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ANÁLISE DE DADOS Adalto Acir Althaus Junior SOCIOECONÔMICOS E INDICADORES Adalto Acir Althaus Junior ANÁLISE DE DADOS E INDICADORES SOCIOECONÔMICOS Código Logístico 58810 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6521-9 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 2 1 9 Análise de dados e indicadores socioeconômicos IESDE 2019 Adalto Acir Althaus Junior Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Maciej Bledowski/GarryKillian/Paulo Vilela/r.classen/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A469a Althaus Junior, Adalto Acir Análise de dados e indicadores socioeconômicos / Adalto Acir Althaus Junior. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 104 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6521-9 1. Indicadores sociais. 2. Indicadores econômicos. 3. Censo. I. Título. 19-58497 CDD: 310 CDU: 311 Adalto Acir Althaus Junior Visiting scholar no Bauer College of Business da Universidade de Houston (UH). Doutor em Administração de Empresas na área de finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mestre em Administração na área de contabilidade e finanças pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). MBA em Planejamento e Gerenciamento Estratégico pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Graduado em Administração de Empresas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná (FESP) e em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Possui experiência como professor e consultor na área de finanças e planejamento. Sumário Apresentação 7 1 Estado e sociedade 9 1.1 A relação entre Estado e sociedade 9 1.2 Planejamento governamental e políticas públicas 10 1.3 Monitoramento das políticas públicas 13 1.4 Subsídios para avaliar ações governamentais 15 2 Indicadores socioeconômicos 21 2.1 Indicadores econômicos e sociais 21 2.2 Propriedades e usos dos indicadores 25 2.3 Diagnósticos socioeconômicos 33 2.4 Elaboração e divulgação de estatísticas socioeconômicas 38 3 Fontes de dados e principais indicadores 47 3.1 Produtores de dados e de indicadores socioeconômicos 47 3.2 Principais indicadores 51 4 Análise de dados socioeconômicos 79 4.1 Estatísticas descritivas 79 4.2 Técnicas de apresentação e análise de dados 87 4.3 Uso de programas estatísticos 92 4.4 Pesquisas e avaliações de programas sociais 94 Gabarito 101 Apresentação Os indicadores socioeconômicos são utilizados de modo universal para avaliar e apontar os caminhos que deveriam ser prioridade das políticas públicas. Com uma linguagem amplamente aceita, eles são utilizados para fazer comparações entre países, estados, regiões e municípios a fim de indicar bons exemplos a serem seguidos e outros a serem evitados pelos gestores públicos. Para além da verificação de características sociais e econômicas, os indicadores socioeconômicos proporcionam aos governos condições mais adequadas de planejamento em termos de políticas públicas, uma vez que permitem conhecer e entender melhor a realidade de cada lugar. No Brasil, por exemplo, essa ferramenta pode auxiliar na elaboração de boas políticas e delinear ações que o levem a caminhar em ritmo de crescimento e melhoria da qualidade de vida de sua população. Toda unidade político-administrativa, seja estadual ou municipal, precisa inteirar-se do desenvolvimento social da sua localidade e das necessidades de seus cidadãos. Igualmente, os organismos internacionais de financiamento e apoio a países e regiões menos favorecidas também precisam de critérios claramente definidos não só para avaliar a evolução da qualidade de vida dos habitantes do globo, mas também para identificar as áreas mais carentes e que, consequentemente, requerem mais apoio. Esta obra, ao eleger os indicadores socioeconômicos como tema, traz a lume uma ferramenta imprescindível para acessar essas informações. Estruturado em quatro capítulos, este livro parte da discussão do papel do Estado como protetor e indutor do bem-estar da população. Depois, trata da pertinência de possuir informações capazes de orientar a formulação mais eficiente de políticas públicas afinadas às demandas da sociedade. Na sequência, no segundo capítulo, aborda a definição de indicadores socioeconômicos, suas propriedades e como podem ser utilizados para elaborar diagnósticos. No terceiro capítulo, por sua vez, são apresentados os principais produtores de estatísticas socioeconômicas do Brasil e a maneira pela qual se pode obter e interpretar corretamente esses indicadores. Por fim, o quarto e último capítulo elucida algumas estatísticas descritivas comumente utilizadas, explicando como analisar e apresentar dados socioeconômicos e, ainda, chamando a atenção para a necessidade de uso dos programas estatísticos e maior rigor na elaboração de pesquisas e avaliações de programas sociais. Boa leitura! 1 Estado e sociedade Neste capítulo, você entenderá a relação entre o Estado e a sociedade, discutiremos um pouco de sua função e a formulação de políticas públicas. Veremos, também, qual é o papel do Estado no processo de elaboração dos programas sociais e a importância de se ter diagnósticos socioeconômicos informativos. Com base nisso, você entenderá por que é fundamental que o Estado possua dados e indicadores socioeconômicos para bem cumprir seu papel frente a sociedade que serve. 1.1 A relação entre Estado e sociedade A sociedade organizada, sempre em processo de evolução, busca estruturar suas bases de funcionamento por meio de uma ordem política, o Estado. Assim, ele é constituído por um conjunto de instituições públicas que possuem múltiplas relações com a sociedade em um determinado espaço territorial. Atender aos anseios dessa sociedade em constante mudança é função do Estado. Desde a Grécia Antiga, diversos filósofos discutem a relação entre sociedade e Estado e buscam definir cada um deles, elaborando hipóteses, conceitos e teorias para explicar a essência do Estado e quais suas funções na vida social. Tais teorias não nasceram de forma linear, foram somando-se, as ideias do contraditório e de diferentes áreas e correntes de pensamento, umas às outras e sendo tratadas sob o ordenamento jurídico, econômico e sociológico. Alguns dos filósofos que se destacaram foram Rousseau, Adam Smith, Karl Marx, Comte, Maquiavel, entre outros. Muitos deles se preocuparam em definir e diferenciar esses conceitos. Aqui, partiremos de uma visão mais pragmática e menos filosófica, entendendo o Estado como os governos, sejam eles municipal, estadual ou federal, e a sociedade como o conjunto de pessoas que habita os mais diversos espaços territoriais unidos sob a égide de um mesmo governo, ou seja, seus cidadãos. No Brasil, temos a sociedade brasileira e o governo federal como atores centrais. Segundo a estrutura política de funcionamento e de estabelecimento de um governo, dentre suas principais funções está a de cuidar do seu povo. Cuidar da sociedade no sentido amplo, aquela que vive no seu território e sobre a qual tem influência. Assim, o governo deveria zelar para que a sociedade que representa tenha certo grau de conforto e proteção. Partindo desse ponto de vista, o governo deve se preocupar com saúde, segurança, educação, infraestrutura, regulação (leis), proteção ao meio ambiente, condições para melhoria do ambiente de negócios, crescimento econômico e tantas outras questões relevantes para que haja um funcionamento harmonioso da sociedade. Vídeo Análise de dados e indicadores socioeconômicos10 Em resumo, a sociedade espera que o governo crie ou pelo menos trabalhe para criar condições de vida cada vez melhores e mais justas para os cidadãos.Assim, governo e sociedade estão intimamente ligados, sendo o governo o responsável por cuidar da sociedade, garantindo serviços públicos e propiciando condições de vida cada vez melhores para sua população. Mas quem mantém o governo? É a sociedade que mantém o governo. Seja por conta do pagamento dos impostos, seja por uma vontade social dos seus cidadãos, em que todos aceitam regras de convívio e leis que regulam os direitos e os aspectos culturais envolvidos no dia a dia. Podemos dizer que governo e sociedade vivem em uma simbiose, na qual a sociedade mantém o governo que, por sua vez, busca criar condições cada vez mais favoráveis para a vida da sua população. Para atender aos anseios dessa sociedade, o governo deve estabelecer linhas de ação, ou políticas, que vão provocar esforços de seus órgãos integrantes, bem como dos demais atores da sociedade, como empresas, organizações, instituições e das próprias pessoas. Esses esforços devem caminhar no sentido de levar o governo a cumprir seu papel. Isso pode ser resumido no que se denomina estado de bem-estar social, que ocorre quando o Estado “assume a proteção social de todos os cidadãos, patrocinando ou regulando fortemente sistemas nacionais de Saúde, Educação, Habitação, Previdência e Assistência Social; normatizando relações de trabalho e salários; e garantindo a renda, em caso de desemprego” (SANTOS, 2016, p. 45). Porém, para que tudo funcione, é necessário que o governo tenha informações que permitam planejar e tomar decisões acertadas na escolha das políticas ou direções, de modo que se estabeleçam condições para que o bem-estar social seja alcançado. 1.2 Planejamento governamental e políticas públicas Todo processo de planejamento, seja governamental ou não, deve partir do reconhecimento de problemas a serem evitados ou sanados, ou, de outra forma, do estabelecimento de objetivos a serem atingidos. Tais objetivos podem ser amplos ou específicos e dirigidos. Porém, em se tratando de planejamento governamental, quem os determina? Esses objetivos são definidos pelos próprios usuários do planejamento, no caso, o governo. Observa-se, contudo, que bons objetivos são aqueles estabelecidos por meio de um processo participativo, afinal, é a sociedade a principal impactada pelos resultados do planejamento colocado em prática. As políticas públicas podem ser entendidas como um conjunto de ações desenvolvidas pelo Estado para garantir o direito à cidadania, logo, devem estar voltadas à garantia dos pressupostos constitucionais e podem servir como diretrizes ou linhas de ação de um governo. Nesse sentido, políticas públicas podem ser definidas como: conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado diretamente ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que visam assegurar determinado direito de cidadania, de forma difusa ou para determinado seguimento social, cultural, étnico ou econômico. As políticas Vídeo Estado e sociedade 11 públicas correspondem a direitos assegurados constitucionalmente ou que se afirmam graças ao reconhecimento por parte da sociedade e/ou pelos poderes públicos enquanto novos direitos das pessoas, comunidades, coisas ou outros bens materiais ou imateriais. (PARANÁ, 2019) Assim, ao iniciar o processo de planejamento das ações governamentais, automaticamente são definidas as políticas públicas a serem implementadas e as prioridades dos governos. Isso correspondendo ao fato de que a vida em sociedade exige o aprendizado de viver mantendo o equilíbrio dos desejos e interesses individuais com os interesses e desejos dos outros, bem como o equilíbrio das necessidades de ocupação e uso da terra com os limites da natureza e sua tolerância a agressões. Aprender a equilibrar os interesses individuais e coletivos é de suma importância, pois é o que nos permite conviver em sociedade. Esse primeiro aprendizado é fundamental para a vida, uma vez que somos seres sociais, logo, não podemos viver de forma isolada. Nesse sentido, imagine se você fosse o responsável por tudo, absolutamente tudo que está ligado à sua subsistência, como plantar e colher seus alimentos, construir sua moradia, confeccionar suas vestes etc. A vida seria diferente e possivelmente não teríamos chegado ao ponto de evolução que temos hoje, uma vez que é ao assumir responsabilidades individuais e coletivas e aceitar as regras de convivência em grupo que a prosperidade se torna possível. Já o aprendizado sobre o equilíbrio entre as nossas necessidades de ocupação e a exploração da natureza nos faz lembrar que, sem os recursos naturais, a vida na Terra não é possível. Em torno dessa questão delicada, a sociedade precisa aprender a respeitar os limites de tolerância da natureza, em especial os territórios adjacentes a nós, para preservá-la. É para mediar os interesses individuais com os interesses coletivos, ou seja, da sociedade e do meio ambiente, que o poder público existe. Em última instância, a função do governo é garantir o equilíbrio já citado. Nesse sentido, as políticas públicas estabelecidas por determinado governo devem vir para contribuir no aprimoramento desse equilíbrio, visando a uma constante melhoria no atendimento aos desejos e às necessidades individuas e da sociedade. Para colocar em prática tais políticas públicas, o processo de planejamento é essencial, pois é por meio da elaboração de um plano que se elegem políticas públicas coerentes sem perder de vista os limites da natureza. O processo de planejamento pode ser dividido de forma genérica em seis etapas, conforme apresentado na Figura 1: Figura 1 – Fluxo do planejamento Análise do ambiente Obtenção de resultados dessas ações Execução dessas ações Definição de planos de ação e indicadores Estabelecimento de objetivos Definição do(s) problema(s) a ser(em) enfrentado(s), ou seja, diretrizes do governo Fonte: Elaborada pelo autor. Análise de dados e indicadores socioeconômicos12 Observamos que a análise do ambiente é a etapa de diagnóstico do ambiente social no qual será inserida determinada política pública. Se vamos pensar em educação, por exemplo, o primeiro passo é analisar o ambiente educacional, entender a situação atual, verificar os pontos positivos e negativos e quais são os principais problemas a serem enfrentados. A rigor, cada área da vida em sociedade precisa do seu diagnóstico de ambiente. Uma vez que o ambiente foi analisado, procede-se à definição dos problemas a serem enfrentados em cada área diagnosticada. De maneira geral, deve-se fazer uma análise de todos os ambientes e selecionar aqueles com questões mais urgentes. Porém, nem sempre o governo consegue enfrentar cada questão levantada na fase de análise. Nesse sentido, a definição das necessidades prioritárias, pode-se dizer, é o primeiro passo para definir uma política pública. O estabelecimento de objetivos é a fase em que se definem metas a serem alcançadas para tratar os problemas levantados no item anterior. Elevar o índice de alfabetismo para 100% da população com 7 anos ou mais seria um exemplo clássico de objetivo na área da educação. Tendo estabelecido os objetivos, passa-se à definição de planos de ação e indicadores, que são projetos de acompanhamento e verificação da efetividade das ações desenvolvidas. Para a medição dos resultados dessas ações, deve-se definir indicadores. Voltando ao exemplo da área da educação, o indicador da taxa de analfabetismo ajuda a acompanhar a evolução dos níveis educacionais básicos. A execução dessas ações pode ocorrer durante períodos mais curtos ou anos, dependendo do problema que está sendo enfrentado. No caso da educação, por exemplo, temos escolas de ensino fundamental em permanente funcionamento para alfabetizar e instruir as crianças. Já a obtenção de resultados dessas ações pode ocorrer paulatinamente, ano após ano, como é o caso de ações voltadas às áreas de saúde, saneamento, educação e outras, ou pode vir de modo mais imediato,como uma obra de melhoria de infraestrutura de trânsito. Para se aferir o resultado das ações e se este caminhou na direção certa, os indicadores definidos no plano de ação são de suma importância. A análise desses indicadores é o que permite saber se os resultados foram satisfatórios e se os objetivos estabelecidos foram atingidos. O processo de planejamento não se encerra com a obtenção de resultados, ao contrário, pode- se dizer que todas as etapas deveriam se fundir em um ciclo de planejamento e constante revisão das políticas públicas para levar melhoria à qualidade de vida em sociedade, respeitando os dois equilíbrios que o governo deve mediar e assegurar. A máxima conhecida do planejamento, “aquilo que não é medido não é gerenciado”, atribuída a Peter Drucker, um dos principais autores e pensadores da administração moderna, pode ser vista nesse modelo simplificado pelo estabelecimento e acompanhamento de indicadores. De maneira mais geral, uma política pública pode ser entendida como a soma das fases de definição dos problemas, estabelecimento de objetivos, definição de planos de ação e indicadores e execução. Assim, uma boa política pública pode ser construída com base na análise do ambiente e de um bom processo de planejamento. A Figura 2 exemplifica como pode ser vista uma política pública inserida no fluxo do planejamento. Estado e sociedade 13 Figura 2 – Política pública inserida no fluxo do planejamento Análise do ambiente Obtenção de resultados dessas ações Execução dessas ações Definição de planos de ação e indicadores Estabelecimento de objetivos Definição do(s) problema(s) a ser(em) enfrentado(s), ou seja, diretrizes do governo Política pública Fonte: Elaborada pelo autor. Os resultados das políticas públicas poderão ser mensurados com indicadores sociais e econômicos capazes de capturar as mudanças e melhorias no ambiente. Assim, o processo de planejamento e de formulação e acompanhamento de políticas públicas se funde em um complexo de procedimentos voltados à definição de ações para melhorar a vida em sociedade, mantendo o equilíbrio dos interesses individuais e coletivos dentro dos limites de tolerância e preservação da natureza. 1.3 Monitoramento das políticas públicas Monitorar é acompanhar o comportamento das medidas implantadas ao longo do tempo. Monitorar tem a ver com controlar. Nesse sentido, o monitoramento de políticas públicas nada mais é do que acompanhar os resultados das ações determinadas por essas políticas. No caso da Saúde, por exemplo, se o governo estabeleceu uma política pública com vistas a reduzir os índices de mortalidade entre recém-nascidos, para sabermos se as ações derivadas dessa política estão surtindo o efeito desejado, precisamos acompanhar a evolução de um indicador: número de óbitos de recém-nascidos. Essa é uma das funções da gestão pública que, por meio da comparação com metas e padrões previamente estabelecidos, deve medir e avaliar o desempenho e o resultado das ações determinadas por suas políticas. Assim, o monitoramento é parte fundamental para que se possa colher e dar mais incentivo às ações do governo que vêm gerando bons frutos e, mais do que isso, para corrigir as que não estiverem apresentando o resultado esperado. O resultado do monitoramento é a informação. Com informação, esperam-se melhores decisões do governo, ou seja, escolhas mais assertivas na fase de definição de problemas, bem como ações mais efetivas e correção de ações inócuas. Para que o governo possa efetuar o monitoramento, são necessários indicadores econômicos e sociais. Dada a sua relevância, convém definir: indicadores são medidas que capturam determinados aspectos do funcionamento do ambiente econômico e social. O Produto Interno Bruto (PIB) pode ser considerado um indicador, por exemplo, pois corresponde ao valor dos bens e serviços finais produzidos no país ou na região a que se refere. Vídeo Análise de dados e indicadores socioeconômicos14 Segundo a Agência de Notícias IBGE, em 2018, o PIB brasileiro atingiu R$ 6,8 trilhões, o que representou um aumento de 1,1% em relação ao ano de 2017 (IBGE, 2019). Esse dado de aumento do PIB pode nos trazer informações sobre o comportamento da economia e o resultado de determinadas ações do governo que tinham o objetivo de gerar crescimento econômico. O monitoramento de indicadores ajuda o poder público a identificar áreas que precisam de mais atenção e outras que estão indo bem. Nesse sentido, o uso de ferramentas da área de gestão da qualidade, como o ciclo PDCA, incialmente atribuído a Deming (1982), encaixa-se nesse processo de melhoria contínua da qualidade da gestão pública. Conheça o ciclo PDCA, apresentado na Figura 3. Figura 3 – Ciclo PDCA Ajustar, agir ou corrigir Controlar Planejar Fazer ou executar Fonte: Elaborada pelo autor. O ciclo PDCA estabelece uma filosofia de trabalho que se inicia com o planejamento (P – plan, planejar); execução das ações planejadas (D – do, fazer ou executar); monitoramento dos resultado das ações executadas (C – control, controlar) e ajuste ou correção do planejamento e das ações para atingir os resultados esperados (A – adjust ou act, ajustar, agir ou corrigir). A ideia deste material não é discutir o ciclo PDCA ou boas práticas de gestão da qualidade, mas destacar a importância do monitoramento dos resultados das ações governamentais para que o planejamento possa ser ajustado a fim de se definir políticas públicas que gerem resultados efetivos para o cidadão e para a sociedade. A integração do fluxo do planejamento (Figura 1) ao ciclo PDCA (Figura 3) resulta em uma visão mais elucidativa do processo de planejamento. Como pode ser observado na Figura 4, a principal vantagem está em identificarmos como as fases do ciclo PDCA permeiam o processo de planejamento como um todo. Estado e sociedade 15 Figura 4 – Integração do ciclo PDCA e do fluxo do planejamento Análise do ambiente Obtenção de resultados dessas ações Execução dessas ações Definição de planos de ação e indicadores Estabelecimento de objetivos Definição do(s) problema(s) a ser(em) enfrentado(s), ou seja, diretrizes do governo AJUSTAR PLANEJAR FAZERCONTROLAR Fonte: Elaborada pelo autor. Assim, monitorar (control) os resultados das ações de governo e como eles alteram o am- biente fornece informações para a revisão e ajuste do planejamento e, consequentemente, para ajustes nas políticas públicas e nas ações de governo derivadas dessas políticas. No exemplo do PIB, o governo pode observar o comportamento da economia para agir o mais rápido possível em caso de problemas. Além do próprio governo, a sociedade também se beneficia das informações trazidas pelos indicadores. Uma empresa que pretende expandir suas atividades ou tomar uma decisão de investimento, por exemplo, certamente avaliará o comportamento da economia na região em que pretende se instalar. Veremos mais detalhes sobre o uso de indicadores na sequência. 1.4 Subsídios para avaliar ações governamentais Como vimos, monitorar políticas públicas é essencial para ajustar as ações de governo a fim de atingir melhores resultados para os cidadãos e para a sociedade. Mas como avaliar tais ações de governo? Como medir os resultados práticos dessas ações? Talvez uma das formas mais evidentes seja observar o ambiente antes das ações e compará-lo com o ambiente depois delas. Infelizmente, no mundo real, as coisas não são tão simples quanto possam parecer. A simples comparação entre antes e depois pode não nos trazer resultados confiáveis sobre a efetividade das ações governamentais. Diversas situações podem interferir no mundo e na sociedade que está sendo avaliada e alterar o cenário independentemente das ações de governo. Para entender melhor esse conceito, imagine que o governo deseja incentivar o aumento da produção agrícola em determinada região. Para isso, cria-se uma linha de financiamento específica de modo a beneficiar produtoresrurais da região de interesse. Suponha agora que, devido a fatores climáticos, a chuva que deveria ocorrer em certo mês não atingiu os níveis ideais, acarretando perda significativa da produção agrícola na região. Vídeo Análise de dados e indicadores socioeconômicos16 Ao fazermos a simples comparação entre a quantidade produzida antes e a quantidade produzida depois, sem considerar a questão climática, podemos chegar à conclusão de que o incentivo do governo gerou perda na produção agrícola, não aumento. É importante considerar, nesta avaliação, fatores ambientais para se ter uma visão mais precisa do resultado das ações de governo. Logo, é preciso atenção aos fatores e às mudanças no ambiente para não incorrer em erros de avaliação, uma vez que a cada ano pessoas nascem e morrem, novos produtos são lançados, outros deixam de existir, novas empresas são abertas, o clima muda, a economia se altera, em certos anos há eleição, em outros, não. São muitos os fatores capazes de modificar o ambiente e o comportamento das pessoas, o que torna a avaliação das ações de governo algo não trivial. No entanto, antes de nos preocuparmos em desenvolver um método de avaliação que seja capaz de driblar essas transformações constantes pelas quais o ambiente, a sociedade e a economia passam, precisamos obter dados e informações sobre a evolução daquilo que queremos avaliar ou medir. A questão central, nesse caso, é que, teoricamente, nunca sabemos a priori quais políticas públicas e ações governamentais serão desenvolvidas. Ou seja, não sabemos antecipadamente quais serão nossas ações em um futuro próximo. Então, como podemos reunir dados e informações com antecedência sobre elas? A resposta para essa questão vem ao encontro de se manter o trabalho permanente de monitoramento do ambiente social e econômico, da ocupação do território, dos fatores da natureza, entre outros. Essa ideia reside no fato de se ter uma visão prévia dos anseios sociais e grandes preocupações do governo e da sociedade, e de se estabelecer indicadores que nos deem informações sobre a evolução de questões centrais e de objetos de preocupação constante. Assim, o PIB de um país não é medido somente para avaliar os resultados de determinada ação de governo. Medimos o PIB de um país, mês após mês, ano após ano, para termos uma série histórica dessas informações, o que nos permitirá avaliar as ações governamentais no momento oportuno, pois os dados e as informações já vêm sendo coletados há tempos. Essa discussão parece elementar, mas dados e informações são fundamentais para avaliar as ações governamentais e, mais do que isso, para se estabelecer políticas públicas e ações de governo. Portanto, o governo precisa dessas informações para saber onde e quando deve agir. De modo geral, podemos dizer que esses dados e informações são a base para a elaboração de indicadores que veremos mais adiante e que servirão para avaliar e diagnosticar situações de interesse. Diversos temas são de interesse da sociedade e, por consequência, do governo por ela eleito. Esses temas ou dimensões deveriam ser constantemente monitorados por meio da coleta de dados e, em seguida, pela elaboração e divulgação de indicadores. Veja no Quadro 1 a relação entre as dimensões de interesse e temas importantes ligados ao desenvolvimento sustentável para municípios do estado do Rio de Janeiro. Estado e sociedade 17 Quadro 1 – Dimensão, temas e indicadores de desenvolvimento sustentável Dimensões Temas Indicadores Social Rendimento Proporção da população com renda familiar per capita acima de 1/2 salário mínimo Rendimento médio mensal Taxa de ocupação Índice de Gini1 do rendimento domiciliar per capita Razão entre a média dos rendimentos mulheres/homens Razão entre a média Saúde Taxa de mortalidade infantil Esperança de vida ao nascer Número de leitos por mil habitantes Número de empregos médicos por mil habitantes Número de estabelecimentos de saúde por mil habitantes Número de internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado – DRSAI por cem mil habitantes Educação Taxa de escolarização das crianças de 7 a 14 anos Escolaridade de adultos Taxa de alfabetização de adultos Habitação Proporção de domicílios particulares permanentes com densidade de até dois moradores por dormitório Violência Coeficiente de mortalidade por homicídios Mortalidade por acidentes de transporte Ambiental Atmosfera Frota de veículos automotores por cem habitantes Potencial de poluição industrial por mil habitantes Terra Percentual de área de vegetação remanescente sobre área total Saneamento Proporção de moradores em domicílios com acesso ao sistema de abastecimento de água Proporção de moradores em domicílios com acesso à coleta de lixo doméstico Proporção de moradores em domicílios com acesso a esgotamento sanitário Econômica Capacidade econômica PIB per capita Proporção do setor da construção civil sobre o total do PIB Padrões de consumo Consumo de energia elétrica per capita Consumo de energia elétrica por unidade de PIB 1 O Índice de Gini é um instrumento utilizado para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Com ele, é possível apontar a diferença entre os rendimentos das camadas mais pobres e das mais ricas. Tradicionalmente, em termos numéricos, varia de zero a um, em que o valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. Já o valor um está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza (WOLFFENBÜTTEL, 2004). (Continua Análise de dados e indicadores socioeconômicos18 Dimensões Temas Indicadores Institucional Capacidade institucional Proporção de domicílios com possibilidade de acesso à internet Número de terminais telefônicos instalados por cem habitantes Fonte: Scandar Neto, 2006, p. 119. Essa relação de indicadores, voltados à avaliação de ações governamentais ligadas ao desenvolvimento sustentável, dá uma ideia dos subsídios necessários à avaliação e execução dessas ações. Observe que muitos dos indicadores propostos poderiam ser utilizados para avaliar ou diagnosticar outras temáticas. Parece razoável que, se quiséssemos avaliar, por exemplo, a qualidade de vida urbana, o indicador “Proporção de moradores em domicílios com acesso a esgotamento sanitário” também deveria fazer parte da observação. Portanto, dependendo dos tipos de ações governamentais e das avaliações a serem feitas, um conjunto de temas, e mais especificamente de indicadores, deve ser selecionado para dar subsídios suficientes ao trabalho não só de avaliação, mas de monitoramento do quadro situacional e, por conseguinte, das ações de governo. Assim, o próprio governo, entidades, institutos ou órgãos competentes devem realizar paulatinamente um complexo de ações de coleta, levantamentos e pesquisas que gerem dados e informações para a construção periódica e permanente de indicadores que permitirão avaliar as ações governamentais sob diversos ângulos, desde o desenvolvimento sustentável até a qualidade de vida urbana, por exemplo. Logo, os subsídios para avaliação das ações governamentais consistem na prática constante de produzir e disseminar dados e informações, a fim de que os indicadores sejam gerados e adaptados para que apontem conclusões conforme as necessidades de avaliação. Considerações finais Como vimos, Estado, entendido aqui como governo, e sociedade estão ligados, e cabe a ele se preocupar em gerar o bem-estar social, mediando a relação entre os desejos e as necessidades individuais e os desejos e as necessidades da coletividade, respeitando os limites de tolerância da natureza e, assim, impondo regras e limites para a ocupação do território. Para cumprir sua função, o governo deve planejar ações e estabelecer políticas públicas que induzam atuações do próprio governo e da sociedade de maneira a atingir os resultados esperados. Ao avaliar a qualidade e assertividade das ações governamentais é necessáriomonitorá-las para verificar se estão surtindo o resultado almejado ou se precisam de ajustes, correções e até mesmo revisões completas. Somente com a permanente coleta de dados e a realização de levantamentos e pesquisas pode-se oferecer os subsídios necessários para a avaliação das ações governamentais e, mais do que isso, para diagnosticar e conhecer o próprio país, estado, região ou município de modo a estabelecer políticas públicas e ações condizentes com as necessidades e os anseios daquela sociedade. Estado e sociedade 19 Ampliando seus conhecimentos • BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de- educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014. Acesso em: 19 jul. 2019. Nesse documento, vemos como é proposta essa ação governamental e os indicadores envolvidos na avaliação dos resultados. É interessante, ainda, observar como os indica- dores podem servir para acompanhar a execução dessa política e avaliar se ela está caminhando na direção esperada. • BOLETINS sobre o mercado de trabalho. IPEA. Disponível em: http://www.ipea.gov. br/portal/index.php?option=com_alphacontent&view=alphacontent&Itemid=362. Acesso em: 19 jun. 2019. Levantamento periódico que analisa o ambiente relacionado ao mercado de trabalho no Brasil divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) para auxiliar os governantes na definição de políticas públicas voltadas ao emprego e na avalição do resultado de políticas econômicas. Atividades 1. Qual é o papel do governo na busca pelo bem-estar da sociedade no Brasil? 2. O governo monitora os indicadores de efetividade das políticas públicas? 3. Como o cidadão poderia ser mais efetivo para exigir e cobrar ações do governo que se materializem em resultado prático na sociedade? Referências DEMING, William Edwards. Quality, productivity, and competitive position. Cambridge, MA: Massachusetts Institute of Technology, Center for advanced engineering study, 1982. IBGE. Agência de Notícias, 2019. PIB cresce 1,1% em 2018 e fecha ano em R$ 6,8 trilhões. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/23886- pib-cresce-1-1-em-2018-e-fecha-ano-em-r-6-8-trilhoes. Acesso em: 1 jul. 2019. PARANÁ (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. O que são políticas públicas? Disponível em: http://www. meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/coea/pncpr/O_que_sao_PoliticasPublicas.pdf. Acesso em: 17 jul. 2019. SANTOS, Maria Paula Gomes dos. Políticas públicas e sociedade. 3. ed. rev. atual. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; Brasília: CAPES: UAB, 2016. http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_alphacontent&view=alphacontent&Itemid=362 http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_alphacontent&view=alphacontent&Itemid=362 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/23886-pib-cresce-1-1-em-2018-e-fecha-ano-em-r-6-8-trilhoes https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/23886-pib-cresce-1-1-em-2018-e-fecha-ano-em-r-6-8-trilhoes http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/coea/pncpr/O_que_sao_PoliticasPublicas.pdf http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/coea/pncpr/O_que_sao_PoliticasPublicas.pdf Análise de dados e indicadores socioeconômicos20 SCANDAR NETO, Wadih João. Síntese que organiza o olhar: uma proposta para construção e representação de indicadores de desenvolvimento sustentável e sua aplicação para os municípios fluminenses. Dissertação (mestrado) – Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: https://biblioteca. ibge.gov.br/bibliotecacatalogo.html?id=234235&view=detalhes. Acesso em: 17 jul. 2019. WOLFFENBÜTTEL, Andréa. O que é? Índice de Gini. In: Desafios do desenvolvimento, ano 1, n. 4, 01 nov. 2004. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&id =2048:catid=28&Itemid=23. Acesso em 17 jul. 2019. 2 Indicadores socioeconômicos Neste capítulo, você entenderá o que são e para que servem os indicadores socioeconômicos. Também discutiremos algumas de suas aplicações em pesquisas. Além disso, você aprenderá a respeito de diagnósticos socioeconômicos e produção e disseminação de dados e indicadores. Afinal, para que o governo e a sociedade possam reconhecer os principais pontos que merecem mais atenção ao efetuar o planejamento e definir as políticas e os programas sociais, a produção e utilização de indicadores socioeconômicos é vital. 2.1 Indicadores econômicos e sociais Um indicador, como o próprio nome diz, deve indicar algo. Na verdade, um indicador é uma medida que nos ajuda a avaliar o estado atual de determinada grandeza que se está observando. Considere, por exemplo, que você está em um veículo transitando em uma estrada. O velocímetro indica sua velocidade atual e a interpretação dessa informação lhe traz a capacidade de avaliar se está rápido ou devagar, segundo certos parâmetros sobre os quais você normalmente já tem conhecimento, seja pela experiência, seja pela comparação com a legislação de trânsito. Nesse exemplo, o equipamento que mede a velocidade, o velocímetro, apresenta um número indicativo mais ou menos preciso da velocidade de seu veículo. Agora imagine que você parou no posto de gasolina. Ao ser atendido pelo frentista, você observou que a bomba de combustível informa o abastecimento de 20 litros em seu veículo. Você também aproveitou e anotou a distância percorrida desde o último reabastecimento, ou seja, a quilometragem percorrida. Suponha que seu carro percorreu 220 km desde o último abastecimento. Verificando o consumo médio que seu veículo obteve nesse trajeto, a conta é a seguinte: Consumo médio do veículo = distância percorrida em quilômetros quantidade de combustível utilizada em litros Consumo médio do veículo = 220 km 20 l Consumo médio do veículo = 11 km l Segundo esse raciocínio, seu carro consegue percorrer uma média de 11 km por litro de combustível. Ora, esse número também é um indicador que agora nos traz informação sobre o consumo de combustível do veículo. Vídeo Análise de dados e indicadores socioeconômicos22 Portanto, a palavra indicador se refere aos elementos utilizados para acompanhar a evolução de alguma grandeza ou variável de interesse, ou seja, indicador é um instrumento pensado para nos trazer alguma informação de algo que nos interessa. No caso de indicadores econômicos e de indicadores sociais, eles nos ajudam a acompanhar a evolução de variáveis sobre atividades econômicas e determinados aspectos sociais. Por exemplo, o PIB é a medida da produção de um país, região, estado ou município durante um período determinado, mas também é um indicador dessa produção. Assim, um indicador econômico e social é uma medida que traz consigo um significado utilizado para tornar tangível algum conceito abstrato. É um indicativo que informa sobre algum aspecto da realidade econômica e social ou, ainda, a respeito de mudanças que estão ocorrendo nessas realidades. Indicadores também são instrumentos utilizados para que se realize o monitoramento de uma realidade que se deseja acompanhar ou avaliar, podendo trazer informações importantes na definição e/ou reformulação de políticas públicas. Índices de mortalidade infantil, analfabetismo, desemprego, proporção de matrículas de crianças no ensino fundamental, entre outros, são exemplos de indicadores voltados às questões sociais. Por sua vez, Produto Interno Bruto (PIB), índices de inflação, taxas de juros, arrecadação do governo, entre outros, são exemplos de indicadores voltados ao monitoramento do comportamento e outras questões relativas às variáveis econômicas do país. Assim, o conjunto de indicadoreseconômicos e sociais traz informações que ajudam a mensurar e monitorar questões socioeconômicas de um país, dando suporte na elaboração, implementação e revisão de políticas públicas que sejam do interesse da sociedade e venham ao encontro de suas necessidades. Por meio desses indicadores é que se consegue saber quais políticas públicas e ações podem contribuir com a melhoria das condições de vida da sociedade (PARAHOS et al., 2013). Além disso, a realização de estudos e pesquisas econômicas e sociais depende desse conjunto de indicadores que medem as condições do ambiente que se quer analisar. Estudos e pesquisas são fundamentais para se avaliar o resultado das políticas públicas, para se diagnosticar e descobrir novos problemas ou para entender melhor as causas e consequências de problemas já conhecidos. Com os resultados das pesquisas é que se pode melhorar a gestão, o planejamento e, consequentemente, a formulação de políticas que sejam mais efetivas em tratar não só das mazelas da sociedade, mas de seu amadurecimento e desenvolvimento. O uso de indicadores sociais foi trazido ao debate, uma vez que sozinhos os indicadores econômicos não trazem informações suficientes sobre a qualidade de vida das pessoas. O indicador PIB per capita, por exemplo, deixou de ser uma boa medida para monitorar a distribuição de riqueza entre as pessoas. O PIB per capita é medido pela seguinte relação: PIB per capita = PIB número de habitantes Indicadores socioeconômicos 23 Como se observa na fórmula, o PIB per capita acaba indicando uma média por número de habitantes. No Brasil, por exemplo, segundo o IBGE, em 2018, o PIB foi de R$ 6.827.582.490.300,00. Ainda, conforme informações disponibilizadas pelo IBGE, a população brasileira no mesmo ano era de aproximadamente 208.494.900 milhões de habitantes, espalhados em 5.570 municípios. Com esses números, podemos estimar o PIB per capita que, segundo Villas-Boas e Saraiva (2019), foi de R$ 32.747,00 em 2018. Esse valor estimado do PIB per capita indica que cada habitante produziu, em média, R$ 32.747,00 em produtos ou serviços no referido período e, consequentemente, que alguém consumiu esses mesmos produtos ou serviços. Por isso, no passado, esse indicador era utilizado como uma variável que trazia informações sobre a distribuição de renda no país. Com o tempo, percebeu- -se que essa “média” não é um bom indicador quando queremos olhar para a distribuição de renda. Embora o PIB per capita retrate a média da riqueza produzida para cada um dos habitantes de um país, ele não diz como esta se distribui entre a população. Sabemos que existem pessoas com salários e patrimônio muito baixos e outras com salários e patrimônio muito altos, porém, ao fazer a média, não temos informação sobre a distância ou quantidade de pessoas com riqueza mais próxima dos menores ou dos maiores valores. Suponha que você conheça dez pessoas, sendo que nove delas recebem R$ 1.000,00 e uma delas recebe R$ 30.000,00 por mês. Ora, o salário médio dessas pessoas será de R$ 3.900,00 mensais. Observe que nenhuma das pessoas recebe esse valor, mas ele é a média salarial de todas juntas. Ademais, o valor médio é quase quatro vezes superior ao salário da maioria das pessoas. Isso acontece porque há uma entre essas dez pessoas que recebe muito acima das demais. O mesmo problema ocorre na utilização do PIB per capita. Porém, o PIB e o PIB per capita ainda são bons indicadores e figuram entre os mais utilizados para avaliar e acompanhar o crescimento econômico de uma região. Assim, entidades internacionais – especialmente a Organização de Cooperação e Desenvol- vimento Econômico (OCDE); Banco Mundial; Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Organização Mundial da Saúde (OMS); Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO); Organização Internacional do Trabalho (OIT); Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a própria Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), por meio da Divisão de Estatística das Nações Unidas – estabeleceram uma metodologia e uma série de indicadores sociais e econômicos, de modo a constituir-se um arcabouço de medidas com o objetivo de monitorar condições sociais e movimentos que possam se traduzir em maior ou menor qualidade de vida e riqueza para as pessoas dentro dos diversos países do mundo. Depois dessa iniciativa, por exemplo, para avaliar a distribuição de renda nos dias de hoje é utilizado o Índice de Gini, ajustado para a medição do rendimento domiciliar per capita – tema que estudaremos mais adiante. Esse exemplo, no entanto, mostra como o uso dos indicadores com o objetivo de acompanhar certas grandezas econômicas e/ou sociais se modifica ao longo do tempo, sempre buscando por melhores formas de enxergar aquilo que realmente queremos medir. Análise de dados e indicadores socioeconômicos24 A partir das décadas de 1960 e 1970, ocorreu o que se chamou de movimento dos indicadores sociais. Esse movimento teve início com a publicação do relatório intitulado Toward a Social Report, encomendado pelo Governo dos Estados Unidos para se estabelecer parâmetros e indicadores à elaboração de relatórios e diagnósticos sobre situações sociais no país (COHEN, 1969). A partir desse trabalho do governo norte-americano, os organismos internacionais, preocupados com a melhoria do planejamento das políticas sociais dos países, começaram a incentivar e adotar um conjunto de indicadores mais afeitos na avaliação da qualidade de vida e bem-estar das populações nos países e regiões. Isso fez com que o arcabouço de indicadores utilizados nos dias de hoje por esses organismos internacionais (OCDE, Banco Mundial, BID, OMS, FAO, OIT, UNESCO, UNICEF, ONU, entre outros) tivessem início nesse movimento motivado pelo Toward a Social Report. Já no Brasil, foi a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, cujo conteúdo traz uma marcante preocupação com as questões sociais e direitos individuais, que houve a institucionalização de um conjunto de diretrizes visando à proteção do cidadão e de seus direitos individuais perante a sociedade. Essa preocupação com relação aos direitos civis fundamentais e sociais de modo geral estão evidenciados principalmente nos artigos 1º, 5º, 6º e 7º. Já as diretrizes constitucionais relacionadas aos direitos à saúde, previdência e assistência social estão evidenciados principalmente do artigo 192º a 204º. As preocupações sociais relacionadas aos direitos individuas à educação e cultura, materializadas na Constituição de 1988, estão evidenciados principalmente do artigo 205º a 215º. Além da Constituição Federal de 1988, com a influência de organismos internacionais, maior abertura do país e acesso à informação, que se fortaleceu desde o final dos anos 1980 e, mais intensamente, a partir dos anos 1990, houve um aprimoramento das experiências dos estados e municípios brasileiros no que tange à elaboração e execução de políticas públicas locais. Isso elevou o uso dos indicadores desde a seleção das localidades e regiões de abrangência que receberão as ações de governo até a definição das políticas em si que, por sua vez, derivarão para as ações de governo e mensuração de resultados dessas implementações. Para que esse aprimoramento na formulação e implementação das políticas públicas seja constatado – geralmente por meio da avaliação dos resultados dessas políticas –, é necessário um conjunto de indicadores bem constituído, de tal forma que seja possível mensurar tais resultados, ou pelo menos acompanhar a evolução das variáveis de interesse. Como já dissemos, os indicadores apontam, aproximam, traduzem em termos quantita- tivos as dimensões econômicas e sociais de interesse. É um instrumento “numérico” para medir e monitorar a evolução ou o comportamento de uma variável econômica ou social ao longo do tempo. Indicadores socioeconômicos 25 Desde os anos1990, com a implementação de legislações que permitiram maior controle social sobre o Estado, a utilização de indicadores se tornou mais intensa. Isso se relaciona, especialmente, com o crescente clamor por mais transparência por parte dos governos, bem como o poder de fiscalização da sociedade civil, dos sindicatos, das mídias televisivas, impressas e mais recentemente digitais e de outras organizações que têm exigido a aplicação mais eficiente dos recursos públicos. Para levar a cabo essas demandas sociais, a disponibilidade de indicadores socioeconômicos é o primeiro passo. O acesso público aos indicadores, uma exigência da sociedade, também fez crescer seu uso. Outro fator que facilitou muito a disponibilidade e o uso dos indicadores foi o crescimento do uso da internet como meio de divulgação e acesso a essas informações. Existem diversas fontes oficiais de dados (as quais veremos mais adiante, no Capítulo 3) que propiciam a qualquer cidadão obter a série histórica de um conjunto de indicadores e realizar o estudo socioeconômico que desejar. Essas fontes normalmente são utilizadas por professores, pesquisadores, jornalistas, estatísticos, organizações de classe, entidades governamentais municipais, estaduais e federais, dentre diversos outros atores sociais que desejem estudar ou acompanhar algum fenômeno ou variável socioeconômica. Veja no tópico a seguir como são construídos os indicadores socioeconômicos, suas características e principais usos. 2.2 Propriedades e usos dos indicadores A construção de um indicador, ou melhor, de um conjunto de indicadores precisa obedecer a alguns requisitos. Como já dito, o termo “indicadores sociais” surgiu entre os anos 1960 e 1970, e recebeu seu significado inicial na tentativa de detectar (medir) e antecipar (avaliar) a natureza e a magnitude das consequências de segunda ordem das políticas públicas para a sociedade americana. (LAND, 1983, p. 2, tradução nossa) Mas, afinal, o que seria um bom indicador? O bom indicador de um sistema econômico e social deve fazer parte de um conjunto de indicadores que descreva o comportamento desse sistema. Por exemplo, se queremos descrever o comportamento das “condições de vida” de uma sociedade, nosso sistema de indicadores deve conter aspectos que traduzam as condições de vida que queremos observar. Ou seja, os indicadores devem ser componentes das próprias condições de vida, nesse caso. Na Figura 1, a seguir, vemos que os indicadores utilizados para avaliar as condições de vida da sociedade são divididos em dimensões. Cada dimensão possui seus indicadores – às vezes podemos ter o mesmo indicador em mais de uma dimensão. Ainda, podemos perceber que os indicadores são elementos que fazem parte das próprias condições de vida que estamos avaliando. Vídeo Análise de dados e indicadores socioeconômicos26 Figura 1 – Do conceito de interesse aos indicadores socioeconômicos Condições de moradia Condições de moradia Taxa de cobertura de rede de esgoto, etc. Taxa de mortalidade infantil, etc. Taxa de alfabetização e de evasão, etc. Possíveis dimensões Busca de dados e fontes de informações: Exemplos de possíveis indicadores Registros em programas sociais Entre outros Cadastros Pesquisas Condições de saúde Condições educacionais Condições de vida Fonte: Adaptado de Jannuzzi, 2015. Na Figura 1, vemos que tanto a taxa de cobertura de esgoto nas casas quanto a taxa de entrega de água encanada e a taxa de urbanização das ruas, por exemplo, são elementos que fazem parte das condições de moradia e consequentemente das condições de vida da população. Com esse exemplo, vê-se que cada dimensão poderá ter tantos indicadores quantos forem necessários. Para a estimação ou cálculo dos indicadores, pode-se utilizar dados de cadastros públicos, cadastros da população em programas sociais, itens de gastos do orçamento público, dados da contabilidade pública, dados de arrecadação fiscal, pesquisas e levantamentos de dados em campo, dados de imagens via satélite, enfim, todas a formas possíveis de se obter a informação necessária. Para que os indicadores tenham sucesso na missão de trazer informações e subsidiar análises, estudos, pesquisas e, principalmente, a formulação adequada de políticas públicas, é necessário que tenham algumas características, ou seja, algumas propriedades desejáveis. Segundo Jannuzzi (2015), podemos elencar 11 características ou propriedades fundamentais a um indicador. Vejamos o significado de cada uma delas. • Validade: um indicador deve representar a realidade que se deseja observar ou medir com a maior assertividade possível, ou seja, precisa estar conectado àquilo que se está medindo e manter essa conexão com o passar do tempo. Em resumo, dever ser válido para observar ou representar determinado fenômeno. • Confiabilidade: deve partir de fontes de dados e informações confiáveis, sendo elaborado com metodologias transparentes e aceitas pela comunidade de estudiosos do assunto, tanto na coleta e tratamento de dados e informações como na divulgação. • Simplicidade: deve ser de fácil compreensão e entendimento para o público em geral. Além disso, sua obtenção, construção, manutenção e comunicação precisam ser simples. Indicadores socioeconômicos 27 • Representatividade: deve cobrir tanto o território como a população relacionada com o aspecto que está sendo capturado pelo indicador. Ou seja, um indicador deve considerar dados de todo o território ou população relacionado com o que se está medindo. • Sensibilidade: deve refletir as mudanças decorrentes das intervenções realizadas oportunamente e no tempo certo. • Desagregabilidade: deve ser possível dividir os indicadores em regiões ou em dimensões regionalizadas, considerando critérios territoriais e/ou grupos e subgrupos sociodemográficos. Isso é importante para avaliar o correto direcionamento de políticas públicas. • Periodicidade: precisa ser periodicamente atualizado, algo importante quando se quer monitorar o comportamento do indicador. Conforme as características de cada fenômeno que se quer acompanhar, o momento da coleta dos dados é essencial para que se tenha a visão correta da evolução do indicador. Nesse sentido, um indicador que não pode ser obtido com periodicidade não poderá ser utilizado para aferir a evolução de um fenômeno econômico ou social. Veja a inflação, por exemplo: se não houver periodicidade no cálculo da inflação, nunca saberemos precisamente quando e por que ocorreu a alta nos preços. O mesmo se aplica à taxa de desemprego, ao número de matrículas nas escolas etc. • Mensurabilidade: deve ser abrangente e medir com a maior precisão possível, sem deixar dúvidas quanto ao seu resultado. • Economicidade: os custos de obtenção de um indicador devem ser razoáveis, ou seja, a relação custo-benefício resultante da obtenção do indicador deve ser favorável. Não pode custar muito caro obter certos dados para se estimar o indicador, e a informação resultante deve representar um benefício compatível. • Estabilidade: diz respeito à condição de obtenção de um indicador em séries históricas que possam ser comparadas, mantendo a estabilidade e a possibilidade de monitoramento. • Auditabilidade: deve ser possível de ser auditado. Isso significa que o indicador deve oferecer condições de conferência e verificação de sua obtenção a qualquer pessoa que disponha dos recursos necessários. Assim, essas 11 características ou propriedades devem nortear a elaboração de qualquer indicador socioeconômico. A observação desses atributos garantirá que um indicador pode ser utilizado ao longo do tempo de forma efetiva para que se observe e monitore a evolução de um tema econômico ou social que se deseje medir. Para melhor compreender, observe o Gráfico 1, que apresenta a estimativa da população brasileira, informação essa revisada periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). sociodemográfico: que se refereaos elementos ou a características demográficas de um determinado grupo social. Análise de dados e indicadores socioeconômicos28 Gráfico 1 – Projeção do IBGE para a população 2010-2060 250.000.000 200.000.000 150.000.000 100.000.000 50.000.000 0 Brasil Norte Nordeste Sudeste Centro-Oeste Sul A no 20 11 20 13 20 15 20 17 20 19 20 21 20 23 20 25 20 27 20 29 20 31 20 33 20 35 20 37 20 39 20 41 20 43 20 45 20 47 20 49 20 51 20 53 20 55 20 57 20 59 Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados das projeções do IBGE (2019b). Somente é possível obter essa informação porque o indicador “número de habitantes” possui todas as propriedades anteriormente citadas. Embora isso pareça um conceito simples, é de suma importância, pois um indicador mal formulado pode ser descontinuado, por exemplo, e então você não poderá acompanhar seu comportamento. Imagine que os custos estimados de um determinado indicador se tornaram muito altos e sua continuidade está ameaçada ou os critérios de estimação podem ser modificados. Caso isso ocorra, a informação trazida por esse indicador será perdida, a avaliação em relação a tempos passados também perderá comparabilidade. Seria isso que aconteceria se parássemos de levantar os dados sobre a população brasileira, por exemplo. A elaboração do Gráfico 1 teria de ser suspensa durante a escrita deste livro. Agora, se você acessar notícias dos meios de comunicação referentes ao ano de 2019, irá se deparar com manchetes como IBGE quer reduzir em 25% o orçamento do censo 2020, divulgada pelo jornal Folha de São Paulo em 9 de abril de 2019. Na oportunidade, o IBGE divulgou a intenção de fazer uma redução no orçamento disponível para a realização do Censo Demográfico em 2020. Essas notícias ilustram como um problema dessa natureza pode acarretar descontinuidade de informações levantadas se o censo, por exemplo, não for bem planejado. O Censo Demográfico é uma pesquisa realizada pelo IBGE a cada dez anos, em que pesquisadores de campo visitam todos os domicílios do país para verificar a quantidade de pessoas residentes na moradia, seus afazeres, características sociais e familiares, entre outras informações importantes para entender como o perfil da população vai se transformando ao longo do tempo em cada região. Para reduzir os custos dessa pesquisa, foi proposta a redução do questionário aplicado em cada residência visitada pelos pesquisadores. Assim, com um questionário menor, leva-se Indicadores socioeconômicos 29 menos tempo entrevistando os moradores e um único pesquisador conseguirá visitar mais domicílios. No final das contas, precisaríamos de menos pesquisadores e os custos da pesquisa seriam reduzidos. Mas a pergunta que se faz é a seguinte: será que com um questionário reduzido teremos as mesmas informações? Será que poderemos comparar as informações levantadas com as pesquisas anteriores? Quais dados e informações não serão coletadas e que prejuízo isso trará no acompanhamento e monitoramento de certos indicadores ou variáveis socioeconômicas? Essas perguntas são cruciais para que diversos indicadores constituídos com base nos resultados da pesquisa demográfica continuem se tornando úteis para monitorar e acompanhar a evolução de certos fatos socioeconômicos. Por outro lado, é possível também combinar indicadores para se obter um indicador sintético ou um índice social. Observe a Figura 2. Figura 2 – Indicador sintético Indicador A Indicador B Indicador sintético Indicador C Combinação de indicadores Fonte: Adaptado de Jannuzzi, 2015. Um exemplo de indicador sintético é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que veremos mais adiante, composto de vários outros indicadores, tais como renda, saúde e educação. Podemos classificar os indicadores socioeconômicos de diversas formas, mas o tipo de classificação mais comum é relacionar os indicadores à temática a qual se referem. Assim, teremos indicadores de saúde, mobilidade urbana, educacionais, de renda, desigualdade, segurança pública, habitacionais, demográficos, infraestrutura urbana, mercado de trabalho, meio ambiente etc. A união de diversos indicadores em torno de um determinado tema pode ser considerada um sistema de indicadores socioeconômicos. Por exemplo, podemos estruturar um sistema de indicadores (saúde, educação, meio ambiente, infraestrutura urbana, entre outros) para acessar ou avaliar a qualidade de vida de determinada população. Isso também pode ser utilizado enquanto critério de classificação dos indicadores, como pode ser visto no Quadro 1. Quadro 1 – Exemplos de classificação de indicadores socioeconômicos Saúde Educação Infraestrutura urbana Meio ambiente Segurança pública Renda Desigualdade social Demografia Mercado de trabalho Qualidade de vida Habitação Consumo Fonte: Elaborado pelo autor. Análise de dados e indicadores socioeconômicos30 Para exemplificar, vamos retomar o Quadro 1 apresentado no Capítulo 1 (Seção 1.4), com indicadores extraídos de Scandar Neto (2006), no qual são elencadas algumas dimensões, temas relacionados e indicadores correspondentes a cada tema. Nesse quadro, observe a composição das dimensões avaliadas com os temas relacionados a cada dimensão e os indicadores utilizados para avaliar cada tema. Esses conjuntos de indicadores, temas e dimensões formam um sistema de indicadores para avaliar o desenvolvimento sustentável do estado do Rio de Janeiro, proposto pelo autor no exemplo apresentado no Capítulo 1. Outro exemplo de sistema de indicadores é o Índice de Qualidade de Vida Urbana dos Municípios Brasileiros (IQVU-BR), elaborado sob a coordenação da professora Maria Inês Pedrosa Nahas em um trabalho encomendado pelo Ministério das Cidades e apresentado no Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em setembro de 2006. Esse conjunto de medidas de como caracterizar o conceito de qualidade de vida urbana foi resultado da preocupação do Ministério das Cidades em dispor de indicadores municipais para orientar sua atuação junto aos municípios brasileiros. Com base nos conceitos de bem-estar social e qualidade de vida, interagindo com vários especialistas para melhor capturar sua percepção sobre quais seriam as medidas mais relevantes e adequadas para dar suporte de informações necessárias à atuação do Ministério das Cidades, a autora chegou a um sistema composto de cerca de 49 indicadores de 9 áreas de interesse. Observe no Quadro 2 como se forma o sistema IQVU-BR. Quadro 2 – Sistema de indicadores de qualidade de vida urbana nos municípios brasileiros (IQVU-BR) VARIÁVEIS COMPONENTES INDICADORES 1. COMÉRCIO E SERVIÇOS 1.1. COMÉRCIO DE ALIMENTOS 1.1.1. Comércio atacadista de produtos alimentícios, bebidas e fumo 1.1.2. Existências de supermercados ou hipermercados 1.1.3. Existência de padeiros 1.1.4. Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo 1.2. COMÉRCIO E SERVIÇOS PESSOAIS 1.2.1. Agências bancárias 1.2.2. Comércio de produtos farmacêuticos 1.3. COMÉRCIO E SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO 1.3.1. Comércio de equipamentos de informática 1.3.2. Número de estações de rádio AM/FM 2. CULTURA 2.1. EQUIPAMENTOS DE CULTURA 2.1.1. Equipamentos culturais 3. ECONOMIA 3.1. ECONOMIA LOCAL 3.1.1. PIB per capita municipal 3.1.2. Renda média familiar per capita 3.2. FINANÇAS PÚBLICAS 3.2.1. Capacidade de investimento 3.2.2. Receita corrente per capita 3.3. MERCADO DE TRABALHO 3.3.1. Taxa de ocupação 3.3.2. Taxa de formalidade da ocupação (Continua) (Continua) Indicadores socioeconômicos 31 Para exemplificar, vamos retomar o Quadro 1 apresentado no Capítulo 1 (Seção 1.4), com indicadores extraídos de Scandar Neto (2006), no qual são elencadas algumas dimensões, temas relacionados e indicadores correspondentes a cada tema. Nesse quadro, observe a composição das dimensões avaliadas com os temas relacionados a cada dimensão e os indicadores utilizados para avaliar cada tema. Esses conjuntos de indicadores, temas e dimensõesformam um sistema de indicadores para avaliar o desenvolvimento sustentável do estado do Rio de Janeiro, proposto pelo autor no exemplo apresentado no Capítulo 1. Outro exemplo de sistema de indicadores é o Índice de Qualidade de Vida Urbana dos Municípios Brasileiros (IQVU-BR), elaborado sob a coordenação da professora Maria Inês Pedrosa Nahas em um trabalho encomendado pelo Ministério das Cidades e apresentado no Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em setembro de 2006. Esse conjunto de medidas de como caracterizar o conceito de qualidade de vida urbana foi resultado da preocupação do Ministério das Cidades em dispor de indicadores municipais para orientar sua atuação junto aos municípios brasileiros. Com base nos conceitos de bem-estar social e qualidade de vida, interagindo com vários especialistas para melhor capturar sua percepção sobre quais seriam as medidas mais relevantes e adequadas para dar suporte de informações necessárias à atuação do Ministério das Cidades, a autora chegou a um sistema composto de cerca de 49 indicadores de 9 áreas de interesse. Observe no Quadro 2 como se forma o sistema IQVU-BR. Quadro 2 – Sistema de indicadores de qualidade de vida urbana nos municípios brasileiros (IQVU-BR) VARIÁVEIS COMPONENTES INDICADORES 1. COMÉRCIO E SERVIÇOS 1.1. COMÉRCIO DE ALIMENTOS 1.1.1. Comércio atacadista de produtos alimentícios, bebidas e fumo 1.1.2. Existências de supermercados ou hipermercados 1.1.3. Existência de padeiros 1.1.4. Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo 1.2. COMÉRCIO E SERVIÇOS PESSOAIS 1.2.1. Agências bancárias 1.2.2. Comércio de produtos farmacêuticos 1.3. COMÉRCIO E SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO 1.3.1. Comércio de equipamentos de informática 1.3.2. Número de estações de rádio AM/FM 2. CULTURA 2.1. EQUIPAMENTOS DE CULTURA 2.1.1. Equipamentos culturais 3. ECONOMIA 3.1. ECONOMIA LOCAL 3.1.1. PIB per capita municipal 3.1.2. Renda média familiar per capita 3.2. FINANÇAS PÚBLICAS 3.2.1. Capacidade de investimento 3.2.2. Receita corrente per capita 3.3. MERCADO DE TRABALHO 3.3.1. Taxa de ocupação 3.3.2. Taxa de formalidade da ocupação (Continua) (Continua) VARIÁVEIS COMPONENTES INDICADORES 4. EDUCAÇÃO 4.1. ENSINO FUNDAMENTAL 4.1.1. Taxa de escolarização líquida no ensino fundamental 4.1.2. Proporção de jovens de 15 a 17 anos sem ensino fundamental completo 4.2. ENSINO MÉDIO 4.2.1. Taxa de escolarização líquida no ensino médio 5. HABITAÇÃO 5.1. CONDIÇÕES HABITACIONAIS 5.1.1. Domicílios não precários 5.1.2. Domicílios com banheiro 5.1.3. Densidade média de moradores por dormitório 5.2. SANEAMENTO BÁSICO 5.2.1. Percentual de domicílios servidos por rede de água 5.2.2. Percentual de domicílios servidos por rede de esgotamento sanitário 5.2.3. Percentual de domicílios servidos com algum tipo de coleta de lixo 6. SAÚDE 6.1. RECURSOS HUMANOS, EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DE SAÚDE 6.1.1. Número de médicos 6.1.2. Profissionais de saúde de nível superior (exceto médicos e dentistas) 6.1.3. Número de técnicos em saúde por mil habitantes 6.1.4. Leitos hospitalares/SUS 6.1.5. Unidades de média complexidade 6.1.6. Unidades de atenção básica 6.1.7. Equipamentos odontológicos do SUS 6.1.8. Consultas do SUS 6.1.9. Taxa média de internação total (2002/03/04) 6.1.10. Taxa de mortalidade por doenças circulatórias, respiratórias e infecto-parasitárias 7. INSTRUMENTOS DE GESTÃO URBANÍSTICA 7.1. ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES LOCAIS 7.1.1. Base digital de informações 7.2. LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA 7.2.1. Existência de legislação básica 8. PARTICIPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA 8.1. PARTICIPAÇÃO E ASSOCIATIVISMO 8.1.1. Existência de entidades sindicais 8.1.2. Existência de organizações da sociedade civil de interesse público 8.2. ORGANIZAÇÃO E COOPERAÇÃO POLÍTICO- -INSTITUCIONAL 8.2.1. Articulações interinstitucionais 8.2.2. Existência de conselhos 9. MEIO AMBIENTE URBANO 9.1. PROBLEMAS E AÇÕES AMBIENTAIS 9.1.1. Problemas ambientais urbanos 9.1.2. Ações ambientais municipais 10. SEGURANÇA PÚBLICA 10.1. PROTEÇÃO CONTRA VIOLÊNCIA 10.1.1. Profissionais de segurança pública 10.1.2. Taxa de mortalidade por homicídio 10.2. ASSISTÊNCIA JURÍDICA 10.2.1. Profissionais de justiça no setor público 10.2.2. Órgãos de defesa do consumidor Análise de dados e indicadores socioeconômicos32 VARIÁVEIS COMPONENTES INDICADORES 11. TRANSPORTES 11.1. TRANSPORTE COLETIVO 11.1.1. Motoristas de ônibus urbanos, metropolitanos e rodoviários 11.2. OUTROS TIPOS DE TRANSPORTE 11.2.1. Motorização no município: número de veículos motorizados de pequeno e médio porte 11.3. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES 11.3.1. Percentual de domicílios em vias pavimentadas Fonte: Nahas et al., 2006, p. 14. A junção dessa coleção de indicadores gera o Índice de Qualidade de Vida Urbana dos Municípios Brasileiros (IQVU-BR), que pode ser considerado um exemplo de índice sintético, por ser constituído de vários outros indicadores. A Tabela 1 mostra resumidamente como ficou a composição do IQVU-BR, proposto por Nahas et al. (2006). Tabela 1 – Composição resumida do IQVU-BR PESO DA VARIÁVEL NO ÍNDICE VARIÁVEIS COMPONENTES PESO DO COMPONENTE NA VARIÁVEL 8% 1. COMÉRCIO E SERVIÇOS 1.1. COMÉRCIO DE ALIMENTOS 46% 1.2. COMÉRCIO E SERVIÇOS PESSOAIS 39% 1.3. COMÉRCIO E SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO 15% 4% 2. CULTURA 2.1. EQUIPAMENTOS DE CULTURA 100% 9% 3. ECONOMIA 3.1. ECONOMIA LOCAL 29% 3.2. FINANÇAS PÚBLICAS 25% 3.3. MERCADO DE TRABALHO 46% 14% 4. EDUCAÇÃO 4.1. ENSINO FUNDAMENTAL 56% 4.2. ENSINO MÉDIO 44% 14% 5. HABITAÇÃO 5.1. CONDIÇÕES HABITACIONAIS 44% 5.2. SANEAMENTO BÁSICO 56% 15% 6. SAÚDE 6.1. RECURSOS HUMANOS, EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DE SAÚDE 100% 3% 7. INSTRUMENTOS DE GESTÃO URBANÍSTICA 7.1. ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES LOCAIS 50% 7.2. LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA 50% 4% 8. PARTICIPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA 8.1. PARTICIPAÇÃO E ASSOCIATIVISMO 53% 8.2. ORGANIZAÇÃO E COOPERAÇÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL 47% 9% 9. MEIO AMBIENTE URBANO 9.1. PROBLEMAS E AÇÕES AMBIENTAIS 100% 10% 10. SEGURANÇA PÚBLICA 10.1. PROTEÇÃO CONTRA VIOLÊNCIA 56% 10.2. ASSISTÊNCIA JURÍDICA 44% (Continua) Indicadores socioeconômicos 33 PESO DA VARIÁVEL NO ÍNDICE VARIÁVEIS COMPONENTES PESO DO COMPONENTE NA VARIÁVEL 10% 11. TRANSPORTES 11.1. TRANSPORTE COLETIVO 45% 11.2. OUTROS TIPOS DE TRANSPORTE 19% 11.3. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES 36% Fonte: Nahas et al., 2006, p. 17. Como um indicador sintético, o IQVU-BR é a soma do produto dos indicadores de cada componente pelo respectivo peso. Logo, temos um indicador para cada variável observada na composição do índice. Variável i = i ∑ Componentesi × Peso do componente na variáveli IQVU – BR = i =1 11 ∑ Variáveli × Peso da variáveli no índice Por ser um índice de medida da qualidade de vida nos municípios brasileiros, o IQVU traz consigo um significado próprio. O uso de indicadores, tanto o IQVU-BR quanto outros, e a atenção ao seu significado e propriedades compõem a base para a elaboração de diagnósticos socioeconômicos. 2.3 Diagnósticos socioeconômicos Para que um diagnóstico socioeconômico possa servir de base para o entendimento de uma determinada realidade e fornecer subsídios para a formulação de políticas públicas, é essencial que seja capaz de caracterizar essa realidade ora diagnosticada. Tal caracterização precisa abordar os aspectos da situação social e econômica de determinada região, do respectivo território e/ou da sua população. Dever trazer textos descritivos, tabelas de dados, textos analíticos, mapas, gráficos e indicadores específicos afeitos à realidade socioeconômica que se está diagnosticando. Um diagnóstico também deve ser propositivo, isto é, diferentemente de um diagnóstico com visão mais generalista, trazer informações e indicadores voltados para as temáticas de atuação dos governos. Isso significa que, após a leitura e análise atenta desse diagnóstico, a proposição de uma oumais ações governamentais é uma consequência natural. Obviamente, nada impede a realização de um diagnóstico mais geral, sem o direcionamento dado pela atuação governamental, mas, no caso de se olhar através das lentes do Estado, esse cuidado deve ser tomado. Vídeo Análise de dados e indicadores socioeconômicos34 Veja nos gráficos a seguir alguns dados sobre a população brasileira. Gráfico 2 – População 100 ou mais Pirâmide Etária – 2010 HOMENS MULHERES 95 a 99 90 a 94 85 a 89 80 a 84 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 Fonte: IBGE, 2018. Gráfico 3 – PIB per capita (Unidade: R$) PIB per capita 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 2000 20072001 20082002 20092003 20102004 20112005 20122006 2013 2014 2015 2016 0 Fonte: IBGE, 2018. Gráfico 4 – Taxa de mortalidade infantil (Unidade: óbitos por mil nascidos vivos) Taxa de mortalidade infantil 30 25 20 15 10 5 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2018 Fonte: IBGE, 2018. Indicadores socioeconômicos 35 Gráfico 5 – Taxa de fecundidade (Unidade: filhos por mulher) Taxa de fecundidade 0 50 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2018 1 50 50 2 Fonte: IBGE, 2018. Os gráficos mostram algumas características da população brasileira, como a estimativa por idade, que evidencia a quantidade de pessoas por faixa etária. Também temos a queda na taxa de fecundidade, indicando que as mulheres, em média, tendem a ter menos filhos hoje. Chama atenção a acentuada queda na mortalidade infantil, simbolizando alguma melhora nas condições de saúde básica da população. Em consonância, o PIB per capita, ou renda per capita, tem crescido nos últimos anos, mostrando que o país vem melhorando a renda média por habitante. As modificações que vêm ocorrendo na população brasileira ao longo dos anos trazem também o desafio na interpretação e eventuais ajustes necessários nos indicadores utilizados no diagnóstico. Suponha que um dos indicadores que você está utilizando seja a taxa de frequência escolar no ensino médio. Esse indicador é estimado da seguinte forma: Taxa de frequência escolar no ensino médio = = Alunos de 15 a 17 anos matriculados no ensino médio Público-alvo (população de 15 a 17 anos) × 100 Para estimar (calcular) esse indicador, precisamos obter os dados do numerador e do denominador. As estatísticas de matrículas na educação são fornecidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), que regularmente envia às escolas instrumentos e formulários para coletar os dados dos estudantes. Então, é de se esperar que tenhamos dados atualizados e relativamente confiáveis acerca do numerador. No entanto, os dados sobre o denominador precisam ser vistos com certo cuidado. Caso desejemos estimar esse indicador para regiões menores, de abrangência municipal, por exemplo, o erro pode ser ainda maior. As informações sobre nascimentos, quantidade de jovens e mobilidade entre municípios e regiões são mais lentas e difíceis de se obter do que os dados de matrícula, por exemplo. Assim, seria natural esperar que se tenha os dados de matrícula para este ano, mas não os dados sobre número de habitantes com idade entre 15 e 17 anos. Porém, é possível que tenhamos essa informação (do denominador) com dois ou três anos de defasagem. Análise de dados e indicadores socioeconômicos36 Questões como essas podem distorcer o valor estimado (calculado) para o indicador e, consequentemente, alterar o diagnóstico acerca de determinada situação. Isso levaria à formulação de políticas públicas e conjuntos de ações governamentais ineficientes para o que se deseje fazer. Porém, ao olharmos para o mesmo indicador a nível nacional, as distorções seriam menores, pois, embora a população se movimente, mude-se de localidade, grande parte ainda continuará residindo no país. Assim, as distorções na população nacional são menores do que na população estimada para regiões menores. Esse exemplo traz um alerta sobre o uso dos indicadores e a necessidade de um olhar crítico sobre quais e como estamos considerando esses indicadores. Elaborar e manter uma série de indicadores que atenda, senão todas, pelo menos grande parte das propriedades desejáveis dos indicadores, é um trabalho bastante técnico e que exige planejamento, disciplina e recursos. Hoje em dia já existe uma grande quantidade de indicadores disponíveis e utilizáveis, fornecidos por institutos nacionais, órgãos de governo, fundações, organismos internacionais, universidades etc. Na hipótese de não termos conhecimento técnico suficiente sobre fontes e dados, bem como acesso a eles e sua forma de coleta e comportamento ao longo do tempo, é melhor e mais seguro nos valermos de indicadores já previamente computados e disponibilizados por entidades especializadas, com tradição e credibilidade na elaboração daquele determinado indicador. Como uma das fontes de informação para o processo de planejamento e implementação das políticas públicas, a análise do ambiente, normalmente realizada a partir do diagnóstico, dá as diretrizes para a definição dos planos de governo e, consequentemente, da formulação de políticas públicas. O diagnóstico é como um mapa que busca avaliar uma série de dimensões relacionadas à temática que se deseja diagnosticar. Também pode ser complementado com comparações ou o uso de referências para indicar problemas mais graves ou linhas prioritárias de ação. É o caso de compararmos indicadores internacionais de educação do Brasil com o de outros países, por exemplo. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulga um boletim1 semestral, geralmente em maio e outubro de cada ano sobre o mercado de trabalho no Brasil. Cada edição apresenta alguns estudos e artigos sobre o mercado de trabalho, além de publicações de análises técnicas sobre mudanças ocorridas e tendências. Essa publicação, se não é um diagnóstico completo do mercado de trabalho, ajuda a cumprir grande parte da análise referente à temática. Observe na Tabela 2 os dados trimestrais de desemprego extraídos do relatório de maio de 2019. 1 Você pode acessar esses boletins no website do IPEA (http://www.ipea.gov.br). Indicadores socioeconômicos 37 Tabela 2 – Taxa de desemprego (2016-2018) em % 2016 2017 2017 2017 2017 2018 2018 2018 2018 4º trim. 1º trim. 2º trim. 3º trim. 4º trim. 1º trim. 2º trim. 3º trim. 4º trim. Brasil 12,0 13,8 13,0 12,4 11,8 13,1 12,4 11,9 11,6 Centro-Oeste 10,9 12,1 10,6 9,7 9,4 10,5 9,5 8,9 8,5 Nordeste 14,4 16,3 15,9 14,8 13,8 15,9 14,8 14,4 14,4 Norte 12,7 14,2 12,5 12,2 11,3 12,7 12,1 11,5 11,7 Sudeste 12,3 14,2 13,6 13,2 12,6 13,8 13,2 12,5 12,1 Sul 7,7 9,3 8,4 7,9 7,7 8,4 8,2 7,9 7,3 Masculino 10,7 12,2 11,5 11,0 10,5 11,6 11,0 10,5 10,1 Feminino 13,8 15,8 14,9 14,2 13,4 15,0 14,2 13,6 13,5 18 a 24 anos 25,9 28,8 27,3 26,5 25,3 28,1 26,6 25,8 25,2 25 a 39 anos 11,2 12,8 12,0 11,3 10,8 11,9 11,5 11,0 10,7 40 a 59 anos 6,9 7,9 7,6 7,4 7,0 7,8 7,5 6,9 6,9 Mais de 60 anos 3,4 4,6 4,5 4,3 4,2 4,6 4,4 4,5 4,0 Não chefe de família 16,0 18,1 17,1 16,4 15,3 17,2 16,3 15,6 15,3 Chefe de família 7,2 8,4 7,9 7,6 7,4 8,1 7,8 7,3 7,1 Fundamental incompleto 11,3 12,3 12,0 11,4 10,9 12,0 11,4 11,0 11,0 Fundamental completo 13,4 15,2 15,0 14,8 13,6 14,8 13,8 13,5 13,5 Médio incompleto 22,0 24,2 21,8 21,0 20,4 22,0 21,1 20,9 19,7 Médio completo 13,2 15,5 14,6 14,0 13,0 14,9 14,0 13,2 12,8 Superior 7,6 9,2 8,3 7,9 7,8 8,7 8,4 7,8 7,5 Região metropolitana 13,5 14,9 14,7 14,1 13,7 14,7 14,4 13,8 13,3 Não região metropolitana 10,9 12,9 11,7 11,2 10,3 11,9 10,9 10,4 10,3 Fonte: IPEA, 2019, p. 6. Podemos observar na Tabela 2 a evolução das taxas de desemprego desde o último trimestre de 2016 até o último trimestre 2018, perfazendo dois anos. Nota-se que todas as regiões tiveram piora ao longo do tempo, mas chegaram ao final do período
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