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GESTÃO DE OBRAS Júlia Hein Mazutti Orçamento e controle Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a quantificação e os critérios de medição dos recursos necessários. � Selecionar pacotes de contratação (EAP de contratação). � Elaborar os planos de contratação dos recursos necessários. Introdução Toda obra é projetada com base em uma estimativa de quanto se deseja gastar com a sua construção. Por isso, o orçamento da obra é uma parte vital para o empreendimento, impactando diretamente no lucro do inves- timento. A quantificação e a contratação de todos os recursos necessários para executar a obra devem ser feitas com cuidado, de maneira detalhada e com o objetivo de abranger todas as atividades envolvidas no projeto. Neste capítulo, você vai aprender a quantificar os recursos necessários para a obra e os critérios de medição desses recursos. Além disso, você verá que a Estrutura Analítica de Projeto (EAP) e as composições de custos unitários ajudam muito nessas tarefas e aprenderá a dividir os possíveis pacotes de contratação de recursos com a ajuda da Curva ABC e da categorização dos materiais utilizados na obra. Por fim, você verá como um plano de contratação pode ser elaborado, analisando mais a fundo o relacionamento com os fornecedores, a negociação de preços, o cumprimento de prazos e a qualidade dos recursos. Quantificação e critérios de medição de recursos Poder quantificar quanto um projeto inteiro vai custar é um critério decisivo em gestão de obras. Isso pode decidir se a obra é viável, qual será o custo e o lucro previsto ao empreendedor, o preço final para o cliente, entre muitos outros fatores. Por isso, é muito importante realizar um levantamento de quantitativos detalhado para todas as atividades da obra. Você já se perguntou como quantificar todos os materiais, equipamentos, mão de obra e trabalhos que envolvem uma obra? Os critérios de medição e a estrutura analítica da obra podem ajudar você a realizar essa tarefa. Primeiramente, você deve compreender os indicadores de produção, que mostram os recursos utilizados em função do produto ou resultado. Dois dos indicadores mais importantes na construção civil, para entender a quantificação da produtividade de mão de obra e do consumo de materiais, respectivamente, são a Razão Unitária de Produção (RUP) e o Consumo Diário de Materiais (CUM). Suas equações estão apresentadas nas equações 1 e 2 a seguir, con- forme Souza, Morasco e Ribeiro (2017). Onde: Hh = homens-hora; QS = quantidade de serviço realizado. Onde: Qmat = quantidade de material; Qserviço = quantidade de serviço. A RUP apresenta quantas horas de trabalho necessita-se para realizar, por exemplo, um metro quadrado de alvenaria ou um metro cúbico de escava- ção. Já a CUM apresenta a quantidade de material necessária para realizar o projetado — por exemplo, pode-se necessitar 1,2 metros cúbicos de concreto para realizar um metro cúbico de concretagem devido a perdas de material. Com esses indicadores, pode-se quantificar a quantidade de mão de obra e de material para as etapas da obra. Lembre-se que os indicadores podem apresentar unidades diferentes, mas, mesmo assim, estar quantificando quantidade de serviço e quantidade de material. Sabendo isso, você pode se perguntar: mas onde conseguir essas informa- ções? Como saber quanto tempo de trabalho é necessário para realizar uma parede de alvenaria ou quanto material é preciso para concretar uma laje? E quanto custa? O próximo passo é conhecer os sistemas de composição de Orçamento e controle2 preços unitários da construção civil, que trazem essas informações e as com- posições de custos unitários dos serviços de engenharia da obra. Dois sistemas muito conhecidos são as Tabelas de Composições de Preços para Orçamento (TCPO) e o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI). Veja um exemplo de composição de custo unitário, em reais, para a execução de uma parede de alvenaria segundo a TCPO, destacado por Mattos (2015), no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Mattos (2015). Insumo Unidade Índice Custo unit. Custo total Pedreiro h 0,6432 9,00 5,79 Servente h 0,3216 5,00 1,61 Bloco concreto 9x19x39 cm un 10,1721 2,00 20,34 Argamassa 1:2:8 m³ 0,0088 0,34 0,00 Tela de aço soldado un 0,6283 3,00 1,88 Pino de aço zincado un 0,7479 2,00 1,50 31,13 Quadro 1. Exemplo de composição de custo unitário para execução de um m2 de parede de alvenaria (em reais) O Quadro 1 mostra que, para executar um metro quadrado de parede de alvenaria nas condições especificadas de mão de obra e materiais (existem outros tipos de composição com outros materiais, por exemplo), o custo final é de 31,13 reais. Necessita-se, por exemplo, de 0,64 horas de um pedreiro, cujo trabalho é remunerado a 9,00 reais/horas, de modo que o custo total gasto com pedreiro é de 5,79 reais. A partir de tabelas desse tipo, pode-se realizar o levantamento de quantitativos de todas as partes da obra. Deve-se destacar que, para obras rodoviárias e de infraestrutura, as tabelas do SICRO (Sistema de Custos Rodoviários) do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) são geralmente utilizadas. Segundo o Site 3Orçamento e controle Noventa (COMO..., 2017), as composições contemplam obras de: drenagem, hidrovias, obras de arte especiais, referências de sinalização rodoviária, supe- restrutura ferroviária, terraplenagem, pavimentação rodoviária, manutenção rodoviária e túneis. Além disso, esse documento é muito importante por ser amplamente utilizado no setor público e na análise de licitações. Quando a composição de preços unitários não constar nas tabelas con- vencionais, pode-se montar a composição para o serviço desejado. Para isso, Barbosa (2018) destaca os passos descritos a seguir. � Detalhar o serviço: deve-se listar todos os materiais, a mão de obra e os equipamentos necessários para realizar o serviço e sua unidade de medida (metros, metros quadrados, horas, etc.). Nessa etapa, é importante que a unidade de medida esteja de acordo com a unidade de pagamento. � Estabelecer preços reais para materiais e serviços: o preço dos serviços listados deve ser estabelecido de acordo com a realidade do mercado. Deve-se utilizar cotações recentes de preço unitário por unidade de medida devido à oscilação de preços no setor da cons- trução civil. � Estabelecer índices de produtividade: para estabelecer os índices, pode-se partir das medidas estabelecidas pelas tabelas TCPO, SINAPI e SICRO. O ideal, nesse ponto, é calibrar esses índices teóricos com a realidade da empresa, ou seja, realizar medições da produtividade dos serviços e adicionar nos valores dos índices. Para saber todas as partes que compõem uma obra, uma opção é basear-se na Estrutura Analítica do Projeto (EAP), que é a estruturação hierárquica visual de toda a obra. Veja, na Figura 1, um exemplo de EAP simples para uma casa apresentado por Mattos (2010). A EAP pode ser subdividida e detalhada até atingir pacotes de trabalho que sejam quantificáveis pelas composições unitárias; assim, pode-se ter uma visão geral e específica das partes da obra ao mesmo tempo, conforme o detalhamento que se desejar obter. A mesma EAP pode também ser escrita de outra maneira, chamada de forma analítica por Mattos (2010). A forma analítica apresenta o agrupamento das atividades com índices no formato de tabela. Para a Figura 1, a forma analítica da EAP com índices ficaria como mostra o Quadro 2. Orçamento e controle4 Figura 1. Estrutura Analítica do Projeto (EAP) de uma casa. Fonte: Mattos (2010). Casa Fundação Escavação Sapatas Alvenaria Telhado Instalações Esquadrias Revestimento Pintura Estrutura Acabamento Fonte: Adaptado de Mattos (2010). 1 Casa 1.1 Fundação 1.1.1 Escavação 1.1.2 Sapatas 1.2 Estrutura 1.2.1 Alvenaria 1.2.2 Telhado1.2.3 Instalações 1.3 Acabamento 1.3.1 Esquadrias 1.3.2 Revestimento 1.3.3 Pintura Quadro 2. EAP em forma analítica 5Orçamento e controle Esses índices podem ser chamados de contas de controle, que são os códigos hierárquicos da EAP, conforme Duarte (2016). Esse código pode, então, ser utilizado para o levantamento quantitativo da obra, com total de horas trabalhadas, total de material utilizado, total de gastos ou o que mais interessar ao gestor do empreendimento. Um exemplo interessante é mostrado no Manual de Abastecimento de Materiais e Canteiro de Obras pela DTC (DTC, [2014?]), na Figura 2, para a montagem de um kit lavatório de fixar. Observe que a etapa foi subdividida até chegar a uma lista completa dos materiais necessários para montar o produto final — esse processo pode ser feito para todas as partes da obra. O agrupamento dos gastos dos níveis inferiores aos superiores mostra o total de gastos das etapas e da obra. Figura 2. Estrutura Analítica do Projeto (EAP) de uma casa. Fonte: DTC ([2014?]). Produto �nal Lista de materiaisEtapa dapré-montagem Lavatório de louça sem coluna Válvula para lavatório Torneira para lavatório Fixação para lavatório Engate para PEX - ф 16 Adaptador tipo luva - ½’’ × ½’’ Tubo PEX − ф 16 Sifão para lavatório Carenagem para lavatório Joelho 90º - ф 40 Tubo ф 40 Coifa de vedação ф 50 Coifa de vedação ф 32 Kit lavatório de �xar Conjunto tubulação esgoto Conjunto alimentação de água Conjunto louça e metais Os custos baseados nos custos unitários dos serviços são chamados de custos diretos. Também se deve considerar, no orçamento de uma obra, os custos indiretos. Para isso, o BDI (Benefícios e Despesas Indiretas — do inglês Budget Difference Income) ajuda o responsável pelo orçamento a in- cluir os custos indiretos na obra. Mas você sabe o que são custos indiretos? Segundo o site Sienge (BDI..., 2016), os custos indiretos são aqueles que não são incorporados ao produto final, mas que, mesmo assim, impactam no custo total, como: administração central da empresa, custo financeiro do contrato, Orçamento e controle6 seguros, garantias e tributos sobre a receita. Para calcular o BDI, o site Sienge (2016) recomenda a seguinte equação: Onde: � AC — administração central: é o rateio do custo da sede entre as obras da construtora. Para empresas de grande faturamento, varia de 7% a 15% e, para empresas de pequeno faturamento, de 10% a 20%; � CF — custo financeiro: deve-se verificar a necessidade de incluir esse fator a partir das condições de medição e pagamento estabelecidos no contrato; � S — seguros: deve ser incluído a partir dos custos de seguros estabe- lecidos em contrato; � G — garantias: são os custos envolvidos no cumprimento do contrato, como cauções, seguro garantia, etc.; � MI — margem de incerteza: o objetivo desse fator é melhorar as dis- torções provocadas por cálculos estimados. Assim, deve ser utilizado somente por empresas contratantes. Geralmente, varia de 5% a 10%; � TM — tributos municipais: abrange tributos municipais e deve ser analisado para cada cidade, como o Imposto Sobre Serviços (ISS); � TE — tributos estaduais: abrangem tributos estaduais, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); � TF — tributos federais: abrangem tributos federais, como Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Se- guridade Social (COFINS), Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e tributos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); � MBC — margem bruta de contribuição (ou lucro bruto previsto): é um valor respectivo a cada empresa ou proposta de preços e baseia-se, principalmente, em função do mercado. A utilização do BDI é essencial para finalizar um orçamento de acordo com a realidade econômica da empresa. Para incluir o BDI no orçamento, basta utilizar a seguinte equação, segundo o site Sienge (2016): 7Orçamento e controle Com a inclusão dos custos diretos e indiretos no orçamento, a quantificação dos recursos da obra estará completa. Uma boa ideia para os custos diretos é realizar uma planilha de Excel para fazer os levantamentos quantitativos. Softwares com Building Information Modeling (BIM) auxiliam muito na quantificação dos materiais, e softwares como o MSProject atuam diretamente no planejamento e no controle da obra. Além disso, o mercado oferece diversas planilhas com incorporação dos custos unitários e diversas facilidades para o gestor, economizando bastante tempo e tornando mais prática a elaboração do levantamento de quantitativos. Pacotes de contratação Para que uma obra seja executada sem interrupções, é essencial que sempre haja no canteiro os trabalhadores, os equipamentos e os materiais suficientes para atender às atividades que estão em andamento. Os pacotes de contratação definem quando os materiais e equipamentos chegam à obra e quantas pessoas estarão trabalhando em cada fase do projeto. Você já se perguntou como o gestor pode planejar os pacotes de contratação de uma obra? O histograma de recursos é uma importante ferramenta para entender o que é necessário em cada etapa da obra. O histograma de recursos, conforme descrito por Mattos (2010), é um gráfico de colunas que representa a quantidade requerida do recurso por unidade de tempo. Por exemplo, pode-se apresentar o número de pedreiros necessários na obra em cada mês ou a quantidade de tijolos utilizados em cada semana. Esse tipo de dado ajuda o gestor a planejar os pacotes de contratação necessários para a obra, seja de mão de obra, materiais ou equipamentos. Para isso, deve-se ter o cronograma do planejamento das atividades. Veja, na Figura 3, uma maneira simples de compreender o histograma de recursos conforme Mattos (2010). Orçamento e controle8 Figura 3. a) cronograma; b) histograma de recursos. Fonte: Mattos (2010) DIA ATIV. DIA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 2 2 8 8 11 11 1 1 1 1 2 6 6 6 6 1 1 1 1 5 5 2 2 2 2 2 10 11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 0-10 10-20 10-30 20-10 30-40 40-50 12 10 8 6 4 2 0 Pedreiros Acumulado Pe dr ei ro s 2 4 12 20 31 42 43 44 45 46 48 a) b) A Figura 3a apresenta o cronograma do número de pedreiros necessários para 11 dias, conforme as atividades de 0 a 50. A Figura 3b apresenta o his- tograma de recursos, ou seja, um gráfico com uma barra para cada dia com o número de pedreiros que deverão trabalhar nesse dia para que as atividades sejam realizadas. O número de pedreiros acumulado apresenta o total de dias trabalhados pelos pedreiros ao final desse ciclo e que deverão entrar no orçamento da empresa. Expandindo o histograma para todos os recursos que a obra utilizará, pode-se saber quando cada item será necessário no canteiro. Adicionando as condições de capacidades de estocagem para os materiais no canteiro de obras, pode-se concluir de quanto em quanto tempo deve-se encomendar cada material. Com isso, os pacotes de contratação podem ser definidos. Deve-se destacar que os histogramas da obra podem ser facilmente traçados em softwares como MsProject. 9Orçamento e controle O histograma de recursos também é muito utilizado para realizar o nivelamento de recursos e trabalhadores na obra. O objetivo é, a partir da identificação dos picos do histograma de recursos, realizar adaptações no cronograma que evitem a superlotação de trabalhadores ou recursos na obra. Essa pode ser a solução para canteiros de obras que possuem pouco espaço físico para armazenamento, por exemplo. Os pacotes de contratação devem ser escolhidos estrategicamente em cada obra, conforme o tempo de aplicabilidade dos recursos. Deve-se selecionar e classificar os materiais e equipamentos, podendo dividi-los em três tipos: � adquiridos somente uma vez durante a obra — por exemplo, betoneiras, louças, caixa d’água, elevador, entre outros; � recebidos em um determinado período diversas vezes —é o caso, geralmente, de tijolos, concreto e armaduras; � adquiridos toda semana. A categorização pode ser criada conforme a necessidade de cada obra. Os materiais ainda podem mudar de categoria conforme o projeto. Por exemplo, para uma determinada obra, os tijolos podem ser entregues de semana em semana; para outra, de mês em mês. Por isso, cada obra deve ser analisada separadamente. Quanto antes seja possível planejar as compras de uma obra, melhor. Porém, não se pode garantir que a obra não tenha atrasos ou sofra alterações no seu planejamento. Isso faz com que muitas compras tenham que ser planejadas durante o andamento da obra. Conforme o tempo necessário para a entrega do material, pode-se dividir os pacotes em compras padrão e complexa, conforme Cardoso ([2017]). � Compra padrão: são itens encontrados facilmente em lojas de materiais de construção, ou seja, que possuam bastante oferta. Essas compras devem ter antecedência mínima de uma semana com o prazo de entrega. Tipicamente, são materiais como cimento, agregados, aço em barra reta, tintas, ferragens, entre outros. � Compra complexa: são recursos que requerem maiores especificação técnica e que não são facilmente encontrados no mercado. Essas compras Orçamento e controle10 devem ser feitas com antecedência mínima de 30 a 60 dias com o prazo de entrega desejado. Geralmente, esses são os materiais que têm alto impacto financeiro nas obras, como pedras, revestimento cerâmico, esquadrias, entre outros. A realização de compras globais, ou seja, da quantidade total de certo material com somente um fornecedor, permite a redução dos preços. O mais interessante, nesse caso, é negociar entregas parciais do material durante a execução da obra. Com isso, o gestor economiza dinheiro, não sobrecarrega seu estoque e otimiza seu tempo, não precisando mais se preocupar com novas compras desse material. Com a compreensão do histograma de recursos e a categorização dos materiais e das compras, o gestor está apto a planejar seus pacotes de con- tratação. Sempre se deve lembrar que cada obra tem suas peculiaridades e deve ser analisada separadamente. Com os pacotes estruturados, evita-se compras emergenciais, economizando tempo e dinheiro, e garante-se que o planejamento da obra seja seguido. Planos de contratação de recursos Você já sabe separar os pacotes de contratação para os recursos da sua obra, mas você já se perguntou como realmente realizar a compra? Para isso, é muito importante ter um plano de contratação de recursos, levando em consideração os fornecedores disponíveis no mercado, os preços, os prazos e as condições gerais da obra, como a capacidade de estoque e as tecnologias utilizadas. Para realizar um plano de contratação, destacam-se os seguintes fatores: � seleção de fornecedores; � cotação de preços; � negociação dos preços e das condições gerais; � decisão e pedido de compras; � recebimento dos materiais; � avaliação e fortalecimento de laços com os fornecedores. 11Orçamento e controle São os fornecedores os responsáveis por entregar os materiais na obra no tempo correto e, assim, possibilitar que a obra possa continuar sem interrupções. Por isso, a seleção de fornecedores é crucial para o futuro da obra. Nessa etapa, deve-se listar os possíveis fornecedores para cada insumo, selecionando-os com cuidado. Conforme o Sienge (2017a), nessa fase, é prudente iniciar verificando se o fornecedor pode oferecer documentos básicos, como a certidão negativa de débito, que atesta que a empresa paga seus impostos e direitos trabalhistas. O Sienge (2017a) destaca os seguintes cuidados para a listagem de fornecedores: � verificar noticiários; � consultar sites de reclamação; � buscar saber mais sobre as origens da empresa; � pedir recomendações sobre fornecedores on-line ou com contatos; � visitar o site da empresa; � ter um contato de referência que já tenha trabalhado com o fornecedor; � formalizar as relações por contrato. Em seguida, deve-se realizar a cotação de preços, que tem grande impacto sobre o orçamento da obra. Nessa etapa, é importante levantar os valores dos produ- tos e as condições de entrega do material. A cotação deve ser realizada com todos os fornecedores selecionados na etapa anterior. Santos e Jungles (2008) propõem que uma cotação de preços típica deve conter os itens relacionados no Quadro 3. Fonte: Adaptado de Santos e Jungles (2008). Item Caracterização Lista de materiais Características dos materiais que serão adquiridos para todas as obras no período de um ano Previsão de consumo Planejamento das aquisições Anexos Projetos e especificações dos materiais Escolha dos fornecedores Definição dos fornecedores cadastrados Preço Preço mínimo dos materiais, quando desejável Requisitos Prazo de entrega e condições de pagamento Compra As condições da compra orçada (custo, tempo de entrega) Fornecedores Como serão administrados os diversos fornecedores Quadro 3. Quadro de cotação de materiais Orçamento e controle12 Após a cotação dos preços, passa-se para a fase de negociação de preços e condições gerais, na qual se deve negociar o melhor preço dentro das condições de entrega e qualidade do material necessários para a obra. Deve-se deixar claro os prazos de entrega, as especificações dos materiais e as consequências do não cumprimento do contrato. O Sienge (2017a) destaca que o bom relacio- namento com o fornecedor ajuda muito na hora na negociação. Ter dinheiro para pagar à vista ou comparar fornecedores também são estratégias que funcionam na hora de negociar preços. Uma dica essencial é realizar pedidos em maior quantidade, com o que, geralmente, pode-se obter um desconto maior e, nesse caso, é interessante que o fornecedor possa entregar o material durante o decorrer da obra devido às condições de estocagem. Uma obra possui diversos itens diferentes e, por isso, é importante centrar os esforços de negociações nos recursos que apresentam maior impacto para o orçamento da obra. Por exemplo, se o custo do concreto apresenta 5% do valor total da obra e o custo de pregos 0,1%, os esforços devem ser concentrados nas negociações do preço do concreto. Para isso, existe a Curva ABC, que é uma ferramenta gerencial de fácil implementação e que classifica os itens de maior impacto (SIENGE, 2017b). A Curva ABC, apresentada na Figura 4, separa os itens em três classes, A, B e C, conforme o valor que eles representam no total dos gastos considerados para a obra. Figura 4. Curva ABC. Fonte: Sienge (2017b, documento on-line). 13Orçamento e controle As classes dos itens são especificadas da seguinte maneira, conforme o Sienge (2017b): � Classe A: são os itens que possuem um valor alto sobre o valor da obra, ou seja, os mais caros. Conforme a Curva ABC, são classificados como A os recursos que apresentam 80% do valor total da obra. Isso representará 20% do total de itens utilizados na obra. Esses são os itens que devem ser negociados com mais atenção, pois causam mais impacto no custo da obra. � Classe B: são os itens que possuem um valor intermediário sobre o valor da obra. Conforme a Curva ABC, são classificados como B os recursos que apresentam uma participação de 15% do valor total da obra. Isso representará 30% do total de itens utilizados na obra. � Classe C: são os itens que possuem um valor baixo sobre o valor da obra. Esses itens representarão 5% do valor total da obra e 50% do total de itens. Após a negociação e definição das condições gerais, deve-se decidir e gerar o pedido de compra para o recurso desejado. O levantamento dos orçamentos deve ser enviado à diretoria, que aprovará, ou não, a compra. Após a compra, o próximo passo é acompanhar o recebimento dos materiais na obra. Deve-se conferir se o material entregue é o material comprado, tanto nas especificações do material quanto na quantidade, e se tudo está corretamente descrito na nota fiscal. Por último, deve-se garantir que o fornecedorseja avaliado durante a entrega dos materiais e que haja o fortalecimento dos laços da empresa com o bom fornecedor. Essas medidas garantem a facilidade das negociações de preço e prazos, além de promover a fidelização dos serviços entre as partes. Uma boa lista de fornecedores facilita muito a gestão de obras. O Sienge (2017b) apresenta uma lista de pontos a serem levados em consideração para a avaliação do fornecedor: � cumprimento do prazo de entrega; � compatibilidade do pedido com a nota fiscal; � qualidade do material recebido; � se o preço orçado e o praticado são o mesmo; � qualidade do atendimento e disponibilidade; � garantia e responsabilização pelo produto; � impactos causados ao meio ambiente. Orçamento e controle14 Garantindo uma boa seleção de fornecedores, negociações estratégicas para a compra dos recursos e o controle do recebimento dos materiais, garante-se um plano de contratação de recursos estruturado e que trará muitos benefícios para a gestão da obra. O plano de contratação de recursos é um dos responsá- veis pelo cumprimento do planejamento da obra, de modo que investir nele é sinônimo de economia, cumprimento de prazos e qualidade da obra. BARBOSA, G. Composição de preços unitários certeira: descubra como fazer. Sienge Platform, Florianópolis, 6 mar. 2018. Disponível em: <https://www.sienge.com.br/blog/ composicao-de-precos-unitarios/>. Acesso em: 6 fev. 2019. BDI na construção civil: o que é e como usar? Sienge Platform, Florianópolis, 23 mai. 2016. Disponível em: <https://www.sienge.com.br/blog/bdi-na-construcao-civil-o- -que-e-como-usar/>. Acesso em: 6 fev. 2019. CARDOSO, V. C. Planejamento de obras: aprenda a segmentar as compras de materiais. Conaz Soluções, [2017]. Disponível em: <https://www.conazsolucoes.com.br/2017/06/01/ planejamento-de-obras-aprenda-a-segmentar-as-compras-de-materiais/>. Acesso em: 6 fev. 2019. COMO trabalhar com o Sicro Dnit? Noventa, 26 jul. 2017. 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