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HISTÓRIA DA LITERATURA ANGLÓFONA 
Me. Daniela dos Santos Domingues 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
1 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. BEOWULF E OS FUNDAMENTOS DA LITERATURA ANGLÓFONA 
 
Objetivo 
Conhecer os períodos literários das culturas anglófonas e compreender como o 
desenvolvimento e a difusão de sua literatura se deu a partir de obras fundadoras como 
Beowulf. 
 
Introdução 
O desenvolvimento e a difusão da literatura anglófona estão diretamente ligados à 
História da Inglaterra e de como a língua inglesa passou a ser adotada em diversos países 
devido ao avanço da colonização promovida pelo país, que se tornou comercialmente e 
religiosamente muito influente com sua expansão marítima a partir do século XV. 
 
 
No entanto, o primeiro registro do que seriam as primeiras palavras inglesas já 
escritas, integra um códice (conjunto de placas de pedra ou madeira onde eram escritos 
manuscritos antes do advento do papel) com inúmeros manuscritos, mas cujas data de 
confecção e autoria, não são conhecidas. Um desses manuscritos, que é o material em 
língua inglesa mais antigo que se tem registro, é o poema épico Beowulf. 
 
Rotas iniciais da colonização dos EUA pela Inglaterra. Fonte: http://www.virginiaplaces.org 
 
 
2 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1.1. A importância de Beowulf: primeiro marco do inglês antigo 
Primeira página do poema Beowulf, disponível no catálogo digital da Biblioteca Britânica: 
http://www.bl.uk/manuscripts/Viewer.aspx?ref=cotton_ms_vitellius_a_xv_f132r 
 
Ainda que grande parte dos estudiosos não consiga entrar em um consenso sobre a 
data precisa de confecção do poema Beowulf, muitos estudiosos acreditam que ele possa 
ter sido escrito entre os séculos III e XII, o que é uma janela de quase mil anos. Porém, em 
uma conferência dedicada exclusivamente ao estudo desse poema, que ocorreu em 1986, 
em Toronto, Canadá, um dos acadêmicos participantes foi categórico ao afirmar que 
Beowulf teria sido escrito entre os anos de 927 e 9311. 
 
1 https://www.jstor.org/stable/pdf/43343721.pdf?seq=1 
 
 
3 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Independentemente das evidências que esse estudo apresente, o fato é que sua 
relevância como a principal obra fundadora da literatura anglófona foi destacada a partir 
dos estudos do islandês Grímur Jónsson Thorkelin, pesquisador que viajou à Inglaterra 
para registrar marcas das influências escandinavas na cultura inglesa e se deparou com o 
manuscrito de Beowulf por acaso, catalogado na Biblioteca britânica de Londres junto a 
outros poemas de origem dinamarquesa. 
 
Assim, Thorkelin foi o primeiro estudioso a transcrever o poema publicado pela 
primeira vez em 1815 e, em seguida, vieram as traduções para diversas línguas, inclusive 
para o inglês moderno, já que o poema original está escrito em uma versão antiga da língua, 
muito mais próxima do alemão. 
 
Ou seja, a importância de Beowulf como uma obra fundadora da língua inglesa e da 
literatura anglófona está primordialmente em sua descoberta como o primeiro registro 
escrito do que viria a se tornar a língua inglesa, ainda que, muito possivelmente, assim 
como ocorre com grande parte das obras mais antigas, o poema seja um apanhando de 
histórias e lendas de tradições orais que teriam sido passadas ao longo de gerações até 
ser encontrado em solo britânico. 
 
Por isso, por mais que tradicionalmente o que se entende por obra fundadora remeta 
à ideia de uma publicação que influencia não só a formação de uma língua, como também 
de suas estruturas literárias, a verdade é que se não fosse por J.R.R. Tolkien (autor de O 
Senhor dos Anéis), é possível que Beowulf não tivesse sido elevado à condição de arte e 
não integrasse o cânone da literatura britânica. Isso porque até meados de 1930, 
pouquíssimos autores tinham conhecimento da obra, o que significa dizer que nem 
Shakespeare e nem Chaucer, por exemplo, teriam sido influenciados pelo poema, mas a 
partir da publicação de um artigo acadêmico de Tolkien, muitos escritores contemporâneos 
a ele e outros que viriam depois, passaram a valorizar a obra épica como uma importante 
referência para seus trabalhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
Apenas um único manuscrito de Beowulf sobreviveu à era anglo-saxônica. Por 
muitos séculos, o manuscrito foi praticamente esquecido e, na década de 1700, 
foi quase destruído em um incêndio. Não foi até o século XIX que o interesse 
generalizado pelo documento emergiu entre estudiosos e tradutores do inglês 
antigo. Nos primeiros cem anos de destaque de Beowulf, o interesse no poema 
foi principalmente histórico - o texto foi visto como uma fonte de informação 
sobre a era anglo-saxônica. Somente em 1936, quando o estudioso de Oxford 
JRR Tolkien (que mais tarde escreveu O Hobbit e O Senhor dos Anéis, trabalha 
fortemente influenciado por Beowulf) publicou um artigo inovador intitulado 
"Beowulf: Os Monstros e os Críticos" que o manuscrito ganhou reconhecimento 
como uma obra de arte séria. (Fonte: www.sparknotes.com/lit/beowulf) 
 
1.2. A trama de Beowulf 
Com uma combinação de narrativas de tradição anglo-saxã e cristã, Beowulf traz 
uma perspectiva histórica dos valores e cultura de sua época, como o heroísmo e códigos 
de honra, presentes em nossa cultura até os dias de hoje. 
 
A trama começa com o rei Hrothgar da Dinamarca, descendente do rei Shield 
Sheafson, desfrutando de um reinado próspero e bem-sucedido. Ele constrói um grande 
salão de hidromel, chamado Heorot, onde seus guerreiros podem se reunir para beber, 
receber presentes de seu senhor e ouvir histórias cantadas pelos bandidos ou bardos. Mas 
o barulho de Heorot irrita Grendel, um demônio que vive nos pântanos do reino de Hrothgar. 
Grendel e que aterroriza os dinamarqueses todas as noites, matando-os e derrotando seus 
esforços para revidar. Os dinamarqueses sofrem muitos anos de medo nas mãos de 
Grendel. Eventualmente, no entanto, um jovem guerreiro chamado Beowulf ouve a situação 
difícil de Hrothgar. Inspirado pelo desafio, Beowulf navega para a Dinamarca com uma 
pequena companhia de homens, determinado a derrotar Grendel. 
 
Hrothgar, que já fez um grande favor ao pai de Beowulf, Ecgtheow, aceita a oferta 
de Beowulf de lutar contra Grendel e realiza um banquete em homenagem ao herói. 
Durante o banquete, um dinamarquês invejoso chamado Unferth provoca Beowulf e o 
acusa de ser indigno de sua reputação. Beowulf responde com uma descrição orgulhosa 
de algumas de suas realizações passadas. Sua confiança alegra os guerreiros 
dinamarqueses, e o banquete dura alegremente até a noite. Por fim, porém, Grendel chega. 
http://www.sparknotes.com/lit/beowulf
 
 
5 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Beowulf luta contra ele desarmado, provando ser mais forte que o demônio, que está 
aterrorizado. Enquanto Grendel luta para escapar, Beowulf arranca o braço do monstro. 
Mortalmente ferido, Grendel volta para o pântano para morrer. O braço cortado é pendurado 
alto no salão de hidromel como um troféu da vitória. 
 
 
Muito feliz, Hrothgar leva a Beowulf presentes e tesouros em um banquete em sua 
homenagem. As canções são cantadas em louvor a Beowulf, e a celebração dura até altas 
horas da noite. Mas outra ameaça está se aproximando: a mãe de Grendel, uma bruxa do 
pântano que vive em um lago desolado, chega a Heorot em busca de vingança pela morte 
do filho. Ela mata Aeschere, um dos conselheiros mais confiáveis de Hrothgar, antes de 
fugir. Para vingar a morte de Aeschere, a companhia viaja para o pântano escuro, onde 
Beowulf mergulha na água e luta contra a mãe de Grendel em seu covil subaquático.Ele a 
mata com uma espada forjada por um gigante, então, encontrando o cadáver de Grendel, 
decapita-o e leva a cabeça como prêmio a Hrothgar. 
 
Os dinamarqueses estão novamente felizes, e a fama de Beowulf se espalha pelo 
reino. Beowulf volta para Geatland, onde ele e seus homens se reúnem com seu rei e 
rainha, Hygelac e Hygd, a quem Beowulf relata suas aventuras na Dinamarca. Beowulf 
então entrega a maior parte de seu tesouro a Hygelac, que, por sua vez, o recompensa. 
 
Com o tempo, Hygelac é morto em uma guerra contra os Shylfings e, depois que o 
filho de Hygelac morre, Beowulf ascende ao trono dos Geats. Ele governa sabiamente por 
 Cenas da animação A Lenda de Beowulf (2007) 
 
 
6 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
cinquenta anos, trazendo prosperidade para Geatland. Quando Beowulf fica mais velho, no 
entanto, um ladrão invade sua mina, onde um grande dragão guarda seus tesouros. 
Enfurecido, o dragão emerge da mina e começa a desencadear uma destruição sobre os 
Geats. Sentindo sua própria morte se aproximando, Beowulf vai lutar contra o dragão. Com 
a ajuda de Wiglaf, ele consegue matar a fera, mas a um custo alto. O dragão morde Beowulf 
no pescoço, e seu veneno o mata momentos após o encontro. Os Geats temem que seus 
inimigos os ataquem agora que Beowulf está morto. De acordo com os desejos de Beowulf, 
eles queimam o corpo do rei que partiu em uma enorme pira funerária e o enterram com 
um enorme tesouro em um mausoléu com vista para o mar.2 
 
 
 
Para conhecer melhor a história de Beowulf, vale assistir à animação de 2007 
que conta com atuações de grandes atores como Angelina Jolie e Anthony 
Hopkins. 
 
 
 
1.3. A estrutura de Beowulf 
Beowulf é um poema épico, ou seja, narra ações e feitos heroicos de personagens 
históricos ou mitológicos ao longo de vários atos. Embora a obra não apresente rimas em 
sua versão original, ela faz bastante uso de aliteração, ou seja, repetição de sílabas e letras 
com o mesmo som em forma de versos, de maneira que a primeira metade de cada verso 
esteja ligada a segunda metade por meio da similaridade dos sons produzidos, isso porque 
 
2 https://www.sparknotes.com/lit/beowulf/summary/ - tradução nossa. 
Exemplo de aliteração em Beowulf em inglês moderno. Fonte: https://study.com/academ 
https://www.sparknotes.com/lit/beowulf/summary/
 
 
7 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
grande parte desses poemas são resultado de uma tradição oral (como apontado 
anteriormente), onde o poeta precisa interpretar e dar vida às ações que narra: 
Prólogo: História Antiga dos Dinamarqueses 
 
Escute: você ouviu falar dos reis dinamarqueses nos velhos tempos e como eles 
eram grandes guerreiros. Shield, filho de Sheaf, assumiu muitas cadeiras de inimigos, 
aterrorizou muitos guerreiros depois que ele foi encontrado órfão. Ele prosperou sob o céu 
(...) Grain governou a Dinamarca muito tempo após a morte de seu pai, e para ele nasceu 
o grande Healfdene, feroz em batalha, que governou por muito tempo. Healfdene teve 
quatro filhos - Heorogar, Hrothgar, Halga, e uma filha que se casou com Onela, rei dos 
suecos.3 
 
 
 
 
FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014. 
Site: Britannica escola. Artigo: Beowulf. Disponível em: 
https://escola.britannica.com.br/artigo/Beowulf/483111 
Acesso em Dez. 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 O poema de domínio público tem muitas versões em inglês moderno e sua aliteração se perde 
quando traduzimos para o português livremente. Já as adaptações, buscam manter as caraterísticas 
principais da obra principal. 
https://escola.britannica.com.br/artigo/Beowulf/483111
 
 
8 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. GEOFFREY CHAUCER E OS CONTOS DA CANTUÁRIA 
 
Objetivo 
Entender como se formou a ideia de literatura canônica anglófona e seus períodos e 
conhecer um importante representante dessa arte. 
 
Introdução 
Tendo estabelecido que Beowulf seria o ponto de partida para a formação da 
literatura anglófona, é preciso agora seguir em frente e entender como essa produção 
evoluiu, foi consumida e difundida ao longo da História e como podemos dividi-la em seus 
períodos. 
 
Não só isso, é preciso também que façamos uma distinção antes de prosseguirmos, 
pois nossa ementa transcende o conceito de cânone ao apresentar obras cuja relevância 
determinou a produção de livros que, embora nem sempre sejam referenciados como 
clássicos, influenciaram e influenciam o pensamento ocidental de tal maneira que seria 
injusto que as deixássemos de lado. Por isso, vamos entender a diferença entre cânone, 
best-seller e literatura de massa para que a escolha dos autores de nossa disciplina possa 
ser justificada. 
 
Segundo Lourenço (2017, pg. 9)4, a diferença que existe entre literatura canônica e 
literatura de massa se deve à ideia de que os textos clássicos ou canônicos integram uma 
coleção de obras que não só exigem mais do leitor, como também o toquem e o modifiquem 
profundamente, fazendo com que ele reflita e vivencie suas experiências a partir de sua 
leitura. 
 
Ainda que o termo cânone tenha origem grega e filósofos como Aristóteles tenham 
se dedicado arduamente à classificação de diversas obras em uma tentativa de hierarquizar 
o valor de cada uma, foi apenas no século XIX que as listas literárias passaram a se 
estabelecer na Europa. Essas listas não são fixas e nem sempre são formalmente 
registradas. Na maioria das vezes, tratam-se de obras escolhidas por críticos e 
especialistas e que formam uma coleção que é legitimada e reconhecida ao longo dos anos 
 
4 LOURENÇO, Thiago Luiz Jamaites. Literatura Canônica e Literatura de Bestseller: Aplicações na Educação 
Básica. 
 
 
9 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
a partir de critérios como métrica, ritmo, estética...ou seja, uma coleção que se baseia em 
critérios subjetivos para determinar o que é bom, belo e deveria ser consumido. 
 
Já em relação à literatura e massa e aos best-sellers, quando as teorias culturais se 
firmaram na primeira metade do século XX, muitos críticos acreditavam que a literatura de 
massa, ou seja, aquela produzida em larga escala para um grande número de pessoas com 
o intuito de obtenção de lucro, era vazia de valores e incapaz de produzir mudanças 
significativas em seus leitores. No entanto, com o desenvolvimento dos Estudos Culturais 
depois dos anos 1960, por exemplo, os teóricos começaram a perceber que nenhuma obra 
é desprendida de um contexto e que mesmo os livros produzidos como “entretenimento” 
poderiam gerar reflexões e influenciar seus leitores de diversas maneiras. 
 
Assim, os autores e obras apresentados em nossa disciplina partem da 
compreensão de que cânone e literatura de massa podem influenciar e modificar seus 
leitores de maneira significativa, afinal, o consumo e a compreensão de suas mensagens 
não dependem exclusivamente do livro que se lê, mas da experiência e repertório prévios 
de cada leitor. Acima de tudo, a leitura deve ser uma atividade prazerosa e listas são, por 
natureza, excludentes, pois priorizam determinados trabalhos em detrimento de outros. Por 
isso, no final dessa unidade, deixaremos algumas sugestões de listas de cânones de 
acordo com estudiosos renomados, para que, havendo interesse em se aprofundar o 
assunto, cada aluno possa conhecer os autores e obras que constam nas coleções de livros 
que “devem ser lidos” da história da literatura anglófona. 
 
2.1. Períodos literários da cultura anglófona 
Os marcos de formação e desenvolvimento da literatura anglófona, assim como 
ocorre na maioria das culturas, estão ligados ao processo civilizatório e à Históriados 
países de língua inglesa. Portanto, os períodos literários são diferentes entre países, assim 
como as obras que constituem seus acervos. 
 
Porém, a título de informação, os períodos literários ingleses determinaram 
fortemente os períodos literários dos demais países anglófonos, principalmente após a 
 
 
 
10 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
expansão marítima inglesa e seu processo de colonização. Observe como os marcos 
históricos se relacionam com cada período5: 
 
Uma breve cronologia da literatura Inglesa 
55 A.C. Invasão romana da Grã-Bretanha por Júlio César 
Habitantes locais 
falavam celta 
43 D.C. Ocupação e início do domínio romano na Grã-Bretanha 
436 Retirada total dos romanos 
449 Estabelecimento da Bretanha como domínio germânico 
450-480 Primeiras inscrições em inglês 
Inglês antigo 
(450 – 1066) 
1066 William, o Conquistador, Duque da Normandia, invade e 
conquista a Inglaterra 
1150 Primeiros manuscritos em inglês medieval 
Inglês medieval/ 
Médio (1066- 1500) 
1348 Inglês substitui o latim na maioria das escolas 
1362 Inglês substitui o francês como língua do poder legislativo e é 
usada no Parlamento oficialmente pela primeira vez 
1388 Chaucer começa a escrever os contos da Cantuária 
1400 A primeira reforma ortográfica começa 
1476 William Caxton estabelece a primeira imprensa inglesa escrita. 
Início do Inglês 
Moderno 
 
Renascença 
(1500 – 1660) 
 
Período 
Neoclássico 
(1600 – 1785) 
1564 Shakespeare nasce 
1604 Table Alphabeticall, o primeiro dicionário inglês é publicado 
1607 O primeiro assentamento inglês permanente no Novo Mundo 
(Jamestown) é estabelecido 
1616 Shakespeare morre 
1623 As primeiras peças de Shakespeare são publicadas 
1702 O primeiro jornal diário da língua inglesa, The Daily Courant, é 
publicado em Londres 
1755 Samuel Johnson publica seu dicionário 
1776 Thomas Jefferson escreve a declaração de independência dos 
Estados Unidos 
1782 Grã-Bretanha abandona suas colônias nos Estados Unidos 
1828 Webster publica seu dicionário de inglês americano Inglês moderno 
Romantismo 
(1785 – 1832) 
Era Vitoriana 
(1832 – 1901) 
Era Eduardiana 
(1901 – 1914) 
Era Georgiana 
(1910 – 1936) 
1922 A corporação de transmissão britânica é fundada 
1928 Dicionário de Oxford é publicado 
 
 
 
 
5 Tabela confeccionada pelo site English club. Tradução nossa. Disponível em: 
https://www.englishclub.com/history-of-english/ 
 
 
11 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Resumindo: 
 
2.2. Geoffrey Chaucer: um representante do inglês medieval 
Considerado o primeiro grande escritor na história da literatura produzida em inglês, 
Geoffrey Chaucer escreveu uma das obras mais importantes do período medieval durante 
o séc. XIV: Os contos da Cantuária. Essa coletânea de contos é também um reflexo de seu 
contexto histórico, marcado por incidências da peste negra que dizimou uma grande parte 
da população da Europa e de uma época em que a língua inglesa passou a ser usada como 
língua oficial dos tribunais de justiça na Inglaterra. 
 
Graças ao seu talento reconhecido ainda em vida, Chaucer frequentou nobres 
círculos sociais, atuou como diplomata e viajou para diversos lugares, o que, de acordo 
com Ferro (2014, pg. 24), lhe conferiu uma amplitude de horizontes invejável para a época. 
 
Foi graças à sua dedicação às Letras e à carreira diplomática que em uma de suas 
viagens à Itália conheceu a obra Decameron, de Bocaccio, que, posteriormente, serviria de 
inspiração para a confecção de Os contos da Cantuária (1387). 
 
A relevância de Chaucer para a literatura anglófona se deve ao fato de sua maior 
obra ter apresentado personagens verossímeis do cotidiano da cultura inglesa, ressaltados 
 Linha do tempo da literatura inglesa. Fonte: www.thoughtco.com 
 
 
http://www.thoughtco.com/
 
 
12 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
por passagens que contém humor e paixão. Tendo sido escrita antes do advento da 
imprensa, suas primeiras cópias eram manuscritas, mas sua popularização veio 
posteriormente, quando as versões impressas passaram a ser distribuídas. 
 
Canterbury Tales (Os contos da Cantuária) originalmente deveria ter 120 histórias. 
Foi completado apenas em 24 histórias, e seus personagens não chegaram a Canterbury. 
O trabalho nunca foi concluído. 
 
A fio narrativo que conecta todos os contos é uma peregrinação ao santuário de 
Thomas à Becket, em Canterbury, Kent. Os 30 peregrinos que empreendem a jornada se 
reúnem no Tabard Inn em Southwark, do outro lado do Tamisa, em Londres. Eles 
concordam em participar de um concurso de contar histórias enquanto viajam, e Harry 
Bailly, apresentador do Tabard, serve como mestre de cerimônias para o concurso. A 
maioria dos peregrinos é apresentada por esboços breves e vívidos no “Prólogo Geral”. 
Entre os 24 contos, intercaladas, há cenas dramáticas curtas (chamadas links) que 
apresentam trocas animadas, geralmente envolvendo o anfitrião e um ou mais peregrinos. 
Chaucer não completou o plano completo de seu livro: a viagem de volta de Canterbury 
não está incluída e alguns dos peregrinos não contam histórias. 
 
O uso de uma peregrinação como dispositivo de enquadramento permitiu que 
Chaucer reunisse pessoas de várias esferas da vida: cavaleiro, prioresa, monge; 
comerciante, homem de direito, escriturário acadêmico; moleiro, vigário; esposa de Bath e 
muitos outros. A multiplicidade de tipos sociais permitiu a apresentação de uma coleção 
altamente variada de gêneros literários: lenda religiosa, romance cortês, vida de santo, 
história alegórica, fábula de animais, sermão medieval, alquímica conta e, às vezes, 
misturas desses gêneros. Nem todos os contos estão completos; vários contêm seus 
próprios prólogos ou epílogos: 
 
“A maior parte das narrativas são versões de histórias populares da Europa 
Medieval. Por exemplo, “The knight’s Tale”, é baseado no romance Il Teseda (A história de 
Teseu) de Boccaccio. Apenas “The Canon’s Yeoman Tale” pode ser a única ou uma das 
poucas histórias de Chaucer. 
 
Os prólogos e epílogos ligam as narrativas dando um tom cômico ao texto e 
oferecendo os estilos literários populares na Idade Média, vemos os exemplos a partir do 
 
 
13 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
conto do cavaleiro que narra uma história heroica típica dos romances de cavalaria da 
época, com os valores do amor cortes, a coragem e a honra, por outro lado o relato do 
moleiro que é de caráter mundano e erótico, com uma linguagem de baixo calão, assim é 
encontrado os seguintes estilos literários, a fábula, o conto exemplar, a sátira, o romance 
de cavalaria entre outros. Chaucer pode ser considerado o primeiro escritor realista da 
literatura inglesa já que usa o ser humano para fazer parte da estrutura de sua obra. As 
histórias são contadas de acordo com a hierarquia social medieval, mas nem sempre a 
ordem é seguida para manter o interesse do público. A sociedade medieval é representada 
da seguinte maneira: O médico, o jovem clérigo, o advogado e o poeta Chaucer 
representam a classe erudita. O cavaleiro, seu filho e a ordenança a classe guerreira. O 
moleiro, o lavrador, o capataz e o pequeno proprietário de terras a terra. O mercador, o 
tecelão, o tintureiro, o carpinteiro, o tapeceiro, o comerciante, o cozinheiro, o capitão, a 
mulher da cidade de Bath, o despenseiro e o dono da hospedaria representam a classe 
econômica. E a madre, a freira, o padre, o monge, o frei, o humilde vigário, oficial de justiça, 
o absolvido e o cônego fugitivo representam a classe religiosa. 
 
A Esposa de Bath contraria as convenções de Idade Média, pois declara que a 
cortesia e boas maneiras não sãovirtudes apenas dos nobres podendo ser alcançada pelo 
homem comum. Enquanto, Franklin carrega uma bolsa de seda, o que implica o seu desejo 
de riqueza. Nos dois casos, a "bagagem" do personagem é o seu 'pecado'. Cada um dos 
peregrinos revela, através de sua aparência exterior ou na hora de contar o seu conto, o 
fardo do pecado que tem de renunciar antes de ganhar a entrada em Jerusalém Celestial. 
 
Cada peregrino tem suas falhas expostas. Ao criar um heterogêneo grupo de 
pessoas com os seus problemas o autor permite que o leitor reconheça o personagem a si 
próprio.”6 
 
 
FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014. 
PERÍODOS: https://www.thoughtco.com/british-literary-periods-739034 
CÂNONE: https://www.listchallenges.com/canonical-english-literature 
https://www.listchallenges.com/the-english-literary-canon-according-to 
 
 
6 Portal da educação. Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/analise-the-
canterbury-tales/13909 - Acesso em dez. 2019. 
https://www.thoughtco.com/british-literary-periods-739034
https://www.listchallenges.com/canonical-english-literature
https://www.listchallenges.com/the-english-literary-canon-according-to
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/analise-the-canterbury-tales/13909
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/analise-the-canterbury-tales/13909
 
 
14 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. WILLIAM SHAKESPEARE: PERÍODO ELISABETANO NA 
INGLATERRA 
 
Objetivo 
Conhecer um dos autores mais importantes da cultura ocidental por meio de suas 
principais obras. 
 
Introdução 
Ainda que muitas pessoas possam nunca ter lido uma única peça de Shakespeare, 
é quase impossível que alguma de suas narrativas não tenha chegado até elas mesmo em 
forma de adaptação. Um bom exemplo do alcance das obras do autor mais proeminente do 
período elisabetano é a história de Romeu e Julieta: recontada nas mais variadas versões, 
tem um apelo entre pessoas de diversas idades, gêneros, classes sociais que é inegável. 
 
3.1. Shakespeare e a popularização da língua inglesa 
Considerado o autor mais influente e pai da língua inglesa moderna, William 
Shakespeare nasceu em 1564, em uma época de grandes mudanças culturais, políticas e 
econômicas na Inglaterra. Na Europa iniciava-se o Renascimento, época de grande 
profusão artística possibilitada pela expansão marítima e pelos progressos na área da 
ciência. Um desses progressos foi certamente o advento da prensa de Gutemberg, que 
proporcionou maior difusão da literatura que já não dependia apenas dos manuscritos para 
ganhar as ruas. 
 
No entanto, ainda que hoje estejamos mais familiarizados com a palavra escrita, foi 
graças ao teatro que as peças de Shakespeare ganharam notoriedade, pois era a forma 
mais acessível de se adquirir cultura naquela época: 
 
Antes de Shakespeare entrar em cena, o teatro já havia, pois, começado a dar 
passos mais ousados na Inglaterra. O desenvolvimento de peças religiosas nas ruas 
havia passado pelas peças de moralidade (moralities), que tinham um enredo mais 
complexo, culminando em uma moral, e interlúdios (interludes), que eram peças 
mais curtas, geralmente cômicas, apresentadas como forma de entretenimento 
durante uma festa ou algum outro tipo de celebração. (FERRO, 2014, pg. 29) 
 
 
 
 
15 História da Literatura Anglófona 
 
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Ou seja, o teatro vivia um momento de ascensão e muita popularidade na Inglaterra 
elisabetana. Muitas companhias eram financiadas por famílias nobres e viajavam para 
apresentações públicas com textos cada vez mais elaborados. 
 
A maior parte da obra de Shakespeare foi produzida entre os anos de 1589 e 1613, 
somando um total de 38 peças, 154 sonetos e diversos outros poemas. Sua estreia no 
teatro se deu em 1592 com a peça “Henrique VI” no Rose Teathre de Londres. Em 1594, 
já considerado um dramaturgo prestigiado, ficou ainda mais conhecido ao se juntar à 
companhia Lord Chamberlein’s Men, onde escreveu Hamlet, Rei Lear, Macbeth e Otello. 
 
Porém, como destaca Ferro (2014, pg. 31), Shakespeare não foi o único 
representante de destaque na literatura anglófona do período elisabetano: Thomas More e 
Francis Bacon também são autores de extrema relevância e cujas obras não devem deixar 
de ser mencionadas. 
 
More escreveu o clássico Utopia em 1516. Com forte conteúdo crítico, político e 
filosófico. O livro retrata a vida perfeita em uma ilha onde a organização social seria a ideal, 
em um contraponto à organização e aos valores vigentes em sua época. Já Francis Bacon, 
foi um pensador muitas vezes chamado de “pai da ciência moderna” e cujo interesse pela 
investigação científica nos proporcionou obras filosóficas como Novo Organum, sobre a 
metodologia científica. 
 William Shakespeare 
 
 
16 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3.2. As principais obras de Shakespeare 
Shakespeare apresentou grande parte de suas peças no Globe Teathre de Londres 
em uma época que era vedado às mulheres se apresentarem no palco. Por isso, suas 
personagens femininas eram performadas por homens. Os temas de suas peças também 
eram muito diversos, mas em grande maioria elas eram versões de histórias tradicionais 
europeias que eram transmitidas oralmente e podem ser divididas em comédias, 
romances históricos e tragédias. O conceito de direito autoral não era conhecido na 
época, por isso, o que tornou as obras de Shakespeare clássicos enquanto outros autores 
já haviam apresentado várias dessas obras anteriormente, foi o enriquecimento dos 
personagens por meio de versos e rimas, além do aprofundamento de suas personalidades, 
que conferia a cada um deles toda complexidade que os tornou tão facilmente identificáveis 
para pessoas de diferentes idades, gêneros e classes sociais. 
 
Entre as comédias podemos citar: Trabalhos de amor perdido; Sonhos de uma noite 
de verão; O mercador de Veneza; Muito barulho por nada; Como gostais; Noite de reis; Os 
dois fidalgos de Verona; As alegres comadres de Windsor; Medida por medida; A comédia 
dos erros; A megera domada e Tudo está bem quando bem termina. 
 
Nesse gênero, o amor é geralmente o tema central das peças, que focam nos 
personagens que são constantemente vítimas de desencontros e confusões, como ocorre 
em Sonhos de uma noite de verão, onde uma série de trapalhadas leva os personagens a 
serem vítimas de um feitiço do amor que dá muito errado; ou a Megera Domada, peça que 
inspirou diversas versões como a novela o Cravo e a Rosa e a comédia adolescente As 10 
coisas que odeio em você. 
 
Os romances ou dramas históricos trazem de fato bastante carga dramática ao 
retratarem momentos históricos vivenciados por reis ingleses e são eles: Rei João; Ricardo 
II; Ricardo III; Henrique IV, Parte 1; Henrique IV, Parte 2; Henrique V; Henrique VI, Parte 1; 
Henrique VI, Parte 2; Henrique VI, Parte 3; Henrique VIII; Eduardo III. 
 
Para Ferro (2014, pg. 37), esse gênero marcadamente inglês teria se desenvolvido 
em um contexto relacionado à dramaturgia ligada à Igreja, cujas peças representavam os 
santos como heróis. Assim, a “evolução” do tema de “santo-herói” para “homem-herói” 
protagonizado por reis, seria naturalmente lógica considerando o a percepção da época de 
que reis eram escolhidos por Deus. Então, mesmo que ainda não houvesse uma noção de 
 
 
17 História da Literatura Anglófona 
 
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democracia que viabilizasse as liberdades artísticas integralmente, Shakespeare trazia 
algumas críticas em suas peças ao retratar seus governantes por meio de parábolas sobre 
“a natureza do bom governante e dos danos causados pelas lutas que sejam produto da 
sede de poder” (HELIODORA apud FERRO,2014, pg. 38), indicando que nem todas as 
peças sobre a nobreza e a realeza devem ser resumidas a obras de bajulação aos reis e 
rainhas. 
 
 
Quanto às tragédias, são elas: Romeu e Julieta; Macbeth; Rei Lear; Hamlet; Otelo; 
Titus Andronicus; Júlio César; Antônio e Cleópatra; Coriolano; Tróilo e Créssida; Timão de 
Atenas; Cimbelino. Ainda que Romeu e Julieta seja uma de suas histórias mais populares 
do autor, Hamlet, Otelo e Macbeth foram adaptadas tantas vezes para o teatro e outras 
mídias que muitos de seus diálogos já fazem parte do inconsciente coletivo: “Ser ou não 
ser, eis a questão! (Hamlet)” 
 
A história do príncipe dinamarquês é um clássico exemplo de tragédia e vingança. 
Essa é a peça mais longa de Shakespeare e objeto talvez do maior número de 
 Rei Ricardo III. Fonte: FERRO, 2014, pg. 41 
 
 
18 História da Literatura Anglófona 
 
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críticas e debates sobre a forma definitiva do texto, já que coexistiram várias versões 
impressas. Hamlet é um dos textos literários mais estudados de toda a história da 
literature – em sua fortuna crítica constam textos de autores famosos, como Hamlet 
ans His Prolemas de T.S. Eliot (1921). (FERRO, 2014, pg. 46) 
 
 
Logicamente, tentar resumir um dos autores mais importantes do ocidente e cuja 
obra é estudada com afinco em cursos de graduação dedicados exclusivamente a ele a um 
capítulo de poucas páginas, seria uma tarefa inglória e também impossível. Por isso, é 
extremamente importante que o aprofundamento sobre Shakespeare e seus textos seja 
feito por meio das referências elencadas ao longo desse capítulo, principalmente por meio 
do material de apoio e das publicações disponíveis em nossa biblioteca virtual. 
 
 
 
O período Elisabetano: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/teatro-
no-renascimento-2-inglaterra-de-shakespeare-se-destaca.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/teatro-no-renascimento-2-inglaterra-de-shakespeare-se-destaca.htm
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/teatro-no-renascimento-2-inglaterra-de-shakespeare-se-destaca.htm
 
 
19 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. EDGAR ALLAN POE E H.P. LOVECRAFT (ESTADOS UNIDOS) 
 
Objetivo 
Conhecer autores estadunidenses que influenciaram e influenciam fortemente o 
cinema e a literatura de terror e ficção até os dias atuais. 
 
Introdução 
Ainda que alguns dos autores que serão apresentados a partir de agora não 
pertençam ao cânone da literatura anglófona (na verdade, não existe um cânone da 
literatura anglófona, existem, informalmente, listas de cânones de cada país), não podemos 
deixar de mencioná-los devido à forte influência que exercem na cultura ocidental, 
principalmente no cinema e na literatura. Por isso, sugerimos que esses escritores sejam 
compreendidos como tópicos ou exemplos de uma produção muito maior do que estamos 
apresentando aqui, ou seja, são pinceladas que servem para aguçar o seu interesse em 
conhecer mais sobre o contexto histórico e outros nomes da literatura anglófona 
relacionados aos períodos de nossa disciplina. Vamos lá? 
 
4.1. Edgar Allan Poe e o Romantismo sombrio 
Entre as várias funções da arte, podemos citar a fuga da realidade e a possibilidade 
de nos ajudar a lidar com os mais variados problemas como algumas delas. Nietzsche dizia 
que a arte nos salva da verdade, mas e quando optamos por conhecer obras de terror cujas 
narrativas são capazes de nos render os piores pesadelos, estamos buscando salvação do 
quê, exatamente? 
 
Talvez Edgar Allan Poe (Boston, 1809 – 1849) pudesse responder à pergunta, dado 
o alcance que sua obra ainda tem nos dias de hoje. Poe foi um grande representante do 
Romantismo estadunidense, no entanto, não da mesma maneira que outros autores 
contemporâneos a ele: se uma das principais características desse movimento literário era 
a manifestação da individualidade, Poe fez isso destacando o lado mais sombrio dos seres 
humanos. 
 
Proveniente de família pobre, Edgar Allan Poe conheceu a miséria e as mazelas 
humanas muito cedo e, quando tinha idade o suficiente, se alistou no Exército como uma 
 
 
20 História da Literatura Anglófona 
 
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forma de garantir sua sobrevivência após ter largado os estudos. Expulso do serviço militar 
e deserdado pelo pai, Poe se mudou para Nova York em 1831 para viver com uma tia: 
 
À época, Poe já havia publicado alguns poemas, sem, contudo, ter atraído a atenção 
do público ou da crítica. Passou então a dedicar-se com afinco à carreira de escritor, 
vivendo de textos publicados em jornais e revistas literárias. Ao final da década de 
1830, o autor já era conhecido entre os literatos e gozava de boa reputação. Sua 
vida profissional, no entanto, era muito inconstante por causa do alcoolismo, o que 
fazia com ele raramente conseguisse manter-se em um emprego por muito tempo, 
apesar do talento como escritor. (FERRO, 2014, 183) 
 
Graças aos seus contos macabros, Poe ficou conhecido como o “pai” da literatura 
Gótica. Não só isso, foi um dos primeiros autores a focar sua produção majoritariamente 
em contos e poemas em vez de romances, ainda assim, apesar de sua fama, morreu jovem 
e pobre, mas sua obra influenciou grandes nomes como Sir. Arthur Conan Doyle (autor de 
Sherlock Holmes) e foi estudado por autores como Machado de Assis. 
 
Sobre suas obras podemos dizer que em relação aos contos, a morte era 
presença constante em praticamente todos eles e os cenários descritos eram sempre 
lúgubres. Já as suas poesias eram concebidas para serem lidas em voz alta devido à 
 Edgar Allan Poe 
 
 
21 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
métrica rígida e extremamente musical de seus versos (FERRO, 2014, pg.185). Entre 
seus principais trabalhos podemos citar: 
 
Contos 
• Berenice (1835) 
• Os Assassinatos da Rua Morgue (1841) 
• O Gato Preto (1843) 
• O Demônio da Perversidade (1845) 
• O Barril de Amontillado (1846) 
 
Poesia 
• Tamerlane (1827) 
• O Verme Vencedor (1837) 
• Silêncio (1840) 
• O Corvo (1845) 
• Um Sonho Dentro de um Sonho (1849) 
 
Trecho de O gato preto 
"Casei jovem e tive a felicidade de achar na minha mulher uma disposição de espírito 
que não era contrária à minha. Vendo o meu gosto por animais domésticos, nunca perdia 
a oportunidade de me proporcionar alguns exemplares das espécies mais agradáveis. 
Tínhamos pássaros, peixes dourados, um lindo cão, coelhos, um macaquinho, e um gato. 
 
Este último era um animal notavelmente forte e belo, completamente preto e 
excepcionalmente esperto. Quando falávamos da sua inteligência, a minha mulher, que não 
era de todo impermeável à superstição, fazia frequentes alusões à crença popular que 
considera todos os gatos pretos como feiticeiras disfarçadas. Não quero dizer que falasse 
deste assunto sempre a sério, e se me refiro agora a isto não é por qualquer motivo 
especial, mas apenas porque me veio à ideia. 
 
Plutão, assim se chamava o gato, era o meu amigo predileto e companheiro de 
brincadeiras. Só eu lhe dava de comer e seguia-me por toda a parte, dentro de casa. Era 
até com dificuldade que conseguia impedir que me seguisse na rua. 
 
 
22 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
(...) Certa noite, ao regressar a casa, completamente embriagado, de volta de um 
dos tugúrios da cidade, pareceu-me que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, 
horrorizado com a violência do meu gesto, feriu-me ligeiramente na mãocom os dentes. 
Uma fúria dos demónios imediatamente se apossou de mim. Não me reconhecia. Dir-se-ia 
que a minha alma original se evolara do meu corpo num instante e uma ruindade mais do 
que demoníaca, saturada de Genebra, fazia estremecer cada uma das fibras do meu corpo. 
Tirei do bolso do colete um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pelo pescoço e, 
deliberadamente, arranquei-lhe um olho da órbita! Queima-me a vergonha e todo eu 
estremeço ao escrever esta abominável atrocidade."7 
 
4.2. H.P. Lovecraft e o sobrenatural 
Assim como Edgar Allan Poe, Howard Phillips Lovecraft (1890 – 1937) teve seu 
reconhecimento póstumo e morreu na pobreza, ainda que sua obra de estilo gótico e 
sobrenatural tenha influenciado de forma significativa diversas produções da cultura pop 
em todas as mídias. Além de H.P. Lovecraft, Howard também assinou seus trabalhos com 
outros pseudônimos, como Lewis Theobald, Humphrey Littlewit, Ward Phillips e Edward 
Softly. Além de contos, também produziu poesias sombrias e macabras. 
 
Mesmo sua produção sendo ficcional, obras como Necronomicon (O livro dos 
Mortos) são referenciadas não só no meio literário, como também no universo das artes 
ocultas, demonologia e áreas afins, o que rendeu a produção de franquias de filmes de 
terror Uma noite alucinante e a morte do demônio. 
 
Tendo produzido mais de 30 obras entre contos e 
romances, os constantes pesadelos de Lovecraft produziram um 
dos mais aterrorizantes monstros da literatura mundial, o Cthulhu, 
do conto o chamado de Cthulhu (1926), história sobre uma criatura 
assustadora que é uma entidade cósmica maligna, adorada por 
uma seita milenar que busca trazê-la de volta ao nosso plano astral 
– o que desencadearia o apocalipse: 
 
 
7 Leia o texto na íntegra: https://www.netmundi.org/home/2017/o-gato-preto-de-edgar-allan-poe-um-conto-
autobiografico/ 
 
H. P. Lovecraft 
https://www.netmundi.org/home/2017/o-gato-preto-de-edgar-allan-poe-um-conto-autobiografico/
https://www.netmundi.org/home/2017/o-gato-preto-de-edgar-allan-poe-um-conto-autobiografico/
 
 
23 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
“(...)Como herdeiro e executor do meu tio-avô, que morrera viúvo e sem filhos, 
esperava-se que eu examinasse seus papéis cuidadosamente, e com esse propósito levei 
todos os seus arquivos e caixas para minha residência em Boston. Grande parte do material 
que organizei será publicado mais tarde pela Sociedade Arqueológica Americana, mas 
havia uma caixa que eu achei extremamente enigmática e que me senti um tanto avesso a 
mostrá-la a outros olhos. Havia sido fechada com cadeado e não encontrei a chave até que 
me ocorreu examinar o chaveiro pessoal que o professor levava sempre no bolso. 
Consegui, de fato, abri-la, mas então pareceu-me que foi só para dar de cara com outro 
segredo ainda maior e mais impermeável. Pois qual poderia ser o significado do estranho 
baixo-relevo de argila e das esparsas anotações, comentários e recortes que achei? Teria 
o meu tio, nos últimos anos de vida, se tornado crédulo das mais superficiais imposturas? 
Resolvi que procuraria o excêntrico escultor responsável por essa aparente perturbação da 
paz de espírito de um velho. 
 
O baixo-relevo era um tosco retângulo com menos de dois dedos de espessura e 
uns doze a quinze centímetros de comprimento, obviamente de origem moderna. O seu 
desenho, contudo, nada tinha de moderno na atmosfera e no que sugeria; pois, embora os 
caprichos do cubismo e do futurismo sejam muitos e desvairados, não reproduzem com 
frequência aquela regularidade críptica que se insinua na escrita pré-histórica. E a maior 
parte daqueles desenhos com certeza parecia algum tipo de escrita, ainda que a minha 
memória, bastante familiarizada com os papéis e coleções do meu tio, não conseguisse 
identificá-la ou sequer suspeitar de suas afiliações mais remotas. 
 
Acima desses hieróglifos aparentes havia uma figura de evidente intenção pictórica, 
embora sua execução impressionista impedisse uma ideia muito clara de sua natureza. 
Parecia um tipo de monstro, ou de símbolo representando um monstro, cuja forma só uma 
mente doentia poderia conceber. Se eu disser que minha algo extravagante imaginação lhe 
atribuía ao mesmo tempo os traços de um polvo, de um dragão e de uma caricatura 
humana, não estarei sendo infiel ao espírito da coisa. Uma cabeça polpuda e tentaculada 
encimava um corpo grotesco e escamoso dotado de asas rudimentares; mas era o contorno 
geral do todo que chocava. Atrás da figura havia uma vaga sugestão de cenário de 
arquitetura ciclópica. 
 
Essa singularidade era acompanhada, além de uma pilha de recortes de jornal, por 
escritos com a caligrafia mais recente do professor Angell, sem qualquer pretensão a estilo 
 
 
24 História da Literatura Anglófona 
 
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literário. O que parecia ser o documento principal tinha por título “CULTO DE CTHULHU” 
em letras de fôrma, para evitar a leitura incorreta de palavra tão inaudita. Esse manuscrito 
estava dividido em duas seções, a primeira das quais intitulada “1925 -Sonho e 
Interpretação do Sonho de H. A. Wilcox, Rua Thomas, 7, Providence, R. L”, e a segunda, 
“Narrativa do Inspetor John R. Lagrasse, Rua Bienville, 121, Nova Orleans, La., na reunião 
de 1908 da S. A. A. – Notas do Mesmo, & Relato do Prof. Webb”. Todos os demais 
manuscritos eram notas breves, sendo algumas delas relatos de sonhos esquisitos de 
diferentes pessoas, citações de livros e revistas teosóficas (principalmente de A Atlântida e 
a Perdida Lemúria de W. Scott-Elliott) ou ainda comentários sobre antiquíssimos e ainda 
remanescentes sociedades secretas e cultos proibidos, com referências a trechos de 
compêndios de mitologia e antropologia tais como O Ramo de Ouro, de James G. Frazer, 
e Culto às Bruxas na Europa Ocidental, de Miss Murray. Os recortes referiam-se 
basicamente a doenças mentais raras e surtos de alucinações coletivas na primavera de 
1925. 
 
A primeira metade do manuscrito principal narrava uma estória muito peculiar. 
Aparentemente no dia 1 ° de março de 1925, um moço magro, moreno, de aspecto 
neurótico e excitado, visitou o professor Angell trazendo consigo o singular baixo-relevo de 
argila, que estava então recente e úmido. Seu cartão trazia o nome de Henry Anthony 
Wilcox e meu tio reconhecera-o como o filho mais novo de uma excelente família que ele 
conhecia superficialmente, e que estivera estudando escultura na Escola de Desenho de 
Rhode Island e vivendo sozinho no edifício Fleur-de-Lys perto daquela instituição. Wilcox 
era um jovem precoce de reconhecido talento, porém grande excentricidade, e desde a 
infância despertara atenção devido às estórias esdrúxulas e aos sonhos bizarros que tinha 
o hábito de contar. Ele chamava a si mesmo de “psiquicamente hipersensível”, mas a gente 
convencional da antiga cidade comercial considerava-o apenas “esquisitão”. Sem nunca se 
misturar muito com os seus, gradualmente afastara-se do convívio social e só era 
conhecido de um pequeno grupo de estetas de outras cidades. Mesmo o Clube de Arte de 
Providence, ansioso por preservar seu conservadorismo, desistira de tê-lo entre seus 
membros(...).”8 
 
 
 
8 Trecho extraído do site Contos do covil: https://contosdocovil.wordpress.com/2008/10/04/o-chamado-de-
cthulhu/ 
 
 
25 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Além de O Chamado de Cthulhu, essas são algumas das histórias que influenciaram 
muito da produção cinematográfica e de histórias em quadrinhos de terror nos anos 1950: 
Dagon; O Cão de Caça; Ar Frio; A Música de Erich Zann; Os Gatos de Ulthar; Celephaïs; 
A Cor Que Caiu do Espaço; O Modelo de Pickman; Navio Branco; A Sombra Vinda do 
Tempo. 
 
 
 
 
 
FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014.The Poe Museum: www.poemuseum.org 
Melhores histórias de Lovecraft: https://hobbylark.com/fandoms/the-top-10-
lovecraft-stories 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.poemuseum.org/
https://hobbylark.com/fandoms/the-top-10-lovecraft-stories
https://hobbylark.com/fandoms/the-top-10-lovecraft-stories
 
 
26 História da Literatura Anglófona 
 
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5. JANE AUSTEN, MARY SHELLEY, OSCAR WILDE E JAYMES JOYCE 
(REINO UNIDO) 
 
 
Objetivo 
Avançar no conhecimento sobre autores relevantes da literatura anglófona a partir 
do Reino Unido em períodos diversos. 
 
Introdução 
Seguimos nossa viagem literária agora de volta ao Reino Unido com autores 
representantes de gêneros e períodos diferentes. Embora as obras dos autores elencados 
nessa unidade não tenham relação entre si, uma vez que apresentam de estilos de escrita 
completamente diversos, todos eles influenciaram e influenciam a produção de várias 
adaptações, versões para todas as mídias imagináveis. Jane Austen com suas 
personagens femininas destemidas, Mary Shelley com umas das principais obras da ficção 
científica e terror, Oscar Wilde com o aprofundamento de características como narcisismo 
e vaidade de personagens como Dorian Gray e Jaymes Joyce com exploração de recursos 
narrativos como o fluxo de consciência em uma das obras mais emblemáticas e estudadas 
do mundo da Letras. Grupos de literatura no mundo todo se dedicam a discutir esses 
autores, portanto, como alunos de Letras e futuros professores, conhecer ao menos uma 
obra de cada um desses escritores é mais que um dever, é um pré-requisito básico para a 
construção de um repertório necessário para quem ama e trabalha com literatura. 
 
5.1. Jane Austen 
 
https://rhondablogsaboutbooks.com/2019/10/23/author-itinerary-jane-austen/ 
 
 
27 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
É possível que você nunca tenha lido um livro de Jane Austen (1775 – 1817), mas, 
tal qual ocorre com as obras de grande relevância mundial, é quase impossível que não 
tenha cruzado com alguma produção inspirada em seus livros. Só para citar um exemplo, 
se em algum momento você parou para assistir ao Diário de Bridget Jones (2001) tendo 
que decidir se mantinha um relacionamento com o incorrigível Daniel Cleaver ou com o 
introvertido Mark Darcy, enquanto narra suas aventuras e desencontros ao longo de seu 
diário, bom, então talvez este tenha sido seu primeiro contato com a obra de Austen. 
 
Estudada com afinco em cursos e grupos de estudos de literatura, a obra de Jane 
Austen foi produzida durante o Romantismo Inglês e permanece atual até hoje, como 
podemos observar por meio das diversas adaptações cinematográficas recentes de seus 
livros. Austen escreveu 7 Romances, entre eles: Razão e Sensibilidade (1811); Orgulho e 
Preconceito (1813); A Abadia de Northanger (1817); Persuasão (1817) e Lady Susan 
(1817). “Seu universo é a burguesia rural da Inglaterra: famílias que vivem 
confortavelmente, sobretudo de renda proveniente de dotes e propriedades herdadas, sem 
grandes preocupações com a vida” (FERRO, 2014, pg. 126). 
 
“Suas tramas, embora fundamentalmente cômicas, destacam a dependência das 
mulheres do casamento para garantir posição social e segurança econômica. Seus 
trabalhos, ainda que muito populares, foram publicados pela primeira vez anonimamente e 
trouxeram sua pequena fama pessoal e apenas algumas críticas positivas durante sua vida, 
mas a publicação em 1869 de A Memoir of Jane Austen, de seu sobrinho, a apresentou a 
um público mais amplo e por volta da década de 1940, ela se tornou amplamente aceita na 
academia como uma grande escritora inglesa. A segunda metade do século XX viu uma 
proliferação de bolsas de estudos sobre Austen e o surgimento de uma cultura de fãs da 
autora. A necessidade de fazer um bom casamento é um dos principais temas de Orgulho 
e Preconceito, mas isso não significa que o romance seja antiquado. De fato, você pode 
achar que pode argumentar que Jane Austen é feminista e seu romance é feminista. É um 
romance sério de várias maneiras, mas também muito engraçado. Todos os parágrafos 
iniciais de Jane Austen e a melhor de suas primeiras frases têm dinheiro neles; essa pode 
ser a primeira coisa obviamente feminina de seus romances, pois o dinheiro e sua produção 
eram caracteristicamente femininos, e não masculinos, na ficção inglesa ... desde seus 
 
 
28 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
primeiros anos, Austen teve o tipo de mente que perguntou de onde vinha o dinheiro no 
qual as mulheres jovens estavam. viver, e exatamente quanto disso havia.”9 
 
Para conhecer melhor a obra de Austen, além da bibliografia sugerida, vale consultar 
os sites e pesquisas dedicados a ela, além de assistir aos filmes inspirados em sua obra. 
Uma das maiores contribuições da escritora foi a de retratar mulheres com complexidade, 
que não se conformavam com o status quo e questionavam as normas sociais vigentes em 
sua época. Observe abaixo um trecho odo diálogo entre Elizabeth e Mr. Darcy no Filme 
Orgulho e Preconceito (2015)10: 
 
Elizabeth: Eu acredito que nós deveríamos conversar um pouco, Mr. Darcy. Pouco 
já seria bastante. Você diria algo sobre a dança, talvez. Eu poderia fazer uma observação 
sobre o número de casais. 
Mr. Darcy: Você tem por norma conversar quando está dançando? 
Elizabeth: Sim, às vezes é melhor. Desse modo podemos desfrutar a vantagem de 
dizermos o mínimo possível. 
Mr. Darcy: Você consulta seus próprios sentimentos neste caso ou busca gratificar 
os meus? 
Elizabeth: Ambos, eu creio. Nós dois somos de natureza antissocial e taciturna, 
avessos a conversas a menos que esperemos dizer algo que surpreenderia a todos na sala. 
Mr. Darcy: Isto, estou certo, não tem a menor semelhança com seu próprio caráter. 
Você vai muito a Meryton? 
Elizabeth: Sim, com frequência. Quando você nos encontrou, nós tínhamos acabado 
de fazer novos conhecidos. 
Mr. Darcy: As boas maneiras de Mr. Wickham fazem com que faça amigos 
facilmente. Se é capaz de mantê-las, não se tem certeza. 
Elizabeth: Ele tem sido desafortunado por perder sua amizade de uma forma que o 
prejudicará por toda sua vida. 
Sir. William Lucas: Permita cumprimentá-lo, Senhor! Tamanha superioridade em 
dançar é raramente vista. Tenho certeza que seu par é tão valoroso quanto você. Espero 
 
9 https://wordsonexpressions.wordpress.com/2014/09/07/jane-austen-and-her-contribution-to-british-literature/ - 
Tradução nossa 
10 https://www.janeausten.com.br/dialogo-de-elizabeth-e-mr-darcy-no-baile-em-netherfield/ 
https://wordsonexpressions.wordpress.com/2014/09/07/jane-austen-and-her-contribution-to-british-literature/
 
 
29 História da Literatura Anglófona 
 
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que esse prazer se repita frequentemente. Especialmente quando um “’certo’ e desejável 
evento” acontecer. Hein, Miss Lizzy? Quantas congratulações veremos! 
Elizabeth: Senhor, eu acho… 
Sir. William Lucas: Eu entendo! Não deterei você por mais tempo, privando-a de 
seu par encantador! Um grande prazer, Senhor. Excelente! Excelente! 
Elizabeth: Eu lembro de ouvi-lo dizer, uma vez, que você dificilmente perdoa. Que 
seus ressentimentos uma vez suscitados eram implacáveis. Você é cuidadoso, não é, 
quando permite que um ressentimento se forme? 
Mr. Darcy: Eu sou. 
Elizabeth: E nunca se permite ser cegado pelo o preconceito? 
Mr. Darcy: Eu espero que não. Posso perguntá-la onde quer chegar com estas 
questões? 
Elizabeth: Meramente para ilustração de seu caráter. Eu estou tentando vislumbrá-
lo. 
Mr. Darcy: E está sendo bem-sucedida? 
Elizabeth: Não em todos os aspectos. Tenho ouvido relatos tão diferentessobre 
você que me intrigam sobremaneira. 
Mr. Darcy: Eu espero, Miss Bennet, que você não tente esboçar meu caráter neste 
presente momento. O resultado não seria proveitoso para nenhum de nós. 
Elizabeth: Se eu não retratá-lo agora, eu poderei nunca mais ter outra oportunidade! 
Mr. Darcy: De maneira alguma eu a privaria de qualquer um de seus prazeres. 
 
 
 
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5.2. Mary Shelley 
Mary Shelley (1797 – 1851) também é uma representante do Romantismo inglês 
conhecida como a criadora da ficção-científica por ter escrito Franskstein (ou o Prometeus 
Moderno) (1818). O livro, que narra a busca do cientista Victor Frankstein por dar vida a um 
monstro criado a partir de tecidos e órgãos humanos remendados, é reflexo do contexto 
científico e histórico que Mary Shelley vivenciava: na época, circos e atrações de 
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30 História da Literatura Anglófona 
 
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entretenimento traziam experimentos feitos a partir de eletricidade, que era uma novidade, 
tentando reanimar rãs e outros pequenos animais com descargas elétricas em seus corpos. 
Era uma época de bastante progresso científico e filosófico, quando autores refletiam sobre 
questões como ética e moralidade. 
 
Shelley escreveu vários outros romances, incluindo Valperga (1823); As fortunas de 
Perkin Warbeck (1830); Lodore (1835) e Falkner (1837); O último homem (1826), um relato 
da futura destruição da raça humana por uma praga, é frequentemente classificado como 
seu melhor trabalho e que inspirou uma história em quadrinhos muito premiada de mesmo 
nome. 
 
Seu livro de viagens History of a Six Weeks 'Tour (1817) narra a turnê continental 
que ela e Shelley fizeram em 1814 após a fuga e depois relata o verão perto de Genebra 
em 1816. Por isso, vale dizer que Mary Shelley era uma mulher à frente de seu tempo e 
cuja obra merece ser mais bem apreciada por meio de seus livros e das adaptações para 
outras mídias. Conheça um pouco do seu pensamento nesse parágrafo do prólogo de 
Frankstein11: 
 
“O evento a partir do qual se criou esta ficção foi considerado, pelo Dr. Darwin e 
alguns escritores da medicina alemã, como não totalmente impossível. Não desejei de 
modo algum que se tomasse meu relato imaginário por algo que aconteceu; todavia, 
assumindo este trabalho como uma obra de fantasia, não me limitei a concatenar uma série 
de terrores supernaturais. O fato do qual depende o interessa da história está livre das 
desvantagens de um simples conto de fantasmas ou mágica. Ele foi sugerido pela própria 
novidade das situações que desenvolve; e, ainda que impossível como realização física, ao 
delinear as paixões humanas oferece um ponto de vista mais compreensivo e verdadeiro 
para a imaginação do que qualquer forma de relato de fatos reais. 
 
Dessa forma, esforcei-me em preservar a verdade dos princípios elementares da 
natureza humana, ainda que não tenha procurado inovar em suas combinações. A Ilíada, 
a poesia trágica da Grécia, Shakespeare, em A Tempestade e Sonhos de uma noite de 
verão, e especialmente Milton, em Paraíso perdido, obedecem a esta regra; assim a mais 
humilde romancista, que busca proporcionar ou receber algum deleite de seu trabalho deve, 
 
11 FERRO,Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa 2014, pg. 122 
 
 
31 História da Literatura Anglófona 
 
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sem presunção, aplicar à prosa ficcional uma licença, ou melhor, uma regra, a partir da qual 
tantas combinações de sentimentos humanos originais resultaram nas melhores obras de 
poesia. ” 
 
5.3. Oscar Wilde 
Oscar Wilde (1854-1900) foi um dos mais polêmicos representantes da era vitoriana. 
Após se graduar na Universidade de Oxford, ele atuou como poeta e crítico de arte. Em 
1891, ele publicou O Retrato de Dorian Gray, seu mais famoso trabalho, e que foi 
considerado imoral por muitos críticos da época. Wilde também escreveu muitas peças de 
teatro que foram muito bem recebidas, incluindo as satíricas como Lady Windermere's 
Fan (1892), A Woman of No Importance (1893), An Ideal Husband (1895) and The 
Importance of Being Earnest (1895). 
 
 
A partir de 1888, Wilde entrou em um período de sete anos de muita criatividade, 
durante o qual produziu quase todas as suas grandes obras literárias. Em 1888, sete anos 
depois de escrever poemas, Wilde publicou O príncipe feliz e outros contos, uma coleção 
de histórias infantis. Em 1891, ele publicou Intentions, uma coleção de ensaios discutindo 
os princípios do esteticismo, no mesmo ano que publicou o romance O Retrato de Dorian 
Gray. A história é um conto de advertência sobre um jovem bonito, Dorian Gray, que deseja 
(e recebe seu desejo) que seu retrato envelheça enquanto ele permanece jovem e vive uma 
vida de pecado e prazer. No entanto, nenhuma sinopse faz jus à obra, que deve ser 
Oscar Wilde 
 
 
32 História da Literatura Anglófona 
 
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apreciada a partir dos diálogos que Gray desenvolve com seu amigo Henry e cujas frases 
se tornaram famosas citações entre as diversas que são atribuídas a Oscar Wilde12: 
[…] Hoje em dia, as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram-se do mais 
elevado de todos os deveres, o dever que tem cada um de nós consigo mesmo. Claro que 
são caridosos. Dão de comer a quem tem fome e vestem os mendigos. Mas suas próprias 
almas andam famintas e nuas […]” (p.24) 
 
“[…] A única maneira de uma pessoa livrar-se da tentação é ceder a ela. Se resistir, 
a alma adoecerá por ansiar pelas coisas que proibiu a si própria, por desejar aquilo que 
suas leis tornaram monstruoso e ilícito. Alguém disse que os grandes acontecimentos do 
mundo têm lugar no cérebro. É também no cérebro, e apenas no cérebro, que têm lugar os 
grandes pecados do mundo […]” (p.25) 
 
“Posso simpatizar com tudo, menos com o sofrimento. Com isto não é possível 
simpatizar. É excessivamente feio, horrível, deprimente. Há algo de intensamente mórbido 
na maneira moderna de simpatizar com a dor. Deveríamos simpatizar com a cor, a beleza, 
a alegria de viver. Quanto menos se falar dos males do mundo, melhor”. (p.48) 
 
“Hoje em dia as pessoas, conhecem o preço de tudo e o valor de nada.” (p.54) 
 
“Quando nos sentimos felizes sempre somos bons, mas quando somos bons nem 
sempre somos felizes.” (p.87) 
 
12 Frases extraídas do livro O Retrato de Dorian Gray. 
Fonte: https://bibliotela.wordpress.com/2014/01/10/trechos-o-retrato-de-dorian-gray-oscar-wilde/ 
 
 Algumas capas de O Retrato de Dorian Gray 
https://bibliotela.wordpress.com/2014/01/10/trechos-o-retrato-de-dorian-gray-oscar-wilde/
 
 
33 História da Literatura Anglófona 
 
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“Cada êxito que obtemos nos traz um inimigo. Para uma pessoa ser popular é preciso 
ser medíocre.” (p.209) 
 
“[…] Cada vez que uma pessoa ama, é a única vez que amou. A diferença de objeto 
não altera a singularidade da paixão. Apenas a intensifica. Na vida podemos ter, no máximo 
uma experiência, e o segredo da vida é reproduzir essa experiência o mais frequentemente 
possível”. (p.210) 
 
Apesar do reconhecimento, sua fama não o impediu de ser preso durante dois anos 
por homossexualidade em 1895, pois o envolvimento com pessoas do mesmo gênero era 
considerado crime grave contra a decência e a moral. Ele acabou morrendo na pobreza 3 
anos após ser solto. 
 
5.4. James Joyce 
Como já destacado anteriormente, nenhuma produção humana é desprendida de um 
contexto. Isso significa dizer que também a literatura desempenha importante papel como 
elemento ativo nos processos de mudanças culturais, seja por meio da reflexão que 
proporciona, seja por meio dos experimentos com a linguagemou como uma forma de 
retratar um determinado período histórico. Assim, alguns nomes do período pós-vitoriano 
tiveram importância significativa para a história da literatura mundial e um deles foi James 
Joyce. 
 
Ferro (2014, pg. 240) ressalta que Joyce (1882-1941) é provavelmente o autor mais 
cultuado depois de Shakespeare nas letras inglesas, aparecendo, obrigatoriamente, nas 
listas dos escritores mais importantes de toda a história da literatura mundial. O autor 
irlandês escreveu romances e poesias, chamando a atenção de grandes nomes da crítica 
literária da época. Seu livro Ulisses, que explora o recurso do fluxo de consciência13, o 
tornou uma celebridade literária. Seu vasto repertório era proveniente de uma vida dedicada 
aos estudos literários: apaixonado por línguas e livros, aprendeu norueguês, além de outras 
15 línguas, para ler as peças do dramaturgo Henrik Ibsen e passava seu tempo livre 
analisando obras de Aristóteles e Thomás de Aquino. 
 
 
13 Técnica literária que busca transcrever o processo de pensamento e raciocínio de um personagem. 
 
 
34 História da Literatura Anglófona 
 
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Representante do modernismo inglês, Joyce publicou seu primeiro livro em 1914, 
Dublinenses, uma coleção de 15 contos, dois anos antes de publicar o romance O Retrato 
do Artista quando jovem. Também em 1914 que Ulisses foi publicado, estabelecendo então 
um grande marco para a literatura mundial. A história reconta um único dia em Dublin, 16 
de junho de 1904, e envolve 3 personagens centrais: Stephen Dedalus, Leopold Bloom, um 
pregador judeu, e sua esposa Molly Bloom, além da vida cotidiana que se desenrola diante 
deles. Porém, Ulisses também é uma versão moderna da Odisséia, de Homero, com seus 
personagens Telemaco, Ulisses e Penélope repaginados. 
 
O maior trunfo de Joyce foi certamente o de explorar com propriedade o monólogo 
interior, de forma que o leitor se aprofunde nos pensamentos e na mente de Bloom por 
meio do fluxo de consciência do personagem, o que influenciou significativamente a forma 
de se escrever romance a partir de então. Ainda que muito reconhecido por seu estilo, a 
leitura de Ulisses ainda e um grande desafio para estudantes de Letras no mundo todo, 
devido à complexidade da obra. 
 
Devido a parte de seu conteúdo ter sido considerado obsceno em alguns países, ele 
sofreu censura e foi impedido de ser publicado no Reino Unido e nos Estados Unidos por 
alguns anos até ser publicado na França e, posteriormente, após briga judicial, nos EUA. 
 
Seu livro seguinte, Finegans Wake, publicado em 1939, se tornou sucesso imediato, 
permanecendo nas listas de melhores livros da semana por muito tempo após seu 
lançamento. Nessa história, Joyce “brinca” com as palavras ao misturar realidade com um 
universo onírico de forma experimental, o que o torna um livro considerado de difícil leitura: 
 
Trata-se de um sonho (ou seria um delírio) de Joyce. A História do mundo 
juntamente com vários elementos da história nacional irlandesa surge 
inesperadamente durante a narrativa. Como já havia dito sobre Ulisses, parece que 
Joyce está em uma sessão de psicanálise, onde ele simplesmente coloca para fora 
todas as suas idiossincrasias pessoais. 
A história de Finnegans Wake não é linear. Joyce reproduz em sua história do 
mundo a narrativa cíclica do grande filósofo italiano Giambattista Vico (citado várias 
vezes no livro). Em sua obra máxima de filosofia, A Ciência Nova, Vico dividiu a 
história humana entre a Idade dos Deuses, a Idade dos Heróis e a Idade dos 
Homens. Vico toma como paradigma de sua narrativa o poeta grego Homero. Para 
ele, Homero foi um Teólogo-Poeta, que criou a base de uma civilização a partir de 
sua narrativa. A língua dos heróis, que veio antes da linguagem humana, é uma 
 
 
35 História da Literatura Anglófona 
 
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língua feita por símbolos. O principal, para Vico, que mesmo que a história seja 
cíclica, ou seja, com períodos gloriosos seguidos da barbárie (Antiguidade-Idade 
Média), há sempre a presença de providência divina guiando os Homens. Através 
das línguas e das religiões dos diferentes povos, podemos ter uma noção da 
HISTÓRIA IDEAL ETERNA. (PIMENTA, 2016) 
 
Como muitos autores informam, Finnegans Wake mistura diversas línguas em uma 
narrativa não linear, o que confere à obra uma autenticidade inegável. No entanto, por ser 
tão desafiadora, acaba afastando muitos leitores. Você tentaria vencer esse desafio? Quais 
outros livros considerou muito complicados, mas conseguiu terminar? 
 
 
 
 
FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014. 
PIMENTA, Felipe. Resenha: Finnegans Wake, de Jaymes Joyce. Disponível em: 
https://felipepimenta.com/2016/05/18/resenha-finnegans-wake-de-james-
joyce/ Acesso em dez. 2019 
ROYOT, Daniel. A literatura Americana. Ática, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://felipepimenta.com/2016/05/18/resenha-finnegans-wake-de-james-joyce/
https://felipepimenta.com/2016/05/18/resenha-finnegans-wake-de-james-joyce/
 
 
36 História da Literatura Anglófona 
 
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6. ARTHUR CONAN DOYLE, CHARLES DICKENS, AGATHA CHRISTIE 
E BRAM STOKER (REINO UNIDO) 
 
Objetivo 
Aprofundar conhecimento sobre autores relevantes da literatura anglófona a partir 
do Reino Unido em períodos diversos. 
 
Introdução 
Seguimos nossa trajetória no Reino Unido explorando autores de fantasia, suspense, 
terror que produziram obras icônicas em diversos estilos que também influenciaram muitos 
escritores, dramaturgos e cineastas que vieram depois deles. Ainda que nossa ordem de 
apresentação não seja cronológica e nem necessariamente suas produções tenham 
relação entre si, todos eles são extremamente relevantes independentemente do contexto 
em que tenham publicado seus livros. Vamos lá? 
 
6.1. Arthur Conan Doyle 
Responsável pela construção de um dos personagens mais icônicos da cultura pop 
mundial, o médico escocês Sir Arthur Conan Doyle (1859 – 1903) escreveu o que seria a 
primeira história do famoso detetive Sherlock Holmes quando ainda estava na faculdade. 
Um estudo em vermelho, publicado em 1887, era o primeiro de uma coleção de 60 contos 
sobre os casos policiais desvendados a partir da dedução analítica de Holmes e seu fiel 
assistente, Watson. 
 
Fortemente influenciado por Edgar Allan Poe, seus primeiros textos aceitos para 
publicação em revistas eram contos de mistério como o Mistério do vale Sasassa,sem 
imaginar que quando estivesse no terceiro ano da faculdade de medicina, uma grande 
aventura o esperava: ele foi convidado a atuar como médico no navio baleeiro Hope, que 
seguia para o círculo polar Ártico e lhe rendeu uma história sobre o mar chamada o Capitão 
da Estrela do Norte. 
 
 
37 História da Literatura Anglófona 
 
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Após ter iniciado sua prática médica enquanto tentava se destacar como escritor, 
Doyle chegou a enfrentar dificuldades financeiras, mas como o lançamento de Um estudo 
em vermelho, quando apresentou Holmes e Watson, a fama de excelente escritor comercial 
o alcançou e isso lhe gerou um certo dilema, pois apesar do sucesso do detetive mais 
famoso do mundo, ele também produziu uma série de romances históricos, poemas e peças 
teatrais que ele esperava que lhe rendessem crédito como um escritor “sério”. 
 
Com o destaque que havia alcançado, Doyle foi requisitado por uma grande editora 
a escrever um novo conto sobre Holmes. Assim, O signo dos quatro, publicado em 1890, 
foi responsável pelo estabelecimento de Doyle e Holmes nos anais da literatura mundial de 
uma vez por todas. 
 
Mesmo com o sucesso de seus contos, Doyle insistiuna prática médica e abriu 
consultório em Londres, mas não era procurado pelos pacientes, o que o deixava com 
bastante tempo livre para escrever. Foi devido ao “fracasso” de sua carreira médica que ele 
acabou tomando a decisão de escrever uma série de contos apresentando o mesmo 
personagem. 
 
Página do diário que Doyle mantinha enquanto estava a bordo do Hope. Fonte: 
https://www.arthurconandoyle.com/biography.html 
 
 
38 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Apesar de ter ficado conhecido por Sherlock Holmes, sua produção não resumiu aos 
casos do detetive. Entre peças, romances, ensaios e textos sobre espiritualismo, suas 
obras são inúmeras e entre as principais, podemos citar: Um Estudo em Vermelho (1887); 
O Signo dos Quatro (1890); Um Escândalo na Boêmia (1891); O Mistério do Vale Boscombe 
(1891); As Aventuras de Sherlock Holmes (1892); Ritual Musgrave (1893); O Problema 
Final (1893); O Arquivo Secreto de Sherlock Holmes (1902); O Cão de Baskervilles (1902); 
A Volta de Sherlock Holmes (1905); O Mundo Perdido (1912); O Detetive Moribundo (1913); 
O Vale do Terror (1915); A Vampira de Sussex (1924). 
 
Tendo influenciado as histórias de detetive que viriam a seguir, Sherlock Holmes 
encantava e encanta leitores do mundo todo devido ao seu método de dedução analítica 
que o levava às maiores aventuras para resolver seus casos. A quantidade de filmes, peças, 
séries e adaptações de suas histórias são incontáveis. 
 
“Não há nada mais enganoso que um fato óbvio” (Sherlock Holmes) 
 
Fonte: https://www.seekpng.com/ipng/u2t4u2a9t4a9i1i1_sherlock-holmes-quote-
wall-sticker-sherlock-holmes-silhouette/ 
 
 
39 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Conan Doyle modelou os métodos e maneirismos de Holmes a partir dos do Dr. 
Joseph Bell, que havia sido seu professor na Faculdade de Medicina da Universidade de 
Edimburgo. Em particular, a capacidade misteriosa de Holmes de reunir evidências com 
base em suas habilidades aprimoradas de observação e raciocínio dedutivo é equivalente 
ao método de Bell de diagnosticar a doença de um paciente. Holmes ofereceu algumas 
dicas sobre seu método, alegando que "Quando você exclui o impossível, o que resta, por 
mais improvável que seja, deve ser a verdade". Suas habilidades de detecção se tornam 
claras, embora não menos surpreendentes, quando explicadas por seu companheiro, Dr. 
John. H. Watson, que relata os casos criminais que perseguem em conjunto. Embora 
Holmes rejeite elogios, declarando que suas habilidades são "elementares", a frase 
frequentemente citada "Elementar, meu querido Watson", nunca aparece de fato nos 
escritos de Conan Doyle14. 
 
6.2. Charles Dickens 
Charles Dickens (1812- 1870) foi um representante do realismo crítico. Ele viu os 
males da sociedade burguesa de seu tempo e suas obras se tornaram uma grande crítica 
do sistema burguês como um todo. 
 
Dickens nasceu em 1812, perto de Portsmouth. Era o filho mais velho de um 
balconista de um grande escritório naval, e a família vivia com o pequeno salário de seu 
pai. O pai era frequentemente transferido de um lugar para outro e seus pais sempre 
conversavam sobre dinheiro, contas. e dívidas. Charles e sua irmã mais velha foram para 
a escola e, depois das aulas, ele costumava correr para as docas e observar navios e 
pessoas trabalhando. Muitas fotos foram guardadas em sua memória, que o escritor usou 
mais tarde em seus romances. Charles gostava de ler livros. Além disso, ele gostava de 
cantar, recitar poemas e atuar. 
 
Estabelecer a origem de Dickens é de extrema importância, pois seu contexto 
determinou a criação dos cenários e situações vividas pelos personagens de suas histórias, 
que lhe alçariam ao posto de um dos mais importantes escritores de prosa da Era Vitoriana 
com seu estilo “romântico-realista”: 
 
 
14 https://www.britannica.com/topic/Sherlock-Holmes. 
 
 
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Filho de família modesta, Charles Dickens sofreu na pele as dores que em sua obra 
os personagens encarnariam. Aos 12 anos de idade, viu-se obrigado a trabalhar 
para ganhar o sustento de sua família, pois seu pai fora preso por causa de dívidas. 
Apesar da infância atribulada e sofrida, a muito custo ele conseguiu se matricular 
em uma escola, onde não apenas receberia alguma educação, mas também 
inspiração para retratar em sua obra o cruel sistema de repressão aplicado às 
crianças pobres na Era Vitoriana, universo bem retratado em Oliver Twist (1837). 
(FERRO, 2014, pg. 132) 
 
 
 
 
Dickens criou um tipo de estilo chamado de romance social, pois era capaz de 
retratar o grande abismo existente entre ricos e pobres na sociedade inglesa da época, 
além de retratar a vida cotidiana das pessoas que viviam nas grandes cidades do século 
XIX, como políticos, advogados, padres, jornalistas, professores, operários, aristocratas, 
moradores de rua, crianças abandonadas... 
 
Entre suas principais obras estão: Os papéis póstumos do Pickwick Club (1837); 
Oliver Twist (1838); Os livros de Natal (1843-48); Tempos difíceis (1854) e Grandes 
expectativas (1861), sendo Oliver Twist seu trabalho mais conhecido, onde ele explora a 
vida das pessoas em situação de rua em uma narrativa focada no protagonista de 11 anos: 
 
 Artful Dodger batendo carteira para a surpresa de Oliver Twist 
(extrema direita); ilustração de George Cruikshank para Oliver Twist, 
de Charles Dickens. Fonte: https://www.britannica.com/topic/Oliver-
Twist-novel-by-Dickens 
 
 
41 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
“Oliver, órfão desde o nascimento, passa grande parte de sua infância em um 
orfanato com muitas crianças e pouca comida localizado a cerca de 70 milhas fora de 
Londres. Uma noite, depois de receber sua porção de mingau, Oliver pede uma segunda 
porção. Isso é inaceitável, e Oliver é enviado para trabalhar como aprendiz de um agente 
funerário. Eventualmente, depois de sofrer repetidos maus-tratos, Oliver foge e segue para 
Londres. Ele logo se encontra na presença do Artful Dodger, que diz para ele ficar na casa 
de um "velho cavalheiro" (chamado Fagin) com vários outros meninos. Oliver descobre que 
esses meninos são batedores de carteira treinados. Em uma excursão, Oliver testemunha 
os meninos pegando um lenço do Sr. Brownlow, um homem idoso, que leva Oliver a fugir 
com medo e confusão. O homem idoso confunde o comportamento de Oliver por culpa e o 
prende. No entanto, depois de aprender mais sobre Oliver, Brownlow percebe seu erro e 
se oferece para cuidar dele em sua casa. 
 
Oliver presume estar livre de Fagin e dos batedores de carteira, mas Fagin o 
encontra e o envia em uma missão de roubo com outro membro do grupo para o interior de 
Londres. Nesta tarefa, Oliver leva um tiro no braço e é levado pela família (os Maylies) que 
ele tentou roubar. Enquanto ele está lá, Fagin e um homem chamado Monks planejam 
recuperá-lo. Rose Maylie, em uma viagem a Londres com sua família, se reúne com 
Brownlow para conversar com Nancy, que se afastou de Sikes para explicar os planos feitos 
por Monks e Fagin para recuperar Oliver. Ela descreve Monks e diz a eles quando ele pode 
ser mais facilmente apreendido. Infelizmente para Nancy, as notícias de sua traição chegam 
a Sikes, e ele bate nela até a morte. Sikes acidentalmente se enforca logo depois. Os 
Maylies reúnem Oliver com Brownlow, que obriga Monks a se explicar. O leitor e Oliver são 
informados de que Monks é o meio-irmão de Oliver e que Oliver tem direito a uma grande 
fortuna. Ele recebe sua parte do dinheiro, Fagin é enforcado e os Maylies, Oliver e Brownlow 
se mudam para o campo, onde passam o resto de seus dias juntos.”15 
 
6.3. Agatha Christie 
Criadora do detetive Poirot, Agatha Christie (1890 – 1976) mantevea tradição do 
romance policial inglês, se tornando a autora que mais vendeu livros na história universal, 
superando a marca dos 4 bilhões de exemplares de acordo com as estimativas apontadas 
por Ferro (2014, p. 306). A primeira aparição entre as mais de 80 histórias do detetive belga 
 
15 https://www.britannica.com/topic/Oliver-Twist-novel-by-Dickens. Tradução nossa. 
https://www.britannica.com/topic/Oliver-Twist-novel-by-Dickens
 
 
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foi em 1920, no romance O Caso Misterioso em Styles, mas sua história mais adaptada e 
reproduzida é, sem dúvida alguma o Assassinato no Expresso do Oriente, de 1974. 
 
Assassinato no Expresso do Oriente é um dos romances mais vendidos no mundo 
até hoje e também ganhou mais uma versão cinematográfica recentemente. Em um trem 
de luxo que atravessa a Europa, um assassinato ocorre e o detetive Poirot deve descobrir 
entre todos os possíveis suspeitos quem é o criminoso, a fim de evitar que novos 
assassinatos ocorram na viagem. Com mistério e aventura, a narrativa que se tornou tão 
popular, continua agradando diversos públicos do início ao fim. Quem é o assassino? 
 
6.4. Bram Stoker 
O escritor irlandês Bram Stoker (1847-1912) escreveu vários romances em 
diferentes gêneros, mas ele é tipicamente, se não exclusivamente, mais conhecido por seu 
romance de terror gótico Drácula (1897). Os estudiosos de Stoker geralmente concordam 
que, com Drácula, Stoker não apenas criou uma das figuras mais identificáveis da cultura 
Capa recente de Assassinato no Expresso do Oriente. 
Fonte: www.saraiva.com.br 
 
 
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popular, mas estabeleceu os padrões para todos os livros de mistério e terror que se 
seguiram. 
 
Para quem está familiarizado com a mitologia vampiresca por meio dos filmes, a 
experiência de ler o livro sobre o vampiro mais famoso do mundo pode ser um desafio, pois 
se trata de um romance epistolar, ou seja, é todo narrado a partir das cartas trocadas entre 
Mina (interesse romântico de Drácula) e os demais personagens da história, além de 
notícias de jornais, documentos náuticos, fortalecendo “uma característica indispensável 
para qualquer narrativa de teor sobrenatural: a verossimilhança”.16 
No filme de 1992, como Wynona Rider, Gary Oldman e Keanu Reeves, as cartas 
entre Mina, Lucy e Jonathan são exploradas como recurso narrativo para ilustrar os 
acontecimentos relacionados ao vampiro: 
 
CARTA, MINA MURRAY PARA LUCY WESTENRA (CAPÍTULO 5)17 
Minha querida Lucy, perdoe meu longo atraso na escrita, mas fiquei simplesmente 
sobrecarregada com trabalho. A vida de uma professora assistente às vezes é cansativa. 
 
16 https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2017/10/dracula-tudo-que-voce-precisa-saber-sobre-obra-de-
bram-stoker.html 
17 http://www.publicbookshelf.com/vampire/dracula/letter-miss-mina-murray-miss-lucy-westenra. Tradução 
nossa 
 Imagem de divulgação do filme Drácula, de Bram Stoker (1992) 
http://www.publicbookshelf.com/vampire/dracula/letter-miss-mina-murray-miss-lucy-westenra
 
 
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Desejo estar com você e à beira-mar, onde poderemos conversar livremente e construir 
nossos castelos no ar. 
 
Eu tenho trabalhado muito ultimamente, porque eu quero acompanhar o trabalho e 
os estudos de Jonathan, e tenho praticado taquigrafia muito assiduamente. Quando nos 
casarmos, poderei ser útil para Jonathan, e se eu puder estenografar bem o suficiente, eu 
poderei anotar o que ele disser e transcrever para ele na máquina de escrever, na qual 
também eu estou praticando muito. 
 
Ele e eu às vezes escrevemos cartas em taquigrafia, e ele tem mantido um diário 
estenográfico de suas viagens ao exterior. Quando estiver com você, vou manter um diário 
da mesma maneira. E não quero dizer apenas aquelas duas páginas da semana com o 
domingo espremido em um canto, mas uma espécie de diário que eu possa escrever 
sempre que tiver vontade. 
 
Suponho que não haverá muito interesse para outras pessoas, mas não se destina 
a elas. Posso mostrar a Jonathan algum dia se houver algo que valha a pena compartilhar, 
mas é realmente um exercício livre. Vou tentar fazer o que vejo as jornalistas fazendo, 
entrevistando e escrevendo descrições e tentando lembrar de conversas. Disseram-me 
que, com um pouco de prática, pode-se lembrar-se de tudo o que acontece ou que se ouve 
dizer durante um dia. 
 
No entanto, veremos. Vou lhe contar meus pequenos planos quando a encontrar. 
Acabei de receber algumas linhas apressadas de Jonathan da Transilvânia. Ele está bem 
e retornará em cerca de uma semana. Eu anseio por ouvir todas as suas notícias. Deve ser 
interessante conhecer países estranhos. Eu me pergunto se nós, quero dizer Jonathan e 
eu, algum dia os visitaremos juntos. O sino das dez horas está tocando. Adeus. 
 
Sua amada Mina...conte-me todas as novidades quando escrever. Você não me 
contou nada por um longo tempo. Eu ouço rumores, e especialmente de um homem alto, 
bonito e de cabelos cacheados? 
 
Drácula segue assim até o final do livro, ou seja, só podemos projetar os 
acontecimentos na medida que alguém os narra via cartas ou jornais, o que possibilita aos 
leitores uma experiência imersiva na vida de cada personagem. 
 
 
45 História da Literatura Anglófona 
 
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FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014. 
Site: www.biography.com 
 
 
 
 
 
http://www.biography.com/
 
 
46 História da Literatura Anglófona 
 
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7. TOLKIEN, C.S. LEWIS, LEWIS CARROL E J.K. ROWLING (REINO 
UNIDO) 
 
Objetivo 
Conhecer os principais autores de fantasia do Reino Unido e se familiarizar com 
suas obras. 
 
Introdução 
 
Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa 
inesgotável fonte de magia. Capazes de formar grandes 
sofrimentos e também de remediá-los. 
(Dumbledore em Harry Potter e as Relíquias da Morte) 
 
Livros de fantasia costumavam ser considerados pelos críticos literários como obras 
de menor valor em relação aos romances históricos “por não exigirem tanto do leitor” ou 
por não seguirem os padrões métricos e estéticos estabelecidos por eles há muito tempo. 
No entanto, importantes premiações no mundo todo e listas de best-sellers indicam que 
não só a fantasia exerce um papel significativo na formação de leitores, como estudos têm 
demonstram que a fantasia é vital para a mente humana. 
 
Em uma matéria publicada no jornal The Guardian em 200718, a autora destaca que 
o processo psicológico envolvido no preenchimento das lacunas entre o conhecimento, a 
realidade e a experiência individual realizado por uma criança que lê fantasia, se torna 
fundamental para lidar com problemas na vida adulta. De acordo com a reportagem, na 
adolescência a fantasia se torna uma ferramenta de um rito de passagem para a vida adulta 
onde aprendemos a lidar com decepção, traição, fracassos, uma vez que alegorias e 
criação de metáforas, recursos intrínsecos à criação de obras fantasiosas, estão entre os 
mais importantes meios que usamos para lidar com a realidade. 
 
Assim, ainda que a literatura fantástica seja compreendida como algo voltado 
exclusivamente para crianças e adolescentes, a verdade é que são os adultos que mais se 
beneficiam desse tipo de leitura quando jovens. O preenchimento das lacunas fornecidas 
 
18 www.theguardian.com/books/booksblog/2007/apr/23/bridgingthegapswhyweneed 
 
 
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pelo texto ao descrever uma situação fantásticaé um exemplo de exercício de criatividade 
e imaginação que exige do leitor um nível significativo de abstração e a abstração está 
diretamente ligada à nossa capacidade de imaginar soluções e saídas para problemas 
reais. Ou seja, livros que instigam nossa imaginação possibilitam o desenvolvimento de 
nosso sistema cognitivo na medida nos fornecem informações de situações e objetos que 
não imaginaríamos sozinhos. Por isso, nesse capítulo, conheceremos os autores que estão 
entre o que muitos teóricos consideram o “cânone” da literatura de fantasia. 
 
7.1. Tolkien 
Ainda que a obra de John Ronald Reuel Tolkien (1892 – 1973) tenha se popularizado 
na última década em decorrência dos filmes baseados em sua obra, o criador de O Senhor 
dos Anéis (1955) tem uma importância para a literatura mundial que vai muito além de sua 
principal obra. Como apontado anteriormente, Tolkien foi um importante estudioso da língua 
inglesa e publicou um dos mais referenciados trabalhos sobre Beowulf. 
 
Sua genialidade é admirada por diversos motivos e um deles foi o de ter criado não 
só um universo com criaturas mágicas, mapas, conflitos, como uma língua original dos elfos 
de seus livros, o élfico, que, inclusive, é objeto de estudos de linguistas em universidades 
do mundo inteiro. 
 
Uma capa que Tolkien fez para o livro O Hobbit - Fonte: https://www.theguardian.com/books/2018/may/31/drawn-into-
tolkiens-world-exhibition 
 
 
48 História da Literatura Anglófona 
 
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Tanto em O Senhor dos Anéis como nas outras produções como O Hobbit, é possível 
também observar a estrutura narrativa da Jornada do Herói sendo usada diversas vezes. 
Os Hobbits, embora seres majoritariamente caseiros, são protagonistas de grandes 
aventuras, seja na tentativa de levar o anel a Mordor sem ser corrompido por ele, seja 
ajudando os anões a retornarem a suas minas enquanto lutam com enormes dragões. Um 
universo que possibilitou a criação de tantos outros como Nárnia, Harry Potter, Game of 
Thrones... 
 
Trecho de O Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel (Livro I) 
 
"Mas, embora o medo fosse tão grande que parecia ser parte da própria escuridão 
que o envolvia, Frodo se viu pensando em Bilbo Bolseiro e suas histórias, nas caminhadas 
que faziam pelas alamedas do Condado, conversando sobre estradas aventuras. Há uma 
semente de coragem escondida (bem no fundo, é verdade) no coração do hobbit mais 
gordo e mais tímido, aguardando algum perigo definitivo e desesperador que a faça 
germinar. Frodo não era muito gordo, nem muito tímido; na verdade, embora não soubesse 
disso, Bilbo (e Gandalf) o consideravam o melhor hobbit do Condado. Pensou que tivesse 
chegado ao fim de sua aventura, um fim terrível, mas esse pensamento renovou suas 
forças. Percebeu seus músculos se contraindo, como para um salto final; deixara de se 
sentir frágil como uma vítima indefesa." (pg. 146) 
 
 
 
Não deixe de assistir ao filme biográfico de Tolkien lançado em 2019: 
Ordem de leituras dos livros de Tolkien: 
http://tolkienbrasil.com/2017/11/07/ordem-de-leitura-dos-livros-de-j-r-r-
tolkien/ 
 Sobre Tolkien e sua produção: http://tolkienbrasil.com/ 
 
7.2. C.S. Lewis 
O escritor e teórico C.S. Lewis (1898 - 1963) ensinou na Universidade de Oxford e 
tornou-se um renomado escritor apologista cristão, usando lógica e filosofia para apoiar os 
princípios de sua fé. Ele também é conhecido em todo o mundo como o autor da série de 
fantasia As Crônicas de Nárnia, que foi adaptada em vários filmes para as telas. 
http://tolkienbrasil.com/2017/11/07/ordem-de-leitura-dos-livros-de-j-r-r-tolkien/
http://tolkienbrasil.com/2017/11/07/ordem-de-leitura-dos-livros-de-j-r-r-tolkien/
http://tolkienbrasil.com/
 
 
49 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Lewis se formou na Universidade de Oxford, com foco em literatura e filosofia 
clássica, e em 1925 recebeu uma posição de professor da bolsa de estudos no Magdalen 
College, que fazia parte da universidade. Lá, ele também se juntou ao grupo conhecido 
como The Inklings, um coletivo informal de escritores e intelectuais que contava entre seus 
membros, o irmão de Lewis, Warren e J.R.R. Tolkien. Foi através de conversas com os 
membros do grupo que Lewis se viu abraçando o cristianismo depois de ter ficado 
desiludido com a fé quando jovem. Ele se tornou conhecido por seus ricos textos 
apologéticos, nos quais explicava suas crenças espirituais através de plataformas de lógica 
e filosofia. 
 
Lewis começou a publicar trabalhos em meados da década de 1920 com seu 
primeiro livro, o satírico Dymer (1926). Depois de escrever outros títulos - incluindo A 
alegoria do amor (1936), pelo qual ganhou o Prêmio Hawthornden - ele lançou em 1938 
seu primeiro trabalho de ficção científica, Além do planeta silencioso, o primeiro de uma 
trilogia espacial que tratava implicitamente de conceitos de pecado e desejo. Mais tarde, 
durante a Segunda Guerra Mundial, Lewis fez transmissões de rádio altamente populares 
sobre o cristianismo, que conquistaram muitos convertidos. 
 
Assim como Tolkien, suas principais obras se tornaram ainda mais populares após 
as versões cinematográficas de livros da coleção As crônicas de Nárnia, que narram os 
Capa de 1950. Fonte: Amazon.com 
 
 
50 História da Literatura Anglófona 
 
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eventos que envolvem os irmãos ingleses Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia em uma 
aventura longeva no universo de Nárnia. 
 
Após sua primeira visita ao reino, quando descobrem que são reis e rainhas 
herdeiros de um trono ameaçado pela rainha de gelo, os irmãos retornam diversas vezes 
em épocas diferentes para enfrentar os mais variados conflitos no intuito de manter a paz 
entre todos os reinos. Para isso, contam com a ajuda de leões, lobos e todo tipo de animais 
falantes e criaturas mágicas. 
 
7.3. Lewis Carroll 
A Lagarta e Alice olharam-se por algum tempo em silêncio. Por fim, a Lagarta tirou 
o cachimbo da boca e dirigiu-se a Alice com voz lânguida e sonolenta: “Quem é você?” 
 
A lagarta e Alice olharam-se 
 
A lagarta olhou para Alice e Alice olhou para a lagarta. 
 
Não era um começo de conversa encorajador. Alice respondeu muito tímida: “Eu... 
já nem sei, minha senhora, nesse momento... Bem, eu sei quem eu era quando acordei 
esta manhã, mas acho que mudei tantas vezes desde então...” 
 
“O que você quer dizer com isto?” – perguntou a Lagarta com rispidez. “Explique-se 
melhor!” 
 
“Acho que eu mesma não posso me explicar melhor, senhora”, disse Alice, “porque 
eu não sou eu mesma, compreende?” 
 
“Não, não compreendo”, respondeu a Lagarta. 
 
“Temo não poder explicar melhor”, replicou Alice educadamente, “porque eu mesma 
não posso entender, para começar... ter tantos tamanhos diferentes em um só dia é muito 
confuso.” 
 
“Não é, não”, falou a Lagarta. 
 
 
51 História da Literatura Anglófona 
 
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“Bem, talvez a senhora ainda não tenha passado por isso”, disse Alice, “mas quando 
a senhora se transformar numa crisálida — e isso vai acontecer um dia, a senhora deve 
saber — e depois numa borboleta, eu acho que vai sentir-se um pouco estranha, não vai?” 
 
“Nem um pouco”, respondeu a Lagarta. 
“Bem, talvez os seus sentimentos sejam diferentes”, disse Alice, “mas o que sei é 
que tudo isso parece muito estranho para mim.”19 
Um universo onde existem “moscavalos” e nada é o que parece ser tem sido objeto 
de estudo de pesquisadores desde o seu lançamento. Alice no país das Maravilhas (1865), 
de Lewis Carroll (1832 – 1898) é certamente a obra mais conhecida e controversa do 
matemático e fotógrafo Charles Lutwidge Dodgson (Lewis Carrol era um dos seus 
pseudônimos). 
 
 
19 Alice no País das Maravilhas, Capítulo 5 – Conselhos de uma lagarta. 
 Alice e a lagarta.Fonte: wikipedia.org 
 
 
52 História da Literatura Anglófona 
 
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Os jogos de palavras que remetem às teorias de álgebra da Era Vitoriana, a narrativa 
onde uma garota entra em uma toca de coelho e vai parar em um mundo onde as coisas 
mais absurdas acontecem, desafiam a lógica, matéria ensinada por Carroll na universidade. 
Mas não são apenas os diálogos surreais e nem os personagens fantásticos que tornam a 
obra tão peculiar: Alice teria sido inspirada na filha de um amigo de Carroll, Alice Lidell, que 
Carroll conheceu quando ela tinha 3 anos e com quem teve um relacionamento bastante 
próximo nos anos seguintes. 
 
 
 
Além dos filmes mais recentes dirigidos por Tim Burton, Alice no país das 
Maravilhas tem uma versão animada da Disney que vale a pena ser conferida. 
 
 
 
7.4. J. K. Rowling 
Criadora da série de livros de Harry Potter, J.K. Rowling (1965 - ) deu origem a uma 
das franquias de maior sucesso da literatura e do cinema, que já vendeu mais de meio 
milhão de cópias no mundo todo. O primeiro livro da série, Harry Potter e a pedra filosofal, 
foi publicado em 1997 e se tornou um sucesso instantâneo entre crianças e adolescentes, 
permanecendo na lista de best-sellers por muito tempo, ainda que tivesse sido rejeitado por 
várias editoras antes de ser lançado. 
 
Mesmo produzindo trabalhos paralelamente à saga do bruxo mais famoso da cultura 
pop, é a série de livros que gerou versões para o cinema, quadrinhos, teatro, além de 
parques temáticos inteiros dedicados a esse universo. Em ordem de lançamento, são eles: 
Harry Potter e a Pedra Filosofal; Harry Potter e a Câmara Secreta; Harry Potter e o 
Prisioneiro de Azkaban; Harry Potter e o Cálice de Fogo; Harry Potter e a Ordem da Fênix; 
Harry Potter e o Enigma do Príncipe; Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1; Harry 
Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2. 
 
 
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A saga começa com o órfão Harry Potter morando em um armário debaixo da escada 
da casa de tios muito abusivos, quando uma misteriosa carta entregue por uma coruja o 
informa que ele estaria matriculado em uma conceituada escola de magia (Hogwarts). A 
partir daí, sua vida é transformada significativamente, pois durante a maior parte do ano, 
ao longo dos próximos 7 anos seguintes, ele viveria em um mundo mágico, cheio de 
criaturas fantásticas e enfrentando perigos relacionados ao retorno do mais perigoso bruxo 
de todos os tempos. 
 
Com várias histórias paralelas, o leitor se envolve em protestos de elfos domésticos, 
se emociona com as descobertas adolescentes e os laços de amor e amizade 
desenvolvidos ao longo da vida de Harry Potter rumo à sua maioridade, ou seja, valores 
que não deveriam ser enaltecidos apenas quando somos jovens: 
 
Os livros da série Harry Potter, além de nos proporcionarem histórias repletas de 
momentos divertidos, comoventes e tensos, também oferece uma fonte inesgotável 
de sabedoria para a vida. Quem leu os sete livros sabe: J.K. Rowling tem o dom de 
dialogar com nossos pensamentos e sentimentos mais íntimos. Ela nos oferece 
oportunidades de reflexão sobre família, amigos, medo e luto entre vários outros 
assuntos – e talvez seja por isso que Harry Potter seja uma peça fundamental no 
amadurecimento de quem leu a série. (DELCOLLI, 2016) 
 Cena do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001) 
http://www.brasilpost.com.br/news/brasil-harry-potter/
http://www.brasilpost.com.br/news/brasil-jk-rowling/
 
 
54 História da Literatura Anglófona 
 
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Não à toa, o jornal Huffpost Brasil 20relacionou algumas das frases grifadas por 
leitores de Harry Potter pela plataforma de leitura digital do dispositivo Kindle e elas ilustram 
o quanto nos beneficiamos da literatura fantástica: 
 
Afinal, para uma mente bem estruturada, a morte é apenas a grande aventura 
seguinte. (Harry Potter e a pedra filosofal) 
 
Sempre chame as coisas pelo nome que têm. O medo de um nome aumenta o 
medo da coisa em si. (Harry Potter e a pedra filosofal) 
 
São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito 
mais do que as nossas qualidades. (Harry Potter e a Câmara secreta) 
 
A grandeza inspira a invejam a inveja engendra o despeito, o despeito produz 
a mentira. (Harry Potter e o enigma do príncipe) 
 
Não tenha piedade dos mortos, Harry. Tenha piedade dos vivos e, acima de 
tudo, dos que vivem sem amor. (Harry Potter e as Relíquias da morte) 
 
 
 
Você costuma ler livros de fantasia? Que tal fazer uma lista de valores, 
conselhos e aprendizados que você adquiriu a partir dessas histórias? 
Não deixe de conferir os filmes da série, além dos livros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014. 
DELCOLLI, 2016. As 15 frases mais grifadas dos livros de Harry Potter. Huffpost 
Brasil. Disponível em: https://www.huffpostbrasil.com/2016/12/13/harry-potter-
as-15-frases-mais-grifadas-dos-livros-no-kindle_a_21697370/ > Acesso em 
dez. 2019 
 
20 https://www.huffpostbrasil.com/2016/12/13/harry-potter-as-15-frases-mais-grifadas-dos-livros-no-
kindle_a_21697370/ 
https://www.huffpostbrasil.com/2016/12/13/harry-potter-as-15-frases-mais-grifadas-dos-livros-no-kindle_a_21697370/
https://www.huffpostbrasil.com/2016/12/13/harry-potter-as-15-frases-mais-grifadas-dos-livros-no-kindle_a_21697370/
 
 
55 História da Literatura Anglófona 
 
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8. TWAIN, STOWE, ASIMOV, HEMINGWAY, SALINGER E WHATON 
(ESTADOS UNIDOS) 
 
Objetivo 
Se familiarizar com alguns dos autores de maior expressividade literária nos 
Estados Unidos. 
 
Introdução 
Assim como fizemos anteriormente, não iremos nos ater ao que muitos críticos 
consideram cânone literário para que nossa viagem rumo às mais diversas e 
surpreendentes aventuras possa seguir seu curso. Os autores elencados nesse capítulo 
não são apenas muito referenciados em várias produções até hoje, como suas frases, 
mesmo fora de seus livros, são citadas constantemente em publicações online e offline. 
Ainda que vários deles não sejam conhecidos do grande público no Brasil, sem sua 
produção não teríamos conhecido outras tantas que são mais populares atualmente. 
 
8.1. Mark Twain 
Em nossa videoaula sobre Mark Twain (pseudônimo de Samuel Langhorne Clemens 
– 1835-1910) conhecemos uma famosa música inspirada por um dos personagens mais 
importantes da literatura estadunidense: Tom Sawyer. Tom é figura recorrente em 
animações, filmes, produções teatrais e em diversas mídias devido ao seu grande apelo 
entre o público leitor de histórias de aventura. 
 
Com a publicação das Aventuras de Tom Sawyer (1876), Mark Twain apresentou os 
dois personagens imortais de Tom e Huckleberry ao "Hall da Fama" da literatura americana, 
além de reinventar o conto tradicional regionalista. Escrito por volta de 1870, o romance 
começou inicialmente como uma série de cartas de Twain a um velho amigo (Cartas a Will 
Bowen) sobre suas brincadeiras de infância, tempos de escola e travessuras. 
 
Publicado na Inglaterra vários meses antes da distribuição nos Estados Unidos, Tom 
Sawyer continua sendo o livro mais vendido de Twain, considerado um clássico popular 
para todas as idades. Ironicamente, Twain escreveu para sua editora: "Não é um livro de 
 
 
56 História da Literatura Anglófona 
 
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garotos, de jeito nenhum. Ele será lido apenas por adultos. Ele é escrito apenas para 
adultos".21 
 
Baseado nas experiências pessoais do próprio autor, o romance descreve as 
aventuras juvenis do protagonista, que encarna o ideal da juventude americana durante o 
período que precedeu a industrialização. O sentimento de inocência e juventude quepermeia o trabalho está em extremo contraste com a atitude pessimista pela qual Twain era 
conhecido. Tornado popular por seus ditos e anedotas, tanto quanto por suas obras 
literárias, o autor costumava gostar da natureza fraca do homem, citando seu egoísmo 
inerente e sua obsessão pelo valor monetário. Como um idealista que viu seus ideais 
traídos por uma sociedade moralmente corrupta, Twain parece usar Tom como um símbolo 
da transição entre o mundo de adultos e crianças, a sociedade em que a justiça é servida 
versus uma rede social sem todos os escrúpulos22 e, apesar da popularidade de As 
aventuras de Tom Sawyer, foi sua sequência intitulada As aventuras de Huckleberry Finn 
(1884) que realmente alcançou maior sucesso: 
 
(...) foi com The adventures of Huckleberry Finn que Twain atingiu seu ápice, pois 
nesse romance ele conseguiu expressar suas virtudes literárias de forma mais 
pungente: a linguagem coloquial do “inglês das ruas” dá vida aos diálogos, o 
realismo crítico se revela nos conflitos sociais descritos sob a perspectiva não 
convencional de uma criança portadora de uma moral profundamente humana, e o 
humor conduz a história do princípio ao fim. (FERRO, 2014, pg. 216) 
 
 
 
• Sendo um dos personagens mais importantes da cultura estadunidense, 
que tal realizar uma pesquisa e descobrir que outros personagens foram 
criados inspirados em Tom Sawyer e em quais produções já houve 
referência às suas aventuras? Você irá se surpreender! 
 
 
8.2. Harriet Beecher Stowe 
A Cabana do pai Tomás (Uncle Tom’s Cabin), romance de Harriet Beecher Stowe 
(1811 – 1896), publicado em formato serializado nos Estados Unidos em 1851-1852 e em 
 
21 https://www.gradesaver.com/the-adventures-of-tom-sawyer - Tradução nossa 
22 Idem 
https://www.gradesaver.com/the-adventures-of-tom-sawyer
 
 
57 História da Literatura Anglófona 
 
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livro em 1852. Um romance abolicionista, que alcançou ampla popularidade, principalmente 
entre os leitores brancos no Norte, por retratar vividamente a experiência da escravidão. 
 
O livro conta a história de pai Tomás, descrito como um escravo santo e digno. 
Enquanto é transportado de barco para leilão em Nova Orleans, ele salva a vida de Little 
Eva, cujo pai agradecido compra Tomás. Eva e Tomás logo se tornam grandes amigos. 
Sempre frágil, a saúde de Eva começa a declinar rapidamente e, no leito de morte, ela pede 
ao pai para libertar todos os seus escravos. Ele planeja fazer isso, mas depois é 
assassinado, e Simon Legree, o novo proprietário de Tomás, chicoteia seu escravo até a 
morte depois que ele se recusa a divulgar o paradeiro de certos fugitivos. 
 
Cerca de 300.000 cópias do livro foram vendidas nos Estados Unidos durante o ano 
seguinte à sua publicação e também vendeu bem na Inglaterra. Foi adaptado para teatro 
várias vezes a partir de 1852; porque o romance fez uso dos temas e técnicas do 
melodrama teatral popular na época, sua transição para o palco foi fácil. Essas adaptações 
foram usadas para cativar o público nos Estados Unidos e contribuíram para a popularidade 
já significativa do romance de Stowe. Mesmo em produções mais modernas, como no filme 
O rei e eu (1999), a Cabana do pai Tomás é encenada pelos filhos do rei do Sião para a 
 Harriet Beecher Stowe 
 
 
58 História da Literatura Anglófona 
 
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professora inglesa Ana, indicando que a obra segue atual, como grande parte das obras 
consideradas clássicas. 
 
8.3. Isaac Asimov 
Saltando algumas décadas, um russo naturalizado estadunidense revolucionaria a 
literatura fantástica de maneira nunca antes vista. Isaac Asimov (1912 – 1992) foi um 
escritor e bioquímico, que foi um dos maiores responsáveis pela divulgação científica no 
início do século XX, nos presenteou com diversas obras que não só traziam uma 
perspectiva de como seria o futuro, mas, principalmente, levantavam diversas questões 
filosóficas sobre ética e humanidade ao trazer os robôs para o convívio com os humanos 
em suas histórias: 
 
Desde muito jovem, Asimov era um aficionado por ciência e literatura e já aos 19 
anos de idade vendia histórias para revistas de ficção científica. Foi na popular Astounding 
Magazine que ele começou a publicar, nos anos 1940, as histórias que mais tarde seriam 
reunidas na coletânea The Foundation Series – um épico intergaláctico inspirado na história 
do Império Romano. Suas histórias sobre um império das galáxias formaram uma espécie 
de cânone da ficção científica que foi reverenciado por autores do gênero desde então. 
(FERRO, 2014, pg. 309) 
 
Isso significa dizer que sem Asimov, muito provavelmente não teríamos os 
blockbusters como Star Trek e Star Wars. Não só isso, além das diversas previsões sobre 
tecnologia que se mostraram bastante acuradas, ele estabeleceu as 3 leis da robótica que 
passaram a ser utilizadas em diversas produções ficcionais e se tornaram diretrizes 
respeitadas por pesquisadores de inteligência artificial. São elas23: 
 
1) Um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra 
algum mal; 
2) Os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em 
que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei; 
3) Um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em 
conflito com as leis anteriores. 
 
23 https://super.abril.com.br/cultura/as-tres-leis-da-robotica/ 
 
 
59 História da Literatura Anglófona 
 
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 Com uma extensa produção, os livros que mais se destacam são: Eu, Robô (1950); 
Trilogia da Fundação (série publicada entre 1951 e 1953); O fim da eternidade (1955); O 
homem bicentenário e outras histórias (1976). Muitas de suas obras foram adaptadas para 
o cinema, entre elas, Eu, Robô (2004), com Will Smith. Você já deve ter assistido a alguns 
deles. O que achou? 
 
8.4. Ernest Hemingway 
Muitas vezes citado por suas célebres frases, Ernest Miller Hemingway (1899 – 
1961) foi um jornalista e correspondente de guerra, tendo publicado livros de poesia, livros 
de não-ficção e romances como Por quem os sinos dobram (1940) e o Velho e o mar (1952), 
este último tendo sido adaptado para o cinema e inspirado uma série de outros autores que 
viriam depois dele. 
 
A história de um velho pescador obstinado a lutar contra um grande marlim se tornou 
uma grande analogia para narrativas de superação e perseverança que são difundidas das 
mais diversas formas pelo mundo todo. 
 
 Algumas das capas dos livros de Asimov 
 
 
60 História da Literatura Anglófona 
 
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Trecho de O velho e o mar24: 
Ele era um velho que pescava sozinho em seu barco, no Golfo Pérsico. Havia oitenta 
e quatro dias que não apanhava nenhum peixe. Nos primeiros quarenta, levara em sua 
companhia um garoto para auxiliá-lo. Depois disso, os pais do garoto, convencidos de que 
o velho se tornara salão, isto é, um azarento da pior espécie, puseram o filho para trabalhar 
noutro barco, que trouxera três bons peixes em apenas uma semana. O garoto ficava triste 
ao ver o velho regressar todos os dias com a embarcação vazia e ia sempre ajudá-lo a 
carregar os rolos de linha, ou o gancho e o arpão, ou ainda a vela que estava enrolada à 
volta do mastro. A vela fora remendada em vários pontos com velhos sacos de farinha e, 
assim enrolada, parecia a bandeira de uma derrota permanente. O velho pescador era 
magro e seco, e tinha a parte posterior do pescoço vincada de profundas rugas. As 
manchas escuras que os raios do sol produzem sempre, nos mares tropicais, enchiam-lhe 
o rosto, estendendo-se ao longo dos braços, e suas mãos estavam cobertas de cicatrizes 
fundas, causadas pela fricção das linhas ásperas enganchadas em pesados e enormes 
peixes. Mas nenhuma destas cicatrizes era recente. Tudoo que nele existia era velho, com 
exceção dos olhos que eram da cor do mar, alegres e indomáveis. 
 
8.5. J. D Salinger 
J.D. Salinger (Jerome David Salinger 1919 - 2010), foi um escritor americano cujo 
romance O apanhador no campo de centeio (1951) ganhou críticas aclamadas e 
admiradores dedicados, especialmente entre a geração pós-Segunda Guerra Mundial de 
estudantes universitários. Suas obras publicadas também consistem em contos impressos 
em revistas, incluindo The Saturday Evening Post, Squire e The New Yorker. 
 
O apanhador no campo de centeio, que lhe rendeu reconhecimento de crítica e 
público, tem foco na vida de um adolescente sensível e rebelde e relata sua fuga do mundo 
adulto "falso", sua busca por inocência e verdade e seu colapso final no sofá de um 
psiquiatra. O humor e a linguagem colorida do livro o colocam na tradição de Aventuras de 
Huckleberry Finn, de Mark Twain, mas seu herói, como a maioria dos personagens infantis 
de Salinger, vê sua vida a partir de uma perspectiva de autoconsciência precoce. 
 
24 https://www.camara.leg.br/radio/programas/534466-o-velho-e-o-mar--de-ernest-hemingway 
 
 
61 História da Literatura Anglófona 
 
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8.6. Edith Wharton 
Edith Wharton (1862 – 1937) menos aclamada que seus colegas do gênero 
masculino, ainda que tenha recebido um dos maiores prêmios literários e jornalísticos do 
mundo, o Pulitzer de melhor ficção de 1921 por seu romance A Época da Inocência (1920), 
Edith também foi a primeira mulher a receber o título de doutora honoris causa pela 
Universidade de Yale. 
 
Embora tivesse um livro de seus próprios poemas impresso aos 16 anos, foi somente 
depois de vários anos de vida de casada que Wharton começou a escrever a sério. Seu 
Uma das capas de O apanhador no campo de centeio 
 
 
62 História da Literatura Anglófona 
 
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principal modelo literário era Henry James, a quem ela conhecia, e seu trabalho revela a 
mesma preocupação de James pela forma artística e questões éticas. Ela contribuiu com 
alguns poemas e histórias para as revistas Harper, Scribner e outras na década de 1890. 
 
A Época da Inocência apresenta uma imagem da sociedade de classe alta de Nova 
York na década de 1870. Na história, Newland Archer está noivo de May Welland, uma bela 
representante da elite, mas ele se apaixona profundamente por Ellen Olenska, uma ex-
integrante de seu círculo social que retorna a Nova York para escapar de seu casamento 
desastroso com um nobre polonês. Apesar de os amantes se mostrarem complacentes aos 
tabus da época para romper com seu padrão social da classe alta, Newland se sente 
compelido a renunciar a Ellen e se casar com May. 
 
Nesse capítulo fizemos apenas um apanhado de alguns autores de destaque na 
literatura estadunidense. Para melhor apreensão desses conteúdos, no entanto, é 
fundamental a pesquisa e a consulta aos materiais de apoio e bibliografia recomendada. 
 
Seguimos rumo ao nosso último capítulo, onde retornaremos nosso olhar para o 
velho continente. 
 
 
 
 
 
FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014. 
ROYOT, Daniel. A literatura Americana. Ática, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 História da Literatura Anglófona 
 
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9. H.G. WELLS, ALDOUS HUXLEY, GEORGE ORWELL E VIRGINIA 
WOOLF (REINO UNIDO) 
 
 
Objetivo 
Se familiarizar com autores britânicos cujas obras propiciaram e propiciam profundas 
reflexões sobre a sociedade moderna e seus problemas. 
 
Introdução 
Se a fantasia nos proporciona o desenvolvimento da imaginação e da criatividade 
para que possamos lidar com nossos problemas enquanto indivíduos, as obras distópicas 
e as que trazem crítica social nos proporcionam a reflexão sobre as escolhas que fazemos 
como coletividade. Autores como George Orwell e Aldous Huxley são responsáveis por 
obras de ficção conhecidas como distopias e que, infelizmente, têm se mostrado muito 
atuais. De maneira geral, uma distopia é uma narrativa ficcional que traz em seu cerne 
fortes críticas sociais e políticas apresentadas em um cenário de sociedade futurística e 
muitas vezes pós-apocalíptica, como uma espécie de alerta aos leitores sobre os malefícios 
de nossas ações e sobre qual seria nosso destino se continuarmos no mesmo rumo. 
 
No entanto, por funcionarem como alertas sobre o que poderia acontecer em um 
futuro que seria o nosso presente hoje, essas obras têm se mostrado ainda mais brandas 
em relação ao contexto surreal no qual estamos inseridos, indicando que a realidade supera 
a ficção em muitos aspectos. 
 
9.1. H.G. Wells 
Além de Asimov, um dos maiores responsáveis pela divulgação científica dentro e 
fora da literatura mundial é H.G Wells (1866- 1946). Considerado o pai da ficção científica, 
escreveu diversos livros classificados como romances científicos onde abordava questões 
como o armamento e a guerra nuclear, a ética em relação ao tratamento dos animais, além 
de nos proporcionar o vislumbre de dispositivos como máquinas do tempo e viagens 
espaciais muito antes de o homem cogitar pisar na lua, por exemplo: 
 
Na Inglaterra, H,G. Wells escreveu, ao final do século XIX alguns dos mais 
populares romances de ficção científica de toda a literatura. The War of the Worlds 
 
 
64 História da Literatura Anglófona 
 
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(A Guerra dos mundos), de 1898 descreve a invasão da Inglaterra por marcianos. 
Uma adaptação dessa história para o rádio, feita pelo diretor Orson Welles, em 
1938, causou pânico nos Estados Unidos – muitas pessoas correram às ruas, 
acreditando que a invasão estava acontecendo de verdade. (FERRO, 2014, pg. 
306) 
 
Além do livro pelo qual ficou mais conhecido, Wells escreveu outros trabalhos do 
mesmo gênero, como A Máquina do tempo (1895); O homem invisível (1897) e a Ilha do 
doutor Moreau (1896). Embora suas obras não tivessem a intenção explícita de 
funcionarem como crítica social e política, os autores influenciados por elas usaram os 
recursos das narrativas de ficção científica como uma forma de estabelecer os cenários 
para suas histórias distópicas, por exemplo. 
Além de diversas adaptações para o teatro e séries de TV, o filme de 2005, com Tom 
Cruise, retrata o que aconteceria ao mundo no caso de uma invasão alienígena. História 
que povoou o imaginário coletivo por décadas, estabeleceu o padrão de alienígenas 
monstruosos e devoradores que seria usado em tantas outras produções seguintes. 
 
Uma das capas do livro a Guerra dos mundos. Fonte: Amazon.com 
 
 
65 História da Literatura Anglófona 
 
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9.2. Aldous Huxley 
Aldous Huxley (1894- 1963) foi um grande romancista e crítico literário cujos 
trabalhos ficaram conhecidos por sua acidez e sátira um tanto pessimista como em seu 
trabalho mais notável, Admirável Mundo Novo (1932), que se tornou uma referência para 
os livros de ficção científica e distopias que viriam depois dele. 
 
Huxley se graduou em 1916 e no mesmo ano publicou seu primeiro livro. Trabalhou 
em um jornal entre 1919 e 1921, quando passou a se dedicar integralmente a escrever seus 
livros. Apesar de ser mais conhecido hoje em dia por Admirável mundo novo, foi com o 
lançamento de seus dois primeiros livros publicados entre 1921 e 1923, Crome Yellow e 
Antic Hay, que ele se firmou como um escritor renomado. 
 
 
Quando assistimos a filmes como Matrix, muitas vezes não nos damos conta que 
não só alguns aspectos ficcionais não são necessariamente ficção, como eles teriam sido 
previstos muitas décadas antes de a Ciência ter meios de desenvolvê-los. Isso ocorre no 
 Capa de Admirável mundo novo 
 
 
66 História da Literatura Anglófona 
 
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caso de várias previsões de Huxley em Admirável mundo novo, como a reprodução humana 
artificial ou in vitro, quando bebês são gerados e desenvolvidos em incubadoras. 
 
Em seu livro mais famoso, Huxley descreve uma distopia onde a sociedade está 
cientificamente bastante avançada no ano de 2540 ou em 632 DF – DF = depois de Ford, 
em uma alusão ao sistema de produção em massa criado por Henry Ford e que foi um 
marco no processo de industrialização mundial e exemplo de eficiência, com uma 
população emocionalmente condicionada a viver relacionamentos fugazes (líquidos). 
 
As crianças são geradas em úteros artificiais e clonadas em nome do crescimento 
populacional e divididas em castas sociais que são pré-determinadas a partir da quantidade 
de hormônios que recebem e que definem a qual classe pertencem, assim, as que são 
destinadas a serem líderes, recebem os coquetéis que favorecem tanto suas características 
físicas como mentais, enquanto aqueles que irão se tornar trabalhadores braçais recebem 
coquetéis que os causarão algumas imperfeições: 
 
Essa sociedade não possui ética religiosa e valores morais. Qualquer dúvida e 
insegurança dos cidadãos era dissipada com o consumo da droga sem efeito 
colateral aparente chamada “soma”. As crianças têm educação sexual desde os 
mais tenros anos da vida. O conceito de família também não existe. O livro traça o 
contraste entre o ‘moderno” e o “atrasado”, tecendo críticas pungentes ao 
desenvolvimento “prodigioso” da ciência, que, segundo o autor, ao contrário de 
promover benesses à sociedade, contribuiu para o surgimento de diversos 
problemas de ordem social que posteriormente não seriam resolvidos. Sob esta 
perspectiva, a personagem John – “o Selvagem” – confronta-se diretamente com o 
mundo moderno, reiterando a impossibilidade de convivência entre o 
tradicionalismo e o mundo da ciência. Neste Mundo Novo a reprodução humana 
está inteiramente baseada na reprodução artificial. Dependendo da classe genética 
a que determinado grupo pertencia (Alfa+, Alfa, Beta+, Beta, Gama, Delta ou 
Épsilon), eram tratados com substâncias diferentes durante a gestação. (RIBEIRO, 
2012) 
 
Nesse contexto, as regras morais são transmitidas nos mesmos moldes que as 
propagandas publicitárias fazem hoje para vender produtos, mas, em vez disso, são 
passadas informações que reforcem os ideais do Estado e indiquem quantas doses da 
droga Soma eram necessárias para que as pessoas se mantivessem felizes. 
 
Com forte crítica social ao consumismo e a alienação e altamente influenciado por 
H.G, Wells, Huxley fez outras previsões assustadoramente plausíveis e que se 
concretizaram nos últimos anos além da fecundação e gestação in vitro e da fragmentação 
das relações. Ele também previu a manipulação genética, experiência 4D no cinema e 
fanatismo religioso. 
 
 
67 História da Literatura Anglófona 
 
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Assim como os outros clássicos da literatura anglófona, Admirável mundo 
novo também virou filme e influenciou produções teatrais e diversos livros. 
Conheça mais sobre as suas incríveis previsões: https://blog.poemese.com/7-
previsoes-de-aldous-huxley/ 
 
 
9.3. George Orwell 
George Orwell (1903-1950) era o pseudônimo do romancista e crítico Eric Arthur 
Blair e foi aluno de Aldous Huxley. Conhecido por obras como A Revolução dos Bichos 
(1945) e 1984 (1949), suas histórias traziam forte crítica política e social, de forma que 
mesmo hoje, seus livros figurem entre as listas de mais vendidos. Em 2017, pós-eleição de 
Donald Trump nos Estados Unidos, 1984 esgotou em todas as livrarias, o que indica que 
obras distópicas podem nos fornecer meios de compreender uma realidade que parece 
muitas vezes mais surreal que a ficção. 
 
Ainda que a Revolução dos bichos tivesse o intuito de criticar a revolução russa, as 
relações entre os animais que se revoltam e tomam a fazenda onde vivem por estarem 
cansados de serem explorados ilustra a forma como a corrupção e a vaidade se 
estabelecem na medida que certos animais (pessoas) têm acesso ao poder. 
 
Já 1984, traz uma forte crítica aos sistemas totalitários onde os indivíduos não 
possuem mais privacidade e nem podem exercer seu livre arbítrio. Com dispositivos 
conhecidos como Teletelas, as pessoas são vigiadas o tempo todo pelo “grande irmão (big 
brother) de forma que qualquer ação fora da norma seja passível de punição. Por meio de 
técnicas de lavagem cerebral, as pessoas não pensam mais por si mesmas e se tornam 
obedientes às regras impostas pelo grande irmão e difundidas pelo Partido, que difunde 
slogans dúbios e controla a linguagem. Frases como “Guerra é paz, escravidão é 
libertadora e ignorância é força” são repetidas à exaustão e os comportamentos são 
vigiados por meio de uma polícia extremamente opressora: 
 
O ideal criado pelo partido era enorme, terrível, luzidio – um mundo de aço e 
concreto, de monstruosas máquinas e armas aterrorizantes – uma nação de 
guerreiros e fanáticos, marchando avante em perfeita unidade, todos tendo 
os mesmos pensamentos e gritando as mesmas divisas – trezentos milhões 
com a mesma cara – trabalhando perpetuamente, lutando, triunfando, 
https://blog.poemese.com/7-previsoes-de-aldous-huxley/
https://blog.poemese.com/7-previsoes-de-aldous-huxley/
 
 
68 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
perseguindo. A realidade eram cidades caindo em ruínas, escuras, onde o 
populacho subnutrido perambulava com sapatos furados, vivendo em 
remendadas casas do século dezenove que sempre cheiravam a repolho e 
latrinas de mau funcionamento. (ORWELL, 2009, pg. 93) 
 
Essas duas obras seguem extremamente atuais e continuam sendo objetos de 
estudo de várias áreas do conhecimento como sociologia, ciências políticas, psicologia e 
servem de base para diversas reflexões sobre capitalismo, autoritarismo, comunismo e 
totalitarismo. Não à toa, estão entre as leituras obrigatórias nas recomendações de diversas 
listas literárias. 
 
9.4. Virginia Woolf 
A produção de Virginia Woolf (1882- 1941) destoa das demais produções citadas 
nesse capítulo por não seguirem o mesmo estilo literário. Ainda assim, tanto em sua vida 
pessoal como em suas obras, ela foi extremamente crítica ao contexto no qual estava 
inserida, chegando a se manifestar de forma que hoje entenderíamos como feminista. 
Como crítica literária, seu foco era a rigidez com que a academia recebia alguns dos livros 
publicados em sua época. 
 
Vítima de depressão, ela se suicidou e parte de sua vida e obra foram retratadas em 
filmes como As Horas (2005) e Vita e Virginia (2018). 
 Virginia Woolf 
 
 
69 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Entre suas principais obras estão Mrs. Dalloway, Orlando e o Farol. Certamente, Mrs. 
Dalloway é uma das mais conhecidas devido às inúmeras adaptações para o teatro e 
cinema. 
 
A obra retrata os conflitos internos de uma esposa enquanto dá conta dos 
preparativos para uma festa onde os personagens mais importantes da sua vida, e que são 
apresentados ao leitor por meio de flashbacks, estarão presentes. Os eventos do livro são 
narrados usando o recurso do fluxo de consciência da protagonista em um único dia de sua 
vida: 
 
Trecho de Mrs. Dalloway25 
 
O próprio Sir William não era mais jovem. Ele trabalhou muito; ele havia conquistado 
sua posição por pura habilidade. . . amou sua profissão; fez boa figura nas cerimônias e 
falou bem - tudo isso na época em que ele foi cavaleiro lhe deu um olhar pesado, um olhar 
cansado (o fluxo de pacientes sendo tão incessante, as responsabilidades e privilégios de 
sua profissão tão onerosos), o que o cansaço, junto com seus cabelos grisalhos, aumentou 
a extraordinária distinção de sua presença e lhedeu a reputação (da maior importância no 
tratamento de casos nervosos) não apenas de habilidade relâmpago, e precisão quase 
infalível no diagnóstico, mas simpatizante; tato; compreensão da alma humana. Ele viu o 
primeiro momento em que entraram na sala. . . ele estava certo de que viu o homem; foi 
um caso de extrema gravidade. Foi um caso de colapso completo - colapso físico e nervoso 
completo, com todos os sintomas em um estágio avançado, ele constatou em dois ou três 
minutos (escrevendo respostas às perguntas, murmurou discretamente, em um cartão 
rosa). 
 
"Você serviu com grande distinção na guerra?" 
 
O paciente repetiu a palavra "guerra" interrogativamente. 
 
Ele estava atribuindo significados a palavras de um tipo simbólico. Um sintoma sério, 
a ser anotado no cartão. 
 
25 https://journals.lww.com/academicmedicine/fulltext/2010/03000/Mrs__Dalloway___Excerpt_.26.aspx - 
Tradução nossa 
https://journals.lww.com/academicmedicine/fulltext/2010/03000/Mrs__Dalloway___Excerpt_.26.aspx
 
 
70 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
"A guerra?", perguntou o paciente. A Guerra da Europa - aquela pequena treta de 
estudantes com pólvora? Ele serviu com distinção? Ele realmente esqueceu. Na própria 
guerra, ele falhou. 
 
"Sim, ele serviu com a maior distinção", assegurou Rezia ao médico; "Ele foi 
promovido." 
 
Ele havia cometido um crime terrível e foi condenado à morte pela natureza humana. 
 
"Eu cometi um crime", ele começou. 
"Ele não fez nada de errado", assegurou Rezia ao médico... Seu marido estava 
gravemente doente, disse Sir William. Ele ameaçou se matar? 
 
Oh, ele fez, ela chorou. Mas ele não quis dizer isso, ela disse. Claro que não. Era 
apenas uma questão de descanso, disse Sir William; de descanso, descanso, descanso; 
um longo descanso na cama. Havia uma casa deliciosa no país onde seu marido seria 
perfeitamente cuidado. Longe dela? – ela perguntou. Infelizmente sim; as pessoas que mais 
cuidamos não são boas para nós quando estamos doentes. Mas ele não estava bravo, 
estava? Sir William disse que nunca falou de "loucura"; ele chamou isso de não ter um 
senso de proporção. Mas o marido não gostava de médicos. Ele se recusaria a ir para lá. 
Em breve e gentilmente Sir William explicou a ela o estado do caso. Ele ameaçou se matar. 
Não havia alternativa... se a sra. Warren Smith tivesse certeza de que não tinha mais 
perguntas a fazer - ele nunca apressava os pacientes -, eles retornariam ao marido. Ela 
não tinha mais nada a perguntar, não a Sir William. 
 
Então eles voltaram. . . para Septimus Warren Smith "Tivemos nossa conversa", 
disse Sir William. 
 
"Ele diz que você está muito, muito doente", gritou Rezia. 
 
"Estamos providenciando para que você entre em uma casa", disse Sir William... 
 
"Onde vamos ensiná-lo a descansar." 
 
 
 
71 História da Literatura Anglófona 
 
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– Às vezes, impulsos o atingiam? – perguntou Sir William, com o lápis em um cartão 
rosa. 
 
Isso era assunto dele, disse Septimus... 
 
Mas se ele confessou? Se ele se comunicasse? Eles o libertariam então, seus 
torturadores? 
 
"Eu-eu-" ele gaguejou. 
 
Mas qual foi o crime dele? Ele não conseguia se lembrar disso. 
 
"Sim?" Sir William o encorajou. (Mas estava ficando tarde.) 
 
Amor, árvores, não há crime – qual era a mensagem dele? 
Ele não conseguia se lembrar disso. 
 
"Eu-eu-" Septimus gaguejou. 
 
"Tente pensar o mínimo possível sobre você", disse Sir William, gentilmente. 
Realmente, ele não estava preparado para ser. 
 
Havia mais alguma coisa que eles desejassem perguntar a ele? Sir William faria 
todos os arranjos... "Confie em mim", ele disse, e os dispensou. 
 
Nunca, nunca Rezia sentira tanta agonia em sua vida! Ela pediu ajuda e foi 
abandonada! Ele falhou com eles! Sir William Bradshaw não era um homem legal... 
 
Ela se agarrou ao braço dele. Eles estavam desertos. 
 
Obras que exploram o fluxo de consciência dos personagens proporcionam grande 
sensação de imersão no leitor, pois é como se ele mesmo estivesse narrando a história que 
lê. Esse recurso narrativo nos possibilita enxergar o mundo a partir do olhar do outro, ou 
seja, é um exercício de empatia, sentimento que tem se tornado uma das palavras mais 
usadas nos últimos anos. 
 
 
72 História da Literatura Anglófona 
 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Assim, chegamos ao final desse módulo tendo conhecido apenas alguns dos autores 
mais influentes da literatura anglófona e que representam diversos períodos e estilos de 
narrativas, indicando que há histórias para todos os gostos. Qual foi o autor que mais lhe 
chamou a atenção? 
 
 
 
 
 
FERRO, Jeferson. Introdução às literaturas de língua Inglesa. InterSaberes, 
2014. 
 
RIBEIRO, Assis. Uma análise sobre o livro Admirável mundo novo. Coluna Luis 
Nassif – Jornal GGN. 2012. Disponível em: alggn.com.br/cultura/uma-analise-
sobre-o-livro-admiravel-mundo-novo/> Acesso em dez. 2019.

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