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1 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Clínica Cirúrgica, VIII° IMPORTANTE frisar que este tema é, no mínimo, IMENSO. No entanto, neste resumo, frisaremos os tópicos + importantes e discutidos pelos preceptores do 8° período, 2023.1. Mas lembre-se, o conteúdo COMPLETO é constituído de mais doenças que as abordadas neste resumo! Intussuscepção Intestinal A intussuscepção ou invaginação intestinal ocorre quando um segmento proximal de alça intestinal penetra em um segmento distal, causando compressão vascular do mesentério. Como consequência, há edema e isquemia da alça, com risco de necrose e perfuração. Essa entidade pode se manifestar em qualquer idade, mas apenas 10% a 25% dos casos ocorrem após os dois anos, sendo o pico de incidência entre o quinto e o nono mês de vida. Na esmagadora maioria dos casos (90%) a causa é idiopática, mas lesões anatômicas podem causar a invaginação neste contexto, o divertículo de Meckel é a lesão que mais se associa à intussuscepção secundária em crianças. Outras causas de intussuscepção secundária: Pólipos intestinais. Apêndice inflamado. Hemorragia submucosa associada à púrpura de Henoch-Schönlein. Corpo estranho. Tecido gástrico ou pancreático ectópico Duplicação intestinal A intussuscepção ocorre predominantemente na região ileocecal (80% dos casos). Classicamente a intussuscepção intestinal acomete lactentes entre 04 a 12 meses. A criança com esse diagnóstico apresenta episódios de dor abdominal aguda intensa e intermitente, caracteristicamente em cólica, acompanhada de palidez cutânea, sudorese e contração dos membros inferiores. Após o primeiro surto de dor, a criança permanece relativamente bem, mas em seguida volta a apresentar novo episódio álgico. Os surtos passam então a ser mais frequentes, surgem vômitos e eliminação anal de muco com sangue, com aspecto que lembra "geleia de morango". Se a intussuscepção não for diagnosticada e tratada precocemente, evolui para obstrução grave e possível necrose da alça intestinal! Geralmente, quando há procura por atendimento médico, o lactente já se apresenta prostrado, apático, com palidez cutânea e pele fria. Ao exame do abdome, palpa-se massa alongada, tubuliforme, no quadrante superior direito ou epigástrio. Também é descrito o sinal de Dance, que corresponde à fossa ilíaca direita “vazia” ou escafóide. O toque retal também é um elemento de importância fundamental para constatar a presença de sangue nas fezes ou de muco com sangue (geleia de morango). Em 50% dos casos, o diagnóstico pode ser suspeitado pela radiografia simples de abdome. Os achados desse exame incluem a presença de massa, geralmente em fossa ilíaca direita, ausência de gás colônico e distensão de alças de intestino delgado proximais à invaginação. No entanto, a USG abdominal é um exame mais sensível e específico que a radiografia, sendo realizada como prova diagnóstica inicial. Trata-se de exame não invasivo, rápido, de baixo custo e que permite um diagnóstico acurado. Os achados característicos incluem: 2 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! “Sinal do alvo”: corresponde a camadas concêntricas de ecogenicidades diferentes, em visão transversal à USG “Pseudo-rim”: corresponde à imagem da secção longitudinal da área de intussuscepção Tratamento A redução hidrostática por enema, utilizando contraste ou ar, é o procedimento terapêutico de eleição – contraindicações? Peritonite ou instabilidade hemodinâmica. A intussuscepção do intestino delgado também não costuma ser reduzida com sucesso através de enema. Portanto, esse método não é recomendado como terapia de escolha para esses casos. A redução hidrostática, quando indicada adequadamente, é bem-sucedida em mais de 80% dos casos. A confirmação do sucesso do tratamento é feita pela resolução da massa abdominal e pelo refluxo de ar no íleo terminal à radiografia. É possível que haja recidiva dentro das primeiras 24h pós procedimento principalmente e a redução hidrostática é realizada novamente. NO ENTANTO, uma terceira recorrência é indicação de cirurgia. Durante a cirurgia, é feita a desinvaginação por meio de manobras suaves de “ordenha retrógrada”. Em caso de necrose, o segmento acometido é ressecado e o trânsito reconstruído. Apendicite Aguda Ocorre em qualquer idade, mas na faixa pediátrica é mais comum entre os 4 e 15 anos. O principal fator desencadeante da apendicite aguda é a obstrução da luz apendicular. Na criança, a causa mais frequente de obstrução segue-se a um processo viral que provoca hiperplasia linfoide e obstrução do lúmen apendicular. Após 12 a 24 horas do início do processo, a obstrução do lúmen apendicular e a distensão do órgão levam ao comprometimento do retorno venoso e linfático, gerando isquemia. A inflamação decorrente de todos esses eventos atinge o peritônio parietal, que apresenta inervação somática e, então, o paciente passa a apresentar dor localizada em fossa ilíaca direita, acompanhada de sinais de peritonite localizada, como dor à descompressão brusca da fossa ilíaca direita ou mesmo à percussão local. Se a apendicite não for diagnosticada e prontamente tratada, podem ocorrer microperfurações, que tendem a evoluir para ruptura total do apêndice. Nesse caso, pode haver peritonite franca, com pus disseminado pela cavidade ou, então, abscesso na fossa ilíaca direita. 3 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! À palpação abdominal, há dor à descompressão brusca de fossa ilíaca direita, no chamado ponto de McBurney. Por vezes, pode ser difícil distinguir gastroenterite de apendicite aguda, independentemente da faixa etária. Portanto, devemos lembrar que na gastroenterite é comum haver diarreia e vômitos precoces e persistentes. Por outro lado, na apendicite, esses sintomas são limitados e menos intensos. O diagnóstico da apendicite aguda é essencialmente clínico, feito através da anamnese e exame físico abdominal. O exame de imagem de escolha para investigação diagnóstica da apendicite é a ultrassonografia do abdome. Os achados ultrassonográficos compatíveis com apendicite aguda incluem: Apêndice com diâmetro ≥ 07 mm; Estrutura luminal não compressível, vista longitudinalmente; Paredes espessadas, imagem referida como “aspecto em alvo”; Fluxo sanguíneo é aumentado ao doppler, levando ao chamado “anel de aparência de fogo”; Líquido periapendicular, abscesso ou aparência de massa (estágios mais avançados). . O tratamento da apendicite é a apendicectomia, que pode ser realizada por via convencional ou laparoscópica. Além disso, está indicado o uso de antibióticos com cobertura para aeróbios e anaeróbios da flora colônica. Essas medicações devem ser introduzidas no pré- operatório e podem ser suspensas após a cirurgia, nos casos de apendicite não complicada. Divertículo de Meckel O divertículo de Meckel (DM) é a anomalia congênita mais comum do trato gastrointestinal. Trata-se de um remanescente do conduto onfalomesentérico embrionário. Tem predomínio na população do sexo masculino (3:1). Pode se manifestar em qualquer idade. Tipicamente, se localizam na borda antimesentérica do íleo, entre 45 a 60 cm da válvula ileocecal, chegando até a 120 cm desta. Entre a 5° e 7° semana da gestação ocorre a obliteração do conduto onfalomesentérico, resultando na formação de um tecido fibroso que, mais tarde, será reabsorvido. 4 Khilver Doanne Sousa SoaresMaterial restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! OBS.: em boa parte das vezes, os pacientes apresentam mucosa gástrica ou pancreática em sua composição. Isso leva à produção dos sucos que estas mucosas produzem normalmente e podem levar à hemorragia, obstrução, inflamação e perfuração do divertículo. A investigação do divertículo de Meckel ou de outros remanescentes do ducto vitelino pode ser feita através de ultrassonografia e/ou radiografia contrastada lateral. O tratamento do divertículo de Meckel complicado é cirúrgico. Em pacientes que apresentam ulceração ou inflamação envolvendo a base do divertículo, está indicada ressecção do segmento de intestino delgado envolvido e anastomose primária término-terminal. Atresia da Via Biliar - AVB É uma doença rara de recém-nascidos, caracterizada pela obliteração inflamatória de ductos biliares intra e extra-hepáticos. A AVB é a doença hepática cirúrgica mais comum no RN e costuma ser extremamente agressiva, conduzindo à cirrose biliar secundária em poucas semanas. Por esse motivo deve-se diagnosticar precocemente e realizar a cirurgia antes das 12 semanas de vida! Qual a etiologia? Não se sabe ao certo, mas pode ser secundária a: 1. Insulto viral - como a infecção por rotavírus do grupo C. 2. Existência de um componente genético, envolvendo associação com alguns tipos de antígeno leucocitário humano (HLA), como o HLA-B12. Tipicamente, a AVB acomete recém- nascidos com exame clínico normal ao nascimento, com peso adequado para idade gestacional, que recebem alta em bom estado geral e que apresentam icterícia (o primeiro sinal clínico) por volta do décimo quinto dia de vida. A acolia fecal e a colúria, resultados da obstrução das vias biliares, instalam-se progressivamente e são persistentes. Após 8 a 12 semanas de evolução, o fígado já se encontra aumentado, adquirindo consistência endurecida, indicando fibrose e/ou cirrose, e, na criança não operada, surgem sinais de insuficiência hepática e de hipertensão portal. A icterícia é o principal elemento clínico da AVB. Ela acontece às custas do acúmulo de bilirrubina direta, cujas concentrações são crescentes, atingindo níveis de 12 – 14 m/mg L. O diagnóstico definitivo baseia-se na tríade: exame clínico, ultrassonografia e biópsia hepática percutânea. O ultrassom é o exame de imagem de escolha; a não visualização da vesícula biliar (vesícula atrófica ou ausente) é altamente sugestiva da doença; além disso, pode ser identificada área triangular hiperecogênica junto à bifurcação portal, chamada de “triângulo fibroso”, patognomônico da doença. Exame padrão-ouro?!? Biópsia hepática percutânea! O tratamento é a hepatoportoenterostomia de Kasai. É feita secção dos ductos ao nível do porta hepatis (placa portal) e a reconstrução é realizada por meio de hepaticojejunostomia em Y de Roux. Antibióticos devem ser continuados no pós- operatório, pois o risco de colangite é elevado (45 – 60%) devido à facilidade com que as bactérias 5 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! intestinais podem ascender e colonizar as vias biliares. A cirurgia de Kasai não cura a atresia de vias biliares, que inevitavelmente progride em mais de 70% das crianças submetidas ao procedimento. Estima-se que até 80% das crianças submetidas à cirurgia de Kasai possam viver cerca de 10 anos antes que o transplante hepático seja necessário. Nestes transplantados os resultados costumam ser bons! Estenose Hipertrófica do Piloro - EHP Uma anormalidade causada pela hipertrofia das camadas musculares do piloro, que acomete principalmente a camada muscular circular. Essa hipertrofia leva ao estreitamento da luz pilórica, dificultando a passagem do conteúdo gástrico em direção ao duodeno. Desse modo, a criança que apresenta EHP evolui com um quadro obstrutivo do trato gastrointestinal. É uma doença de recém-nascidos, mais comum no sexo masculino (4x + que nas meninas). A hipertrofia da musculatura circular do piloro resulta na obstrução da saída gástrica. Como consequência, o principal sintoma é caracterizado por vômitos em jato SEM BILE, que pioram progressivamente, tornando-se cada vez mais frequentes. Logo após os vômitos, os bebês sentem fome, ou seja, o apetite é preservado. Essa sintomatologia típica tem início entre as idades de 2-8 semanas de vida. Com os vômitos frequentes, o suco gástrico é depletado e há alcalose metabólica hipoclorêmica e hipocalêmica. Ao exame físico encontramos: 1. Oliva pilórica: a palpação de um tumor pilórico em formato de azeitona (oliva pilórica), no epigástrio ou quadrante superior direito é PATOGNOMÔNICO de EHP. Essa “oliva” é literalmente o músculo hipertrófico; 2. Ondas de Kussmaul: Em alguns casos, a peristalse gástrica pode ser observada como uma onda de contrações, que vão desde o quadrante superior esquerdo até o epigástrio. Se a apresentação clínica for sugestiva, mas a oliva pilórica não for palpável, o diagnóstico de EHP pode ser confirmado por meio de ultrassonografia. Nesse exame, são considerados achados positivos para o diagnóstico de estenose: 1. Espessamento persistente do músculo pilórico de mais de 03-04 mm de espessura; 2. Comprimento pilórico de mais de 15-18 mm, na presença de obstrução clínica da via de saída gástrica. A EHP não é uma emergência ou urgência cirúrgica. A verdadeira urgência é a correção dos distúrbios metabólicos. Portanto, antes da cirurgia, é importante que o bebê seja adequadamente reidratado com fluidos endovenosos, até que se atinja um volume de diurese adequado + correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos (alcalose e hipocalemia). O tratamento cirúrgico é a cirurgia de Fredet-Ramstedt consiste em uma piloromiotomia longitudinal. 6 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Em quatro a seis horas após a cirurgia, é reiniciada a alimentação por via gástrica Atresia de Esôfago e Fístula Traqueoesofágica A atresia do esôfago é uma malformação congênita caracterizada pela interrupção da luz esofágica em sua porção torácica, com ausência de um segmento do esôfago. A fístula traqueoesofágica (FTE), por sua vez, consiste em uma comunicação anormal entre o esôfago e a traqueia. Essas duas afecções podem ocorrer separadamente, mas frequentemente acontecem em conjunto. A prematuridade também é mais frequente nessas crianças. Em 10% dos pacientes, há associação não randômica, não hereditária, de anomalias relacionadas pelo acrônimo VACTERL: Vertebral, Anorretal, Cardíaca, Traqueal, Esofágica, Renal e Limb – membro, ou VACTER (Vertebral, Anorretal, Cardíaca, Traqueal, Esofágica, Renal ou Rádio). A atresia esofágica decorre da reabsorção do terço médio do esôfago. Esse evento cria uma falha entre o esôfago proximal e o distal. 5 tipos de atresia esofágica. O RN com atresia do esôfago com FTE pode apresentar: Salivação excessiva Regurgitação. Impossibilidade de progredir sonda gástrica. Tosse ou engasgo durante a primeira alimentação oral. Distensão gástrica aguda (pode ocorrer como resultado do ar entrando no esôfago distal e estômago através da fístula traqueal). Tosse, taquipneia, cianose e/ou apneia - o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago distal pode ultrapassar a FTE e entrar de forma abrupta na traqueia. Pneumonias aspirativas e atelectasia. E se for um caso sem fístula? O quadro respiratório é menos intenso, de início mais tardio e a sialorreia predomina! O diagnóstico pré-natal pode ser suspeitadona presença de polidrâmnio materno, frequentemente presente nos casos de atresia. A ultrassonografia também pode mostrar o coto esofágico proximal dilatado, além de uma câmara gástrica muito diminuída nos casos de atresia sem FTE. 7 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Após o nascimento, diante de suspeita clínica, a parada de progressão de sonda nasogástrica a 8 a 12 cm da narina de um RN é característica cardinal para o diagnóstico da atresia de esôfago. A atresia de esôfago não é uma urgência cirúrgica, devendo ser operada quando o recém- nascido estiver em boas condições, principalmente respiratórias. Enquanto aguarda a cirurgia, o RN é posicionado com o tronco elevado, para minimizar o refluxo gastroesofágico. Deve- se realizar também a descompressão da bolsa esofágica proximal com uma sonda de aspiração em sucção contínua, o que evita a aspiração pulmonar de saliva. Além disso, nutrição parenteral e antibióticos de amplo espectro devem ser iniciados. A conduta mais comum inclui: toracotomia posterior, identificação da fístula e sua ligadura e secção, além da anastomose primária esôfago- esofágica término-terminal. Obstrução Duodenal É consequência de defeitos embrionários no desenvolvimento. As obstruções duodenais congênitas podem ser classificadas como intrínsecas (atresia ou estenose duodenal) ou extrínsecas. Principais causas de obstrução intrínseca: Atresia Estenose Membrana duodenal Principais causas de obstrução extrínseca: Pâncreas anular Bridas de Ladd, que ocorrem com as anomalias de rotação e fixação do intestino Duplicação duodenal Veia porta em posição anterior (A) Estenose duodenal. (B) Duas extremidades separadas por um cordão fibroso. (C) Atresia por membrana mucosa. (D) Separação completa das extremidades atrésicas. Os RN com obstrução duodenal apresentam quadro de obstrução alta do trato gastrointestinal, caracterizada por vômitos precoces e distensão abdominal discreta, ou apenas em andar superior do abdome (distensão gástrica). Como na maioria dos casos a obstrução do duodeno é distal à ampola de Vater, os vômitos costumam ser biliosos. O polidrâmnio materno e a dilatação gástrica e do duodeno proximal do feto antecipam o diagnóstico de atresia duodenal O estômago dilatado e a primeira porção do duodeno obstruído aparecem no exame 8 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! ecográfico fetal como duas imagens císticas (cheias de líquido), que podem estar conectadas ou não. Imediatamente após o nascimento, uma radiografia abdominal simples mostra o típico “SINAL DA DUPLA BOLHA”, que corresponde à dilatação gasosa do estômago e da porção proximal do duodeno, sem a presença de gás no restante do intestino. O tratamento inicial do recém-nascido com atresia ou estenose duodenal inclui descompressão gástrica por meio de sondagem nasogástrica, além de reposição hidroeletrolítica e prevenção da hipotermia. É importante lembrar que até 50% dos pacientes com atresia duodenal podem apresentar vícios de rotação intestinal, com risco de volvo (torção) e isquemia da víscera. NESTES CASOS, a cirurgia deve ser realizada em critério de emergência. O tratamento para atresia duodenal pode ser restabelecido por anastomose duodenal término-terminal, latero-lateral ou término-lateral. Duodeno-duodenostomia do tipo “diamond shaped” . Atresias Jejunoileais É a atresia gastrointestinal mais comum. Acredita-se que as atresias jejunoileais ocorram como resultado de isquemia intrauterina, seguida de necrose do segmento isquêmico, que evolui para atresia. 9 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Habitualmente, o bebê nasce sem distensão abdominal, que começa a tornar-se evidente após 18 a 24 horas. A distensão pode ser acompanhada de peristaltismo visível e será mais intensa quanto mais distal a obstrução provocada pelo segmento atrésico. Vômitos biliosos podem estar presentes e, em recém-nascidos, são um importante sinal de alerta para a necessidade de investigação de obstrução intestinal congênita. Ainda, nas obstruções mais baixas, os bebês frequentemente não eliminam mecônio. O diagnóstico pode ser confirmado por meio de radiografia simples do abdome, que identifica distribuição heterogênea de gases, com níveis hidroaéreos. Na atresia jejunal alta, há poucas alças intestinais dilatadas e são visíveis no andar superior do abdome. Por outro lado, na atresia ileal baixa, há grande distensão gasosa abdominal, com dilatação de maior extensão de alças de intestino delgado. Um cateter orogástrico é colocado e ressuscitação hídrica endovenosa adequada é instituída antes da abordagem cirúrgica. Durante a cirurgia, o principal objetivo é reestabelecer a continuidade do trânsito intestinal, preservando a maior quantidade possível em extensão. Má Rotação Intestinal e Vólvulo de Intestino Médio A má rotação intestinal ou rotação intestinal incompleta engloba as múltiplas alterações da rotação e da fixação do intestino. Esse grupo de afecções congênitas inclui desde a ausência total de rotação até o simples ceco móvel. O intestino médio é o segmento que dará origem a, praticamente, todo o intestino delgado e parte do grosso. Todos os elementos originados a partir do intestino médio são supridos pela artéria mesentérica superior (AMS). A apresentação clínica varia dependendo do tipo de má rotação e se há comprometimento vascular. A maioria dos pacientes desenvolve sintomas durante o primeiro mês de vida. A rotação intestinal incompleta, por si só, não causa sintomas importantes. Os quadros clínicos mais exuberantes manifestam-se quando existem anomalias associadas ou quando aparecem as complicações relacionadas aos vícios de rotação, que incluem: 1. Volvo de intestino médio (com consequente isquemia mesentérica) 2. Obstrução extrínseca de duodeno pelas bandas de Ladd O início agudo de vômitos biliosos em RN sempre deve chamar atenção para a possibilidade de vólvulo, especialmente quando o paciente está sonolento ou letárgico. O RN com essa condição apresenta-se com uma tríade de sinais clínicos característicos: Vômitos biliosos Eliminação de sangue pelo ânus Massa abdominal palpável. Os vômitos biliosos decorrem da obstrução que se estabelece ao nível duodenal, logo abaixo da papila, em consequência da torção. O sangramento intestinal, por sua vez, é produto da estase venosa ao nível da mucosa e a massa palpável é representada por todo o intestino, que se edemacia e sofre alteração da consistência. Os pacientes podem ter dor abdominal crônica, episódios intermitentes de êmese, saciedade precoce, perda de peso, deficit de 10 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! crescimento e desenvolvimento e/ou má absorção e diarreia. Quanto ao diagnóstico, todo recém-nascido com vômitos biliosos persistentes deve ser investigado radiologicamente para anomalias da rotação intestinal. A radiografia simples do abdome identifica sinais de obstrução intestinal alta, ou seja, distensão de alças com níveis hidroaéreos. Nos casos em que há obstrução duodenal, podemos observar a imagem clássica de “dupla bolha” com pouco ou nenhum ar no restante do abdome. O estudo contrastado do trato gastrointestinal (com fluoroscopia) é o método preferido para o diagnóstico dosvícios de rotação. Nesses casos, o exame demonstra a posição anormal do duodeno (ligamento de Treitz no lado direito do abdome) que tem uma aparência de saca rolhas. Nos casos em que há obstrução duodenal, a imagem é semelhante à que encontramos na atresia, e quando há volvo intestinal, observamos uma imagem de “bico de pássaro” na terceira porção do duodeno, indicando torção. Com base no estudo da posição dos vasos mesentéricos superiores, a ultrassonografia com doppler também pode ser utilizada para a confirmação diagnóstica de má rotação intestinal em casos de dor abdominal recorrente. Os sinais radiológicos identificáveis nos casos de má rotação intestinal incluem: Posição anormal da sonda nasogástrica (indica localização atípica do duodeno) Presença do sinal da dupla bolha, nos casos em que há má rotação associada à obstrução duodenal (cerca de 50% das vezes). O tratamento cirúrgico está sempre indicado na má rotação intestinal, mesmo nos casos crônicos ou oligossintomáticos, pois não há meio de prever quais pacientes desenvolverão volvo. O procedimento de Ladd é a operação de eleição para tratar os vícios de rotação intestinal - Nesse procedimento, o intestino é eviscerado e, caso haja torção (volvo), ela é desfeita em sentido anti-horário. Após a distorção, a integridade das alças deve ser avaliada e os segmentos necróticos ressecados. Doença de Hirschsprung A aganglionose intestinal congênita ou doença de Hirschsprung (DH) é um distúrbio congênito do cólon decorrente de alteração da inervação intestinal parassimpática. A DH decorre da falha na migração das células da crista neural em direção ao intestino distal. A parada da migração pode ocorrer em qualquer parte do intestino, mas na maioria das vezes ocorre ao nível do retossigmoide. Os segmentos inervados, proximais à área de aperistalse, tornam-se dilatados e há progressiva hipertrofia muscular, tornado a parede intestinal espessada. Assim, o intestino anormal torna-se um segmento distal contraído, enquanto o intestino normal é a porção dilatada proximal. A área entre os segmentos dilatados e os hipotônicos é chamada de zona de transição. A manifestação mais precoce é a ausência de eliminação do mecônio nas primeiras 48 horas após o nascimento. Esse é um sinal clássico. Caso o diagnóstico e o tratamento não sejam realizados no período neonatal, iniciam-se as manifestações de constipação intestinal crônica, distensão abdominal, desnutrição, além de deficit de crescimento e desenvolvimento e peristaltismo visível, de caráter progressivo. Ao exame físico, um grande bolo fecal pode ser palpável e o toque retal revela uma ampola retal vazia. Após sua realização, pode ocorrer eliminação de fezes explosivas. Esse sinal também é característico da DH. 11 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! A enterocolite é a mais temível complicação da DH e é a principal causa de óbito em pacientes com a doença não corrigida. Os pacientes acometidos por enterocolite evoluem com distensão abdominal, eliminação de diarreia pútrida, febre, hematoquezia e acentuada queda do estado geral. A investigação diagnóstica frequentemente inicia-se com radiografia simples do abdome – é inespecífico, mas seus achados orientam o diagnóstico junto à clínica (distensão intestinal com predomínio no cólon e ausência ou redução de conteúdo gasoso no reto e na região agangliônica). O enema contrastado é um bom exame para elucidação diagnóstica. Em pacientes com doença de Hirschsprung, o espasmo do reto distal geralmente resulta em calibre menor quando comparado com o do cólon sigmoide proximal. A ausência de eliminação completa do contraste instilado após 24 horas também é indicador de doença de Hirschsprung. A manometria anorretal também é um recurso diagnóstico útil. O achado manométrico característico é de ausência de relaxamento do esfíncter interno quando o reto é distendido por um balão (ausência do reflexo de abertura do esfíncter). A biópsia retal é o exame padrão-ouro para o diagnóstico da DH. O tratamento da doença de Hirschsprung é cirúrgico e consiste na ressecção do segmento aganglionar e reconstrução do trânsito intestinal. Malformações Anorretais Em meninos, a variação anatômica mais frequente é o ânus imperfurado com fístula entre o cólon distal e a uretra (retouretral), seguida da fístula retoperineal. No sexo feminino, o tipo de anomalia mais comum é a fístula retovestibular, seguida por fístula retoperineal. A classificação anatômica das anomalias anorretais é baseada no nível em que o coto retal com extremidade cega termina em relação à musculatura elevadora do ânus. Os principais sinais clínicos de malformação anorretal incluem a não eliminação do mecônio ou a saída do mecônio por fístula perineal, urinária ou vestibular. A fístula retoperineal é o defeito mais benigno, em ambos os sexos. Trata-se de uma “malformação baixa" e recebe esse nome, pois, a parte mais inferior do reto abre-se na pele do períneo. No recém-nascido, essa anomalia é 12 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! identificada através da saída de mecônio pela pele do períneo através da fístula. Outra possibilidade é o ânus imperfurado sem fístula. Esse é um defeito pouco comum e nesses casos, o reto termina em fundo cego, a aproximadamente 1 a 2 cm acima do períneo. Como não existe fístula com o períneo e genitália, não se observa eliminação de mecônio por nenhum orifício. Em meninas, podemos suspeitar do tipo de defeito a partir do número de orifícios no períneo. Ou seja, um único orifício é compatível com o diagnóstico de cloaca, ou seja, há malformação distal nos aparelhos urinários e genitais e sua fusão com o reto. Se dois orifícios forem vistos, por exemplo, uretra e vagina, o defeito representa ânus imperfurado. Outras apresentações possíveis incluem os casos de ânus imperfurado associados a uma fístula retovestibular ou retovaginal. No recém-nascido com malformação anorretal, existem duas condutas terapêuticas possíveis: 1. Colostomia descompressiva imediata e adiamento da correção definitiva da anomalia 2. Anorretoplastia sem colostomia. Malformações baixas podem ser corrigidas através de anorretoplastia em tempo único. Por outro lado, malformações mais altas precisam inicialmente de uma colostomia descompressiva e então, em um segundo momento, é realizada a correção definitiva da anomalia. Portanto, guarde a seguinte informação: a identificação de fístula retoperineal, em ambos os sexos, é indicação de anorretoplastia, sem colostomia prévia. O RN com lesão baixa pode ser submetido a anorretoplastia em um único tempo, sem colostomia, por meio de abordagem perineal. Nessa cirurgia, a abertura retal é transposta para a posição normal nos centros dos músculos do esfíncter anal e o corpo perineal é reconstituído. Bebês com lesões altas requerem colostomia como primeira parte de uma reconstrução do trânsito em três tempos. 1. Inicialmente, é realizada colostomia terminal do cólon sigmoide e uma fístula mucosa (colostomia em duas bocas) 2. O segundo procedimento é realizado aos 2-4 meses de idade e consiste em dividir a fístula retourinária ou retovaginal com tração do coto retal terminal para a posição anal normal (anorretoplastia sagital posterior, ou cirurgia de Peña). Após esse procedimento, são necessárias múltiplas dilatações anais, que começam duas semanas após a anorretoplastia e continuam por vários meses após o fechamento da colostomia. 3. O terceiro e último estádio é o fechamento da colostomia, que é realizado várias semanas após a cirurgia de Peña.____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Estratégia MED. Cirurgia. Cirurgia infantil parte 1 e 2. 2023.
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