parece predominar ainda muito fortemente a moral x moral heterônoma, 
tanto na instância do privado, quanto do público. 
 
 
 
Somos ferrenhos defensores de princípios que não assumimos como nossos, 
masnos submetemos por convivência. Desejar um processo educativo onde a ética 
tenha lugar significa não impedir o desenvolvimento do sujeito, que mesmo envolto 
pela cultura, nunca está reduzido a simplesmente repeti-la, mas deseja compreendêla. 
A escola deveria preocupar-se menos em repetir e exigir regras, normas e 
atitudes padrão e estabelecer um “clima constituinte”, onde alunos e professores 
reaprendam o processo de construção das próprias regulações sociais, pedagógicas, 
afetivas, cognitivas. Definidas devem ser repetidas de fato. Quando anacrônicas, 
devem ser revistas e reinventadas. Seremos nós professores, de fato leves tolerantes, 
dialógicos, éticos na interação com nossos alunos? Acreditar nesta possibilidade não 
significa refugiar-se no espontaneísmo, no democratismo, mas antes de tudo admitir 
que o processo de educação seja indiscutivelmente um processo de reconstrução, 
que, portanto tem bases firmes, mas não imóveis. 
A ética não basta como teoria. É preciso que cada cidadão incorpore esses 
princípios como uma atitude prática da vida cotidiana, de modo a pautar por eles seu 
comportamento. Isso traz uma consequência inevitável: frequentemente o exercício 
pleno da cidadania (ética) entra em colisão frontal com a moral vigente. Até porque a 
 
22 
 
moral vigente, sob pressão dos interesses econômicos e de mercado, está sujeita a 
frequentes e graves degenerações. 
É neste contexto que se deve pensar os rumos da educação que se processa 
na escola. Esta, por sua vez, deve exercer uma função democratizadora. Por um lado, 
deve preparar o cidadão em formação para o exercício da autonomia, lendo, 
interpretando e compreendendo criticamente o mundo a sua volta, observando os 
fatos e interpelando a realidade sempre que necessário. 
A educação deve inserir processos de ensino que instrumentalizem o 
trabalhador em formação a prover sua existência futura, de maneira satisfatória no 
horizonte da economia globalizada. Por outro lado, deve ser por excelência um 
processo de humanização, desenvolvimento e realização humana, que privilegie 
valores de liberdade e autonomia, moral e ética, cooperação e solidariedade. 
 
 
 
Educação para a cidadania: o conhecimento como instrumento político 
de libertação 2 
A formação do ser humano começa na família. Ali, tem início um processo de 
humanização e libertação; é um caminho que busca fazer da criança um ser civilizado, 
e bem cedo a escola participa desse processo. Com o conhecimento adquirido na 
escola, o aluno se prepara para a vida. Passa a ter o poder de se transformar e de 
modificar o mundo onde vive. 
Educar é um ato que visa à convivência social, a cidadania e a tomada de 
consciência política. A educação escolar, além de ensinar o conhecimento científico, 
 
2 O presente texto é de autoria do professor Roberto Carlos Simões Galvão. 
 
23 
 
deve assumir a incumbência de preparar as pessoas para o exercício da cidadania. A 
cidadania é entendida como o acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela 
sociedade, e ainda significa o exercício pleno dos direitos e deveres previstos pela 
Constituição da República. 
A educação para a cidadania pretende fazer de cada pessoa um agente de 
transformação. Isso exige uma reflexão que possibilite compreender as raízes 
históricas da situação de miséria e exclusão em que vive boa parte da população. A 
formação política, que tem no universo escolar um espaço privilegiado, deve propor 
caminhos para mudar as situações de opressão. Muito embora outros segmentos 
participem dessa formação, como a família ou os meios de comunicação, não haverá 
democracia substancial se inexistir essa responsabilidade propiciada, sobretudo, pelo 
ambiente escolar. 
A ideia de educação deve estar intimamente ligada às de liberdade, democracia 
e cidadania. A educação não pode preparar nada para a democracia a não ser que 
também seja democrática. Seria contraditório ensinar a democracia no meio de 
instituições de caráter autoritário. 
A democracia não se refere só à ordem do poder público do Estado, mas deve 
existir em todas as relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Começa na 
relação interpessoal, passa pela família, a escola e culmina no Estado. Uma 
sociedade democrática é aquela que vai conseguindo democratizar todas as suas 
instituições e práticas. 
1.8 Educação para a cidadania 3 
 
 
Como vimos a formação do ser humano começa na família. Ali, tem início um 
processo de humanização e libertação, valores morais e éticos; é um caminho que 
 
3 Texto de autoria de Márcia Regina Cabral. A autora é graduada em Ciências Econômicas, Pedagogia e especialista em Educação Infantil e Gestão Escolar. 
 
24 
 
busca fazer da criança um ser civilizado, e bem cedo à escola participa desse 
processo. A educação formal e informal, movimentos sociais, entidades públicas, 
abordando aspetos tais como a educação das crianças, jovens e adultos para uma 
nova cultura dos direitos humanos e da paz e a reflexão e sistematização da prática 
educativa em direitos humanos. 
Nessa sociedade em rápida transformação, cidadania depende cada vez mais 
da educação moral e ética. No atual contexto tecnológico, de consumo e da 
mundialização da economia e da cultura, os indivíduos são seduzidos a viver os 
valores das grandes elites econômicas nos mais diversos aspectos da vida social. Por 
isso a cidadania necessita de um elevado nível de socialização do saber científico. Do 
contrário, seremos apenas consumidores ou não, dependendo da nossa condição 
socioeconômica e dos nossos valores. 
A educação é um meio de construção e reconstrução de valores e normas que 
dignificam as pessoas e as tornam mais humanas. 
 
 
 
Ao invés de só reclamarmos poder agir e transformar as coisas. É verdade que 
sozinhos não podemos mudar tudo, mesmo por que cada um de nós tem um ponto 
de vista diferente do que e de como mudarmos as coisas. Ter como princípio a 
valorização do humano, do ser e não apenas do ter material, já é um bom começo. 
Em nossas comunidades, escola, clube, prédio, rua, etc. Sempre há pessoas que se 
uniram para lutar por algo que acreditam. Conheça melhor a sua comunidade e 
experimente participar dela mais ativamente! 
Uma ideia é a participação em projetos que visem à melhoria da qualidade da 
educação. 
 
25 
 
A preocupação com a educação para a cidadania no Brasil remonta à 
Constituição de 1823. Parece curioso que em pleno Império já se fizesse presente 
entre nós um conjunto de ideias em torno da universalização dos direitos, influenciada 
pelo coetâneo movimento da ilustração francesa. 
Embora esse avançado ideário tenha alcançado seu lugar na letra da lei, na 
realidade ainda predominava entre nós a configuração de uma sociedade 
escravocrata e excludente, na qual apenas os homens livres e proprietários 
desfrutavam de direitos devido ao sistema censitário imperial. Esse sistema vigorou 
durante o Segundo Reinado e tinha sido definido pela Constituição de 1824, a qual 
assegurava o direito de votar e ser votado, participar da Câmara e do Senado, apenas 
àqueles cidadãos que se enquadrasse em determinados níveis de renda. 
“Não obstante, tanto os constituintes de 1823 quanto os de 1824 preconizavam 
a disseminação de escolas, ginásios e universidades, bem como a garantia da 
gratuidade do ensino público apesar de omissos no que respeita à matéria 
obrigatoriedade.” (BOTO 1999, p. 2). 
A questão da defesa da ampliação do acesso à escola referia-se à 
desigualdade social, a qual se supunha, poderia ser compreendida a partir dos 
parâmetros de capacidades e talentos individuais. A elite econômica esta passando a 
ser destinada a tornar-se elite cultural, uma vez que a universalização do acesso à 
educação formal não se efetivou, permanecendo privilégiode uns poucos 
considerados talentosos e mais capazes em relação aos filhos do povo, destinados à 
execução de tarefas de somenos importância do ponto de vista da vida econômica, 
política e social. 
Até o nascimento do partido Republicano, em 1870, não foram verificadas 
grandes mudanças na área da educação, embora houvesse a crença de que a 
escolarização era indispensável ao progresso do país, o que, por consequência, exigia 
a transformação dos súditos em cidadãos. 
 
 
26 
 
 
 
Assim, os princípios da liberdade, igualdade, democracia e solidariedade 
humana são derrotados pelos valores do individualismo, da competição, da busca do 
lucro e acumulação de bens os quais configuram a moral. E a educação é chamada, 
na sociedade para realizar a mediação entre ética e cidadania, formando os indivíduos 
de acordo com os valores requeridos por esse tipo de sociedade. Assim, pela 
mediação da educação, se buscará instituir, em cada indivíduo singular, o cidadão 
ético correspondente ao lugar a ele atribuído na escala social. 
Uma nova cidadania acontece por intermédio dos currículos oficiais e, para 
isso, é necessário que os currículos sejam revistos. Acontece também em todos os 
demais espaços escolares e tudo necessita de um olhar novo para que saiamos do 
quadro de fracasso da instituição escolar no qual, sabemos, o país está imerso. É 
necessário ensinar às nossas crianças e jovens não apenas a ler e a escrever, mas a 
olhar o mundo a partir de novas perspectivas. Ensinar a ouvir, falar e escutar, a 
desenvolver atitudes de solidariedade, a aprender dizer não ao consumismo imposto 
pela mídia, a dizer não ao individualismo e sim à paz. 
 
 
 
 
 
 
27 
 
Educar para a cidadania é adotar uma postura, é fazer escolhas. É despertar 
para as consciências dos direitos e deveres, é lutar pela justiça e não servir a 
interesses seculares. É uma urgência que grita e que deveria ecoar nos corações 
humanos e não nos alarmes das propriedades que tentam proteger a vergonha do 
que a civilização humana construiu. Para alcançarmos isso, não podemos ficar 
somente no ensinar para a cidadania. É preciso construir o espaço de se educar na 
cidadania. E nesse sentido, não é somente a preposição que muda. Muda a postura 
do professor que de cidadão que somente exige seus direitos passa a lembrar também 
dos seus deveres. 
 
 
 
2 A FILOSOFIA COMO PRÁTICA DO PENSAMENTO HUMANO 
2.1 A oposição Renascimento X Barroco 
Renascimento é o termo usado para identificar o período da História da Europa 
aproximadamente entre fins do século XIV (c.1450) e meados do século XVI. Os 
estudiosos, contudo, não chegaram a um consenso sobre essa cronologia, havendo 
variações consideráveis nas datas. Seja como for, o período foi marcado por 
transformações em muitas áreas da vida humana, que assinalam o final da Idade 
Média e o início da Idade Moderna. Apesar destas transformações serem bem 
evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizando a 
transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as 
estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus 
efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências. 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Economia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Economia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o
 
28 
 
“A Santa Ceia” de Leonardo da Vinci - Obra do Renascimento 
 
 
 
 
 Fonte: Fonte: www.biography.com 
Características: Predomínio da razão, da harmonia e do equilíbrio (simetria), 
princípios referentes ao contexto do Renascimento como o antropocentrismo (o 
homem como o centro do universo, a principal criatura de Deus, a valorização da 
ciência (racionalismo) e a inserção da obra de arte na natureza), sobre a emoção e o 
movimento gerador de tensão. 
Princípios que se fazem presentes: 
 Na disposição das formas, perfeitamente equilibrada (simétrica), 
reparem 
 Que cristo se encontra no centro e há seis apóstolos de cada lado; 
 
29 
 
 No equilíbrio estático (e não dinâmico) - notem que leonardo da vinci não 
explora as linhas diagonais para distribuir os apóstolos (assim como faz 
tintoretto) e sim as linhas que dividem o quadro na horizontal e na 
vertical; 
 Na iluminação intensa e geral (que denota a razão) - observem que a 
luz se espalha por igual em toda a tela, sem contrastes de claro e escuro 
(luz e sombra) como ocorre na pintura de tintoretto; 
 No equilíbrio na disposição das cores quentes e frias; 
 Na clara delimitação dos contornos das formas/figuras, sem 
rebuscamento de linhas. 
 
“A Santa Ceia” de Tintoretto - Obra do Barroco 
 
Barroco é o nome dado ao estilo artístico que floresceu entre o final do século 
XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se em seguida pelos 
países católicos da Europa e da América, inclusive o Brasil, antes de atingir, em uma 
forma modificada, as áreas protestantes em prédios públicos e alguns pontos da arte 
e arquitetura do Oriente. 
 
 
Fonte: www.biography.com 
Características: 
Predomínio da emoção, da tensão e do movimento em detrimento da razão e 
do equilíbrio. 
 
30 
 
Princípios que se fazem presentes: 
a) Na disposição das formas distribuídas de maneira a gerar a ilusão (ou 
sensação) de movimento - reparem que, embora Cristo se encontre no 
centro da tela, os apóstolos e demais figurantes não se encontram 
distribuídos de igual maneira ao seu redor; 
b) No aproveitamento da diagonal que liga o canto inferior esquerdo ao 
superior direito para distribuir a maioria dos participantes da ceia - este 
procedimento também gera a ilusão de movimento, pois obriga o olhar 
do espectador a se deslocar no sentido da diagonal sem se fixar na 
imagem de Cristo no centro da tela; 
c) No aproveitamento, embora menor, da outra diagonal, reparem que a 
luz da luminária e os anjos a sua volta, no canto superior esquerdo, 
encontram um certo equilíbrio na imagem do homem de azul no canto 
inferior direito (que se opõe à mulher embaixo da luz, também azul como 
ele); 
d) No predomínio da escuridão e dos contrastes de luz e sombras; 
e) No abuso dos arabescos e linhas tortuosas (especialmente na 
representação dos anjos, tanto no canto superior direito quanto 
esquerdo, ao redor da luz) e na indefinição dos contornos das formas 
devido às sombras ou até mesmo ao excesso de luz; 
f) Na "bagunça" da cena que expressa muito mais a realidade da vida do 
g) Que o equilíbrio estático da pintura de da vinci (nela todos se dispõem 
artificialmente ao longo da mesa para "tirar o retrato", ou seja, fazem 
"pose"). Reparem que no quadro de tintoretto há até um cachorro 
bebendo água na tina que se encontra na parte inferior da pintura, ao 
centro, bem na linha que divide verticalmente a obra ao meio (situando-
se, portanto, abaixo de cristo). 
 
 
 
31 
 
 
2.2 A Filosofia no contexto da transição do século XVI e XVII 
As concepções físicas do universo e o comportamento humano 
A concepção física de que o universo não tinha centro, nem limites, e que a 
terra não girava à volta do Sol, fora já sustentada na antiga Grécia, mas a concepção 
dominante foi sempre a contrária. Aristóteles já havia apresentado, em defesa do 
geocentrismo, argumentos que foram considerados durante séculos incontestáveis. 
Estes argumentos eram validados pelas descrições do universo feitas na Bíblia. 
A grande ruptura com esta concepção geocêntrica ocorreusomente no século XVI. 
Entre os que contribuíram para esta transformação conceitual que então aconteceu 
destaca-se Nicolau Copérnico (1473-1543). Na sua obra “Sobre as Revoluções dos 
Corpos Celestes” explicou de forma pormenorizada como era mais belo ou estético 
que o centro do universo não fosse a Terra, mas o Sol. Como escreveu: "Neste templo 
(o cosmos), o mais belo que existe, quem poderia achar para esta lâmpada (o Sol) um 
lugar melhor que este (o centro), de onde pode iluminar ao mesmo tempo todas as 
coisas?" 
Galileo Galilei também acreditava nesta harmonia cósmica, no entanto as suas 
observações levaram-no a concluir que a mesma não se encaixava na antiga 
concepção do cosmos, finito e hierarquizado segundo graus de perfeição. 
As observações com a luneta revelaram-lhe que a lua não era um corpo 
cristalino e sem peso, pelo contrário tinha vales e altas montanhas. Acreditou mesmo 
que possuía rios, mares e florestas. Esqueceu-se de afirmar era habitada. 
O Sol perdeu também a sua perfeição cristalina, quando lhe descobriu 
manchas. Para espanto de todos descobriu que um planeta, Saturno, era rodeado de 
 
32 
 
anéis. Esta imagem era inconcebível na concepção anterior dos astros. Todos deviam 
naturalmente de ser esféricos, porque a forma mais perfeita de todas era a esfera. 
Observando o movimento pendular do lampadário do Duomo de Pisa mostrou 
ainda que o mesmo se devia ao movimento de rotação da Terra. Estes e outros fatos 
eram mais do que suficientes para sustentar que foi ele que apresentou provas 
concludentes a favor da concepção heliocêntrica do Cosmos, embora não tenha sido 
o seu criador. 
A oposição entre os contextos Renascimento e Barroco pode nos mostrar 
como as concepções filosóficas, o universo das ideias, estão sujeitas às 
transformações culturais realizadas nos diversos períodos históricos. 
Caracterizado pelo antropocentrismo, onde o homem é a principal criatura 
de Deus, pelo racionalismo e pela valorização das argumentações científicas 
esta concepção renascentista ainda é reforçada pelo fato de este homem ainda 
acreditar que está no centro do universo – a concepção física do Geocentrismo. 
 Ao analisarmos a pintura da Santa Ceia de Leonardo Da Vinci podemos 
constatar esta visão cultural em comparação com a Santa ceia de Tintoretto. 
O universo Barroco que se situa no final do século XVI na Europa se revela 
através de elementos filosóficos opostos aos do Renascimento: a assimetria, a 
emoção no lugar da razão, o contraste de claro-escuro sem a inserção da natureza e 
reforçado agora pela nova concepção física do universo, o Heliocentrismo onde o 
homem não é mais o centro do universo e sim, uma pequena parte. Esta concepção 
filosofia produz um homem frágil, com dúvidas e que valoriza o sofrimento e a emoção 
– elementos próprios do universo Barroco. 
 
 
 
 
 
33 
 
2.3 Francis Bacon e a crítica a esterilidade da tradição filosófica 
O texto que se segue é de autoria do professor Bernardo Jefferson de Oliveira 
(UFMG) estudioso da filosofia de Francis Bacon. Iremos apresentar fragmentos 
comentados de seu livro Francis Bacon e a fundamentação da ciência como 
tecnologia. 2ª edição. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, pp. 61-71, buscando 
orientar o sentido de aprendizagem do curso de Filosofia e Ética para o entendimento 
do contexto de transição do século XVI para o XVII quando se propõe uma nova 
classificação e aplicabilidade dos conhecimentos. Boa leitura! 
 
2.4 A divisão sistemática dos conhecimentos 
 
 Fonte: www.biography.com 
Os amontoados de erros são tantos e tão grandes que é impossível tratá-los 
isoladamente. Eles devem ser derrubados e varridos em massa. 
Francis Bacon 
A crítica de Bacon à tradição da filosofia é variada e complexa. Embora ela seja 
o tema central dos escritos O parto masculino do tempo (Temporis partus masculus, 
1603), Fio do labirinto (Filium labyrithi, 1606), Pensamentos e conclusões (Cogitata et 
visa de interpretatione naturae, 1607), Refutação das filosofias (Redargutio 
philosophiarum, 1608), ela aparece disseminada em boa parte de sua obra, 
especialmente nos livros Do progresso do conhecimento (The advancement of 
learning, 1605), do Novo órganon (1620), do livro Da dignidade e do Desenvolvimento 
da Ciência (De dignitate et augmentis scientiarum, 1623), nos quais a tradição 
filosófica, seja em casos específicos ou em grupos, é examinada sob diferentes 
aspectos, como seus objetivos, posturas e métodos. 
 
34 
 
Por causa destes diferentes aspectos em exame, alguns autores são 
vigorosamente criticados em certos escritos e tidos como modelos em outros. Essa 
variedade se torna especialmente complexa porque, além de criticar os equívocos do 
passado, Bacon busca analisar as origens dos erros e compreender suas "razões 
históricas". 
Ou seja, ainda que o tom de algumas passagens revele uma condenação 
impiedosa até mesmo ingênua da tradição, Bacon desenvolve uma crítica mais 
profunda e ponderada com um tipo de análise histórica na qual busca compreender 
as causas culturais e sociopsicológicas dos pensamentos mais significativos da 
tradição. 
 
 
 
E o que é mais interessante: juntamente com as filosofias e as condições 
históricas de sua produção, busca examinar sua recepção, ou seja, a relação que as 
audiências tiveram com estes textos e suas ideias. 
 
 
35 
 
 
 
Além disso, Bacon não deixará de examinar as condições da própria análise, 
isto é, os perigos e preconceitos a que a própria investigação está sujeita. "O 
entendimento deve ser preparado antes de ser instruído, e as mentes precisam ser 
tratadas antes de exercitadas." Daí a necessidade de se deter no reconhecimento 
desses falsos ídolos e nos cuidados para evitá-los. 
Tudo isso traz dificuldades para avaliação da posição de Bacon frente à 
tradição, pois se tem a impressão de ela estar pontuada por ambiguidades e 
contradições. Seja como for, nosso interesse aqui é o exame das características 
centrais da crítica de Bacon, e não resta dúvida de que o eixo da crítica é a esterilidade 
de toda a tradição filosófica, pois, para Bacon, a filosofia como um todo, talvez com 
exceção de alguns raros momentos como entre os pré-socráticos, se caracterizava 
pela futilidade de abstrações sem sentido e inutilidade para a melhoria da vida dos 
homens. 
 
 
 
 
36 
 
Bacon pretende abrir ao entendimento humano uma via completamente distinta 
da conhecida no passado, e o exame geral de sua posição frente à tradição nos 
fornece um importante elemento para a compreensão de seu projeto, pois indica 
justamente o tipo de falta que sua reforma deverá sanar para instaurar o programa 
que idealiza. Assim, a análise do que ele considera estéril e fútil lança luz sobre o que 
ele concebe como a nova ciência produtiva e fecunda. A nosso ver, a crítica de Bacon 
à esterilidade da tradição se desenvolve em três vertentes: os objetivos do 
conhecimento, as formas de se alcançá-lo e a postura frente a ele. Embora estas 
vertentes se entrelacem, vamos procurar tratá-las separadamente e nesta ordem. 
Antes, contudo, é conveniente traçar, ainda que em linhas gerais, o contexto no qual 
elas se formam. 
No mundo intelectual da Europa do final do século XVI, Platão e Aristóteles 
serviam de bases às principais correntes de pensamento. O primeiro se fazia influente 
através de um platonismo cristianizado (Thomas Morus, Giordano Bruno e 
Campanella) ou de um neoplatonismo que, de maneira sincrética, misturava fontes 
herméticas1 com outras doutrinas espiritualistas, como se pode depreender da 
filosofia de Marsílio Ficino, de Pico della Mirandola e de outros pensadores 
renascentistas. Já o aristotelismo imperava nas escolas, isto é, era a base dos 
currículos universitários e exercia, por intermédio dos escolásticos, forte influência na 
lógica e na filosofia natural. 
A resistência ao aristotelismojá era relativamente difundida na época de Bacon. 
Paracelso, Erasmo de Roterdan, Lutero, Ramus, Telésio, Giordano Bruno, 
Campanella, Galileu e vários outros se opunham às ideias do estagirita (relativo à 
Estagirita – cidade natal de Aristóteles na Macedônia) sob diferentes pontos de vista. 
Ou seja, embora representasse a filosofia oficial, o aristotelismo era também o alvo 
preferencial de todos aqueles que, por diferentes razões, criticavam o ensino 
acadêmico e o conhecimento oficial. 
Entretanto, várias destas críticas e suas alternativas serão também, por sua 
vez, criticadas por Bacon. Algumas destas, como a perspectiva dos humanistas, a dos 
reformadores da retórica 4, não se diferenciavam muito, aos seus olhos, dos objetivos 
equivocados, da linguagem artificialmente complexa e da impostura da tradição. 
 
 
37 
 
 
 
Os objetivos equivocados 
A primeira vertente da crítica à esterilidade da tradição filosófica diz respeito 
aos objetivos do conhecimento. Bacon não hesita em condenar a elevação do espírito 
ou a honra pública, o prazer ou a tranquilidade da alma como fins inferiores e 
degenerados. A seus olhos, a função meramente contemplativa da filosofia e a 
ausência de uma tentativa de compreensão que representasse um domínio da 
natureza são as principais razões da estagnação, dos "destemperos do 
conhecimento" e de seus procedimentos dogmáticos. 
Uma das causas básicas da confusão de objetivos estava, para Bacon, "na 
mescla danosa" com a teologia. Platão é condenado por sua falta de interesse pela 
filosofia natural e por ter corrompido o estudo da natureza com a religião, o que o teria 
levado a entender e explicar a natureza em termos do sumo bem. Também Aristóteles 
e sua doutrina da causa final acabam segundo Bacon (The advancement of learning. 
VI, 223), incorrendo numa perspectiva teleológica equivalente à de Platão. Esta 
perspectiva impedia, a seu ver, a busca das causas físicas que possibilitam ter algum 
domínio sobre os fenômenos naturais. Explicações finalistas sobre operações da 
natureza, como a de que as chuvas são feitas para aguar a terra e as folhas das 
árvores para proteger os frutos, transformam, segundo Bacon, a ciência numa 
teologia. As causas finais são, portanto, vistas como questões acerca da providência 
divina, e suas especulações como "uma virgem consagrada a Deus, que não produz 
nada". 
Assim, é razoável que Bacon colocasse os pré-socráticos naturalistas acima de 
Platão e Aristóteles. Especialmente Demócrito, que, a seu ver, removeu Deus e a 
mente da fábrica das coisas e tratou das causas das coisas particulares como 
 
38 
 
necessidades da matéria, sem nenhuma intromissão das causas finais. Também os 
céticos serão reverenciados por suas críticas às pretensões do conhecimento 
filosófico, mas não serão poupados da acusação de esterilidade, por causa da 
desesperança e conformação que seus pontos de vista levavam. 
Ao tentar compreender as razões da adoção de objetivos equivocados, Bacon 
se deterá em alguns momentos na análise dos elementos psicológicos e culturais. 
Assim, em O parto masculino do tempo, a incapacidade dos filósofos em procriar 
(filosofias estéreis em obras) expressa uma atitude moralmente culpada, advinda da 
soberba daqueles que não prestaram atenção aos limites, nem tiveram apreço pela 
realidade e respeito pela obra do Criador, colocando acima de tudo “as astúcias do 
engenho e a obscuridade das palavras”. Esta postura se revela, por exemplo, na 
pretensão de encerrar a universalidade do saber e a totalidade da natureza em 
princípios e doutrinas. 
Já em The advancement of learning, Bacon trata dos erros e da futilidade como 
destemperos do conhecimento, que seriam de três tipos: “...o primeiro, conhecimento 
fantástico, o segundo, contencioso e o terceiro, delicado. Vãs imaginações, vãs 
altercações e vãs afetações”. Estes três destemperos caracterizariam as principais 
tendências de sua época: neoplatonismo, escolástica aristotélica e retórica humanista. 
 
 
 
Mas a denominação pejorativa de estéril não diz respeito somente a estas 
correntes, mas ao conjunto das filosofias antigas e de sua época. Mesmo a obra do 
italiano Bernardino Telesius, por quem Bacon nutre reconhecida admiração, não deixa 
de ser considerada, pejorativamente, como contemplativa e pastoral. 
A esterilidade vale frisar, não é propriamente teórica, mas em termos de frutos 
(obras) que aliviem a condição material dos homens. Bacon considera os sistemas 
dos filósofos como teias de aranha. Com esta imagem ele exprime, simultaneamente, 
 
39 
 
a percepção de sua perfeição e de seu deslocamento da realidade. Ou seja, 
reconhece a beleza e a habilidade das mentes na construção dos sistemas que, como 
os fios com que as aranhas tecem suas teias, são tirados delas mesmas, sem 
comércio com a natureza, e pairando acima e fora do mundo real. 
O interesse dos gregos pela teorização, que diferenciava seu conhecimento 
dos de outros povos e que geralmente é visto como elemento fundador da cultura 
ocidental é visto por Bacon como um equivocado excesso, que desvirtuara toda a 
filosofia. Isto não quer dizer que o conhecimento operatório, que ele proporá em 
substituição, deva abrir mão de qualquer teorização. Bacon defenderá, como 
veremos, uma verdadeira união da teoria com a prática e, portanto, criticará também 
o desinteresse dos técnicos pelas teorias e métodos que potencializassem o 
conhecimento-domínio da natureza e o avanço das invenções. Mas a seu ver a 
"inclinação grega" fora excessiva, levando a um descaminho que praticamente 
esterilizou toda tradição filosófica. 
Como se poder ver, a refutação dos objetivos equivocados da tradição filosófica 
vai indiretamente revelando as finalidades do programa baconiano. Ou seja, 
expressos negativamente como crítica da esterilidade, os objetivos da ciência 
baconiana se revelarão positivamente como transformação da ciência (filosofia 
natural) em tecnologia. 
2.5 A Ética e a prática filosófica 
Espinosa e a Filosofia da Existência 
 
 
Fonte: www.citador.pt 
 
 
40 
 
Baruch de Espinosa é, com toda a justiça, considerado um dos grandes da 
história da filosofia — “o filósofo dos filósofos” ou, como disse Bertrand Russell, “o 
mais nobre e o mais amável dos grandes filósofos”. Ainda assim, suas ideias foram 
amplamente rejeitadas em sua época. Mesmo antes de escrever suas obras 
principais, ele foi excomungado pela comunidade judaica de Amsterdã em julho de 
1656. Tinha então 24 anos de idade. Seus livros, quase todos publicados 
postumamente, foram proibidos e postos no Índex do Vaticano. O filósofo morreu em 
1677, aos 44 anos. 
Entre os que influenciaram a filosofia de Espinosa, é importante destacar 
Aristóteles, os Estóicos, Descartes e Giordano Bruno, este último cosmólogo e poeta 
além de filósofo, e também vítima da ortodoxia da Igreja Católica: em 1600, foi 
queimado numa das fogueiras da Santa Inquisição. Eis algumas das ideias de 
Espinosa: 
a) A realidade é una; 
b) Deus e a realidade são uma coisa só; 
c) A mente e a realidade também são unas; 
d) O propósito da filosofia é perceber a unidade que existe na diversidade. 
 
Espinosa é um filósofo racional e revolucionário. A seu ver, é possível 
compreender a totalidade da realidade por meio da razão (do conhecimento). Para 
ele, a compreensão de tudo não é somente um simples exercício intelectual: é um 
exercício de liberdade. Seu ponto de partida é ousado: se Deus é onipresente, não há 
como imaginá-lo fora do mundo. O divino faz parte de tudo o que existe no mundo 
natural. Não é, pois, transcendente, mas sim imanente (permanente). Na verdade, Ele 
é a própria Natureza, o conjunto de todos os seres, vivos ou não, o que evidentemente 
inclui os humanos, suas mentes e seus corpos. Daí a conhecida expressão 
espinozista: Deus sive Natura ou Natura Naturante (Deus = Natureza). 
 ParaEspinosa Deus é livre para criar todas as coisas, pois não seria 
“constrangido” (impedido) por nenhuma força estranha (lei, norma, regra, etc), e expõe 
a ideia de um Deus produtor e não transcendente. 
Ao contrário de Deus, o homem, segundo a filosofia de Espinosa, não teria a 
possibilidade de ser livre – o homem estaria na servidão. O homem não seria capaz 
de efetuar a sua própria natureza, pois estaria, ao contrário de Deus, sujeito às forças 
 
41 
 
estranhas (leis, normas, regras) que impediriam ao homem de criar algo a partir de 
suas próprias ideias. 
 
 
 
Para Espinosa a Liberdade seria essencial, o elemento primordial para a 
criação e o estabelecimento de novas ideias e novas proposições na natureza e o 
homem para experimentar a liberdade e conhecer as coisas e o universo ao seu redor 
teria de ter necessidade da liberdade para promover o seu conhecimento. 
 
Espinosa e os três níveis do conhecimento humano: a consciência, a 
razão e a criação 
 Espinosa estabelece uma relação direta entre a atividade produtiva e a 
liberdade. Segundo a obra de Espinosa, principalmente a “Ética”, para se produzir ou 
“efetuar a sua natureza” seria imprescindível ter liberdade. Seria dessa forma que 
Espinosa estruturaria a atividade divina – Deus seria livre para efetuar a sua natureza, 
Deus seria livre para criar. 
No entanto, para Espinosa essa atividade de criação não estenderia aos 
homens, ou seria quase impossível aos homens alcançar este nível do conhecimento. 
Espinosa estrutura seu pensamento estabelecendo três níveis do conhecimento aos 
quais os homens, eventualmente, poderiam atingir: 
 
 
 
42 
 
 
 
Dessa maneira, estão dadas as condições, segundo Espinosa para que o 
homem alcance a liberdade por meio do conhecimento e consiga efetuar a sua própria 
natureza, ou seja, realizar suas escolhas e produzir o seu conhecimento. 
 
 
 
 
 
43 
 
2.6 O desfio das diferenças 
 
 
Urbana e globalizada, a contemporaneidade defronta-se com permanente 
interseção cultural. Grandes debates marcam, hoje, o campo da ciência e, mais 
particularmente, o das ciências humanas e sociais. O desenvolvimento tecnológico, 
as novas tecnologias e seus significados éticos e sociais; a globalização da economia 
e da cultura e as interseções global / local, como reaparecimento dos grupos étnicos, 
o fortalecimento de fundamentalismos de várias ordens, a organização e luta das 
minorias oprimidas; a diluição das fronteiras e a reconfiguração dos grupos de 
pertencimento e os sentimentos identitários; a homogeneização e a instantaneidade 
da informação concomitante à proliferação das formas comunicativas; a 
individualização da sociedade e a personalização dos interesses, aliadas à busca das 
vivências grupais e à reativação dos laços comunitários; a presentificação da 
temporalidade contemporânea e o obscurecimento da ideia de futuro são temáticas 
que, acolhendo contradições e marcando a diversidade desafiadora do 
contemporâneo, instigam o trabalho do conhecimento. 
A globalização, os avanços tecnológicos e seus efeitos sobre o trabalho, a 
constituição da sociedade informacional, a ocidentalização da cultura e a 
superexposição da mídia são processos contemporâneos que produzem mudanças 
nos modos de estar e sentirem-se juntos, desarticulam formas tradicionais de coesão 
e modificam modelos de sociabilidade. 
A diversidade marca territorialmente nossos espaços de viver a partir de formas 
de vida específicas, que se refletem em padrões de comportamento diversos e, às 
vezes, em tensões e conflitos. 
 
44 
 
A gestão dessas tensões e a construção da convivência com o respeito à 
diferença são alguns dos desafios mais importantes que todas as sociedades 
enfrentaram ou têm enfrentado. A expressão da diversidade cultural, das tensões daí 
advindas, da riqueza de possibilidades contidas nessa diversidade ocorre, 
preferencialmente, nas cidades. 
As cidades crescem e a população mundial se concentra cada vez mais nas 
zonas urbanas. As cidades se convertem no principal lugar da diversidade cultural, 
dos contatos e da criatividade cultural. Mas essa diversidade implica um desafio: 
encontrar os meios institucionais capazes de garantir a interculturalidade, 
principalmente nos tempos atuais, com um espírito de paz e democracia. 
Nesse contexto, as cidades aparecem como imensos caleidoscópios 
(mosaicos) de padrões, valores culturais, línguas e dialetos, religiões e seitas, etnias 
e raças. Modos distintos de ser passam a concentrar-se e a conviver em um mesmo 
lugar. 
Os tempos atuais produzem, simultaneamente, o desenvolvimento de uma 
cultura de massa por intermédio dos meios de comunicação e o florescimento das 
chamadas culturas locais. Esses dois elementos da transformação cultural encontram 
um lugar privilegiado nas cidades, onde formam parte de um processo amplo de 
construção de identidades. 
As cidades são o espaço da diversidade, do encontro com o estrangeiro, do 
reconhecimento da distinção entre o “eu” e “os outros”. A tendência da globalização – 
um mundo “uno”, interconectado e interdependente – supõe, simultaneamente e como 
parte de um mesmo processo, a reafirmação da diversidade cultural e das identidades 
locais e nacionais. 
Hoje, temos uma profunda mudança na compreensão do que entendemos por 
diversidade. Até há algum tempo, diversidade cultural era entendida como 
heterogeneidade radical entre culturas, cada uma delas enraizada em um território 
específico, dotada de um centro e de fronteiras nítidas. Qualquer relação com outra 
cultura se dava como estranha / estrangeira e, concomitantemente, perturbação e 
ameaça em si mesma, para a identidade própria. 
O avanço tecnológico dos transportes e da comunicação “borrou” o tempo e o 
espaço, derrubando as barreiras que rodeavam as culturas. O processo de 
globalização que agora vivemos, no entanto, é, ao mesmo tempo, um movimento de 
 
45 
 
potencialização da diferença e de exposição constante de cada cultura às outras, de 
minha identidade àquela do outro. 
Reaparece a noção de fronteira, dentro da cidade, à medida que a multiplicação 
de identidades está ligada à multiplicidade de territórios, às desigualdades sociais e à 
distinta capacidade de acesso a serviços. Ao mesmo tempo, surge um futuro 
delineado por forças econômicas, tecnológicas e ecológicas que exigem integração e 
uniformização e engendram comportamentos idênticos em toda parte, moldados por 
um padrão urbano e cosmopolita (que é composto por indivíduos de origens culturais 
distintas). 
Isso passa a exigir um permanente exercício de reconhecimento daquilo que 
constitui a diferença dos outros como enriquecimento potencial da nossa cultura, e 
uma exigência de respeito àquilo que, no outro, em sua diferença, há de intransferível, 
não transigível e, inclusive, incomunicável. A cultura se encontra no centro dos 
debates contemporâneos sobre a identidade, a coesão social e o desenvolvimento de 
uma economia fundada no saber, que tem levantado algumas questões: 
 
 
 
 
46 
 
2.7 Cultura e Diversidade - Considerações sobre a multiplicidade das mani-
festações 
Milton Moura4 
 
A discussão sobre diversidade cultural ocupa lugar de destaque na ordem 
política internacional. A Declaração Universal sobre Diversidade Cultural (UNESCO, 
2001), resultado da Conferência de Estocolmo, realizada em 1998, sinaliza a 
relevância da temática. A diversidade cultural é colocada no mesmo plano dos direitos 
econômicos e sociais e remete a uma conceituação de cultura consideravelmente 
ampla, fortemente ancorada na discussão antropológica. 
Afirma-se em diversos momentos a diversidade cultural como compatível com 
a unidade do gênero humano e com o intercâmbio entre diferentes culturas. Aspectos 
quantitativos e qualitativos são integrados no bojo de sua definição. Diante do impacto 
das novas tecnologias, o documentoapresenta-se otimista no que se refere às 
possibilidades de diálogo. Em alguns trechos, diversidade cultural é identificada com 
democracia. 
São várias as questões que poderiam ser descultural entre os povos e a 
dobradas a partir destas observações iniciais. Aos efeitos da forma de interpretação 
despresente reflexão, cabe destacar aqueles que dizem respeito à definição daquilo 
que poderia ser tomado como uma unidade cultural. Em que sentido, em que medida, 
de que forma podemos falar em “uma cultura” ou “cada cultura”? Quando nos 
referimos aos nossos “campos”, muitas vezes plataformas de aplicação de nossos 
conceitos, problemáticas e hipóteses, não são raras expressões como “na cultura 
deles”, “são culturas completamente diferentes”, etc. 
Um problema que surge à primeira leitura dos documentos e da bibliografia 
ensaística dedicada ao tema se relaciona aos contornos do que se chama, na maioria 
das vezes de modo simplificado, “cultura latino-americana”, “cultura negra”, “culturas 
indígenas”, etc. Estas expressões são frequentes em formulações programáticas e 
estratégicas de organismos como a International Network for Cultural Diversity (INCD) 
e a International Network for Cultural Policies (INCP). No Brasil, esta temática 
 
4 Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas e Professor Associado do Departamento de História na Universidade 
Federal da Bahia (UFBA) / Brasil. 
 
47 
 
alcançou uma visibilidade maior por ocasião da assembleia da United Nations 
Conference on Trade and Development (UNCTAD), realizada em São Paulo em 2004. 
Apesar do esforço de diversas redes de discussão, de produção cultural e de 
militância política, restam lacunas a merecer equacionamento e aprofundamento. De 
Bernard (2005) coloca a necessidade de considerar cinco dimensões da diversidade 
cultural para que este conceito possa ser estabelecido de forma mais consistente: 
 Diversa, pelo qual a própria compreensão da diversidade cultural 
precisa superar a suposição de que a simples pluralidade ou 
multiplicidade já seria, por si, diversidade; 
 Cultural, repelindo o equívoco de identificar biodiversidade e 
diversidade cultural, ou mesmo extrapolar a lógica histórica em busca de 
homologias ou analogias entre os dois termos do binômio, porquanto a 
cultura é invenção humana e fluxo contínuo de criação e conflitividade; 
 Dinâmica, o que coloca sob suspeita a perspectiva simplificada – às 
vezes, simplória – de “preservar” ou “manter”; 
 Questão e resposta – política, social, pedagógica e econômica – a 
desafios percebidos na cena dramática da contemporaneidade; Projeto, 
utopia, ponto de tensão, em vez de “ideal”. 
 
Uma formulação assim radical de um projeto de reflexão aponta para bem mais 
que o estabelecimento da diversidade cultural – ou multiculturalismo e 
interculturalismo – como mais um modismo. Isto viria a coincidir com o interesse dos 
grandes grupos empresariais para os quais a diversidade bem poderia ser uma 
configuração pictórica de diferentes, qual um outdoor da CocaCola. O resultado 
cumulativo da presença de militantes de diversas minorias sociais na cena midiática 
não deixa de corresponder inclusive ao apelo consumista diante de novas categorias 
de consumidores. 
É interessante registrar as interseções genéticas entre os conceitos de 
diversidade cultural e de biodiversidade (SEGOVIA, 2005). É daí que se pode partir 
para compreender o caráter até certo ponto sagrado de cada unidade chamada, numa 
simplificação às vezes inevitável, de “cultura”, na acepção de “uma cultura”, de “cada 
 
48 
 
cultura”. Assim, cada cultura seria intransferível, singular, a ser admirada e defendida 
contra as ameaças à sua continuidade. O desaparecimento de cada cultura seria uma 
perda irreparável, já que cada unidade cultural seria intransferível e irrecuperável. Este 
paralelo, contudo, não deixa de oferecer dificuldades. 
No campo sociológico, a reflexão deve considerar outros elementos. Anthony 
Giddens (1991) deixou patente a importância dos mecanismos de transferência de 
elementos (inclusive culturais) de uma sociedade a outra. O próprio MiKhail Bakhtin 
(2001), com o conceito de dialogismo, já havia tematizado a importância dos trânsitos 
entre enunciados de sujeitos os mais distintos. Numa apropriação singular desta 
Figura 6 - Dialogismo é uma figura de linguagem, intuição, Ginzburg (1987) criou o 
conceito de circularidade cultural, que dá conta de trocas entre sujeitos situados em 
classes sociais não somente diferentes, como antagônicas. 
Não é raro observar que a visão veiculada pelas mídias acerca da diversidade 
cultural supõe o mundo como uma pluralidade de estados-nações com um território 
definido, um governo efetivo e uma população estável com ligações culturais comuns 
(GOLDSMITH, 2005). E não é difícil imaginar que esta tendência seja hegemônica 
nos ambientes e ocasiões em que os diferentes estados-nações se fazem participar 
mediante seus representantes intelectuais e/ou políticos. A unidade básica quando se 
fala de cultura, no caso, se pauta sobre as linhas do estado-nação; como se diz na 
linguagem comum, o “país”. 
A partir, sobretudo do final dos anos ’80, com o desmoronamento da Iugoslávia 
e da União Soviética, o que pareciam simplesmente “países” se revelaram somatórios 
complexos de unidades sócio-político-culturais que em processos muito violentos 
foram reunidos sob o mesmo Estado, configurando, no mapa, uma unidade. Quase 
de repente, apareceram “outros países”... 
Entretanto, é mais fácil perceber à distância a falácia da unicidade cultural como 
contrapartida da unidade político-institucional. De perto, resulta desconfortável 
reconhecer que somos múltiplos, diversos, e que a compatibilização de unidades 
muito diferentes é viabilizada mediante estratégias complicadas e nem sempre 
exitosas. Não é raro sentirmos certo escrúpulo cívico diante da percepção de 
problemas relacionados à constatação de que é artificial a “unidade da nação 
brasileira”. 
Onde ficaria, então, aquilo que cultivamos como “a pátria”, o construto sócio 
histórico ao qual o senso comum e a maior parte dos agentes midiáticos se referem 
 
49 
 
como “a nação brasileira”, “nosso Brasil”, “nosso país”, etc.? Não seria mais cômodo 
cultuar a “nação” amada a partir de sua compreensão como unidade simplificada? A 
historiografia não costuma registrar épocas em que o cultivo do civismo e do ufanismo 
nacionalista coincide com o reconhecimento da pluralidade ou do pluralismo. 
Em cada unidade nacional politicamente definida, diversos tipos de elite tomam 
para si a tarefa de registrar o que é “daqui” e o que é “dos outros”; que maneira de 
falar seria simplesmente a maneira de falar, que outras seriam “sotaques”; o que seria 
risível aqui e ali e o que, no âmbito do risível, seria ridículo; o que seriam o culto e o 
brega; o que seria o oportuno, o conveniente, o que sempre cabe corretamente... e o 
que seria chulo, medíocre, impertinente. 
Trata-se de administrar a diversidade para que sempre tenda a uma subsunção 
pela unicidade da referência principal. As agências hegemônicas no campo da mídia 
– principalmente no caso da televisão – integram diversos ícones da diferença em 
seus programas humorísticos, mediante o recurso da derrisão. 
Esta é provavelmente a visibilidade mais grosseira de uma concepção de 
diversidade mesquinha e perversa. 
 
3 INDÚSTRIA CULTURAL E IDENTIDADE 
3.1 Indústria Cultural e o conflito de gerações - Identidade 
A noção de identidade é um processo contínuo de elaboração de um conceito 
estável de si mesmo como indivíduo e adoção de um sistema de valores que promove 
um senso de direção. É um processo no qual se forma a autoimagem, a integração 
das ideias sobre si e sobre o que os outros pensam de você. Um dos componentes 
que promove a elaboração da identidade

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