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Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde Apresentação A psicologia organizacional, também chamada de empresarial, como sugere o nome, refere-se ao trabalho exercido pelo psicólogo nas organizações produtivas. As organizações são palcos das relações sociais entre trabalhadores e gestores, assim como são espaços de realização de expectativas e de desempenho profissional. Dessa forma, o papel do psicólogo é de grande relevância nessa intersecção entre produção e trabalho, nas relações intra e intergrupais que fazem parte das empresas. As funções desempenhadas pelos psicólogos organizacionais são inúmeras, sendo mais frequentes as relacionadas com recursos humanos ou, recentemente, gestão de pessoas. São elas: recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, gestão da vida laboral, saúde no trabalho, avaliação de desempenho, etc. As atividades mencionadas têm repercussões em várias esferas da vida laboral e, portanto, as possibilidades de atuação do psicólogo se ampliam, principalmente em seu envolvimento com questões de saúde e sofrimento no trabalho. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer possibilidades de atuação do psicólogo organizacional e descobrir a importância de seu trabalho para a promoção de saúde e o sucesso das empresas. As relações de trabalho são complexas e não se definem de forma binária, capital e trabalho, porém um cuidado com a satisfação das pessoas, aliado ao desempenho profissional e produtivo, pode favorecer um bom ambiente de trabalho e a realização dos envolvidos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar as funções que o psicólogo desempenha nas organizações.• Identificar como seu processo de trabalho contribui para a gestão da empresa.• Relacionar suas tarefas com os aspectos de saúde da organização.• Desafio O trabalho do psicólogo organizacional exige um conhecimento aprofundado da organização, das formas de produção, das regras, das expectativas, dos prazos, dos pontos fortes e fracos da gestão e da força de trabalho. Esse conhecimento não é adquirido de um dia para o outro, mas precisa ser construído pelo psicólogo por meio de contatos contínuos com as pessoas e os processos da organização. Para tanto, fazem parte do instrumental estratégico do psicólogo organizacional algumas ferramentas, que podem ser usadas ou adaptadas ao ambiente em que ele atua, para ir criando o seu conhecimento da organização e promover a saúde de quem nela trabalha. Acompanhe o seguinte caso: No seu ponto de vista, como a organização pode manter a saúde, levando em conta as demandas do mercado de trabalho, assim como as diferentes percepções e necessidades da equipe? Para isso, você deverá fazer um planejamento para conhecer as queixas, acalmar o descontentamento e conciliar os objetivos organizacionais e dos trabalhadores utilizando os instrumentos de trabalho do psicólogo organizacional. Infográfico A psicologia organizacional intersecta com as áreas de relações de trabalho, negócios e gestão. O psicólogo mantém a sua expertise e conhecimento específico, porém precisa obter informações pelo estudo de conteúdos de outras áreas de conhecimento, como administração, sociologia, entre outras. No Infográfico, você vai ter uma visão geral das características necessárias ao funcionamento de uma organização de sucesso e o que gera valor, ou seja, o que precisa ser trabalhado para que ela atinja seus objetivos. São informações amplas, mas determinam alguns aspectos a serem trabalhados pelos psicólogos organizacionais e outros profissionais da organização. Conteúdo do livro A psicologia organizacional é uma área antiga de atuação da psicologia no Brasil. Por meio da organização, da escola e da clínica, firmamos nossos passos em terras nacionais e, quase um século desde o início das práticas regulamentadas na área, a psicologia organizacional continua expandindo seu campo de atuação. Nela, aspectos de produtividade são importantes, mas, em nenhum momento, o lado humano da profissão deve ser deixado de lado. No capítulo Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai saber o que é psicologia organizacional e do trabalho. Vai estudar algumas práticas e funções que o profissional da psicologia pode ter em uma empresa, entender por que as atividades organizacionais vêm mudando nas últimas décadas e como esse profissional pode atuar de modo a garantir a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores. Boa leitura. PSICOLOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Listar as funções que o psicólogo desempenha nas organizações. > Identificar como seu processo de trabalho contribui para a gestão da em- presa. > Relacionar suas tarefas com os aspectos de saúde da organização. Introdução A psicologia organizacional, ou empresarial, é um dos inúmeros campos possíveis de trabalho para profissionais da psicologia no Brasil. A profissão foi regulamentada no país em 1962, e a empresa foi um dos primeiros campos que surgiram. Junta- mente à clínica e à psicologia escolar, a vertente organizacional permanece forte, oportunizando trabalho e emprego para recém-formados e psicólogos seniores. As funções e as atividades dos profissionais da psicologia, bem como o cuidado que devem ter no trabalho e com colaboradores mudou ao longo da história. Nas últimas décadas, o maior ativo de uma empresa passou a ser as pessoas. Por isso, investir em capacitação, seleção por competências e análise de motivações tornou-se primordial para que a organização cresça e possibilite a qualidade de vida no trabalho para profissionais que fazem parte dela. Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde Marcela Montalvão Teti Neste capítulo, você vai estudar as funções de profissionais da psicologia na organização e como suas atividades promovem uma gestão de qualidade, considerando que o mundo em que vivemos desafia qualquer equipe a manter- -se saudável, vivendo e se realizando no ambiente de trabalho cotidianamente. O que é psicologia organizacional e as possibilidades de atuação profissional A psicologia organizacional é o campo da psicologia responsável por com- preender a parcela de fenômenos psicológicos que englobam o contexto de organizações, instituições, grupos organizados e suas implicações para os sujeitos desses interpelados. A psicologia organizacional se diferencia da psicologia social e do trabalho, porque se relaciona mais aos interesses gerenciais e, como o nome sugere, ao campo empresarial. Já a psicologia social e do trabalho está mais próxima das relações sociais de trabalho, com uma perspectiva crítica em relação à vida e às formas de vivenciar o ambiente de trabalho. A psicologia social e do trabalho, muitas vezes, assume o ponto de vista do trabalhador, denunciando práticas gerenciais nocivas à sua vida e ofe- recendo resistência. Podemos pensar a psicologia organizacional, por sua vez, de um modo mais abrangente (ROTHMANN; COOPER, 2009). A psicologia organizacional não só se relaciona às atividades laborais sob a lógica de um contexto organizacional, mas também contempla qualquer atividade que tenha relação com o trabalho, com as organizações e com a produtividade. Na medida em que os sujeitos atuam para melhorar o sucesso da organização, suas análises versam sobre as implicações econômicas da produção, mas também sobre o trabalho das pessoas. Trabalho e emprego não são a mesma coisa. Trabalho é toda a ati- vidade que fazemos implicando retorno ou pagamento. É aquilo que fazemos para ganhar a vida. O emprego está relacionado a uma forma determinada de trabalho, com o contrato, que implica remuneração, é regulado e tem caráter jurídico (BORGES; YAMAMOTO, 2014). O campo da psicologia organizacional inclui duas frentes muito importan- tes. Na primeira, a psicologia organizacional é um campo científico de análise do comportamento humano nasorganizações. Muitos profissionais que estão nas instituições de ensino superior conduzem pesquisas sobre as formas de Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde2 trabalho, modos de relação e engajamento dos indivíduos com o que fazem, por exemplo. Já a segunda frente está comprometida com a aplicação das descobertas científicas no ambiente de trabalho. Dentro da organização, o psicólogo pode ser um consultor ou um funcionário do quadro, que coloca em prática métodos e estratégias baseados em evidências. O psicólogo organizacional elabora fichas de inscrição nas candidaturas a vagas, define os salários e os benefícios, organiza treinamentos, designa tarefas, entre outras atividades. Também realiza tarefas mais associadas ao indivíduo, acompanhando a saúde do funcionário, como está seu desempenho, sua motivação e a segurança nas atividades que exerce, além de cuidar das contratações desde a seleção (SPECTOR, 2012). A psicologia organizacional, portanto, é um campo de atuação múltiplo. Seu trabalho não é apenas aplicar as regras de mercado e promover a adaptação do colaborador às leis econômicas. A psicologia atua para contribuir com o trabalho, prezando pela potencialização da empresa, levando em conta as necessidades do trabalhador. Sua missão é: [...] explorar, analisar, compreender como interagem as múltiplas dimensões que caracterizam a vida das pessoas, dos grupos e das organizações, em um mundo crescentemente complexo, construindo, a partir daí, estratégias e procedimentos que possam promover, preservar e restabelecer a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas, sem abrir mão da produtividade da qual depende o atendimento das necessidades dos indivíduos e dos grupos sociais (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014, p. 550). Muitas relações cotidianas se dão em espaços organizacionais, e muitas necessidades humanas são atendidas pela prestação de serviços, como os voltados à saúde e ao lazer. Esses espaços podem ser de iniciativa gover- namental, iniciativa privada ou associações que reivindicam direitos sociais e comunitários. Considerando que as organizações “são o modo como as pessoas e os grupos sociais se estruturam para atender às suas próprias necessidades”, podemos entender que o trabalho se relaciona à constituição da subjetividade humana (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014, p. 550). É uma das formas de o indivíduo construir sua identidade dentro do grupo. Perder o emprego, ter conflitos no trabalho ou ficar sem trabalhar de forma perma- nente são situações que acabam afetando a identidade de um indivíduo e as relações sociais a partir das quais também se constitui (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014). Por isso, a presença da psicologia em uma organização é tão importante, para entender as organizações e os indivíduos que fazem parte dela, visando Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde 3 a uma sociedade melhor. Podemos sistematizar alguns campos de potencial atuação para o profissional de psicologia organizacional (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014): � comportamento organizacional; � desenho organizacional; � consultoria organizacional. No campo da psicologia do trabalho, por sua vez, seriam potenciais campos de atuação: � condições e higiene do trabalho; � saúde no trabalho; � ergonomia; � orientação profissional e de carreira; � emprego, desemprego e empregabilidade. Já na gestão de pessoas, o psicólogo poderia atuar nos seguintes campos: � administração de pessoal; � análise do trabalho; � recrutamento e seleção; � treinamento, desenvolvimento e educação; � avaliação de desempenho; � relações de trabalho. Nesta seção, estudamos o que é psicologia organizacional, suas funções e os campos que um profissional da psicologia pode exercer numa organização ou empresa. Além disso, vimos que o indivíduo é atravessado pelas organi- zações seja como cliente, consumidor ou operador dos serviços oferecidos. Na próxima seção, vamos estudar algumas questões atuais sobre os modos de trabalho e as consequências para a saúde mental do trabalhador. Atuação de profissionais da psicologia organizacional O conhecimento produzido na psicologia organizacional advém não de uma prática exclusiva do ramo científico da psicologia, mas de um contexto aplicado Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde4 às organizações e à ambiência do fenômeno do trabalho. Por isso, é preciso compreender como o trabalho (especificamente falando de organizações) se alicerça, suas práticas e modelos de atuação, os objetivos institucionais e a estrutura organizacional. Nesta seção, vamos nos debruçar sobre a temática dos modelos de gestão e sua implicação na atuação dos profissionais. Para que a empresa cumpra sua missão, há de se considerar a proposição de um modelo de gestão que, ao apresentar um conjunto de normas e princí- pios, norteie a tomada de decisões de gestores e profissionais. Atualmente, o ambiente corporativo vem demandando uma série de diferentes habilidades dos atores (profissionais) envolvidos. Isso significa que o mercado tem de- limitado um perfil de profissional capaz de identificar problemas e prover soluções para a organização em que atuam. Portanto, não basta fazer um trabalho bem-feito; é preciso fazer com foco em algum resultado que gere valor à organização. Nos últimos tempos, algumas das habilidades e competências mais solici- tadas são planejamento estratégico; gerenciamento e liderança; estruturação e hierarquização de ações; gestão do desempenho; gestão de equipes e de pessoas; gestão de responsabilidades e da cultura organizacional; autonomia, coordenação e organização de processos; gestão de conflitos; e nivelamento para competitividade (LUGOBONI et al., 2020). O Quadro 1 descreve algumas habilidades. Quadro 1. Definições das variáveis mais frequentes Habilidade Descrição Gestão de equipes e de gestão de pessoas Têm como propósito alcançar os objetivos organizacionais, utilizando, de maneira eficaz, as qualidades das pessoas. Estabelecem objetivos e permitem que a organização e seus membros aprendam e compartilhem conhecimentos e competências, assegurando o cumprimento do dever. Papel gerencial e liderança São responsáveis por um conjunto de atividades a desempenhar numa organização, de acordo com a posição ocupada. O papel gerencial lida com a complexidade administrativa. Já a liderança lida com criação de sentidos e de motivação do pessoal. Poder e responsabilidade Podemos citar cinco fontes associadas à aquisição de poder por parte dos líderes: poder legítimo, poder de coerção, poder de recompensa, pode de especialista e poder de referência. (Continua) Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde 5 Habilidade Descrição Desempenho Os resultados são verificados por meio de medidas de desempenho. Comparam-se os objetivos estabelecidos com aquilo que foi efetivamente alcançado. As medidas efetivas de desempenho são integradas à gestão dos processos. Coordenação A divisão do trabalho em várias tarefas e a coordenação dessas tarefas para que a atividade seja desempenhada são duas exigências opostas e fundamentais. Quanto mais um trabalho é subdividido em tarefas menores, feitas por muitos indivíduos, maior é a necessidade de coordenação. Autonomia Diz respeito a que ponto uma pessoa, equipe ou marca pode seguir seu próprio caráter ou motivação. No Google, por exemplo, a autonomia está incorporada à filosofia de organizar a empresa em torno de pessoas de alto impacto, alocando-as em pequenos times. Organização Constitui um agrupamento de pessoas que dividem tarefas. É um sistema colaborativo, mediado pela comunicação entre diferentes partes de um mesmo sistema. Assim, forma-se um arranjo deliberado e sistemático de pessoas que desempenham papéis formais e compartilham um propósito comum. Cultura É uma das partes básicas da organização e pode ser comparada aos seguintes indicadores,por exemplo: distância do poder, individualismo/coletivismo, masculinidade/feminilidade, atitudes em relação às incertezas e orientação no tempo. Planejamento estratégico Planejar implica definir as metas da organização, estabelecer estratégias para alcançá-las e desenvolver planos para as atividades a serem realizadas. Significa compreender o ambiente, olhar para o futuro e estabelecer a agenda da organização. Estrutura e hierarquização de ações A estrutura de uma organização representa a divisão total do trabalho em tarefas distintas e a maneira que se coordena a execução dessas tarefas. Para isso, tem-se como denominador o modo como são aplicados os recursos da empresa para atender às demandas de mercado. Fonte: Adaptado de Lugoboni et al. (2020, p. 87). (Continuação) Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde6 É preciso compreender tanto o contexto que mobiliza, provoca e produz quanto os sujeitos (as pessoas, os profissionais) por ele produzidos. Esse entendimento pode se dar pelo estudo dos modelos de gestão e como estes organizam o dia a dia organizacional, a vida das pessoas, seus comporta- mentos, percepções, pensamentos, etc. Um modelo de gestão significa um modo de explicar e organizar a vida laboral dos colaboradores. Inclui obje- tivos, missão, valores e propósitos, que embasam discursos, pensamentos, premissas, verdades, percepções, comportamentos e práticas profissionais (ANTUNES, 1999; BORGES; YAMAMOTO, 2014; CODO, 2006; ROTHMANN; COOPER, 2009; ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014). Um modelo de gestão: [...] é um composto de regras e diretrizes que deve orientar os gestores na escolha da opção mais adequada, para conduzir a organização a atingir sua missão com eficácia. Estes modelos são extremamente importantes para o contexto atual, em que o ambiente é volátil e as empresas precisam se adaptar para sobreviver (RIBEIRO et al., 2022, p. 27). Confira a seguir alguns modelos possíveis de gestão no contexto organi- zacional (RIBEIRO et al., 2022). � Gestão participativa: baseada em grupos de trabalhos em que poucos administram. Ocorre de forma consultiva, grupal ou representativa. O capital humano é um diferencial para a organização, incentivando a participação das pessoas nas decisões, para torná-las mais efetivas, em consonância com a estratégia da empresa e com o sentimento coletivo. � Gestão por resultados: estabelece o rumo estratégico e incentiva programas de mudanças. O foco é na melhoria contínua em cada ação da empresa, por meio de planos de ação, que devem ser inspecionados regularmente. � Gestão por competência: estruturado a partir de uma série de práti- cas sociais para definir como as organizações e o mercado recrutam, contratam, desenvolvem, promovem, premiam, atribuem valores de remuneração, demitem, orientam políticas de inclusão e exclusão do mercado de trabalho, entre outros. � Gestão por processo: baseado na premissa da melhoria contínua dos processos. Tem como foco central a atenção às necessidades dos clientes. É possível citar modelos como o Seis Sigma, o 5S e o PDCA. Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde 7 O Seis Sigma identifica e estabelece melhorias nos processos das organizações. O 5S é baseado em seis sensos: utilização, organização, limpeza, normalização e disciplina. Por fim, o PDCA ampara o diagnóstico, a análise e o prognóstico de problemas das organizações com as etapas: planejar (do inglês, (plan), fazer (do), checar (check) e agir (act). � Excelência em gestão: foca a reordenação organizacional. Abrange 11 princípios da excelência reunidos em oito critérios de avaliação (maturação de gestão e graus de excelência nos processos organizacio- nais): pensamento sistêmico, aprendizado organizacional e inovação, liderança transformadora, compromisso com os usuários, adaptabi- lidade, desenvolvimento sustentável, orientação para os processos e geração de valor. É preciso considerar estruturações e arquiteturas sociais, como esses modelos de gestão, para compreender como a subjetividade e a saúde psí- quica dos colaboradores de uma empresa são impactadas. A seção seguinte vai abordar esse desdobramento. Subjetividade humana como instrumento de trabalho e de gestão das organizações A revolução industrial e o modo de produção capitalista colocaram o trabalho como central nos modos de vida. Da metade para o final do século XIX, a or- ganização das cidades e o surgimento de máquinas atraíram um contingente considerável dos meios rurais, produzindo mudança nas formas de convívio entre as pessoas e na rotina cotidiana de um indivíduo. No final do século XIX, trabalhar produzia sucesso econômico. Apesar do afã às novas formas de produção de bens materiais, nessa fase surgiram críticas à alienação no trabalho, à monotonia e à repetição das ações, além do embrutecimento. Permanecer por muitas horas no serviço, atrelado a um equipamento de forma rígida, apresentava como consequência a necessidade de um indivíduo sob controle e cada vez mais duro. No início do século XX, testemunhamos a organização do trabalho e a necessidade de cientifização da dinâmica industrial. Observamos a emer- gência do modelo taylorista-fordista e a produção de bens em massa. Nesse momento, vemos instituir-se o estado de bem-estar, em que o consumo de mercadoria passou a estar relacionado à dinâmica da produção. Com a forma- Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde8 ção do estado de bem-estar, o trabalho se tornou mais dinâmico e objetivo, e a produtividade ficou associada ao trabalho mecânico. Tanto na primeira fase da revolução industrial quanto no momento da organização científica do trabalho, observou-se a necessidade de ações sem o viés do pensamento. A subjetividade na organização prejudicaria o trabalho, atrasando-o ou mu- dando a forma da produção. A atuação da psicologia organizacional era voltada para as relações hu- manas. O foco era reduzir os problemas de convívio entre os indivíduos e destes com o trabalho. A partir da metade o século XX, o mundo acompanhou o esgotamento do modelo taylorista-fordista e a falência do modo tradicional de fazer o trabalho. O fim da guerra fria, a falência do estado de bem-estar, o incremento tecnológico e o estreitamento das relações entre os países com a globalização provocaram alteração nas organizações e, consequentemente, no jeito de o trabalho se realizar. A dinâmica do consumo também sofreu alteração, apontando para uma especificação da produção. Com isso, outros estilos de gestão passaram a ser necessários, bem como outros modos de organização do trabalho. A fim de dar conta da exigência da sociedade que emergia no final do século XX, as organizações precisaram criar outras táticas para organizar o trabalho em torno das suas tarefas. Houve a necessidade de reduzir os con- troles fordistas e de uma abertura à participação do trabalho na produção. A tentativa de eliminar as iniciativas e tomadas de decisão foi substituída pelo estímulo ao posicionamento do trabalhar. Verificou-se que expropriar a produção do saber do operário seria inalcançável. Foi preciso estimular a flexibilidade da produção e a especialização do serviço e buscar novas formas de produtividade que abarcassem uma participação do operário naquilo que ele fazia. A vida do indivíduo atravessado pelo trabalho se transformou de forma preponderante. Antes, o estado de bem-estar era fixado do lado de fora da organização, era externo à produção. Aos poucos, essa lógica foi substituída por uma produção de bem-estar do indivíduo dentro do trabalho. Nesse momento histórico, implantou-se uma rotina trabalhista em que figuram a existência de espaços de autonomia, o reconhecimento e a criatividade para aumento da produtividade. Pensar no trabalho antes era visto como desne- cessário, mas os novos estilos gerenciais sinalizaram que as organizações, de um modo geral, precisam considerar o pensar. As últimasdécadas operaram nas organizações mudanças irreversíveis. O trabalho considerado pesado foi substituído pelo trabalho intelectual. Há um combate ao gigantismo da organização, evitando-se os níveis hierárquicos. Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde 9 As organizações focam na atividade final ou no objetivo do seu serviço e terceirizam outras atividades, que engessariam a produção e burocratizariam seu cotidiano. Observou-se o surgimento do modelo toyotista japonês, com uma inversão na lógica da produção: são produzidas pequenas quantidades de muitos produtos, o que atende à necessidade de especialização da produção e da mercadoria sinalizada pelos consumidores. Com essas medidas, os aspectos subjetivos passaram a ser reconhecidos e valorizados. O controle da produção, que antes era interno, passou a ser interiorizado e se desenvolver na forma de autocontrole. A ordem rígida e hierarquizada, sem espaço para a subjetividade humana, foi substituída pela disciplina do próprio indivíduo, por sua participação na personalização do produto e pela gestão de seus resultados (BORGES; YAMAMOTO, 2014). Tais mudanças apontaram para duas novas concepções sobre o trabalho. A primeira sinaliza a ética do lazer, e a segunda, a formação de laços sociais. As duas criticam o modelo antigo e científico de produção e, por isso, podem ser confundidas, mas há diferenças entre elas, assim como as propostas de superação dos problemas que esse novo modelo de produção pode acarre- tar. Em resumo, ambas reconhecem que o modelo fordista torna impossível superar a alienação no trabalho. O indivíduo não consegue se reconhecer como membro de um coletivo, o que o incapacita de ser sujeito de poder. Embora haja transformações no mundo do trabalho, considera-se que elas estão sendo realizadas de forma autoritária, partindo sempre do capitalista, sem participação do trabalhador. O contingente de trabalhadores nas organizações está sempre menor. Eles não se reconhecem em suas atividades, e as ocupações tradicionais desaparecem, o que amplia a exclusão social. Na passagem do trabalho considerado pesado para o trabalho intelectual, evidencia-se a emergência de um trabalho imaterial, que é cognitivo e amplia o setor de serviços. A fim de superar essa imaterialidade, retirando o trabalho do processo de formação da identidade do trabalhador, passa a ser necessário o resgate dos valores éticos e comunitários na organização. Na vertente da ética do lazer, a redução das jornadas de trabalho passa a ser fundamental (BORGES; YAMAMOTO, 2014). No entanto, observamos que as mudanças das últimas décadas oportuni- zaram ao trabalhador a consciência sobre o processo do fazer. Ele consegue se reconhecer no produto, na mercadoria, no serviço. Para uma parte da população empregada, há o acesso a cargos e atividades de qualidade. Esse novo momento trabalhista produz uma ampliação das profissões, que estão cada vez mais diversificadas. Incentiva-se a formação educacional, já que são exigidas cada vez mais a polivalência e a qualificação do trabalho e do Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde10 trabalhador. O trabalho é visto por boa parte do contingente como repleto de sentido e contribuição social. O grande problema do mundo do trabalho da perspectiva do laço social é perceber que há uma passagem do industrialismo para o informacionismo. O trabalho, embora supere a alienação, diversifica identidades. Não há iden- tificação do trabalhador com um cargo, mas com o serviço e o pensamento plural. O novo pacto para garantir um bem-estar no trabalho, portanto, impõe a construção de identidades mais sólidas, especialmente coletivas. Nesta seção, vimos como se construiu historicamente a ideia de subjeti- vidade humana como instrumento de trabalho e de gestão das organizações. Estudamos as formas de atuação da psicologia organizacional junto aos grupos, como forma de melhorar o desempenho da gestão na atual confi- guração do trabalho. A partir da ideia de grupamentos sociais no trabalho, é possível apontar caminhos para identidades mais sólidas e coletivas, além de pensar estratégias de solidariedade e comunitarismo na organização. Na próxima seção, vamos estudar questões emergentes sobre a saúde mental e o bem-estar nas organizações. No decorrer do século XX, observamos a passagem de um trabalho fun- damentado na execução mecânica de serviços para um trabalho cada vez mais intelectual. Também vimos que o trabalho não é só uma parte anexa ao indivíduo, mas constitutivo dele. Portanto, se o trabalho muda, deixando de ser braçal para ser intelectual, o estilo de vida do ser humano também muda. Se o modo do exercício do trabalho é braçal, os acidentes ocupacionais se abatem sobre o corpo, como perdas de membros, fraturas, cortes, esmaga- mentos, infecções, etc. Quando o trabalho passa a ser intelectual, o acidente de trabalho se torna diferente e atua sobre a subjetividade do indivíduo. As doenças ocupacionais passam a ser depressão, psicose, síndrome de burnout, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar, crise de ansiedade, surtos psíquicos das mais diversas ordens, entre outras. Nas últimas décadas, o trabalho é cada vez mais subjetivo e incide no tipo de doença que identificamos nas empresas. Se a doença também é subjetiva, devemos trabalhar para potencializar o bem-estar na organização. Na interface entre psicologia e trabalho, podemos considerar três grupos de teorias que têm como foco a saúde do trabalhador. O primeiro é da ordem dos estudos do estresse e defende que a saúde significa redução dos con- flitos e problemas no ambiente profissional. O segundo grupo se baseia na Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde 11 psicodinâmica do trabalho. Trata-se de uma teoria de orientação psicanalítica que preconiza a libido como força maior na constituição do indivíduo, do trabalhador. A teoria psicodinâmica argumenta que o trabalho é uma forma eficaz de sublimação, uma espécie de canalização saudável dessa libido. O terceiro grupo de teorias se baseia na abordagem da ciência epidemiológica. Propõe que o indivíduo é um ser psicossocial e tem no trabalho a expressão de uma multideterminação pela relação entre os demais. Para essa percep- tiva, o fenômeno da saúde estaria articulado com o manejo e o controle das transformações que ocorrem no trabalho (ZANELLI et al., 2010). Em resumo, essas três perceptivas nos fazem ver que saúde implica a redução das situações conflituosas, bem como o investimento no prazer e na satisfação do indivíduo por meio de suas tarefas organizacionais e da qualificação das relações interpessoais. Desse modo, ele pode se expressar de forma autêntica e segura dentro do ambiente de trabalho. Como vimos neste capítulo, a presença do psicólogo organizacional e do trabalho é fundamental e necessária. A produtividade será sempre o objetivo de qualquer empreendimento. O bem-estar e a satisfação no trabalho só virão se alguém estiver cuidando disso, por exemplo, realizando treinamentos, preparando processos seletivos, observando o espaço que as pessoas tra- balham, identificando motivações e descobrindo formas de engajamento dos grupos nas atividades. Desse modo, o psicólogo ajuda a promover relações saudáveis e a identificação do indivíduo com o resultado do seu trabalho. Além disso, incentiva que qualquer trabalhador se veja como agente das mudanças que possam encontrar. Tais ações incidem sobre a forma com que o indivíduo pensa em si mesmo e determina como irá superar obstáculos e seguir colocando em prática seus pontos fortes, sendo solidário, recebendo auxílio e praticando a cidadania organizacional. Assim, promove um ambiente seguro na organização. A psicologia é fundamental para compreender a di- nâmica do trabalho, e o psicólogo é figura inestimável para qualquer círculo diretivo, contribuindo com o desenvolvimento e a potencialização da vida do trabalhador. ReferênciasANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 5. ed. São Paulo: Boitempo, 1999. BORGES, L. O.; YAMAMOTO, O. H. Mundo do trabalho: construção histórica e desafios contemporâneos. In: ZANELLI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. (org.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 25-72. CODO, W. Por uma psicologia do trabalho. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde12 LUGOBONI, L. F. et al. Modelos de gestão: uma revisão da literatura brasileira. Cafi, v. 3, n. 1, p. 83-102, 2020. RIBEIRO, S. P. et al. Modelos de gestão: enfoque no modelo MEG. Universitas, ano 16, n. 31, p. 23-44, 2022. ROTHMANN, I.; COOPER, C. Fundamentos de psicologia organizacional e do trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. SPECTOR, P. E. Psicologia nas organizações. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. ZANELLI, J. C.; BASTOS, A. V. B.; RODRIGUES, A. C. A. Campo profissional do psicólogo em organizações e no trabalho. In: ZANELLI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. (org.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 549-582. ZANELLI, J. C. et al. Estresse nas organizações de trabalho: compreensão e intervenção baseadas em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2010. Leituras recomendadas CHANLAT, J. F. (coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996. DWECK, C. S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. São Paulo: Objetiva, 2017. LOTTO, B. Golpe de vista: como a ciência pode nos ajudar a ver o mundo de outra forma. Rio de Janeiro: Rocco, 2019. MASI, D. O ócio criativo: entrevista a Maria Serena Palieri. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Psicologia organizacional ou empresarial: aspectos de saúde 13 Dica do professor A psicologia organizacional é exercida nas organizações produtivas e intersecciona com vários outros profissionais. O psicólogo tem a sua bagagem teórica e instrumental, que precisa ser associada ao conhecimento de características das empresas, o que envolve informações sobre negócios, cargos, salários, leis trabalhistas, entre outras questões técnicas referentes ao trabalho. Ele não perde a sua identidade profissional, mas atua em um ambiente diferente do que o clínico ou educativo, mais reconhecidos como “lugares” dos psicólogos. Na Dica do Professor, você vai conhecer algumas atividades do psicólogo organizacional e identificá-las a partir de seu conhecimento ou experiência nas organizações. Vai aprender sobre processos em que ele se envolve e como contribui com a sua especialidade. A vida no trabalho envolve desenvolvimento, satisfação e saúde, mas também gera adoecimento, frustração, mudanças de rotas e de interesses e, por isso, tem muita afinidade com o que o psicólogo faz em seu trabalho. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/63f11f7685241880b94d53957447b5fe Exercícios 1) O trabalho do psicólogo organizacional é amplo e depende de sua orientação teórica, do enfoque de trabalho e do espaço propiciado e/ou conquistado na organização. Alguns psicólogos trabalham de forma mais operacional, por meio dos processos de gestão de pessoas, ao passo que outros podem manter uma posição mais consultiva, trabalhando com lideranças e grupos diversos. Essas escolhas não precisam ser completamente excludentes e o psicólogo pode ir construindo o seu caminho na organização. Consideremos o primeiro enfoque de trabalho, mais operacional, como sendo PO e o segundo, como PC. Defina, no elenco a seguir, se as atividades se relacionam com PO ou PC: ( ) Recepção de um grupo de novos trabalhadores para conhecimento da empresa. ( ) Planejamento de uma reunião com gestores regionais para decidir sobre treinamento de equipes. ( ) Estudo e atuação no planejamento estratégico da organização. ( ) Contato com associação de pessoas com deficiência para preenchimento de vagas. Assinale a alternativa correta. A) PC – PC – PO – PO. B) PO – PO – PC – PO. C) PC – PO – PC – PO. D) PO – PO – PC – PC. E) PO – PC – PC – PO. Saúde é um conceito amplo e de difícil definição. Há muito tempo, era definida como um amplo estado de bem-estar físico e psíquico, o que foi questionado como reducionista e impossível de ser atingido. A discussão é bem mais profunda do que isso, mas o importante é saber que a saúde passou a ser vista de uma forma mais dinâmica, com possibilidades de conviver com a não saúde, sem definir a pessoa como saudável ou doente. A saúde é perpassada por muitos fatores como o trabalho ou a possibilidade de realização no trabalho. Essa é a matéria-prima do psicólogo organizacional. 2) Analise as afirmativas a seguir sobre a saúde no trabalho: I. O trabalho é algo que as pessoas realizam na empresa e não influencia a vida pessoal. II. Críticas e desqualificações repetitivas no trabalho são consideradas assédio moral. III. Hoje, com a tecnologia, há menos influência do trabalho na vida pessoal. IV. Problemas no trabalho podem causar doenças físicas e psíquicas. É(são) verdadeira(s): A) I e III. B) II e III. C) II e IV. D) III e IV. E) IV. 3) As atividades do psicólogo organizacional na gestão de pessoas podem ser variadas, mas algumas são bem conhecidas de todos e, normalmente, estão presentes em todas as organizações. As atividades ou processos de gestão de pessoas visam ao acompanhamento da vida laboral dos sujeitos naquele ambiente. As atividades são interligadas e interdependentes, mas têm características e objetivos próprios. Analise as descrições, a seguir, de algumas atividades dos psicólogos: I. Propicia o desenvolvimento das pessoas por meio do recebimento de críticas e orientações de colegas e da chefia imediata. II. Supre a empresa de talentos e pessoas que possam se desenvolver e contribuir com os objetivos organizacionais. III. Trata-se do balanço entre o que as pessoas realizam em seu dia a dia e a valoração disso para o mercado e a organização. IV. São os meios utilizados para que as pessoas cresçam em suas trajetórias profissionais e contribuam mais para os resultados da organização. Quais são elas? A) I. Recrutamento e seleção II. Treinamento e desenvolvimento III. Avaliação de desempenho IV. Gestão da remuneração B) I. Treinamento e desenvolvimento II. Recrutamento e seleção III. Gestão da remuneração IV. Avaliação de desempenho C) I. Recrutamento e seleção II. Gestão da remuneração III. Avaliação de desempenho IV. Treinamento e desenvolvimento D) I. Gestão da remuneração II. Treinamento e desenvolvimento III. Avaliação de desempenho IV. Recrutamento e seleção E) I. Avaliação de desempenho II. Recrutamento e seleção III. Gestão da remuneração IV. Treinamento e desenvolvimento 4) Entre as atividades do psicólogo organizacional, processo importante da gestão de pessoas, estão o treinamento e o desenvolvimento (T&D). Desde sua origem, quando o treinamento era mais semelhante a um adestramento, tendo em vista a organização taylorista do trabalho, mais prescritiva, até os dias de hoje, em que as pessoas têm diferentes concepções e expectativas com o trabalho, a ideia de T&D mudou muito. Assinale a alternativa que melhor define T&D nos dias atuais: A) Análise do desempenho do profissional nas atividades que realiza, das metas estabelecidas, dos resultados alcançados e de seu potencial de desenvolvimento. B) Meios para conhecer os indivíduospela aplicação de testes, entrevistas, provas de conhecimento e de capacitação. C) Modelação do trabalho, adaptando-o ao indivíduo para que ele possa desenvolvê-lo de forma mais competente. D) Estudo dos cargos descritos na empresa e treinamento sobre as funções previamente estabelecidas em cada um deles. E) Aquisição de novas habilidades e conhecimentos, além da modificação de comportamentos e atitudes. 5) A psicologia é uma ciência com diferentes abordagens teóricas e campos de atuação profissional. O psicólogo organizacional atua nas organizações. Organização é um conceito amplo e, muitas vezes, confundido com empresas. As empresas são organizações, mas nem todas as organizações são empresas. Portanto, esse campo é vasto e propicia muitas inserções. De forma geral, o psicólogo organizacional tem as suas características e objetivos de atuação. Analise as afirmativas a seguir: I. O psicólogo organizacional gere e é responsável por setores nas organizações. II. O psicólogo define e decide planos e estratégias para as organizações. III. O psicólogo interage com grupos e suas lideranças para a promoção de saúde. IV. O psicólogo executa atividades dos processos de gestão de pessoas. Quais delas são características de atuação do psicólogo organizacional? A) I, III, IV. B) II, III, IV. C) I, II, IV. D) I, II, III, IV. E) I, II, III. Na prática As diferentes funções profissionais, além de representarem conexões entre pessoas e empresas, são executadas de formas diversas a depender do ambiente. Por exemplo, o que é esperado de um vendedor em uma empresa depende do produto, do mercado, dos clientes, do salário recebido, etc. Então, mesmo tendo o mesmo cargo de outro vendedor, as atividades exercidas são diferentes, com exigências distintas. Essas constatações revelam a importância de processos de gestão de pessoas realizados por psicólogos, como recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho, etc. Acompanhe, neste Na Prática, uma situação em que o psicólogo atua em prol de um profissional recém- contratado. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/4979a7af-5814-4903-8ddd-9423c1df358c/132be8f3-b85d-4e03-8493-95e2e0172661.png Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O que é comportamento organizacional? Acompanhe o vídeo a seguir, que explica, de forma completa e didática, o significado de comportamento organizacional, que é intrinsecamente relacionado com a atuação do psicólogo nas organizações. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. (De)forma trabalhista: flexibilização e precarização pela(s) perspectiva(s) da(s) psicologia(s) do trabalho Neste artigo, você vai ver a realidade de muitos trabalhadores após a reforma trabalhista. Nesse sentido, o psicólogo organizacional, de forma a agir conscientemente nos ambientes empresariais, precisa conhecer sobre o mercado de trabalho e sua legislação. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil Leia o Capítulo 15 – Campo profissional do psicólogo em organizações e no trabalho, que trata da trajetória da psicologia organizacional na história da psicologia. A história é essencial para entender a lógica das transformações desse campo de atuação do psicólogo. Os autores são experientes em organizações e conseguem transmitir de forma acessível e prática esse percurso da psicologia organizacional. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.youtube.com/embed/y7OQfzpYG1E https://www.scielo.br/j/pe/a/kZrGkfBvwBBcmpdTKmX9nGs/?lang=pt Atuação do psicólogo na promoção da saúde e do bem-estar no trabalho Apresentação O trabalho é central e ocupa muito tempo e energia na vida das pessoas. Assim como pode significar prazer e realização, pode transformar-se em uma fonte de sofrimento e adoecimento. Essa não é uma dicotomia, pois o trabalho causa muitos sentimentos intercalados ou sobrepostos, mas, quando envolve realização, tende a ser mais prazeroso e, quando não motiva ou satisfaz, tende a ser desgastante. Quando passa a ser unicamente fonte de sustento, o trabalho provoca alienação e desgaste físico e mental, uma vez que não permite a economia somatopsicológica, integração entre mente e corpo (DEJOURS, 1987). A psicologia pode auxiliar no bem-estar no trabalho — seja de forma direta, com acompanhamento de trabalhadores e grupos em sofrimento ou conflito, seja de forma indireta, trabalhando com gestores na construção de um ambiente de trabalho mais adequado. Será ainda melhor se a psicologia puder atuar em ambas as frentes, tendo uma visão do todo e das possibilidades de encontro entre as diferentes camadas e interesses de trabalhadores e organizações. São inúmeras as possibilidades de atuação do psicólogo na busca do bem-estar no trabalho — por meio de pesquisas, do desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico e da condução de processos de gestão de pessoas inclusivos e qualificantes. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer algumas possibilidades de atuação do psicólogo no ambiente de trabalho com vistas ao bem-estar e à satisfação das pessoas. Essas possibilidades envolvem desde atividades de gestão das relações de trabalho, como seleção, treinamento, avaliação de desempenho, etc., até outras mais diretamente ligadas ao acompanhamento de grupos e do trabalho diário, com vistas à promoção da saúde no trabalho. Você vai conhecer algumas abordagens da psicologia para a promoção de bem-estar no trabalho, que são muitas e com diferentes propostas de intervenção. Dessa forma, será possível associar as tarefas do psicólogo com a saúde nas relações sociais e de trabalho. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar de que forma a psicologia, como ciência, pode promover a saúde e o bem-estar dos indivíduos. • Identificar os comportamentos do profissional de psicologia que promovem o bem-estar e a saúde no trabalho. • Relacionar suas tarefas com os aspectos de saúde nas relações sociais.• Desafio O conceito de saúde se transforma a cada dia, uma vez que as demandas sociais e as pessoas se transformam. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado positivo de bem-estar físico, psicológico, social, econômico e espiritual, e não somente como ausência de doença. Esse conceito tem sido amplamente debatido, principalmente se abarca todas as necessidades dos indivíduos e as constantes mudanças sociais. Essa é uma reflexão importante para os profissionais da saúde, entre eles o psicólogo, independentemente de seus campos de atuação. Imagine a situação a seguir: Você foi chamado para conhecer e apoiar esse grupo de trabalhadores. Para tanto, trace um plano de ação para minimizar essa questão importante de saúde laboral. Infográfico No campo do trabalho, as emoções podem ser estudadas de diferentes maneiras, mesmo que elas estejam interrelacionadas entre si. Um campo interessante de estudo é o que relaciona as relações interpessoais, uma vez que essa é uma situação própria nas relações de trabalho, sobretudo quando se fala do profissional de psicologia no trabalho em busca da promoção do bem-estar e da saúde das pessoas. No Infográfico a seguir, você vai compreender um pouco mais essas interações e os níveis que abordam os relacionamentos entre pessoas, com foco nas expressões e nas manifestações emocionais envolvidas nas interações, o que demanda autorregulação por parte dos envolvidos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/5ed683ba-86a7-4fe3-b548-c58b4d928fec/2fa8f834-29aa-4a6e-aba2-8a9b8ff4d614.jpgConteúdo do livro A emoção e o bem-estar no trabalho contribuem de forma efetiva para a saúde das pessoas. Nesse sentido, é premente que o indivíduo reconheça e trabalhe suas emoções para estabelecer uma relação sadia. Nos tópicos Níveis de análise dos estudos de emoções no trabalho e Afetividade no contexto do trabalho, do livro Psicologia, organização e trabalho no Brasil, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai refletir sobre esses estados emocionais. Boa leitura. José Carlos Zanelli Jairo Eduardo Borges-Andrade Antonio Virgílio Bittencourt Bastos Organizadores 2ª edição Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil NOVA EDIÇÃO DO LIVRO MAIS VENDIDO DA ÁREA NO BRASIL! P974 Psicologia, organizações e trabalho no Brasil [recurso eletrônico] / Organizadores, José Carlos Zanelli, Jairo Eduardo Borges-Andrade, Antonio Virgílio Bittencourt Bastos. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8271-085-2 1. Psicologia. 2. Psicologia organizacional. 3. I. Zanelli, José Carlos. II. Borges-Andrade, Jairo Eduardo. III. Bastos, Antonio Virgílio Bittencourt. CDU 159.9:005.32(81) Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 293 NÍVEIS DE ANÁLISE DOS ESTUDOS DE EMOÇÕES NO TRABALHO Uma proposta de sistematização dos estudos de emoções de trabalho com base na noção de ní- veis e que traduz o que se encontra na literatu- ra atual é a apresentada por Ashkanasy (2003). Procurou-se fazer uma adaptação, tentando de- marcar quatro níveis de abordagem e oferecer exemplos de teorias, para que o leitor tenha cla- reza de como as emoções no trabalho podem ser estudadas. O nível 1 tem como foco as va- riáveis individuais; o nível 2, as interações; o ní- vel 3, os grupos; e o nível 4, as organizações. A rigor, os níveis exercem mútua influência, res- saltando que alguns aspectos do comportamen- to organizacional necessitam ser contemplados em mais de um nível para serem mais bem com- preendidos. No nível 1 (Fig. 7.4), o interesse se volta pa- ra as diferenças individuais dos afetos dirigidos ao trabalho. Três teorias servem de exemplo a es- se nível, e, embora tenham sido desenvolvidas há mais de 10 anos, são utilizadas pelos pesquisa- dores na atualidade. A primeira é a teoria dos eventos afetivos (TEA) (Weiss; Cropanzano, 1996). Conforme a TEA, o comportamento dos em- pregados e o desempenho no trabalho não são de- terminados pelas atitudes e a personalidade, mas pela acumulação de eventos positivos e negativos em relação a ele. Ou seja, é o conjunto de even- tos (desencadeadores de emoções) no trabalho que repercute na formação de atitudes positi- vas ou negativas e também nos comportamen- tos a ele dirigidos. Outra teoria é a do modelo circumplexo/bidimensional do afeto (Watson; Clark; Tellegen, 1988), em que se afirma que as emoções discretas se dispõem em diversos pon- tos de uma circunferência com base na distân- cia (proximidade ou afastamento) de uma em relação a outra, levando em conta critérios co- mo afeto positivo ou negativo, prazer e despra- zer, engajamento e desengajamento. A alegria, por exemplo, seria uma emoção positiva e pra- zerosa, enquanto o medo seria uma emoção ne- gativa e de desprazer. O modelo circumplexo de Russel (1980) faz uso de duas dimensões: pra- zer-desprazer, letargia-excitação. Assim, a fúria estaria no intervalo entre desprazer e excitação; o entusiasmo, entre excitação e prazer; o conten- tamento, entre letargia e prazer; e a depressão, entre letargia e desprazer. Um estudo realiza- 294 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) do no Brasil, cujo objetivo foi testar a estrutura circumplexa para avaliar os afetos relacionados ao trabalho (Gouveia et al., 2008), concluiu que os resultados oferecem suporte ao modelo bi- dimensional do bem-estar afetivo no trabalho (Warr, 1987), abarcando as dimensões prazer e ativação propostas por Russell, embora não te- nha sido confirmada a estrutura circumplexa. Uma terceira teoria, com grandes reper- cussões na atualidade, é a da infusão do afeto (Forgas; George, 2001), e está apoiada em duas premissas básicas inter-relacionadas: a de que os julgamentos são geralmente con- sistentes com o estado de humor prevalente do ator, e a de que o humor interfere na seleção de estratégias cognitivas (tomada de decisão) e na memória (registro e recuperação da informação). Embora se possa reconhecer haver mais teorias que se situam no nível 1, as que foram apresentadas exemplificam que o foco desse ní- vel recai no que a pessoa sente e nas diferenças individuais do sentir em contextos de trabalho que repercutem na satisfação, nas atitudes, no desempenho e no tipo de engajamento com a organização e o trabalho (ou seja, em outras di- mensões da afetividade). O nível 2 (Fig. 7.5), o interpessoal, ou re- lacional, tem como foco as expressões e mani- festações emocionais que envolvem interações com outras pessoas e findam por demandar al- gum tipo de autorregulação. Nesse nível, Ashka- nasy (2003) inclui os estudos sobre as expres- sões faciais emocionais e seu reconhecimen- to, especialmente o sorriso, considerado uma das expressões faciais mais importantes na ma- nutenção das interações humanas. Nessa linha de pesquisa, os estudos iniciados por Ekman (1999) e os mais recentes, realizados no labora- tório de Freitas-Magalhães e Castro (2010), são alguns exemplos. Os estudos de Ekman, em es- pecial, concluem a favor da dificuldade de se si- mular um sorriso autêntico (sorriso de Duchen- ne), que envolve movimentos da musculatura ao redor dos olhos, diferentemente dos músculos ao redor da boca, que são simulados com mais facilidade. Certamente, a inferência de emoções tem repercussões nas interações no trabalho. Es- tudos com amostras brasileiras sobre atribui- ção de causalidade de emoções de supervisores e empregados interagindo em uma situação simu- lada de trabalho concluíram que aos superviso- res são atribuídas mais emoções positivas que ao empregado (Gondim et al., 2008, 2010), permi- tindo inferir a tendência de os brasileiros acre- ditarem que a função de chefia apresenta mais status e está associada à satisfação. A inteligência emocional (IE) é outra abordagem teórica que se situa no nível inter- pessoal, apesar de envolver fatores intraindivi- duais, como a autopercepção e o autocontrole. Pode ser definida como um conjunto de habi- lidades que permitem identificar e compreen- Nível 1 Individual 1. Teoria dos eventos afetivos Comportamento resultante das experiências afetivas positivas ou negativas 2. Modelo circumplexo do afeto Interferência do estado de humor na tomada de decisão e na recuperação da informação 3. Teoria da infusão do afeto Emoções discretas se distribuem em uma circunferência por critérios: prazer, excitação Figura 7.4 Nível de análise individual – foco na pessoa e nas diferenças individuais. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 295 der as emoções pessoais, saber gerenciá-las e manejar as dos demais, utilizando-as com a fi- nalidade de melhorar o desempenho cognitivo (Mayer; Caruso; Salovey, 1999). Não há consen- so sobre o número de dimensões da IE. Alguns autores trabalham com uma única dimensão (p. ex., Schutte et al., 1998); outros, com três (p. ex., Salovey; Mayer, 1990). Esses últimos autores de- senvolveram uma medida de inteligência emo- cional bastante utilizada no Brasil (Gonzaga; Monteiro, 2011). Há autores que consideram a inteligên- cia emocional um traço disposicional (Micko- lajczak; Luminet, 2008), enquanto outros a tra- tam como uma competência a ser desenvolvida e também como um resultado de crenças so- bre o gerenciamento efetivo da emoção (auto- consciência, empatia, humor positivo e toma- da de decisão) (Ashkanasy; Daus, 2005; Walter; Cole; Humphrey, 2011). Emboranão seja con- senso (p. ex., Côbero; Primi; Muniz, 2006), críti- cas vêm sendo feitas sobre a sobreposição de al- guns fatores de personalidade e medida de inte- ligência emocional de autorrelato (Woyciekoski; Hutz, 2010), o que exige maior cuidado no ali- nhamento conceitual entre como se define o construto e como ele vem sendo medido. De- fende-se o ponto de vista de que a IE deve ser medida pelo desempenho, e não por estimati- vas sobre a capacidade pessoal. Ou seja, a me- lhor forma de medir inteligência emocional não é perguntando se a pessoa acha que tem habili- dades para lidar com suas próprias emoções e as dos demais, mas colocando-a em uma situação em que seja testado seu desempenho no mane- jo das emoções. Dada a relevância alcançada, a regulação emocional (RE) começou a ser desenvolvida e es- tudada como um fenômeno articulado à inteligên- cia emocional, mas com uma constituição pró- pria. Define-se como um processo de influenciar o tipo, o momento e o modo como se experi- menta ou expressa uma emoção (Gross, 1998). É desencadeada pela discrepância entre o que se sente e o que se gostaria ou deveria sentir, mobi- lizando processos fisiológicos, cognitivos e com- portamentais. Aloca-se no nível interpes soal dos estudos sobre emoções no trabalho pelo enten- dimento de que a regulação emocional está for- temente relacionada ao construto de trabalho emocional e envolve tanto a autorregulação co- mo a regulação do comportamento e das emo- ções das outras pessoas, com repercussões para o bem-estar (p. ex., Hochschild, 1983; Niven et al., 2011; Tamir; Mauss, 2011). Um exemplo de estudo no Brasil dessa articulação entre traba- lho emocional e estratégias de regulação emo- cional é o realizado com comissários de bordo e pes soal de atendimento de uma companhia de aviação nacional após um acidente aéreo (Gon- dim; Borges-Andrade, 2009). Alguns autores (p. ex., Diefendorff; Ri- chard, 2003; Grandey, 2000; Gross, 1998; Hochs- child, 1983) classificam a regulação das emo- ções em três grupos: 1. Ações de superfície ou estratégias com fo- co nos consequentes: consistem em inibir ou mudar a expressão emocional sem alte- rar o sentimento interno, atenuando o im- pacto emocional de um evento que não po- de ser evitado. 2. Ações de profundidade ou estratégias com foco nos antecedentes: consistem em um esforço de mudar os sentimentos internos com o objetivo de expressar uma emoção congruente com o que se está, de fato, sen- tindo. As estratégias profundas são mais fa- cilmente alcançadas ao se antecipar o even- to emocional perturbador. 3. Emoções genuínas ou trabalho emocional espontâneo: não consistem propriamente em uma estratégia, mas em características pessoais decorrentes de processos de identi- ficação que tornam a expressão emocional e o sentimento compatíveis com o demanda- do pela situação eliciadora da emoção, ten- do, portanto, menor custo emocional. Na perspectiva de Niven e colaboradores (2011), há dois tipos de critérios que podem ser levados em conta em um sistema de classifica- ção da regulação do afeto: o alvo e o objetivo. O alvo do afeto pode ser a própria pessoa ou algu- ma outra (Gross; Thompson, 2007), e o objetivo da regulação pode ser direcionado para melho- rar ou piorar o afeto (Parrott, 1993). Os dois cri- térios levariam a uma composição de quatro ti- pos de estratégia: 1. melhora do afeto intrínseco: deliberada melhora dos sentimentos pessoais; 2. piora do afeto intrínseco: deliberada piora dos sentimentos pessoais; 296 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) 3. melhora do afeto extrínseco: deliberada melhora dos sentimentos em relação aos demais; 4. piora do afeto extrínseco: deliberada piora do sentimentos em relação a outras pessoas. Conta-se, no momento, com uma série de medidas de regulação emocional, algumas valida- das ou em processo de validação para o territó- rio nacional (p. ex., Nelis et al., 2011), exploran- do as diversidades de estratégias. A medida de Nelis e colaboradores para a qual foram encon- tradas evidências de validação em uma amostra no Brasil (Gondim et al., no prelo), tem como objetivo definir um perfil de regulação emocio- nal que envolve o manejo de emoções positivas (estratégias adaptativas e desadaptativas) e emo- ções negativas (estratégias funcionais e disfun- cionais). Seguindo também uma lógica de cons- trução de perfis, há uma versão reduzida de uma medida de estilos de regulação do afeto com fo- co no manejo da raiva e da tristeza, desenvol- vida por Paéz-Rivora e colaboradores (2012). O principal foco de interesse dessas medidas é bus- car relações entre o uso de estratégias de regula- ção emocional, o processo adaptativo (p. ex., Ta- mir, 2011) e o bem-estar subjetivo e psicológico (p. ex., Nyklíc̆ek, 2011). Aqueles que não conseguem regular suas emoções correm riscos de apresentar transtor- nos mentais, físicos e disfunções sociais (Nelis et al., 2011). Fortalece-se a crença de que a regula- ção emocional exerce um papel fundamental na diminuição, na manutenção ou no aumento de emoções positivas (Mikolajczak, 2009), repercu- tindo no bom desempenho pessoal emocional e no bem-estar (Tugade; Fredrickson, 2007). Outro construto que se situa no nível in- terpessoal, considerado inter-relacionado ao conceito de inteligência emocional, é o de com- petência emocional (Boyatzis; Goleman; Rhee, 2002). Para Bisquerra-Alzina (2009), competên- cia emocional é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para a reali- zação de atividades desenvolvidas com certo ní- vel de qualidade e eficácia. Envolve a capacida- de para compreender, refletir, expressar e regular de forma apropriada os fenômenos emocionais, em relação a si mesmo e aos demais. O conceito de competência emocional mantém implicações com a educação emocional, definida como um processo permanente e contínuo de potenciali- zação e desenvolvimento da competência emo- cional para aumentar o bem-estar social e pes- soal. Por último, há o conceito de contágio emocional, de crescente interesse no campo dos estudos de emoções no trabalho. É digno de no- ta que o contágio mantém inter-relações com a inteligência emocional e os processos de regula- ção e, do ponto de vista da gestão, ocupa um pa- pel relevante no comportamento do líder em re- lação a sua equipe de trabalho (nível 3, que será abordado mais adiante). O contágio emocional é uma imitação in- consciente das expressões emocionais de ou- tra pessoa, produzindo uma experiência emocio- nal semelhante à original (Hatfield; Cacioppo; Rapson, 1993). O contágio pode ser analisado de duas perspectivas: a de pessoas aptas a con- tagiar os demais (o que é esperado de um líder) e a das que se contagiam com facilidade, embo- ra não haja incompatibilidade entre ser capaz de influenciar e ser influenciado. Um modelo clas- sificatório foi apresentado por Jansen-Verbeke (1997): 1. os carismáticos, que influenciam e são in- fluenciados; 2. os empáticos, que são facilmente influencia- dos, mas pouco aptos a exercer influência; 3. os expansivos, hábeis para influir, mas pou- co sensíveis à influência alheia; e 4. os “blindados” (bland), inaptos para influir e ser influenciados. Os dois primeiros, portanto, seriam mais suscetíveis ao contágio emocional. Em resumo, é possível afirmar que a abor- dagem das emoções no nível interpessoal tem crescido substancialmente e conta com um am- plo leque de conceitos que incorporam elemen- tos do nível 1 (individual) e situam-no nível re- lacional, o que é de suma importância para os processos organizacionais. O terceiro nível mencionado por Ashka- nasy (2003) é o dos grupos (Fig. 7.6). É indiscutí- vel que eles estão fortemente presentes nos con- textos organizacionais, em particular pela forma de organização do trabalho, que requer metas coletivas e divisão de trabalho. A preocupação com o que o ocorre no grupo, as relações en- tre líderes e sua equipe e todos os aspectos que impactam diretamente nobem-estar e no de- Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 297 sempenho grupal revestem-se de interesse para os estudiosos desse campo de conhecimento. Os processos grupais envolvem fortemente emoções e afetos, contribuindo para a coesão e a emer- gência ou atenuação de conflitos (vide Capítu- lo 10). No Brasil, encontram-se escalas validadas e que exploram conflitos intragrupais (Guima- rães; Martins, 2008). A literatura internacional tem-se dedica- do também ao estudo da influência do humor do líder nos membros de sua equipe de trabalho e seus impactos nos processos internos ao gru- po (p. ex., Sy; Côté; Saavedra, 2005). O contágio do humor do líder para a equipe está relaciona- do ao conceito de humor do grupo, desenvolvi- do por Kelly e Barsade (2001), que argumenta- vam a favor da composição afetiva do grupo. O tom afetivo do grupo seria formado pelo contá- gio do humor, que caracterizaria cada um de seus membros. O humor do grupo também seria de- corrente do treinamento da equipe, da modela- gem e da manipulação do afeto. Desde a década de 1990 já se afirmava que os sentimentos positi- vos são essenciais prerrequisitos para a efetivida- de, a satisfação e o comprometimento dos gru- pos, e isso se confirma na atualidade (Tanghe; Wisse; van der Flier, 2010). A inteligência emocional do grupo é ou- tro conceito relacionado ao humor do grupo. É concebida como a prevalência de membros com altos escores de IE, que, mediante as trocas inter- pessoais e da aprendizagem, influenciam o com- portamento grupal (Jordan et al., 2002). A su- posição é a de que, ao haver membros no grupo com altos escores de IE e um contexto que favo- rece a troca de aprendizagens, a IE emerge como uma característica do grupo e repercute na sua efetividade. A teoria das trocas líder-membro, ou teo- ria do vínculo vertical diádico, desenvolvida na década de 1990, também tem sido muito utili- zada pelos estudiosos do nível dos grupos. Con- forme descrito por Graen e Uhl-Bien (1995), o líder tem um papel estratégico na comunicação, na expressão e no gerenciamento emocional de sua equipe de trabalho. Mantém sua posição de líder estabelecendo trocas com alguns membros (in group) de sua confiança, para os quais atri- bui responsabilidades e estabelece acordos, dife- renciando-os dos membros fora do grupo (out Figura 7.5 Nível de análise relacional – foco nas relações interpessoais. Nível 2 Relações entre pessoas Expressões emocionais e reconhecimento de outras pessoas Inteligência emocional Regulação emocional Contágio emocional Competência emocional Nível 3 Grupo Humor do líder Humor do grupo Inteligência emocional do grupo Teoria da liderança transformacional Teoria das trocas líder-membro Figura 7.6 Nível de análise grupal – foco nas relações dentro do grupo e no grupo. 298 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) group). A construção das relações entre líder e membro do grupo segue três estágios: avaliação inicial, que permite ao líder conhe- cer o membro e avaliar suas potencialidades; processo de construção de um vínculo, em que o líder testa a avaliação inicial e define se o novo membro pertencerá ao in group ou ao out group; e consolidação do vínculo, que define uma qualidade de relação, cujos aspectos afetivos são essenciais. A qualidade das interações entre o líder e seus colaboradores está pautada em julgamen- tos afetivos. A teoria da liderança transformacional, desenvolvida também na década de 1990 (Bass e Avolio, 1990) e baseada no conceito de lideran- ça transformadora, de Burns (2003), introduzido em 1978, assenta-se sobre a premissa da impor- tância do modelo de liderança para o desempe- nho da equipe. O estilo de liderança transforma- cional inspira a confiança nos membros do gru- po, oferece padrões de conduta, provê estímulos intelectuais e ocupa-se de atender às necessida- des emocionais de seus membros, diferentemente da liderança transacional, que tem um foco mais instrumental, ou seja, trocas pontuais orientadas por objetivos e metas gerais, desconsiderando as características e necessidades emocionais de seus membros. Quatro elementos caracterizam a lide- rança transforma cional: consideração individualizada, em que o líder atua como coach e tutor, oferecendo suporte emocional às necessidades individuais de cada membro; estimulação intelectual, em que o líder estabelece uma relação de confiança com os liderados, estimulando a criatividade e novas ideias; inspiração motivacional, em que o líder ofe- rece otimismo e exibe um padrão emocional positivo que inspira os membros; e influência moral, em que o líder serve de modelo de conduta, inspirando confiança e servindo de exemplo de retidão. O último nível mencionado por Ashkanasy (2003) é o organizacional (Fig. 7.7). Aqui será des- tacada apenas uma forte tendência que está rela- cionada à preocupação com a qualidade de vida no trabalho: a saúde ou “bem-estar organiza- cional” (Cooper; Williams, 1994). A saúde or- ganizacional é definida como a priorização pe- la organização do bem-estar do empregado e a manutenção de resultados organizacionais posi- tivos. Inclui observância a variáveis como estru- tura, políticas de gestão de pessoas, tipos de lide- rança e demais processos que envolvem suporte e condições de trabalho. Um livro recentemente publicado no Bra- sil, organizado por Ferreira e Mendonça (2012), oferece um panorama da transição do foco dos efeitos negativos do ambiente de trabalho para os aspectos positivos da tarefa, ocupação e or- ganização, mais contributivos para o bem-estar e a qualidade de vida do trabalhador. A qualida- de de vida é definida como um construto mul- tifacetado, que envolve aspectos individuais, re- lacionais, sociais e culturais. O conceito de bem- -estar envolve dimensões relacionadas ao afeto, à satisfação com a vida e à felicidade (bem-estar subjetivo) e também dimensões cognitivas, en- tre as quais se destacam a autoaceitação, a auto- nomia, o propósito de vida, o domínio do am- biente, o crescimento pessoal e as relações posi- tivas com os outros (bem-estar psicológico). A qualidade de vida no trabalho teria um escopo no nível organizacional, ao passo que o conceito de bem-estar estaria no nível do indivíduo. No entanto, já há esforços no Brasil no sentido de buscar uma articulação entre estruturas de po- der organizacional e o bem-estar pessoal nas or- ganizações (Dessen; Paz, 2010). A configuração de poder missionária favorece a forte identifica- ção dos membros com a missão ideológica da organização. Na configuração autônoma, o con- trole é feito mediante definição de metas pelos Nível 4 Organizacional Qualidade de vida no trabalho Saúde organizacional Bem-estar pessoal nas organizações Figura 7.7 Nível de análise organizacional – foco na organização. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 299 próprios membros da organização. A configu- ração instrumental, por sua vez, exerce o poder mediante uma hierarquia rígida de forte contro- le externo sobre o alcance dos objetivos. Uma das conclusões desse estudo foi a existência de correlações positivas e negativas entre configu- rações de poder e bem-estar. Quanto mais os indivíduos percebem as configurações de po- der como sendo de sistema autônomo e sistema missionário, mais experimentam bem-estar pes- soal no trabalho, ao passo que quanto maior a percepção da configuração de poder instrumen- tal, menor é o bem-estar. Certamente, esse último nível é o mais de- safiador dos quatro mencionados nesta seção. Como a maior parte dos estudos sobre psicolo- gia em organizações, o nível de análise frequen- temente adotado é o do indivíduo. Alguns pas- sos têm sido dados no sentido de adotar abor- dagens multiníveis, principalmente no nível das equipes de trabalho, mas a integração entre eles ainda é um projeto a ser mais bem realizado. Após essa visão panorâmica organizando as abordagensde emoções nos contextos de tra- balho com base nos níveis de análise, a próxima seção abordará com mais detalhes os aspectos da afetividade no contexto de trabalho, desta- cando algumas teorias e orientações que cercam esse campo de estudos e repercutem nos tipos de vínculos que o trabalhador mantém com a organização. Afetividade no contexto de trabalho Afetividade é um termo para designar um amplo campo de pesquisa e teorização em psicologia re- ferente a processos subjetivos de estabelecimen- to de vínculos com pessoas (incluindo o próprio indivíduo), com objetos físicos ou sociais, como também de manifestações de emoções e senti- mentos. Para organizar o amplo leque de teorias e conceitos sobre afetividade, três perspectivas po- dem ser apontadas: traços afetivo-emocionais, atitudes e estados afetivo-emocionais (Fig. 7.8). Traços afetivo-emocionais são característi- cas disposicionais estáveis que retratam como os indivíduos manifestam emoções e sentimentos e se comportam, revelando idiossincrasias que dis- tinguem as pessoas umas das outras. Dentro des- sa abordagem, a afetividade é analisada e descri- ta por meio de diferentes concepções, como, por exemplo, a que descreve traços de personalidade e a que distingue habilidades intelectuais para li- dar com sentimentos e emoções. O Modelo dos Cinco Grandes Fatores (Big Five-Factor Model) é uma teoria da personalidade que vem ganhando espaço nos estudos sobre afe- tividade no trabalho. O modelo é “[...] uma ten- tativa de usar um padrão hierárquico de análise a fim de simplificar a vasta coleção de dados dispo- níveis sobre o comportamento afetivo dos indiví- duos [...]” (Anastasi; Urbina, 2000, p. 303). Segundo os pressupostos dessa teoria, traços marcantes da personalidade podem ser agrupados em cinco grandes fatores, assim de- nominados: neuroticismo: ansiedade, hostilidade raivosa, depressão, autoconsciência, impulsividade e vulnerabilidade; extroversão: cordialidade, gregariedade, as- sertividade, atividade, busca de excitação e emoções positivas; sociabilidade: confiança, sinceridade, altruís- mo, aquiescência, modéstia e ternura; Traços afetivo-emocionais Teoria dos cinco grandes fatores Habilidades da inteligência emocional Personalidade e inteligência emocional Atitudes Satisfação no trabalho Envolvimento no trabalho Comprometimento organizacional Crenças, afetos e tendências à ação Estados afetivo-emocionais Estado de ânimo Autoestima Satisfação com a vida Sentimentos positivos e negativos Figura 7.8 As três perspectivas teóricas sobre afetividade no trabalho. 300 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) realização: competência, ordem, cumpri- mento de deveres, realização, autodisciplina e deliberação; abertura à experiência: fantasia, estética, sentimentos, ações, ideias e valores. Inteligência emocional, por seu turno, poderia ser incluída dentro de uma visão de tra- ços afetivo-emocionais, na medida em que o conceito compreende, segundo Salovey e Mayer (1990, p.189), [...] habilidades para monitorar senti- mentos e emoções pessoais e de outras pessoas, fazer distinções entre eles e usar estas informações para guiar os próprios pensamentos e ações. Segundo os autores, três processos men- tais são utilizados para processar informações de cunho emocional: avaliação: refere-se à análise de expressões de suas próprias emoções e de outras pessoas e à escolha de uma melhor maneira de expressar emoções em um dado contexto; regulação: inclui o mecanismo de controlar as próprias emoções e humores e reagir ade- quadamente no convívio social; utilização: possibilita ao indivíduo o uso adequado das emoções durante a resolução de problemas cotidianos ou em situações que exijam um raciocínio complexo, permitindo- -lhe elaborar adequadamente planos futuros, manter pensamentos criativos e buscar cami- nhos para o alcance de metas. Pessoas emocionalmente inteligentes esta- riam aptas a reconhecer seus estados emocionais e os de outras pessoas, a solucionar problemas e a regular ações em diversas situações ou contex- tos, inclusive no trabalho. Outra contribuição, e que popularizou o conceito, foi a oferecida por Goleman (1995), ao sugerir cinco categorias de habilidades inter- dependentes como integrantes da inteligência emocional: autoconsciência, automotivação, au- tocontrole, empatia e sociabilidade. Articulando os três processos mentais pro- postos por Salovey e Mayer (1990) e as cinco ha- bilidades emocionais apontadas por Goleman (1995), Siqueira, Barbosa e Alves (1999) construí- ram e validaram a Medida de Inteligência Emo- cional (MIE) (Fig. 7.9). A MIE contém cinco fa- tores ortogonais compostos por 59 frases, com índices de precisão entre 0,78 e 0,87, que avaliam: Fator 1 – Empatia: esse fator é composto por 14 itens referentes à habilidade de identificar sentimentos, desejos, intenções, problemas e interesse dos outros por meio da leitura e da compreensão de comportamentos não verbais de comunicação. Fator 2 – Sociabilidade: os 13 itens do fa- tor descrevem a habilidade de começar e preservar amizades, relacionar-se bem, ser aceito pelas pessoas, sentir-se bem entre elas e tratá-las com cordialidade, mesmo sendo desconhecidas. Fator 3 – Automotivação: o conjunto de 12 itens refere-se à persistência, à coragem, à força, ao otimismo e ao entusiasmo com que o indivíduo maneja objetivos e planos para sua vida. Fator 4 – Autocontrole: os 10 itens refletem a capacidade de ponderação, cautela e controle que o indivíduo tem diante de fatos desagra- dáveis, provocações, agressões, desaforos, in- sultos, conflitos, sentimentos perturbadores e impulsos. Fator 5 – Autoconsciência: composto por 10 itens, avalia ações introspectivas de reconhe- cer, analisar, refletir, nomear e identificar os próprios sentimentos. Medida de inteligência emocional (MIE) Empatia – habilidade de compreender os sentimentos do outro Sociabilidade – habilidade de iniciar e preservar relacionamentos Automotivação – persistência, força e entusiasmo para a vida Autocontrole – habilidade de controlar-se e agir com cautela diante de situa- ções frustrantes Autoconsciência – habilidade de refletir e analisar os próprios sentimentos Figura 7.9 Medida de inteligência emocional. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 301 Na literatura internacional, encontram- -se análises do conceito de inteligência emo- cional comparando-o a outras variáveis, como personalidade, critérios de bem-estar psicológi- co e habilidades cognitivas. O primeiro estudo em que a MIE foi utilizada (Siqueira; Barbosa, 2000) teve a preocupação de investigar as rela- ções entre habilidades da inteligência emocional e dois conceitos de bem-estar: estado de ânimo (positivo e negativo) e otimismo. Os resultados revelaram correlações significativas entre ânimo positivo, ânimo negativo, otimismo e alguns fa- tores da MIE, bem como proveram evidências para a identidade da MIE diante de medidas de bem-estar, confirmando que fatores de medida da inteligência emocional tendem a formar um fator emocional g, como já observado em estu- dos internacionais, e que níveis mais elevados nas cinco habilidades de inteligência emocional tendem a ser observados entre pessoas otimistas e com estado de ânimo positivo. O segundo estudo, desenvolvido por Siqueira (2001), investigou as relações entre ha- bilidades da inteligência emocional e nove va- riáveis do comportamento organizacional: com- portamentos de cidadania organizacional, in- tenção de rotatividade, comprometimentos or ganizacionais (afetivo, calculativo e normati- vo), percepções de justiça (de procedimentos e de distribuição), percepção de suporte organi- zacional e satisfação no trabalho (descrições de- talhadas sobre a maioria dessas variáveis podem ser encontradas no Capítulo 8). Os resultados do estudo revelaram que apenas comportamen- tos de cidadania e satisfação no trabalho deti- nham
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