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A INVESTIGAÇÃO PARTICIPATIVA NA EJA

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1 
 
 
 
 
 
1 
 
SUMÁRIO 
1. O PÚBLICO DOS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E 
ADULTOS 4 
1.1 O Contexto Social ................................................................................ 5 
1.2 A Dimensão Econômica ....................................................................... 5 
1.3 A Dimensão Política ............................................................................. 7 
1.4 A Dimensão Cultural............................................................................. 8 
1.5 Diversidade Cultural E Cultura Letrada ................................................ 9 
2 OS JOVENS E ADULTOS E A ESCOLA .................................................. 11 
2.1 Expectativas ....................................................................................... 11 
2.2 Conquistas Cognitivas ........................................................................ 13 
3 A ESCOLA COMO ESPAÇO DE INSERÇÃO SOCIAL ............................ 15 
4 APRENDIZAGEM DE ATITUDES E VALORES ....................................... 19 
5 O EDUCADOR DE JOVENS E ADULTOS ............................................... 20 
6 SÍNTESE DOS OBJETIVOS GERAIS ...................................................... 21 
7 OS CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS ............................................... 22 
8 A MARCA DO TRABALHO ....................................................................... 24 
9 O PLANEJAMENTO ................................................................................. 27 
10 HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO .......................................................... 28 
11 PLANEJAR X IMPROVISAR ................................................................. 29 
12 PLANEJAMENTO - O QUE DIZ ESTA PALAVRA? ............................... 31 
13 PLANEJAMENTO CURRICULAR ......................................................... 32 
14 PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO OU PROJETO POLÍTICO 
PEDAGÓGICO .......................................................................................................... 32 
15 O PLANEJAMENTO DO(A) PROFESSOR(A) ....................................... 33 
15.1 Como planejar ................................................................................. 34 
 
2 
 
15.2 Para que ensinar? ........................................................................... 34 
15.3 O que ensinar? ................................................................................ 36 
15.4 Como ensinar? ................................................................................ 38 
16 A CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DO CONHECIMENTO .................... 39 
16.1 O conhecimento é próprio dos seres vivos ..................................... 39 
17 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES MENTAIS ..................... 41 
18 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA . 42 
18.1 A finalidade do conhecimento ......................................................... 42 
18.2 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ........................................... 43 
19 A NECESSIDADE E O PENSAR SÃO VITAIS NA PRODUÇÃO DE 
CONHECIMENTO ..................................................................................................... 44 
20 A NECESSIDADE DE CONHECER E A SALA DE AULA ..................... 45 
21 A REFLEXÃO ACELERA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ......... 47 
22 AS DIFERENTES FORMAS DE PENSAR ............................................ 48 
23 A REFLEXÃO, O CONHECIMENTO E OS ALUNOS DA EJA .............. 49 
24 É A AÇÃO HUMANA QUE PRODUZ CONHECIMENTO ...................... 49 
25 NINGUÉM APRENDE SOZINHO .......................................................... 50 
26 A VAREDADE DE CONHECIMENTOS NAS CLASSES DA EJA .......... 51 
27 CONHECER EXIGE ESFORÇO ............................................................ 51 
28 O CONHECIMENTO VEM DE CONHECIMENTOS JÁ EXISTENTES E 
PROVOCA CONHECIMENTOS FUTUROS ............................................................. 53 
29 A TEORIA E A PRÁTICA ....................................................................... 54 
30 EXTENSÃO ........................................................................................... 56 
31 NOSSA TEORIA NÃO SE REDUZ A IDÉIAS FORMULADAS EM 
PALAVRAS 57 
32 SOMENTE SOMOS CAPAZES DE PÔR EM PRÁTICA A NOSSA 
PRÓPRIA TEORIA .................................................................................................... 58 
 
3 
 
33 SÓ MUDAMOS A PRÁTICA QUE TEMOS QUANDO MUDAMOS A 
TEORIA QUE SUSTENTA ESTA PRÁTICA ............................................................. 59 
33.1 “FAÇA O QUE EU FALO E NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO” ........... 59 
33.2 UM EXEMPLO SIMPLES DA INTERAÇÃO TEORIA E PRÁTICA .. 60 
33.3 DIFERENÇA ENTRE A TEORIA E O DISCURSO .......................... 62 
34 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1. O PÚBLICO DOS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 
 
Fonte: ceasc.com.br 
No Brasil, há mais de 35 milhões de pessoas maiores de catorze anos que não 
completaram quatro anos de escolaridade. Esse grande contingente constitui o 
público potencial dos programas de educação de jovens e adultos correspondentes 
ao primeiro segmento do ensino fundamental. 
Além dos 20 milhões identificados como analfabetos pelo Censo de 1991, estão 
incluídas nesse contingente pessoas que dominam tão precariamente a leitura e a 
escrita que ficam impedidas de utilizar eficazmente essas habilidades para continuar 
aprendendo, para acessar informações essenciais a uma inserção eficiente e 
autônoma em muitas das dimensões que caracterizam as sociedades 
contemporâneas. 
Em países como o Brasil, marcados por graves desníveis sociais, pela situação 
de pobreza de uma grande parcela da população e por uma tradição política pouco 
democrática, baixos níveis de escolarização estão fortemente associados a outras 
formas de exclusão econômica e política. Famílias que vivem em situação econômica 
precária enfrentam grandes dificuldades em manter as crianças na escola; seus 
esforços nesse sentido são também mal recompensados, já que as escolas a que têm 
 
5 
 
acesso são pobres de recursos e normalmente não oferecem condições de 
aprendizagem adequadas. 
No público que efetivamente frequenta os programas de educação de jovens e 
adultos, é cada vez mais reduzido o número daqueles que não tiveram nenhuma 
passagem anterior pela escola. É também cada vez mais dominante a presença de 
adolescentes e jovens recém-saídos do ensino regular, por onde tiveram passagens 
acidentadas. Em levantamento realizado no programa de educação básica de jovens 
e adultos do município de São Paulo, em 1992, apurou-se que 26% do alunado tinha 
até dezoito anos de idade e 36% tinha entre dezenove e 26. 
Na cidade do Recife, apurou-se que, dos alunos de programas para jovens e 
adultos das redes municipal e estadual, 48% tinha de treze a dezoito anos de idade e 
26%, de dezoito a 24 anos. A presença dos adolescentes tem sido tão marcante que 
se começa a pensar em programas ou turmas especialmente destinadas a essa faixa 
etária. 
A quase totalidade dos alunos desses programas, incluídos os adolescentes, 
são trabalhadores. Com sacrifício, acumulando responsabilidades profissionais e 
domésticas ou reduzindo seu pouco tempo de lazer, dispõem-se a frequentar cursos 
noturnos, na expectativa de melhorar suas condições de vida. A maioria nutre a 
esperança de continuar os estudos: concluir o 1º grau, ter acesso a outros graus de 
ensino e a habilitações profissionais. 
1.1 O Contexto Social 
As exigências educativas da sociedade contemporânea são crescentes e estão 
relacionadas a diferentes dimensões da vida das pessoas: ao trabalho, à participação 
social e política, à vida familiar e comunitária, às oportunidades de lazer e 
desenvolvimento cultural. 
1.2 A Dimensão Econômica 
O mundo contemporâneo passa atualmentepor uma revolução tecnológica que 
está alterando profundamente as formas do trabalho. Estão sendo desenvolvidas 
novas tecnologias e novas formas de organizar a produção que elevam bastante a 
 
6 
 
produtividade, e delas depende a inserção competitiva da produção nacional numa 
economia cada vez mais mundializada. 
 
 
Fonte: www.sistemafibra.org.br 
Essas novas tecnologias e sistemas organizacionais exigem trabalhadores 
mais versáteis, capazes de compreender o processo de trabalho como um todo, 
dotados de autonomia e iniciativa para resolver problemas em equipe. Será cada vez 
mais necessária a capacidade de se comunicar e de se reciclar continuamente, de 
buscar e relacionar informações diversas. 
O outro lado da moeda do avanço tecnológico é a diminuição dos postos de 
trabalho, que torna a disputa pelo emprego mais acirrada. Níveis de formação mais 
elevados passam a ser exigidos na disputa pelos empregos disponíveis. A um grande 
número de pessoas, impõe-se a necessidade de buscar formas alternativas de se 
inserir na economia, por meio do auto emprego, organização de microempresas ou 
atuação no mercado informal.A invenção dessas formas alternativas também exige 
autonomia, capacidade de iniciativa, de comunicação e reciclagem constante. 
Portanto, podemos dizer que, de forma geral, uma inserção vantajosa no mercado de 
trabalho exige hoje uma melhor formação geral e não apenas treinamento em técnicas 
específicas. 
 
7 
 
No Brasil, alguns setores de ponta da indústria e dos serviços já assimilaram 
esses avanços tecnológicos. Entretanto, sabemos que essas inovações convivem 
com a manutenção de formas de trabalho tradicionais, que utilizam tecnologias 
arcaicas e onde a maioria exerce funções que exigem pouca qualificação. 
Nas zonas urbanas, alunos de programas de educação de jovens e adultos 
normalmente são empregados com baixa qualificação no setor industrial, comercial e 
de serviços, e uma grande parte atua no mercado informal. 
Nas zonas rurais, são pequenos produtores ou empregados de empresas 
agrícolas. Nessas funções, eles têm poucas oportunidades de utilizar-se da leitura e 
escrita e escassas oportunidades de aperfeiçoamento, acabando por limitar-se a 
conhecimentos específicos do ofício, em muitos casos transmitidos oralmente por 
familiares ou companheiros mais experientes. 
No aspecto econômico, o Brasil tem de enfrentar ainda uma somatória de 
problemas antigos e modernos: produzir mais para suprir as carências materiais de 
grandes parcelas da população, distribuir a riqueza mais equitativamente e cuidar para 
que uma exploração predatória não esgote os recursos naturais de que dispomos. 
Parece haver um razoável consenso de que para se atingir essas metas é preciso 
elevar o nível de educação de toda a população. 
Reforçando argumentos nesse sentido, tem sido muito apontado o exemplo de 
países asiáticos que conseguiram um importante desenvolvimento econômico 
baseado num investimento maciço em educação. Trabalhadores com uma formação 
mais ampla, com mais iniciativa e mais capacidade de resolver problemas e aprender 
continuamente têm mais condições de trabalhar com eficiência e negociar sua 
participação na distribuição das riquezas produzidas. 
1.3 A Dimensão Política 
Neste ponto nos remetemos às exigências educativas que a sociedade nos 
impõe no âmbito político. A possibilidade de os diversos setores da sociedade 
negociarem coletivamente seus interesses está na essência da ideia de democracia. 
Na história da civilização moderna, o ideal de democracia sempre contemplou o ideal 
de uma educação escolar básica universalizada. 
 
8 
 
Através dela, pretende-se consolidar a identidade de uma nação e criar a 
possibilidade de que todos participem como cidadãos na definição de seus destinos. 
Para participar politicamente de uma sociedade complexa como a nossa, uma pessoa 
precisa ter acesso a um conjunto de informações e pensar uma série de problemas 
que extrapolam suas vivências imediatas e exigem o domínio de instrumentos da 
cultura letrada. Um regime político democrático exige ainda que as pessoas assumam 
valores e atitudes democráticas: a consciência de direitos e deveres, a disposição 
para a participação, para o debate de ideias e o reconhecimento de posições 
diferentes das suas. 
Na última década, o Brasil vem reconstruindo as instituições democráticas e 
nesse processo a educação tem um papel a cumprir com relação à consolidação da 
democracia em nosso país. Um grande número de pessoas ainda não tem acesso a 
informações necessárias para fazer sua opção política de forma mais consciente. 
Além disso, os longos anos de autoritarismo que marcaram a nossa história desafiam 
a educação a desenvolver atitudes e valores democráticos. É preciso ter em mente 
que a democracia não se esgota na eleição de representantes para os poderes 
Executivo e Legislativo, ela deve implicar também a possibilidade de maior 
participação e responsabilidade em todas as dimensões da vida pública. 
1.4 A Dimensão Cultural 
Assim, chegamos às exigências educacionais que a própria vida cotidiana 
impõe crescentemente. Para se ter acesso a muitos dos benefícios da sociedade 
moderna, é preciso ter domínio dos instrumentos da cultura letrada: para se locomover 
nas grandes cidades ou de uma localidade para outra, para tirar os documentos ou 
para cumprir um sem número de procedimentos burocráticos, para mover-se no 
mercado de consumo e, finalmente, para poder usufruir de muitas modalidades de 
lazer e cultura. 
Até no âmbito do convívio familiar, surgem cada vez mais exigências 
educacionais. Para educar crianças expostas aos meios de comunicação, num mundo 
com tão rápidas transformações, os pais precisam constantemente se atualizar, 
precisam ter condições para apoiar os filhos em seu percurso escolar, cuidar de sua 
saúde etc. Até para planejar a família, para que se possa ter quantos filhos se deseje 
 
9 
 
e se possa criá-los é preciso ter acesso à informação, referenciar-se a valores e 
assumir atitudes para as quais a educação pode contribuir. 
Vemos assim que promover a educação fundamental de jovens e para educar 
crianças expostas aos meios de comunicação, num mundo com tão rápidas 
transformações, os pais precisam constantemente se atualizar adultos que não 
tiveram a oportunidade de cumpri-la na infância é importante para responder aos 
imperativos do presente e também para garantir melhores condições educativas para 
as próximas gerações. Melhorar o nível educacional de um país é um desafio grande 
e complexo, que exige esforços em todos os níveis. 
1.5 Diversidade Cultural E Cultura Letrada 
No item anterior, caracterizamos o público dos programas de educação de 
jovens e adultos como um grupo homogêneo do ponto de vista socioeconômico. Do 
ponto de vista sociocultural, entretanto, eles formam um grupo bastante heterogêneo. 
Chegam à escola já com uma grande bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo 
de histórias de vida as mais diversas. São donas de casa, balconistas, operários, 
serventes da construção civil, agricultores, imigrantes de diferentes regiões do país, 
mais jovens ou mais velhos, homens ou mulheres, professando diferentes religiões. 
 
Fonte: vrnews.com.br/ 
 
10 
 
Trazem, enfim, conhecimentos, crenças e valores já constituídos. É a partir do 
reconhecimento do valor de suas experiências de vida e visões de mundo que cada 
jovem e adultos pode se apropriar das aprendizagens escolares de modo crítico e 
original, sempre da perspectiva de ampliar sua compreensão, seus meios de ação e 
interação no mundo. 
Os jovens e adultos já possuem alguns conhecimentos sobre o mundo letrado, 
que adquiriram em breves passagens pela escola ou na realização de atividades 
cotidianas. É inegável, entretanto, que a participação dessas pessoas nessas 
atividades é muito precária, limitada e dependente. 
Por exemplo, um recém-chegadona cidade grande pode demorar muito tempo 
para sair do bairro onde mora e se aventurar, de ônibus, num passeio ao centro da 
cidade. Para ler uma carta que chegou do interior, essa mesma pessoa dependerá da 
boa vontade dos outros. As informações que recebe pelo rádio e pela televisão podem 
ser assimiladas de forma incompleta e fragmentada. 
Por exemplo, a pessoa pode saber que o jogo do Brasil na Copa do Mundo 
será transmitido por satélite, mas terá uma noção muito vaga do que é um satélite. 
Pode votar nas eleições para a Câmara Federal sem saber o que compete a um 
deputado federal. Além disso, se as pessoas pouco letradas podem criar estratégias 
alternativas para resolver problemas práticos simples, tais como saber o destino de 
um ônibus ou preencher um formulário, elas se encontram radicalmente excluídas da 
possibilidade que nossa cultura oferece de estudar uma ciência ou ler literatura, de 
ser médico ou operário especializado. 
Vemos, portanto, que, apesar de as pessoas pouco letradas possuírem muitos 
conhecimentos válidos e úteis, elas estão excluídas de outras muitas possibilidades 
que a nossa cultura oferece. Muitas vezes elas interpretam essa desvantagem como 
incapacidade, a ponto de não reconhecerem como tal aquilo que sabem ser 
conhecimento útil e válido. A exclusão do conhecimento que se adquire na escola 
marca essas pessoas profundamente pela imagem que fazem de si e pelo estigma 
que a sociedade lhes impõe. É por isso que muitas delas, mesmo tendo outras 
responsabilidades no trabalho e em casa, decidem estudar. 
 
11 
 
2 OS JOVENS E ADULTOS E A ESCOLA 
2.1 Expectativas 
Com base na experiência ou em pesquisas sobre o tema, sabemos que os 
motivos que levam os jovens e adultos à escola referem-se predominantemente às 
suas expectativas de conseguir um emprego melhor. Mas suas motivações não se 
limitam a este aspecto. Muitos referem-se também à vontade mais ampla de “entender 
melhor as coisas”, “se expressar melhor”, de “ser gente”, de “não depender sempre 
dos outros”. Especialmente as mulheres, referem-se muitas vezes também ao desejo 
de ajudar os filhos com os deveres escolares ou, simplesmente, de lhes dar um bom 
exemplo. 
Todos os adultos, quando se integram a programas de educação básica, têm 
uma ideia do que seja a escola, muitas vezes construída baseada na escola que eles 
frequentaram brevemente quando crianças. Quase sempre, apesar de se referirem à 
precariedade dessas escolas, lembram delas com carinho e sentem com pesar o fato 
de terem tido de abandoná-la ou de nunca terem tido chance de frequentá-la. É 
provável que esperem encontrar um modelo bem tradicional de escola, com recitação 
em coro do alfabeto, pontos copiados do quadro negro, disciplina rígida, 
correspondendo a um modelo que conheceram anteriormente. Com relação aos 
educandos com essas expectativas, o papel do educador é ampliar seus interesses, 
mostrando que uma verdadeira aprendizagem depende de muito mais que atenção 
às exposições do professor e atividades mecânicas de memorização. 
 
 
12 
 
 
Fonte: www.gpeducacional.com.br 
Com relação aos adolescentes, essa situação tende a ser diferente. 
Especialmente nos centros urbanos, eles estão normalmente retornando depois de 
um período recente de sucessivos fracassos na escola regular. Têm, portanto, uma 
relação mais conflituosa com as rotinas escolares. Com relação a eles, o grande 
desafio é a reconstrução de um vínculo positivo com a escola e, para tanto, o educador 
deverá considerar em seu projeto pedagógico as expectativas, gostos e modos de ser 
característicos dos jovens. 
A imagem que os educandos têm da escola tem muito a ver com a imagem que 
têm de si mesmos dentro dela. Experiências passadas de fracasso e exclusão 
normalmente produzem nos jovens e adultos uma autoimagem negativa. Nos mais 
velhos, essa baixa autoestima se traduz em timidez, insegurança, bloqueios. Nos mais 
jovens, é comum que a baixa autoestima se expresse pela indisciplina e 
autoafirmação negativa (“se não posso ser reconhecido por minhas qualidades, serei 
reconhecido por meus defeitos”). Em qualquer dos casos, será fundamental que o 
educador ajude os educandos a reconstruir sua imagem da escola, das aprendizagens 
escolares e de si próprios. 
 
13 
 
2.2 Conquistas Cognitivas 
Mas o que, de fato, a educação escolar pode trazer de novo para esses jovens 
e adultos que já são cidadãos e trabalhadores, que já estão integrados de um modo 
ou de outro em nossa sociedade? Podemos enumerar algumas conquistas bem 
evidentes, como o domínio da leitura e da escrita, das operações matemáticas básicas 
e de alguns conhecimentos sobre a natureza e a sociedade que compõem as 
disciplinas curriculares. Mas os produtos possíveis da educação escolar não se 
resumem a esses mais evidentes. Muitos estudiosos e pesquisadores da cognição 
humana trataram de estudar as diferenças cognitivas, ou diferenças nas formas de 
pensamento, entre pessoas que dominam a escrita e que passaram por vários anos 
de escolarização e pessoas que não o fizeram. 
Muitos desses estudos concluem que pessoas com mais tempo de 
escolaridade têm mais facilidade para realizar operações mentais a partir de 
proposições abstratas ou hipotéticas, operando com categorias que não são as 
organizadas pela experiência imediata. Esse tipo de operação cognitiva está bastante 
relacionado com a escrita e com o desenvolvimento do pensamento científico. Através 
da escrita nos chegam informações dos séculos passados, de outras partes do mundo 
ou de mundos imaginados; ela impõe uma relação mais distanciada entre os 
interlocutores. Com base na escrita também se desenvolveram as ciências modernas, 
que organizam os dados da experiência em categorias e leis gerais, formulando 
proposições altamente abstratas. 
Outra característica importantíssima das formas de pensamento letrado e 
científico diz respeito à chamada metacognição, ou seja, à capacidade de tomar 
consciência das operações mentais, de pensar sobre o pensamento e, assim, poder 
controlá-lo melhor. A metacognição é a marca distintiva do pensamento científico: 
diferentemente de uma pessoa que resolve problemas práticos do cotidiano ou de um 
oráculo que adivinha o futuro, o cientista tem de demonstrar ou justificar seus 
postulados e teorias. 
 
 
14 
 
 
Fonte: s2.glbimg.com 
Essa capacidade de pensar sobre o pensamento está relacionada com o 
domínio da escrita de forma mais geral: um texto escrito é uma forma de pensamento 
plasmado no papel, é como se no papel pudéssemos “ver o pensamento”, retomar 
quantas vezes quisermos seu ponto de partida ou cada um de seus enlaces. É comum 
as pessoas recorrerem à escrita para “organizar as próprias idéias”. A escrita nos 
ajuda a controlar nossa atividade cognitiva quando, por exemplo, fazemos uma lista 
de compras antes de ir ao supermercado e riscamos cada item à medida que os 
compramos. 
A escrita amplia de forma geral a capacidade de planejamento, quando 
podemos anotar no papel todas as tarefas que temos a cumprir nos próximos meses 
e conferir periodicamente quais ainda não foram cumpridas. 
A vida na sociedade moderna oferece uma série de oportunidades para 
desenvolvermos essas formas de pensamento autoconsciente e que transcendem 
nosso contexto de vivência. Mas a escola é, sem dúvida, um lugar privilegiado para 
se desenvolvê-las e, certamente por isso, as pessoas que a frequentam por muitos 
anos levam vantagens nesse aspecto. 
Isso porque a escola é o privilegiado para se lugar onde as pessoas vão para 
aprender coisas, tendo a oportunidade de pensar sem estarem premidas pela 
necessidade de resolver problemas reais imediatos. Por exemplo, ao conferir o troco 
 
15 
 
que lhe deu o cobrador de um ôni-bus, a pessoa tem de fazer uma operação rápida, 
empurrada pelo passageiro que vem atrás. Na escola, ela poderá resolver, com calma, 
um grande número de operaçõesde subtração usando diferentes procedimentos 
representá-las no papel, compreender o porquê do “empresta um”, chegar a uma 
compreensão ampla sobre o funcionamento do sistema de numeração decimal. 
Ela aprenderá na escola um conjunto de conceitos que não têm nenhuma 
utilidade prática imediata, mas que podem ajudar a organizar o sistema de conceitos 
que compõem sua estrutura cognitiva. Na escola, ela exercita a realização de tarefas 
segundo planos ou instruções prévias. Todas essas aprendizagens colaboraram para 
desenvolver essa modalidade cognitiva que definimos como característica do 
letramento. 
3 A ESCOLA COMO ESPAÇO DE INSERÇÃO SOCIAL 
“Educadores e grupos populares descobriram que a Educação Popular é 
sobretudo o processo permanente de refletir a militância: refletir, portanto, a 
sua capacidade de mobilizar na direção de objetivos próprios. A prática 
educativa, reconhecendo-se como prática política, recusa a deixar-se 
aprisionar na estreiteza burocrática de procedimentos escolarizantes. 
Lidando com o processo de conhecer, a prática educativa é tão interessada 
em Possibilitar o ensino de conteúdos às pessoa quanto em sua 
compreensão do mundo. Dessa forma são tão importantes para a formação 
certos conteúdos que o educador lhes deve ensinar, quanto a análise que 
façam de sua realidade concreta.” Paulo Freire. 
Na década de 1940, quando começaram as primeiras iniciativas 
governamentais para lidar com o analfabetismo entre adultos, entendia-se que o seu 
fim seria fundamental para o crescimento econômico do país. O analfabetismo era 
visto como um mal social e o analfabeto como um sujeito incapaz. 
A década de 1950, por sua vez, viu no adulto analfabeto um eleitor em 
potencial, uma vez que, nessa época, analfabeto não votava. Era a crença na 
participação de todos - como eleitores - para o desenvolvimento do país. 
No começo da década de 1960 a alfabetização juntou-se aos movimentos 
estudantis e sindicais e a questão do analfabetismo passou a ser vista como 
consequência direta da pobreza e de uma política de manutenção de desigualdades. 
Foi nesse contexto que as ideias de Paulo Freire ganharam dimensão nacional. 
Sua proposta inovadora, pregava a necessidade de uma alfabetização voltada para a 
 
16 
 
libertação, para a conscientização dos homens e mulheres como sujeitos capazes de 
transformar a realidade social. A educação passou a ser entendida com um ato 
político. 
Paulo Freire, educador pernambucano, nasceu em 1921 e morreu em 1997. 
Durante a ditadura, foi exilado e passou 16 anos fora do Brasil morando no Chile, 
Estados Unidos e Suíça. Tornou-se conhecido e respeitado, em todo o mundo, por 
suas ideias expostas em livros, como: “Educação como Prática da Liberdade”, 
Pedagogia do Oprimido” e outros mais. Inspirou trabalhos de educação junto aos 
povos pobres de todos os cantos do mundo. No Brasil, suas ideias estão presentes 
principalmente na educação de jovens e adultos. Dedicou toda sua vida ao sonho de 
ajudar a construir uma sociedade justa e democrática em que homens e mulheres não 
fossem mais vítimas da opressão e da exclusão social. 
Desde Freire, a educação de jovens e adultos vem caminhando na direção de 
uma educação democrática e libertadora, comprometida com a realidade social, 
econômica e cultural dos mais pobres. No entanto, ainda temos muito por construir 
nessa direção 
Vejamos um exemplo: Renata, uma professora em Rio Claro, cidade do interior 
de São Paulo, é alfabetizadora de um grupo de colonos da região de sua cidade. 
Influenciada pelas ideias de Paulo Freire ela, desde o começo dos encontros com 
seus alunos e alunas, procurou conversar com eles sobre o que gostariam de ler e 
escrever e por que isso era importante para eles. Já no primeiro encontro, os alunos 
contaram que todos os meses precisam ir até a cidade para fazer as compras do mês. 
Iam num determinado supermercado, que enviava um ônibus para buscá-los. Lá 
recebiam panfletos com produtos e preços em ofertas. Queixavam-se de não 
conseguir ler os folhetos para fazer suas listas de acordo com os preços mais baixos. 
A professora foi percebendo que a ida ao supermercado era uma geradora de 
situações ligadas a conhecimentos como: ler, escrever, contar, comparar preços e 
escolher produtos. Tudo poderia se transformar em bons materiais para o trabalho 
junto aos alunos. Na sala de aula, o grupo passou, então, a identificar os produtos, 
listar seus nomes, comparar palavras em termos de quantidade, variação e 
semelhança entre letras, a escrever novas palavras a partir daquelas. Puderam, ainda, 
se dedicar ao cálculo de preços: produtos mais baratos, mais caros, cálculo total a 
 
17 
 
partir de uma lista dos produtos que precisavam comprar, aumentos nos preços 
ocorridos de um mês para outro etc. 
 
 
Fonte: forumeja.org.br 
Pensando sobre o trabalho da professora Renata e seus alunos podemos 
observar coisas interessantes: 
Desde o princípio, a professora Renata atuou a partir de um novo paradigma: 
o de que seus alunos lidam com problemas reais e que, a partir deles, a construção 
de conhecimentos sobre a leitura, a escrita, os números e as operações pode 
acontecer de maneira eficaz e significativa. Ela acreditou, desde o início, que era 
possível estabelecer uma aliança entre o mundo real e concreto dos alunos e os 
conhecimentos formais, podemos dizer, escolares. 
É bom lembrar que, muitas vezes, o(a) professor(a) chega para as aulas com 
propostas de leitura e escrita prontas e preparadas segundo um modelo clássico: 
palavras simples, muitas vezes desprovidas de sentido e significado, sobre as quais 
os alunos vão se debruçar memorizando suas partes, seus sons, copiando-as, 
repetindo-as. 
Nos momentos dedicados à Matemática, esse(a) professor(a) geralmente 
propõe que leiam em voz alta e copiem os números em blocos crescentes. Só mais 
tarde vai ensinar a calcular - sempre recorrendo à conta armada, primeiro com 
quantidades pequenas para ficar mais fácil. 
 
18 
 
A professora Renata, ao contrário, sabia que o universo de escrita, números e 
cálculos de seus alunos adultos é mais complexo, porque é real, vivo e carregado de 
sentido bastante prático. Sabia, também, que aprendemos a ler lendo, aprendemos a 
escrever escrevendo e que aprimoramos nossa capacidade de cálculo, calculando. 
Por isso ela criou situações onde os alunos eram convidados a ler e a escrever, 
mesmo não realizando estas ações de forma convencional. 
Além disso, acreditava que seus alunos eram capazes de aprender e que 
quanto mais os conteúdos estivessem vinculados às questões reais, maiores seriam 
as chances de proporcionarem novos conhecimentos. 
Outro aspecto interessante de ser notado na prática dessa professora é o fato 
de olhar para seus alunos como sujeitos sociais e sujeitos do conhecimento, isto é, 
pessoas que tomam iniciativa e atuam sobre o que estão conhecendo. Ela os convidou 
a falar, a pensar e expor suas necessidades e a construir, com seu auxílio, caminhos 
de mudança. 
Juntos foram construindo um corpo de saberes que, para além do 
conhecimento do código ou de alguns recursos de cálculo, mudam a relação destes 
homens e mulheres com a realidade com a qual lidam diariamente: tornam-se mais 
poderosos, capazes de avaliar vantagens e desvantagens, de programar/planejar 
suas compras; tornaram-se mais conscientes e, por isso mesmo, mais donos das 
situações, com menor chance de serem enganados. 
O conceito de conhecimento na escola e nas classes de EJA não deve perder 
essa dimensão de tornar os alunos mais capazes de agir de forma autônoma e 
independente reagindo a imposições que tira deles a escolha do que mais lhes 
convêm. 
A forma de agir da professora Renata e seus alunos confirmam nossa crença 
de que é possível aprender a ler, escrever e calcular por caminhos os mais diversos. 
Há que se optar por aqueles nos quais os alunos são sujeitos e podem trabalhar parasuprir uma necessidade real em suas vidas. 
Afinal, os alunos jovens e adultos não voltam para a escola para recuperar um 
tempo perdido e distante, voltam para satisfazer necessidades atuais em suas vidas. 
 
 
 
 
19 
 
4 APRENDIZAGEM DE ATITUDES E VALORES 
 
Fonte: 3.bp.blogspot.com 
É importante também ter em vista que o valor que a escola pode ter para esses 
jovens e adultos transcende em muito a mera aquisição de conhecimentos ou essas 
conquistas intelectuais a que nos referimos. 
Ao avaliarem sua passagem por programas de educação fundamental, muitos 
jovens e adultos tematizam conquistas que dizem respeito à sua autoimagem e à sua 
sociabilidade: “agora eu me sinto mais seguro, não tenho vergonha de falar”; “a escola 
era o lugar onde eu podia encontrar amigos e conversar”; “na escola a gente aprende 
a conviver com gente diferente” etc. 
Somados a esses aspectos, devemos lembrar também que a escola é um 
espaço especialmente propício para a educação da cidadania: um espaço para se 
aprender a cuidar dos bens coletivos, discutir e participar pessoal pelo bem-estar 
comum. 
 
20 
 
5 O EDUCADOR DE JOVENS E ADULTOS 
Algumas das qualidades essenciais ao educador de jovens e adultos são a 
capacidade de solidarizar-se com os educandos, a disposição de encarar dificuldades 
como desafios estimulantes, a confiança na capacidade de todos de aprender e 
ensinar. Coerentemente com essa postura, é fundamental que esse educador procure 
conhecer seus educandos, suas expectativas, sua cultura, as características e 
problemas de seu entorno próximo, suas necessidades de aprendizagem. 
E, para responder a essas necessidades, esse educador terá de buscar 
conhecer cada vez melhor os conteúdos a serem ensinados, atualizando-se 
constantemente. Como todo educador, deverá também refletir permanentemente 
sobre sua prática, buscando os meios de aperfeiçoá-la. 
Com clareza e segurança quanto aos objetivos e conteúdos educativos que 
integram um projeto pedagógico, o professor deve estar em condições de definir, para 
cada caso específico, as melhores estratégias para prestar uma ajuda eficaz aos 
alunos em seu processo de aprendizagem. O educador de jovens e adultos tem de ter 
uma especial sensibilidade para trabalhar com a diversidade, já que numa mesma 
turma poderá encontrar educandos com diferentes bagagens culturais. 
É especialmente importante, no trabalho com jovens e adultos, favorecer a 
autonomia dos educandos, estimulá-los a avaliar constantemente seus progressos e 
suas carências, ajudá-los a tomar consciência de como a aprendizagem se realiza. 
Compreendendo seu próprio processo de aprendizagem, os jovens e adultos estão 
mais aptos a ajudar outras pessoas a aprender, e isso é essencial para pessoas que, 
como muitos deles, já desempenham o papel de educadores na família, no trabalho e 
na comunidade. 
Também é uma responsabilidade importante dos educadores de jovens e 
adultos favorecer o acesso dos educandos a materiais educativos como livros, jornais, 
revistas, cartazes, textos, apostilas, vídeos etc. Deve-se considerar o fato de que se 
trabalha com grupos sociais desfavorecidos economicamente, que têm pouco acesso 
a essas fontes de informação fora da escola. 
Finalmente, os educadores devem atentar para o fato de que o processo 
educativo não se encerra no espaço e no período da aula propriamente dita. 
 
21 
 
O convívio numa escola ou noutro tipo de centro educativo, para além da 
assistência às aulas, pode ser uma importante fonte de desenvolvimento social e 
cultural. Por esse motivo, é importante também considerar a dimensão do centro 
educativo como espaço de convívio, lazer e cultura, promovendo festas, exposições, 
debates ou torneios esportivos, motivando os educandos e a comunidade a frequentá-
lo, aproveitando essa experiência em todas as suas possibilidades. 
6 SÍNTESE DOS OBJETIVOS GERAIS 
Que os educandos sejam capazes de: Dominar instrumentos básicos da cultura 
letrada, que lhes permitam melhor compreender e atuar no mundo em que vivem. 
Ter acesso a outros graus ou modalidades de ensino básico e 
profissionalizante, assim como a outras oportunidades de desenvolvimento cultural. 
Incorporar-se ao mundo do trabalho com melhores condições de desempenho 
e participação na distribuição da riqueza produzida. 
Valorizar a democracia, desenvolvendo atitudes participativas, conhecer 
direitos e deveres da cidadania. 
Desempenhar de modo consciente e responsável seu papel no cuidado e na 
educação das crianças, no âmbito da família e da comunidade. 
Conhecer e valorizar a diversidade cultural brasileira, respeitar diferenças de 
gênero, geração, raça e credo, fomentando atitudes de não-discriminação. 
Aumentar a autoestima, fortalecer a confiança na sua capacidade de 
aprendizagem, valorizar a educação como meio de desenvolvimento pessoal e social. 
Reconhecer e valorizar os conhecimentos científicos e históricos, assim como 
a produção literária e artística como patrimônios culturais da humanidade. 
Exercitar sua autonomia pessoal com responsabilidade, aperfeiçoando a 
convivência em diferentes espaços sociais. 
 
22 
 
7 OS CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS 
 
Fonte: www.ecrau.com 
Os conhecimentos de uma pessoa, que procura tardiamente a escola, são 
inúmeros e adquiridos ao longo de sua história de vida. Enfatizaremos, nesta 
publicação, duas espécies destes conhecimentos, originados das experiências de vida 
dos alunos e alunas: o saber sensível e o saber cotidiano. 
O saber sensível diz respeito aquele saber do corpo, originado na relação 
primeira com o mundo e fundado na percepção das coisas e do outro. Caracterizado 
pela Filosofia como um saber pré-reflexivo, nos leva à ideia de que existe um 
conhecimento essencial, acessível a toda a humanidade: uma verdade mais antiga 
que todas as verdades conquistadas pela ciência, anterior a todas as construções 
realizadas pela cultura humana. 
O saber sensível é um saber sustentado pelos cinco sentidos, um saber que 
todos nós possuímos, mas que valorizamos pouco na vida moderna. É aquele saber 
que é pouco estimulado numa sala de aula e que muitos professores e professoras 
atribuem sua exploração apenas às aulas de artes. 
 
23 
 
No entanto, qualquer processo educativo, tanto com crianças quanto com 
jovens e adultos, deve ter suas bases nesse saber sensível, porque é somente através 
dele que o(a) aluno(a) abre-se a um conhecimento mais formal, mais reflexivo. 
Os alunos jovens e adultos, pela sua experiência de vida, são plenos deste 
saber sensível. A grande maioria deles é especialmente receptiva às situações de 
aprendizagem: manifestam encantamento com os procedimentos, com os saberes 
novos e com as vivências proporcionadas pela escola. 
Essa atitude de maravilhamento com o conhecimento é extremamente positiva 
e precisa ser cultivada e valorizada pelo(a) professor(a) porque representa a porta de 
entrada para exercitar o raciocínio lógico, a reflexão, a análise, a abstração e, assim 
construir um outro tipo de saber: o conhecimento científico. 
Olhar, escutar, tocar, cheirar e saborear são as aberturas para nosso mundo 
interior. Ler e declamar poesia, escutar música, ilustrar textos com desenhos e 
colagens, jogar, dramatizar histórias, conversar sobre pinturas e fotografias são 
algumas atividades que favorecem o despertar desse saber sensível. 
A segunda espécie de saber dos alunos jovens e adultos é o saber cotidiano. 
Por sua própria natureza, ele se configura como um saber reflexivo, pois é um 
saber da vida vivida, saber amadurecido, fruto da experiência, nascido de valores e 
princípios éticos, morais já formados, anteriormente, fora da escola. 
O saber cotidiano possui uma concretude, origina-se da produção de soluções 
que foram criadas pelos seres humanos para os inúmeros desafios que enfrentam na 
vida e caracterizam-se como um saber aprendido e consolidado em modos de pensaroriginados do dia-a-dia. 
Esse saber, fundado no cotidiano, é uma espécie de saber das ruas, 
frequentemente assentado no “senso comum” e diferente do elaborado conhecimento 
formal com que a escola lida. É também um conhecimento elaborado, mas não 
sistematizado. É um saber pouco valorizado no mundo letrado, escolar e, 
frequentemente, pelo próprio aluno. 
O saber cotidiano não é necessariamente um saber utilitário, desenvolvido para 
atender a uma necessidade imediata da pessoa. Pelo contrário, pode também se 
configurar em uma espécie de conhecimento que requer um afastamento, uma 
transcendência com relação ao seu objeto. 
 
 
24 
 
 
Fonte: www.rotadosertao.com 
Uma cozinheira, por exemplo, pode executar uma simples receita mas pode, 
também, recriá-la, estabelecendo hipóteses a respeito de um novo ingrediente que 
poderia ser acrescentado para melhorar o sabor do prato em questão. 
Os conhecimentos que os alunos e alunas trazem estão diretamente 
relacionados às suas práticas sociais. Essas práticas norteiam não somente os 
saberes do dia-a-dia, como também os saberes aprendidos na escola. 
8 A MARCA DO TRABALHO 
As alunas e alunos da EJA, em sua maioria, são trabalhadores e, muitas vezes, 
a experiência com o trabalho começou em suas vidas muito cedo. Nas cidades, seus 
pais saíam para trabalhar e muitos deles já eram responsáveis, ainda crianças, pelo 
cuidado da casa e dos irmãos mais novos. Outras vezes, acompanhavam seus pais 
ao trabalho, realizando pequenas tarefas para auxiliá-los. É comum, ainda, que nos 
centros urbanos, estes alunos tenham realizado um sem-número de atividades cuja 
renda completava os ganhos da família: guardar carros, distribuir panfletos, auxiliar 
em serviços na construção civil, fazer entregas, arrematar costuras, cuidar de crianças 
etc. 
 
25 
 
Nas regiões rurais, a participação no mundo do trabalho começa ainda mais 
cedo: cuidar da terra, das plantações ou da criação de animais; auxiliar nos serviços 
caseiros. Muitas vezes, acompanhando os pais e irmãos mais velhos, é comum 
encontrar um grande número de crianças e jovens já mergulhados no trabalho. 
Nessas regiões, os horários, os períodos de colheita, de chuva e de seca marcam a 
vida cotidiana das pessoas e isto, aliado às grandes distâncias, configura condição 
bastante precária para a escolarização. 
Se cada região de nosso país tem suas particularidades em relação às demais, 
todas as salas de EJA se unificam em torno deste fato: a grande maioria dos alunos 
são trabalhadores que chegam para as aulas após um dia intenso de trabalho. É claro, 
que estas mesmas salas apresentam um número significativo de desempregados e 
de trabalhadores temporários ou informais. 
Mas, sempre que pensamos em EJA temos que considerar que nossa atividade 
conta com mulheres e homens trabalhadores. Vale notar, ainda, que em todas as 
regiões do país, o trabalho é apontado pelos alunos de EJA tanto como motivo para 
terem deixado a escola, como razão para voltarem a ela. 
Sem dúvida alguma, o tema TRABALHO tem um lugar especial na EJA e deve 
importar ao trabalho dos professores, das professoras e da escola. 
Entretanto é preciso lembrar que o trabalho experimentado pelas alunas e 
alunos não passa nem de longe pelo trabalho como atividade fundamental pela qual 
o ser humano se humaniza e se aperfeiçoa. O trabalho que conhecem é na maior 
parte das vezes repetitivo, cansativo e pouco engrandecedor. 
Apesar de tudo, vale pensar, por exemplo, na quantidade de saberes que cada 
destes alunos-trabalhadores possui em função das atividades que realizam ou 
realizaram. Saberes, certamente, não-escolares, mas saberes. Saberes a partir dos 
quais novos conhecimentos poderão ser construídos. 
Uma tarefa fundamental para o(a) professor(a) é conhecer que saberes e 
habilidades os alunos e alunas desenvolveram em função do seu trabalho. 
Procure fazer um quadro sobre os saberes de seus alunos. Como pode ser 
visto no exemplo acima, muito do que pretendemos ensinar na escola tem relação 
direta com o que fazem nossos alunos e alunas em seu cotidiano. É importante 
estabelecermos estas relações. 
 
 
26 
 
 
Fonte: alfabetizacaocidada.wordpress.com 
Muitos alunos dizem estar na escola para poder “arrumar um emprego”, 
“conseguir um trabalho melhor”, “crescer na profissão”. Sabemos que nos centros 
urbanos e no âmbito do trabalho formal a escolarização básica e, muitas vezes, a 
conclusão do ensino médio, são pré-requisitos para muitos empregos. Ao preencher 
uma ficha atestando a não escolaridade muitas pessoas são excluídas de entrevistas 
ou da realização de seleção. 
O mundo do trabalho se caracteriza hoje pela diversidade de atividades e 
vínculos. Nossos alunos, das classes de EJA, são muitas vezes pessoas que 
administram sua sobrevivência econômica: fazem “bicos”, são autônomos, circulam 
por diferentes profissões como auxiliares ou ajudantes de pintura, construção, 
serviços domésticos, venda ambulante etc. Possuir um certificado escolar ou 
profissionalizante não implica em garantia de trabalho, haja vista a quantidade de 
profissionais que formados numa área, atuam em outra. 
Pode ser interessante pensar sobre as habilidades que a escola pode ajudar a 
desenvolver e que contribuam para uma atuação mais eficiente nesse universo 
diversificado e competitivo que é o do trabalho. Não queremos dizer com isto que a 
escola deva tomar para si a responsabilidade da preparação do trabalhador, nem 
deixar a responsabilidade da conquista de um “emprego melhor” nas mãos do(a) 
 
27 
 
aluno(a). Como já sabemos, esta é uma responsabilidade social mais ampla e mais 
próxima das políticas governamentais e empresariais. 
O que queremos pensar é justamente nas formas da escola potencializar essa 
competência que os jovens e adultos já desenvolvem em sua vida cotidiana de 
administrar suas finanças e sua sobrevivência. 
Comunicar-se de forma competente com clareza, ordenação de ideias, 
argumentação; conhecer as diferentes formas de trabalho da nossa sociedade nos 
dias atuais, o trabalho formal e o informal, por exemplo; dominar os caminhos 
possíveis para a obtenção de empregos, a procura por agências, a preparação de 
currículos; ver na construção de uma pequena fábrica, na abertura de um comércio 
em sua região um possível canal de trabalho; conhecer, em sua região ou 
comunidade, os espaços gratuitos de formação técnica cursos de eletricidade, 
pintura, computação, confecção e outros são saberes passíveis de serem aprendidos 
na escola. Ela funcionaria, assim, como espaço de conhecimentos ligados ao mundo 
do trabalho. 
9 O PLANEJAMENTO 
O planejamento faz parte da história da humanidade porque mulheres e 
homens sempre quiseram transformar suas ideias em realidade e isso sempre exigiu 
planejamento. Todos os dias enfrentamos inúmeras situações que demandam algum 
tipo de planejamento. 
Até mesmo um simples passeio envolve planejar: quanto dinheiro pretendo 
gastar, qual o tempo que disponho, como chegarei ao lugar escolhido, levarei que tipo 
de lanche, quem convidarei 
Como nossas ações diárias vão se transformando em fatos rotineiros, nem nos 
damos conta dos diferentes planejamentos que estão embutidos nelas. 
Diferentemente, para realizar as atividades que fogem do dia-a-dia, precisamos 
pensar e estabelecer uma forma para chegar ao que desejamos. 
É impossível considerar todos os tipos e níveis de planejamento que são 
necessários às ações que realizamos. Por tudo isso, o planejamento sempre foi um 
instrumento importante, em qualquer setor da vida em sociedade: no governo, na 
 
28 
 
empresa, no comércio, em casa, na igreja, na escola, em Com o planejamento 
podemos definir o que queremos a curto, médio ou longo prazo. 
 
 
Fonte: www.bemparana.com.br 
Isto significa, que tanto podemos traçar planos para a noite de hoje como para 
a compra de uma casa, no futuro. Além disso, o planejamentonos leva a prever 
situações, organizar atividades, dividir tarefas para facilitar o trabalho e até avaliar o 
que já foi feito. 
10 HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO 
Homens e mulheres fizeram planos desde que se descobriram com capacidade 
de pensar antes de agir. A arqueologia nos mostra desenhos indicando como seriam 
feitas construções que exigiam tarefas complicadas ou a presença de muita gente na 
sua execução. 
Com o crescimento do comércio, no início do capitalismo, a administração das 
riquezas exigiu novas formas de conduta. O aumento da concorrência entre os 
comerciantes tornou necessário o saber prever, antecipar situações, projetar novos 
negócios. Com a industrialização cresceu a produtividade. 
 
29 
 
Tornaram necessárias as previsões das matérias primas, as funções dos 
operários, os salários, o comportamento dos mercados. 
A organização racional das empresas chegou à análise das relações entre os 
trabalhadores. Mais uma vez, o planejamento entrou em cena. Com a industrialização 
surgiu, também, o planejamento das vendas. 
No começo do século XX, o planejamento atingiu todos os setores da 
sociedade causando grande impacto. 
Como vimos, o planejamento é uma arte que se desenvolveu para melhorar a 
capacidade de intervenção das pessoas na sua realidade. 
Na educação não é diferente. Nela o planejamento busca a intervenção mais 
eficiente do(a) professor(a), organizando melhor os recursos disponíveis: o tempo 
do(a) professor(a) e dos alunos, o espaço físico, os materiais pedagógicos 
disponíveis, a experiência dos alunos etc. 
Hoje em dia, a palavra PLANEJAMENTO faz parte do nosso vocabulário diário 
e ocupa um lugar de destaque nos meios de comunicação. 
11 PLANEJAR X IMPROVISAR 
Podemos dizer que uma ação planejada é uma ação que não foi improvisada. 
Mesmo assim, sabemos que os improvisos não ficam totalmente afastados porque 
fazem parte da vida e são esperados em qualquer planejamento. 
Entretanto, deixamos de improvisar, ou improvisamos menos, quando temos 
um objetivo em vista e queremos que ele se realize. 
Quando não sabemos bem aonde queremos chegar, acabamos nos limitando 
ao momento presente e nos deixamos levar pela improvisação. 
Mas existem situações onde as improvisações se tornam mais raras. São 
situações onde: 
 Há várias pessoas participando da ação, todas elas comprometidas com 
os objetivos comuns e 
 Os recursos para a realização dos objetivos são pequenos. Nessas 
situações usamos os meios disponíveis da forma mais eficiente possível. 
Isso exige saber o que é fundamental e que não pode ficar para depois. 
 
30 
 
No relato que segue, a professora Rita de Cássia descreve uma situação de 
improvisação que, no final, ela considerou como acertada. 
Provavelmente, isso só foi possível porque Rita não se afastou de seu principal 
objetivo que era tornar os alunos alfabetizados. 
“Ontem foi o dia do improviso. Mas o resultado foi muito bom. Será que foi só 
improviso? Nem tanto, por que foi uma oportunidade de usar muitos dos 
nossos conhecimentos e tentar chegar a outros. Estava começando a aula, 
quando “Seu” Antoninho foi até a janela e chamou a minha atenção para 
umas placas grandes que haviam fincado num terreno, bem na frente da 
nossa sala. Foi a conta. Todos queriam saber o que as placas diziam. Cada 
um imaginava que era uma coisa diferente. Pediam que eu lesse para eles. 
Tive, então, uma ideia. Saímos do prédio para juntos ler as placas. Cada um 
foi destacando o que conseguia ler, no meio de tanto escrito. 'Ali tem o 
número 2', 'aqueles parecem número de telefone', 'olha, lá está escrito RUA, 
porque eu li'. Quem sabia mais e eu fomos ajudando até que lemos tudo. A 
placa anunciava a construção de dois prédios de três andares, com 
apartamentos de 2 dormitórios. Dizia que a obra ia levar 18 meses para ficar 
pronta e que as vendas já haviam começado. Voltamos para a sala contentes 
porque “Seu” Antoninho disse que a construção ia ser uma coisa boa, ia dar 
emprego para pedreiros e ajudantes e a sala está cheia de alunos com 
parentes procurando serviço. Mas, disse também, que o apartamento ia ser 
coisa cara e que nenhum deles nunca ia ter dinheiro para comprar um. O 
assunto da moradia foi tema de muitos comentários. Com a questão da 
moradia, ainda na cabeça, decidimos que cada um escreveria o seu 
endereço, bem completo: rua, bairro ou vila, cidade. Fiquei a disposição para 
ajudar nessa escrita.” 
 Rita de Cássia Almeida 
A aula contada por Rita nos confirma que quando a professora tem clareza em 
relação a seus objetivos consegue superar as deficiências da improvisação. 
A professora conseguiu criar uma situação de leitura e de escrita bem diferente 
naquela noite de aula. E, o mais interessante: envolveu os alunos. 
 
 
 
31 
 
12 PLANEJAMENTO - O QUE DIZ ESTA PALAVRA? 
 
Fonte: 1.bp.blogspot.com 
Consultando o dicionário encontramos: 
Planejamento - Ato ou efeito de planejar. Trabalho de preparação para 
qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados. (Dicionário 
Aurélio). 
Planejamento - Serviço de preparação de um trabalho, de uma tarefa, com o 
estabelecimento de métodos convenientes; planificação. Determinação de um 
conjunto de procedimentos, de ações, visando à realização de determinado projeto. 
(Dicionário Houaiss) 
Num sentido amplo, planejamento é um processo que visa dar respostas a um 
problema, estabelecendo fins e meios que apontem para sua resolução, de modo a 
atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas 
considerando as condições do presente, as experiências do passado e os diferentes 
aspectos da realidade. Desta forma, planejar e avaliar andam de mãos dadas. 
Na escola existem diferentes planejamentos que devem se articular em torno 
dos mesmos princípios e da mesma visão de conhecimento. 
 
32 
 
13 PLANEJAMENTO CURRICULAR 
É a proposta geral das aprendizagens que serão desenvolvidas. Funciona 
como a espinha dorsal da escola. O planejamento curricular envolve os fundamentos 
das áreas que serão estudadas, a proposta metodológica escolhida e a forma como 
se dará a avaliação 
14 PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO OU PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO 
É o projeto integral da escola. Envolve os aspectos pedagógicos, comunitários 
e administrativos. Em função da sua grande importância, voltaremos a ele mais 
adiante. 
Existem outros termos que se referem ao planejamento. 
Vamos acrescentá-los: 
Plano: um documento utilizado para o registro de decisões, como o que se 
pensa fazer, como fazer, quando fazer, com quem fazer. Todo plano começa pela 
discussão sobre os fins e objetivos do que se pretende realizar. Na educação, ele 
apresenta de forma organizada as decisões tomadas em torno das práticas educativas 
que serão desenvolvidas. O plano é produto do planejamento e funciona como guia 
do(a) professor(a). Como acompanha uma prática, está sempre sujeito a 
modificações. 
Há diferentes planos na educação 
Plano Nacional de Educação: nele se reflete a política educacional de um 
povo, num determinado momento da história do país. É o de maior abrangência 
porque interfere nos planejamentos feitos no nível nacional, estadual e municipal. 
Plano de Curso: é a organização do conjunto de matérias que vão ser 
ensinadas e desenvolvidas durante o período de duração de um curso. O plano 
sistematiza a proposta geral de trabalho do professor. 
Plano de Ensino: o plano de disciplinas, de unidades e experiências propostas 
pela escola, professores, alunos ou pela comunidade. Ele é mais específico e concreto 
em relação aos outros planos. 
 
33 
 
Plano de Aula: é o plano mais próximo da prática do professor e da sala de 
aula. Refere-se totalmente ao aspecto didático. 
 
 
Fonte: cdn.revistabula.com 
Projeto: a palavra projeto significa ir para a frente. O projeto traz a ideia de 
movimento.No projeto são registradas as decisões das propostas futuras. Como tudo que 
envolve mudança, projetar significa sair de uma situação conhecida para buscar uma 
outra. 
15 O PLANEJAMENTO DO(A) PROFESSOR(A) 
Com registros em cadernos, fichas, ou qualquer outra folha de papel, boa parte 
dos professores planeja o que pretende desenvolver na sala de aula. 
Mesmo assim, há professores que dizem que o planejamento é dispensável. 
Muitas delas afirmam que não sentem, como necessário, fazer o planejamento por 
escrito, uma vez que já tem tudo pronto na cabeça. 
Para outros professores, o planejamento é o cumprimento de uma exigência 
 
34 
 
Provavelmente, um planejamento feito com esse espírito não tem função no 
dia-a-dia porque não corresponde a nenhuma necessidade apontada pela avaliação 
da realidade onde o trabalho acontecerá. 
Infelizmente, existem professores que trabalham na base do improviso: “Na 
hora eu decido o que vou fazer com os alunos.” 
Outros, transformam o livro didático em plano de trabalho. Dizem: “É mais 
prático, não tenho tempo para ficar criando novidades.” 
Ainda outros, repetem todos os anos o mesmo plano: “Afinal, para que mudar?”. 
Para o(a) professor(a) comprometido(a) com seu trabalho, o planejamento faz 
parte do processo de tomada de decisão sobre a sua forma de agir, no dia-a-dia da 
sua prática pedagógica. Nele estão envolvidas ações e situações que se dão de forma 
continuada entre professor(a) e alunos e alunos entre si. 
15.1 Como planejar 
Para planejar, o(a) professor(a) precisa responder a algumas perguntas: 
 Para que ensinar? Pergunta que leva aos objetivos; 
 O que ensinar? Pergunta que faz pensar na seleção dos conteúdos; 
 Como ensinar? Pergunta que faz escolher quais métodos e técnicas 
usar. 
15.2 Para que ensinar? 
Esta pergunta nos leva a considerar onde esperamos chegar com o nosso 
trabalho educativo. Isto significa dizer quais os resultados que buscamos atingir. 
Mas, só temos condições de estabelecer esses objetivos depois de analisar o 
grupo de alunos, com as suas características, seus limites, suas histórias de vida e 
suas facilidades. 
Sem estas considerações corremos o risco de tornar o nosso planejamento um 
instrumento sem função, inútil por não corresponder às verdadeiras necessidades dos 
envolvidos. 
 
35 
 
Esse processo de definição dos objetivos se torna muito mais eficiente quando 
envolve os alunos. Afinal, esse processo é tão importante para o(a) professor(a) 
quanto para eles. 
Alguns cuidados são importantes na definição dos objetivos que buscamos com 
o nosso trabalho. 
É preciso que os objetivos escolhidos sejam: 
 
 
Fonte: guiadoestudante.abril.com.br 
 Claros, objetivos - para que não deixem dúvidas. Os objetivos devem 
ser expressos de tal forma que tenham o mesmo significado, tanto para 
o(a) professor(a) quanto para o aluno. Para isso devem estar numa 
linguagem simples e de fácil compreensão; 
 Viáveis - ou de possível realização. A escolha dos objetivos deve levar 
em conta as condições reais do grupo e da escola, respeitando sua 
capacidade, interesse e motivações; 
 Apresentados na sua totalidade - os objetivos devem ser apontados 
como uma ação que envolve atividades a serem realizadas ou 
comportamentos a serem demonstrados; 
 Possíveis de serem avaliados - os objetivos devem deixar evidentes 
os 
 
36 
 
 Conteúdos que serão desenvolvidos, para que permitam conhecer o 
avanço dos alunos no domínio deles 
15.3 O que ensinar? 
O que ensinar é a pergunta que nos leva aos conteúdos, isto é, ao 
conhecimento a ser desenvolvido. Abrange tanto os conhecimentos que a 
humanidade acumulou durante sua história - informações, dados, fatos, princípios e 
conceitos - quanto atitudes e comportamentos. 
Na hora de escolher os conteúdos, alguns critérios devem ser levados em 
conta. 
Apontando alguns deles, podemos dizer que os conteúdos devem: 
 Ter validade - devem ser os mais importantes e significativos para a 
realidade e a época em que se vive; 
 Ter significado - devem estar relacionados com os alunos, suas histórias 
de vida, suas experiências e motivações; 
 Possibilitar a reflexão - devem levar o aluno a associar, comparar, 
compreender, selecionar, organizar, criticar e avaliar os próprios conteúdos; 
 Ser flexível - devem estar sujeitos a modificações, adaptações, renovações 
e enriquecimentos; 
 Ter utilidade - deverão considerar as exigências e as características do 
 Contexto socioeconômico e cultural dos alunos; 
 Ser viável - os conteúdos deverão ser possíveis de aprendizagem dentro 
das limitações de tempo e dos recursos que temos. 
A razão de ser desses critérios é apontar para aspectos que facilitam o trabalho 
pedagógico. 
Mas, não podemos esquecer que os conteúdos mais válidos são sempre 
aqueles que melhor levam os alunos a responder as suas necessidades, fazendo-os 
aprender o que é mais útil para a vida deles. 
Na educação de jovens e adultos, os conteúdos devem permitir aos alunos o 
exercício pleno da cidadania, o saber indispensável às suas ações que vão desde 
desempenhar uma profissão até participar de sua comunidade. 
 
37 
 
A organização dos conteúdos 
Precisamos lembrar que planejar não é apenas relacionar atividades a serem 
desenvolvidas. 
É um processo de: 
 Conhecer a realidade sobre a qual se vai trabalhar; 
 Propor ações para influir nela e desenvolver as ações propostas avaliando 
sempre seus resultados para a continuidade do mesmo processo: avaliação, 
planejamento, execução e avaliação, e assim por diante. 
 
 
Fonte: www.faculdadeapoena.com.br 
Pensando assim, o planejamento que o(a) professor(a) faz envolve aspectos 
que são nossos velhos conhecidos: 
O conhecimento dos alunos - o que eles já sabem, suas experiências de vida, 
suas expectativas, motivações etc.; 
A concepção que orienta o nosso projeto de educação - que tipo de pessoa 
queremos formar; 
A realização de atividades de aprendizagem que respondem ao nosso projeto 
- a coerência entre o que fazemos e o projeto educativo é fundamental; 
 
38 
 
15.4 Como ensinar? 
Ao fazer esta pergunta, indagamos sobre os procedimentos, métodos e 
técnicas que poderão criar as condições adequadas à aprendizagem. 
Para alguns autores, as condições que melhor favorecem a aprendizagem são 
aquelas que criam entre alunos e professores um clima de afetividade e estima, etc. 
Para outros, são os procedimentos didáticos que garantem a aprendizagem. Com 
certeza, o elemento afetivo entra no processo ensino aprendizagem. Mas é importante 
que a professora saiba definir seus objetivos, selecionar os conteúdos, utilizar boas 
técnicas de ensino e avaliar constantemente seus alunos. 
Não podemos esquecer que todo projeto educativo tem como base uma 
concepção de educação, acontece num determinado contexto socioeconômico e 
cultural e envolve pessoas de uma classe social bem definida na sociedade. 
Desta forma, a opção que o(a) professor(a) faz por um método, uma técnica e 
pela forma de orientar as atividades didáticas não pode se dar por acaso. Sua opção 
precisa ser coerente com seu projeto político-pedagógico. 
É comum confundir método e técnica de ensino. 
Um método é o modo sistemático e organizado pelo qual o(a) professor(a) 
desenvolve suas atividades, tendo em vista à aprendizagem dos alunos. 
Para utilizar um método, o(a) professor(a) se vale de técnicas. Assim, técnica 
é um conjunto de procedimentos didáticos que a professora utiliza para 
operacionalizar o método. 
Por exemplo, o texto é um recurso que o(a) professor(a) pode utilizar para que 
os alunos aprendam um assunto. O estudo através da leitura de textos constitui uma 
técnica de ensino. 
Todas as técnicas e todos os métodos têm vantagens e limitações. 
As técnicas variam segundo: 
 Os objetivos a alcançar - por exemplo, se queremos desenvolver nos 
alunos a capacidade de análise, devemos utilizaras técnicas de estudo 
dirigido ou de trabalho de grupo; 
 A experiência didática do(a) professor(a) - qualquer técnica só tem êxito 
quando utilizada com espontaneidade e segurança. Para isso o(a) 
professor(a) precisa saber o que está fazendo; 
 
39 
 
 As características dos alunos - interesses, motivações, necessidades, 
idade etc.; 
 O tempo disponível para realizá-las - não é boa coisa deixar o trabalho 
incompleto. 
16 A CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DO CONHECIMENTO 
 
Fonte: www.prosaber.org.br 
16.1 O conhecimento é próprio dos seres vivos 
Os seres que não são vivos submetem-se integralmente às leis da natureza, 
especialmente à física e à química, sem nenhuma possibilidade de intervir no seu 
destino. 
Os seres vivos, entretanto, dispõem de uma capacidade de “perceber” o 
ambiente em que estão e selecionar ou construir algumas alternativas para interagir 
com o ambiente em que estão inseridos com ele. Isto lhes permite conviver com o 
ambiente de forma mais conveniente às suas características. Esta capacidade é o que 
podemos chamar de Conhecimento. 
Um bom exemplo dessa capacidade é o movimento que faz a planta ao voltar 
as suas folhas para a luz do sol. 
 
40 
 
Evidentemente, esta capacidade é exercida pelos recursos biológicos próprios 
de cada espécie de ser vivo: recursos muito simples no caso dos seres unicelulares 
ou muito complexos como os dos mamíferos, com destaque para os seres humanos. 
 Essencialmente, o conhecimento desempenha em todos os seres vivos as 
mesmas funções: “perceber” o ambiente, identificar e selecionar ou construir 
alternativas para responder aos desafios. 
Os seres humanos são um caso específico que merece uma explicação 
especial. Neles, a constituição neurológica altamente sofisticada desenvolveu uma 
capacidade única que lhes permite ir além da realidade presente: não se restringem 
só a ela. 
Os seres humanos são capazes de representar simbolicamente a realidade e 
trabalhar mentalmente com esta representação. Isto significou um passo gigantesco 
que provavelmente explique a sua condição hegemônica entre os seres vivos. 
Não precisam restringir-se ao que está acontecendo no momento. Podem 
registrar simbolicamente o momento e operar com esta representação quando lhes 
for conveniente. Podem com isto trabalhar com o passado e planejar o futuro. Mais do 
que isto, esta capacidade de simbolizar lhes permite construir mentalmente realidades 
não existentes e trabalhar com elas. 
Em outras palavras, podem fazer literatura, artes plásticas, música, podem 
filosofar e fazer ciência. Podem sonhar. 
No bonito texto abaixo, Marx ressalta a ideia de que ser capaz de construir 
projeto é a marca diferenciadora dos seres humanos. 
“Uma aranha executa operação semelhante às do tecelão e a abelha supera 
mais de um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto 
da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em 
realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes 
idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre 
o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o 
qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar 
sua vontade.” 
Iremos a seguir explicar mais detalhadamente este aspecto que realmente 
torna os humanos únicos na escala biológica, no que diz respeito ao conhecimento. 
 
 
41 
 
17 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES MENTAIS 
 
Fonte: educacaopublica.cederj.edu.br 
Ao defrontar-se com o mundo, as pessoas vão construindo mentalmente uma 
imagem codificada dos aspectos da realidade com que estão lidando. Não se trata da 
própria realidade, mas de uma representação dela. 
Desta imagem ou ideia fazem parte as características da realidade que lhe são 
significativas por infinitas e variadas razões. Fazem parte dela também as múltiplas 
relações que sua inteligência e sensibilidade foram capazes de fazer sobre esta 
realidade, inclusive as lembranças e experiências pessoais provocadas por ela. Esta 
imagem ou ideia é que constitui o que podemos chamar de conhecimento. 
Para facilitar o entendimento do que foi dito, vamos dar um exemplo simples 
para tornar este conceito mais concreto. 
A representação, ideia ou conhecimento de uma pessoa sobre uma caneta 
qualquer, pode conter códigos relacionados com a forma, a cor, a textura, o cheiro e 
a consistência dela. Conterá também informações sobre o funcionamento, o material 
de que é feita, a marca, ano e processo de fabricação, histórico, usos possíveis, 
experiências bem ou malsucedidas, prazerosas ou desagradáveis com ela: a mancha 
de tinta na roupa nova ou o momento em que a recebeu por ter se destacado na 
escola. 
 
42 
 
Abrangerá igualmente todas as relações que forem estabelecidas neste 
processo de construção da representação. É fácil perceber que os aspectos possíveis 
de fazerem parte desta representação mental de uma simples caneta são infinitos. 
Além disso, é preciso considerar que está representação não é estática. Pode 
crescer ou alterar-se não apenas quando existir um contato físico entre a pessoa e a 
caneta, mas também quando a pessoa se lembrar dela ou mesmo conversar sobre 
canetas. Quando isto acontecer, esta representação mental que é o conhecimento de 
caneta de uma certa pessoa, se comunicará com o conhecimento de caneta da outra 
e as possibilidades de crescimento e alteração do conhecimento sobre canetas 
poderá se multiplicar. 
Este exemplo simples nos ajuda a perceber porque se pode afirmar que as 
possibilidades de crescimento do conhecimento são infinitas. Sempre será possível 
conhecer mais. 
Também nos faz compreender porque se diz que sábios são aqueles que 
percebem que quanto mais aprendem mais podem aprender. 
O que dissemos sobre o conhecimento hipotético de uma caneta pode ser dito 
também sobre todo e qualquer objeto de conhecimento, inclusive objetos abstratos 
tratados pelas ciências ou filosofias. 
18 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA 
18.1 A finalidade do conhecimento 
O conhecimento faz parte integrante da nossa vida. É com ele que percebemos 
o mundo que nos cerca e encontramos as maneiras de superar as dificuldades e os 
obstáculos decorrentes do viver neste mundo. Com ele somos capazes de utilizar os 
recursos disponíveis para construir nossa felicidade. Não há como viver sem 
conhecer. 
Nós e as outras pessoas estamos sempre nos relacionando. Relacionamo-nos 
entre nós mesmos e com o mundo em que vivemos. Esta relação faz que nós nos 
tornemos diferentes, ao mesmo tempo em que vamos tornando o mundo diferente. 
Quando plantamos, por exemplo, uma roça de café, vamos mudando o mundo criando 
uma paisagem diferente (a roça de café onde antes havia pasto ou mato), mas 
 
43 
 
também vamos nos tornando diferentes: mudamos nossos hábitos, o ritmo e a forma 
de trabalhar, o medo da geada, o assunto da nossa conversa, nossas preocupações 
e interesses. 
Neste mesmo exemplo, poderemos dizer que nossa relação com outros 
plantadores, consumidores e comerciantes de café modificam nossas representações 
sobre o cultivo e comercialização desse produto. Seguramente modifica também as 
representações deles sobre o mesmo tema. 
É verdade que a intensidade e profundidade destas mudanças são variáveis e 
dependem de uma série de fatores que incluem oportunidade, necessidade, 
curiosidade, interesse e da infinidade de fatores que constituem a complexa natureza 
humana. 
18.2 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO 
O conhecimento nasce da relação dos seres humanos entre si e com o mundo. 
Mas nem sempre se soube disso. Houve época em que se acreditou que o 
conhecimento estava nas pessoas e que ensinar era o processo pelo qual se fazia 
aflorar este conhecimento interior, inato. 
Houve também um tempo em que se acreditou que o conhecimento estavafora 
das pessoas e que ensinar consistia em transferir este conhecimento externo para 
dentro das pessoas. A escola tradicional é a explicitação desta forma de pensar. 
Nem fora nem dentro: o conhecimento se constrói na relação dos seres 
humanos com o mundo. 
Vimos que o conhecimento nasce na relação dos homens e mulheres com o 
mundo, incluindo nele os outros seres humanos. Mas sabemos que esta relação não 
é sempre igual. 
Algumas vezes, o mundo está sendo exatamente do jeito que as pessoas 
gostam. Outras vezes, nada está sendo como as pessoas querem. Entre estes dois 
extremos pode-se imaginar uma infinidade de possibilidades. 
No primeiro caso, é fácil perceber que a produção de conhecimentos é muito 
pequena, quase nula. Não há razão para mudar, inclusive o conhecimento, quando as 
coisas estão indo como a gente quer. 
 
 
44 
 
 
Fonte: www.polemicaparaiba.com.br 
Mas, se as coisas não estão do jeito que queremos, o estímulo para mudar 
torna-se grande. Aparece a necessidade de aprender novas coisas para enfrentar a 
situação e mudar o mundo que não está nos satisfazendo. 
A existência de necessidades a serem satisfeitas desempenha papel 
fundamental para que se produza conhecimento. Mas não basta que elas existem. É 
preciso disposição e empenho em satisfazê-las. Quando isto ocorre, as pessoas usam 
todos os seus recursos pessoais para atender estas necessidades, inclusive o de 
pensar. 
19 A NECESSIDADE E O PENSAR SÃO VITAIS NA PRODUÇÃO DE 
CONHECIMENTO 
É pensando que as pessoas compreendem melhor suas necessidades e como 
satisfazê-las. É pensando que escolhem as alternativas de ação. Pondo em prática 
estas alternativas, voltam a pensar nos resultados e em possíveis alterações que, 
postas em prática, fornecem novas pistas para novas reflexões, reiniciando-se o ciclo 
do pensar e fazer. 
Em cada momento deste ciclo, novas informações e representações são 
incorporadas e novos conhecimentos são construídos. 
 
45 
 
Percebe-se, portanto, que é agindo e pensando que os seres humanos 
constroem o seu conhecimento. Não é só agindo e não é só pensando, mas fazendo 
os dois. Nem sempre nos damos conta disto porque se trata de um movimento natural, 
quase instintivo, em que o agir-pensar-agir se dá quase que simultaneamente. 
Foi agindo e pensando que os seres humanos construíram toda sua cultura e 
é agindo-pensando que todos nós continuamos a construir e a modificar o mundo e a 
nós mesmos. 
“O Homem é, entre outras coisas, um ser de necessidade: O que observamos, 
historicamente, é que o hominídeo não desenvolvia uma ação qualquer, mas uma 
ação carregada de sentido, visto corresponder a uma carência. Assim, foi construindo 
representações vez a vez mais elaboradas da realidade, que se tornavam cada dia 
mais importantes a fim de poupar esforço desnecessário, diminuir o sofrimento e 
poder garantir a sobrevivência da espécie: a alimentação, a defesa contra os animais 
e intempéries, a defesa frente a outros bandos, a habitação, etc. O conhecimento, 
pois, sempre esteve ligado a necessidades, interesses, sendo que a partir deles o 
homem se empenhava no enfrentamento da realidade, vindo a construir cada vez 
mais representações mentais, (...) Portanto, a necessidade faz surgir o conhecimento 
e, com o tempo, o próprio conhecimento torna-se uma necessidade, como mediação 
para satisfazer outras necessidades.” Celso Vasconcellos. 
20 A NECESSIDADE DE CONHECER E A SALA DE AULA 
Se a necessidade é a grande impulsionadora do fazer e consequentemente do 
aprender, temos aí, um elemento forte para a escolha do que ensinar. 
Quais as necessidades dos alunos da EJA? 
Sabemos que são bem variadas dependendo do lugar onde vivem os alunos e 
das circunstâncias que enfrentam. 
Quando procuramos responder a esta pergunta, muitas vezes nos 
surpreendemos. 
Encontramos questões que nunca pensamos, muitas vezes bem diferentes das 
que tradicionalmente têm lugar nas salas de aula. 
 
46 
 
Estas são algumas das necessidades apontadas pelos alunos de diferentes 
salas de aula: 
 Saber fazer orçamento por escrito (o que escrever, a forma de escrever, 
como calcular preços); 
 
 
Fonte: cdn.massanews.com 
 Conhecer o desenvolvimento das crianças (grande preocupação das 
mães); 
 Alimentação e saúde; 
 Onde passear no fim de semana; 
 Como divulgar o que se faz para vender: tricô, doces, sabonetes, pães; 
 Fazer orçamento doméstico para controlar os gastos; 
 Compreender as questões ou geralmente saber o porquê: o frio e calor 
de uma região; as fases da lua; o dinheiro dos outros países; entender o 
que diz a televisão (notícias); aspectos ligados a hereditariedade, fazer 
recibos; 
 Saber preencher fichas (em firmas, oficinas, bancos, INSS); 
 Criar senhas, usar caixas eletrônicas. 
 
47 
 
Não é difícil perceber que a partir destas questões chegamos de forma natural 
a muitos dos conteúdos considerados escolares e que, de fato, se constituem como 
elementos importantes para solucionar as questões da vida diária. 
21 A REFLEXÃO ACELERA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO 
Separar o fazer do pensar é uma possibilidade humana. Todos vivemos 
quotidianamente a experiência de fazer alguma coisa e ao mesmo tempo pensar em 
algo que nada tem a ver com o que estamos fazendo. Muitos atropelamentos já 
ocorreram porque o pedestre estava com a “cabeça na lua” enquanto atravessava 
uma avenida. 
Muitos de nós usam continuamente a capacidade de pensar separadamente 
do que fazem, como uma defesa contra a monotonia das tarefas repetitivas. A dona 
de casa que liga o rádio enquanto cozinha ou arruma a casa, normalmente está 
fazendo isso. Outros, procuram atividades repetitivas como bordar, tricotar ou lavar o 
próprio carro como forma de “descansar a cabeça”. Enquanto o fazem, acham que 
não precisam ficar pensando, na verdade ficam pensando em outra coisa. 
Separar a ação do pensamento é muito menos frequente do que possa parecer. 
Na verdade, muitas ações humanas dispensam totalmente o pensamento. Ao 
encostar a mão em uma panela muito quente ou numa ponta de cigarro, qualquer 
pessoa saudável retirará imediatamente a mão. O aparecimento inesperado de um 
rato, barata ou cobra fará muitos correrem sem se dar ao trabalho de pensar se este 
deveria ser o melhor comportamento. Estas ações, chamadas de reflexas ou 
instintivas, dispensam totalmente o uso do pensamento para ocorrerem. 
Mas, não é todo fazer que dispensa o pensar. O pedestre distraído não andará 
com a “cabeça nas nuvens” em um bairro tido como perigoso altas horas da noite. A 
dona de casa não ouvirá o rádio quando estiver experimentando pela primeira vez 
uma receita nova e complicada para um jantar de cerimônia. Igualmente, ninguém 
imagina que irá descansar a cabeça procurando consertar os erros que a amiga fez 
na blusa que estava tecendo para o namorado. 
As pessoas não farão isto porque sabem que, para responder aos desafios que 
estão enfrentando, precisam concentrar-se no que estão fazendo. Suas cabeças 
 
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estarão pensando, ocupada em identificar as informações pertinentes e relacionar 
estas informações com os conhecimentos que já dispõem. Imaginam hipóteses e 
alternativas para responder ao desafio. Fazem isso manipulando suas ideias da forma 
mais disciplinada possível para obter os resultados pretendidos. Estão refletindo. Por 
isso não desviam seus pensamentos para outras coisas. Concentram-se nos objetivos 
e com isso, aumentam seus conhecimentos. 
Saberão o que não sabiam e, portanto, serão capazes de fazer e o que não 
faziam. 
22 AS DIFERENTES FORMAS DE PENSAR 
Não é preciso ser um especialista para perceber que existem diversas formas 
de pensar. O pedestre de que falamos certamente está pensando enquanto atravessa 
a rua. A dona de casa ouvinte de rádio também. Isto porque é praticamente impossível 
deixar de pensar. 
Mas, não existe apenas uma única forma de

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