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AULA 2 FILOSOFIAS DE SUPERVISÃO Profª Ana Carolina Bueno Franco 02 CONVERSA INICIAL Na Aula 1 foram abordados os principais conceitos relativos à automação e aos tipos de processos produtivos. Conforme foi discutido, a automação traz inúmeros benefícios e pode ser aplicada aos mais variados tipos de processos. O principal desafio do profissional de automação é a integração de todos os sistemas dentro de um processo produtivo. Dessa forma, os principais objetivos desta aula são: Apresentar os diferentes níveis de sistemas de um processo; Justificar a necessidade de integração entre os processos; Abordar diferentes tipos de arquitetura de redes; Protocolos de comunicação em automação. CONTEXTUALIZANDO Muitas indústrias especificam o projeto de automação com o intuito de padronizar e otimizar a manutenção dos sistemas. Entretanto, com a expansão do processo, a aquisição de novas máquinas e sistemas, o padrão adotado nem sempre é mantido. No chão de fábrica, é possível encontrar os mais diversos protocolos de comunicação e uma variedade enorme de fornecedores. O grande desafio dos profissionais de automação é gerir diversos sistemas e fornecedores diferentes. TEMA 1 – PIRÂMIDE DA AUTOMAÇÃO O modelo conhecido como “pirâmide da automação” é composto por 5 níveis hierárquicos. Ele foi apresentado, em 1980, com o intuito de mostrar as diferentes camadas que compõem o ambiente industrial. Cada nível tem funções específicas dentro do processo industrial (Pessôa; Spinola, 2014). Os níveis da “Pirâmide da Automação” são: Controle do processo: este nível também é conhecido como “chão de fábrica” e é composto pelos equipamentos que farão a medição e atuação no processo. Supervisão do processo: neste nível é realizada a supervisão e controle dos dados em tempo real (sistemas supervisórios). Os dados são fornecidos por sensores do processo. 03 Gerenciamento de processos: nesta etapa operam sistemas dedicados à manutenção, gerenciamento de alarmes, entre outros. Gerenciamento da planta: além da gestão do processo em si, esta etapa contempla a integração com outros sistemas, por exemplo, suprimentos, pedidos e estoque. É aqui que o planejamento geral da produção ocorre. Gerenciamento Corporativo: trata do gerenciamento global da unidade fabril e toma decisões de longo prazo. Figura 1 – Pirâmide da automação Fonte: Cassiolato, S. d. A integração entre os níveis é fundamental e a responsabilidade de prover os dados do processo cabe ao profissional de automação. Mas, afinal, por que é tão importante realizar esta integração entre os níveis? 1. Além do controle e supervisão em tempo real, os dados do processo darão indícios de falhas no processo e, com isto, será possível prever manutenção de equipamentos; 2. Com os dados do processo, é possível realizar o planejamento da manutenção e operação da planta; 04 Para que a integração ocorra, é fundamental prever sistemas que possibilitem a integração entre si. Portanto, na gestão da automação devem ser considerados os seguintes itens: 1. As máquinas ou equipamentos têm manutenção fácil? 2. Os controladores e equipamentos de aquisição de dados possuem protocolos de comunicação homologados? 3. O sistema supervisório escolhido suporta os protocolos de comunicação com os equipamentos de processo? Tem fácil integração com banco de dados ou sistemas para gerenciamento de dados? 4. O sistema escolhido tem escalabilidade? Se sim, haverá interrupção da operação? 5. É possível disponibilizar dados de produção para acesso externo à empresa? 6. Em caso de falha do sistema, haverá redundância? TEMA 2 – NORMA ISA-95 A integração é tão importante e crítica que a ISA (Sociedade Internacional para automação, instrumentação e sistemas) criou um conjunto de normas (ISA- 95) cujo objetivo é facilitar e reduzir o custo da integração dos sistemas. Estas normas também estão publicadas como IEC/ISO 62264 Standards (Pessôa; Spinola, 2014). A norma estabelece detalhes, tais como o uso de terminologia padronizada, adota um padrão a ser seguido de funções ou atividades por diferentes sistemas e também a padronização de troca de dados. A norma está dividida em 5 partes: (Mello; Ramos, 2012). Parte 1: Modelos e Terminologia. Trata da integração entre os níveis de processo com os níveis de gestão do negócio em si; Parte 2: Atributos de modelo de objeto. Trata basicamente como devem ser as estruturas de dados nas trocas de informações entre os níveis; Parte 3: Modelos de gestão de operações de manufatura. Trata da operação da manufatura; Parte 4: Atributos e modelos de objeto de gestão de operações de manufatura. Parte 5: Transações de negócios para manufatura. 05 Figura 2 – Composição da norma ISA-95 TEMA 3 – ARQUITETURAS DE AUTOMAÇÃO A integração entre os sistemas tem como foco principal o tratamento de dados do processo. Os sensores, atuadores e outros dispositivos fazem a aquisição de dados em tempo real. Os controladores lógicos programáveis (CLPs) enviam estes dados ao supervisório e também fazem o controle. Os sistemas supervisórios ou sistemas SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition) recebem os dados de processo e permitem que os operadores façam a supervisão e controle do processo em tempo real. Existem várias formas de dispor os dados vindos dos CLPs para os sistemas supervisórios. A escolha de como isto será feito está ligada à estrutura de rede e como se deseja que a operação seja realizada. Esta etapa do projeto de automação deve ser realizada em conjunto com a equipe de tecnologia de informação. A topologia de rede define como serão as redes de computadores, tanto do ponto de vista físico, como lógico. A topologia física representa como será o layout físico, ou seja, como os computadores estarão ligados entre si. A topologia lógica trata como os dados serão transmitidos por meio da rede. Alguns tipos básicos de topologias: Anel: os dispositivos estão conectados, formando um circuito fechado. Nesta topologia, os dados são transmitidos unidirecionalmente. A desvantagem é que, como a informação passa a cada nó, há um atraso no tráfego de dados; 06 Estrela: Nesta topologia há um dispositivo que é o concentrador de dados que envia os dados para as estações que estão nas pontas. A vantagem em relação à topologia do tipo “anel” é que a informação é transmitida a todas as pontas e caso uma delas tenha problemas, a identificação se torna mais fácil; Barramento: há um barramento físico de dados no qual os dispositivos estão conectados. Bastante utilizada em automação; Mesh: esta topologia é muito utilizada em redes de distribuição de energia. De forma resumida, é composta por diversos nós (roteadores) que passam a se comportar como uma grande rede. Figura 3 – Tipos de topologias de rede Com relação à arquitetura de sistemas de automação, alguns requisitos de desempenho em redes devem ser obedecidos (Santos, 2014): Determinismo no tempo (tempo para a troca de informações); Comunicação com vários dispositivos ao mesmo tempo; Capacidade de expansão de dispositivos; Adoção de protocolos de mercado; Alto desempenho na transmissão de mensagens; Redundância na rede. Uma arquitetura bastante usada em sistemas de automação de menor porte é a do tipo “stand alone”, ou seja, há a conexão do CLP a um único computador que atuará como uma interface homem-máquina, sem a necessidade 07 de conexão com outros sistemas. Muito utilizada por fabricantesde máquinas, em automação predial, por exemplo. Figura 4 – Arquitetura do tipo "stand alone" Já em processos que envolvam automação de grande porte, é muito comum o uso de arquiteturas do tipo “cliente-servidor”. Neste tipo de arquitetura, há uma estação principal na qual todos os dados de processo são enviados. No servidor, todos os dados são gerenciados e armazenados. Ela possibilita que os clientes de rede acessem a aplicação. Figura 5 – Arquitetura típica "cliente-servidor" 08 É muito comum neste tipo de arquitetura a adoção de redundância. Isto implica em ter a supervisão e controle do processo, mesmo em caso de falha de um servidor. Existem 4 tipos básicos de redundância: Hot-Standby: os dois servidores acessam as informações dos equipamentos, mas somente um servidor está ativo. Sincronizam dados entre si em tempo real e conseguem detectar quando um deles não está operando. Quando isto ocorre, o servidor de redundância assume a operação automaticamente e de forma transparente ao usuário. Figura 6 – Redundância do tipo hot-standby Warm-Standby: similar à redundância do tipo hot-standby. Neste caso, o sincronismo entre os servidores ocorre de forma periódica. A desvantagem é que podem ocorrer perdas de informação. Cold-Standby: também composta por dois servidores, porém, não há sincronismo entre eles. Em caso de falha do servidor principal, o servidor terá que fazer todo o processo de atualização de dados na rede até ficar ativo. Não é transparente ao usuário e há perda de informação. Redundância Dual ou Ativa: neste caso, ambos os servidores estão ativos e operando em paralelo na rede. Cabe ao usuário decidir qual servidor acessar. A desvantagem neste caso é que gera grande fluxo de informação na rede, além do custo. 09 TEMA 4 – PROTOCOLOS DE COMUNICAÇÃO Para que haja a comunicação entre os equipamentos, é necessário que utilizem o mesmo protocolo de comunicação. Para que a comunicação seja estabelecida, é necessário o endereço de origem, endereço de destino, tamanho da mensagem e reconhecimento de recebimento. Cada protocolo estabelece um conjunto de regras específicas. Com o objetivo de padronizar os protocolos, a Organização Internacional para a Normalização (ISO) definiu o modelo ISO/OSI. Este modelo é composto por sete camadas: Camada Física: define qual o meio físico adotado, características técnicas ligadas à velocidade de transmissão de dados; Camada de Enlace: define o formato dos dados na rede, por exemplo, endereços de origem e destino, tamanho do pacote e verificação de recebimento; Camada de Rede: define o endereçamento lógico e roteamento dos dados; Camada de Transporte: divide o buffer do usuário em buffers de rede para forçar o controle desejado de transmissão. Protocolos de transporte: TCP e UDP. Camada de Sessão: define o formato dos dados enviados nas conexões. Camada de Apresentação: converte os dados para formatos canônicos e vice-versa. O formato canônico usa uma ordem padronizada de bytes e uma convenção de estrutura de empacotamento independentemente do servidor. Camada de aplicação: fornece os serviços de rede aos usuários finais. Figura 7 – Modelo ISO/OSI 010 TEMA 5 – PROTOCOLOS DE COMUNICAÇÃO EM AUTOMAÇÃO Com o avanço e disseminação da automação, diversos equipamentos e protocolos estão disponíveis. A seguir, serão descritos os principais tipos de protocolos usados em automação predial, automação industrial e para redes de sensores. 5.1 AS-Interface Criado em 1991, tem por objetivo estabelecer a comunicação entre rede de sensores e atuadores de fácil instalação e implementação, com barramento que leva tanto sinais de dados quanto a alimentação de módulos. Pode ser aplicado a todo tipo de indústria. Figura 8 – Estrutura do cabo AS-Interface Resumo: Organização: <www.as-interface.net> Interoperabilidade: possui interoperabilidade com equipamentos que sejam homologados pela organização. Interconectividade: Existe uma grande diversidade de dispositivos (remotas, sensores, sinalizadores, botoeiras, entre outros). Número de nós: 31 nós por segmento de rede (versão 2.0) e 62 nós nas versões 2.1 e 3.0. Velocidade: 160 kb/s, com ciclo máximo de 5 ms (versão 2.0), 10 ms (versão 2.1) e 40 ms (versão 3.0). Tipo de Tráfego: Cíclica e Pooling. Segurança Intrínseca: Não possui. Redundância: Não possui. 011 Interação com CLPs: Comunicação direta ou por gateway. Software: Possui software para configuração (vários fabricantes). Figura 9 – Topologia da rede AS-Interface 5.2 BACnet O protocolo BACnet (Building Automation Control Network) é utilizado em redes de comunicação predial, integrando chillers, controladores, inversores de frequência, instrumentação e máquinas. Resumo: Organização: <http://www.bacnet.org/index.html> Interoperabilidade: totalmente interoperável com informação compartilhada em toda a rede, permitindo o gerenciamento de alarmes e eventos. Interconectividade: possui interoperabilidade com equipamentos que sejam homologados pela organização. Número de nós: 127 dispositivos por segmento. 012 Velocidade: 9.600 a 76.800 b/s. Tipo de Tráfego: Modelo cliente-servidor. Segurança Intrínseca: Sim. Redundância: Sim. Interação com CLPs: Somente via gateway. Software: Requer software dedicado de configuração e/ou monitoração. 5.3 Modbus Seu desenvolvimento teve início em 1971 e se tornou um padrão de mercado em 1980. Devido à sua simplicidade, é um dos mais utilizados por fornecedores de automação. Não há uma área de aplicação específica. Sua utilização vai desde automação industrial até aplicações de energia. Existem dois padrões: RTU e ASCII. Resumo: Organização: <http://modbus.org/> Interoperabilidade: Protocolo aberto com total interoperabilidade. Interconectividade: Padrão Ethernet, Modbus TCP/IP. Existem vários gateways disponíveis. Número de nós: Ilimitado. Velocidade: 100 Mb/s. Tipo de Tráfego: Modo desbalanceado e estações sequencialmente. Neste caso, o mestre é estação primária e inicia todas as transferências de mensagens. As demais estações são secundárias e só transmitem quando requisitadas. No modo balanceado, mestre e escravo podem iniciar a transferência de mensagens. Segurança Intrínseca: Não disponível de forma direta. Redundância: Sim. Interação com CLPs: Sim. Software: Suporte nativo a quase todos os sistemas de supervisão. FINALIZANDO Entender o funcionamento das redes de comunicação, auxilia o gestor de automação a definir a melhor topologia para o processo. Com relação aos protocolos de comunicação, além dos citados (os mais usados), existem outras 013 opções. Nesta aula, ficou clara a convergência entre os setores de tecnologia de informação e automação. 014 REFERÊNCIAS GOEKING, W. Da máquina a vapor aos softwares de automação. Disponível em: <https://www.osetoreletrico.com.br/xxxx/>. Acesso em: 21 jan. 2018. PESSÔA, M. S. DE P.; SPINOLA, M. DE M. Introdução à automação para cursos de engenharia e gestão. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. REDES de Comunicação Industrial – Documento técnico n. 2. Schneider Electric. Disponível em: <https://www.schneider-electric.pt/documents/product- services/training/doctecnico_redes.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2018. SANTOS, M. M. D. Supervisão de sistemas – funcionalidades e aplicações. 1. ed. São Paulo, 2014.
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