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Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni Revisão Textual: Profª. Esp. Vera Lidia Cicaroni Sendo assim, este é um conteúdo fundamental, não só porque nos serve de base informativa para compreender as mais significativas transformações pelas quais passou a Antropologia, de sua fase clássica para a moderna, bem como os seus primeiros pressupostos teóricos, mas também porque nos servirá de base para compreender a questão da diversidade entre os povos, a partir do prisma do relativismo cultural. Os Primórdios de uma Antropologia Clássica Caro aluno, Nesta unidade, vamos tratar do tema “Os primórdios de uma Antropologia Clássica”. Veremos como se operaram as principais transformações que levaram o antropólogo de gabinete, profundamente influenciado pelo evolucionismo darwinista em seus estudos sobre fósseis humanos e relatos de cronistas viajantes sobre povos exóticos, a tornar-se o pesquisador de campo, já influenciado pelo relativismo cultural e não mais compreendendo sociedades como primitivas ou atrasadas, mas entendendo seus valores e morais a partir dos referenciais dos povos estudados e não dos seus. Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Caro aluno, Observe atentamente a charge ao lado. Ela se refere a um dos mais relevantes problemas vividos hoje em sociedade: o racismo; bem como as suas raízes históricas, a escravidão. O racismo experinciado hoje em realidades pós-coloniais é uma espécie de problema partilhado por sociedades que tiveram, no passado, sua economia pautada na utilização do trabalho escravo. Mas como isso foi possível, se todos somos humanos e devemos nos tratar como tais, em termos de igualdade, ainda que sejamos diferentes em termos étnicos? Ocorre que nem sempre esses pressupostos foram vigentes, nem mesmo nas ciências que nasceram no séc. XIX com o escopo de compreender a diversidade entre os povos. A escravidão colonial, por exemplo, teve como discurso legitimador, no séc. XIX, o evolucionismo que impregnou a Antropologia Clássica, e precisou mesmo haver uma revolução conceitual para que esses paradigmas mudassem, não sem resistência, para o estabelecimento do relativismo cultural. É grande o número de pessoas que sofrem diariamente com preconceito quanto à cor, a condição física, a etnia, a sexualidade, a classe social, entre outros. Nesta unidade vamos aprofundar o estudo sobre mudanças significativas na própria natureza da Antropologia. Em busca das respostas às perguntas aqui elaboradas, embrenhe-se pelo conteúdo teórico, apresentação narrada e demais materiais dessa unidade, a fim de entendermos mais sobre a dimensão cultural da condição humana. Contextualização Vimos que a Antropologia, por eleger como objeto de estudo o Homem, tem seus limites, como ciência, pouco definidos; isso, porque dizer que a Antropologia é a "ciência do homem" não basta. Se assim fosse, confundiríamos facilmente a Antropologia com outras áreas de conhecimento que também focam aspectos particulares do Homem, como a Medicina, a Psicologia, a Biologia, a Sociologia, a Economia etc. Portanto, dizer que se trata da ciência cujo objeto é o Homem não ajuda a definir adequadamente este campo de estudos, que prescinde, como ciência, de objetos bem definidos. Se recorrermos ao processo histórico de constituição dessa área, verificaremos que, com a especialização progressiva das ciências humanas, datada do séc. XIX, a Antropologia apropriava-se de questões que deixavam de ser consideradas pelas demais ciências. Dentre essas questões destacavam- se aquelas que levariam à cisão entre uma Antropologia Física e uma Antropologia Cultural, respectivamente, o estudo daquilo que se acreditava serem as raças humanas e suas características biológicas; e o estudo do homem sob as perspectivas social e cultural. Sobre esta segunda dimensão da Antropologia, na qual se insere a organização de grupos sociais e as dinâmicas de convívio que desenvolvem, poder-se-ia dizer que seu objeto de interesse se confunde gravemente com o da Sociologia, ciência cujo objeto são as interações interindivíduos conformando grupos sociais e a forma como esses grupos interagem entre si. A Sociologia ocupa-se do estudo de sociedades consideradas modernas, porque nelas se verifica um alto grau de alfabetização, são densas demograficamente (podendo nelas se verificar o fenômeno do anonimato) e geograficamente extensas. Já a Antropologia comumente estuda sociedades mais simples, ágrafas em muitos casos e conformadas por poucos membros, estabelecendo laços sociais muito mais estreitos. Contudo, essa regra se aplica ao que podemos caracterizar como Antropologia Clássica, ou seja, a configuração da Antropologia em seu período de formação, uma vez que, hoje, subáreas, como a Antropologia Urbana, a Antropologia do Cotidiano e a Etnografia Urbana, ocupam-se, exatamente, de tipos de sociedade complexa, dificultando a distinção (por conta de sua abordagem e métodos) em relação aos enfoques dados pela Sociologia. Os Primórdios de uma Antropologia Clássica Com o amplo desenvolvimento das ciências no séc. XIX, houve significativas transformações em áreas afins que acabaram sendo imediatamente incorporadas pela nascente Antropologia. É o caso das ciências da natureza (como a química, primordialmente), de métodos para datação de materiais orgânicos, dentre estes, restos esqueletais, o que possibilitava determinar a antiguidade do próprio ser humano. O desenvolvimento desses métodos e técnicas para datação resultou em um enorme esforço para determinar a antiguidade dos inúmeros restos humanos que se encontravam guardados em museus, universidades e centros de pesquisa, produto de descobertas arqueológicas, por vezes, muito anteriores a esse século XIX. Esse esforço redundou no desenvolvimento de uma nova ciência, dedicada a esses estudos e que passava a assumir, como objetivo, a determinação não só da antiguidade do Homem, mas também dos processos de evolução biológica e social de nossos antepassados: a Antropologia. A primeira cisão entre estudos de ordem física e de ordem cultural, dentro da Antropologia, deu-se exatamente no momento em que antropólogos já se definiam como aqueles que estudavam sociedades distintas das europeias - como grupamentos humanos autóctones ou sociedades consideradas primitivas, por exemplo - e um novo grupo de cientistas surgiu, autodenominando-se também antropólogos, mas voltados à investigação sobre aspectos rácicos, biológicos e evolutivos do Homem. É importante salientar que, se não houve acordo quanto ao emprego do termo “antropólogo”, tampouco houve em relação ao termo Antropologia. Apesar de nossa conceituação ter bem clara a distinção entre Antropologia Física e Antropologia Social e Cultural, acompanhando uma interpretação vigente nos Estados Unidos e na Inglaterra, a escola francesa não acata essa terminologia e utiliza o termo Antropologia para se referir ao que conhecemos como Antropologia Física e não utiliza o termo Antropologia Social e Cultural, substituindo-o por Etnologia, ao contrário do que fazem os autores anglo-saxões. Essa grande imprecisão terminológica explica-se pelo fato de a Antropologia ter progredido em círculos científicos e países muito distintos, resultando um relativo grau de autonomia entre as correntes, que, a partir de distintos pontos de vista, enveredaram por este complexo campo de estudos. Nas grandes religiões que atravessaram a História verifica-se um princípio comum:o de que os homens são iguais. Contudo, se perscrutarmos as dinâmicas sociais das mais distintas civilizações, encontramos a prática da discriminação racial, o que pressupõe convicções de superioridade e atribuição ao outro da condição de inferioridade, segundo as suas características, primordialmente, biotípicas. As civilizações clássicas – Grécia e Roma - praticaram o escravismo com base, fundamentalmente, nesse princípio. Aind a que se tenha iniciado com a prática da escravidão por dívida, quando se tornou o eixo central da economia antiga, o escravo já era, invariavelmente, aquele que, de fora dos limites dos domínios dessas civilizações, havia sido apresado. Mais do que isso, por não pertencer à civilização greco-romana, não seria merecedor da categoria de humano. Desponta aí a discriminação por conta da diferença não só de caracteres físicos, mas, sobretudo, culturais, uma vez que o “bárbaro” não falava o mesmo idioma, não comungava da mesma fé religiosa, não era portador da mesma moral e observador das mesmas tradições, costumes etc. No contexto da civilização romana, da qual herdamos uma série de caracteres, isso valia para todos os que estavam de fora de suas fronteiras, e, por isso, eram caracterizados como bárbaros. Evidentemente, a barbárie define-se pela contraposição ao conceito de civilização; sendo assim, o termo é claramente pejorativo e expressa juízos de valor assentados na convicção de superioridade cultural, traço característico dos povos da antiguidade clássica. Não estamos tratando, contudo, de condutas racistas, uma vez que a civilização romana se constituiu de um mosaico de povos distintos, aprofundando-se as dinâmicas de miscigenação já assistidas por séculos. Trata-se, em essência, de uma distinção cultural que permitia, por exemplo, submeter e dominar o outro, entendido como bárbaro, em nome de uma cultura superior, signo de civilização. Mesmo com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, a mesma lógica atravessou os quase mil anos de Idade Média, na Europa, sob domínio da cristandade. As convicções religiosas medievais, sob o cristianismo, não só assumiram um caráter opressor sobre outros credos religiosos (como o judaísmo e o islamismo, por exemplo), mas fundamentalmente compunham um repertório cultural que se autorreferia como superior frente a outras culturas que, não mais nominadas bárbaras, eram referidas como pagãs (não- cristãs), portanto, para eles, inferiores, o que legitimava sua submissão ou conversão pela força. Na era moderna, inaugurada com a queda do Império Romano do Oriente (quando Constantinopla caiu sob domínio turco), em 1453, assistiu- se à mesma lógica, obviamente readequada para um novo contexto histórico. A partir do Renascimento, a expansão europeia para a Ásia e África bem como a conquista e dominação do Novo Mundo estavam carregadas desse sentimento de superioridade civilizacional, dessa vez associada ao homem europeu, ou seja, ao homem branco. É aí, nesse momento, que a questão da superioridade cultural, ou civilizacional, passou a ser mais diretamente associada à cor da pele. Esse processo ocorreu, exatamente, no contexto da expansão europeia por meio das navegações e explicava-se, também, pelo fato de o contato com povos até então desconhecidos ter possibilitado saber da existência de distintas etnias, hábitos culturais, religiões e constituições biotípicas. Não se tratava apenas do contato com o outro: a Europa passou a dominar esses novos e antigos territórios, cujos habitantes passaram a ser submetidos ao homem europeu. O contato, portanto, não despertou, no europeu, a vontade de incorporar o outro, aquele que, aos seus olhos, parecia estranho; senão tornou o estranhamento o princípio maior da violência da conquista, aliado às ambições econômicas e políticas inerentes aos processos colonizadores. Povos inteiros pereceram sob as convicções de superioridade europeia. Estima-se que 70 milhões de índios, na América, tenham morrido, direta ou indiretamente, pelo contato com os colonizadores espanhóis e portugueses. Africanos foram apresados em seu próprio continente e trazidos como escravos para a América, relegando-se toda a sua constituição cultural. A questão é que não se tratava de uma opção por não compreender a cultura de índios, negros e orientais, mas sim da convicção de que se tratava de povos não portadores de cultura ou portadores de culturas inferiores. Ainda que o cristianismo, praticado nos principais países colonizadores do período, tenha defendido, em termos teológicos, a igualdade entre os homens, o histórico de violências da Igreja em relação a povos não-cristãos bem como as necessidades de manutenção dos alicerces de uma sociedade construída sobre bases escravistas reafirmavam a bestialização dos povos não-europeus, afirmando o princípio das raças. Com o movimento chamado “Humanismo”, no contexto do Renascimento, esse caráter civilizador europeu passou a ser alvo de críticas na própria Europa. Autores como Thomas More, La Boètie, Montaigne e Erasmo de Rotterdam, entre outros, fizeram pesados ataques à moral europeia e a suas convicções de superioridade em relação aos povos dominados pelo homem branco. Essa crítica, expressa nas duas gerações do humanismo do Renascimento, dos séculos XVI e XVII, serviu de fundamento para o desenvolvimento posterior do movimento iluminista, que caracterizou o chamado Século das Luzes: o séc. XVIII. Pensadores europeus, primordialmente franceses, subverteram a interpretação valorativa dada aos "selvagens" como povos não-portadores de cultura, exaltando o exótico, que seguia incompreendido. Criou-se, nesse momento, o mito do "bom selvagem". Do séc. XVI ao XVIII, a crítica à cultura europeia deu-se por meio de sua relativização com as culturas dominadas. Exaltando-as, marcou-se um relevante esforço, primeiro, para o reconhecimento de que eram povos portadores de cultura; segundo, para o reconhecimento de que não se tratava de culturas inferiores. Mesmo assim, não deixava de ser uma visão “de fora” e que acabava, na prática, reafirmando a cultura europeia, uma vez que sua pretensão não era compreender o outro, senão reformar a civilização ocidental. Vimos que, na segunda metade do século XIX, as teses de Charles Darwin sobre a evolução das espécies influenciaram enormemente as ciências biológicas. Este século posterior às luzes, o século do cientificismo, foi marcado, então, pela visão evolucionista. Se pensarmos nas duas antropologias que estavam em prática nesse contexto (física e cultural), o evolucionismo lançava novas luzes a ambas. Isso, porque restos arqueológicos, fossem restos humanos ou artefatos desenvolvidos e utilizados por humanos, além de datados, poderiam ser classificados segundo seu percurso evolutivo. Com relação à Antropologia Física, muitos dos restos esqueletais não correspondiam, em alguns detalhes morfológicos, às características do homem atual. Darwin era o primeiro a dar uma explicação consistente, a partir da tese da perpetuação dos mais aptos, a esse Thomas More estranho fenômeno. Ou seja, as diversas configurações anatômicas diferentes do ser humano atual, verificadas em ossadas humanas, validavam a tese de que também o Homem evoluía. Era possível, então, ordenar logicamente as etapas que constituíam a linearidade evolutiva humana, bem como criar tipologias para os artefatos arqueológicos escavados. Temos, portanto, a figura do antropólogo atrelada às pesquisas sobre a antiguidade e o percurso evolutivo do Homem. Sendo assim, o antropólogo em questão era, essencialmente, um pesquisador de gabinete, ou seja, trabalhava com os dados e elementos coletados por outros pesquisadores em suas atividades de campo. Até mesmo os antropólogos que se dedicavam aos estudos culturaiscaracterizavam- se, também, como intelectuais de gabinete, uma vez que lidavam com dados obtidos por cronistas viajantes, navegantes, missionários religiosos e exploradores mercenários. Desse modo, o despreparo teórico daqueles que descreviam a cultura, até então, desconhecida era marcado por posturas eurocêntricas que tendiam a sublinhar os caracteres culturais mais exóticos, ou seja, aqueles que maior estranhamento causavam no europeu ainda portador de convicções de superioridade cultural. O resultado disso foi uma primeira Antropologia caracterizada pela excessiva teorização e distante demais da realidade. No que tange aos aspectos culturais, sob a influência do darwinismo que impregnava sua dimensão física, a Antropologia do século XIX entendia as sociedades primitivas como se estivessem em uma etapa infantil, em relação às sociedades adultas: os povos civilizados europeus. Essa convicção alocava as sociedades europeias como o fim máximo de um processo civilizador, cujo resultado seria inexorável: todas as sociedades evoluiriam segundo o modelo europeu de cultura. Esse tipo de convicção, profundamente ideológica e preconceituosa, só mudaria com o advento do trabalho antropológico de campo, instituído, como prática, no final do século XIX. Esse novo antropólogo não deveria se restringir ao gabinete, não deveria trabalhar com materiais e dados coletados ou descritos por amadores, sob pena de comprometer gravemente a própria pesquisa. O antropólogo seria convertido no pesquisador que se deslocaria fisicamente até a sociedade a ser investigada, ou seja, trabalharia em pesquisas de campo, nas quais o próprio antropólogo observa e coleta os dados que deverá analisar. É no final do séc. XIX que o antropólogo se torna o investigador cuja tarefa é se deslocar aos lugares mais distantes do mundo, aprendendo a conviver com pequenas comunidades, observando-as e coletando informações com o rigor metodológico que também vai se estabelecendo em torno dessas novas tarefas. As mudanças para a Antropologia foram extremamente significativas. O contato mais íntimo com povos que, até então, eram compreendidos como simples e inferiores revelou práticas sociais e dinâmicas de organização extremamente complexas e impôs uma possibilidade interpretativa: não eram povos inferiores, mas sim distintos. Essa primeira e mais importante barreira ideológica só foi rompida, sobretudo, pela observação antropológica empírica. Essas mudanças não se operaram imediatamente, tampouco em ambiente harmonioso. Nesse final de século, o contato dos antropólogos ocidentais com outros povos foi marcado por atitudes de superioridade; tanto é que, na literatura antropológica do período, são comuns termos como "povos primitivos" e "selvagens" em referência a eles. Esses paradigmas vigeram na nascente Antropologia, pode-se dizer, até o trabalho pioneiro do antropólogo teuto-americano Franz Boas e de seus discípulos, trabalho, esse, que consistiu no mais importante ponto de inflexão nos estudos antropológicos, ocasionando o declínio da Antropologia Rácica, uma vez que sua proposta relativista desmontava a ideia de proximidade entre evolução biológica e cultural. No livro "As Limitações do Método Comparativo em Antropologia", de 1896, Boas demonstrou como os primeiros antropólogos estavam preocupados com questões puramente históricas e, enveredando por análises comparativas e valorativas, identificavam semelhanças e afinidades dos povos como indicadores de uma origem comum. Seu pioneirismo consiste na construção teórica que assentou métodos radicalmente distintos daqueles engendrados nos modos de conceber e estudar as culturas humanas, propondo relativizá-las, em vez de escaloná-las hierarquicamente. Não que estudos comparativos não pudessem ser feitos entre distintas culturas, ou mesmo que não se pudesse identificar uma origem comum para ambas. O que Boas propunha era um processo indutivo que identificasse as relações que possibilitariam a comparação, para o, então, estabelecimento das conexões históricas pertinentes. Para Boas, o mesmo fenômeno tem sentidos variados em cada cultura. Sendo assim, o fato de ocorrências semelhantes serem identificadas em distintas culturas não constitui prova de uma origem comum. Consequentemente, não havendo uma única origem cultural, não se pode falar em cultura, senão em culturas. Ou A História da Antropologia por Franz Boas seja, cada cultura tem sua própria história; não há uma cultura humana universal e originária (como pressupunham os evolucionistas). Sendo, então, autônomas, todas as culturas seriam também dinâmicas em suas transformações ao longo do tempo. Nesse contexto, suas críticas pesavam mais gravemente sobre os determinismos biológicos e geográficos e também sobre o transporte de categorias explicativas evolucionistas para o tratamento das relações culturais, o que havia levado ao fenômeno do evolucionismo cultural. Contrário a essa explicação evolucionista para a diferenciação das culturas, Boas demonstrou que cada sistema cultural constitui uma unidade integrada, resultado de um desenvolvimento histórico específico. Com isso, determinou a independência dos fenômenos culturais em relação aos condicionantes geográficos e biológicos, vigentes como explicação desde o período formativo da Antropologia. As dinâmicas culturais estariam desatreladas desses elementos, obedecendo apenas à lógica da interação entre os indivíduos, o meio e a sociedade. A concepção evolucionista aplicada à cultura, responsável pelo assentamento de uma visão etapista linear, na forma de estágios evolutivos e obrigatórios, pelos quais, obrigatoriamente, todas as sociedades passariam, assistia ao surgimento de sua mais severa e consistente crítica. Essa nova postura teórica deslocou completamente os sentidos gerais da Antropologia, desde seus objetos e objetivos até o ofício do antropólogo, que passava a ser o estudo de sistemas culturais particulares e não da identificação de uma cultura universal. Com relação ao método, o princípio fundamental é o da relativização, ou seja, culturas são relativas e não mantêm relação hierárquica alguma no âmbito dos valores que lhes possam ser atribuídos. O papel do antropólogo seria, portanto, o de não emitir juízos de valor, mas o de relativizar suas posturas. Para o caso de você desejar se aprofundar em algumas questões trabalhadas no conteúdo, disponibilizamos, aqui, uma relação de materiais complementares que podem ser extremamente elucidativos. Vídeo: “Antropologia Cultural” YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=peDmuJtDjng “Cultura: um conceito antropológico” YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=5fqXa-IVvf8&feature=related Entrevista: Revista Cult - Entrevista – Bruno Latour Publicado em 31 de março de 2010 http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/entrevista-bruno-latour/ Material Complementar http://www.youtube.com/watch?v=peDmuJtDjng http://www.youtube.com/watch?v=5fqXa-IVvf8&feature=related http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/entrevista-bruno-latour/ CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à África, São Paulo, Brasiliense, 1985. DURKHEIM, Émile e Marcel MAUSS, “Algumas formas primitivas de classificação: contribuição para o estudo das representações coletivas”. 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