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O tempo histórico no livro didático_André Soares_Turma 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
Mestrado Profissional em Ensino de História
Disciplina: Ensino de História e a questão das temporalidades
AVALIAÇÃO II- O tempo histórico no livro didático
NATAL/RN 
20/11/2020
André de Souza Soares
O tempo histórico no livro didático
Trabalho apresentada à disciplina Ensino de História e a questão das temporalidades, ministrada pelos professores: Juliana Souza, Magno Mesquita, Maria Emilia Porto, Sebastião Vargas Netto.
NATAL/RN 
20/11/2020
1. O Livro didático de História (LDH), a realidade e a escolha
O livro didático, por vezes, é a principal ferramenta de trabalho a disposição do professor em sala de aula. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que remonta a criação do Instituto Nacional do Livro (INL), em 1929; é uma política do Estado brasileiro que atua na distribuição massiva de obras didáticas para as escolas de todo o Brasil. A partir dos anos 1990, os professores foram inseridos no processo de seleção e ano após anos houve uma ampliação e um fortalecimento do programa, que hoje faz parte da cena escolar brasileira; sendo uma política pública indispensável para o atendimento educacional no país. 
Minha primeira experiência no processo de escolha do LDH para o ensino médio aconteceu no ano de 2017. A opção foi a coleção HISTÓRIA, Sociedade & Cidadania do autor Alfredo Boulos Júnior, motivada por duas questões. Primeiro, já tinha familiaridade com o material, havia utilizado durante três anos na escola privada. Segundo, através desta experiência percebi que ele seria o material mais adequado quando comparado aos demais, que entre outros aspectos, possuíam uma composição gráfica e uma redação não condizente com as condições de tempo de aula e calendário escolar dos quais estamos habituados.
No meu contexto de escola, as aulas nos três primeiros horários dispõem de cinquenta minutos e os demais, quarenta minutos. Quando consideramos a estrutura desconfortável, a falta de docentes que provocam as “aulas vagas”, rotineiramente temos danos no planejamento didático, o que afeta na aprendizagem dos alunos. Mas o fator curioso, o qual verifiquei há três anos quando cheguei a escola; foi a falta de hábito que os discentes alegavam quando eram recomendados ao uso do livro didático. Era a primeira vez, em alguns anos que eles eram aconselhados a levar o LDH para a aula que ocorria apenas um dia por semana, e que durava entre oitenta e cem minuto. 
Contudo, minimizadas estas últimas particularidades, percebi no LDH escolhido, um bom estímulo a tomada de consciência, principal sentido buscado nas aulas, e uma boa referência para rotinas de aprendizagem histórica por conta de sua honesta composição e conteúdo. 
O termo “Cidadania”, no título, se insere como um plano discursivo que tem a intenção de romper com modelos de abordagem tradicional, mas carrega na própria dimensão eurocêntrica uma contradição conceitual. Mas o livro é sensível as demandas sociais, e apresenta por exemplo: “o golpe civil militar que derrubou João Goulart em abril de 1964” (3º ano). E, no mesmo capítulo mostra a mobilização contra o regime em diversos contextos, algo que auxilia o professor no enfrentamento as tendências “politicamente incorretas” que tendem a minimizar ou até negar estes episódios (Anexo 2). 
Esse argumento, deveras usado por revisionistas e negacionistas da História, em certo sentido traz um dos dilemas do LDH, que em alguns casos favorecem esse tipo de percepção por parte dos desonestos. Há quem defenda inclusive a extinção ou controle cerceador dos livros do PNLD por seu suposto apelo ideológico “esquerdista”, “comunista”; sem falar no conto horrendo do “kit gay”. Outros, preferem incentivar a hostilidade contra os professores, por considerarem a docência em História uma forma de aparelhar o estado brasileiro em favor de algumas pautas e questões político-partidárias (Anexo 3).
2. O LDH e o tempo histórico
Segundo Rüsen (2010), 
[...] as características que distinguem um bom livro didático são essencialmente quatro: um formato claro e estruturado; uma estrutura didática clara; uma relação produtiva com o aluno e uma relação com a prática da aula. (RÜSEN, 2010, p. 115)
Para que a análise não exceda o espaço reservado à proposta do trabalho, ilustrarei como acontece o tratamento do tempo histórico no terceiro volume da coleção que utilizo, além disso; apontarei minhas percepções sobre as atividades indicadas no estudo dos objetos do conhecimento que são apresentados. 
Em consonância com a reflexão apresentada por Rüsen, o formato e as estruturas do LDH analisado são pertinentes e viabilizam boas práticas em sala de aula. O dimensionamento dos caracteres é adequado, há uma harmônica distribuição de textos, imagens e caixas de textos complementares. Estes aspectos tornam a leitura satisfatória, com texto objetivos e com informações basilares; um instrumento que auxilia muito bem no debate dos temas evocados pelo professor. 
Contudo, o livro tende a repetir o mesmo costume dos clássicos livros-manuais de História. Há uma tentativa, nas três coleções, por garantir o estudo de “toda a História”, com uma tendência ao modelo tradicional eurocêntrico, das metanarrativas que emergem da tradição ocidental greco-romana. O LDH é organizado em quatro unidades temáticas, isso pode ser interpretado drasticamente como uma sinalização ao estudo destas em quatro bimestres, algo colossal e inviável diante das condições adversas enfrentadas em nosso contexto de escola (aspectos já mencionados). 
Não obstante, como aponta FREITAS (2019), o autor tem a criatividade de inovar as nomenclaturas e arranjos apontando por exemplo a proximidade temporal entre “A grande depressão e os fascismos” (Anexo 4), sem mencionar que o autoritarismo e as posturas antidemocráticas além de não serem restritas à Europa, não estão presas aquela temporalidade, se manifestando intensamente nestes últimos dez anos por todo o planeta. 
O texto do livro trabalha a partir do conceito de “breve século XX”, de Eric Hobsbawm, situando a análise desta longa temporalidade nos conflitos europeus que se filiam as querelas imperialistas do século anterior, e a História sendo assim, o diário destes embates. Cerca de 60% dos temas evocados se referem a essa contínua relação de causa e consequência, e o aluno é levado a conhecer mais sobre esse tempo e espaço do que sobre questões locais. 
A tendência do material didático permanece trazendo à tona a cristalização dos conteúdos, os quais são idênticos aos apresentados na coleção voltada para os anos finais do ensino fundamental. No exame cuidadoso das duas coleções se verifica tão somente uma maior síntese em algumas abordagens, afinal um dos volumes voltado para o ensino médio é tragicamente uma compilação dos livros do 7º e do 8º ano; algo que torna a contemplação das temáticas, uma tarefa praticamente impossível. 
É bem verdade que os professores muitas vezes são realmente levados a tentar contemplar o livro em sua totalidade, a busca por “bater o livro de capa a capa”. Essa concepção se alia a manutenção da concepção da historia magistra vitae, uma marcha de desenvolvimento seguindo os mesmos preceitos aproveitados da biologia e que sugerem a História nos traços positivistas e/ou vinculados as escolas metódicas dos oitocentos. 
A noção de tempo histórico repetida neste LDH é marcada na forma de abordagem de algumas temáticas, como já destacado; mas que pode ser um traço da preferência pelos debates ligados a História política. Embora o livro se proponha no título a debater a sociedade e a cidadania, há sinalizações explicitas aos aspectos político-econômicos em abordagens de média duração: “Guerra Fria”, “nova ordem mundial” (Anexo 5). Já em se tratando de História do Brasil, parte expressiva desta é contada a partir das querelas protagonizadas pelas elites agrárias, no início do século XX, e a seguir, perpassa intrinsecamente ligada a biografia política de Getúlio Vargasa quem atribuem inclusive o título do período no qual governou sem sufrágio, como uma “era”, e não uma ditadura com fortes traços autoritários e fascistas. 
Por fim, um outro aspecto do LDH que merece uma análise especial são as propostas de atividades e, consequentemente, o uso das fontes históricas para este fim. O autor prioriza o uso de questões objetivas de múltipla escolha e estas são maioria expressiva. Já no que se refere as questões abertas, estas geralmente são vinculadas a uma fonte Histórica (imagem, documento oficial, jornal, texto acadêmico, música, tabela, gráfico ou mapa), requerem do aluno reflexão e esforço de pesquisa para responde-las. Contudo, os comandos destas questões carregam uma linguagem difícil, este tipo de característica dificulta a utilização destes exercícios, sendo preciso utilizar atividades extras. 
3. Considerações finais 
A partir da análise apresentada neste trabalho, evidenciou-se a necessidade de proporcionar aos alunos o acesso a outros documentos históricos. A Olimpíada Nacional de História do Brasil (ONHB), realizada pela UNICAMP, disponibiliza o acervo das provas de todas as edições, e esse material é de grande valor como suporte didático a ser usado em parceria com o livro. 
Apesar de algumas inadequações, não se pode desconsiderar o LDH, e este trabalho não teve a intenção de fazer isso. O material é uma ferramenta crucial na realização das dinâmicas de aula no ensino médio, afinal; todos os alunos tem acesso e isso já é um divisor de águas. O investimento dispendioso é perceptível quando conhecemos a realidade de escolas privadas, e muitas vezes a baixa utilização destes materiais por conta do custo, tendo em vista que os pais em alguns casos não conseguem adquirir. 
É importante, finalmente, destacar que outras análises poderiam ser executadas neste LDH, sobre temáticas e abordagens vinculadas as questões sociais, culturais e/ou com temáticas sensíveis, seu trato e os usos do passado; mas poderemos o fazer em outra oportunidade. Estes exercícios nos aguçam o olhar crítico e nos ajudam a pensar nas diversas estratégias que podem ser valiosas na lida profissional. Um trabalho de constante reconstrução. 
Anexos:
Anexo 1 – Coleção História, Sociedade & Cidadania, Alfredo Boulos Júnior, editora FTD, 2° Edição, São Paulo, 2016. LDH analisado neste trabalho.
Anexo 2 – Recorte do LDH do 3° ano: a mobilização contra o regime militar para além dos grandes centros urbanos. p. 217.
Anexo 3 – Print da página de internet que hospeda o Blog de Gustavo Negreiro, blogueiro que ficou nacionalmente conhecido por suas declarações ofensivas contra a ativista Greta Thunberg; e que empresa em seus textos um perfil ultraconservador.
Anexo 4 – Recorte do sumário do LDH do 3º ano. O fascismo e seu posicionamento em determinada temporalidade. 
Anexo 5 – Recorte do sumário do LDH do 3º ano. O tempo Histórico a partir do apelo personalista político (Era Vargas) e centrado nas disputas entre os líderes de dois blocos econômicos (Guerra Fria).
Referências 
BOULOS JR. Alfredo. História, sociedade & cidadania, 3º ano. 2ª Ed. São Paulo: FTD, 2016. 
FREITAS, Itamar. Livro Didático. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Dicionário do Ensino de História. Rio de Janeiro: FGV, 2019, p. 143-148.
SMITH, M. A.; BARCA, I.; MARTINS, E. de R. (Orgs.) Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Editora da UFPR, 2010.

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