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teorico 5

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Prévia do material em texto

Responsável pelo Conteúdo: 
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni 
 
Revisão Textual: 
Profª. Esp. Vera Lidia Cicaroni 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sendo assim, este é um conteúdo fundamental, não só porque nos serve de base informativa 
para compreender as mais significativas transformações pelas quais passou a Antropologia, de 
sua fase clássica para a moderna, bem como os seus primeiros pressupostos teóricos, mas 
também porque nos servirá de base para compreender a questão da diversidade entre os 
povos, a partir do prisma do relativismo cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os Primórdios de uma 
Antropologia Clássica 
Caro aluno, 
 
Nesta unidade, vamos tratar do tema “Os primórdios de uma 
Antropologia Clássica”. 
Veremos como se operaram as principais transformações que 
levaram o antropólogo de gabinete, profundamente 
influenciado pelo evolucionismo darwinista em seus estudos 
sobre fósseis humanos e relatos de cronistas viajantes sobre 
povos exóticos, a tornar-se o pesquisador de campo, já 
influenciado pelo relativismo cultural e não mais 
compreendendo sociedades como primitivas ou atrasadas, 
mas entendendo seus valores e morais a partir dos referenciais 
dos povos estudados e não dos seus. 
Atenção 
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar 
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 
 
 
 
 
 
 
 
Caro aluno, 
Observe atentamente a charge ao lado. 
Ela se refere a um dos mais relevantes 
problemas vividos hoje em sociedade: o 
racismo; bem como as suas raízes 
históricas, a escravidão. 
O racismo experinciado hoje em 
realidades pós-coloniais é uma espécie de 
problema partilhado por sociedades que 
tiveram, no passado, sua economia 
pautada na utilização do trabalho escravo. 
Mas como isso foi possível, se todos 
somos humanos e devemos nos tratar 
como tais, em termos de igualdade, ainda 
que sejamos diferentes em termos 
étnicos? 
Ocorre que nem sempre esses pressupostos foram vigentes, nem mesmo nas ciências 
que nasceram no séc. XIX com o escopo de compreender a diversidade entre os povos. 
A escravidão colonial, por exemplo, teve como discurso legitimador, no séc. XIX, o 
evolucionismo que impregnou a Antropologia Clássica, e precisou mesmo haver uma 
revolução conceitual para que esses paradigmas mudassem, não sem resistência, para o 
estabelecimento do relativismo cultural. 
É grande o número de pessoas que sofrem diariamente com preconceito quanto à cor, 
a condição física, a etnia, a sexualidade, a classe social, entre outros. 
Nesta unidade vamos aprofundar o estudo sobre mudanças significativas na própria 
natureza da Antropologia. 
 
Em busca das respostas às perguntas aqui elaboradas, embrenhe-se pelo conteúdo 
teórico, apresentação narrada e demais materiais dessa unidade, a fim de entendermos mais 
sobre a dimensão cultural da condição humana. 
 
 
 
Contextualização 
 
 
 
 
Vimos que a Antropologia, por eleger como objeto de estudo o Homem, tem seus 
limites, como ciência, pouco definidos; isso, porque dizer que a Antropologia é a "ciência do 
homem" não basta. Se assim fosse, confundiríamos facilmente a Antropologia com outras 
áreas de conhecimento que também focam aspectos particulares do Homem, como a 
Medicina, a Psicologia, a Biologia, a Sociologia, a Economia etc. Portanto, dizer que se trata 
da ciência cujo objeto é o Homem não ajuda a definir adequadamente este campo de 
estudos, que prescinde, como ciência, de objetos bem definidos. 
Se recorrermos ao processo histórico 
de constituição dessa área, verificaremos 
que, com a especialização progressiva das 
ciências humanas, datada do séc. XIX, a 
Antropologia apropriava-se de questões 
que deixavam de ser consideradas pelas 
demais ciências. 
Dentre essas questões destacavam-
se aquelas que levariam à cisão entre uma 
Antropologia Física e uma Antropologia 
Cultural, respectivamente, o estudo daquilo 
que se acreditava serem as raças humanas e suas características biológicas; e o estudo do 
homem sob as perspectivas social e cultural. 
Sobre esta segunda dimensão da Antropologia, na qual se insere a organização de 
grupos sociais e as dinâmicas de convívio que desenvolvem, poder-se-ia dizer que seu objeto 
de interesse se confunde gravemente com o da Sociologia, ciência cujo objeto são as 
interações interindivíduos conformando grupos sociais e a forma como esses grupos interagem 
entre si. A Sociologia ocupa-se do estudo de sociedades consideradas modernas, porque nelas 
se verifica um alto grau de alfabetização, são densas demograficamente (podendo nelas se 
verificar o fenômeno do anonimato) e geograficamente extensas. Já a Antropologia 
comumente estuda sociedades mais simples, ágrafas em muitos casos e conformadas por 
poucos membros, estabelecendo laços sociais muito mais estreitos. Contudo, essa regra se 
aplica ao que podemos caracterizar como Antropologia Clássica, ou seja, a configuração da 
Antropologia em seu período de formação, uma vez que, hoje, subáreas, como a Antropologia 
Urbana, a Antropologia do Cotidiano e a Etnografia Urbana, ocupam-se, exatamente, de tipos 
de sociedade complexa, dificultando a distinção (por conta de sua abordagem e métodos) em 
relação aos enfoques dados pela Sociologia. 
 
 
 
 
Os Primórdios de uma Antropologia Clássica 
 
 
 
 
Com o amplo desenvolvimento das ciências no 
séc. XIX, houve significativas transformações em áreas 
afins que acabaram sendo imediatamente incorporadas 
pela nascente Antropologia. É o caso das ciências da 
natureza (como a química, primordialmente), de 
métodos para datação de materiais orgânicos, dentre 
estes, restos esqueletais, o que possibilitava determinar a 
antiguidade do próprio ser humano. 
O desenvolvimento desses métodos e técnicas 
para datação resultou em um enorme esforço para 
determinar a antiguidade dos inúmeros restos humanos 
que se encontravam guardados em museus, 
universidades e centros de pesquisa, produto de 
descobertas arqueológicas, por vezes, muito anteriores a 
esse século XIX. Esse esforço redundou no 
desenvolvimento de uma nova ciência, dedicada a esses 
estudos e que passava a assumir, como objetivo, a 
determinação não só da antiguidade do Homem, mas 
também dos processos de evolução biológica e social de nossos antepassados: a Antropologia. 
A primeira cisão entre estudos de ordem física e de ordem cultural, dentro da 
Antropologia, deu-se exatamente no momento em que antropólogos já se definiam como 
aqueles que estudavam sociedades distintas das europeias - como grupamentos humanos 
autóctones ou sociedades consideradas primitivas, por exemplo - e um novo grupo de 
cientistas surgiu, autodenominando-se também antropólogos, mas voltados à investigação 
sobre aspectos rácicos, biológicos e evolutivos do Homem. 
É importante salientar que, se não houve acordo quanto ao emprego do termo 
“antropólogo”, tampouco houve em relação ao termo Antropologia. 
Apesar de nossa conceituação ter bem clara a distinção entre Antropologia Física e 
Antropologia Social e Cultural, acompanhando uma interpretação vigente nos Estados Unidos 
e na Inglaterra, a escola francesa não acata essa terminologia e utiliza o termo Antropologia 
para se referir ao que conhecemos como Antropologia Física e não utiliza o termo 
Antropologia Social e Cultural, substituindo-o por Etnologia, ao contrário do que fazem os 
autores anglo-saxões. 
Essa grande imprecisão terminológica explica-se pelo fato de a Antropologia ter 
progredido em círculos científicos e países muito distintos, resultando um relativo grau de 
autonomia entre as correntes, que, a partir de distintos pontos de vista, enveredaram por este 
complexo campo de estudos. 
Nas grandes religiões que atravessaram a História verifica-se um princípio comum:o de 
que os homens são iguais. Contudo, se perscrutarmos as dinâmicas sociais das mais distintas 
 
 
civilizações, encontramos a prática da discriminação racial, o que pressupõe convicções de 
superioridade e atribuição ao outro da condição de inferioridade, segundo as suas 
características, primordialmente, biotípicas. 
As civilizações clássicas – Grécia e Roma - praticaram o escravismo com base, 
fundamentalmente, nesse princípio. Aind a que se 
tenha iniciado com a prática da escravidão por dívida, 
quando se tornou o eixo central da economia antiga, o 
escravo já era, invariavelmente, aquele que, de fora 
dos limites dos domínios dessas civilizações, havia sido 
apresado. Mais do que isso, por não pertencer à 
civilização greco-romana, não seria merecedor da 
categoria de humano. Desponta aí a discriminação por 
conta da diferença não só de caracteres físicos, mas, 
sobretudo, culturais, uma vez que o “bárbaro” não 
falava o mesmo idioma, não comungava da mesma fé 
religiosa, não era portador da mesma moral e 
observador das mesmas tradições, costumes etc. 
No contexto da civilização romana, da qual herdamos uma série de caracteres, isso 
valia para todos os que estavam de fora de suas fronteiras, e, por isso, eram caracterizados 
como bárbaros. Evidentemente, a barbárie define-se pela contraposição ao conceito de 
civilização; sendo assim, o termo é claramente pejorativo e expressa juízos de valor assentados 
na convicção de superioridade cultural, traço característico dos povos da antiguidade clássica. 
Não estamos tratando, contudo, de condutas racistas, uma vez que a civilização 
romana se constituiu de um mosaico de povos distintos, aprofundando-se as dinâmicas de 
miscigenação já assistidas por séculos. Trata-se, em essência, de uma distinção cultural que 
permitia, por exemplo, submeter e dominar o outro, entendido como bárbaro, em nome de 
uma cultura superior, signo de civilização. 
Mesmo com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, a mesma lógica 
atravessou os quase mil anos de Idade Média, na Europa, sob domínio da cristandade. As 
convicções religiosas medievais, sob o cristianismo, não só assumiram um caráter opressor 
sobre outros credos religiosos (como o judaísmo e o islamismo, por exemplo), mas 
fundamentalmente compunham um repertório cultural que se autorreferia como superior 
frente a outras culturas que, não mais nominadas bárbaras, eram referidas como pagãs (não-
cristãs), portanto, para eles, inferiores, o que legitimava sua submissão ou conversão pela 
força. 
 
 
Na era moderna, inaugurada 
com a queda do Império Romano do 
Oriente (quando Constantinopla caiu 
sob domínio turco), em 1453, assistiu-
se à mesma lógica, obviamente 
readequada para um novo contexto 
histórico. A partir do Renascimento, a 
expansão europeia para a Ásia e África 
bem como a conquista e dominação 
do Novo Mundo estavam carregadas 
desse sentimento de superioridade 
civilizacional, dessa vez associada ao 
homem europeu, ou seja, ao homem 
branco. É aí, nesse momento, que a questão da superioridade cultural, ou civilizacional, 
passou a ser mais diretamente associada à cor da pele. 
Esse processo ocorreu, exatamente, no contexto da expansão europeia por meio das 
navegações e explicava-se, também, pelo fato de o contato com povos até então 
desconhecidos ter possibilitado saber da existência de distintas etnias, hábitos culturais, 
religiões e constituições biotípicas. Não se tratava apenas do contato com o outro: a Europa 
passou a dominar esses novos e antigos territórios, cujos habitantes passaram a ser 
submetidos ao homem europeu. 
O contato, portanto, não despertou, no europeu, a vontade de incorporar o outro, 
aquele que, aos seus olhos, parecia estranho; senão tornou o estranhamento o princípio maior 
da violência da conquista, aliado às ambições econômicas e políticas inerentes aos processos 
colonizadores. 
Povos inteiros pereceram sob as convicções de superioridade europeia. Estima-se que 
70 milhões de índios, na América, tenham morrido, direta ou indiretamente, pelo contato com 
os colonizadores espanhóis e portugueses. Africanos foram apresados em seu próprio 
continente e trazidos como escravos para a América, relegando-se toda a sua constituição 
cultural. 
A questão é que não se tratava de uma opção por não compreender a cultura de 
índios, negros e orientais, mas sim da convicção de que se tratava de povos não portadores de 
cultura ou portadores de culturas inferiores. 
Ainda que o cristianismo, praticado nos principais países colonizadores do período, 
tenha defendido, em termos teológicos, a igualdade entre os homens, o histórico de violências 
da Igreja em relação a povos não-cristãos bem como as necessidades de manutenção dos 
alicerces de uma sociedade construída sobre bases escravistas reafirmavam a bestialização dos 
povos não-europeus, afirmando o princípio das raças. 
 
 
 
Com o movimento chamado “Humanismo”, no 
contexto do Renascimento, esse caráter civilizador europeu 
passou a ser alvo de críticas na própria Europa. Autores como 
Thomas More, La Boètie, Montaigne e Erasmo de Rotterdam, 
entre outros, fizeram pesados ataques à moral europeia e a 
suas convicções de superioridade em relação aos povos 
dominados pelo homem branco. 
Essa crítica, expressa nas duas gerações do humanismo 
do Renascimento, dos séculos XVI e XVII, serviu de 
fundamento para o desenvolvimento posterior do movimento 
iluminista, que caracterizou o chamado Século das Luzes: o 
séc. XVIII. 
Pensadores europeus, primordialmente franceses, 
subverteram a interpretação valorativa dada aos "selvagens" como povos não-portadores de 
cultura, exaltando o exótico, que seguia incompreendido. Criou-se, nesse momento, o mito do 
"bom selvagem". 
Do séc. XVI ao XVIII, a crítica à cultura europeia deu-se por meio de sua relativização 
com as culturas dominadas. Exaltando-as, marcou-se um relevante esforço, primeiro, para o 
reconhecimento de que eram povos portadores de cultura; segundo, para o reconhecimento 
de que não se tratava de culturas inferiores. 
Mesmo assim, não deixava de ser uma visão “de fora” e que acabava, na prática, 
reafirmando a cultura europeia, uma vez que sua pretensão não era compreender o outro, 
senão reformar a civilização ocidental. 
 
Vimos que, na segunda metade do século XIX, 
as teses de Charles Darwin sobre a evolução 
das espécies influenciaram enormemente as 
ciências biológicas. 
Este século posterior às luzes, o século do 
cientificismo, foi marcado, então, pela visão 
evolucionista. Se pensarmos nas duas 
antropologias que estavam em prática nesse 
contexto (física e cultural), o evolucionismo 
lançava novas luzes a ambas. Isso, porque 
restos arqueológicos, fossem restos humanos 
ou artefatos desenvolvidos e utilizados por humanos, além de datados, poderiam ser 
classificados segundo seu percurso evolutivo. 
Com relação à Antropologia Física, muitos dos restos esqueletais não correspondiam, 
em alguns detalhes morfológicos, às características do homem atual. Darwin era o primeiro a 
dar uma explicação consistente, a partir da tese da perpetuação dos mais aptos, a esse 
Thomas More 
 
 
estranho fenômeno. Ou seja, as diversas configurações anatômicas diferentes do ser humano 
atual, verificadas em ossadas humanas, validavam a tese de que também o Homem evoluía. 
Era possível, então, ordenar logicamente as etapas que constituíam a linearidade 
evolutiva humana, bem como criar tipologias para os artefatos arqueológicos escavados. 
Temos, portanto, a figura do antropólogo 
atrelada às pesquisas sobre a antiguidade e o 
percurso evolutivo do Homem. Sendo assim, o 
antropólogo em questão era, essencialmente, um 
pesquisador de gabinete, ou seja, trabalhava com 
os dados e elementos coletados por outros 
pesquisadores em suas atividades de campo. 
Até mesmo os antropólogos que se 
dedicavam aos estudos culturaiscaracterizavam-
se, também, como intelectuais de gabinete, uma 
vez que lidavam com dados obtidos por cronistas viajantes, navegantes, missionários religiosos 
e exploradores mercenários. Desse modo, o despreparo teórico daqueles que descreviam a 
cultura, até então, desconhecida era marcado por posturas eurocêntricas que tendiam a 
sublinhar os caracteres culturais mais exóticos, ou seja, aqueles que maior estranhamento 
causavam no europeu ainda portador de convicções de superioridade cultural. 
O resultado disso foi uma primeira Antropologia caracterizada pela excessiva teorização 
e distante demais da realidade. 
No que tange aos aspectos culturais, sob a influência do darwinismo que impregnava 
sua dimensão física, a Antropologia do século XIX entendia as sociedades primitivas como se 
estivessem em uma etapa infantil, em relação às sociedades adultas: os povos civilizados 
europeus. Essa convicção alocava as sociedades europeias como o fim máximo de um 
processo civilizador, cujo resultado seria inexorável: todas as sociedades evoluiriam segundo o 
modelo europeu de cultura. 
Esse tipo de convicção, profundamente ideológica e preconceituosa, só mudaria com o 
advento do trabalho antropológico de campo, instituído, como prática, no final do século XIX. 
Esse novo antropólogo não deveria se restringir ao gabinete, não deveria trabalhar com 
materiais e dados coletados ou descritos por amadores, sob pena de comprometer gravemente 
a própria pesquisa. O antropólogo seria convertido no pesquisador que se deslocaria 
fisicamente até a sociedade a ser investigada, ou seja, trabalharia em pesquisas de campo, nas 
quais o próprio antropólogo observa e coleta os dados que deverá analisar. 
É no final do séc. XIX que o antropólogo se torna o investigador cuja tarefa é se 
deslocar aos lugares mais distantes do mundo, aprendendo a conviver com pequenas 
comunidades, observando-as e coletando informações com o rigor metodológico que também 
vai se estabelecendo em torno dessas novas tarefas. 
 
 
As mudanças para a Antropologia foram extremamente significativas. O contato mais 
íntimo com povos que, até então, eram compreendidos como simples e inferiores revelou 
práticas sociais e dinâmicas de organização extremamente complexas e impôs uma 
possibilidade interpretativa: não eram povos inferiores, mas sim distintos. 
Essa primeira e mais importante barreira ideológica só foi rompida, sobretudo, pela 
observação antropológica empírica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Essas mudanças não se operaram imediatamente, tampouco em ambiente harmonioso. 
Nesse final de século, o contato dos antropólogos ocidentais com outros povos foi marcado 
por atitudes de superioridade; tanto é que, na literatura antropológica do período, são comuns 
termos como "povos primitivos" e "selvagens" em referência a eles. 
Esses paradigmas vigeram na nascente Antropologia, pode-se dizer, até o trabalho 
pioneiro do antropólogo teuto-americano Franz Boas e de seus discípulos, trabalho, esse, que 
consistiu no mais importante ponto de inflexão nos estudos antropológicos, ocasionando o 
declínio da Antropologia Rácica, uma vez que sua proposta relativista desmontava a ideia de 
proximidade entre evolução biológica e cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No livro "As Limitações do Método Comparativo em Antropologia", de 1896, Boas 
demonstrou como os primeiros antropólogos estavam preocupados com questões puramente 
históricas e, enveredando por análises comparativas e valorativas, identificavam semelhanças 
e afinidades dos povos como indicadores de uma origem comum. 
Seu pioneirismo consiste na construção teórica que assentou métodos radicalmente 
distintos daqueles engendrados nos modos de conceber e estudar as culturas humanas, 
propondo relativizá-las, em vez de escaloná-las hierarquicamente. 
Não que estudos comparativos não pudessem ser feitos 
entre distintas culturas, ou mesmo que não se pudesse identificar 
uma origem comum para ambas. O que Boas propunha era um 
processo indutivo que identificasse as relações que possibilitariam 
a comparação, para o, então, estabelecimento das conexões 
históricas pertinentes. 
Para Boas, o mesmo fenômeno tem sentidos variados em 
cada cultura. Sendo assim, o fato de ocorrências semelhantes 
serem identificadas em distintas culturas não constitui prova de 
uma origem comum. 
Consequentemente, não havendo uma única origem 
cultural, não se pode falar em cultura, senão em culturas. Ou 
A História da Antropologia por Franz Boas 
 
 
 
seja, cada cultura tem sua própria história; não há uma cultura humana universal e originária 
(como pressupunham os evolucionistas). 
Sendo, então, autônomas, todas as culturas seriam também dinâmicas em suas 
transformações ao longo do tempo. 
Nesse contexto, suas críticas pesavam mais gravemente sobre os determinismos 
biológicos e geográficos e também sobre o transporte de categorias explicativas evolucionistas 
para o tratamento das relações culturais, o que havia levado ao fenômeno do evolucionismo 
cultural. 
Contrário a essa explicação evolucionista para a diferenciação das culturas, Boas 
demonstrou que cada sistema cultural constitui uma unidade integrada, resultado de um 
desenvolvimento histórico específico. 
Com isso, determinou a independência dos fenômenos culturais em relação aos 
condicionantes geográficos e biológicos, vigentes como explicação desde o período formativo 
da Antropologia. As dinâmicas culturais estariam desatreladas desses elementos, obedecendo 
apenas à lógica da interação entre os indivíduos, o meio e a sociedade. 
A concepção evolucionista aplicada à cultura, responsável pelo assentamento de uma 
visão etapista linear, na forma de estágios evolutivos e obrigatórios, pelos quais, 
obrigatoriamente, todas as sociedades passariam, assistia ao surgimento de sua mais severa e 
consistente crítica. 
Essa nova postura teórica deslocou completamente os sentidos gerais da Antropologia, 
desde seus objetos e objetivos até o ofício do antropólogo, que passava a ser o estudo de 
sistemas culturais particulares e não da identificação de uma cultura universal. 
Com relação ao método, o princípio fundamental é o da relativização, ou seja, culturas 
são relativas e não mantêm relação hierárquica alguma no âmbito dos valores que lhes 
possam ser atribuídos. O papel do antropólogo seria, portanto, o de não emitir juízos de valor, 
mas o de relativizar suas posturas. 
 
 
 
 
 
 
Para o caso de você desejar se aprofundar em algumas questões trabalhadas no conteúdo, 
disponibilizamos, aqui, uma relação de materiais complementares que podem ser 
extremamente elucidativos. 
 
Vídeo: 
 
“Antropologia Cultural” 
YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=peDmuJtDjng 
 
“Cultura: um conceito antropológico” 
YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=5fqXa-IVvf8&feature=related 
 
Entrevista: 
 
Revista Cult - Entrevista – Bruno Latour 
Publicado em 31 de março de 2010 
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/entrevista-bruno-latour/ 
Material Complementar 
http://www.youtube.com/watch?v=peDmuJtDjng
http://www.youtube.com/watch?v=5fqXa-IVvf8&feature=related
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/entrevista-bruno-latour/
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à 
África, São Paulo, Brasiliense, 1985. 
DURKHEIM, Émile e Marcel MAUSS, “Algumas formas primitivas de classificação: 
contribuição para o estudo das representações coletivas”. Em Ensaios de Sociologia, São 
Paulo, Perspectiva, 1981, pp. 399-455. 
EVANS-PRITCHARD, E.E. Os Nuer. São Paulo, Editora Perspectiva, 2002. 
MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a Dádiva”. Em Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro, 
Cosac & Naify, 2004. 
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978. 
SAHLINS, Marshall. Ilhas de História, Rio de Janeiro, Jorge Zahar,1990. 
LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. São Paulo, Companhia Ed. Nacional, 
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MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Brasília, Editora 
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MATTA, Roberto da. “Carnavais, malandros e heróis". Em Carnavais, malandros e heróis: 
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MATTA, Roberto da. “Relativizando". Em Relativizando: uma introdução à antropologia 
social. 4 ed. Rocco, 1993. 246 p. 
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OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. "O índio e o mundo dos brancos". Em O índio e o mundo 
dos brancos. 3 ed. Universidade de Brasília, 1981. 131 p. v. 
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Em A Inconstância de Alma Selvagem, São Paulo, Cosac & Naify, 2002, pp. 345-399. 
 
Referências 
 
 
 
 
 
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