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006 - BRIGITTE MONTFORT - O MISTÉRIO DOS DISCOS VOADORES - PARTE 02 - 006

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Charliê Ugc

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A nossa deliciosa jornalista continua sua intrépida 
aventura para solucionar o caso dos discos voadores. 
Somente que, agora, em terras germânicas... 
 
 
 
© 1965 – J F KRAKBERB 
José Alberto Gueiros 
Título original: SANGRE DE PERIODISTA 
Digitalização: JVS 400923/400925 
Publicado no Brasil pela Editora Monterrey 
MEMÓRIA 
 
Em sua primeira aventura, como repórter do “Nova Manhã”, a 
filha de Giselle é enviada a Califórnia, aonde vem aparecendo 
estranhos discos-voadores. Aparentemente, são enviados pelos russos, 
para intimidar os americanos. Brigitte hospeda-se no luxuoso Airport 
Hotel, em Los Angeles, onde faz amizade com o detetive da casa, o ex-
sargento Karl Kildkind. Dois espiões soviéticos são assassinados na 
suíte do hotel, quando procuravam descobrir o mistério dos discos. 
Antes de morrer, um deles assegura a Brigitte que os UFOS não são 
fabricados pela União Soviética, pelo contrário, o Kremlin também 
quer saber quem é que está operando com eles. Brigitte segue a pista 
dos UFOS e consegue interceptar um dos aparelhos misteriosos, 
viajando nele, em companhia de três anões com o corpo pintado de 
verde, que falam fluentemente o russo. Nessa altura, a linda jornalista 
já conhecera o inspetor Charles Alan Pitzer — do FBI — e este, 
impressionado com as suas reportagens, convida-a para entrar para o 
Serviço Secreto. Brigitte aceita, mas continua a agir sozinha. Assim é 
que descobre onde fica a base de lançamento dos UFOS nos 
arredores de Pasadena e vai até lá, caindo numa cilada, Os 
responsáveis pelo aparecimento dos discos tinham sido avisados, pelo 
rádio, da visita da bela repórter. E Brigitte confirma as suas 
suspeitas: o sargento Kildkind é um traidor e fora ele quem matara os 
dois agentes soviéticos! Brigitte é aprisionada por uma organização 
de elementos neonazistas, empenhada na criação do Quarto Reich, 
que usa os discos para intrigar os Estados Unidos com a União 
Soviética. O chefe da Organização Herr Führer está na Alemanha 
Ocidental, de onde controla seus adeptos em todo o mundo. Brigitte 
consegue se comunicar com o FBI, mantendo ligado o transmissor de 
rádio do UFO, e os agentes federais cercam a base secreta, 
prendendo todos os implicados na trama. E a jovem repórter sai 
correndo para o Airport Hotel, a fim de agarrar também o sargento 
Kildkind. 
 
CAPÍTULO PRIMEIRO 
Uma linda turista vai partir para a Baviera 
 
Depois do tremendo tiroteio, tudo ficou mais ou menos 
em silêncio, ao redor do galpão. Brigitte enfiou a pistola 
Markarov no cós da saia e saiu pelo largo portão de zinco. 
Pouco adiante, viu os agentes do FBI encaminhando os 
prisioneiros para os “tintureiros”, que esperavam, em frente à 
casa grande. Um homem forte, de meia-idade, destacou-se 
do grupo e foi ao encontro da jovem repórter. Ela custou a 
reconhecê-lo. Era o chofer de praça que ali a levara, mas 
estava com o rosto tão machucado que mais parecia um 
monstro. 
— Ei, senhorita! — gritou o homem. — Eles me 
libertaram agora mesmo! Refiro-me aos federais! A 
senhorita não sofreu nada? Antes assim! Eu não sabia que 
isto aqui era um asilo de doentes mentais! Vai voltar para 
Los Angeles? Se quiser, posso levá-la. 
Pelo caminho, os dois trocaram confidências e a morena 
explicou tudo ao chefe, omitindo apenas os fatos que 
poderiam ferir a lei de Segurança Nacional. 
Chegaram ao Airport Hotel às duas horas da madrugada. 
A corrida custou, exatamente, dez dólares, mas Brigitte deu 
mais dez, de gorjeta, ao infeliz motorista. 
Entrou no prédio do hotel e dirigiu-se à portaria. 
— Alô, amigo! Onde posso encontrar o sargento 
Kildkind? 
O rapaz da recepção empalideceu. 
— Alguma dificuldade, senhorita Montfort? Creio que o 
sargento desceu e ainda não subiu. Não estará ao quarto? 
Brigitte agradeceu e embarafustou pelo corredor, 
descendo a escadinha dos fundos. A porta do quartinho do 
porão, em frente à lavanderia, estava fechada. A garota 
experimentou cautelosamente a maçaneta, mas não chegou a 
abrir a porta. Alguma coisa dura foi encostada às suas costas, 
na altura do rim direito. 
— O recepcionista acabou de me avisar pelo telefone — 
disse a voz untuosa do gordo detetive do hotel. Então, você 
escapou? 
Brigitte tirou rapidamente a pistola do cós das saias e 
voltou-se. Seu dedo premiu o gatilho, mas ouviu-se apenas 
um estalido metálico. A Markarov já não tinha mais 
nenhuma bala no pente! 
— Eu devia matá-la por isso — rosnou ele. 
— Mas não o farei sem, antes, lhe mostrar a lavanderia! 
Solte a sua arma, Brigitte! Como escapou de meus 
companheiros, na chácara? 
— Adivinhe — disse a morena, largando a Markarov. — 
Escapei depois de pulverizar toda a organização! E, agora, 
vim buscar você! Não ganhará nada em matar-me, sargento! 
O FBI está a caminho deste hotel! 
— Ainda tenho tempo, menina. Você gosta de trabalhar 
sozinha. Vamos para a lavanderia! 
— Só irei com uma condição. Você vai me confessar 
tudo, sargento! Inclusive, vai me dizer quem á o chefe 
supremo da Organização Nacional da Revanche! Topa? Se 
você topar, pode fazer de mim o que quiser. 
— Herr Führer? — grasnou o gordo. — Não, Brigitte! 
Esse, está fora do alcance dos federais Vocês jamais 
alcançarão Herr Führer! Que importa que tenham fechado a 
Agência da Califórnia? Ainda que o FBI acabe com todas as 
células, na América, nosso partido continuará forte nas 
outras partes do mundo! E a sede, na Alemanha, jamais será 
maculada pelos nojentos defensores de uma democracia 
fraca e corrupta! O Nacional Socialismo triunfará, outra vez, 
e tomara conta do mundo! 
Enquanto falava, tirou uma gazua do bolso com a mão 
esquerda e abriu a porta da lavanderia, O local também 
estava escuro e deserto. Entraram, sem acender a luz, e o 
gordo voltou a fechar a porta. 
— Que pretende fazer? — inquiriu Brigitte, preocupada. 
— Já lhe disse, filhinha. Vou pôr em funcionamento a 
máquina de lavar. E você verá, de muito perto, como 
funcionam as pás rotativas... 
Os olhos dos dois já estavam acostumados à escuridão. O 
sargento recuou até uma enorme lavadeira automática, 
colocada junto da parede, e ergueu a tampa de uma abertura 
circular, à altura de um metro do solo. Sua pistola moveu-se 
na penumbra. 
— Meta a cabeça aqui, filhinha. Você ficará entalada 
pelos ombros, numa excelente posição. Foi assim que eu me 
servi daquelas duas chinesas. Tenho meus próprios métodos 
para seduzir mocinhas... Vamos! Meta a cabeça neste 
buraco, ou eu apertarei o gatilho! 
— Certo — suspirou Brigitte, adiantando-se e 
procurando se plantar sobre as pernas separadas. — Você 
tem a arma, sargento. Quer que tire a saia, para facilitar a 
brincadeira? 
— Não é necessário — grunhiu o gordo, lambendo os 
beiços. 
Súbito, a garota oscilou o tronco para a esquerda, 
obrigando a pistola a mover-se ligeiramente, e voltou a se 
inclinar para a direita, enquanto sua mão direita aberta e com 
os dedos unidos se chocava violentamente com o antebraço 
do gordo. A cutilada foi demolidora. O sargento soltou um 
urro e largou a pistola. Desequilibrado, o gordo procurou 
apoio na máquina de lavar, Brigitte não lhe deu tempo de se 
endireitar e empurrou-lhe a cabeça, com as duas mãos, para a 
abertura redonda. O impulso foi tão forte que a cabeça e um 
ombro do detetive entraram pelo buraco e aí ficaram 
entalados. Sua voz veio de muito longe, das profundezas da 
máquina de lavar: 
— Socorro! Tire-me daqui! 
Tranqüilamente, Brigitte baixou a tampa sobre as costas 
do homem, prendendo-o ainda mais. 
— E agora? — perguntou, afavelmente. — Está mais 
cômodo? Devo ligar a lavadeira? Não. Creio que isso não me 
permitirá ouvir o que você tem para me dizer... 
— Socorro! Não me faça mal! 
Mas a jovem repórter já estava tirando as calças de sua 
vitima. Fez o mesmo com as cuecas... Nu da cintura para 
baixo, seu enorme corpo branco brilhando na escuridão, o 
gordo esperneava como um porco no matadouro.— Agora fale — ordenou, com voz dura.. 
Cada recusa importará num tiro nas nádegas! Às vezes, 
eu também uso métodos nazistas! Onde está o seu 
transmissor de rádio? 
— Numa maleta, no meu quarto. Meu quarto fica no 
último andar do hotel. 
— Como foi que você entrou para a organização? 
— Não posso dizer! Fiz um juramento e... 
Ouviu-se apenas um “ploft” e uma bala da Pistola raspou 
uma nádega do gordo. Foi apenas um arranhão, mas um fio 
de sangue escorreu pela sua coxa. 
— Como foi que você entrou para a organização? — 
insistiu Brigitte. 
O sargento Kildkind começou a falar com volubilidade: 
— Sempre pertenci ao Partido Nazista Americano. O 
gauleiter Henrich Brunsk me convidou para entrar para o 
ONR e eu aceitei. Vim trabalhar neste hotel porque muitos 
diplomatas russos costumam se hospedar aqui. Nós ainda 
estamos em guerra com os russos, você sabe. 
— Como foi o caso daqueles dois agentes secretos que 
você matou? 
— Recebi ordens para neutralizá-los. Estavam 
investigando o mistério dos discos e poderiam atrapalhar os 
planos de Herr Führer. Naquela manhã, quando os russos 
voltaram da estrada do Barstow, entrei na suíte 32 e liquidei 
um dos inimigos, enquanto o outro ia para o banheiro. Eu 
tinha deixado a porta aberta. Aí, ouvi a elevador e escapei, 
escondendo-me no fundo do corredor. Era você, Brigitte. 
Esperei que você entrasse e voltei para acabar o serviço. O 
outro russo também morreu, mas você escapou. Estava muito 
escuro e isso atrapalhou a minha pontaria. 
— Mas, depois, seus chefes lhe deram ordem para não 
me matar... 
— Ia. A ordem veio diretamente de Herr Führer. Quando 
nós lhe radiografamos contando os acontecimentos, e 
falamos em seu nome, ele mandou que eu a vigiasse, mas 
que não atentasse contra a sua vida. Foi o que fiz. Até ajudei 
você a localizar o ponto de pouso do disco, na colina de El 
Centro... Era preciso que você visse o pião-voador bem de 
perto, e também acreditasse que ele pertencia à União 
Soviética. Os tripulantes tinham ordens para falar apenas em 
russo, mas negar essa nacionalidade. 
— Por que Herr Führer não queria que me matassem? 
— Não sei. Acho que ele pretende interessai você no 
movimento nacional-socialista alemão. Ele disse, ao 
gauleiter Brunsk, que é filha do estrategista Bierrenbach, 
morto há vinte anos, e poderia ser doutrinada. 
— E você, como soube disso? 
— Não era difícil de deduzir, depois de sua conversa com 
o inspetor Pitzer. Quando você deixou comigo aquele bilhete 
para ser entregue ao homem do FBI, vi que você tinha 
acertado com o local da nossa base secreta. Preveni o 
gauleiter, pelo rádio, e pensei que você fosse apanhada... 
— Fui apanhada, mas escapei. E seus amigos foram todos 
presos. Quem se comunicava, pelo rádio, com Herr Führer? 
Você? 
— Não. Apenas o gauleiter Brunsk. Eles têm um código 
especial. Eu não tenho ordens para me dirigir diretamente ao 
Führer. Só em casos especiais. 
— Quem é Herr Führer? 
— Não sei. 
Outro tiro “plof” e a outra nádega do gordo começou a 
sangrar. 
— Quem é Herr Führer? — repetiu Brigitte com voz 
suave. 
— Um ex-capitão da Gestapo em Paris, chamado 
Maximiliano Marx. Ele era ajudante de ordens do coronel 
Oetting. Depois da derrota do Reich, mudou de nome e fugiu 
da Alemanha para a Áustria. Mas voltou e vive 
confortavelmente na Baviera. É um dos esteios do Partido e 
o maior financiador da Organização Nacional da Revanche. 
Quando for implantado o Quarto Reich, ele será o chanceler 
e o novo Führer do povo germânico! O capitão Marx 
conheceu sua mãe, pouco antes da morte dela, na prisão de 
Chorche Midi. Foi o que ouvi dizer. 
— Eu sei — disse Brigitte, pensativamente. 
— Esse nome não me é estranho! Foi o capitão 
Maximiliano Marx quem prendeu minha mãe na Rue du Bac, 
e a levou à presença do general Stupnaggel! Qual é o nome 
dele, agora? 
— Não sei. Não, não atire! Juro que não sei! Só sei que 
ele é um homem rico e importante. 
— O que é que esse maluco está planejando fazer na 
Tcheco-Eslováquia? 
— Também não sei. Só o gauleiter Brunsk é que poderá 
responder a isso. 
— Você nunca telegrafou nenhuma mensagem 
diretamente a Herr Führer? 
— Nunca! 
— Pois vai telegrafar agora! 
— Agora? — gemeu a voz, no fundo da máquina de 
lavar. 
— Sim! Vou precisar de você, sargento Kildkind! Você 
me ajudará a agarrar o chefe do bando! O mistério dos discos 
ainda não acabou, pois falta apanhar o responsável pela 
trama e desarticular, de uma vez por todas, a organização! E, 
para isso, eu precisarei ir à Alemanha! 
— Você? 
— Sim. Ajudada por você. 
— Não conte comigo, Brigitte! Fiz um juramento de 
fidelidade ao Partido Nazista Americano e o senhor 
Rockwell não vai gostar... 
— O Partido não está em jogo. Acho até duvidoso que ele 
participe desse movimento criminoso, tendente a provocar a 
guerra atômica. Isso deve ser idéia de um homem só, 
enlouquecido pelo fanatismo político. 
— Eu também fiz um juramento de fidelidade a Herr 
Führer! Não posso trair os meus companheiros! Se você está 
pensando em me usar como isca... 
— Não, sargento. A isca serei eu. Tenho muito interesse 
em saber o que está para acontecer na Tcheco-Eslováquia. 
Você vai apenas radiografar uma nova mensagem para Herr 
Führer, no impedimento do gauleiter Heinrich Brunsk! 
— Herr Brunsk também foi preso? 
— Antes fosse. Ele está morto. E você seguirá o mesmo 
caminho, se não concordar comigo! E vou liquidá-lo aos 
poucos, com alguns tiros em partes menos vitais do corpo... 
Que acha da idéia? Podemos começar? 
As nádegas do gordo já ardiam como o diabo. Brigitte 
encostou o grosso silenciador da pistola à sua carne, sobre as 
nádegas feridas, e fez pressão. 
— Não atire! — berrou o sargento, prestes a perder os 
sentidos. — Eu... eu radiografo o que você quiser! Não atire, 
por favor! 
Num minuto, Brigitte vestiu-lhe as calças e permitiu que 
ele saísse de sua humilhante posição, 
— Você me machucou, Brigitte! Vai paga por isso! Nem 
a polícia secreta americana trata os seus prisioneiros com 
tanta crueldade! Eu levarei à barra do tribunal! 
— Queixe-se ao inspetor Pitzer, quando ele agarrar. 
Agora, vamos subir. Eu lhe direi o que deve transmitir, pelo 
rádio, a Herr Führer. 
Saíram da lavanderia e foram apanhar o elevador, que os 
levou ao décimo e último anda do Airport Hotel. Brigitte 
levava a Pistola escondida debaixo do casaco e o 
ascensorista não percebeu nada, O quarto do detetive do 
hotel ficava no fundo do corredor do décimo andar Ele abriu 
a porta, com dedos trêmulos, e foi empurrado para dentro. 
Brigitte fechou a porta à chave. 
— Depressa, sargento! O FBI não deve de morar! 
O gordo apanhou uma maleta e abriu-a, exibindo um 
moderno e potente transmissor de rádio. Ergueu a antena 
parabólica e apontou para um manipulador de telegrafia sem 
fio. 
— Veja. Já está sintonizado com a faixa do rádio-
receptor, na Baviera. A freqüência é sempre a mesma. Você 
conhece radiotelegrafia? 
— Um pouco. Perca as esperanças de me enganar. Agora, 
dê o sinal e verifique se eles estão na escuta. Suponho que 
haja uma estação-monitora permanentemente na faixa dos 
500 quilohertz. 
— Sim, há. Eles estão sempre na escuta. Mas não usamos 
a faixa internacional de socorro. Isso nos causaria 
contratempo. 
Dizendo isto, o sargento pôs-se a manipular o 
transmissor. Ouviu-se um crepitar isócrono, que se repetiu 
três vezes. O gordo esperou uma resposta. O aparelho 
crepitou de novo, retransmitindo as três letras do câmbio; a 
mensagem estava sendo recebida pela sede da ONR, na 
Baviera. 
— Que devo dizer? — rosnou o Kildkind, irritado. 
— Repita isto: “Por motivos de força maior, estão 
suspensas as operações na Califórnia. O gauleiter Brunsk 
não pode se comunicar com a sede. Brigitte Montfort 
rompeu com o FBI e segue para a Baviera, depois de 
doutrinada pelo sargento Westmore. Aguardo ordens, nesta 
faixa, amanhã de manhã”. 
—Tenho que transformar a mensagem em código. Isso 
vai demorar alguns minutos. 
— Peça a seus amigos para ficarem sintonizados com 
você. Uma pequena demora dará maior realismo à 
transmissão. 
O sargento acenou e foi apanhar uma edição do “Mein 
Kampf”, de Adolf Hitler, pendo-se a substituir palavras, de 
acordo com um trecho do livro. Cinco minutos depois, tinha 
traduzido a mensagem e retransmitia-a, pelo Código Morse, 
Repetiu a transmissão duas vezes e recebeu duas letras de 
resposta: IO. 
— In Ordung — disse ele. — A sede não desconfiou de 
nada. 
Parecia espantado. E Brigitte ficou desconfiada. 
Realmente, era estranho que a sede não fizesse perguntas... 
Mas, nesse momento, ouviram-se vozes e passos no 
corredor. O sargento Kildkind fechou a maleta e atirou-a 
violentamente contra a pistola, na mão da jornalista. A arma 
disparou para o teto, enquanto Brigitte caía de costas. O 
gordo pôs-se de pé e correu para a janela, arrastando a 
maleta com o rádio-transmissor. 
— Pare! — gritou Brigitte, ajoelhando-se e apontando a 
Pistola. 
Mas o outro não a ouvia. Parecia alucinado. Abriu a 
janela e pulou para o peitoril, procurando equilibrar-se na 
estreita platibanda exterior. Brigitte gritou outra vez, ao 
mesmo tempo em que meia dúzia de agentes federais 
arrombava a porta e entrava no quarto. O gordo ainda deu 
alguns passos, agarrado às reentrâncias da fachada do prédio, 
e, de repente, soltou um grito e despencou no vácuo. Os 
agentes acorreram, mas era 
tarde. O corpo redondo do sargento Kildkind esvoaçou e 
precipitou-se sobre a calçada, sessenta metros abaixo. 
Quando se estatelou na rua, já estava morto. E a maleta, com 
o rádio-transmissor, fora completamente destruída. 
— É uma pena — disse uma voz fria, atrás de Brigitte. — 
O transmissor de rádio da chácara de Pasadena também foi 
destruído por esses nazistas! Não temos possibilidade de 
localizar a sede da organização, na Alemanha! 
A linda repórter voltou-se e encarou o inspetor Alan 
Pitzer. 
— Eu não empurrei o gordo! — protestou. — Ele 
cometeu o suicídio! Mas cumpriu a sua missão e confessou 
tudo o que sabia. Suas últimas palavras, antes do vôo, foram 
exclusivas para o “Nova Manhã”. 
Debruçados na janela, os agentes do FBI comentavam o 
trágico acontecimento. Estavam muito preocupados, pois 
temiam ser acusados de assassínio. A polícia, às vezes, usa 
métodos pouco ortodoxos... 
— Eu deporei a favor dos seus rapazes — continuou 
Brigitte, dirigindo-se ao inspetor. — Assisti a tudo e sei que 
o gordo se suicidou. Mas, antes de tornarmos público este 
desagradável desenlace, precisamos agarrar o chefe da 
organização. Já tenho um plano para isso. 
— Oh, não! — gemeu o homem do FBI. — Essa, não! 
Você pretende ir à Alemanha? 
— Exato. E com passagens pagas pelo serviço secreto... 
Aliás, meu chefe, Miky Grogan, sempre sonhou em ter um 
correspondente na RFA. Aposto que o velho Miky vai ficar 
muito feliz. 
— Você está maluca, menina! Sob hipótese alguma eu 
permitirei. 
— Brigitte fez um gesto, interrompendo-o. 
— O FBI tem recursos para agarrar o homem, na 
Alemanha? 
O inspetor coçou a cabeça, deslocando o chapéu. 
— Bem... Ainda nem sequer sabemos quem é esse Herr 
Führer. Os principais chefes do movimento, em Pasadena, 
foram mortos e não podem falar. E, agora, esse contato 
também se matou, estupidamente! Mas podemos tentar 
localizar a sede da organização. Um dos presos falou na 
Baviera... 
— A Baviera é muito grande, inspetor. E só eu sei o 
nome do homem. 
— Você sabe o nome de Herr Führer? — espantou-se o 
detetive. 
— Sei. Isto é, sei o nome que ele tinha quando exercia 
um cargo na SS de Himmler. Era o capitão Maximiliano 
Marx, da Gestapo. 
O inspetor olhou para ela de esguelha. 
— Então, você quer, mesmo, arriscar a vida na Alemanha 
Ocidental? 
— Tenho uma chance de me sair bem da empreitada. 
Antes de morrer, o sargento Kildkind teve a gentileza de 
telegrafar uma mensagem para Herr Führer, dizendo que 
Brigitte Montfort aderiu ao nazismo... 
— Oh, não! 
— Oh, sim. Como vê, comecei o meu trabalho de espiã 
usando as mesmas armas dos nossos adversários... Darei um 
jeito de penetrar na fortaleza de Herr Führer... se for, 
realmente, uma fortaleza... e destruir o que ainda resta da 
organização. O senhor terá notícias minhas, pelo “Nova 
Manhã”. 
— Nada disso, Brigitte! Se você está mesmo disposta a se 
meter nessa aventura, eu lhe darei cobertura oficial. Temos 
agentes secretos em Munique, que talvez possam ajudá-la a 
encontrar esse capitão Marx. Eles já receberam instruções 
para seguir a trilha do disco-voador usado na Califórnia. 
— Como é isso? — perguntou Brigitte, perplexa. 
— Os motores secretos do UFO montado na oficina de 
Pasadena — explicou o inspetor Pitzer. — foram retirados da 
carcaça e enviados para a Alemanha, por via aérea. Só 
soubemos disso agora e não pudemos interceptar o material. 
As partes do motor, desmontadas, seguiram como peças de 
automóveis, aparentemente com destino à fábrica DKW. 
Mas haverá agentes da CIA, no aeroporto de Munique, 
observando o desembarque. É vital, para nós, descobrir o 
segredo de fabricação dos discos-voadores! 
— Eu me encarregarei disso — afirmou Brigitte. — Dê-
me os endereços de seus contatos em Munique, chefe, e reze 
por mim. Se eu for bem sucedida nessa missão de turista, 
terei alguma recompensa extra? 
E ela olhou candidamente, com seus doces olhos azuis, 
para o rosto severo do inspetor Pitzer. 
— Menina — disse o homem do FBI, sorrindo — se você 
nos trouxer os planos do UFO e a cabeça de Herr Führer, 
sua recompensa será tão grande que não caberá na bagagem 
de um diplomata sul-americano! 
Brigitte também sorriu e, logo, ficou séria. Estava 
pensando no capitão Maximiliano Marx, o novo Führer do 
Quarto Reich. Segundo as memórias de sua falecida mãe, o 
capitão Marx pertencera à famigerada Casa Parda de 
Munique, sede da Gestapo, e nutria um ódio profundo à bela 
e saudosa Giselle Montfort. 
 
CAPÍTULO SEGUNDO 
Os agentes de Munique 
 
Não havia tempo a perder. O FBI prometera conservar 
em segredo a diligência policial à chácara de Pasadena, e a 
nova reportagem de Brigitte para o “Nova Manhã” fora 
guardada, num cofre forte, por Miky Grogan, mas esses 
acontecimentos não podiam deixar de ser divu1gado num 
futuro próximo. Ora, no dia em que se soubesse que a sede 
da Organização Nacional da Revanche fora desarticulada 
pelo Serviço Secreto, seus membros ainda em liberdade 
teriam chances de escapar à justiça. Por isso, enquanto o 
inspetor Pitzer e seus intocáveis percorriam todo o território 
norte-americano, caçando os remanescentes do movimento 
nazista, Brigitte obtinha facilidades diplomáticas para a 
aquisição de seu passaporte e passagens aéreas de turista em 
vilegiatura pela Alemanha Ocidental. Cinco dias depois do 
tiroteio de Pasadena, a bela repórter estava pronta para partir, 
em sua primeira missão de espionagem no exterior. E, na 
manhã seguinte, 7 de fevereiro, ela embarcava num jato da 
Air France, que a transportava, do Aeroporto Kennedy, de 
Nova Iorque, ao Aeroporto de Le Bourget, em Paris. Duas 
horas depois, o jato da DLH deixou-a, sã e salva, no 
Aeroporto de Riem, a onze quilômetros da capital da 
Baviera. 
Um táxi levou-a para o Oktober Hotel, na Arnulfstrass, de 
acordo com as recomendações do FBI. Era um hotelzinho 
modesto, mas simpático, dirigido por um casal de irmãos 
gêmeos, Hubbert e Magda Einsenkopft, ligados secretamente 
à CIA norte-americana. Durante o almoço, o senhor 
Emsenkopft sentou-se à mesa de Brigitte e falou-lhe 
entusiasticamente das belezas de Munique, dos recantos 
pitorescos da Baviera que ela devia fotografar — e acabou 
declarando, com ar de profundo desgosto: 
— Infelizmente, não existem mais as grandes praças 
públicas de antigamente. A própria Maximilians-platz não 
tem grandes motivos de atração turística. Não existemmais 
as grandes praças do passado! 
Brigitte compreendeu e suspirou, mas não deu 
demonstrações de desânimo. Se os agentes da CIA não 
tinham encontrado a pista do ex-capitão Maximiliano Marx, 
talvez ela fosse mais feliz. Talvez a notícia da sua chegada a 
Munique atraísse algum dos cúmplices de Herr Führer, 
desejoso de servir de cicerone à bela e graciosa jornalista 
americana, doutrinada pelo sargento Westinore... 
Às oito horas da noite, desceu para jantar. 
O senhor Einsenkopft instalou-a numa mesa do fundo, 
onde já se encontrava sentado um cavalheiro moreno, alto e 
magro, com cara de agente funerário, O estranho apresentou-
se como major Güntber e, enquanto comiam, convidou a 
jovem para um passeio pela Praça das Tílias, onde ela 
respiraria o ar da velha München... 
— Sei que a senhorita é repórter de um grande jornal 
americano. Vai gostar de conhecer München e fotografar 
suas peculiaridades. A cidade foi inteiramente reconstruída, 
depois de arrasada na última guerra, e já está pronta para 
outra. Depois do nosso passeio pela Praça das Tílias, 
podemos acabar a noite assistindo um excelente show bávaro 
no Platzl. 
Brigitte aceitou e foi buscar a máquina fotográfica. 
Saíram do hotel e caminharam, a pé, pela Arnulfstrass, em 
direção à Haupt Platz. 
— É melhor irmos a pé — sussurrou o major Günther, 
olhando ao redor com ar de desconfiança. — Você está 
sendo muito vigiada, senhorita Montfort, e pode ser perigoso 
apanharem-nos num táxi. Aqui, no meio dos transeuntes, 
eles não tentarão nada. 
— Eles quem? — perguntou a garota, intrigada. 
— Desculpe-me — volveu o magrelo, sorrindo. — 
Esqueci-me de lhe dizer que pertenço à... AEAJCGNS. Eles, 
evidentemente, são os neo-nazistas. 
— E o que vem a ser AEAJPCGNS? 
— Agência do Estado para a Administração da Justiça e 
Punição dos Crimes de Guerra Nacional-Socialistas. Nossa 
agência foi fundada em 1958, em Ludwigsburg. Ternos, em 
nossos arquivos, informações sobre quase todos os oficiais 
nazistas envolvidos em crimes contra a humanidade. Mas, 
infelizmente, nada consta sobre esse capitão Maximiliano 
Marx. 
— O senhor Einsenkopft já me falou. Realmente, o 
capitão Marx não trabalhou em nenhum campo de 
concentração. Ele atuou em Paris, durante a ocupação 
nazista, como agente da Gestapo. Mesmo que fosse 
apanhado por isso, seria absolvido, como foi o ex-SS Führer 
da Bélgica, Jan Verbelen, que hoje vive livre em Viena. Os 
senhores se preocupam mais com os carrascos dos campos 
de extermínio, esquecendo-se de que os membros da 
Gestapo também cometeram muitas atrocidades! 
— Lamento, senhorita Montfort, mas não podemos ser-
lhe úteis. Nada consta Contra o capitão Marx. E, por isso, 
não sabemos que nome ele adotou, ao regressar à Alemanha. 
Todavia, já nos comunicamos com nossos colegas da Shin-
Beth e aguardamos seu pronunciamento. Pode ser que os 
judeus saibam de alguma coisa que nós ignoramos. 
Conversei, esta manhã, com um antigo membro da CEPG e 
ele me disse que também nunca ouviu falar nesse capitão 
Marx. 
Brigitte torceu o narizinho. 
— A CFPG é?... 
— Cooperação Fraternal dos Prisioneiros de Guerra — 
disse o major Günther, sempre em voz baixa — Um grupo 
formado na Alemanha do Sul e na Áustria, em fins de 1943, 
por oficiais soviéticos presos no Campo de Perlech, nos 
arredores de München. 
— O capitão Marx — retrucou Brigitte, impaciente só se 
fez notado de 1944 a 45, em Paris. E natural que os russos 
também não o conheçam. Como poderei entrar em contato 
com algum elemento da Shin-Beth? 
— Impossível, senhorita Montfort. Os espiões israelitas 
são muito cautelosos e desconfiados. Será melhor que a 
senhorita espere que eles venham ao seu encontro. A Shanon 
já foi avisada e certamente avisará a Shin-Beth e a Chech-
Beth, seu serviço de ação. Eles trabalham em estreita 
cooperação, sob a chefia de um militar cujo nome de código 
é David. De minha parte, senhorita Montfort, lamento não 
lhe poder ser útil. Apesar de tudo, dar-me-á o prazer de 
dançar comigo na Platzl? Sou bom bailarino. 
Brigitte sorriu graciosamente. 
— Não, obrigada. Estou cansadíssima, major! Agradecer-
lhe-ia se me arranjasse um táxi. 
— Voltará ao Oktober? São apenas quatro quadras. 
— Não. Vou dar uma volta pela cidade. Sozinha, se fosse 
possível. 
O major Günter bateu os calcanhares e correu para a beira 
da calçada, acenando para os carros que passavam. Nenhum 
táxi o atendeu, pois estavam todos ocupados. Brigitte tirou 
um cigarro da bolsa e enfiou-o nos lábios, sorrindo para si 
mesma. Uma mão gorda surgiu na sua frente, fazendo 
funcionar um isqueiro de prata. Ela teve um sobressalto. 
— Não se assuste — disse o padre, com voz mansa. — 
Livre-se daquele chato. Quero falar com você. 
A repórter examinou o homem da cabeça aos pés. Um 
padre católico, sem dúvida alguma. Ou, talvez, um nazista 
disfarçado. 
— Livre-se dele — insistiu o estranho, guardando o 
isqueiro depois de lhe acender o cigarro. 
Brigitte acenou e foi ao encontro do magrelo. 
— Não se incomode, major. Resolvi caminhar a pé. 
Muito obrigada e boa-noite. 
— Gute Nacht — rosnou o militar, perfilando-se. — 
Fique com o meu cartão, senhorita. Se alguma noite se sentir 
sozinha em München... eu conheço muitos lugares onde se 
bebe uma excelente cerveja! Gut! Auf Wiedersehen! 
Um instante depois, ele tinha desaparecido pelo meio dos 
transeuntes e Brigitte encontrou-se sozinha, ao lado do padre 
sorridente. 
— Para onde vamos, reverendo? 
— Tenho um carrinho de aluguel, senhorita Montfort — 
disse o padre. — Mas, antes de raptá-la, devo lhe tirar as 
dúvidas. Não sou nenhum enviado dos inimigos da 
Democracia. Pelo contrário. Chamo-me Aaron Kristallmaker 
e meu lema é “Ame takhat dine, chen takhat, chen” (Olho 
por olho, dente por dente. Lema da organização secreta 
Israelita Shin-Beth). Entendeu agora? 
— Um rabino? — fez Brigitte, surpresa. 
— Um falso padre católico, senhorita. É mais seguro 
assim, na Baviera. Ainda existem, por aqui, muitos inimigos 
dos judeus... Faça o favor de entrar. 
Enfiaram-se no carrinho e o padre deu a partida, 
assobiando baixinho. 
— Para onde está me levando, reverendo? 
— Para lugar nenhum, senhorita. Meu chefe, Herr David, 
me falou sobre a sua missão na Alemanha. Nós também não 
temos notícia de nenhum criminoso de guerra chamado 
Maximiliano Marx, mas não podemos dizer o mesmo de 
Herr Führer. Há um homem, na Baviera, que se julga o 
herdeiro de Adolf Hitler. Ele pode ser o seu homem. O meu, 
é outro nazista da velha guarda, que também tem contas a 
ajustar com Israel. Refiro-me no ex-oberschatführer do 
Campo de Concentração de Auschwitz, Heldrich Werstoffer. 
Já ouviu falar nele? 
— Nunca. 
— Eu ando atrás dele há vinte anos, senhorita, mas ele 
sempre tem me escapado! Werstoffer é responsável direto 
pela morte de vinte mil judeus, na Polônia, e ajudou o 
famigerado doutor Joseph Mengele a envenenar prisioneiros 
com injeções de ácido fenólico nas veias! Andei atrás dele 
por toda a Europa e parte da América do Sul. Agora, creio 
que o localizei, escondido numa cidadezinha da Baviera, sob 
o nome de Heinrich Tofferwerst. O sobrenome é parecido, 
mas, como tem a inicial diferente, não foi fácil identificá-lo. 
Atualmente, Werstoffer é o secretário de um riquíssimo 
industrial alemão aposentado, chamado Theodor von 
Maximdorf. O passado de Herr Maximdorf não é muito 
claro, mas sabemos que ele não participou de nenhum 
massacre de judeus. Possivelmente, estaria em Paris, durante 
a ocupação nazista. 
Brigitte acenou. 
— Pode ser o meu homem. 
— Foi o que pensei, Herr Maximdorf é candidato a 
senador, nas próximas eleições para o Bundestag, e um dos 
homens mais ricos da Baviera. Mas não mora em Munique. 
— Onde é que ele mora? 
— Tem uma luxuosa casa de campo nos arredores da 
cidadezinha de Deggendorf, ao sudeste da Baviera. Sua 
certeza de ganhar as eleições é tão grande quejá se considera 
senador. Eu ainda estou fazendo um levantamento da vida 
pregressa de seu secretário, antes de raptá-lo e leva-lo para 
Israel. Não podemos nos arriscar a um engano senhorita. É 
muito difícil desmascarar esses nazistas ricos, pois eles 
mudaram de nome, fizeram desaparecer documentos 
comprometedores, substituiram papéis de identidade e 
dienstalterlistes (‘lista de serviço’ da SS de Himmler). Mas, 
logo que obtiver provas palpáveis de que Tofferwest é 
Werstoffer, irei a Deggendorf com um grupo de “torpedos” 
da Chech-Beth e, mesmo que encontrar resistência armada... 
Brigitte interrompeu-o com um gesto. 
— Não posso esperar a ação dos seus “comandos”, 
reverendo. Se o senador Maximdorf for o ex-capitão Marx, 
tenho que me entrevistar com ele o mais depressa possível. 
Não posso demonstrar que não conheço o seu endereço. O 
senhor já esteve na casa de campo de Deggendorf? 
— Uma vez só e, assim mesmo, de longe. É uma extensa 
propriedade, ao sul da cidade, conhecida por Taghaus. Está 
permanentemente guardada por um corpo de polícia privado, 
composto por filhos e netos de nazistas. Por outro lado, 
como se trata de um dos líderes do NDP, o governo permite-
lhe certas regalias, título de defesa pessoal. 
— Tentarei falar com ele — replicou Brigitte, 
animadamente. — Pode ser que, em se tratando de uma 
correspondente norte-americana, ele faça uma exceção. E, se 
ele for Herr Führer, tenho a certeza de que me receberá de 
braços abertos. Para todos os efeitos, eu aderi ao nazismo. 
O agente da Shin-Beth abriu a boca, mas não disse mais 
nada. Brigitte voltou a falar: 
— Como poderei ir a Deggendorf? 
O falso sacerdote olhou para ela de esguelha. 
— Como é que você prefere ir? 
— De automóvel, se fosse possível. Há algum ônibus 
para lá? 
— Posso lhe alugar este carro — disse o judeu, 
pensativamente. — Não há perigo nenhum, pois ele pertence 
a uma agência de Munique. Você o devolverá, depois, à 
Shin-Beth. Nosso ponto de encontro será uma garagem da 
Konigsplatz. Quando pretende ir a Deggendorf, senhorita 
Montfort? 
Brigitte notou que a voz do gordo tinha se tornado fria e 
impessoal. 
— Amanhã de manhã. O mais cedo possível 
— Você encontrará o carro preparado para partir, às sete 
horas, na garagem da Konigsplatz. É lá que vamos nos 
separar. 
Chegaram a praça assinalada e entraram numa garagem. 
Os mecânicos não tinham cara de judeu, mas receberam o 
falso padre católico com demonstração de grande deferência. 
Brigitte despediu-se do agente israelita e tomou um táxi, 
voltando ao Oktober Hotel. Eram onze horas da noite. 
Às oito da manhã, reuniu algumas coisas na maleta 
amarela e saiu do hotel, com a máquina fotográfica 
pendurada no ombro. Um táxi a levou à garagem da 
Konigsplatz, onde encontrou o Volks preto, com o tanque 
cheio. Sobre o assento dianteiro do carro havia um mapa da 
Baviera, com o percurso rodoviário Munique-beggendorf 
assinalado a lápis vermelho. Brigitte pagou 80 deutsche-
marks ao garagista e embarcou, manobrando o carrinho para 
fora da garagem. Atravessou a praça e entrou na Bierstrass, 
olhando pelo espelhinho retrovisor. Nenhum outro carro a 
seguia. Apesar disso, estava desconfiada. 
Não podia entender por que o homem da Shin-Beth fizera 
questão de que ela alugasse aquele carro preto e não outro 
qualquer... 
Orientada pelo mapa rodoviário, não teve dificuldades em 
seguir a estrada prosseguindo pela margem do Rio Isar. 
Chegou à cidadezinha de Wallersdorf às duas e meia da 
tarde. Então, almoçou e seguiu viagem. Uma hora depois, 
entrava em Deggendorf e atravessava a pequena cidade do 
sudeste da Baviera, rumo à sua extremidade norte, como se 
fosse para Matten. As casas foram substituídas pelas 
plantações, mas não havia sinais de nenhum bangalô. Numa 
encruzilhada, via-se uma tabuleta: 
TAGHAUS — 2 kilometer 
Eintritt Verboten 
Virou o carro para a direita e entrou numa longa estrada 
de macadame, deserta e batida de sol. Depois de um 
quilômetro e meio de marcha. encontrou pela frente uma 
cancela, guardada por dois homens armados com fuzis de 
repetição Brent. 
— Halt! — grito um deles. — Ihre Dokumente, bitte? 
Brigitte freou o Volks e exibiu um sorriso cordial, que 
perturbou os dois rapazes. Eles se entreolharam e 
examinaram o cartão de identidade que ela lhes apresentou. 
— Senhorita Brigitte Montfort, do “Nova Manhã” da 
Califórnia? 
Ela abriu a portinhola e suspendeu ainda mais a 
minissaia. 
— Do “Nova Manhã” de Nova Iorque. Sim, 
companheiros. Herr Führer me espera. Deustschland über 
alles! 
Os dois guardas pigarrearam e devolveram-lhe o cartão. 
Depois, um deles empunhou um rádio-comunicador, ergueu 
a antena e pôs-se a papaguear qualquer coisa em alemão. 
Escutou a resposta e baixou a antena do aparelho portátil. 
— Sie Konnen eintreten, senhorita Montfort. O senador a 
aguarda ansiosamente. Suponho que não leve nenhuma arma 
na bagagem, nicht wahr? 
— Nein — respondeu a linda repórter, mostrando as 
pernas até as coxas. — Podem me revistar. 
Os guardas olharam para sua calcinha de rendas em lycra, 
engoliram em seco e viraram as costas. Um deles abriu a 
cancela. Brigitte fechou a portinhola do carro e pisou no 
acelerador. O inverno fazia os pinheiros parecerem trêmulos 
de frio. Ao lado do prédio, cinzento, via-se uma espécie de 
torre de observação, com outro guarda armado, que 
empunhava um binóculo de longo alcance. Dois rapazes 
altos e louros saíram das sombras do bangalô e 
aproximaram-se, com as mãos na cintura. Esses, sim, 
usavam camisas pardas e tinham braçadeiras com a cruz 
suástica. 
— Guten Abend, Fraulein — saudou um deles, fazendo a 
continência nazista. — Deixe o carro no estacionamento. 
Eduard a levará até lá. Bitte. 
— Piscina! — exclamou Brigitte, encantada. — Com este 
calor, eu adoraria cair n’água! 
O dia estava ensolarado, mas frio. Os dois nazistas se 
entreolharam e fizeram uma careta. 
— Como quiser — disse o mais simpático. 
— Você trouxe roupa de banho? 
— Sempre ando de biquíni — confidenciou Brigitte, 
piscando um olho. — Tomem conta de minha mala, bitte, e 
levem minha roupa lá para dentro. Suponho que haja quarto 
de hóspedes. Eu vim passar dois dias em companhia do 
senador Maximdorf. Irei ao encontro dele, pronta para um 
bom mergulho na piscina! 
Dito isto, manobrou o Volks, estacionando-o no lugar 
indicado pelos guardas, saltou e começou a se despir. Num 
minuto, a exuberante anatomia da repórter estava à mostra, 
entalada num mínimo biquíni de lycra que mais parecia a 
lingerie de uma vedete de cinema francês. Seminua, com a 
câmara fotográfica pendurada ao pescoço, a bela 
correspondente do “Nova Manhã” caminhou garbosamente 
pela relva, seguindo os passos trôpegos do louro mais 
antipático, que se chamava Eduard. Enquanto isso, o mais 
simpático ficava ao lado do carro, cheirando gulosamente as 
roupas perfumadas da espetacular hóspede de seu Führer. 
A piscina da casa de campo era enorme, ladrilhada de 
verde, em forma de coração. Ficava nos fundos do prédio, 
cercada de árvores frondosas e mesinhas com guarda-sóis 
coloridos. 
— Fraulein Brigitte Bierrenbach! — anunciou o louro 
chamado Eduard. — Ela não faltou ao encontro, mein lieber 
Führer! 
Havia apenas um homem sentado na beira da piscina, que 
se levantou com dificuldade ao ouvir os gritos de seu 
original mordomo. Era um velho magro e seco, de 
monóculo, o bigode branco caído melancolicamente em 
volta dos beiços finos e exangues. Devia ter apenas sessenta 
anos de idade, mas parecia uma múmia. 
— Ia, bitter! — exclamou, com voz fraca e trêmula. — 
Como vai, Brigitte? Fez boa viagem? Sou o senador Theodor 
von Maxindorf, mas já fui o SS Kapitan Maximiliano Marx, 
ajudante de ordens do coronel Oetter! Tenho muito prazer 
em conhecer a filha de Giselle Montfort! Muito prazer, 
realmente! 
Brigitte estendeu-lhe galantemente a mãozinha branca. 
— O prazer é todomeu, senador. Como sabe, sou 
repórter do “Nova Manhã” e vim dos Estados Unidos 
especialmente para entrevistá-lo. Estou muito interessada na 
sua campanha nacionalista. 
A múmia sorriu mostrando uma impecável dentadura 
postiça e beijou-lhe as costas da mão. 
— Ia. Eu sei de tudo, meine lieber Fraulien. Não repare 
no meu nervosismo. Você é realmente, muito bonita... e 
muito parecida com sua mãe! Por um momento, tive a 
desagradável impressão de ver, outra vez, aquela traiçoeira 
serpente francesa, a quem devemos a morte de alguns dos 
mais nobres oficiais da SS, durante a ocupação da França! 
Ia, eu sei de tudo — repetiu, olhando gulosamente para as 
pernas de Brigitte. — Sei que o FBI destruiu a nossa agencia 
na Califórnia, que o gauleiter Heinrich Brunsk e o 
Hauptscharfüller Westmore foram assassinados... e também 
sei que o sargento Kildkind caiu pela janela do Airport 
Hotel, depois de ameaçado por você! Você julgava, 
Madchen, que eu acreditaria na mensagem de um simples 
blockleiter? 
Brigitte estava tão assombrada que, no primeiro 
momento, não encontrou o que dizer. 
 
 
CAPÍTULO TERCEIRO 
O complexo de Maximiliano Marx 
 
Passou-se um minuto de silêncio tenso, grave. Theodor 
von Maximdorf olhava para Brigitte com ar malicioso, 
estudando todas as suas reações fisionômicas. A linda 
repórter suspirou. 
— Devo entender, senador, que sou sua prisioneira? 
— Antes de mais nada, Madchen, entregue-nos a sua 
máquina fotográfica! Não permitimos retratos, na Taghaus! 
Fez um gesto ao louro chamado Eduard. Brigitte ainda 
tentou defender a câmara, mas o jovem nazista arrancou-a 
brutalmente de suas mãos e atirou-a ao chão, espatifando-a 
com o tacão da bota. 
— Minha Speedflash! — gemeu Brigitte. — Custou-me 
cento e cinqüenta dólares! 
— O orgulhoso tacão da bota germânica! — ganiu o 
senador Maximdorf. — É assim que resolvemos os nossos 
assuntos! 
Intimidada, Brigitte encolheu-se na cadeira, cruzando as 
mãos sobre as coxas nuas. O louro chamado Eduard recuou 
dois passos e ficou na expectativa. 
— Está com frio? — zombou a múmia, sorrindo para 
Brigitte. 
— Não, senador. Estou com curiosidade. Responda, por 
favor: Devo entender que sou sua prisioneira? 
— Jawohl! Você caiu na boca do lobo, Madchen! 
Exatamente como eu esperava. Os anões do meu disco-
voador não foram tão felizes... 
— O senhor também sabe de tudo a respeito do que 
aconteceu no disco? 
— Naturalmente. Tudo foi planejado por mim. E você 
deve ter-se sentido muito humilhada, ao servir de pastos aos 
instintos de três feras verdes 
— Nem por isso, senador. Já estou habituada com essas 
coisas. E insisto na minha entrevista exclusiva! 
— Você não entendeu — tornou a múmia, impaciente. — 
Eu sei que você é agente do FBI, trabalhando de comum 
acordo com o inspetor Alan Pitzer! Tudo o que acontece no 
mundo, e que interessa à nossa organização, é radiografado 
diariamente para mim! Você é uma traidora, Brigitte 
Montfort Bierrenbach! 
— Traidora, por quê? Eu nunca pertenci ao partido 
Nazista! 
— Mas metade do seu sangue é alemão! Se não 
concordava com os nossos métodos, devia ter-se omitido! 
Em vez disso, você se aliou aos inimigos do Quarto Reich e 
procurou nos prejudicar de todas as formas, com suas 
reportagens no “Nova Manhã”! Você já foi condenada à 
morte, Brigitte, e só eu evitei que a sentença fosse cumprida! 
Você nos atrapalhou, lançando dúvidas sobre a origem dos 
discos, quando nós precisávamos que os americanos 
pensassem que os UFOS eram fabricados pela União 
Soviética! Ainda não entendeu? Nosso intuito é intrigar as 
democracias, propiciando a guerra atômica! 
— Idéia de malucos. A guerra nunca beneficia a 
ninguém, senão aos urubus. 
— Engana-se! — O velho animou-se e passou a falar 
como se estivesse fazendo um discurso: — Hoje, com a 
prosperidade das democracias. o Nacional-Socialismo não 
tem a mesma força de antigamente. Hoje, não procuramos 
mais formar um grande movimento político, como no tempo 
de meu saudoso padrinho Adolf Hitler; criamos pequenos 
grupos, elites táticas que possam vir a constituir os quadros 
dirigentes de um futuro movimento mundial quando cessar a 
prosperidade das democracias e uma nova crise mergulhar os 
povos no desespero. Nosso movimento nacionalista não é 
apenas alemão; temos o apoio de parte da Europa Ocidental 
e dos países árabes. São grupos isolados, difíceis de serem 
liquidados pelos reacionários de Washington e Moscou! Mas 
a maior organização, e a que apresenta mais disciplina e ação 
tática, é a minha! O Nacional-Socialismo está ressurgindo 
gloriosamente. 
Uma pausa. 
— Foi o senhor quem teve a idéia dos discos? — inquiriu 
Brigitte, com voz trêmula. 
O velho estava arfando, cansado de falar tanto. Um 
garçom veio correndo do palacete, com uma bandeja nas 
mãos. 
— Quer beber laranjada? — perguntou o senador 
Maximdorf, encarando Brigitte com seus olhos aguados. 
A morena fez uma careta. 
— Não, obrigada. Aceitaria uma taça de champanha. 
— Não quero que se beba álcool perto da piscina — 
resmungou o velho. — Aqui só se bebem refrigerantes! 
O garçom serviu-lhe um copo de laranjada, que ele bebeu 
de um só fôlego. Imediatamente, o garçom deu meia-volta e 
desapareceu. 
— Foi o senhor quem teve a idéia dos discos? — repetiu 
Brigitte. 
— Ia — respondeu o senador, com orgulho. — Mas não 
fui eu quem os fabricou. Eu apenas planejo as operações, não 
as executo. Tenho um grande engenheiro trabalhando para 
mim, em nossa base secreta da Baviera. O pequeno motor do 
foguete que soltamos na Califórnia, e que foi destruído a 
caminho da Alemanha, já não nos servia para nada. 
Atualmente, temos um novo modelo, mais aperfeiçoado. É a 
arma secreta que usarei contra a Tcheco-Eslováquia! Mas 
você não saberá do que se trata. Não sou tão doido a ponto 
de lhe revelar os nossos planos. Embora você já esteja 
morta... 
Brigitte estremeceu. 
— Já estou morta? 
— Teoricamente falando. Você foi condenada à morte 
pelo Alto Comando da Organização e só não morreu devido 
à minha interferência pessoal. Mas não viverá senão mais 
uma noite. Será a nossa noite de amor. 
Pálida e confusa, a linda repórter pestanejou. 
— Não entendo, senador! O senhor quer se casar 
comigo? 
Ele deu uma casquinada. 
— Quase que você acertava, diabinha! Mas não é bem 
isso. Eu quero me vingar de sua falecida mãe! 
— Continuo sem entender. 
— Giselle Montfort — disse a múmia, com voz repassada 
de ódio — ousou ridicularizar-me, em Paris, durante a 
ocupação! Giselle foi gentil para todos os oficiais nazistas, 
menos para mim! Todos dormiram com ela, menos 
Maximiliano Marx! Eu a desejava, Brigitte... eu a desejava 
com todas as forças de meus impulsos... e ela sempre me 
repeliu! No próprio carro em que a levei presa, para ser 
fuzilada, ela recusou ser inteiramente minha! 
— E ficou frustrado para o resto da vida... 
— Ia, fiquei frustrado! Mas, agora, sei como me vingar 
daquela víbora! Já que não conquistei a mãe, conquistarei a 
filha! Entendeu, agora? Você será minha esta noite, 
Madchen! E, depois que eu a possuir... e você delirar entre 
os meus braços... será morta com um tiro na nuca! Depois 
que eu a possuir, Brigitte Montfort, ficarei desafogado e 
poderei dormir em paz! Resta saber se você concorda com 
isso. 
— Se eu concordo? — geriu Brigitte. — Claro que não! 
Sob hipótese alguma farei carinhos numa múmia! 
— Nesse caso — retrucou o senador, sem, se alterar — 
você morrerá agora, abatida como um cão danado, e eu 
possuirei seu cadáver! Está pronto para a execução, mein 
Obersturmführer? 
Esta última pergunta foi dirigida ao touro Eduard. Ele 
tirou a pistola Luger do coldre e girou nos tacões. 
— Ia, mein Führer! Suas ordens serão cumpridas! 
— Um minuto! — gritou Brigitte, encolhendo-se na 
cadeira. — Se não há outro remédio, eu concordo! Vou-lhe 
tirar o complexo, senador. Mas, por que devo morrer, depoisde fazê-lo feliz? 
— É o sistema — disse o velho, suspirando. — Só 
trabalhamos obedecendo a um sistema tecnológico. A 
piedade está fora da nossa política. Você morrerá, depois de 
nossa noite de núpcias! A menos que eu goste tanto que 
resolva repetir a dose... 
— Certo — suspirou Brigitte. — Serei a sua nova 
Scherazade. Estou pronta para o sacrifício, que me dará mais 
algumas horas de vida. 
O senador fez um gesto e o louro Eduard voltou a enfiar a 
pistola no coldre. Nesse momento, ouviram-se vozes, entre 
as árvores, e entraram em cena mais dois personagens. Uma 
mulher gorda, vestida de branco, e um homem de meia-
idade, de cabelos grisalhos cortados à escovinha. fardado de 
preto. 
— Herr Oberscharführer Heinrich Tofferwest! — 
anunciou Eduard. — Frau Anne Pfifer! Está na hora da 
pílula, me,» Führer. 
A mulher gorda tinha uns olhos negros e perversos, que 
se fixaram em Brigitte com ar de desafio. Sem dizer uma 
palavra, ela acercou-se do velho, abriu-lhe a boca e meteu-
lhe uma cápsula na garganta. O senador engoliu a droga sem 
mastigar. Entretanto, o homem da farda preta parava em 
frente a Brigitte e encarava-a com seus olhos azuis e frios. 
— Fraulein Brigitte Montfort? Eu tinha curiosidade em 
conhecer a mulher que destruiu a nossa sede na Califórnia. 
Estamos muito satisfeitos por ver que você veio ao nosso 
encontro. Eu próprio quero ter a alegria de lhe dar um tiro na 
cara! 
— Depois — esganiçou o senador. — Acabei de revelar à 
minha hóspede o que espero dela. E ela está disposta a 
cooperar. 
— Ela tem que morrer, mein Führer! 
— Depois. Não antes de ser minha! Isto é uma ordem! 
— Amanhã iremos para o Baustab Paradie — lembrou o 
secretário. — Não convém que esta repórter atrevida esteja 
vive até amanhã. Ela não pode conhecer os nossos planos, na 
“Operação Fronteira”! É um risco muito grande. E, desta 
vez, temos que provocar a guerra entre o Leste e o Oeste! 
Nosso Partido só tomará conta do mundo depois que eclodir 
a guerra atômica! Deixe-me matar a víbora, mein Führer! 
— Logo mais — teimou o velhote. — Depois que eu 
satisfizer a minha sede de vingança, ela será sua, Heinrich. 
O secretário curvou respeitosamente a cabeça. 
— Certo — rosnou entredentes. — Sou um soldado, mein 
Führer, e não discuto as ordens do Alto Comando! Assistirei 
ao desagradável episódio, por trás da porta. Mas não demore 
muito, pois minha paciência já se esgotou! 
Brigitte estava assombrada. Aqueles homens discutiam a 
sua morte com uma frieza de canibais! Mas não podia se 
rebelar. Qualquer gesto suspeito podia significar um 
fuzilamento sumário. Via-se que o ex-Oberscharlührer 
Heydrich Wertstoffer estava ansioso por lhe dar um tiro na 
cara. Quanto à enfermeira, a gorda Anne Pfifer, não parecia 
mais humana do que seus companheiros de partido. 
— Brigitte — rosnou ela, encarando a garota com seus 
olhos de cobra — você é uma desavergonhada! Agradeça a 
Herr Führer o fato de ainda estar viva! E seja boazinha para 
ele, se quiser continuar a viver! Por mim, você já estaria 
enterrada! Tenho um remédio muito bom para matar ratas do 
seu tipo... e, se me deixassem agir, você morreria 
lentamente, numa terrível agonia, sofrendo os horrores do 
inferno! Conheço todos os métodos científicos que o doutor 
Mengele usou em Auschwitz... e garanto-lhe que são 
maravilhosos! Eu só queria que me deixassem agir! 
— Nem — esganiçou o senador. — Continue 
envenenando os seus ratos, querida Anne, e deixe os seres 
humanos para os nossos carrascos. É preciso haver disciplina 
e hierarquia! E agora — concluiu ele, lambendo os beiços — 
quero que a minha hóspede nade um pouco, na piscina, 
enquanto eu a contemplarei aqui de cima. 
Vendo-se alvo de tantos olhares perversos, Brigitte sorriu 
timidamente e pôs-se de pé, espreguiçando-se como uma 
gata. Seu maravilhoso corpo róseo ordenou, mal defendido 
pelo maiô de duas peças. Ela era bela como Frinéia. 
— Cadela! — rugiu a enfermeira Anne Pfifer. — 
Exibicionista! É magra como um bacalhau! 
— Mein Gott! — exclamou o secretário, arregalando os 
olhos. Ela é... é um monumento! Nunca vi um par de 
nádegas tão perfeitas! É por isso, então, que Herr Führer... 
— Nem — grunhiu o velhote, irritado. — Não me 
interesso pelas fêmeas, quando se trata do Partido! Quero 
apenas me vingar da mãe dessa serpente! 
O secretário engoliu em seco. Sorrindo maliciosamente, 
cônscia do seu charme, Brigitte estufou os seios e deu uma 
corridinha pela relva, até o trampolim da piscina. Os olhos 
vidrados de Heinrich Tofferwerst acompanharam-na, 
enquanto a baba escorria pelo seu queixo quadrado. 
— Divina! Maravilhosa! Gewiss! Selbstverstandleich! 
— Mas será fuzilada — rosnou o senador, pondo-se de pé 
com dificuldade. — Será fuzilada! 
— Ia, mein Führer! Eu próprio me encarregarei disso! 
Nesse momento, Brigitte mergulhou, abrindo os braços 
como um anjo. E teve a agradável surpresa de constatar que 
a água da piscina era morna e perfumada. 
— Herr Führer não vai? — perguntou a enfermeira, 
amparando a múmia. — É muito divertido, dentro da água.... 
— Nein — lastimou-se o senador, entalando monóculo no 
olho. — Meu coração não agüenta mais essas coisas! 
Pergunto a mim mesmo se não terei um colapso, esta noite, 
quando recebei essa Madchen entre os braços! Meu coração 
já não é o mesmo de quando eu tinha apenas cinqüenta anos! 
— Oh, não! — gemeu a gorda horrorizada. — Seu 
coração ainda é muito jovem, mein Führer! Não diga isso 
nem brincando! 
Entretanto, o secretário do senador coçava-se todo, 
lutando contra a tentação de despir o uniforme e também cair 
dentro d’água. 
— Nein — rosnou o velho, encarando-o severamente. — 
Ninguém tomará banho com ela, antes de mim! Contenha o 
seu furor, Heinrich! Primeiro eu! 
O secretário respirou fundo e bateu os calcanhares. E os 
três nazistas ficaram olhando, embevecidamente, para o 
corpo de Brigitte, que aflorava às águas verdes, como o 
corpo de uma ninfa. Depois o ex-Oberscharführer 
Werstoffer soltou um gemido e foi-se embora correndo. 
O jantar foi servido às oito horas, na sala de refeições do 
bangalô, decorada com bandeiras e retratos de líderes 
nazistas da década de 30. Acima de todos, via-se o retrato de 
Adolf Hitler, em uniforme pardo, com o braço levantado e a 
língua de fora; era um instantâneo tomado durante os Jogos 
Olímpicos de 1936. Brigitte sentou-se à direita de Herr 
Führer, tendo o secretário do velho à sua direita. Por duas 
vezes, a perna de Heinrich Tofferwest roçou na dela, mas a 
garota repeliu a insinuação. O velho senador comia 
pacatamente as suas verduras cozidas, pois era vegetariano. 
E a enfermeira Anne Pfifer não tirava os olhos, negros e 
cruéis, de cima do rosto da bela repórter; parecia que 
também queria comê-la. 
Às dez horas, acabou a refeição e o senador deu ordens 
para que preparassem a sua sessão de cinema em casa. 
Passaram para a sala de exibições. O secretário encarregou-
se do projetor de 16 mm. Eram todos filmes antigos (alguns 
de Carlitos) e desenhos animados de Walt Disney. O senador 
batia palmas como uma criança. E Brigitte estudava 
angustiadamente um meio de fugir dali. Mas sabia que isso 
não era possível. Até as paredes do bangalô pareciam ter 
olhos. E ela não se admiraria muito se houvesse guardas 
enrolados nas cortinas da sala... 
Por fim, chegou a hora de recolher, O senador bateu 
palmas e as luzes da sala de cinema se acenderam. 
— Vamos para a cama anunciou ele, batendo levemente 
nas costas da mão de Brigitte. 
— Venha, minha doce noivinha. Você tem-se portado 
muito bem. Gostou das comédias do Carlitos? 
— Muito. Ele se parece com Hitler. A gente morre de rir. 
O velhote fechou a cara e não fez mais comentários. 
— Eu também ficarei de vigília ao quarto — declarou a 
enfermeira Anne Pfifer, ajudando o patrão a levantar-se. — 
Mein lieber Führer pode precisar de alguma coisa. Devo 
colocar uma garrafa de “MuskaVoda” na mesinha de 
cabeceira? 
— Ia — disse o velhote, feliz. — Conhece a “Muska 
Voda”, Brigitte? É uma água maravilhosa de Kladany, na 
Iugoslávia. Ela nos dá um vigor físico excepcional! Esta 
noite, vou precisar muito de “Muska Voda”! O vinho que 
bebi ao jantar está apenas me queimando o estômago. 
Passaram para o dormitório, na frente do palacete. A 
alcova cheirava a perfume francês, Brigitte suspirou, 
imaginando o trabalho que teria, para levantar o moral de seu 
velho anfitrião mas não lhe restava outra saída. Tal como 
Scherazade, a heroína das “Mil e Uma Noites”, tinha que 
distrair o sultão, para não morrer antes do tempo. 
Quando ficaram a sós no quarto, a repórter olhou para 
todos os lados, em busca de alguma coisa que servisse de 
arma. Estava disposta a matar o Führer, antes de ser morta 
pelo seu secretário. Mas, isso, ficaria para depois... 
Despiram-se e foram para a cama. Os lençóis estavam 
frios. E o corpo do senador, mais ainda. 
— Madchen — suspirou ele, abraçando a repórter — 
você é igualzinha à sua mãe! Bela e apetitosa como Giselle 
Montfort! Por que sua mãe não quis nada comigo? Agora, 
aqui está você, à minha mercê, e eu... eu... 
— E o senhor? — fez Brigitte, impaciente. 
— Eu... eu já não tenho o mesmo coração de 
antigamente! 
Brigitte compreendeu tudo. E regozijou-se com isso. Se 
ela só seria morta depois da sua noite nupcial, talvez não a 
fuzilassem naquela noite. O senador Theodor Maximdorf 
não estava em condições de fazer o papel de noivo. 
— Então? — tornou a garota, nervosa, enquanto o 
velhote se lastimava, babando-lhe o pescoço. — Estou com 
sono, senador! Não será melhor que me deixe dormir? 
— Desculpe — choramingou a múmia, caindo para um 
lado. — Não depende de mim, entende? Essa “Muska Voda” 
deve ser falsificada! 
— Entendo — disse a garota, afagando-lhe o rosto 
repulsivo. — Deite a cabeça no meu colo e durma, mein 
Lieb. Amanhã é outro dia. E eu sei que nós ainda seremos 
muito felizes! Você me agrada, Theodor! 
— Deveras? — murmurou o velho, encantado. 
— Deveras. Agora, durma em paz. Eu cantarei uma 
canção de ninar. Esta é a noite do meu bem. E amanhã, será 
outro dia. 
Cinco minutos depois, Herr Führer estava dormindo 
profundamente, com um sorriso seráfico nos lábios finos e 
exangues. E Brigitte amaldiçoava a sua má sorte. Sabia que o 
secretário estava atento, no quarto contíguo, e não lhe daria 
tempo de escapar por uma janela. 
Súbito, a porta da alcova se abriu e surgiu o feroz 
secretário. Usava um pijama azul e trazia a pistola na mão. 
— Afinal! — rugiu ele, rilhando os dentes. — Agora, é a 
minha vez! 
Brigitte ergueu a mãozinha, retirando-a de sob as 
cobertas. 
— Ainda não, companheiro! Não grite, para não acordar 
o seu Führer! Ele ainda não cumpriu o seu dever. 
— Nein? — murmurou o secretário, perplexo. 
— Nein. Herr Führer não está bem disposto esta noite. 
Deve ter sido o vinho. Tentaremos, outra vez, amanhã. 
Incomodado com o ruído das vozes, o senador 
Maximdorf acordou e sentou-se na cama, piscando os olhos 
sonolentos. Depois, ao ver o secretário com a pistola na mão, 
deu um berro: 
— Fora daqui! Eu não pedi cooperação! Ela só será 
sacrificada depois que eu me vingar! Isto é uma ordem! 
Heinrich bateu os calcanhares mas não saiu. Sua voz 
tomou-se doce e persuasiva: 
— Mein Führer... Talvez fosse melhor o senhor me 
deixar tomar o seu lugar... Estou sempre pronto para me 
sacrificar pelo meu amado Führer! 
— Ia — murmurou o velhote, suspirando. — uma boa 
idéia! Tome o meu lugar, valente Heiririch, e faça essa 
mulher sofrer! Apunhale-a, martirize-a, esfrangalhe-a, para 
que ela conheça o vigor da nobre raça ariana! 
— Nein! — gritou Brigitte, enrolando-se nas cobertas. — 
Não quero trair o meu Führer! Se eu tiver que ser imolada 
no amor, só o serei pelo senador Maximiliano Marx! Só ao 
meu bom velhinho eu darei essa honra! 
Perplexo, o senador viu-se nos braços quentes e macios 
da bela repórter. Aquilo aqueceu-lhe o coração, embora não 
bastasse para aquecer-lhe o resto do corpo. 
— Ia — rosnou, encantado. — Ela se apaixonou por 
mim! Ela me ama! E não será de mais ninguém senão 
minha! Ou minha ou de mais ninguém! — empertigou-se e 
estendeu o braço magro e pelancudo: — Fora daqui, 
Heinrich! Eu lhe direi quando chegar a sua vez! Deixe os 
amantes dormirem em paz! 
O secretário fez uma careta, mas meteu a pistola no 
bolso, bateu os calcanhares e foi-se embora. Quando a porta 
se fechou, Brigitte inclinou-se para o velho trêmulo e beijou-
o nos lábios. 
— Obrigada, querido! Eu só serei sua ou de mais 
ninguém! Vamos tentar outra vez? 
E passaram o resto da noite contando piadas e rindo como 
duas crianças. 
 
 
CAPÍTULO QUARTO 
Brigitte conquista a confiança do Führer 
 
Na manhã seguinte, Brigitte foi a primeira a acordar. 
Levantou-se, pé ante pé, e foi espiar por uma fresta da porta. 
O secretário Heinrich Tofferwest estava sentado numa 
poltrona, junto da saída para o corredor, e a enfermeira Anne 
Pfifer dormia a sono solto, estendida num divã. Na cama, o 
senador Maximdorf suspirou. 
— Guten Morgen — murmurou a múmia, bocejando. — 
Creio que não fui muito brilhante, a noite passada... 
— Você foi maravilhoso, Theodor! Já não sou sua 
inimiga! Se eu soubesse que você era tão carinhoso, não teria 
causado tantos dissabores à organização! 
O velho olhou para ela de soslaio. 
— Acredito. Você demonstrou muita firmeza de ânimo, 
negando-se a atender às solicitações de um garboso rapaz 
como Heinrích. Sou o novo Führer, Brigitte. Talvez você 
esteja fascinada pela minha forte personalidade. Mas prefiro 
que não me chame de Theodor. 
Brigitte agarrou-lhe na mão magra e trêmula. 
— Deve ser isso, querido. Perto de você eu me sinto tão... 
tão pequenina! Sua capacidade de planejamento é 
fenomenal! Só agora compreendo toda a magnitude da 
“Operação Califórnia”. A intriga, em política, é a arma dos 
esportes. E, se você conseguir intrigar os russos com os 
americanos, terá andado meio caminho para a conquista do 
mundo! Fale-me de seus planos, mein Führer. 
Ele a encarou, cada vez mais desconfiado. 
— Nem! Você ainda não prestou juramento. E acredito 
que não prestará nunca. Você não me engana, Brigitte 
Montfort! Sua fascinação por mim não é suficiente para 
torná-la uma fiel seguidora do Nacional-Socialismo! Você 
está querendo me ludibriar! 
— Não confia na sua pequenina Madchen? 
— Nein! Conheço as mulheres. Sua mãe foi uma espiã da 
Resistência e você não deve ser melhor do que ela! Metade 
de seu sangue é francês. 
— Estou nas suas mãos, mein Führer. E não tenho 
possibilidades de me comunicar com os inimigos do Quarto 
Reich. Mesmo que eu fosse amiga do inspetor Pitzer... 
— Você é uma agente dos americanos — rosnou o 
Führer. — Sabemos de tudo! Você é culpada de nosso 
fracasso na Califórnia! 
— Vejo que você não confia em mim — queixou-se a 
encantadora morena, fazendo beicinho. — Mesmo agora, 
quando lhe ofereço o meu amor e a minha submissão, você 
duvida de mim! Então, por que não me mata de uma vez? 
Por que não sacia, nos meus seios, a sua sede de sangue? Por 
que não me fere diretamente aqui, no coração? 
E mostrava-lhe o seio esquerdo, alvo e empinado, com o 
bico intumescido. 
— Nem! Não vou matá-la antes de possuí-la. Mas não lhe 
direi nada sobre a invasão da Tcheco-Eslováquia! Nossa 
próxima operação é definitiva! Não pode falhar! E eu ainda 
não sei se você, esperta como é, não arranjará um jeito de se 
comunicar com seus amigos do FBI. 
— Como? Haverá algum feito? Eu não vejo nenhum... 
— Nem eu. Você é minha prisioneira e morrerá logo que 
eu conseguir os meus intentos. Você não tem chance de me 
trair outra vez. A menos que tenha algum emissor de rádio 
escondido em alguma parte do corpo... 
— Pode me revistar — disse Brigitte, com voz magoada, 
atirando longe as cobertas. — Estou inteiramente nua. Pode 
procurar o emissor.O que eu não admito é que você duvide 
sempre de mim! 
O Führer fez um gesto e desviou os olhos do corpo 
desnudo da bela repórter. 
— Nem! Você não tem emissores secretos. Você tem 
apenas veneno, nesse seu corpo pecaminoso! Veneno, é que 
você tem! 
— Então, fale — volveu Brigitte, com voz persuasiva. — 
Eu sei que você tem orgulho das suas maquinações. Que 
vamos fazer, hoje, no Baustab Paradies? 
O velho estremeceu. 
— Quem lhe falou do nosso campo de provas? 
— Seu secretário. Heinrich disse que iríamos, hoje, ao 
campo. 
— Nem! — rosnou o Führer, arrepiado. — Você não vai! 
— Não quer me levar em sua companhia? Vai me deixar 
aqui, à mercê desses seus subordinados? Eles me agarrarão à 
força, logo que você virar as costas! E, logo mais, à noite, 
você não me terá em seus braços, para tentarmos outra vez... 
— Frau Pfifer também não irá a Zwiesel. Você ficará na 
Taghaus, em companhia de minha enfermeira. Confio 
inteiramente em frau Pfifer. 
— O campo de provas fica em Zwiesel? É uma 
cidadezinha próxima da fronteira da Tcheco-Eslováquia, não 
é? 
— Ia. Mas você não irá comigo! Passarei em Zwiesel os 
três dias que faltam para a operação e não quero... 
— Três noites sem a sua Sherazade? — queixou-se 
Brigitte, fazendo-lhe um afago na face enrugada. — Vou 
morrer de frio, sem a sua companhia! Somos tão felizes 
juntos! E acredito que, esta noite, você possa se reabilitar! 
Esta noite você se vingará do desprezo que minha mãe lhe 
deu! 
— Esta noite — grunhiu o velho, teimoso — estarei em 
Zwiesel! 
— E eu com você. 
— Sozinho! 
— Eu com você. A gatinha com o seu cachorrinho... 
— Não insista, mulher diabólica! Você não irá! Vou 
recomendar a frau Pfifer para que tome conta de você e não 
deixe nenhum dos rapazes se fazer de saliente. Depois da 
operação com o novo disco-voador, veremos qual será o seu 
destino. Confesso que, agora, que nos conhecemos melhor, 
já não tenho tanta vontade de lhe dar um tiro. Mas o sistema 
me obriga a ser duro. Se não fosse o sistema, nenhum judeu 
teria sido exterminado, em 1940. Uma traidora tem que ser 
fuzilada, ainda que seja uma garota bonita e carinhosa. 
— Você vai invadir a Tcheco-Eslováquia? — perguntou 
Brigitte, arregalando os lindos olhos azuis. 
— Eu não disse isso! 
— É uma loucura, mein Führer! Você e seus 
companheiros não teriam a mínima chance! Os guardas da 
fronteira acabarão com vocês todos! 
— Somos vento e vinte, com os operários do Baustab 
Paradies. Mas não é o que você pensa. Não seja tola. É claro 
que não vamos combatei o exército tcheco. Meu plano é 
mais sutil. Inspirado em meu padrinho Adolf Hitler, eu... 
— Não quero saber de seu plano — replicou Brigitte, 
fazendo um muxoxo. — Você me ofendeu, duvidando da 
minha lealdade! Não quero mais saber de porcaria nenhuma! 
Duvido que consigam intrigar a União Soviética com os 
Estados Unidos, ou a Alemanha Ocidental, invadindo a 
Tcheco-Eslováquia com seus discos-voadores! Duvido! 
— Na “Operação Fronteira” — volveu o velho, irritado 
— vamos intrigar a OTAN com o Pacto de Varsóvia! Você 
não entende de estratégia, menina! Não lhe disse que era 
uma operação de alta envergadura? E a idéia foi minha, 
inteiramente minha! Assim como também foi minha a idéia 
do disco na Califórnia! 
— Você foi brilhante, capitão Maximiliano Marx! 
— Prefiro que me chame de Herr Führer! O capitão 
Marx morreu e foi enterrado em Paris! Eu gostaria que você 
visse o novo foguete, criado pelo professor Wolfang Arnau! 
Nenhum caça a jato poderá interceptá-lo! É tão ligeiro que, 
se os guardas da fronteira o virem, pensarão que estão 
sonhando! Mas tudo se tornará realidade, quando eles forem 
atacados pelos falsos soldados norte-americanos! 
— Ah! — exclamou Brigitte, mordendo o lábio. — 
Então, é isso? 
O senador Maximdorf estava tão entusiasmado consigo 
mesmo que não refletia sobre o valor de suas revelações: 
— É isso, Madchen! Mas você não poderá passar adiante 
a informação. Você não irá ao Baustab Paradies e não verá o 
novo disco, que servirá de veículo para o meu 
Himmelpahrstkommando! 
— Esquadrão-suicida? — murmurou Brigitte, alarmada. 
— Jawol! Ainda não compreendeu? 
— Sou muito burra, mein Führer. 
— O que você tem de bonita tem de “tapada”! Está claro 
como água! Cinco dos meus homens, vestidos com fardas 
norte-americanas e com insígnias da OTAN, descerão de 
pára-quedas sobre os postos da fronteira tcheca e colocarão 
cargas de TNT numa casamata. Entretanto, o disco 
regressará à base. É claro que nossos heróicos companheiros 
serão rechaçados e dizimados pelas tropas tchecas, mas seus 
cadáveres provarão a perfídia dos norte-americanos, 
invadindo o território sob domínio soviético. Isso provocará 
reação das tropas dos países socialistas... e eis o estopim da 
guerra! A Baviera será invadida pelos tchecos e a Alemanha 
Ocidental tomará uma desforra sangrenta da Alemanha 
Oriental. E a União Soviética bombardeará os Estados 
Unidos, com seus mísseis teleguiados! E os Estados Unidos 
revidarão, pulverizando os comunistas de Moscou! Não é 
uma bela perspectiva? 
Brigitte ouvia tudo com os olhos arregalados pelo 
assombro. Engoliu cm seco e perguntou, com voz fraca. 
— Seus cinco “comandos” já estão sendo treinados no 
Baustab Paradies? 
— Iá. Já estão prontos para a ação. Mas o Dia D será a 
próxima quinta-feira, à meia-noite. Com qualquer tempo e a 
todo o risco! 
— Vocês têm predileção pela meia-noite. Parecem 
lobisomens. 
— É o sistema, menina — o velho nazista recostou-se na 
cabeceira da cama, sorrindo orgulhosamente.. — Tem que 
haver organização rígida nos nossos golpes. Nada é feito ao 
azar; tudo obedece a um esquema inflexível. As ações 
marcadas para a meia-noite têm que ser executadas à meia-
noite! Tudo quanto planejamos, em nosso QG, obedece a 
uma ordem matemática. Só a disciplina nos levará ao 
sucesso! 
Alertada pelo seu sexto sentido, Brigitte saltou da cama, 
vestiu um peignoir e foi abrir, repentinamente, a porta do 
quarto. Frau Anne Pfifer estava no umbral, com uma 
bandeja nas mãos. Seus olhos negros e cruéis piscaram de 
surpresa. 
— Oh, é a senhora? — fez a repórter. — Entre. Por que 
escuta atrás das portas? Essa não é uma ação muito correta, 
mesmo para uma nazista... 
— Eu não estava escutando — protestou a enfermeira, 
ruborizada. — Estava chegando neste momento, para trazer a 
gemada de Herr Führer. E acho que ele não devia lhe dar 
tanta confiança! Eu tomarei conta de você, Madchen! 
Quando formos para o Baustab, você não sairá de perto, de 
mim! 
— Nein — rosnou o senador Maximdorf. — Vocês não 
irão para Zwiegel! Não posso me arriscar e levar mulheres 
comigo! 
— Eu irei — teimou a enfermeira. — Não posso deixar 
de cuidar da saúde de meu Führer! O senhor ainda está 
muito fraco e tem que tomar as suas vitaminas nas horas 
certas. Eu irei e levarei esta cadelinha debaixo de chicote! 
O velho resmungou qualquer coisa, mas obedeceu, 
pondo-se a chupar ruidosamente a gemada. Enquanto isso, a 
feroz enfermeira encarava Brigitte quase lhe cuspindo no 
rosto: 
— Você, sua atrevida, venha fazer o desjejum na sala! 
Não sou sua criada! E prepare-se para sofrer nas minhas 
mãos, quando formos para o Baustab! Você apenas 
surpreenderá os segredos que eu permitir que você 
surpreenda! E será castigada se fizer perguntas demais! 
Apesar do tom agressivo da voz da gorda enfermeira, 
Brigitte ficou de pé atrás. Por que frau Pfifer facilitava a sua 
ida ao campo de treinamento, onde ficava a base secreta dos 
novos discos-voadores da Organização? Ali havia um 
mistério qualquer! 
Não houve tempo para outras conjecturas; ouviram-se 
passos pesados e o ex-Oberscharfuhrer Heydrich Werstoffer 
apareceu na abertura da porta. 
— Heil, Fuhrer! 
— Heil! — respondeu o senador, acabando de comer a 
gemada. — Was ist geschechen? 
O secretário estava muito nervoso. 
— Schnell! Venha à sala de rádio, mein Führer! FritzWonegger estava radiografando, da América, quando emitiu 
um sinal de alarma. Depois, tudo ficou em silêncio. Nossos 
operadores continuaram na escuta. E, agora, Fritz voltou a 
transmitir, pedindo informações sobre a “Operação 
Fronteira”. Queremos que o senhor identifique o “sinal” do 
gerente do hotel. 
— Malditos! — rugiu o senador, saltando da cama, nu 
como uma múmia desenrolada. — Eles o apanharam! O FBI 
deve tê-lo descoberto e, agora, o obrigou a continuar as 
transmissões! Tal como Brigitte fez com o sargento 
Kildkind! 
— Que devemos fazer, mein Führer? Cabe-lhe a decisão. 
O velho já estava se vestindo apressadamente. Desliguem 
o receptor! Destruam todo o equipamento! Vamos abandonar 
a Taghaus! O FBI já conhece a nossa freqüência e poderá 
alertar as autoridades da Alemanha Ocidental! 
Acabou de se vestir, entalou o monóculo no olho e, sem 
olhar para Brigitte, saiu apressadamente. A enfermeira 
correu atrás dele, para ampará-lo, deixando a bandeja em 
cima da mesa. Antes de sair também, o secretário ainda se 
voltou para Brigitte com ódio na voz: 
— Você não perde por esperar, Madchen! A sentença de 
morte será cumprida a qualquer momento, queira ou não 
queira Herr Führer! Na próxima reunião do Alto-Comando, 
eu exigirei ação imediata, contra você! 
E saiu, pisando forte. A jovem repórter suspirou e 
também se vestiu, lentamente, refletindo sobre a sua triste 
situação. Estava completamente isolada de seus contatos do 
FBI e da CIA e não tinha meios de se comunicar, sequer, 
com o major Günther ou o falso padre, Aaron Kristallmaker. 
Dali em diante, teria que agir com muito tato, se quisesse 
destruir o QG da Organização, apanhar o líder do movimento 
neonazista e descobrir o segredo de fabricação dos discos-
voadores. Se o senador Maximdorf conseguisse êxito, 
naquela noite, em sua alcova do Baustab Paradies, ela estaria 
perdida! Repetia-se com ela o drama de sua falecida mãe, em 
relação ao capitão Marx. A sina das Montfort era sofrer as 
perseguições dos nazistas despeitados... 
Meia hora depois, já alimentada, a linda repórter 
preparava-se para dar uma volta pela casa de campo, sob a 
vigilância do rapaz alto e louro chamado Eduard, quando foi 
apanhada por outro rapaz alto e louro chamado Adilo, e 
levada, aos empurrões, para a sala de despachos do bangalô. 
Encontrou o senador Maximdorf, vestido a passeio, sentado 
na cabeceira de uma mesa comprida, tendo o secretário de 
um lado e um velho sardo do outro. 
— Sente-se, senhorita Montfort — disse, gentilmente, o 
homem gordo. — Sou o Reichftdirer Hermann Reuterintof, 
chefe nacional do Partido na Alemanha. Herr Führer falou-
me a seu respeito e na diferença que há entre os dois. Como 
se trata de uma ligação de ódio, e não de amor, respeitamos 
os sentimentos de nosso guia espiritual. Até nova ordem do 
Alto Comando, que se reunirá amanhã no Baustab a 
senhorita está livre. Mas isso não lhe permite continuar a 
criar dificuldades à nossa Organização! Herr Führer 
intercedeu pela senhorita, mas seus sentimentos caritativos 
se chocam contra os interesses do Partido. Queremos que nos 
diga qual a sua participação no “caso Kristallmaker”! 
Brigitte pestanejou. Como é que eles sabiam de suas 
ligações com o agente da Shin-Beth? 
— Desculpe, mein Reichführer. Não entendi bem. 
— Entendeu perfeitamente — volveu o Buda sorridente. 
— A senhorita acaba de ser acusada, pelo secretário de Herr 
Führer, de introduzir um espião judeu na nossa subsede de 
Deggendorf! 
— Deve haver algum engano, excelência! Não introduzi 
ninguém na casa de campo! Vim, sozinha, de Munique, num 
carro alugado! Juro que não tenho nada a ver com esse “caso 
Kristallmaker”! 
Foi a vez do senador Maximdorf erguer a voz esganiçada: 
— Acredito nela, companheiros. Brigitte não deve ter 
ligações com os judeus. O espião que apanhamos esta manhã 
escondido na casa de campo, deve ter entrado aqui por 
outros meios. Eu decido pela inocência da Madchen! 
— O Führer tem sempre razão — rosnou Heinrich 
Tofferwerst. — Mas, neste caso, o espião veio no carro preto 
da acusada! Examinamos o Volks e encontramos um 
esconderijo, sob o banco dianteiro, onde um homem podia 
caber muito bem. Insisto em que o espião viajou no carro de 
Brigitte, com o seu consentimento! Creio que isto basta para 
que ela seja fuzilada, sem mais delongas! E peço permissão 
aos companheiros para executar pessoalmente a sentença nos 
fundos da Taghaus! 
O Buda ergueu um braço. 
— Um momento, companheiro secretário! Vamos acarear 
os dois prisioneiros. Até agora, o espião judeu não envolveu 
senhorita Montfort no complô. Vejamos se é possível 
confundi-lo. Façam entrar o agente da Shin-Beth! 
Na mesma hora, apareceram dois rapazes altos e louros, 
carregando o falso padre católico. Aaron Kristallmaker usava 
apenas uma malha preta em vez de batina e tinha um coldre 
vazio na cintura. 
— Ele foi apanhado antes de fotografar nossas 
instalações — disse o Reichführer Reuterintof. — Olhe para 
este “boneco”, senhorita Montfort, e diga-nos se o 
reconhece. A senhorita não teria se encontrado com ele, por 
acaso, no Oktober Hotel da Arnulfstrass? 
— Nunca vi esse individuo, excelência. E, se ele viajou 
escondido no meu carro, juro por Deus que foi sem que eu 
soubesse! 
— Também jura por Deus que nunca o viu? — insistiu o 
gordo, como voz menos delicada. Antes que ela respondesse, 
o agente secreto israelita avançou para a mesa a encarou 
Heinrich Tofferwerst com expressão de ódio, gritando-lhe na 
cara: 
— Monstro! É você mesmo, Heydrich Wetstoffer! Tenho 
seu retrato na memória! Eu o encontrei, carniceiro de 
Auschwiti! Agora, podem me matar, porque outro “torpedo” 
do Chech-Beth completará a minha missão! Você ainda será 
julgado em Israel! 
O secretário, muito pálido olhou para os seus 
companheiros de mesa. 
— O acusado sofre das faculdades mentais — decidiu o 
Reichführer Reuterintof. — Suas ameaças não intimidam o 
nosso digno secretário. Levem-no para o porão da Taghaus e 
façam-no falar. Se ele foi ajudado por Brigitte Montfort, 
acabará confessando tudo, depois de torturado. Por enquanto, 
ofereço a senhorita Montfort o benefício da dúvida. Está 
suspensa a sessão! 
Brigitte foi retirada, por uma porta e o padre Aaron 
Kristallmaker foi empurrado por outro. Quando se viu ao ar 
livre, a repórter respirou fundo, desafogada. Ao seu lado, o 
louro Eduard sorria. 
— Você escapou de boa, fraulein! Herr Reichführer não 
costuma ter muitas contemplações pelos traidores... Mas ele 
também deve ter-se interessado pelas suas pernas... Reze 
para que Herr Führer continue fracassando nos seus trans-
postes amorosos. Logo que ele funcionar, você deixará de 
viver! 
* * * 
Depois do almoço, foi formada uma caravana de 
automóvel, que devia se dirigir, pela estrada de rodagem que 
atravessara o Einedriege, para. a cidade de Zwiesel. Brigitte 
e Anne Pfifer viajaram juntas, no mesmo Mercedez Benz, 
sob a vigilância de dois nazistas armados. Nenhum dos 
viajantes usava fardas, mas todos tinham pistolas debaixo 
dos paletós. Atravessaram o Einedriege e penetraram na 
floresta da Baviera, cercados por pinheiros, abetos e faias. O 
frio fazia as árvores tremerem. Outra estrada secundária 
levou a caravana até uma cerca de arame farpado, onde havia 
um portão guardado por dois policiais. Uma pequena 
plaqueta anunciava: 
SS BAUSTAB PARADIES 
Centro de Assistência e Caridade. 
 
Brigitte perguntou à enfermeira se a SS de Himmler 
voltara a funcionar na Baviera. Se assim fosse o governo de 
Bonn estaria muito comprometido. 
— Nein — respondeu a gorda. — SS quer dizer “Serviços 
Sociais”. Foi outra idéia de Herr Führer. Ele é um velhinho 
muito engenhoso. 
— Você gosta dele, não é verdade? — perguntou Brigitte, 
em voz baixa. 
— Talvez... Ia, talvez eu goste dele, de outra maneira. 
Talvez eu não o ame, apenas, como guia espiritual do povo 
alemão. HerrFührer tem a vida nas minhas mãos. E ele sabe 
disso. 
Os carros atravessaram a porteira e internaram-se num 
campo sem árvores, cheio de falsos agricultores, que 
andavam de um lado para o outro, carregando ferramentas 
mecânicas. Pouco depois, surgiu uma enorme casa de 
cimento, de dois andares, com a bandeira alemã no telhado. 
Sobre a porta principal, pendia um letreiro, também em 
caracteres góticos: 
WIR LIEBEN UNSEREN FÜHRER 
(Nós amamos nosso Führer) 
 
Brigitte e Anne Pfifer saltaram do carro, ladeadas pelos 
dois jovens louros. Um dos rapazes ajudou a enfermeira a 
descer, enquanto o outro dava uma cotovelada nas costas de 
Brigitte. 
— Para onde vamos? — perguntou a repórter, 
timidamente. 
— Você vem comigo — respondeu a enfermeira, com 
voz forte. — Herr Führer terá que assistir à reunião semanal 
do Alto-Comando, durante a qual será debatido o seu caso. 
Mas, enquanto você não for fuzilada, poderá se distrair, 
conhecendo o Baustab. Não há nenhuma ordem em 
contrário. 
— Agradeço a hospitalidade. Afinal, vocês não são tão 
maus como parecem... 
Um dos jovens louros tentou objetar qualquer coisa, mas 
a gorda gelou-o com um olhar coruscante. Anne Pfifer 
agarrou no braço de Brigitte e arrastou-a para longe do 
casarão, onde ficava a Kosmmandatur. Todos os caminhos 
do Baustab eram cobertos de relva. 
— Você conhece bem o campo de treinamento? — 
perguntou a repórter. 
— Ainda não — foi a surpreendente resposta. — É a 
primeira vez que entro aqui. Só conheço o Baustab através 
das informações de meu amado Führer. Por isso, também 
quero satisfazer a curiosidade... 
— Já sei. Você sonha em repetir as experiências do 
doutor Joseph Mengele... 
— Quase isso — retrucou a enfermeira, sorrindo 
perversamente. — Deve ser maravilhoso, um 
envenenamento em massa! 
Percorreram todo o campo sem serem molestadas. 
Brigitte viu uma reprodução, em tamanho natural, de uma 
casamata de cimento, em volta da qual cinco homens 
nervosos, fardados de soldados norte-americanos, pulavam 
como cabritos. 
— Centro de treinamento de guerrilhas — informou 
Anne Pfifer. — A casamata é igual ao posto da fronteira 
tcheca, próximo de Zelezná Ruda, na Cesky Les Sumava. 
Esses são os cinco suicidas que invadirão a fronteira, no 
próximo dia 13, à meia-noite. Eles descerão de pára-quedas. 
depois de transportados pelo novo foguete criado pelo 
professor Arnou. Pelo menos, foi o que lhe disse Herr 
Führer, não foi? 
Brigitte não respondeu, incomodada com o olhar maldoso 
da mulher de branco. Continuaram a visita às instalações, 
mas tiveram que retroceder, ao receberem ordem de uma 
sentinela. A sentinela tomava conta de um grande hangar de 
alumínio, com telhado corrediço. 
— A base do UFO — disse Anne Pfifer, fotografando o 
hangar com seus olhos negros. — Aí é proibida a entrada. 
Vamos para a sede. 
Voltaram, vagarosamente, afundando os pés na grama 
macia, e entraram numa casa baixa e comprida, cheia de 
quartos. A enfermeira escolheu um dos quartos, mas sorriu 
quando Brigitte fez menção de tirar o casaquinho. 
— Nein Madchen! Você não precisará de quarto. Seu 
dormitório será na casa grande. Assim decidiu Herr Führer. 
Mas eu estarei lá também, para ver se, esta noite, ele é mais 
feliz... 
— E eu, infeliz — queixou-se Brigitte. — Já vi que não 
vou levar nenhuma reportagem para a América! 
— Quem sabe? — retrucou a gorda, sorrindo friamente. 
E, com esta tirada enigmática, deu as costas à repórter e 
desinteressou-se completamente dela. Brigitte saiu e 
caminhou na direção da casa grande. A reunião dos bozen do 
partido tinha terminado e o secretário do senador veio ao seu 
encontro. 
— Fui derrotado pelo voto do Führer — disse ele, com 
expressão de ódio. — O Alto-Comando permitiu que você 
vivesse ainda esta noite. Cuide-se, serpente! Mesmo que o 
velho não consiga o seu desideratum, você não me escapará 
amanhã! Já escolhi até o local em que você levará um tiro! 
 
CAPÍTULO QUINTO 
Encontro debaixo da chuva 
 
“Preciso apanhar os planos do novo disco-voador — 
pensou Brigitte — Preciso evitar que esses cinco suicidas 
ataquem a casamata da fronteira da Tcheco-Eslováquia!” 
Seus pensamentos foram interrompidos por um ronco do 
senador Maximdorf. Estavam deitados na cama de um dos 
quartos de sobrado da casa grande onde iam passar aquela 
noite. A última noite de Scherazade... O rico senador 
Maximdorf parecia tão triste e desamparado, na sua 
senilidade, que a filha de Giselle não teve ânimo para 
estrangulá-lo, ou asfixiá-lo sob o travesseiro 
Em vez disso, a linda repórter saltou silenciosamente da 
cama e foi espiar o corredor, por uma fresta da porta. Ela 
vestiu rapidamente sua saia-blusa e foi abrir a janela. A 
correspondente estrangeira do “Nova Manhã” hesitou; 
depois, deslocou delicadamente o corpo do senador para um 
lado e tirou o lençol da cama, rasgando em tiras. Amarrou as 
pontas e obteve uma corda de seis metros de comprimento. 
O campo parecia deserto. Amarrou uma ponta da corda 
improvisada nos pés da cama e atirou a outra por cima do 
peitoril da janela. A longa serpente de pano ficou 
balançando, a um metro do solo. Brigitte saltou por cima do 
parapeito da janela e desceu, cautelosamente. Mas, quando 
pisou a grama, sentiu que não estava sozinha. 
— Não faça barulho — ciciou uma voz grave. — Isto 
facilita a minha missão! Você, agora, não me escapa! 
Era o secretário fardado de preto, e tinha uma pistola na 
mão. Brigitte sentiu o coração palpitar na garganta. 
— Parabéns, Heinrich! Pensei que você estivesse, 
também, no corredor. 
— Era o que eu queria que você pensasse. Vamos? 
Conversaremos melhor no meio do mato. Sua sepultura já 
está preparada. 
E cutucou-a com a ponta da Luger. Estava, realmente, 
apavorada. Caminharam, em silêncio, através do campo 
aberto. 
— Suponho que você não queira me dar um tiro na nuca 
— disse a garota, recuperando a serenidade. — Conheço os 
homens. Você quer apenas me pegar no mato, não é? Antes 
de você, aqueles anões do disco-voador fizeram a mesma 
coisa... 
— Engana-se — retrucou o nazista. — Sou necrófilo! 
— O quê? 
— Necrófilo — repetiu ele, gozando o som da palavra. — 
Um complexo adquirido no campo de concentração de 
Auschwitz, na Polônia. 
Apavorada, a morena não teve força para dizer nada. 
Chegaram a um local deserto, próximo da cerca de arame 
farpado, onde havia uma sepultura recentemente aberta. 
— Ajoelhe-se! — ordenou ele, com voz dura. Estava com 
a braguilha da calça desabotoada e a pistola na mão 
esquerda, pronta para disparar. Brigitte começou a 
choramingar. 
— Por favor, Heinrich! Não precisa me ameaçar com 
essa arma! Eu faço tudo o que você quiser! 
— Uma mulher morta — replicou o outro, com voz 
aguda — só faz o que os vivos querem! Ajoelhe-se e vire-se 
de costas, voltada para o buraco! É aqui que você vai morrer! 
Ouviram um grito feminino, ao longe, que ressoou no 
campo deserto. Era a voz da enfermeira Anne Pfiffer. O 
secretário do senador ergueu ligeiramente o rosto, para ouvir 
melhor. Era o que Brigitte esperava. De repente, a chorosa 
morena mudou de atitude; sua perna direita se ergueu, 
bruscamente e atingiu o baixo-ventre do carrasco, fazendo-o 
soltar um uivo de dor. Antes que ele se recompusesse, a 
jovem repórter atingiu-o com uma cutilada, no pescoço, e 
outro pontapé, na boca do. estômago. Lentamente, o 
secretário desmoronou no chão, disparando a pistola para 
dentro da sepultura. Brigitte empurrou-lhe o corpo para 
dentro do túmulo e correu para a cerca. Tinha que se 
arriscar! 
A floresta era negra e assustadora. Não se via. nenhuma 
casa, nenhuma luz, ao redor do campo de treinamento da 
organização. De repente, começou a chover. A água gelada, 
ensopou-lhe a blusa, fazendo-a tremer de frio. Escaparia de 
um tarado para apanhar uma pneumonia? Mas não podia 
parar! Pouco adiante, viu uma estrada, batida pelo temporal. 
A garota jánão tinha forças para correr. Tropeçou num 
monte de pedras, perdeu o equilíbrio e caiu numa poça de 
água. 
Mas, daí a alguns minutos, as forças voltaram a seu corpo 
trêmulo. Conseguiu pôr-se de pé. Ela seria muito egoísta se 
morresse sem ser útil aos seus amigos do Serviço Secreto 
dos Estados Unidos! Tinha que pensar na segurança da 
humanidade! Tinha que evitar a guerra atômica! 
Um jipe vinha pela estrada solitária, do leste para o oeste. 
Talvez viesse da fronteira tcheca! O jipe parou e uma cara 
negra debruçou-se na portinhola. Um crioulo! Não podia ser 
um nazista! 
— Ajude-me! — implorou a repórter, cambaleando. — 
Perdi-me no caminho! Leve-me, até uma hospedaria. 
O chofer do jipe não era um negro; parecia, antes, um 
soldado norte-americano da OTAN com o rosto coberto de 
óleo. 
— Olá! — exclamou ele, com voz de falsete. 
— Não é a hóspede de Herr Führer? 
Ao reconhecê-lo, Brigitte tentou fugir, mas o rapaz foi 
mais ligeiro. Saltou do jipe e alcançou-a, abraçando-a e 
levando-a de volta para o carro. Era um jovem moreno e 
mastigava “chewing-gun”. Os dois lutaram um momento e, 
depois, ele enfiou a garota exausta no assento dianteiro do 
jipe. Ela deixou-se cair no banco, de pernas abertas. 
— Você estava fugindo? — perguntou o rapaz, 
estupidamente, sentando-se ao seu lado. 
— Não. Saí para conhecer a paisagem e tomar um banho 
de chuveiro... Que há com você? Sua voz é fina assim 
mesmo? 
— Ia. Não preciso ter voz grossa para dinamitar a 
casamata dos tchecos. 
— Você é um dos cinco suicidas do 
Himmelfchrstkommando, não é? 
Ele sacou uma pistola do coldre e apontou-a 
ameaçadoramente. 
— Claro! Sou o Hauptscharführer Rudolf Kuhl, chefe do 
“comando”. Estive visitando minha família, no caminho de 
Bayerisch Eisenstein, mas já vou voltar para o Campo. Não 
foi muito agradável encontrar você, Madchen, Você pode me 
denunciar aos bozen do Partido. É proibido sair da 
concentração. Mas eu tinha que ver mamãe, porque ela está, 
doente. 
— Descanse, Rudolf. Não direi nada. Você não vai me 
levar de volta para o Baustab. 
— Como não? Sou fiel ao Partido! E sei que você é uma 
espiã dos americanos! Se eu a entregar ao Alto-Comando, 
serei condecorado! 
— Talvez. Mas você não teria coragem de me entregar a 
seus chefes, sabendo que eles querem me matar friamente. 
Você não é um monstro cruel, como os outros nazistas. 
Posso ver a candura de seu coração, espelhada no seu rosto 
angelical. 
— Estou com o rosto cheio de graxa. 
— Apesar disso, sei que você tem bons sentimentos. Só o 
fato de se arriscar a ser preso, saindo do campo sem 
consentimento, mostra que seu amor filial é mais forte do 
que seu respeito pela disciplina militar. 
O jipe permanecia parado, no meio da estrada, batido pela 
chuva. E a pistola também continuava apontando para o 
peito de Brigitte. 
— Sou um soldado, Madchen! Meu, dever é entregar 
você! Não tente me engabelar! Você não o conseguiria! 
Mesmo porque não gosto de mulheres! Já percebeu isso, 
não? Suas pernas brancas não me impressionam! 
— Você não gosta nem de sua irmã, Rudolf? 
— Não tenho irmãs. Sou filho único. Talvez por eu ser 
muito mimado é que não gosto de mulheres. Também tenho 
horror aos homens! Nunca me decidi sobre o caminho que 
devo tomar na vida... 
Brigitte suspirou, erguendo os olhos para o céu. 
— Contudo, você foi bastante valente, para se alistar no 
“Esquadrão Suicida”. Eu o considero um homem, Rudolf, e 
um homem de excepcionais qualidades morais! Sei que você 
não me entregará ao seu Führer! 
— Não sabe nada! É isso o que eu vou fazer, entregá-la 
ao Führer! Não entrei para o Esquadrão-Suicida; fui 
escolhido pelo Alto-Comando, porque moro perto da 
fronteira e conheço as defesas tchecas. E, como estava 
cansado da vida, resolvi aceitar a incumbência. A vida não 
tem nenhum sentido, para mim. Mamãe está muito doente... 
não gosto de mulheres... e tenho pavor dos homens! 
— Sua mãe precisa de você, Rudolf. Ninguém está 
sozinho neste mundo. 
— Mamãe á a primeira a dizer que eu sou maricas. Ela 
me educou assim e agora me critica. Mas, o que ela não 
sabe, é que eu pertenco ao Himmelfthrstkcommando! 
Nenhum maricas pertenceria a essa tropa de elite! 
Brigitte resolveu mudar de tática. 
— O que é que tem a sua mãezinha? É coisa grave? 
O rosto do rapaz ficou ainda mais sombrio. 
— Ela tem febre e delírio. Quase não se alimenta e 
queixa-se de dores na barriga. Nenhum dos remédios que o 
doutor receitou deu jeito! Se mamãe morrer, ficarei sozinho 
no mundo! Papai já morreu há muitos anos, de cólera. 
— Cólera-morbus? 
— Não. Encolerizou-se, brigou com um vizinho e levou 
duas facadas. Se mamãe morrer, não terei mais ninguém para 
me amolar o juízo! Mas, antes disso, descerei na fronteira e 
arrebentarei a casamata com TNT! Eles vão me pagar, esses 
tchecos! 
— Por que você tem ódio dos tchecos? 
— Tenho ódio de todo o mundo! Sou um revoltado! E, 
antes de morrer, fuzilado pelos guardas da fronteira, vou 
fazer “miséria”! 
— Espere — disse Brigitte, meneando a cabeça. — Você 
não deve ser tão pessimista, Rudolf. Eu lhe darei uma chance 
de ser útil. 
— Como? Suas pernas brancas não me impressionam! 
Minhas pernas também não são feias. 
— Você pode ajudar a humanidade, Rudolf. Evite a 
guerra atômica, durante a qual morrerão milhares de 
inocentes! Não participe da “Operação Fronteira”! 
— Agora é tarde. Partiremos depois de amanhã. E você 
vai comigo para o Baustab! 
— Apelo para os seus sentimentos religiosos, Rudolf. 
Você falou em Deus e não pode ser um herege. Ajude-me a 
evitar a guerra! Isso que vocês vão fazer em nome do 
nacional-socialismo, é uma loucura, um pecado que brada 
aos céus. 
— Sou um soldado e recebo ordens! Nada no mundo me 
tornará um traidor! Acima de tudo, Madchen, existe o 
sistema! 
— E sua mãezinha morrerá de febres e delírios. 
— Ela vai morrer de qualquer maneira! Não há nenhum 
médico que a salve. 
— Aqui, não. Mas, na minha terra, há muitos. Podemos 
fazer uma barganha. 
— Uma barganha? 
— Sim. Já ouviu falar na Clínica Mayo? É uma dais 
maiores casas de saúde do mundo e tem especialistas em 
todos os tipos de doenças. A Clínica Mayo só falha quando 
Deus está de mau humor. 
O jovem nazista abriu a boca, mas tornou a fechá-la. 
Lentamente, enfiou a pistola no coldre. 
— Você não está brincando? Não está querendo me 
engabelar? 
— Nein. Nunca brinquei com coisas sérias. Tenho muitos 
amigos em Munique. Se você me ajudar, eu levarei sua mãe 
para lá e de lá ela partirá para Nova Iorque, sob os auspício 
da CIA. Não acha que a saúde de sua mãezinha vale o 
sacrifício? 
— Não sei — resmungou o mancebo, nervoso. — Se eu 
enganar o Alto-Comando, serei desmascarado e... Não sei 
mentir. Madchen! 
— Eu não lhe contei tudo, filhinho. Minha idéia é levar 
você, também, para os Estados Unidos. Você poderá arranjar 
um emprego em Nova Iorque. Qual é a sua profissão? 
— Antes de entrar para a organização, era lavrador. 
— Esse emprego é difícil de arranjar, em Nova Iorque. 
Mas você, pode ir para o interior. O essencial é escaparmos 
daqui. 
— Não entendo. Se eu saltar de pára-quedas e fazer ir 
pelos ares a casamata da fronteira... 
— Não, Rudolf. É isso o que eu quero lhe explicar. Você 
não vai saltar, de pára-quedas, do disco-voador. Quem vai 
saltar sou eu. 
— Você! Como? 
— Usando a sua farda de tenente norte-americano. Temos 
o mesmo corpo e eu sou ligeiramente mais máscula do que 
você. Entende? Vamos trocar de papéis? 
— Meus papéis são falsos. Eles me arranjaram 
documentos de identidade de um indigente, chamado Jack 
Barrington, que faleceu em Munique. 
— Pois eu serei Jack Barrington, Rudolf. E você estará 
livre, para levar sua mãe a Munique e procurar os meus 
amigos, no Oktober Hotel. Aceita? 
O rapazinho arregalou os olhos. 
— Você quer dizer que... Você terá coragem de entrar no 
Baustab, como se fosse eu, e?... Eles descobrirãologo a 
diferença! Eu sou mais volumoso aqui em baixo e você é 
mais volumosa aí em cima! 
— Talvez não notem isso. Essa cara suja de óleo me 
ajudará no disfarce. Mas é claro que você vai me dar 
instruções. Quero que me diga o que devo fazer... o que você 
faria, se voltasse para o Campo. Sem se esquecer de nenhum 
detalhe! Certo? 
O rapaz ainda estava irresoluto. 
— Não sei... É perigoso! Eu... 
— Perigoso para mim. Certo? 
Afinal, os olhos dele brilharam com uma nova chama. 
— Você garante que minha mãe ficará boa? 
— Garanto. Na Clínica Mayo, eles curam até defuntos. 
Rodolf Kuhl manobrou o jipe debaixo da chuva que 
continuava a cair como um dilúvio e voltou, com ele, para a 
estrada de Bayerisch Eisenstein. Eram quatro horas da 
madrugada. As oito da manhã, tinha parado de chover, O 
jipe voltou a sair da casa e retomou o caminho do Baustab 
Paradies. Um rapazinho moreno, elegantemente fardado de 
tenente norte-americano, ia ao volante. Tinha os cabelos 
negros ocultos pelo boné e o rosto coberto de graxa, mas 
seus olhos azuis brilhavam como duas estrelas. 
“Meu Deus! — pensou Brigitte, enquanto pisava no 
acelerador. — Contanto, que os outros suicidas não vejam 
de perto os meus olhos! E não sintam a maciez de minhas 
coxas!” 
De qualquer maneira, lá ia ela. Talvez ao encontro da 
morte. 
 
CAPÍTULO SEXTO 
Tiroteio de alcova 
 
Ela teve sorte. Seguindo as instruções de Rudolf Kushl, 
dirigiu o jipe para uma pequena cancela, na extremidade 
norte do Baustab, onde um guarda vestido como um 
camponês facilitou-lhe a entrada. 
— Hei!, mein Himmellahrstkommandant! Como está sua 
mãe? Pensei que você não voltasse mais! Siga diretamente 
para o pátio. Seus companheiros já estão fazendo exercícios. 
— Danke, mein Rottenhuber! 
E Brigitte enterrou o boné sobre os olhos, fez a saudação 
nazista e pisou no acelerador. Foi deixar o jipe num galpão à 
esquerda do gigantesco hangar e saltou, dirigindo-se para 
um pátio cimentado, onde se encontravam os outros quatro 
suicidas, fardados de soldados da OTAN. Sua chegada não 
interessou ninguém. Nem sequer o instrutor militar dos 
guerrilheiros, um oficial latino-americano, de grandes barbas 
negras, que explicava aos seus alunos como deviam se deixar 
abater pelo inimigo, depois da destruição da casamata. 
Os exercícios se prolongaram até o meio-dia. Depois, 
foram almoçar. Não houve conversas, entre os participantes 
da operação, e a garota pôde escapar incólume. À tarde, 
repetiram-se os treinos: saltos de pára-quedas, numa torre 
especial e, por volta das cinco horas da tarde, os “comandos” 
ficaram livres. Enquanto os quatro legítimos suicidas se 
metiam no alojamento, Brigitte pôs-se a percorrer o campo, 
exibindo o seu uniforme sujo e amarfanhado. Fez muitas 
perguntas, aos trabalhadores, e obteve algumas boas 
respostas. Nenhum guarda a interpelou e ela pôde tomar as 
suas notas taquigráficas. Após o jantar, no dormitório 
silencioso, esperou que seus companheiros dormissem e 
passou a limpo os apontamentos, escondendo-os dentro da 
faixa de pano que lhe amassava os seios. O papel dizia: 
 “DADOS CONFIDENCIAIS SOBRE O “SS 
BAUSTAB PARADIES”, SEDE DA ORGANIZAÇÃO 
NACiONAL DA REVANCHE, NOS ARREDORES DE 
ZWIEGEL, BAVIERA”. 
“Cem homens em armas. Quinze operários 
especializados. Instalações secretas de um laboratório e 
uma fábrica metalúrgica, onde não é permitida a 
entrada. Computadores eletrônicos e rede de radar, para 
rastreamento do disco-voador. Colônia de residentes, na 
extremidade oriental. Campo de treinamento para 
guerrilhas, com um pátio e a reprodução de uma 
casamata tcheca. Um oficial cubano como instrutor. O 
Alto Comando da organização compõe-se de cinco bozen 
do Partido Nazista: Herr Führer Theodor Von 
Maximdorf, seu secretário Heinrich Tofferwerst, o 
Reichführer Hermann Reuter-Intof, o Hauptsturmführer 
Franz Brunner Mordau, comandante do Baustab, e seu 
ajudante de ordens, o Obersturmführer Lukas Kurtmann. 
A propriedade é circundada por uma cerca de arame 
farpado, simples, sem eletricidade. O SS Bausteb 
Paradies passa por ser um depósito de material (e 
campo de construção) de uma sociedade de ajuda aos 
necessitados, semelhante à Volkswohlfahrt, que ajudava 
os pobres da Alemanha com as roupas tiradas aos judeus 
assassinados. Só existe um canhão antiaéreo, armado no 
pátio da casa grande”. 
 
Essa noite se passou sem novidades. Às seis da manhã, 
houve novas correras no pátio mas, depois do almoço, os 
cinco falsos soldados americanos receberam permissão para 
passear, em liberdade, até à noite. Às oito horas, haveria uma 
concentração, no laboratório, quando o professor Wolfang 
Arnau lhes faria um pequeno discurso, a respeito do disco-
voador. Era justamente, no refeitório coletivo, e a morena 
passou por alguns sustos, pois um nazista à paisana que tinha 
todo o tipo de agente da nova Gestapo, tentou conversar com 
ela. Brigitte, porém, conseguiu iludi-lo, rosnando como um 
cão. Satisfeito com a discrição do tenente do 
HimmeLfahrstkommando, o homem do serviço secreto 
deixou-a em paz. 
A conferencia do professor Arnau teve início às oito e 
meia. Os cinco falsos soldados da OTAN foram admitidos 
no hangar onde ficavam o laboratório e a oficina mecânica, 
e sentaram-se numa pequena sala de aula, à frente de um 
estrado onde se via um quadro negro e a maquete de um 
foguete, diferente de todos aqueles que Brigitte já vira. 
Pouco depois, o professor Arnau assumiu o seu posto, no 
estrado. Em cinco cadeiras, colocadas à direita da cátedra, 
sentaram-se os oficiais do Alto Comando da organização, 
inclusive o senador Maximdorf. Apenas o Hauptsturrnführer 
Franz Mordau usava uniforme — uma túnica cinzenta e um 
casaco preto, com as insígnias de Kommandant da SS. O 
professor Arnou era um velhote gordo e risonho, de óculos 
de aros de ouro, vestido com uma bata manchada de ácidos. 
— Companheiros — discursou ele, brandindo um pedaço 
de giz — antes de vossa gloriosa missão em território tcheco, 
é justo que vos revele alguns segredos de meu invento, no 
qual o glorioso Himmelfahrstkommando do Quarto Reich 
viajará para o seu alto destino! O foguete 
“Bierkorpg”(cabeça de cervejeiro) é um modelo 
aperfeiçoado do anterior, o “Spinne”(aranha), com o qual 
lançamos a confusão nos Estados Unidos. O veículo em que 
vós, gloriosos suicidas do Quarto Reich, atravessareis a 
fronteira tcheca, é originário dos gloriosos mísseis 
teleguiados que eu criei em Peenemunde, em 1943, mas não 
chegaram a ser utilizados pelo nosso saudoso Führer Adolf 
Hitler. Em 1945, quando os russos capturaram a nossa base, 
no Estreito de Meclemburgo, consegui escapar com os 
planos do “Spinne”. Mas só agora, sob o glorioso comando 
do nosso amado Führer Maximdorf, pude transformar em 
realidade o grande sonho do Nacional-Socialismo. Nossa 
nova arma secreta, queridos companheiros, não um similares 
no mundo! Deixou de ser um simples foguete teleguiado 
para ser um veículo autônomo, fácil de manobrar e de uma 
mobilidade espantosa. Peço permissão à digna assistência 
para entrar em detalhes técnicos, tomando-os acessíveis à 
inteligência de qualquer militar. 
O cientista buscou um pouco de fôlego, satisfeito com a 
atenção que lhe davam os ouvintes, então continuou: 
— O motor do “Bierkopl”, cujos primeiros testes 
obtiveram extraordinário êxito, consta, essencialmente, de 
uma câmara de combustão de novo tipo, revestida de uma 
liga de metal refratária ao calor, onde se misturam o oxidante 
e o combustível líquido. A vantagem do combustível líquido 
é esta: o fluxo pode ser controlado ou interrompido, abrindo-
se e fechando-se as válvulas. Os gases são expelidos por trás 
e pela frente, através de uma tubeira termo-resistente, 
provida de palhetas de grafite. Nas antigas Bombas V, nós 
queimávamos álcool e oxigênio líquido; no meu foguete, 
usamos ácido nítrico e Artinium, que é superior aoVisol do 
foguete “Taifun”. Qualquer estrutura metálica, em forma de 
disco, pode ser transportada pelo “Bierkopf”. Seus lemes, de 
novo modelo, permitem-lhe manobras audaciosas, em 
ângulos de 90 graus. Sua autonomia de vôo é de seis mil 
quilômetros, dez vezes aquela atingida pelo “Spinne”. Além 
disso, o “Bierkopl” desenvolve cerca de dez mil quilômetros 
por hora e pode atingir alturas de vinte quilômetros, 
deixando para trás qualquer tipo de avião a jato. Seus 
amortecedores de ruído são perfeitos e tornam-no 
completamente silencioso, o que não acontecia com o 
primitivo modelo, testado na Califórnia. Para orgulho da 
organização, companheiros; quero que conheçam o esquema 
do “Bierkopf”, antes de conhecê-lo ao vivo. Isto só 
acontecerá dentro de três horas, quando o glorioso 
HiminelIahrstkommando partir heroicamente na sua missão 
de extermínio! Heil, Führer! 
Em seguida, o cientista pôs-se a fazer desenhos no quadro 
negro, explicando exaustivamente as peculiaridades do seu 
invento. Brigitte anotou mentalmente as características do 
aparelho, mas compreendeu que não as poderia reproduzir, 
confiando apenas na memória. Por outro lado, também não 
podia tomar notas, pois o homem da Gestapo não a perdia de 
vista. 
Às dez horas, o professor Arnau deu por terminada a 
conferência e todos se levantaram. Quando se dispunha a 
sair, em companhia de seus quatro colegas, Brigitte sentiu 
que alguém lhe tocava um braço. Voltou-se vivamente e 
encarou os olhos frios do secretário do senador; 
imediatamente, a morena baixou os seus. 
— Mein Himmelfahrstkommandant — disse o ex-
Oberscharführer Werstoffer — por ordem de Herr Führer, 
solicito-lhe que compareça à Sala do Conselho do Alto 
Comando. Eu irei em sua companhia. 
— Jawohl — murmurou Brigitte, de cabeça baixa. — 
Aconteceu alguma coisa? 
— Nein. Não se assuste, tenente. Você não tem motivos 
para se assustar. 
Com o canto do olho, a garota viu que dois guardas, 
armados com submetralhadoras, tinham se plantados às suas 
costas. Não podia deixar de obedecer. Marchou para fora do 
hangar, seguida pelos três nazistas, e continuou a marcha, na 
direção da casa grande. Os outros quatro oficiais do Alto 
Comando já deviam ter seguido o mesmo caminho. 
— Por favor — solicitou o secretário do senador, 
agarrando-a por um braço. — Dê-me a sua arma, tenente! 
E antes que ela fizesse um gesto, arrancou-lhe a pistola 
do coldre. Entraram na Sala do Conselho, mas encontraram-
na vazia. No alto da parede, o retrato de Hitler continuava 
com a língua de fora. 
— Siga em frente — ordenou o secretário. 
— Suba a escada! Herr Führer espera por você no 
dormitório. Mas, desta vez, eu quero estar presente! 
— Aconteceu alguma coisa? — repetiu Brigitte, 
empalidecendo. 
O nazista sorriu friamente. 
— Você foi desmascarada, Madchen! Não tente fugir! Eu 
a reconheci e Herr Führer também! Mas o velho se 
entusiasmou, ao vê-la fardada como um jovem soldado, e 
ordenou-me que a levasse para o quarto. Na sua juventude, 
Herr Führer serviu na Wehrmacht e gostava de brincar com 
os recrutas bonitos. Ele se entusiasmou outra vez, ao ver 
você fardada, e acha que, agora, conseguirá o seu intento. O 
velho estava, realmente, muito excitado. 
À porta da alcova do sobrado encontraram a enfermeira 
Anne Pfifer, com o rosto contraído numa expressão de ódio. 
— Cadela! — disse a gorda, ameaçando esganar Brigitte. 
— Você não devia ter voltado! Não se engana duas vezes um 
digno oficial nazista! 
Mas o secretário empurrou a mulher para um lado 
evitando que ela alcançasse a sua prisioneira, e fez Brigitte 
entrar no quarto, seguindo-a de perto. A porta se fechou 
sobre eles. No meio da alcova, o rico senador Maximdorf 
estava despindo as calças. Brigitte olhou desesperadamente 
ao redor e viu a janela fechada. Não tinha outra saída. 
— Não dispa o uniforme — recomendou a múmia, 
voltando para ela os olhos vermelhos e empapuçados. — 
Quero ter a ilusão de submeter um jovem tenente norte-
americano! E não admito desobediências! 
Ele estava apenas de ceroulas e suas pernas magras e 
tortas formavam dois parêntesis. Então, as coisas começaram 
a acontecer com rapidez. Quando o velho se atirou em cima 
dela, num ataque de furor lúbrico, Brigitte apoiou os 
cotovelos na beira da cama e ergueu as pernas abertas, 
enlaçando o magro pescoço de seu agressor. 
O Führer cambaleou e caiu de joelhos, abafado, 
respirando com dificuldade. Ato contínuo, Brigitte girou 
sobre seu corpo esquelético e prendeu-o numa “gravata”, 
pelas costas, mantendo-o encostado ao peito. Do outro lado 
do quarto, Heinrich Tofferwerst tinha tirado a pistola do 
coldre, apontado-a ameaçadoramente. 
— Largue-o! — ordenou, com voz seca. 
— Largue você a pistola! A vida de seu Führer está nas 
minhas mãos! 
Meio estrangulado pelo braço da garota, o senador 
gorgolejava e fazia sinais cabalísticos no ar. Já tinha perdido 
todo o entusiasmo. 
— Largue-o! — repetiu o secretário, erguendo a arma. — 
Desta vez, você não escapa! Nem que seja preciso imolar o 
nosso Führer! 
E, contra todas as expectativas, começou a atirar. Os 
estampidos ressoaram no quarto como tiros de canhão. 
Brigitte sentiu o corpo do velhote amolecer nos seus braços, 
varado pelas balas. A Luger continuou a funcionar, mesmo 
depois que o ex-capitão Marx, já morto, rolou pelo assoalho. 
Descoberta, Brigitte encarou o secretário com um olhar 
perplexo. Os tiros continuaram — mas, agora, vinham da 
porta do quarto. Heinrich Tofferwest girou sobre si mesmo, 
largou a Luger e caiu de bruços, em cima do cadáver do 
Führer. Na mesma hora, a porta se abriu de todo e apareceu 
um homem gordo, com o rosto coberto de esparadrapo, 
amparado pela enfermeira Anne Pfifer. Esse homem, no qual 
Brigitte reconheceu o falso padre Aarão Kristallmaker, usava 
as roupas típicas de um lavrador da Baviera. 
— Aïne takhat dine, — murmurou ele, com voz sumida 
— chen takhat chen! Obrigado, frau Pfifer! David saberá 
que eu não falhei! 
Ainda alarmada, Brigitte viu o agente israelita tossir e 
escapar das mãos da enfermeira, rolando pelo assoalho. Seus 
olhos arregalados e vítreos ficaram pregados no teto, mas 
não enxergavam mais nada. 
— Ele já estava quase morto quando chegou — disse a 
gorda — Não pude deixar de ajudá-lo a cumprir sua missão. 
Agora, ele morreu em paz. Foi torturado em Deggendorf, e 
dado como morto. Mas sua força de vontade era imortal! 
— Quem é você? — murmurou Brigitte. 
A mulher de branco sorriu. 
— Anne Pfifer, do ATIC. Só lamento não ter, eu mesma, 
envenenado esse novo Führer! Mas eu não podia liquidá-lo 
antes de conhecer o segredo do disco-voador. Suponho que 
você já tenha os planos da arma secreta, não? 
Brigitte estava de boca aberta. Engoliu em seco e 
respondeu: 
— Não, não tenho os planos. Não sabia que o ATIC 
estava metido nisto. 
— O “Air Technical Intelligence Center” — disse a 
enfermeira, falando rapidamente — é uma organização que 
estuda os fenômenos dos UFOS. Juntei-me aos nazistas para 
descobrir o mistério dos discos. E só poderei voltar para a 
América levando um relatório pormenorizado. Vocês, da 
CIA podem... — súbito, ela se interrompeu e mudou de tom: 
— Siga para a sua unidade, mein Himme1fihrskcmandant, 
bombardeie os nossos inimigos! Eu me encarregarei de 
explicar, aos companheiros de partido, o traiçoeiro atentado 
contra a vida de nosso amado Führer! 
Cinco ou seis guardas irromperam no quarto, brandindo 
armas. Brigitte endireitou o boné e fez a continência nazista, 
Os soldados perfilaram-se, olhando alarmados para os três 
cadáveres estendidos no assoalho. Sem esperar por mais 
nada, a repórter apanhou a sua pistola entalada no cinturão 
do secretário e escapou pela porta, enquanto Anne Pfifer 
continha os guardas, falando-lhes em alemão. 
Já eram onze horas da noite. Faltava apenas uma hora 
para a saída do disco. Brigitte correu para o alojamento doHimmelfahrstkommando, mas já não encontrou os outros 
quatro falsos soldados norte-americanos. Uma sentinela 
informou-a que o grupo esperava por ela no hangar. A 
morena correu para lá. Deixaram-na entrar depois de 
esquadrinharem seu rosto sujo de óleo e ela pôde reunir-se 
aos outros nazistas disfarçados. 
— Heil, Führer! 
— Heil! 
Estavam todos, numa dependência central do vasto 
hangar de alumínio. Sobre uma plataforma de aço via-se uma 
enorme estrutura de metal branco, semelhante à prata polida, 
ostentando a bandeira norte-americana (star and stripes) 
desenhada numa das faces. Era um novo disco-voador de 
grandes proporções, que repousava sobre o foguete 
“Bierkopf” cujas características o professor Arnau 
descrevera nessa noite. Ao lado do monstro metálico que 
devia ter mais de quinze metros de diâmetro e possuía seis 
panelinhas na parte superior, o inventor dos discos sorria, 
ladeado pelo Reichführer Herman Reuter-Intof, pelo 
Hauptsturmlührer Franz Mordau e pelo Oberscharführer 
Lukas Kartman. 
— Podem entrar — convidou o professor Arnou, a voz 
fremente de orgulho. — A Câmara de Comando tem 
capacidade para seis navegadores. Sigam as instruções pelo 
rádio. E não se esqueçam de que a carga de TNT não deve 
ser lançada, mas transportada pelos gloriosos suicidas do 
Quarto Reich! Felicidades, companheiros! Glücktiche 
Reise!(boa viagem) 
Os cinco falsos soldados da OTAN subiram para bordo e 
a portinhola se fechou automaticamente. Havia um piloto 
sentado diante do painel de instrumentos — um homem sério 
e grave, metido num macacão de zuarte. 
— Sentem-se — ordenou ele. — Estamos apenas à espera 
do nosso amado Führer. Sairemos cinco minutos antes da 
meia-noite, conforme as instruções recebidas. E eu voltarei 
com o disco. 
Através de uma das janelinhas da Câmara de Comando, 
Brigitte via o movimento, lá embaixo. Sobre a plataforma, o 
professor Arnau e os três oficiais do Alto Comando 
discutiam acaloradamente. Depois, o cientista fez um gesto 
agressivo, diante do nariz do Retchfuhrer, e desapareceu na 
direção de uma porta onde se via o dístico: 
“SALA DE COMANDO — TG” 
 
Passou-se, ainda, algum tempo. Brigitte reparou que seus 
quatro companheiros de viagem olhavam para ela com ar 
estranho, trocando confidências em voz baixa. O piloto, com 
a cabeça virada por cima do ombro, também perecia 
desconfiado. Disfarçadamente, Brigitte recuou para um canto 
da câmara e desabotoou o coldre da pistola. 
Uma, voz metálica soou no painel de instrumentos: 
— Achtung! Zwanzing... neunzehn... achatzehn.. 
Era a voz do professor Arnau, contando os segundos que 
faltavam para a partida! Nisso, o piloto olhou diretamente 
para Brigitte e mostrou os dentes de ouro: 
— Você vai morrer de qualquer maneira, Madchen! Seu 
erro foi ter entrado aqui! 
A filha de Giselle empunhou a pistola e cobriu os cinco 
nazistas. 
— Certo, amigos! Vocês também me desmascararam! Se 
temos que morrer, vamos começar a operação! Acione o 
start, piloto! 
A voz metálica continuava soando, mecanicamente: 
— Zehn... neun... acht... sieben... 
O piloto, muito pálido, levou a mão a uma alavanca do 
painel de instrumentos. Sobre ela, via-se a indicação 
“Emergência”. A pistola cuspiu fogo da mão de Brigitte, e o 
piloto caiu de banda, antes de alcançar a alavanca. Seu corpo 
escorregou para o chão e ficou imóvel. 
— Geben Sie acht beim Aufsteigen! (atenção para a 
subida) — disse a voz, no alto-falante. 
No mesmo momento, o enorme disco de metal trepidou e 
começou a se mover. Os quatro falsos soldados norte-
americanos, gelados pelo espanto, não sabiam o que fazer. E 
a carcaça prateada ergueu-se lentamente no espaço, saindo 
pelo telhado aberto do hangar. Estava sendo teleguiado de 
terra e nenhum de seus ocupantes sabia como orientá-lo. 
— Gut — disse a voz, no alto-falante do painel de 
instrumentos. — Auf Wiedersehen! 
Brigitte teve a impressão de que o inventor dos discos, 
feliz como um garoto malvado ao praticar uma travessura, 
despedia-se deles como se nunca mais esperasse vê-los com 
vida. Logo, o aparelho ganhou velocidade e subiu, em linha 
reta, rumo às estrelas. 
 
CAPÍTULO SÉTIMO 
Nasce outro Führer 
 
Logo que o disco-voador desapareceu no alto do céu, o 
professor Arnau acendeu a tela do radar e passou a controlá-
lo, pelo “bip” resultante da “varredura” da palheta. Havia um 
grande silêncio na Sala de Comando, onde também se 
encontravam o Reichführer Reuter-Intof e o 
HauptsturmIührer Brunner Mordau. 
— Eles estão, agora, a dez quilômetros de altura — 
anunciou o professor Arnau, com orgulho na voz. — uma 
pena que Herr Führer não tenha assistido à partida! Mas 
suponho que, ele esteja aqui ao término da experiência. 
— Não sei o que houve com Herr Führer e seu secretário 
— disse o Buda risonho. — Aqueles dois estavam nos 
escondendo alguma coisa! 
Mandei o meu ordenança à Kommandatur, mas ele 
também não regressou mais! 
— Eles estão, agora, a mil e seiscentos quilômetros — 
disse o inventor dos discos. — o dobro da altura do Evereste. 
O “Birkopf” mantém a mesma velocidade no ar rarefeito! 
Vou fazê-lo descer na fronteira, mandando um impulso pelo 
rádio. O computador encarregar-se-á de tudo. 
Nesse momento, o Oberscharführer Lukas Kurtmann 
entrou na sala, muito afobado. Fez continência e anunciou, 
com voz dramática: 
— Companheiros, Herr Fuhrer e seu secretário foram 
assassinados a tiros pelo espião judeu Aaron Kristallmaker, 
que também morreu! A enfermeira suíça Anne Pfifer não é 
encontrada em parte alguma! Herr Führer está morto, 
companheiros! Schrecklich! Ungoublich! (horrível, 
inacretitável) 
O Reichführer empertigou-se, exibindo a volumosa 
barriga. 
— É uma má notícia, companheiros! Mas nem por isso 
devemos cancelar a “Operação Fronteira”! A partir deste 
momento, eu assumirei a liderança da organização! 
— Nada disso — objetou o professor Arnau, voltando-se 
da mesa de controle. — Depois de Herr Führer, sempre fui 
eu o mentor espiritual da revanche! Com a morte de nosso 
glorioso guia, eu comandarei as ações da organização! Vocês 
nunca conseguirão intrigar os russos com os americanos sem 
o uso dos meus discos! 
O Hauptsturmführer Mordau adiantou-se 
majestosamente. 
— Há um pequeno erro de lógica nisso tudo — disse ele, 
com voz grave. — Na qualidade de comandante do Braustab 
Paradies, eu assumo a chefia geral da organização! E a 
operação prosseguirá, de acordo com os planos traçados pelo 
Alto Comando! 
— Herr Hauptsturmführer — replicou o Reichführer, 
sacando da pistola. — O senhor está preso! A morte do 
Fahrer não deve ser pretexto para subversões. A maioria dos 
nossos companheiros de partido está comigo! Vamos fazer 
um expurgo no Alto Comando e afastar os militares da 
carreira! Eu sou o novo Führer! 
No silêncio que se seguiu, o Oberschczrführer Lukas 
Kurtmani também sacou da sua Luger e disparou-a, à 
queima-roupa, nas costas do Buda. 
A pistola caiu das mãos do gordo Reichphrer e ele 
acompanhou-a na queda, ficando estirado no lajeado. 
— Sehr gutt, danke — disse o comandante do campo. — 
Livramos o Quarto Reich de um perigoso ditador! Assuma o 
comando do Baustab, Mein Oberschcrführerl Eu entrarei em 
entendimentos com os políticos do NDP, para escolher-mos 
os novos candidatos às eleições, em Bonn! A “Operação 
Fronteira” continua! E Herr professor Arnau será o 
responsável pelo seu bom êxito! Alguma dúvida? 
O velho e gordo cientista bateu os calcanhares. 
— Nem, mein lieber Führer! Curvo-me diante do 
glorioso Exército Nazista! A operação continua! 
— Que foi? — perguntou o novo Führer. 
— Não sei! O piloto deve ter ligado a chave da 
autonomia! Não posso mais controlar o “Bierkorpl”! E ele 
está baixando, a cinco mil quilômetros por hora, sobre a 
cidade de Nuremberg! 
* * * 
Brigitte tinha-se sentado diante do painel de instrumentos 
do disco sem deixar de apontar a pistola para os quatro falsossoldados da OTAN, e logo virava uma chave, entre os 
dísticos “TG” e “AUT”. Puxara a chave para baixo 
colocando-a na posição “AUT” e neutralizara, assim, os 
impulsos de rádio que orientavam o aparelho. O enorme 
disco de prata dera um arranco, como um automóvel ao 
engrenar a “reduzida”, mas continuara a voar com a mesma 
velocidade, quinze quilômetros acima da superfície da Terra. 
Havia uma espécie de manche em frente ao painel, mas a 
linda repórter’ não poderia acioná-lo sem perder de vista os 
seus companheiros de viagem. Voltou-se para os quatro 
nazistas alarmados e perguntou secamente: 
— Algum de vocês sabe pilotar um avião? 
Os rapazes negaram. A morena fez um gesto com a 
pistola. 
— Certo! Eu darei, a um de vocês a honra de nos levar de 
volta ao Baüstab Paradies! Aqui termina a “Operação 
Fronteira» e começa a “Operação Reviravolta”! Vamos 
modificar ligeiramente o nosso plano de vôo! 
E apontou a arma para um dos rapazes altos e louros. Este 
estremeceu e correu a sentar-se diante do manche. Depois, 
seguindo as instruções de Brigitte, dirigiu o foguete para 
terra. Todos olhavam, fascinados, para o ponteiro do 
altímetro. O disco-voador perdia altura progressivamente. 
Dez quilômetros... oito quilômetros... seis quilômetros... 
— Vamos bater! — gritou o piloto-amador. 
— Não se pode frear a descida? 
Brigitte acionou a alavanca marcada “Retro” e o 
aparelho pôs-se a girar no espaço, até ficar perfeitamente 
imóvel. 
— Dê-lhe menos gás — ordenou a repórter. 
O piloto obedeceu, diminuindo o fluxo de carburante para 
á câmara de explosão. O disco continuou a descer, em 
velocidade mais moderada. Quatro quilômetros... dois 
quilômetros... um quilômetro... quinhentos metros... 
— Estamos sobrevoando Nuremberg! — gritou um dos 
nazistas, olhando por uma das vigias. 
— E já temos um caça a jato atrás de nós! 
— Ótimo! — respondeu Brigitte. — uma guinada para 
sudeste, piloto! Velocidade de cruzeiro, O Baustab não fica 
longe daqui. 
Uma multidão de transeuntes, na rua de Nuremberg, 
olhava para cima, maravilhada com o aspecto do UFO. 
Vertiginosamente, o disco-voador cortava os ares, sem fazer 
o menor ruído. O espetáculo durou apenas alguns segundos, 
para os habitantes da grande cidade; súbito, o aparolho fez 
uma curva num ângulo de sessenta graus e precipitou-se para 
o sul. Na câmara de comando, Brigitte mantinha os quatro 
soldados sob a ameaça da pistola. Passaram por cima da 
selva da Baviera e dos subúrbios de Regensburg e logo 
viram surgir as luzes mortiças do Baustab Paradies. O 
foguete do professor Arnau voava apenas a cem metros de 
altura. 
— Estabilize o manchei — ordenou Brigitte. — 
Mantenha o disco por cima do hangar! 
O jovem soldado, suando em bicas, ferrava nervosamente 
a metade do volante. E o grande prato de metal pairou 
elegantemente sobre o hangar do Campo de Provas. Então, 
Brigitte estendeu a mão esquerda e apertou um botão 
vermelho, marcado “Bomb 1”. Ouviram um ranger de 
ferragens e o compartimento dos explosivos se abriu, 
soltando todo o seu mortífero conteúdo. Uma tonelada de 
TNT caiu, certeiramente, sobre o hangar, fazendo tudo ir 
pelos ares. - 
— Na mosca! — exclamou Brigitte, alegremente. — Que 
pena eu não poder ver a cara do professor Arnau! Ele deve 
estar orgulhoso de sua arma secreta! 
O hangar em chamas explodiu, como se estivesse cheio 
de fogos de artifício. Homens apavorados corriam de um 
lado para o outro, enquanto as explosões se sucediam, 
espalhando metais inflamados pelo pátio de treinamento. A 
torre onde eram treinados os pára-quedistas ruiu 
fragorosamente. 
— Mais para a esquerda — comandou Brigitte, batendo 
com o cano da pistola no ombro do piloto. — Faça o disco 
pairar sobre a Kommandantur! 
O rapazinho obedeceu. Ela estendeu a mão e apertou um 
segundo botão, marcado “Bomb 2”. Nova carga de TNT 
desceu do disco e foi explodir sobre a sede principal do Alto 
Comando da ONR. As paredes da casa grande abriram-se, 
como um castelo, de cartas. 
Mas, de repente, ouviu-se um estrondo e o disco deu uma 
súbita reviravolta no ar. Brigitte caiu contra uma parede, 
enquanto os outros soldados também viravam de pernas para 
o ar. O piloto agarrou-se desesperadamente ao manche, 
porém, ele não funcionava mais. 
— Os lemes não obedecem! Estamos caindo! 
Brigitte correu a espiar por urna janelinha; 
— Fomos atingidos por uma granada de trinta 
milímetros! Eu me esqueci do canhão antiaéreo! É preciso 
neutralizar aquele canhão! 
— Fique onde está! — replicou um dos nazistas, 
rastejando até ela. — Você é nossa prisioneira! Vamos 
aterrissar no pátio! 
A repórter tinha perdido a sua pistola e o outro apontava-
lhe uma Luger. Reagir seria loucura. Ela ergueu docilmente 
os braços. O soldado que fazia as vezes de piloto puxou 
furiosamente o manche, enquanto acionava a alavanca 
“Retro”. O disco saltou, no ar, e imobilizou-se; em seguida, 
começou a descer lentamente. Estavam sobre o pátio central 
do Baustab, fervilhante de nazistas armados. As labaredas do 
‘hangar destruído’ iluminavam a noite como se fosse dia. 
Vagarosamente, o disco pousou no pátio, sobre as suas 
quatro rodinhas, e ficou imóvel. A aterrissagem tinha sido 
perfeita. O piloto cortou o gás e acionou a chaveta marcada 
“Auss”. A portinhola da câmara de comando abriu-se 
automaticamente. 
— Desça! — ordenou o soldado que empunhava a Luger 
Herr Führer dirá o que devemos fazer com você! 
Brigitte desceu a escadinha, obedientemente, caindo nas 
mãos de uma dúzia de nazistas. Um homem alto e forte 
destacou-se do grupo. Tinha o uniforme cinzento em 
frangalhos e a cara suja de sangue e fuligem. Mas era o 
Hauptsturmjührer Fritz Mordau. 
— ‘Sou o’ novo Führer — declarou ele, com voz seca. 
— O professor Arnau e meu ordenança morreram na 
explosão do laboratório. Só eu escapei daquele inferno! Mas 
a “Operação Fronteira” terá que prosseguir, de acordo com 
os planos traçados! 
— Impossível, mein Fiihrer — protestou um dos quatro 
falsos soldados norte-americanos. — Não sabemos pilotar o 
disco! Foi um milagre nosso companheiro Kurt ter 
aterrissado sem acidentes! 
— Pouco importa — retrucou o novo Führer. — Tomem 
um jipe e sigam para a fronteira, pela estrada de Bayerich 
Eisenstein! Há um carro, com chapas falsas; preparado para 
esta eventualidade! O instrutor Solano Marquez seguirá com 
vocês. Eu o nomeio Himmelfahrstkommandant! Apanhem 
granadas no arsenal e cumpram a vossa missão! Schnell! 
Os quatro soldados bateram continência e afastaram-se 
correndo. Entretanto, Brigitte sofria os beliscões dos outros 
nazistas irritados. 
— Tragam a Madchen para a Sala do Conselho — 
ordenou o novo Führer. Ela será condenada à morte, num 
julgamento sumário, e fuzilada nos fundos do Baustab! Eu 
mesmo executarei a sentença! 
— A Sala do Conselho não existe mais — informou um 
nazista, vestido como um lenhador. — Tudo foi pelos ares. 
Entregue-nos a mulher, mein Führer, e deixe-nos pendurá-la 
no pátio! Um crime destes só pode ser castigado com o 
linchamento! 
— Lincha! — gritou o grupo de fanáticos, enfurecido. — 
Acabem com ela! 
Brigitte tentou se defender dos socos e pontapés, mas eles 
eram muitos e estavam alucinados pelo ódio. Entre pancadas 
e empurrões, a filha de Giselle foi arrastada para o pátio da 
Baustab. Seus agressores rasgaram-lhe a farda, deixando-a 
só de calcinhas e sutiã. Mas nem a visão maravilhosa de seu 
corpo desnudo acalmou a multidão ululante. Eram mais de 
cinqüenta homens rudes, furiosos, e não existe poesia nas 
massas. 
— Heil, Führer! — bradou a multidão, erguendo os 
braços. 
A correspondente especial do “Nova Manhã” julgou 
chegada a sua última hora. Um nazista alto e louro deu uma 
gargalhada e começou a puxar a corda da forca. 
Esperneando, Brigitte viu-se içada no ar. Suas mãos 
agarraram freneticamente na corda, para aliviar a pressão. 
Mas sabia que não teria forças para permanecerpor muito 
tempo naquela posição. O ar atravessava a sua garganta 
fazendo um ruído sibilante. Sua cabeça começou a rodar. 
Seu corpo seminu retorceu-se, numa espécie de dança quase 
lasciva, e seus olhos se fecharam, enquanto a língua surgia 
entre seus dentes brancos. 
Nisso, ouviu-se um tiro, seguido de uma rajada de 
metralhadora, O nazista alto e louro largou a ponta da corda, 
rodopiou e caiu de costas, com uma bala entre os olhos. 
Brigitte despencou-se sobro o solo, rolando como um saco 
de batatas. Aqueles tiros foram como um sinal de ataque. 
Outros disparos ecoaram na praça e meia dúzia de nazistas 
tombou no solo, gritando imprecações. A voz do novo 
Fuhrer Fritz Mordau elevou-se, dentre o coro de gemidos: 
— Achtúng! São soldados do Bundewehr! Estamos 
cercados! 
Realmente, o Baustab Paradies fora subitamente 
envolvido por um contingente de soldados do exército da 
Alemanha Ocidental, comandado por um tenente ruivo e 
nervoso. Brigitte sentou-se no lajedo, apalpando o pescoço 
magoado, e assistiu, aliviada, à rendição dos nazistas 
remanescentes da batalha. Nenhum deles reagiu quando 
reconheceu a farda dos soldados regulares alemães. Apenas 
Fritz Mordau ainda tinha a pistola na mão. 
— Entregue-se! — exigiu o tenente do Bundesiehr, 
caminhando para ele. — Vocês estão presos! Acabou-se o 
Quarto Reich! 
— Jawokl — concordou o ex-Hauptsturmführer, 
entregando-lhe a pistola. — Meu reinado durou apenas meia 
hora! Mas nós voltaremos! Enquanto existirem comunistas, 
também existirão nazistas! 
Atrás do tenente do Bundswehr surgiu um uniforme 
branco, que se aproximou rapidamente de Brigitte. Anne 
Pfifer, armada com uma pistola, ajudou a jornalista a 
levantar-se. 
— Vocês chegaram a tempo — gemeu Brigitte. 
— Mas nem tudo terminou, O Himmelfahrskomnando 
escapou daqui, num jipe americano, e dirigi-se para a 
fronteira! Temos que evitar o ataque à casamata tcheca! 
— Tarde demais — disse a agente do ATIC. 
— Chamei os soldados, que aguardavam meu apelo 
acampados em Grosse Arber, mas eles não dispõem de 
nenhuma divisão motorizada. Vamos, penas, prender os 
nazistas do Baustab; os soldados tchecos que se defendam! 
— Não! gritou Brigitte, alarmada. — O jipe está 
carregado de explosivos! Temos que evitar o ataque! 
O tenente do Bundeswehr olhava para ela com 
curiosidade. Quanto ao novo Führer, já fora despojado de 
seu uniforme cinzento e levado aos pescoções para um canto 
do pátio, onde se encontravam todos os demais nazistas 
aprisionados. 
— Tenente — continuou Brigitte, agarrando no braço do 
jovem oficial — venha comigo! Quero que me ajude a 
prender os cinco nazistas que faltam! Não podemos deixar 
de agarrá-los! 
O rapaz olhou, outra vez, para a figura da linda repórter 
maltratada e seminua e coçou a cabeça. Imediatamente, dois 
soldados do batalhão trocaram um olhar de entendimento e, 
enquanto um deles tirava a túnica, o outro despia as calças. 
Segundos depois, Brigitte envergava uma nova farda — o 
glorioso uniforme do Exército Democrático da República 
Federal Alemã. Em seguida, a jovem puxou o tenente pelo 
braço e obrigou-o a correr na direção do pátio. 
— Podem ir — gritou-lhes Anne Pfifer. — O Feldwebel 
Khristopher assumirá o comando do Baustab! 
Brigitte sentiu um arrepio na espinha, mas, logo, 
compreendeu que o sargento, a que a enfermeira se referia, 
era outro dos militares do Bunderwehr. Ela e o tenente 
subiram rapidamente a escadinha e entraram no disco-
voador. 
— O senhor já pilotou algum avião? — quis saber 
Brigitte. 
— Já. Tenho brevet de piloto amador. 
— Ótimo! Então, esqueça-se do que aprendeu e assuma o 
comando do disco! Eu lhe darei instruções, embora elas 
sejam desnecessárias. Basta ler os dísticos do painel de 
instrumentos. Não há nada mais fácil do que dirigir esta 
geringonça. 
Sentaram-se, lado a lado, diante do quadro cheio de luzes 
coloridas, e começaram a agir. Não tinham tempo a perder. 
Se os cinco falsos soldados norte-americanos tinham saído 
dali meia horas antes, seguindo pela estrada que ia dar na 
fronteira, já deviam estar atingindo a localidade de Bayerisch 
Eisenstein, que distava apenas quinze quilômetros de 
Zwiegel; daí a Zelezná Ruda em território tcheco eram 
apenas mais cinco quilômetros. E a casamata dos guardas da 
fronteira ficava na entrada da floresta da Boemia, antes de 
Zelezná Ruda. 
— Como se chama, tenente? — perguntou Brigitte, 
quando o enorme disco-voador fechou a portinhola e 
começou a elevar-se no espaço. 
— Karl Wassermann, fraulein. — O rapaz ainda estava 
pensando nas belas coxas brancas de sua companheira. — 
De alguma coisa está servindo o meu treino de piloto. Este 
aparelho assemelha-se bastante a um avião a jato... embora 
responda aos apelos com muita violência. 
— Estamos fazendo cinco mil quilômetros por hora, 
tenente! — A jovem debruçava-se sobre uma das janelinhas 
laterais e, cada vez que movia as nádegas, o coração do 
piloto dava um salto. — Mantenha o disco ao nível da 
estrada, por favor. Por que suas mãos tremem tanto? Creio 
que já passamos por Bayerisch Eisenstein e estamos 
sobrevoando a floresta da Boemia. Isto tudo já é território 
socialista! Convém voltarmos, em baixa altitude. Ainda não 
vi sinais de nenhum automóvel, lá embaixo, na estrada. 
Mas, dali a pouco, ambos viram um jipe que se deslocava 
lentamente pela estrada da fronteira. Brigitte fez um aceno 
ao tenente e este empurrou o manche. Vertiginosamente, o 
“Bierkopl” desceu sobre a estrada solitária. 
— Dez metros à frente do jipe, tenente! 
O rapaz acionou uma das alavancas, dando mais gás à 
tubeira posterior do foguete; o disco deu um salto e pôs-se a 
acompanhar a corrida do jipe, dez ou quinze metros à sua 
frente. Então, Brigitte calcou o botão marcado “Lastro”. 
Ouviu-se um ruído de ferragens e alguma coisa pesada caiu 
do aparelho, espatifando-se no meio da estrada. Era uma 
caixa cheia de areia. 
— Eles não atenderam ao aviso — comentou o tenente, 
olhando também pela janelinha. — Não querem parar! Vão 
atravessar a fronteira! 
Realmente, o jipe tinha se desviado da parede de areia e 
prosseguia na sua corrida veloz, rumo a primeira casamata 
da fronteira. Soaram alguns disparos de armas de fogo e a 
estrutura metálica do disco ressoou como um tambor. Mas o 
material inventado pelo professor Arnau também devia ser à 
prova de abalas. 
— Eles não se entregam, tenente! — Brigitte tinha o 
lindo rosto endurecido pela tensão. — Assumo toda a 
responsabilidade! Se os deixarmos minarem a casamata, a 
perda de vidas será maior! Coloque o disco exatamente em 
cima do Jipe. 
— Mas... 
— Faça o que eu mando! É uma ordem! 
Estavam apenas a vinte metros do pequeno carro com 
capota de aço. O tenente fez uma careta, mas obedeceu. E, 
então, fechando os lindos olhos azuis para não ver o 
resultado de seu gesto, Brigitte apertou o botão “Bomb 3”. 
Era o último ligado aos reservatórios de explosivos. Um 
minuto depois, havia apenas uma grande cratera na estrada 
que atravessava a fronteira da Tcheco-Eslováquia; o jipe e 
seus cinco ocupantes tinham desaparecido. Como num passe 
de mágica. 
 
EPÍLOGO E PRELÚDIO 
Um telefonema dentro da noite 
 
Uma semana depois, em Nova Iorque, o diretor do “Nova 
Manhã”, Miky Grogan, reuniu amigos para homenagear 
Brigitte. A linda repórter voltara da Europa dois dias antes, 
mas então tivera tempo para se reunir aos seus companheiros 
de trabalho. O Departamento de Estado monopolizara-a, 
interrogando-a exaustivamente, e dera-lhe por satisfeito com 
as suas declarações. Tudo acabara bem, afinal. Depois de ter 
evitado a destruição da casamata tcheca, pulverizando o 
Hinunelfahrstkomrnando nazista, a jovem tripulante do 
disco-voador havia deixado o tenente Wasserrnann no 
Baustab e, surpreendentemente, voltara a levantar vôo com 
o”Bierkopf”, afastando-se da cidadezinha de Zwiegel. Fora 
pousar num campo de manobras do exércitonorte-
americano, nas proximidades de Munique, e apresentara-se 
ao espantado comandante, pedindo-lhe que internasse o 
disco do professor Arnau e lhe emprestasse um telefone. 
Dali, ela se comunicara diretamente com o QG do FBI, na 
Pensylvania Avenue, em Washington, relatando as suas 
aventuras. E recebera ordens para calar o bico. 
Essa foi a parte mais desagradável da história. O 
Departamento de Defesa enviara à bela repórter e a seu chefe 
um pedido estranho: o de não publicarem a reportagem 
completa sobre os discos-voadores “pinne” e “Bierkopf”, 
que seria a última da série já iniciada. Razões importantes, 
relativas à segurança do Estado, impunham a necessidade de 
se fazer silêncio sobre os UFOS. O pedido do Departamento 
de Defesa fora atendido. A princípio, a esfuziante Brigitte 
ficara zangada. lá tinha tudo escrito e pronto para sair na 
primeira página, inclusive os detalhes técnicos da fabricação 
do foguete. Seu sangue de jornalista, seu senso de 
informação, estavam inteiramente frustrados! Mas logo se 
convencera de que melhor seria manter o segredo irrevelado. 
Para o bem do Tio Sam e da tranqüilidade do mundo. 
O restante da reportagem pôde ser publicado e causou um 
tremendo impacto na opinião pública. Ninguém mais se 
lembrava de um monstro chamado Adolf Hitler e não 
acreditava nas ameaças de um Quarto Reich, criado pelos 
neonazistas. Mas, depois de conhecerem todos os detalhes da 
aventura de Brigitte na Baviera, os leitores do “Nova 
Manhã” compreenderam que a bela correspondente 
estrangeira evitara não apenas o aquecimento da “guerra 
fria” entre a União Soviética e os Estados Unidos, como, 
também, a eclosão de um novo conflito mundial. O estopim 
seria a Tcheco-Eslováquia. 
Agora, porém, tudo estava terminado, felizmente sem 
maiores complicações. A polícia da Alemanha Federal 
fechara as sedes da ONR em Deggendorf. O professor Arnau 
também morrera, no bombardeio contra seu laboratório. E o 
segundo agente da Organização no Airport Hotel, o gerente 
Frítz Wonegger, já tinha sido preso pelo inspetor Alan 
Pitzer. A Organização Nacional da Revanche, tal como a 
“Sechsgestirn(Seis Estrelas, organização neonazista com QG 
nas proximidades de Gmunden, na Áustria, aparentemente 
dissolvida depois da prisão de Adolf Elchmann), estava 
fadada a desaparecer por falta de líderes. 
Miky Grogan, feliz de ver sua protegida de volta da 
Baviera, sã e enxuta, resolveu dar uma festa de 
comemoração. Alan Pitzer e Frau Anne Pfifer que também 
regressara da Alemanha, para assumir seu posto no ATIC, 
foram especialmente convidados. E Frank Minello 
compareceu porque era “cara de pau”. 
Brigitte, florindo a magia de seu corpo em gestos que 
eram pétalas de rosas, olhando com seu olhar azul e 
deixando os cabelos tão negros envergonharem o negrume 
da noite... Brigitte, em moreno pálido, o intenso perfume de 
sua pele a desafiar puritanos e troianos menos gregos, era a 
única mulher no fantástico party. Ninguém pediria outra. 
Frank Minello mordia os lábios, infeliz, um vulcão de 
ciúmes dentro do peito. Era-lhe impossível compreender o 
mistério Montfort. Mas, também não queria dar o braço a 
torcer. 
Pitzer atacava por outros caminhos. Em certo momento, 
quis ouvir da própria jovem o motivo da reportagem que 
teria sido a mais sensacional do mundo. Mostrou-se solidário 
com ela. Um absurdo, a interferência do Departamento de 
Defesa na liberdade de imprensa! 
Brigitte, já agora mais calma, fazia charme: 
— Muito obrigada, chefe. Mas é fácil de entender a 
proibição. O invento do professor Amou é, antes de tudo, 
uma arma secreta e uma arma de guerra. Terrível arma! Sua 
espantosa mobilidade e seu fácil manejo tornam-na acessível 
a qualquer militar. Se for fabricada em grande escala, tomará 
obsoletos todos os tipos de avião a jato até agora conhecidos. 
Isso, sem falar nos mísseis teleguiados. O segredo de 
fabricação do “Bierkorpl” não deve ser divulgado, no 
momento, quando o ritmo das negociações de paz no mundo 
é perfeito. Esplêndida reserva das forças do nosso Ocidente 
livre. Devidamente arquivada para qualquer emergência. 
Enquanto isso, na opinião pública, os misteriosos discos-
voadores continuam sendo um mito. Uma bela fantasia. Eu 
própria adoraria acreditar que vêm de Marte, trazendo 
mistérios, soluções de problemas sociais e religiosos. Mas.., 
chega! Não quer tomar um drink? 
Pitzer baixou a voz: 
— Quero tomar você! 
Brigitte sorriu e desconversou. Suas idéias eram mais 
sérias. 
— Quando iremos a Washington? 
— Esta noite mesmo, se você quiser. O chefe quer 
conhecê-la pessoalmente. E você tem que prestar o 
juramento e assinar o contrato, Não se preocupe: você pode 
ficar duas noites no apartamento de minha mãe. 
— Sua mãe mora em Washington? 
— Não. Mas tem um apartamento lá. Vazio. 
Brigitte sorriu e saiu para outro grupo, deixando o velho 
lobo do FBI de queixo caído, pensando em um vasto pileque 
para agüentar o queimar de seu desejo atiçado... Afinal 
pensou Brigitte o inspetor Pitzer não será tão duro como uma 
pedra... Ela teria que se apresentar no QG do FBI, é claro 
pois tinha uma recompensa para receber mas, por medida de 
segurança, viajaria sozinha... 
— Brigitte — disse Miky Grogan, segurando-a por um 
braço. — Ainda resta esclarecer uma coisa! Que história é 
essa de você internar uma senhora alemã, na Clínica Mayo, 
por conta do jornal? Há uma semana que pagamos as 
despesas, sem saber por quê! 
— É a mãe de Rudolf Kuhl — explicou a linda repórter, 
sorrindo. — Rudolf é um jovem nazista que preferiu a 
democracia. Espero que os médicos tenham descoberto o 
mal da pobre senhora. 
— Descobriram — rosnou o gordo diretor do “Nova 
Manhã”. — Ela sofria de cólera. Mas já está quase curada. 
— Cólera morbus? 
— Não. Vivia encolerizada porque o filho era um 
maricas. Foi o desgosto que a prostrou. O rapaz também está 
sob observação médica. 
Terminada a festa, Brigitte de volta aos seus aposentos, 
nua para o banho, cruzou o enorme espelho. Contemplou-se, 
feliz. Não era sem uma renovada alegria que se admirava, 
toda noite, antes de dormir, diante do espelho amigo. Nem 
um defeito, no corpo elástico! Seios, pernas, ancas, barriga, 
tudo certo, na proporção exata! Só o amor não estava certo 
no ponto exato de suas reações. Que estranha conseqüência! 
Se apaixonava-se, perdia o desejo. Se não se apaixonava, aí 
sim, desejava. 
Balançando os seios livres, foi até o telefone cor-de-rosa 
de seu boudoir. Sentou-se. Cruzou as pernas sensacionais. E 
discou um número. 
— Alô? Pronto! 
Era uma voz de homem, grave e macia. 
— Frank? Sou eu. Ainda não se deitou? Então, venha. 
Sim, isso mesmo. Venha correndo, garotão! 
No quarto, deixando apenas o abajur discreto a 
iluminação o corpo nu, Brigitte espreguiçou-se e murmurou 
consigo mesma: 
— Quando repousara o seu amor no meu amor? Como a 
pureza na alma dos santos... como os pássaros nas torres das 
igrejas?... 
Cinco minutos depois, Frank Minello deu-lhe a resposta. 
O jovem e musculoso redator esportivo do “Nova Manhã” 
viera tão depressa que se esquecera de vestir a camisa, sob o 
capote de lã. Também, para quê? 
 
 
A descoberta de um novo átomo na natureza desperta a 
cobiça de gente muito perigosa. 
Brigitte Montfort volta em: 
O MISTÉRIO DO ÁTOMO Z.

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