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PROTEÇÃO DE EIXOS DE BOMBAS CENTRÍFUGAS PELO PROCESSO PTA Edson Hiromassa Takano 1 Ana Sofia C.M. D’Oliveira 2 hiromassa@gmail.com 1 sofmat@ufpr.br 2 1, 2 Departamento de Engenharia Mecânica, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, Centro Politécnico, s/n - Bairro Jardim das Américas, CEP: 81531-990 - Curitiba - Paraná - Brasil Resumo. Nas plantas de refino de petróleo as bombas centrífugas operam sob severas condições de serviço e o eixo é um dos componentes que sofre o desgaste, ocorrendo principalmente nos seus pontos de apoio. Este trabalho visa elaborar um procedimento para proteção em eixo de bombas e a otimização dos parâmetros de processamento com a utilização do processo a Plasma por Arco Transferido (PTA). Para o revestimento utilizou-se a liga a base de cobalto conhecida comercialmente com Stellite 1 e 6. Para a deposição, adotamos uma configuração onde se fixou o componente em um sistema de rotação constante e a tocha posicionada na parte superior tangente ao eixo. A intensidade de corrente é um parâmetro a ser controlado, pois quanto maior o aporte térmico maior o problema de distorção do eixo e da zona termicamente afetada (ZTA). Deve-se controlar a velocidade de rotação do componente, pois quanto menor a rotação maior a tendência do material de aporte começar a escorrer devido ao acumulo de material. Portanto neste contexto com a utilização das vantagens do processo PTA permitirá melhorar a integridade estrutural do revestimento e minimizar/eliminar a distorção do eixo. Palavras-Chave: Plasma por Arco Transferido, PTA, Ligas de Co. 1. INTRODUÇÃO Bombas centrífugas são utilizadas em unidades de refino pela necessidade de transferir produto de um ponto para o outro, dando-lhe pressão e vazão conforme a Fig. (1). Entre outros aspectos cada bomba depende da pressão, da vazão, do produto (derivado do petróleo) e claro das características do fluído (gasolina, querosene, etc). O principal componente que sofre desgaste é o eixo das bombas centrífugas e ocorre principalmente nos seus pontos de apoio (selos mecânicos e mancais). Estas bombas operam na temperatura do fluído que podem chegar até 450º C. Nas plantas de refino de petróleo as bombas centrífugas operam sob severas condições de serviço e o eixo é um dos componentes que sofre o desgaste, ocorrendo principalmente nos seus pontos de apoio. VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial, 03 a 05 de outubro de 2007, Curitiba – PR a) b) Figura 1 – Esquema da Bomba Centrífuga: a) fonte: Sulzer e b) site da UFRN Este trabalho visa elaborar um procedimento para proteção em eixo de bombas e a otimização dos parâmetros de processamento com a utilização do processo a Plasma por Arco Transferido (PTA). 2. SELEÇÃO DO PROCESSO DE DEPOSIÇÃO A seleção do processo de deposição é tão importante quanto à seleção da liga a ser depositada, ou seja, depende de vários fatores como as condições de operação, características do metal de base, geometria e as dimensões da peça, relação custo/benefício do componente a ser revestido e o custo de processamento. O processo de deposição a Plasma por Arco Transferido (PTA) tem características exclusivas que tornam o processo extremamente atrativo para aplicações de revestimentos in-situ. A utilização de material de adição na forma de pó, maior flexibilidade na seleção do material de aporte, aliada a elevada concentração de energia inerente ao processo resulta em revestimentos com baixa diluição, baixa distorção e bom acabamento superficial. E a otimização dos parâmetros de processamento é essencial para a obtenção de um revestimento de qualidade. Existe uma grande variedade de materiais que podem ser utilizados como revestimento, dentre os mais importantes podemos citar as ligas a base de cobalto, conhecida comercialmente como Stellite 1 e 6. Esta liga, Stellite 6, é uma das mais utilizada, pois apresenta uma excelente resistência a diversas formas de degradação, tanto químicas como mecânicas. Atributos relacionados à sua excepcional resistência ao desgaste por abrasão, erosão, por impacto e cavitação. A liga Stellite 1 confere elevada dureza devido à grande quantidade de carbonetos presentes e é recomendada para proteção de componentes sujeitos a severo desgaste a alta temperatura. A liga por ser de difícil soldabilidade é necessário um pré-aquecimento do material base, Yaedu et al (2003 e 2005). A geometria do componente é um fator de extrema importância, pois as tensões trativas geradas durante o processo de deposição em corpos cilíndricos é muito maior comparado com os substratos planos. Vários trabalhos (Yaedu, 2003; Takeyama, 2004) mostraram que a liga Stellite 1 e 6 para substratos planos e a utilização do processo PTA, os revestimentos obtidos são homogêneos e densos, apresentando excelente união metalúrgica com o substrato e com excelente resistência ao desgaste. 3. PROCESSO A PLASMA POR ARCO TRANSFERIDO (PTA) O processo de deposição a Plasma por Arco Transferido (PTA) é um processo de arco elétrico com proteção gasosa e alta densidade de energia. O PTA pode ser considerado uma modificação do processo de soldagem TIG (Tungsten Inert Gas), onde a coluna do arco elétrico (Arco Plasma) sofre VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial, 03 a 05 de outubro de 2007, Curitiba – PR uma constrição, resultante da passagem do arco através de um orifício de diâmetro reduzido, normalmente de cobre, refrigerado a água (Bracarense, 2000; WAINER, 1992; ASM, 1992). Em relação aos outros processos de soldagem utilizados, o PTA permite uma maior eficiência de deposição e alta confiabilidade e reprodutibilidade. As principais vantagens do processo de aplicação de revestimentos por PTA são listadas a seguir: • Estabilidade do arco, mesmo com corrente muito baixa; • Processo limpo, sem escória e/ou respingo; • Menor tendência à distorção; • Os revestimentos obtidos são homogêneos e densos, apresentando excelente união metalúrgica com o substrato; • Diluição típica em torno de 5% a 20 %; • Flexibilidade na escolha do material a ser depositado pelo fato de utilizar metal de adição em forma de pó; As principais desvantagens do processo de aplicação de revestimentos por PTA são: • Equipamento de maior complexidade, o que gera maior custo de manutenção; • O equipamento é relativamente caro e necessita de uma instalação permanente; • O consumo de gás argônio é um pouco maior que no processo TIG; • Requer do operador maior conhecimento do processo. Os revestimentos foram processados utilizando-se o equipamento a Plasma por Arco Transferido, modelo STARWELD 300M produzido pela Deloro Stellite, instalado no Laboratório de Engenharia de Superfície da Universidade Federal do Paraná, Fig. (2). O equipamento básico é constituído pela fonte de energia, de uma tocha, cilindros de gases, circuito de água de resfriamento e um painel de controle. Figura 2 – Plasma por Arco Transferido (PTA) A tocha utilizada foi o modelo 200 produzida pela Deloro Stellite, a faixa de trabalho para a intensidade de corrente está compreendida entre 50A a 200A, sendo provida de um eletrodo de tungstênio não consumível com diâmetro de 1/8” e um bocal de cobre, conforme a Fig. (3). VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial, 03 a 05 de outubro de 2007, Curitiba – PR Figura 3 – Tocha do PTA Para a aplicação do revestimento o eixo foi seccionado em pontos específicos, regiões onde o componente sofre desgaste. O local de interesse são os seus pontos de apoio (mancais e selo mecânico). Para rotacionar o eixo de aço ligado de 90 mm de diâmetro, foi utilizado um conjunto onde o sistema de rotação consiste de uma placa de três castanhas acoplado a um motor de ½ CV e um inversor de freqüência da WEG. Para o processo de deposição, desenvolvemos uma configuração onde se fixou o componente emum sistema com rotação constante e a tocha posicionada na parte superior tangente ao eixo. O eixo foi seccionado e acoplado a uma placa de três castanhas com velocidade angular constante e a distância Tocha-Peça de 10 mm, Fig. (4). Figura 4 – Posicionamento e a distância Tocha-Peça O processo utiliza dois arcos ajustáveis independentemente, arco não transferido chamado de piloto, obtido de um circuito de alta freqüência entre um pólo negativo (eletrodo de tungstênio) e um ânodo (bocal de cobre), conforme a Fig. (5-a). Este arco piloto é utilizado para iniciar e estabilizar o arco principal, entre o eletrodo de tungstênio (cátodo) e a peça que está sendo revestida (ânodo) através da ionização do gás inerte, argônio, direcionado ao redor do eletrodo. Quando o arco principal é formado, Fig. (5-b), o arco piloto é extinto e somente volta a ser estabelecido quando o arco principal é extinto. VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial, 03 a 05 de outubro de 2007, Curitiba – PR a) b) Figura 5 – a) Arco Piloto e b) Arco Principal A deposição por PTA é um processo no qual um material em pó, liga atomizado ou mistura de pós é introduzido no arco plasma onde é fundido e este spray térmico ao atingir a poça fundida no substrato, forma um depósito denso e homogêneo, com excelente ligação metalúrgica ao metal de base. 4. PARÂMETROS DE PROCESSAMENTO Nesta etapa a abordagem será em função da verificação da soldabilidade do material base, eixo da bomba centrífuga, com a utilização das ligas atomizado a base de cobalto conhecida comercialmente como Stellite 1 e 6. As composições químicas estão indicadas na Tab. (1). Para o processamento foram utilizadas duas intensidades de corrente, 120A e 150A. Os demais parâmetros constantes como a distância tocha-peça, vazão do gás de proteção, de plasma e de arraste ou transporte estão apresentado na Tab. (2). O quarto eixo do sistema, rotação do eixo, foi calculado para manter com uma velocidade angular constante de 2 rpm. Tabela 1 - Composição Química (Deloro Stellite) Co Ni Fe C Cr Mn Si W Stellite 1 Bal. Max. 3 Max. 2.5 2.45 31 1 1 13 Stellite 6 Bal. Max. 3 Max.3 1.2 28 1 1.1 4.5 Tabela 2 – Parâmetros Constantes Distância Tocha-Peça (mm) 10 Vazão do Gás de Plasma (l/min) 2,2 Vazão do Gás de Proteção (l/min) 15 Vazão do Gás de Arraste (l/min) 2,2 O alinhamento da peça com a tocha é uma da etapa fundamental, Fig. (6), pois caso a simetria não tenha a proporção exata haverá uma oscilação da distância Tocha-Peça e o revestimento não apresentará uma homogeneidade em todo o contorno da sua superfície. Isto resultará em diferentes níveis de penetração, diluição, dimensões do cordão (largura e reforço) e conseqüentemente comprometendo o revestimento. VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial, 03 a 05 de outubro de 2007, Curitiba – PR Figura 6 – Alinhamento do eixo e a tocha. A velocidade angular do eixo deve ser controlada, pois quanto menor a rotação maior é o tempo da poça liquida permanecer aquecida e conseqüentemente o material líquido tenderá a escorrer. O inverso com a rotação muito alta, o cordão tenderá ter uma largura muito fina ou até mesmo a não aderência do revestimento na peça. Os cordões foram processados utilizando duas intensidades de corrente, 120A e 150A, e duas ligas a base de cobalto, caracterizado pela alteração da composição química. Na Figura 7 estão organizado da esquerda para a direita os respectivos revestimentos: 120A e 150A com Stellite 1 e os subseqüentes estão os de 120A e 150A com Stellite 6. Figura 7 – Revestimento com diferentes intensidades de corrente e composição química da liga Para a averiguação dos cordões foram analisados por inspeção visual para identificação de descontinuidades superficiais, trincas e ou poros superficiais. Na Figura 8 os revestimentos estão organizado conforme a intensidade de corrente (120A e 150A) em função das ligas a base de cobalto (Stellite 1 e 6). Pode-se verificar que os cordões não apresentam trincas ou poros superficiais, mas há resquício de excesso de pó, o que é devido à configuração da tocha por apresentar quatro orifícios de saída dos pós, na Fig. (9). O intuito é de revestir o eixo com a máxima eficiência para não haver desperdício de pó e ao mesmo tempo obter um reforço expressivo. O processo PTA proporciona excelente união metalúrgica, revestimentos homogêneos e densos. Portanto, como o material base não apresentou problemas de soldabilidade para as ligas Stellite 1 e Stellite 6, não houve a necessidade de um pré-aquecimento do eixo. Pois a maior dificuldade estava associada a sua geometria, corpo cilíndrico, pois as tensões trativas gerada durante o processo é muito maior comparado com os substratos planos. VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial, 03 a 05 de outubro de 2007, Curitiba – PR Corrente de 120 A Corrente de 150 A Stellite 1 Stellite 6 Figura 8 – Revestimentos em função da intensidade de corrente pelas composição química Figura 9 – Orifícios de saída dos pós A intensidade de corrente é um parâmetro a ser controlado, pois influência na qualidade superficial dos revestimentos. E quanto maior o aporte térmico maior o problema de distorção do eixo e da zona termicamente afetada (ZTA). O processo PTA por ser uma técnica de alta confiabilidade e reprodutibilidade, algum problemas da soldagem convencional não são observados como escórias ou respingos. 5. PRINCIPAIS RESULTADOS E SEUS IMPACTOS • O processo pode ser utilizado para diversas geometrias; • O equipamento possui uma alta taxa de eficiência quanto à confiabilidade e reprodutibilidade; • A rotação é um parâmetro a ser controlado; • A intensidade de corrente é um fator que influência na qualidade superficial do revestimento; • A tocha por apresentar quatro orifícios de saída de pó, a taxa de alimentação é um parâmetro a ser otimizado; • O alinhamento entre o eixo e a tocha é um fator de que necessite cuidados no inicio do processo; • Não é necessário um pré-aquecimento do componente; • Assim sendo o processo de deposição permitirá minimizar/eliminar a distorção do eixo e melhorar a integridade estrutural. VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial, 03 a 05 de outubro de 2007, Curitiba – PR 6. REFERÊNCIA Bracarense A.Q., “Soldagem a plasma – PAW”, Belo Horizonte - MG, 2000. Wainer E., Brandi S.D., Mello F.D.H., “Soldagem: Processos e metalurgia”, Editora Edgard Blucher Ltda, 1992. ASM International, “Metals Handbook”, vol. 18, 1992 Yaedu, A. E. ; D'Oliveira, A. S. C. M., “Co Based Alloy PTA Hardfacing with Different Dilution Levels”, Materials Science and Technology, United Kingdom, v. 21, n. 4, p. 459-466, 2005. Yaedu, A. E., “Influência Do Substrato Na Deposição De Stellite 1 Com Plasma De Arco Transferido”, Dissertação de Mestrado, 2003. Takeyama, R.R. , D’Oliveira, A.S.C.M., “Aumento da Resistência de Revestimentos de Co pela Adição de Carbonetos de Tungstênio”, CBCIMAT, 2004