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EPIDEMIOLOGIA E PROCESSO SAÚDE- DOENÇA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Patricia Ferreira de Paula Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. P324e Paula, Patricia Ferreira de Epidemiologia e processo saúde-doença. / Patricia Ferreira de Paula. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 117 p.; il. ISBN 978-65-5646-060-4 ISBN Digital 978-65-5646-061-1 1. Doenças. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 616.8 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................07 CAPÍTULO 1 Processo Saúde-Doença ........................................................7 CAPÍTULO 2 Epidemiologia Básica .............................................................43 CAPÍTULO 3 Distribuição, Frequência e os Fatores Determinantes dos Diferentes Problemas de Saúde .........................................77 APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Epidemiologia e Processo Saúde-Doença. Neste Livro Didático, será evidenciada uma experiência incrível na aprendizagem dessa abordagem tão importante para a área de Saúde e de Ciências Biológicas, devido aos conceitos a respeito das inúmeras doenças e agravos à saúde que assolam o mundo, permitindo a realização das medidas de promoção de saúde, prevenção e controle contra tais aspectos. Nesse sentido, serão abordados os ressurgimentos de doenças previamente consideradas como já extintas, como é o caso do sarampo, bem como o recrudescimento de outras, como a tuberculose pulmonar, a febre amarela e a malária. Será tratado também o aparecimento das recentes doenças na humanidade, como o zika, o ebola e o novo coronavírus, surgido na China. No Capítulo 1, serão apresentados e discutidos os conceitos de epidemiologia relacionados às definições de saúde, doença, doenças infecciosas e doenças não infecciosas. Serão também apresentadas doenças ou agravos à saúde que assolaram ou assolam a humanidade. No Capítulo 2, esta disciplina lhe permitirá compreender os principais conceitos da epidemiologia e os seus diferentes e desafiantes aspectos relativos à saúde da população mundial. Além disso, você conhecerá os principais marcos da história da epidemiologia, permitindo, assim, compreender melhor a importância ao longo dos períodos da história de vida da humanidade e do Brasil. No Capítulo 3, serão apresentadas e discutidas as medidas de frequência de diferentes doenças e agravos à saúde, os quais são relevantes no cenário da saúde mundial atual. Haverá um destaque para se compreender de maneira mais efetiva acerca dos diferentes fatores determinantes de uma doença ou agravo à saúde. Objetivamos que essa temática se inclua nas principais aplicações da área da saúde e nos diferentes serviços de saúde no mundo e no Brasil. Esperamos, ainda, que aprendam muito com a disciplina e que percebam a sua importância no cenário do processo saúde-doença mundial. CAPÍTULO 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Entender os conceitos de doença e de saúde e assim como se dá o processo saúde-doença. Correlacionar o processo saúde-doença com a epidemiologia. Entender o processo saúde-doença e seus conceitos relacionados com sua epidemiologia. 8 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença 9 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Durante muito tempo, ao longo da história da humanidade, diversas doenças dizimaram milhares de pessoas, causando a devastação de várias cidades. Nesse sentido, muitas dessas doenças foram fatais, como grandes epidemias retratadas durante a Idade Média. Epidemias: doenças que se disseminam de forma inesperada e rápida, atingindo um grande número de indivíduos simultaneamente (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). De acordo com relatos, é de conhecimento cada vez maior essa relação antiga entre as diferentes doenças e o homem. Em 2010, por exemplo, pesquisadores do Egito, da Alemanha e da Itália anunciaram que o jovem faraó Tutancâmon teria, em 1324 a.C., aos 19 anos de idade, tido uma infecção grave de malária (FOLHA DE SÃO PAULO, 2010). A conclusão foi obtida através de uma pesquisa detalhada realizada na múmia do jovem faraó (Figura 1) que incluiu a análise de seu DNA (ácido desoxirribonucléico), sendo que esta análise possibilitou aos pesquisadores verifi carem a presença de genes do Plasmodium falciparum, protozoário que é o agente biológico causador da malária na África (FOLHA DE SÃO PAULO, 2010). Agente biológico: são todos os tipos de vírus, bactérias, fungos e parasitas. Este relato, de acordo com os pesquisadores, constitui na mais antiga evidência genética numa múmia com datação precisa (FOLHA DE SÃO PAULO, 2010). Dessa forma, podemos concluir que convivemos com agentes biológicos há mais de 2000 anos. A forma como conduzimos estudos sobre a área da saúde está cada vez mais sofi sticada e específi ca, aprimorando conhecimentos sobre diferentes doenças e permitindo ações de saúde mais efetivas e efi cazes contra elas. 10 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença FIGURA 1 − DETALHE DO MINISSARCÓFAGO USADO PARA ABRIGAR AS VÍSCERAS DO FARAÓ TUTANCÂMON FONTE: <https://m.folha.uol.com.br/ciencia/2010/02/695068-malaria-pode- ter-matado-tutancamon-sugere-dna.shtml>. Acesso em: 28 jun. 2020. Na verdade, toda vez que se pensa em relações, a palavra evolução vem à tona, junto ao célebre princípio formulado de que se não for à luz da evolução nada na biologia terá sentido (SANT’ANNA et al., 2004). Pode se observar, então, uma evolução, em que se pode constatar um processo dinâmico entre saúde e doença, junto às transformações enormes e signifi cativas que as sociedades sofreram e, assim, os conceitos de saúde e de doença foram se modifi cando também. Mas, afi nal, o que é doença? Como ela se manifesta? Quais aspectos importantes são necessários para isso? O que é saúde? Quais conceitos são importantes conhecer para compreender melhor tanto a saúde quanto a doença? Quais medidas de promoção à saúde, prevenção e controle podem ou devem ser tomadas para a melhoria da saúde da população como um todo? Muitas questões levantadas já podem ser respondidas através de avanços das ciências da saúde, principalmente ciências básicas da área de Saúde Pública, como é o caso da epidemiologia, que, diferentemente da clínica, estuda o processo saúde e doença em nível populacional, fornecendo, assim, ferramentas para o estudo de informações de saúde de uma determinada população. De acordo com a epidemiologia, temos ainda vários conceitos importantes relacionados ao estudo e à distribuição de fatores de risco, de proteção ou de determinantes, que se caracterizam por infl uenciar ou não no desenvolvimento de diferentes doenças ou agravos à saúde. Dessa forma, a epidemiologia se baseia num raciocínio causal entre os diferentes fatores e as doenças, havendo ou não associação entre eles. Através dos estudos epidemiológicos, pode-se determinar quais são os grupos de risco para determinada doença e, assim, permitir que sejam adotadas Medidas de Promoção, Prevenção e Controle das doenças nesses grupos, bem como na populaçãocomo um todo. 11 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Outro aspecto importante do uso da epidemiologia na Saúde Pública, de um modo geral, é ser instrumento para a tomada de decisões em Políticas Públicas relacionadas à saúde de uma determinada população. Dessa maneira, pode-se citar, por exemplo, o acompanhamento diário pela Vigilância Epidemiológica da pandemia do novo coronavírus; muitos estados brasileiros têm tomado a decisão de manter os já conhecidos e identifi cados grupos de risco para o desenvolvimento da doença em casa, como idosos, pacientes com comorbidades, como doenças cardiovasculares e diabetes, e pacientes imunodeprimidos. Dessa forma, diminui- se a possibilidade de contágio entre esses indivíduos, principalmente porque são os mais vulneráveis ao desenvolvimento da forma mais grave da doença por terem o sistema imunológico mais comprometido. Pandemia: tipo de epidemia que é caracterizada pela ocorrência em larga distribuição espacial, atingindo vários países ao mesmo tempo. Atualmente, a epidemiologia é a principal ciência de informações sobre dados de saúde e doença de uma determinada população em uma casa, bairro, cidade, estado, país e mundo. 2 INTRODUÇÃO A epidemiologia é considerada o eixo da Saúde Pública, ou seja, a peça- chave no estudo das informações de saúde (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). Sobre aspectos relacionados à Epidemiologia, podemos destacar o fato deste estudo: • proporcionar bases sólidas para a adoção de medidas de promoção, prevenção e controle das doenças; • fornecer pistas para o efetivo diagnóstico de doenças infecciosas ou não infecciosas; • verifi car a consistência de hipóteses de causalidades entre diversos fatores e doenças, ou seja, identifi car se diferentes fatores (de risco, de proteção ou determinantes da doença) estão associados efetivamente com as doenças ou não; • estudar a distribuição da morbidade (doença) e mortalidade, objetivando traçar o perfi l do processo saúde-doença nas populações; 12 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença • realizar testes da efi cácia e inocuidade de vacinas; • desenvolver a Vigilância Epidemiológica; • analisar fatores determinantes das doenças, como socioeconômicos e ambientais. Essas funções permitem que a epidemiologia tenha um papel fundamental na Saúde Pública, sendo muito útil às tomadas de decisões das autoridades de saúde. Já é comprovado que os estudos epidemiológicos contribuíram muito para o aperfeiçoamento da saúde e dos conceitos relativos às diferentes doenças. 3 DEFINIÇÃO DE DOENÇA A letra da música “O Pulso”, do grupo musical Titãs, apresentada a seguir, foi composta na década de 1980, no entanto, sua temática é extremamente atual. A música constata o quanto diferentes doenças assolaram e assolam nossas vidas, infl uenciando a história humana e a modifi cando ao longo dos tempos. Analise a música do grupo Titãs chamada “O Pulso”, com composição de Arnaldo Antunes, Toni Belloto e Marcelo Fromer. Para ouví-la acesse ao link: https://www.youtube.com/ watch?v=PH3kNbvjN9E O Pulso O pulso ainda pulsa O pulso ainda pulsa Peste bubônica, câncer, pneumonia Raiva, rubéola, tuberculose e anemia Rancor, cisticercose, caxumba, difteria Encefalite, faringite, gripe e leucemia E o pulso ainda pulsa (pulso) (Pulso) O pulso ainda pulsa (pulso) (Pulso) 13 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Hepatite, escarlatina, estupidez, paralisia Toxoplasmose, sarampo, esquizofrenia Úlcera, trombose, coqueluche, hipocondria Sífi lis, ciúmes, asma, cleptomania E o corpo ainda é pouco O corpo ainda é pouco Assim Reumatismo, raquitismo, cistite, disritmia Hérnia, pediculose, tétano, hipocrisia Brucelose, febre tifoide, arteriosclerose, miopia Catapora, culpa, cárie, cãibra, lepra, afasia O pulso ainda pulsa E o corpo ainda é pouco Ainda pulsa Ainda é pouco [...] FONTE: <https://www.letras.mus.br/titas/48989/>. Acesso em: 28 jun. 2020. Antes de falarmos sobre as diferentes doenças, é necessário compreender o conceito dessa palavra. Doença vem do latim dolentia, padecimento, e é defi nida como uma condição anormal do organismo que interfere em suas funções corporais, estando associada a sintomas específi cos. A doença também pode ser defi nida como um desajustamento ou falha nos mecanismos de adaptação do organismo ou uma ausência de reação aos estímulos. O processo conduz a uma perturbação da estrutura ou da função de um órgão, de um sistema ou de todo o organismo e das funções vitais (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). Temos ainda o conceito de doença quando geralmente tem causas conhecidas, sinais e sintomas específi cos bem característicos delas. É fato que há uma complexidade inerente à defi nição de doença, visto que ela se apresenta de várias formas como sendo apenas um determinado agravo à saúde, como alguma sequela devido a um acidente ou às chamadas síndromes. 14 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença As síndromes podem ser classifi cadas como uma condição que ainda não tem causa bem defi nida ou, ainda, por provocarem um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem ao mesmo tempo de causas variadas, assemelhando-se a uma ou várias doenças. Apresentam-se aqui alguns exemplos de síndromes bem conhecidas como Síndrome de Down e Síndrome de Turner. Apesar da AIDS ter o nome de Síndrome de Imunodefi ciência Adquirida, ela não é considerada uma síndrome propriamente dita, pois ela possui sinais e sintomas específi cos e causa bem defi nida. Existem vários tipos de doenças e seus diferentes conceitos, neste Livro Didático serão apresentados e discutidos alguns considerados importantes no ponto de vista epidemiológico. Na perspectiva do mecanismo etiológico, ou seja, causador de determinada doença, as doenças podem ser classifi cadas em dois tipos (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003): • Doenças infecciosas: causadas por um agente biológico ou etiológico, como vírus, bactérias, fungos ou parasitas. • Doenças não infecciosas: a priori, não são causadas por agentes biológicos ou agentes etiológicos. 4 DOENÇAS INFECCIOSAS A doença infecciosa é sempre resultado de interações entre o hospedeiro (local que se desenvolve o agente biológico), o agente biológico ou infeccioso (por exemplo, determinada bactéria) e do meio ambiente (por exemplo, água contaminada) (GORDIS, 2017). Hospedeiro: homem ou outro animal vivo que ofereça, em condições naturais, subsistência ou alojamento a um agente infeccioso (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). 15 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Dessa forma, temos algumas possibilidades de agentes biológicos, etiológicos ou infecciosos, que são todos referentes ao mesmo conceito, ou seja, podem ser responsáveis por causar uma doença infecciosa. Os agentes biológicos conhecidos são: 1) Vírus (Figura 2). 2) Bactérias (Figura 3). 3) Fungos (Figura 4). 4) Parasitas (Figura 5). Os vírus são os únicos seres vivos que não possuem células, sendo considerados seres intracelulares obrigatórios, ou seja, necessitam entrar em células dos diferentes hospedeiros para se desenvolverem. Alguns autores nem os consideram seres vivos por não possuírem células, mas há autores que os defendem como seres vivos devido à capacidade intrínseca de multiplicar seu material genético. São seres microscópicos e medem menos que 0,2 µm e são, basicamente, formados por uma cápsula protéica e material genético, podendo ser DNA (ácido desexirribonucléico), RNA (ácido ribonucléico) ou os dois juntos. Temos vários tipos de vírus com importância na Medicina e na Saúde Pública por causarem doenças bem conhecidas, como o vírus HIV, causador da AIDS (Síndrome de Imunodefi ciência Adquirida), ou o novo coronavírus, surgido recentemente na história da humanidade e que é causador da COVID-19. Veja, a seguir, a sugestão de cinco fi lmes para fazer uma refl exão sobre a COVID-19: https://atarde.uol.com.br/cinema/ noticias/2125155-confi ra-5-fi lmes-que-vao-te-fazer-refletir-sobre-a- pandemia-do-coronavirus Temos ainda inúmeros vírus causadores de doenças, tais como: • o vírus do sarampo; • vírus de um resfriado comum (Rinovírus); • vírus da gripe (Infl uenza); • vírus da dengue; • vírus do zika; • vírus do ebola. 16 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença FIGURA 2 − VÍRUS CAUSADOR DE DOENÇA INFECCIOSA: SARAMPO FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/3d- illustration-measles-virus-1178059438>. Acesso em: 28 jun. 2020 Já as bactérias são organismos unicelulares (apresentam uma única célula) e microscópicos, ou seja, medindo cerca de 0,2 µm a 1,5 µm. Além disso, são seres procariontes, ou seja, não possuem membrana nuclear envolvendo seu material genético. Temos bactérias que são benéfi cas ao meio ambiente, como as responsáveis pela decomposição de nutrientes e algumas que vivem no interior de nossos intestinos, a chamada fl ora intestinal, que auxilia na digestão de alimentos. No entanto, daremos destaque às bactérias causadoras de doenças, as quais têm importância para o processo saúde-doença, tais como: • Mycobacterium tuberculosis (causador da tuberculose). • Mycobacterium leprae (causador da hanseníase). • Clostridium tetani (causadora do tétano). • Vibrio cholerae (causador do cólera). FIGURA 3 − BACTÉRIA CAUSADORA DE UMA DOENÇA INFECCIOSA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/enterobacteriaceae- gramnegative-rodshaped-bacteria-part-intestinal-1042543318>. Acesso em: 28 jun. 2020 Os fungos são seres vivos eucariontes, ou seja, possuem membrana nuclear e podem, ainda, ser uni ou pluricelulares. Especialistas apontam que 17 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 existem cerca de 1,5 milhões de espécies de fungos no mundo, havendo tanto aqueles utilizados para a culinária, como alguns cogumelos, como os que são considerados importantes para a saúde, pois causam conhecidas doenças, tais como: • Micoses: infecções causadas por fungos que atingem a pele, as unhas e o cabelo. • Frieiras: caracterizadas pelo surgimento de bolhas e rachaduras na pele. • Candidíase: infecção que ocorre geralmente na área genital, causando coceira, secreção e infl amação no local atingido. • Histoplasmose: infecção que afeta os pulmões causando infl amações. FIGURA 4 − EXEMPLO DE UM FUNGO CAUSADOR DE DOENÇA INFECCIOSA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/penicillium-ascomycetous- fungi-major-importance-natural-747671938>. Acesso em: 28 jun. 2020. Os parasitas são organismos que vivem na superfície ou no interior de outro organismo (o hospedeiro) para poder se nutrir do metabolismo com o intuito de não levá-lo a óbito e, assim, viver às custas do hospedeiro, como muitos parasitas que interagem com os seres humanos. Dessa forma, o parasita é benefi ciado e o hospedeiro é prejudicado. FIGURA 5 − EXEMPLO DE PARASITA CAUSADOR DE DOENÇA INFECCIOSA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/parasitic-infection- intestine-3d-illustration-showing-1029343966>. Acesso em: 28 jun. 2020 18 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Existem inúmeros parasitas, mas aqui citaremos alguns com importância para a saúde, tais como: • Carrapatos. • Piolhos. • Amebas. • Lombrigas. • Giardia. • Tênia. • Esquistossomo. Os agentes biológicos apresentados, quando infectam, nem sempre interagem diretamente com o hospedeiro, sendo importante a interação com o meio ambiente também, formando a chamada tríade epidemiológica (Figura 6). FIGURA 6 − TRÍADE EPIDEMIOLÓGICA MOSTRANDO A INTERAÇÃO DO AGENTE BIOLÓGICO COM O HOSPEDEIRO E A POSSÍVEL NECESSIDADE DA INTERAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE FONTE: A autora A Tríade Epidemiológica leva em consideração o meio ambiente, que pode ser fatores físicos, como temperatura, umidade, altitude; e os fatores sociais, como aglomeração no domicílio, acesso à alimentação, água tratada, poluição do ar, entre outros. No entanto, para que essa interação resulte em doença, o hospedeiro deverá ainda ser suscetível, característica esta que, por sua vez, é resultante de uma série de fatores que incluem desde fatores genéticos até características nutricionais e imunológicas do hospedeiro (GORDIS, 2017). De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2010a), em 1983, a doença infecciosa foi defi nida como a doença que se manifesta 19 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 clinicamente no homem ou em animais, resultante de uma infecção, ou seja, penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente infeccioso no organismo de um indivíduo ou um animal. Por sua vez, agente infeccioso ou agente etiológico vivo é aquele microrganismo capaz de produzir infecção ou doença infecciosa. No entanto, a infecção não é sinônimo de doença, pois pode ocorrer infecção sem que haja o desenvolvimento de doença (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). Um bom exemplo dessa condição é o que acontece no caso da infecção com o Mycobacterium tuberculosis, em que aproximadamente 90% dos casos infectados não desenvolvem a doença, ou seja, apenas 10% dos indivíduos infectados com o Mycobacterium tuberculosis desenvolverão a tuberculose pulmonar (PAULA, 2008). Dessa forma, fi ca claro que as interações entre diferentes agentes biológicos, hospedeiros e meio ambiente são resultadas das relações coevolutivas estabelecidas e reestabelecidas entre eles ao longo do tempo, considerando assim diversas gerações e levando em conta a hereditariedade também. Para melhor entendimento dessa coevolução será apresentado um breve histórico das doenças infecciosas com alguns conceitos importantes derivados da epidemiologia. 5 BREVE HISTÓRICO DAS DOENÇAS INFECCIOSAS As doenças infecciosas acompanham o homem desde o início de sua história, mas provavelmente ele passou a ser reservatório natural de microrganismos e parasitas, ou seja, passou a permitir que os agentes infecciosos vivessem e se multiplicassem em seus organismos, de forma que possibilitasse a sua transferência a um hospedeiro suscetível, quando começou a viver em grupos, formando aglomerados populacionais. Essa condição permitiu que os agentes infecciosos se mantivessem em circulação contínua, sendo transmitidos de pessoa para pessoa (SATCHER, 1995; WALDMAN, 2001). A ampla disseminação das doenças infecciosas foi possível com o crescimento da população humana e o desenvolvimento de diferentes civilizações (SATCHER, 1995; WALDMAN, 2001). Desde então, existem vários relatos ao longo da história da humanidade que revelaram a importância das doenças infecciosas na vida humana, promovendo impactos não só na economia, como também em sua estrutura demográfi ca (WALDMAN, 2000). 20 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Existem muitos exemplos de epidemias que foram signifi cativas na história humana, mas aqui serão apresentadas algumas que merecem destaque. É possível citar as pestes apresentadas na Bíblia e durante a Idade Média, a gripe espanhola, em 1918, e, mais recentemente, a pandemia da AIDS e do novo coranavírus, doenças infecciosas que têm aparecido e reaparecido de forma a desafi ar a Saúde Pública e a comunidade científi ca por todo o globo (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). Essas epidemias foram tão signifi cativas ao longo da história humana que muitas delas foram retratadas em obras de arte bem conhecidas e, assim, puderam ser perpetuadas para não nos esquecermos desses eventos tão aterrorizantes e devastadores. Além disso, muitos desses quadros retratam o quanto as epidemias eram vistas como castigo dos deuses raivosos, isto devido ao ser humano não ter agido de forma adequada de acordo com preceitos religiosos das épocas retratadas. Durante a Idade Média, a Igreja Católica perseguiu muitas minorias religiosas, como judeus, os quais foram levadas à Fogueira da Santa Inquisição devido à acusação de que eram responsáveis pela Peste (BUSHEY; GINDER; O'SULLIVAN, 2000). Nesse momento, então, a Igreja tinha o controle das epidemiasou pandemias e a ciência em si teve pouca intervenção. A Figura 7 retrata a Peste Negra como martírio para os seres humanos da época. FIGURA 7 − PESTE NEGRA RETRATADA EM 1349 NA BÉLGICA POR ARTISTA DESCONHECIDO FONTE: <http://www.artcyclopedia.com/featuredarticle- 2000-11-port4.html>. Acesso em: 28 jun. 2020. 21 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 A Peste Bubônica, a forma mais conhecida da chamada Peste Negra, é sempre mostrada junto a sua imponência em devastar as cidades (Figura 8), uma vez que durante o século XIV, entre o período de 1347 a 1350, essa doença foi uma pandemia, responsável por dizimar cerca de 1/3 da população europeia da época, ou seja, aproximadamente 25-75 milhões de pessoas (BUSHEY; GINDER; O'SULLIVAN, 2000). FIGURA 8 − PESTE NEGRA RETRATADA DEVASTANDO AS CIDADES PELO ARTISTA FLEMISH EM 1562 FONTE: <http://rompedas.blogspot.com/2010/05/hell- brueghel.html>. Acesso em: 28 jun. 2020 A Peste Negra atingiu não só o continente europeu, mas também a China e o Oriente Médio, bem como outras regiões do mundo (BUSHEY; GINDER; O'SULLIVAN, 2000). A Peste Bubônica, responsável por tantas mortes na Idade Média, era causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida para os seres humanos através de pulgas presentes em ratos (BUSHEY; GINDER; O'SULLIVAN, 2000). Dessa forma, as condições insalubres de higiene da época, como a falta de saneamento básico, foram determinantes para o desenvolvimento da doença. Os primeiros sintomas dessa doença eram dor de cabeça, náuseas, vômito e dores nas juntas, sendo que dentro de quatro dias após o desenvolvimento da Peste Negra o indivíduo falecia (BUSHEY; GINDER; O'SULLIVAN, 2000). Atualmente, a Peste Negra não se encontra totalmente erradicada, ou seja, a Yersinia pestis ainda persiste em algumas regiões do mundo, havendo, por exemplo, em 1994, uma epidemia em Surat, Índia. Vários casos anuais, também, são relatados nos EUA, principalmente no Sudoeste do país, onde a doença é endêmica em esquilos e pode ser transmitida ao ser humano através das pulgas. No entanto, nos dias de hoje, existem antibióticos capazes de controlarem a Peste Negra, evitando a evolução ao óbito. Outras doenças infecciosas que se destacavam até o século XIX, além da Peste Negra, eram a tuberculose, a sífi lis e a cólera, bem como a diarreia e a 22 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença varíola, que foram epidemias responsáveis por elevadas proporções de óbitos, mesmo em países desenvolvidos (WALDMAN, 2001). A Figura 9, a seguir, apresenta uma pintura famosa do pintor norueguês Edvard Munch, na qual ele retratada a sua própria angústia diante da morte de sua irmã Sophie, vítima de tuberculose. FIGURA 9 − EDVARD MUNCH: MORTE NA ENFERMARIA FONTE: <http://acorona48-melancoliayfelicidad.blogspot. com/2010/11/hola.html>. Acesso em: 28 jun. 2020 A varíola foi classifi cada como uma das doenças mais devastadoras da história da humanidade, segundo a OMS (WALDMAN, 2010). Essa doença foi a causa de inúmeras epidemias, atingindo e levando ao óbito populações inteiras, como diversas tribos indígenas brasileiras (WALDMAN, 2010). Ainda no século XVIII, a varíola foi responsável pela morte de um recém-nascido para cada dez (1/10) na Suécia e na França e de um a cada sete (1/7) na Rússia. A letalidade, ou seja, o número de óbitos por indivíduos doentes, era tão elevado que era uma prática comum dar nome apenas às crianças que sobrevivessem à varíola (WALDMAN, 2010). A varíola é causada após a infecção pelo vírus Orthopoxvírus variolae, mas o aparecimento dos primeiros sintomas clínicos da varíola ocorre, em média, após 17 dias da infecção (WALDMAN, 2010). Dessa forma, podemos dizer que o período de incubação da varíola é de 17 dias. 23 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Período de incubação: período que vai desde o momento da infecção propriamente dita até o aparecimento dos primeiros sintomas (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). Como principais sintomas da varíola podemos destacar: febre alta, mal-estar, dor de cabeça, dor nas costas e abatimento. A varíola se apresentava de forma mais violenta quando a febre baixava e surgiam erupções avermelhadas por todo o corpo do paciente (WALDMAN, 2010). Com o tempo, tais erupções evoluíam para as chamadas pústulas (pequenas bolhas repletas de pus) que provocavam coceira intensa e muita dor (WALDMAN, 2010). Nesse estágio, o paciente poderia apresentar cegueira decorrente da doença (WALDMAN, 2010). Até aquele momento não se existia tratamento efi caz contra a varíola, mas o que já se sabia na época é que os pacientes que contraíssem a forma mais violenta da doença (varíola major) evoluíam para o óbito, enquanto que aqueles que contraíssem a forma minor tendiam a sobreviver, mas com grande chance de apresentar alguma sequela, como cegueira (WALDMAN, 2010). Atualmente, a varíola é considerada uma doença erradicada, ou seja, extinta, após a aplicação da vacina em massa por alguns anos e por todo o globo (WALDMAN, 2010). Por outro lado, existe a ameaça real do uso do vírus Orthopoxvírus variolae como arma biológica, preocupando os governos de diferentes países (WALDMAN, 2010). No século XX, conhecido pelo século de signifi cativas e rápidas transformações, ocorreram diversas mudanças. Entre essas mudanças podemos destacar: • ampliação do saneamento básico; • melhoria nas condições de nutrição; • melhoria na área segurança do trabalho da população; • desenvolvimento da ciência com maior conhecimento dos agentes infecciosos e suas diferentes etiologias; • desenvolvimento de novas vacinas e drogas efi cazes. Todos esses aspectos contribuíram para uma diminuição signifi cativa da mortalidade infantil e elevação da expectativa de vida que, por conseguinte, proporcionaram o aumento do envelhecimento da população e a modifi cação na estrutura demográfi ca da população, conhecida como transição demográfi ca. 24 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Além disso, as transformações ocorridas no século XX proporcionaram uma diminuição nas taxas de morbimortalidade pelas doenças infecciosas e, por sua vez, uma elevação da importância relativa das taxas de morbimortalidade por doenças crônico-degenerativas e neoplasias (cânceres), que são doenças não infecciosas, sendo essa mudança signifi cativa nesses padrões. Tais modifi cações são conhecidas como transição epidemiológica (WALDMAN, 2001). A partir desse novo contexto, muitos pesquisadores e cientistas renomados passaram a acreditar na chamada teoria da transição epidemiológica, ou seja, que as doenças infecciosas estavam praticamente eliminadas e poderiam até desaparecer do cenário mundial, sendo totalmente erradicadas, principalmente quando os países atingissem níveis mais elevados de desenvolvimento econômico e social. Essa teoria estava muito focada na ideia de que as doenças infecciosas estavam relacionadas quase que exclusivamente com a pobreza (TAYLOR; KARIM, 2004; WALDMAN, 2001). Além disso, os cientistas que defendiam a teoria de transição epidemiológica subestimaram bastante a capacidade de adaptação dos diferentes microrganismos às mudanças do meio ambiente, incluindo as melhorias da medicina e de procedimentos em saúde em geral. Apesar disso, não se pode dizer que as doenças infecciosas sumiram do mapa. Entre 1918 e 1919, uma pandemia de infl uenza, mais conhecida como Gripe Espanhola, atingiu aproximadamente 50% da população mundial, sendo responsável pela morte de mais de 25 milhões de pessoas por todo o globo. Atualmente, um grande exemplo disso é o surgimento do novo coronavírus, surgido em dezembro de 2019, na China, que se espalhou por inúmeros países da Europa, América, África, Ásia e Oceania, atingindo todos os continentes e sendo considerado, rapidamente, uma pandemia. A transmissão é via aérea e pode ocorrer quando o indivíduo contaminado com a COVID-19 fala (através de gotículas da saliva), tosse ou espirra, bem como poderáocorrer através de um aperto de mão ou ao fi car em contato próximo com outro indivíduo. A contaminação poderá ocorrer através do toque em superfícies contaminadas, como teclados de computador, celular, maçaneta, brinquedos, entre outros. Como sintomas mais comuns da COVID-19 podemos destacar: • febre; • tosse seca; • cansaço; • coriza. 25 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Os sintomas menos comuns são: • dores e desconforto; • dor de garganta; • diarreia; • conjuntivite; • dor de cabeça; • perda do paladar ou olfato; • erupção cutânea na pele ou descoloração dos dedos das mãos e dos pés. Os sintomas mais graves são: • difi culdade de respirar ou falta de ar; • dor ou pressão no peito; • perda de fala ou movimento; • pneumonia; • síndrome respiratória aguda grave; • insufi ciência renal. A maioria dos indivíduos infectados são assintomáticos ou apresentam os sintomas de leves a moderados da doença e, assim, não precisam ser hospitalizados. As prevenções contra o coronavírus são principalmente: • proteger com máscaras nariz e boca quando for sair de casa; • lavar as mãos com frequência até o punho com água e sabão por pelo menos 20 segundos e/ou higienizar com álcool 70%; • higienizar com frequência superfícies muito utilizadas com possibilidade de contaminação, como celulares, brinquedos, teclados etc.; • manter ambientes limpos e bem ventilados; • evitar abraços, beijos e apertos de mão; • evitar sair de casa; • evitar aglomerações; • evitar tocar no nariz, boca e olhos; • não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, toalhas, pratos e copos; 26 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença • manter distância segura entre os indivíduos (de dois metros ou mais); • identifi car os sintomas; • se tiver sintomas graves, procure imediatamente o médico; • no Brasil, ligue antes para o número 136 para que seja possível uma breve avaliação dos sintomas e se será necessário encaminhar para uma Unidade de Saúde. O número de casos da doença, bem como o de óbitos, vem aumentando signifi cativamente a cada dia por todo o mundo desde que foi identifi cado na China, em dezembro de 2019. A rápida propagação desse vírus vem sendo uma preocupação mundial. No dia 31 de janeiro de 2020, cinco países da Europa já haviam identifi cado casos da doença. Leia a notícia a seguir sobre a doença causada pelo novo coronavírus: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/ noticia/2020/01/30/novo-coronavirus-e-emergencia-de-saude- internacional-declara-oms.ghtml A propagação do vírus foi tão rápida que, em 28 de fevereiro de 2020, o novo coronavírus já estava espalhado por cinco continentes, afetando inclusive a economia mundial com baixa nas principais bolsas econômicas. De início, no Brasil, um grupo de 58 brasileiros que estavam em Wuhan (o epicentro da doença), na China, foram resgatados e fi caram em quarentena na Base Aérea de Anápolis, Goiás (VEJA, 2020). Esses brasileiros fi caram 14 dias isolados, considerando o período de incubação médio da doença, e só foram liberados após três exames resultarem negativo para o vírus. 27 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Leia na íntegra a notícia sobre a quarentena dos brasileiros em Anápolis devido ao novo coronavírus: https://veja.abril.com. br/brasil/brasileiros-que-vieram-da-china-deixam-quarentena-em- anapolis/ No fi nal de maio de 2020, tem-se a marca mundial de 5.400.608 de casos confi rmados de COVID-19, 2.165.782 de casos recuperados da doença e 344.760 óbitos. No Brasil, dados atualizados mostram um signifi cativo aumento desde janeiro de 2020 para fi nal de maio de 2020, com 365.213 de casos confi rmados, 149.911 de casos recuperados e 22.746 óbitos (OPAS, 2020). Site da OPAS com informações atualizadas do novo coronavírus: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_ content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875 O site do Ministério da Saúde apresenta informações importantes sobre o novo coronavírus: https://www.saude.gov.br/ Convidamos você a fazer uma refl exão sobre os termos relacionados à epidemiologia que foram usados no estudo das doenças infecciosas, tais como: agente biológico, tríade epidemiológica, hospedeiro, período de incubação, entre outros. Vale ressaltar que essas terminologias são específi cas às doenças infecciosas. Verifi que se você encontrou algum outro termo não mencionado. 28 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença 1 De acordo com o que foi apresentado sobre a COVID-19, a OMS declarou que essa doença deve ser considerada estado de Emergência de Saúde Pública, desde 30 de janeiro de 2020, ou seja, o mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Considerando conceitos já apresentados até aqui sobre a Epidemiologia, para você, o que signifi ca, na prática da área de saúde, essas declarações da OMS para o mundo inteiro? No cenário nacional, mais especifi camente, outras doenças também se apresentam em grande destaque atualmente, tais como: • sarampo; • dengue; • tuberculose pulmonar; • zika. No Brasil, os casos de sarampo voltaram a surgir com grande impacto, causando morte em crianças devido, principalmente, à falta de vacinação, que é de responsabilidade dos responsáveis. Atualmente, o zika vírus tem sido considerado uma pandemia, por ter se espalhado de maneira rápida e constante pelo globo. No Sul do Brasil, principalmente no Paraná, os casos de dengue têm aumentado muito devido essencialmente à falta de cuidado em higienizar os criadouros das larvas do mosquito, que levam o vírus que causa a dengue para os diferentes lugares. Dessa forma, aumentaram também os casos de óbito por dengue. Você sabia que os cientistas acreditam que o vírus responsável pela a gripe espanhola esteja relacionado com o vírus H1N1 da gripe suína? 29 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Você sabia que doenças como a tuberculose pulmonar ainda atingem signifi cativamente regiões de pobreza e de superlotação (grandes centros urbanos), como Nova York, nos EUA, e São Paulo, no Brasil? Para entender um pouco mais sobre a propagação das doenças, indicamos que você, acadêmico, assista ao fi lme Epidemia, com direção de Wolfgang Petersen, lançado em 1995. Leia as indicações do site Agência de Notícias da AIDS sobre fi lmes que tratam acerca da HIV: https://agenciaaids.com.br/ noticia/12-fi lmes-sobre-hiv-e-aids-para-abrir-a-mente/ Após a apresentação e a discussão de diferentes doenças infecciosas, serão mostradas, a seguir, as doenças não infecciosas e seus mais signifi cativos exemplos de elevadas taxas e aumentos nos números de óbitos. 6 DOENÇAS NÃO INFECCIOSAS As doenças não infecciosas ou não transmissíveis vêm crescendo no cenário internacional e nacional; destacando-se a transição epidemiológica, já apresentada. As doenças não infecciosas não necessitam necessariamente de um agente infeccioso para se desenvolverem. Nesse sentido, existem estudos científi cos que sugerem a participação do agente biológico de algum modo nas doenças não transmissíveis também. Temos como exemplo o vírus HPV, que tem que estar presente para ocorrer o câncer de colo de útero. 30 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Entre essas doenças destacam-se as associadas ao coração, diabetes, doenças psicossociais, como a depressão, e neoplasias (cânceres). As doenças não infecciosas são muito mais comuns nos adultos, sendo principalmente afetadas por fatores de risco, como: • drogas ilícitas; • álcool; • tabagismo; • dieta alimentar; • fatores genéticos; • radiação; • poluição do ar; • temperatura; • estresse; • viver em ambientes fechados, como presídios e casas de repouso; • estilo de vida; • hipertensão; • raça; • sexo; • higiene; • saneamento básico. Nesse sentido, temos, por exemplo, o nível de colesterol elevado como fator de risco para as doenças associadas ao coração. Para melhor entendimento do cenário de evoluçãodas doenças não infecciosas, será comentado sobre as principais. 6.1 DOENÇAS CARDIOVASCULARES As doenças cardiovasculares são um grupo de doenças do coração e dos vasos sanguíneos. Segundo a OPAS (2017), as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito no mundo atualmente. Estima-se que 17,7 milhões de pessoas morreram por doenças cardiovasculares em 2015, por exemplo, o que representou cerca de 31% de todos os óbitos em nível global. Desses óbitos, estima-se que 7,4 milhões ocorreram devido às doenças cardiovasculares e 6,7 milhões devido a acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Entre a população com alto risco de ter essas doenças, temos aqueles que possuem um ou mais fatores de risco, como hipertensão, diabetes, cigarro, álcool, sedentarismo, dietas inadequadas, sobrepeso, obesidade, glicemia elevada e 31 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 fatores hereditários, no entanto, pode-se citar também fatores socioeconômicos, como a pobreza. Esse último fator de risco pode ser constatado com a informação de que mais de três quartos de óbitos por doenças cardiovasculares ocorreram em países de média ou baixa renda, isto, pois, diferentemente dos indivíduos que vivem em países de alta renda, países de média ou baixa renda muitas vezes não têm o benefício de programas integrados de promoção à saúde, prevenção e controle dessas doenças. Além disso, os acessos aos serviços de saúde tendem a ser mais precários. Através de estudos epidemiológicos, foi possível constatar medidas de prevenção dessas doenças bem acessíveis à população, como não fumar, ter dietas alimentares saudáveis, fazer exercícios físicos regulares, evitar o uso de álcool e de drogas ilícitas. Desse modo, as Políticas Públicas de Saúde devem motivar as pessoas a adotarem e manterem comportamentos saudáveis. 6.2 DIABETES Diabetes é uma doença caracterizada pela não produção de insulina ou baixa produção dela pelo pâncreas do indivíduo. A insulina é um hormônio que regula a glicose no sangue. Dessa forma, a hiperglicemia, ou seja, o aumento de açúcar no sangue, é o efeito mais comum do diabetes. Os principais sintomas do diabetes são: • Poliúria (urinar a toda hora). • Polidipsia (excessiva sensação de sede). • Cansaço e falta de energia. • Perda de peso. • Polifagia ou hiperfagia (fome frequente). • Visão embaraçada. • Cicatrização lenta. • Infecções frequentes. Segundo a OPAS (2010b), o diabetes é considerado uma doença crônica de maior impacto nos gastos de saúde, com o gasto de cerca de 12% do total de recursos em saúde no mundo todo. Quando mal controlado, o diabetes traz complicações muito graves ao indivíduo, como cegueira e amputação de membros. Alguns dados têm apontado para um número total de casos de diabetes cada vez maior, sendo que o Brasil se apresenta na oitava posição mundial em quantidade de pessoas com essa doença. 32 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença O diabetes é a causa de cerca de 5% de todos os óbitos globais por ano e, por isso, a importância de se entender e estudar essa doença cada vez mais. Entre os fatores de risco para essa doença se encontram: • Obesidade. • Sobrepeso. • Glicemia elevada. • Fatores hereditários. • Inatividade física. • Dieta alimentar pouco saudável. • Etnicidade. • Hipertensão. • Idade maior que 60 anos. 6.3 DOENÇAS PSICOSSOCIAIS As doenças psicossociais ou ocupacionais (doenças associadas ao ambiente de trabalho) são aquelas que se desenvolvem a partir da infl uência do contexto social e que afetam diretamente o psicológico do indivíduo, refl etindo no funcionamento do seu organismo biológico. Essas doenças têm sido apresentadas com um lugar expressivo entre as principais causas de afastamento do trabalho por todo o mundo, com ascensão de seus dados de morbidade e de mortalidade. No Brasil, dados levantados pela OPAS (2016) apontam que cerca de 14% dos benefícios anuais de saúde utilizados ocorrem por causa dessas doenças, como o auxílio-doença do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Estudos científi cos atuais têm apontado que o principal fator de risco para o desenvolvimento das doenças psicossociais é o stress no trabalho. No entanto, podemos destacar outros fatores, como: • Excesso de trabalho. • Pressão no trabalho. • Acúmulo no trabalho. • Insegurança na permanência no trabalho. • Ambiente de trabalho extremamente competitivo. • Estilo de vida do trabalhador. • Fatores genéticos do trabalhador. 33 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Esses fatores demonstram que o maior número dessas doenças no cenário mundial consistem em desafi os desencadeados pelo avanço industrial, globalização, desenvolvimento tecnológico, entre outros. Segundo a OPAS (2016), para se ter medidas mais de efetivas de prevenção e controle dessas doenças, a política de trabalho apropriada deve ser baseada nos seguintes princípios éticos: • Cobrir todas as exposições perigosas dentro do ambiente de trabalho. • Aplicar normas de bom comportamento, atenção e responsabilidade. • Incluir abordagens que impeçam comportamentos antiéticos, agindo sobre eles, caso ocorram. • Promover a responsabilidade e a prestação de contas de todos no local de trabalho. Um aspecto importante a ser ressaltado e que constitui um grande desafi o para a Saúde Pública, tanto no diagnóstico quanto no tratamento, é o preconceito que muitas pessoas têm em lidar com essas doenças psicossociais, até mesmo de falar sobre elas, tanto os próprios pacientes, como os familiares, os amigos e a sociedade. Um bom exemplo dessas doenças é o esgotamento mental e físico proporcionado pela Síndrome de Burnot, que pode ainda levar à alteração no comportamento da pessoa, tornando-a mais agressiva e ansiosa. Outros exemplos bem conhecidos dessas doenças são a depressão e a síndrome do pânico. Como essas doenças apresentadas têm cada vez mais números de casos, e até mesmo de óbitos, como o acontecimento de suicídios, será feita uma breve explanação delas a seguir. 6.3.1 Depressão A depressão é uma doença considerada grave por ser caracterizada por alterações no humor do indivíduo. Temos dois tipos conhecidos, de acordo com a OPAS (2018): transtorno depressivo recorrente e transtorno afetivo bipolar. No caso do transtorno depressivo recorrente, os principais sintomas são: • tristeza profunda; • fadiga; • falta de energia; 34 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença • sonolência excessiva; • insônia; • sensação de autodesvalorização; • sentimento de culpa; • falta de apetite; • redução do interesse sexual; • ansiedade. Já o transtorno afetivo bipolar é caracterizado por alternância de episódios de depressão propriamente dita e de mania, separados por períodos de humor normal. Os episódios de mania são marcados por humor exaltado ou irritado, excesso de atividades, pressão de fala, autoestima infl ada, insônia, bem como a aceleração de pensamento. De acordo com a OPAS (2018), a depressão atinge cerca de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, pelo mundo. Com relação aos óbitos por depressão, 788 mil pessoas se suicidaram no mundo em 2015 (G1, 2017). No Brasil, cerca de 5,8% da população foram diagnosticadas com essa doença. Leia a seguir uma notícia sobre a depressão: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/depressao-cresce-no- mundo-segundo-oms-brasil-tem-maior-prevalencia-da-america- latina.ghtml Ela é a principal causa de incapacidade do indivíduo pelo mundo, podendo causar um grande sofrimento ao indivíduo e disfunção no trabalho, na escola, no núcleo familiar ou, até mesmo, no ato de fazer atividades domésticas simples. A depressão é resultado de uma complexa interação de fatores sociais, psicológicos e biológicos. Como medidas de controle, indica-se sessões de psicoterapia frequentes e, em casos moderados ou mais graves, o uso de medicamentos. Além disso, atividade física e uma alimentação saudável contribuem para o tratamento adequado dessa doença. 35 PROCESSOSAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 Para mais informações sobre depressão acesse: https://saude. gov.br/saude-de-a-z/depressao 6.3.2 Síndrome do pânico A síndrome do pânico é um tipo de transtorno de ansiedade caracterizado por crises inesperadas de medo, insegurança e desespero, aparentemente sem qualquer risco real. Essas crises provocam sintomas físicos e psicológicos. Entre os sintomas físicos temos: • palpitações de aceleramento cardíaco; • suores intensos; • calafrios ou ondas de calor; • tremores; • formigamentos; • sensação de falta de ar ou asfi xia; • náuseas; • dores ou desconforto no peito ou no tórax; • tonturas e vertigens. Os sintomas psicológicos mais comuns são: • medo de perder o controle; • medo de enlouquecer; • medo de morrer; • sentimento de estar em perigo; • sensação de bloqueio mental; • desrealização e despersonalização das pessoas e coisas; • angústia; • sensação de transtorno de ansiedade generalizada; • medo de ter outro episódio. Estima-se que 280 milhões de pessoas no mundo sofrem com essa doença. No Brasil, são cerca de 6 milhões de casos (PORTAL EXPANSÃO, 2017). 36 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Para mais informações a respeito da síndrome do pânico acesse: https://zenklub.com.br/sindrome-do-panico/. Acadêmico, foram apresentadas algumas das doenças psicossociais que são muito expressivas no mundo, tanto em número de casos quanto de óbitos. No entanto, temos muitas outras que têm surgido no cenário mundial. 6.4 NEOPLASIAS A neoplasia, mais popularmente conhecida como câncer, é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças. Existem tipos de câncer para cada órgão do corpo, como pulmonar, faríngeo, de bexiga, de cabeça, entre outros. Essas doenças têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem diferentes tecidos e órgãos, podendo se tornar tumores malignos, se espalhando por outras áreas do corpo através de metástase. Nesse sentido, há também os tumores benignos, que são como uma massa de células que crescem em uma velocidade mais lenta que os malignos. Os fatores de risco para essas doenças são multifatoriais, desde fatores hereditários (genéticos) até o estilo de vida, como o hábito de fumar e a dieta alimentar irregular. 1 Analise as sentenças a seguir e classifi que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Segundo a OPAS, as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito no mundo atualmente. ( ) O diabetes é caracterizado pela não produção de endorfi na. ( ) As neoplasias constituem cerca de mais de 100 doenças. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V. b) ( ) V – V – V. c) ( ) F – F – V. d) ( ) F – V – F. 37 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 7 DEFINIÇÃO DE SAÚDE Atualmente, a saúde se apresenta como um conceito mais complexo, não sendo apenas a ausência de doença e sim uma situação de completo bem- estar físico, mental e social. Para tanto, são acoplados não só conceitos da área de saúde, mas da área de exatas, como a estatística, e da área de humanas, como história, sociologia, entre outras. No entanto, até chegar a esse conceito, a saúde passou a ser estudada e tratada de forma mais ampla com o tempo, sendo estudada através da ciência como um todo. Entre esses estudos temos a epidemiologia com seu papel fundamental, uma peça-chave, visto que ela estuda o processo saúde-doença em nível populacional. O conceito de saúde tornou-se muito mais complexo ao acoplar o conceito de qualidade de vida em sua defi nição. Se formos pensar sobre a história natural da doença, é possível analisar que no estado inicial de saúde há uma interação do organismo sadio com agentes infecciosos ou fatores de risco (um fator que aumenta a possibilidade de ocorrer determinada doença) que poderão perturbar a normalidade ou contribuir para a mudança do estado sadio para a doença propriamente dita (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). As primeiras inter-relações sucedem as primeiras perturbações leves, que podem ser detectadas ao analisar as prevenções, como é o caso do câncer de mama, que através de seu exame periódico pode ser detectado o tumor e já se iniciar o tratamento, aumentando a chance de cura. O estágio inicial é seguido de outros até chegar na doença em estado avançado. Nesse estágio, as alterações da morfologia são geralmente irreversíveis, podendo evoluir para a invalidez total ou até para o óbito (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). 8 EPIDEMIOLOGIA E AS DOENÇAS A epidemiologia, como já abordado, é de grande valia para o estudo do processo saúde-doença em nível populacional, e até agora já aprendemos diversos conceitos ligados a ela. No entanto, no decorrer deste Livro Didático, você aprenderá outros conceitos importantes. A epidemiologia básica está muito associada a um pensamento causal, ou seja, que existem fatores, como os de risco, que auxiliam para desencadear determinada doença. Além disso, ela faz parte de uma disciplina de Saúde Pública e, com isso, preocupa-se com o desenvolvimento de estratégias para as ações voltadas à promoção e proteção da saúde da comunidade em geral. 38 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Para uma defi nição mais precisa, podemos destacar o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos estados ou dos eventos relacionados à saúde em específi cas populações, bem como a aplicação desses estudos no controle dos problemas de saúde (GORDIS, 2017). Estudo: signifi ca, para a epidemiologia, a vigilância epidemiológica, a observação, a elaboração e o teste de hipóteses e diferentes estudos epidemiológicos. Frequência e distribuição: signifi cam a análise dos dados obtidos segundo características de tempo, espaço e classe dos indivíduos afetados. Estados ou eventos relacionados à saúde: incluem doenças, causas de óbito, comportamento, como o uso de tabaco, adesão a condutas preventivas e ao uso de serviços de saúde. Entre as principais aplicações da epidemiologia podemos destacar: • Identifi cação, quantifi cação e caracterização de danos relacionados à saúde de determinada população. • Identifi cação de fatores de risco para determinada doença ou agravo à saúde. • Ampliação da informação sobre a história natural de determinada doença ou agravo à saúde (curso da doença desde o início até a sua resolução na ausência de intervenção). • Estimativa da validade e confi abilidade de procedimentos de diagnóstico e intervenção. • Avaliação da efi cácia/efetividade de um procedimento terapêutico ou profi lático (prevenção). 39 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Capítulo 1 • Avaliação do impacto potencial da eliminação de um fator de risco. Por exemplo, a eliminação do tabagismo como medida de prevenção para o desenvolvimento de tuberculose pulmonar (WALDMAN, 2010) ou câncer de pulmão. A epidemiologia também apresenta uma série aplicações nos serviços de saúde. Uma delas seria as repostas rápidas às diferentes epidemias que assolaram ou assolam o mundo, como é o recente caso do novo coronavírus. Isto porque, ao identifi car, por exemplo, comportamentos de risco, fi ca mais fácil agir na prevenção da doença. Outro item importante também é o monitoramento contínuo dos indicadores de saúde, como mostra na Figura 10. Dessa forma, a análise da situação de saúde e de indicadores demográfi cos permite elaborar diagnósticos das condições de vida de uma comunidade, servindo de subsídios para o estabelecimento de Políticas Públicas no setor de saúde e, assim, no caso do Brasil, para o Sistema Único de Saúde (SUS). A avaliação epidemiológica dos Serviços de Saúde geralmente leva em conta o acesso de determinada população aos serviços, bem como a cobertura oferecida, por exemplo, a proporção de crianças vacinadas. FIGURA 10 − A EPIDEMIOLOGIA APLICADA A SERVIÇOS DE SAÚDE ´ FONTE: Adaptado de Waldman (2001) 40 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Em síntese, a Epidemiologia pode serentendida como fundamentada em dois propósitos: I- A doença humana não ocorre aleatoriamente na população. II- A doença humana tem fatores causais, prognósticos e preventivos que podem ser identifi cados por meio de investigações sistemáticas de diferentes populações e subgrupos de populações em diferentes pontos no tempo e/ou no espaço. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, vimos um pouco sobre a importância da epidemiologia e seus diferentes conceitos que se aplicam para o desenvolvimento de doenças infecciosas e não infecciosas. Devido ao aumento dos casos das doenças se manifestando como epidemias, deu-se ênfase nas doenças infecciosas, apresentando breve histórico de sua importância através dos tempos, até chegar o que temos atualmente. No entanto, as doenças não infecciosas também desempenham um papel importante no conceito saúde-doença, aumentando suas taxas cada vez mais. REFERÊNCIAS BUSHEY, S.; GINDER, S.; O’SULLIVAN, K. The Church’s involvement in the bulbonic plague. 2000. Disponível em: http://web.archive.org/web/20000511105433/ richeast.org/htwm/Plague/Plague.html. Acesso em: 5 jul. 2020. FOLHA DE SÃO PAULO. Malária pode ter matado Tutancâmon, sugere DNA. 2010. Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/ciencia/2010/02/695068-malaria- pode-ter-matado-tutancamon-sugere-dna.shtml. Acesso em: 4 jul. 2020. G1. Depressão cresce no mundo, segundo OMS. 2017. Disponível em: https:// g1.globo.com/bemestar/noticia/depressao-cresce-no-mundo-segundo-oms-brasil- tem-maior-prevalencia-da-america-latina.ghtml. Acesso em: 4 jul. 2020. GORDIS, L. Epidemiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2017. OPAS. Folha informativa: COVID-19. 2020. 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WALDMAN, E. A. Notas de aula: aula de Epidemiologia dada para Pós- graduação em Saúde Pública. São Paulo: USP, 2010. CAPÍTULO 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Reafi rmar as defi nições de epidemiologia básica e sua aplicação na área de saúde e no dia a dia. Adquirir uma visão geral dos conceitos relacionados com a epidemiologia básica. Compreender os principais marcos teóricos da epidemiologia básica. 44 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença 45 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O conceito de Epidemiologia foi explanado no Capítulo 1, possibilitando a visualização da relação da Epidemiologia com o processo saúde-doença, ou seja, como eles estão intrinsicamente ligados. A Epidemiologia pode ser considerada como o eixo da Saúde Pública no mundo e no Brasil, ou seja, ela é a base para a avaliação de medidas preventivas e de profi laxia, fornecendo pistas para o diagnóstico de doenças infecciosas e não infecciosas (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). A Epidemiologia também (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003): • Estuda a distribuição da morbidade e da mortalidade pelas diferentes doenças, para traçar o perfi l saúde-doença nas comunidades humanas. • Realiza testes da efi cácia e da inocuidade de vacinas. • Desenvolve e aplica a Vigilância Epidemiológica sobre as diferentes doenças. • Analisa os fatores ambientais e socioeconômicos que possam ser considerados fatores de risco para o desenvolvimento de doenças e nas condições de saúde. • Constitui um elo de ligação entre a comunidade e o governo, estimulando a prática da cidadania através do controle, pelos cidadãos dos serviços de saúde. Muitas doenças, cujas origens até recentemente não encontravam explicação, têm tido suas causas esclarecidas através de uma metodologia epidemiológica, que tem por base o método científi co aplicado da maneira mais abrangente possível a problemas de doenças que ocorrem em nível populacional (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). A Epidemiologia é considerada uma disciplina viva, em fase de desenvolvimento e transformação sempre, adaptando-se com o processo saúde- doença que vai se modifi cando ao longo do tempo. Neste capítulo, serão apresentadas mais informações sobre a epidemiologia com toda a sua importância no contexto da Saúde Pública, bem como os principais marcos da história da saúde e medicina, os quais se destacaram até termos a epidemiologia moderna conhecida na atualidade. Além disso, serão também discutidos seus principais conceitos no processo saúde-doença. Para melhor entender a relação entre a epidemiologia e o processo saúde- doença, em nível populacional, se faz importante estabelecer o conceito desse 46 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença processo, que se trata do modo específi co pelo qual ocorre o processo biológico de desgaste e reprodução, destacando os momentos em que há a presença de um funcionamento biológico diferente (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). Ao analisar a distribuição de doenças em uma população e os fatores que infl uenciam ou determinam essa distribuição, pensamos em epidemiologia (GORDIS, 2017). Dessa forma, a principal premissa da epidemiologia é que a doença não ocorre ao acaso na população, pois cada indivíduo possui características genéticas, ou que resultaram da interação com o meio ambiente ao seu redor, que podem predispô-lo ou protegê-lo contra as diferentes doenças. Nesse sentido, existem indivíduos maissuscetíveis a desenvolver determinada doença, como é o caso dos idosos, indivíduos imunodeprimidos ou portadores de doenças crônicas, como diabetes ou pressão alta, para o novo coronavírus. Devido ao sistema imunológico desse grupo de indivíduos ser menos desenvolvido ou estar comprometido, essas suscetibilidades os colocam no chamado grupo de risco. Dessa forma, temos também a premissa de que a doença humana apresenta fatores causais, prognósticos e preventivos, que podem ser identifi cados através de investigações sistemáticas de diferentes populações ou subgrupos em diferentes pontos no tempo e/ou no espaço. Indivíduo suscetível: aquele que tem determinada predisposição para desenvolver determinada doença. O estudo da epidemiologia considerando pessoa, tempo e espaço será explanado mais para frente ao abordarmos a Epidemiologia Descritiva. É preciso ressaltar que o principal papel da Epidemiologia é providenciar pistas ao longo do tempo para problemas de Saúde em determinada comunidade, ou mesmo grupos de indivíduos (GORDIS, 2017). Podemos dar vários exemplos com relação a esse importante papel da epidemiologia, mas devido à emergência atual será apresentado sobre o rápido desenvolvimento da pandemia do novo coronavírus ou COVID-19 pelo mundo e pelo Brasil. 47 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA Capítulo 2 Antes de mais nada, é necessário relembrarmos os conceitos de epidemia e pandemia, apresentadas no Capítulo 1, nesse sentido, será apresentada, também, uma nova defi nição: endemia. Epidemias: doenças que se disseminam, de forma inesperada e rápida, atingindo um grande número de indivíduos simultaneamente. Pandemias: tipo de epidemia que é caracterizada pela ocorrência em larga distribuição espacial, atingindo vários países ao mesmo tempo. Endemias: tipo de doença habitualmente presente entre os membros de um determinado grupo, em uma determinada área, ou seja, em uma população defi nida. 2 EPIDEMIOLOGIA Leia um trecho da notícia a seguir sobre a doença causada pelo novo coronavírus: Em 11 de março de 2020, a OMS declarou que o novo coronavírus passou de ser uma epidemia para ser considerada uma pandemia. Nesses dias, são mais de 118.000 casos da doença em 114 países e 4.291 óbitos registrados pela doença. FONTE: <https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,oms-declara- pandemia-de-novo-coronavirus-mais-de-118-mil-casos-foram- registrados,70003228725>. Acesso em: 8 jul. 2020. A mudança de epidemia para pandemia possui como ideia principal induzir os países para que ajam rapidamente, no sentido de se detectar, testar, tratar, isolar e rastrear os casos do novo coronavírus. No entanto, ainda é ressaltada a necessidade de a população mundial não entrar em pânico ou terror com relação a essa doença, mesmo sendo considerada uma pandemia. 48 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença As doenças endêmicas são aquelas que geralmente ocorrem em determinado lugar ou população, como a febre amarela e a malária que são comuns na região Norte do Brasil. A seguir falaremos mais um pouco sobre a epidemiologia e seus conceitos básicos. 1 Sobre a defi nição de endemia, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Doenças que geralmente ocorrem em determinado local ou população. b) ( ) Doença que se espalha em alta velocidade pelo mundo a fora. c) ( ) Doença similar às síndromes. d) ( ) Doenças que também podem ser chamadas de epidemias. e) ( ) Doenças que também podem ser chamadas de pandemias. A palavra-chave da epidemiologia é a prevenção e, para tanto, apresenta como objetivo identifi car grupos da população em estudo e observação que se apresentam com elevado risco de desenvolvimento de determinada doença. Caso seja possível identifi car esses grupos, deve-se identifi car fatores ou características específi cas que provavelmente os colocaram no grupo de risco e tentar modifi car esses fatores para uma prevenção adequada (GORDIS, 2017). É importante salientar que quanto antes for possível evitar o aparecimento de doenças melhor será sua prevenção. Dessa forma, o grande desafi o é ter a prevenção primária, ou seja, a ocorrência de uma medida de prevenção antes do desenvolvimento de determinada doença aplicada geralmente na população sadia. Temos como exemplo a imunização que promove o não desenvolvimento de determinada doença, como é o caso da varíola. Outro exemplo que se pode destacar é se a doença é induzida por algum fator do meio ambiente que o indivíduo vive, podendo ser prevenida, como a radiação associada ao desenvolvimento de neoplasias. A prevenção primária pode ser ainda dividida em (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003): • 1º Nível ou Promoção da Saúde: são medidas de ordem geral, como moradia adequada, construção de escolas e aprimoramento delas, investimento em áreas de lazer, incentivo à alimentação adequada, 49 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA Capítulo 2 promoção de saneamento básico à população, entre muitas outras medidas de prevenção. • 2º Nível ou Proteção Específi ca: essa medida de prevenção é específi ca, como imunização, saúde ocupacional, higiene pessoal e do lar, proteção contra acidentes, aconselhamento genético, controle de vetores, entre muitas outras medidas de prevenção. A prevenção primária é o objetivo maior da epidemiologia e dos epidemiologistas que promovem essas medidas na área de Saúde. Já é comprovado que a maioria dos cânceres de pulmão podem ser prevenidos (GORDIS, 2017), pois, se for possível que os indivíduos parem de fumar, pode-se eliminar cerca de 70% a 80% do início do desenvolvimento do câncer de pulmão nos seres humanos (GORDIS, 2017). No entanto, mesmo que o objetivo seja evitar o desenvolvimento de doenças através dessa prevenção primária, não se tem a informação necessária para que ocorra essa prevenção de forma efetiva para inúmeras doenças. É muito comum não se apresentar dados biológicos, clínicos e epidemiológicos que sirvam de base para o programa da prevenção primária de muitas doenças e, assim, se passa a ter enfoque no segundo tipo de prevenção: a prevenção secundária. A prevenção secundária constitui-se em um conjunto de medidas preventivas que denotam na identifi cação de indivíduos que já desenvolveram determinada doença, mas se encontram na fase inicial desse desenvolvimento. Um grande exemplo desse tipo de prevenção é o diagnóstico precoce, como os exames periódicos, que é o caso da mamografi a para mulheres acima de 40 anos que facilitam na detecção dos casos de câncer de mama logo no início da doença. Além disso, pode-se ter a medida de isolamento domiciliar no caso dos idosos para COVID-19 atualmente, ou uma quarentena dos casos suspeitos para evitar a propagação de doenças. No caso do novo coronavírus, a quarentena tem sido de 14 dias conforme a recomendação da OMS, ou seja, ocorre com o período máximo de incubação da COVID-19. 50 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Quarentena: é o isolamento social dos indivíduos pelo período máximo de incubação de uma determinada doença, contado a partir da data do último contato com um caso clínico ou portador ou a data em que o indivíduo sadio abandonou o local em que se encontrava a fonte de infecção para as doenças infecciosas. Período de incubação: período que vai da infecção ao aparecimento dos primeiros sintomas de determinada doença. É na prevenção secundária também que se tem como medida preventiva o tratamento para evitar a progressão de determinada doença (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). São as ações da prevenção secundária que podem fazer a diferença para que o indivíduo não desenvolva uma forma grave da doença, podendo levá-lo ao óbito. A prevenção secundária pode ser dividida em dois tipos (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003): • 3º Nível ou Diagnóstico Precoce: o Inquéritos de Saúde para descoberta de casos em determinada comunidade. o Exames periódicos e individuais para a detecção precoce dos casos. o Isolamento para evitar a propagaçãode doenças. o Tratamento para evitar a progressão de doenças. • 4º Nível ou Limitação da Incapacidade: o Evitar futuras complicações. o Evitar sequelas. Por fi m, ainda se tem o 5º Nível ou Prevenção Terciária, que se constitui em um conjunto de medidas preventivas voltadas para a reabilitação do paciente, como a fi sioterapia e a terapia ocupacional que promovem a melhora nas condições de vida dos pacientes, atenuando estados de invalidez. Dessa forma, a palavra-chave da prevenção terciária é a reabilitação do paciente. Na Figura 1 mostra-se um resumo dos tipos de prevenção apresentados. 51 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA Capítulo 2 FIGURA 1 − RESUMO DOS TIPOS DE PREVENÇÃO Suscetibilidade FONTE: A autora 1 Observe o esquema a seguir: Suscetibilidade Com base no esquema, analise as sentenças a seguir: I- Prevenção terciária está dentro do período pré-patogênico. II- Prevenção primária corresponde ao tratamento das sequelas deixadas por causa de um acidente, por exemplo. III- A prevenção secundária possui características distintas da primária. a) ( ) Somente a sentença III está correta. b) ( ) As sentenças II e III estão corretas. c) ( ) Somente a sentença I está correta. d) ( ) Somente a sentença II está correta. e) ( ) As sentenças I e II estão corretas. 52 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença Além de existirem essas classifi cações das formas de prevenções das diferentes doenças na população, elas podem ser divididas ainda em: • Medidas Universais. • Medidas Seletivas. • Medidas Individuais. As Medidas Universais são recomendadas a toda população, como: • Dieta balanceada. • Higiene dental. As Medidas Seletivas são recomendadas para subgrupos da população, como: • Faixa etária. • Sexo. • Ocupação. As Medidas Individuais são recomendadas para o indivíduo com alto risco de desenvolvimento de determinada doença, como: • Exames clínicos e laboratoriais específi cos. • Controle da hipertensão. • Controle da hipercolesterolemia (colesterol elevado). • Quimioprofi laxia contra a tuberculose pulmonar. A partir desses tipos de prevenção apresentados, pode-se determinar estratégias para prevenção, tais como: • Diagnóstico e tratamento precoce das diferentes doenças. • Proporcionar uma melhoria nas condições de vida do paciente, caso não seja possível a cura. • Prover adequação ambiental e social aos pacientes que estão deixando os hospitais. • Trabalho dos profi ssionais da saúde considerando a multidisciplinaridade. • Identifi car situações de risco. • Suporte e informações aos profi ssionais de saúde e à população em geral. Até aqui foram apresentadas as medidas de prevenção estipuladas pela epidemiologia, mas devemos nos questionar sobre como o epidemiologista pode identifi car as causas das diferentes doenças (GORDIS, 2017). Para tanto, geralmente se fala em etapas: 53 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA Capítulo 2 I- Identifi cação e determinação se existe associação entre um determinado fator (como uma exposição ambiental) ou uma característica (como um aumento no nível sérico de colesterol) e o desenvolvimento da doença em questão. II- Tentar verifi car inferências apropriadas se há uma possível relação causal relativa às associações encontradas na primeira etapa. Antes de mais nada é importante frisar que a epidemiologia se inicia através da investigação de dados descritivos conforme propõe a Epidemiologia Descritiva, que, como o próprio nome diz, descreve os dados, sendo o início da análise epidemiológica em que se avalia a frequência e a distribuição das diferentes doenças. Os principais objetivos da Epidemiologia Descritiva são: • Descrever a magnitude da doença. • Examinar a distribuição da doença na população, usando dados da estatística vital (Figura 2). • Analisar o comportamento das doenças segundo características de pessoas, do tempo e do lugar. FIGURA 2 − EXEMPLO DE UM TIPO DE GRÁFICO QUE PODE SER ANALISADO NA EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/bar-graph-infographics- representing-descriptive-statistics-1224217804>. Acesso em: 8 jul. 2020. Nesse contexto, torna-se fundamental compreender como são organizados os dados nessa fase inicial da investigação da epidemiologia. Dessa forma, são realizadas as perguntas apresentadas na Figura 3: 54 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença FIGURA 3 − PERGUNTAS QUE DEVEM SER REALIZADAS PARA O ESTUDO DA EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA Quem foi afetado? Resposta: Pessoa Quando foram afastados? Resposta: Tempo Onde foram afetados? Resposta: Lugar FONTE: Adaptado de Waldman (2006) Para se organizar os dados segundo características das pessoas, tem-se como exemplos (WALDMAN, 2006): • idade; • sexo; • raça; • etnia/raça; • estado conjugal e familiar; • ocupação; • educação; • hábitos e costumes; • atividades de lazer. O exemplo da idade já foi apresentado anteriormente neste capítulo ao se considerar o grupo de risco de idosos para o desenvolvimento da COVID-19. No entanto, pode-se pensar nas doenças que ocorrem mais entre as crianças, como caxumba e catapora. No caso do sexo, existe um estudo que foi observado maior desenvolvimento de tuberculose pulmonar entre os indivíduos do sexo masculino (PAULA, 2008). Outro exemplo é demonstrado através da taxa de mortalidade por causas selecionadas por sexo no Quadro 1 a seguir. 55 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA Capítulo 2 QUADRO 1 − TAXA DE MORTALIDADE POR CAUSAS SELECIONADAS, POR SEXO, EPILÂNDIA, 2006 FONTE: Waldman (2006, s.p.) No Quadro 1, é possível observar que a maior taxa de mortalidade por câncer respiratório, por exemplo, é entre os indivíduos do sexo masculino no município de Epilândia, em 2006. Já para a diabetes mellitus, a taxa de mortalidade é maior entre os indivíduos do sexo feminino. Outra forma importante de descrever a relação entre os sexos masculino e feminino é através da razão de taxas segundo sexo, como mostra o Quadro 1. Observando essa razão, tem-se que para a maioria das doenças elencadas, o sexo masculino apresenta-se com maior taxa de mortalidade se comparado com o feminino. Com relação à raça, através dos estudos epidemiológicos, pode-se observar que os cânceres de pele são mais frequentes em caucasianos. Para melhor entendimento de como é o estudo via Epidemiologia Descritiva apresenta-se o Quadro 2. 56 Epidemiologia e Processo Saúde-Doença QUADRO 2 − TAXA DE MORTALIDADE POR CAUSAS SELECIONADAS, POR ETNIA, EM EPILÂNDIA, NO ANO DE 2006 FONTE: Waldman (2006, s.p.) De acordo com o Quadro 2, que compara diferentes taxas de mortalidade por causas selecionadas por etnia branca e não branca no Município de Epilândia em 2006, tem-se que para a maioria dessas doenças a taxa de mortalidade é maior para os não brancos se comparado com os brancos; com exceção da úlcera gastroduodenal e câncer do aparelho urinário que foram iguais para as etnias brancas e não brancas. Além disso, para as enfermidades arteriosclerótica do coração, leucemia e suicídio, as taxas de mortalidade foram maiores para os brancos se comparados com os não brancos; essa comparação também é mostrada através da razão de taxa de não brancos e brancos. Com relação ao estado civil, por exemplo, já foi observado maiores casos de depressão entre os indivíduos separados e solteiros. Para a ocupação, pode-se observar através de gráfi cos, com os dados desta característica vital, que os veterinários podem ter mais casos de raiva que outros profi ssionais. Tem-se também vários estudos epidemiológicos de 57 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA Capítulo 2 doenças ocupacionais, como a observação e a investigação de maiores casos de depressão entre bancários e motoristas de ônibus. Já foi observado taxas maiores de casos de diversas doenças relacionadas com o grau de educação do indivíduo, sendo que os menos instruídos tendem a desenvolverem mais doenças, como a tuberculose pulmonar (PAULA,
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