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EDUCAÇÃO PERMANENTE AULA 5 Profª Thiana Maria Becker 2 CONVERSA INICIAL Chegamos a mais um momento importante de nosso processo dialético, a fim de aprendermos sobre a ergologia. Essa abordagem pluridisciplinar nos permite investigar as atividades de trabalho e descobrir quais são os elementos que passam pela formação do trabalhador e do próprio trabalho. Descreveremos nesta etapa as dimensões da ergologia na produção do conhecimento, seus saberes investidos e constituídos que fazem diferença na preparação para o mundo do trabalho. Trazemos explicações sobre o que são os três polos (DD3P) e o diálogo socrático, e, para concluir, a pauta será sobre a aprendizagem por problemas. TEMA 1 – ERGOLOGIA – CONCEITO E CONCEPÇÃO NA FORMAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO A ergologia visa o estudo da atividade humana e, de forma mais específica, a atividade do trabalho. Caracteriza-se como sendo pluridisciplinar por não haver uma disciplina específica que consiga, em sua complexidade, conceituar de forma única o ser humano ou o trabalho em si. Dessa forma, analisando o trabalho e suas atividades, de uma maneira mais generalizada, com seus saberes de experiências, mas ainda assim, com bases científicas, respaldando-se em diferentes áreas de estudos, a compreensão faz com que se torne possível organizar e aumentar o rendimento (social e economicamente) das atividades humanas. Diante do exposto, a ergologia não é uma disciplina, tampouco uma teoria; é uma abordagem, que tem em sua constituição o método que pode indicar o caminho, as vias para que o estudo possa se concretizar. Para melhor entender em qual esfera encontra-se a ergologia, veja a imagem a seguir, extraída do artigo de Pierre Trinquet (2010) intitulado: “Trabalho e Educação: o método ergológico”. 3 Figura 1 – Pluridisciplinaridade ergológica Fonte: Trinquet, 2010. De acordo com Trinquet (2010), quando esses diferentes saberes se encontram, elaboram-se novos conceitos, descobertas inovadoras, possibilitando maior horizonte no intento do entendimento sobre o trabalho, estabelecendo o objetivo da ergologia. Ressalta-se que, para que isso aconteça, esses saberes devem ser vistos em função das percepções dos trabalhadores, e a relação que estes firmam com o ambiente em que estão inseridos, desenvolvendo determinada atividade humana. Com base nessa ideia, Schwartz e Durrive (2007, p. 26) referem que: “é necessário fazer um esforço para ver de perto como cada um não apenas se submete, mas vive e tenta recriar sua situação de trabalho”. Tendo em vista o que foi exposto, precisamos saber o que é essa atividade humana no âmbito da ergologia que tanto citamos. Para isso, trazemos Trinquet (2010, p. 96), que estabelece que: é tomada no sentido de atividade interior. É o que se passa na mente e no corpo da pessoa no trabalho, em diálogo com ela mesma, com seu meio e com os outros. Embora essa seja uma ideia abstrata, é muito fecunda e eficaz. Definitivamente, é o que faz com que o trabalho possa se realizar e, de fato, se realiza. 4 Sabemos que a vida humana é pautada por planejamentos, normas, regras em geral. Na ergologia, toda atividade humana, enfatizando as do trabalho, podem ser constituídas de saberes formais ou informais, acumulados historicamente, que inventam e reinventam a história e nos remetem a “escolher e agir segundo um misto de aceitação (apropriação) e retrabalho variável das normas antecedentes, e esse tratamento do misto, em si, é o que chamamos de renormalização” (Schwartz, 2009, p. 267). Ou ainda, podemos dizer que o trabalho é uma forma específica, e “é sempre o lugar de debates, com resultados sempre incertos, entre as normas antecedentes enraizadas nos meios de vida e as tendências à renormalização e à ressingularização pelos seres humanos” (Schwartz, 2005, p. 64). Dessa forma, podemos concluir que há uma certa distância entre o que é previsto, planejado para uma atividade ser realizada, e aquilo que realmente acontece, se concretiza. A atividade, portanto, é ressingularizada constantemente, porque o que está em pauta é a história pessoal de quem as faz, com escolhas que podem perpassar a cultura, o intelecto e o fisiológico. TEMA 2 – DIMENSÕES DA ERGOLOGIA NA PRODUÇÃO DO TRABALHO E DO SABER Neste início da etapa já aprendemos que a atividade humana no trabalho é o objeto de estudo da ergologia, e esse ato de trabalhar é consolidado por três dimensões descritas por Schwartz (2007). A primeira dimensão é relativa aos conhecimentos necessários para que as atividades no trabalho sejam realizadas, e podem ser encontrados em diferentes meios como livros, ferramentas, máquinas etc. A segunda dimensão diz respeito aos trabalhadores, sujeitos esses que realizam o trabalho à sua maneira, pautando-se em seus valores, escolhas e experiências de vida. A terceira dimensão fala sobre o meio e suas variações, o ambiente físico, o meio social, dentre outros. Com a união dessas três dimensões, as atividades de trabalho são inúmeras, permitindo várias possibilidades, modificações constantes e singulares. Sempre que essas configurações mudam, aprende-se algo novo, surge um saber inovador, único e que, por sua vez, mesmo sendo novo, passa 5 pelo mesmo processo, continuando em (re)configuração permanente (Santos, 2000). Assim, “trabalhar é satisfazer uma exigência – produzir – mas, estreitamente ligada ao fato de criar, de aprender, de desenvolver-se, de dominar, de adquirir um saber” (Franzoi; Oliveira, 2015, p. 319). Santos (2000) ainda nos traz que, ao trabalhar, estamos preenchendo nosso ser com saber, nos transformando e formando, desenvolvendo, aprimorando nossa inteligência. Esse trabalho do saber pode ser simples ou não, abstrato ou real, caracterizado como um processo ou um produto tanto coletivo como individual. Essa problematização que surge entre essas ambivalências de termos acaba por interagir, evocando a dialética, e, portanto, não se excluem, mas conversam entre si. Analisando esse contexto, a ergologia tende a buscar mais conhecimento sobre as experiências que os sujeitos têm em seu meio de trabalho, entre o que se chama de trabalho prescrito (trabalho imposto, que deve ser executado, porém não prevê acontecimentos que podem ocorrer no percurso), e trabalho real (resultante das normatizações, contudo não circunscrito às execuções das normas e suas aplicações) (Schwartz, 2006). Como exemplo disso, podemos citar a produção, mobilização, organização e formalização do saber do trabalhador “em que se considera toda situação de trabalho como espaço de transgressão de normas produzidas pelos sujeitos no trabalho, espaço no qual cada sujeito vive um uso de si por si mesmo e um uso de si pelo outro” (Schwartz, 2003, citado por Franzoi; Oliveira, 2015, p. 319). Por conseguinte, a ergologia explora essa realidade da atividade humana em que: este concentrado de história é sempre, por uma parte, inacabado, lacunar, isto significa que a história se reescreve em permanência, que novas normas de construção de saberes, de construção do social, “renormalizações” incessantes reaparecem em todos os lugares onde os grupos humanos se mobilizam para produzir. [...] se o saber adere a tudo isso que aí se cria, aí se reinventa, se reproduz sem cessar, porque os meios de trabalho são sem dúvida o que acumula mais cristalizações, da história humana. (Schwartz, 2003, p. 24) Essas cristalizações que o autor supracitado se refere, são os novos conhecimentos, as diferentes organizações, tecnologias, procedimentos e valores estabelecidos. 6 TEMA 3 – SABERES INVESTIDOS E CONSTITUÍDOS: DISPOSITIVO DINÂMICO DOS TRÊS POLOS Tendo ciência de que entre o trabalho real e o trabalho prescrito há uma distância, e que esta deve serpreenchida pelo saber pessoal, que se constitui por meio de experiências profissionais, familiares, culturais, sociais, particulares, histórias, valores, educação, firma-se que esse saber é a própria personalidade de cada sujeito. Trata-se de um saber investido, que é complementar do saber constituído. Ressaltamos que: Primeiramente, a ergologia adjetiva esse saber de investido porque remete à especificidade da competência adquirida na experiência da gestão de toda a atividade de trabalho. E esta experiência é investida nesta situação única e histórica. Trata-se de um saber que está em aderência com a atividade. Ele não é formalizado e nem escrito em qualquer lugar. Essa experiência está cravada no intelecto e/ou no corpo, no corpo-si, como diria Schwartz, quer dizer, ao mesmo tempo no corpo e na mente ou na alma. (Trinquet, 2010, p. 101) Levando ao campo de trabalho, para compreender e analisar todo contexto, essas duas formas de saber – investido e constituído – são de extrema importância, pois formam os dois lados das atividades de trabalhos, uma unidade dialética. O saber constituído (ou simplesmente saber) é o saber acadêmico, adquirido por meio dos livros, das técnicas, das normas, dos programas de ensino, da tecnologia, enfim, de todos os meios formais que promovam novos conhecimentos. Contudo, apesar de muito importante, esse tipo de saber acadêmico que explica o trabalho prescrito não consegue expor tudo que ocorre no trabalho real, no cumprimento das situações reais. Diante disso, de forma isolada, nem o saber constituído, tampouco o saber investido, conseguem dar conta de explicar a complexidade da ergologia em se tratando do trabalho e suas atividades. Foi então que, na intenção de unir esses saberes, apresentou-se um método chamado de Dispositivo Dinâmico de Três Polos (DD3P), para compreender de forma menos descomplicada as situações de trabalho e dos saberes. O dispositivo dinâmico de três polos se situa, efetivamente, naquilo que podemos chamar de formação, para tanto, reconstituindo sensivelmente esta noção. Com efeito, intervir envolve dominar os saberes que se vai compartilhar, mas envolve também reconhecer o saber do outro, semelhante, na medida em que ele é também permanentemente portador de diferenças recriadoras em sua 7 atividade; consequentemente, envolve estar igualmente disponível para aprender com ele. (Schwartz; Durrive, 2007, p. 267) No estudo da ergologia, todas essas questões que concernem ao trabalho, seja pesquisa, estudo, formação, organização etc., não devem ser apontadas somente por peritos, mas sim também por aqueles que estão de fora, que conseguem ter percepções mais generalizadas sobre o assunto, que conseguem compreender o todo e não somente o específico, que é a especialidade de um perito. Por isso, a união dos saberes constituídos e investidos se torna importante e faz com que haja possibilidade de reunir mais pessoas, para responder a determinados problemas ou ainda para compreender essas atividades humanas no e do trabalho. Para que isso ocorra, faz-se necessário que as pessoas participantes respeitem as condições de organização e funcionamento, que remetem à metodologia ergológica que se encontra no método DD3P. Entendida essa importância, interessa-nos agora conceituar esse dispositivo dinâmico formado por três polos, sendo que o polo é um local virtual onde se juntam os objetivos, os saberes, as competências, interesses que toda essa coletividade de pessoas citadas anteriormente têm em comum: “Cada polo constitui, portanto, um grupo de pressão que busca conhecer e reconhecer o seu ponto de vista, seus interesses, suas concepções, junto aos outros polos que têm origem e concepções diferentes, porém, complementares” (Trinquet, 2010, p. 103). Dessa forma, é possível obter-se uma percepção mais ampla das situações que se estuda ou sobre as quais se busca entendimento. Também é necessário ressaltar que não há, em um polo, indivíduos bem definidos. Existe, sim, um conjunto de ideias, de conceitos, de interesses, que permite que uma mesma pessoa possa transitar nos diferentes polos, sendo: a) aquele do polo dos saberes constituídos, organizados e disponíveis, b) mas, também, enquanto “trabalhador” mesmo, aquele que dispõe de saberes investidos e, enfim, c) enquanto parte integrante da organização, da concepção e do desenvolvimento de debates, aqueles saberes que pertencem às exigências ergológicas. (Trinquet, 2010, p. 103) Em consequência, o DD3P se caracteriza como um método válido, capaz de unificar saberes e trazer pessoas de diferentes formações e percepções para juntas, buscarem pela elaboração de novos saberes e maiores compreensões. 8 TEMA 4 – TRÊS POLOS E DIÁLOGO SOCRÁTICO EM DUPLO SENTIDO A dialética presente entre os saberes constituídos e os saberes investidos, ou seja, essa conversa que existe entre os saberes, é o que se denomina na ergologia de diálogo socrático de duplo sentido: Processo socrático de duplo sentido são situações em que não há somente Sócrates (aquele que sabe), que coloca as questões aos executantes (aqueles que estão na ignorância total e que buscam o saber), que devem responder, mas em que os “executantes” também colocam questões a Sócrates. Daí o duplo sentido. Portanto, é junto que se deve buscar as respostas apropriadas que levem em conta tanto os saberes acadêmicos quanto os saberes de experiência. (Trinquet, 2010, p. 99-100) Para o autor supracitado, um dos grandes desafios então é a formação profissional, que deve aliar os diferentes tipos de saber, sendo reconhecidos e usados, recaindo sobre as gerações como uma exigência para o trabalho. Vejamos a seguir o esquema desse diálogo socrático de duplo sentido: Figura 2 – Esquema geral dos dispositivos dinâmicos de três polos 9 Na imagem acima, podemos identificar dois polos que já descrevemos: o dos saberes constituídos e dos saberes investidos. No polo dos saberes constituídos, que permitem elaborar o trabalho prescrito, estão inseridas as competências, os conceitos, conhecimentos acadêmicos e profissionais. Esse grupo apresenta os saberes essenciais, mas fora da situação de trabalho estudada. Já o polo dos saberes investidos está voltado para as atividades e refere- se às experiências, à prática que cria e recria saberes com base em debates de normas que não são controladas ou apreciadas pelos saberes constituídos. São esses que chamamos de verdadeiros saberes, os saberes reais, concretos, e estão ligados com a situação de trabalho que buscamos estudar. “Evidentemente, muito intrincados, muito ligados à atividade em questão, muito mais situados no tempo e no espaço, resultado de uma história singular por serem elaborados em tempo real” (Trinquet, 2010, p.104). Esses dois polos da DD3P são diferentes quando falamos de suas origens, seus conceitos, conteúdos e, por isso, possuem funções e responsabilidades diferentes desempenhados por seus participantes. Contudo, ratifica-se que, apesar das diferenças, eles são complementares. Em seu texto “Trabalho e Educação: o método ergológico”, Trinquet (2010, p. 103) traz um exemplo, que, segundo ele, é simplório, mas que explicita essa relação de complementariedade necessária apresentada nesses polos: Imaginemos que seja necessário refazer a instalação elétrica de um ambiente de trabalho. A solução clássica consiste em requisitar um especialista (saber constituído), que colocará essa instalação em perfeita conformidade com as normas em vigor. Não resta nenhuma dúvida nesse sentido! Porém, se ele não tomou a precaução de discutir com os verdadeiros utilizadores desse ambiente de trabalho (saber investido), as tomadas serão instaladas onde o próprio especialista julgar melhor, e elas estarão em absoluta conformidade com as normas. Entretanto, pode ser que elas estejam instaladasem lugares onde não há necessidade, segundo a organização do trabalho desejada pelos utilizadores. Obviamente, isso não significa um problema para os trabalhadores, pois eles colocarão extensões com benjamins nas pontas, todas esparramadas pelo chão. Todavia, a partir de então, a instalação não estará mais em conformidade com o C.Q.F.D. (sigla francesa que significa a expressão matemática: o que é preciso demonstrar), ou ainda, não estará em conformidade com as normas oficiais. Tendo em vista esse exemplo, compreende-se que os diálogos entre essas duas formas de saberes nos exigem ética e respeito aos sujeitos trabalhadores, que estão desenvolvendo as atividades de trabalho, as atividades reais. 10 Mas a essas alturas, você já deve estar se perguntando: e o terceiro polo, o que é? O terceiro polo é o local em que todas as pessoas, interlocutores, podem participar do processo de elaboração e definição de disposições e meios para buscar soluções possíveis para aquilo que se deseja. Ou seja, não é formado somente de saberes constituídos, tampouco somente de saberes investidos, mas ambos formam uma terceira via. Como nesse polo estão os representantes dos dois outros polos, para que não haja discussões infrutíferas ou momento em que as diferenças e oposições se sobressaiam, é pertinente tratar da formação em ergologia, que na prática se mostra elemento sine qua non para que os participantes estejam unidos em prol de um problema a ser resolvido, apoiando-se em uma mesma base de conceitos elementares: “Portanto, para favorecer a eficácia, é preciso envolvimento nessa organização. O que consiste em se debruçar sobre a preparação, o desenvolvimento, as condições materiais e conceituais a serem atendidas para alcançar eficiência” (Trinquet, 2010, p. 105). Com isso, temos que os três polos formam um esquema metodológico- teórico que incorpora toda a filosofia do método ergológico. TEMA 5 – APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS (PBL) Ao tratarmos a aprendizagem baseada em problemas, traremos um encontro da ergologia com a politecnia (conceito que traz o trabalho como princípio educativo), estudada em etapas anteriores. Essas duas vias se encontram quando tratamos do aprendizado com base nas relações de trabalho. Quando isso vai para além da escola, o método aplicado passa a ser a aprendizagem baseada em problemas. A PBL é uma metodologia voltada para a aquisição do conhecimento por meio da resolução de situações. Trata-se de uma metodologia de resoluções colaborativas no intuito de resolver desafios propostos pelos problemas elencados. Ao contrário das metodologias tradicionais, que em primeira instância apresentam conceitos, conteúdos, para em seguida resolver um problema proposto, a PBL apresenta primeiro o problema e, com base nesse, começa a busca por soluções. Segundo Junges e Junges (2017, p. 289), essa metodologia permite a “construção de conhecimentos de negócios e o encontro de respostas, instigando a criatividade, provocando reflexões, aguçando o instinto 11 investigativo, podendo utilizar tecnologias ou recursos”, descobrindo novas soluções dentro do que se está sendo proposto para a aprendizagem. Sendo assim, a PBL é uma abordagem metodológica que permite pensar a problematização em um contexto socrático de duplo sentido, sempre na percepção de seu momento histórico. Como tudo, essa metodologia também está pautada em intenções, e uma delas é a transformação do aluno, ainda em âmbito escolar, para cidadão, vivente em sociedade, sendo proativo, crítico e tendo sua formação omnilateral. Nesse contexto, o objetivo é a realização do encontro da dialética e dos saberes provenientes da formação acadêmica e da formação por experiências, “de criar, fazer, produzir, divulgar novos saberes” (Oliveira; Franzoi, 2015, p. 334). Dessa forma, o processo socrático se refaz na escola, por meio da pesquisa dos alunos, unindo os saberes constituídos, as diversas experiências, saberes e valores de vida e de trabalho e se estende por toda sua vida no estabelecimento de suas relações sociais. A pesquisa, as problematizações e a dialética entre os saberes possibilitam alternativas e soluções para os problemas que estão presentes no cotidiano, os quais podem ser individuais e coletivos. NA PRÁTICA Para esse momento de nossa prática, analisaremos dois elementos muito importantes. São eles: 1. A nossa própria relação com a complexidade dos processos de trabalho: em que medida os assalariados conseguem transpor saberes investidos e constituídos? Será que grande parte do trabalho executado demanda ações coordenadas e motoras de modo que, dialeticamente, na transgressão e na contradição, seja possível criar, se ressingularizar e se transformar? Como isso ocorre nas situações de trabalho corriqueiras e nas nossas próprias? 2. Em que medida essas relações se dão na experiência de trabalho na escola? Agora podemos pensar trabalho como toda a atividade pedagógica pensada e planejada. Em que medida a escola coloca os alunos em situações de trabalho, pesquisa, problematizações em que não 12 somente eles (os alunos), mas os professores e a própria escola possam se ressignificar? Até que ponto que a escola mantém seu habitus e perpetua suas próprias relações? FINALIZANDO Nesta etapa, pudemos aprender sobre a ergologia, que é uma abordagem pluridisciplinar que tende a compreender as atividades humanas, de forma especial no âmbito do trabalho. Aprendemos que existe uma certa distância entre o que é previsto (trabalho prescrito), planejado para uma atividade ser realizada, daquilo que realmente acontece (trabalho real). Dessa forma, a atividade é ressingularizada constantemente, porque o que está em pauta é a história pessoal de quem as faz, com escolhas que podem perpassar a cultura, o intelecto e o fisiológico. Vimos que o ato de trabalhar é consolidado por três dimensões descritas por Schwartz (2007): • 1ª dimensão relativa aos conhecimentos necessários para que as atividades no trabalho sejam realizadas, e podem ser encontrados em diferentes meios como livros, ferramentas, máquinas etc.; • 2ª dimensão que diz respeito aos trabalhadores, sujeitos esses que realizam o trabalho à sua maneira, pautando-se em seus valores, escolhas e experiências de vida; e • 3ª dimensão, que fala sobre o meio e suas variações, o ambiente físico, o meio social, dentre outros. Por meio da união dessas três dimensões, as atividades de trabalho são inúmeras, permitindo várias possibilidades, modificações constantes e singulares. Toda vez que essas configurações mudam, aprende-se algo novo, surge um saber inovador, único e que, por sua vez, mesmo sendo novo, passa pelo mesmo processo, continuando em (re) configuração permanente. Compreendemos que entre esse trabalho real e o trabalho prescrito, há uma lacuna que se preenche com o saber pessoal, que se constitui por meio de experiências profissionais, familiares, culturais, sociais, particulares, histórias, valores, educação, e firma-se que esse saber é a própria personalidade de cada sujeito. Esse saber passa a se chamar de saber investido, que é complementar 13 do saber constituído (saber acadêmico, proveniente dos livros, da tecnologia, das normas, máquinas etc.). Por isso, a união dos saberes constituídos e investidos se torna importante e faz com que haja possibilidade de reunir mais pessoas, para responder determinados problemas ou ainda, para compreender essas atividades humanas no e do trabalho. Para que isso ocorra, faz-se necessário que as pessoas participantes respeitem as condições de organização e funcionamento, que remetem à metodologia ergológica que se encontra no método dispositivo dinâmico de 3 polos (DD3P). Tratamos ainda da aprendizagem baseada em problemas, promovendo um encontro da ergologia com a politecnia(conceito que traz o trabalho como princípio educativo), estudada em etapas anteriores. Essas duas vias se encontram quando tratamos do aprendizado em função das relações de trabalho. 14 REFERÊNCIAS FRANZOI, N. L.; OLIVEIRA. M. C. R. Educação profissional, trabalho e produção de saberes. Revista Reflexão e Ação. Santa Cruz do Sul, v. 23, n. 3, p. 315- 337, set./dez. 2015. Disponível em: <http://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/ index>. Acesso em: 27 jun. 2023. JUNGES, S. S.; JUNGES, K. S. Aprendizagem baseada em problemas: uma metodologia nova ou uma metodologia inovadora? Revista Intersaberes, Curitiba, v. 12, n. 26, p. 287-304, 2017. Disponível em: <https://www.uninter.com/intersaberes/index.php/revista/article/view/1302>. Acesso em: 27 jun. 2023. SANTOS, B. S. A crítica da razão indolente. Contra o desperdício da experiência. São Paulo, Cortez, 2000. SCHWARTZ, Y. Trabalho e Saber. Trad. Daisy Moreira Cunha; Francisco Lima e Eloisa Helena Santos. Trabalho e Educação. v. 12, n. 1, jan./jun. 2003. _____. Transmissão e ensino: do mecânico ao pedagógico. Pro-Posições. v. 16, n. 3, set./dez. 2005. _____. Entrevista: Yves Schwartz. Trabalho, Educação e Saúde. v. 4, n. 2, p. 457-466, set./dez. 2006. _____. Produzir saberes entre aderência e desaderência. Revista Educação Unisinos. v. 13, n 4, p. 264-273, set./dez. 2009. Disponível em: <http://revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/view/4959>. Acessado em: 10 de junho de 2023. SCHWARTZ, Y.; DURRIVE, L. Trabalho e ergologia: conversas sobre a atividade humana. Trad. Jussara Brito e Milton Athayde et al. Niterói: UdUFF, 2007. TRINQUET, P. Trabalho e educação: o método ergológico. Revista Histedbr. Campinas, n. esp., p. 93-113, ago. 2010. EDUCAÇÃO PERMANENTE CONVERSA INICIAL TEMA 1 – ERGOLOGIA – CONCEITO E CONCEPÇÃO NA FORMAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO TEMA 2 – DIMENSÕES DA ERGOLOGIA NA PRODUÇÃO DO TRABALHO E DO SABER TEMA 3 – SABERES INVESTIDOS E CONSTITUÍDOS: DISPOSITIVO DINÂMICO DOS TRÊS POLOS TEMA 4 – TRÊS POLOS E DIÁLOGO SOCRÁTICO EM DUPLO SENTIDO TEMA 5 – APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS (PBL) NA PRÁTICA FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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