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PRÁTICA DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO INTERDISCIPLINAR DA EQUOTERAPIA - Documentos Google

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Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI 
 ISSN 1809-1636 
 PRÁTICA DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO INTERDISCIPLINAR DA EQUOTERAPIA 
 Practice Of The Psychologist In The Context Of Interdisciplinary Of The Hippotherapy 
 Rovana Kinas Bueno 1 
 Mariliane Adriana Monteiro 2 
 RESUMO 
 Este artigo refere-se a um estudo teórico sobre a prática do psicólogo no contexto interdisciplinar da 
 equoterapia, a qual é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo para desenvolver 
 biopsicossocialmente pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais. Assim, tendo como 
 objetivo analisar a prática do psicólogo no contexto interdisciplinar da equoterapia, buscou-se 
 explanar as temáticas “equoterapia”, “cavalo”, “equipe interdisciplinar” e “psicologia”. Este último 
 termo recebe uma atenção peculiar por compor a equipe atuante no processo equoterapêutico, e por 
 ser o foco deste estudo. Percebeu-se no respectivo estudo que as atribuições do psicólogo dizem 
 respeito à equipe, ao praticante e seus familiares. Estas atribuições em geral buscam ter uma visão 
 global sobre os sujeitos e suas necessidades e potencialidades. Desse modo, o psicólogo torna-se um 
 profissional essencial no processo psicoterapêutico da Equoterapia. 
 Palavras-Chave: Equoterapia; psicologia; atuação. 
 ABSTRACT 
 This article refers to a theoretical study on the practice of psychologists in an interdisciplinary 
 context of hippotherapy, which is a therapeutic and educational method that uses horses to develop 
 biopsychosocial people with disabilities and / or special needs. Thereby, aiming to analyze the 
 practice of psychologists in an interdisciplinary context of hippotherapy, we tried to explain the 
 themes "hippotherapy", "horse", "interdisciplinary" and "psychology."The last term gets a particular 
 attention for taking part of the hippotherapy health care team in the process, and being the aim of 
 this study. It was realized, in this study, that the roles of psychologists refer to the team, the 
 practitioners and their families. These assignments, usually, tent to have an overview of the subjects 
 and their needs and potential. Therefore, the psychologist becomes an important tool in the 
 psychotherapeutic process of hippotherapy. 
 Keywords: Hippotherapy, psychology, performance. 
 EQUOTERAPIA 
 Este trabalho trata de um estudo teórico sobre a prática do psicólogo no contexto 
 interdisciplinar da equoterapia. De acordo com ANDE-BRASIL (2007), trata-se de um método 
 terapêutico e educacional, o qual, por meio de uma abordagem interdisciplinar, utiliza o cavalo para 
 1 Psicóloga pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus de Santo Ângelo. E 
 mail: rovanak@gmail.com 
 2 Professora do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus 
 de Santo Ângelo. E-mail: mariliane@urisan.tche.br 
 Vivências. Vol.7, N.13: p.172-178, Outubro/2011 172 
 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI 
 ISSN 1809-1636 
 o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais. 
 Este método tem como objetivo trazer benefícios físicos, psíquicos, educacionais e sociais para as 
 pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais, as quais neste processo são chamadas de 
 “praticantes de equoterapia”. 
 Os movimentos do cavalo são tridimensionais, o que possibilita que muitos aspectos dos 
 praticantes (como atenção, equilíbrio e autoconfiança) sejam trabalhados. Além disso, deve-se 
 considerar que o cavalo nunca está totalmente parado, o que impõe ao cavalheiro um ajuste no seu 
 comportamento muscular, a fim de responder aos desequilíbrios provocados por esses movimentos 
 (ANDE-BRASIL, 2007), que são importantes por estimularem todas as áreas corporais e mentais de 
 modo integrativo/global. 
 Assim, a equoterapia proporciona ao praticante o contato com suas capacidades, podendo 
 basear sua prática em uma perspectiva desenvolvimentista (ZAMO, 2007). Além disso, Salvagni 
 (1999) afirma que as terapias que utilizam animais fornecem benefícios em termos de bem-estar 
 físico e emocional, trazidos pela interação homem-animal, onde se estabelece vinculação. Conforme 
 Nascimento (2007), o cavalo atua tanto como um espelho onde são projetadas as dificuldades, 
 progressos e vitórias, quanto como novo estímulo, que propicia novas percepções e vivências. 
 Cavalgar neste animal dócil, porém de porte avantajado, pode levar o praticante a experimentar 
 sentimentos de liberdade, independência e capacidade. Estes sentimentos são importante para a 
 aquisição de autoconfiança, realização e autoestima. 
 Deste modo, é fundamental considerar a relação homem-cavalo e a vivência dos 
 profissionais que atuam nesse tipo de processo terapêutico, já que tudo isso constituirá o setting 3 
 terapêutico, e os resultados que o mesmo proporcionará. Então, ressalta-se que tanto os movimentos 
 tridimensionais do cavalo quanto a relação que se estabelece com o mesmo são grandes precursores 
 dos benefícios que a equipe que trabalha na Equoterapia poderá atingir no decorrer dos 
 atendimentos. 
 Sobre esta interação entre o homem e o cavalo devemos considerar o ponto de vista de 
 Freud, Jung e Winnicott. No Caso do Pequeno Hans, Freud (1909) nos aponta que o menino tinha 
 no cavalo o objeto fóbico que representava as funções parentais, no qual o medo de o cavalo cair e 
 morrer era uma representação substitutiva de seu desejo inconsciente de morte contra seu pai que 
 tanto admirava. Aqui, Freud afirma a alteração da realidade externa na fobia, apropriada pelo sujeito 
 como peça-chave da estrutura de desejos (castração/Édipo) que origina sofrimento neurótico. 
 Além disso, também é importante lembrar que segundo Freud, os movimentos do cavalo se 
 assemelham ao movimento do útero materno. Jung (1987), por sua vez, nos traz a ideia de que nos 
 relacionamos com o mundo por meio de arquétipos (símbolos). Para ele, o arquétipo do cavalo 
 representa a psique não humana, além de evocar poder, força vital (tal como a mãe), autoridade e 
 transmitir a quem monta (e nesse carregar está implícita a idéia de carregar o ser humano, como a 
 figura materna) uma sensação de controle e domínio. Já Winnicott (1985) traz o cavalo como um 
 objeto transicional, facilitador de novas condições e experiências, além de possibilitador de uma 
 relação de troca, formando vínculo afetivo. Ele também fala do espaço de criação , ou seja, a 
 distância entre o bebê e a mãe (espaço esse anteriormente inexistente pela fusão mãe-bebê) faz com 
 que o bebê tenha que criar algo para não sofrer pela falta da mãe: ele inventa um 
 “substituto”/”objeto” (fenômeno transicional). Somente isto é que possibilitará que um diálogo 
 interno aconteça, e a partir disso, o início de simbolizações. 
 Então, verifica-se que durante o desenvolvimento do ego, a criança sente o corpo da mãe 
 como um prolongamento do seu, e Ramos, De Biase, Baltazar, Malta, Rodrigues, et al (2005) 
 afirmam que na vida adulta pode ocorrer uma continuidade dessa projeção sobre o cavalo. Ou seja, 
 3 Espaço onde a psicoterapia acontece, não retratando apenasaspectos físicos. 
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 ao carregar o cavalheiro, esse animal (assim como a mãe fazia com a criança) o embala e o remete 
 às lembranças e sensações infantis, fazendo-o substituir a mãe como extensão do seu corpo e libido. 
 Os benefícios da equoterapia do ponto de vista psicológico, segundo Nascimento (2007, p. 62) são 
 melhora na autoestima e autoconfiança; sensação generalizada de bem-estar; condições para 
 desenvolver afetividade (vínculo); desenvolvimento psicomotor; aquisição da autonomia; 
 estimulação da linguagem e de área sensório-perceptiva; socialização/autocontrole; re-inserção 
 social. 
 Para que esses benefícios ocorram de modo satisfatório, é importante que seja escolhido 
 um cavalo adequado para cada praticante, considerar as passadas do animal (rápidas ou lentas, 
 longas ou curtas) e suas medidas (cavalo com o dorso baixo faz o praticante se inclinar para frente, 
 enquanto que cavalo com o dorso alto faz o praticante se inclinar para trás). Na hora do 
 atendimento, deve-se verificar a altura que o estribo ficará, deixando a perna do praticante mais ou 
 menos flexionada (quanto menos flexionada, mais o praticante “sente” os movimentos do cavalo). 
 Também se planeja o “percurso” que o animal fará: se andará em curvas mais fechadas (gerando um 
 maior esforço muscular para manter o equilíbrio) ou curvas mais abertas. 
 Para alcançar o objetivo da equoterapia que é trazer benefícios físicos, psíquicos, 
 educacionais e sociais de pessoas com deficiências físicas ou mentais e/ou com necessidades 
 especiais, realiza-se o trabalho em equipe interdisciplinar. Há autores como Arlaque, Zenker, Pens e 
 Carneiro (1996) que falam em equipe transdisciplinar, mas a idéia é a mesma: “diferentes 
 especialistas que buscam trocar informações para a elaboração de um projeto conjunto. Cada área, 
 envolvida, sai de uma visão única para uma visão mais abrangente, sendo capaz de reformular seus 
 conhecimentos e atuações” (SOUZA; RAMOS, 2007, p.165). 
 Na equoterapia, a equipe deve ser a mais ampla possível, e deve conter profissionais da área 
 da saúde, educação e equitação. Os atendimentos são precedidos de um diagnóstico, indicação 
 médica, psicológica e fisioterapêutica, e avaliação dos profissionais da saúde e educação, 
 objetivando o planejamento do atendimento individualizado na equoterapia. 
 O que se espera de uma equipe que trabalha no processo equoterapêutico geralmente é que 
 a mesma receba o praticante; realize as avaliações (conforme cada área do conhecimento, como por 
 exemplo, o aspecto motor, psicológico, entre outros); elabore o plano terapêutico conforme a 
 necessidade de cada praticante; integre o praticante ao método terapêutico; realize estudos de casos; 
 reavalie sistematicamente o praticante, reajustando as condutas terapêuticas; entre outras 
 intervenções. Estas funções podem e devem ser executadas por todos os profissionais da equipe. 
 PSICOLOGIA E EQUOTERAPIA 
 Cada centro de equoterapia poderá adotar um referencial teórico que norteará sua prática. 
 Este referencial varia bastante devido à formação particular da equipe técnica, mas propomos 
 estudar um deles, de viés psicanalítico, denominado “diagnóstico diferencial”, de Esteban Levin. 
 Este referencial preconiza atendimentos a partir da diferenciação da imagem corporal e da 
 concepção de um corpo cênico/lúdico. 
 O diagnóstico diferencial é a determinação do quanto uma criança configurou a imagem de 
 seu corpo e está baseado na relação com a criança. Sem a imagem do corpo, não há esquema 
 corporal possível. É a imagem do corpo que institui as peripécias e a estruturação subjetiva da 
 criança, o que a possibilita o brincar, por exemplo. Isto acontece porque, para conseguir estruturar 
 um espaço de ficção onde possa encenar as suas representações, a criança precisa apoiar-se numa 
 imagem a partir da qual possa desdobrar-se e desconhecer-se (LEVIN, 2001b). 
 O terapeuta deverá possibilitar a construção de um cenário simbólico onde se desenrola a 
 cena, porque o prazer sensório-motor deverá se inscrever entre a esfera sensorial e a esfera motora, 
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 como experiência de satisfação. Com base nessas cenas (marcas), são instrumentalizados os 
 espelhos e as representações, que irão funcionar como uma ponte simbólica entre o sensitivo e o 
 motor, guiando a atividade da criança. Então, a ação cênica sensório-motora será entendida como 
 uma série de representações em trânsito entre a representação psicomotriz em cena e o representado 
 por ela (LEVIN, 2001b). Trata-se de uma técnica adequada a cada sujeito-criança, que por isso é 
 posto em cena. Sua essência é um produzir. Isto é corroborado na seguinte fala de Levin: “A 
 essência da nossa técnica tem como centro o sujeito, que independentemente da sua organicidade, 
 com seu mistério e sua história se coloca na cena, dando forma às suas representações” (2001b, p. 
 175). 
 A equoterapia, baseada na teoria de Levin (2001a; 2001b; 2002), busca (re)significar a 
 criança e seus movimentos, fazendo a função do “Outro”, que nomeia, que dá sentido e significado, 
 que brinca e estimula. É por meio das brincadeiras, destes cenários lúdicos, que vamos produzindo 
 inscrições e representações nas crianças e servindo de espelho para que ela consiga se “diferenciar” 
 e constituir a sua imagem corporal. A intenção não é apenas que a criança produza movimentos, 
 mas que produza movimentos com sentido. Ou seja, conforme Levin (2001b), deve-se resgatar “a 
 encenação do corpo da criança, como possibilidade de ir configurando suas próprias representações 
 e imagens” (p. 50). 
 Para isso, o terapeuta deve se deixar transbordar pelo cenário da infância, tentando 
 compreender a criança no seu funcionamento cênico, o que implica suportar o vazio para produzir e 
 inventar a cena, o espaço ficcional, e as confrarias mágicas e simbólicas que o representarão 
 (LEVIN, 2001b). 
 Quanto ao cenário terapêutico, deve-se cuidar mais com os aspectos da estruturação do 
 setting do que com o ambiente físico em si, claro, não desfazendo sua importância, mas nesta 
 produção ressaltaremos as possibilidades de estruturação das intervenções e de possíveis momentos 
 que compõem o setting terapêutico. 
 Desse modo, quando um praticante ingressa no processo psicoterapêutico de equoterapia, 
 pode-se fazer uma familiarização com os pais ou cuidadores, para que os mesmos passem por um 
 trabalho lúdico/terapêutico, vivenciando o que seu filho vivenciará, a fim de facilitar o vínculo 
 destes com a equipe e uma boa relação transferencial-contratransferencial. Esta atividade 
 proporciona um momento para se trabalhar as angústias, temores e outros sentimentos que emergem 
 nos pais em relação ao processo terapêutico e ao experienciá-lo. Essa vivência pode ser feita por 
 meio da experienciação dos pais do andar a cavalo, com objetos ou sem, entre outras atividades. 
 O vínculo relatado acima se refere ao que Fernandes (2003) conceitua como ligação intra 
 (consciente,inconsciente e pré-consciente), inter (como a pessoa se relaciona com os demais) e 
 transubjetivo (modalidade de como as pessoas se vinculam, como normas e leis), e que sempre estão 
 acompanhados de emoções e fantasmas inconscientes. Assim, como há emoção, há também 
 comunicação, e o terapeuta deve estar atento ao que está sendo comunicado, estudando o vínculo 
 comunicacional. 
 Após esta vivência dos pais/ cuidadores, pode-se fazer uma familiarização com os 
 filhos/praticantes: reconhecimento do espaço, aproximação da figura do cavalo, tocar o cavalo, ver 
 alguém montando o animal, fazer a criança montar em um cavalo juntamente com alguém da 
 equipe, até que se consiga fazer o praticante andar sozinho no dorso do cavalo, com a equipe 
 acompanhando ao seu lado. Claro que isto tudo poderá variar conforme a peculiaridade de cada 
 praticante, mas em geral, verifica-se esse “percurso”. 
 Desta forma, o setting pode ser caracterizado por dois momentos: um deles com os 
 praticantes e outro com os pais, sendo que estes últimos podem ser atendidos em um grupo 
 operativo que trabalha diversas temáticas não programadas a priori, ou seja, trabalha-se com o que 
 os pais verbalizam no grupo sobre sua semana e seus filhos. Assim, emergem assuntos como 
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 desenvolvimento de seus filhos, a dificuldade nas escolas e nos espaços sociais, filho real versus 
 filho idealizado, seus sentimentos em terem um filho “diferente”, sexualidade infantil, limites e 
 disciplina. Levin chama a atenção para isso dizendo que: 
 Para que uma criança com problemas no desenvolvimento não seja 
 predominantemente considerada como “o” órgão, terá que instalar-se no luto pelo 
 corpo imaginário perdido, que permitirá aos pais encontrar-se com seu filho (e não 
 com sua organicidade) e à criança descobrir realidades do seu corpo, que não serão 
 outras senão as suas representações (2002, p. 128). 
 Isto porque, muitas vezes, o estabelecimento de um vínculo entre pais-filhos é prejudicado 
 pelo fato do filho ter necessidades especiais, tornando os cuidados mais focados na higienização do 
 filho (visto como “órgão”) do que na significação da criança como sujeito, que resultaria na 
 estruturação psíquica. Então, pretende-se afastar os pais da “síndrome” para aproximá-los de seu 
 filho. 
 O momento do setting referente aos praticantes pode ser da seguinte forma: primeiramente 
 são encaminhados até uma sala para que seja feito um momento de alongamento, de conversa e de 
 estimulação, ou seja, estabelecimento do vínculo; após poderá ser realizado o atendimento no dorso 
 do cavalo em movimento de forma lúdica, o qual é realizado em um espaço físico adequado para 
 isso, trabalhando-se mais enfaticamente a relação transferencial, estimulando também o praticante a 
 desenvolver suas potencialidades; e depois, pode-se retornar para a sala, para fazer mais um 
 alongamento. Em um momento posterior, sugere-se conversar com os cuidadores, com os quais se 
 fornece alguma orientação ou tira-se alguma dúvida, quando necessário. 
 Os centros de equoterapia atendem praticantes com as mais diversas patologias, e todos 
 poderão ser atendidos após terem sido avaliados por um médico, pois em alguns casos, andar no 
 dorso do cavalo poderá ser prejudicial ao praticante. A cada atendimento sugere-se que seja feito o 
 relato do atendimento, e uma avaliação do praticante, bem como as combinações/intervenções para 
 o próximo atendimento. Periodicamente, deve-se fazer uma avaliação mais minuciosa das 
 intervenções e do praticante, a fim de aperfeiçoar e melhorar o atendimento. Esse tipo de produção 
 se faz necessário para a eficácia do processo, já que ele é uma das formas para reavaliar a prática e a 
 aperfeiçoar. 
 Então, conforme a necessidade de cada um dos praticantes, sua idade e o objetivo de cada 
 um, deve-se adaptar as estratégias de atendimento, trabalhando sempre de modo lúdico. Por 
 exemplo, para trabalhar a configuração da imagem corporal, pode-se colocar o praticante em frente 
 ao espelho. Este pode, a partir daí, iniciar um momento de reconhecimento, pode-se também 
 enfatizar a nomeação das partes do corpo no praticante e nos terapeutas. Para isto pode-se cantar 
 músicas que falem das partes do corpo, associar as partes com outra coisa, e sempre mostrando a 
 parte que se fala no espelho. Este trabalho de nomeação é embasado na obra de Levin, já citada 
 anteriormente, pois é o Outro que auxilia na diferenciação do que é o Eu e do que é o Outro. É a 
 partir da autoconsciência que se consegue uma posterior simbolização, e com ela, o 
 desenvolvimento da linguagem. Falando em linguagem, o desenvolvimento da mesma pode ser 
 estimulado por meio do incentivo quando se ouve algum balbucio: nomeia-se o balbucio, como a 
 mãe/função materna faz com seu bebê (Exemplo: O bebê diz “mama”; a mãe pode dizer “Mamãe, 
 você disse mamãe?”). 
 Inúmeras outras intervenções podem ser realizadas, mas o mais importante é que elas 
 sejam contidas no campo transferencial cênico no qual estão incluídos todos os atores da prática 
 equoterápica. Nesse espaço, se atualizam as relações, as discussões, os fantasmas, ansiedades... 
 Enfim, uma constelação de elementos que são ao mesmo tempo a condição do tratamento (seu 
 progresso), e o colocam em impasse. 
 Para além da questão psicoterápica, de modo geral, percebeu-se que as principais atuações 
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 do psicólogo são: analisar e avaliar a situação atual do praticante antes do início da terapia, fazendo 
 um levantamento de suas características e necessidades, para fins de melhor adaptação às 
 características do trabalho com o cavalo; planejar a sessão; conversar com a família e orientar a 
 mesma e a equipe, dando assistência e suporte às mesmas; proporcionar momentos de escuta 
 individual, quando for necessário; auxiliar no contato e aproximação do praticante com o cavalo; 
 desenvolver capacidades de enfrentar novas situações e tolerar frustrações; atender aos familiares 
 dos praticantes (individualmente ou em grupo), e trabalhar principalmente seus sentimentos para 
 com os filhos portadores de necessidades especiais; atender (individualmente e/ou em grupo) aos 
 praticantes no decorrer das sessões, principalmente pela estimulação das áreas psicomotoras e 
 sensório-perceptiva, a fim de desenvolver suas potencialidades; auxiliar o praticante em relação ao 
 processo de ensino e aprendizagem; participar de cursos, estágios e outros eventos relacionados com 
 atividades equoterápicas; possibilitar um olhar global sobre o indivíduo (biológico, mental e social), 
 priorizando o emocional; transmitir à equipe suas percepções sobre o funcionamento mental do 
 praticante e as implicações e decorrências nos aspectos social, familiar e pessoal; e por último, mas 
 não menos importante, ser um facilitador de relações e diálogos, se colocando como terapeuta, 
 como mediador e como o Outro que irásubjetivar o indivíduo em questão (ANDE-BRASIL, 2007; 
 FERRARI, 2009; NASCIMENTO, 2007). 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 A Psicologia pode inserir-se em inúmeros contextos, dentre eles a Equoterapia, e suas atribuições 
 neste contexto se remetem ao praticante e seus familiares, quanto ao processo e a equipe. Suas 
 intervenções em geral buscam ter uma visão global sobre os sujeitos e suas necessidades e 
 potencialidades, o que reforça a importância que este profissional desempenha na Equoterapia. 
 Então, não é somente a partir de técnicas deduzidas de um referencial teórico que se pode embasar 
 a prática do psicólogo na Equoterapia, pois é também fundamental a utilização da criatividade, da 
 intuição e experiência clínica, da espontaneidade e flexibilidade em relação à neutralidade 
 (FERRARI; CARVALHO, 2006). 
 Além disso, a utilização do cavalo e a participação afetiva e efetiva da família contribuem 
 no processo, no qual a Psicologia possui um papel fundamental: trabalhar com um corpo 
 lúdico/cênico sobre o qual se produz diferentes significações e produções, buscando estabelecer 
 ganhos psíquicos e corporais, e originando ganhos em todos os aspectos. Estes ganhos se remetem 
 aos inúmeros benefícios a todos que da Equoterapia participam, desde os praticantes e familiares até 
 os membros da equipe. Geralmente se evidenciam melhoras nas relações familiares, pois os filhos 
 (praticantes) se desenvolvem em aspectos físicos e psíquicos, e porque os pais possuem um espaço 
 para falar de suas vivências. Além disso, verificam-se também aprendizagens e troca de saberes 
 entre as pessoas da equipe. 
 Deste modo, devido à grande importância da temática, sugerem-se mais pesquisas teórico 
 científicas sobre a equoterapia e tudo o que ela engloba, para maior desenvolvimento e divulgação 
 desse método terapêutico e das atribuições dos profissionais que nela trabalham. 
 REFERÊNCIAS 
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 ANDE-Brasil, 2007. 
 ARLAQUE, Patrícia Costa; ZENKER, Mirtha da Rosa; PENS, Simoni Wilke; CARNEIRO, Valter. 
 Vivências. Vol.7, N.13: p.172-178, Outubro/2011 177 
 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI 
 ISSN 1809-1636 
 Psicologia na equoterapia: uma experiência em equipe transdiciplinar. Revista PSICO, Porto 
 Alegre, v.27, n.2, p.215-224, jul./dez. 1996. 
 FERRARI, Juliana. Prado. A Prática do Psicólogo na Equoterapia . 2009 Disponível em: 
 <http://www.equoterapia.com.br/artigos/artigo-14.php> Acesso em 27/04/2009. FERRARI, Juliana. 
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 Porto Alegre: Artmed, 2003. 
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 JUNG, Carl Gustav. O Homem e Seus Símbolos . 6 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. 
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