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E-BOOK ECOLOGIA Ecologia de Comunidades: estrutura da comunidade (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem vamos estudar as características que definem a estrutura de uma comunidade e o reflexo no seu funcionamento. Entre os aspectos abordados estão a diversidade e as relações tróficas, além da influência de espécies. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os componentes da estrutura de uma comunidade;• Reconhecer a estrutura das cadeias alimentares;• Relacionar a estrutura de uma comunidade com o seu funcionamento.• DESAFIO Um produtor rural pede a um agrônomo e um biólogo para verificar as espécies existentes em sua propriedade e verifica que foram identificados: - planta: trigo da plantação - insetos: pulgões, também conhecidos como afídeos, e joaninhas - aves: quero-quero (de nome científico Vanellus chilensis) e carcará (Carcara plancus) Pesquise na internet e em publicações sobre estes organismos. Entretanto, podemos antecipar que os pulgões representam uma séria praga para o trigo. A partir destes elementos, pesquise sobre estes insetos e aves e responda: - descreva uma cadeia alimentar simples que envolva todos estes organismos. Identifique e indique quantos níveis tróficos ela apresenta. - descreva uma teia alimentar simples com pelo menos quatro destes organismos - Qual destes organismos pode ser usado para fazer um controle biológico do pulgão? E que tipo de modelo de relação seria? Top-bottom ou bottom-up? INFOGRÁFICO Veja no infográfico as características que determinam a estrutura de uma comunidade. CONTEÚDO DO LIVRO O item 54.2 do capítulo 54, da obra Biologia, de Campbell & Reece, 8ª edição, do ano de 2010, trata dos componentes que definem a estrutura de uma comunidade. É um assunto essencial para o estudo do funcionamento de uma comunidade. � � � � � � � � � �� ��� �������� � ����� ���� � �� �� � ��������� �������� � ������� Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Obra originalmente publicada sob o título Biology, 8th Edition ISBN 9780805368444 Authorized translation from the English language edition, entitled BIOLOGY, 8th Edition, by NEIL A. CAMPBELL and JANE B. REECE, published by Pearson Education, Inc., publishing as Benjamin Cummings, Copyright © 2008. All rights reserved. No part of this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying, recording or by any information storage retrieval system, without permission from Pearson Education, Inc. Portuguese language edition published by Artmed Editora, Copyright © 2010. Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada BIOLOGY, 8ª EDIÇÃO, de autoria de NEIL A. CAMPBELL e JANE B. REECE, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo de Benjamin Cummings, Copyright © 2008. Todos os direitos reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes ou sua íntegra armazenada em quaisquer meios, seja mecânico ou eletrônico, inclusive fotocópia, sem permissão da Pearson Education, Inc. A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora, Copyright © 2010. Capa: Mário Röhnelt Preparação de originais: Henrique de Oliveira Guerra Leitura final: Magda Regina Chaves Editora Sênior – Biociências: Letícia Bispo de Lima Editora Júnior – Biociências: Carla Casaril Paludo Editoração eletrônica: Techbooks Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 C187b Campbell, Neil. Biologia [recurso eletrônico] / Neil Campbell, Jane Reece; tradução Daniel Lorenzini ... [et al.]. – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010. Editado também como livro impresso em 2010. ISBN 978-85-363-2351-0 1. Biologia. I. Reece, Jane. II. Título. CDU 573 1204 Campbell & Cols. R E V I S à O D O C O N C E I T O 1. Explique como a competição interespecífica, a predação e o mutualismo diferem nos seus efeitos nas populações de duas espécies que interagem. 2. De acordo com o princípio da exclusão competitiva, qual é o resultado esperado quando duas espécies com nichos idênticos competem por um recurso? Por quê? 3. E SE...? Suponha que você viva em uma área agrícola. Quais exemplos dos quatro tipos de interações entre comu- nidades (competição, predação, pastoreio e simbiose) você pode observar no cultivo ou na utilização do alimento? Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. 54.2 Espécies dominantes e espécies-chave exercem fortes controles sobre a estrutura da comunidade Embora as interações de várias espécies influenciem as comu- nidades biológicas, às vezes algumas espécies exercem um forte controle sobre a estrutura da comunidade, particularmente na composição, na abundância relativa e na diversidade das suas espécies. Antes de examinarmos os efeitos dessas espécies par- ticularmente influentes, primeiro precisaremos considerar duas características fundamentais da estrutura da comunidade: diver- sidade das espécies e relacionamentos de alimentação. Diversidade de espécies A diversidade de espécies de uma comunidade – a variedade de diferentes tipos de organismos que compõem a comunidade – possui dois componentes. Um é a riqueza de espécies, o número de espécies diferentes na comunidade. O outro é a abundância relativa das diferentes espécies, a proporção que cada espécie re- presenta em todos os indivíduos na comunidade. Por exemplo, imagine duas pequenas comunidades da floresta, cada uma com 100 indivíduos distribuídos entre quatro espécies de árvores (A, B, C e D) como a seguir: Comunidade 1: 25A, 25B, 25C, 25D Comunidade 2: 80A, 5B, 5C, 10D A riqueza das espécies é a mesma para ambas as comunidades, pois ambas contêm quatro espécies de árvores, mas a abundân- cia relativa é muito diferente (Figura 54.9). Você logo notaria os quatro tipos de árvores na comunidade 1, mas sem observar com atenção, poderia apenas observar a espécie abundante A na segun- da floresta. A maioria dos observadores descreveria intuitivamen- te a comunidade 1 como a mais diversa das duas comunidades. Ecologistas utilizam várias ferramentas para comparar quan- titativamente a diversidade de diferentes comunidades no tempo e no espaço. Eles muitas vezes calculam o índice de diversidade com base na riqueza das espécies e na abundância relativa. Um índice bastante utilizado é a diversidade de Shannon (H): H � � [(pA ln pA) � (pB ln pB) � (pC ln pC) � ...] onde A, B, C ... são espécies na comunidade, p é a abundância relativa de cada espécie e ln é o logaritmo natural. Vamos utilizar essa equação para calcular a diversidade de Shannon das duas comunidades na Figura 54.9. Para a comunidade 1, p � 0,25 para cada comunidade, então H � �4 × (0,25 ln 0,25) � 1,39. Para a comunidade 2, H � �[(0,8 ln 0,8) � (0,05 ln 0,05) � (0,05 ln 0,05) � (0,1 ln 0,1)] � 0,71. Esses cálculos confirmam nossa descrição intuitiva da comunidade 1 como a mais diversa. A determinação do número e da abundância relativa das espé- cies em uma comunidade não é tão fácil quanto aparenta. Muitas técnicas de amostragem podem ser utilizadas, mas uma vez que a maioria das espécies em uma comunidade é relativamente rara, pode ser dif ícil obter um tamanho amostral grande o suficiente para ser representativo.Também é dif ícil fazer o censo dos membros muito móveis e menos visíveis das comunidades, como piolhos, nematóde- os e micro-organismos. O tamanho reduzido dos micro-organismos torna-os particularmente dif ícil de amostrá-los; então, agora, os eco- logistas utilizam ferramentas moleculares para ajudar a determinar a diversidade microbiana (Figura 54.10). Embora a medição da diver- sidade das espécies seja muitas vezes desafiadora, ela é essencial não apenas para compreender a estrutura da comunidade, mas também para conservar a biodiversidade, como veremos no Capítulo 56. Comunidade 1 A: 25% B: 25% C: 25% D: 25% Comunidade 2 A: 80% B: 5% C: 5% D: 10% A B C D Figura 54.9 � Qual das florestas é mais diversa? Os ecologistas di- riam que a comunidade 1 possui maior diversidade de espécies, medida que inclui tanto a riqueza das espécies como a abundância das espécies. Biologia 1205 Estrutura trófica A estrutura e a dinâmica de uma comunidade dependem muito dos relacionamentos de alimentação entre os organismos – a es- trutura trófica da comunidade. A transferência da energia do ali- mento até os níveis tróficos a partir da sua fonte nas plantas e ou- tros organismos autotróficos (produtores primários) por meio dos herbívoros (consumidores primários) até os carnívoros (consumi- dores secundários, terciários e quaternários) e finalmente até os decompositores é chamada de cadeia alimentar (Figura 54.11). Teias alimentares Na década de 1920, o biólogo Charles Elton, da Oxford University, reconheceu que as cadeias alimentares não são unidades isoladas, mas estão ligadas em teias alimentares. Um ecologista pode resu- mir os relacionamentos tróficos de uma comunidade desenhando a teia alimentar com setas ligando as espécies de acordo com quem se alimenta de quem. Em uma comunidade pelágica antártica, por exemplo, os produtores primários são o fitoplâncton, que serve de alimento para o zooplâncton dominante, especialmente eufausiá- ceos (krill) e copépodes, que são crustáceos (Figura 54.12). Essas Figura 54.10 � Método de pesquisa Determinação da diversidade microbiana utilizando ferramentas moleculares APLICAÇÃO Os ecologistas estão utilizando cada vez mais técni- cas moleculares, como a análise de polimorfismos de comprimento de fragmentos de restrição (RFLPs, do inglês restriction fragment length poly- morphisms), para determinar a diversidade e riqueza microbiana nas amostras do meio. Como utilizado nesta aplicação, a análise de RFLP pro- duz uma impressão digital do DNA para táxons microbianos com base nas variações da sequência no DNA que codifica a subunidade pequena do RNA ribossomal. Noah Fierer e Rob Jackson, da Duke University, utilizaram esse método para comparar a diversidade das bactérias do solo em 98 hábitats ao longo da América do Norte e do Sul para ajudar a identificar variáveis no ambiente associadas com a alta diversidade bacteriana. TÉCNICA Primeiro os pesquisadores extraíram e purificaram DNA da comunidade bacteriana em cada amostra. Utilizaram a reação em cadeia pela polimerase (PCR) para amplificar o DNA ribossomal e marcar o DNA com um corante fluorescente (ver Capítulo 20). Então as enzimas de restrição cortaram o DNA amplificado e marcado em fragmentos de dife- rentes comprimentos, separados por eletroforese em gel. O número e a abundância desses fragmentos caracterizam a impressão digital do DNA da amostra. Com base na análise de RFLP, Fierer e Jackson calcularam a diversidade de Shannon (H) de cada amostra. Então procuraram por uma correlação entre H e algumas variáveis do meio ambiente, incluindo o tipo de vege- tação, a média anual de temperatura e as precipitações, além da acidez e qualidade do solo no local. RESULTADOS A diversidade das comunidades bacterianas no solo pela América do Norte e do Sul estava relacionada quase exclusivamente ao pH do solo, com a diversidade de Shannon mais alta nos solos neutros e mais baixa nos solos ácidos. A floresta tropical da Amazônia, com diver- sidade de plantas e animais extremamente alta, possui os solos mais áci- dos e a menor diversidade bacteriana das amostras testadas. 3,6 3 4 5 6 7 8 pH do solo D iv er si da de d e Sh an no n (H ) 3,4 3,2 3,0 2,8 2,6 2,4 2,2 9 FONTE N. Fierer and R.B. Jackson, The diversity and biogeography of soil bacterial communities, Proceedings of the National Academy of Sciences USA 103:626-631 (2006). Consumidores quaternários Consumidores terciários Consumidores secundários Consumidores primários Produtores primários Carnívoro Carnívoro Carnívoro Carnívoro Carnívoro Carnívoro ZooplânctonHerbívoro FitoplânctonPlanta Cadeia alimentar terrestre Cadeia alimentar marinha Figura 54.11 � Exemplos de cadeias alimentares terrestres e ma- rinhas. As setas seguem a energia e nutrientes que passam pelos níveis tróficos de uma comunidade quando organismos se alimentam uns dos outros. Os decompositores, que se “alimentam” de organismos de todos os níveis tróficos, não são mostrados aqui. 1206 Campbell & Cols. espécies de zooplâncton por sua vez servem de alimento para vá- rios carnívoros, incluindo outros plânctons, pinguins, focas, peixes e baleias sem dentes. Lulas, carnívoros que se alimentam de peixes assim como de zooplâncton, são outro elo importante nessas teias alimentares, uma vez que servem de alimento para focas e baleias com dentes. Durante o tempo em que as baleias eram normalmen- te caçadas para alimento, os humanos eram os predadores do topo nesta teia alimentar. Tendo caçado várias espécies de baleias até baixos números, os humanos estão agora colhendo em níveis trófi- cos mais baixos, caçando krill e peixes para se alimentar. Como as cadeias alimentares estão ligadas às teias alimenta- res? Primeiro, uma certa espécie pode tramar para dentro da teia em mais de um nível trófico. Por exemplo, na teia alimentar mos- trada na Figura 54.12, os eufausiáceos se alimentam de fitoplânc- ton, assim como de outros zooplâncton, como os copépodes. Es- ses consumidores ”não exclusivos” também são encontrados nas comunidades terrestres. Por exemplo, raposas são onívoros cuja dieta inclui grãos e outras plantas, herbívoros, como os camun- dongos, e outros predadores, como as doninhas. Os humanos es- tão entre os mais versáteis dos onívoros. As teias alimentares podem ser bastante complicadas, mas podemos simplificá-las para um estudo mais simples de duas for- mas. Primeiro, podemos agrupar espécies com relacionamentos tróficos similares em uma dada comunidade em grupos funcionais amplos. Por exemplo, na Figura 54.12, mais de 100 espécies de fi- toplâncton estão agrupadas como os produtores primários na teia alimentar. Uma segunda maneira para simplificar uma teia alimen- tar para um estudo mais aproximado é isolar uma porção da teia que interage pouco com o restante da comunidade. A Figura 54.13 ilustra uma teia alimentar parcial para urtigas-do-mar (espécie de cnidário) e robalos riscados jovens em Chesapeake Bay. Limites no comprimento da cadeia alimentar Cada cadeia alimentar dentro de uma teia alimentar normalmen- te tem apenas poucas ligações de comprimento. Na teia antártica da Figura 54.12, raramente existem mais de sete ligações desde os produtores até qualquer predador em nível alto e a maioria das cadeias nesta teia possui menos ligações. Na verdade, a maioria das teias alimentares estudadas até agora possui cadeias que con- sistem em cinco ou menos ligações. Por que as cadeias alimentares são relativamente curtas? Existem duas hipóteses principais. Uma, a hipótese energética, sugere que o comprimento de uma cadeia alimentar é limitado pela ineficiência da transferência de energia ao longo da cadeia. Como vamos ver no Capítulo 55, apenas cerca de 10% da energia armazenada na matéria orgânica de cada nível trófico é converti- da em matéria orgânica no próximo nível trófico. Assim, um nível Humanos Peixes Focas- leopardo Baleias sem dentes Focas-caran- guejeiras Baleias menorescom dentes Cachalotes Focas- elefante Lulas Eufausiáceos (krill) Plâncton carnívoro Copépodes Fitoplâncton Aves Figura 54.12 � Uma teia alimentar marinha antártica. As setas se- guem a transferência de alimento desde os produtores (fitoplâncton) para cima pelos níveis tróficos. Para simplificar, este diagrama omite os decompositores. Urtiga-do-mar ZooplânctonOvos de peixe Larvas de peixes Robalo riscado jovem Figura 54.13 � Teia alimentar parcial para o Estuário da Chesapeak Bay na costa Atlântica dos EUA. A urtiga-do-mar (Chrysaora quinquecir- rha) e o robalo riscado jovem (Morone saxatilis) são os principais predadores de larvas de peixes (manjuba e várias outras espécies.) Observe que as urti- gas-do-mar são consumidores secundários (setas pretas) quando se alimen- tam de zooplâncton, mas terciários (setas vermelhas) quando se alimentam de larvas de peixes, por sua vez consumidores secundários de zooplâncton. Biologia 1207 produtor que consiste em 100 kg de matéria vegetal pode supor- tar cerca de 10 kg de biomassa herbívora (a massa total de todos os indivíduos em uma população) e 1 kg de biomassa carnívora. A hipótese energética prediz que cadeias alimentares devem ser relativamente mais longas em hábitats de maior produção fotos- sintética, uma vez que a quantidade inicial de energia é maior que em hábitats com menor produção fotossintética. Uma segunda hipótese, a hipótese da estabilidade dinâmica, propõe que cadeias alimentares longas são menos estáveis do que as cadeias curtas. Flutuações na população em níveis tróficos bai- xos são ampliadas em níveis mais altos, causando a extinção local dos predadores do topo. Em um ambiente variável, os predadores do topo devem ser hábeis para se recuperar de choques ambientais (como invernos extremos) que podem reduzir o suprimento de ali- mento por toda a cadeia alimentar. Quanto mais longa a cadeia ali- mentar, mais lentamente os produtores do topo podem se recuperar dos retrocessos do ambiente. Essa hipótese prediz que as cadeias alimentares deveriam ser mais curtas em ambientes imprevisíveis. A maior parte dos dados disponíveis dá suporte à hipótese energética. Por exemplo, os ecologistas têm utilizado comunida- des de orif ícios de árvores nas florestas tropicais como modelos experimentais para testar a hipótese energética. Muitas árvores possuem pequenas cicatrizes ramificadas que apodrecem, for- mando orif ícios no tronco das árvores. Os orif ícios das árvores guardam água e fornecem um hábitat para minúsculas comuni- dades que consistem de micro-organismos e insetos que se ali- mentam de resíduos de folhas, assim como de insetos predadores. A Figura 54.14 mostra os resultados de experimentos em que os pesquisadores manipularam a produtividade (queda de resíduos de folhas dentro dos orif ícios das árvores). Como predito pela hipótese energética, os orif ícios com a maior parte dos resíduos de folhas e, portanto, o maior suprimento alimentar no nível de produtor deram suporte à cadeia alimentar mais longa. Outro fator que pode limitar o comprimento da cadeia alimen- tar é que os carnívoros em uma cadeia alimentar tendem a ser maio- res em níveis tróficos sucessivos. O tamanho de um carnívoro e seu mecanismo de alimentação colocou alguns limites superiores no tamanho do alimento que ele pode colocar na boca. Com exceção de alguns casos, carnívoros grandes não podem viver de itens de ali- mentação muito pequenos, pois não podem procurar por alimento suficiente em um determinado tempo para suprir suas necessidades metabólicas. Entre as exceções estão as baleias sem dentes, que pos- suem adaptações que lhes permitem se alimentar de quantidades enormes de krill e outros organismos pequenos (ver Figura 41.6). Espécies com amplo impacto Certas espécies possuem impacto especialmente amplo na estru- tura de comunidades inteiras por serem muito abundantes ou por terem um papel central na dinâmica da comunidade. O impacto dessas espécies pode ocorrer por meio de suas interações tróficas ou por meio de suas influências no meio f ísico. Espécies dominantes Espécies dominantes em uma comunidade são as mais abundan- tes ou que possuem a maior biomassa coletivamente. Como resul- tado, espécies dominantes exercem um controle poderoso sobre a ocorrência e a distribuição de outras espécies. Por exemplo, a abundância do ácer negro, a espécie vegetal dominante em várias comunidades florestais da América do Norte oriental, possui im- portante impacto sobre fatores abióticos, como sombreamento e solo, que por sua vez afetam quais as espécies que vivem lá. Não existe uma única explicação sobre por que uma espécie se torna dominante em uma comunidade. Uma hipótese sugere que as espécies dominantes são competitivamente superiores na exploração de recursos limitados como água ou nutrientes. Ou- tra explicação é que as espécies dominantes têm mais sucesso em evitar a predação ou o impacto de doenças. Esta última ideia poderia explicar a alta biomassa alcançada em alguns meios por espécies invasoras, organismos (normalmente introduzidos por humanos) que se mantêm fora da sua área nativa. Essas espécies podem não enfrentar os predadores naturais e agentes de doenças que de outra maneira manteriam sua população sob controle. Uma maneira de descobrir o impacto de uma espécie domi- nante é removê-la da comunidade. Esse tipo de experimento foi realizado várias vezes por acidente. A castanheira americana era dominante nas florestas decíduas da América do Norte oriental antes de 1910, compondo mais de 40% das árvores maduras. En- tão os homens acidentalmente introduziram a doença fúngica cancro do castanheiro na cidade de Nova York por meio de mudas importadas da Ásia. Entre 1910 e 1950, esse fungo matou todas as castanheiras na América do Norte oriental. Nesse caso, a remoção da espécie dominante teve um impacto relativamente pequeno so- bre algumas espécies, mas efeitos severos sobre outras. Carvalhos, nogueiras, faias e bordos vermelhos que já estavam presentes na floresta aumentaram em abundância e substituíram as castanhei- ras. Nenhum mamífero ou ave pareceu ter sido prejudicado pela perda das castanheiras, mas sete espécies de traças e borboletas que se alimentavam dessas árvores se tornaram extintas. N úm er o de li ga çõ es t ró fic as 0 5 4 1 2 3 Alto (controle): quantidade normal de resíduos de folhas Produtividade Médio: 1 10 da quantidade natural Baixo: 1 100 da quantidade natural Figura 54.14 � Teste da hipótese energética para a restrição do com- primento da cadeia alimentar. Pesquisadores manipularam a produtividade das comunidades de orifícios de árvores em Queensland, Austrália, suprindo os resíduos de folhas em três níveis. A redução da energia reduziu o compri- mento da cadeia alimentar, resultado consistente com a hipótese energética. ? De acordo com a hipótese da estabilidade dinâmica, qual tratamento de produtividade deve ter a cadeia alimentar mais estável? Explique. 1208 Campbell & Cols. A história da castanheira americana é apenas um exemplo da resposta de uma comunidade à perda de espécies dominantes. Mais pesquisas são necessárias antes que possamos generalizar sobre os efeitos gerais dessas perdas. Espécies-chave Em contraste com as espécies dominantes, as espécies-chave não são necessariamente abundantes em uma comunidade. Elas exercem um forte controle sobre a estrutura da comunidade não por força numérica, mas por papéis ecológicos essenciais, ou ni- chos. Uma maneira de identificar as espécies-chave é por expe- rimentos de remoção como aquele descrito na Figura 54.15, que destaca a importância de uma espécie-chave na manutenção da diversidade de uma comunidade da zona entremarés. A lontra marinha, predador-chave no Pacífico do Norte, ofe- rece outro exemplo (Figura 54.16). As lontras marinhas se ali- mentam de ouriços-do-mar e esses se alimentam principalmente de algas marinhas. Nas áreas onde as lontras marinhas sãoabun- dantes, os ouriços-do-mar são raros, e as florestas de algas es- tão bem desenvolvidas. Onde as lontras marinhas são raras, os ouriços-do-mar são comuns e as algas estão praticamente ausen- tes. Durante os últimos 20 anos, as orcas vêm caçando lontras marinhas, já que as presas usuais das baleias diminuíram. Como resultado, as populações das lontras marinhas diminuíram muito em amplas áreas distantes da costa do Alasca ocidental, algumas vezes em porcentagens tão altas quanto 25% por ano. A perda dessas espécies básicas permitiu que as populações de ouriços do mar aumentassem, resultando na perda das florestas de algas. Espécies precursoras (“Engenheiras” do ecossistema) Alguns organismos exercem influência na comunidade causan- do alterações f ísicas no meio e não por suas interações tróficas. Figura 54.15 � Pesquisa O Pisaster ochraceus é um predador-chave? EXPERIMENTO Nas comunidades das rochas da zona entremarés da América do Norte Ocidental, a relativamente incomum estrela-do-mar Pi- saster ochraceus tem como presas mexilhões como Mytilus californianus, espécie dominante e forte competidora por espaço. Robert Paine, da Uni- versidade de Washington, removeu Pisaster a partir de uma área na zona entremarés e examinou o efeito sobre a riqueza das espécies. RESULTADOS Na ausência de Pisaster, a riqueza das espécies decli- nou uma vez que os mexilhões monopolizaram as faces das rochas e elimi- naram a maioria dos outros invertebrados e algas. Em uma área controle onde Pisaster não foi removida, a riqueza das espécies não variou muito. 20 15 10 5 0 Com Pisaster (controle) N úm er o de e sp éc ie s pr es en te Sem Pisaster (experimento) 1963 ’64 ’65 ’66 ’67 Ano ’68 ’69 ’70 ’71 ’72 ’73 CONCLUSÃO Pisaster atua como espécie-chave, exercendo influên- cia sobre a comunidade que não se reflete na sua abundância. FONTE R.T. Paine, Food web complexity and species diversity, Ameri- can Naturalist 100:65-75 (1966). E SE...? Suponha que um fungo invasivo tenha matado a maioria dos indivíduos de Mytilus nestes locais. O que você acha que aconteceria com a riqueza das espécies se Pisaster fosse então removida? Ano N úm er o po r 0, 25 m 2 10 0 2 4 6 8 1972 1985 1989 Cadeia alimentar 1993 1997 G ra m as p or 0, 25 m 2 400 0 100 200 300 N úm er o de lo nt ra s (% c on ta ge m m áx im a) 100 0 (a) Abundância das lontras marinhas 20 40 60 80 (b) Biomassa dos ouriços-do-mar (c) Densidade total de algas Figura 54.16 � Lontras marinhas como predadores-chave no Pacífi- co do Norte. Os gráficos correlacionam alterações na abundância de lontras marinhas (a) com alterações na biomassa dos ouriços-do-mar (b) e altera- ções na densidade das algas (c) nas florestas de algas na ilha Adak (parte da cadeia de ilhas Aleutian). O diagrama vertical à direita representa a cadeia alimentar depois das orcas (topo) entrarem na cadeia. Biologia 1209 Esses organismos podem alterar o meio pelo comportamento ou ampla biomassa coletiva. As espécies que alteram drasticamente o meio f ísico em grande escala são chamadas de “engenheiras” do ecossistema, ou, para evitar a sugestão de intenção conscien- te, “espécies precursoras”. Uma conhecida espécie precursora é o castor (Figura 54.17), que, por derrubar árvores e construir represas, pode transformar paisagens. O efeito das espécies pre- cursoras sobre outras espécies pode ser positivo ou negativo, de- pendendo das necessidades das outras espécies. Pela alteração da estrutura ou dinâmica do meio, as espécies precursoras às vezes atuam como facilitadoras. Elas possuem efeitos positivos sobre a sobrevivência e reprodução de outras espécies na comunidade. Por exemplo, por modificar o solo, o junco preto Juncus gerardi aumentou a riqueza das espécies em algumas zonas de pântanos salinos de New England. O Juncus ajuda a prevenir o acúmulo de sal no solo, fazendo sombra na superf ície do solo, o que reduz a evaporação (Figura 54.18a). O Juncus também previne que os solos dos pântanos salinos se tornem pobres em oxigênio, uma vez que transporta oxigênio para seus tecidos abaixo do solo. Sally Hacker e Mark Bertness da Brown University descobriram alguns dos efeitos de facilitação do Juncus, pela remoção do Juncus das áreas de pesquisa. Seus experimentos sugeriram que, sem o Juncus, a zona média supe- rior entremarés suportaria 50% a menos de espécies de plantas (Figura 54.18b). Controles bottom-up e top-down Modelos simplificados com base nas relações entre níveis tróficos adjacentes são úteis para discutir a organização da comunidade. Por exemplo, vamos considerar as três relações possíveis entre plantas (V para vegetação) e herbívoros (H): V → H V ← H V ↔ H As setas indicam que uma alteração na biomassa de um nível tró- fico causa alteração no outro nível trófico. V → H significa que um aumento na vegetação aumenta os números de biomassa dos herbívoros, mas não vice-versa. Nesta situação, os herbívo- ros são limitados pela vegetação, mas a vegetação não é limitada pela herbivoria. Em contraste, V ← H significa que um aumento na biomassa dos herbívoros diminui a abundância da vegetação, mas não vice-versa. Uma seta com duas pontas indica que a re- alimentação flui em ambas as direções, com cada nível trófico sensível a alterações na biomassa do outro. Dois modelos de organização de comunidade são comuns: o modelo bottom-up (de baixo para cima) e o modelo top-do- wn (de cima para baixo). A ligação V → H sugere um modelo bottom-up, que postula uma influência unidirecional de níveis tróficos inferiores para os superiores. Neste caso, a presença ou ausência de nutrientes minerais (N) controla o número de plan- tas (V), que controla o número de herbívoros (H), que por sua vez controla os números de predadores (P). Assim, o modelo bot- tom-up simplificado é N → V → H → P. Para alterar a estrutura de uma comunidade bottom-up, é preciso alterar a biomassa dos níveis tróficos inferiores, permitindo que essas alterações se pro- paguem através da teia alimentar. Por exemplo, se adicionarmos nutrientes minerais para estimular o crescimento da vegetação, então os níveis tróficos superiores também devem aumentar em biomassa. Entretanto, se você adicionar ou remover predadores de uma comunidade bottom-up, o efeito não deveria se estender para baixo em direção aos níveis tróficos inferiores. Em contraste, o modelo top-down postula o oposto: a predação controla principalmente a organização da comunidade, pois os pre- dadores limitam os herbívoros, os herbívoros limitam as plantas e as plantas limitam os níveis de nutrientes por meio da captação de nu- trientes durante o crescimento e a reprodução. O modelo top-down simplificado, N ← V ← H ← P, também é chamado de modelo trófi- co em cascata. Por exemplo, na comunidade de um lago com quatro níveis tróficos, o modelo prediz que a remoção dos carnívoros do topo aumentará a abundância dos carnívoros primários, diminuin- do por sua vez o número de herbívoros, aumentando a abundância do fitoplâncton e diminuindo as concentrações dos nutrientes mi- nerais. Se existissem apenas três níveis tróficos no lago, a remoção dos carnívoros primários aumentaria o número de herbívoros e diminuiria a abundância de fitoplâncton, causando a elevação dos níveis de nutrientes. Assim, os efeitos de qualquer manipulação se- guem para baixo na estrutura trófica alterando entre efeitos �/�. N úm er o de e sp éc ie s de v eg et ai s 8 6 4 Com JuncusPântano salino com Juncus (na parte mais próxima) (a) (b) 2 0 Sem Juncus Figura 54.18 � Facilitação pelos juncos pretos (Juncus gerardi) nos pântanos salinos de New England. O junco preto facilita a ocupa- ção da zona média superior do pântano, que aumenta a riqueza local de espécies vegetais. Figura 54.17 � Castores como “engenheiros” do ecossistema. Pelo derrubamento de árvores, construção de barragens e criação de lagos, os cas- tores podem transformar grandes áreasde floresta em terrenos alagados. 1210 Campbell & Cols. Diana Wall (ver entrevista nas páginas 1.146-1.147) e Ross Vir- ginia investigaram se os fatores bottom-up ou top-down são mais importantes em uma comunidade de nematódeos de solo nos de- sertos da Antártica. Nesse meio extremo, comunidade de nema- tódeos contém apenas duas ou mais espécies; por isso, é mais fácil de manipular e estudar do que outras comunidades mais ricas em espécies. Seu experimento, descrito na Figura 54.19, mostrou que os fatores top-down parecem controlar a organização dessa comu- nidade simples. O modelo top-down possui aplicações práticas. Por exemplo, os ecologistas têm aplicado o modelo top-down para melhorar a quali- dade da água em lagos poluídos. Essa abordagem, chamada bioma- nipulação, tenta prevenir a proliferação de algas e a eutrofização pela alteração da densidade dos consumidores de níveis superiores nos lagos, em vez de usar tratamentos químicos. Em lagos com três níveis tróficos, por exemplo, a remoção de peixes deveria melhorar a qualidade da água pelo aumento do zooplâncton e consequente diminuição das populações de algas. Nos lagos com quatro níveis tróficos, a adição de predadores superiores deveria ter o mesmo efeito. Podemos resumir esse cenário com o seguinte diagrama: Estado poluído Estado recuperado Algas Abundante Raro Abundante Raro Abundante Raro Peixe Zooplâncton Ecologistas usaram a biomanipulação em larga escala no lago Vesijärvi no sul da Finlândia. O lago Vesijärvi é um grande lago raso (100 km2) que estava poluído com esgoto urbano e restos de água industriais até 1976. Depois que o controle da poluição re- duziu esses depósitos, a qualidade da água do lago começou a me- lhorar. Entretanto, em 1986, proliferações intensas de cianobacté- rias começaram a ocorrer no lago. Essas proliferações coincidiram com uma densa população de ruivo, peixe que se beneficiava dos nutrientes minerais que a poluição proveu durante vários anos. O ruivo se alimenta de zooplâncton, que na ausência do peixe man- tinha as cianobactérias e algas sob controle. Para reverter essas al- terações, os ecologistas removeram aproximadamente um milhão de quilos de peixe do lago Vesijärvi entre 1989 e 1993, reduzin- do o ruivo até cerca de 20% da sua abundância inicial. Ao mesmo tempo, os ecologistas povoaram o lago com o lúcio-perca, peixe predador que se alimenta do ruivo. Isso adicionou um quarto nível trófico ao lago, mantendo baixa a população do ruivo. A biomani- pulação foi um sucesso no lago Vesijärvi. A água se tornou clara e a última proliferação de cianobactérias foi em 1989. O lago perma- nece claro mesmo com o término da remoção do ruivo em 1993. Como mostram esses exemplos, as comunidades variam no seu grau de controle bottom-up e top-down. Para manipular as pai- sagens agrícolas, parques, reservas e áreas de pesca, precisamos compreender a dinâmica de cada comunidade em particular. R E V I S à O D O C O N C E I T O 1. Quais dois componentes contribuem para diversidade das espécies? Explique como duas comunidades que contêm o mesmo número de espécies podem diferenciar na diversi- dade das espécies. 2. Descreva duas hipóteses que explicam porque as cadeias alimentares normalmente são curtas e estabeleça uma predição básica para cada hipótese. 3. E SE...? Considere uma pradaria com cinco níveis tró- ficos: plantas, grilos, cobras, guaxinins e linces. Se você li- berasse linces adicionais na pradaria, como seria alterada a biomassa das plantas se o modelo bottom-up fosse apli- cado? E se o modelo top-down fosse aplicado? Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. Figura 54.19 � Pesquisa As comunidades de nematódeos do solo na Antártica são controladas por fatores bottom-up ou top-down? EXPERIMENTO Uma pesquisa prévia nos desertos da Antártica mos- traram que o nematódeo predador Eudorylaimus antarcticus se torna me- nos abundante em solos mais secos, mas não sua espécie presa, o nema- tódeo Scottnema lindsayae. Para determinar se fatores bottom-up ou top-down controlam as interações nessas comunidades, Diana Wall e Ross Virginia, ambos da Colorado State University naquela época, diminuíram a abundância de E. antarcticus em campos selecionados aquecendo e se- cando o solo. Eles colocaram câmaras plásticas secas abaixo do solo du- rante um ano para captar o calor da luz solar e aquecer o solo em 5°C. RESULTADOS A densidade de E. antarcticus nos pontos aquecidos decaiu para um quarto da densidade dos campos controle. Em contraste, a densidade de S. lindsayae aumentou em um sexto. Campos controle Campos aquecidos D en si da de d e ne m at ód eo s (n úm er o de in di ví du os p or qu ilo d e so lo ) 300 200 E. antarcticus S. lindsayae 100 0 CONCLUSÃO O aumento na densidade da espécie presa medida que a densidade do predador diminuiu sugere que esta comunidade de nematódeos do solo é controlada por fatores top-down. FONTE D. Wall-Freckman and R.A. Virginia, Low-diversity Antarctic soil nematode communities: distribution and response to disturbance, Ecology 78:363-369 (1997). E SE...? Suponha que exista uma segunda espécie predadora nesta comunidade e que sua abundância não fosse afetada pelo aquecimento do solo. Qual seria a alteração esperada na densidade de S. lindsayae se o experimento fosse repetido sob essas condições? Explique. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR O vídeo apresenta conceitos-chave da estrutura de uma comunidade. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Em duas fazendas próximas, de mesma área, ambas com características semelhantes de solo, relevo e oferta de água, são utilizados sistemas diferentes de produção. Na fazenda “A”: -é cultivado o sorgo, o feijão, o algodão e o milho em sistema de rotação de culturas, onde cada espécie ocupa a mesma área, porém em períodos diferentes, - o número de pés é aproximadamente igual para todas as espécies cultivadas, - a presença de animais é afastada, ou seja, para fins práticos, só é mantida a presença das espécies cultivadas. Na Fazenda “B”: -utiliza-se o sistema agroflorestal (SAF) onde são cultivadas, além das quatro espécies acima citadas, mais doze diferentes espécies de vegetais na mesma área, todas elas simultaneamente, sendo ainda que estas quatro espécies são as mais comuns e abundantes nesta fazenda, -o sorgo, milho, algodão e feijão somam metade (50%) do total de espécies em termos numéricos (ou seja, em número de pés) -ocorrendo ainda a presença de várias espécies de pássaros, mamíferos terrestres e insetos. A partir das informações acima, indique a opção correta a seguir: A) A fazenda “A” apresenta uma maior riqueza de espécies. B) A Fazenda “A” apresenta uma maior riqueza de espécies que a Fazenda “B”, mas com abundâncias relativas iguais para as duas fazendas. C) Na fazenda “B” as teias alimentares tendem a ser mais simples que na fazenda “A”. D) A abundância relativa de espécies na Fazenda “B” indica que cada espécie tem a mesma abundância relativa das demais. E) A Fazenda “B” apresenta uma maior riqueza de espécies que a Fazenda “A”, mas com abundâncias relativas diferentes. 2) Três chacareiros ocupam as mesmas áreas para produção. Todas têm 100 pés de plantas cultivadas. Aqui vão as características de cada uma: - Chácara “Boa Vista”: 50 pés de pitomba e 50 pés de acerola - Chácara “Porto Velho”: 10 pés de goiaba, 10 pés de laranja e 80 pés de mamão - Chácara “Rio Branco”: 25 pés de laranja, 25 pés de manga, 25 pés de coco-verde e 25 pés de carambola Aplicando a fórmula de Shannon para o Índice de diversidade de Shannon, ou H, e a definição de variedade de espécies, indique a opção correta a seguir. A) Chácara “Boa Vista” H = 1,70, Chácara “Porto Velho” H = 1,64, Chácara “Rio Branco” H = 0,39 e a chácara“Boa Vista” é a que apresenta a maior diversidade B) Chácara “Boa Vista” H = 0,69, Chácara “Porto Velho” H = 0,64 , Chácara “Rio Branco” H = 1,39 e a chácara “Rio Branco” é a que apresenta a maior diversidade C) Chácara “Boa Vista” H = 0,51, Chácara “Porto Velho” H = 0,88, Chácara “Rio Branco” H = 0,39, e todas tem a mesma diversidade D) Chácara “Boa Vista” H = 0,69, Chácara “Porto Velho” H = 1,0, Chácara “Rio Branco” H = 1,0, e todas tem a mesma diversidade E) Chácara “Boa Vista” H = 0,51, Chácara “Porto Velho” H = 0,64 , Chácara “Rio Branco” H = 1,39, e todas tem a mesma diversidade 3) Em uma dada fazenda, temos: - plantação de milho - criação de galinhas, tanto para produção de ovos como para consumo de sua carne - família de proprietários e demais agregados, que se alimentam do milho, dos ovos e da carne de aves - tanque para acumulo de resíduos (excrementos das aves, esgoto das casas), do tipo biodigestor, onde bactérias se alimentam dos resíduos,com produção de matéria orgânica na forma de húmus, usado como fertilizante para a plantação de milho. A partir das afirmações acima, indique a opção correta abaixo: A) Nesta fazenda pode-se definir uma cadeia alimentar formada por produtores, consumidores e decompositores. B) O tanque de resíduos é formado por consumidores secundários. C) O número máximo de níveis tróficos presentes na cadeia alimentar existente no caso acima é de dois. D) Os proprietários e agregados são exemplos de consumidores primários. E) Não há teias alimentares no caso exposto acima. Em uma determinada fazenda observou-se que:4) - Uma área de pasto ocorre uma espécie de capim que responde pela maioria da biomassa local - O produtor cria um espécie de ruminante que mantém o pasto sob controle comendo-o e fertiliza o solo com seu esterco. Foi determinado que na ausência deste ruminante, a diversidade local tinha tendência de se modificar fortemente, com redução da produtividade do capim e diminuição da quantidade do fungo descrito a seguir - Há uma espécie de fungo que decompõe o esterco em material que é absorvido pelo capim, assim como também promove a desagregação da rocha abaixo, transformando em solo novo e mais nutrientes para o pasto. Assim, observou-se que este fungo tinha e tendência de ocupar o solo primeiro, abrindo caminho para a ocupação pelo capim. A partir das características acima descritas, indique a opção correta a seguir: A) O capim é a espécie dominante, o ruminante e o fungo são as espécies precursoras. B) O capim e o ruminante são as espécies dominantes, e o fungo é a espécies precursora. C) O capim é a espécie dominante, o ruminante e o fungo são as espécies-chaves. D) O capim é a espécie-chave, o ruminante é a espécie dominante e o fungo é a espécies precursora. E) O capim é a espécie dominante, o ruminante é a espécie-chave e o fungo é a espécie precursora. Nas comunidades ecológicas, as relações entre as diversas espécies podem ser simplificados em vários tipos de modelos. Um é o modelo de controle do tipo bottom- up e o outro do tipo top-down . Tais controles são muito utilizados no controle de pragas ou na recuperação de áreas 5) para que possam ser novamente produtivas e sustentar a atividade agrícola. São chamados de biomanipulação. Assim sendo, veja as ações de biomanipulação a seguir: I)Uso de um predador como a vespinha para matar, através de das suas larvas, as lagartas que se alimentam de plantas como o milho e o açúcar II)Uso de plantas que segregam substâncias (como o piretro) que afugentam espécies de insetos herbívoros III)Uso da piaba (uma espécie de peixe, nome científico Leporinus frederici) em lagoas com eutrofização para controlar a expansão de algas IV) Promover o crescimento de corais e algas (através do afundamento de navios, lançamento de estruturas, etc.) para promover o aumento da população de peixes e crustáceos para pesca no litoral. Indique qual opção abaixo mostra, respectivamente, quais operações de manipulação utilizam controles do tipo bottom-up e quais utilizam os controles do tipo top-down. A) Bottom-up: I, II e IV. Top-down: III. B) Bottom-up: I e III. Top-down: II e IV. C) Bottom-up: III e IV. Top-down: I e II. D) Bottom-up: II e IV. Top-down: I e III. E) Bottom-up: II. Top-down: I, III e IV. NA PRÁTICA Um dos exemplos clássicos de modelo trófico em cascata (modelo top-down) foi o fato ocorrido com a teia alimentar da comunidade no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, o parque mais antigo do mundo, estabelecido em 1872. No parque, os lobos são uma espécie-chave. A caça indiscriminada desta espécie reduziu a sua população e a população de alces, que era presa dos lobos, aumentou, consumindo excessivamente as faias (árvore típica do ecossistema local). No item 37.3 do livro de SADAVA, D.; HELLER, H.C.; ORIANS, G.H.; PURVES, W.K.; HILLIS, D.M. Vida: a ciência da biologia. Vol. II. 8ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Como os Lobos mudam rios Este vídeo mostra as reações naturais em cadeia em resposta à reintrodução de Lobos à reserva de Yellowstone. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Vida: a ciência da biologia. Vol. II SADAVA, D.; HELLER, H.C.; ORIANS, G.H.; PURVES, W.K.; HILLIS, D.M. Vida: a ciência da biologia. Vol. II. 8ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Cap. 37. Itens 37.1. e 37.3. Ecologia CAIN, Michael L.; BOWMAN, William D.; HACKER, Sally, D.. Ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2018. Fundamentos em ecologia PINTO-COELHO, Ricardo Motta. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2007. Fundamentos em Ecologia TOWNSEND, Colin R.; Begon, Michael; HARPER, John R. Fundamentos em Ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2010. Atividades humanas e a biodiversidade (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO O tema de estudo desta Unidade de Aprendizagem é a relação da biodiversidade com os serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano. Entre os assuntos abordados estão os níveis de estudo da biodiversidade e os tipos de serviços ecossistêmicos. Bons estudos! Ao final desta unidade você deve apresentar os seguintes aprendizados: Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a biodiversidade.• Contrastar os serviços ecossistêmicos e as atividades humanas.• Relacionar a diversidade do ecossistema com o seu bem-estar.• DESAFIO A agropecuária é uma atividade crítica ao bem estar humano. Ela é fornecedora da alimentação e de inumeráveis produtos, como remédios, fibras têxteis, papel e celulose, entre outros. Pela definição, serviços ecossistêmicos são processos pelos quais os ecossistemas naturais ajudam a sustentar a vida humana. Se os ecossistemas naturais ajudam a manter a vida humana, logo também afetam a atividade agropecuária e por extensão o próprio bem-estar humano. E estes processos são impulsionados se houver maior biodiversidade. Assim sendo, imagine que você trabalha com biologia da conservação e com áreas protegidas e assessora um produtor rural. Digamos, por exemplo, que na propriedade deste agricultor há uma área que foi inclusive identificada como parte um hot spot de biodiversidade (por exemplo, no cerrado do planalto central) e tem várias nascentes de água por lá. Lembre-se que a legislação brasileira exige que deve haver áreas protegidas em propriedades para produção agropecuária. A legislação específica define diversos tipos de unidades de conservação, ou seja, das áreas que devem ter diferentes níveis de proteção. No site do Ministério do meio Ambiente (MMA, disponível em: http://www.mma.gov.br/ ) há uma parte destinada a discussão e classificação das áreas protegidas / unidades de conservação. Logo, tendo em vista a questão dos serviços ecossistêmicos, sua relação com a biodiversidade, a preservaçãodestes serviços e biodiversidade e a instalação de áreas protegidas, responda: -Exemplifique dois serviços ecossistêmicos que podem beneficiar a produção rural. -Por que pode haver uma área (ou mesmo mais áreas) que deve ser preservada integralmente? Relacione sua resposta também com o problema dos serviços ecossistêmicos. -Ela (esta área de proteção) pode ter áreas contíguas para aproveitamento econômico? -Que tipo de Unidade de conservação pode ser instalado no terreno particular? Cite ao menos um possível tipo. (veja os tipos no site do Ministério do Meio Ambiente, mais exatamente no endereço http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao/categorias ) Escreva sua resposta no campo abaixo. INFOGRÁFICO O Infográfico representa a relação da biodiversidade com os serviços ecossistêmicos e o bem- estar humano. http://www.mma.gov.br/ http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao/categorias CONTEÚDO DO LIVRO A Introdução do capítulo 56, da obra Biologia, de Campbell & Reece, 10ª edição, do ano de 2015, versa de forma ampla sobre a Biologia da Conservação e Mudança Global. No item 56.1, o texto aborda a relação da biodiversidade e as atividades humanas. Estude este item até a revisão do conceito 56.3. Equipe de tradução Anne D. Villela (Cap. 2 e 3) Doutora em Biologia Celular e Molecular pela Pontif ícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ardala Breda (Caps. 4, 5, 16, 17, 21) Pesquisadora do Departamento de Bioquímica na Texas A&M University. Ph.D. em Biologia Celular e Molecular pela PUCRS. Armando Divan Molina Junior (Caps. 26 a 34) Biólogo. Pesquisador do Centro de Ecologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Ecologia pela UFRGS. Doutor em Fisiologia Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Christian Viezzer (Caps. 11, 49, 50 e 51) Mestre em Engenharia e Tecnologia de Materiais pela PUCRS. Doutor em Ciência e Tecnologia dos Materiais-PPGEM pela UFRGS. Pós-Doutor em Biologia Celular e Molecular pela PUCRS. Denise Cantarelli Machado (Caps. 7, 12, 13, 19, 24 e 25) Bióloga. Professora da Faculdade de Medicina e Coordenadora do Laboratório de Biologia Celular e Molecular e do Centro de Terapia Celular do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS. Especialista em Biotecnologia. Mestre em Genética pela UFRGS. Doutora em Imunologia pela University of Sheffield, Inglaterra. Pós-Doutora em Imunologia Molecular pela University of Sheffield e National Institutes of Health (NIH), Bethesda, USA. Gaby Renard (Caps. 3, 6, 14, 15, 18, 20, 22, 23 e 45, Iniciais, Apêndices) Pesquisadora da Quatro G Pesquisa & Desenvolvimento Ltda., TECNOPUC. Mestre e Doutora em Ciências Biológicas: Bioquímica pela UFRGS. Jocelei Maria Chies (Cap. 6) Pesquisadora da Quatro G Pesquisa & Desenvolvimento Ltda., TECNOPUC. Mestre em Genética pela UFRGS. Doutora em Biologia Molecular pela Universidade de Brasília (UnB). Jordana Dutra de Mendonça (Caps. 12, 13) Mestre em Ciências Biológicas: Bioquímica pela UFRGS. Laura Roberta Pinto Utz (Caps. 22 a 25) Mestre em Biologia Animal pela UFRGS. Doutora em Marine Estuarine and Environmental Sciences (MEES) pela University of Maryland at College Park. Leandro Vieira Astarita (Cap. 10) Biólogo. Professor adjunto da Faculdade de Biociências da PUCRS. Doutor em Ciências (ênfase em Botânica) pela Universidade de São Paulo (USP). Leonardo Krás Borges Martinelli (Cap. 9) Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Tuberculose (INCT-TB/PUCRS). Mestre em Engenharia Biomédica pela PUCRS. Doutor em Biologia Celular e Molecular pela PUCRS. Paulo Luiz de Oliveira (Caps. 2, 8, 35 a 39, 40 a 44 e 52 a 56) Biólogo. Professor titular aposentado do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da UFRGS. Mestre em Botânica pela UFRGS. Doutor em Ciências Agrárias pela Universität Hohenheim, Stuttgart, República Federal da Alemanha. Rodrigo Gay Ducati (Cap. 1) Pesquisador pós-doutor no Albert Einstein College of Medicine (Bronx, NY - EUA). Mestre em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS. Doutor em Biologia Celular e Molecular pela UFRGS. Thamires Barreto Ferreira (Caps. 46, 47 e 48) Bióloga. Graduada em Ciências Biológicas pela PUCRS. Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 B615 Biologia de Campbell [recurso eletrônico] / Jane B. Reece ... [et al.] ; [tradução : Anne D. Villela ... et al.] ; revisão técnica : Denise Cantarelli Machado, Gaby Renard, Paulo Luiz de Oliveira. – 10. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2015. Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8271-230-6 1. Biologia. I. Reece, Jane B. CDU 573 Tesouro psicodélico Movendo-se com rapidez sobre um afloramento rochoso, uma lagartixa estaca abruptamente em uma mancha de luz solar. Um biólogo da con- servação percebe o movimento, vira-se e depara-se com uma lagartixa com as cores do arco-íris, as pernas e a cauda em cor de laranja vivo, o corpo de um azul chamativo e a cabeça manchada de amarelo e verde. A lagartixa-psi- codélica-da-rocha (Cnemaspis psychedelica) (Figura 56.1) foi descoberta em 2009 durante uma expedição à região de Greater Mekong, no sudeste da Ásia. Seu hábitat conhecido está restrito a Hon Khoai, ilha que ocupa apenas 8 km2, ao sul do Vietnã. Outras novas espécies encontradas durante a mes- ma série de expedições incluem o macaco-elvis (Rhinopithecus strykeri, ver ilustração inferior à esquerda), que exibe um “penteado” semelhante ao de Elvis Presley. Entre 2000 e 2010, os biólogos identificaram mais de mil novas espécies apenas na região de Greater Mekong. Até agora, os cientistas descreveram e denominaram formalmente cerca de 1,8 milhões de espécies de organismos. Alguns biólo- gos acreditam que hoje existem cerca de mais 10 milhões de espécies; outros estimam que o número chegue a 100 milhões de espécies. Algumas das maiores concen- trações de espécies são constatadas nos trópicos. Infelizmente, as florestas tropicais estão sendo derrubadas em uma taxa alarmante, para ocu- pação e sustentação de uma população humana crescente. As taxas de desmatamento no Vietnã (Figura 56.2) estão entre as mais altas do mundo. Como ficarão a lagartixa-psicodélica-da-rocha e Figura 56.1 Qual será o destino dessa recém-descri- ta espécie de lagartixa? 56 Biologia da Conservação e Mudança Global C O N C E I T O S - C H A V E 56.1 As atividades humanas ameaçam a biodiversidade da Terra 56.2 A conservação de popu- lações enfoca o tamanho populacional, a diversida- de genética e os hábitats críticos 56.3 A conservação regional e da paisagem ajuda a sus- tentar a biodiversidade 56.4 A Terra está mudando rapi- damente como consequên- cia de ações humanas 56.5 O desenvolvimento susten- tável pode melhorar vidas humanas junto com a con- servação da biodiversidade BIOLOGIA DE CAMPBELL 1255 outras espécies recentemente descobertas, se essas ativi- dades continuarem desenfreadas? Por toda a biosfera, as atividades humanas estão alte- rando as estruturas tróficas, o fluxo de energia, a ciclagem química e os distúrbios naturais – processos ecossistêmi- cos dos quais nós e todas as outras espécies dependem (ver Capítulo 55). Alteramos fisicamente quase a meta- de da superf ície terrestre no nosso planeta e utilizamos mais da metade de toda a superf ície de água doce aces- sível. Nos oceanos, os estoques da maioria das espécies de peixes mais importantes estão diminuindo devido à exploração excessiva. Segundo algumas estimativas, tal- vez estejamos levando mais espécies à extinção do que o grande asteroide que desencadeou as extinções em mas- sa no final do período Cretáceo, há 65,5 milhões de anos (ver Figura 25.18). A biologia é a ciência da vida. Portanto, é oportuno que este capítulo dedique uma perspectiva global às mu- danças que acontecem pela Terra, dando ênfase a uma disciplina que busca preservar a vida. A biologia da con- servação integraecologia, fisiologia, biologia molecular, genética e biologia evolutiva para conservar a diversidade biológica em todos os níveis. Os esforços para sustentar os processos ecossistêmicos e conter a perda de biodiversida- de também conectam as ciências da vida com as ciências sociais, economia e humanidades. Neste capítulo, daremos especial atenção à crise da biodiversidade e estudaremos algumas das estratégias con- servacionistas que estão sendo adotadas para retardar a taxa de perda de espécies. Também examinaremos como as atividades humanas estão alterando o ambiente pelas mudanças climáticas, depleção do ozônio e outros pro- cessos globais. Por fim, consideraremos como as decisões sobre prioridades de conservação a longo prazo poderiam afetar a vida na Terra. CONCEITO 56.1 As atividades humanas ameaçam a biodiversidade da Terra A extinção é um fenômeno natural que vem ocorrendo desde o começo da evolução da vida; a responsável pela crise atual da biodiversidade é a alta taxa de extinção (ver Conceito 25.4). Como só é possível estimar o número de espécies hoje existentes, não conseguimos determinar a taxa exata de perda de espécies. No entanto, sabemos que a taxa de extinção é alta e que as atividades humanas amea- çam a biodiversidade da Terra em todos os níveis. Três níveis de biodiversidade A biodiversidade – abreviatura de diversidade biológica – pode ser considerada em três níveis principais: diversidade genética, diversidade de espécies e diversidade de ecossis- temas (Figura 56.3). Figura 56.2 Derrubada de floresta tropical no Vietnã. Diversidade genética em uma população de arganazes Diversidade de espécies em um ecossistema costeiro de sequoias Diversidade de comunidades e ecossistemas ao longo da paisagem de uma região inteira Figura 56.3 Três níveis de biodiversidade. Os cromosso- mos ampliados no diagrama superior simbolizam a variação genéti- ca dentro da população. 1256 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON Diversidade genética A diversidade genética consiste não apenas na variação ge- nética individual dentro de uma população, mas também na variação genética entre populações, muitas vezes asso- ciada com adaptações às condições locais (ver Capítulo 23). Se uma população é extinta, a espécie pode então perder parte da diversidade genética que torna possível a microe- volução. Essa erosão da diversidade genética, por sua vez, reduz o potencial adaptativo da espécie. Diversidade de espécies A consciência pública da crise da biodiversidade está cen- trada na diversidade de espécies – as diferentes espécies em um ecossistema ou em toda a biosfera (ver Capítulo 54). Quanto mais espécies são perdidas por extinção, a diver- sidade de espécies diminui. A Lei das Espécies em Perigo (Endangered Species Act, ESA) dos Estados Unidos define uma espécie em perigo como a que está “em perigo de extinção ao longo da sua área de distribuição ou em par- te significativa dela”. Consideram-se espécies ameaçadas aquelas que provavelmente estarão em perigo no futuro próximo. A seguir, são apresentados alguns dados estatísti- cos que ilustram o problema da perda de espécies: d De acordo com a União Internacional para Conserva- ção da Natureza e Recursos Naturais (International Union for Conservation of Nature and Natural Resour- ces, IUCN), 12% das 10.000 espécies de aves conheci- das e 21% das 5.500 espécies de mamíferos conhecidas estão ameaçadas. d Um levantamento do Centro de Conservação Vegetal mostrou que das quase 20.000 espécies vegetais co- nhecidas nos Estados Unidos, 200 foram extintas des- de que esses registros têm sido mantidos e 730 estão em perigo ou ameaçadas. d Na América do Norte, pelo menos 123 espécies animais de água doce foram extintas desde 1900 e centenas de outras espécies estão ameaçadas. A taxa de extinções da fauna de água doce da América do Norte é em torno de cinco vezes maior do que a dos animais terrestres. A extinção de espécies também pode ser local; uma espécie pode ser perdida em um sistema de rios, mas so- breviver em um sistema adjacente. A extinção global de uma espécie significa que ela foi perdida em todos os ecos- sistemas em que vivia, deixando-os permanentemente em- pobrecidos (Figura 56.4). Diversidade de ecossistemas A variedade dos ecossistemas da biosfera é o terceiro nível de diversidade biológica. Devido às muitas interações en- tre populações de espécies diferentes em um ecossistema, a extinção local de uma espécie pode ter impacto negativo sobre outras espécies no ecossistema (ver Figura 54.18). Por exemplo, os morcegos denominados “raposas voado- ras” são importantes polinizadores e dispersores de semen- tes nas Ilhas do Pacífico, onde são cada vez mais caçados como iguaria (Figura 56.5). Os biólogos da conservação temem que a extinção das raposas voadoras prejudique também as plantas nativas das Ilhas Samoa, onde quatro quintos das espécies arbóreas dependem desses animais para a polinização ou a dispersão das sementes. Alguns ecossistemas já foram muito afetados por ações humanas e outros estão sendo alterados em ritmo acelerado. Desde o início da colonização europeia, mais da metade das áreas úmidas contíguas aos Estados Unidos foi drenada e convertida para atividades agrícolas e outros usos. Na Califórnia, no Arizona e no Novo México, apro- ximadamente 90% das comunidades ciliares nativas foram afetadas por pastejo excessivo, controle de inundações, ati- vidades de lazer na água, abaixamento do lençol freático e invasão de plantas exóticas (não nativas). Águia-das-filipinas Golfinho-do- -rio-yangtze Figura 56.4 A cem batimentos cardíacos da extinção. Es- tes são dois membros do Clube dos Cem Batimentos Cardíacos, denominação dada pelo biólogo E. O. Wilson, da Universidade de Harvard, ao grupo de espécies com menos de 100 indivíduos rema- nescentes na Terra. O golfinho-do-rio-yangtze provavelmente esteja extinto, mas alguns indivíduos foram avistados em 2007. ? Para documentar que uma espécie foi de fato extinta, quais fatores você necessitaria considerar? Figura 56.5 O morcego “raposa voadora” das Marianas (Pteropus mariannus), um importante polinizador em risco de extinção. BIOLOGIA DE CAMPBELL 1257 Biodiversidade e bem-estar humano Por que deveríamos nos preocupar com a perda da bio- diversidade? Uma razão é o que o biólogo E. O. Wilson chama de biofilia: nosso sentimento de conexão com a natureza e todas as formas de vida. A crença de que as ou- tras espécies têm direito à vida é um tema generalizado em muitas religiões e a base de um argumento moral de que deveríamos proteger a biodiversidade. Existe também uma preocupação com as futuras gerações humanas. Parafrase- ando um antigo provérbio, G. H. Brundtland, ex-primeiro- -ministro da Noruega, disse: “Devemos considerar que o nosso planeta é um empréstimo de nossos filhos, em vez de um presente de nossos ancestrais”. Além dessas justificati- vas filosóficas e morais, a diversidade de espécies e a di- versidade genética nos trazem muitos benef ícios práticos. Benefícios da diversidade de espécies e da diversidade genética Muitas espécies que estão ameaçadas têm o potencial de fornecer medicamentos, alimento e fibras para uso humano, tornando a biodiversidade um recurso natural crucial. Os produtos do ácido acetilsalicílico para antibióti- cos foram derivados originalmente de recursos naturais. Na produção de alimentos, se perdermos populações vegetais nativas intimamente relacionadas com espécies cultivadas, perdemos recursos genéticos que poderiam ser usados para melhorar características das culturas, como a resistência a doenças. Por exemplo, os melhoristas vegetais responde- ram aos surtos devastadores de um vírus do gênero Tenui- virus (grassy stunt virus) que ataca o arroz (Oriza sativa) rastreando 7.000 populações dessa espécie e de seus paren- tes próximos, para obter resistência ao vírus. Constatou- -se que uma população de uma única espécie próxima, o arroz-indiano(Oryza nivara), era resistente ao vírus, e os cientistas introduziram a característica de resistência nas variedades comerciais do arroz. Hoje, a população original resistente à doença aparentemente está extinta na natureza. Nos Estados Unidos, cerca de 25% das prescrições mé- dicas elaboradas em farmácias contêm substâncias origi- nalmente derivadas de vegetais. Na década de 1970, os pes- quisadores descobriram que a vinca-rosa, nativa da ilha de Madagascar, na costa da África, contém alcaloides que ini- bem o crescimento de células cancerígenas (Figura 56.6). Essa descoberta levou ao tratamento de duas formas letais de câncer, o linfoma de Hodgkin e um tipo de leucemia infantil, resultando em remissão na maioria dos casos. Madagascar é também o local de ocorrência de cinco ou- tras espécies de vincas, uma das quais está próxima da ex- tinção. A perda dessas espécies significaria perder todos os possíveis benef ícios medicinais que elas podem oferecer. Cada espécie extinta significa a perda de genes únicos, alguns dos quais podem codificar proteínas extremamente úteis. A enzima Taq-polimerase foi extraída inicialmente de uma bactéria, Thermus acquaticus, encontrada em fontes termais no Parque Nacional de Yellowstone. Essa enzima é essencial para a reação em cadeia da polimerase (PCR), pois é estável sob as temperaturas altas necessárias a PCR auto- matizada (ver Figura 20.8). O DNA de muitas outras espécies de procariotos, vivendo em uma variedade de ambientes, é utilizado na produção em massa de proteínas para novos medicamentos, alimentos, substitutos do petróleo, outras substâncias químicas industriais e outros produtos. Contu- do, como milhões de espécies podem ser extintas antes de as descobrirmos, estamos desperdiçando o valioso potencial genético guardado em suas exclusivas bibliotecas de genes. Serviços ecossistêmicos Os benef ícios que espécies individuais proporcionam ao homem são substanciais, mas a salvação dessas espécies é apenas uma parte do motivo para salvar os ecossistemas, Os seres humanos evoluíram em ecossistemas terrestres, e dependemos desses sistemas e de seus habitantes para nossa sobrevivência. Os serviços ecossistêmicos englo- bam todos os processos pelos quais os ecossistemas na- turais ajudam a sustentar a vida humana. Os ecossistemas purificam nosso ar e nossa água. Eles desintoxicam e de- compõem nossos resíduos e reduzem os impactos de con- dições climáticas e inundações extremas. Os organismos nos ecossistemas polinizam nossas culturas e controlam pragas, bem como criam e preservam nossos solos. Além disso, esses serviços são fornecidos de graça. Talvez por não atribuirmos um valor monetário aos serviços dos ecossistemas naturais, geralmente os subva- lorizamos. Em 1997, o ecólogo Robert Costanza e seus co- laboradores estimaram o valor dos serviços ecossistêmicos da Terra em 33 trilhões de dólares por ano, quase o dobro do produto interno bruto de todos os países no mundo na- quela época (18 trilhões de dólares). Pode ser mais realista fazer essa contabilidade em uma escala menor. Em 1966, a cidade de Nova Iorque investiu mais do que 1 bilhão de dólares para desapropriar terras e restaurar hábitats nas Montanhas Catskill, a fonte da maior parte da água doce consumida na cidade. Esse investimento foi estimulado pela crescente poluição da água por esgoto, pesticidas e fertilizantes. Ao aproveitar os serviços ecossistêmicos para purificar naturalmente sua água, a cidade economizou 8 bilhões de dólares que seriam gastos para construção de uma nova estação de tratamento de água e 300 milhões de dólares por ano para mantê-la em funcionamento. Existem cada vez mais evidências de que o funciona- mento dos ecossistemas e, portanto, a sua capacidade de prestar serviços estão vinculados à biodiversidade. À me- dida que as atividades humanas reduzem a biodiversida- de, estamos diminuindo a capacidade dos ecossistemas do Figura 56.6 A vinca-rosa (Catha- ranthus roseus), espé- cie vegetal que salva vidas. 1258 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON planeta de desempenhar processos cruciais para a nossa própria sobrevivência. Ameaças à biodiversidade Muitas atividades humanas diferentes ameaçam a biodi- versidade em escalas local, regional e global. As ameaças impostas por essas atividades são de quatro tipos princi- pais: perda de hábitat, espécies introduzidas, sobre-explo- ração e mudança global. Perda de hábitats A alteração de hábitats pelo homem é a maior ameaça à bio- diversidade em toda a biosfera. A perda de hábitat tem sido produzida por fatores como a agricultura, expansão urbana, plantio de florestas monoespecíficas, mineração e polui- ção. Conforme discutido adiante neste capítulo, a mudança climática global já está alterando hábitats e terá um efeito maior ainda neste século. Quando não há hábitat alterna- tivo disponível ou uma espécie é incapaz de se deslocar, a perda do hábitat pode significar extinção. A IUCN vincula a destruição de hábitats para 73% das espécies que foram ex- tintas, em perigo, vulneráveis ou raras nos últimos séculos. A perda e a fragmentação de hábitats podem ocorrer em regiões imensas. Cerca de 98% das florestas tropicais secas da América Central e do México têm sido desmata- das. A derrubada da floresta pluvial tropical no estado de Veracruz, México, principalmente para a pecuária bovina, resultou na perda de mais de 90% da floresta original, res- tando manchas florestais relativamente pequenas e isola- das. Outros hábitats naturais têm sido fragmentados por atividades humanas (Figura 56.7). Em quase todos os casos, a fragmentação de hábitats leva à perda de espécies, pois as populações menores em hábitats fragmentados têm maior probabilidade de extin- ção local. As pradarias cobriam cerca de 800.000 hectares no sul do estado de Wisconsin, quando os primeiros euro- peus chegaram, mas hoje ocupam apenas 800 hectares; a maior parte das pradarias originais nessa área é atualmente utilizada para o cultivo de lavouras. Os levantamentos da diversidade vegetal de 54 remanescentes de pradarias em Wisconsin, realizados em 1848-1954 e 1987-1988, mostra- ram que esses locais perderam de 8 a 60% de suas espécies vegetais no período entre os dois inventários. A perda de hábitat é também uma ameaça importan- te à biodiversidade aquática. Cerca de 70% dos recifes de corais, entre as comunidades aquáticas mais ricas em es- pécies da Terra, têm sido danificados por atividades hu- manas. Na taxa atual de destruição, 40 a 50% dos recifes, hábitat de ⅓ das espécies de peixes marinhos, poderiam desaparecer nos próximos 30 a 40 anos. Os hábitats de água doce também estão sendo perdidos, muitas vezes como consequência de barragens, reservatórios, modificação de canais e regulação de fluxo que hoje afetam a maioria dos rios do mundo. Por exemplo, as mais de 30 barragens e eclusas construídas ao longo da bacia do Rio Mobile, no sudeste dos Estados Unidos, alteraram a profundidade e o fluxo do rio. Ao mesmo tempo em que proporcionaram os benef ícios da usina hidroelétrica e aumentaram o tráfego de navios, essas barragens e eclusas a ajudaram a levar à extinção mais 80 espécies de mexilhões e caracóis. Espécies introduzidas Espécies introduzidas, também chamadas de espécies exóticas, são aquelas que os seres humanos, intencional ou acidentalmente, deslocam uma espécie dos locais onde ela é nativa para novas regiões geográficas. As viagens dos se- res humanos por navio e avião aceleraram a transferência de espécies. Livres dos predadores, parasitos e patógenos que limitam suas populações nos hábitats nativos, essas es- pécies introduzidas podem se expandir rapidamente por uma nova região. Algumas espécies introduzidas transtornam sua nova comunidade, muitas vezes predando organismos nativos ou competindo com eles por recursos. A serpente-arbo- rícola-marrom foi introduzida acidentalmente na ilha de Guam, a partir de outras partes do Pacífico Sul,como “passageiro clandestino” em um cargueiro militar após a Segunda Guerra Mundial. Desde então, 12 espécies de aves e 6 espécies de lagartos foram extintas de Guam devido à predação pelas serpentes. O devastador mexilhão-zebra, espécie de molusco filtrador, foi introduzido nos Grandes Lagos da América do Norte em 1988, mais provavelmente na água de lastro de navios procedentes da Europa. Os me- xilhões-zebra formam densas colônias e têm impactado ecossistemas de água doce, ameaçando espécies aquáticas nativas. Eles têm igualmente obstruído estruturas de cap- tação de água, causando bilhões de dólares de prejuízo aos sistemas doméstico e industrial de abastecimento de água. Com boas intenções, mas com efeitos desastrosos, os seres humanos têm introduzido deliberadamente muitas espécies. Uma planta asiática denominada kudzu (gênero Pueraria), introduzida pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para ajudar a controlar a erosão no sul do país, tem ocupado grandes áreas da paisagem regional (Figura 56.8). O estorninho europeu foi trazido intencio- nalmente para o Central Park em Nova Iorque, em 1890, por um grupo de cidadãos, com a intenção de introduzir todos os vegetais e animais mencionados nas peças de Shakespeare. Ele rapidamente se expandiu pela América do Figura 56.7 Fragmentação de hábitats nos contrafortes de Los Angeles. O desenvolvimento nos vales pode confinar os organismos que habitam as faixas estreitas de encosta. Norte, onde sua população atual é superior a 100 milhões de indivíduos, deslocando muitas aves canoras nativas. As espécies introduzidas são um problema mundial, contribuindo por aproximadamente 40% das extinções re- gistradas desde 1750 e custando anualmente bilhões de dó- lares em danos e esforços para o controle. Só nos Estados Unidos existem mais de 50.000 espécies introduzidas. Sobre-exploração O termo sobre-exploração refere-se geralmente à coleta de organismos nativos em taxas que excedem a capacidade de recuperação de suas populações. As espécies com há- bitats restritos, como as pequenas ilhas, são especialmente vulneráveis à sobre-exploração. Uma dessas espécies era o arau-gigante, ave marinha não voadora encontrada em ilhas do Atlântico Norte. Para satisfazer a demanda de pe- nas, ovos e carne, já na década de 1840 o homem havia ca- çado o arau-gigante até a extinção. Organismos grandes com taxas reprodutivas baixas, como os elefantes, as baleias e os rinocerontes, também são suscetíveis à sobre-exploração. O declínio dos maiores ani- mais terrestres, os elefantes africanos, é um exemplo clássi- co do impacto da caça excessiva. Em grande parte devido ao comércio do marfim, nos últimos 50 anos as populações de elefante têm sido reduzidas na maior parte da África. Uma proibição internacional da venda de marfim provocou o au- mento da caça ilegal, de modo que essa proibição teve pouco efeito em grande parte do centro e do leste da África. Ape- nas na África do Sul, onde manadas antes dizimadas vinham sendo protegidas por quase um século, as populações de ele- fante se estabilizaram ou aumentaram (ver Figura 53.9). Os biólogos da conservação cada vez mais empregam as ferramentas da genética molecular para rastrear a ori- gem de tecidos coletados de espécies em perigo de extin- ção. Pesquisadores da Universidade de Washington cons- truíram um mapa de referência de DNA para o elefante africano (Loxodonta africana), utilizando DNA isolado das suas fezes. Por comparação desse mapa de referência com DNA isolado do marfim obtido ilegalmente ou por caça- dores clandestinos, com a precisão de algumas centenas de quilômetros, os pesquisadores conseguiram determinar onde os elefantes foram mortos (Figura 56.9). Um trabalho dessa natureza feito em Zâmbia sugeriu que as taxas de caça ilegal eram 30 vezes maiores do que fora estimado anterior- mente, levando o governo do país a intensificar os esforços contra esse tipo de infração. De maneira similar, utilizando análises filogenéticas do DNA mitocondrial (DNAmt), os biólogos demonstraram que parte da carne de baleia ven- dida nos mercados japoneses provinha de espécies explo- radas ilegalmente, incluindo a baleia-fin e a baleia-jubarte, que estão em perigo de extinção (ver Figura 26.6). Muitas populações de peixes comercialmente impor- tantes, outrora consideradas inesgotáveis, têm sido dizi- madas pela sobrepesca. As demandas por alimento rico em proteínas de uma crescente população humana, associada a novas tecnologias de exploração, como a pesca com espi- nheis e modernas redes de arrasto, reduziram essas popu- lações de peixes a níveis que não sustentam mais explora- ção. Até algumas décadas passadas, o atum-verdadeiro do Atlântico Norte era apreciado para pesca esportiva e consi- derado de pouco valor comercial – apenas alguns centavos por quilo, para uso na ração de gatos. Na década de 1980, no entanto, os atacadistas começaram a enviar por via aé- rea atum congelado para o Japão, para produção de sushi e sashimi. Nesse mercado atual (Figura 56.10), o quilo do peixe pode chegar a 100 dólares. Com a crescente explora- Figura 56.8 Kudzu, espécie introduzida, crescendo na Carolina do Sul. Figura 56.10 Sobre-exploração. Leilão do atum-verdadeiro do Atlântico Norte em um mercado de peixes japonês. Figura 56.9 Ecologia forense e caça ilegal de elefante. Estas presas cortadas faziam parte de carregamento ilegal de marfim, inter- ceptado na sua rota da África para Cingapura, em 2002. As evidências baseadas no DNA mostraram os milhares de elefantes mortos para a retirada de presas provinham de uma estreita faixa no sentido leste- -oeste centrada em Zâmbia e não de um lado a outro da África. FAÇA CONEXÕES O texto e a Figura 26.6 descrevem outro exemplo em que os biólogos da conservação usaram análises de DNA, para comparar amostras coletadas da carne de baleia com um banco de dados de DNA de referência. De que modo esses exem- plos são semelhantes e como eles são diferentes? Que limitações poderiam existir usando esses métodos forenses em outros casos suspeitos de caça ilegal? 1260 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON ção estimulada por esses preços altos, em apenas 10 anos a população do atum-verdadeiro do Atlântico Norte ociden- tal foi reduzida a menos de 20% do seu tamanho em 1980. Mudança global A quarta ameaça à biodiversidade, a mudança global, al- tera a estrutura de ecossistemas da Terra, em escalas re- gional a global. A mudança global abrange alterações no clima, química atmosférica e sistemas ecológicos amplos que reduzem a capacidade da Terra de sustentar a vida. Um dos primeiros tipos de mudança global a causar preocupação foi a precipitação ácida, que é chuva, neve, gra- nizo ou neblina com pH inferior a 5,2. A queima de madeira e combustíveis fósseis libera óxidos de enxofre e nitrogênio que reagem com a água no ar, formando ácidos sulfúrico e nítrico. Por fim, os ácidos caem sobre a superf ície da Terra, prejudicando alguns organismos aquáticos e terrestres. Na década de 1960, os ecólogos constataram que or- ganismos habitantes de lagos no leste do Canadá estavam morrendo por causa da poluição do ar, originada em fábricas no Meio-Oeste dos Estados Unidos. A truta de lago recém- -desovada, por exemplo, morre quando o pH diminui abaixo de 5,4. Lagos e riachos no sul da Noruega e Suécia estavam perdendo peixes devido à poluição gerada na Grã-Bretanha e Europa Central. Em 1980, o pH da precipitação em grandes áreas na América do Norte e Europa alcançou a média de 4,0 a 4,5 e às vezes caiu para 3,0. (Revisar o pH no Conceito 3.3.) As regulamentações ambientais e as novas tecnologias têm permitido que muitos países reduzam as emissões de dióxido de enxofre em décadas recentes. Nos Estados Uni- dos, as emissões de dióxido de enxofre diminuíram mais 40% entre 1993 e 2008, reduzindo gradualmente a acidez da precipitação (Figura 56.11). Todavia, os ecólogos estimam que serão necessáriasdécadas para os ambientes aquáticos se recuperarem. Ao mesmo tempo, as emissões de óxidos de nitrogênio estão aumentando nos Estados Unidos e as emissões de dióxido de enxofre e a precipitação ácida conti- nuam a danificar florestas no centro e leste europeus. Exploraremos a importância da mudança global para a biodiversidade da Terra mais detalhadamente no Conceito 56.4, onde serão examinados fatores como a mudança cli- mática e a depleção do ozônio. Espécies extintas podem ser ressuscitadas? Até onde vai o nosso conhecimento, a extinção sempre tem sido permanente. Contudo, alguns cientistas estão tentan- do usar clonagem para ressuscitar espécies que foram ex- tintas. A ressurreição de espécies é ao menos teoricamente possível devido aos recentes avanços na clonagem de ani- mais vivos. O caso mais famoso de clonagem resultou no nascimento da ovelha “Dolly” em 1997 (ver Figura 20.17). Para criar a Dolly, pesquisadores escoceses utilizaram o óvulo de uma ovelha adulta, retiraram seu núcleo, fusio- naram esse óvulo com uma célula mamária de outra ovelha e implantaram a célula fusionada em uma mãe de aluguel. Os pesquisadores espanhóis adotaram uma aborda- gem similar com o íbex-dos-pirineus (Capra pyrenaica pyrenaica), uma das quatro subespécies da cabra selvagem endêmica da Espanha e outros países da Península Ibérica. Em 1999, os pesquisadores retiraram uma pequena amos- tra de pele da orelha do último indivíduo vivo, uma fêmea, e a congelaram. Quando essa fêmea morreu um ano de- pois, sua subespécie tornou-se extinta. Usando células do tecido congelado, os cientistas tentaram então ressuscitar o íbex. Das centenas de células fusionadas e aproximada- mente 60 embriões implantados nas mães de aluguel (outra espécie de íbex ou cabra doméstica), nasceu um indivíduo de íbex em 2009. Lamentavelmente, ele viveu por apenas 7 minutos, antes de sucumbir por defeitos pulmonares se- melhantes aos observados em outros animais clonados, in- cluindo ovelhas. Contudo, essa pesquisa demonstrou que a recuperação de espécies pode ser possível em casos onde há disponibilidade de tecido congelado. O tecido de uma espécie extinta não necessita ser novo para o emprego na clonagem. Uma equipe de pesquisadores russos e japoneses está tentando reviver o extinto mamute- -lanoso (Mammuthus primigenius) usando medula óssea bem preservada da coxa de um mamute congelado no gelo do Ártico (Figura 56.12). Eles terão sucesso? Ninguém sabe ainda, mas no final provavelmente alguém terá, com essa es- pécie e com outras. Na verdade, os cientistas já estão arma- zenando tecidos congelados de muitas espécies em perigo de extinção, de modo que células estarão disponíveis para clonagem se essas espécies forem extintas. Outros cientistas estão estudando a possibilidade de obter células viáveis de espécimes de museu, como peles ou penas. E, é claro, alguns estão tentando isolar DNA de tecidos moles de fósseis de dinossauros. Até agora, essas tentativas falharam. A tentativa de ressuscitar espécies extintas provoca uma série de questões éticas. Os cientistas deveriam ser livres para ressuscitar qualquer espécie da qual houvesse células ou DNA disponíveis? Se não, quem decidirá quais espécies estão proibidas? Quais regras deveriam ser esta- 20052000 20101995199019851980 Ano 1975197019651960 4,0 4,1 4,2 pH 4,3 4,4 4,5 4,6 4,7 4,8 Figura 56.11 Mudanças no pH da precipitação na Flores- ta Experimental de Hubbard Brook, New Hampshire. FAÇA CONEXÕES Descreva a relação entre pH e acidez. (Ver Conceito 3.3.) No geral, a precipitação nesta floresta está se tornan- do mais ácida ou menos ácida? BIOLOGIA DE CAMPBELL 1261 belecidas antes que a ressurreição ocorra? Ao fim de tudo, a espécie deveria ser recuperada para a vida selvagem? Ob- serve que, para o íbex-dos-pirineus, existe tecido congela- do apenas de uma fêmea. Nenhum macho da subespécie poderá existir de novo. Embora hoje a ressurreição de espécies pareça possí- vel, ainda necessitamos preservar espécies por toda a Ter- ra. Por muitas razões, incluindo o tópico da diversidade ge- nética discutido no Conceito 56.2, científica e eticamente a preservação permanece o plano de ação prudente. REVISÃO DO CONCEITO 56.1 1. Explique por que é tão limitado definir a crise da biodiversida- de simplesmente como perda de espécies. 2. Identifique as quatro principais ameaças à biodiversidade e explique como cada uma prejudica a diversidade. 3. E SE.. .? Imagine duas populações de uma espécie de pei- xe: uma no Mar Mediterrâneo e a outra no Mar do Caribe. Agora, imagine dois cenários: (1) As populações reprodu- zem-se separadamente e (2) os adultos das duas popula- ções migram todos os anos ao Atlântico Norte para acasa- lar. Qual cenário resultaria em maior perda de diversidade genética, se a população mediterrânea fosse explorada até a extinção? Explique sua resposta. Ver respostas sugeridas no Apêndice A. CONCEITO 56.2 A conservação de populações enfoca o tamanho populacional, a diversidade genética e os hábitats críticos Os biólogos que trabalham com conservação em níveis de população e de espécie empregam duas abordagens prin- cipais. Uma abordagem enfoca populações que são peque- nas e, por isso, muitas vezes vulneráveis. A outra dá ênfase às populações que estão declinando rapidamente, mesmo se ainda não são pequenas. Abordagem das populações pequenas As populações pequenas são particularmente vulneráveis à sobre-exploração, à perda de hábitats e a outras ameaças à biodiversidade estudadas no Conceito 56.1. Após esses fato- res terem reduzido o tamanho de uma população a um nú- mero pequeno de indivíduos, o tamanho pequeno, por si só, pode levar a população à extinção. Os biólogos da conser- vação que adotam a abordagem das populações pequenas estudam os diversos processos que causam extinções, uma vez que os tamanhos populacionais tenham sido reduzidos. Vórtice de extinção: implicações evolutivas do pequeno tamanho populacional EVOLUÇÃO Uma população pequena é vulnerável ao en- docruzamento e à deriva genética, que atraem a popula- ção para um vórtice de extinção em direção a tamanhos cada vez menores, até que nenhum indivíduo sobreviva (Figura 56.13). Um fator-chave que aciona o vórtice de ex- tinção é a perda da variação genética que permite respostas evolutivas às mudanças ambientais, como o aparecimento de novas linhagens de patógenos. O endocruzamento e a deriva genética podem causar a perda de variação genética (ver Capítulo 23), e seus efeitos tornam-se mais prejudi- ciais à medida que uma população diminui. O endocruza- mento com frequência reduz o valor adaptativo (fitness) porque os descendentes têm maior probabilidade de ser homozigotos para características recessivas deletérias. Nem todas as populações pequenas são fadadas à ex- tinção pela diversidade genética baixa, e a variabilidade genética baixa não conduz automaticamente a populações permanentemente pequenas. Por exemplo, a sobrecaça de elefantes marinhos do norte na década de 1890 diminuiu a espécie para apenas 20 indivíduos – claramente um gar- galo com variação genética reduzida. Desde aquela época até hoje, entretanto, as populações dessa espécie subiram para cerca de 150.000 indivíduos, embora sua variação ge- nética permaneça relativamente baixa. Portanto, a diver- sidade genética baixa nem sempre impede o crescimento populacional. Figura 56.12 Coleta de um mamute-lanoso congelado. Estes espécimes estão sendo utilizados na tentativa de ressuscitar a espécie por meio da tecnologia. População pequena Perda de variabilidade genética Endocruza- mento, deriva genética População menor Redução da reprodução, aumento da mortalidade Redução do valor adaptativo individual e da adaptabilidade da população © Pearson Education, Inc. Figura 56.13 Processos que acionam um vórtice de ex- tinção. 1262 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON Estudo de caso: o tetraz-das-pradarias e o vórticeda extinção Quando os europeus chegaram à América do Norte, o te- traz-das-pradarias (Tympanuchus cupido) era comum da Nova Inglaterra até a Virgínia e pelas pradarias no oeste do continente. O cultivo agrícola fragmentou as popula- ções da espécie, e sua abundância diminuiu rapidamente (ver Figura 23.11). No século XIX, o estado de Illinois ti- nha milhões de tetrazes-das-pradarias, mas menos de 50 indivíduos em 1993. Os pesquisadores constataram que o declínio na população de Illinois estava associado a um de- créscimo na fertilidade. Para testar a hipótese do vórtice de extinção, os cientistas aumentaram a variabilidade genética importando 271 aves de populações maiores de outros lu- gares (Figura 56.14). A população de Illinois se recuperou, confirmando que ela estava a caminho do vórtice de extin- ção antes de ser salva pela importação de variação genética. Tamanho populacional mínimo viável Quão pequena deve ser uma população antes de entrar em um vórtice de extinção? A resposta depende do tipo de or- ganismo e outros fatores. Predadores grandes que ocupam o topo da cadeia alimentar geralmente necessitam de áreas de vida extensas, resultando em densidades populacionais bai- xas. Por essa razão, nem todas as espécies raras preocupam os biólogos da conservação. Todas as populações, no entanto, precisam ter um tamanho mínimo para se manterem viáveis. O tamanho populacional mínimo em que uma espé- cie é capaz de sustentar seus membros é conhecido como população mínima viável (PMV). A PMV é geralmente estimada para determinada espécie, usando modelos com- putacionais que integram muitos fatores. O cálculo pode incluir, por exemplo, a estimativa de quantos indivíduos em uma população pequena têm a probabilidade de mor- rer por catástrofes naturais, como uma tempestade. Uma vez no vórtice de extinção, dois ou três anos consecutivos de condições climáticas desfavoráveis poderiam extermi- nar uma população que já estiver abaixo da sua PMV. Tamanho populacional efetivo A variabilidade genética é o assunto-chave na abordagem da população pequena. O tamanho total de uma popu- lação pode ser enganoso porque apenas certos membros dela procriam com sucesso e transmitem seus alelos para os descendentes. Por essa razão, uma estimativa expressiva da PMV requer que o pesquisador determine o tamanho populacional efetivo, que se baseia no potencial reprodu- tivo da população. A fórmula a seguir incorpora a razão sexual dos indi- víduos reprodutores à estimativa do tamanho populacional efetivo, abreviado como Ne: Em que Nf e Nm são, respectivamente, o número de fême- as e o número de machos que apresentam sucesso repro- dutivo. Se aplicarmos essa fórmula a uma população ide- Figura 56.14 Pesquisa O que causou o drástico declínio da população do tetraz-das-pradarias do estado de Illinois? Experimento Os pesquisadores observaram que o colapso po- pulacional refletia em uma redução na fertilidade, medida pela taxa de eclosão dos ovos. A comparação de amostras do DNA da população do Condado de Jasper, Illinois, com o DNA de pe- nas de espécimes de museu mostrou que a variabilidade gené- tica tinha diminuído na população de estudo (ver Figura 23.11). Em 1992, Ronald Westemeier, Jeffrey Brawn e colaboradores ini- ciaram a translocação de tetrazes-das-pradarias dos estados de Minnesota, Kansas e Nebraska em uma tentativa de aumentar a variabilidade genética. Resultados Após a translocação (seta preta), a viabilidade dos ovos aumentou rapidamente e a população se recuperou. N úm er o de t et ra ze s m ac ho s O vo s ec lo di do s (% ) 200 150 100 50 0 1970 1975 1980 1985 Ano (a) Dinâmica populacional (b) Taxa de eclosão Anos 1990 1995 Translocação 70 80 90 60 50 40 30 1970 1975 1980 1985 1990 1995 100 Conclusão A variabilidade genética reduzida estava levando a população de tetrazes-das-pradarias do Condado de Jasper para um vórtice de extinção. Fonte: R. L. Westemeier et al., Tracking the long-term decline and recovery of an isolated population, Science 282:1695-1698 (1998). © 1998 by AAAS. Reprinted with permission. Pesquisa em ação Leia e analise o artigo original em Pesquisa em ação: interpretando artigos científicos. E SE.. .? Considerando o sucesso do emprego de aves transloca- das como ferramenta para aumentar o percentual de ovos eclodidos em Illinois, por que não translocar imediatamente mais aves para Illinois? BIOLOGIA DE CAMPBELL 1263 alizada cujo tamanho total seja de 1.000 indivíduos, Ne também será 1.000, se todos os indivíduos reproduzirem e a razão sexual for de 500 fêmeas para 500 machos. Nesse caso, Ne 5 (4 3 500 3 500)/(500 1 500) 5 1.000. Qual- quer desvio dessas condições (nem todos os indivíduos reproduzem ou não há uma razão sexual de 1:1) reduz Ne. Por exemplo, se o tamanho total da população for 1.000, mas apenas 400 fêmeas e 400 machos reproduzirem, então Ne 5 (4 3 400 3 400)/400 1 400) 5 800 ou 80% do tamanho total da população. Numerosas características da história de vida podem influenciar Ne. As fórmulas alternativas para es- timar Ne consideram fatores como o tamanho da família, a idade de maturidade sexual, o parentesco genético entre os membros da população, o fluxo gênico entre população se- paradas geograficamente e flutuações populacionais. Em reais populações de estudo, Ne é sempre uma fra- ção da população total. Portanto, a simples determinação do número total de indivíduos de uma população não pro- porciona uma boa medida para saber se a população é su- ficientemente grande para evitar a extinção. Sempre que possível, os programas de conservação tentam sustentar tamanhos populacionais totais que incluem, pelo menos, o número mínimo viável de indivíduos reprodutivamente ativos. A meta conservacionista de sustentar um tamanho populacional efetivo (Ne) acima da PMV baseia-se na preo- cupação que a populações retenham diversidade genética suficiente para se adaptarem às mudanças ambientais. A PMV de uma população é muitas vezes utilizada em análise de viabilidade populacional. O objetivo dessa aná- lise é predizer as chances de sobrevivência da população, geralmente expressa como probabilidade de sobrevivência (p. ex., chance de 95%) durante certo intervalo de tempo (digamos, 100 anos). Essas abordagens de modelagem per- mitem aos biólogos da conservação explorar as consequên- cias potenciais de planos de manejo alternativos. Estudo de caso: análise de populações do urso-pardo Uma das primeiras análises de viabilidade populacional foi conduzida, em 1978, por Mark Shaffer, da Duke University, como parte de um estudo de longo prazo com ursos-par- dos no Parque Nacional de Yellowstone e áreas adjacen- tes (Figura 56.15). O urso-pardo (Ursus arctos horribilis), espécie ameaçada nos Estados Unidos, hoje é encontrado em apenas 4 dos 48 estados contíguos do país. Nesses Es- tados, suas populações têm sido drasticamente reduzidas e fragmentadas. Estima-se que em 1800 havia 100.000 ur- sos-pardos ocupando cerca de 500 hectares de hábitat, en- quanto hoje existem apenas em torno de 1.000 indivíduos em seis populações relativamente isoladas, distribuídos em menos de 5 milhões de hectares. Shaffer tentou determinar os tamanhos viáveis para a população de ursos-pardos em Yellowstone. Utilizan- do dados de história de vida, obtidos de indivíduos de Yellowstone durante um período de 12 anos, ele simulou os efeitos de fatores ambientais sobre a sobrevivência e a reprodução. Seu modelo prediz que, em um hábitat ade- quado em Yellowstone, uma população de 70 a 90 indiví- duos de ursos-pardos teria uma chance de sobrevivência nos próximos 100 anos de aproximadamente 95%. Uma população de 100 ursos teria uma chance de sobrevivência de 95% por cerca de 200 anos. Como o tamanho real da população de ursos-pardos em Yellowstone com a PMV prevista por Shaffer? Uma es- timativa atual avalia a população total de ursos-pardos no ecossistema do Grande Yellowstone em aproximadamente500 indivíduos. A relação dessa estimativa com o tamanho populacional efetivo (Ne) depende de vários fatores. Em geral, apenas alguns machos dominantes reproduzem, po- dendo ser dif ícil para eles localizar fêmeas, uma vez que os indivíduos habitam áreas grandes. Além disso, as fême- as podem reproduzir somente quando há abundância de alimento. Por isso, Ne é apenas cerca de 25% do tamanho populacional total ou cerca de 125 ursos. Uma vez que as populações pequenas tendem a perder variabilidade genética ao longo do tempo, várias equipes de pesquisa têm analisado proteínas, DNAmt e repeti- ções curtas em tandem (ver Capítulo 21), para estimá-la na população de ursos-pardos em Yellowstone. Todos os resultados até o momento indicam que a população em Yellowstone tem menor variabilidade genética do que ou- tras populações de ursos-pardos na América do Norte. Como os biólogos da conservação poderiam aumen- tar o tamanho efetivo e a variabilidade genética da popu- lação de ursos-pardos em Yellowstone? A migração entre populações isoladas de ursos-pardos poderia aumentar os tamanhos efetivo e total da população. Modelos com- putacionais predizem que, a cada década, a introdução de apenas dois ursos não aparentados em uma população de 100 indivíduos reduziria para mais ou menos a metade a perda de variabilidade genética. Para o urso-pardo, e pro- vavelmente para muitas outras espécies com populações pequenas, a descoberta de mecanismos para promover a dispersão entre populações pode ser uma das necessidades mais urgentes de conservação. Esse estudo de caso e o do tetraz-das-pradarias vincu- lam os modelos para populações pequenas com aplicações Figura 56.15 Monitoramento de longo prazo de uma po- pulação de ursos-pardos. O ecólogo está implantando um colar de radiotelemetria nesse urso anestesiado, para que o seu desloca- mento possa ser comparado com os de outros ursos da população no Parque Nacional de Yellowstone. 1264 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON práticas em conservação. A seguir, examinaremos uma abordagem alternativa para entender a biologia da extinção. Abordagem da população em declínio A abordagem da população em declínio enfoca populações ameaçadas e em perigo que mostram uma tendência de di- minuição, mesmo que a população esteja bem acima da sua PMV. A distinção entre uma população em declínio (que pode não ser pequena) e uma população pequena (que pode não estar em declínio) é menos importante do que as diferen- tes prioridades das duas abordagens. A abordagem da popu- lação pequena enfatiza a pequenez em si como causa defini- tiva da extinção de uma população, especialmente mediante a perda de diversidade genética. Por outro lado, a abordagem da população em declínio enfatiza os fatores ambientais que causaram o declínio da população em primeira instância. Se, por exemplo, uma área é desmatada, as espécies que depen- dem das árvores diminuirão em abundância e serão extintas localmente, retendo ou não variabilidade genética. Etapas de análise e intervenção A abordagem da população em declínio exige que os pes- quisadores avaliem cuidadosamente as causas do declínio, antes de adotarem etapas para corrigi-lo. Se uma espécie invasora como a serpente-arborícola-marrom em Guam estiver ameaçando uma espécie de ave nativa, os gestores precisam reduzir ou eliminar o invasor para restaurar as populações vulneráveis da ave. Embora a maioria das si- tuações seja mais complexa, podemos adotar as seguintes etapas para analisar populações em declínio: 1. Confirme, usando dados populacionais, que a espécie era mais amplamente distribuída ou mais abundante no passado, em comparação ao seu nível populacional atual. 2. Estude a história natural dessa e de espécies aparen- tadas, incluindo a revisão da literatura científica, para definir as necessidades ambientais da espécie. 3. Elabore hipóteses para todas as causas possíveis do declínio, incluindo atividades humanas e eventos na- turais, e liste as predições de cada hipótese. 4. Teste primeiramente as hipóteses mais prováveis, pois muitos fatores podem estar correlacionados com o declínio. Por exemplo, remova a causa suspeita do declínio, para verificar se a população experimental se recupera, em comparação a uma população-controle. 5. Aplique os resultados do diagnóstico para manejar a espécie ameaçada e monitorar sua recuperação. O estudo de caso a seguir é um exemplo de como a abordagem da população em declínio tem sido aplicada à conservação de uma espécie ameaçada de extinção. Estudo de caso: declínio do pica-pau-de-topete-vermelho O pica-pau-de-topete-vermelho (Picoides borealis) é en- contrado apenas no sudeste dos Estados Unidos. Essa espé- cie necessita de florestas de pinheiro maduras como hábitat, preferencialmente as dominadas pelo pinheiro de folha longa (do inglês, longleaf pine, Pinus palustris). A maio- ria dos pica-paus faz seus ninhos em árvores mortas, mas P. borealis cava buracos para os ninhos em pinheiros ma- duros vivos. Ele também abre buracos pequenos ao redor da entrada do ninho, fazendo a resina da árvore escorrer pelo tronco. A resina parece repelir predadores, como as serpentes-do-milho, que comem os ovos e os filhotes. Outro fator crucial do hábitat para o pica-pau-de-to- pete-vermelho é que o sub-bosque ao redor dos troncos dos pinheiros deve ser baixo (Figura 56.16a). As aves em reprodução tendem a abandonar os ninhos quando a vege- tação entre os pinheiros é densa e mais alta do que apro- ximadamente 4,5 m (Figura 56.16b). Aparentemente, as aves necessitam de um caminho livre para voar entre a sua árvore domiciliar e as áreas de forrageio próximas. Incên- dios periódicos historicamente têm atingido essas florestas de pinheiros, mantendo o sub-bosque baixo. Pica-pau-de-topete-vermelho As florestas que não podem sustentar os pica-paus têm sub-bosque alto e denso que interfere o acesso desses animais às áreas de forrageio. (b) As florestas que podem sustentar os pica-paus apresentam sub-bosque baixo. (a) Figura 56.16 Necessidades de hábitat do pica-pau-de- -topete-vermelho. ? Como o distúrbio do hábitat é absolutamente necessário para a sobrevivência no longo prazo do pica-pau-de-topete-vermelho? BIOLOGIA DE CAMPBELL 1265 Um fator que leva ao declínio do pica-pau-de-topete- -vermelho tem sido a destruição ou fragmentação de há- bitats adequados pela extração de madeira e agricultura. Mediante o reconhecimento dos fatores-chave do hábitat, a proteção de algumas florestas de Pinus palustris e o uso de incêndios controlados para reduzir o sub-bosque, os gestores da conservação ambiental têm ajudado a restaurar os locais que podem sustentar populações viáveis. Às vezes, os gestores da conservação ambiental podem ajudar espécies a colonizar hábitats restaurados. Como os pica-paus levam meses para escavar as cavidades para os ninhos, os pesquisadores realizaram um experimento para verificar se a disponibilização de cavidades para as aves au- mentaria a probabilidade de utilização do local por elas. Os pesquisadores construíram cavidades em pinheiros de 20 locais. Os resultados foram notáveis. As cavidades de 18 dos 20 locais foram colonizadas por pica-paus, e novos grupos reprodutores formaram-se apenas nesses locais. Com base nesse experimento, os conservacionistas inicia- ram um programa de manutenção do hábitat que inclui queimada controlada e construção de novas cavidades para ninhos, permitindo que essa espécie em perigo de ex- tinção comece a se recuperar. Comparando demandas conflitantes A determinação do tamanho populacional e das necessidades de hábitat é apenas uma parte da estratégia para salvar uma espécie. Os cientistas também precisam comparar as neces- sidades de uma espécie com outras demandas conflitantes. A biologia da conservação com frequência destaca a relação entre ciência, tecnologia e sociedade. Por exemplo, um deba- te atual, às vezes acirrado, no oeste dos EstadosUnidos coteja a preservação de hábitats para populações do lobo, do urso- -pardo e da truta com as oportunidades de trabalho no cam- po e nas indústrias de extração de recursos. Os programas de translocação de lobos para o Parque Nacional de Yellowstone permanecem controversos para as pessoas preocupadas com a segurança humana e para os pecuaristas preocupados com a perda potencial de seus animais fora do parque. Vertebrados grandes e atraentes nem sempre são o pon- to central desses conflitos, mas o uso do hábitat quase sem- pre é a questão. O trabalho de construção de uma nova pon- te de uma autoestrada deveria continuar, se ela destruísse o único hábitat remanescente de uma espécie de mexilhão de água doce? Se você fosse o proprietário de um cafezal cujas variedades se desenvolvem em ambientes bem ensolarados, estaria disposto a mudar para variedades tolerantes à som- bra que produzem menos café por hectare, mas que cres- cem sob árvores que sustentam muitas aves canoras? Outra consideração importante é o papel ecológico de uma espécie. Uma vez que somos incapazes de salvar to- das as espécies em perigo de extinção, devemos determinar quais espécies são mais importantes para a conservação da biodiversidade como um todo. A identificação de espécies- -chave e a descoberta de mecanismos para sustentar suas populações podem ser centrais para a manutenção de co- munidades e de ecossistemas. Na maioria das situações, os biólogos da conservação devem também olhar além de uma única espécie e considerar o todo da comunidade e do ecos- sistema como uma unidade importante de biodiversidade. REVISÃO DO CONCEITO 56.2 1. Como a diversidade genética reduzida de populações peque- nas as torna mais vulneráveis à extinção? 2. Considerando uma população de 100 tetrazes-das-pradarias, com 30 fêmeas e 10 machos reproduzindo, qual seria o tamanho populacional efetivo (Ne)? 3. E SE. . .? Em 2005, pelo menos dez ursos-pardos foram mortos no ecossistema do Grande Yellostone em razão do contato com as pessoas. Três agentes causaram a maio- ria dessas mortes: colisões com automóveis, caçadores (de outros animais) que apertam o gatilho ao se sentirem ameaçados por uma fêmea de urso-pardo com filhotes nas proximidades e gestores ambientais matando ursos que atacaram repetidamente animais domésticos. Se você fosse gestor ambiental, que ações adotaria para minimizar esses encontros em Yellowstone? Ver respostas sugeridas no Apêndice A. CONCEITO 56.3 A conservação regional e da paisagem ajuda a sustentar a biodiversidade Embora os esforços de conservação historicamente focali- zem a salvação de espécies de maneira individual, os esfor- ços atuais com frequência buscam sustentar a biodiversidade de comunidades, ecossistemas e paisagens na sua totalidade. Essa visão ampla requer a aplicação não apenas dos princí- pios da ecologia de comunidades, de ecossistemas e de pai- sagem, mas também de aspectos da dinâmica de populações humanas e da economia. As metas da ecologia de paisagem (ver Figura 52.2) incluem a projeção de padrões futuros de uso da paisagem e o desafio de tornar a conservação da bio- diversidade parte do planejamento de uso da terra. Estrutura da paisagem e biodiversidade A biodiversidade de uma determinada paisagem depende em grande parte da sua estrutura. A compreensão da es- trutura da paisagem é criticamente importante na conser- vação, pois muitas espécies utilizam mais de um tipo de ecossistema e muitas vivem nos limites entre ecossistemas. Fragmentação e bordas Os limites, ou bordas, entre ecossistemas – como entre um lago e uma floresta circundante ou entre uma lavoura e as estradas vicinais suburbanas – são características defini- doras de paisagens. Uma borda tem seu próprio conjunto de condições f ísicas, que diferem daquelas nos seus dois lados. A superf ície do solo de uma borda entre um frag- mento florestal e uma área queimada recebe mais luz solar e geralmente é mais quente e mais seca do que o interior da floresta, mas é mais fria e mais úmida do que a superf ície do solo na área queimada. A fotografia do Parque Nacional de Yellowstone na Figura 56.17 mostra várias bordas en- tre ecossistemas. Alguns organismos desenvolvem-se em comunidades de borda porque obtêm recursos das duas áreas adjacen- tes. O tetraz (Bonassa umbellus) é uma ave que necessi- ta de hábitat florestal para fazer ninho, obter alimento no inverno e se abrigar, mas precisa também de aberturas na floresta com densa vegetação arbustiva e herbácea para alimentar-se no verão. Os ecossistemas em que as bordas originam-se de al- terações humanas frequentemente têm biodiversidade reduzida e uma preponderância de espécies adaptadas a esses ambientes. Por exemplo, o veado-de-cauda-branca (Odocoileus virginianus) desenvolve-se em hábitats de borda, onde podem se alimentar de arbustos lenhosos; as populações de veado muitas vezes se expandem quando as florestas são derrubadas e mais bordas são geradas. O chu- pim-cabeça-castanha (Molothrus ater) é uma espécie adap- tada à borda que deposita seus ovos nos ninhos de outras aves, com frequência aves canoras migratórias. Os chupins necessitam de florestas, onde podem parasitar os ninhos de outras aves, e campos abertos, onde forrageiam sementes e insetos. Por conseguinte, suas populações crescem onde as florestas são derrubadas e fragmentadas, criando mais hábitat de borda e áreas abertas. O aumento do parasitis- mo dos chupins e a perda de hábitats estão correlacionados com o declínio de várias de suas espécies hospedeiras. A influência da fragmentação na estrutura de comu- nidades tem sido acompanhada desde 1979 no Projeto Di- nâmica Biológica de Fragmentos Florestais. Localizada no coração da bacia do rio Amazonas, a área de estudo con- siste em fragmentos isolados de floresta pluvial tropical se- parados da floresta contínua circundante por distâncias de 80 a 1.000 m (Figura 56.18). Inúmeros pesquisadores que trabalham nesse projeto têm documentado claramente os efeitos dessa fragmentação sobre organismos que variam desde briófitas até coleópteros e aves. Eles têm verificado consistentemente que as espécies adaptadas ao interior das florestas exibem os maiores declínios nos fragmentos menores, sugerindo que as paisagens dominadas por frag- mentos pequenos sustentarão menos espécies. Corredores que conectam fragmentos de hábitat Em hábitats fragmentados, a presença de um corredor de deslocamento – estreita faixa ou uma série de pequenas moitas de hábitat conectando fragmentos que estavam isolados – pode ser extremamente importante para a con- servação da biodiversidade. As matas ciliares muitas vezes servem de corredores e, em algumas nações, a política go- vernamental proíbe a alteração desses hábitats. Em áreas de uso humano intenso, às vezes são construídos corredo- res artificiais. Pontes ou túneis, por exemplo, podem re- duzir o número de animais mortos ao tentarem atravessar autoestradas (Figura 56.19). Os corredores de deslocamento podem também promover a dispersão e diminuir o endocruzamento em populações em declínio. Tem sido demonstrado que os corredores aumentam a troca de indivíduos em popu- lações de muitas espécies, incluindo borboletas, ratos e plantas aquáticas. Os corredores são especialmente im- portantes para as espécies que sazonalmente migram en- tre diferentes hábitats. Contudo, um corredor também pode ser prejudicial – por exemplo, na propagação de uma doença. Em um estudo realizado em 2003, um cien- tista da Universidade de Zaragoza, na Espanha, demons- trou que corredores de hábitat facilitam o deslocamen- to de carrapatos vetores de doenças entre fragmentos florestais no norte do país. A totalidade dos efeitos de corredores ainda não está compreendida, e seu impac- to é um campo de investigação dinâmico na biologia da conservação. Figura 56.17 Bordas no Parque Nacional de Yellowstone. ? Quais bordas entre ecossistemas você observa nesta fotografia?Figura 56.18 Fragmentos de floresta pluvial amazônica criados como parte do Projeto Dinâmica Biológica de Frag- mentos Florestais. Figura 56.19 Um corredor artificial. Esta ponte no Parque Nacional Banff, no Canadá, ajuda os animais a atravessarem uma barreira criada pelo homem. BIOLOGIA DE CAMPBELL 1267 Estabelecendo áreas de proteção Os biólogos da conservação estão aplicando o seu conheci- mento sobre dinâmica da paisagem no estabelecimento de áreas protegidas a fim de reduzir a perda de biodiversidade. Até agora, os governos já destinaram cerca de 7% das terras do mundo para várias modalidades de unidades de conserva- ção. A escolha sobre onde estabelecer e como delimitar uni- dades de conservação impõe muitos desafios. Uma unidade de conservação deve ser manejada para minimizar os riscos de incêndio e predação de uma espécie ameaçada? Ou ela deve ser deixada no estado mais natural possível, permitindo que processos como os incêndios desencadeados por raios desempenhem seu papel? Esse é apenas um dos debates que se originam entre pessoas que compartilham o interesse na saúde de parques nacionais e outras áreas protegidas. Preservando hotspots da biodiversidade Para decidir sobre quais áreas são de prioridade máxima para conservação, os biólogos com frequência concentram-se nos hotspots da biodiversidade. Um hotspot da biodiversidade é uma área relativamente pequena, com inúmeras espécies endêmicas (não encontradas em outras partes do mundo) e grande número de espécies em perigo e ameaçadas de extin- ção (Figura 56.20). Quase 30% de todas as espécies de aves podem ser encontradas em hotspots que representam apenas cerca de 2% da superf ície terrestre do nosso planeta. Junto, os hotspots da biodiversidade terrestres “mais quentes” (mais representativos) totalizam menos de 1,5% das terras do pla- neta, mas abrigam mais de ⅓ de todas as espécies de plantas, anf íbios, répteis (junto com as aves) e mamíferos. Os ecos- sistemas aquáticos também possuem hotspots, como os reci- fes de corais e certos sistemas de rios. Os hotspots da biodiversidade são boas escolhas para o estabelecimento de unidades de conservação, mas a sua identificação nem sempre é simples. Um problema é que um hotspot para um grupo taxonômico, como o das bor- boletas, pode não ser um hotspot para outro grupo taxo- nômico, como o das aves. A designação de uma área como hotspot da biodiversidade muitas vezes pende para o lado da salvação de vertebrados e plantas, dedicando menos atenção aos invertebrados e microrganismos. Alguns bió- logos também se preocupam com a possibilidade de que a estratégia dos hotspots enfatize demais uma pequena fra- ção da superf ície da Terra. A mudança global torna a tarefa de preser- vação dos hotspots ainda mais desafiadora porque as condições que favorecem uma comunidade em particular podem não ser encontradas na mesma localização no futuro. O hotspot da biodiversidade no canto do su- doeste da Austrália (ver Figura 56.20) abriga milhares de espécies de plantas endêmicas e inúmeras espécies de ver- tebrados endêmicos. Recentemente, os pesquisadores con- cluíram que entre 5 e 25% das espécies vegetais que exa- minaram podem ser extintas por volta de 2080, pois essas espécies não serão capazes de tolerar o aumento da seca previsto para essa região. A filosofia das unidades de conservação As unidades de conservação são “ilhas” de biodiversidade protegidas em um mar de hábitat alterado ou degradado por atividades humanas. Uma política anterior – segun- do a qual as áreas protegidas deveriam ser destinadas a permanecer inalteradas para sempre – baseava-se no conceito de que os ecossistemas são unidades equilibra- das e autorreguláveis. No entanto, o distúrbio é comum em todos os ecossistemas, e o modelo do não equilíbrio (ver Conceito 54.3) se aplica às unidades de conservação e às paisagens maiores ao redor delas. As políticas de ma- nejo que ignoram os distúrbios ou tentam impedi-los têm geralmente fracassado. Por exemplo, o isolamento de uma comunidade dependente do fogo (p. ex., uma porção de uma pradaria alta, de um chaparral ou de uma floresta seca de pinheiros) com a intenção de salvá-la, não é realista se a queimada periódica for excluída. Sem o distúrbio domi- nante, as espécies adaptadas ao fogo geralmente perdem a competição e a biodiversidade é reduzida. Uma pergunta importante sobre conservação é: de- vemos criar inúmeras unidades pequenas ou menos uni- dades maiores? As unidades de conservação pequenas e não conectadas podem retardar a propagação de doença entre as populações. Um argumento a favor das unidades de conservação grandes é o de que animais de grande porte com densidades populacionais baixas, como o urso-pardo, necessitam de hábitats extensos. As grandes unidades de conservação têm perímetros proporcionalmente menores do que as unidades pequenas, razão pela qual são menos afetadas pelas bordas. À medida que aprendem mais sobre as exigências para se alcançar populações mínimas viáveis para espécies em perigo de extinção, os biólogos da conservação percebem que a área da maioria dos parques nacionais e de outras Figura 56.20 Hotspots da biodiversi- dade da Terra: marinhos e terrestres. Linha do equador Hotspots da biodiversidade marinhos Hotspots da biodiversidade terrestres 1268 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON unidades de conservação é muito pequena. A área neces- sária para a sobrevivência a longo prazo da população do urso-pardo de Yellowstone, por exemplo, é mais de 10 ve- zes a área conjunta dos Parques Nacionais de Yellowstone e Grande Teton. Áreas privadas e públicas no entorno das unidades de conservação provavelmente terão de contri- buir para a conservação da biodiversidade. Unidades de conservação zoneadas Várias nações têm adotado uma abordagem do zoneamen- to de unidades de conservação para o manejo de paisagens. Uma unidade de conservação zoneada é uma região ex- tensa que abrange áreas relativamente sem distúrbios por ações humanas, circundadas por áreas alteradas e são uti- lizadas visando um ganho econômico. O desafio-chave da abordagem do zoneamento de unidades de conservação é desenvolver um clima social e econômico nas terras cir- cunvizinhas, compatível com a viabilidade de longo prazo do núcleo protegido. Essas áreas próximas continuam a sustentar atividades humanas, mas segundo regras que im- pedem os tipos de alterações extensas que provavelmente prejudicariam a área protegida. Em razão disso, os hábitats do entorno servem como zonas tampão (de amortecimen- to) contra a intromissão na área sem distúrbio. A Costa Rica, pequeno país da América Central, se tornou uma liderança mundial na implantação de uni- dades de conservação zoneadas. Um acordo iniciado em 1987 reduziu a dívida externa da Costa Rica em troca da preservação ambiental no país. O país está dividido atual- mente em 11 Áreas de Conservação, que incluem parques nacionais e outras áreas protegidas, no continente e no oceano (Figura 56.21). A Costa Rica está progredindo no manejo das suas unidades de conservação; as zonas tam- pão proporcionam um suprimento constante e duradouro de produtos florestais, água e energia hidroelétrica, além de manterem agricultura e turismo sustentáveis, ambas as atividades com emprego de pessoas do local. A Costa Rica depende do seu sistema de unidades de conservação zoneadas para manter pelo menos 80% das suas espécies nativas, mas esse sistema não está isento de problemas. Uma análise de 2003 sobre a mudança na co- bertura do solo entre 1960 e 1997 mostrou um desmata- mento não significativo dentro dos parques nacionais e um ganho na cobertura florestal na zona tampão de 1 km de largura no entorno dos parques. Contudo, nas zonas tam- pão de 10 km de largura no entorno de todos os parques, foram descobertas perdas significativas na cobertura flo- restal, ameaçando transformar essas unidades de conser- vação em ilhas de hábitat isoladas.Embora os ecossistemas marinhos também tenham sido intensamente afetados pela exploração humana, as unidades de conservação no oceano são muito menos co- muns do que as continentais. Muitas populações de peixes pelo mundo têm entrado em colapso à medida que equi- pamentos cada vez mais sofisticados colocam quase todas as áreas com potencial pesqueiro ao alcance do homem. Em resposta, cientistas da University of York, Inglaterra, propuseram a criação de reservas marinhas ao redor do mundo, que seriam totalmente livres da pesca. Eles apre- sentaram fortes evidências de que um mosaico de reservas marinhas pode servir como uma estratégia para aumentar as populações de peixes no seu interior e incrementar o sucesso pesqueiro em áreas próximas. O sistema propos- to por eles é uma aplicação moderna de práticas seculares adotadas nas Ilhas Fiji, onde algumas áreas historicamente têm permanecido fechadas à pesca – exemplo tradicional do conceito de unidade de conservação zoneada. Os Estados Unidos adotaram essa modalidade de sis- tema ao estabelecerem um conjunto de 13 santuários ma- rinhos nacionais, incluindo o Santuário Marinho Nacio- nal Flórida Keys, que foi criado em 1990 (Figura 56.22). As populações de espécies marinhas, incluindo peixes e lagostas, se recuperaram rapidamente após a proibição da pesca nos 9.500 km2 da reserva. Peixes maiores e mais abundantes agora produzem larvas que ajudam a repo- voar os recifes e incrementam a pesca fora do santuário. O aumento da vida marinha dentro do santuário também o torna um local favorito para o mergulho recreativo, au- mentando o valor econômico dessa unidade de conserva- ção zoneada. Turistas maravilhados com a diversidade de vida em uma unidade de conservação da Costa Rica. Os limites das áreas de conservação estão indicados por contornos pretos. MAR DO CARIBENicarágua Costa Rica Pa n am á OCEANO PACÍFICO (b) (a) Áreas protegidas Oceano protegido Figura 56.21 Unidades de conservação na Costa Rica. BIOLOGIA DE CAMPBELL 1269 Ecologia urbana As unidades de conservação zoneadas que você acabou de estudar combinam hábitats relativamente inalterados por atividades humanas com aqueles que são amplamente usa- dos para o ganho econômico das pessoas. Cada vez mais, os ecólogos estão considerando a preservação de espécies, mesmo no contexto das cidades. O campo da ecologia ur- bana examina os organismos e o seu ambiente em circuns- tâncias urbanas. Pela primeira vez na história, mais da metade das pessoas vive nas cidades. Por volta de 2030, as projeções apontam para uma população de 5 bilhões de pessoas vi- vendo em ambientes urbanos. À medida que as cidades se expandem em número e tamanho, as áreas protegidas, antes localizadas fora dos limites das cidades, tornam- -se incorporadas às paisagens urbanas. Os ecólogos estão agora estudando as cidades como laboratórios ecológicos, buscando harmonizar a preservação de espécies e outras necessidades ecológicas com as necessidades das pessoas. Uma área crítica de pesquisa está centrada nos riachos urbanos, incluindo a qualidade e o fluxo de suas águas e os organismos que nelas vivem. Após a chuva, os riachos urbanos tendem a elevar-se e a baixar mais rapidamente do que os riachos naturais. Essa mudança rápida no nível da água ocorre por causa do concreto e outras superf ícies impermeáveis nas cidades, bem como os sistemas de dre- nagem que direcionam a água para fora das cidades tão rápido quanto possível para evitar alagamento. Os riachos urbanos também tendem a ter concentrações mais altas de nutrientes e de contaminantes, além de serem muitas vezes retificados ou canalizados subterraneamente. Perto de Vancouver, Colúmbia Britânica, ecólogos e voluntários trabalharam para restaurar um riacho urbano degradado, denominado Guichon Creek, plantando árvo- res e arbustos ao longo de suas margens, estabilizando-as. Com esses esforços, o fluxo da água retornou e as comu- nidades de invertebrados e de peixes atingiram níveis me- lhores aos registrados há 50 anos, antes do riacho tornar-se degradado. Há alguns anos, os ecólogos restabeleceram com êxito a truta (Oncorhynchus clarki) no riacho. Hoje, as trutas estão se desenvolvendo. As cidades continuam a expandir-se para as paisagens do entorno, e a compreensão dos efeitos ecológicos des- sa expansão aumentará em importância. A integração das cidades à pesquisa ecológica crescerá como um campo de investigação e conservação ao longo das próximas décadas. REVISÃO DO CONCEITO 56.3 1. O que é um hotspot da biodiversidade? 2. Como as unidades de conservação zoneadas proporcionam incentivos econômicos para a conservação de longo prazo de áreas protegidas? 3. E SE.. .? Suponha que um empreendedor proponha a der- rubada de uma floresta que serve como corredor entre dois parques. Como medida compensatória, o empreendedor também propõe adicionar a mesma área de floresta a um dos parques. Na condição de ecólogo profissional, como você poderia argumentar para a manutenção do corredor? Ver respostas sugeridas no Apêndice A. CONCEITO 56.4 A Terra está mudando rapidamente como consequência de ações humanas Conforme discutimos, a conservação da paisagem e regio- nal ajuda a proteger hábitats e a preservar espécies. Con- tudo, as mudanças ambientais resultantes das atividades humanas estão criando novos desafios. Como consequên- cia de mudanças climáticas causadas pelo homem, por exemplo, o lugar onde uma espécie vulnerável é encon- trada hoje pode não ser o mesmo que é necessário para a preservação no futuro. O que aconteceria se muitos há- bitats na Terra mudassem tão rapidamente de modo que os locais de preservação atuais se tornassem inadequados para as suas espécies em 10, 50 ou 100 anos? Cada cenário é cada vez mais possível. O restante dessa seção descreve quatro tipos de mu- danças ambientais que os seres humanos estão produzin- do: enriquecimento de nutrientes, acumulação de toxinas, mudanças climáticas e depleção do ozônio. Os impactos dessas e de outras mudanças são evidentes não apenas em ecossistemas dominados pelo homem, como as cidades e as propriedades rurais, mas também na maioria dos ecos- sistemas longínquos na Terra. Enriquecimento de nutrientes As atividades humanas muitas vezes retiram nutrientes de uma parte da biosfera e os adiciona em outras. Uma pessoa comendo morangos em Washington, DC, conso- me nutrientes que poucos dias antes estavam no solo da Califórnia; pouco tempo depois, parte desses nutrientes es- tará no rio Potomac, tendo passado pelo sistema digestório da pessoa e por uma estação de tratamento de esgoto local. GOLFO DO MÉXICO Florida Keys National Marine Sanctuary FLÓRIDA 50 km Figura 56.22 Mergulhador medindo corais no Florida Keys National Marine Sanctuary. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR No vídeo, enfatizamos a relação da biodiversidade com os serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A biodiversidade é a diversidade que a vida apresenta nos seus diversos níveis. Agora, observe as seguintes situações: -uma das razões para a manutenção de áreas protegidas nas propriedades rurais está no fato de que uma maior variedade de animais e vegetais podem ser úteis para, por exemplo, controlar pragas através da predação feita por pássaros em insetos. Assim, a desaparição de uma espécie pode afetar negativamente todas as demais e até mesmo todo o conjunto de espécies. -O pau-brasil (Paubrasilia echinata) é uma madeira que é muito valorizada pela qualidade e beleza de sua madeira. Sua exploração levou ao quase desaparecimento desta espécie de madeira-de-lei. -Entre os seres humanos, numerosas crenças religiosas se opõem aos chamados casamentos consangüíneos (casamento entre parentes próximos). Uma das razõesde ordem científica está no fato de que tais tipos de casamentos podem envolver menor diversidade genética e potencializar problemas genéticos existentes na família. -As diversas variedades de rosas correspondem a mesma espécie porém com variações genéticas entre elas. A partir destas situações, identifique a opção que mostra corretamente a ordem dos níveis de biodiversidade que está sendo apresentada em cada uma: A) Diversidade de ecossistemas, diversidade de espécies, diversidade genética, diversidade genética. B) Diversidade de ecossistemas, diversidade de ecossistemas, diversidade de espécies, diversidade genética. C) Diversidade de espécies, diversidade de ecossistemas, diversidade espécies, diversidade genética. D) Diversidade de espécies, diversidade de espécies, diversidade genética, diversidade genética. E) Diversidade genética, diversidade genética, diversidade de espécies, diversidade de ecossistemas. 2) Quando um produtor rural procura introduzir variedades diferentes de uma mesma espécie, ou seja, mesmas espécies porém com diferenças genéticas entre si, pode-se dizer que: A) Procura preservar o equilíbrio das cadeias alimentares. B) Está obtendo benefícios com a diversidade genética. C) Aumenta os riscos de se perder a produção da espécie. D) Diminui a diversidade de espécies. E) Afeta negativamente os ecossistemas. Um dos grandes problemas que produtores rurais em várias partes do mundo estão 3) enfrentando é o problema da polinização das flores de suas culturas. Em geral são feitos por abelhas criadas por apicultores ou que vivem livremente em matas. Porém, doenças que afetam estes insetos reduziram seu número e podem colocar em risco várias culturas por falta de fecundação das flores e conseqüente formação dos frutos. No contexto da biologia da conservação, o que é a polinização das flores pelas abelhas para a sociedade em geral, e produtores rurais em particular? Indique a opção correta abaixo. A) Um processo de biodiversidade. B) Um controle de pragas. C) Um serviço ecossistêmico. D) Um exemplo de biofilia. E) Uma introdução de espécies exóticas. 4) Muitas vezes, espécies que não são nativas de uma região podem ser introduzidas propositadamente por diversas razões. Entretanto, sem predadores existentes numa região, podem se espalhar descontroladamente por falta de predadores e causar prejuízos aos ecossistemas locais, levando ao desaparecimento de espécies nativas. Com base na afirmação acima, indique a opção correta a seguir: A) O problema em questão envolve a redução ou desaparecimento de habitats. B) A sobre-exploração das espécies nativas produz essa invasão da espécie exótica. C) A introdução de espécies exóticas deve ser acompanhada de outras espécies para poder controlá-la. D) O problema descrito é um processo que promove riscos ou redução à biodiversidade. E) A introdução de espécies exóticas não irá acarretar perda de serviços ecossistêmicos. 5) Indique abaixo a opção correta sobre as áreas de proteção ambiental. A) Em geral as áreas devem permanecer preservadas sem nenhum tipo de perturbação, como queimadas, que as afetem. B) As áreas prioritárias para preservação são áreas de grande porte com espécies comuns em todo o planeta. C) O zoneamento ambiental considera que ao redor de uma área protegida devem existir áreas que não devem ser ocupadas ou utilizadas por atividades humanas. D) As áreas urbanas, devido a sua expansão, não devem ser consideradas para o estudo de conservação ecológica. E) O hotspot de biodiversidade é uma área que contém um grande número de espécies endêmicas e/ou ameaçadas. NA PRÁTICA Um dos fundamentos da Agroecologia, ciência que embasa a produção agrícola de base ecológica, é o cultivo a partir de sementes crioulas, respeitando o pilar agroecológico de Conservação e Regeneração dos Recursos Naturais. Sementes crioulas são aquelas, cultivadas e selecionadas pelos agricultores, com uma grande variação genética adaptadas às condições locais. Veja a imagem que demonstra a variedade de sementes crioulas de milho. As características das sementes crioulas conferem maior resistência e rusticidade ao cultivos, sem necessitar de agrotóxicos e fertilizantes de síntese química para a produção. Esse princípio agroecológico representa o entendimento dos seres humanos sobre a importância da conservação da biodiversidade. Para obtenção das sementes, os agricultores participam de feiras de troca-troca ao redor do mundo. Em cada região, existem responsáveis por recolher, cultivar e armazenar sementes dos diferentes ecossistemas. São os chamados guardiões de sementes. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Fundamentos em ecologia PINTO-COELHO, Ricardo Motta. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2007. Ecologia CAIN, Michael L.; BOWMAN, William D.; HACKER, Sally, D.. Ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2018. Fundamentos em Ecologia TOWNSEND, Colin R.; Begon, Michael; HARPER, John R.. Fundamentos em Ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2010. Ler Cap. 13. Item 13.1.2 e Cap. 14. Item 14.1. Vida: a ciência da biologia SADAVA, D.; HELLER, H.C.; ORIANS, G.H.; PURVES, W.K.; HILLIS, D.M. Vida: a ciência da biologia. Vol. II. 8ªed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Cap. 38. Item 38.4. Fatores que determinam a distribuição das espécies (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, reconheceremos os fatores que determinam a distribuição das espécies no ambiente. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Distinguir os fatores que determinam a distribuição das espécies;• Relacionar os fatores entre si;• Identificar os fatores atuantes no ambiente da região em que você vive.• DESAFIO O Brasil é atualmente um grande produtor agropecuário, passando da condição de importador para exportador de alimentos desde o fim dos anos 1990 e início do século XXI. Entretanto, muitos deste produtos não são originários do Brasil, mas vieram para cá trazidos ao longo dos 500 anos que se passaram desde a descoberta do país. Porém, ainda assim há muitos produtos que são originários do país, alguns exportados, outros consumidos no mercado interno. Você estudante, identifique na regiã em que você mora um produto vegetal que seja originário da sua região ou ao menos que seja originário no território brasileiro. Este produto não necessariamente precisa estar confinando em território nacional, mas sua área de ocorrência natural pode incluir o território brasileiro. Com a identificação, pesquise sobre este vegetal e responda as questões abaixo: -Nome popular e nome científico -Locais de ocorrência no Brasil -Uma utilidade desta planta -Identificar ao menos um fator biótico que afeta esta planta, e uma explicação breve da relação entre o fator biótico e o vegetal em questão, se é herbivoria, parasitismo, etc. -Identificar e descrever ao menos um fator abiótico que determina a presença esta planta na região. INFOGRÁFICO Veja, a seguir, a relação dos fatores que determinam onde e por que uma espécie ocorre em um local específico. CONTEÚDO DO LIVRO O item 52.2 do capítulo 52, de autoria de Robert B. Jackson, da 8a edição da obra Biologia, de Campbell & Reece, do ano de 2010, traz uma abordagem integradora de como os seres vivos e as características ambientais influenciam na distribuição das espécies. Estude este item até a parte introdutória de Clima, essa inclusive. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! DICA DO PROFESSOR Neste vídeo, vamos relacionar os fatores que determinam a distribuição das espécies. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A escolha do habitat de uma dada espécie animal pode determinar também a escolha de uma região mais adequada para a criação desta espécie para fins comerciais.Então temos o exemplo da produção de gado de corte no Brasil. O tipo principal de gado brasileiro é o Nelore, originária da Índia. Pesquise sobre as características que levaram a escolha deste tipo, que hoje representa 85% do gado brasileiro e 44% do mercado de sêmem para reprodução. A partir desta pesquisa, e a partir dos textos sobre ecologia e distribuição de espécies, assinale qual a opção abaixo representa corretamente os fatores bióticos (vivos) e abióticos (não-vivos) que definiram a escolha desta espécie para os produtores rurais do Brasil: A) Bióticos: baixa taxa de reprodução e alimentação a base de forrageira plantada (alfafa). Abióticos: Adaptação a climas tropicais. B) Bióticos: Rápido tempo de engorda e alta taxa de reprodução devido a baixa resistência a doenças. Abióticos: Presença de climas frios no sul do Brasil. C) Bióticos: Tempo demorado de engorda e alimentação a base de forrageira plantada (alfafa). Abióticos: Adaptação a ambientes de baixas altitudes, no nível do mar. D) Bióticos: alta taxa de reprodução em compensação a baixa resistência a doenças. Abióticos: Adaptação a climas temperados. E) Bióticos: Rápido tempo de engorda e alimentação a base de pastos (como com capim colonião). Abióticos: Adaptação a climas tropicais. 2) Uma atividade comum na produção agropecuária são os cruzamentos selecionados. Por exemplo, na fecundação de exemplares escolhidos de vacas que apresentam uma característica desejável (por exemplo, maior produção de leite) com o sêmem de bois escolhidos que tenham outra característica desejável (por exemplo, maior resistência a doenças). Assinale abaixo a opção correta que indica: -que tipo de fenômeno natural o produtor está reproduzindo ao fazer este tipo de ação -como as características escolhidas podem ser passadas para os descendentes destes cruzamentos. A) Comensalismo. Características passadas graças ao ADN dos pais. B) Seleção natural. São passadas por influência do meio físico externo. C) Simbiose. São passadas por influência de outros organismos. D) Seleção natural. Características passadas graças ao ADN dos pais. E) Simbiose. São passadas por influência do meio biológico externo. Indique a opção que corretamente preenche as lacunas do texto abaixo. O café 3) (Coffea arabica) é uma planta originária do oriente médio, mas que hoje apresenta uma ampla distribuição mundial. Esta distribuição é um exemplo de _________________________ devido a causas ___________________ e a adaptação a fatores _________________________ como o _________________________ da região. A) migração – naturais – bióticos – a presença de polinizadores B) migração – naturais – bióticos – clima C) dispersão – artificiais – abióticos – clima D) dispersão – artificiais – abióticos – salinidade da água E) dispersão – artificiais – bióticos – ausência de predadores 4) No nordeste do Brasil, ocorre uma forte diferença entre os climas existentes no litoral leste, onde há chuvas e vegetação mais densa (zona da mata), que permitiu o cultivo de cana-de-açúcar (de grande importância histórica/política/econômica da região) enquanto que o interior do nordeste apresenta um clima semi-árido que propiciou uma atividade mais voltada a pecuária (caprinos, bovino, muares, etc.) e vegetação do tipo caatinga. Por que esse ocorre fenômeno, que afeta os aspectos ecológicos da região descrita e seus aspectos econômicos também? A) Por causa do solo laterítico que ocorre no interior e solo do tipo massapé no litoral. B) Por causa das mudanças climáticas causadas pelo fenômeno “El Niño”, ou seja, o resfriamento do oceano Pacífico. C) Devido a presença de grandes serras litorâneas que bloqueiam a passagem do ar úmido do oceano. D) Como consequência da sucessão de períodos de chuva e seca típicas dos climas tropicais. E) Devido a presença de correstes oceânicas frias que percorrem o litoral do nordeste brasileiro. 5) Certos tipos de doenças que afetam as plantas são causadas por fungos. Um exemplo é a vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Moniliophtora perniciosa e que ataca o cacaueiro. Tais doenças restringem a distribuição de várias espécies vegetais pelo mundo, e no caso do cacau, provocou uma brutal redução da produção de cacau no Brasil (hoje o país é obrigado a importar chocolate e cacau). Tais doenças são mais comuns nos períodos chuvosos. A partir da afirmação acima, leia as conclusões abaixo e indique qual delas é a correta. A) A situação descrita mostra que a distribuição neste caso é controlada por fatores bióticos. B) Os dois fatores atuam de forma independente uma da outra. C) A situação descrita mostra que a distribuição neste caso é controlada por fatores abióticos. D) No caso acima, os fatores bióticos anulam os efeitos dos fatores abióticos. E) No caso acima, os fatores bióticos são reforçados pelos fatores abióticos. NA PRÁTICA Veja que interessante: o fator abiótico da precipitação pluviométrica alterou as características da água e, consequentemente, a produção de alimento. Portanto, as condições físicas e químicas do local de origem mudou e a população de flamingos saiu em busca de um novo habitat. Este fato está aliado à capacidade das aves migrarem (fator dispersão) e ao fator seleção de habitat, em que os seres vivos escolheram um novo habitat, considerando a disponibilidade de alimento e de recursos e a proteção contra predadores. É importante ressaltar ainda, que as aves migram em busca de alimento, mas sempre procuram (e escolhem!) ambientes que tenham características específicas (fatores abióticos do meio) que sejam adequadas ao seu pleno desenvolvimento, no caso, ambiente de lagos. Este belo fenômeno da natureza ilustra o tema de estudo desta Unidade de Aprendizagem, os fatores que determinam a distribuição das espécies. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Flamingos invadem região do Quênia em busca de alimentação Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Ecologia Vida – A Ciência da Biologia Fundamentos em Ecologia Ecologia de Ecossistemas: energia e matéria (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO Esta Unidade de Aprendizagem aborda a dinâmica da energia e da matéria nos ecossistemas. Você conhecerá as leis da termodinâmica, além de aspectos relacionados ao fluxo de energia nos ecossistemas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar as duas leis da termodinâmica que regem as transformações de energia nos ecossistemas; • Distinguir a energia e a matéria na estrutura das cadeias tróficas;• Identificar o seu lugar na cadeia trófica do ecossistema.• DESAFIO Na atividade agropecuária, são cultivadas plantas que servem de alimentação para o ser humano mas também para alimentação animal, como é o caso da soja, alfafa, dos diversos tipos de capim, etc. Por sua vez, também são criados animais para servirem, entre outras razões, de fonte de alimento (carne, leite, ovos...). Na agropecuária, replicamos de certa forma os ciclos e fluxos de matéria e energia. Agora observe: a maioria dos animais criados são herbívoros ou, quando muito, onívoros que aceitam comer regularmente produtos vegetais em sua dieta. a) Por que são criados essencialmente herbívoros para produção agropecuária? Responda analisando a eficiência de energia e a quantidade de produtos (em especial alimento) produzidos por uma criação que seja exclusivamente de herbívoros e outra de carnívoros. b) A partir do conhecimento de que existem fatores limitantes para o crescimento das plantas (água, nutrientes, condições físicas) e de que o Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo (bovinos, suínos e de aves), o que permite ao país chegar a esse patamar de produtividade? INFOGRÁFICO Veja, no Infográfico, os fluxos de energia e a circulação da matéria através de umacadeia trófica de um ecossistema. CONTEÚDO DO LIVRO O capítulo 55 da obra Biologia, de Campbell & Reece, 8ª edição, do ano de 2010, inicia com a visão geral sobre a definição e os processos envolvidos na dinâmica de ecossistemas. E o item 55.1. aborda a dinâmica de energia e nutrientes em ecossistemas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! DICA DO PROFESSOR Veja, no vídeo, o comportamento da energia e a sua relação com a circulação da matéria nos ecossistemas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Sobre a questão da fotossíntese, produção primária das plantas e influência da água, luz, temperatura e calor na produção primária nos ecossistemas, indique a alternativa CORRETA: A) a) A produtividade primária líquida considera os gastos de energia da própria planta. B) b) Em meios com restrição na oferta de água e de luz a taxa de fotossíntese tende a crescer. C) c) A maior parte da água precipitada no solo através das chuvas por área é aproveitada pelas plantas. D) d) Todos os ecossistemas apresentam as mesmas taxas de produtividade primária. E) e) A fertilização não promove o aumento da produção primária. 2) Na pecuária, especialmente a intensiva, é comum acumular o esterco (fezes) dos animais criados, como por exemplo do gado leiteiro, para sua posterior reutilização. Nesse sentido, é CORRETO afirmar: A) a) O material acumulado representa produção primária bruta de organismos autotróficos. B) b) Organismos decompositores irão se alimentar do material acumulado, liberando nutrientes para o ambiente. C) c) O material em questão não tem seus componentes reaproveitados naturalmente ou artificialmente, sendo portanto necessário acumulá-lo em local adequado. D) d) O material será utilizado como ração por organismos consumidores de níveis tróficos mais elevados. E) e) O material será acumulado e usado como combustível por conter mais energia recebida pelos níveis tróficos anteriores do que é produzida pelos produtores. 3) A entrada de energia nos ecossistemas se dá pelo processo de fotossíntese, onde a energia do sol é fixada na forma de energia química nos tecidos das plantas. Um desses tecidos é a celulose, que perfaz parte importante do caule e das folhas, e é de difícil digestão. Entretanto, o gado e alguns outros animais de criação são capazes de se alimentar de celulose, geralmente na forma de capim, de forma que aumentam a eficiência de assimilação dos nutrientes e energia contida nas plantas. Como isso ocorre? A) a) Porque a arcada dentária é capaz de fragmentar a celulose em fragmentos menores. B) b) Devido à presença no estômago de ácidos fortes e enzimas digestivas que dissolvem a celulose. C) c) Pela presença de microrganismos simbióticos no trato digestivo que decompõem a celulose. D) d) Pela presença de organismos que decompõem a celulose fora do organismo do gado que, portanto, ingere a celulose já parcialmente decomposta. E) e) Por mudanças no clima, que permitem um ambiente mais úmido e que decompõe a celulose. 4) I - Organismos consumidores secundários ou terciários (carnívoros predadores) assimilam menos energia que os consumidores primários (herbívoros). II - Isso porque perdem grandes quantidades de energia para procurar, caçar, comer e digerir suas presas. Sobre essas assertivas, é possível afirmar: A) a) Ambas estão corretas e a segunda justifica a primeira. B) b) Ambas estão incorretas. C) c) A primeira está correta porém a segunda está incorreta. D) d) A primeira e a segunda estão corretas porém a segunda não justifica a primeira. E) e) A primeira está incorreta porém a segunda está correta. 5) Uma das técnicas agrícolas consiste na chamada rotação de culturas, onde um dado terreno é utilizado para diferentes culturas, dependendo do período do ano. Uma das características desse método é cortar as plantas onde já foi realizada a colheita e deixar as suas folhas, raízes e caules arrancados e cortados na própria área de plantio. Relacionando esse procedimento com a energia e matéria nos ecossistemas, indique a opção CORRETA: A) a) Este procedimento diminui a quantidade de nutrientes disponíveis para os cultivos seguintes. B) b) A energia é retida ou destruída com o corte das plantas. C) c) Organismos consumidores secundários serão beneficiados pelo material cortado e liberam nutrientes para o meio. D) d) Decompositores irão decompor as plantas cortadas e liberar os nutrientes para o solo. E) e) O corte é destinado a permitir a liberação de energia que será reciclada pela próxima cultura a ser feita no local. NA PRÁTICA Um tema interessante, que envolve o movimento de energia e matéria nos ecossistemas, é o caso do elemento mercúrio, que causa a Doença de Minamata. O mercúrio tem a característica de não ser eliminado na cadeia alimentar, pelo contrário, acumula à medida que passa de um nível trófico para outro no ecossistema. É altamente tóxico para os homens na forma orgânica, metil-mercúrio, formada como subproduto da atividade de bactérias no ambiente. Concentrações tóxicas de metil-mercúrio para o homem giram em torno de 0,5 mg kg-1, e essa é a concentração máxima permitida em peixes para o consumo. O metil-mercúrio é lipossolúvel e entra facilmente na cadeia trófica acima do solo, a partir dos produtores. Nas áreas de garimpo da Amazônia, há uma preocupação muito grande com o movimento deste elemento. Há indícios de que, além de ter sido usado no processo de garimpo, há mercúrio de origem natural no solo e o elemento esteja circulando entre solo, plantas, decompositores, atmosfera, água e peixes, aumentando a concentração em áreas onde antes não estava presente. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Vida: A Ciência da Biologia - Vol. 2 Ecologia Fundamentos em Ecologia Fundamentos em ecologia Ecologia de Ecossistemas: transferência de energia (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO As transferências de energia de um nível trófico para outro nos ecossistemas e suas respectivas eficiências são o tema de estudo desta Unidade de Aprendizagem. Entre os tópicos abordados estão a eficiência de consumo, de assimilação, de produção e de transferência trófica, incluindo aspectos relacionados ao fluxo de energia no ecossistema. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar as eficiências de transferência de energia no ecossistema;• Contrastar as quantidades de energia nas camadas de pirâmides alimentares;• Relacionar as eficiências de transferências de energia nas atividades do nosso dia-a-dia.• DESAFIO Dentro os vários projetos sustentáveis que são desenvolvidos, existe um que apresenta as seguintes características: - formado por vários tanques de água - a água é coletada das chuvas - nos tanques cheios de água há plantas como o aguapé e algas - dentro dos tanques há tilápias (peixes) - a água, depois de algum tempo, é passada em tanques com aguapés, onde as raízes destas plantas filtram as partículas maiores - depois a água passa por tanques com pedregulho onde crescem plantas como manjericão - a água alimenta estas plantas em parte dela volta para os tanques. Esse sistema é sustentável pois a água é aproveitada da chuva. Os peixes nos tanques se alimentam de partes das plantas aquáticas e das algas. A água que fica carregada de matéria orgânica e microorganismos (plantas, resíduos dos peixes) é depois aproveitada pelas plantas e no pedregulho essa matéria orgânica tambem alimenta organismos ali existentes. Os aguapés utilizados como filtro são depois usados como adubo ao serem enterradas no solo. A partir deste sistema, responda: - onde estão e quem são os produtores primários; - onde estão os consumidores e que tipo são (primários, secundários...) - onde estão os decompositores- desenhe um esquema simplificado indicando os fluxos de energia aí existentes. INFOGRÁFICO O Infográfico apresenta a relação entre as eficiências que regem a transferência de energia de um nível trófico para outro nos ecossistemas. CONTEÚDO DO LIVRO O item 55.3 do capítulo 55, da obra Biologia, de Campbell & Reece, 8ª edição, do ano de 2010, apresenta as eficiências de transferência de energia de um nível trófico para outro nos ecossistemas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! DICA DO PROFESSOR O vídeo aborda as eficiências que regem a transferência de energia de um nível trófico para outro nos ecossistemas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Um tipo de atividade agropecuária que tem passado por um importante crescimento no Brasil é a piscicultura, em especial das espécies de tilápia (ou Saint Peter, como é chamado no mercado externo). Uma das vantagens desse tipo de criação é a alta produtividade de carne por um dado volume (ou quantidade) de alimento em relação a outros peixes. Um exemplo é que para se obter um quilo de carne de tilápia o produtor deve usar 1,3 quilos de ração, enquanto que para outros peixes deve-se usar 1,6 quilos. Por outro lado, para se obter um quilo de carne bovina pode-se chegar a valores de cerca de 7 quilos de cereais para cada quilo de carne produzida. A partir das informações acima, e considerando as transferências de energia e eficiência de assimilação, indique a opção correta abaixo: A) a) O gado bovino apresenta a maior eficiência de assimilação de alimento entre os animais citados no enunciado. b) No enunciado, devido as diferenças de transferência e assimilação de biomassa e energia, o produtor terá de usar quantidades iguais de ração para a alimentar o gado, B) tilápias e outros peixes para obtenção do mesmo volume de carne. C) c) A quantidade de alimento necessário pelos peixes indica que estes tem maiores perdas de energia por respiração celular e excreção do que o gado bovino. D) d) O fluxo de energia contida na biomassa dos alimentos é menor para a tilápia do que para os demais peixes. E) e) A tilápia é capaz de assimilar mais energia para produção de biomassa (crescimento) do que as demais espécies citadas no enunciado. 2) No Brasil, embora os pastos sejam abundantes e parte da produção seja feita pelo gado alimentado no pasto, ainda assim, mesmo nestes casos, costuma-se também oferecer ração (geralmente de soja) para complementar a alimentação do mesmo. Indique qual a opção abaixo que explica esta ação, tendo por base a questão da eficiência de assimilação, produção secundária e transferências de energia na natureza. A) a) A soja representa um complemento destinado a combater doenças e distúrbios de saúde no gado. B) b) A assimilação da energia contida no capim é pequena, e a soja fornece energia extra para ser convertida em biomassa. C) c) A soja permite que o gado converta toda a energia contida no capim transformando-a em biomassa. D) d) A adição desta ração no alimento do gado promove redução da energia perdida na forma de biomassa (fezes). e) A eficiência de assimilação da soja é melhorada quando é consumido junto com o capim E) dos pastos, aumentando assim a produção de biomassa na forma de crescimento. 3) Leia a afirmação e a explicação abaixo. A energia apenas flui no ambiente, mas não circula nem é reciclada porque a energia perdida por respiração e calor para o meio não é reaproveitada, sendo reposta pela energia solar. Indique qual a opção abaixo é a correta, com base na afirmação e na explicação acima. A) a) A afirmação e a explicação estão incorretas. B) b) A afirmação e a explicação estão corretas e a explicação realmente explica a afirmação. C) c) A afirmação e a explicação estão corretas mas a explicação não explica a afirmação. D) d) A afirmação está correta mas a explicação está incorreta. E) e) A afirmação está incorreta mas a explicação está correta. 4) Na natureza os animais carnívoros (consumidores secundários, terciários, etc.) representam em termos de quantidade, uma parte menor entre os organismos em um ecossistema. Na agropecuária também são raros os casos de criação de animais carnívoros e predadores. Por que isso ocorre, considerando as pirâmides tróficas e eficiências tróficas? A) a) Os predadores apresentam baixa taxa de assimilação de alimento e uma alta eficiência de produção de biomassa, por isso consomem quantidades menores de organismos e apresentam uma produção muito grande de biomassa. B) b) As eficiências de consumo, assimilação e produção são todas altas, de forma que o organismo tem naturalmente a necessidade de demandar uma grande volume de alimentos. C) c) A criação de carnívoros é pouco praticada pois ela exigem amplas áreas para a criação, o que melhora o fluxo de energia para estes organismos. D) d) São organismos especializados e que necessitam de pouco alimento, porém deve ser um alimento especializado do qual absorvem grande parte da energia deste alimento consumido. E) e) Carnívoros assimilam muito pouca energia do que se alimentam, pois perdem muita energia mantendo a temperatura do corpo, caçando a presa, etc. 5) Dos elementos abaixo, qual a opção que indica os nutrientes mais importantes para que os vegetais aumentem sua eficiência na captura de energia do sol e transformação em energia química? A) a) sódio e potássio. B) b) ferro e manganês. C) c) níquel e carbono. D) d) nitrogênio e fósforo. E) e) alumínio e cálcio. NA PRÁTICA Em muitos países, mesmo nos países desenvolvidos, a carne animal é vista como um produto “de luxo”, em especial a carne bovina. Muitas vezes, a principal fonte de proteína animal é na forma de pescado, aves e carne suína. A principal razão para este fato é que, devido a perda de energia entre os níveis tróficos, as pirâmides de energia mostram que apenas uma pequena parte da energia das plantas efetivamente é convertida na forma de biomassa animal, e parte desta biomassa não é consumida na forma de alimento (couros, tendões, etc.). Assim, como conseqüência, um hectare de criação animal alimenta menos pessoas do que um hectare de plantas cultivadas. Porém, deve ser notado que o ser humano, como ser onívoro, grandemente se beneficia do consumo de proteína, especialmente a animal, como parte de sua dieta. Além disso, a criação animal representa uma fonte importante de renda nas exportações e gerador de empregos em todo o país. Também deve ser lembrado que há países em que a criação animal e de seus produtos (carne em conserva, embutidos, enlatados...) representa uma parte importante das atividades econômicas. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: TOWSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos em Ecologia. 3ªed. Porto Alegre: Artmed, 2010. Cap. 11. Item 11.3. CAIN, Michael L.; BOWMAN, William D.; HACKER, Sally, D.. Ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2018. PINTO-COELHO, Ricardo Motta. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2007. SADAVA, Davis et al.. Vida: a ciência da biologia. Volume II: Evolução, diversidade e ecologia. 8ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2009. Ecologia de Ecossistemas: ciclos biogeoquímicos (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, vamos estudar o movimento que os elementos fazem entre os seres vivos e os compartimentos físicos do globo terrestre. Serão estudadas questões relacionadas aos processos biológicos e geológicos, além de destacar os ciclos específicos de alguns elementos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar os compartimentos físicos do globo terrestre.• Examinar o movimento que os elementos realizam entre os seres vivos e os compartimentos físicos. • Relacionar os ciclos biogeoquímicos no ecossistema.• DESAFIOO nitrogênio representa um dos fatores limitantes mais marcantes no crescimento das plantas. Isso é válido para as plantas cultivadas, e isso implica que os fertilizantes e compostos contendo nitrogênio são de vital importância para a produção agrícola. Um exemplo é que em 2007, o Brasil produziu 1% dos fertilizantes nitrogenados no mercado mundial, mas consumiu 3% da produção mundial. Isso significa que o Brasil foi um grande importador de fertilizantes a base de nitrogênio. Fonte http://www.ibram.org.br/cbminas/palestras/25_11_00_Vicente%20Lobo.pdf Considere a parte da entrada de nitrogênio da atmosfera para o solo. Escreva sua resposta no campo abaixo. INFOGRÁFICO Este Infográfico apresenta um modelo geral de compartimentos hierarquizados do ciclo biogeoquímico de elementos nos ecossistemas. CONTEÚDO DO LIVRO O item 55.4 do capítulo 55, da obra Biologia, de Campbell & Reece, aborda os processos envolvidos na ciclagem biogeoquímica de elementos e apresenta os ciclos da água, do carbono, do nitrogênio e do fósforo. Boa leitura! � � � � � � � � � �� ��� �������� � ����� ���� � �� �� � ��������� �������� � ������� Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Obra originalmente publicada sob o título Biology, 8th Edition ISBN 9780805368444 Authorized translation from the English language edition, entitled BIOLOGY, 8th Edition, by NEIL A. CAMPBELL and JANE B. REECE, published by Pearson Education, Inc., publishing as Benjamin Cummings, Copyright © 2008. All rights reserved. No part of this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying, recording or by any information storage retrieval system, without permission from Pearson Education, Inc. Portuguese language edition published by Artmed Editora, Copyright © 2010. Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada BIOLOGY, 8ª EDIÇÃO, de autoria de NEIL A. CAMPBELL e JANE B. REECE, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo de Benjamin Cummings, Copyright © 2008. Todos os direitos reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes ou sua íntegra armazenada em quaisquer meios, seja mecânico ou eletrônico, inclusive fotocópia, sem permissão da Pearson Education, Inc. A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora, Copyright © 2010. Capa: Mário Röhnelt Preparação de originais: Henrique de Oliveira Guerra Leitura final: Magda Regina Chaves Editora Sênior – Biociências: Letícia Bispo de Lima Editora Júnior – Biociências: Carla Casaril Paludo Editoração eletrônica: Techbooks Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 C187b Campbell, Neil. Biologia [recurso eletrônico] / Neil Campbell, Jane Reece; tradução Daniel Lorenzini ... [et al.]. – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010. Editado também como livro impresso em 2010. ISBN 978-85-363-2351-0 1. Biologia. I. Reece, Jane. II. Título. CDU 573 Biologia 1231 55.4 Processos biológicos e geoquímicos reciclam nutrientes entre as partes orgânicas e inorgânicas de um ecossistema Embora a maioria dos ecossistemas receba uma grande quantidade de energia solar, os elementos químicos estão disponíveis somen- te em quantidades limitadas. (Os meteoritos que ocasionalmente atingem a Terra são a única fonte extraterrestre de material novo.) A vida na Terra depende, portanto, da reciclagem de elementos químicos essenciais. Enquanto um organismo está vivo, muito do seu estoque químico é substituído continuamente, ao passo que nutrientes são assimilados, e dejetos, eliminados. Quando o orga- nismo morre, os átomos em suas moléculas complexas retornam em composto mais simples para a atmosfera, água, ou solo pela ação dos decompositores. A decomposição reabastece os estoques de material inorgânico que as plantas e outros autotróficos utili- zaram para construir matéria orgânica nova. Pelo fato do ciclo de nutrientes envolver tanto componentes bióticos e abióticos, eles são chamados de ciclos biogeoquímicos. Ciclos biogeoquímicos A rota específica de um elemento através de um ciclo biogeoquí- mico depende do elemento e da estrutura trófica do ecossiste- ma. Podemos, entretanto, reconhecer duas categorias gerais de ciclos biogeoquímicos: global e local. Formas gasosas de carbono, oxigênio, enxofre e nitrogênio ocorrem na atmosfera, e os ciclos desses elementos são essencialmente globais. Por exemplo, uma parte dos átomos de carbono e oxigênio que uma planta absorve do ar como CO2 pode ter sido liberada na atmosfera pela respi- ração de um organismo em um local distante. Outros elementos, incluindo fósforo, potássio e cálcio, são muito pesados para exis- tirem na forma gasosa na superf ície da Terra. Em ecossistemas terrestres, esses elementos circulam mais localmente, absorvidos do solo pelas raízes das plantas e retornam ao solo pelos decom- positores. Em sistemas aquáticos, entretanto, eles circulam mais amplamente na forma dissolvida levada por correntezas. Antes de examinar os detalhes dos ciclos individuais, vamos ob- servar o modelo geral do ciclo de nutrientes que inclui os principais reservatórios de elementos e o processo que transfere elementos en- tre os reservatórios (Figura 55.13). Cada reservatório é definido por duas características: se contém material inorgânico ou orgânico e se os materiais são disponíveis ou não para o uso pelos organismos. Os nutrientes nos próprios organismos vivos e em dejetos (reservatório A na Figura 55.13) estão disponíveis para outros or- ganismos quando consumidores se alimentam e quando decom- positores consomem matéria orgânica morta. Parte do material foi transferido do reservatório orgânico vivo para o reservatório orgânico fossilizado (reservatório B) muito tempo atrás, quando organismos mortos foram convertidos em carvão, óleo ou turfa (combustíveis fósseis). Nutrientes nesses depósitos em geral não conseguem ser assimilados diretamente. Materiais inorgânicos (elementos e compostos) dissolvidos em água ou presentes no solo e no ar (reservatório C) estão dispo- níveis para uso. Organismos assimilam materiais a partir desses reservatórios diretamente e devolvem substâncias químicas por meio dos processos relativamente rápidos da respiração celular, excreção e decomposição. Embora a maioria dos organismos não consiga utilizar diretamente os elementos inorgânicos presentes nas rochas (reservatório D), esses nutrientes podem lentamente se tornar disponíveis pela ação do tempo e erosão. Similarmente, a matéria orgânica indisponível é transferida para o reservatório de material inorgânico disponível quando combustíveis fósseis são queimados, liberando gases na atmosfera. Como os ecologistas têm trabalhado os detalhes dos ciclos químicos em diversos ecossistemas? Dois métodos comuns uti- lizam isótopos – tanto pela adição de pequenas quantidades de isótopos radioativos de elementos específicos e rastreamento de seus progressos quanto pelo acompanhamento do movimento de isótopos de ocorrência natural não radioativos ao longo dos componentes bióticos e abióticos de um ecossistema. Por exem- plo, cientistas foram hábeis para rastrear o fluxo de carbono ra- dioativo (C14) em um ecossistema liberado na atmosfera durante os testes atômicos nos anos 1950e início dos anos 1960. Esse “pico” de C14 pode ser utilizado para determinar a idade de ossos e dentes, medir a taxa de rotação de matéria orgânica no solo e seguir as mudanças em diversas outras fontes de carbono no meio ambiente. A Figura 55.14, nas duas próximas páginas, fornece uma vi- são detalhada dos ciclos de água, carbono, nitrogênio e fósforo. Organismos vivos, dejetos Reservatório A Reservatório B Reservatório C Reservatório D Fossilização Carvão, óleo e turfa Matéria orgânica disponível como nutriente Matéria orgânica indisponível como nutriente Atmosfera, solo, água Ação do tempo Erosão Assimilação, fotossíntese Respiração, decomposição excreção Queima de combustível fóssil Formação de rochas Sedimentares Minerais rochosos Matéria inorgânica disponível como nutriente Matéria inorgânica indisponível como nutriente Figura 55.13 � Modelo geral de ciclo de nutrientes. Setas indicam o processo que transfere os nutrientes entre os reservatórios. ? Recentes descobertas sugerem que fungos micorrízicos podem liberar ácidos que dissolvem alguns minerais, incluindo fosfato de cálcio. Onde a atividade do fungo entraria nesse modelo? 1232 Campbell & Cols.Figura 55.14 � Explorando os ciclos de nutrientes Importância biológica A água é essencial para todos os organismos (ver Capítulo 3), e a sua disponibilidade influencia as taxas dos processos do ecossistema, especialmente a produção primária e a decomposição em ecossistemas terrestres. Formas disponíveis para a vida A água líquida é a fase f ísica primá- ria na qual a água é utilizada, embora alguns organismos possam coletar vapor d’água. O congelamento da água do solo pode limitar a disponibi- lidade de água para as plantas terrestres. Reservatórios Os oceanos contêm 97% da água na biosfera. Aproxi- madamente 2% está confinada nas geleiras e calotas polares, e o 1% res- tante está nos lagos, rios e leitos subterrâneos, e uma parcela desprezível está na atmosfera. Processos-chave Os principais processos que conduzem o ciclo da água são a evaporação da água líquida pela energia solar, a condensação do vapor d’água nas nuvens e a precipitação. A transpiração das plantas terrestres também movimenta volumes significativos de água na atmos- fera. O fluxo na superf ície e nos leitos subterrâneos podem devolver água aos oceanos, completando o ciclo da água. As larguras das setas no diagrama refletem a contribuição de cada processo na movimentação da água na biosfera. Importância biológica O carbono forma o esqueleto das moléculas orgânicas essenciais para todos os organismos. Formas disponíveis para a vida Organismos fotossintetizantes uti- lizam CO2 durante a fotossíntese e convertem o carbono em formas or- gânicas utilizadas pelos consumidores, incluindo animais, fungos e pro- tistas heterotróficos e procariotos. Reservatórios Os principais reservatórios de carbono incluem com- bustível fóssil, detritos e sedimentos de ecossistemas aquáticos, os oce- anos (compostos de carbono dissolvidos), biomassa animal e vegetal e a atmosfera (CO2). Os maiores reservatórios são as rochas sedimenta- res, como a pedra calcária; entretanto, esse reservatório é movimentado muito lentamente. Processos-chave A fotossíntese pelas plantas e pelo fitoplâncton remove quantidades consideráveis de CO2 atmosférico cada ano. Essa quantidade é aproximadamente igual à quantidade de CO2 adicionada na atmosfera por meio da respiração celular pelos produtores e consu- midores. Ao longo do tempo geológico, vulcões também são uma fonte considerável de CO2. A queima de combustíveis fósseis está acrescentan- do quantidades adicionais de CO2 na atmosfera. As larguras das setas no diagrama refletem a contribuição de cada processo na movimentação da água na biosfera. O ciclo da água O ciclo do carbono Energia solar Percolação no solo Evaporação dos oceanos Evaporação dos oceanos Precipitação nos oceanos Evapotranspiração da terra Movimentação líquida de vapor d’água pelo vento Transporte sobre a terra Precipitação sobre a terra Correntes e leitos subterrâneos CO2 na atmosfera Respiração celular Fotossín- tese Queima de combustível fóssil e madeira Composto de carbono na água Fito- plâncton Decomposição Dejetos Fotossíntese Consumidores primários Consumidores de elite Biologia 1233 Importância biológica O nitrogênio faz parte dos aminoácidos, proteínas e ácidos nucleicos e geralmente é um nutriente limitante de plantas. Formas disponíveis para a vida Plantas podem utilizar duas formas inorgânicas de nitrogênio – amônia (NH4�) e nitrato (NO3�) – e algu- mas formas orgânicas, como aminoácidos. Diversas bactérias podem utilizar todas essas formas além do nitrito (NO2�). Os animais só podem utilizar as formas orgânicas de nitrogênio. Reservatórios O principal reservatório de nitrogênio é a atmosfera, composta por 80% do gás nitrogênio (N2). Os outros reservatórios são solos e sedimentos de lagos, rios e oceanos (nitrogênio ligado); água na superf ície (nitrogênio dissolvido); e a biomassa de organismos vivos. Processos-chave A maior rota de entrada do nitrogênio é a fixação de nitrogênio, a conversão de N2 por bactérias em formas que podem ser aproveitadas para sintetizar compostos orgânicos de nitrogênio (ver Capítulo 37). Uma parte do nitrogênio também é fixada por relâmpagos. Fertilizantes com nitrogênio, precipitação e poeira também contribuem com quantidades significativas de NH4� e NO3� nos ecossistemas. A amonificação decompõe nitrogênio orgânico em NH4�. Na nitrificação, NH4� é convertida em NO3� por bactérias nitrificantes. Sob condições anaeróbias, bactérias denitrificantes utilizam NO3� nos seus metabolis- mos ao vez de O2, liberando N2 em um processo chamado de desnitrifi- cação. As larguras das setas no diagrama refletem a contribuição de cada processo na movimentação da água na biosfera. Importância biológica Nos organismos, o fósforo é um importante constituinte dos ácidos nucleicos, fosfolipídeos ATP e outras molécu- las armazenadoras de energia, além de componente mineral de ossos e dentes. Formas disponíveis para a vida A mais importante forma inorgâ- nica biológica de fósforo é o fosfato (PO43�), que as plantas absorvem e utilizam para sintetizar compostos orgânicos. Reservatórios Os maiores depósitos de fósforo estão nas rochas sedi- mentares de origem marítima. Existem também grandes quantidades de fósforo no solo, nos oceanos (na sua forma dissolvida) e nos organismos. Pelo fato do húmus e das partículas do solo se ligarem ao fosfato, a reci- clagem do fosfato tende a ser bem localizada nos ecossistemas. Processos-chave A ação do clima nas rochas adiciona gradualmente fosfatos ao solo; alguns chegam nos leitos subterrâneos e nas águas nas superf ícies e podem por fim atingir o mar. O fosfato retirado pelos pro- dutores e incorporado nas moléculas biológicas pode ser absorvido pe- los consumidores e distribuídos na cadeia alimentar. O fosfato retorna ao solo ou água por meio da decomposição da biomassa ou pela excreção dos consumidores. Pelo fato de não existirem gases significativos que contenham fósforo, somente uma quantidade relativamente pequena de fósforo se movimenta na atmosfera, em geral na forma de poeira e ma- resia. As larguras das setas no diagrama refletem a contribuição de cada processo na movimentação da água na biosfera. O ciclo do nitrogênio terrestre O ciclo do fósforo Bactérias fixadoras de nitrogênio nos nódulos das raízes de leguminosas Bactérias fixadoras de nitrogênio do solo Nitrificação NH4 + NO2 –NH3 NO3 – N2 na atmosfera Decompositores Amonificação Bactérias desnitrificantes Bactérias nitrificantes Bactérias nitrificantes Assimilação – –+ Precipitação Desgaste das rochas Sublevação geológica Saída Sedimentação Lixiviação Solo Consumo Absorção de fosfato pelas plantas PlânctonFosfato dissolvido Decomposição Absorção 1234 Campbell & Cols. Examine esses quatros ciclos biogeoquímicos com mais atenção,considerando os principais reservatórios de cada composto quí- mico e o processo que promove a transferência de cada composto através do seu ciclo. Taxas de decomposição e reciclagem de nutrientes Os diagramas na Figura 55.14 ilustram o papel essencial que os decompositores (detritívoros) têm na reciclagem do carbono, do nitrogênio e do fósforo. As taxas que esses nutrientes circulam nos diferentes ecossistemas são extremamente variáveis, princi- palmente devido às diferentes taxas de decomposição. A decomposição é controlada pelos mesmos fatores que limitam a produção primária em ecossistemas terrestres e aquáticos (ver item 55.2). Esses fatores incluem temperatu- ra, umidade e disponibilidade de nutrientes. Decompositores geralmente crescem mais rápido e decompõem material mais rápido em ecossistemas mais quentes (Figura 55.15). Nas flo- restas tropicais, por exemplo, grande parte da matéria orgânica decompõe-se em poucos meses a poucos anos, ao passo que nas florestas temperadas, a decomposição demora de quatro a seis anos, em média. A diferença é principalmente o resultado das temperaturas mais elevadas e da precipitação mais abundante nas florestas tropicais. Pelo fato da decomposição nas florestas tropicais ser rápida, relativamente pouca matéria orgânica se acumula como folhas mortas no chão da floresta; cerca de 75% dos nutrientes no ecos- sistema estão presentes nos troncos das árvores, e cerca de 10% estão contidos no solo. Portanto, a concentração relativamente baixa de alguns nutrientes no solo das florestas tropicais resulta de um baixo tempo de reciclagem e não da falta desses elementos no ecossistema. Nas florestas temperadas, onde a decomposição é muito mais lenta, o solo pode conter até 50% de toda matéria orgânica do ecossistema. Os nutrientes presentes nos dejetos e no solo das florestas temperadas podem permanecer longos pe- ríodos sem serem assimilados pelas plantas. A decomposição na terra também é mais lenta quando as condições são muito secas para os decompositores terem sucesso ou muito úmidas para supri-los com oxigênio suficiente. Ecos- sistemas frios e úmidos, como o das turfas, armazenam grandes quantidades de matéria orgânica; decompositores crescem lenta- mente ao longo do ano, e a produção primária excede amplamen- te a decomposição. Nos ecossistemas aquáticos, a decomposição nos lodos ana- eróbios pode levar mais de 50 anos. Sedimentos profundos são comparáveis à camada de dejetos nos ecossistemas terrestres; en- tretanto, algas e plantas aquáticas em geral assimilam nutrientes diretamente da água. Portanto, os sedimentos com frequência constituem uma camada de nutrientes, e ecossistemas aquáti- cos são altamente produtivos apenas quando há a troca entre as camadas profundas e a superf ície da água (como nas regiões de ressurgência antes descritas). Estudo de caso: reciclagem de nutrientes na florestal experimental Hubbard Brook Em um dos experimentos de pesquisa de maior duração em an- damento na América do Norte, os ecologistas Herbert Bormann, Eugene Likens e seus colaboradores vêm estudando as reciclagens Figura 55.15 � Pesquisa Como a temperatura afeta a decomposição de resíduos em um ecossistema? EXPERIMENTO Pesquisadores junto ao Serviço Florestal Canadense colocaram amostras idênticas de material orgânico no chão de 21 sítios ao longo do Canadá (marcado pelas letras no mapa abaixo). Três anos depois, eles retornaram para ver quanto de cada amostra se decompôs. A S G N H,I E,F B,C D P O R J Q K L M T U Ártico Subártico Boreal Savana Montanhoso Temperado Tipo de ecossistema RESULTADOS A massa de resíduos diminuiu quatro vezes mais rápi- do em ecossistemas mais quentes do que em ecossistemas frios. Po rc en ta ge m d e m as sa p er di da Temperatura média anual (°C) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 –15 –10 –5 0 5 10 15 A B E C D F G H I LM N J K O Q P S T UR CONCLUSÃO A decomposição aumenta de acordo com a tempera- tura ao longo do Canadá. FONTE T.R. Moore et. Al., Litter decomposition rates in Canadian forest, Global Change Biology 5:75-82 (1999). E SE...? Quais fatores além da temperatura podem ter variado nesses 21 sítios? Como essa variação pode ter afetado a interpretação dos resul- tados? Biologia 1235 de nutrientes em um ecossistema florestal desde 1963. A área de estudo, a Florestal Experimental Hubbard Brook nas Montanhas Brancas de New Hampshire, é uma floresta antiga com diversos vales, cada um banhado por um pequeno riacho afluente de rio Hubbard Brook. O leito rochoso impenetrável à água está perto da superf ície do solo, e cada vale constitui uma bacia hidrográfica que pode correr somente ao longo de seu leito. A equipe de pesquisa determinou primeiro o orçamento mine- ral para cada um dos seis vales medindo a entrada e a saída de diver- sos nutrientes-chave. Eles coletaram a água da chuva em diversos locais, a fim de medir a quantidade de água e minerais dissolvidos adicionados ao ecossistema. Para monitorar a perda de água e mi- nerais, eles construíram uma pequena represa de concreto com um vertedouro em forma de V ao longo do riacho no fim de cada vale (Figura 55.16a). Cerca de 60% da água adicionada ao ecossistema pela chuva e neve saem pela correnteza, e os 40% restantes são per- didos pela evapotranspiração. Estudos preliminares confirmaram que a reciclagem interna em um ecossis- tema conserva a maioria dos nutrientes minerais. Por exemplo, apenas cerca de 0,3% a mais de cálcio (Ca2�) sai do vale por seu riacho do que é adicionado pela água da chuva, e essa pequena perda líquida foi provavelmente reposta pela decomposição química do leito rochoso. Durante a maio- ria dos anos, na realidade, a floresta regis- trou um pequeno ganho líquido de poucos nutrientes minerais, incluindo nitrogênio. Em um experimento, as árvores em um vale foram derrubadas, e então o vale recebeu herbicidas por três anos para impedir o crescimento de novas árvores (Figura 55.16b). Todo o material vegetal original foi deixado no local para decom- posição. O fluxo de entrada e de saída de água e minerais nessa bacia hidrográfica alterada experimentalmente foi compa- rado com os fluxos de uma bacia hidro- gráfica controle. Ao longo de três anos, a saída de água da bacia alterada aumentou em 30-40%, aparentemente pelo fato de não existirem plantas para absorverem e transpirarem água do solo. As perdas líquidas de minerais da bacia alterada fo- ram enormes. A concentração de Ca2� no riacho aumentou 4 vezes, por exemplo, e a concentração de K� foi multiplicada por um fator 15. A mais marcante foi a perda de nitrato, cuja concentração no riacho aumentou 60 vezes, atingindo níveis con- siderados inseguros para o consumo de água (Figura 55.16c). O estudo demonstrou que a quantidade de nutrientes que sai de um ecossistema florestal intacto é controlado principalmente pe- las plantas. Os efeitos do desmatamento ocorrem dentro de poucos meses e continuam à medida que as plantas vivas estão ausentes. Os 45 anos de dados de Hubbard Brook revelaram outras ten- dências. Por exemplo, na última metade do século, a chuva ácida e a neve dissolveram a maioria do Ca2� no solo da floresta, e as correntezas o levaram dali. Nos anos 1990, a biomassa da floresta em Hubbard Brook parou de aumentar, aparentemente por falta de Ca2�. A fim de testar essa hipótese, os ecologistas em Hubbard Brook começaram um amplo experimento em 1998. Primeiro es- tabeleceram um controle e uma bacia hidrográfica experimental, a qual monitoraram ao longo de dois anos antes de utilizar um helicóptero para adicionar Ca2� na bacia experimental. No ano de 2006, bordos que cresceram no local enriquecido com Ca2� tive- ram concentrações mais altas de Ca2� nas suas folhagens, coroas (a) Represas de concreto e barragens construídas ao longo das correntezas no fim das bacias hidrográficas permitiram aos pesquisadores a monitoração do fluxo de saída de água e nutrientesdo ecossistema. (b) Uma bacia hidrográfica foi desmatada, a fim de estudar os efeitos da perda da vegetação na drenagem e na reciclagem de nutrientes. (c) A concentração de nitrato na saída da bacia desflorestada foi 60 vezes maior do que na bacia controle. C on ce nt ra çã o de n itr at o na s aí da (m g/ L) 1965 1966 1967 1968 0 1 2 3 4 20 40 60 80 Final do desmatamento Controle Desflorestada Figura 55.16 � Reciclagem de nutrientes na Floresta Experimental de Hubbard Brook: um exemplo de pesquisa ecológica de longa duração. 1236 Campbell & Cols. mais saudáveis e mudas maiores do que aqueles na bacia hidrográ- fica controle. Esses dados sugerem que o declínio dos bordos no nordeste dos Estados Unidos e sudeste do Canadá é devido pelo menos em parte às consequências da acidificação do solo. Os estudos em Hubbard Brook, bem como diversos outros projetos de pesquisa ecológica de longa duração financiados pela Fundação Nacional de Ciência, avaliam os processos naturais do ecossistema e fornecem uma visão importante dos mecanismos pelos quais as atividades humanas afetam esses processos. R E V I S à O D O C O N C E I T O 1. DESENHE Para cada um dos ciclos biogeoquímicos deta- lhados na Figura 55.14, desenhe um diagrama simples que mostre uma possível rota para um átomo ou molécula da- quela substância química de um reservatório abiótico até um reservatório biótico e vice-versa. 2. Por que o desmatamento da bacia hidrográfica aumenta a concentração de nitratos nos cursos d’água da bacia? 3. E SE...? Por que a disponibilidade de nutrientes na flo- resta tropical é particularmente vulnerável ao desmata- mento? Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. 55.5 Atividades humanas hoje dominam a maioria dos ciclos químicos na Terra Uma vez que a população humana cresceu rapidamente em ta- manho (ver Seção 53.6), nossas atividades e capacidades tecno- lógicas têm perturbado a estrutura trófica, o fluxo de energia e a reciclagem química dos ecossistemas. Na realidade, em sua maio- ria, os ciclos químicos hoje são mais influenciados por atividades humanas do que por processos naturais. Enriquecimento de nutrientes A atividade humana geralmente remove nutrientes de uma parte da biosfera e os adiciona em outra parte. No nível mais simples, uma pessoa comendo um pedaço de brócolis em Washington, DC, consome nutrientes que poucos dias antes estavam no solo na Califórnia; um pequeno espaço de tempo depois, alguns des- ses nutrientes estarão no Rio Potomac, tendo passado pelo sis- tema digestivo da pessoa e pela unidade de tratamento local de esgoto. Em escala maior, nutrientes no solo de uma fazenda po- dem lixiviar até rios e lagos, esgotando nutrientes em uma área e acrescentando em outra e alterando os ciclos químicos em ambas as áreas. Além disso, os seres humanos adicionaram materiais in- teiramente novos – alguns deles tóxicos – aos ecossistemas. Os seres humanos alteraram tanto os ciclos de nutrientes que não podemos mais compreender nenhum ciclo sem levar esses efeitos em consideração. Vamos examinar exemplos específicos do impacto dos seres humanos na dinâmica química da biosfera. A agricultura e o ciclo do nitrogênio Após a vegetação natural ser removida de uma área, a reserva existente de nutrientes no solo é suficiente para cultivar planta- ções por um período de tempo. Nos ecossistemas de agricultura, entretanto, uma fração substancial desses nutrientes é exporta- da da área na forma de biomassa da plantação. O período “livre” para a produção da plantação – quando não há necessidade de adicionar nutrientes no solo – varia enormemente. Quando al- gumas das pradarias nos primórdios da América do Norte foram cultivadas pela primeira vez, grandes plantações poderiam ser produzidas por décadas, pois o grande estoque de material or- gânico no solo continuava a se decompor e a fornecer nutrientes. Por outro lado, algumas áreas desmatadas nos trópicos podem ser cultivadas apenas por um ou dois anos por causa da quantidade reduzida de nutrientes contida no solo. Apesar dessas variações, em qualquer área sob agricultura intensiva, o estoque natural de nutrientes acaba se tornando escasso. O nitrogênio é o principal nutriente perdido na agricultura; portanto, a agricultura tem grande impacto no ciclo do nitrogê- nio. Lavrar a terra mistura o solo e acelera a decomposição de matéria orgânica, liberando nitrogênio posteriormente remo- vido quando as plantações são colhidas. Fertilizantes aplicados ajustam a perda de nitrogênio utilizável para os ecossistemas de agricultura (Figura 55.17). Além disso, conforme vimos no caso de Hubbard Brook, sem a vegetação para retirar nitratos do solo, eles provavelmente serão perdidos por lixiviação do ecossistema. Estudos recentes indicam que as atividades humanas têm mais que duplicado o estoque global de nitrogênio fixo disponí- vel para os produtores primários. Fertilizantes industriais forne- ceram a maior fonte adicional de nitrogênio. A queima de com- bustível fóssil também libera óxidos de nitrogênio, que entram na atmosfera e são dissolvidos na água da chuva. O aumento do cultivo de leguminosas, com seus simbiontes fixadores de nitro- gênio, é a terceira via pela qual os seres humanos aumentam a quantidade de nitrogênio fixado no solo. Figura 55.17 � Fertilização de uma plantação de milho. Para repor os nutrientes removidos nas plantações, produtores devem aplicar fertili- zantes – sejam eles orgânicos, como estrume ou palha, ou sintéticos, como mostrado aqui. DICA DO PROFESSOR O vídeo apresenta o movimento que os elementos realizam entre os seres vivos e os compartimentos físicos do globo terrestre. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Na agricultura, utiliza-se a irrigação como parte integrante e constante da produção de alimentos e outros insumos. Calcula-se que cerca de 60% da água utilizada pela humanidade é utilizada em atividades agropecuárias, sobressaindo-se a irrigação. Assim sendo, indique a opção correta abaixo sobre a irrigação e sua relação com o ciclo da água: A) Este procedimento é uma forma de “injetar” energia no meio. B) O procedimento citado promove o aumento das precipitações naturais sobre a plantação. C) A irrigação visa aumentar o volume de água estocada na atmosfera e promove um processo de redução da produção fotossintética das plantas. D) A absorção de água para o subsolo é reduzida pelo procedimento descrito, deixando o solo mais seco. E) Pelo fato de que mais água cai no oceano como precipitação do que evapora na superfície. O fósforo é um importante elemento para a nutrição, especialmente vegetal, entrando, por exemplo, na composição dos ácidos nucléicos e nucleotídeos como a adenosina trifosfato / difosfato (ATP/ADP) essenciais no transporte de energia pelo organismo. Entretanto, em solos do tipo laterítico (ou latossolos), comuns no Brasil e 2) muito ácidos, oxidados, ricos em argilas e alumínio, o fósforo tende a se “prender” a estas argilas e alumínio, formando compostos insolúveis. A) a) O aumento da irrigação permite aumentar a disponibilidade do elemento em questão. B) b) O fósforo, nas condições descritas, fica disponível para ser absorvido pelas plantas. C) c) O aumento da disponibilidade de fósforo é obtida por maior acidez (redução mais acentuada) do pH do solo. D) d) A correção e neutralização do pH (com o uso de calcário, por exemplo) é essencial na liberação do fósforo para as plantas. E) e) A disponibilidade de fósforo só é corrigida com o plantio em solos naturalmente mais ricos em fósforo. 3) Leia a afirmação e a explicação abaixo: No ciclo do carbono, o carbono atmosférico é essencial a produção agrícola. Isso acontece porque os processos de assimilação incorporam o carbono da atmosfera em carbono orgânico nos tecidos das plantas e na fotossíntese. A partir do que é afirmado acima, indique a opção correta a seguir:A) a) A afirmação e a explicação estão incorretas. B) b) A afirmação está correta mas a explicação está incorreta. C) c) A afirmação e a explicação estão corretas mas a explicação não justifica a afirmação. D) d) A afirmação e a explicação estão corretas e a explicação justifica a afirmação. E) e) A afirmação está incorreta mas a explicação está correta. 4) No ciclo do nitrogênio, qual é o reservatório (deste elemento) mais importante e mais acessível aos organismos fixadores de nitrogênio no solo? A) a) Rochas. B) b) Água subterrâneas. C) c) Águas de superfície. D) d) Biomassa. E) e) Atmosfera. 5) Sobre a relação entre ciclos biogeoquímicos e atividade antrópica (humana) indique a opção correta abaixo. A) a) A velocidade de circulação do elemento dos ciclos biogeoquímicos não é afetada. B) b) A atividade antrópica afeta apenas organismos vivos, não afetando os ciclos biogeoquímicos. C) c) Os esgotos afetam a entrada de fósforo e nitrogênio no meio, especialmente os ecossistemas aquáticos. D) d) A atividade industrial promove a redução da quantidade de enxofre na atmosfera. E) e) O efeito estufa é um fenômeno relacionado ao ciclo do nitrogênio atmosférico. NA PRÁTICA Dentre os elementos que as plantas mais necessitam em quantidade, está o nitrogênio, que, como você viu, possui um ciclo biogeoquímico complexo, envolvendo organismos específicos. O ciclo do nitrogênio tem uma especificidade: o processo de fixação biológica do nitrogênio (FBN). A FBN é a captação do gás nitrogênio por bactérias em associação mutualística com plantas, principalmente do grupo das leguminosas, e a transformação em formas prontamente assimiláveis pela planta. A grande vantagem desse processo é o fornecimento de nitrogênio para as culturas agrícolas sem a necessidade de aplicar fertilizantes. A produção de fertilizante nitrogenado tem um gasto energético muito elevado, consumindo combustível fóssil em quantidades extraordinárias. Estimular o processo biológico de ciclagem dos elementos agrega um benefício ambiental incalculável para todos os seres vivos do nosso planeta. Esse processo é tão fantástico, que pesquisadores da área agronômica, há muito tempo, buscam genótipos de bactérias fixadoras de nitrogênio que se associem com outros grupos de plantas, como as gramíneas, por exemplo. Esforços das pesquisas brasileiras centram-se na cana-de-açúcar, devido à importância que essa cultura tem para o país. Já, há informações de que existam bactérias endofíticas que atuam no interior da cana-de-açúcar, fixando nitrogênio atmosférico e convertendo em formas prontamente assimiláveis pela planta. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: PINTO-COELHO, Ricardo Motta. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2007. Cap. 22; Cap. 23. SADAVA, D.; HELLER, H.C.; ORIANS, G.H.; PURVES, W.K.; HILLIS, D.M. Vida: a ciência da biologia. Vol. II. 8aed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Cap. 38. Item 38.3. TOWSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos em Ecologia. 3aed. Porto Alegre: Artmed, 2010. Cap. 11. Item 11.6. Impactos das atividades humanas sobre a dinâmica do fósforo no meio ambiente e seus reflexos na saúde pública Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Ecologia de Populações: densidade, dispersão e demografia (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO O estudo desta Unidade de Aprendizagem refere-se às características que descrevem uma população. Os estudos demográficos são fundamentais para programas de conservação de espécies, pois oferecem informações sobre o comportamento das populações desde o nascimento até a vida adulta, em relação ao deslocamento entre habitats, indicadores de reprodução e estabelecimento das populações. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Enumerar as características que definem a estrutura de uma população;• Relacionar as características populacionais;• Analisar os indicadores de caracterização da estrutura populacional.• DESAFIO Uma nova praga está avançando em um dado tipo de produto agrícola. Torna-se assim necessário um plano de ação para conter essa praga. Um estudo revela que a praga consiste em uma espécie de larva que se alimenta do produto, e seus numerosos ovos são colocados por borboletas que se propagam voando pelas regiões afetadas e nas regiões próximas. Quando os ovos eclodem, as larvas se alimentam de toda a planta até estas alcançarem o estágio de crisálida. Para definir quando estes organismos devem ser atacados para deter a praga e evitar que ela ocorra novamente você pode usar: - as Tabelas de vida - as curvas de sobrevivência - os conhecimentos sobre estrutura populacional e demografia Justifique para que serve cada um destes estudos. INFOGRÁFICO Veja, no infográfico, as características que descrevem uma população. CONTEÚDO DO LIVRO A parte inicial do capítulo 53, de autoria de Robert B. Jackson, da 8ª edição da obra Biologia, de Campbell & Reece, do ano de 2010, aborda as características que descrevem uma população. Estude o item 53, Processos biológicos dinâmicos influenciam densidade, dispersão e demografia. Equipe de tradução Anne D. Villela (Cap. 2 e 3) Doutora em Biologia Celular e Molecular pela Pontif ícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ardala Breda (Caps. 4, 5, 16, 17, 21) Pesquisadora do Departamento de Bioquímica na Texas A&M University. Ph.D. em Biologia Celular e Molecular pela PUCRS. Armando Divan Molina Junior (Caps. 26 a 34) Biólogo. Pesquisador do Centro de Ecologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Ecologia pela UFRGS. Doutor em Fisiologia Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Christian Viezzer (Caps. 11, 49, 50 e 51) Mestre em Engenharia e Tecnologia de Materiais pela PUCRS. Doutor em Ciência e Tecnologia dos Materiais-PPGEM pela UFRGS. Pós-Doutor em Biologia Celular e Molecular pela PUCRS. Denise Cantarelli Machado (Caps. 7, 12, 13, 19, 24 e 25) Bióloga. Professora da Faculdade de Medicina e Coordenadora do Laboratório de Biologia Celular e Molecular e do Centro de Terapia Celular do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS. Especialista em Biotecnologia. Mestre em Genética pela UFRGS. Doutora em Imunologia pela University of Sheffield, Inglaterra. Pós-Doutora em Imunologia Molecular pela University of Sheffield e National Institutes of Health (NIH), Bethesda, USA. Gaby Renard (Caps. 3, 6, 14, 15, 18, 20, 22, 23 e 45, Iniciais, Apêndices) Pesquisadora da Quatro G Pesquisa & Desenvolvimento Ltda., TECNOPUC. Mestre e Doutora em Ciências Biológicas: Bioquímica pela UFRGS. Jocelei Maria Chies (Cap. 6) Pesquisadora da Quatro G Pesquisa & Desenvolvimento Ltda., TECNOPUC. Mestre em Genética pela UFRGS. Doutora em Biologia Molecular pela Universidade de Brasília (UnB). Jordana Dutra de Mendonça (Caps. 12, 13) Mestre em Ciências Biológicas: Bioquímica pela UFRGS. Laura Roberta Pinto Utz (Caps. 22 a 25) Mestre em Biologia Animal pela UFRGS. Doutora em Marine Estuarine and Environmental Sciences (MEES) pela University of Maryland at College Park. Leandro Vieira Astarita (Cap. 10) Biólogo. Professor adjunto da Faculdade de Biociências da PUCRS. Doutor em Ciências (ênfase em Botânica) pela Universidade de São Paulo (USP). Leonardo Krás Borges Martinelli (Cap. 9) Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Tuberculose (INCT-TB/PUCRS). Mestre em Engenharia Biomédica pela PUCRS. Doutor em Biologia Celular e Molecular pela PUCRS. Paulo Luiz de Oliveira (Caps. 2, 8, 35 a 39, 40 a 44 e 52 a 56) Biólogo. Professor titular aposentado do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da UFRGS. Mestre em Botânica pela UFRGS. Doutor em Ciências Agrárias pela Universität Hohenheim, Stuttgart, República Federal da Alemanha. Rodrigo Gay Ducati (Cap.1) Pesquisador pós-doutor no Albert Einstein College of Medicine (Bronx, NY - EUA). Mestre em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS. Doutor em Biologia Celular e Molecular pela UFRGS. Thamires Barreto Ferreira (Caps. 46, 47 e 48) Bióloga. Graduada em Ciências Biológicas pela PUCRS. Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 B615 Biologia de Campbell [recurso eletrônico] / Jane B. Reece ... [et al.] ; [tradução : Anne D. Villela ... et al.] ; revisão técnica : Denise Cantarelli Machado, Gaby Renard, Paulo Luiz de Oliveira. – 10. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2015. Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8271-230-6 1. Biologia. I. Reece, Jane B. CDU 573 Trilhas das tartarugas A cada ano na Flórida, milhares de filhotes da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) rompem as cascas dos seus ovos, escavam areia acima e rastejam até a praia para sua primeira jornada no oceano (Figura 53.1). Vários fato- res determinam como muitas tartarugas se desenvolvem e chegam até a água. O número de fêmeas que retornam a cada ano para depositar os ovos varia por um fator de 20. A predação dos ninhos por guaxinins também varia bastante, desde menos de 10% em alguns anos até quase 100% em outros. Aqueles filho- tes que conseguem escavar até a superf ície podem ficar desorientados pelas luzes e afastarem-se do oceano ou serem comidos por aves ou caranguejos, antes de alcançarem a água. Por que a sobrevivência das proles de tartarugas e outras espécies flutuam tanto de ano para ano? Para responder a essa pergunta, recorremos à ecolo- gia de populações, que é o estudo de populações em relação ao seu ambiente. A ecologia de populações explora como os fatores bióticos e abióticos influen- ciam a densidade, a distribuição, o tamanho e a estrutura etária das populações. As populações evoluem à medida que a seleção natural atua sobre varia- ções herdáveis entre indivíduos, alterando as frequências de alelos e caracterís- ticas ao longo do tempo (ver Capítulo 23). A evolução permanece um tema cen- tral à medida que consideramos agora as populações no contexto da ecologia. Neste capítulo, examinaremos primeiramente alguns dos aspec- tos estruturais e dinâmicos das populações. A seguir, explora- remos as ferramentas e os modelos utilizados pelos ecólogos para analisar populações e os fatores que podem regular a abundância de orga- nismos. Por fim, aplicaremos esses con- Figura 53.1 Por que a sobrevivência dos filhotes de tartaruga varia a cada ano? 53 Ecologia de Populações C O N C E I T O S - C H A V E 53.1 Os processos biológicos influenciam a densidade, a dispersão e a demografia das populações 53.2 O modelo exponencial des- creve o crescimento popu- lacional em um ambiente idealizado e ilimitado 53.3 O modelo logístico descre- ve como uma população cresce mais lentamente à medida que se aproxima da sua capacidade de suporte 53.4 As características da histó- ria de vida são produtos da seleção natural 53.5 Muitos fatores que regulam o crescimento populacional são dependentes da densi- dade 53.6 A população humana não está mais em crescimento exponencial, mas ainda está crescendo rapidamente BIOLOGIA DE CAMPBELL 1185 ceitos básicos conforme examinarmos as tendências recen- tes no tamanho e na constituição das populações humanas. CONCEITO 53.1 Os processos biológicos influenciam a densidade, a dispersão e a demografia das populações Uma população é um grupo de indivíduos de uma única espécie vivendo na mesma área geral. Os membros de uma população dependem dos mesmos recursos, são influen- ciados por fatores ambientais similares e estão aptos a inte- ragir e procriar entre si. Muitas vezes, as populações são descritas pelos seus limites e tamanho (número de indivíduos vivendo dentro desses limites). Em geral, os ecólogos começam investigan- do uma população pela definição dos limites apropriados ao organismo em estudo e das perguntas a serem formu- ladas. Os limites de uma população podem ser naturais, como no caso de uma ilha ou de um lago, ou podem ser de- finidos arbitrariamente por um pesquisador – por exem- plo, um condado específico de Minnesota para estudar indivíduos de carvalho. Densidade e dispersão Densidade de uma população é o número de indivíduos por unidade de área ou volume: o número de carvalhos no condado de Minnesota ou o número de bactérias de Escherichia coli por milímetro em um tubo de ensaio. Dis- persão é o padrão de espaçamento entre indivíduos dentro dos limites da população. Densidade: uma perspectiva dinâmica Em casos raros, o tamanho e a densidade da população podem ser determinados pela contagem de todos os in- divíduos dentro dos limites da população. Poderíamos contar todas as estrelas-do-mar em uma piscina de maré, por exemplo. Grandes mamíferos que vivem em manadas, como os elefantes, podem às vezes ser contados com exa- tidão sobrevoando-se a área de ocorrência dos animais. Na maioria dos casos, no entanto, é impraticável ou im- possível contar todos os indivíduos de uma população. Nessas situações, os ecólogos utilizam diferentes técnicas de amostragem para estimar as densidades ou os tama- nhos populacionais totais. Eles podem contar o número de carvalhos em várias parcelas de 100 x 100 m dispostas aleatoriamente, calcular a densidade média nas parcelas e, após, ampliar a estimativa para o tamanho populacional da área inteira. Essas estimativas são mais corretas quando há muitas parcelas de amostragem e quando o hábitat é bas- tante homogêneo. Em outros casos, em vez de contar os organismos individualmente, os ecólogos de populações estimam a densidade a partir de um indicador do tamanho populacional, como o número de ninhos, tocas, trilhas ou excrementos fecais. Os ecólogos também empregam o mé- todo de marcação e recaptura para estimar o tamanho de populações de animais selvagens (Figura 53.2). Figura 53.2 Método de pesquisa Determinação do tamanho populacional usando o método de marcação e recaptura Golfinhos- -de-hector Aplicação Os ecólogos não con- seguem contar todos os indiví- duos de uma população, se os organismos se movem muito rápido ou se estão fora do campo de visão. Nesses casos, os pesqui- sadores com frequência utilizam o método de marca- ção e recaptura para estimar o tamanho da população. Andrew Gormley e colabora- dores da Universidade de Otago aplicaram esse método em uma população ameaçada de golfinhos-de-hector (Cephalorhynchus hector), próximo à Península de Banks, na Nova Zelândia. Técnica Em geral, os cientistas começam pela captura de uma amostra aleatória de indivíduos de uma população. Etiquetam ou “marcam” cada indivíduo e, a seguir, o soltam. Em algumas espécies, os pesquisadores conseguem identificar os indivíduos sem capturá-los fisicamente. Por exemplo, Gormley e colabo- radores identificaram 180 golfinhos-de-hector fotografando, a bordo de um barco, suas nadadeiras dorsais características. Após esperar os indivíduos marcados ou identificados se mistura- rem de volta na população, geralmente alguns dias ou semanas, os cientistas capturam ou amostram um segundo conjunto de in- divíduos. Na Península de Banks, a equipe de Gormley encontrou 44 golfinhos na sua segunda amostragem, sete dos quais eles já tinham fotografado. O número de animais marcados capturados na segunda amostragem (x), dividido pelo número total de ani- mais capturados na segunda amostragem (n), deveria igualar-se ao número de indivíduos marcados e soltos na primeira amostra- gem (s), dividido pelo tamanho populacional estimado (N). x 5 s n N ou, resolvendo para o tamanho da população, N 5 sn N O método assume que os indivíduos marcados e não marcados têm a mesma probabilidade de serem capturados ou amostra- dos e que os organismos marcados se misturam completamente de volta na população; assume também que não houve nasci- mento, morte, imigração nem emigração de indivíduos durante o intervalo das amostragens. ResultadosCom base nos dados iniciais, o tamanho estima- do da população de golfinhos-de-hector na Península de Banks seria de 180 3 44/7 5 1.131 indivíduos. A repetição da amos- tragem por Gormley e colaboradores sugeriu um tamanho po- pulacional real próximo a 1.100. Fonte: A. M. Gormley et al., Capture-recapture estimates of Hector’s dolphin abundance at Banks Peninsula, New Zealand, Marine Mammal Science 21:204-216 (2005). INTERPRETE OS DADOS Suponha que nenhum dos 44 golfi- nhos encontrados na segunda amostragem tivesse sido fotografado antes. Você seria capaz de resolver a equação para N? O que você poderia concluir a respeito do tamanho populacional nesse caso? 1186 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON A densidade não é uma propriedade estática, mas muda à medida que indivíduos são adicionados ou removi- dos de uma população (Figura 53.3). As adições ocorrem mediante nascimentos (que nesse contexto consideramos como todas as formas de reprodução) e imigração, o influ- xo de novos indivíduos provenientes de outras áreas. Os fa- tores que removem indivíduos de uma população são mor- tes (mortalidade) e emigração, o movimento de indivíduos para fora de uma população em direção a outros locais. Enquanto as taxas de nascimento e morte influen- ciam a densidade de todas as populações, a imigração e a emigração também alteram a densidade de muitas po- pulações. Os estudos de uma população de golfinhos-de- -hector (ver Figura 53.2), na Nova Zelândia, mostraram que a imigração foi aproximadamente 15% do tamanho po- pulacional total de cada ano. A emigração de golfinhos na área tende a ocorrer durante a estação de inverno, quando os animais se movem para longe da margem. Imigração e emigração representam importantes trocas biológicas en- tre populações ao longo do tempo. Padrões de dispersão Dentro dos limites geográficos de uma população, as den- sidades locais podem diferir substancialmente, criando pa- drões contrastantes de dispersão. As diferenças em densi- dades locais estão entre as características mais importantes a serem estudadas por um ecólogo de populações, uma vez que proporcionam uma compreensão sobre associações ambientais e interações sociais dos indivíduos na população. O padrão de dispersão mais comum é o agregado, em que os indivíduos são amontoados em grupos. Os ve- getais e os fungos são com frequência agregados, onde as condições do solo e outros fatores ambientais favorecem a germinação e o crescimento. Cogumelos, por exemplo, podem agregar-se na parte interna e externa de um tronco podre. Insetos e salamandras podem estar agregados sob o mesmo tronco devido à umidade mais alta nesse local. As agregações de animais também podem estar associadas ao comportamento de acasalamento. As estrelas-do-mar agrupam-se em piscinas de marés, onde o alimento está facilmente disponível e podem se reproduzir com sucesso (Figura 53.4a). Grupos em formação também podem au- mentar a eficácia de predação ou defesa; por exemplo, uma matilha de lobos tem mais chances do que um único lobo de subjugar um alce ou outra presa grande, e um bando de aves tem mais chances do que uma única ave de prevenir um potencial ataque. Um padrão uniforme (ou igualmente espaçado) de dis- persão pode resultar de interações diretas entre indivíduos na população. Algumas espécies vegetais secretam substân- cias químicas que inibem a germinação e o crescimento de indivíduos próximos que poderiam competir por recursos. Muitas vezes, os animais exibem dispersão uniforme, em consequência de interações sociais antagônicas, como a ter- ritorialidade – a defesa de um espaço f ísico limitado contra a invasão de outros indivíduos (Figura 53.4b). Os padrões uniformes são mais raros do que os padrões agregados. Na dispersão aleatória (espaçamento imprevisível), a posição de cada indivíduo em uma população é indepen- dente dos outros indivíduos. Esse padrão ocorre na au- sência de fortes atrações ou repulsões entre indivíduos ou onde fatores f ísicos ou químicos fundamentais são relati- vamente constantes ao longo da área de estudo. As plantas estabelecidas por sementes dispersadas pelo vento, como o dente-de-leão, podem ser distribuídas aleatoriamente em um hábitat bastante uniforme (Figura 53.4c). Demografia Os fatores que influenciam os padrões de densidade e de dispersão das populações – necessidades ecológicas de uma espécie, estrutura do ambiente e interações entre in- divíduos dentro da população – também influenciam ou- tras características das populações. Demografia é o estudo das estatísticas vitais de populações e como elas se alteram ao longo do tempo. De interesse especial aos demógrafos são as taxas de nascimento e as taxas de morte. Uma ma- neira útil de resumir algumas das estatísticas vitais de uma população é organizar uma tabela de vida. Nascimentos e imigração adicionam indivíduos à população. Mortes e emigração removem indivíduos da população. Emigração MortesNascimentos Imigração Figura 53.3 Dinâmica populacional. BIOLOGIA DE CAMPBELL 1187 Tabelas de vida Há cerca de um século, quando os seguros de vida torna- ram-se disponíveis, as companhias seguradoras começa- ram a estimar a expectativa de vida, em média, de pessoas de determinada idade. Para isso, os demógrafos desen- volveram tabelas de vida, resumos idade-específicos do padrão de sobrevivência de uma população. Os ecólogos pesquisadores de populações adaptaram essa aborda- gem ao estudo de populações em geral. A me- lhor maneira de construir uma tabela de vida é seguir a trajetória de uma coorte, um grupo de indivíduos da mesma idade, desde o nascimento até a morte de todos os indivíduos. Para montar a tabela de vida, precisamos determinar o número de indivíduos que morrem em cada grupo etário e calcular a proporção da coorte sobreviven- te de uma classe etária para a próxima. Os estudos de uma população dos esquilos-de-belding produziram a tabela de vida mostrada na Tabela 53.1. A tabela revela muitos aspectos sobre a população. Por exemplo, a terceira e a oitava colunas listam, respectivamente, as proporções de fêmeas e de machos na coorte que permane- cem vivas em cada idade. Uma comparação da quinta e da décima colunas revela que os machos têm taxas de mortalidade mais altas do que as fêmeas. Tabela 53.1 Tabela de vida de esquilos-de-belding (Spermophilus beldingi) no Passo de Tioga, Serra Nevada, Califórnia* Idade (anos) FÊMEAS MACHOS Número de vivos no início do ano Proporção de vivos no início do ano Número de mortos durante o ano Taxa de mortali- dade† Expectativa de vida média adicional (anos) Número de vivos no início do ano Proporção de vivos no início do ano Número de mortos durante o ano Taxa de mortali- dade† Expectativa de vida média adicional (anos) 0–1 337 1 207 0,61 1,33 349 1 227 0,65 1,07 1–2 252‡ 0,386 125 0,50 1,56 248‡ 0,350 140 0,56 1,12 2–3 127 0,197 60 0,47 1,60 108 0,152 74 0,69 0,93 3–4 67 0,106 32 0,48 1,59 34 0,048 23 0,68 0,89 4–5 35 0,054 16 0,46 1,59 11 0,015 9 0,82 0,68 5–6 19 0,029 10 0,53 1,50 2 0,003 2 1 0,50 6–7 9 0,014 4 0,44 1,61 0 7–8 5 0,008 1 0,20 1,50 8–9 4 0,006 3 0,75 0,75 9–10 1 0,002 1 1 0,50 Fonte: P. W. Sherman e M. L. Morton, Demography of Belding’s ground squirrel, Ecology 65:1617-1628 (1984). *Fêmeas e machos têm programas de mortalidade diferentes, sendo, por isso, calculados separadamente. †A taxa de mortalidade é a proporção de indivíduos que morrem du- rante um intervalo de tempo específico. ‡Inclui 122 fêmeas e 126 machos capturados pela primeira vez com um ano de vida e, por isso, não incluídos na contagem de esquilos com 0 a 1 ano de idade. Figura 53.4 Padrões de dispersão dentro dos limites geográficos de uma população. (a) Agregado As estrelas-do-mar se agrupam onde o alimento é abundante. (b) Uniforme Os albatrozes em formação de ninho exibem espaçamento uniforme, mantido por interações agressivas entre os vizinhos. (c) AleatórioOs dentes-de-leão crescem de sementes dispersadas pelo vento que se distribuem ao acaso e germinam. E SE.. .? Os padrões de dispersão podem depender da escala. Qual seria a aparência da dispersão dos pinguins, vista de um avião sobre o oceano? Pesquisadores traba- lhando com um esquilo- -de-belding. 1188 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON Curvas de sobrevivência Um método gráfico de representação de alguns dos dados de uma tabela de vida é uma curva de sobrevivência, um registro da proporção ou números em uma coorte ainda viva em cada idade. Como exemplo, vamos utilizar os da- dos dos esquilos-de-belding na Tabela 53.1 para construir uma curva de sobrevivência para essa população. Em geral, uma curva de sobrevivência começa com uma coorte de tamanho adequado – digamos, mil indivíduos. Para obter os outros pontos na curva para a população de esquilos- -de-belding, multiplicamos a proporção de indivíduos vi- vos no início de cada ano (a terceira e a oitava colunas da Tabela 53.1) por 1.000 (coorte inicial hipotética). O resulta- do é o número de vivos no início de cada ano. O confronto desses números com a idade de esquilos-de-belding fêmeas e machos produz a Figura 53.5. As linhas relativamente re- tas dos gráficos indicam taxas de mortalidade relativamen- te constantes; contudo, os esquilos-de-belding machos têm uma taxa de sobrevivência menor do que as fêmeas. A Figura 53.5 representa apenas um dos muitos pa- drões de sobrevivência exibidos por populações naturais. Embora diferentes, as curvas de sobrevivência podem ser classificadas em três tipos gerais (Figura 53.6). Uma curva do tipo I é horizontal no começo, refletindo as baixas taxas de mortalidade durante o início e a metade da vida; após, ela cai acentuadamente, à medida que as taxas de mortali- dade aumentam entre os grupos etários mais velhos. Mui- tos mamíferos de grande porte, incluindo os seres huma- nos, que produzem proles pequenas, mas as provêm com bons cuidados, exibem esse tipo de curva. Por outro lado, a curva do tipo III cai abruptamente no começo, refletindo taxas de mortalidade muito altas para os jovens, mas hori- zontaliza à medida que as taxas de mortalidade diminuem para os poucos indivíduos que sobrevivem ao período ini- cial de risco. Esse tipo de curva está geralmente associado a organismos que produzem números muito grandes de des- cendentes, mas proporcionam pouco ou nenhum cuidado, como os vegetais de vida longa, muitos peixes e a maio- ria dos invertebrados marinhos. Uma ostra, por exemplo, pode liberar milhões de ovos, mas a maioria das suas larvas morre por predação ou outras causas. Os poucos descen- dentes que sobrevivem o suficiente para vincular-se a um substrato adequado e começam a formar uma concha dura tendem a sobreviver por um tempo relativamente longo. As curvas do tipo II são intermediárias, com uma taxa de mortalidade constante ao longo da vida do organismo. Esse tipo de sobrevivência ocorre nos esquilos-de-belding (ver Figura 53.5) e alguns outros roedores, invertebrados, lagartos e plantas anuais. Muitas espécies se enquadram em algum lugar entre esses tipos básicos de sobrevivência ou mostram padrões mais complexos. Em aves, a mortalidade costuma ser alta entre os indivíduos mais jovens (como em curvas do Tipo III), mas consideravelmente constante entre adultos (como em curvas do Tipo II). Alguns invertebrados, como caran- guejos, podem exibir curva em formato de “escada”, com breves períodos de aumento da mortalidade durante as mudas, seguidos por períodos de mortalidade mais baixa, quando seu exoesqueleto protetor está duro. Em populações que não experimentam imigração ou emigração, a sobrevivência é um dos dois fatores funda- mentais na determinação de mudanças do tamanho popu- lacional. O outro fator fundamental na determinação de tendências populacionais é a taxa de reprodução. Taxas de reprodução Em geral, os demógrafos que estudam espécies sexuadas ignoram os machos e se concentram nas fêmeas de uma população, porque somente elas geram descendentes. Por- tanto, os demógrafos observam as populações em termos de fêmeas gerando novas fêmeas. A maneira mais simples de descrever o padrão reprodutivo de uma população é perguntar como o produto da reprodução varia com o nú- mero de fêmeas e suas idades. A estimativa do número de fêmeas procriando é uma etapa importante na determinação das taxas de reprodu- ção de uma população ou espécie. Os ecólogos utilizam muitas abordagens para fazer isso, incluindo contagens di- 1.000 100 Machos 10 1 0 2 4 6 8 10 Idade (anos) N úm er o de s ob re vi ve nt es (e sc al a lo ga rít m ic a) Fêmeas Figura 53.5 Curvas de sobrevivência para machos e fê- meas dos esquilos-de-belding. A escala logarítmica no eixo y permite que o número de sobreviventes seja visível ao longo de todo o gráfico (2-1.000 indivíduos). 1.000 100 10 1 500 100 Porcentagem da duração máxima de vida N úm er o de s ob re vi ve nt es (e sc al a lo ga rít m ic a) I II III Figura 53.6 Curvas de sobrevivência idealizadas: Tipos I, II e III. O eixo y é logarítmico e o eixo x está numa escala relativa, para que espécies com durações de vida amplamente diversos pos- sam ser apresentadas juntas no mesmo gráfico. BIOLOGIA DE CAMPBELL 1189 retas e o método de marcação e recaptura (ver Figura 53.2). Cada vez mais, eles também empregam ferramentas mole- culares. Cientistas trabalhando no estado da Geórgia co- letaram amostras de pele de 198 fêmeas da tartaruga-ca- beçuda, entre 2005 e 2009. A partir dessas amostras, eles amplificaram as repetições curtas em tandem em 14 loci, usando a técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR, polymerase chain reaction), e produziram um perfil gené- tico para cada fêmea (Figura 53.7). Após, eles extraíram o DNA da casca de ovo de cada ninho de tartaruga nas praias que eles estudaram e, usando o banco de dados dos perfis genéticos, confrontaram o ninho com uma fêmea específica. Essa abordagem permitiu que eles determinas- sem como muitas das 198 fêmeas estavam procriando, sem perturbá-las durante a postura dos ovos. A idade de fêmeas reprodutivas é outra variável im- portante para o estabelecimento de taxas de reprodução. Uma tabela de reprodução, ou programa de fertilidade, é um resumo idade-específico das taxas de reprodução de uma população. Ela é construída pela medição do produto da reprodução de uma coorte, desde o nascimento até a morte. Para uma espécie sexuada, a tabela de reprodução calcula o número de descendentes femininos produzido por cada grupo etário. A Tabela 53.2 ilustra a tabela de reprodução dos esquilos-de-belding. O resultado repro- dutivo de organismos sexuados, como aves e mamíferos, é o produto da proporção de fêmeas de uma determinada idade que estão procriando e o número de descendentes femininos dessas fêmeas procriadoras. Multiplicando-se esses números, obtém-se o número médio de descenden- tes femininos para cada fêmea em um determinado grupo (última coluna na Tabela 53.2). Em esquilos-de-belding, que começam a reproduzir-se com 1 ano de idade, o re- Amostra de casca de ovo #74 Uma casca de ovo é coletada de um ninho de tartaruga-cabeçuda. Amostras de pele são coletadas de fêmeas da tartaruga-cabeçuda. No laboratório, o DNA é extraído da casca do ovo e as repetições curtas em tandem em14 loci são amplificadas por PCR. O perfil genético da casca do ovo é comparado com um banco de dados estabelecido que contém perfis genéticos de fêmeas adultas da tartaruga-cabeçuda. Um perfil genético é determinado para cada amostra de casca de ovo. Parte 1: Desenvolvimento do banco de dados Parte 2: Comparando amostras com o banco de dados Uma comparação identifica a fêmea que depositou os ovos no ninho. Para cada tartaruga, um perfil genético é determinado e armazenado em um banco de dados. TAC TAC TAC TAC TAC TTG TTG TTG TTG GTG GTG GTG GTG GTG GTG No laboratório,o DNA é extraído de cada amostra de pele e as repetições curtas em tandem em 14 loci são amplificadas por PCR. TAC TAC TAC TAC TAC TAC TTG TTG TTG TTG TTGTTG TTG GTG GTG GTG GTG GTG GTG Fêmea procriadora #108 Fêmea procriadora #109 Figura 53.7 Usando perfis genéticos de cascas de ovos da tartaruga-cabeçuda para identificar a mãe do ovo. ? Que fêmea procriando depositou ovos no ninho do qual a amostra #74 de casca de ovo foi retirada? Tabela 53.2 Tabela reprodutiva dos esquilos-de- -belding no Passo de Tioga Idade (anos) Proporção de fêmeas desmamando uma ninhada Tamanho médio da ninhada (machos e fêmeas) Número médio de fêmeas em uma ninhada Número médio de descendentes femininos* 0–1 0 0 0 0 1–2 0,65 3,30 1,65 1,07 2–3 0,92 4,05 2,03 1,87 3–4 0,90 4,90 2,45 2,21 4–5 0,95 5,45 2,73 2,59 5–6 1 4,15 2,08 2,08 6–7 1 3,40 1,70 1,70 7–8 1 3,85 1,93 1,93 8–9 1 3,85 1,93 1,93 9–10 1 3,15 1,58 1,58 Fonte: P. W. Sherman e M. L. Morton, Demography of Belding’s ground squirrel, Ecology 65:1617-1628 (1984). *O número médio de descendentes femininos é a proporção de desmame de uma ninhada multiplicado pelo número médio de fêmeas em uma ninhada. 1190 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON sultado reprodutivo alcança um pico aos 4 anos de idade e, então, decai em fêmeas mais velhas. Conforme a espécie, as tabelas de reprodução variam consideravelmente. Os esquilos, por exemplo, têm uma ni- nhada de dois a seis filhotes uma vez por ano por menos de uma década, ao passo que os carvalhos produzem milhares de bolotas (frutos) por ano, durante dezenas ou centenas de anos. Os mexilhões e outros invertebrados podem li- berar milhões de ovos e espermatozoides em um ciclo re- produtivo. No entanto, uma taxa de reprodução alta não leva ao crescimento populacional rápido, a menos que as condições sejam quase ideais para o crescimento e a so- brevivência da prole, conforme examinaremos na próxima seção. REVISÃO DO CONCEITO 53.1 1. DESENHE Cada fêmea de uma determinada espécie de peixe produz milhões de ovos por ano. Desenhe a curva de sobrevivência mais provável para essa espécie, identificando as variáveis envolvidas, e explique a sua escolha. 2. E SE.. .? Conforme observado na Figura 53.2, uma impor- tante suposição do método de marcação e recaptura é que os indivíduos marcados e os não marcados têm a mesma probabilidade de serem capturados. Descreva uma situação em que essa suposição talvez não seja válida e explique como a estimativa do tamanho populacional seria afetada. 3. FAÇA CONEXÕES Um macho do peixe esgana-gata ataca outros machos que invadem o seu território de formação de ninho (ver Figura 51.2a). Faça uma previsão do provável padrão de dispersão dos machos dessa espécie, explique o seu raciocínio. Ver respostas sugeridas no Apêndice A. CONCEITO 53.2 O modelo exponencial descreve o crescimento populacional em um ambiente idealizado e ilimitado As populações de todas as espécies têm o potencial para uma ampla expansão quando os recursos são abundantes. Para examinar o potencial de crescimento de uma popu- lação, considere uma bactéria que pode reproduzir-se por fissão a cada 20 minutos sob condições ideais de laborató- rio. Existiriam duas bactérias após 20 minutos, quatro após 40 minutos e oito após 60 minutos. Se a reprodução conti- nuasse nessa taxa, em um dia e meio e sem qualquer mor- talidade, existiriam bactérias suficientes para formar uma camada de 30 cm de espessura em todo o globo. O cresci- mento ilimitado não ocorre por longo tempo na natureza; os indivíduos geralmente têm acesso a menos recursos à medida que uma população cresce. Não obstante, os ecó- logos estudam o crescimento populacional em ambientes ideais e ilimitados, para revelar a rapidez com que as popu- lações são capazes de crescer e as condições sob as quais o crescimento rápido de fato poderia ocorrer. Taxa de crescimento per capita Imagine uma população constituída de alguns indivíduos vivendo em um ambiente ideal e ilimitado. Sob essas con- dições, não há limites externos sobre as capacidades dos indivíduos em captar energia, crescer e reproduzir-se. O tamanho da população aumentará com cada nascimen- to e com a imigração de indivíduos de outras populações. Assim, podemos definir uma mudança no tamanho da po- pulação durante um intervalo de tempo fixo com a seguin- te equação verbal: Mudança no tamanho da população 5 Nasci- mentos 1 Imigrantes entrando na população – Mortes – Emigrantes saindo da população Por enquanto, simplificaremos a equação ignorando os efeitos da imigração e da emigração. Podemos usar notação matemática para expressar essa relação simplificada de modo mais conciso. Se N represen- ta o tamanho da população e t representa o tempo, então DN é a mudança no tamanho da população e Dt é o in- tervalo de tempo (apropriado ao tempo de vida ou tempo de geração da espécie) sobre os quais estamos avaliando o crescimento populacional. (A letra grega delta, D, indica variação, como a variação no tempo.) Usando B para o nú- mero de nascimentos na população durante o intervalo de tempo e D para o número de mortes, podemos reescrever a equação verbal: DN 5 B – D Dt A seguir, podemos converter esse modelo simples em outro no qual os nascimentos e as mortes são expressos como o número médio de nascimentos e mortes por in- divíduo (per capita) durante o intervalo de tempo espe- cificado. A taxa de natalidade per capita é o número de descendentes gerados por unidade de tempo por um mem- bro médio da população. Se, por exemplo, houver 34 nas- cimentos por ano em uma população de 1.000 indivíduos, a taxa de natalidade anual per capita é 34/1.000 ou 0,034. Se conhecermos a taxa de natalidade anual per capita (sim- bolizada por b), podemos empregar a fórmula B 5 bN para calcular o número esperado de nascimentos por ano em uma população de qualquer tamanho. Por exemplo, se a taxa de natalidade anual per capita for 0,034 e o tamanho da população for 500, B 5 bN 5 0,034 3 500 5 17 por ano Similarmente, a taxa de mortalidade per capita (simbolizada por m, de mortalidade) nos permite calcu- lar o número esperado de mortes por unidade de tempo em uma população de qualquer tamanho, empregando a fórmula D 5 mN. Se m 5 0,016 por ano, esperaríamos 16 mortes por ano em uma população de 1.000 indivíduos. Para populações naturais ou aquelas de laboratório, as taxas de natalidade e mortalidade per capita podem ser calculadas a partir de estimativas do tamanho populacio- nal e de dados de tabelas de vida e tabelas reprodutivas (p. ex., Tabelas 53.1 e 53.2). BIOLOGIA DE CAMPBELL 1191 Agora, podemos rever a equação de crescimento popu- lacional, desta vez usando as taxas de natalidade e mortalida- de per capita, em vez dos números de nascimentos e mortes: DN 5 N – mN Dt Uma última simplificação é necessária. Os ecólogos de populações estão mais interessados na diferença entre a taxa de natalidade per capita e a taxa de mortalidade per capita. Essa diferença é a taxa de aumento per capita, ou r: r 5 b – m O valor de r indica se uma determinada população está crescendo (r . 0) ou diminuindo (r , 0). O crescimento populacional nulo (CPN) ocorre quando as taxas de na- talidade e de mortalidade per capita são iguais (r 5 0). Evi- dentemente, nascimentos e mortes ainda ocorrem nesta população, mas há um equilíbrio entre eles. Usando a taxa de aumento per capita, podemos agora reescrever a equação para a alteração de tamanho da po- pulação como DN 5 rN Dt Lembre-se de que essa equação presta-se a um intervalo de tempo separado ou fixo (em geral um ano, como no exemplo anterior), e não inclui imigração ou emigração. A maioria dos ecólogos prefere empregar cálculo diferencial para ex- pressar o crescimento populacional instantaneamente, como taxa de crescimento em determinado instante no tempo: dN 5 rinstNdt Nesse caso, rinst é apenas a taxa de aumento instantâneo percapita. Se você ainda não estudou cálculo, não se intimide pela última equação; ela é similar à anterior, exceto que os intervalos de tempo Dt são muito pequenos e expressos na equação como dt. Na verdade, à medida que Dt torna-se mais curto, o r discreto aproxima-se do valor de rinst instantâneo. Crescimento exponencial Anteriormente, descrevemos uma população cujos mem- bros tinham acesso a alimento abundante e eram livres para se reproduzir segundo sua capacidade fisiológica. O aumen- to populacional sob essas condições, denominado cresci- mento populacional exponencial, ocorre quando rinst é maior do que zero e constante em cada instante no tempo. Sob condições ideais, a taxa de aumento per capita pode assumir a taxa máxima para a espécie, estipulada como rmáx. A equação geral para o crescimento exponencial é dN 5 rinstNdt O tamanho de uma população em crescimento ex- ponencial aumenta em uma taxa constante, resultan- do em uma curva de crescimento em forma de J quando o tamanho populacional é plotado ao longo do tempo (Figura 53.8). Embora a taxa máxima de aumento seja constante, a população acumula mais novos indivíduos por unidade de tempo quando ela for grande do que quando for pequena; portanto, as curvas na Figura 53.8 tornam-se pro- gressivamente mais abertas ao longo do tempo. Isso acon- tece porque o crescimento populacional depende tanto de N quanto de rinst, e populações maiores exibem mais nasci- mentos (e mortes) do que as populações menores crescen- do na mesma taxa per capita. Pela Figura 53.8, também fica claro que uma população com uma taxa máxima de aumen- to maior (dN/dt 5 1,0N) crescerá mais rapidamente do que uma taxa de aumento mais menor (dN/dt 5 0,5N). A curva de crescimento exponencial em forma de J é característica de algumas populações introduzidas em um novo ambiente ou cujos números foram reduzidos por um evento catastrófico e estão se recompondo. Por exem- plo, a população de elefantes no Parque Nacional Kruger, África do Sul, cresceu exponencialmente por cerca de 60 anos após terem sido protegidos da caça pela primeira vez (Figura 53.9). O número progressivamente grande de 2.000 1.500 1,0N 1.000 500 0 0 Número de gerações 5 10 15 Ta m an ho d a po pu la çã o (N ) dN dt = 0,5NdN dt = Figura 53.8 Crescimento populacional previsto pelo mo- delo exponencial. Este gráfico compara o crescimento em duas populações com valores diferentes de rinst. Aumentando o valor de rinst de 0,5 para 1,0, aumenta a taxa de subida do tamanho da popu- lação ao longo do tempo, como refletido pelas inclinações relativas das curvas em qualquer tamanho populacional determinado. 1900 1920 1940 1960195019301910 1970 Po pu la çã o de e le fa nt es Ano 8.000 6.000 4.000 2.000 0 Figura 53.9 Crescimento exponencial na população de elefantes africanos do Parque Nacional Kruger, África do Sul. 1192 REECE, URRY, CAIN, WASSERMAN, MINORSKY & JACKSON elefantes acabou causando danos à vegetação do parque, provocando um colapso no seu suprimento alimentar. Para proteger outras espécies e o ecossistema do parque antes que o colapso acontecesse, os gestores dessa unidade de conservação começaram a limitar a população de elefantes, mediante controle da natalidade e exportação de elefantes para outros países. Em 2010, havia cerca de 11.500 elefantes no parque, mais de um por uma milha quadrada (cerca de 259 hectares). Muitos ecólogos acreditam que esse número esteja acima dos níveis históricos e sustentáveis. REVISÃO DO CONCEITO 53.2 1. Explique por que uma taxa de aumento constante (rinst) para uma população produz uma curva de crescimento em for- ma de J. 2. Onde é mais provável o crescimento exponencial por uma população vegetal – em uma área onde uma floresta foi destruída pelo fogo ou em uma floresta madura não per- turbada? Por quê? 3. E SE. . .? Em 2011, os Estados Unidos tinham uma po- pulação de 311 milhões de pessoas. Se ocorressem 14 nascimentos e 8 mortes por 1.000 habitantes, qual seria o crescimento populacional líquido do país naquele ano (ignorando imigração e emigração)? O que você precisa- ria saber para determinar se a população atual dos Estados Unidos está ou não crescendo de forma exponencial? Ver respostas sugeridas no Apêndice A. CONCEITO 53.3 O modelo logístico descreve como uma população cresce mais lentamente à medida que se aproxima da sua capacidade de suporte O modelo de crescimento exponencial assume que os recur- sos permanecem abundantes, o que raramente corresponde ao mundo real. À medida que a densidade populacional au- menta, cada indivíduo tem acesso a menos recursos. Por fim, existe um limite ao número de indivíduos que pode ocupar um hábitat. Os ecólogos definem a capacidade de supor- te, simbolizada por K, como o tamanho máximo de uma população que um determinado ambiente pode sustentar. A capacidade de suporte varia no espaço e no tempo com a abundância dos recursos limitantes. Energia, abrigo, prote- ção contra predadores, disponibilidade de nutrientes, água e locais adequados para nidificação podem ser fatores limi- tantes. Por exemplo, a capacidade de suporte para morcegos pode ser alta em um hábitat com abundantes insetos voado- res e locais para repouso (poleiros), porém mais baixa onde houver alimento abundante e menos abrigos adequados. O adensamento e a limitação de recursos podem ter um efeito profundo na taxa de crescimento populacional. Se os indivíduos não conseguem obter recursos suficientes para a reprodução, a taxa de crescimentos per capita (b) di- minuirá. Se eles não conseguem consumir energia suficien- te para se manterem ou se doenças e parasitismo aumen- tam com a densidade, a taxa de mortalidade per capita (m) pode aumentar. Um decréscimo em b ou um aumento em m resulta em menor taxa de aumento per capita (r). Modelo de crescimento logístico Podemos modificar nosso modelo matemático para incluir mudanças na taxa de crescimento à medida que N aumenta. No modelo de crescimento populacional logístico, a taxa de aumento per capita chega perto de zero à medida que o ta- manho da população aproxima-se da capacidade de suporte. Para construir o modelo logístico, começamos com o modelo de crescimento populacional exponencial e acres- centamos uma expressão que reduz a taxa de aumento per capita à medida que N cresce. Se o tamanho populacional máximo sustentável (capacidade de suporte) for K, em K – N será o número de indivíduos adicionais que o ambiente con- segue sustentar e (K – N)/K será a fração de K ainda disponí- vel para o crescimento da população. Multiplicando a taxa de aumento exponencial rinstN por (K – N)/K, modificamos a al- teração no tamanho da população à medida que N aumenta: dN 5 rinstN (K – N) dt K Quando N é pequeno quando comparado ao K, o termo (K – N)/K é próximo de um e a taxa de aumento per capita, rinst(K – N)/K, aproxima-se da taxa de aumen- to máximo. Porém, quando N é grande e os recursos são limitantes, então (K – N)/K é próximo de zero, e a taxa de aumento per capita é pequena. Quando N se iguala a K, a população para de crescer. A Tabela 53.3 mostra os cálculos da taxa de crescimento populacional para uma população hipotética crescendo de acordo como modelo logístico, com rinst 5 1 por indivíduo por ano. Observe que a taxa de crescimento populacional total é mais alta, 1375 indivíduos por ano, quando o tamanho da população é 750, ou metade da capacidade de suporte. Com tamanho da po- pulação de 750, a taxa de aumento per capita permanece relativamente alta (metade da taxa máxima), mas existem mais indivíduos reprodutores (N) na população do que em populações menores. Tabela 53.3 Crescimento logístico de uma população hipotética (K 5 1.000) Tamanho da população (N) Taxa de aumento máximo (rinst) (K – N) K Taxa de aumento per capita rinstN (K – N) K Taxa de crescimento da população* rinstN (K – N) K 25 1 0,98 0,98 125 100 1 0,93 0,93 193 2501 0,83 0,83 1208 500 1 0,67 0,67 1333 750 1 0,50 0,50 1375 1.000 1 0,33 0,33 1333 1.500 1 0 0 0 *Arredondada para o número inteiro mais próximo. BIOLOGIA DE CAMPBELL 1193 Como mostrado na Figura 53.10, o modelo logístico de crescimento populacional produz uma curva de cresci- mento sigmoide (em forma de S), quando N é plotado ao longo do tempo (linha vermelha). Novos indivíduos são adicionados à população mais rapidamente em tamanhos populacionais intermediários, quando houver não apenas uma população reprodutora de tamanho substancial, mas também muitos espaços disponíveis e outros recursos no ambiente. A taxa de crescimento populacional decresce à medida que N se aproxima de K. Observe que ainda não comentamos sobre por que a taxa de crescimento populacional diminui à medida que N se aproxima de K. A fim de que a taxa de crescimento populacional diminua, a taxa de nascimentos b deve dimi- nuir e/ou a taxa de mortes m deve aumentar. Adiante no capítulo, consideraremos alguns dos fatores que afetam essas taxas, incluindo a ocorrência de doença, predação e quantidades limitadas de recursos alimentares e outros. No Exercício de Habilidades Científicas, você pode pro- por um modelo sobre o que acontece a uma população se N tornar-se maior do que K. Modelo logístico e populações reais O crescimento em laboratório de populações de alguns pe- quenos animais, como besouros e crustáceos, e de alguns microrganismos, como bactérias, Paramecium e levedu- ras, ajusta-se muito bem a uma curva em forma de S sob condições de recursos limitados (Figura 53.11a). Essas populações estão crescendo em ambiente constante, sem predadores e espécies competidoras que podem reduzir o crescimento das populações, o que raramente ocorre na natureza. Algumas das hipóteses básicas inseridas no modelo logístico claramente não se aplicam a todas as populações. O modelo logístico assume que as populações se ajustam instantaneamente ao crescimento e se aproximam da ca- pacidade de suporte. Na verdade, com frequência existe um atraso (delay) antes que sejam percebidos os efeitos negativos de uma população em crescimento. Se o alimen- to torna-se limitante para uma população, por exemplo, a reprodução por fim declinará, mas as fêmeas podem usar suas reservas de energia para continuar se reproduzindo por um período curto. Isso pode levar a população a ultra- passar temporariamente sua capacidade de suporte, como mostrado para as pulgas d´água na Figura 53.11b. Se a população, então, diminuir abaixo da capacidade de su- porte, haverá um atraso no crescimento populacional até que o aumento no número de descendentes tenha de fato ocorrido. Outras populações, ainda, flutuam amplamente, tornando dif ícil definir a capacidade de suporte. Adiante neste capítulo, examinaremos algumas possíveis razões para essas flutuações. 2.000 1.500 K = 1.500 Crescimento exponencial O crescimento populacional começa a diminuir aqui 1.000 500 0 0 Número de gerações 5 10 15 Ta m an ho p op ul ac io na l ( N ) 1NdN dt = Crescimento logístico 1.500 1.500 – N 1NdN dt = Figura 53.10 Crescimento populacional previsto pelo modelo logístico. A taxa de crescimento populacional diminui à medida que o tamanho da população (N) se aproxima da capacida- de de suporte (K) do ambiente. A linha vermelha mostra o cresci- mento logístico de uma população, em que rinst 5 1,0 e K 5 1.500 indivíduos. Para comparação, a linha azul ilustra uma população continuando a crescer exponencialmente com o mesmo rinst. 5 10 15 200 400 600 800 1.000 Tempo (dias) N úm er o de P . a ur el ia /m L 20 40 60 80 100 120 140 160 30 0 0 60 90 120 150 180 N úm er o de D ap hn ia /5 0 m L Tempo (dias) (a) (b) 0 0 População de Paramecium aurelia no laboratório. O crescimento (pontos pretos) de P. aurelia em uma pequena cultura se aproxima bastante do crescimento logístico (curva vermelha), se o pesquisador mantiver um ambiente constante. População de Daphnia no laboratório. O crescimento (pontos pretos) de uma população de pulgas d’água (Daphnia) em uma pequena cultura de laboratório não corresponde bem ao modelo logístico (curva vermelha). Essa população ultrapassa a capacidade de suporte do seu ambiente artificial, antes de alcançar um tamanho aproximadamente estável. Figura 53.11 Até que ponto essas populações se ajustam ao modelo logísti- co de crescimento? DICA DO PROFESSOR Assista ao vídeo, que contém as características que descrevem uma população e demais fatores que influenciam na densidade, na dispersão e na demografia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Os tipos de criação de gado representam uma maneira de ver a estrutura populacional de uma dada espécie. Assim: Tipo 1 - Na criação intensiva, existe uma grande quantidade destes animais em uma área restrita Tipo 2 - Na criação extensiva, o mesmo número de animais se espalha por uma área mais ampla, em geral no pasto. A partir destas informações, indique a opção correta abaixo que descrevem a densidade e a dispersão populacionais: A) os dois tipos apresentam uma densidade populacional muito alta e uma dispersão populacional muito pequena (ou restrita). B) no tipo 1, a densidade é menor que no tipo 2, e a dispersão é igual. C) no tipo 1 a densidade é maior que no tipo 2, com a mesma dispersão. no tipo 1 a densidade populacional é menor e a dispersão populacional é maior que no tipo D) 2. E) no tipo 1 a densidade populacional é maior e a dispersão populacional é menor que no tipo 2. 2) Na apicultura (criação de abelhas), as abelhas irão se espalhar no ambiente para a coleta de néctar das flores, mas todas voltam para as colméias nos apiários. Em criação de gatos para venda, os gatos se espalham em áreas específicas do criadouro, protegendo uma determinada área, comportamento que pode ser visto também em gatos de rua. Considerando este comportamento, qual padrão de dispersão cada espécie apresentará? Indique a opção correta abaixo. A) Gatos e abelhas apresentarão um padrão de distribuição uniforme. B) Gatos e abelhas apresentarão um padrão de distribuição agrupado. C) Gatos apresentarão um padrão uniforme um e abelhas apresentarão um padrão de distribuição agrupado. D) Gatos apresentarão um padrão agrupado um e abelhas apresentarão um padrão de distribuição uniforme. E) Gatos e abelhas apresentarão um padrão de distribuição aleatório. 3) Na natureza, os peixes apresentam uma grande fecundidade, pondo e fertilizando milhares de ovos. Porém um pequeno número dos alevinos que nascem destes ovos efetivamente chegará até a idade adulta e reprodutora. A partir desta informação e sobre a demografia das populações, e considerando as necessidades de produtividade na piscicultura, indique a opção correta abaixo. A) A situação representa uma curva de sobrevivência do tipo 3 e o criador de peixe deve garantir que maior proporção dos alevinos sobreviva até a idade adulta para mudar esta situação. B) A situação representa uma curva de sobrevivência do tipo 3 mas o criador de peixe deve diminuir a proporção dos alevinos que sobrevive até a idade adulta como maneira mudar esta situação. C) A situação representa uma curva de sobrevivência do tipo 1 e o criador de peixe não necessita interferir no número de alevinos que sobreviverão até a idade adulta. D) A situação representa uma curva de sobrevivência do tipo 2 e o criador de peixe necessita interferir no número de alevinos que sobreviverão até a idade adulta, reduzindo seu número para evitar excesso de indivíduos. E) A situação representa uma curva de sobrevivência do tipo 2 e o criador de peixe não necessita interferir no número de alevinos que sobreviverão até a idade adulta para garantir a manutenção de um numero constante de indivíduos adultos. Uma das preocupações das autoridades e dos produtores rurais está na entrada de espéciesanimais ou vegetais, macroscópicas ou microscópicas, que dentro do país podem se proliferar por falta de predadores naturais e promover danos á produção agropecuária. Estes organismos que “invadem” um território são em geral organismos que tem um grande número de descendentes quando atingem a idade reprodutora mas que porém, a maioria destes descendentes morre antes de chegar a idade reprodutiva, fazendo com que restem muito poucos organismos adultos para novamente reproduzir. Um exemplo típico é a presença dos coelhos na Austrália, que foram introduzidos ali pelos colonos europeus, e se proliferaram de tal forma que são classificados como praga. Outro exemplo é o dos pardais, de origem européia e que introduzidos no Brasil se multiplicaram de tal forma que deslocaram espécies nativas para fora de 4) suas áreas tradicionais. Assim sendo, indique abaixo a opção correta com base nas informações relacionadas acima. A) Os organismos invasores estão entrando no território via imigração, e são organismos que em geral têm uma curva de sobrevivência do tipo 3, e a relação entre a quantidade de organismos, a suas idades e a quantidade de descendentes (“filhotes”) reproduzidos e os sobreviventes para cada faixa de idade indicam a chamada “Tabela de vida”, em que nela indica que o número de recém nascidos é grande, mas de adultos torna-se muito pequeno, porém com a produção de muitas descendentes fêmeas e férteis quando ocorre o período de reprodução / fértil. B) Os organismos invasores estão entrando no território via dispersão, e são organismos que em geral têm uma curva de sobrevivência do tipo 1, e a relação entre a quantidade de organismos, a suas idades e a quantidade de descendentes (“filhotes”) reproduzidos e os sobreviventes para cada faixa de idade indicam a chamada “Tabela de vida”, em que nela indica que o número de recém nascidos e de adultos é muito pequeno, com a produção de descendentes fêmeas e férteis quando ocorre o período de reprodução / fértil. C) Os organismos invasores estão entrando no território via dispersão, e são organismos que em geral têm uma curva de sobrevivência do tipo 2, e a relação entre a quantidade de organismos, a suas idades e a quantidade de descendentes (“filhotes”) reproduzidos e os sobreviventes para cada faixa de idade indicam a chamada “Tabela de vida”, em que nela indica que o número de recém nascidos é pequeno, mas praticamente todos chegam a idade adulta e fértil, com a produção de descendentes fêmeas e férteis quando ocorre o período de reprodução / fértil. Os organismos invasores estão entrando no território via imigração, e são organismos que em geral têm uma curva de sobrevivência do tipo 2, e a relação entre a quantidade de organismos, a suas idades e a quantidade de descendentes (“filhotes”) reproduzidos e os sobreviventes para cada faixa de idade indicam a chamada “Tabela de vida”, em que nela indica que o número de recém nascidos não é grande, mas a maior parte destes descendentes tornam-se adultos férteis incluindo descendentes fêmeas e férteis quando D) ocorre o período de reprodução / fértil. E) Os organismos invasores estão entrando no território via dispersão, e são organismos que em geral têm uma curva de sobrevivência do tipo 3, e a relação entre a quantidade de organismos, a suas idades e a quantidade de descendentes (“filhotes”) reproduzidos e os sobreviventes para cada faixa de idade indicam a chamada “Tabela de vida”, em que nela indica que o número de recém nascidos é grande, mas de adultos torna-se muito pequeno, porém com a produção de muitas descendentes fêmeas e férteis quando ocorre o período de reprodução / fértil. 5) Na agricultura, para cada espécie vegetal, deve-se obedecer certos parâmetros quanto a distância entre um indivíduo (um pé da planta) e outro, para garantir a produção, especialmente de frutos, e a sobrevivência da planta. Dentro do contexto da ecologia de populações, por que isso deve ser feito, mesmo quando não necessariamente existir predadores para estas plantas? A) Devido a migração e dispersão. B) Devido as idades de reprodução. C) São uma conseqüência dos riscos de mutação genética. D) Devido a competição intraespecífica. E) Dependem das curvas de sobrevivência. NA PRÁTICA No artigo "Impacto de causas básicas de morte na esperança de vida em Salvador e São Paulo, 1996.", que pode ser encontrado no "Saiba mais", está exemplificado o uso de uma Tabela de Vida para estudo comparativo entre as populações humanas das cidades de Salvador e São Paulo. A metodologia da Tabela de Vida foi empregada para calcular informações sobre probabilidades de morte e relacionar com as suas causas. A estrutura populacional das duas populações por sexo e faixa etária também foi construída. A partir da Tabela de Vida e da estrutura populacional, foi possível analisar vários dados demográficos relacionados, como: - faixa etária por sexo com maior probabilidade de morte e de esperança de vida; - impacto diferencial por sexo; - grupo etário por sexo com maior aumento de indivíduos. Os autores apontam que os dados desse estudo contribuirão para o aumento da esperança de vida das populações avaliadas. Vale a pena conferir o trabalho na íntegra, que está no "Saiba mais"! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Impacto de causas básicas de morte na esperança de vida em Salvador e São Paulo Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! PAN Onça-Pintada Sumário Plano de Ação Nacional para a Conservação da Onça- pintada Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Vida: a ciência da biologia. Vol. II - Cap. 36. Item 36.1 Fundamentos em Ecologia. 3 ed. - Cap. 5. Itens 5.3 e 5.4 Ecologia de Comunidades: interações entre espécies (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO Como ocorre a interação entre as espécies em uma comunidade é o tema de estudo desta Unidade de Aprendizagem. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar as interações interespecíficas nas comunidades;• Identificar os tipos de efeito entre as espécies (benéfico, neutro ou prejudicial) de cada interação; • Reconhecer as interações interespecíficas no dia-a-dia.• DESAFIO Um dos grandes problemas que afetam a agroindústria brasileira está no controle de pragas. Os gastos com defensivos dos diversos tipos encarece a produção e o produtor é obrigado a seguir numerosas normas de segurança na compra e no emprego destes defensivos, assim como no armazenamento e no descarte dos frascos vazios de defensivos. Além disso, há o fato de que o uso inadequado pode causar problemas ambientais, fato este que determinou o fim do uso do DDT, por exemplo. Assim sendo, tornou-se necessário procurar alternativas que permitissem controlar pragas, especialmente de insetos, porém com menor uso de defensivos, ou mesmo sem nenhum uso de defensivo. Os impactos ambientais e os custos de produção podem ser assim substancialmente reduzidos. Uma destas alternativas é o chamado Controle Biológico. Segundo o Portal Embrapa, o Controle Biológico é “o uso de organismos vivos para suprimir a população de uma praga específica, tornando-a menos abundante ou menos danosa”. Esse tipo de controle emprega as interações entre as espécies, com ganhos para o produtor e a agroindústria. Pesquise sobre o controle agrícola envolvendo um produto vegetal/agrícola brasileiro e identifique: - O/os produto/produtos (planta) e a praga que a ataca; - O tipo de controle realizado, como é feito. - O tipo de relação entre espécies que se processa entre a praga e o controle (parasita, predação, etc.) - Que tipo de benefício é obtido com esse controle e se já está disponível no mercado. Escreva sua resposta no campo abaixo. INFOGRÁFICO Veja, no Infográfico, as interaçõesinterespecíficas que ocorrem nas comunidades e seus efeitos sobre as espécies. CONTEÚDO DO LIVRO O capítulo 54 da obra Biologia, de Campbell & Reece, 8ª edição do ano de 2010, aborda temas sobre Ecologia de Comunidades. Nesta Unidade, você vai estudar as interações entre espécies em uma comunidade, que estão apresentadas no item 54.1. � � � � � � � � � �� ��� �������� � ����� ���� � �� �� � ��������� �������� � ������� Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Obra originalmente publicada sob o título Biology, 8th Edition ISBN 9780805368444 Authorized translation from the English language edition, entitled BIOLOGY, 8th Edition, by NEIL A. CAMPBELL and JANE B. REECE, published by Pearson Education, Inc., publishing as Benjamin Cummings, Copyright © 2008. All rights reserved. No part of this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying, recording or by any information storage retrieval system, without permission from Pearson Education, Inc. Portuguese language edition published by Artmed Editora, Copyright © 2010. Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada BIOLOGY, 8ª EDIÇÃO, de autoria de NEIL A. CAMPBELL e JANE B. REECE, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo de Benjamin Cummings, Copyright © 2008. Todos os direitos reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes ou sua íntegra armazenada em quaisquer meios, seja mecânico ou eletrônico, inclusive fotocópia, sem permissão da Pearson Education, Inc. A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora, Copyright © 2010. Capa: Mário Röhnelt Preparação de originais: Henrique de Oliveira Guerra Leitura final: Magda Regina Chaves Editora Sênior – Biociências: Letícia Bispo de Lima Editora Júnior – Biociências: Carla Casaril Paludo Editoração eletrônica: Techbooks Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 C187b Campbell, Neil. Biologia [recurso eletrônico] / Neil Campbell, Jane Reece; tradução Daniel Lorenzini ... [et al.]. – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010. Editado também como livro impresso em 2010. ISBN 978-85-363-2351-0 1. Biologia. I. Reece, Jane. II. Título. CDU 573 C O N C E I T O S - C H A V E 54.1 As interações entre comunidades são classificadas de acordo com o efeito sobre as espécies envolvidas: benéfico, prejudicial ou neutro 54.2 Espécies dominantes e espécies-chave exercem fortes controles sobre a estrutura da comunidade 54.3 As perturbações influenciam a diversidade e a composição das espécies 54.4 Fatores biogeográficos afetam a biodiversidade das comunidades 54.5 A ecologia de comunidades é útil para compreender os ciclos de vida dos patógenos e controlar as doenças humanas V I S à O G E R A L Um senso de comunidade No seu próximo passeio por um parque ou uma floresta, ou mes- mo no campus, procure por evidências de interações entre espé- cies diferentes. Você pode observar aves usando árvores como locais para construir ninhos, abelhas polinizando flores, aranhas prendendo insetos nas teias ou samambaias crescendo à sombra de árvores – uma pequena amostra das muitas interações entre as espécies existentes em qualquer cenário ecológico. Algumas interações ecológicas são mais óbvias do que ou- tras. À primeira vista, a Figura 54.1 descreve uma interação sim- ples entre um herbívoro, uma lagarta e seu alimento preferido, o tomateiro. Mas os objetos brancos sobre o lombo da lagarta são sinais intrigantes da interação entre a lagarta e uma terceira espé- cie, uma vespa parasita. A vespa põe seus ovos dentro da lagarta, e as larvas que emergem dos ovos se alimentam dos tecidos da lagarta. As larvas se transformam em vespas adultas dentro dos casulos brancos nas costas das hospedeiras. Essa interação acaba causando a morte da lagarta. No Capítulo 53, aprendemos como indivíduos em uma po- pulação podem afetar outros indivíduos da mesma espécie. Este capítulo examinará as interações ecológicas entre populações de diferentes espécies. Um grupo de populações de diferentes es- pécies que vivem próximas o suficiente para interagir é chama- do de comunidade biológica. Ecologistas definem os limites de determinada comunidade conforme suas objetivos de pesquisa: podem estudar a comunidade de decompositores e outros orga- nismos que vive na lenha apodrecida, a comunidade do fundo do Lago Superior ou a comunidade de árvores e arbustos no Parque Nacional de Shenandoah. Começamos este capítulo explorando os tipos de interações que ocorrem entre as espécies em uma comunidade. Então con- sideramos vários dos fatores mais significativos na estruturação da comunidade – na determinação de quantas espécies existem, quais espécies em particular estão presentes e a abundância rela- tiva dessas espécies. Finalmente, aplicamos alguns dos princípios de ecologia de comunidades para estudar as doenças humanas. 54.1 As interações entre comunidades são classificadas de acordo com o efeito sobre as espécies envolvidas: benéfico, prejudicial ou neutro Algumas relações essenciais na vida de um organismo são suas in- terações com indivíduos de outras espécies na comunidade. Essas interações interespecíficas incluem competição, predação, her- bivoria e simbiose (incluindo parasitismo, mutualismo e comen- salismo). Nesta seção, definiremos e descreveremos cada uma dessas interações, reconhecendo que os ecologistas nem sempre concordam sobre os limites precisos de cada tipo de interação. Usaremos símbolos � e � para indicar como cada interação interespecífica afeta a sobrevivência e a reprodução das duas es- pécies envolvidas na interação. Por exemplo, a predação é uma interação �/�, com efeito positivo sobre a sobrevivência e a reprodução da população do predador e efeito negativo sobre a população da presa. O mutualismo é uma interação �/�, pois a sobrevivência e a reprodução de cada espécie são aumentadas na Figura 54.1 � Quantas interações entre espécies estão ocorrendo nesta cena? 54Ecologia de Comunidades Biologia 1199 presença da outra espécie. Um 0 indica que uma população não é afetada pela interação de nenhuma forma conhecida. Historicamente, a maior parte da pesquisa ecológica concen- trou-se nas interações que possuem efeito negativo sobre ao menos uma espécie, como a competição e a predação. Entretanto, as inte- rações positivas são ubíquas e suas contribuições para a estrutura da comunidade são atualmente assunto de estudos importantes. Competição A competição interespecífica é uma interação �/� que ocor- re quando indivíduos de espécies diferentes competem por um recurso que limite seu crescimento e sobrevivência. Por exem- plo, ervas daninhas que crescem em um jardim competem com as plantas do jardim por nutrientes do solo e água. Gafanhotos e búfalos nas Great Plains (Grandes Planícies) competem pela gra- ma da qual ambos se alimentam. Linces e raposas nas florestas do norte do Alasca e Canadá competem por presas como lebres americanas. Em contraste, alguns recursos, como o oxigênio, ra- ramente são escassos; assim, embora a maioria das espécies utili- ze esse recurso, elas normalmente não competem por ele. Exclusão competitiva O que acontece em uma comunidade ao longo do tempo quan- do duas espéciescompetem diretamente por recursos escassos? Em 1934, o ecologista russo G. F. Gause estudou essa questão em experimentos de laboratório com duas espécies intimamente rela- cionadas de protistas ciliados, Paramecium aurelia e Paramecium caudatum. Ele cultivou as espécies sob condições estáveis, adicio- nando uma quantidade constante de alimento todo dia. Quando Gause criou as duas espécies em culturas separadas, cada popu- lação se desenvolveu rapidamente e então se equilibrou no que aparentemente era a capacidade de suporte da cultura (ver Figu- ra 53.13a ilustração do crescimento logístico do P. aurelia). Mas quando Gause cultivou as duas espécies juntas, P. caudatum foi le- vada à extinção na cultura. Gause inferiu que P. aurelia tinha uma margem competitiva na obtenção de energia e concluiu que duas espécies que competem pelos mesmos recursos limitantes não po- dem coexistir no mesmo local. Na ausência de perturbações, uma espécie usará os recursos de forma mais eficiente e assim se repro- duzirá mais rápido do que a outra. Até mesmo uma leve vantagem reprodutiva finalmente levará a eliminação local do competidor inferior, resultado chamado de exclusão competitiva. Nichos ecológicos A soma do uso de recursos bióticos e abióticos de uma espécie no meio é chamada de nicho ecológico da espécie. O ecologista americano Eugene Odum utilizou a seguinte analogia para expli- car o conceito de nicho: se o hábitat de um organismo é seu “en- dereço”, o nicho é a “profissão” do organismo. Em outras palavras, o nicho de um organismo é o seu papel ecológico – como ele se “encaixa” no ecossistema. Por exemplo, o nicho de uma lagartixa tropical de árvore consiste, entre vários componentes, na varia- ção de temperatura que ela tolera, no tamanho dos ramos sobre os quais ela se movimenta, no tempo em que ela está ativa duran- te o dia e nos tamanhos e tipos de insetos que ela come. Podemos utilizar o conceito de nicho para redefinir o prin- cípio da exclusão competitiva: duas espécies não podem existir juntas permanentemente em uma comunidade se os seus nichos forem idênticos. Entretanto, espécies ecologicamente similares podem coexistir em uma comunidade caso exista uma ou mais diferenças significativas em seus nichos. Quando a competição entre espécies com nichos idênticos não leva à extinção local de suas espécies, geralmente é porque o nicho de uma espécie se modifica. Em outras palavras, a evolução pela seleção natural pode resultar em uma das espécies utilizando um grupo diferente de recursos. A diferenciação dos nichos que permite que espécies similares coexistam em uma comunidade é chamada de parti- ção de recursos (Figura 54.2). Você pode pensar em partição de recursos em uma comunidade como “o fantasma de um passado competitivo” – a evidência indireta da competição interespecífica anterior resolvida pela evolução da diferenciação do nicho. Como resultado da competição, o nicho fundamental de uma espécie, ou seja, o nicho potencialmente ocupado por essa espé- cie, é muitas vezes diferente do nicho efetivo, a porção do nicho fundamental realmente ocupada em determinado ambiente. Eco- logistas podem identificar o nicho fundamental de uma espécie testando uma série de condições nas quais ela cresce e se repro- duz na ausência de competidores. Os ecologistas também podem testar se um competidor em potencial limita o nicho efetivo de A. insolitus A. cybotes A. aliniger A. distichus A. ricordii A. distichus fica sobre mourões de cerca e outras superfícies ensolaradas. A. insolitus normalmente fica em ramos sombreados. A. etheridgei A. christophei Figura 54.2 � Partição de recursos entre as lagartixas da República Dominicana. Sete espécies de lagartixas Anolis vivem em regiões próximas e todas se alimentam de insetos e outros pequenos artrópodes. Entretanto, a competição por alimento é reduzida, pois cada espécie de lagartixa fica em um local preferido diferente, ocupando, assim, um nicho distinto. 1200 Campbell & Cols. uma espécie removendo o competidor e observando se a primeira espécie se expande para o novo espaço disponível (Figura 54.3). O experimento clássico mostrado na figura mostrou com clareza que a competição de uma espécie de cracas impediu que a segun- da espécie de cracas ocupasse parte do seu nicho fundamental. Deslocamento de caráter Espécies intimamente relacionadas cujas populações às vezes são alopátricas (separadas geograficamente; ver Capítulo 24) e às ve- zes simpátricas (se sobrepõem geograficamente) fornecem mais evidências para a importância da competição na estruturação de comunidades. Em alguns casos, as populações alopátricas dessas espécies são morfologicamente similares e utilizam recursos si- milares. Em contraste, as populações simpátricas, que poderiam competir potencialmente por recursos, mostram diferenças nas estruturas do corpo e nos recursos que utilizam. Essa tendência de maior divergência das características nas populações simpátri- cas de duas espécies do que nas populações alopátricas das mes- mas duas espécies é chamada de deslocamento de caráter. Um exemplo de deslocamento de caráter ou caractere é a variação no tamanho do bico entre diferentes populações dos tentilhões de Galápagos, Geospiza fuliginosa e Geospiza fortis (Figura 54.4). Predação A predação se refere a uma interação �/� entre espécies em que uma espécie, o predador, mata e se alimenta da outra, a presa. Embora o termo predação geralmente suscite imagens como um leão atacando e comendo um antílope, ele se aplica a um amplo leque de interações. O animal que mata uma planta ao comer seus tecidos também pode ser considerado predador. Já que se alimentar e evitar ser comido são pré-requisitos para o sucesso Figura 54.3 � Pesquisa O nicho de uma espécie pode ser influenciado pela competição interespecífica? EXPERIMENTO O ecologista Joseph Connell estudou duas espécies de cracas – Chthamalus stellatus e Balanus balanoides – que possuem dis- tribuição estratificada sobre rochas ao longo da costa da Escócia. Chtha- malus é normalmente encontrada em rochas mais altas do que o Balanus. Para determinar se a distribuição de Chthamalus é resultado da competi- ção interespecífica com o Balanus, Connell removeu o Balanus das rochas em vários locais. Maré alta Nicho efetivo de Chthamalus Nicho efetivo de Balanus Oceano Maré baixa Chthamalus Balanus RESULTADOS Chthamalus se espalhou para a região anteriormente ocupada pelo Balanus. Maré baixa Maré alta Nicho fundamental do Chthamalus Oceano CONCLUSÃO A competição interespecífica torna o nicho efetivo do Chthamalus muito menor do que o seu nicho fundamental. FONTE J. H. Connell, The influence of interespecific competition and other factors on the distribution of the barnacle Chthamalus stellatus, Ecology 42: 710-723 (1961). E SE...? Outras observações mostraram que Balanus não pode sobre- viver no alto das rochas, pois resseca durante as marés baixas. Como seria a comparação do nicho efetivo de Balanus com seu nicho fundamental? 0 20 40 Altura do bico (mm) G. fortis, alopátrica Daphne Pe rc en ta ge m d e in di ví du os e m c ad a cl as se d e ta m an ho 0 20 G. fuliginosa, alopátrica Los Hermanos 40 60 60 0 20 40 60 Santa Maria, San Cristóbal Populações simpátricas 8 10 12 14 16 Altura do bico G. fuliginosa G. fortis Figura 54.4 � Deslocamento de caráter: evidência direta sobre a competição do passado. Populações alopátricas de Geospiza fuliginosa e Geospiza fortis nas Ilhas de Los Hermanos e Daphne possuem morfolo- gias de bico similares (dois gráficos superiores) e presumivelmente comem sementes de tamanhos semelhantes. Entretanto, onde as duas espécies são simpátricas em Santa Maria e San Cristóbal, G. fuliginosa tem bico menor e mais baixo e G. fortis tem bico maior e mais alto (gráfico inferior), adapta- ções que facilitam a alimentação com sementes de tamanhos diferentes. ? Suponha que as populações simpátricasde ambas as espécies de ten- tilhão colonizaram uma nova ilha que contém sementes de apenas um tamanho. O que você esperaria que ocorresse com as diferenças no tama- nho dos bicos com o tempo? Explique seu raciocínio. Biologia 1201 reprodutivo, as adaptações tanto dos predadores como das presas tendem a ser aprimoradas por meio da seleção natural. Muitas adaptações importantes da alimentação dos predado- res são tanto óbvias como familiares. A maior parte dos predado- res possui um senso agudo que lhes permite localizar e identificar uma presa em potencial. Além disso, vários predadores possuem adaptações como garras, dentes, presas, ferrões ou venenos que os ajudam a capturar e dominar os organismos dos quais eles se alimentam. Cobras cascavéis e outras víboras, por exemplo, encontram presas com um par de órgãos sensores de calor lo- calizados entre seus olhos e narinas (ver Figura 50.5a) e matam pequenos pássaros e mamíferos por meio da injeção de toxinas por meio de suas presas. Predadores que perseguem sua presa geralmente são rápidos e ágeis, e aqueles que armam emboscadas muitas vezes se disfarçam no ambiente. Da mesma forma que os predadores possuem adaptações para capturar a presa, os animais presas possuem adaptações que os ajudam a evitar que sejam comidos. Alguns comportamentos de defesas comuns são: esconder-se, fugir e formar grupos. A au- todefesa ativa é menos comum, embora alguns grandes mamí- feros herbívoros defendam a cria vigorosamente de predadores, como os leões. Outros comportamentos de defesa incluem cha- mamentos de alarme que convocam vários indivíduos da espécie da presa, que então cercam o predador. Os animais também apresentam várias adaptações de defesa morfológicas e fisiológicas. Por exemplo, a coloração críptica, ou camuflagem, torna dif ícil localizar a presa (Figura 54.5a). Ou- tros animais têm defesas mecânicas ou químicas. Por exemplo, a maioria dos predadores é bastante desencorajada pelas conhe- cidas defesas dos porcos-espinhos e gambás. Alguns animais, como a salamandra-de-fogo da Europa, podem sintetizar toxinas, ao passo que outros adquirem passivamente uma defesa química pelo acúmulo de toxinas a partir das plantas que comem. Animais com defesas químicas efetivas muitas vezes exibem coloração apossemática brilhante, ou coloração de advertência, como a do sapo-flecha-de-veneno (Figura 54.5b). A coloração apossemática parece ser adaptativa: existem evidências de que os predadores são particularmente cautelosos em lidar com presas potenciais que tenham padrões de cores brilhantes (ver Capítulo 1). Algumas espécies de presas ganham proteção significativa mi- metizando a aparência de outras espécies. No mimetismo batesia- no, uma espécie palatável ou inofensiva mimetiza um modelo não palatável ou danoso. Por exemplo, a larva da mariposa Hemeropla- nes ornatus infla a cabeça e o tórax quando perturbada, asseme- lhando-se à cabeça de uma pequena cobra venenosa (Figura 54.5c). Neste caso, o mimetismo até mesmo envolve comportamento; a lar- va movimenta a cabeça para frente e para trás e assobia como cobra. No mimetismo mülleriano, duas ou mais espécies não palatáveis, como a abelha-cuco e a vespa yellow jacket, se assemelham (Figura 54.5d). Presumivelmente, cada espécie ganha uma vantagem adi- cional, pois quanto mais não palatável for a presa, mais rápida e efe- tivamente os predadores se adaptam, evitando qualquer presa com aquela aparência em particular. Assim, a aparência compartilhada torna-se um tipo de coloração apossemática. Em um exemplo de evolução convergente, animais não palatáveis em vários táxons dife- rentes possuem padrões similares de coloração: listras pretas e ama- relas ou vermelhas caracterizam animais não palatáveis tão diversos como vespas yellow jackets e cobras-coral (ver Figura 1.25). Figura 54.5 � Exemplos de coloração defensiva nos animais. (d) Mimetismo mülleriano: duas espécies não palatáveis se imitam. (c) Mimetismo batesiano: espécie não danosa imita uma danosa. (b) Coloração apossemática. (a) Coloração críptica. � Abelha-cuco. � Larva de mariposa. � Sapo-flecha- -de-veneno. � Sapo da espécie Hyla arenicolor. � Vespa yellow jacket. � Cobra-cipó. 1202 Campbell & Cols. Os predadores também utilizam mimetismo. Por exemplo, algumas tartarugas mordedoras possuem línguas que se asseme- lham a um verme se mexendo, atraindo assim pequenos peixes. Qualquer peixe que tentar comer a “isca” é rapidamente consu- mido quando as mandíbulas fortes da tartaruga se fecham repen- tinamente. Peixes-lanterna também atraem a presa com a sua isca própria, neste caso um osso modificado da nadadeira dorsal que emite luz em algumas espécies. Herbivoria Os ecologistas utilizam o termo herbivoria para se referir a uma interação �/� em que um organismo se alimenta de partes de plantas ou algas. Enquanto mamíferos herbívoros maiores como gado, ovelhas e búfalos possam ser mais familiares, a maioria dos herbívoros na verdade são invertebrados, como grilos e besou- ros. No oceano, os herbívoros incluem cobras, ouriços-do-mar, alguns peixes tropicais e certos mamíferos como o peixe-boi (Fi- gura 54.6). Assim como os predadores, os herbívoros têm várias adap- tações especializadas. Muitos insetos herbívoros têm sensores químicos nas patas que lhes permite distinguir entre plantas tó- xicas e não tóxicas, assim como entre plantas mais nutritivas e menos nutritivas. Alguns mamíferos herbívoros, como caprinos, utilizam o senso do olfato para examinar as plantas, rejeitando algumas e se alimentando de outras. Eles também podem se ali- mentar de apenas uma parte específica da planta, como as flores. Muitos herbívoros também possuem dentes especializados ou sistemas digestivos adaptados para processar a vegetação (ver o Capítulo 41). Diferentes dos animais presas, as plantas não podem fugir para evitar serem comidas. Em vez disso, o arsenal das plantas contra os herbívoros pode apresentar toxinas químicas ou estru- turas como espinhos. Entre os compostos vegetais que servem como armas químicas estão o veneno estricnina, produzido pela Strychnos toxifera; a nicotina, da planta tabaco; e os taninos, de uma ampla variedade de espécies. Plantas do gênero Astraga- lus acumulam toxinas de selênio; elas são conhecidas como “er- vas-loucas”, pois bovinos e ovinos que as comem vagam em cír- culos e podem até mesmo morrer. Compostos não tóxicos para humanos, mas que podem ser não palatáveis para vários herbívo- ros, são responsáveis pelos sabores familiares da canela, do cravo e da menta. Certas plantas produzem compostos que causam o desenvolvimento anormal em alguns insetos que as ingerem. Simbiose Quando indivíduos de duas ou mais espécies vivem em contato direto e íntimo, seu relacionamento é chamado de simbiose. Este texto adota uma definição geral de simbiose que inclui todas es- sas interações, sejam danosas, úteis ou neutras. Alguns biólogos definem simbiose como sinônimo de mutualismo, em que ambas as espécies se beneficiam. Parasitismo O parasitismo é uma interação �/� simbiótica na qual um orga- nismo, o parasita, suga seu alimento de outro organismo, o hos- pedeiro, prejudicado no processo. Parasitas que vivem dentro do corpo do hospedeiro, como os vermes chatos, são chamados de endoparasitas; parasitas que se alimentam na superf ície externa de um hospedeiro, como os carrapatos e os piolhos, são chama- dos de ectoparasitas. Em um determinado tipo de parasitismo, insetos parasitários – normalmente pequenas vespas – colocam ovos sobre ou dentro de hospedeiros vivos (ver Figura 54.1). As larvas então se alimentam do corpo do hospedeiro, levando-o à morte. Alguns ecologistas estimaram que pelo menos um terço de todas as espécies sobre a Terra são parasitas. Muitos parasitas possuem ciclos de vida complexos envol- vendo múltiplos hospedeiros. Por exemplo, o ciclo de vida do Schistosoma, que atualmente infecta aproximadamente 200 mi- lhões de pessoas no mundo, envolvedois hospedeiros: humanos e caramujos de água limpa (ver Figura 33.11). Alguns parasitas alteram o comportamento de hospedeiros de maneira a aumen- tar a probabilidade do parasita ser transferido de um hospedeiro a outro. Por exemplo, a presença de vermes acantocéfalos (cabeça espinhosa) parasitários leva seus hospedeiros crustáceos a se en- gajar em uma série de comportamentos atípicos, incluindo dei- xar sua cobertura protetora e se mover para lugares livres. Como resultado do comportamento alterado, os crustáceos possuem maior chance de serem comidos por pássaros que atuam como segundo hospedeiro no ciclo de vida dos vermes parasitários. Os parasitas podem afetar significativamente a sobrevivên- cia, a reprodução e a densidade da população do hospedeiro, di- reta ou indiretamente. Por exemplo, carrapatos que vivem como ectoparasitas em alces enfraquecem os hospedeiros pela retirada de sangue causando a ruptura e a perda do pelo, aumentando a chance que o alce venha a morrer de estresse pelo frio ou da pre- dação por lobos. Parte do declínio da população de alces na Ilha Royale, Michigan, foi atribuído a infestações de carrapatos (ver Figura 53.19). Figura 54.6 � Um manati das Índias Ocidentais (Trichechus mana- tus) na Flórida. O animal está se alimentando de aguapé, uma espécie introduzida. Biologia 1203 Mutualismo A simbiose mutualística, ou mutualismo, é uma interação inte- respecífica que beneficia ambas as espécies (�/�). Descrevemos vários exemplos de mutualismo nos capítulos anteriores: fixação de nitrogênio por bactérias nos nódulos das raízes das legumino- sas; a digestão da celulose por micro-organismos nos sistemas di- gestivos de cupins e mamíferos ruminantes; a troca de nutrientes nas micorrizas, associações entre fungos e as raízes das plantas; e fotossíntese por algas unicelulares nos corais. A interação entre os cupins e os micro-organismos no seu sistema digestivo é um exemplo de mutualismo obrigatório, no qual ao menos uma espé- cie perde habilidade de sobreviver sem o parceiro. No mutualis- mo facultativo, como no exemplo da formiga da acácia mostrada na Figura 54.7, ambas as espécies podem sobreviver sozinhas. Algumas vezes as relações mutualísticas envolvem a evolução de adaptações relacionadas em ambas as espécies, com alterações em uma espécie que provavelmente afetam a sobrevivência e a re- produção da outra. Por exemplo, a maioria das plantas com flores possui adaptações como o néctar ou frutas que atraem animais que funcionam na polinização ou dispersão das sementes (ver Capítulo 38). Por outro lado, vários animais possuem adaptações que os ajudam a encontrar e consumir o néctar. Comensalismo Uma interação entre espécies que beneficia uma das espécies, mas que não prejudica nem ajuda a outra (�/0), é chamada de comen- salismo. As interações comensais são dif íceis de documentar na natureza, pois qualquer associação próxima entre espécies prova- velmente afete ambas as espécies, mesmo que apenas levemente. Por exemplo, espécies “que pegam carona”, como algas que vivem nas conchas de tartarugas aquáticas ou cracas que se aderem em baleias, são algumas vezes considerados comensais. Os caroneiros ganham um local para crescer enquanto praticamente não afetam sua carona. Entretanto, os caroneiros podem na verdade diminuir levemente o sucesso reprodutivo dos hospedeiros por meio da re- dução na eficiência do movimento do hospedeiro na procura de alimento ou fuga de predadores. Por outro lado, os caroneiros po- dem fornecer benef ício na forma de camuflagem. Algumas associações possivelmente comensais envolvem uma espécie ganhando alimento exposto inadvertidamente pela outra. Por exemplo, o chupim e as garças-vaqueiras se alimentam de insetos expostos do pasto por búfalos, gado, cavalos e outros herbívoros pastando. Como as aves aumentam sua porcentagem de alimentação quando seguem os herbívoros, elas se beneficiam claramente da associação. Na maior parte do tempo, os herbí- voros podem não se afetar pelo relacionamento (Figura 54.8). Entretanto, às vezes, eles também derivam alguns benef ícios; as aves tendem a se alimentar oportunamente e remover e comer carrapatos e outros ectoparasitas dos herbívoros. Elas também podem alertar os herbívoros da aproximação de predadores. Todos os quatro tipos de interações que discutimos até ago- ra – competição, predação, herbivoria e simbiose – influenciam muito a estrutura das comunidades. Veremos outros exemplos dessas interações neste capítulo. (b) (a) A acácia se beneficia porque as formigas agressivas atacam qualquer coisa que se encoste na árvore; removem esporos de fungos, pequenos herbívoros e restos; e cortam a vegetação que cresce perto da acácia. Certas espécies de árvores de acácia na América Central e do Sul possuem espinhos ocos que abrigam formigas picadoras do gênero Pseudomyrmex. As formigas se alimentam de néctar produzido pela árvore e de intumescimentos ricos em proteínas (cor de laranja na fotografia) nas pontas das folhas. Figura 54.7 � Mutualismo entre árvores de acácia e formigas. Figura 54.8 � Possível exemplo de comensalismo entre garças-va- queiras e búfalos. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR Veja, no vídeo, exemplos de interações interespecíficas que ocorrem nas comunidades. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Um agricultor cultiva um terreno. Ele retira a vegetação original, ara a terra, fertiliza e prepara faz a semeadura para cultivar milho. Entretanto, sem o devido cuidado, ervas daninhas crescem rapidamente neste terreno e sufocam as demais plantas, inclusive o milho que o agricultor estava plantando, milho este que acaba não se desenvolvendo. A partir desta situação, indique qual opção a seguir é a correta: A) As ervas daninhas competem com as plantas cultivadas e são bem sucedidas. B) O que ocorre é um exemplo de predação. C) Existe uma relação de mutualismo entre as ervas. D) As ervas daninhas promovem o parasitismo, explorando os recursos do milho. E) O crescimento rápido das ervas daninhas são um exemplo de deslocamento de caráter. Um dos problemas causados pela introdução de espécies exóticas no Brasil é exemplificado pela importação do pardal (Passer domesticus) da Europa no início do século XX. Esta espécie mostrou-se agressiva a ponto de expulsar espécies locais de pássaros, que muitas vezes eram predadoras de pragas que atacavam a agricultura, e 2) por isso gerando (ainda que indiretamente) problemas à produção agrícola. Dentro das interações das espécies, esse fato representa: A) Um exemplo de parasitose de uma ave causando o desaparecimento de outras espécies. B) Um exemplo de uma espécie exótica ocupando o mesmo nicho ecológico de espécies locais. C) Um caso em que os pardais ocupam o mesmo habitat, mas o nicho é diferente destas espécies que foram expulsas. D) Um caso de nichos específicos e diferentes entre os pardais e as espécies locais. E) Um exemplo de comensalismo entre os pardais e as espécies locais. O Sistema Agroflorestal (ou SAF) é um método de cultivo em que diversas espécies são cultivadas juntas para que cada uma contribua para preservar características adequadas do solo (como a fertilidade, a umidade e reduzir a erosão), o que beneficia todas as plantas, enquanto outras espécies têm funções específicas, como para atrair ou afastar insetos predadores das demais plantas. É bom lembrar que as espécies usadas no SAF podem ser cultivadas individualmente, sendo que no SAF elas são cultivadas em grupo. Assim sendo, com estas informações em mente, leia a afirmação e a explicação abaixo: O SAF é um exemplo de aplicação prática de mutualismo facultativo Porque As espécies envolvidas se beneficiam, mas podem sobreviver sozinhas. 3) A partir do texto acima, indiquea opção correta a seguir. A) A afirmação e a explicação estão erradas. B) A afirmação está certa, mas a explicação está errada. C) A afirmação está certa e a explicação justifica a afirmação. D) A afirmação está errada, mas a explicação está correta. E) A afirmação está certa, mas a explicação não justifica a afirmação. 4) Várias plantas produzem compostos químicos que as fazem apreciadas para vários usos pelos humanos, como a nicotina (fumo), a menta ou a canela (como tempero ou para dar sabor a alimentos). Assim sendo, estas e outras plantas de propriedades semelhantes são amplamente cultivadas desde séculos atrás. Por que estas plantas apresentam estes compostos? Indique a opção correta abaixo que explica esse fato. A) É um meio de atrair animais para que estes consumam as plantas. B) É um meio que facilita a polinização destas plantas por meio dos insetos. C) É um meio de torná-las desagradáveis para o paladar dos herbívoros. D) Atende a um processo simbiótico. E) É um meio de mimetismo. 5) O carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) é uma espécie de carrapato que se alimenta do sangue de mamíferos como o gado bovino, mas que pode também viver na superfície da pele do ser humano e sugar sangue. Neste processo, pode causar a infecção pela bactéria Rickettsia ricketsii que causa a doença conhecida como febre maculosa, que pode ser fatal se não for tratada em tempo. Assim sendo, o que representa esse carrapato e qual sua importância? A) O carrapato é um predador do gado e do ser humano. B) O carrapato é um exemplo de relação de parasitismo, e o controle deste é importante no controle da doença. C) O carrapato vive em simbiose, em que há benefícios, sendo que o problema está apenas na bactéria. D) O carrapato vive no gado e no ser humano como meio de camuflagem. E) O carrapato de certa forma compete com o gado e o ser humano por recursos que acabam sendo retirados diretamente do sangue. NA PRÁTICA Como fazemos parte de uma grande teia de relações, vivenciamos, no nosso dia-a-dia, interações interespecíficas muito mais do que possamos imaginar. Na alimentação do nosso dia-a-dia, ainda presenciamos outros tipos de interação, como o mutualismo que acontece com as plantas de feijão e bactérias fixadoras do nitrogênio, que está na forma de gás na atmosfera. Quando vamos ao parque e sentamos na grama para um papo com os amigos, esmagamos indivíduos, cometendo o amensalismo. Porém, no nosso jardim, cuidamos para as plantas não competirem entre si, e espantamos aquele grilo que faz mimetismo com a palha da planta. Fazendo isso, queremos promover um ambiente harmonioso, de beleza e bem-estar em nosso lar. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: CAIN, Michael L.; BOWMAN, William D.; HACKER, Sally, D. Ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2018. PINTO-COELHO, Ricardo Motta. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2007. TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, John L. Fundamentos em ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2010. Sucessão e importância para áreas degradadas (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO O ser humano tem interferido no ambiente, criado novas situações e, muitas vezes, alterado o equilíbrio do planeta, tendo que recorrer aos projetos de áreas degradadas para recuperar determinado local. Uma das principais formas de destruição de um ecossistema é por meio do desmatamento e, em muitos casos, é necessário recompor a vegetação. No entanto, essa não é uma tarefa fácil, já que, ao alterar um ecossistema, perde-se a biodiversidade, e mais do que isso, mudam-se as condições que havia antes e que permitiram o estabelecimento dos organismos. É importante pensarmos que o princípio básico não é encher uma área de espécies, mas ajudar a natureza para que se criem condições básicas para as espécies chegarem gradativamente, de forma que se integrem dentro das funções que a nova comunidade exerce no tempo e nos seus distintos espaços. Por isso, as ações em um projeto de restauração buscam devolver o ecossistema até o ponto em que ele seja resiliente, ou seja, que tenha a capacidade de se sustentar. Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá sobre sucessão, os principais grupos ecológicos e as principais técnicas e modelos para a recuperação florestal. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Compreender o conceito de sucessão e suas diferentes classificações.• Reconhecer os principais grupos ecológicos e seus estágios sucessionais.• Apresentar os principais modelos e técnicas de recuperação florestal.• DESAFIO A Resolução 1 do CONAMA de 1987 exige que diversos tipos de empreendimentos (listados na Resolução) devem ter planos de que preveem os impactos ambientais causados por tais empreendimentos assim como prever planos para recuperar áreas que foram degradadas. Um dos procedimentos que são usados para promover a recuperação destas áreas emprega os conhecimentos referentes aos processos de sucessão. Um dos primeiros exemplos, e bem sucedidos também, está na formação da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, realizada no século XIX, durante o reinado de Dom Pedro II, em uma área que era de plantações de café. Essa área foi recuperada, é responsável por vários mananciais de água que abastecem a região do Grande Rio e finalmente é a maior floresta urbana do mundo, abrigando espécies da Mata Atlântica. Assim sendo, digamos que um produtor rural deseja recuperar uma área de cerrado que foi utilizada para cultivo de soja e por razões turísticas e legais deseja fazer com que ela volte a ser igual a área ANTES de ser utilizada, ou seja, tão igual quanto possível ao cerrado que ali existia. Assim sendo, com base nos conhecimentos básicos sobre sucessão, responda as seguintes perguntas: - O que será feito na área é um procedimento de recuperação ou de restauração? - Em uso de processos de sucessão, será de sucessão primária ou sucessão secundária? - Cite ao menos duas características das plantas pertencentes às espécies pioneiras, secundária e climácicas (clímax) que serão utilizadas. - Pesquise na internet (especialmente na EMBRAPA) e cite ao menos quatro exemplos de espécies vegetais que podem ser utilizadas para recuperação de áreas degradadas. INFOGRÁFICO As sucessões ecológicas representam o conjunto de mudanças ordenadas pelas quais uma determinada comunidade biológica passa, detendo ao estágio de clímax (último estágio alcançado por comunidades ecológicas ao longo da sucessão ecológica). Uma característica de grande importância, visando ao estabelecimento das sucessões, é a condição abiótica (água, solo, ar) favorável dos ambientes. Algumas regiões do globo terrestre são inóspitas ao surgimento, ao desenvolvimento e à manutenção de organismos vivos, como, por exemplo, as rochas vulcânicas ou a extensão de dunas nos desertos. Portanto, as sucessões ecológicas são evolutivamente denominadas de primárias, quando ocorrem em lugares nunca antes habitados (uma rocha nua), e de secundárias, quando ocorrem em um lugar anteriormente habitado (um campo de cultivo abandonado). Uma tendência que tende ao clímax ecológico. Para entender mais sobre sucessão ecológica, confira Infográfico a seguir. CONTEÚDO DO LIVRO Para recompor a vegetação em uma área degradada, é fundamental entender alguns processos que norteiam o crescimento e o desenvolvimento da vegetação, ou seja, a sucessão ecológica. A sucessão é um processo natural, por meio do qual uma comunidade muda gradualmente com o decorrer do tempo, até atingir uma situação de maior estabilidade, denominada clímax. Todo processo de sucessão começa com algumas espécies que se instalam no local (pioneiras). Lentamente, elas começam a alterar o meio ambiente, preparando assim o local para que novas espécies se estabeleçam. Com a sucessão,tanto os vegetais quanto os animais mudam continuamente, criando condições cada vez mais estáveis e que culminam na comunidade clímax. Para entender mais sobre sucessão ecológica e seus diferentes tipos e classificações, leia o capítulo Sucessão e importância para áreas degradadas, que faz parte do livro Recuperação de áreas degradadas - base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura! RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Ronei Tiago Stein Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Vanessa de Souza Machado Bióloga Mestre e Doutora em Ciências Professora do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental R294 Recuperação de áreas degradadas / Ronei Tiago Stein ... [et al.] ; [revisão técnica: Vanessa de Souza Machado]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 338 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-136-5 1. Gestão ambiental. I. Stein, Ronei Tiago. CDU 504 Iniciais_Recuperação de áreas degradadas.indd 2 15/09/2017 11:25:11 Sucessão e importância para áreas degradadas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Compreender o conceito de sucessão e suas diferentes classi� cações. Reconhecer os principais grupos ecológicos e seus estágios sucessionais. Apresentar os principais modelos e técnicas de recuperação � orestal. Introdução O ser humano interfere no ambiente, cria novas situações e muitas vezes altera o equilíbrio do planeta, tendo que recorrer aos Projetos de Áreas Degradadas para recuperar determinado local. Uma das principais formas de destruição de um ecossistema é por meio do desmatamento, e, em muitos casos, é necessário recompor a vegetação. No entanto, essa não é uma tarefa fácil, já que, ao alterar um ecossis- tema, perde-se a biodiversidade, e, mais do que isso, ocorre a mudança das condições que havia antes e que permitiam o estabelecimento dos organismos. É importante pensar que o princípio básico não é encher uma área de espécies, mas ajudar a natureza a fim de que esta crie con- dições básicas para que as espécies, gradativamente, voltem a se integrar dentro das funções que a nova comunidade exerce no tempo e nos seus distintos espaços. Por isso, as ações em um projeto de restauração buscam recuperar o ecossistema até o ponto em que ele seja resiliente, ou seja, tenha a capacidade de se sustentar. Neste texto, você irá aprender sobre sucessão, os principais grupos ecológicos e as principais técnicas e modelos para a recuperação florestal. U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 264 14/09/2017 16:20:02 Sucessão: definições gerais As ações a serem tomadas na elaboração e prática de um projeto de recuperação de área degradada devem estar associadas a um planejamento dos processos naturais de sucessão. Além disso, deve-se considerar as interferências externas presentes nos ecossistemas, as quais fazem com que as sequências sucessionais possam tomar caminhos distintos (ALMEIDA, 2016). Mas o que é sucessão? Segundo Schorn (2005), as comunidades (junção de vários indivíduos de espécies de plantas e animais em um determinado espaço) são como superor- ganismos, e a sucessão é a maturação dessa comunidade ao longo do tempo, até o estágio denominado clímax. Considera-se, ainda, que todos os estágios que antecedem ao clímax são estágios de crescimento. Clímax é o último estágio alcançado por comunidades ecológicas ao longo da suces- são ecológica, apresentando um elevado número de espécies e nichos ecológicos (condições em que um indivíduo ou uma população vive e se reproduz, ou seja, o modo de vida de um organismo na natureza). Mas antes de o clímax ser atingido, as espécies passam por duas outras etapas: Cese: são os primeiros organismos que se instalam em um determinado ambiente, como bactérias, insetos, musgos e gramíneas. Não existe um padrão, cada ambiente será colonizado de uma maneira diferente, conforme suas condições ambientais. Sere: nessa etapa, o ecossistema irá sofrer importantes transformações, pois o ambiente e as espécies terão suas características alteradas. Exemplo: uma área que antes era terreno com gramíneas se tornará repleta de vegetação arbustiva, e aves que antes não visitavam as gramíneas irão começar a frequentar o novo ambiente, aproveitando essa nova vegetação mais alta e atrativa, fazendo isso com frequência, até se instalarem. Dessa forma, a sucessão ecológica é um dos mais antigos e fundamentais conceitos em ecologia, e compreender sua dinâmica é vital quando se trata da elaboração de projetos de recuperação de áreas degradadas. A expres- são sucessão ecológica é usada para descrever processos de alteração nos ecossistemas sobre várias escalas, como temporal, espacial ou vegetacional. Ou seja, sucessão é o processo ordenado de mudanças em um determinado ecossistema, resultando na modificação do ambiente físico pela comunidade biológica (ROSARIO, 2010). 265Sucessão e importância para áreas degradadas U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 265 14/09/2017 16:20:02 Sucessão ecológica refere-se às alterações graduais, ordenadas e progressivas no ecossistema, resultantes da ação contínua dos fatores ambientais sobre os organismos e da reação destes sobre o ambiente. A sucessão vegetal, entendida como um processo de auto-organização ou amadurecimento do ecossistema, direciona-se da simplicidade para a comple- xidade organizacional, de formas de vida mais simples para mais complexas e diversificadas (SCHORN, 2005). A Figura 1 apresenta um esquema mostrando como ocorre o processo de sucessão ecológica. Figura 1. Fluxograma de como ocorre a sucessão ecológica em determinada área. Fonte: Adaptada de Universidade de São Paulo (2000?). Classificação dos processos sucessionais Existem, basicamente, três tipos de sucessão ecológica, que são: 1. Sucessão degradativa: é aquela que ocorre em uma escala de tempo relativamente curta, com ocorrência em qualquer matéria orgânica morta (p. ex., animais ou plantas em decomposição). Normalmente, diferentes espécies aparecem e desaparecem, à medida que a degradação da matéria orgânica utiliza alguns recursos e torna outros disponíveis. Outra característica da sucessão degradativa é que ela é um processo finito, uma vez que o recurso pode ser totalmente mineralizado ou metabolizado. Sucessão e importância para áreas degradadas266 U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 266 14/09/2017 16:20:03 2. Sucessão alogênica: sucessão em que o processo de substituição de espécies ocorre como resultado de mudanças externas (incêndios, tem- pestades, processos geológicos) ou forças geofisicoquímicas. 3. Sucessão autogênica: ocorre em ambientes recém-criados, geralmente decorrentes de processos biológicos que modificam condições e recur- sos. Esse tipo de sucessão pode ser dividida em duas formas distintas, sucessão primária e secundária. A sucessão primária ocorre em ambientes que não têm estabelecimento de organismos, ou seja, áreas que ainda não foram povoadas ou então das quais os seres foram eliminados, por diferentes motivos. Como exemplos, pode-se citar rochas, dunas e lava vulcânica recém solidificada (Figura 2). Figura 2. Exemplos de ambientes que estão passando por sucessão primária. Fonte: bjul/Shutterstock.com, Marques/Shutterstock.com e Alexey Kamenskiy/Shutterstock.com. Amabis (2015) comenta que a colonização de um ecossistema por espécies vegetais pioneiras promove ao solo variações de temperatura, sendo estas, normalmente, menos bruscas, além do aumento da matéria orgânica devido à decomposição de folhas/galhos e uma maior retenção de água. Esses fatores favorecem o estabelecimento de espécies vegetais maiores com o passar do tempo, aumentando progressivamente a disponibilidade de nichos e a quan- tidade de outras espécies. Na sucessão secundária, ocorrem mudanças em determinada área após a destruição parcial de uma comunidade. Essas podem ocorrer em uma pequena áreade floresta nativa, após a queda de uma árvore, ou em vários hectares, devido a uma cultura agrícola abandonada. Isto é, a sucessão secundária ocorre em um ambiente total ou parcialmente destruído, porém, este já foi anteriormente ocupado por outra comunidade biológica. Embora degradado, esse ambiente oferece condições mais favoráveis à ocupação de novas comu- nidades, o que torna a colonização das espécies pioneiras mais rápida. Essa 267Sucessão e importância para áreas degradadas U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 267 14/09/2017 16:20:03 destruição pode ocorrer tanto por fenômenos naturais (ventos, chuvas, etc.) quanto pela ação humana, que, por sinal, é a mais representativa. Principais grupos ecológicos Os grupos ecológicos representam o comportamento das espécies fl orestais nos processos de sucessão ecológica, os quais ocorrem de forma natural (p. ex., uma árvore que tomba, abrindo uma clareira em uma mata) ou devido à ação humana. Esses grupos são formados por espécies que apresentam ca- racterísticas biológicas e ecológicas em comum, além da regeneração natural e do padrão de crescimento da espécie. De acordo com Maciel et al. (2003), a vegetação de um local é formada por um componente real e por um componente potencial. O primeiro é representado por espécies que se encontram no próprio local, e o segundo, por sementes e propágulos (qualquer parte de um vegetal capaz de multiplicá-lo ou propagá-lo vegetativamente) existentes no solo. O banco de sementes conserva-se no solo, sem germinar, em razão de fatores bióticos e de fatores abióticos. A luz representa uma função de suma importância em relação ao com- portamento das espécies e na sua dinâmica de sucessão, sendo as espécies divididas em distintas categorias: Espécies que se estabelecem e crescem sob dossel fechado. Espécies que se estabelecem e crescem sob dossel fechado, mas que se beneficiam das clareiras. Espécies que se estabelecem e crescem sob dossel fechado, mas que requerem clareiras para amadurecer e se reproduzir. Espécies que se estabelecem, crescem e se reproduzem somente em clareiras. Dossel: a vida animal e vegetal nem sempre é encontrada sobre o chão da floresta, mas sim nas folhagens das árvores, muito acima do chão, o que recebe o nome de dossel. Este pode ser encontrado a vários metros de altura, sendo o resultado da so- breposição dos galhos e folhas das árvores. Em florestas tropicais, a maior parte da vida é encontrada sobre as árvores, logo, o dossel é o mais rico habitat da fauna e da flora. Sucessão e importância para áreas degradadas268 U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 268 14/09/2017 16:20:04 É importante saber identificar as diferentes fases da sucessão ecológica, pois estas implicam diretamente no Projeto de Recuperação de Área Degradada (PRAD). Por exemplo, após uma floresta ser totalmente destruída (devido a um incêndio ou desmatamento), diferentes espécies irão ocupar a área em diferentes períodos, e essas espécies podem ser divididas em: Pioneiras (P): são as primeiras a aparecerem em uma clareira recente. São espécies cujas sementes necessitam da luz solar direta para ger- minarem, normalmente são de tamanho médio, transportadas à longa distância por animais, principalmente pássaros e morcegos, apresentam dormência e alta longevidade. A regeneração natural ocorre princi- palmente a partir do banco de sementes existentes no solo. A plântula necessita de luz para desenvolvimento e apresenta pouca reserva. A planta jovem apresenta rápido crescimento e competição por luz. São espécies de rápido crescimento, regeneração precoce, com produção contínua de sementes, ciclo de vida curto, podendo atingir de 5 a 8 m de altura. São modificadoras do ambiente após a germinação e desen- volvimento, propiciando condições para germinação e desenvolvimento das espécies secundárias e climácicas. Secundárias (S): também conhecidas como oportunistas de clareira, têm sementes geralmente aladas e de curta longevidade natural, necessitando de períodos secos para sua dispersão anemocórica (disseminação de sementes de uma planta pela ação dos ventos); porém, também podem apresentar dispersão zoocórica (dispersão de sementes por animais). As sementes não apresentam dormência e têm condições de germinarem à sombra da mata, muitas vezes formando banco de plântulas sob o dossel. As plântulas recém germinadas apresentam pouca reserva e o seu desenvolvimento é estimulado com o surgimento de clareira. Algumas bibliografias dividem as espécies secundárias em inicial e tardia. Nas espécies caracterizadas como iniciais, o crescimento é mais rápido, a madeira é leve e não toleram sobra, sendo o tempo para a primeira reprodução de 5 a 10 anos. Já nas espécies secundárias tardias, o crescimento é médio a rápido, a madeira normalmente é dura, são intolerantes à sombra no estágio juvenil e a idade da primeira reprodução é entre 10 a 20 anos (MORAES et al., 2013). Climácicas (C): com uma grande quantidade de nutrientes e todas as condições e recursos ideais, e uma fauna já associada ao local, outras espécies muito mais exigentes, com ciclo de vida longo e melhores competidoras, se estabelecem – as espécies clímax. Elas dependem da 269Sucessão e importância para áreas degradadas U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 269 14/09/2017 16:20:04 umidade no solo e também de uma ampla gama de nutrientes para que suas sementes germinem. As sementes das espécies clímax geralmente são grandes, protegidas por uma camada grossa de tecido que evita a perda de água e dificulta a predação por pequenos insetos. Enquanto as pioneiras e secundárias são pouco exigentes, competidoras inferiores e investem em sementes pequenas que são facilmente dispersadas pelo vento e água, as espécies clímax são competidoras superiores, mais exigentes e dependem geralmente da fauna para dispersar suas sementes, que são grandes e associadas a frutos. Os frutos nessas espécies são fundamentais, é por meio deles que a maioria é dispersada. A Figura 3 apresenta uma ilustração de como ocorrem as diferentes fases de sucessão ecológica. Figura 3. Fases de sucessão ecológica. Fonte: Silva (2012). As florestas secundárias são classificadas de acordo com o estágio de regeneração. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), por meio da Resolução nº 29, de 7 de dezembro de 1994, definiu essas em: Estágio inicial de regeneração: surge logo após o abandono do solo. Este estágio geralmente dura entre 6 e 10 anos, dependendo do grau de degradação do solo e do entorno. A altura média da vegetação não ultrapassa quatro metros. Sucessão e importância para áreas degradadas270 U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 270 14/09/2017 16:20:05 Estágio médio de regeneração: este estágio pode ocorrer entre 6 e 15 anos depois do abandono do solo. As árvores podem atingir o comprimento de doze metros. A diversidade aumenta, mas ainda há predominância de espécies de árvores pioneiras. Estágio avançado de regeneração: inicia-se geralmente depois de 15 anos e pode levar de 60 a 200 anos para alcançar novamente o estágio semelhante ao da floresta primária (floresta intocada ou aquela em que a ação humana não provocou significativas alterações das suas carac- terísticas originais de estrutura e de espécies). A diversidade aumenta gradualmente à medida que o tempo passa e esse processo é acelerado caso existam remanescentes primários para fornecer sementes. A altura média das árvores é superior a doze metros. Diferentes espécies vão surgindo durante a sucessão, fazendo com que estas sejam divididas em grupos ecológicos ou sucessionais diferentes. Para facilitar a compreensão, as espécies vegetais podem ser divididas em quatro grupos ecológicos, sendo que dois grupos (as pioneiras e as secundárias iniciais) estão mais ligados ao início do processo e os outros dois grupos (as secundárias tardias e as climácicas) referem-sea estágios mais avançados. Recuperação florestal Antes de decidir qual a melhor atitude a ser tomada para a restauração de um ambiente degradado, alguns pontos devem ser observados, conforme ressaltam Moraes et al. (2013). De forma inicial, deve-se fazer um histórico do uso do solo, para identifi car há quanto tempo a vegetação original foi retirada, e para qual fi nalidade, além de descobrir qual o uso atual do solo. Com essas informações, poderá ser defi nido o grau de degradação da área. 271Sucessão e importância para áreas degradadas U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 271 14/09/2017 16:20:05 Qual a diferença entre recuperação e restauração de áreas degradadas? Adota-se a recuperação quando o objetivo principal é recuperar a função da vegetação, como o controle da erosão do solo, não havendo preocupação com a composição florística. Já a restauração (também conhecida como revegetação) procura restabelecer os processos naturais, os quais são responsáveis por retornar a vegetação ao nível mais próximo possível da sua condição anterior à degradação. Moraes et al. (2013) comentam, ainda, que é de grande importância analisar as condições do ambiente em torno da área degradada, incluindo a paisagem em que a área degradada está inserida. Além disso, deve-se identificar as barreiras que impedem a regeneração natural, sendo que a decisão sobre qual é a maneira mais adequada para a recomposição do ambiente vai depender da análise da situação local e do conhecimento do ecossistema como um todo. As técnicas de recuperação e restauração florestal podem ser baseadas em dois princípios básicos: as que necessitam da intervenção humana ou da regeneração natural (MORAES et al., 2013). Porém, de acordo com Almeida (2016), a definição do modelo de restauração para uma determinada área degradada depende de fatores como grau de degradação, histórico da área, disponibilidade de sementes e mudas, solo, clima, máquinas e implementos agrícolas e recursos financeiros disponíveis. Técnicas e modelos de recuperação florestal As principais técnicas para recuperação fl orestal em áreas degradadas, que são descritas por Moraes et al. (2013), são: Regeneração natural: deve ser adotada quando busca-se a simples eliminação do agente perturbador ou de um elemento que esteja agindo como barreira para a regeneração (p. ex., fogo, presença de espécie invasora ou de animais domésticos). Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa em Agropecuária (2017), a regeneração natural pode ocorrer sem manejo (consiste em deixar os processos naturais atuarem livre- mente) ou com manejo, adotando-se ações que induzam os processos de Sucessão e importância para áreas degradadas272 U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 272 14/09/2017 16:20:05 regeneração natural, como o controle de plantas competidoras, formigas, adubação de cobertura, entre outros. Nucleação: grupo de técnicas que propõem uma mínima interferência local. Ou seja, visa criar pequenos habitats (núcleos) dentro da área de- gradada de forma a induzir uma heterogeneidade ambiental, propiciando ambientes distintos no espaço e no tempo. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2011), os núcleos têm o papel de facilitar o processo de recrutamento de novas espécies dos fragmentos vizinhos, do banco de sementes local e também influenciam os novos núcleos formados ao longo do tempo. Dessa forma, são criadas condições para a regeneração natural, como a chegada de espécies vegetais, animais e microrganismos e a formação de uma rede de interações entre eles. Enriquecimento: visa ao aumento da diversidade vegetal em áreas onde já existem indícios de regeneração natural. Consiste na introdução de espécies, principalmente dos estádios finais da sucessão ecológica, em áreas com melhores condições do solo já com presença de vegetação nativa, porém com baixa diversidade de espécies. É uma técnica que deve ser proposta para preencher espaços com falhas da regeneração natural. Visa a aumentar a biodiversidade aos níveis naturalmente encontrados no ecossistema de referência. Essa técnica também busca suprimir as espécies indesejáveis que estariam se estabelecendo nessas falhas. Pode ser realizado por meio de sementes ou de mudas (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA EM AGROPECUÁRIA, 2017). Plantio total: técnica que implica o maior e mais custoso grau de intervenção. O plantio total só deve ser adotado quando a vegetação nativa estiver bem degradada e existir a necessidade da introdução de mudas de espécies arbóreas. A fauna apresenta uma função de suma importância para a recuperação de áreas degradadas. Muitas espécies vegetais tropicais reproduzem-se por cruzamento, sendo que a grande maioria das espécies é polinizada por animais, como insetos, aves e morcegos. Nos vegetais, existem dois tipos de reprodução sexuada: a autogamia e a alogamia. 273Sucessão e importância para áreas degradadas U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 273 14/09/2017 16:20:06 Dentre os principais modelos utilizados na recuperação em formações florestais, pode-se citar o plantio de mudas, que é uma forma efetiva de am- pliar o processo de nucleação. Ele pode ser realizado de diferentes formas no que se refere à disposição das mudas em campo. Uma das formas de plantio é ao acaso, onde as mudas são plantadas sem espaçamento. Outro modelo de plantio é em linha, com espécies primárias e secundárias, adotando-se um espaçamento de 2 x 3 metros ou 2 x 2 metros, conforme Figura 4. Independen- temente do modelo de plantio escolhido, é importante lembrar que as espécies a serem utilizadas devem ter características biológicas que permitem o seu desenvolvimento na área a ser restaurada. Figura 4. Modelo de plantio em linhas alternadas com espécies pioneiras e secundárias. Fonte: Adaptado de YuanDen/Shutterstock.com. As espécies autógamas são aquelas que se autofecundam, pois têm flores mas- culinas e femininas em uma mesma planta. Nas espécies alógamas, o cruzamento entre gametas masculinos e femininos envolve, necessariamente, dois indivíduos, implicando a necessidade de agentes externos (insetos, aves, morcegos, vento) que possibilitem a fecundação. Sucessão e importância para áreas degradadas274 U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 274 14/09/2017 16:20:06 Para saber mais sobre recuperação florestal de áreas degradadas, acesse os manuais: Restauração ecológica: sistema de nucleação. Disponível em: https://goo.gl/JHFmP4 Manual técnico para restauração de áreas Degra- dadas no Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: https://goo.gl/v5AU2j 1. A natureza passa, frequentemente, por sucessão ecológica, visando atingir um estádio final, e é composta por uma comunidade relativamente estável. Qual a denominação do produto final do processo de sucessão? a) Comunidade pioneira. b) Sucessão secundária. c) Comunidade primária. d) Sucessão alogênica. e) Comunidade clímax. 2. Sucessão ecológica é o nome dado a uma série de mudanças que ocorrem nas comunidades de um determinado ecossistema. Sobre a sucessão primária, marque a alternativa correta: a) A sucessão primária ocorre em ambientes estéreis, onde nunca houve a ocupação por seres vivos. b) A sucessão primária ocorre em uma área que já foi ocupada por uma comunidade anteriormente. c) A sucessão primária pode acontecer em áreas desmatadas, por exemplo. d) Dá-se o nome de SERE aos primeiros organismos que se instalam em determinado ambiente. e) A sucessão ecológica ocorre em determinado período, principalmente devido às 275Sucessão e importância para áreas degradadas U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 275 14/09/2017 16:20:08 mudanças abióticas que ocorrem no ambiente. 3. Entre as alternativas a seguir, quais são exemplos de espécies pioneiras em um processo de sucessão ecológica na superfície de uma rocha? a) Líquens e briófitas. b) Anelídeos e platelmintos. c) Angiospermase gimnospermas. d) Pteridófitas e artrópodes. e) Nematoides e insetos. 4. A recuperação de áreas degradadas está ligada à ciência da restauração ecológica, logo, é fundamental estar atento às diferentes terminologias técnicas inerentes a essa atividade. Entre as alternativas a seguir, qual está correta? a) A recuperação tem como objetivo conduzir o ecossistema à sua condição próxima à original. b) A revegetação da área visa à restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, com o objetivo de retomar a vegetação o mais próximo possível do original. c) A nucleação visa ao aumento da diversidade vegetal em áreas onde já existem indícios de regeneração natural. d) A regeneração natural é uma técnica que implica o maior e mais custoso grau de intervenção. e) Na regeneração natural, não há nenhuma interferência antrópica, sendo que a área é abandonada e espera-se que a vegetação nativa tome conta. 5. Durante o processo de sucessão ecológica, os ecossistemas sofrem várias mudanças. Analise as alternativas a seguir e marque aquela que indica uma tendência ao longo da sucessão. a) Aumento da produtividade líquida. b) Redução da diversidade de espécies. c) Diminuição do tamanho dos indivíduos. d) Diminuição da complexidade das cadeias alimentares. e) Aumento da biomassa total. Sucessão e importância para áreas degradadas276 U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 276 14/09/2017 16:20:08 ALMEIDA, D. S. Modelos de recuperação ambiental. In: ALMEIDA, D. S. Recuperação ambiental da Mata Atlântica. 3. ed. rev. Ilhéus: Editus, 2016. p. 100-137. AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia das populações 3. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2015. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 29, de 07 de dezembro de 1994. Brasília: CONAMA, 1994. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/ res/res94/res2994.html>. Acesso em: 26 ago. 2017. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA EM AGROPECUÁRIA. Estratégias de recuperação. Brasília: EMBRAPA, [2017?]. Disponível em: <https://www.embrapa.br/codigo-florestal/ estrategias-e-tecnicas-de-recuperacao>. Acesso em: 19 ago. 2017. MACIEL, M. N. M. et al. Classificação ecológica das espécies arbóreas. Revista Acadêmica: ciências agrárias e ambientais, Curitiba, v. 1, n. 2, p. 69-78, abr./jun. 2003. Disponível em: <www2.pucpr.br/reol/index.php/academica?dd99=pdf&dd1=897>. Acessado em: 18 ago. 2017. MORAES, L. F. D. et al. Manual técnico para a restauração de áreas Degradadas no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: [s.n.], 2013. Disponível em: <http://www. espacodoagricultor.rj.gov.br/pdf/outrosassuntos/manual_tecnico_restauracao.pdf>. Acessado em: 28 ago. 2017. ROSARIO, R. P. G. Estágios sucessionais e o enquadramento jurídico das florestas montanas secundárias na Reserva Florestal do Morro Grande (Cotia, SP) e entorno. 2010. Dissertação (Mestrado em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente) – Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente, Universidade de São Paulo, 2010. SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Unidade de Coordenação do Projeto de Recuperação das Matas Ciliares. Restauração ecológica: sistemas de nucle- ação São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, 2011. Disponível em: <http://www. sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam3/Repositorio/222/Documentos/Nucleacao.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2017. SCHORN, L. A. Estrutura e dinâmica de estágios sucessionais de uma floresta ombrófila densa em Blumenau. Santa Catarina. 2005. 192 f. Tese (Doutorado em Ciências Flores- tais) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. SILVA, T. Quebradores de coco babaçu – Serra da Meruoca, Ceará. Permacultura do Ceará, 06 mar. 2012. Disponível em: <https://permaculturanameruoca.wordpress. com/2012/03/>. Acesso em: 26 ago. 2017. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Sucessão ecológica. São Paulo: USP, [2000?]. Disponível em: <http://www.ib.usp.br/ecologia/sucessao_ecologica_print.htm>. Acesso em: 26 ago. 2017. 277Sucessão e importância para áreas degradadas U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 277 14/09/2017 16:20:09 Leitura recomendada INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ. Conceitos de estágios sucessionais de uma formação florestal. Curitiba: IAP, [2017?]. Disponível em: <http://www.iap.pr.gov.br/pagina-479. html>. Acesso em: 18 ago. 2017. Sucessão e importância para áreas degradadas278 U4_C17_Recuperação de áreas degradadas.indd 278 14/09/2017 16:20:09 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR A maioria dos padrões de sucessão observados na natureza se referem à sucessão secundária, a qual ocorre em áreas que originalmente eram vegetadas e foram desmatadas, por exemplo. Existem muitas controvérsias em torno dos processos de sucessão secundária, sendo que a ideia geral é de que a sucessão ocorre a partir de uma perturbação e corresponde às transformações que em parte são responsáveis pela restauração das características originais daquele ecossistema. Porém, o processo de sucessão varia de uma área a outra, sendo que existem alguns fatores que interferem nessa prática. Para saber quais são esses fatores, assista à videoaula a seguir e bons estudos! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS Observe as seguintes situações: I – Na Itália e no Havaí, erupções vulcânicas promovem a formação de áreas sem vida por terem sido cobertas por cinzas vulcânicas ou lava e que, com o passar do tempo, são ocupadas novamente por vegetação. Tais áreas chegam mesmo a se prestar para a agricultura, como cereais, uva e oliveiras (Itália) ou café, cana e abacaxi (Havaí). II – No Distrito Federal, várias áreas de cerrado foram degradadas para a extração de solo para a construção de Brasília, e nestas áreas promove-se a ocupação das mesmas por vegetação. III – No Brasil, Vietnam e no Egito, após o período de enchentes de rios (exemplos: no Egito é o rio Nilo, no Vietnam é o rio Mekong, no Brasil podemos citar os rios da bacia Amazônica), as várzeas (planícies ao lado dos rios) são cobertas por grossas camadas de sedimentos deixados pelos rios, que então são ocupados por vegetação ribeirinha ou usados para agricultura (como, por exemplo, para produção de arroz). IV – Na Serra do Mar, próximo a cidade de Cubatão, a vegetação local (Mata Atlântica) foi quase dizimada pela poluição do parque industrial da cidade. Para 1) evitar um desastre causado pelos deslizamentos de terra na serra, vegetação foi plantada na região sem cobertura vegetal para ajudar a fixar o solo. A partir das situações descritas acima, leia as afirmações a seguir e indique qual é a correta. A) Todas as situações são perturbações de origem antrópica (causado por ação humana) e ocorrerá uma sucessão do tipo primária. B) Todas as situações são perturbações de origem natural e ocorrerá uma sucessão do tipo secundária. C) Em I e II ocorreu perturbações no meio de origem natural e em III e IV foi antrópica, sendo que em I e II ocorrerá uma sucessão do tipo primária e em III e IV será do tipo secundária. D) Em II e IV ocorreu perturbações no meio de origem natural e em I e III foi antrópica, sendo que em II e IV ocorrerá uma sucessão do tipo primária e em I e III será do tipo secundária. E) Em I e III ocorreu perturbações no meio de origem natural e em II e IV foi antrópica, sendo que em I e II ocorrerá uma sucessão do tipo primária e em II e IV será do tipo secundária. Um produtor rural decide recuperar uma área de pasto que não será mais utilizada para a produção, tendo em vista a adaptação à legislação ambiental vigente. Essa área era ocupada por cobertura vegetal original densa, florestal, ele decide que a área deverá voltar a ser igual ao que era antes de ser pasto. Assim sendo, veja as seguintes afirmaçõessobre a situação do produtor: I – O produtor promoverá uma forma de sucessão secundária na área em questão. II – A vegetações que ele deverá plantar primeiro, caso deseje acelerar o processo, 2) deverá, entre outras características, ser de rápido crescimento e continua produção de sementes III – Pela Resolução número 29 (de 1994) do CONAMA, o estágio avançado de regeneração da área pode levar mais de 60 anos IV – O produtor estará promovendo uma recuperação da área que foi transformada em pasto. Indique a seguir quais das afirmações acima são as CORRETAS. A) I, II, III e IV B) II, III e IV C) I e II D) III e IV E) I, II e III Um dos problemas que afetam o cerrado no Brasil está no uso de queimadas sem controle. Embora a queimada seja útil em alguns tipos de técnicas agrícolas, ela deve ser usada com cuidado. Muitas vezes o fogo pode progredir além dos limites da propriedade e afetar áreas de proteção ambiental, como áreas de nascentes ou mesmo parques nacionais. Um exemplo são os incêndios que em 2017 causaram sérios danos ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (Goiás). Tais incêndios, além disso, se ocorrendo com freqüência na mesma região, podem atrasar profundamente a recuperação natural da área. Assim, torna-se necessário: a) controlar as queimadas e b) evitar a propagação de fogo nas áreas protegidas ou em recuperação ambiental/em processo de sucessão natural. 3) Logo, a técnica de regeneração da área florestal/natural afetada a ser utilizada no caso é do tipo Regeneração natural porque ela envolve o controle ou mesmo eliminação de um fator, no caso o fogo, que afeta ou impede a regeneração natural de uma área a ser recuperada. Indique a opção correta a partir do texto acima: A) A afirmação é correta e a explicação também, sendo que a explicação justifica a afirmação. B) A afirmação é correta e a explicação também, porém a explicação não justifica a afirmação. C) A afirmação é correta e a explicação é incorreta. D) A afirmação é incorreta e a explicação é correta. E) A afirmação é incorreta e a explicação também é incorreta. 4) Um determinado terreno recém-arado por um agricultor é uma área sem cobertura vegetal, preparada para receber as sementes e o plantio, onde antes existia uma cobertura vegetal local e natural. Neste caso e nesse momento (em que o solo está arado e exposto), é importante que o mesmo tenha conhecimento dos processos de sucessão natural pois: A) Nesta área, por ter sido perturbada, não apresentará efeitos de sucessão. B) Ocorrerá a aparição de grupos de organismos que formam uma sere, e elas podem ocupar o terreno antes das plantas a serem cultivadas, exigindo assim seu controle. Ocorrerá ocupação da área por organismos que formam uma cese, e elas podem ocupar o C) terreno antes das plantas a serem cultivadas, exigindo assim seu controle. D) A regeneração natural é uma técnica que implica o maior e mais custoso grau de intervenção. E) O terreno será exposto a fenômenos de uma sucessão do tipo primária, o que pode levar a ocupação da área arável. 5) O Sistema Agroflorestal (SAF) é uma técnica agrícola que permite simultaneamente o cultivo e produção de alimentos, fibras, etc. ao mesmo tempo que permite a redução dos riscos de erosão e de perda de fertilidade do solo, entre outros. Segundo a EMBRAPA, em uma fase inicial, devem ser plantadas árvores de crescimento rápido para aumentar a disponibilidade de biomassa e acelerar a ciclagem de nutrientes, para permitir que estes nutrientes estejam disponíveis para espécies mais exigentes. No final, o sistema abrigará uma certa quantidade de espécies, herbáceas e arbóreas, que formarão um conjunto estável (o número de espécies permanecerá constante) e a produção de biomassa atinge um valor estável, e as espécies serrão então produtoras de sementes, oleaginosas, hortaliças, etc. A partir das explicações acima sobre o SAF, leia as seguintes afirmações a seguir. I – o sistema descrito utiliza princípios da sucessão natural em seus processos II – o objetivo final é um tipo de comunidade clímax III – o sistema é um tipo de processo de restauração de um terreno que sofreu degradação ambiental IV – a complexidade e riqueza de espécies é progressivamente reduzida até se atingir o objetivo destes sistema. Qual opção a seguir indica corretamente as afirmações corretas? A) I, II e III B) II, III e IV C) I e II D) I e III E) III e IV NA PRÁTICA O reflorestamento e a implantação de árvores em áreas naturalmente florestais que perderam as características originais, seja por ações decorrentes de atividade humana ou naturais, são importantes para a biodiversidade. Além disso, também é importante escolher espécies adequadas para cada bioma, as quais devem ser nativas de cada área. Porém, existe uma maneira correta de realizar o plantio das mudas, visando ao desenvolvimento e ao crescimento apropriado destas. Após montando o projeto de recuperação de área degradada (PRAD), a bióloga Joana, que é especialista nesse tipo de projeto, recomendou ao seu cliente que inicie o plantio das mudas de árvores nativas. Acompanhe na imagem as recomendações que Joana passou ao seu cliente, quanto a forma correta de realizar o plantio. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Banco de sementes do solo de floresta restaurada, reserva Natural Vale, ES Nesse estudo, os pesquisadores compararam a composição e a estrutura do banco de sementes do solo de uma floresta em restauração (FR) há 23 anos com o de uma floresta ombrófila densa primária (FP) adjacente, considerada como ecossistema de referência (ER) na região norte do estado do Espírito Santo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Estrutura da vegetação colonizadora em ambiente degradado por extração de cascalho em Diamantina, MG O objetivo principal desse artigo é identificar e quantificar as espécies que colonizaram espontaneamente ambientes de área de empréstimo no Parque Estadual do Biribiri, assim como comparar a flora e a estrutura desses ambientes e listar espécies com potencial para a recuperação de áreas degradadas pela mineração. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Diversidade florística e padrões ecológicos de palmeiras da área de proteção ambiental, Ilha do Combu, Belém, Pará, Brasil Esse artigo teve como objetivo caracterizar a diversidade florística e os padrões ecológicos de palmeiras em uma unidade de conservação, visando a contribuir para um melhor entendimento dos padrões de distribuição das espécies no contexto amazônico oriental e subsidiar as políticas públicas do estado para as unidades de conservação urbanas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Fundamentos em Ecologia TOWNSEND, Colin R.; Begon, Michael; HARPER, John R.. Fundamentos em Ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2010. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Fundamentos em ecologia PINTO-COELHO, Ricardo Motta. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2007. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Ecologia CAIN, Michael L.; BOWMAN, William D.; HACKER, Sally, D.. Ecologia. 3ª Ed. Artmed, Porto Alegre, 2018. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Poluição Ambiental e Saúde (Ênfase em agronegócio) APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem você verá como as alterações no ambiente podem resultar em problemas de saúde, sendo essencial sua compreensão para definir programas de promoção e prevenção, o que é um desafio de todos os profissionais que atuam nas áreas de saúde e de meio ambiente. Analisar quais os fatores que contribuem para o aumento dos índices de poluição pode colaborar para a definição de estratégias de prevenção dos danos causados à saúde e para a definição de padrões de qualidade ambiental, resultando, dessa forma, na melhoriada qualidade de vida individual, coletiva e ambiental. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar alguns eventos de poluição ambiental que ocasionaram problemas de saúde na população. • Identificar órgãos responsáveis pelas ações em vigilância em saúde.• Relacionar aspectos de saúde com a ação do homem sobre o ambiente.• DESAFIO A Resolução 357 do CONAMA (Conselho Nacional do meio Ambiente) de 17 de março de 2005, define a classificação da água com base em suas características químicas (como salinidade) e biológicas (microorganismos, etc.), e com base nesta classificação, ela define seus usos. Assim sendo, imagine que você assessora um conjunto de chacareiros próximos à cidade. Esses chacareiros são os principais produtores e fornecedores de hortaliças e frutas (ambas crescendo rente ao solo) e que são comidas cruas e muitas vezes sem retirada da película (como a alface, tomate, agrião, acelga, morangos). Seus produtos são vendidos nas feiras e no CEASA da região. Na região que atende os chacareiros há os seguintes mananciais, com as seguintes características: Manancial 1 Manancial 2 Manancial 3 Manancial 4 Manancial 5 Salinidade Água doce Água salobra Água doce Água doce Água doce Coliformes termotolerantes em 100 ml 200 100 2500 100 2500 Corantes Presentes Ausentes Presentes Ausentes Ausentes Chumbo total (miligrama / litro) Ausente 0,05 Ausente Ausente 0,05 Com base nos dados acima, responda: - Para o tipo de cultura que é praticada e de seus produtos, qual é o manancial, segundo resolução do CONAMA, que deve ser utilizada? - Qual o tipo de classificação que esta água do manancial escolhido pode ter? - E que cuidados os produtores devem ter para que a água esteja dentro dos padrões de qualidade assim como evitar a contaminação de seus produtos? Cite ao menos duas ações. INFOGRÁFICO Observe no infográfico que para que se tenha boas condições de saúde é importante que estejamos inseridos em um ambiente equilibrado. CONTEÚDO DO LIVRO Várias ações vêm sendo promovidas para alcançar a melhoria das condições de saúde e qualidade do ambiente. Acompanhe um trecho do livro Meio Ambiente e sustentabilidade. André Henrique Rosa Leonardo Fernandes Fraceto Viviane Moschini-Carlos Organizadores M514 Meio ambiente e sustentabilidade [recurso eletrônico] / Organizadores, André Henrique Rosa, Leonardo Fernandes Fraceto, Viviane Moschini-Carlos. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-407-0197-7 1. Meio ambiente. 2. Sustentabilidade. I. Rosa, André Henrique. II. Fraceto, Leonardo Fernandes. III. Moschini- Carlos, Viviane. CDU 502-022.316 Catalogação na publicação: Natascha Helena Franz Hoppen CRB10/2150 7 Saúde e meio ambiente MARCELA PELLEGRINI PEÇANHA, NOBEL PENTEADO DE FREITAS, ROBERTO WAGNER LOURENÇO, MARIA RITA DONALISIO CORDEIRO, RICARDO CARLOS CORDEIRO e MARIA APARECIDA VEDOVATO tos e assimilá-los retornando ao equilíbrio. A capacidade de assimilar essas alterações é denominada capacidade de suporte. Quan- do a intensidade das alterações provoca o desequilíbrio do ecossistema, e este não re- torna ao estágio de equilíbrio, isso significa que a capacidade de suporte desse ecossiste- ma foi superada. O Relatório Planeta Vivo, publicado pela WWF em 2008, indica que a pegada ecológica do homem hoje chegou a 2,7 hec- tares globais por pessoa. De acordo com esse indicador de sustentabilidade, isso sig- nifica que o homem necessita em média de Objetivos do capítulo A necessidade de enfrentamento das alterações ambientais e de seus efeitos sobre a saúde humana e a compreensão de que a promoção da saúde só se dá em um ambiente equilibrado, consolida a importância da Saúde Ambiental. Isso exige que se busque, por meio de políticas públicas, articular, estruturar, instrumentalizar as distintas esferas envolvidas, favorecendo o aprofundamento de estudos que auxi- liem a compreensão da dinâmica do binômio ambiente-saúde e o desenvolvimento de ações corretivas e preventivas. É urgente que fique claro que os desafios dos profissionais da área de saúde e de meio ambiente devem focalizar um só caminho, o do esforço para manter um ambiente saudável no qual todos os seus elementos interajam de forma equilibrada e em harmonia. Para isso, é preciso investir na for- mação de equipes integradas e com visão sistêmica capaz de executar um trabalho contínuo de investigação, com novas ferramentas que subsidiem ações eficientes de gestão ambiental e a consequente promoção de saúde, buscando a reafirmação do valor da vida e da equidade para todos os seres humanos. A SAÚDE E A AÇÃO DO HOMEM SOBRE O AMBIENTE A vida de todos os seres vivos causa altera- ções no meio ambiente. Estas podem ser al- terações químicas, físicas e até biológicas, cuja extensão depende da sua intensidade e frequência. O crescimento populacional in- tensifica as alterações localmente e faz com que possam ser amplificadas até atingir efeitos ecossistêmicos. Essas alterações in- terferem na dinâmica dos ecossistemas e podem ser neutralizadas pela capacidade que o ambiente tem de receber esses impac- 156 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) 2,7 hectares da superfície terrestre para for- necer os subsídios para manutenção da sua vida e para receber os resíduos provenientes de seu consumo. Considerando-se que a área disponível hoje, per capita, é de 2,1 hectares, fica evidente que a necessidade por recursos naturais para suprir as ativida- des humanas e a área necessária para rece- ber os resíduos dessas atividades, já superou a capacidade do nosso planeta. A pegada ecológica de países como os Estados Unidos chega a 9,4 hectares. Se toda a população mundial apresentasse esse padrão, seriam necessários mais de 4 planetas Terra para suprir as necessidades das pessoas. O cresci- mento demográfico intensifica esses impac- tos, mas este não é o determinante dessa crise ambiental. O mesmo relatório indica a emissão de CO2, proveniente da queima de combustíveis fósseis, nossa principal matriz energética, como o componente que mais influencia a pegada ecológica mundial. Por- tanto, fica evidente que o grande desafio a ser enfrentado é a forma como o homem vem ocupando os ambientes, resultante do modelo de desenvolvimento adotado e não apenas do número de habitantes na face da Terra. Esse modelo foi edificado sobre a crença de que a sociedade deve ter como meta o aumento contínuo e ilimitado da produção e o crescimento econômico a qualquer custo, mesmo que esse custo seja social ou ambiental. A consolidação do mo- delo capitalista repercute praticamente em todas as esferas das sociedades atuais, o que engloba os aspectos não só do trabalho, mas da saúde e do meio ambiente. O avanço científico e tecnológico corroborou para essa postura fortalecendo a falsa ideia de que o homem pode dominar a natureza e explorá-la de acordo com os seus objetivos imediatos, como se não fôssemos parte in- tegrante desse cenário e, portanto, sujeitos às consequências dessa intervenção tecno- lógica, contínua e intensiva na natureza. A Figura 7.1 mostra o intensivo avanço da ur- banização sobre as matas e cursos da água provocando diversos processos que levam à Figura 7.1 Avanço da urbanização sobre áreas naturais. Meio ambiente e sustentabilidade 157 poluição das águas, à contaminação, ao as- soreamento e à erosão dos solos. Os efeitos dessas intervenções se vol- tam para o próprio homem. A história apresenta uma série de eventos que afeta- ram significativamente a vida da humani- dade como consequência da própria ação antrópica sobre o meio. Essa afirmação pode ser ilustrada com a análise de uma das doenças mais devastadoras da história, a peste negra. Trata-se de uma doença cujo agente etiológico, a Yersinia pestis, é uma bactériatransmitida pelas pulgas que podem infestar ratos e se disseminar pelo ambiente por meio deles. Os ratos prolife- ram atraídos pela oferta de alimentos no lixo (Figura 7.2). Portanto, o crescimento de centros urbanos favoreceu a infestação por ratos e, consequentemente, a ocorrên- cia da doença. Várias pandemias dessa do- ença já foram registradas. Estima-se que em uma delas, a peste urbana, tenha dizimado 30% da população europeia, causando 25 milhões de mortes na pandemia iniciada em 1320, que teria perdurado cinco anos. A aná- lise desse evento exemplifica a consequên cia para o próprio ser humano da ação humana sobre o ambiente. O avanço tecnológico permitiu e exi- giu a amplificação e intensificação da com- plexidade dos efeitos da ação do homem sobre o meio ambiente. A falta de conheci- mento da rede que conecta os elementos ambientais não permitiu ao homem a com- preensão imediata dessas consequências. No entanto, o impacto de alguns eventos e a contribuição de alguns trabalhos ajudaram essa compreensão. Na década de 1960, a pu- blicação do livro “Primavera Silenciosa”, da cientista Rachel Carson, chamou definitiva- mente a atenção para a extensão dos efeitos da introdução de pesticidas e inseticidas sintéticos, como o DDT no ambiente. Essa publicação, aliada a uma série de publica- ções anteriores que já apontavam para os efeitos dessas substâncias no ambiente, comprovou a necessidade da avaliação glo- bal dos efeitos de agentes químicos antes de Figura 7.2 Áreas de acumulação de lixo propiciam a proliferação de doenças. 158 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) autorização para o seu uso indiscriminado. A divulgação dessas informações sensibili- zou as pessoas e influenciou mudanças das políticas de aprovação e normas para a uti- lização desses compostos. Posteriormente, inúmeras ocorrências mostraram direta- mente os efeitos da contaminação ambien- tal sobre o equilíbrio dos ecossistemas e es- pecificamente sobre a saúde humana. Al- guns eventos mostraram essa associação em função da abrangência e do caráter agudo de seus efeitos. Podemos citar fatos marcan- tes como o lançamento das bombas atômi- cas em agosto de 1945 em Hiroshima e em Nagasaki, com cerca de 200 mil mortos e inúmeras pessoas com sequelas dos efeitos imediatos ou tardios. Em 1948, 43% da população de Do- nora, centro siderúrgico da Pensilvânia, nos EUA, adoeceram, sendo que 20 dessas pes- soas morreram após a ocorrência de um ne- voeiro sulfuroso. Em dezembro de 1952, em Londres, berço da Revolução Industrial movida a carvão, condições atmosféricas favoreceram a formação de um smog extre- mamente tóxico que causou a morte ime- diata de 445 pessoas, chegando posterior- mente a mais de 4 mil óbitos em decorrência de complicações circulatórias e respira tórias. Essas foram, talvez, as primeiras manifesta- ções da poluição industrial urbana a desen- cadear a percepção desses efeitos e as ações de controle, como a Lei do Ar Puro em 1956, em Londres, quando foram estabele- cidos limites para emissão de poluentes e os níveis aceitáveis de qualidade do ar. A partir daí, novas leis foram aprovadas na América do Norte, como o “Clean Air Act” nos EUA, em 1970, ano da criação da Agência de Pro- teção Ambiental Americana, a EPA, e em di- versos países da Europa Ocidental e no Japão, propiciando a criação de agências para monitorar, regulamentar e avaliar a qualidade ambiental nesses países. É dessa década também a criação, no Brasil, da SEMA, Secretaria Especial de Meio Am- biente. Foi também em 1956, no Japão, que ocorreram inúmeras mortes decorrentes da contaminação da Baía de Minamata por mercúrio. Estima-se que cerca de 3 mil pes- soas possam ter sido vítimas dessa contami- nação decorrente da atividade industrial local que causava uma neuropatia. Além do homem, a contaminação vitimou também outros animais, como peixes, polvos, pássa- ros e animais domésticos. Apenas em 1969, a Chisso-Minamata, indústria de fertilizan- tes responsável pela contaminação, foi pro- cessada, sendo que a região foi considerada livre da contaminação apenas em 1997. A atividade industrial pode ser rela- cionada a vários outros eventos como o aci- dente de Bhopal, na Índia, em 1984, com o vazamento de cerca de 40 toneladas de gases tóxicos de isocianato de metila da produção de agrotóxicos da Union Carbide. Embora a literatura apresente diferentes números, es- tima-se que o acidente tenha causado a morte imediata de 2.800 pessoas por quei- maduras e sufocamento e a intoxicação de outras 200 mil, caracterizando, assim, a maior catástrofe da indústria química. Iro- nicamente, o isocianato de metila é utiliza- do na fabricação de carbonatos, produzidos em substituição aos organoclorados como o DDT. A busca pela diversificação das matri- zes energéticas envolve a utilização da ener- gia nuclear. Nesse caso, também há registros de acidentes em decorrência do efeito dele- tério que a radioatividade pode causar nos seres humanos. Em 26 de abril de 1986, ocorreu o acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Os relatórios locais citam 4 mil mortes diretas ou de áreas adjacentes por exposição direta à radiação, bem como as próprias equipes de socorro, além dos nas- cidos com sequelas decorrentes dos efeitos teratogênicos da radiação. Na ocasião, foi li- berada uma radiação aproximadamente 90 vezes maior que a das bombas de Hiroshi- ma e Nagasaki. A nuvem nuclear que atin- giu a Europa contaminou milhares de qui- Meio ambiente e sustentabilidade 159 lômetros de florestas e causou doenças em mais de 40 mil pessoas. No ano seguinte, em 10 de setembro de 1987, no Brasil, ocorreu o acidente com o Césio-137 na cidade de Goiânia. O desman- che de um equipamento de radioterapia em um ferro velho da cidade e a posterior viola- ção de uma cápsula contendo Césio-137 ex- puseram várias pessoas à radioatividade. A exposição direta levou 4 dessas pessoas a óbito cerca de um mês depois e outras 60 pessoas em seguida. Mais 628 pessoas se con- taminaram pelas ações de atendimento aos expostos e remoção do material. A Associa- ção de Vítimas do Césio-137 estima que cerca de 6 mil pessoas tenham sido contami- nadas, sendo que, mesmo após mais de 20 anos do acidente, uma centena de pessoas dependem do recebimento de medicamen- tos para tratamentos dos efeitos crônicos ad- vindos da exposição. As regiões costeiras e sua população, também já foram muito castigadas. A utiliza- ção do petróleo como principal matriz ener- gética não traz apenas consequências em função da emissão de CO2, mas também em função da contaminação das águas dos ocea- nos pelos inúmeros derramamentos aciden- tais e operacionais decorrentes do transporte desse tipo de produto. Em março de 1989, o petroleiro Exxon Valdez colidiu com rochas submersas na costa do Alasca e deu início ao mais danoso derramamento de óleo por um navio. O saldo do despejo foi de 40 milhões de litros de óleo, com 100 mil aves mortas e 2 mil quilômetros de praias contaminadas. O problema se agravou porque o frio prolonga o período de biodegradação. Apesar da lim- peza, que mobilizou 10 mil pessoas, cerca de 2% do petróleo que vazou continua poluin- do a costa da região. A partir desse acidente, foram criados protocolos de conduta utiliza- dos em posteriores situações semelhantes. A Figura 7.3 mostra a expansão da emissão de CO2, principal gás de efeito estufa a partir do século XIX. Figura 7.3 Gráfico da evolução do CO2. p p m v Ano 160 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) EVOLUÇÃO DA PERCEPÇÃO DA PROBLEMÁTICA AMBIENTAL Alguns eventos internacionais geraram do- cumentos norteadores que podem ser apontados como marcos políticos. A partir desses eventos, a sociedade iniciou uma mudança de paradigmas, apontando para a necessidade de desregulamentar a ação dos agentes econômicos sobre o meio ambiente. Durante muitos anos, o desenvolvimento econômico decorrente da Revolução Indus-trial impediu que os problemas ambientais fossem considerados com a devida impor- tância. Embora a poluição e os impactos ambientais do desenvolvimento desordena- do fossem visíveis, os benefícios proporcio- nados pelo progresso sempre foram usados como justificativa para manutenção desse modelo em detrimento da atenção às ques- tões ambientais. O relatório do Clube de Roma, “Limites ao crescimento”, já aponta- va para restrições à forma de crescimento decorrente do esgotamento de certos recur- sos naturais e da contaminação ambiental associada aos processos produtivos e forma de ocupação do ambiente. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em 1972 (Estocolmo – Suécia) já reforçava a necessi- dade de medidas que coibissem a acelerada degradação do meio ambiente e suas possí- veis consequências sobre a saúde humana. Foi prevista a intensificação e ampliação das ações do Estado na conservação e prote- ção do meio ambiente, e esse é visto não só em relação às questões associadas à gestão da vida selvagem, conservação do solo e am- biente aquático, mas contemplando tam bém as questões relativas à inserção social e inse- rindo as questões ambientais na agenda da política nacional e internacional. Fica explí- cita a íntima relação entre as questões am- bientais e a pobreza, que coloca os menos favorecidos economicamente e a saúde des- tes como principais vítimas das consequên- cias do desequilíbrio ambiental. Os riscos associados aos processos de produção e de consumo da sociedade e a consequente de- gradação ambiental e agravos à saúde são distribuídos espacial e socialmente de for- ma desigual. Em 1987, a publicação do documento “Nosso Futuro Comum”, Relatório da reu- nião da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em Oslo, na Noruega, apontou para o modelo de Desenvolvimento que contemplasse o princípio de solidariedade entre as gera- ções, visando ao compromisso com esta e as futuras gerações, ou seja, um desenvolvi- mento solidário e sustentável. Os documentos gerados na Conferên- cia das Nações Unidas para o Meio Am- biente e o Desenvolvimento (Rio-92), pre- conizam o direito a um ambiente sadio, que proteja a saúde, o bem-estar e os valores culturais. A Agenda 21, programa de ações para o século XXI, em seu Capítulo 6 – seção I – já reconhecia a saúde ambiental como prioridade social para a promoção da saúde. O CONCEITO DE SAÚDE AMBIENTAL E SUA INSERÇÂO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946, definiu saúde como um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença, pas- sando oficialmente do modelo biológico de ser humano para o modelo biopsicossocial. Esse conceito vem sofrendo inúmeras críti- cas e evoluindo continuamente. A interferência dos aspectos ambien- tais nos padrões de saúde das populações deixa evidente a percepção dessa relação já Meio ambiente e sustentabilidade 161 em trabalhos muito antigos, como os de Hi- pócrates, considerado o pai da Medicina. Mesmo não contando com o repertório científico atual, esses trabalhos delinearam a compreensão de epidemias e endemias, a partir da compreensão das características do ambiente e da valorização de aspectos geográficos e sua influência na distribuição das doenças. Essa influência grega somada à contribuição romana na área da engenharia e da administração propiciaram à popula- ção obras de saneamento, como sistemas de esgoto, sanitários públicos, aquedutos, dre- nagem de pântanos para controle de vetores de malária e disposição organizada de lixo. Posteriormente, a influência espiritualista e sobrenatural se impôs na compreensão dos processos infecciosos e, favorecida pela de- sintegração do império greco-romano, pro- vocou um retrocesso do ponto de vista da higiene e da saúde pública. Muito tempo depois, a partir de mea- dos do século XIX, com os trabalhos de Louis Pasteur, Robert Koch e outros, o esta- belecimento da Teoria Microbiana das Do- enças Infecciosas pode auxiliar na compre- ensão gradativa da origem, ocorrência e evolução dessas doenças. Essa contribuição permitiu a elaboração de medidas sanitá- rias de controle mais específicas e menos empíricas. A compreensão dos processos infec- ciosos somados ao avanço da tecnologia, tanto da área sanitária como da área de diagnóstico e terapêutica, contribuiu enor- memente para redução dos níveis de inú- meras doenças e, de certa forma, provocou um distanciamento do entendimento des- ses processos como resultado das alterações do meio ambiente e das condições sociais e econômicas das populações. No entanto, à medida que se verificou a consolidação da polarização da divisão geopolítica, em países ricos e países pobres, consolida-se também um cenário de distri- buição de doenças distinto. Os países menos privilegiados economicamente, carentes de recursos sanitários e de planejamento de ocupação de território, em sua maioria, ainda apresentam altos níveis de morbi- mortalidade relacionados a causas infeccio- sas. Estima-se que 4% de todas as mortes e 5,7% das doenças que ocorrem no mundo estejam associadas a condições precárias ou inexistentes de saneamento. Os registros de morbimortalidade em países que usufruem de recursos tec- nológicos mostram que a detenção do poder econômico não isenta a população dos agravos de saúde por influência dos fa- tores ambientais. A saúde da população desses países, economicamente privilegia- dos, também sucumbe aos efeitos do seu padrão de vida, cada vez mais urbano, con- sumista, exposto a um contexto de elevado adensamento populacional, confinado em ambientes com alta concentração de po- luentes atmosféricos e consumindo alimen- tos provenientes de cadeias cada vez mais complexas e artificiais. Nesse contexto, emergem padrões ele- vados de doenças cardiovasculares e degene- rativas. Portanto, mesmo que apontando para prioridades e medidas distintas para o enfrentamento das questões relativas à saúde da população local, a importância dos fato- res ambientais fica cada vez mais evidente. Esse fato reforça a necessidade de valorização da Saúde Ambiental como norteadora de políticas públicas de promoção de saúde da população. No Brasil, o conceito de vigilância em saúde vem se consolidando nas últimas dé- cadas. Essa vigilância tem caráter sistêmico, buscando ser um elo que reoriente o plane- jamento e a gestão das diversas vigilâncias que vem sendo implementada no Sistema Único de Saúde, como a vigilância epide- miológica, a sanitária, a de saúde do traba- lhador e mais recentemente a ambiental. Esta última pode ser considerada o braço operacional da Política Nacional de Saúde 162 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) Ambiental, pois consiste em um conjunto de ações que proporcionam o conhecimen- to e a detecção de mudanças nos fatores de- terminantes e condicionantes do meio am- biente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle de fatores de risco ambientais relacionados às doenças e a ou- tros agravos à saúde. Essa estrutura privile- gia o conceito de geração da informação para a ação, viabilizando essas ações no sen- tido de promover a saúde, superando a esfe- ra da mera intervenção sobre a doença para se voltar à esfera da prevenção desses agra- vos. Nesse sentido, as principais tarefas da Vigilância em Saúde Ambiental se referem aos processos de produção, integração, pro- cessamento e interpretação de informações visando ao conhecimento dos problemas de saúde relacionados aos fatores ambientais, além da execução de ações relativas às ativi- dades de promoção da saúde, prevenção e controle de doenças. A Figura 7.4 mostra a ocorrência da meningite durante o período de 2004 a 2008 no estado de São Paulo co mo forma de ajudar a promover a execução de ações de promoção à saúde. A Epidemiologia é uma das ciências fundamentaispara a construção e condu- ção desses estudos e cada vez mais exige a participação de uma rede multiprofissional bem formada, integrada, para a abordagem de um cenário no qual lidera a multifatoria- lidade. No que tange aos aspectos preventi- vos, a epidemiologia avalia riscos, validan- do estatisticamente a relação de eventos ocorridos em grupos populacionais expos- tos e não expostos ou então entre doentes e não doentes. A Epidemiologia também contribui para o monitoramento da situação de saúde Figura 7.4 Distribuição espacial dos registros de meningites por município no estado de São Paulo no período de 2004 a 2008 (Lourenço e Vedovato, 2010). 53º W 20º S 25º S 44º W 0 1 – 30 31 – 60 61 – 90 91 – 104 172 Meio ambiente e sustentabilidade 163 de determinadas populações, na realização de avaliações do impacto de mudanças am- bientais produzidas por projetos econômi- cos e sociais, no próprio ecossistema local e na saúde das populações humanas para a tomada de decisão sobre o desenvolvimen- to de projetos. Essas avaliações têm como fi- nalidade oferecer informações sobre os pro- váveis impactos e as possíveis medidas para reduzir e ou prevenir essas situações de risco. MUDANÇA DE PARADIGMA NA ÁREA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE As últimas décadas registraram vários even- tos na área tanto de meio ambiente como da saúde, documentando a mudança de uma série de paradigmas nessas áreas. A mudança de valores se reflete na atualização do conceito de saúde que reconhece que, para enfatizar o viés profilático, deve ser re- conhecida a relevância da interferência di- reta ou indireta dos fatores ambientais na prevenção de doenças e agravos à saúde hu- mana. A Declaração da Conferência sobre cuidados Primários de Saúde da OMS- -UNICEF, que ocorreu em 1978 em Alma- -Ata, no Cazaquistão, enfatiza a saúde como um direito humano fundamental. Permitiu que a saúde, como um bem público, se in- corporasse à legislação nacional e interna- cional como instrumento de ações que ob- jetivassem a redução das desigualdades do estado de saúde dos povos, principalmente entre os de países desenvolvidos e em de- senvolvimento. Portanto, a saúde não mais se explica exclusivamente pela ausência de doença, apoiada principalmente em intervenções clínico-cirúrgicas ou em medidas preventi- vas tradicionais, mas sim como resultado de ações de caráter intersetorial, que a conside- rem um produto e, ao mesmo tempo, um insumo do desenvolvimento. Em 1986, ocorreu no Canadá a Primeira Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde, na qual foi promulgada, pela Organização Mundial da Saúde, a “Carta de Ottawa para promoção da Saúde” atendendo à demanda de uma nova concepção de saúde pública. Nesse contexto, delineou-se um cenário no qual a importância da qualidade do meio ambiente era redimensionada para um espa- ço ecossocial. Definiram-se linhas de ação no sentido de se criarem ambientes favorá- veis à saúde, os chamados ambientes saudá- veis. Inúmeras conferências internacionais sobre o tema se sucederam e vêm influen- ciando políticas de saúde coletiva dos mais diversos países. O texto da Constituição Federal Brasi- leira, promulgada em 1988, já reflete essa concepção de relação intrínseca entre meio ambiente e saúde. Em seu Artigo 196, a saúde é definida como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políti- cas sociais e econômicas que visem à redu- ção do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e re- cuperação. Já em seu Art. 225, prevê que todos têm direito ao meio ambiente ecologica- mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi- dade o dever de defendê-lo, preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Em 1990 a Organização Mundial da Saúde cria uma Comissão de Saúde e Meio Ambiente. Durante essa mesma década, o Brasil deu início à elaboração da Política Nacional de Saúde Ambiental, possibilitan- do posteriormente a implantação do Siste- ma de Vigilância em Saúde Ambiental com o objetivo de compreender as relações entre os elementos ambientais e de saúde sobre os quais cabe à saúde pública intervir. 164 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) De acordo com o documento “Subsí- dios para construção da Política Nacional de Saúde Ambiental”, divulgado em 2007 pelo Ministério da Saúde, o campo da Saúde Am- biental compreende a área da saúde pública afeita ao conhecimento científico e à for- mulação de políticas públicas e as corres- pondentes intervenções (ação) relacionadas à interação entre a saúde humana e os fato- res do meio ambiente natural e antrópico que a determinam, condicionam e influen- ciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano sob o ponto de vista da sustentabilidade. Nesse sentido, a articulação e a visão de indissociabilidade entre as áreas de meio ambiente e saúde aponta para a necessidade de ações preventivas, tanto relacionadas à proteção do meio ambiente como à promo- ção de saúde. No caso particular da vigilân- cia em saúde, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) estruturou o Sistema Na- cional de Vigilância Ambiental em Saúde (SINVAS). Sua regulamentação através da Instrução Normativa No 1 do Ministério da Saúde, de 25 de setembro de 2001, definiu competências no âmbito federal dos Esta- dos, do Distrito Federal e dos Municípios e, para esses fins, apontou também como prioridades para intervenção os fatores bio- lógicos representados pelos vetores, hospe- deiros, reservatórios e animais peçonhen- tos; e os fatores não biológicos, que incluem a qualidade da água para consumo huma- no, ar, solo, contaminantes ambientais, de- sastres naturais e acidentes com produtos perigosos. A Vigilância Ambiental em Saúde é definida pela Fundação Nacional da Saúde como um conjunto de ações que proporciona o conhecimento e a detecção de qualquer mu- dança nos fatores determinantes e condicio- nantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identifi- car as medidas de prevenção e controle dos fa- tores de risco ambientais relacionados às do- enças ou outros agravos à saúde. Compete ao sistema produzir, integrar, processar e in- terpretar informações que sirvam de ins- trumentos para que o Sistema Unificado de Saúde possa planejar e executar ações relati- vas à promoção de saúde e de prevenção e controle de doenças relacionadas ao am- biente. A Vigilância em Saúde Ambiental foi estruturada por meio do Subsistema Nacio- nal de Vigilância em Saúde Ambiental, re- gulamentado pela Instrução Normativa MS/SVS Nº 1, de 7 de março de 2005. O Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental – SINVSA compreende o conjunto de ações e serviços prestados por órgãos e entidades públicas e privadas, rela- tivos à vigilância em saúde ambiental, vi- sando ao conhecimento e à detecção ou pre- venção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promoção da saúde ambiental, prevenção e controle dos fatores de risco re- lacionados às doenças e outros agravos à saúde, em especial: I. água para consumo humano; II. ar; III. solo; IV. contaminantes ambientais e substân- cias químicas; V. desastres naturais; VI. acidentes com produtos perigosos; VII. fatores físicos; e VIII. ambiente de trabalho. Parágrafo Único – Os procedimentos de vi- gilância epidemiológica das doenças e agra- vos à saúde humana associados a contami- nantes ambientais, especialmente os rela- cionados com a exposição a agrotóxicos, amianto, mercúrio, benzeno e chumbo serão de responsabilidade da Coordenação Geral de Vigilância Ambiental em Saúde – CGVAM. O conceito ampliado de exposição, tratado não como um atributo da pessoa, Meio ambiente e sustentabilidade 165 mas comoconjunto de relações complexas entre a sociedade e o ambiente, é central para a definição de indicadores e para a orientação da prática de vigilância ambien- tal. Entre as dificuldades encontradas para sua efetivação no Sistema Único de Saúde no Brasil, estão a necessidade de reestrutu- ração das ações de vigilância em saúde e a formação de equipes multidisciplinares, com capacidade de diálogo com outros se- tores, além da construção de sistemas de in- formação capazes de auxiliar a análise de si- tuações de saúde e a tomada de decisões. Por exemplo, a Figura 7.5 mostra o poten- Figura 7.5 Mapa da distribuição espacial do Risco Relativo da incidência de tuberculose em Rio Claro, São Paulo, Brasil. 166 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) cial do uso de indicadores de risco para ges- tão e planejamento em vigilância ambiental que, muitas vezes, não são incorporados aos métodos de análise. Como tentativa de articular as esferas governamentais e demais atores envolvidos nesse processo e consolidar a Política Na- cional de Saúde Ambiental, o Ministério de Meio Ambiente programou para dezembro de 2009, em Brasília, a I Conferência Nacio- nal de Saúde Ambiental. INTEGRAÇÃO DAS AÇÕES DE PROMOÇÃO DE SAÚDE E PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE Ações de integração dos vários setores en- volvidos são sempre bem-vindas e necessá- rias. A complexidade das questões socioam- bientais exige cada vez mais preparo para seu enfrentamento, pois muitas vezes a apa- rente resolução de um problema pode agra- var outro. O equacionamento dessas situa- ções é um grande desafio. Geralmente, a promoção à saúde e a proteção ao meio am- biente são vistas como valores que intera- gem sempre em harmonia. No entanto, em- bora a interface e a interdependência dessas duas questões seja inquestionável, as ações voltadas para promoção da saúde, se conce- bidas de forma desarticulada da proteção ao meio ambiente, podem gerar um cenário muito negativo. Por exemplo, a produção de alimento em larga escala, como ação de combate à fome, normalmente representa a ocupação de extensas áreas de vegetação natural substituídas pelas culturas utiliza- das como alimentos. Isso tem representado desmatamento, destruição de hábitats natu- rais e também pode significar a introdução local de inúmeros contaminantes no ar, na água e no solo com a justificativa de manter a produtividade e combater as pragas, o que ao final, também se reverte em comprome- timento da saúde humana. O combate a vetores de inúmeras do- enças como a febre amarela, a dengue e a malária pode resultar na intensificação da contaminação ambiental. Isso só reforça a necessidade de implementação de ações de impacto ecossistêmico positivo, integradas à dinâmica ambiental e não mais apenas pontuais e de emergência como a aplicação de inseticidas. A própria atenção à saúde gera inú- meros resíduos biológicos, químicos, físi- cos, inclusive radioativos. Além disso, a ampla gama de medicamentos gera sobras que podem ser descartadas no ambiente, bem como resíduos desses, contidos nas ex- cretas humanas e podem se dispersar cau- sando contaminação ambiental. Os dados divulgados em 2009, refe- rentes ao ano de 2007, pelo Sistema Nacio- nal de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fiocruz, registraram mais de 100 mil casos de intoxicação humana e quase 500 óbitos registrados pelos centros de Informação e Assistência Toxicológica em todo o país. Esses dados apontam as crianças menores de cinco anos como as mais atingidas, representando 25% dos casos. Os principais agentes desses quadros de intoxicação são justamente os medica- mentos (30,7%), seguidos pelos animais pe- çonhentos (20,1%) e produtos de limpeza domiciliar (11,4%). Portanto, mais de 42,1% dos casos são provocados por produtos que deveriam ser utilizados na promoção da saúde humana. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a quantidade de antimicrobianos utilizados em animais e o seu padrão de uti- lização não são conhecidos. Embora os nú- meros variem, e a maioria dos países não tenha essas estatísticas, dados atuais indi- cam que praticamente metade dos antibió- ticos produzidos são utilizados na medicina humana e a outra parte na produção ani- Meio ambiente e sustentabilidade 167 mal, seja como elemento profilático ou te- rapêutico, seja como fator de crescimento. A liberação desses compostos no am- biente pode causar desequilíbrios nas mi- crobiotas do solo e da água e também disse- minar fatores de resistência antimicrobiana em locais que não deveriam apresentar essas ocorrências, agravando, assim, a disse- minação de cepas resistentes aos tratamen- tos. Esse fato é relevante principalmente quando consideramos a disseminação de pa- tógenos agentes de DTAs (Doenças Trans- mitidas por Alimentos), como as bactérias Campylobacter jejuni, Escherichia coli, Sal- monella e Enterococcus. Esses microrganis- mos se encontram associados aos animais e seus produtos, podendo atingir os seres hu- manos que consomem estes como alimen- tos. O combate a um processo infeccioso humano, causado por um microrganismo cuja resistência aos antimicrobianos já se deu no ambiente, é cada vez mais difícil e oneroso. Além disso, os elementos genéticos que determinam a resistência aos antimi- crobianos podem ser disseminados no or- ganismo do hospedeiro humano e transmi- tidos às bactérias que já colonizam esses in- divíduos acelerando e amplificando o problema da resistência microbiana aos an- timicrobianos. Na tentativa de melhorar a aborda- gem dessas questões, a própria legislação já esboça a tentativa de articular as normas le- gais contemplando ambos os setores, com aspectos enfatizados pelas Resoluções do Ministério da Saúde articuladas às do Meio ambiente, como no caso dos Resíduos Sóli- dos de Serviços de Saúde, mas há necessida- de ainda de disseminar essa cultura entre os distintos setores, envolvendo várias outras esferas. Esses pontos apenas ilustram e refor- çam a necessidade de ações integradas, que não visem à resolução focada apenas em um setor, pois o resultado de uma ação, seja voltada exclusivamente para a saúde ou para o meio ambiente, representará um risco potencial para a outra área se não for planejada e executada de forma ampla e in- tegrada. A QUALIDADE DA ÁGUA E A SAÚDE Globalmente, 1 bilhão de pessoas está atual- mente sem acesso a abastecimento de água e 2,6 bilhões não contam com nenhuma forma de serviços de saneamento básico. A maioria dessas pessoas vive na Ásia e na África. O consumo de água contaminada, seja por agentes biológicos ou químicos, é uma importante causa de agravos à saúde, cau- sando principalmente diarreia. Essa ocor- rência é, de modo geral, causada por infec- ções gastrointestinais que matam cerca de 2,2 milhões de pessoas no mundo a cada ano, sendo 1,5 milhão de crianças, a maio- ria em países em desenvolvimento. O uso da água na higiene é uma medida preventi- va importante. A diarreia pode durar vários dias e pode deixar o corpo sem a água e sais que são necessários para a sobrevivência. A maioria das pessoas que morrem de diar- reia, na verdade, morrem de desidratação grave e perda de líquido. Crianças que se alimentam mal ou têm deficiência de imu- nidade são mais suscetíveis ao risco de vida pela ocorrência da diarreia. A degradação ambiental vem amea- çando o acesso a esse recurso vital, compro- metendo a qualidade e a quantidade de água disponível para consumo. No Brasil, embora haja a ideia de abundância de água, a distribuição é muito irregular pelo terri- tório nacional, e as fontes de contaminação representam um fator limitante para o for- necimento de água para a população. Os reservatórios próximos aos gran- des centros urbanos encontram-se eutrofi- zados. Esse fato pode favorecer a ocorrência 168 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) de fenômenos como as “florações” de algas unicelulares e de cianobactérias, já que esses organismossão abundantes em nossas águas. A proliferação excessiva desses mi- crorganismos compromete a qualidade da água, pois esses são produtores de inúmeras toxinas que podem ter efeitos neurotóxicos, hepatotóxicos e dermatotóxicos. Essas toxi- nas são liberadas pela lise das células produ- toras, portanto o problema pode ser agrava- do se a água for submetida à cloração. Em 1996, em Caruaru, no estado de Pernambu- co, o fornecimento de água contaminada por cianotoxinas hepatotóxicas a um hospi- tal vitimou mais de uma centena de pacien- tes do serviço de hemodiálise. Atualmente, esse é um risco eminente que deve ser con- tinuamente monitorado. A Figura 7.6 mos- tra o monitoramento da Represa de Guara- piranga, um importante reservatório que tem servido de manancial para o abasteci- mento da água da população da cidade de São Paulo. Na figura, é possível observar que, em dois diferentes pontos de monito- ramento, os valores de coliformes ultrapas- sam os valores sugeridos segundo o Conse- lho Nacional do Meio Ambiente (CONA- MA) que regulamenta os valores máximos permitidos. A CONTAMINAÇÃO ATMOSFÉRICA E SEUS EFEITOS NA SAÚDE HUMANA A interpretação dos efeitos das condições ambientais sobre a saúde humana é um processo complexo, principalmente por ser, na maioria das vezes, de natureza múltipla. Além disso, ficam mais evidentes e menos difíceis de correlacionar os efeitos agudos, já que se trata de manifestações intensas e próximas ao momento da exposição. No entanto, vários efeitos adversos se apresen- tam de forma crônica, e ainda necessitamos de muitos estudos para esclarecer a nature- za e a extensão desses efeitos e correlacioná- -los com dados epidemiológicos que conso- lidem essas informações. Durante a evolução humana na Terra, o homem desenvolveu mecanismos de inte- ração e defesa contra as agressões sofridas por agentes infecciosos, no entanto, até hoje o contato com esses organismos patogêni- cos pode trazer prejuízos à saúde, e a ciência ainda tenta desvendar os mecanismos en- volvidos nessa interação parasita-hospedei- ro. No tocante à contaminação química do ambiente, intensificada a partir da Revolu- Figura 7.6 Tendência de aumento de coliformes termotolerantes (linhas cinzas continuas e pontilhadas) em relação aos valores padrão CONAMA (linha contínua preta). Meio ambiente e sustentabilidade 169 ção Industrial em meados do século XVIII, podemos considerar essa interação relativa- mente recente, principalmente pelo fato de a introdução e diversificação de agentes ser crescente. Nesse sentido, o organismo hu- mano sofre de uma extensa gama de efeitos adversos dessa interação, e a ciência ainda tenta compreender os mecanismos envolvi- dos nessas manifestações. Cerca de 800 mil óbitos são atribuídos à poluição do ar ambiental, 1,6 milhão à poluição do ar no interior dos domicílios e 154 mil óbitos às alterações climáticas. São, portanto, cerca de 2,5 milhões de mortes evitáveis a cada ano. Esses números tendem a uma elevação contínua se forem mantidos os níveis atuais de emissões e demais aspec- tos de degradação ambiental como a devas- tação da vegetação natural. A Figura 7.7 mostra a intensa relação entre poluentes at- mosféricos e internações por doenças respi- ratórias em uma cidade do interior do esta- do de São Paulo. Por exemplo, as pessoas de áreas urba- nas e industrializadas já têm a percepção da ação da poluição atmosférica sobre sua saúde. Porém, esses mecanismos não estão clara- mente descritos, e inúmeras pesquisas estão sendo realizadas com essa finalidade. Relatos recentes têm demonstrado que os efeitos da exposição aos elevados níveis de poluição at- mosférica, nos grandes centros urbanos, con- tribuem tanto para o aparecimento de agra- vos crônicos à saúde, como alergias, irritação das mucosas e da pele, problemas respirató- rios e até mesmo câncer de pulmão como para a ocorrência de efeitos agudos, como a hipertensão e paradas cardíacas. Pesquisas com gestantes demonstra- ram que a exposição à poluição atmosféri- ca, principalmente no primeiro trimestre de gravidez, resulta em recém-nascidos com baixo peso, podendo também elevar o risco de morte perinatal em 50%. Além disso, há indicação de que, nos dias de maior concen- tração de poluentes na atmosfera na cidade de São Paulo, principalmente de CO, há ele- vação do número de abortos. A poluição atmosférica também seria responsável por 5% das mortes por proble- Figura 7.7 Gráfico de uma série histórica dos níveis de poluentes atmosféricos e internações por doenças respiratórias na cidade de Sorocaba, São Paulo de 2004 a 2007. 170 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) mas respiratórios tanto em crianças como em idosos em sete capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitó- ria, Curitiba, Fortaleza e Porto Alegre). Experimentos com camundongos ex- postos ao ar poluído de São Paulo mostra- ram redução de fertilidade. As fêmeas pro- duziram 36% menos células germinativas e sofreram abortos espontâneos mais fre- quentes que fêmeas mantidas em ambiente abastecido com ar filtrado. Além disso, os filhotes das fêmeas mantidas em atmosfera poluída nasceram com peso inferior e foram observadas alterações da placenta, com estreitamento dos vasos sanguíneos. A capacidade respiratória dos filhotes de pais expostos ao ar poluído, e também mantidos nesse tipo de ambiente, também foi reduzi- da. Os pesquisadores do Laboratório de Po- luição Atmosférica Experimental da Uni- versidade de São Paulo, autores desses estu- dos, chamam a atenção para o fato de a inalação de partículas menores que 2,5 mi- crômetros, que atravessam as primeiras bar reiras do sistema respiratório, afetar o desenvolvimento dos alvéolos. Essa consta- tação é particularmente importante para a espécie humana porque cerca de 85% dos alvéolos se forma na fase entre a infância e a puberdade. Essa formação estaria com- prometida em pessoas que vivem em am- bientes poluídos, consequentemente, com- prometendo a capacidade respiratória no adulto. Os efeitos marcados na saúde pela po- luição oriunda do tráfego são agora relativa- mente conhecidos. Estudos nos EUA mos- traram que pessoas que moram a até 100m de estradas movimentadas estão mais pro- pensas à asma e a doenças cardiovasculares. Ações de redução de tráfego, como as ado- tadas em torno dos estádios nas Olimpíadas em Pequim e Atlanta, repercutiram na re- dução de internações locais por doenças respiratórias e cardiovasculares. Estratégias de monitoramento contí- nuo da poluição do ar ao longo das vias de tráfego intenso nos grandes centros urba- nos podem auxiliar no mapeamento desses poluentes e subsidiar ações para escoar o trânsito em locais com concentrações críti- cas decorrentes da concentração de auto- móveis. Por um lado, temos a intensificação da poluição atmosférica pela queima de com- bustíveis fósseis nas vias de tráfego das áreas urbanizadas e nas estradas; no entanto, a proposta de substituição por outras matri- zes energéticas deve ter seus impactos no ambiente e na saúde avaliados. Não só nos ambientes densamente ur- banizados são detectados problemas de saúde decorrentes da exposição a poluentes atmosféricos. Na região rural, as queimadas são tradicionalmente realizadas como forma de remoção da vegetação para ocu- pação do solo com outras atividades como o plantio da cana-de-açúcar. O Brasil é o maior produtor e expor- tador mundial de álcool, considerado com- bustível limpo, pois provém de fontes reno- váveis. No entanto, se analisado todo o pro- cesso produtivo da cana, podemos verificar importantes impactos ambientais com con- sequências à saúde da população que reside próximo à área de plantio e dos trabalhado- res que atuam no corte da cana. Estudos epidemiológicos apontam para o agravamento de problemas respira- tórios pela exposição ao ar contaminado pela queima da cana. No entanto, as doen- ças cardiovasculares também vêm sendo associadasa esse tipo de poluição, em espe- cial o infarto do miocárdio. O tamanho das partículas geradas pela queima da palha da cana pode determinar o tipo de efeito na saúde, e esse efeito pode ser potencializado por outros gases presentes. Partículas de menor diâmetro são de maior impacto, mas as PM10 podem rapidamente penetrar e se depositar na traqueia e nos brônquios. As PM 2,5 podem alcançar vias aéreas estreitas e alvéolos e as partículas ultrafinas, meno- res que 100 nm (0,1 μm), têm alta deposi- Meio ambiente e sustentabilidade 171 ção nos alvéolos. As partículas ultrafinas re- presentam maior parte do material particu- lado e têm razão maior de área-massa, o que aumentaria a toxidade biológica, pois conseguem até passar diretamente à cor- rente sanguínea. A população sob maior risco é de idosos, daqueles com doenças pulmonares crônicas, com doenças corona- rianas, ou pacientes com diabete. Enquanto a poluição atmosférica aguda pode desen- cadear infarto do miocárdio em horas ou dias nas pessoas suscetíveis, a exposição crônica a poluentes aumenta o risco de do- enças cardiovasculares que podem estar re- lacionadas à inflamação pulmonar crônica, como ocorre na queima de biomassa em ambientes fechados. A população que resi- de próximo à área de plantio sofre os efeitos da poluição difusa que varia espacialmente em função do gradiente de concentração originado pela dispersão desses particula- dos. Os trabalhadores que atuam no corte da cana sofrem com os efeitos agudos dessa exposição. Não apenas a exposição aos particula- dos, mas também aos produtos originados pela combustão incompleta podem afetar gravemente a saúde, pois as cinzas produzi- das podem ter elementos tóxicos como os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos. A exposição à poluição do ar interior contaminado pela queima de combustíveis sólidos tem sido associada a muitas doen- ças, em especial à pneumonia entre as crian- ças e às doenças respiratórias crônicas entre adultos. Os efeitos da contaminação atmos- férica na saúde humana em países desen- volvidos atraem a atenção dos pesquisado- res e das agências regulamentadoras há algum tempo. A combustão de biomassa re- presenta a maior fonte de produção de gases tóxicos, material particulado e gases de efei- to estufa. No entanto, os prejuízos causados pelas grandes queimadas em áreas de mata e da queima de biomassa para produção de energia em países em desenvolvimento cos- tumam ser negligenciados. Mais de três bilhões de pessoas em todo o mundo continuam a depender dos combustíveis sólidos, incluindo os combus- tíveis de biomassa (madeira, esterco e resí- duos agrícolas) e carvão, para as suas neces- sidades energéticas diárias, como cozinhar, aquecer lareiras, resultando em altos níveis de poluição do ar dos ambientes internos. A fumaça contém uma gama de poluentes prejudiciais à saúde, tais como pequenas partículas e monóxido de carbono. As par- tículas em níveis de poluição podem exce- der até 20 vezes os valores de exposição aceitos. A Organização Mundial da Saúde estima que a exposição a esse tipo de conta- minação seja responsável por 2,7% da carga global de doenças. Há evidências consistentes de que a exposição à fumaça de biomassa aumenta o risco de infecções respiratórias agudas na infância, especialmente pneumonia. Glo- balmente, essas patologias representam a causa mais importante de morte em crian- ças menores de 5 anos e são responsáveis por pelo menos 2 milhões de mortes anual- mente nessa faixa etária. A poluição do ar interior é considerada um fator de risco também para bronquite crônica e doença pulmonar obstrutiva crônica progressiva. Fumaça de ambos, carvão e biomassa, contêm quantidades significativas de subs- tâncias carcinogênicas. Evidências consis- tentes têm mostrado que mulheres expostas à fumaça dos fogos de carvão dentro de casa têm um risco elevado de câncer de pulmão. Esse efeito foi determinado pela verificação da presença de substâncias cancerígenas na fumaça, o que implica que o risco existe. No entanto, dados epidemiológicos que docu- mentem essa correlação da ocorrência de câncer de pulmão na população exposta ainda são insuficientes. Para exemplificar, a Figura 7.8 mostra a relação entre a existên- cia de hipertensão e doenças cardiovascula- res provocadas pela exposição deletéria de agentes nocivos de poluentes do ar de um estudo realizado com dados de um Posto de 172 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) Atendimento de áreas próximas a locais de queimada de cana. A fumaça produzida em ambientes fe- chados pelos cigarros de tabaco também causa inúmeros efeitos deletérios à saúde, não apenas dos fumantes como das pessoas que involuntariamente inalam essa fumaça. O dia 31 de maio foi definido pela OMS como o Dia Mundial sem tabaco. O tabagis- mo causa a morte de 5,4 milhões de pessoas por ano, representando um fator de risco para seis das oito principais causas de mor- tes no mundo, como as doenças cardiovas- culares e o câncer de pulmão. Inúmeras estratégias de combate ao tabagismo vêm sendo implementadas, e, nesse momento, a saúde dos fumantes pas- sivos também vem sendo alvo dessas ações. Quase metade das crianças do mundo res- pira ar poluído pelo fumo do tabaco, o que agrava uma série de problemas pulmonares. Pelo menos 200 mil trabalhadores morrem a cada ano devido à exposição ao fumo pas- sivo no trabalho. Países como a Irlanda, desde 2004, convivem com leis que proíbem o fumo em locais públicos fechados e am- bientes de trabalho. Outros países seguiram a mesma linha e, no Brasil, no estado de São Paulo, foi promulgada a Lei No 13.541, em maio de 2009. Essa lei segue uma tendência mundial que busca implementar ações que eliminem os resíduos do tabaco dos am- bientes e consequentemente os efeitos noci- vos à saúde das pessoas expostas a eles, principalmente em ambientes fechados. A ocupação e ambientes arquitetoni- camente concebidos para isolar as pessoas do ambiente externo natural foram desen- volvidos no sentido de garantir conforto térmico e geram condições atmosféricas muito peculiares. Esses ambientes confi- nam pessoas, equipamentos, mobiliários, itens de decoração e as respectivas emis- sões provenientes desse tipo de ocupação gerando riscos físicos, químicos e biológi- cos. A exposição constante a esses ambien- tes, principalmente no âmbito ocupacional, pode desencadear efeitos nocivos à saúde das pessoas. Em 1976, a ocorrência de um surto de legionelose afetou 182 legionários que par- ticipavam de uma comemoração cívica em um hotel nos EUA, levou 29 indivíduos a óbito. Esse fato impulsionou pesquisas que permitissem avaliar melhor o risco de com- partilhamento do ar nesses ambientes fe- chados. Hoje são reconhecidas as “Doenças relacionadas a edifícios”, que têm um agente definido e a “Síndrome de Edifícios Doen- tes” (SED), de etiologia não definida e natu- reza multicausal. A OMS reconhece como os principais sintomas da SED: fadiga, le- targia, cefaleia, prurido e ardor nos olhos, anormalidades na pele, irritação do nariz e garganta e falta de concentração. Na tentati- va de estabelecer critérios para a avaliação das condições de ambientes fechados, a le- Figura 7.8 Hipertensos (círculos externos) e doenças car- diovasculares (círculos internos) em áreas de cultivo de cana-de-açúcar em Rio Claro, São Paulo (2009). 3. J d. No va Ven eza e P aul ista 1. Anhanguera e JD. Centenário 5. B enj am in de Ca stro 1 5. Be nja min de Ca stro 2 2. Residencial dos Bosques 6. J D. Ma ria Cri stin a Meio ambiente e sustentabilidade 173 gislação brasileira determina como limite aceitável 750UFC/m3 de fungos no ar. Esse número não parece estar claramente corre- lacionado com os possíveis agravos à saúde, principalmente nas condições ambientais brasileiras. Portanto, é importante que essa relação possa ser melhor investigada e que sejam determinadosindicadores biológicos e não biológicos que auxiliem no monitora- mento da qualidade do ar interior, que sub- sidiem ações profiláticas. MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SAÚDE Os claros impactos das mudanças climáticas já apontam para sérios riscos diretos e indi- retos para a saúde humana. Esses impactos podem ser decorrentes do efeito direto do calor, que pode agravar e comprometer o es- tado de saúde de indivíduos com doenças crônicas, do aumento das doenças pela ex- pansão de seus vetores, aumento das doenças de veiculação hídrica pelo impacto de fortes chuvas ou estiagens prolongadas e maiores riscos decorrentes da qualidade do ar. Em julho de 1995, em Chicago, EUA, a elevação da temperatura causada por uma onda de calor (EHE – Extreme Heat Event) provocou mil hospitalizações excedentes, principalmente em pacientes com diabete, doenças respiratórias e distúrbios nervosos. Calcula-se que em 2003, na Europa, mais de 35 mil mortes tenham sido causadas pela onda de calor, distribuídas pela França (14 mil óbitos), Itália e Espanha (4,2 mil), Por- tugal (2mil) e mais de 2 mil no Reino Unido. O verão de 2009 já registrou temperaturas altas em várias localidades na Europa, exce- dendo 40o C em países como a Itália. É necessário um planejamento para o enfrentamento de situações como essa, para que o setor de saúde pública esteja preparado para atuar diante de uma eleva- ção abrupta de agravos à saúde. Essa ques- tão é mais grave em áreas mais pobres, pois a população é mais suscetível e os locais têm menos infraestrutura para o atendi- mento dos pacientes. Geralmente, nesses locais já há uma deficiência no atendimen- to da demanda de rotina, e a previsão indi- ca que as áreas mais pobres serão severa- mente afetadas. Mesmo em países com estruturas adequadas para atendimento na Europa, o atendimento não supriu a demanda. A maioria das vítimas francesas faleceu em razão de desidratação, pois o sistema de saúde não estava preparado para atender a milhares de casos simultâneos de desidra- tação. Ocorrência semelhante aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, na epidemia de dengue registrada em 2008. Hospitais de campanha do exército chegaram a ser mon- tados na tentativa de atender os inúmeros pacientes que necessitavam de reidratação. A piora da qualidade do ar pode acom- panhar a onda de calor, principalmente quan- do provoca incêndio em extensas áreas. Em 2003, estima-se que 10% das florestas em Portugal tenham sido devastadas. Estudos demonstram, também na Eu- ropa, que a elevação de cada grau na tempe- ratura média corresponde à elevação de 4% das hospitalizações por complicações respi- ratórias e que essas ocorrências se concen- tram em pacientes com 75 anos ou mais. Na área natural, a destruição das flores- tas já colabora para a alteração dos ciclos de doenças associadas a vetores, geralmente deslocando o eixo silvestre da doença para o ambiente urbano, expondo as populações urbanas. Além disso, as mudanças climáticas afetam o regime de chuvas e podem contri- buir para a proliferação de vetores que apre- sentam parte do seu ciclo na água, como é o caso da dengue, da febre amarela, além da malária e da leishmaniose, importantes do- enças endêmicas no Brasil. Na transmissão de malária, a temperatura desempenha um papel importante. Por exemplo, o aumento da temperatura em torno de 1,5°C pode 174 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) levar o ambiente livre de malária, com baixa endemicidade, à alta endemicidade. A urbanização dessas endemias e a proliferação dos vetores também preocupa outras localidades além do Brasil, com po- tencial semelhante para o desenvolvimento dos mesmos vetores artrópodes ou outros, adaptados a outras condições ambientais. A elevação da temperatura média glo- bal também afetará continuamente a pro- dução de alimentos, fato que colabora para o encarecimento dos produtos e dificulta o acesso aos alimentos pelas populações mais pobres, expondo ainda mais esses indivídu- os aos agravos de saúde pelas alterações am- bientais. Portanto, fica cada vez mais evidente que os desafios dos profissionais da área de saúde e de meio ambiente devem tri- lhar um só caminho, o do esforço para manter um ambiente saudável no qual todos os seus elementos interajam de forma equilibrada e em harmonia. Para isso, precisamos investir na formação de equipes integradas e com visão sistêmica. Equipes estas capazes de executar um tra- balho de contínua investigação que subsi- die ações eficientes de gestão ambiental e consequente promoção de saúde, buscan- do a reafirmação do valor da vida e ressig- nificação da importância da equidade para todos os seres humanos. EXERCÍCIOS 1. Calcular a sua pegada ecológica. a) Procurar na internet um site que apresente um programa que permita calcular sua pegada ecológica; b) Analisar o resultado e identificar as possíveis ações individuais e coletivas que você julga que pode- riam ter um impacto na redução de sua pegada ecológica. c) Relacionar os aspectos evidenciados por esse indicador de sustentabilidade que têm maior interface com a área de saúde. 2. Acesse o Sistema de Vigilância em Saúde de populações expostas a solo contaminado (VIGISOLO), da Secretaria de Vigilância em saúde, do Ministério da Saúde e identifique: a) A classificação das áreas em função do tipo de contaminação; b) As etapas da metodologia ATSDR (Agency for Toxic Substances and Diseases Registry). c) As áreas-piloto que são monitoradas pelo Ministério da Saúde no Brasil e o respectivo tipo de con- taminação de cada uma delas. REFERÊNCIAS ARBEX, M. A. et al. Queima de biomassa e efeitos sobre a saúde. 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