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1 CONSTRUÇÃO CIVIL SUSTENTÁVEL COM ESTRUTURAS EM MADEIRAS E O USO ESPECÍFICO DOS PILARES RÚSTICOS NA PROPRIEDADE RURAL Alexsandro Carlos de Oliveira1 Allan Miranda Pereira2 1. RESUMO Esta síntese relata a construção de uma residência em madeira na propriedade rural denominada Estância Recanto Jamari, bem como mencionar de forma específica a importância da madeira na construção civil e o uso em pilares e demais estruturas, sobretudo a escolha de espécies, secagem, tratamento biológico quando necessário, e execução do projeto civil de acordo com a NBR 7190. Palavras-chave: Madeira. Propriedade. Rural. Pilares. Construção 2. INTRODUÇÃO A madeira é um dos materiais mais utilizados na construção civil, principalmente em propriedades rurais, pois ela possui propriedades resistentes trazendo resultados positivos aumentando seu uso na construção definitiva pois apresenta características de resistência, durabilidade, sustentabilidade e economia de energia. Mesmo em construções em alvenaria com estruturas em concreto armado ou estruturas metálicas, seu uso é indispensável pois é muito utilizada nas estruturas provisórias, tais como: escoras, andaimes, caixarias para confecção de estruturas de concreto armado e etc. Existem alguns desafios para a construção civil com estruturas em madeiras, talvez um dos maiores é vencer os mitos relacionados ao seu uso, tais como: falta de resistência, pouca durabilidade, insustentabilidade e vários outros mitos. Mas é importante relatar que existem desafios adversos, sendo estes considerados um fato relevante na construção, dentre esses podemos citar a variação de umidade e ações biológicas, processos que ocorrem após a conclusão da construção. 1 Acadêmico do curso de Engenharia civil, Centro Universitário ENIAC. e-mail: acoflorestal@gmail.com 2Professor (ou Mestre ou Especialista) dos cursos de Engenharia, Centro Universitário ENIAC. e-mail: allan.miranda@eniac.edu.br mailto:acoflorestal@gmail.com mailto:allan.miranda@eniac.edu.brm 2 Segundo relata o portal chaledemadeira.com (2021) a maior construção em madeiras do mundo foi feita na Noruega, sendo um prédio Wood Hotel, construído integralmente em madeiras local de reflorestamento, com 72 quartos, bem como um jardim externo, restaurante, bar, piscina, escritórios e instalações residenciais. O prédio tem supostamente a estrutura de madeira mais alta do mundo com 85,4 metros. Figura 1 – Prédio em madeira na Noruega “Wood Hotel” Fonte: Portal Chalédemadeira.com (2021) No Brasil há inúmeras espécies consideradas madeiras duras e de alto potencial para construção civil, essas espécies são classificas como madeira de lei, dicotiledônea ou folhosas de acordo com a NBR 7190. As mesmas são espécies que possuem mais durabilidade por apresentar propriedades de fibras com mais resistência e densidade. Enquanto as espécies coníferas são consideradas madeiras moles, “madeira branca” e são mais indicadas para o uso nas estruturas provisórias. Conhecer as espécies de madeiras mais utilizadas nas construções é extremamente importante, pois na construção temos a parte interna e externa da obra. No entanto faz-se necessário o uso de madeiras com melhor acabamento, inclusive algumas que apresentam em suas propriedades os desenhos das fibras, trazendo assim ao ambiente um fator esteticamente mais atraente. Levando em consideração os tratamentos biológicos quando necessários. Enquanto na parte externa, a classificação da madeira deve ser assegurada em durabilidade, densidade e 3 resistência. Segue abaixo a figura ilustrativa da espécie, bem como sua identificação botânica e beneficiamento na propriedade rural. Figura 2 – Árvore de Jequitibá-Rosa, identificação e serragem Fonte: Do autor (2020) 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Caracterizar a construção residencial e identificar os pontos positivos no uso de pilares e estruturas em madeira na propriedade rural. 3.2 Objetivos específicos Dentre estes estão os objetivos específicos citados abaixo: ● Caracterizar vantagens e desvantagens no uso de madeiras na propriedade rural; ● Caracterizar a sustentabilidade ambiental “madeira renovável e biodegradável” na propriedade rural; ● Caracterizar a agilidade, economia e resistência mecânica no uso da madeira na propriedade rural; 4 ● Analisar a densidade da espécie para o uso da madeira duradoura na construção civil na propriedade rural; ● Verificar o teor de umidade da madeira serrada, quanto a sua secagem e possíveis ataques de insetos, pragas e fungos; ● Analisar fatores anisotrópicos “radial, longitudinal, tangencial” ● Caracterizar esforços, contração e cisalhamento; ● Elaboração e execução da construção em madeira de acordo com a norma NBR 7190; 4. METODOLOGIA Para essa citação foi feita uma ampla pesquisa bibliográfica em livros técnicos que aborda assuntos relacionados a materiais, obras, principais construções em madeiras, livros botânicos com assuntos relevantes de classificações de espécies e anatomia da madeira. Além desses citados anteriormente temos a importância da aplicação da norma NBR 7190 na construção civil usando madeiras como matéria prima. Para a obtenção de dados experimentais foi feito uma experiência in loco com pesos sobre uma viga de madeira da espécie Cupiúba “Goupia glabra”, colocada sobre um terreno plano e posteriormente coletado os dados obtidos após os pesos sobre a viga em madeira, “flecha”. Também foi verificado o teor de umidade e secagem em diferentes ambientes e comparação entre as espécies dicotiledôneas e coníferas. 5. DESENVOLVIMENTO 5.1. LOCALIZAÇÃO DO PROJETO A construção está localizada na propriedade rural denominada Estância Recanto Jamari, Travessão B-50, da Linha C-110/115, munícipio de Itapuã do Oeste, estado de Rondônia. Com as coordenadas geográficas in loco, sedo longitude: - 63°13'08,907" e latitude -9°44'20,060" O projeto teve início em fevereiro de 2019, sob o sistema empírico. No entanto, no decorrer de sua execução foi aplicado os métodos e técnicas da NBR 7190, conhecimento adquirido durante o curso de Engenharia Civil cursado na instituição 5 educacional CENTRO UNIVERSITÁRIO - ENIAC, localizada no centro da cidade de Guarulhos, estado de São Paulo fundada em 12 de dezembro de 1985. O referido projeto foi concluído no ano seguinte, precisamente em julho de 2020. 5.2. ESCOLHA DAS ESPÉCIES PARA A CONSTRUÇÃO Conforme mencionado anteriormente, a escolha das espécies é extremamente importante, pois elas mudam suas propriedades físicas e mecânicas em relação a sua classificação botânica. Pela Botânica as árvores são subdivididas em gimnospermas e angiospermas. As árvores gimnospermas não apresentam frutos. A principal ordem das gimnospermas são as coníferas, cujas flores são ‘cones’ ou ‘estróbilos’. A maioria possui folhas em forma de agulha, denominadas como aciculifoliadas e raízes pivotantes, essas árvores apresentam madeira mole e são designadas internacionalmente por softwoods. Aparecem principalmente no hemisfério norte, constituindo grandes florestas plantadas, como por exemplo as espécies de pinus e a araucária. Nesta classificação as madeiras são consideradas moles, pois não são duráveis, mas podem ser empregadas em estruturas temporárias como escoramentos andaimes e caixarias para vigas de concreto armado. As dicotiledôneas são designadas como madeira dura e internacionalmente denominada de hardwoods, nesta categoria encontram-se as principais espécies utilizadas na construção civil no Brasil. As espécies escolhidas para a execução desse projeto, são classificadas como madeiras de lei “dicotiledônia” pois são espécies com propriedades mais duras, apresentam maior durabilidade e maior resistências para suporte de peso. Dentre elas estão as espécies citadas abaixo e suascaracterísticas de uso. Tais como sua classificação botânica. NOME VULGAR NOME CIENTIFICO FAMÍLIA DESTINAÇÃO Acariquara Minquartia guianensis Aubl. Olacaceae PILARES RÚSTICOS Açoita Cavalo Luehea sp. Tiliaceae MATAJUNTAS Angelim-pedra Hymenolobium petraeum Ducke Fabaceae PORTAIS E ESCADAS Cumaru Rosa Dipteryx polyphylla Huber Fabaceae FORROS Cupiúba Goupia glabra Aubl. Goupiaceae VIGAS/CAIBROS 6 Garapeira Apuleia molaris sp.ruce ex Benth. Fabaceae VIGAS 8X15 PORÃO Jequitibá-rosa Allantoma lineata (Mart. ex O.Berg) Miers Lecythidaceae TÁBUAS/MEIA TÁBUA/RIPAS Pequi Caryocar villosum (Aubl.) Pers. Caryocaraceae BERAL EXTERNO Roxinho Peltogyne lecointei Ducke Fabaceae ASSOALHO PORÃO Ucuubarana Iryanthera crassifolia A.C.Sm. Myristicaceae MATAJUNTAS 5.3. BENEFICIAMENTO E SECAGEM As espécies foram identificas e beneficiadas na própria propriedade rural, respeitando as legislação vigente estadual que determina a quantidade e métodos de exploração, sendo que a mesma foi beneficiada com a finalidade de uso na própria propriedade, sem fins de comercialização como determina a PL 195/2021. O desdobramento e beneficiamento das madeiras em toras foram executados com total segurança, garantindo o bem estar dos envolvidos nos trabalhos, tomando as medidas de segurança necessária, bem como o uso de equipamentos de proteção individual “EPI”, dentre eles podemos destacar o uso de capacete florestal, botas, óculos transparentes e mascara para evitar a inalação de poeiras da serragem. Após o beneficiamento as madeiras foram secadas em um local seco, fresco e bem ventilado. Sendo empilhadas de forma intercalada facilitando a circulação do vento entre as peças. Mas, no entanto, as mesmas poderão ser secadas de forma artificialmente com o devido uso de estufas, sob temperatura controlada. 5.4. PROJETO DA CONSTRUÇÃO A residência foi construída integramente com estruturas em madeiras, sendo algumas beneficiadas, mas a maioria rústica, principalmente seus pilares de sustentação de peso. Suas divisões somam, 3 quartos, sala, cozinha, banheiro social, hall de circulação, despensa, varanda “área aberta”, área de serviço, garagem e ainda um porão que fica acima da área de serviço, com acesso sobre escadas. Somando um total de 162,90m² térreo e 43,94m² de porão que fica acima da área de serviço. 7 Figura 3 – Planta baixa da residência Fonte: Do autor (2019) 8 5.5. FUNDAÇÃO / ESTRUTURAS Fundações ou alicerces são elementos que tem por finalidade transmitir as cargas de uma edificação para as camadas resistentes do solo sem provocar ruptura do terreno de fundação, podendo ser divididas em diretas (rasas e profundas) e indiretas (estacas). O cálculo de nossa fundação se baseia em diretas e rasas. O solo encontrado na construção ainda era virgem, sem ter tido nenhum tipo de alteração ou aterramento. O tipo de escavação para alicerce foi feito manualmente com início no subsolo e com uso te tijolos deitados pra aumentar a resistência mecânica dos mesmos, e posteriormente sua base aterrada para uma compactação sólida na construção. Figura 3 – Alicerce, estruturas e pilares rústicos em madeira. Fonte: Do autor (2019) 5.5. PRÉ DIMENSIONAMENTO DAS VIGAS NA COBERTURA As vigas utilizadas no projeto são da espécie Cupiúba “‘’Goupia glabra” na sua maioria com bitola de 6 x12 cm, com exceção das vigas de sustentação do porão, que após teste de resistência mecânica verificou-se que esta necessitava de ter uma bitola de 8x15 cm, pois dariam sustentação e suporte para receber o assoalho na parte aérea do porão. Essa espécie é considerada uma madeira pesada e dura, com cerne e alburno pouco distintos a indistintos, textura média e cheiro desagradável. Segundo IPT (1989) apud IPT (2009), com base na norma MB 26/53 da NBR 6230:1985, a madeira de Cupiúba possui densidade aparente de 870 kg.m-3 a 15% de umidade, densidade 9 básica de 710 kg/m3, contração radial de 4,8%, contração tangencial de 9,1% e contração volumétrica de 16,1%. Considerando ainda a umidade de 15%, a madeira de Cupiúba apresenta também resistência a flexão estática de 122,1 MPa e resistência a compressão paralela às fibras de 67,2 MPa. As vigas baldrame em madeira foram colocas acima do alicerce de tijolos, e travadas nos pilares rústicos de Acariquara bem como as vigas aéreas que foram suporte de peso e receberam a cobertura, que após uma análise de valores médios de carga que soma uma média de 100,00Kgf/m2, sendo necessário o espaçamento de 0.50 cm de largura de uma viga a outra, conforme fotos em anexo abaixo: Figura 4 – vigamentos na cobertura com 0.50 cm / Figura 5 – Foto com início da cobertura Fonte: Do autor (2019) 5.6. PORÃO O porão foi construído acima da área de serviço, sua sustentação foi feita sobre os pilares rústicos com a utilização de vigas na bitola 8x15 cm, da espécie Garapeira “Apuleia molaris”, sendo revestido no seu interior com a paredinha de forro de Cumaru Rosa “Dipteryx polyphylla Huber”, trazendo um acabamento fino e atraente, no assoalho ficou a espécie Roxinho “Peltogyne lecointei Ducke” pois possui densidade e propriedades resistentes a ruptura de suas fibras. A escada para acesso ao porão, foi construído no canto da área de serviço, para este foi utilizado a madeira de Angelim Pedra “Hymenolobium petraeum Ducke” facilitando o beneficiamento em plainas das peças que foram utilizadas na construção da escada. Conforme fotos em anexo: 10 Figura 6 – Escada com madeira de “Angelim Pedra” beneficiadas e plainadas Fonte: Do autor (2023) 5.7. USO DOS PILARES RÚSTICOS O pilar é um elemento resistente que carrega consigo uma grande responsabilidade, pois todos os esforços de um edifício passam pelos pilares. É dimensionado para resistir a solicitações externas, como o vento, a chuva e o tráfego de pessoas ou objetos que possam vir a acarretar um esforço para a estrutura. Sabendo-se de todas essas funções em relação ao pilar, fica evidente que uma falha nessa peça gera uma situação insegura e pode levar à estrutura do edifício ao colapso. As fotos abaixo com pilares de Acariquara “Minquartia guianensis” mostram claramente sua rusticidade bem como sua resistência. Figura 7 – Pilares rústicos de “Acariquara” e visão interna da escada de “Angelim Pedra” Fonte: Do autor (2023) 11 6. RESULTADOS A madeira é utilizada na construção civil desde muito tempo, tendo em consideração que seu uso iniciou desde a antiguidade, ou seja, antes da regulamentação da NBR 7190, e atualmente com as técnicas e métodos regulamentados a construção ocorre com total segurança. Figura 8 – Visão lateral da construção, área externa, cozinha rústica e visão do porão Fonte: Do autor (2023 6.1. RESULTADOS POSITIVOS Dentre os resultados obtidos nesse projeto podemos destacar os principais abaixo: • Redução na quantidade de resíduos sólidos na propriedade rural; • Maior economia na propriedade rural; • Decoração rústica, no ambiente rural; • Projeto mais sustentável com recursos renováveis; • Mais agilidade na execução; • Facilidade de logística no empreendimento rural; 6.2. RESULTADOS NEGATIVOS • Manutenção e aplicação de elementos biológicos contra insetos; • Insetos e ataques biológicos se não houver um tratamento adequado; • Ruídos e outros que poderão ocorrer; 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 12 Com o aperfeiçoamento dos processos conclui-se que os inconvenientes que traziam pontos negativos à madeira fossem anulados, principalmente através das várias e frequentes pesquisas que são realizadas sobre a madeira e que atestam a eficácia do seu uso na construção civil. Além disso, por ser um material natural e renovável, a madeira é favorecida em relação às preocupações ambientais e economia de energia, visto que paraseu processamento se exige baixo consumo energético. De maneira geral, a madeira, um material natural que tem sido utilizado por milênios, é hoje uma excelente opção para ser usada na construção civil, pois além de deixar trazer benefícios para o meio ambiente e atender a exigências sustentáveis, garante, se usada seguindo as normas que regem o uso desse material, segurança, durabilidade, isolamento térmico/acústico, entre outros. Figura 9 – Foto frente da casa na “Estância Recanto Jamari” Fonte: Do autor (2023) 8. FONTES CONSULTADAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2011. http:site. estruturasdemadeira.blogspot.com/2012/05/pre-dimensionamento-de-vigas- de-madeira.html# ESPECIES ARBOREAS BRASILEIRAS VOLUME I, II E III, Paulo H. Ramalho Carvalho, Embrapa Informação Tecnológica, Brasília DF 2006. Materiais de Construção Civil, DEPARTAMENTO DE CONSTRUCAO CIVIL, Prof. Esp. Benedito Ribeiro, Métodos de Tratamento da Madeira, VOLUME III, 2.013. http://estruturasdemadeira.blogspot.com/2012/05/pre-dimensionamento-de-vigas-de-madeira.html http://estruturasdemadeira.blogspot.com/2012/05/pre-dimensionamento-de-vigas-de-madeira.html
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