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HISTÓRIA DA LITERATURA ANGLÓFONA Me. Daniela dos Santos Domingues GUIA DA DISCIPLINA 1 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. BEOWULF E OS FUNDAMENTOS DA LITERATURA ANGLÓFONA Objetivo Conhecer os períodos literários das culturas anglófonas e compreender como o desenvolvimento e a difusão de sua literatura se deu a partir de obras fundadoras como Beowulf. Introdução O desenvolvimento e a difusão da literatura anglófona estão diretamente ligados à História da Inglaterra e de como a língua inglesa passou a ser adotada em diversos países devido ao avanço da colonização promovida pelo país, que se tornou comercialmente e religiosamente muito influente com sua expansão marítima a partir do século XV. No entanto, o primeiro registro do que seriam as primeiras palavras inglesas já escritas, integra um códice (conjunto de placas de pedra ou madeira onde eram escritos manuscritos antes do advento do papel) com inúmeros manuscritos, mas cujas data de confecção e autoria, não são conhecidas. Um desses manuscritos, que é o material em língua inglesa mais antigo que se tem registro, é o poema épico Beowulf. Rotas iniciais da colonização dos EUA pela Inglaterra. Fonte: http://www.virginiaplaces.org 2 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.1. A importância de Beowulf: primeiro marco do inglês antigo Primeira página do poema Beowulf, disponível no catálogo digital da Biblioteca Britânica: http://www.bl.uk/manuscripts/Viewer.aspx?ref=cotton_ms_vitellius_a_xv_f132r Ainda que grande parte dos estudiosos não consiga entrar em um consenso sobre a data precisa de confecção do poema Beowulf, muitos estudiosos acreditam que ele possa ter sido escrito entre os séculos III e XII, o que é uma janela de quase mil anos. Porém, em uma conferência dedicada exclusivamente ao estudo desse poema, que ocorreu em 1986, em Toronto, Canadá, um dos acadêmicos participantes foi categórico ao afirmar que Beowulf teria sido escrito entre os anos de 927 e 9311. 1 https://www.jstor.org/stable/pdf/43343721.pdf?seq=1 3 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Independentemente das evidências que esse estudo apresente, o fato é que sua relevância como a principal obra fundadora da literatura anglófona foi destacada a partir dos estudos do islandês Grímur Jónsson Thorkelin, pesquisador que viajou à Inglaterra para registrar marcas das influências escandinavas na cultura inglesa e se deparou com o manuscrito de Beowulf por acaso, catalogado na Biblioteca britânica de Londres junto a outros poemas de origem dinamarquesa. Assim, Thorkelin foi o primeiro estudioso a transcrever o poema publicado pela primeira vez em 1815 e, em seguida, vieram as traduções para diversas línguas, inclusive para o inglês moderno, já que o poema original está escrito em uma versão antiga da língua, muito mais próxima do alemão. Ou seja, a importância de Beowulf como uma obra fundadora da língua inglesa e da literatura anglófona está primordialmente em sua descoberta como o primeiro registro escrito do que viria a se tornar a língua inglesa, ainda que, muito possivelmente, assim como ocorre com grande parte das obras mais antigas, o poema seja um apanhando de histórias e lendas de tradições orais que teriam sido passadas ao longo de gerações até ser encontrado em solo britânico. Por isso, por mais que tradicionalmente o que se entende por obra fundadora remeta à ideia de uma publicação que influencia não só a formação de uma língua, como também de suas estruturas literárias, a verdade é que se não fosse por J.R.R. Tolkien (autor de O Senhor dos Anéis), é possível que Beowulf não tivesse sido elevado à condição de arte e não integrasse o cânone da literatura britânica. Isso porque até meados de 1930, pouquíssimos autores tinham conhecimento da obra, o que significa dizer que nem Shakespeare e nem Chaucer, por exemplo, teriam sido influenciados pelo poema, mas a partir da publicação de um artigo acadêmico de Tolkien, muitos escritores contemporâneos a ele e outros que viriam depois, passaram a valorizar a obra épica como uma importante referência para seus trabalhos. 4 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Apenas um único manuscrito de Beowulf sobreviveu à era anglo-saxônica. Por muitos séculos, o manuscrito foi praticamente esquecido e, na década de 1700, foi quase destruído em um incêndio. Não foi até o século XIX que o interesse generalizado pelo documento emergiu entre estudiosos e tradutores do inglês antigo. Nos primeiros cem anos de destaque de Beowulf, o interesse no poema foi principalmente histórico - o texto foi visto como uma fonte de informação sobre a era anglo-saxônica. Somente em 1936, quando o estudioso de Oxford JRR Tolkien (que mais tarde escreveu O Hobbit e O Senhor dos Anéis, trabalha fortemente influenciado por Beowulf) publicou um artigo inovador intitulado "Beowulf: Os Monstros e os Críticos" que o manuscrito ganhou reconhecimento como uma obra de arte séria. (Fonte: www.sparknotes.com/lit/beowulf) 1.2. A trama de Beowulf Com uma combinação de narrativas de tradição anglo-saxã e cristã, Beowulf traz uma perspectiva histórica dos valores e cultura de sua época, como o heroísmo e códigos de honra, presentes em nossa cultura até os dias de hoje. A trama começa com o rei Hrothgar da Dinamarca, descendente do rei Shield Sheafson, desfrutando de um reinado próspero e bem-sucedido. Ele constrói um grande salão de hidromel, chamado Heorot, onde seus guerreiros podem se reunir para beber, receber presentes de seu senhor e ouvir histórias cantadas pelos bandidos ou bardos. Mas o barulho de Heorot irrita Grendel, um demônio que vive nos pântanos do reino de Hrothgar. Grendel e que aterroriza os dinamarqueses todas as noites, matando-os e derrotando seus esforços para revidar. Os dinamarqueses sofrem muitos anos de medo nas mãos de Grendel. Eventualmente, no entanto, um jovem guerreiro chamado Beowulf ouve a situação difícil de Hrothgar. Inspirado pelo desafio, Beowulf navega para a Dinamarca com uma pequena companhia de homens, determinado a derrotar Grendel. Hrothgar, que já fez um grande favor ao pai de Beowulf, Ecgtheow, aceita a oferta de Beowulf de lutar contra Grendel e realiza um banquete em homenagem ao herói. Durante o banquete, um dinamarquês invejoso chamado Unferth provoca Beowulf e o acusa de ser indigno de sua reputação. Beowulf responde com uma descrição orgulhosa de algumas de suas realizações passadas. Sua confiança alegra os guerreiros dinamarqueses, e o banquete dura alegremente até a noite. Por fim, porém, Grendel chega. http://www.sparknotes.com/lit/beowulf 5 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Beowulf luta contra ele desarmado, provando ser mais forte que o demônio, que está aterrorizado. Enquanto Grendel luta para escapar, Beowulf arranca o braço do monstro. Mortalmente ferido, Grendel volta para o pântano para morrer. O braço cortado é pendurado alto no salão de hidromel como um troféu da vitória. Muito feliz, Hrothgar leva a Beowulf presentes e tesouros em um banquete em sua homenagem. As canções são cantadas em louvor a Beowulf, e a celebração dura até altas horas da noite. Mas outra ameaça está se aproximando: a mãe de Grendel, uma bruxa do pântano que vive em um lago desolado, chega a Heorot em busca de vingança pela morte do filho. Ela mata Aeschere, um dos conselheiros mais confiáveis de Hrothgar, antes de fugir. Para vingar a morte de Aeschere, a companhia viaja para o pântano escuro, onde Beowulf mergulha na água e luta contra a mãe de Grendel em seu covil subaquático.Ele a mata com uma espada forjada por um gigante, então, encontrando o cadáver de Grendel, decapita-o e leva a cabeça como prêmio a Hrothgar. Os dinamarqueses estão novamente felizes, e a fama de Beowulf se espalha pelo reino. Beowulf volta para Geatland, onde ele e seus homens se reúnem com seu rei e rainha, Hygelac e Hygd, a quem Beowulf relata suas aventuras na Dinamarca. Beowulf então entrega a maior parte de seu tesouro a Hygelac, que, por sua vez, o recompensa. Com o tempo, Hygelac é morto em uma guerra contra os Shylfings e, depois que o filho de Hygelac morre, Beowulf ascende ao trono dos Geats. Ele governa sabiamente por Cenas da animação A Lenda de Beowulf (2007) 6 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância cinquenta anos, trazendo prosperidade para Geatland. Quando Beowulf fica mais velho, no entanto, um ladrão invade sua mina, onde um grande dragão guarda seus tesouros. Enfurecido, o dragão emerge da mina e começa a desencadear uma destruição sobre os Geats. Sentindo sua própria morte se aproximando, Beowulf vai lutar contra o dragão. Com a ajuda de Wiglaf, ele consegue matar a fera, mas a um custo alto. O dragão morde Beowulf no pescoço, e seu veneno o mata momentos após o encontro. Os Geats temem que seus inimigos os ataquem agora que Beowulf está morto. De acordo com os desejos de Beowulf, eles queimam o corpo do rei que partiu em uma enorme pira funerária e o enterram com um enorme tesouro em um mausoléu com vista para o mar.2 Para conhecer melhor a história de Beowulf, vale assistir à animação de 2007 que conta com atuações de grandes atores como Angelina Jolie e Anthony Hopkins. 1.3. A estrutura de Beowulf Beowulf é um poema épico, ou seja, narra ações e feitos heroicos de personagens históricos ou mitológicos ao longo de vários atos. Embora a obra não apresente rimas em sua versão original, ela faz bastante uso de aliteração, ou seja, repetição de sílabas e letras com o mesmo som em forma de versos, de maneira que a primeira metade de cada verso esteja ligada a segunda metade por meio da similaridade dos sons produzidos, isso porque 2 https://www.sparknotes.com/lit/beowulf/summary/ - tradução nossa. Exemplo de aliteração em Beowulf em inglês moderno. Fonte: https://study.com/academ https://www.sparknotes.com/lit/beowulf/summary/ 7 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância grande parte desses poemas são resultado de uma tradição oral (como apontado anteriormente), onde o poeta precisa interpretar e dar vida às ações que narra: Prólogo: História Antiga dos Dinamarqueses Escute: você ouviu falar dos reis dinamarqueses nos velhos tempos e como eles eram grandes guerreiros. Shield, filho de Sheaf, assumiu muitas cadeiras de inimigos, aterrorizou muitos guerreiros depois que ele foi encontrado órfão. Ele prosperou sob o céu (...) Grain governou a Dinamarca muito tempo após a morte de seu pai, e para ele nasceu o grande Healfdene, feroz em batalha, que governou por muito tempo. Healfdene teve quatro filhos - Heorogar, Hrothgar, Halga, e uma filha que se casou com Onela, rei dos suecos.3 FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 2014. Site: Britannica escola. Artigo: Beowulf. Disponível em: https://escola.britannica.com.br/artigo/Beowulf/483111 Acesso em Dez. 2019 3 O poema de domínio público tem muitas versões em inglês moderno e sua aliteração se perde quando traduzimos para o português livremente. Já as adaptações, buscam manter as caraterísticas principais da obra principal. https://escola.britannica.com.br/artigo/Beowulf/483111 8 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. GEOFFREY CHAUCER E OS CONTOS DA CANTUÁRIA Objetivo Entender como se formou a ideia de literatura canônica anglófona e seus períodos e conhecer um importante representante dessa arte. Introdução Tendo estabelecido que Beowulf seria o ponto de partida para a formação da literatura anglófona, é preciso agora seguir em frente e entender como essa produção evoluiu, foi consumida e difundida ao longo da História e como podemos dividi-la em seus períodos. Não só isso, é preciso também que façamos uma distinção antes de prosseguirmos, pois nossa ementa transcende o conceito de cânone ao apresentar obras cuja relevância determinou a produção de livros que, embora nem sempre sejam referenciados como clássicos, influenciaram e influenciam o pensamento ocidental de tal maneira que seria injusto que as deixássemos de lado. Por isso, vamos entender a diferença entre cânone, best-seller e literatura de massa para que a escolha dos autores de nossa disciplina possa ser justificada. Segundo Lourenço (2017, pg. 9)4, a diferença que existe entre literatura canônica e literatura de massa se deve à ideia de que os textos clássicos ou canônicos integram uma coleção de obras que não só exigem mais do leitor, como também o toquem e o modifiquem profundamente, fazendo com que ele reflita e vivencie suas experiências a partir de sua leitura. Ainda que o termo cânone tenha origem grega e filósofos como Aristóteles tenham se dedicado arduamente à classificação de diversas obras em uma tentativa de hierarquizar o valor de cada uma, foi apenas no século XIX que as listas literárias passaram a se estabelecer na Europa. Essas listas não são fixas e nem sempre são formalmente registradas. Na maioria das vezes, tratam-se de obras escolhidas por críticos e especialistas e que formam uma coleção que é legitimada e reconhecida ao longo dos anos 4 LOURENÇO, Thiago Luiz Jamaites. Literatura Canônica e Literatura de Bestseller: Aplicações na Educação Básica. 9 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância a partir de critérios como métrica, ritmo, estética...ou seja, uma coleção que se baseia em critérios subjetivos para determinar o que é bom, belo e deveria ser consumido. Já em relação à literatura e massa e aos best-sellers, quando as teorias culturais se firmaram na primeira metade do século XX, muitos críticos acreditavam que a literatura de massa, ou seja, aquela produzida em larga escala para um grande número de pessoas com o intuito de obtenção de lucro, era vazia de valores e incapaz de produzir mudanças significativas em seus leitores. No entanto, com o desenvolvimento dos Estudos Culturais depois dos anos 1960, por exemplo, os teóricos começaram a perceber que nenhuma obra é desprendida de um contexto e que mesmo os livros produzidos como “entretenimento” poderiam gerar reflexões e influenciar seus leitores de diversas maneiras. Assim, os autores e obras apresentados em nossa disciplina partem da compreensão de que cânone e literatura de massa podem influenciar e modificar seus leitores de maneira significativa, afinal, o consumo e a compreensão de suas mensagens não dependem exclusivamente do livro que se lê, mas da experiência e repertório prévios de cada leitor. Acima de tudo, a leitura deve ser uma atividade prazerosa e listas são, por natureza, excludentes, pois priorizam determinados trabalhos em detrimento de outros. Por isso, no final dessa unidade, deixaremos algumas sugestões de listas de cânones de acordo com estudiosos renomados, para que, havendo interesse em se aprofundar o assunto, cada aluno possa conhecer os autores e obras que constam nas coleções de livros que “devem ser lidos” da história da literatura anglófona. 2.1. Períodos literários da cultura anglófona Os marcos de formação e desenvolvimento da literatura anglófona, assim como ocorre na maioria das culturas, estão ligados ao processo civilizatório e à Históriados países de língua inglesa. Portanto, os períodos literários são diferentes entre países, assim como as obras que constituem seus acervos. Porém, a título de informação, os períodos literários ingleses determinaram fortemente os períodos literários dos demais países anglófonos, principalmente após a 10 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância expansão marítima inglesa e seu processo de colonização. Observe como os marcos históricos se relacionam com cada período5: Uma breve cronologia da literatura Inglesa 55 A.C. Invasão romana da Grã-Bretanha por Júlio César Habitantes locais falavam celta 43 D.C. Ocupação e início do domínio romano na Grã-Bretanha 436 Retirada total dos romanos 449 Estabelecimento da Bretanha como domínio germânico 450-480 Primeiras inscrições em inglês Inglês antigo (450 – 1066) 1066 William, o Conquistador, Duque da Normandia, invade e conquista a Inglaterra 1150 Primeiros manuscritos em inglês medieval Inglês medieval/ Médio (1066- 1500) 1348 Inglês substitui o latim na maioria das escolas 1362 Inglês substitui o francês como língua do poder legislativo e é usada no Parlamento oficialmente pela primeira vez 1388 Chaucer começa a escrever os contos da Cantuária 1400 A primeira reforma ortográfica começa 1476 William Caxton estabelece a primeira imprensa inglesa escrita. Início do Inglês Moderno Renascença (1500 – 1660) Período Neoclássico (1600 – 1785) 1564 Shakespeare nasce 1604 Table Alphabeticall, o primeiro dicionário inglês é publicado 1607 O primeiro assentamento inglês permanente no Novo Mundo (Jamestown) é estabelecido 1616 Shakespeare morre 1623 As primeiras peças de Shakespeare são publicadas 1702 O primeiro jornal diário da língua inglesa, The Daily Courant, é publicado em Londres 1755 Samuel Johnson publica seu dicionário 1776 Thomas Jefferson escreve a declaração de independência dos Estados Unidos 1782 Grã-Bretanha abandona suas colônias nos Estados Unidos 1828 Webster publica seu dicionário de inglês americano Inglês moderno Romantismo (1785 – 1832) Era Vitoriana (1832 – 1901) Era Eduardiana (1901 – 1914) Era Georgiana (1910 – 1936) 1922 A corporação de transmissão britânica é fundada 1928 Dicionário de Oxford é publicado 5 Tabela confeccionada pelo site English club. Tradução nossa. Disponível em: https://www.englishclub.com/history-of-english/ 11 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Resumindo: 2.2. Geoffrey Chaucer: um representante do inglês medieval Considerado o primeiro grande escritor na história da literatura produzida em inglês, Geoffrey Chaucer escreveu uma das obras mais importantes do período medieval durante o séc. XIV: Os contos da Cantuária. Essa coletânea de contos é também um reflexo de seu contexto histórico, marcado por incidências da peste negra que dizimou uma grande parte da população da Europa e de uma época em que a língua inglesa passou a ser usada como língua oficial dos tribunais de justiça na Inglaterra. Graças ao seu talento reconhecido ainda em vida, Chaucer frequentou nobres círculos sociais, atuou como diplomata e viajou para diversos lugares, o que, de acordo com Ferro (2014, pg. 24), lhe conferiu uma amplitude de horizontes invejável para a época. Foi graças à sua dedicação às Letras e à carreira diplomática que em uma de suas viagens à Itália conheceu a obra Decameron, de Bocaccio, que, posteriormente, serviria de inspiração para a confecção de Os contos da Cantuária (1387). A relevância de Chaucer para a literatura anglófona se deve ao fato de sua maior obra ter apresentado personagens verossímeis do cotidiano da cultura inglesa, ressaltados Linha do tempo da literatura inglesa. Fonte: www.thoughtco.com http://www.thoughtco.com/ 12 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância por passagens que contém humor e paixão. Tendo sido escrita antes do advento da imprensa, suas primeiras cópias eram manuscritas, mas sua popularização veio posteriormente, quando as versões impressas passaram a ser distribuídas. Canterbury Tales (Os contos da Cantuária) originalmente deveria ter 120 histórias. Foi completado apenas em 24 histórias, e seus personagens não chegaram a Canterbury. O trabalho nunca foi concluído. A fio narrativo que conecta todos os contos é uma peregrinação ao santuário de Thomas à Becket, em Canterbury, Kent. Os 30 peregrinos que empreendem a jornada se reúnem no Tabard Inn em Southwark, do outro lado do Tamisa, em Londres. Eles concordam em participar de um concurso de contar histórias enquanto viajam, e Harry Bailly, apresentador do Tabard, serve como mestre de cerimônias para o concurso. A maioria dos peregrinos é apresentada por esboços breves e vívidos no “Prólogo Geral”. Entre os 24 contos, intercaladas, há cenas dramáticas curtas (chamadas links) que apresentam trocas animadas, geralmente envolvendo o anfitrião e um ou mais peregrinos. Chaucer não completou o plano completo de seu livro: a viagem de volta de Canterbury não está incluída e alguns dos peregrinos não contam histórias. O uso de uma peregrinação como dispositivo de enquadramento permitiu que Chaucer reunisse pessoas de várias esferas da vida: cavaleiro, prioresa, monge; comerciante, homem de direito, escriturário acadêmico; moleiro, vigário; esposa de Bath e muitos outros. A multiplicidade de tipos sociais permitiu a apresentação de uma coleção altamente variada de gêneros literários: lenda religiosa, romance cortês, vida de santo, história alegórica, fábula de animais, sermão medieval, alquímica conta e, às vezes, misturas desses gêneros. Nem todos os contos estão completos; vários contêm seus próprios prólogos ou epílogos: “A maior parte das narrativas são versões de histórias populares da Europa Medieval. Por exemplo, “The knight’s Tale”, é baseado no romance Il Teseda (A história de Teseu) de Boccaccio. Apenas “The Canon’s Yeoman Tale” pode ser a única ou uma das poucas histórias de Chaucer. Os prólogos e epílogos ligam as narrativas dando um tom cômico ao texto e oferecendo os estilos literários populares na Idade Média, vemos os exemplos a partir do 13 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância conto do cavaleiro que narra uma história heroica típica dos romances de cavalaria da época, com os valores do amor cortes, a coragem e a honra, por outro lado o relato do moleiro que é de caráter mundano e erótico, com uma linguagem de baixo calão, assim é encontrado os seguintes estilos literários, a fábula, o conto exemplar, a sátira, o romance de cavalaria entre outros. Chaucer pode ser considerado o primeiro escritor realista da literatura inglesa já que usa o ser humano para fazer parte da estrutura de sua obra. As histórias são contadas de acordo com a hierarquia social medieval, mas nem sempre a ordem é seguida para manter o interesse do público. A sociedade medieval é representada da seguinte maneira: O médico, o jovem clérigo, o advogado e o poeta Chaucer representam a classe erudita. O cavaleiro, seu filho e a ordenança a classe guerreira. O moleiro, o lavrador, o capataz e o pequeno proprietário de terras a terra. O mercador, o tecelão, o tintureiro, o carpinteiro, o tapeceiro, o comerciante, o cozinheiro, o capitão, a mulher da cidade de Bath, o despenseiro e o dono da hospedaria representam a classe econômica. E a madre, a freira, o padre, o monge, o frei, o humilde vigário, oficial de justiça, o absolvido e o cônego fugitivo representam a classe religiosa. A Esposa de Bath contraria as convenções de Idade Média, pois declara que a cortesia e boas maneiras não sãovirtudes apenas dos nobres podendo ser alcançada pelo homem comum. Enquanto, Franklin carrega uma bolsa de seda, o que implica o seu desejo de riqueza. Nos dois casos, a "bagagem" do personagem é o seu 'pecado'. Cada um dos peregrinos revela, através de sua aparência exterior ou na hora de contar o seu conto, o fardo do pecado que tem de renunciar antes de ganhar a entrada em Jerusalém Celestial. Cada peregrino tem suas falhas expostas. Ao criar um heterogêneo grupo de pessoas com os seus problemas o autor permite que o leitor reconheça o personagem a si próprio.”6 FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 2014. PERÍODOS: https://www.thoughtco.com/british-literary-periods-739034 CÂNONE: https://www.listchallenges.com/canonical-english-literature https://www.listchallenges.com/the-english-literary-canon-according-to 6 Portal da educação. Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/analise-the- canterbury-tales/13909 - Acesso em dez. 2019. https://www.thoughtco.com/british-literary-periods-739034 https://www.listchallenges.com/canonical-english-literature https://www.listchallenges.com/the-english-literary-canon-according-to https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/analise-the-canterbury-tales/13909 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/analise-the-canterbury-tales/13909 14 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. WILLIAM SHAKESPEARE: PERÍODO ELISABETANO NA INGLATERRA Objetivo Conhecer um dos autores mais importantes da cultura ocidental por meio de suas principais obras. Introdução Ainda que muitas pessoas possam nunca ter lido uma única peça de Shakespeare, é quase impossível que alguma de suas narrativas não tenha chegado até elas mesmo em forma de adaptação. Um bom exemplo do alcance das obras do autor mais proeminente do período elisabetano é a história de Romeu e Julieta: recontada nas mais variadas versões, tem um apelo entre pessoas de diversas idades, gêneros, classes sociais que é inegável. 3.1. Shakespeare e a popularização da língua inglesa Considerado o autor mais influente e pai da língua inglesa moderna, William Shakespeare nasceu em 1564, em uma época de grandes mudanças culturais, políticas e econômicas na Inglaterra. Na Europa iniciava-se o Renascimento, época de grande profusão artística possibilitada pela expansão marítima e pelos progressos na área da ciência. Um desses progressos foi certamente o advento da prensa de Gutemberg, que proporcionou maior difusão da literatura que já não dependia apenas dos manuscritos para ganhar as ruas. No entanto, ainda que hoje estejamos mais familiarizados com a palavra escrita, foi graças ao teatro que as peças de Shakespeare ganharam notoriedade, pois era a forma mais acessível de se adquirir cultura naquela época: Antes de Shakespeare entrar em cena, o teatro já havia, pois, começado a dar passos mais ousados na Inglaterra. O desenvolvimento de peças religiosas nas ruas havia passado pelas peças de moralidade (moralities), que tinham um enredo mais complexo, culminando em uma moral, e interlúdios (interludes), que eram peças mais curtas, geralmente cômicas, apresentadas como forma de entretenimento durante uma festa ou algum outro tipo de celebração. (FERRO, 2014, pg. 29) 15 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ou seja, o teatro vivia um momento de ascensão e muita popularidade na Inglaterra elisabetana. Muitas companhias eram financiadas por famílias nobres e viajavam para apresentações públicas com textos cada vez mais elaborados. A maior parte da obra de Shakespeare foi produzida entre os anos de 1589 e 1613, somando um total de 38 peças, 154 sonetos e diversos outros poemas. Sua estreia no teatro se deu em 1592 com a peça “Henrique VI” no Rose Teathre de Londres. Em 1594, já considerado um dramaturgo prestigiado, ficou ainda mais conhecido ao se juntar à companhia Lord Chamberlein’s Men, onde escreveu Hamlet, Rei Lear, Macbeth e Otello. Porém, como destaca Ferro (2014, pg. 31), Shakespeare não foi o único representante de destaque na literatura anglófona do período elisabetano: Thomas More e Francis Bacon também são autores de extrema relevância e cujas obras não devem deixar de ser mencionadas. More escreveu o clássico Utopia em 1516. Com forte conteúdo crítico, político e filosófico. O livro retrata a vida perfeita em uma ilha onde a organização social seria a ideal, em um contraponto à organização e aos valores vigentes em sua época. Já Francis Bacon, foi um pensador muitas vezes chamado de “pai da ciência moderna” e cujo interesse pela investigação científica nos proporcionou obras filosóficas como Novo Organum, sobre a metodologia científica. William Shakespeare 16 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3.2. As principais obras de Shakespeare Shakespeare apresentou grande parte de suas peças no Globe Teathre de Londres em uma época que era vedado às mulheres se apresentarem no palco. Por isso, suas personagens femininas eram performadas por homens. Os temas de suas peças também eram muito diversos, mas em grande maioria elas eram versões de histórias tradicionais europeias que eram transmitidas oralmente e podem ser divididas em comédias, romances históricos e tragédias. O conceito de direito autoral não era conhecido na época, por isso, o que tornou as obras de Shakespeare clássicos enquanto outros autores já haviam apresentado várias dessas obras anteriormente, foi o enriquecimento dos personagens por meio de versos e rimas, além do aprofundamento de suas personalidades, que conferia a cada um deles toda complexidade que os tornou tão facilmente identificáveis para pessoas de diferentes idades, gêneros e classes sociais. Entre as comédias podemos citar: Trabalhos de amor perdido; Sonhos de uma noite de verão; O mercador de Veneza; Muito barulho por nada; Como gostais; Noite de reis; Os dois fidalgos de Verona; As alegres comadres de Windsor; Medida por medida; A comédia dos erros; A megera domada e Tudo está bem quando bem termina. Nesse gênero, o amor é geralmente o tema central das peças, que focam nos personagens que são constantemente vítimas de desencontros e confusões, como ocorre em Sonhos de uma noite de verão, onde uma série de trapalhadas leva os personagens a serem vítimas de um feitiço do amor que dá muito errado; ou a Megera Domada, peça que inspirou diversas versões como a novela o Cravo e a Rosa e a comédia adolescente As 10 coisas que odeio em você. Os romances ou dramas históricos trazem de fato bastante carga dramática ao retratarem momentos históricos vivenciados por reis ingleses e são eles: Rei João; Ricardo II; Ricardo III; Henrique IV, Parte 1; Henrique IV, Parte 2; Henrique V; Henrique VI, Parte 1; Henrique VI, Parte 2; Henrique VI, Parte 3; Henrique VIII; Eduardo III. Para Ferro (2014, pg. 37), esse gênero marcadamente inglês teria se desenvolvido em um contexto relacionado à dramaturgia ligada à Igreja, cujas peças representavam os santos como heróis. Assim, a “evolução” do tema de “santo-herói” para “homem-herói” protagonizado por reis, seria naturalmente lógica considerando o a percepção da época de que reis eram escolhidos por Deus. Então, mesmo que ainda não houvesse uma noção de 17 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância democracia que viabilizasse as liberdades artísticas integralmente, Shakespeare trazia algumas críticas em suas peças ao retratar seus governantes por meio de parábolas sobre “a natureza do bom governante e dos danos causados pelas lutas que sejam produto da sede de poder” (HELIODORA apud FERRO,2014, pg. 38), indicando que nem todas as peças sobre a nobreza e a realeza devem ser resumidas a obras de bajulação aos reis e rainhas. Quanto às tragédias, são elas: Romeu e Julieta; Macbeth; Rei Lear; Hamlet; Otelo; Titus Andronicus; Júlio César; Antônio e Cleópatra; Coriolano; Tróilo e Créssida; Timão de Atenas; Cimbelino. Ainda que Romeu e Julieta seja uma de suas histórias mais populares do autor, Hamlet, Otelo e Macbeth foram adaptadas tantas vezes para o teatro e outras mídias que muitos de seus diálogos já fazem parte do inconsciente coletivo: “Ser ou não ser, eis a questão! (Hamlet)” A história do príncipe dinamarquês é um clássico exemplo de tragédia e vingança. Essa é a peça mais longa de Shakespeare e objeto talvez do maior número de Rei Ricardo III. Fonte: FERRO, 2014, pg. 41 18 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância críticas e debates sobre a forma definitiva do texto, já que coexistiram várias versões impressas. Hamlet é um dos textos literários mais estudados de toda a história da literature – em sua fortuna crítica constam textos de autores famosos, como Hamlet ans His Prolemas de T.S. Eliot (1921). (FERRO, 2014, pg. 46) Logicamente, tentar resumir um dos autores mais importantes do ocidente e cuja obra é estudada com afinco em cursos de graduação dedicados exclusivamente a ele a um capítulo de poucas páginas, seria uma tarefa inglória e também impossível. Por isso, é extremamente importante que o aprofundamento sobre Shakespeare e seus textos seja feito por meio das referências elencadas ao longo desse capítulo, principalmente por meio do material de apoio e das publicações disponíveis em nossa biblioteca virtual. O período Elisabetano: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/teatro- no-renascimento-2-inglaterra-de-shakespeare-se-destaca.htm FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 2014. https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/teatro-no-renascimento-2-inglaterra-de-shakespeare-se-destaca.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/teatro-no-renascimento-2-inglaterra-de-shakespeare-se-destaca.htm 19 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. EDGAR ALLAN POE E H.P. LOVECRAFT (ESTADOS UNIDOS) Objetivo Conhecer autores estadunidenses que influenciaram e influenciam fortemente o cinema e a literatura de terror e ficção até os dias atuais. Introdução Ainda que alguns dos autores que serão apresentados a partir de agora não pertençam ao cânone da literatura anglófona (na verdade, não existe um cânone da literatura anglófona, existem, informalmente, listas de cânones de cada país), não podemos deixar de mencioná-los devido à forte influência que exercem na cultura ocidental, principalmente no cinema e na literatura. Por isso, sugerimos que esses escritores sejam compreendidos como tópicos ou exemplos de uma produção muito maior do que estamos apresentando aqui, ou seja, são pinceladas que servem para aguçar o seu interesse em conhecer mais sobre o contexto histórico e outros nomes da literatura anglófona relacionados aos períodos de nossa disciplina. Vamos lá? 4.1. Edgar Allan Poe e o Romantismo sombrio Entre as várias funções da arte, podemos citar a fuga da realidade e a possibilidade de nos ajudar a lidar com os mais variados problemas como algumas delas. Nietzsche dizia que a arte nos salva da verdade, mas e quando optamos por conhecer obras de terror cujas narrativas são capazes de nos render os piores pesadelos, estamos buscando salvação do quê, exatamente? Talvez Edgar Allan Poe (Boston, 1809 – 1849) pudesse responder à pergunta, dado o alcance que sua obra ainda tem nos dias de hoje. Poe foi um grande representante do Romantismo estadunidense, no entanto, não da mesma maneira que outros autores contemporâneos a ele: se uma das principais características desse movimento literário era a manifestação da individualidade, Poe fez isso destacando o lado mais sombrio dos seres humanos. Proveniente de família pobre, Edgar Allan Poe conheceu a miséria e as mazelas humanas muito cedo e, quando tinha idade o suficiente, se alistou no Exército como uma 20 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância forma de garantir sua sobrevivência após ter largado os estudos. Expulso do serviço militar e deserdado pelo pai, Poe se mudou para Nova York em 1831 para viver com uma tia: À época, Poe já havia publicado alguns poemas, sem, contudo, ter atraído a atenção do público ou da crítica. Passou então a dedicar-se com afinco à carreira de escritor, vivendo de textos publicados em jornais e revistas literárias. Ao final da década de 1830, o autor já era conhecido entre os literatos e gozava de boa reputação. Sua vida profissional, no entanto, era muito inconstante por causa do alcoolismo, o que fazia com ele raramente conseguisse manter-se em um emprego por muito tempo, apesar do talento como escritor. (FERRO, 2014, 183) Graças aos seus contos macabros, Poe ficou conhecido como o “pai” da literatura Gótica. Não só isso, foi um dos primeiros autores a focar sua produção majoritariamente em contos e poemas em vez de romances, ainda assim, apesar de sua fama, morreu jovem e pobre, mas sua obra influenciou grandes nomes como Sir. Arthur Conan Doyle (autor de Sherlock Holmes) e foi estudado por autores como Machado de Assis. Sobre suas obras podemos dizer que em relação aos contos, a morte era presença constante em praticamente todos eles e os cenários descritos eram sempre lúgubres. Já as suas poesias eram concebidas para serem lidas em voz alta devido à Edgar Allan Poe 21 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância métrica rígida e extremamente musical de seus versos (FERRO, 2014, pg.185). Entre seus principais trabalhos podemos citar: Contos • Berenice (1835) • Os Assassinatos da Rua Morgue (1841) • O Gato Preto (1843) • O Demônio da Perversidade (1845) • O Barril de Amontillado (1846) Poesia • Tamerlane (1827) • O Verme Vencedor (1837) • Silêncio (1840) • O Corvo (1845) • Um Sonho Dentro de um Sonho (1849) Trecho de O gato preto "Casei jovem e tive a felicidade de achar na minha mulher uma disposição de espírito que não era contrária à minha. Vendo o meu gosto por animais domésticos, nunca perdia a oportunidade de me proporcionar alguns exemplares das espécies mais agradáveis. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um lindo cão, coelhos, um macaquinho, e um gato. Este último era um animal notavelmente forte e belo, completamente preto e excepcionalmente esperto. Quando falávamos da sua inteligência, a minha mulher, que não era de todo impermeável à superstição, fazia frequentes alusões à crença popular que considera todos os gatos pretos como feiticeiras disfarçadas. Não quero dizer que falasse deste assunto sempre a sério, e se me refiro agora a isto não é por qualquer motivo especial, mas apenas porque me veio à ideia. Plutão, assim se chamava o gato, era o meu amigo predileto e companheiro de brincadeiras. Só eu lhe dava de comer e seguia-me por toda a parte, dentro de casa. Era até com dificuldade que conseguia impedir que me seguisse na rua. 22 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância (...) Certa noite, ao regressar a casa, completamente embriagado, de volta de um dos tugúrios da cidade, pareceu-me que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, horrorizado com a violência do meu gesto, feriu-me ligeiramente na mãocom os dentes. Uma fúria dos demónios imediatamente se apossou de mim. Não me reconhecia. Dir-se-ia que a minha alma original se evolara do meu corpo num instante e uma ruindade mais do que demoníaca, saturada de Genebra, fazia estremecer cada uma das fibras do meu corpo. Tirei do bolso do colete um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pelo pescoço e, deliberadamente, arranquei-lhe um olho da órbita! Queima-me a vergonha e todo eu estremeço ao escrever esta abominável atrocidade."7 4.2. H.P. Lovecraft e o sobrenatural Assim como Edgar Allan Poe, Howard Phillips Lovecraft (1890 – 1937) teve seu reconhecimento póstumo e morreu na pobreza, ainda que sua obra de estilo gótico e sobrenatural tenha influenciado de forma significativa diversas produções da cultura pop em todas as mídias. Além de H.P. Lovecraft, Howard também assinou seus trabalhos com outros pseudônimos, como Lewis Theobald, Humphrey Littlewit, Ward Phillips e Edward Softly. Além de contos, também produziu poesias sombrias e macabras. Mesmo sua produção sendo ficcional, obras como Necronomicon (O livro dos Mortos) são referenciadas não só no meio literário, como também no universo das artes ocultas, demonologia e áreas afins, o que rendeu a produção de franquias de filmes de terror Uma noite alucinante e a morte do demônio. Tendo produzido mais de 30 obras entre contos e romances, os constantes pesadelos de Lovecraft produziram um dos mais aterrorizantes monstros da literatura mundial, o Cthulhu, do conto o chamado de Cthulhu (1926), história sobre uma criatura assustadora que é uma entidade cósmica maligna, adorada por uma seita milenar que busca trazê-la de volta ao nosso plano astral – o que desencadearia o apocalipse: 7 Leia o texto na íntegra: https://www.netmundi.org/home/2017/o-gato-preto-de-edgar-allan-poe-um-conto- autobiografico/ H. P. Lovecraft https://www.netmundi.org/home/2017/o-gato-preto-de-edgar-allan-poe-um-conto-autobiografico/ https://www.netmundi.org/home/2017/o-gato-preto-de-edgar-allan-poe-um-conto-autobiografico/ 23 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “(...)Como herdeiro e executor do meu tio-avô, que morrera viúvo e sem filhos, esperava-se que eu examinasse seus papéis cuidadosamente, e com esse propósito levei todos os seus arquivos e caixas para minha residência em Boston. Grande parte do material que organizei será publicado mais tarde pela Sociedade Arqueológica Americana, mas havia uma caixa que eu achei extremamente enigmática e que me senti um tanto avesso a mostrá-la a outros olhos. Havia sido fechada com cadeado e não encontrei a chave até que me ocorreu examinar o chaveiro pessoal que o professor levava sempre no bolso. Consegui, de fato, abri-la, mas então pareceu-me que foi só para dar de cara com outro segredo ainda maior e mais impermeável. Pois qual poderia ser o significado do estranho baixo-relevo de argila e das esparsas anotações, comentários e recortes que achei? Teria o meu tio, nos últimos anos de vida, se tornado crédulo das mais superficiais imposturas? Resolvi que procuraria o excêntrico escultor responsável por essa aparente perturbação da paz de espírito de um velho. O baixo-relevo era um tosco retângulo com menos de dois dedos de espessura e uns doze a quinze centímetros de comprimento, obviamente de origem moderna. O seu desenho, contudo, nada tinha de moderno na atmosfera e no que sugeria; pois, embora os caprichos do cubismo e do futurismo sejam muitos e desvairados, não reproduzem com frequência aquela regularidade críptica que se insinua na escrita pré-histórica. E a maior parte daqueles desenhos com certeza parecia algum tipo de escrita, ainda que a minha memória, bastante familiarizada com os papéis e coleções do meu tio, não conseguisse identificá-la ou sequer suspeitar de suas afiliações mais remotas. Acima desses hieróglifos aparentes havia uma figura de evidente intenção pictórica, embora sua execução impressionista impedisse uma ideia muito clara de sua natureza. Parecia um tipo de monstro, ou de símbolo representando um monstro, cuja forma só uma mente doentia poderia conceber. Se eu disser que minha algo extravagante imaginação lhe atribuía ao mesmo tempo os traços de um polvo, de um dragão e de uma caricatura humana, não estarei sendo infiel ao espírito da coisa. Uma cabeça polpuda e tentaculada encimava um corpo grotesco e escamoso dotado de asas rudimentares; mas era o contorno geral do todo que chocava. Atrás da figura havia uma vaga sugestão de cenário de arquitetura ciclópica. Essa singularidade era acompanhada, além de uma pilha de recortes de jornal, por escritos com a caligrafia mais recente do professor Angell, sem qualquer pretensão a estilo 24 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância literário. O que parecia ser o documento principal tinha por título “CULTO DE CTHULHU” em letras de fôrma, para evitar a leitura incorreta de palavra tão inaudita. Esse manuscrito estava dividido em duas seções, a primeira das quais intitulada “1925 -Sonho e Interpretação do Sonho de H. A. Wilcox, Rua Thomas, 7, Providence, R. L”, e a segunda, “Narrativa do Inspetor John R. Lagrasse, Rua Bienville, 121, Nova Orleans, La., na reunião de 1908 da S. A. A. – Notas do Mesmo, & Relato do Prof. Webb”. Todos os demais manuscritos eram notas breves, sendo algumas delas relatos de sonhos esquisitos de diferentes pessoas, citações de livros e revistas teosóficas (principalmente de A Atlântida e a Perdida Lemúria de W. Scott-Elliott) ou ainda comentários sobre antiquíssimos e ainda remanescentes sociedades secretas e cultos proibidos, com referências a trechos de compêndios de mitologia e antropologia tais como O Ramo de Ouro, de James G. Frazer, e Culto às Bruxas na Europa Ocidental, de Miss Murray. Os recortes referiam-se basicamente a doenças mentais raras e surtos de alucinações coletivas na primavera de 1925. A primeira metade do manuscrito principal narrava uma estória muito peculiar. Aparentemente no dia 1 ° de março de 1925, um moço magro, moreno, de aspecto neurótico e excitado, visitou o professor Angell trazendo consigo o singular baixo-relevo de argila, que estava então recente e úmido. Seu cartão trazia o nome de Henry Anthony Wilcox e meu tio reconhecera-o como o filho mais novo de uma excelente família que ele conhecia superficialmente, e que estivera estudando escultura na Escola de Desenho de Rhode Island e vivendo sozinho no edifício Fleur-de-Lys perto daquela instituição. Wilcox era um jovem precoce de reconhecido talento, porém grande excentricidade, e desde a infância despertara atenção devido às estórias esdrúxulas e aos sonhos bizarros que tinha o hábito de contar. Ele chamava a si mesmo de “psiquicamente hipersensível”, mas a gente convencional da antiga cidade comercial considerava-o apenas “esquisitão”. Sem nunca se misturar muito com os seus, gradualmente afastara-se do convívio social e só era conhecido de um pequeno grupo de estetas de outras cidades. Mesmo o Clube de Arte de Providence, ansioso por preservar seu conservadorismo, desistira de tê-lo entre seus membros(...).”8 8 Trecho extraído do site Contos do covil: https://contosdocovil.wordpress.com/2008/10/04/o-chamado-de- cthulhu/ 25 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Além de O Chamado de Cthulhu, essas são algumas das histórias que influenciaram muito da produção cinematográfica e de histórias em quadrinhos de terror nos anos 1950: Dagon; O Cão de Caça; Ar Frio; A Música de Erich Zann; Os Gatos de Ulthar; Celephaïs; A Cor Que Caiu do Espaço; O Modelo de Pickman; Navio Branco; A Sombra Vinda do Tempo. FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 2014.The Poe Museum: www.poemuseum.org Melhores histórias de Lovecraft: https://hobbylark.com/fandoms/the-top-10- lovecraft-stories http://www.poemuseum.org/ https://hobbylark.com/fandoms/the-top-10-lovecraft-stories https://hobbylark.com/fandoms/the-top-10-lovecraft-stories 26 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. JANE AUSTEN, MARY SHELLEY, OSCAR WILDE E JAYMES JOYCE (REINO UNIDO) Objetivo Avançar no conhecimento sobre autores relevantes da literatura anglófona a partir do Reino Unido em períodos diversos. Introdução Seguimos nossa viagem literária agora de volta ao Reino Unido com autores representantes de gêneros e períodos diferentes. Embora as obras dos autores elencados nessa unidade não tenham relação entre si, uma vez que apresentam de estilos de escrita completamente diversos, todos eles influenciaram e influenciam a produção de várias adaptações, versões para todas as mídias imagináveis. Jane Austen com suas personagens femininas destemidas, Mary Shelley com umas das principais obras da ficção científica e terror, Oscar Wilde com o aprofundamento de características como narcisismo e vaidade de personagens como Dorian Gray e Jaymes Joyce com exploração de recursos narrativos como o fluxo de consciência em uma das obras mais emblemáticas e estudadas do mundo da Letras. Grupos de literatura no mundo todo se dedicam a discutir esses autores, portanto, como alunos de Letras e futuros professores, conhecer ao menos uma obra de cada um desses escritores é mais que um dever, é um pré-requisito básico para a construção de um repertório necessário para quem ama e trabalha com literatura. 5.1. Jane Austen https://rhondablogsaboutbooks.com/2019/10/23/author-itinerary-jane-austen/ 27 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância É possível que você nunca tenha lido um livro de Jane Austen (1775 – 1817), mas, tal qual ocorre com as obras de grande relevância mundial, é quase impossível que não tenha cruzado com alguma produção inspirada em seus livros. Só para citar um exemplo, se em algum momento você parou para assistir ao Diário de Bridget Jones (2001) tendo que decidir se mantinha um relacionamento com o incorrigível Daniel Cleaver ou com o introvertido Mark Darcy, enquanto narra suas aventuras e desencontros ao longo de seu diário, bom, então talvez este tenha sido seu primeiro contato com a obra de Austen. Estudada com afinco em cursos e grupos de estudos de literatura, a obra de Jane Austen foi produzida durante o Romantismo Inglês e permanece atual até hoje, como podemos observar por meio das diversas adaptações cinematográficas recentes de seus livros. Austen escreveu 7 Romances, entre eles: Razão e Sensibilidade (1811); Orgulho e Preconceito (1813); A Abadia de Northanger (1817); Persuasão (1817) e Lady Susan (1817). “Seu universo é a burguesia rural da Inglaterra: famílias que vivem confortavelmente, sobretudo de renda proveniente de dotes e propriedades herdadas, sem grandes preocupações com a vida” (FERRO, 2014, pg. 126). “Suas tramas, embora fundamentalmente cômicas, destacam a dependência das mulheres do casamento para garantir posição social e segurança econômica. Seus trabalhos, ainda que muito populares, foram publicados pela primeira vez anonimamente e trouxeram sua pequena fama pessoal e apenas algumas críticas positivas durante sua vida, mas a publicação em 1869 de A Memoir of Jane Austen, de seu sobrinho, a apresentou a um público mais amplo e por volta da década de 1940, ela se tornou amplamente aceita na academia como uma grande escritora inglesa. A segunda metade do século XX viu uma proliferação de bolsas de estudos sobre Austen e o surgimento de uma cultura de fãs da autora. A necessidade de fazer um bom casamento é um dos principais temas de Orgulho e Preconceito, mas isso não significa que o romance seja antiquado. De fato, você pode achar que pode argumentar que Jane Austen é feminista e seu romance é feminista. É um romance sério de várias maneiras, mas também muito engraçado. Todos os parágrafos iniciais de Jane Austen e a melhor de suas primeiras frases têm dinheiro neles; essa pode ser a primeira coisa obviamente feminina de seus romances, pois o dinheiro e sua produção eram caracteristicamente femininos, e não masculinos, na ficção inglesa ... desde seus 28 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância primeiros anos, Austen teve o tipo de mente que perguntou de onde vinha o dinheiro no qual as mulheres jovens estavam. viver, e exatamente quanto disso havia.”9 Para conhecer melhor a obra de Austen, além da bibliografia sugerida, vale consultar os sites e pesquisas dedicados a ela, além de assistir aos filmes inspirados em sua obra. Uma das maiores contribuições da escritora foi a de retratar mulheres com complexidade, que não se conformavam com o status quo e questionavam as normas sociais vigentes em sua época. Observe abaixo um trecho odo diálogo entre Elizabeth e Mr. Darcy no Filme Orgulho e Preconceito (2015)10: Elizabeth: Eu acredito que nós deveríamos conversar um pouco, Mr. Darcy. Pouco já seria bastante. Você diria algo sobre a dança, talvez. Eu poderia fazer uma observação sobre o número de casais. Mr. Darcy: Você tem por norma conversar quando está dançando? Elizabeth: Sim, às vezes é melhor. Desse modo podemos desfrutar a vantagem de dizermos o mínimo possível. Mr. Darcy: Você consulta seus próprios sentimentos neste caso ou busca gratificar os meus? Elizabeth: Ambos, eu creio. Nós dois somos de natureza antissocial e taciturna, avessos a conversas a menos que esperemos dizer algo que surpreenderia a todos na sala. Mr. Darcy: Isto, estou certo, não tem a menor semelhança com seu próprio caráter. Você vai muito a Meryton? Elizabeth: Sim, com frequência. Quando você nos encontrou, nós tínhamos acabado de fazer novos conhecidos. Mr. Darcy: As boas maneiras de Mr. Wickham fazem com que faça amigos facilmente. Se é capaz de mantê-las, não se tem certeza. Elizabeth: Ele tem sido desafortunado por perder sua amizade de uma forma que o prejudicará por toda sua vida. Sir. William Lucas: Permita cumprimentá-lo, Senhor! Tamanha superioridade em dançar é raramente vista. Tenho certeza que seu par é tão valoroso quanto você. Espero 9 https://wordsonexpressions.wordpress.com/2014/09/07/jane-austen-and-her-contribution-to-british-literature/ - Tradução nossa 10 https://www.janeausten.com.br/dialogo-de-elizabeth-e-mr-darcy-no-baile-em-netherfield/ https://wordsonexpressions.wordpress.com/2014/09/07/jane-austen-and-her-contribution-to-british-literature/ 29 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância que esse prazer se repita frequentemente. Especialmente quando um “’certo’ e desejável evento” acontecer. Hein, Miss Lizzy? Quantas congratulações veremos! Elizabeth: Senhor, eu acho… Sir. William Lucas: Eu entendo! Não deterei você por mais tempo, privando-a de seu par encantador! Um grande prazer, Senhor. Excelente! Excelente! Elizabeth: Eu lembro de ouvi-lo dizer, uma vez, que você dificilmente perdoa. Que seus ressentimentos uma vez suscitados eram implacáveis. Você é cuidadoso, não é, quando permite que um ressentimento se forme? Mr. Darcy: Eu sou. Elizabeth: E nunca se permite ser cegado pelo o preconceito? Mr. Darcy: Eu espero que não. Posso perguntá-la onde quer chegar com estas questões? Elizabeth: Meramente para ilustração de seu caráter. Eu estou tentando vislumbrá- lo. Mr. Darcy: E está sendo bem-sucedida? Elizabeth: Não em todos os aspectos. Tenho ouvido relatos tão diferentessobre você que me intrigam sobremaneira. Mr. Darcy: Eu espero, Miss Bennet, que você não tente esboçar meu caráter neste presente momento. O resultado não seria proveitoso para nenhum de nós. Elizabeth: Se eu não retratá-lo agora, eu poderei nunca mais ter outra oportunidade! Mr. Darcy: De maneira alguma eu a privaria de qualquer um de seus prazeres. https://www.janeausten.com.br https://janeaustenbrasil.com.br/ 5.2. Mary Shelley Mary Shelley (1797 – 1851) também é uma representante do Romantismo inglês conhecida como a criadora da ficção-científica por ter escrito Franskstein (ou o Prometeus Moderno) (1818). O livro, que narra a busca do cientista Victor Frankstein por dar vida a um monstro criado a partir de tecidos e órgãos humanos remendados, é reflexo do contexto científico e histórico que Mary Shelley vivenciava: na época, circos e atrações de https://www.janeausten.com.br/ https://janeaustenbrasil.com.br/ 30 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância entretenimento traziam experimentos feitos a partir de eletricidade, que era uma novidade, tentando reanimar rãs e outros pequenos animais com descargas elétricas em seus corpos. Era uma época de bastante progresso científico e filosófico, quando autores refletiam sobre questões como ética e moralidade. Shelley escreveu vários outros romances, incluindo Valperga (1823); As fortunas de Perkin Warbeck (1830); Lodore (1835) e Falkner (1837); O último homem (1826), um relato da futura destruição da raça humana por uma praga, é frequentemente classificado como seu melhor trabalho e que inspirou uma história em quadrinhos muito premiada de mesmo nome. Seu livro de viagens History of a Six Weeks 'Tour (1817) narra a turnê continental que ela e Shelley fizeram em 1814 após a fuga e depois relata o verão perto de Genebra em 1816. Por isso, vale dizer que Mary Shelley era uma mulher à frente de seu tempo e cuja obra merece ser mais bem apreciada por meio de seus livros e das adaptações para outras mídias. Conheça um pouco do seu pensamento nesse parágrafo do prólogo de Frankstein11: “O evento a partir do qual se criou esta ficção foi considerado, pelo Dr. Darwin e alguns escritores da medicina alemã, como não totalmente impossível. Não desejei de modo algum que se tomasse meu relato imaginário por algo que aconteceu; todavia, assumindo este trabalho como uma obra de fantasia, não me limitei a concatenar uma série de terrores supernaturais. O fato do qual depende o interessa da história está livre das desvantagens de um simples conto de fantasmas ou mágica. Ele foi sugerido pela própria novidade das situações que desenvolve; e, ainda que impossível como realização física, ao delinear as paixões humanas oferece um ponto de vista mais compreensivo e verdadeiro para a imaginação do que qualquer forma de relato de fatos reais. Dessa forma, esforcei-me em preservar a verdade dos princípios elementares da natureza humana, ainda que não tenha procurado inovar em suas combinações. A Ilíada, a poesia trágica da Grécia, Shakespeare, em A Tempestade e Sonhos de uma noite de verão, e especialmente Milton, em Paraíso perdido, obedecem a esta regra; assim a mais humilde romancista, que busca proporcionar ou receber algum deleite de seu trabalho deve, 11 FERRO,Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa 2014, pg. 122 31 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância sem presunção, aplicar à prosa ficcional uma licença, ou melhor, uma regra, a partir da qual tantas combinações de sentimentos humanos originais resultaram nas melhores obras de poesia. ” 5.3. Oscar Wilde Oscar Wilde (1854-1900) foi um dos mais polêmicos representantes da era vitoriana. Após se graduar na Universidade de Oxford, ele atuou como poeta e crítico de arte. Em 1891, ele publicou O Retrato de Dorian Gray, seu mais famoso trabalho, e que foi considerado imoral por muitos críticos da época. Wilde também escreveu muitas peças de teatro que foram muito bem recebidas, incluindo as satíricas como Lady Windermere's Fan (1892), A Woman of No Importance (1893), An Ideal Husband (1895) and The Importance of Being Earnest (1895). A partir de 1888, Wilde entrou em um período de sete anos de muita criatividade, durante o qual produziu quase todas as suas grandes obras literárias. Em 1888, sete anos depois de escrever poemas, Wilde publicou O príncipe feliz e outros contos, uma coleção de histórias infantis. Em 1891, ele publicou Intentions, uma coleção de ensaios discutindo os princípios do esteticismo, no mesmo ano que publicou o romance O Retrato de Dorian Gray. A história é um conto de advertência sobre um jovem bonito, Dorian Gray, que deseja (e recebe seu desejo) que seu retrato envelheça enquanto ele permanece jovem e vive uma vida de pecado e prazer. No entanto, nenhuma sinopse faz jus à obra, que deve ser Oscar Wilde 32 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância apreciada a partir dos diálogos que Gray desenvolve com seu amigo Henry e cujas frases se tornaram famosas citações entre as diversas que são atribuídas a Oscar Wilde12: […] Hoje em dia, as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram-se do mais elevado de todos os deveres, o dever que tem cada um de nós consigo mesmo. Claro que são caridosos. Dão de comer a quem tem fome e vestem os mendigos. Mas suas próprias almas andam famintas e nuas […]” (p.24) “[…] A única maneira de uma pessoa livrar-se da tentação é ceder a ela. Se resistir, a alma adoecerá por ansiar pelas coisas que proibiu a si própria, por desejar aquilo que suas leis tornaram monstruoso e ilícito. Alguém disse que os grandes acontecimentos do mundo têm lugar no cérebro. É também no cérebro, e apenas no cérebro, que têm lugar os grandes pecados do mundo […]” (p.25) “Posso simpatizar com tudo, menos com o sofrimento. Com isto não é possível simpatizar. É excessivamente feio, horrível, deprimente. Há algo de intensamente mórbido na maneira moderna de simpatizar com a dor. Deveríamos simpatizar com a cor, a beleza, a alegria de viver. Quanto menos se falar dos males do mundo, melhor”. (p.48) “Hoje em dia as pessoas, conhecem o preço de tudo e o valor de nada.” (p.54) “Quando nos sentimos felizes sempre somos bons, mas quando somos bons nem sempre somos felizes.” (p.87) 12 Frases extraídas do livro O Retrato de Dorian Gray. Fonte: https://bibliotela.wordpress.com/2014/01/10/trechos-o-retrato-de-dorian-gray-oscar-wilde/ Algumas capas de O Retrato de Dorian Gray https://bibliotela.wordpress.com/2014/01/10/trechos-o-retrato-de-dorian-gray-oscar-wilde/ 33 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “Cada êxito que obtemos nos traz um inimigo. Para uma pessoa ser popular é preciso ser medíocre.” (p.209) “[…] Cada vez que uma pessoa ama, é a única vez que amou. A diferença de objeto não altera a singularidade da paixão. Apenas a intensifica. Na vida podemos ter, no máximo uma experiência, e o segredo da vida é reproduzir essa experiência o mais frequentemente possível”. (p.210) Apesar do reconhecimento, sua fama não o impediu de ser preso durante dois anos por homossexualidade em 1895, pois o envolvimento com pessoas do mesmo gênero era considerado crime grave contra a decência e a moral. Ele acabou morrendo na pobreza 3 anos após ser solto. 5.4. James Joyce Como já destacado anteriormente, nenhuma produção humana é desprendida de um contexto. Isso significa dizer que também a literatura desempenha importante papel como elemento ativo nos processos de mudanças culturais, seja por meio da reflexão que proporciona, seja por meio dos experimentos com a linguagemou como uma forma de retratar um determinado período histórico. Assim, alguns nomes do período pós-vitoriano tiveram importância significativa para a história da literatura mundial e um deles foi James Joyce. Ferro (2014, pg. 240) ressalta que Joyce (1882-1941) é provavelmente o autor mais cultuado depois de Shakespeare nas letras inglesas, aparecendo, obrigatoriamente, nas listas dos escritores mais importantes de toda a história da literatura mundial. O autor irlandês escreveu romances e poesias, chamando a atenção de grandes nomes da crítica literária da época. Seu livro Ulisses, que explora o recurso do fluxo de consciência13, o tornou uma celebridade literária. Seu vasto repertório era proveniente de uma vida dedicada aos estudos literários: apaixonado por línguas e livros, aprendeu norueguês, além de outras 15 línguas, para ler as peças do dramaturgo Henrik Ibsen e passava seu tempo livre analisando obras de Aristóteles e Thomás de Aquino. 13 Técnica literária que busca transcrever o processo de pensamento e raciocínio de um personagem. 34 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Representante do modernismo inglês, Joyce publicou seu primeiro livro em 1914, Dublinenses, uma coleção de 15 contos, dois anos antes de publicar o romance O Retrato do Artista quando jovem. Também em 1914 que Ulisses foi publicado, estabelecendo então um grande marco para a literatura mundial. A história reconta um único dia em Dublin, 16 de junho de 1904, e envolve 3 personagens centrais: Stephen Dedalus, Leopold Bloom, um pregador judeu, e sua esposa Molly Bloom, além da vida cotidiana que se desenrola diante deles. Porém, Ulisses também é uma versão moderna da Odisséia, de Homero, com seus personagens Telemaco, Ulisses e Penélope repaginados. O maior trunfo de Joyce foi certamente o de explorar com propriedade o monólogo interior, de forma que o leitor se aprofunde nos pensamentos e na mente de Bloom por meio do fluxo de consciência do personagem, o que influenciou significativamente a forma de se escrever romance a partir de então. Ainda que muito reconhecido por seu estilo, a leitura de Ulisses ainda e um grande desafio para estudantes de Letras no mundo todo, devido à complexidade da obra. Devido a parte de seu conteúdo ter sido considerado obsceno em alguns países, ele sofreu censura e foi impedido de ser publicado no Reino Unido e nos Estados Unidos por alguns anos até ser publicado na França e, posteriormente, após briga judicial, nos EUA. Seu livro seguinte, Finegans Wake, publicado em 1939, se tornou sucesso imediato, permanecendo nas listas de melhores livros da semana por muito tempo após seu lançamento. Nessa história, Joyce “brinca” com as palavras ao misturar realidade com um universo onírico de forma experimental, o que o torna um livro considerado de difícil leitura: Trata-se de um sonho (ou seria um delírio) de Joyce. A História do mundo juntamente com vários elementos da história nacional irlandesa surge inesperadamente durante a narrativa. Como já havia dito sobre Ulisses, parece que Joyce está em uma sessão de psicanálise, onde ele simplesmente coloca para fora todas as suas idiossincrasias pessoais. A história de Finnegans Wake não é linear. Joyce reproduz em sua história do mundo a narrativa cíclica do grande filósofo italiano Giambattista Vico (citado várias vezes no livro). Em sua obra máxima de filosofia, A Ciência Nova, Vico dividiu a história humana entre a Idade dos Deuses, a Idade dos Heróis e a Idade dos Homens. Vico toma como paradigma de sua narrativa o poeta grego Homero. Para ele, Homero foi um Teólogo-Poeta, que criou a base de uma civilização a partir de sua narrativa. A língua dos heróis, que veio antes da linguagem humana, é uma 35 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância língua feita por símbolos. O principal, para Vico, que mesmo que a história seja cíclica, ou seja, com períodos gloriosos seguidos da barbárie (Antiguidade-Idade Média), há sempre a presença de providência divina guiando os Homens. Através das línguas e das religiões dos diferentes povos, podemos ter uma noção da HISTÓRIA IDEAL ETERNA. (PIMENTA, 2016) Como muitos autores informam, Finnegans Wake mistura diversas línguas em uma narrativa não linear, o que confere à obra uma autenticidade inegável. No entanto, por ser tão desafiadora, acaba afastando muitos leitores. Você tentaria vencer esse desafio? Quais outros livros considerou muito complicados, mas conseguiu terminar? FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 2014. PIMENTA, Felipe. Resenha: Finnegans Wake, de Jaymes Joyce. Disponível em: https://felipepimenta.com/2016/05/18/resenha-finnegans-wake-de-james- joyce/ Acesso em dez. 2019 ROYOT, Daniel. A literatura Americana. Ática, 2009. https://felipepimenta.com/2016/05/18/resenha-finnegans-wake-de-james-joyce/ https://felipepimenta.com/2016/05/18/resenha-finnegans-wake-de-james-joyce/ 36 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. ARTHUR CONAN DOYLE, CHARLES DICKENS, AGATHA CHRISTIE E BRAM STOKER (REINO UNIDO) Objetivo Aprofundar conhecimento sobre autores relevantes da literatura anglófona a partir do Reino Unido em períodos diversos. Introdução Seguimos nossa trajetória no Reino Unido explorando autores de fantasia, suspense, terror que produziram obras icônicas em diversos estilos que também influenciaram muitos escritores, dramaturgos e cineastas que vieram depois deles. Ainda que nossa ordem de apresentação não seja cronológica e nem necessariamente suas produções tenham relação entre si, todos eles são extremamente relevantes independentemente do contexto em que tenham publicado seus livros. Vamos lá? 6.1. Arthur Conan Doyle Responsável pela construção de um dos personagens mais icônicos da cultura pop mundial, o médico escocês Sir Arthur Conan Doyle (1859 – 1903) escreveu o que seria a primeira história do famoso detetive Sherlock Holmes quando ainda estava na faculdade. Um estudo em vermelho, publicado em 1887, era o primeiro de uma coleção de 60 contos sobre os casos policiais desvendados a partir da dedução analítica de Holmes e seu fiel assistente, Watson. Fortemente influenciado por Edgar Allan Poe, seus primeiros textos aceitos para publicação em revistas eram contos de mistério como o Mistério do vale Sasassa,sem imaginar que quando estivesse no terceiro ano da faculdade de medicina, uma grande aventura o esperava: ele foi convidado a atuar como médico no navio baleeiro Hope, que seguia para o círculo polar Ártico e lhe rendeu uma história sobre o mar chamada o Capitão da Estrela do Norte. 37 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Após ter iniciado sua prática médica enquanto tentava se destacar como escritor, Doyle chegou a enfrentar dificuldades financeiras, mas como o lançamento de Um estudo em vermelho, quando apresentou Holmes e Watson, a fama de excelente escritor comercial o alcançou e isso lhe gerou um certo dilema, pois apesar do sucesso do detetive mais famoso do mundo, ele também produziu uma série de romances históricos, poemas e peças teatrais que ele esperava que lhe rendessem crédito como um escritor “sério”. Com o destaque que havia alcançado, Doyle foi requisitado por uma grande editora a escrever um novo conto sobre Holmes. Assim, O signo dos quatro, publicado em 1890, foi responsável pelo estabelecimento de Doyle e Holmes nos anais da literatura mundial de uma vez por todas. Mesmo com o sucesso de seus contos, Doyle insistiuna prática médica e abriu consultório em Londres, mas não era procurado pelos pacientes, o que o deixava com bastante tempo livre para escrever. Foi devido ao “fracasso” de sua carreira médica que ele acabou tomando a decisão de escrever uma série de contos apresentando o mesmo personagem. Página do diário que Doyle mantinha enquanto estava a bordo do Hope. Fonte: https://www.arthurconandoyle.com/biography.html 38 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Apesar de ter ficado conhecido por Sherlock Holmes, sua produção não resumiu aos casos do detetive. Entre peças, romances, ensaios e textos sobre espiritualismo, suas obras são inúmeras e entre as principais, podemos citar: Um Estudo em Vermelho (1887); O Signo dos Quatro (1890); Um Escândalo na Boêmia (1891); O Mistério do Vale Boscombe (1891); As Aventuras de Sherlock Holmes (1892); Ritual Musgrave (1893); O Problema Final (1893); O Arquivo Secreto de Sherlock Holmes (1902); O Cão de Baskervilles (1902); A Volta de Sherlock Holmes (1905); O Mundo Perdido (1912); O Detetive Moribundo (1913); O Vale do Terror (1915); A Vampira de Sussex (1924). Tendo influenciado as histórias de detetive que viriam a seguir, Sherlock Holmes encantava e encanta leitores do mundo todo devido ao seu método de dedução analítica que o levava às maiores aventuras para resolver seus casos. A quantidade de filmes, peças, séries e adaptações de suas histórias são incontáveis. “Não há nada mais enganoso que um fato óbvio” (Sherlock Holmes) Fonte: https://www.seekpng.com/ipng/u2t4u2a9t4a9i1i1_sherlock-holmes-quote- wall-sticker-sherlock-holmes-silhouette/ 39 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Conan Doyle modelou os métodos e maneirismos de Holmes a partir dos do Dr. Joseph Bell, que havia sido seu professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Edimburgo. Em particular, a capacidade misteriosa de Holmes de reunir evidências com base em suas habilidades aprimoradas de observação e raciocínio dedutivo é equivalente ao método de Bell de diagnosticar a doença de um paciente. Holmes ofereceu algumas dicas sobre seu método, alegando que "Quando você exclui o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade". Suas habilidades de detecção se tornam claras, embora não menos surpreendentes, quando explicadas por seu companheiro, Dr. John. H. Watson, que relata os casos criminais que perseguem em conjunto. Embora Holmes rejeite elogios, declarando que suas habilidades são "elementares", a frase frequentemente citada "Elementar, meu querido Watson", nunca aparece de fato nos escritos de Conan Doyle14. 6.2. Charles Dickens Charles Dickens (1812- 1870) foi um representante do realismo crítico. Ele viu os males da sociedade burguesa de seu tempo e suas obras se tornaram uma grande crítica do sistema burguês como um todo. Dickens nasceu em 1812, perto de Portsmouth. Era o filho mais velho de um balconista de um grande escritório naval, e a família vivia com o pequeno salário de seu pai. O pai era frequentemente transferido de um lugar para outro e seus pais sempre conversavam sobre dinheiro, contas. e dívidas. Charles e sua irmã mais velha foram para a escola e, depois das aulas, ele costumava correr para as docas e observar navios e pessoas trabalhando. Muitas fotos foram guardadas em sua memória, que o escritor usou mais tarde em seus romances. Charles gostava de ler livros. Além disso, ele gostava de cantar, recitar poemas e atuar. Estabelecer a origem de Dickens é de extrema importância, pois seu contexto determinou a criação dos cenários e situações vividas pelos personagens de suas histórias, que lhe alçariam ao posto de um dos mais importantes escritores de prosa da Era Vitoriana com seu estilo “romântico-realista”: 14 https://www.britannica.com/topic/Sherlock-Holmes. 40 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Filho de família modesta, Charles Dickens sofreu na pele as dores que em sua obra os personagens encarnariam. Aos 12 anos de idade, viu-se obrigado a trabalhar para ganhar o sustento de sua família, pois seu pai fora preso por causa de dívidas. Apesar da infância atribulada e sofrida, a muito custo ele conseguiu se matricular em uma escola, onde não apenas receberia alguma educação, mas também inspiração para retratar em sua obra o cruel sistema de repressão aplicado às crianças pobres na Era Vitoriana, universo bem retratado em Oliver Twist (1837). (FERRO, 2014, pg. 132) Dickens criou um tipo de estilo chamado de romance social, pois era capaz de retratar o grande abismo existente entre ricos e pobres na sociedade inglesa da época, além de retratar a vida cotidiana das pessoas que viviam nas grandes cidades do século XIX, como políticos, advogados, padres, jornalistas, professores, operários, aristocratas, moradores de rua, crianças abandonadas... Entre suas principais obras estão: Os papéis póstumos do Pickwick Club (1837); Oliver Twist (1838); Os livros de Natal (1843-48); Tempos difíceis (1854) e Grandes expectativas (1861), sendo Oliver Twist seu trabalho mais conhecido, onde ele explora a vida das pessoas em situação de rua em uma narrativa focada no protagonista de 11 anos: Artful Dodger batendo carteira para a surpresa de Oliver Twist (extrema direita); ilustração de George Cruikshank para Oliver Twist, de Charles Dickens. Fonte: https://www.britannica.com/topic/Oliver- Twist-novel-by-Dickens 41 História da Literatura Anglófona Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “Oliver, órfão desde o nascimento, passa grande parte de sua infância em um orfanato com muitas crianças e pouca comida localizado a cerca de 70 milhas fora de Londres. Uma noite, depois de receber sua porção de mingau, Oliver pede uma segunda porção. Isso é inaceitável, e Oliver é enviado para trabalhar como aprendiz de um agente funerário. Eventualmente, depois de sofrer repetidos maus-tratos, Oliver foge e segue para Londres. Ele logo se encontra na presença do Artful Dodger, que diz para ele ficar na casa de um "velho cavalheiro" (chamado Fagin) com vários outros meninos. Oliver descobre que esses meninos são batedores de carteira treinados. Em uma excursão, Oliver testemunha os meninos pegando um lenço do Sr. Brownlow, um homem idoso, que leva Oliver a fugir com medo e confusão. O homem idoso confunde o comportamento de Oliver por culpa e o prende. No entanto, depois de aprender mais sobre Oliver, Brownlow percebe seu erro e se oferece para cuidar dele em sua casa. Oliver presume estar livre de Fagin e dos batedores de carteira, mas Fagin o encontra e o envia em uma missão de roubo com outro membro do grupo para o interior de Londres. Nesta tarefa, Oliver leva um tiro no braço e é levado pela família (os Maylies) que ele tentou roubar. Enquanto ele está lá, Fagin e um homem chamado Monks planejam recuperá-lo. Rose Maylie, em uma viagem a Londres com sua família, se reúne com Brownlow para conversar com Nancy, que se afastou de Sikes para explicar os planos feitos por Monks e Fagin para recuperar Oliver. Ela descreve Monks e diz a eles quando ele pode ser mais facilmente apreendido. Infelizmente para Nancy, as notícias de sua traição chegam a Sikes, e ele bate nela até a morte. Sikes acidentalmente se enforca logo depois. Os Maylies reúnem Oliver com Brownlow, que obriga Monks a se explicar. O leitor e Oliver são informados de que Monks é o meio-irmão de Oliver e que Oliver tem direito a uma grande fortuna. Ele recebe sua parte do dinheiro, Fagin é enforcado e os Maylies, Oliver e Brownlow se mudam para o campo, onde passam o resto de seus dias juntos.”15 6.3. Agatha Christie Criadora do detetive Poirot, Agatha Christie (1890 – 1976) manteve
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