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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI MORFOLOGIA DO PORTUGUÊS GUARULHOS – SP SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 5 2 FONOLOGIA LEXICAL ........................................................................................ 6 2.1 Surgimento da fonologia lexical ..................................................................... 6 2.2 A estrutura do léxico na fonologia lexical ..................................................... 10 2.3 Regras lexicais da fonologia lexical ............................................................. 12 3 MORFEMAS ...................................................................................................... 18 3.1 Unidades morfológicas e estrutura interna das palavras .............................. 18 3.2 Morfemas da língua portuguesa ................................................................... 20 3.3 Os tipos de morfema: radical e afixos .......................................................... 21 3.4 Vogal temática: o tema ................................................................................. 22 3.5 Morfemas livres e presos ............................................................................. 23 3.6 Características dos morfemas e diferenças dos sintagmas ......................... 24 4 PALAVRAS E SINTAGMAS ............................................................................... 26 4.1 Itens lexicais na análise morfossintática ...................................................... 27 4.2 Mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em classes ................................................................................................................... 29 4.3 Principais categorias lexicais ....................................................................... 31 4.4 Sintagma nominal e sintagma verbal ........................................................... 32 4.5 Sintagma nominal ........................................................................................ 32 4.6 Sintagma verbal ........................................................................................... 34 5 SUBSTANTIVOS ............................................................................................... 35 5.1 Classificação dos substantivos .................................................................... 36 5.1.1 Substantivos concretos ou abstratos ..................................................... 36 5.1.2 Substantivos próprios, comuns e coletivos ............................................ 36 5.1.3 Simples e Compostos ............................................................................ 41 5.1.4 Primitivos e Derivados ........................................................................... 41 5.2 Flexão dos substantivos ............................................................................... 42 5.2.1 Flexão de gênero ................................................................................... 42 5.2.2 Flexão de número .................................................................................. 46 5.2.3 Flexão de grau ....................................................................................... 48 5.3 Artigo ............................................................................................................ 50 5.4 Adjetivo ........................................................................................................ 50 5.4.1 Adjetivos primitivos ................................................................................ 50 5.4.2 Adjetivos derivados ................................................................................ 51 5.4.3 Adjetivos simples ................................................................................... 51 5.4.4 Adjetivos compostos .............................................................................. 51 6 CLASSES DE PALAVRAS: PRONOME, NUMERAL E VERBO ........................ 55 6.1 Pronome ....................................................................................................... 55 6.1.1 Classificação dos pronomes .................................................................. 56 6.2 Numeral ........................................................................................................ 57 6.2.1 Classificação dos numerais ................................................................... 57 6.2.2 Flexões do numeral ............................................................................... 59 6.3 Verbo ............................................................................................................ 60 6.3.1 Classificação dos verbos ....................................................................... 62 7 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO................................................................. 63 7.1 O novo acordo ortográfico da língua portuguesa: por quê e para quê? ....... 64 7.2 Um pouco da história da construção do acordo ortográfico ......................... 68 7.3 O novo acordo ortográfico: o que mudou, afinal? ........................................ 72 7.4 Algumas regras ortográficas do novo acordo ............................................... 74 7.4.1 Eixo I – Alfabeto ..................................................................................... 75 7.4.2 Maiúsculas e minúsculas ....................................................................... 75 7.4.3 Acentuação gráfica ................................................................................ 75 7.4.4 O hífen ................................................................................................... 77 7.5 As novas regras em uso: qual é a importância global de seu uso com proficiência? ........................................................................................................... 81 8 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 84 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 FONOLOGIA LEXICAL Fonte: https://brasilescola.uol.com.br A fonologia lexical é uma teoria que aproxima morfologia e fonologia. Ela apresenta uma estrutura de léxico que se baseia em regras fonológicas, com uma concepção bidirecional entre morfologia–fonologia, uma vez que trata das relações entre os sistemas sonoro e lexical, devido à relação existente entre as regras fonológicas e a formação de palavras. Neste capítulo, você estudará sobre o surgimento da fonologia lexical, bem como identificará a estrutura do léxico na fonologia lexical. Além disso, conhecerá as regras da morfologia e da fonologia. (BIZEL, 2020) 2.1 Surgimentoda fonologia lexical Na história de análise das línguas, sempre esteve presente a consciência de que existe uma conexão entre a fonologia e a morfologia. Os estruturalistas americanos viam essa relação de forma unidirecional, isto é, pressupunham que os resultados da análise fonêmica determinavam a maior parte da morfologia das línguas 7 naturais. Já os gerativistas acreditavam que eram muito relevantes as alterações morfofonêmicas no estabelecimento de regularidades fonológicas. A partir do desenvolvimento da gramática transformacional, a morfologia passou a ser considerada mais interessante à análise fonológica. Assim, surgiram formalizações das regras fonológicas que se aplicam a representações subjacentes abstratas, por meio de símbolos de fronteira, deixando, portanto, de existir um componente morfológico autônomo. (BIZEL, 2020) Nos anos 1970, surgiram vários modelos de fonologia (as fonologias não lineares) que valorizavam os traços suprassegmentais, mas que não resolviam os problemas de abstração encontrados na fonologia gerativista. Na mesma época, os estudos sobre o léxico, desenvolvidos principalmente por Chomsky (1975), estavam ganhando destaque. Esse contexto favoreceu o surgimento da fonologia lexical (FL). Kiparsky (1982) e Mohanan (1982) propuseram novos métodos de análise de alternâncias fonológicas. Dessa forma, transferiram parte das regras fonológicas para o léxico e integraram o componente fonológico ao componente morfológico. Com a fonologia lexical, aplica-se uma concepção bidirecional da interface morfologia- fonologia (Figura 1). O funcionamento da FL pode ser resumido da seguinte forma: Na fonologia lexical a interação entre os componentes fonológico e morfológico dá-se por meio da inter-relação das regras de diferentes domínios (fonológico e morfológico). Regras fonológicas aplicam-se à saída de toda regra morfológica, criando uma nova forma que é então submetida a uma outra regra morfológica. No processo de formação de palavras, aplicam- se no léxico as regras fonológicas (que podem ser aplicadas ciclicamente) (CRISTÓFARO, 2003, p. 214). 8 Os estudiosos costumam chamar a primeira fase dessa proposta de fonologia lexical clássica. Nessa fase, defendia-se um condicionamento fonológico ao léxico. A concepção básica considerava que a estrutura do léxico era composta de alguns níveis. Esses níveis são ordenados conforme o domínio de algumas regras fonológicas (Figura 2). Observe que os componentes de morfologia e fonologia se misturam, de modo que a estrutura do léxico admite a aplicação cíclica de regras. Essa estrutura demonstra a postulação de três representações: subjacente, lexical e fonética. Para a Fonologia lexical clássica, há a “[…] ideia de que são necessários diferentes níveis de representação e de que as regras se aplicam uma após a outra, numa ordem determinada (COLISCHONN, 2002, documento on-line). Além disso, sugere-se que o léxico tem dois componentes: um lexical e outro pós-lexical. Nesse modelo, as regras lexicais apresentam as propriedades listadas no Quadro 1. 9 De acordo com Cristófaro (2003, p. 214): No modelo da fonologia lexical, o componente fonológico tem acesso não apenas às formas superficiais da sintaxe (como previa o modelo gerativo Padrão) mas tem também um papel atuante no léxico. O léxico é compreendido como um conjunto de níveis ordenados. Estes níveis são domínios de algumas regras fonológicas. O componente fonológico opera não apenas na sintaxe mas também no léxico. Essas propriedades revelam que a fonologia lexical é uma teoria que trata do modo como a fonologia interage com outros componentes, ou seja, sobre como a gramática se organiza. Para tanto, reitera a existência de regras lexicais e pós-lexicais e o pensamento de que os limites fonológicos não necessariamente coincidem com os morfológicos e métricos. Aliás, é consenso entre os fonólogos que as regras pós- lexicais não afetam a estrutura interna da palavra. (BIZEL, 2020) Entretanto, há estudiosos que criticam as postulações da fonologia lexical clássica: diversas pesquisas revelaram, inclusive, a falta de isomorfia entre as 10 estruturas fonológicas e as estruturas morfológicas. Essa descoberta levou à organização da fonologia prosódica, versão que surgiu com a proposta de Inkelas (1990) de inserção dos constituintes prosódicos ao léxico. Contudo, independentemente das vertentes teóricas surgidas a partir da fonologia lexical, sabe-se de sua grande contribuição de, formalmente, incorporar o nível morfológico à análise do componente fonológico. As próprias críticas são contribuições para questionamentos teóricos que podem favorecer os estudos da fonologia lexical, em particular e para a organização da gramática de forma geral. (BIZEL, 2020) 2.2 A estrutura do léxico na fonologia lexical A fonologia lexical trata também das relações entre os sistemas sonoro e lexical, viso que existe uma relação entre as regras fonológicas e a formação de palavras. A partir dessa ideia, surgiram diversas propostas de organização do léxico. Lee (1995), em sua tese de doutorado, ao analisar dados do português brasileiro (PB), propôs um modelo em que o léxico é um componente da gramática que se estrutura em níveis e apresenta regras relacionadas ao componente morfológico e à sintaxe. De acordo com Kiparsky (1982 apud LEE, 1995), há quatro princípios básicos para a fonologia lexical: hipótese de domínio forte (HDF) (todas as regras fonológicas aplicam-se no nível mais alto do léxico); preservação da estrutura (SP, de structure- preserving) (somente os segmentos contrastivos da representação subjacente [fonemas] de cada língua podem ocorrer durante as operações lexicais); condição de ciclo estrito (SCC, de strict cycle condition) (bloqueio na aplicação das regras: as regras fonológicas cíclicas aplicam-se somente em cada ciclo próprio); hipótese de referência indireta (HRI) (falta de isomorfia entre as estruturas morfológicas e fonológicas; noção de domínio prosódico). A Figura 3 apresenta o modelo de fonologia lexical proposto por Lee (1995). 11 A partir desses princípios, observam-se dois grandes níveis: o lexical e o pós- lexical. No primeiro, há dois estratos: o derivacional e o flexional, em que estão as formas básicas dos morfemas. Nesse nível, ocorrem os fenômenos de derivação, um tipo especial de composição e flexões irregulares. Cagliari (2002) exemplifica o caso com a palavra felicidade: ela é derivada de feliz + idade e se forma nesse primeiro nível. Lee (1995, documento on-line) indica os seguintes exemplos: “[...] a. [feliz], [[felic]idade] b. [descobrir] [descoberta] c. [[rádio-tax]ista], [[puxa-saqu]ismo]”. Observe que, nesse nível, raízes morfofonêmicas tornam-se candidatas para receberem afixos. Os afixos podem entrar em algum estrato, conforme a ordenação dos processos morfológicos envolvidos. Já no segundo nível, ocorrem formações produtivas e flexões regulares. Esse é o caso das conjugações verbais (amo; amava), de número (pote; potes) e de grau (café; cafezinho). Lee (1995, documento on-line) indica os seguintes exemplos: “[...] a. falo, falava b. flor, flores c. cafezinho”. No português, a assibilização pode ser um exemplo de regra lexical. Em algumas formas derivadas, a oclusiva final passa a ser sibilante diante da vogal que inicia o sufixo, como em elétrico e eletricidade. No nível pós-lexical, terceiro estrato, estão representadas a saída do léxico e a entrada à sintaxe, e, no quarto estrato, ocorre um tipo especial de composição. 12 Cagliari (2002) exemplifica o caso com as seguintes palavras: homem-rã; garota propaganda; fim de semana. Observe que esses itens lexicais são formados por palavras independentes. No português, a vocalização da lateral palatal é um exemplode regra pós- lexical, pois ela se aplica à palavra pronta e não opera em fronteiras morfológicas. Como a regra é categórica e não preserva a estrutura (p. ex., nas palavras pastel e pastelada, a estrutura silábica é outra), evidencia-se sua identificação com as regras pós-lexicais. (BIZEL, 2020) Nesses níveis, se acondicionam regras de formação de palavras e regras fonológicas. De acordo com Bisol e Hora (1993, documento on-line): A saída de cada regra de formação de palavra é submetida, em seu estrato, a regras fonológicas que podem ser reaplicadas, em outros estratos, ou seja, em outros níveis da formação da palavra, se suas condições estruturais forem preenchidas. As regras fonológicas que forem intrinsecamente cíclicas são aplicadas ao léxico, e as que se aplicam sobre o resultado da sintaxe são as não cíclicas. Nesse sentido, dividem-se as regras fonológicas em lexicais e pós-lexicais. (BIZEL, 2020) Segundo Bisol e Hora (1993, documento on-line), as lexicais são as regras “[...] que exigem informação morfêmica”, e as pós-lexicais são as que: [...] atravessam fronteiras de palavras e, ignorando a estrutura morfológica da palavra, dispensam a informação oferecida pelos colchetes. Regras que não atravessam fronteiras, mas não exigem informação morfêmica podem ser aplicadas em um e outro componente, preferentemente no último, o nível não marcado, desde que não haja evidência ao contrário. Portanto, as regras são a base da organização do léxico. A seção a seguir trata de como essas regras se organizam no português brasileiro. 2.3 Regras lexicais da fonologia lexical A fonologia lexical concede um papel fundamental às regras lexicais, pois cuida da organização da gramática, observando como a fonologia interage, principalmente com a morfologia. Essas regras são aplicadas em uma sequência em que há restrições ao ordenamento extrínseco e a abstrações de formas intermediárias. (BIZEL, 2020) 13 Em resumo, as regras do componente lexical da fonologia se aplicam em palavras derivadas, podem apresentar exceções e preservam a estrutura, por isso não introduzem alofones. Já as regras aplicadas ao componente pós-lexical seguem um caminho contrário: podem se aplicar a outros ambientes — além do ambiente dos derivados —, não têm obrigação de preservar a estrutura e podem ser usadas em outros domínios prosódicos, como frases fonológicas e frases entoacionais. (BIZEL, 2020) Como se observa, a FL defende a subespecificação, e, nesse sentido, algumas análises podem levar a paradoxos de ordenação. Assim, essa abordagem fonológica recebe muitas críticas. Outro problema no uso enfático das regras está no fato de haver uma defesa de que os alomorfes devem ser ignorados ou devem ter seu papel diminuído nas análises. Essa ação, evidentemente, gera um tipo de regularidade que se coloca sujeita a regras. Contudo, a realidade de uso da língua pelo falante pode não validar as formas subjacentes sugeridas nessas análises. Independentemente das críticas, as regras partem de princípios que norteiam as formações lexicais. Observe como, na língua portuguesa falada no Brasil, cada princípio dá suporte às regras. (BIZEL, 2020) O princípio da hipótese de domínio forte (HDF) indica que as regras fonológicas se aplicam ao nível mais alto do léxico e, depois, podem se apagar. Essa hipótese é justificada pelo fato de que algumas regras se aplicam a um nível, ao passo que outras se aplicam a vários níveis. No português brasileiro, isso se evidencia, segundo Lee (1995, documento on-line), em: 14 Observe que as regras se aplicam somente às palavras derivadas com os sufixos do primeiro nível. De acordo com Lee (1995), a aplicação dos exemplos (a) e (b) é apagada depois de operações do nível 1, pois as regras são inoperantes em outros níveis. Já no caso do exemplo (c), a HDF prevê que essa regra pode ser aplicada nos níveis anteriores, porém, nos níveis lexicais, é bloqueada pela SP. O princípio de SP indica que somente os segmentos contrastivos de representação subjacente podem ocorrer durante as operações lexicais. A condição do ciclo estrito é outro princípio importante da fonologia lexical. Segundo Lee (1995, documento on-line): Na FL as regras lexicais não se aplicam na saída da morfologia, mas podem- se aplicar depois de cada operação morfológica, de tal maneira que a ciclicidade é simplesmente uma propriedade inerente das regras fonológicas lexicais – isso implica que as regras pós-lexicais sejam não cíclicas. Esse princípio, portanto, bloqueia regras, o que indica que as regras fonológicas cíclicas ocorrem somente em cada ciclo próprio, ou seja, no ambiente derivado. Há críticas também ao princípio da condição de ciclo estrito: na prática, a proibição de alternâncias não limita o grau de abstração. A explicação dos estudiosos da fonologia lexical para esse questionamento é que, embora todas as regras lexicais se sujeitem à condição do ciclo estrito, há aplicações não cíclicas lexicais que constroem as estruturas métricas que enchem os traços não especificados. Esse é o caso de aplicações como acento, silabificação e regras de redundância. (BIZEL, 2020) A hipótese de referência indireta (HRI) aborda a falta de isomorfia entre as estruturas morfológicas e fonológicas e a noção de domínio prosódico. Na teoria da fonologia gerativa, os domínios fonológicos são definidos pelas fronteiras fonológicas 15 (+, #) e pelos ciclos fonológicos. Na FL, as fronteiras são indicadas pelos colchetes morfológicos, os quais afirmam que o léxico é altamente ordenado. Segundo Lee (1995, documento on-line), no modelo da fonologia lexical, [...] a morfologia é distinta e separa da fonologia, mas as regras fonológicas aplicam-se nos objetos criados pela morfologia, a não ser que haja falta de isomorfia entre as estruturas fonológicas. Essa falta de isomorfia pode ser explicada pelo HRI, introduzindo a noção de domínio prosódico do léxico. Desse modo, as regras fonológicas aplicam-se nos contextos prosódicos, mas eles não implicam no isolamento do componente morfológico. Lee (1992) apresenta alguns exemplos de aplicação de regras da fonologia lexical na língua portuguesa. Como pode ser observado no Quadro 2, ele usa a palavra imoralidade para ilustrar o processo de derivação nos níveis lexical e pós- lexical. Observe que, nessa derivação, as regras lexicais se aplicam depois de cada operação morfológica, e isso ocorre de forma cíclica. Assim, as regras fonológicas 16 aplicam-se em um novo ciclo no léxico. Para esse modelo de FL, são necessários quatro níveis: (1) afixação de classe I, flexão irregular; (2) afixação de classe II; (3) formação de composto; e (4) flexão regular. As principais regras lexicais do português são: supressão de nasal, abrandamento da velar e processo de assibilação. As palavras ilegível, imoral, irregular e irracional derivam, respectivamente, de legível, moral, regular e racional, visto que, quando formadas, houve supressão de nasal para a negação, pois não se usam as formas iNlegível, iNmoral, iNrregular e iNrracional. Contudo, a afixação eN-, -r não segue a aplicação dessa regra. Para a FL, o nível 1 é, portanto, o domínio de aplicação dessa regra. (BIZEL, 2020). Observe a seguir: A regra de abrandamento da velar ocorre no fonema /k/ que se transforma em /s/ ou /g/ quando os sufixos derivacionais começam por /i/ ou /e/. Observe: Elétri/k/o – eletri/k/idade – eletri/s/idade Históri/k/o – histori/k/idade – histori/s/idade Conju/g/al – conju/g/e – conju/z/e Contudo, há sufixos derivacionais que começam por /i/ ou /e/, mas que não seguem essa regra. Observe: Fra/k/o – fra/k/íssimo – fra/s/eza Fidal/g/o – fidal/g/inho – fidal/s/inho Assim, a regra de abrandamento da velar é representada da seguinte forma: 17Na assibililação, o fonema /t/ se transforma em /s/. Observe: Democrá/t/ico – democra/t/ia – democra/s/ia Profé/t/ico – profe/t/ia – profe/s/ia A regra de assibilação é a que segue: Segundo Bizel (2020), em suma, para a fonologia lexical, as regras são fundamentais para explicar a estrutura do léxico e a formação de palavras. Portanto, é preciso conhecê-las e analisá-las para compreender as contribuições dessa teoria fonológica. 18 3 MORFEMAS Fonte: http://radames.manosso.nom.br/ Neste capítulo, você vai estudar alguns aspectos de aprofundamento em morfologia. Nesta etapa, você vai conhecer as unidades morfológicas e as estruturas internas das palavras, a partir do estudo dos morfemas em língua portuguesa. Além desses saberes, você também vai apropriar-se das características dos morfemas e da diferença entre eles e os sintagmas. (CASTRO, 2011) 3.1 Unidades morfológicas e estrutura interna das palavras Em Castro, 2011, o primeiro aspecto que você precisa ter em mente está relacionado com o surgimento de novas palavras em língua portuguesa. Pense: quando se formam novas palavras? Como se formam novas palavras? Por que se formam novas palavras? Primeiro, novas palavras são formadas a todo momento. Isso considerando todas as suas modalidades. Mas, quais seriam essas modalidades? Podemos destacar as seguintes: coloquial, culta, literária, técnica, científica, de propaganda, entre outras. Dessa forma, a partir do uso e das necessidades dos falantes, e também 19 conforme o contexto e o período histórico, novos itens lexicais passam a fazer parte de uma comunidade linguística. As formações podem ser esporádicas ou institucionalizadas, conforme delimita Rocha (1998). As formações esporádicas são aquelas relacionadas com o momento. Por exemplo, desmorrer. Nesse caso, uma criança que brinca e diz que a formiga desmorreu. Ou seja, o contexto motiva a criação da palavra por associação a outras parecidas e já existentes. Mas não significa que ela venha a fazer parte do registro de palavras da língua. Esta e outras palavras são criadas por impulsos momentâneos. A forma institucionalizada de criar novas palavras é diferente e por este motivo é denominada desta forma. Pense na palavra imexível. Ela foi pronunciada em um contexto de publicidade de ato de um falante. Dessa forma, várias pessoas ouviram e passaram a repeti-la. A circunstância era especial e tornou o vocábulo familiar para os indivíduos. Por conseguinte, imexível passou a ser um vocábulo institucionalizado. No entanto, você precisa saber: um vocábulo pode ser institucionalizado dentro de um grupo de falantes de determinada língua. Por exemplo, indesmentível está institucionalizada em determinada família e determinada residência. Logo, esta formação é institucionalizada naquele grupo específico, mesmo que não seja conhecido de outros grupos de falantes. O que você precisa se perguntar é: mas por que alguns se tornam institucionalizados e outros não? (CASTRO, 2011) Conforme Rocha (1998), precisamos considerar a visibilidade do “criador” da palavra e, em seguida, o poder da mídia dessa palavra. Ou seja, em que proporção esse vocábulo vai ser disseminado. Um vocábulo criado em um contexto mais restrito e de forma esporádica, pode até ser institucionalizado, isso depende da dimensão que ele atinge. Mantendo-se restrito, não será institucionalizado, mas, caso contrário, passe a integrar a fala de um grupo maior de pessoas, ele poderá ser registrado. As redes sociais, atualmente, têm um papel importante para a fixação de novos vocábulos. Quando compatilhado por muitos, a palavra passa a ser conhecida e as pessoas a utilizam fora das redes sociais. O poder da mídia é evidente neste exemplo. Palavras como sextou e trolar saem das redes sociais e passam a fazer parte dos diálogos entre os falantes. Outra situação que mobiliza a formação de novos vocábulos tem relação com o fato de que certos processos são mais apelativos e enfáticos do que outros. Por exemplo, dizer fumódromo no lugar de sala de fumantes. Portanto, é importante você 20 saber que é difícil responder plenamente à pergunta: tal palavra existe? Pense nisso. No nível morfológico, no entanto, passamos a tentar compreender as unidades de sentido que compõem as palavras. No campo da análise linguística, estudamos diferentes níveis, desde aqueles mais amplos, ou seja, os que estudam as unidades mais amplas do discurso, até as unidades menores, como as sílabas e os sons. Entre eles há um nível intermediário que estuda as unidades da língua as quais apresentam certa autonomia formal. Essas unidades podem ser encontadas como entradas lexicais do dicionário. Estamos, portanto, falando das palavras. Inserido nisso, temos o estudo em nível morfológico. Ou seja, aquele que estuda as unidades de sentido que compõem as palavras. (CASTRO, 2011) Etimologicamente, a palavra morfologia se constitui de dois elementos: morfo e logia. Originária do grego, significam, respectivamente, forma e estudo. Por conseguinte, definido na gramática como o estudo que descreve as formas das palavras. Mais detalhadamente: o estudo que tem como objeto de investigação a estrutura interna das palavras. (CASTRO, 2011) 3.2 Morfemas da língua portuguesa Conforme descrito nos parágrafos anteriores, compreender o que é morfologia pressupõe entender o que é forma, no sentido de sinônimo de estrutura, composta esta de partes denominadas morfemas. A primeira informação que você precisa internalizar é a de que toda estrutura é composta de elementos que estão relacionados. Ou seja, isso explica que: todas as palavras são formadas por unidades menores, as quais, quando combinadas, produzem significado. Essa combinação não é aleatória. Na verdade, as estruturas internas, quando combinadas de determinada forma, estabelecem relação e produzem significado. Assim, podemos afirmar que 21 determinadas palavras combinadas com outras exercem funções específicas nos enunciados. Conclui-se que forma, função e sentido são solidários entre si e, até mesmo, interdependentes (BECHARA, 2010). Pense: quando afirmamos que lindos é um adjetivo masculino plural ou que trabalhássemos é um verbo de 1ª conjugação que está no pretérito imperfeito do subjuntivo e na 1ª pessoa do plural, estamos indicando que há marcas formais e gramaticais, as quais delimitam esses enquadramentos, não é mesmo? Exatamente, essas marcas formais são chamadas de morfemas. (CASTRO, 2011) 3.3 Os tipos de morfema: radical e afixos Conforme Castro (2011), no exemplo anterior — lindos — a marca do masculino está no final -o, e a demarcação de plural está em -s. Já no verbo citado, trabalhássemos, a marca do pretérito imperfeito do subjuntivo está em -ss e a marca da 3ª pessoa do singular está em -mos. Agora, lindos tem um significado diferente de ricos, pequenos ou lisos. O que há de comum entre eles, no entanto, são os morfemas - o e - s. Por esta similaridade identificamos que ricos, pequenos e lisos também são palavras masculinas compostas de plurais. O significado específico desses vocábulos está em lin-, ric-, pequen- e lis. O mesmo ocorre com o verbo trabalhássemos. Neste, a diferenciação está em trabalh. Na comparação com escrev- (escrevêssemos) e part- (partíssemos). Os responsáveis pelos significados lexicais, nos exemplos supracitados, são classificados como radicais (BECHARA, 2010). Com esta reflexão, podemos concluir que a palavra é constituída de dois tipos de morfema: 22 Aquele que expressa os significados na noção de mundo: lexical ou externo (o radical). Outro que expressa o significado gramatical ou interno (os afixos representados por morfemas de flexão e de derivação). (CASTRO, 2011) 3.4 Vogal temática: o tema Ainda, saiba que entre o radicale os afixos é permitido inserir uma vogal temática (BECHARA, 2010). A missão dela é de classificação, uma vez que ela diferencia os nomes e os verbos em grupos ou classes. Estes são conhecidos como grupos nominais (casa/livro/ponte, etc.) e grupos verbais (denominados conjugações). Por essa razão, podemos afirmar que o verbo trabalhássemos pertence à primeira conjugação: trabalh-á-sse-mos. O verbo escrevêssemos é de segunda (escrev-ê-sse-mos) e partíssemos (part-í-sse-mos) é de terceira conjugação. A união do radical com a vogal temática representa o tema (BECHARA, 2010). Este é a parte da palavra que está pronta para funcionar no discurso e também que está apta para receber os afixos: casa + s = casas linda + s = lindas livro + s = livros Em algumas ocorrências, ao receber determinados afixos, a vogal temática pode desaparecer — por exemplo em casinha [cas(a)inha]. Nos nomes, as vogais temáticas são representadas por -a e -o. Estes dois demarcam o grupo nominal e também indicam o gênero: a casa (feminino); o livro (masculino). Ainda nos nomes, as vogais temáticas -o e -e podem ser representadas por uma semivogal de um ditongo: pão/pães. Enquanto o -o pode passar para a variante -u: afeto/afetuoso (afeto + oso = afetuoso). (CASTRO, 2011) 23 No caso dos nomes terminados em consoante, a vogal temática -e, destacada no singular, reaparece quando a palavra estiver no plural: mar/mares (mar-e-s) paz/ pazes (paz-e-s) mal/ males (mal-e-s) Por fim, é importante reforçar que a vogal temática aparece tanto nos temas simples (livr-o) quanto nos derivados (livr-eir-o). 3.5 Morfemas livres e presos O morfema será livre quando tiver uma forma que pode aparecer de forma autônoma no discurso. Caso contrário, será preso. No exemplo agricultura, agri- é um morfema preso, pois ele, sozinho, não tem sentido no discurso. Para significar campo, ele precisa combinar com outro morfema (agrimensor, agrícola, agricultor, etc.). Diferentemente de cultura, por exemplo, pois este tem vida independente no discurso (a cultura do campo). (CASTRO, 2011) O radical pode ter uma variante que só aparece como forma presa. Este é o caso, por exemplo, de caber, que tem variante presa -ceber. Aparecendo ela em: receber, perceber e conceber. A variante do morfema nesses caos é alomorfe (BECHARA, 2010). Os elementos, portanto, podem ser todos livres (compor, apor) ou todos presos (agrícola, perceber), ou, ainda, combinados (agricultura, gasoduto). Assim, uma só forma pode representar mais de um morfema. O -s, por exemplo, pode marcar plural 24 (casa/casas) e também 2ª pessoa do singular nos verbos (tu amas, escreves, partes). (CASTRO, 2011) 3.6 Características dos morfemas e diferenças dos sintagmas Outra questão que precisa ser esclarecida está relacionada com a interpretação dos sintagmas. Você precisa saber que além dos processos de formação e flexão da palavra, à morfologia também cabe certa classificação das palavras. Ou seja, deste processo devem ser considerados, além dos critérios formais, alguns sintáticos e semânticos. Tudo isso pela possibilidade de classificação de uma palavra apenas pela sua forma. Isso mesmo! A forma canto, por exemplo, pode desempenhar papel de substantivo ou um verbo. Isso apenas depende da função e do sentido em que passa a ser empregada. (CASTRO, 2011). Observe: O canto dos pássaros. Eu canto como um pássaro. No primeiro exemplo, a palavra funciona como um substantivo. Diferentemente da segunda ocorrência, em que canto passa a funcionar como um verbo. Nesse caso, o que deve ser considerado é a relação sintagmática. Ou seja, a combinação com outros termos na frase ou no sintagma. Lembre-se de que qualquer forma pode desempenhar função substantiva. Por exemplo: não gosto do cantar acelerado que ela força. Nesse caso, cantar desempenha função de substantivo. Isso é possível de ser concluído pela relação sintagmática que a expressão expressa na aproximação com os outros sintagmas. (CASTRO, 2011) Para Saussure (2006), o sintagma se compõe sempre de duas ou mais unidades consecutivas: re-ler; contra todos; a vida humana. Ou seja, as relações sintagmáticas estão baseadas no caráter linear do signo linguístico. Nesse entendimento, excluímos a possibilidade de pronunciar dois elementos da frase ao mesmo tempo. Os termos se sucedem, um após o outro, de forma linear. Isso são os sintagmas. Na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor a partir do contraste com os outros; ou aqueles que antecedem ou aqueles precedem. Em alguns casos, ocorre com ambos. Tudo isso devido ao caráter linear dos sintagmas. Analise: 25 Hoje faz calor. Não é possível pronunciar jeho faz lorca. Não há sentido na inversão linear dos termos. Essa cadeia fônica faz com que se estabeleçam relações sintagmáticas entre os elementos que a compõem. A partir dessas análises, podemos concluir que morfemas são as menores unidades formais associadas e dotadas de significado. Enquanto os sintagmas são as sequências hierarquizadas de elementos linguísticos, os quais compõem uma unidade na sentença; linearmente e na cadeia da fala. Dessa forma, a noção de sintagma se aplica para além da palavra. A noção de sintagma se aplica aos grupos de palavras e também às unidades complexas (palavras compostas, derivadas, frases inteiras, etc). As relações sintagmáticas existem em todos os planos da língua: fônico, mórfico e sintático. (CASTRO, 2011) Portanto, tenha em mente: morfemas são apenas as menores unidades da forma das palavras; sintagmas, no entanto, são todas e quaisquer combinações de unidades linguísticas na sequência de sons da fala, a serviço da forma (rede de relações + componente semântico) de determinada língua. (CASTRO, 2011) Em Castro, 2011, os morfemas são caracterizados, então, por um ou mais fonemas, mas diferentemente destes últimos, apresentam significado. Os fonemas isolados não apresentam significado. Observe: /m/ /a/ /r/ /i/ /s/ Isolados, esses fonemas não fazem sentido. Mas, quando combinados, constituem unidades mínimas de significado. Veja: [mar] [mais] [mas] Por fim, podemos afirmar que os morfemas são caracterizados como: elementos mínimos das emissões linguísticas com significado individual; 26 unidade mínima em um sistema de expressões que pode ser correlacionada com alguma parte do conteúdo; as menores unidades significativas que podem construir vocábulos ou parte deles; a menor parte indivisível da palavra que tem uma relação direta ou indireta com a estrutura de significação. (CASTRO, 2011) 4 PALAVRAS E SINTAGMAS Fonte: https://conceitos.com/ A partir da leitura deste capítulo, você compreenderá alguns aspectos da morfossintaxe. Vamos tratar do léxico da língua portuguesa, com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre as características e as propriedades de cada palavra. Observaremos o conjunto arbitrário de palavras e conheceremos a relação que se 27 estabelece entre palavras e sintagmas, analisando o que isso significa para o funcionamento da língua portuguesa. Os objetivos do capítulo estão centrados na descrição dos itens lexicais e nos aspectos que eles englobam na análise morfossintática; na demonstração dos mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em classes; e, por último, no exame das características do sintagma nominal e do sintagma verbal. (CASTRO, 2007) 4.1 Itens lexicais na análise morfossintática Segundo Basílio (2004), o léxico apresenta certo teor de regularidade e é elemento fundamental da organização linguística da língua, seja do ponto de vista semântico ou gramatical. O conhecimento lexical permite analisar certas estruturas da língua, seja em uma abordagem textual ou mesmo estilística. O que ocorre é que osdiferentes processos de derivação, de mudança e de extensão das classes das palavras são traduzidos em estruturas morfológicas lexicais. É por essa característica que se destaca a relevância do conhecimento dos itens lexicais e de seus aspectos no contexto da análise morfossintática. Primeiramente, é preciso saber que existe uma vasta possibilidade de nomenclatura. De acordo com diferentes estudiosos, é possível encontrar semelhanças e diferenças na classificação das palavras, dos vocábulos, dos lexemas, das unidades ou itens lexicais. Neste capítulo, o foco se manterá na compreensão da palavra, dos itens lexicais e dos sintagmas. (CASTRO, 2007) Vamos iniciar com os itens lexicais. Você sabe o que é um item lexical? A língua existe para que possamos nos comunicar. Logo, é necessário identificar as coisas sobre as quais queremos falar. Assim, é possível designar pessoas, lugares, objetos, etc. Identificamos a língua como um sistema de classificação e de comunicação. Nesse contexto, o papel do léxico apresenta dupla função para língua: ele é um banco de dados com uma classificação prévia que fornece unidades básicas para que o falante construa enunciados (BASÍLIO, 2004). Assim sendo, o léxico categoriza aquelas coisas sobre as quais falamos, fornecendo unidades de designação denominadas palavras. A palavra, portanto, desempenha papel fundamental no processo de comunicação, pois possibilita identificação, 28 categorização e nomeação da realidade que cerca os falantes. É assim que os indivíduos geram o léxico de sua língua. Consideremos, agora, a seguinte questão: o que é palavra e o que é léxico? Compreendemos a palavra como unidade de designação utilizada para a construção de enunciados. No entanto, um conjunto fechado dessas unidades não é suficiente para uma língua. Observe, por exemplo, as palavras que são incorporadas ao cotidiano de fala dos indivíduos de determinada língua. Esse sistema não é estático, ampliamos as unidades de designação, pois temos necessidade de classificar situações, objetos e pessoas de formas não antes feitas. Por esse motivo, produzimos (e reproduzimos) novas denominações. Precisamos de um sistema dinâmico, que seja capaz de se expandir e de se moldar conforme às necessidades dos falantes. Por exemplo, o léxico oferece as unidades de designação, como global; a partir delas, elaboramos novos itens lexicais, tal como globalização. (CASTRO, 2007) O léxico não se limita a um conjunto fechado de palavras. Ele é dinâmico e apresenta estruturas que podem ser utilizadas para sua expansão. Dito de outro modo, o léxico é mais do que palavra. No léxico, estão as estruturas e os processos de formação de palavras que possibilitam a formação de novas unidades lexicais e, por conseguinte, permitem a aquisição de palavras novas para os falantes. (CASTRO, 2007) Não devemos confundir item lexical com palavra: o primeiro faz referência aos itens que estão armazenados na memória do falante; o segundo nomeia o termo que é utilizado de acordo com a teoria gramatical. Assim sendo, existe o léxico externo e o interno, conforme delimita Basílio (2004). Como conjunto de palavras, temos o léxico externo, ou seja, aquele grupo que se verifica nos enunciados dos falantes. O conjunto interno, ou mental, corresponde às palavras conhecidas pelo falante e também aos padrões gerais de estruturação para interpretação e produção de novas formas. Para a análise morfossintática, essa diferenciação é importante. Interpretamos palavra como categoria mais genérica. Item lexical, no entanto, deve ser percebido como unidade de nomeação de verbos e substantivos e outros, ou seja, como unidade semanticamente registrada no léxico de uma língua, com potencial de combinação com outros elementos afixais para formação de outras unidades ou sintagmas. 29 Para a análise morfossintática, a normalização dos itens lexicais é imprescindível, pois esse é o processo que reduz as variações de uma palavra para sua forma única. Os componentes formadores de palavras são o radical e os afixos. O radical é o elemento básico, enquanto os afixos podem ser incorporados às palavras para formar outras. Esses processos afetam significativamente a palavra original; podem, inclusive, alterar a sua categoria morfológica. (CASTRO, 2007). Observe o exemplo a seguir: Casa Casebre Casinha Casarão Nestes exemplos, cas- (cas-a; cas-ebre; cas-inha e cas-arão) é o elemento que faz referência ao mundo extralinguístico. Esse é o radical que faz parte de todas as palavras e é a significação desse radical que é denominada de lexical. Ou seja, a formação de palavras, nesse caso, é chamada de formação lexical. (CASTRO, 2007) 4.2 Mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em classes Classes de palavras são conjuntos abertos de palavras, os quais podem ser definidos a partir das propriedades ou funções semânticas e gramaticais. Conhecer as classes de palavras é fundamental para a compreensão do funcionamento de uma língua, pois elas expressam as propriedades gerais das palavras. De fato, só é 30 possível descrever os mecanismos gramaticais mais óbvios, como a concordância de gênero e número do artigo com o substantivo, se soubermos determinar qual palavra pertence a cada classe. (CASTRO, 2007) De acordo com a gramática tradicional, podemos classificar as palavras de diversas maneiras. É possível indicar uma classificação conforme acentuação (átonas ou tônicas) por exemplo. Entretanto, o que está convencionado como classe de palavras (ou categorias lexicais) corresponde a uma classificação mais específica, a qual está relacionada com critérios semânticos ou gramaticais de análise. (CASTRO, 2007) Existe um critério ou um conjunto de critérios de classificação de palavras? Existem divergências quanto a isso, mas, neste momento, é relevante pensar nos critérios, uma vez que as classes de palavras são importantes para a descrição gramatical. Dessa forma, pense na definição apenas semântica do substantivo, sobre como ele se comportam nos enunciados. Esse critério daria conta da explicação? Não. A posição de ocorrência das palavras na elaboração dos enunciados é essencial para descrição gramatical. Desse modo, apenas o critério semântico não basta para a descrição gramatical. (CASTRO, 2007) A definição sintática do substantivo como núcleo do sujeito, agente da passiva ou objeto indica posições estruturais, mas não evidencia as propriedades de concordância do substantivo em relação ao adjetivo, por exemplo. Do mesmo modo, a definição sintática ou semântica do verbo não evidencia as necessidades das várias formas verbais que expressam tempo, modo, número e pessoa. Portanto, conclui-se que os propósitos de descrição gramatical exigem das classes de palavras uma definição com diversos critérios. Assim sendo, para efeitos da descrição gramatical, as classes de palavras devem ser definidas simultaneamente por critérios morfológicos, sintáticos e semânticos. (CASTRO, 2007) 31 4.3 Principais categorias lexicais Como elementos do léxico, as classes de palavras podem ser denominadas categorias lexicais. Segundo Basílio (2006), as classes de palavras que estão envolvidas em processos de formação de palavras são as seguintes: Substantivos Adjetivos Verbos Advérbios A primeira classe de palavras, substantivos, é definida pela propriedade semântica de designação de seres ou entidades; pela propriedade morfológica de determinação de gênero e número; e, por fim, pela propriedade sintática de ocupar a posição de núcleo do sujeito ou complemento. (CASTRO, 2007) A classe dos adjetivos é definida pela propriedade de caracterização ou qualificação, sobretudo dos seres designados pelos substantivos. Os verbos, como classe de palavras, representamrelações no tempo e têm a função de predicação com flexões de tempo e modo. Por último, a classe dos advérbios representa aquela composta de palavras invariáveis com função de modificar os verbos, os adjetivos e outros advérbios e enunciados. (CASTRO, 2007) As classes de palavras (ou categoria lexicais) são a base para a descrição dos processos de formação de palavras. Por exemplo, a adição do sufixo -dade a um adjetivo forma um substantivo: no caso do adjetivo leal, por meio da adição do sufixo -dade, temos o substantivo lealdade. Assim, podemos constatar que a definição de classes de palavras deve seguir os requisitos da descrição gramatical, bem como aqueles requisitos relacionados ao processo de formação de palavras. (CASTRO, 2007) Quando afirmamos que o sufixo -ção é adicionado aos verbos para a formação de substantivos, não se afirma apenas que ele se acrescenta a palavras que ocupam o núcleo do predicado para formação de palavras que ocupam o núcleo do sintagma nominal; na verdade, consideramos que palavras a que -ção é aplicável designam eventos e situações que estão representadas no tempo e apresentam flexão de 32 tempo/modo/aspecto e número-pessoa. Portanto, as palavras produzidas designam eventos e situações sem a marca de represen tação no tempo, sem flexão e com a propriedade de acionar os mecanismos de concordância tanto de gênero quanto de número. (CASTRO, 2007) 4.4 Sintagma nominal e sintagma verbal Sintagma é um termo utilizado para designar dois elementos consecutivos. Um deles é o determinado (principal) e o outro é o determinante (subordinado). Quem introduziu este termo foi Ferdinand de Saussure (2006). Por exemplo, em um sintagma básico, composto de sujeito e predicado, o elemento determinado é o verbo; o determinante, o sujeito. O que o sintagma identifica é a impossibilidade de dois termos serem pronunciados ao mesmo tempo, ou seja, existe linearidade na expressão do signo. Além disso, um termo apenas passa a ter valor depois de ser contrastado com outro. (CASTRO, 2007) O sintagma, portanto, trata da combinação de formas mínimas em unidades linguísticas superiores. O que existe, em essência, é reciprocidade, coexistência e solidariedade entre os elementos presentes na fala. Essa relação é sintagmática e concebe o sintagma no plano mórfico e sintático. Dentro desse contexto, identifica-se uma subdivisão dos sintagmas, de acordo com o núcleo que os compõem. Os tipos de sintagma são: nominal, verbal, adjetival, adverbial e preposicional. (CASTRO, 2007) Neste momento, vamos centralizar nosso estudo em apenas dois tipos: nominal e verbal. 4.5 Sintagma nominal De acordo com Mioto, Silva e Lopes (2005), o sintagma nominal é composto, obrigatoriamente, por um nome, seguido de seus determinantes. Esses determinantes podem ser pronomes ou palavras que, em suas origens, pertenciam a determinadas classes lexicais, mas que, a partir da recategorização, passaram a desempenhar o papel de nomes. 33 O núcleo, portanto, pode ser combinado com outros elementos, como complementos (a conquista da batalha), modificadores (o vestido azul) e também especificadores, que podem ser definidos pelos determinantes e pelos quantificadores (muitas balas). Portanto, as funções sintáticas que o sintagma nominal pode representar são: sujeito, predicativo, objeto direto, indireto e oblíquo (nominal e verbal), aposto, adjunto adverbial e vocativo. (CASTRO, 2007) No caso de o sintagma nominal apresentar apenas um especificador, este ocorrerá na posição inicial do sintagma (esta aluna, muitos estudantes, etc.). Por outro lado, quando o especificador for um quantificador não determinante, este pode acorrer entre um determinante definido e o nome. Por exemplo: as várias amigas da Luiza. Neste caso, a posição é intermediária. (CASTRO, 2007) Assim sendo, os quantificadores todos e ambos, quando iniciando sintagma nominal, não podem preceder diretamente um nome sem a presença de um determinante. Por exemplo: todas as ruas, ambas as ruas. Para confirmar essa afirmação, pense na possibilidade da estrutura: todas casas e ambas casas. Essas duas construções são agramaticais. No entanto, estes quantificadores podem ocorrer na posição pós-verbal. (CASTRO, 2007). Observe os exemplos de substituição: Todos os carros eram vermelhos → Os carros eram todos vermelhos. Ambas as meninas comeram doces → As meninas comeram ambas os doces. Com relação à função sintática exercida pelo sintagma nominal, no contexto da oração, temos, na maioria dos casos, sujeito e complementos verbais da oração. Analise o exemplo e as funções desempenhadas pelos sintagmas nominais: Os estudantes escreveram um texto. Neste exemplo, são registrados dois sintagmas nominais: um na função de sujeito e outro na função de objeto (complemento direto). Primeiramente, na função de sujeito temos os estudantes como núcleo; sendo que o núcleo está em estudantes, acompanhado do especificador os. Na função de objeto (complemento) direto, temos um texto. Nesse segundo sintagma nominal, o núcleo é texto, e o especificador determinante, um. (CASTRO, 2007) 34 4.6 Sintagma verbal O segundo tipo de sintagma é o verbal, conforme apresenta Mioto, Silva e Lopes (2005). Como o nome enuncia, o sintagma verbal é constituído pelo predicado da oração. Nesse caso, o núcleo é o próprio verbo. Observe o exemplo a seguir: As colegas chegaram. Nesse exemplo, o predicado é o verbo chegaram. Este representa o sintagma em evidência. Nesse tipo de sintagma, os elementos relacionados a ele são denominados argumentos do verbo, os quais podem ocorrer inclusive na forma de sintagma nominal, adjetival, adverbial ou preposicional. Desempenhando funções de predicativo (predicação secundária), de objeto (complemento) direto, indireto ou oblíquo (adverbial e nominal), os constituintes são exigidos pelo verbo. Sem esses determinantes, não há oração com sentido completo; tanto sintaticamente quanto semanticamente, são necessários para organização coerente das orações. (CASTRO, 2007) Com relação aos argumentos dos verbos, eles podem ser externos (o sujeito) ou internos (os complementos). No entanto, nem todos os sintagmas verbais apresentam complemento. Os verbos intransitivos, por exemplo, são exemplos de sintagmas verbais desse tipo. (CASTRO, 2007). Observe: Chove Nevou Nesses exemplos, as frases são compostas de apenas um membro: o verbo. Desse modo, este é autossuficiente e não precisa de complemento para dar sentido. Esse tipo de sintagma verbal é denominado sintagma verbal reduzido. (CASTRO, 2007) 35 5 SUBSTANTIVOS Fonte: https://www.todamateria.com.br/substantivos/ Substantivos são palavras que usamos para designar ou nomear seres em geral, sejam eles reais ou imaginários. Formalmente falando, pode-se dizer que os substantivos são palavras que podem apresentar flexões de gênero, número e grau, que podem ou não vir precedidas de artigos ou pronomes. (AZEVEDO, 2015) Conforme Azevedo (2015) ao se observar os substantivos do ponto de vista funcional, pode-se dizer que eles caracterizam-se por serem núcleos dos sintagmas nominais de nossa língua. Assim, os substantivos são as palavras que constituem: Sujeitos (A festa estava ótima.) Objetos diretos (Peguei o bolo da festa.) Objetos indiretos (Dei o presente à criança.) Predicativos do sujeito (Você parecia criança ao ver a festa.) Predicativos do objeto (Considero você uma criança.) Complementos nominais (O choro do menino era horrível.) Adjuntos adnominais (Isto é choro de criança.) Adjuntos adverbiais (Saí com o rapaz.) Agentes da passiva (O vidro da janela foi quebrado pela criança.) 36 Apostos (Minha vida, uma longa história, passou devagar.) Vocativos (Filho, arrume a cama!) 5.1 Classificaçãodos substantivos 5.1.1 Substantivos concretos ou abstratos Os substantivos concretos designam seres que têm existência independente de outros seres, podendo ser reais ou imaginários. Ex.: livro, Deus, ar, Roberta, vela, etc. (AZEVEDO, 2015) Já os substantivos abstratos estabelecem a designação de seres que possuem existência dependente de outro. Ou seja, sua ocorrência sempre está vinculada à existência de um outro ser, sendo portanto, abstrações. Ex.: amor, ódio, limpeza, doença, colheita, etc. (AZEVEDO, 2015) 5.1.2 Substantivos próprios, comuns e coletivos Os substantivos próprios nomeiam seres específicos dentro de uma determinada espécie, tornando esses seres únicos dentro de um grupo maior (espécie). Ex.: Roberta, Bom Despacho, Minas Gerais, Brasil. (AZEVEDO, 2015) Os substantivos comuns estabelecem referência a seres em geral, ou seja, todos de uma mesma espécie, não havendo, portanto, especificações. Ex.: mulher, cidade, estado, país, lápis, flor. (AZEVEDO, 2015) De cordo com Azevedo, 2015, os substantivos coletivos são aqueles que, embora estejam na forma singular, designam um conjunto de seres/elementos da mesma espécie. A seguir veja uma lista de substantivos coletivos. Substantivos coletivos usuais: 37 álbum de selos, de fotografias alcateia de feras (lobos, javalis, panteras, hienas etc.) armada de navios de guerra arquipélago de ilhas arsenal de armas e munições arvoredo de árvores assembleia de pessoas reunidas atlas de mapas reunidos em livro baixela de utensílios de mesa banca de examinadores bando de pessoas em geral, de aves, de bandidos batalhão de soldados biblioteca de livros catalogados boiada de bois bosque de árvores buquê de flores cacho de bananas, de uvas, de cabelos cáfila de camelos em comboio cambada de vadios ou malandros cancioneiro de canções ou cantigas 38 caravana de viajantes cardume de peixes casario de casas claque de pessoas pagas para aplaudir clero de sacerdotes ou religiosos em geral código de leis colégio de eleitores, de cardeais coletânea de textos escolhidos colmeia de abelhas concílio de bispos em assembleia conclave de cientistas, de cardeais reunidos para eleger o papa congregação de religiosos, de professores congresso de deputados, de senadores, de estudiosos de determinado tema constelação de astros, de estrelas cordilheira de montanhas corja de bandidos, de desordeiros, de malandros, de assassinos coro de anjos, de cantores corpo de alunos, de professores, de jurados 39 discoteca de discos ordenados elenco de artistas, de profissionais enxame de abelhas, de insetos enxoval de roupas esquadra de navios de guerra esquadrilha de aviões fauna de animais de uma região feixe de lenha, de raios luminosos flora de plantas de uma região fornada de pães, de coisas assadas ou cozidas no forno, ao mesmo tempo frota de navios, de veículos pertencentes à mesma empresa gado de animais criados em fazendas (bois, vacas, novilhos) galeria de objetos de arte em geral (esculturas, quadros etc.) grupo de pessoas, de coisas em geral hemeroteca de periódicos (jornais, revistas etc.) horda de selvagens, de invasores junta de dois bois, de médicos, de examinadores, de governantes júri de pessoas que têm a função de julgar 40 legião de soldados, de anjos, de demônios leva de presos, de recrutas, de pessoas em geral malta de ladrões, de desordeiros manada de bois, de burros, de cavalos, de búfalos, de elefantes matilha de cães de caça molho de chaves, de verdura multidão de pessoas, de animais, de coisas ninhada de animais (aves ou mamíferos) nuvem de gafanhotos, de mosquitos, de pernilongos pelotão de soldados pinacoteca de quadros de pintura plantel de animais de raça, de atletas plateia de espectadores plêiade de artistas, de pessoas ilustres pomar de árvores frutíferas prole de filhos de um casal, humano ou não quadrilha de ladrões, de bandidos ramalhete de flores rebanho de bois, de ovelhas, de carneiros, de cabras 41 réstia de alhos, de cebolas revoada de aves voando ronda de policiais ou vigias em patrulha seleta de trechos literários selecionados tripulação de pessoas que trabalham num navio ou num avião tropa de soldados, de pessoas, de animais turma de estudantes, de trabalhadores vara de porcos vocabulário de palavras Fonte: https://michaelis.uol.com.br/ 5.1.3 Simples e Compostos Os substantivos simples constituem-se de um único radical. Ex.: cama, roupa, menino. Já os substantivos compostos são formados por mais de um radical. Ex.: guarda-roupa, pé-de-meia, limpa-vidro. (AZEVEDO, 2015) 5.1.4 Primitivos e Derivados São chamados de substantivos primitivos aqueles que não se originam de nenhum outro radical de nossa língua, ao contrário, eles é que dão origem a novas palavras. Ex.: pedra, bola, flor, cabeça. 42 Os substantivos derivados são aqueles que têm sua origem ligada a algum outro radical de nossa língua. Ex.: pedregulho, bolota, florista, cabeçote. (AZEVEDO, 2015) 5.2 Flexão dos substantivos Segundo Azevedo (2015), a flexão é a modificação do substantivo de acordo com o gênero (masculino ou feminino), número (singular ou plural) ou grau (aumentativo ou diminutivo). 5.2.1 Flexão de gênero A língua portuguesa apresenta dois gêneros: masculino e feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos que podem ser antecedidos pelo artigo masculino. Veja o uso dos substantivos masculinos na fábula transcrita a seguir. (AZEVEDO, 2015) FÁBULA: O LOBO E O CORDEIRO Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça avistou um lobo, também bebendo da água. – Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo - disse o lobo, que estava há alguns dias sem comer e procurava algum animal apetitoso para matar a fome. – Senhor - respondeu o cordeiro - não precisa fi car com raiva porque eu não estou sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível acontecer o que o senhor está falando. – Você agita a água - continuou o lobo ameaçador - e sei que você andou falando mal de mim no ano passado. – Não pode - respondeu o cordeiro - no ano passado eu ainda não tinha nascido. O lobo pensou um pouco e disse: 43 – Se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo. – Eu não tenho irmão - disse o cordeiro - sou fi lho único. – Alguém que você conhece, algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue. Então ali, dentro do riacho, no fundo da floresta, o lobo saltou sobre o cordeiro, agarrou-o com os dentes e o levou para comer num lugar mais sossegado. MORAL: A razão do mais forte é sempre a melhor. Fonte: La Fontaine (c2005-2015). Observe que os substantivos masculinos geralmente estão antecedidos por um artigo defi nido ou indefinido “o cordeiro”, “o lobo”, “um pastor”, “um dos cães”. Entretanto, nem sempre a presença do artigo está explícita no texto, cabendo ao leitor sua pressuposição. (AZEVEDO, 2015) Existem, ainda, alguns substantivos que podem suscitar dúvidas com relação ao gênero gramatical a que pertencem. É o caso dos seguintes substantivos masculinos (AZEVEDO, 2015): o aneurisma, o champanha, o clã, o contralto, o diabete, o dó (compaixão), o eclipse, o eczema, o formicida, o gengibre, o grama (peso), o guaraná, o lança-perfume, o soprano, o telefonema. 44 Formação do feminino A formação do gênero gramatical feminino na língua portuguesa ocorre de duas formas: por meio de processos centrados nos radicais e pela flexão. Processo centradonos radicais A diferenciação entre masculino ou feminino é clara, visto que a distinção é feita através dos radicais. Isso acontece com os substantivos chamados “heterônimos”, ou seja, apresentam uma forma para o masculino e outra forma para o feminino. Observe: boi – vaca homem – mulher cavalo – égua Há também a formação do feminino através do acréscimo das palavras “macho” e “fêmea” após o radical. Esses são os chamados substantivos epicenos. a borboleta macho – a borboleta fêmea o besouro macho – o besouro fêmea a cobra macho – a cobra fêmea É possível, ainda, a indicação do gênero de determinado substantivo através da anteposição de determinantes aos radicais. Nesse caso, os substantivos recebem o nome de “comuns de dois gêneros”. o dentista – a dentista o artista – a artista o selvagem – a selvagem Há também aqueles substantivos que a partir do seu gênero gramatical específico podem designar indivíduos de ambos os sexos. Veja: 45 a criança o cônjuge a vítima Formação do feminino pela flexão (mudança na terminação da palavra) Nos casos em que ocorre a formação do feminino pela mudança na terminação da palavra, diz-se que o masculino é o termo não marcado e que o feminino é o termo marcado. O morfema específico para determinar nomes femininos na língua portuguesa é o sufixo –a. (AZEVEDO, 2015) Observe como ocorre a formação do feminino na língua através do acréscimo do sufixo –a: Suprime-se a vogal temática –o e acrescenta-se o morfema feminino –a. menino – menina aluno – aluna gato – gata Acrescenta-se o morfema –a àqueles substantivos sem vogal temática na forma masculina e com o radical terminado em consoante. professor – professora doutor – doutora chinês – chinesa Substantivos terminados em –ão formam o substantivo feminino quando terminados em –oa, –ã ou –ona: leão – leoa patrão – patroa irmão – irmã comilão – comilona 46 5.2.2 Flexão de número A flexão de número ocorre quando há manifestação do substantivo sobre a forma singular ou plural. As formas marcadas, em termos e flexão de número, pelo morfema –s são as do plural, e as não marcadas, as do singular. (AZEVEDO, 2015) Vejamos as regras de formação do plural: 1. Substantivos terminados em vogal ou ditongo. Regra geral: acrescenta-se o morfema –s. bola – bolas carro – carros boi – bois A mesma regra deve ser seguida quando o substantivo terminar com a letra “m”. Neste caso, troca-se o “m” pelo “n” e acrescenta-se o morfema –s. atum – atuns álbum – álbuns som – sons 2. Substantivos terminados em –ão. Os substantivos terminados em –ão fazem o plural de três maneiras: troca-se o –ão por –ões, troca-se o –ão por –ães ou acrescenta-se o morfema –s à forma singular do substantivo. balão – balões caminhão – caminhões pão – pães alemão – alemães cidadão – cidadãos mão – mãos 47 3. Substantivos terminados em consoante Acrescenta-se –es à forma singular dos substantivos terminados em –r, –z ou –n. açúcar = açúcares xadrez = xadrezes Substantivos oxítonos terminados em –s recebem a terminação –es, mas se forem paroxítonos ou proparoxítonos são invariáveis. freguês = fregueses português = portugueses lápis = os lápis ônibus = os ônibus Substantivos terminados em –al, –el, –ol, –ul troca-se –l por –is. jornal = jornais papel = papéis álcool = álcoois azul = azuis Substantivos terminados em –il troca-se –l por –s, se oxítonos, e quando terminados em –el troca-se –l por –is, se paroxítonos. fuzil = fuzis projétil = projéteis Substantivos que fazem o diminutivo em –zinho e aumentativo em –zão exigem marcação de plural não somente do sufi xo, mas também no radical (perde-se o –s do plural no radical): 48 papelzinho = papeizinhos (papéi (s)+ zinhos) barzinho = barezinhos (bare (s) + zinhos) Substantivos compostos Nos substantivos compostos não ligados por hífen apenas o segundo radical vai para o plural. aguardente = aguardentes lobisomem = lobisomens Nos substantivos compostos ligados por hífen há três possibilidades de realização do plural: Apenas o primeiro radical vai para o plural (quando os radicais são ligados por preposição ou quando o segundo elemento especifica o primeiro). pé-de-cabra = pés-de-cabra pimenta-do-reino = pimentas-do-reino Apenas o segundo radical vai para o plural (quando o primeiro radical é verbo ou palavra invariável). guarda-chuva = guarda-chuvas vice-presidente = vice-presidentes Ambos os radicais vão para o plural (compostos formados por palavras variáveis). cartão-postal = cartões-postais amor-perfeito = amores-perfeitos 5.2.3 Flexão de grau 49 Na língua portuguesa os substantivos podem ser utilizados no grau normal, aumentativo ou diminutivo. Para marcar a variação de grau são utilizados dois processos: Sintético: a partir do uso de sufixos aumentativos ou diminutivos acrescentados ao radical da palavra. menino = menininho = meninão boneca= bonequinha= bonecona Analítico: através do acréscimo de um adjetivo que indique aumento ou redução da ideia de tamanho. menino = menino pequeno = menino grande boneca= boneca minúscula= boneca grande O uso do aumentativo e diminutivo podem indicar, além da redução ou aumento de tamanho, alterações no valor semântico do substantivo, manifestando assim a subjetividade da linguagem através de conotações afetivas ou depreciativas. (AZEVEDO, 2015) Veja: Amorzinho = conotação afetiva Amigão= conotação afetiva Jornaleco = conotação depreciativa Mulherzinha = conotação depreciativa É preciso esclarecer que o valor semântico do aumentativo ou diminutivo está intimamente ligado ao contexto de uso, portanto, é necessário estar atento ao contexto no qual estão sendo utilizadas as formas diminutiva e aumentativa. 50 5.3 Artigo Azevedo (2015) afirma que o Artigo é a palavra que, vindo antes de um substantivo, indica se ele está sendo empregado de maneira definida ou indefinida, indicando ao mesmo tempo, o gênero e o número dos substantivos. O artigo definido indica um ser determinado no interior de uma espécie. São artigos definidos: o, a, os, as. Exemplo: A lâmpada acabou de queimar. O artigo indefinido indica um sentido genérico, apresentando um ser/elemento de forma indefinida e muitas vezes vaga. São artigos indefinidos: um, uma, uns, umas. Exemplo: Uma lâmpada acabou de queimar. 5.4 Adjetivo Adjetivos são palavras que caracterizam os substantivos. Assim, pode-se dizer que ele é o elemento determinante e o substantivo é o elemento determinado, pois, ao adjetivo dá-se a função de ampliar ou limitar o sentido de um substantivo (AZEVEDO, 2015). Por exemplo: homem honesto, mulher esperta, criança chorona. Quanto à formação, os adjetivos dividem-se em primitivos ou derivados, simples ou compostos. 5.4.1 Adjetivos primitivos São aqueles que possuem radicais indicadores de características, independente de seres ou ações que os representem. Por exemplo: Azul, pequeno, triste, escuro, vermelho. 51 5.4.2 Adjetivos derivados São aqueles formados a partir de outros radicais. Por exemplo: Azulado, entristecido, desconfortável, apavorado. Ainda dentro dos adjetivos derivados é preciso mencionar a existência dos adjetivos pátrios, que são substantivos derivados que se referem ao local de origem de determinado elemento. Por exemplo: brasileiro, mineiro, paulista, belo-horizontino, catarinense. 5.4.3 Adjetivos simples Apresentam um único radical. Por exemplo: grande, especial, branco, infeliz, amedrontado. 5.4.4 Adjetivos compostos Formados por mais de um radical. Por exemplo: vermelho-sangue,socioeconômico, luso-brasileiro. 5.4.4.1 Flexão dos adjetivos Assim como os substantivos, os adjetivos também flexionam-se em gênero, número e grau, pois os adjetivos devem acompanhar e concordar com os substantivos que determinam. Logo, se o adjetivo determina um substantivo feminino no plural, ele também deve estar na forma feminina e no plural (AZEVEDO, 2015). Por exemplo: as meninas bonitas. 5.4.4.2 Flexão de gênero Os adjetivos não possuem gênero definido, eles adquirem o gênero do substantivo que determinam. Assim, quanto ao gênero, podemos dizer que eles classificam-se como biforme ou uniforme. 52 Biformes são os adjetivos que apresentam duas formas: uma para o masculino e outra para o feminino. Observe: Bonito = bonita magro = magra alto = alta Para a formação do feminino dos adjetivos veremos agora algumas regras: Adjetivos terminados em –o fazem o feminino trocando essa terminação por –a: Menino esperto = menina esperta Adjetivos terminados em –u , -ês ou –or recebem o acréscimo do sufixo –a: Arroz cru = carne crua homem português = mulher portuguesa Alguns adjetivos terminados em –dor e –tor trocam essa terminação por – triz, ou substituem –or por –eira: Impulso motor = força motriz homem trabalhador = mulher trabalhadeira Adjetivos terminados em –ão fazem o feminino com –ã ou –ona: Homem cristão = mulher cristã menino comilão = menina comilona Os adjetivos que têm terminação em ditongo –eu fazem o feminino em –eia: Ator europeu = atriz europeia Os terminados em –éu formam o feminino em –ao: Ilhéu = ilhoa É preciso mencionar também a exceção do adjetivo mau, que forma o feminino com a forma má. 53 Quanto aos adjetivos compostos biformes, a maioria flexiona no gênero feminino apenas o segundo elemento: Consultório médico-dentário = clínica médico-dentária ▶ Azul-marinho (que é uniforme) e surdo-mudo, cujos dois elementos flexionam-se no gênero feminino (surda-muda). ▶ Os adjetivos uniformes são aqueles que apresentam uma forma única, tanto para o masculino como para o feminino. Ex.: especial, forte, insuportável, difícil. 5.4.4.3 Flexão de número Os adjetivos estabelecem a concordância com os substantivos que determinam; assim, se o adjetivo acompanhar um substantivo no singular, ele permanecerá no singular e se acompanhar um substantivo no plural, será flexionado no plural (AZEVEDO, 2015). A formação do plural dos adjetivos simples ocorre da mesma maneira que se forma o plural dos substantivos simples. Já nos adjetivos compostos formados por dois adjetivos somente o segundo elemento flexiona-se no plural: Clínica médico-dentária = clínicas medico-dentárias acordo luso-brasileiro = acordos luso-brasileiros ▶ Azul-marinho e azul-celeste (invariáveis) e surdo-mudo, cujos dois elementos pluralizam-se (surdos-mudos). ▶ Adjetivos compostos referentes a cores, cujo segundo elemento é um substantivo, também são invariáveis: Tinta amarelo-ouro = tintas amarelo-ouro; blusa verde-água = blusas verde-água. 5.4.4.4 Flexão de grau Quanto à variação de grau, os adjetivos modificam-se de acordo com os graus em que se encontram, comparativo ou superlativo, e variam através das formas sintéticas ou analíticas. 54 Grau comparativo Há comparação entre características de dois ou mais seres. Essa comparação pode ressaltar igualdade, superioridade ou inferioridade, ocorrendo na maioria das vezes na forma analítica. Veja: O meu vizinho é tão rico quanto o seu. (comparativo de igualdade) O pai de josué é mais alto que o de Camila. (comparativo de superioridade) O carro de márcio é menos rápido que o de Marcus.(comparativo de inferioridade) Alguns poucos adjetivos apresentam forma sintética para exprimir o comparativo de superioridade: bom e mau (melhor e pior), grande e pequeno (maior e menor). Grau superlativo No grau superlativo, uma característica é intensificada de forma relativa ou absoluta, dessa forma, o superlativo divide-se em superlativo relativo ou superlativo absoluto. Com a utilização do grau superlativo relativo pretende-se destacar uma característica de um ser, em maior ou menor grau, dentro de um conjunto de seres. Por exemplo: Ele é o menos esperto da sua turma. Andréia é a mais alta da escola. Com a forma absoluta do superlativo pretende-se transmitir a ideia de que determinado ser/elemento possui uma característica em alto grau. O grau superlativo absoluto pode ser expresso na forma sintética ou analítica, observe: O menino é muito esperto/ o menino é espertíssimo. O brinquedo é muito caro/ o brinquedo é caríssimo. 55 6 CLASSES DE PALAVRAS: PRONOME, NUMERAL E VERBO Fonte: https://querobolsa.com.br/ O estudo das classes de palavras é marcado pela vontade do homem de compreender a realidade na qual está inserido e de tentar, de alguma maneira, controlá-la. Compreender a linguagem, em seus imbricados processos, sempre foi uma preocupação do ser humano. Analisar e categorizar foram os primeiros caminhos encontrados para compreender os mecanismos da fala e da escrita. Organizar as palavras em classes, mediante suas características, é uma evidência desse ímpeto humano (CUNHA; ALTGOTT, 2004). Neste capítulo, você estudará algumas importantes classes de palavras das quais se ocupa o estudo da morfologia, conhecendo, então, um pouco mais sobre os pronomes, os numerais e os verbos. 6.1 Pronome A classe dos pronomes é aquela que agrupa palavras cuja função é substituir ou acompanhar o substantivo (nome) em uma oração (AZEVEDO, 2015). Primeiramente, é possível distinguir dois tipos principais de pronomes: os pronomes 56 substantivos e os pronomes adjetivos. Enquanto os pronomes substantivos exercem papel similar ao do substantivo, substituindo-o, os pronomes adjetivos acompanham ou modificam um substantivo ou um pronome substantivo. Os pronomes são flexionáveis em gênero, em número e de acordo com a pessoa do discurso. Exemplos: Ele era meu padrinho. (pronome substantivo) Minha caneta é azul, aquelas canetas são azuis. (pronome adjetivo) 6.1.1 Classificação dos pronomes Os pronomes podem ser classificados de acordo com a função que exercem. Segundo Gonçalves (2016): Pronomes pessoais — Esse tipo de pronome é utilizado para representar as pessoas do discurso (1ª, 2ª ou 3ª, tanto do singular quanto do plural). Há os pronomes pessoais do caso reto e os pronomes pessoais do caso oblíquo. Os primeiros podem exercer função sintática de sujeito; são eles: eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas. Já os pronomes pessoais do caso oblíquo são aqueles que, numa oração, podem complementar os verbos: me, mim, comigo, nos, conosco; te, ti, contigo, vos, convosco; o, a, lhe, se, si, consigo, os, as, lhes, etc. Pronomes de tratamento — São pronomes que indicam o tratamento formal ou informal que é dado a um indivíduo (você, Vossa Excelência, Vossa Majestade, Eminência, Vossa Magnificência, etc.). Pronomes relativos — São aqueles usados para referir-se a um termo anteriormente mencionado, sem precisar repeti-lo (que, cuja, cujo, o qual, as quais, quem, etc.). Flexionam-se em gênero e número, de acordo com o substantivo. Pronomes demonstrativos — Pronomes utilizados para situar algo no tempo e no espaço (este, isto, isso, aquilo, etc.). 57 Pronomes possessivos — São aqueles que expressam uma relação de posse (meu, minha, teu, sua, nosso, vosso, etc.). Flexionam-se de acordo com o gênero, o número e a pessoa do discurso a que se referem. Pronomes indefinidos — São aqueles que substituem ou acompanham um nome, expressando de modo vago ou impreciso, a quantidade daquilo que representam (alguém, ninguém, qualquer, quaisquer, etc.). Pronomes interrogativos
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