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Direito dos Idosos e das Pessoas com Deficiência Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Estatuto da Pessoa com Deficiência – 2ª Parte • Direitos Fundamentais da Pessoa com Deficiência • Acesso à Justiça • Crimes Contra a Pessoa com Deficiência • Conclusões · Verificar como os Direitos Fundamentais da pessoa com deficiência são tratados pela Lei brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. · Os Direitos Fundamentais estão previstos na Constituição Federal; contudo, cabe à Lei o papel de detalhar como eles devem ser exercidos e, principalmente, nesse caso, qual é o papel do Poder Público, da família e da sociedade para que eles se tornem efetivos. · Outro destaque deve ser dado à criação pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência de mecanismos de maior acesso à Justiça, o que sempre é desejável em uma Legislação protetiva, visto que, historicamente, os direitos desse grupo social foram sistematicamente esquecidos e desconsiderados. OBJETIVO DE APRENDIZADO Estatuto da Pessoa com Defi ciência – 2ª Parte Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 2ª Parte Direitos Fundamentais da Pessoa com Deficiência Os Direitos Fundamentais são direitos humanos reconhecidos pela ordem jurídica interna, que os insere no texto da Constituição Federal fazendo com que eles ga- nhem relevante expressão. Assim, eles devem ser respeitados nas relações entre o Estado e os particulares e, também, nas relações que envolvam somente particulares. Em geral, as constituições somente enunciam esses direitos, cabendo às Leis o papel de detalhar a forma como eles devem ser usufruídos por todos. Considerando essas informações, podemos apresentar a seguinte questão: As pessoas com deficiência possuem os mesmos direitos fundamentais das demais pessoas de nossa sociedade?Ex pl or Em primeiro lugar, não podemos esquecer que os Tratados e as Convenções Internacionais de Direitos Humanos internalizados, obedecendo aos requisitos estabelecidos no § 3º do Artigo 5º da Constituição Federal, ingressam no nosso ordenamento jurídico como normas constitucionais. Assim, os direitos firmados por essas normas internacionais são também considerados entre os Direitos Fundamentais. Nesse particular, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo são os primeiros desses instrumentos internacionais de Direitos Humanos que atendem, sem qualquer questionamento, às normas do § 3º do Artigo 5º de nossa Carta Política. Dessa forma, considerando as pessoas com deficiência, temos a seguinte situação: • Elas gozam dos Direitos Fundamentais a todos deferidos, tais como o direito à vida, à liberdade religiosa, a liberdade de expressão etc.; • Tendo esse grupo social como destinatário, foram criados específicos Direitos Fundamentais, seja no texto constitucional, seja na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo. Nesse contexto, cabe ao Estatuto da Pessoa com Deficiência e outras normas detalhar como esses direitos devem ser exercidos e respeitados. Direito à Vida O mais importante dos direitos não poderia deixar de ser expressamente mencionado. Assim, cabe ao Poder Público não somente garanti-lo, mas ele tem também o dever de criar estratégias e ações para que seja fruído com dignidade pela pessoa com deficiência. 8 9 A garantia do direito à vida é particularmente importante em situações de risco, tais como em emergências e calamidades públicas. Nessas situações, a pessoa com deficiência deve ser considerada vulnerável, devendo receber especial atenção para sua proteção e segurança. O respeito à dignidade dessas pessoas implica não as obrigar a serem submetidas a intervenções médicas (clínicas ou cirúrgicas), a tratamentos ou à institucionalização forçada, sendo imprescindível colher seu consentimento prévio, livre e esclarecido para que essas providências ocorram – quando forem realmente necessárias. Contudo, o Estatuto dispõe que esse prévio consentimento não se faz necessário em situações de risco de morte e de emergências em Saúde, sem prejuízo da adoção de eventuais medidas cabíveis, particularmente, nos casos de abuso de sua situação. Direito à Saúde O direito à Saúde é exercido por meio: • Do acesso universal, gratuito e igualitário por meio do SUS – Sistema Único de Saúde, em todos os níveis de complexidade; • De Planos e Seguros de Saúde. Para que as demandas específicas sejam sempre consideradas dentro do que é realmente importante, o Estatuto garante que as pessoas com deficiência participem na elaboração de políticas de Saúde voltadas a elas. Além dos cuidados com a pessoa com deficiência, o SUS deve desenvolver medidas para a prevenção de deficiências evitáveis. Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 19. Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à prevenção de deficiências por causas evitáveis, inclusive por meio de: I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, com garantia de parto humanizado e seguro; II - promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e cuidado integral dos agravos relacio- nados à alimentação e nutrição da mulher e da criança; III - aprimoramento e expansão dos programas de imunização e de tria- gem neonatal; IV - identificação e controle da gestante de alto risco. Em relação aos Planos e Seguros de Saúde, há duas importantes disposições no Estatuto: • As empresas que administram esses planos devem garantir à pessoa com defici- ência, no mínimo, os mesmos serviços e produtos ofertados aos demais clientes; 9 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Defi ciência – 2ª Parte Há a vedação de qualquer forma de cobrança diferenciada em razão da condição da pessoa com deficiência. Se a pessoa com deficiência estiver internada ou em observação em um estabelecimento, públi- co ou privado, de atendimento à Saúde, tais como hospitais, é-lhe garantido o direito de um acompa- nhante ou atendente pessoal. Integra as disposições do Estatuto sobre a Saú- de a determinação para que os serviços públicosou privados de Saúde comuniquem à autoridade policial, ao Ministério Público e aos Conselhos dos Direitos da Pessoa com Deficiência os casos em que houver a suspeita ou confirmação de violência praticada contra a pessoa com deficiência. Atendente pessoal: pes- soa, membro ou não da família que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou os procedimentos iden- tificados com profissões legalmente estabelecidas (Inciso XII do Artigo 3º) Em termos práticos, é muito comum que violência a grupos vulneráveis de nos- sa população acabe vindo à luz em situações de atendimento na área da Saúde, razão pela qual estabelecer esse dever em relação às pessoas com deficiência é muito importante. Para que não haja dúvida, o Estatuto define o que deve ser considerado violência: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 26 [...] Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra a pessoa com deficiência qualquer ação ou omissão, praticada em local público ou privado, que lhe cause morte ou dano ou sofrimento físico ou psicológico. Direito à Habilitação e à Reabilitação O Estatuto estabelece o direito de a pessoa com deficiência ter acesso ao proces- so de habilitação e de reabilitação, sendo ele definido da seguinte forma: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 14. [...] Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabilitação tem por objetivo o desenvolvimento de potencialidades, talentos, habilidades e aptidões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais e artísticas que contribuam para a conquista da autonomia da pessoa com deficiência e de sua participação social em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas. 10 11 O acesso ao processo de habilitação e de reabilitação é um passo importante para que muitas das pessoas com deficiência tenham maior capacidade de contornar diversas barreiras. Esse processo não elimina a deficiência, mas cria condições para que a pessoa com deficiência tenha maior autonomia e possa, em igualdade de condições, desenvolver uma vida de forma autônoma. Essa autonomia possibilita maior inclusão e condições para sua maior mobilidade e fornece destacados elementos para que ela possa exercer uma profissão. Direito à Educação A Constituição Federal (Artigo 205) estabelece que a Educação é direito de todos e dever do Estado e da família, sendo realizada para atingir os seguintes objetivos: • Pleno desenvolvimento da pessoa; • Seu preparo para o exercício da cidadania; • Qualificação para o trabalho Se ela é importante para todas as pessoas, é claro que o papel da Educação para a pessoa com deficiência é ainda mais relevante e destacado, especialmente quando observamos que, historicamente, esse importante grupo social teve sistematicamente muitas dificuldades de acesso à Educação adequada e inclusiva. Particularmente, em relação ao acesso à Educação, a Constituição Federal estabelece que o Estado deve prover o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na Rede Regular de Ensino, ou seja, junto com os demais alunos (Artigo 208, Inciso III). Seguindo essa linha, o Estatuto estabelece que a Educação constitui direito da pessoa com deficiência, devendo o Sistema Educacional ser inclusivo em todos os níveis. Isso não deve ocorrer somente no Ensino Fundamental, mas deve ser uma diretriz a ser seguida em todos os níveis educacionais. Assim, é dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar Educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. Para que esse direito à acessibilidade se efetive, são necessárias providências por parte de todas as instituições educacionais, públicas e privadas, tais como a adequação de processos seletivos nos quais deve ocorrer a disponibilização: • Das provas em formatos acessíveis para atendimento às necessidades especí- ficas do candidato com deficiência; • De meios acessíveis para os locais de sua realização; • De recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequada, previamente solicitados e escolhidos pelo candidato com deficiência. 11 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 2ª Parte Direito à Moradia A pessoa com deficiência tem direito à moradia digna, sendo que isso pode ocorrer: • Com sua família natural ou substituta; • Com seu cônjuge ou companheiro; • Desacompanhado; • Em moradia para a vida independente da pessoa com deficiência; • Em residência inclusiva. Sobre essas últimas duas formas, o Estatuto apresenta as seguintes definições: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: [...] X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas) localizadas em áreas residenciais da comunidade, com estruturas adequadas, que possam contar com apoio psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiência, em situação de dependência, que não dispõem de condições de autossustentabilidade e com vínculos familiares fragilizados ou rompidos; XI - moradia para a vida independente da pessoa com deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes de proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens e adultos com deficiência; Para criar maior acesso a esse grupo social a uma moradia digna e que atenda às suas necessidades, nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria. Nesses programas, no mínimo 3% das unidades habitacionais devem ser destinados para a pessoa com deficiência. Em todas as edificações multifamiliares, tais como em condomínios residenciais, deve ser garantida a acessibilidade da pessoa com deficiência nas áreas de uso comum. Direito ao Trabalho O trabalho é imprescindível para que haja a plena inclusão da pessoa com de- ficiência. Dessa forma, ela tem direito ao exercício de uma profissão de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportuni- dades com as demais pessoas. 12 13 Essa igualdade se refere, inclusive, ao direito de igual remuneração por trabalho de igual valor. Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 34 [...] § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência e qualquer discriminação em razão de sua condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames admissional e periódico, permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão plena. Direito à Assistência e Previdência Social As ações públicas de Assistência Social em relação às pessoas com deficiência e suas famílias tem por objetivo estabelecer garantias de/do: • Segurança de renda; • Acolhida; • Habilitação e da reabilitação; • Desenvolvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária. Tudo isso voltado para a promoção do acesso a seus direitos e da plena partici- pação social. Entre as medidas, especificamente voltadas à garantia de renda, está a possibilidade de concessão de benefício assistencial mensal de 1 salário-mínimo, nos casos em que a pessoa com deficiência não tiver meios de prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família. No âmbito da Previdência Social, a pessoa com deficiência pode se beneficiar de critérios distintos de aposentadoria firmados pela Lei, em respeito à sua parti- cular situação. Direito à Cultura, ao Esporte, ao Turismo e ao Lazer Importante elemento para a plena inclusão da pessoa com deficiência é o respeito que se deve ter ao seu direito à cultura, ao esporte,ao turismo e ao lazer, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Isso se faz, em especial, com a garantia de acesso a bens culturais, a Programas de Televisão, Cinema, Teatro e outras atividades culturais e desportivas. Decorre dessa garantia de acesso a necessidade de eliminação de barreiras físicas e urbanísticas em monumentos e locais de importância cultural e espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos. 13 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 2ª Parte Além desse direito de acesso, a pessoa com deficiência tem a garantia de pode estar acompanhada por, no mínimo, um acompanhante, nesses locais: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte, locais de espetáculos e de conferências e similares, serão reservados espa- ços livres e assentos para a pessoa com deficiência, de acordo com a ca- pacidade de lotação da edificação, observado o disposto em regulamento. (...) § 3º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem situar-se em locais que garantam a acomodação de, no mínimo, 1 (um) acompanhante da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, resguardado o direito de se acomodar proximamente a grupo familiar e comunitário. Essas exigências não podem gerar cobrança de ingresso com valor superior para as pessoas com deficiência. Direito ao Transporte e à Mobilidade A efetivação de diversos dos direitos fundamentais voltados especificamente para as pessoas com deficiência ficaria comprometida se não houvesse preocupação com a mobilidade e acessibilidade nos diversos meios de transporte. Com esse escopo, o Estatuto deixa claro o direito ao transporte acessível e à mobilidade para a pessoa com deficiência, sendo que ele deve ser desenvolvido em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, por meio de identificação e de eliminação de todos os obstáculos e barreiras ao seu acesso. Nas áreas de estacionamento aberto ao público, públicas ou privadas de uso coletivo, e em vias públicas, é obrigatória a reserva de vagas para veículos que trans- portem pessoas com deficiência com comprometimento de mobilidade. Essas vagas devem estar próximas aos acessos de circulação e entrada de edificações e possuir identificação. A quantidade de vagas deve corresponder a 2% do total de vagas de estacionamento, devendo ser garantida, no mínimo, uma vaga em tais locais. Os veículos que utilizam as vagas reservadas devem exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial de beneficiário, que deve ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de trânsito. A utilização indevida dessas vagas, mesmo em áreas privadas de uso coletivo (tais como em supermercados, lojas e shopping centers), caracteriza a prática de infração de trânsito gravíssima e a aplicação das sanções previstas no Código Brasileiro de Trânsito, no caso, multa e remoção do veículo. 14 15 Código de Trânsito Brasileiro Art. 181. Estacionar o veículo: (...) XX - nas vagas reservadas às pessoas com deficiência ou idosos, sem credencial que comprove tal condição: Infração - gravíssima; Penalidade - multa; Medida administrativa - remoção do veículo. As pessoas com deficiência devem ter prioridade de embarque e desembarque nos veículos de transporte coletivo, sendo que essas operações devem se desenvolver com segurança. Nas frotas de empresas de táxi deve haver a reserva de, pelo menos, 10% de seus veículos com acessibilidade à pessoa com deficiência. Em todas as formas de transporte, inclusive em táxis, é vedada a cobrança de adicionais ou qualquer forma de acréscimo para a prestação de serviço para as pessoas com deficiência. No caso das locadoras de veículos, a cada conjunto de vinte veículos de sua frota, um deles deve ser adaptado para o uso de pessoa com deficiência. Acesso à Justiça Em nossa sociedade, normalmente, os direitos estabelecidos em Lei são res- peitados, muito embora nem sempre seja essa a percepção que as pessoas pos- suem. Há, contudo, muitas situações em que se faz necessário buscar no Poder Judiciário a efetividade de direitos, particularmente quando esse respeito espon- tâneo não ocorre. Isso não afeta somente as pessoas com deficiência, mas todos nós! Como no caso das pessoas com deficiência, em que o Poder Público deve zelar para que elas possuam pleno acesso às instalações judiciárias e seus servi- ços, mesmo que se façam necessárias adaptações e a aplicação de recursos de tecnologia assistiva. Esse direito de acesso deve ser assegurado às partes do processo, testemunhas, advogados, defensores públicos, juízes e membros do Ministério Público que tenham alguma deficiência ou mobilidade reduzida. Outra medida que objetiva a garantir o respeito das normas do Estatuto da Pessoa com Deficiência é a atribuição de responsabilidade para que a Defensoria Pública e o Ministério Público tomem as medidas necessárias para que isso ocorra. 15 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 2ª Parte Em relação às pessoas com deficiência que são autoras de crimes, estabelece o Estatuto que os direitos nele previstos devem ser garantidos quando da aplicação das sanções penais. Crimes Contra a Pessoa com Deficiência Em certas situações, condutas praticadas contra os direitos da pessoa com deficiência podem se mostrar extremamente graves em virtude de se confrontarem com a dignidade que elas e todas as demais pessoas possuem. Nesses casos, pode estar caracterizada a prática de crimes. O Estatuto prevê algumas infrações penais (crimes) praticados contra pessoas desse grupo social; contudo, há também disposições do Código Penal (e de outras Leis penais) igualmente aplicáveis a esses casos. Considerando essas informações, em relação aos crimes praticados contra pessoa com deficiência, podemos ter as seguintes situações: • As pessoas com deficiência são protegidas por disposições penais gerais que protegem todos em relação a determinadas condutas que se caracterizam como crime. É o que ocorre com o crime de furto, roubo, estelionato e tan- tos outros; • Há disposições penais especificamente criadas para gerar maior proteção às pessoas com deficiência, sendo que em relação a elas: » Há crimes previstos no Código Penal em que, se a vítima for uma pessoa com deficiência, a pena é aumentada, tal como no crime de “Frustração de direito assegurado por Lei trabalhista”. Código Penal Frustração de direito assegurado por lei trabalhista Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: Pena - detenção, de 1 (um) ano a 2 (dois) anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (...) § 2º - A pena é aumentada de 1/6 a 1/3 (um sexto a um terço) se a vítima é menor de 18 (dezoito anos), idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. » Há crimes previstos no Estatuto em que a vítima, necessariamente, deve ser uma pessoa com deficiência. 16 17 Crimes previstos no Estatuto da Pessoa com Defi ciência Os crimes do Estatuto da Pessoa com Deficiência são todos de Ação Penal Pública Incondicionada. Isso faz com que a apuração deles se realize independentemente da vontade de qualquer das pessoas envolvidas, mesmo que se trate da vítima. Isso é importante pois, em muitos casos, o autor da infração penal é pessoa próxima da pessoa com deficiência, havendo a possibilidade de que, por essa razão, não se deseje a instauração de Inquérito Policial ou de Processo Criminal, o que, invariavelmente, acarreta a continuidade dos abusos contra a vítima. Esses crimes se relacionam com: • Graves discriminações contra a pessoa com deficiência; • Crimes relacionados a abuso contra pessoa com deficiência que geram desvios e apropriação de seus bens; • Crimes de abandono de pessoa com deficiência. Vamos conhecer essas infrações penais. Crimes relacionados à discriminação da pessoa com deficiência: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminaçãode pessoa em razão de sua deficiência: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. § 1º Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima encontrar-se sob cuidado e responsabilidade do agente. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste artigo é cometido por intermédio de meios de comunicação social ou de publicação de qualquer natureza: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do material discriminatório; II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na internet. § 4º Na hipótese do § 2o deste artigo, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. 17 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 2ª Parte Crimes relacionados a abuso contra pessoa com deficiência que geram desvios e apropriação de seus bens: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão, benefícios, remuneração ou qualquer outro rendimento de pessoa com deficiência: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se o crime é cometido: I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; ou II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou de profissão. Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento de pessoa com deficiência destinados ao recebimento de benefícios, proventos, pensões ou remuneração ou à realização de operações financeiras, com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se o crime é cometido por tutor ou curador. Crimes de abandono de pessoa com deficiência: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover as necessidades básicas de pessoa com deficiência quando obrigado por lei ou mandado. Conclusões A criação do Estatuto da Pessoa com Deficiência veio a preencher uma destacada lacuna em nosso Direito e nas práticas de nossa sociedade em relação ao tratamento que deve ser dispensado a esse destacado grupo social. A norma mostra a necessidade de serem adotadas práticas diárias do Poder Público, da família e da sociedade para se garantir a inclusão e a igualdade das pessoas com deficiência. Essa inclusão não ocorre somente na adaptação de práticas e de locais, mas, principalmente, em uma mudança de postura que inclua as pessoas com deficiência na concepção de todas as rotinas sociais. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Constituição Federal https://goo.gl/wUgZP Estatuto da Pessoa com Deficiência https://goo.gl/JaPrwY Código Penal https://goo.gl/t0Tjp Código de Trânsito Brasileiro https://goo.gl/yrjI2 19 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 2ª Parte Referências ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 18.ed. São Paulo: Verbatim, 2014. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. Parte Geral. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. v. 1. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil. Parte Geral. 15.ed. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 1. LEITE, Flavia Piva; RIBEIRO, Lauro Luiz Gomes; COSTA FILHO, Waldir Macieira da (coord.). Comentários ao estatuto da pessoa com deficiência. São Paulo: Saraiva, 2016. LEMBO, Cláudio. A pessoa: seus direitos. Barueri: Manole, 2007. MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos Arts. 1º ao 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003 (Coleção Temas Jurídicos). SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamen- tais na Constituição Federal de 1988. 3.ed. Porto Alegre: Livraria do Advoga- do, 2004. 20
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