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2Linguagem, funções executivas, motivação e emoção

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DEFINIÇÃO
A importância da linguagem e os centros de controle da linguagem no cérebro humano. Funções executivas clássicas; processamento encefálico de funções executivas; memória de
trabalho; controle inibitório; flexibilidade cognitiva e redes frontais executivas. Emoções primárias, secundárias e de fundo; teorias da emoção; amígdala e medo; córtex pré-frontal e
processamento emocional da tomada de decisão.
PROPÓSITO
Perceber que a linguagem, os comportamentos motivados, nossas emoções e as funções executivas são essenciais para respostas adequadas à vivência em sociedade como
conhecemos, compreendendo, dessa forma, que identificar as bases neurais de tais processos é importante para que se entenda as diferentes respostas humanas, bem como suas
adaptações.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os principais locais de processamento da linguagem no cérebro humano
MÓDULO 2
Reconhecer as principais funções cognitivas processadas pelo controle executivo, discernindo a relevância de tais processos na adequação de respostas ao ambiente
MÓDULO 3
Identificar a importância do processamento de emoções na tomada de decisões, a influência dos estados motivacionais e os locais encefálicos relacionados aos sentimentos
INTRODUÇÃO
IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO:
Um professor em uma sala de aula (virtual ou não). Ele precisa explicar conceitos específicos sobre determinado assunto aos seus alunos. Para tal, ele organizou previamente um
plano de aula, no qual estruturou suas ideias principais e a ordem dos assuntos que serão abordados.
O professor inicia sua fala, e os alunos ouvem o discurso e fazem anotações em seus cadernos, tablets e smartphones. A comunicação se estabeleceu e foi bem-sucedida. O
professor conseguiu com sucesso passar sua mensagem, que foi transmitida por meio do uso da linguagem verbal e não verbal. Além de sua fala, o professor providenciou imagens
sobre o assunto em questão, que isso facilitou o entendimento da matéria.
Nesse processo, tanto o professor quanto os alunos realizaram diversas atividades, na sala ou mesmo antes de chegar a ela; das mais simples (como amarrar o cadarço do tênis) às
mais complexas (como elaborar esquemas, gráficos e imagens que facilitem a compreensão de determinado conteúdo).
Fonte: Shutterstock
FUNÇÕES EXECUTIVAS

AÇÕES E ATITUDES DIRETAMENTE ASSOCIADAS A PARTES ESPECIFICAS DO CÉREBRO
Por isso, todas essas atitudes são funções executivas, que estão diretamente ligadas a partes específicas de nosso cérebro.
Ao mesmo tempo, não somos capazes de compreender como aconteceria a cena hipotética que mencionamos sem imaginarmos se o professor chegou bem-humorado ou não, ou se
algum aluno sequer anotou uma frase, já que se recusava a dar atenção àquele que lhe deu nota 2,0 na prova anterior.
Fonte: Shutterstock
Você já se deu conta de como seriam as relações humanas se elas fossem desprovidas de emoção?
TALVEZ NÃO, MAS A VERDADE É QUE AS EMOÇÕES SÃO TÃO NECESSÁRIAS COMO
HABILIDADES ADAPTATIVAS QUANTO OS MECANISMOS DE TOMADA DE DECISÃO.
DESSA FORMA, COMPREENDER COMO A EMOÇÃO É PROCESSADA NO CÉREBRO PODE
TRAZER INFORMAÇÕES RELEVANTES SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO EM
DIFERENTES SITUAÇÕES.
É EXATAMENTE ISSO QUE VAMOS ESTUDAR AGORA!
MÓDULO 1
IDENTIFICAR OS PRINCIPAIS LOCAIS DE
PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM NO CÉREBRO HUMANO
POR QUE ESTUDAR A LINGUAGEM?
Mas, o que é linguagem, afinal?
Podemos defini-la como um sistema de comunicação com regras específicas para que um emissor envie mensagens a um receptor, de maneira que a mensagem principal seja
compreendida.
Fonte: Shutterstock
Os sistemas de comunicação abrangem algumas especificações. São elas:
 Clique nos itens a seguir.
SISTEMA DE COMUNICAÇÃO PRÓPRIO
AVANÇO TECNOLÓGICO
EVOLUÇÃO HUMANA
Embora alguns animais, incluindo primatas não humanos, possuam sistemas de comunicação próprios, a linguagem humana, sem dúvidas, é a mais complexa. Basta observarmos
como a língua de determinado local sofre mudanças com o tempo: recebe novas palavras, criam-se neologismos, termos, gírias.
Com o avanço da tecnologia e das realizações humanas em todas as áreas, novas palavras e novos vocabulários são criados a fim de acompanharem o desenvolvimento da
sociedade. Sem contar as palavras que são absorvidas das mais diversas línguas e modificadas para se ajustarem às regras gramaticais de outra localidade. Com certeza, nossas
tataravós não saberiam dizer o que é um drone ou um smartphone. Entretanto, ambos fazem parte de nossa vida no presente e sabemos seus significados e suas funções.
A linguagem, portanto, é uma adaptação fundamental na evolução dos seres humanos, e não é formada apenas de sons específicos, mas envolve ainda gestos e expressões
faciais, que trazem emoção ao discurso.
Durante muito tempo, o estudo da linguagem humana limitou-se a ensaios e testes com pacientes com lesões cerebrais, cujos danos restringiram aspectos da linguagem. Porém, com
o avanço da tecnologia de imagens, foi possível inserir a Neurociência no processo de investigação das áreas cerebrais voltadas à linguagem, o que possibilitou uma compreensão
maior do fenômeno.
ALGUNS ASPECTOS DA LINGUAGEM
A linguagem pode ser desmembrada em componentes mais específicos; por exemplo, a linguagem verbal inclui a vocalização de sons e a compreensão dos mesmos via sistema
auditivo. Dessa maneira, dependendo do tipo de linguagem utilizada, haverá um pareamento de sistemas para a compreensão da mensagem.
Quando a linguagem utilizada for escrita, o sistema visual será encarregado de receber tais estímulos.
Se a linguagem utilizada for o braille, por exemplo, o sistema somestésico será o primeiro a receber as informações necessárias para que a comunicação ocorra.
Linguagem verbal
Fonte: Shutterstock
BRAILLE
Sistema de escrita com pontos em relevo que as pessoas privadas da visão podem ler pelo tato e que lhes permite também escrever; anagliptografia.
SISTEMA SOMESTÉSICO
O sistema somestésico está ligado à percepção tátil.
Fonte: Shutterstock
Quando comparamos a linguagem verbal falada com a linguagem escrita, por exemplo, entendemos que a primeira possui fortes bases neurais, uma vez que, nos primeiros meses
de vida, os seres humanos já são capazes de iniciar processos de aprendizagem neste campo.
Ao passo que a escrita ocorre em etapas posteriores da vida e depende de uma educação formal, o que nem sempre ocorre. No entanto, a linguagem deve ser considerada universal,
no sentido de que todas as sociedades apresentam sistemas bem definidos de regras e se comunicam, ao menos, verbalmente.
A universalidade da linguagem nos traz a ideia de que tal fenômeno é inato ao ser humano e que, provavelmente, existam áreas específicas no cérebro para o processamento desses
dados.
Linguagem universal
Fonte: Shutterstock
Seguem, então, alguns conceitos comuns utilizados na área de linguagem:
FONEMA
São unidades formadoras das palavras. São sons distintos, cuja junção resulta em palavras e frases.
SINTAXE
Estrutura de regras gramaticais para associação de palavras em frases.
SEMÂNTICA
Trata-se da compreensão do significado das palavras.
PROSÓDIA
São inflexões, entonações de voz, gestos e expressões faciais que acompanham a fala.
ÁREAS ENCEFÁLICAS ENVOLVIDAS NA FALA
Você já se deu conta que a associação entre regiões cerebrais e a fala é uma descoberta relativamente recente?
EXATAMENTE! DURANTE MUITO TEMPO, ACREDITOU-SE QUE TODOS OS PROCESSOS DE
REGULAÇÃO DA FALA SE DAVAM APENAS EM NÍVEIS INFERIORES, MAIS
ESPECIFICAMENTE OS MÚSCULOS DA BOCA, LÍNGUA E LARINGE.
A partir de 1770, vieram os primeiros indícios de que áreas encefálicas estariam associadas a problemas na fala. Porém, em 1863, o neurologista francês Paul Broca publicou um
artigo relatando vários casos de indivíduos com lesões nos lobos frontais, especificamente no hemisfério esquerdo, nos quais a linguagem estava comprometida. No ano seguinte,
Broca propôs que havia dominância do hemisfério esquerdo no que diz respeito à linguagem em relação ao hemisfério direito.PAUL BROCA
Paul Broca (1824-1880) nasceu na França. Logo após concluir o curso de Medicina na Universidade de Paris (1844), tornou-se professor de Patologia Cirúrgica. Sua maior
contribuição à Neurologia foi a identificação, no cérebro, do centro do uso da palavra (área de Broca).
Confira, então, alguns aspectos relacionados as áreas encefálicas e a relação entre os problemas na fala.
PROCEDIMENTO DE WADA
O procedimento de Wada – uma técnica mais moderna desenvolvida por Juhn Wada no Instituto Neurológico de Montreal – pode comprovar tal afirmativa. Esse procedimento
consiste na administração de um barbitúrico de ação rápida pela artéria carótida de apenas um dos lados do pescoço, o que faz com que apenas um hemisfério seja anestesiado.
Dentre os efeitos transitórios, estão: paralisia do corpo no lado contralateral à injeção e problemas na execução de tarefas que, especificamente, são controladas pelo hemisfério
anestesiado. Observe a figura:
Utilizando anestésicos de ação rápida, é possível anular as funções de um único hemisfério e observar as atividades que ele regula. Dessa forma, foi possível associar a anestesia do
hemisfério esquerdo e a total incapacidade de fala. Em 96% dos destros e em 70% dos canhotos, o hemisfério esquerdo é dominante para a fala. Apenas em uma parcela muito
pequena da população observa-se bilateralidade da fala.
Fonte: Shutterstock
 Procedimento de Wada 
ÁREA DE BROCA
A área que Broca identificou como a responsável pela articulação da fala acabou ficando conhecida como área de Broca.
Complementando o estudo, o neurologista alemão Karl Wernicke mostrou que lesões no hemisfério esquerdo, fora da área de Broca, também resultam em dificuldades na fala. Tal
área ficou conhecida como área de Wernicke e localiza-se próximo ao córtex auditivo e ao giro angular.
Apesar de tais áreas, ainda hoje, serem implicadas em aspectos da linguagem, sabe-se que seus limites não estão totalmente esclarecidos e podem ser ainda mais abrangentes.
Fonte: Shutterstock
 Componentes principais do sistema de linguagem no hemisfério esquerdo
JUHN WADA
Juhn Wada (Japão, 1924) desenvolveu pesquisas na área de epilepsia, incluindo sua descrição do teste de Wada para domínio hemisférico cerebral da função da linguagem.
Suas principais áreas de interesse são: assimetrias do cérebro humano e neurobiologia da epilepsia.
Além disso, há variações entre os indivíduos, já que existem questões genéticas associadas à linguagem. Como o cérebro e suas estruturas são plásticos e mutáveis frente aos
diferentes estímulos ao longo da vida, os circuitos podem sofrer variações de um indivíduo para o outro.
KARL WERNICKE
Karl Wernicke (1848-1905) nasceu na região da Prússia (onde hoje é a Polônia/Alemanha). Estudou Neurologia, buscando identificar doenças nervosas de áreas específicas do
cérebro. Dedicou-se a pesquisar distúrbios que implicam na funcionalidade da fala e escrita.
O ESTUDO DAS AFASIAS E O MODELO DE WERNICKE-GESCHWIND
Você já percebeu que parte dos estudos sobre a linguagem e sua associação com áreas encefálicas advém da análise de casos de afasias?
É ISSO MESMO! A AFASIA É A PERDA PARCIAL OU COMPLETA DA FALA, RESULTANTE DE
LESÕES ENCEFÁLICAS. NA MAIORIA DAS VEZES, ISSO ACONTECE SEM QUE HAJA PERDA
COGNITIVA OU DA CAPACIDADE DE MOVER OS MÚSCULOS ENVOLVIDOS NA FALA.
A afasia de Broca é caracterizada pela perda da capacidade de fala, com preservação da compreensão do que é ouvido ou lido. Pessoas com essa síndrome apresentam fala difícil
e telegráfica com recorrente anomia, ou seja, incapacidade de encontrar nomes.
Tal anomia é seletiva, uma vez que palavras de conteúdo, como substantivos, verbos e adjetivos, são frequentemente utilizadas. Já palavras de função, como artigos, conjunções e
pronomes, não são utilizadas e não fazem parte das frases.
Conclui-se que a afasia de Broca está relacionada a algum tipo de dificuldade motora na articulação da fala, uma vez que a compreensão é mantida, porém a externalização das
palavras, não.
Fonte: Shutterstock
AFASIA DE BROCA
Também conhecida como afasia motora ou não fluente, pois a pessoa tem dificuldade em falar mesmo que possa entender a linguagem falada ou lida. Caracterizada por
dificuldades no discurso, incluindo uma ampla gama de sintomas. O discurso dos pacientes é frequentemente telegráfico e custoso, vindo em rompantes desiguais.
Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre afasias.
Wernicke sugeriu que a área lesada na afasia de Broca poderia ser responsável pelo controle motor na articulação de sons e palavras. Tal ideia faz sentido quando percebemos que a
área de Broca está localizada próximo à área do córtex motor, que controla a boca e a língua.
Entretanto, em alguns pacientes com essa síndrome, observa-se a possibilidade de eles falarem palavras como bee (abelha, em inglês), mas nota-se igualmente a incapacidade de
pronunciar palavras foneticamente similares como be (ser, em inglês).
Conclui-se, portanto, que o problema estaria na distinção entre palavras de função e palavras de conteúdo, e não em problemas meramente motores, como muitos pesquisadores da
área afirmam.
Acompanhe mais alguns aspectos sobre a afasia de Wernicke.
TAREFA NÃO VERBAL
Devido ao fluxo de fala incompreensível, é difícil verificar com a afasia de Wernicke se está havendo ou não compreensão do que é dito ou escrito.
Dessa forma, designa-se determinada tarefa não verbal para verificar a compreensão do paciente.
Por exemplo, pode-se pedir ao indivíduo que coloque determinado objeto sobre outro. O que se observa é que não há capacidade de compreensão
mesmo para tarefas simples como essa.
SONS DE ENTRADA
Da mesma maneira que a área de Broca fica perto de regiões motoras que controlam boca e língua, a área de Wernicke localiza-se próximo ao córtex
auditivo.
Tal associação pode induzir à ideia de que tal área está relacionada aos sons de entrada e seus significados. Em outras palavras: seria uma área de
formação de memória entre sons e seus significados, o que gera a compreensão da palavra propriamente dita.
REGULAÇÃO DA LINGUAGEM
Ainda em seu estudo com afásicos, Wernicke propôs um modelo de processamento de linguagem no encéfalo, o qual foi complementado por Norman
Geschwind.
Esse modelo, conhecido por Modelo de Wernicke-Geschwind, acaba sendo uma simplificação do que ocorrem em termos de regulação da linguagem
na realidade.
NORMAN GESCHWIND
Norman Geschwind (1926-1984) nasceu nos Estados Unidos e teve como foco de interesse a Neurologia Comportamental. Curiosamente, ele ingressou em Harvard para
estudar Matemática; porém, a Psicologia chamou sua atenção ao observar os soldados na Segunda Guerra Mundial (quando ele serviu ao Exército), agindo de forma irracional
nos combates.
Para compreendermos esse modelo, vamos considerar duas situações distintas: repetição de palavras e a leitura em voz alta de um texto escrito.
REPETIÇÃO DE PALAVRAS
Nesse caso, as informações chegam ao encéfalo via sistema auditivo até o córtex auditivo. Este, por sua vez, processa as informações recebidas, as quais somente serão
reconhecidas como palavras com significado quando processadas na área de Wernicke.
As palavras serão finalmente pronunciadas depois que as informações chegarem à área de Broca, onde comandos neurais serão enviados às regiões motoras responsáveis pelo
controle da língua e dos músculos associados à fala.
Fonte: Shutterstock
 Repetição de palavras faladas (Modelo de Wernicke-Geschwind).
LEITURA EM VOZ ALTA DE UM TEXTO ESCRITO
Já nessa situação, em que a tarefa é a leitura de um texto escrito, o processo final é similar, mas o início difere pelo fato de o sistema de entrada ser o visual, e não o auditivo.
Nesse caso, as informações chegam ao córtex visual, são processadas e passam ao giro angular, onde serão novamente processadas e transformadas em sinais de saída para a
área de Wernicke, como se fossem sinais falados, e não escritos.
O processo final é o mesmo do caso anterior, com as informações sendolevadas à área de Broca e, então, para o córtex motor.
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 Repetição de palavras escritas (Modelo de Wernicke-Geschwind) 
SIMPLIFICAÇÕES DO MODELO DE WERNICKE-GESCHWIND
Embora coerente, o modelo acaba simplificando demais certos aspectos. Por exemplo, as informações visuais podem chegar diretamente à área de Broca, sem passar pelo giro
angular.
As informações visuais não precisam ser transformadas em informações auditivas, como sugerido. Além disso, sabe-se atualmente que os danos nas afasias de Broca e Wernicke
dependem da extensão das áreas lesadas e de regiões não mencionadas no modelo, como o núcleo caudado e o tálamo (ambas áreas subcorticais).
Outro aspecto importante reside no fato de que, em um acidente vascular cerebral (AVC), a borda limítrofe das lesões é variável, o que pode incluir ou não áreas de relevância à
linguagem e que acabaram excluídas do modelo.
Foram reportados ainda estudos que evidenciam a recuperação de áreas lesadas, ou ainda a substituição de função por áreas anteriormente não relacionadas à linguagem, o que
agrava a compreensão dos quadros. Vários casos de afasia são acompanhados de disfunções da fala e da compreensão ao mesmo tempo.
Dessa forma, foram propostos modelos mais complexos de análise, mas que mantêm alguns aspectos básicos do modelo de Wernicke-Geschwind.
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AFASIA DE CONDUÇÃO
 Clique nas setas para ver o conteúdo.
Fonte:Shutterstock
 Feixe arqueado – fibras responsáveis pela conexão entre as áreas de Broca e Wernicke.
Outro tipo de afasia existente é a afasia de condução, na qual ocorre desconexão entre as áreas de Broca e Wernicke. Tal perda de conectividade ocorre devido a lesões no fascículo
arqueado, um conjunto de fibras que conectam ambas as áreas de linguagem.
Nesse tipo de afasia, a compreensão e a fala são mantidas. Entretanto, como há perda da comunicação entre as áreas, há perda da capacidade de repetir palavras. O paciente até
pode ouvir uma palavra ou frase e compreender o que foi dito, mas será incapaz de repeti-la em voz alta da forma correta.
ESPECIALIZAÇÃO HEMISFÉRICA
Quando Paul Broca apresentou seus trabalhos sobre a prevalência do hemisfério esquerdo na formação da linguagem, a comunidade científica entendeu e aceitou que haveria
dominância de tal hemisfério em relação ao direito, que teria apenas funções secundárias e coadjuvantes. Entretanto, o conceito de dominância hemisférica tornou-se ultrapassado; o
que se entende atualmente é o conceito de especialização, e não dominância.
A especialização hemisférica se traduz em hemisférios distintos, cada qual especializado em um grupo de funções. Porém, ambos trabalham em conjunto, integrados por milhões
de fibras denominadas comissuras cerebrais.
Fonte: Shutterstock
 Comissuras cerebrais
O conceito de especialização é correlacionado a outros dois conceitos: o de lateralidade e assimetria.
 Clique nos itens a seguir.
LATERALIDADE
ASSIMETRIA
A lateralidade ocorre quando não há bilateralidade em alguma função e algum hemisfério acaba sendo responsável por determinada função majoritariamente.
O conceito de assimetria é mais amplo e pode ser considerado sob a ótica de diversas modalidades: assimetrias morfológicas, funcionais e comportamentais. 
ASSIMETRIAS MORFOLÓGICAS
Uma observação precisa ser feita para que nenhuma informação seja considerada de forma simplista. O conceito de especialização hemisférica não pode ser traduzido como se
o hemisfério esquerdo fosse inteiramente responsável pela fala e o direito, pelas emoções, por exemplo. Tais fatos incorrem em afirmações que carecem de necessária
comprovação científica.
Se quiser se aprofundar nesse assunto, visite o Explore+ ao final no tema.
Ainda sobre esse estudo, utilizou-se pacientes cujas comissuras foram seccionadas a fim de evitar crises epilépticas fortes, é possível pesquisar as especialidades hemisféricas
fornecendo estímulos que serão processados apenas por um lado do cérebro. Por meio de tais estudos, foi possível localizar as especializações e associá-las aos seus respectivos
hemisférios, como também perceber o papel das comissuras na integração dos hemisférios.
Por exemplo, quando falamos, veiculamos tanto informações cognitivas quanto afetivas, e isso se dá por integração entre os hemisférios. A prosódia é codificada pelo hemisfério
direito, enquanto o esquerdo regula a compreensão linguística e a fala.
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 Especialização hemisférica
COMISSURAS
Conjunto de fibras que têm a função de ligar um hemisfério do cérebro a outro.
Acredita-se que a única generalização permitida quando se trata de especialização hemisférica é a de que o hemisfério esquerdo trata de funções mais específicas, enquanto o direito
regula funções mais globais.
Com o avanço das técnicas de imagem, foi possível observar em mais detalhes a ativação de partes específicas do encéfalo quando da execução de determinadas tarefas.
Os resultados obtidos por ressonância magnética funcional de interferência (IRMf) e tomografia por emissão de pósitrons (TEP) mostram certa bilateralidade na execução de tarefas
ligadas à linguagem, indo de encontro ao que se observa majoritariamente por meio de exames com pacientes lesionados ou em situações de anestesia hemisférica, como no teste
de Wada.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A IDEIA DE HEMISFÉRIOS DOMINANTES NÃO É MAIS ACEITA DESDE QUE SE ENTENDEU QUE OS HEMISFÉRIOS SE COMPLEMENTAM
EM FUNÇÕES, NÃO NECESSARIAMENTE EXECUTANDO AS MESMAS AÇÕES, MAS ESPECIALIZANDO-SE. SOBRE A FALA E
ESPECIALIZAÇÃO HEMISFÉRICA, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE:
A) O hemisfério esquerdo é o único responsável pela execução da fala.
B) Ambos os hemisférios estão envolvidos na construção da linguagem.
C) As comissuras permitem a comunicação entre neurônios do mesmo hemisfério.
D) Tanto em indivíduos destros quanto em indivíduos canhotos observa-se em igual proporção a dominância do hemisfério esquerdo.
2. GRANDE PARTE DOS ESTUDOS QUE DERAM ORIGEM À ÁREA DE NEUROCIÊNCIA DA LINGUAGEM ADVÉM DE PACIENTES COM LESÕES
ORIUNDAS DE CIRURGIAS OU LESÕES CAUSADAS POR ACIDENTES VASCULARES QUE CULMINARAM EM AFASIAS ESPECÍFICAS.
ENTRETANTO, EMBORA NOS OFEREÇAM INFORMAÇÕES RELEVANTES SOBRE FUNÇÕES COMPROMETIDAS A PARTIR DAS LESÕES,
ALGUNS DADOS CONTRAPÕEM TAIS ESTUDOS. ASSINALE A AFIRMATIVA CORRETA SOBRE O ASSUNTO:
A) As afasias podem variar em sintomas devido ao tamanho e à região das lesões que as geraram, trazendo alguns indícios de que as regiões definidas originalmente possuem
limites variáveis.
B) Apesar de as técnicas de imagem serem resultados mais específicos, a observação de sintomas em afásicos traz mais detalhes sobre as áreas estudadas.
C) As áreas de Broca e Wernicke são específicas, respectivamente, no controle de compreensão da linguagem e controle do aspecto motor da linguagem.
D) As lesões que resultam em afasias fornecem dados bastante acurados sobre a localização dos circuitos referentes à formação de linguagem, tanto em compreensão quanto em
resposta motora.
GABARITO
1. A ideia de hemisférios dominantes não é mais aceita desde que se entendeu que os hemisférios se complementam em funções, não necessariamente executando as
mesmas ações, mas especializando-se. Sobre a fala e especialização hemisférica, é possível afirmar que:
A alternativa "B " está correta.
Apesar de a maioria das regiões designadas para a fala estarem localizadas no hemisfério esquerdo, o conjunto de informações resultantes da fala inclui processamento linguístico do
hemisfério esquerdo, mas também processamento prosódico, o qual é resultado do hemisfério direito.
2. Grande parte dos estudos que deram origem à área de Neurociência da Linguagem advém de pacientes com lesões oriundas de cirurgias ou lesões causadas por
acidentes vasculares que culminaram em afasias específicas. Entretanto, embora nos ofereçam informações relevantes sobre funções comprometidas a partir das lesões,
alguns dados contrapõem tais estudos. Assinale a afirmativa corretasobre o assunto:
A alternativa "A " está correta.
As lesões que ocasionam afasias são, normalmente, oriundas de AVCs, os quais podem variar em extensão e fatores associados. Dessa maneira, os dados relacionados a tais
condições podem não ser exatamente específicos em termos de localização e função relacionada. Os exames de imagens podem proporcionar mais dados associados, facilitando o
estudo de tais regiões no encéfalo.
MÓDULO 2
RECONHECER AS PRINCIPAIS FUNÇÕES
COGNITIVAS PROCESSADAS PELO CONTROLE EXECUTIVO,
DISCERNINDO A RELEVÂNCIA DE TAIS PROCESSOS NA
ADEQUAÇÃO DE RESPOSTAS AO AMBIENTE
CONTROLE EXECUTIVO
A IMPORTÂNCIA DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS
Já parou para pensar sobre qual a Importância das funções executivas?
TODOS OS DIAS, EXECUTAMOS DIVERSAS ATIVIDADES E RESPONDEMOS AO AMBIENTE
COM COMPORTAMENTOS NORMALMENTE ADEQUADOS ÀS SITUAÇÕES. VAMOS AO
TRABALHO, À FACULDADE, DIRIGIMOS, PEGAMOS TRANSPORTES, DEPARAMO-NOS COM
PESSOAS, POR VEZES DESCONHECIDAS, E LIDAMOS COM SITUAÇÕES, ORA
CORRIQUEIRAS, ORA DESAFIADORAS
Em paralelo, para criar respostas adequadas aos estímulos, nosso encéfalo (composto por cérebro, cerebelo, tronco encefálico), por meio de suas inúmeras e complexas conexões
neurais, processa tais estímulos e adiciona ainda componentes emocionais, memórias e outros aspectos que compõem nossas reações.
Em outras palavras, nossas ações externalizadas são resultado de uma série de processos executivos coordenados, ou seja, existe um comando executivo atuando a todo momento
na mediação de nossas respostas frente aos estímulos recebidos constantemente.
Fonte: Shutterstock
 Componentes do encéfalo.
POR EXEMPLO, IMAGINE-SE NA SEGUINTE SITUAÇÃO:
Você está entrando em um restaurante para almoçar com seu chefe. Você nunca esteve nesse restaurante; ainda assim, você sabe exatamente o que fazer. Você decide o prato que
vai pedir levando em consideração suas preferências alimentares, o custo-benefício de seu pedido e sua dieta recém-iniciada.
Paralelamente, você está preocupado com as respostas que dará ao seu chefe, já que, claramente, esse almoço é um teste. Você decide rapidamente quais informações dará e de
que maneira o fará utilizando a linguagem adequada à situação.
Com certeza, não trará à tona o atraso do mês anterior, a não ser que seu chefe aborde o assunto. Você provavelmente não vai beber do copo dele nem dar uma garfada no risoto de
camarão que ele pediu. Também não contará piadas.
Por que trouxemos tal exemplo?
PORQUE, EMBORA PAREÇAM AÇÕES COMUNS, PESSOAS COM DISFUNÇÕES EXECUTIVAS,
DEPENDENDO DA REGIÃO AFETADA, PODEM TER DIFICULDADES PARA ATUAR EM TAL
SITUAÇÃO.
 ATENÇÃO
Na verdade, o domínio executivo permite que consigamos planejar, flexibilizar quando necessário e autorregular nossos processos mentais e comportamentais.
O CASO PIONEIRO
O conceito de função executiva veio da percepção de que indivíduos com sérios problemas comportamentais e de personalidade podem apresentar resultados normais (ou até
superiores em desempenho) em testes cognitivos padronizados.
É o caso de Phineas Gage, o indivíduo cujo acidente com uma barra de ferro modificou sua vida e as pesquisas sobre o funcionamento do cérebro (na verdade, encéfalo).
Fonte: Wikipédia
 Simulação dos danos de conectividade e crânio de Phineas Gage
Em 1848, Gage, que trabalhava na construção de uma estrada de ferro nos Estados Unidos no auge de seus 25 anos de idade, teve a cabeça atravessada de baixo para cima por
uma barra de ferro de 1m de comprimento e 30mm de diâmetro. Incrivelmente, foi levado com vida ao hospital, onde detectou-se a perda de parte do lobo frontal esquerdo. Gage
perdeu a visão e ficou com o rosto paralisado no lado onde a barra o atingiu.
Embora suas funções cognitivas estivessem aparentemente intactas, Gage foi incapaz de retornar ao trabalho devido a mudanças drásticas em seu comportamento. Dentre elas,
apresentava-se mais agressivo e menos respeitoso com quem interagisse, principalmente se fosse contrariado. Passou parte de sua vida posterior ao acidente exibindo-se em circos
com sua barra de ferro. Faleceu junto à família de mal epiléptico.
O caso relatado nos mostra a importância da função executiva ou do controle executivo. Phineas apresentou resultados adequados em testes padronizados de funções cognitivas
como memória, capacidade de realizar cálculos, além de testes relacionados à linguagem. Entretanto, sua convivência em sociedade e a execução de seu trabalho foram afetados de
forma drástica por mudanças nas funções executivas.
Um dos axiomas da Neuropsicologia diz que o funcionamento executivo adequado gera autonomia ao indivíduo em relação ao meio ambiente. Confira alguns aspectos importantes
desse tema:
 Clique nos itens a seguir.
AUTONOMIA PERDIDA X LESÕES
AUTONOMIA PERDIDA X MEIO AMBIENTE
Nesse caso, quando a autonomia é perdida por lesões específicas em áreas relacionadas ao controle executivo, perde-se parte da capacidade adaptativa ao ambiente.
A perda de autonomia em relação ao ambiente está relacionada ao fato de que os estímulos externos, em situações onde a função executiva não está preservada, acabam por se
tornar prevalentes em relação às vontades e aos planejamentos do indivíduo.
AXIOMAS
Axioma, originário da Lógica, corresponde a uma sentença inicial ou fundamento de alguma teoria sobre a qual se desenvolvem novos conceitos.
Para compreender essa relação entre autônima perdida e o meio ambiente é necessário analisar um dos principais testes de função executiva:
Você conhece o teste de Stroop ou teste de interferência cor-palavra?
Neste teste, é pedido ao indivíduo que diga em voz alta, o mais rápido que conseguir, o nome das cores de uma sequência dada (figura 10). No primeiro caso, o estímulo é a imagem
de círculos de cores diferentes. Na segunda etapa, ocorre o teste de interferência propriamente dito. O estímulo, agora, consiste na mesma sequência de cores. Porém, em vez de
círculos coloridos, aparecem os nomes de cores impressos em cores incongruentes.
AGORA É COM VOCÊ! FAÇA O TESTE DE STROOP!
Instrução: Você irá precisar de um marcador de tempo, um cronômetro para esse teste.
ETAPA 1:
Leia em voz alta, o mais rápido que conseguir, o nome das cores disponíveis na figura. Marque o tempo que você gastou para realizar essa leitura.
ETAPA 2:
Leia em voz alta, o nome escrito das cores na figura. Marque, também, o tempo que você gastou para realizar essa leitura.
 Teste de Stroop. À esquerda, prancha com estímulos de denominação de cores. À direita, prancha com estímulos de interferência cor-palavra (os nomes são impressos em cores
incongruentes).
QUAL O TEMPO QUE VOCÊ GASTOU PARA REALIZAR A LEITURA DE CADA TESTE?
Neste teste, com os tempos anotados em cada tarefa, verifica-se que pessoas cujas funções executivas estão íntegras, ocorre uma diferença de, em média, dez segundos entre a
primeira etapa e a segunda.
Fonte: Shutterstock
No entanto, como tal teste comprova a integridade (ou não) das funções executivas? Entenda!
A leitura exerce certo predomínio sobre a denominação de cores em pessoas alfabetizadas. Dessa maneira, o estímulo sensorial da palavra escrita acaba sendo mais forte do que o
estímulo de denominação da cor impressa.
Para obter sucesso no teste, o indivíduo deve suprimir a tendência natural de ler a palavra escrita, o que indica flexibilidade e autonomia sobre os estímulos ambientais.
Já os indivíduos que não possuem as funções executivas íntegras levam muito mais tempo para executar a segunda parte do teste, pois tendem a verbalizar o nome da cor impressa.
COMPONENTES PREFERENCIAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS
 Clique nas setas para ver o conteúdo.
Existem diversas abordagens ao se nomear as funções executivas (FE). É possível encontrar listas extensas do que seriam ou são tais funções.
Porém, antes disso, é importante compreender que a ideia de controle executivo é algo maior, por trás de funções cognitivas como a memória e a atenção, por exemplo.
Além disso, tal controle superior tem por objetivo,dependendo da situação, exercer um direcionamento de nossas funções cognitivas.
Em outras palavras, existem funções cognitivas que nos permitem compreender o mundo, dar atenção aos estímulos adequados e reagir a eles. Acima de tais funções, está o
comando executivo gerenciando como todas essas funções serão orquestradas a fim de retornar uma ação adaptativa.
Apesar de ser possível encontrar listas com componentes distintos, entende-se que os principais elementos de controle executivo são:
 Clique nos itens a seguir.
MEMÓRIA DE TRABALHO
FLEXIBILIZAÇÃO COGNITIVA
CONTROLE INIBITÓRIO
Esse tipo de memória gerencia a nossa capacidade de reter e manipular informações distintas por curto espaço de tempo. Tal função permite que consigamos realizar tarefas
sequenciais com início, meio e fim, sem se perder em meio às informações. Indivíduos com lesões no córtex pré-frontal podem apresentar distúrbios de memória de trabalho e, com
isso, tornam-se incapazes de ler um texto extenso ou cozinhar, por exemplo. Ao ler um texto, é necessário memória de trabalho para que se possa lembrar do parágrafo anterior e dar
sentido ao que se está lendo. É esse tipo de memória que possibilita a realização de cálculos mentalmente e a estruturação de pensamentos complexos que dependam de várias
informações simultâneas.
Essa função executiva visa sustentar ou alternar atenção em resposta a diferentes demandas ou, ainda, auxilia a aplicar diferentes regras a situações adequadas. Por exemplo, um
indivíduo faz seu caminho até a faculdade todos os dias. Entretanto, em um dia específico, pode ser que ele necessite passar no banco antes de ir à faculdade e, assim, terá de
modificar seu trajeto habitual. Parece algo simples de se fazer, já que há um objetivo: passar no banco. Entretanto, pessoas com lesões do córtex pré-frontal podem se mostrar
incapazes de reorientar seus trajetos, já que a “regra” original é manter o caminho até a faculdade diariamente.
É a habilidade utilizada no controle de nossos impulsos, a fim de que resistamos a distrações e hábitos e consigamos parar antes de reagir. Esse tipo de controle permite a atenção
seletiva e sustentada, além da capacidade de priorizar tarefas a fim de alcançar objetivos pré-estabelecidos. Está correlacionada diretamente aos processos de controle emocional.
Em resumo, o controle executivo é evocado quando é necessário suplantar respostas prepotentes, ou seja, respostas habituais e que são mais fortes do que as novas ações
requeridas. Em outras palavras, as funções executivas são necessárias quando é preciso atuar de forma contrária a um hábito fortemente adquirido.
HÁBITO FORTEMENTE ADQUIRIDO
Quando alguma ação é repetida por nós muitas vezes, cria-se um hábito. Neurologicamente, isso significa que houve a criação de um circuito específico que se repete em
looping toda vez que um gatilho é apresentado. É o caso da mulher que, todo dia, pontualmente às 15h, deixa sua mesa de trabalho e vai até a cantina do trabalho comprar um
bolo. Talvez ela nem esteja com fome, talvez esteja entediada, mas, para quebrar a rotina, inseriu esse hábito. Logo, o gatilho, nesse caso, pode ser o tédio em meio ao trabalho
da tarde. Toda vez que esse gatilho se apresenta, a mulher associa a ele uma ação, que, no caso, é a compra (e consequente ingestão) do bolo. Tal circuito é quase automático,
pois uma ação ou percepção leva à outra, e as respostas são quase imediatas. Entretanto, caso ela resolva abandonar esse hábito, terá de utilizar suas funções executivas para
suplantar a vontade de obter recompensa imediata comendo o doce.
 ATENÇÃO
O controle executivo atua de forma antagônica às formas automáticas de processamento. Estas formas automáticas de processamento de estímulos exercem o controle bottom-up,
ou seja, de baixo para cima, significando que os estímulos sensoriais (sentidos) e suas associações criaram um hábito.
REDES EXECUTIVAS FRONTAIS: ANATOMIA DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS
Uma vez que entendemos que as funções executivas são vitais para a adaptação ao ambiente, resta conhecer as regiões responsáveis por tal atuação.
Os primeiros indícios de localização de um sistema de controle executivo advêm de estudos em lesões cerebrais que resultam em síndromes cognitivas peculiares, como as
observadas no caso de Phineas Gage. Tais síndromes levam a localizações que remetem às regiões de lobos frontais.
Fonte: Shutterstock
 Lobos cerebrais
Durante algum tempo, entendeu-se que os lobos frontais eram o epicentro das funções executivas, visto que alojam uma série de áreas importantes relacionadas a processos
cognitivos, como linguagem e áreas motoras, por exemplo. Entretanto, a maior parte das síndromes que levam a disfunções de comportamento convergem para a região específica
do córtex pré-frontal (CPF).
Tal região é dividida em 3 partes: córtex dorsolateral, córtex orbitroventral e córtex frontomedial.
Fonte: Shutterstock
 Regiões do córtex pré-frontal
O córtex pré-frontal possui inúmeras conexões com áreas cerebrais. Compreenda mais algumas:
O CPF possui grande número de conexões com áreas cerebrais que processam informações externas, incluindo todos os sistemas sensoriais, além de áreas motoras corticais, assim
como informações internas das estruturas límbicas (centro da emoção) e mesoencefálicas.
Logo, o CPF exerce importante função ao processar inúmeras informações internas e externas a fim de orientá-las no alcance de objetivos específicos.
Não basta ver, ouvir e compreender informações; elas precisam ser coordenadas para gerar respostas adequadas.
Grande parte dos dados sobre o CPF advém, como dito anteriormente, de estudos em pacientes com lesões da área. A seguir, descreveremos algumas das funções executivas
impactadas por danos no CPF.
Confira, então, alguns aspectos relacionados córtex pré-frontal:
CONTROLE INIBITÓRIO
Pacientes com danos no CPF podem apresentar um comportamento conhecido como perseveração (ou perseverância), que consiste em manter comportamentos desencadeados
por estímulos sensoriais, mas sem dar a eles a devida adequação circunstancial. É o caso de um indivíduo que, a cada vez que se depara com um copo de água, não resiste e toma
todo o líquido, mesmo sem saber a quem pertence.
PLANEJAMENTO
Mesmo quando lesões do CPF mantêm intactas as unidades básicas de comportamento, a capacidade de organização pode ser perdida. Um indivíduo com lesões específicas no
CPF pode apresentar dificuldades em ordenar certos comportamentos, como, por exemplo, a execução de uma receita.
AVALIAÇÃO DE CONSEQUÊNCIAS
Para gerar comportamentos direcionados a objetivos, é necessária a capacidade de avaliar as consequências de diversas ações. Pacientes com lesões do CPF, especialmente na
área orbital, mostram-se incapazes de avaliar os prós e contras de suas ações, o que resulta em decisões ruins em curto, médio e longo prazos. Pesquisas na área (DAMASIO, 1996)
mostraram que o córtex pré-frontal orbital é capaz de associar pistas afetivas às decisões a serem tomadas, e tal associação emocional gera alto peso na tomada de decisões.
Lesões nessa área específica tornam indivíduos inaptos em vários testes simples de tomada de decisão.
APRENDIZAGEM E UTILIZAÇÃO DE REGRAS
A habilidade de abstrair e generalizar regras é de extrema importância no contexto da aprendizagem. Entretanto, quando se perde tal função executiva, o indivíduo perde a
capacidade de aplicar regras e moldá-las aos diferentes contextos. Nesses casos, a pessoa terá de lidar com cada nova situação na base de erros e acertos, pois é incapaz de
reutilizar e adaptar regras aprendidas.
Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre a aprendizagem e a utilização de regras.
Como você pode observar com o vídeo, essas funções e habilidades são desenvolvidas no Córtex pré-frontal, esse desempenha um papel relevante no controle executivo. Entretanto,
algumas síndromes chamadas disexecutivas foram associadas a regiões não frontais.
Vale destacar, que devido ao grande alcance de técnicas de imagem,é possível estabelecer que tais síndromes causadas por lesões situadas fora dos lobos frontais, mas em regiões
ricamente associadas a eles por conexões podem ser diagnosticadas.
VOCÊ JÁ COMPREENDEU A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE EXECUTIVO EM NOSSA VIDA. NO
ENTANTO, A PERGUNTA NATURAL QUE PODERIA SURGIR A PARTIR DE TAIS
CONHECIMENTOS É:
TODOS NASCEM COM A PLENITUDE DE SUAS FUNÇÕES EXECUTIVAS?
A resposta para essa pergunta é não!
Mas, uma boa notícia é que tais funções e habilidades podem ser desenvolvidas ao longo da vida, a partir dos estímulos corretos. Em parte, não nascemos com elas porque os lobos
frontais são os últimos a serem finalizados em termos de desenvolvimento cerebral. Por outro lado, ao longo da vida, concomitantemente ao desenvolvimento de tais estruturas,
temos experiências e estímulos que auxiliam no desenvolvimento cada vez maior dessas habilidades, como é possível observar no gráfico a seguir.
Fonte: Neurology, Weintraub e colaboradores, 2013.
 Curva de desenvolvimento de funções executivas
Como mostra o gráfico, as funções executivas começam a ser desenvolvidas logo após o nascimento, com uma janela de oportunidade entre as idades de 3 e 5 anos. O crescimento
em tais habilidades continua até a adolescência e o início da fase adulta. A proficiência começa a ocorrer em fases mais tardias da vida.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AS FUNÇÕES EXECUTIVAS SÃO ESSENCIAIS PARA A ADAPTAÇÃO DOS INDIVÍDUOS AO AMBIENTE E PERMITEM QUE AS RESPOSTAS E
O COMPORTAMENTO SEJAM ADEQUADOS ÀS DIFERENTES SITUAÇÕES. APESAR DE EXISTIREM UMA SÉRIE DE FUNÇÕES
CLASSIFICADAS COMO EXECUTIVAS, O CONTROLE EXECUTIVO PODE SER ENTENDIDO COMO:
A) Uma série de regiões cerebrais relacionadas ao comportamento em sociedade.
B) O controle inibitório exercido pelo córtex pré-frontal em quaisquer situações.
C) A coordenação de diversas funções cognitivas a fim de gerar respostas adaptadas ao ambiente.
D) A função principal do córtex pré-frontal, a única estrutura envolvida no controle de funções superiores.
2. DENTRE AS VÁRIAS FUNÇÕES EXECUTIVAS, UMA É PARTICULARMENTE IMPORTANTE PARA QUE SE LEVE UMA VIDA NORMAL EM
TERMOS DE EXECUÇÃO DE TAREFAS ORGANIZADAS. PACIENTES COM LESÕES NO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL EM ÁREAS ESPECÍFICAS
PODEM ENCONTRAR DIFICULDADES EM LER TEXTOS, ORGANIZAR TAREFAS E LEMBRAR-SE DE SUA ÚLTIMA REFEIÇÃO, POR EXEMPLO.
TAL FUNÇÃO EXECUTIVA ESTÁ RELACIONADA A:
A) Controle inibitório.
B) Planejamento.
C) Memória de trabalho.
D) Atenção.
GABARITO
1. As funções executivas são essenciais para a adaptação dos indivíduos ao ambiente e permitem que as respostas e o comportamento sejam adequados às diferentes
situações. Apesar de existirem uma série de funções classificadas como executivas, o controle executivo pode ser entendido como:
A alternativa "C " está correta.
As funções executivas são, na verdade, o gerenciamento cerebral das principais funções cognitivas, e isso é feito por diversos circuitos. Dentre eles, alguns específicos envolvendo os
lobos frontais e as áreas não corticais associadas.
2. Dentre as várias funções executivas, uma é particularmente importante para que se leve uma vida normal em termos de execução de tarefas organizadas. Pacientes
com lesões no córtex pré-frontal em áreas específicas podem encontrar dificuldades em ler textos, organizar tarefas e lembrar-se de sua última refeição, por exemplo. Tal
função executiva está relacionada a:
A alternativa "C " está correta.
A Memória de trabalho é aquela que confere ao indivíduo a capacidade de reter, por curto espaço de tempo, algumas informações a fim de manipulá-las em contextos distintos. A
perda de tal capacidade é extremamente limitante, impedindo que funções simples, como a leitura de um texto ou a execução de tarefas ordenadas, sejam executadas.
MÓDULO 3
IDENTIFICAR A IMPORTÂNCIA DO PROCESSAMENTO
DE EMOÇÕES NA TOMADA DE DECISÕES,
A INFLUÊNCIA DOS ESTADOS MOTIVACIONAIS E OS LOCAIS
ENCEFÁLICOS RELACIONADOS AOS SENTIMENTOS
O QUE É EMOÇÃO?
Fonte: Shutterstock
É possível encontrar diversas definições de emoção, variando entre significados puramente linguísticos e outros mais biológicos. Compreenda mais alguns aspectos:
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BIOLÓGICO
PERCEPÇÃO
ESTADOS EMOCIONAIS
Do ponto de vista biológico, as emoções representam um conjunto de reações fisiológicas, químicas e neurais que atuam como base para a organização de respostas
comportamentais correspondentes.
É importante compreender que as emoções são igualmente geradas e gerenciadas por sistemas neurais, os quais são capazes de lidar não somente com as respostas dadas frente
às emoções, mas também com a percepção delas.
Outro aspecto importante é a adaptação que os estados emocionais configuram para a sobrevivência da espécie. Sem as emoções, é muito difícil gerar respostas adequadas aos
diferentes estímulos.
Acompanhe um exemplo de como as emoções são essenciais em nosso dia a dia:
Imagine a seguinte situação:
Se um aluno perdesse a capacidade de se sentir triste após ser reprovado em uma prova, talvez não mobilizasse esforços a fim de obter melhor nota no próximo exame. Em casos
mais drásticos, animais que não apresentam respostas comportamentais de medo quando ameaçados por predadores terão poucas chances de sobrevivência.
Fonte: Shutterstock
CLASSIFICAÇÃO DAS EMOÇÕES HUMANAS
As emoções podem ser classificadas de três maneiras: emoções primárias; emoções secundárias e emoções de fundo. As emoções primárias são inatas, ou seja, é comum a
todos os seres humanos, independentemente de fatores socioculturais.
Fonte: Shutterstock
O primeiro pesquisador a estudar o assunto foi ninguém menos que Charles Darwin. Ele observou que algumas expressões emocionais eram similares em diferentes culturas.
Atualmente, os pensamentos de Darwin a respeito de emoções primárias foram corroborados por pesquisadores, em especial Paul Ekman, da Universidade da Califórnia.
Basicamente, o consenso entre os pesquisadores da área reside nas seguintes emoções primárias: alegria, tristeza, medo, nojo, raiva e surpresa.
Provavelmente consideradas inatas por serem indicadores de comportamentos de sobrevivência conservados na espécie humana.
NA FIGURA É POSSÍVEL IDENTIFICAR ALGUMAS EMOÇÕES PRIMÁRIAS. OBSERVE A
IMAGEM E TENTE PERCEBER AS SEGUINTES EMOÇÕES: ALEGRIA, MEDO, SURPRESA,
NOJO E RAIVA.
CHARLES DARWIN
Charles Darwin (1809-1882) nasceu na Inglaterra e tem seu nome imediatamente ligado à Teoria da Evolução, pelo lançamento de sua obra A origem das espécies. Originário
de família de cientistas, Darwin, após abandonar o curso de Medicina, viajou por vários países (inclusive o Brasil), ainda na primeira metade do século XIX, a fim de coletar
informações sobre o que chamaria de “seleção natural das espécies”. Este conceito é a base de sua obra.
PAUL EKMAN
Paul Ekman um dos mais renomados psicólogos contemporâneos. Aprofundou e sistematizou o estudo sobre expressões faciais humanas e criou um método para sua
identificação. Além de autor de muitos livros e largamente premiado, já prestou consultoria para órgãos internacionais de investigação e até mesmo para series televisivas, como
Lie to me.
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 Emoções primárias demonstradas por expressões faciais.
Seguem, então, alguns conceitos comuns utilizados na área de linguagem:
EMOÇÕES SECUNDÁRIAS
As emoções secundárias são aquelas relacionadas a fatores socioculturais e, portanto, variam de um indivíduo para o outro, como, por exemplo, a vergonha. Determinado ato pode
ser vergonhoso para uns, mas não para outros, dependendo das crenças e dos costumes de determinada sociedade, ou mesmo da formação pessoal do indivíduo.
EMOÇÕES DE FUNDO
Por fim, as emoções de fundo são aquelas relacionadas a estados de bem ou mal-estar, e podem ser associadas à percepção de estados internos do indivíduo. Portanto, sua
classificação com as emoções não é consenso entre os pesquisadores. Um exemplo de emoção de fundo seria uma percepção de falta de energia (não cansaço) por parte de
alguém.
 ATENÇÃONão confundir expressão emocional e experiência emocional. Enquanto a experiência faz referência aos estados emocionais que vivenciamos, como ansiedade, tristeza ou raiva, a
expressão está relacionada às mudanças fisiológicas resultantes da base neural das emoções, como respostas hormonais, motoras e comportamentais.
AS TEORIAS SOBRE EMOÇÕES
Várias teorias foram postuladas sobre como as emoções são formadas e processadas. Entretanto, duas teorias são de especial interesse, por serem, de certa forma, antagônicas,
apesar de não haver consenso no meio científico sobre qual se aplica à realidade de forma plena. Uma dessas teorias é a dos pesquisadores William James e Carl Lange e foi
proposta em 1884.
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WILLIAM JAMES
William James (1842-1910) William James nasceu nos EUA. Sua formação foi na área de Medicina, Psicologia e Filosofia. Apesar de sua contribuição à Psicologia, seu maior
destaque é com a teoria filosófica chamada Pragmatismo.
CARL LANGE
Carl Georg Lange (1834-1900) nasceu na Dinamarca e teve na Psicologia e Neurologia suas maiores área de investigação. É também conhecido por seus estudos na área da
depressão e por sua relação com elementos biológicos.
Em outras palavras, segundo os autores, sentimos tristeza porque começamos a chorar; sentimos felicidade porque sorrimos, e assim por diante.
Dessa maneira, a ideia central é a de que alterações de nossos estados corporais são capazes de provocar emoções específicas. Segundo a teoria de James-Lange, a base das
emoções estaria na captação de estímulos emocionais, os quais seriam processados via córtex sensorial, desencadeando respostas motoras específicas (riso, choro, taquicardia etc).
Tais mudanças seriam percebidas no córtex cerebral, provocando então a percepção da emoção em si.
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 Esquema da Teoria de James-Lange, reproduzido a partir do livro Neurociência da mente e do comportamento.
Já no século XX, a teoria sofreu críticas frente a algumas constatações, como o fato de algumas alterações corporais ocorrerem frente a emoções diferentes.
Por exemplo, como posso identificar corretamente o medo com base na taquicardia, se a mesma também ocorre em situações de surpresa e até alegria? Um dos principais
opositores da Teoria de James-Lange foi o americano Walter Cannon. Ele propôs que, enquanto a informação emocional é processada pelo encéfalo, são geradas respostas
corporais e a consciência da emoção simultaneamente.
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 Processamento das emoções segundo Walter Canon.
WALTER BRADFORD CANNON (1871-1945)
Médico de formação, dedicou-se a pesquisas na área dos sistemas nervoso e digestivo e do comportamento do coração, por meio de investigações experimentais.
ONDE ESTÃO AS EMOÇÕES?
Após as teorias das emoções ganharem os pesquisadores da área, buscou-se procurar efetivamente as áreas cerebrais responsáveis pelos fenômenos emocionais. Quem primeiro
postulou a localização de tais regiões foi o anatomista americano James Papez, trazendo a público a ideia de sistemas e circuitos, e não somente áreas isoladas no cérebro.
As estruturas identificadas por Papez, em conjunto, ficaram conhecidas como Circuito de Papez e incluíam o córtex cingulado, o hipocampo, o hipotálamo e os núcleos anteriores do
tálamo.
 Estruturas relacionadas ao Circuito de Papez, posteriormente chamado de sistema límbico.
JAMES WENCESLAS PAPEZ (1883-1958)
Formado em Medicina, dedicou-se aos estudos da Neurologia, buscando novos conceitos para explicar a emoção. Embora ele não tenha mencionado o lobo límbico de Broca,
outros pesquisadores observaram que seu circuito era muito semelhante ao grande lobo límbico identificado por Paul Broca.
Apesar de alguns locais efetivamente serem importantes para os circuitos de emoção, outros foram acrescentados posteriormente, como a amígdala, que desempenha papel
fundamental nas emoções negativas (como o medo e a raiva) e o córtex pré-frontal. Por sua vez, não há evidências de que o hipocampo esteja envolvido na formação de emoções,
apesar de participar do processo de desenvolvimento de memórias, incluindo as emocionais.
A seguir, abordaremos as duas principais estruturas cujas funções estão consolidadas em termos de gerenciamento das emoções: amígdala e córtex pré-frontal
 Estruturas modernas do sistema límbico
AMÍGDALA
A amígdala é uma estrutura localizada no polo do lobo temporal e recebe conexões de todas as áreas sensoriais, com exceção do sistema olfatório, e conexões provenientes do
neocórtex, giros para-hipocampal e cingulado.
Ela também se conecta-se ao hipotálamo.
 Localização da amígdala nos dois hemisférios cerebrais
As amígdalas possuem uma função extremamente importante no desenvolvimento e nas demonstrações das emoções. Por isso, conheça mais alguns aspectos importantes dessa
área cerebral:
 Clique nos itens a seguir.
ASPECTO 01
Sua função está ligada fortemente ao medo e à ansiedade. Estudos realizados com primatas não humanos, cujas amígdalas eram lesionadas bilateralmente por medicamento,
demonstraram perda das respostas de medo. Os macacos ganharam docilidade e tenderam a ignorar situações comuns de perigo. Era como se não temessem mais seus predadores
ou situações perigosas, chegando mesmo a manipular cobras sintéticas, por exemplo.
ASPECTO 02
Além de outras associações (como formação de memórias emocionais negativas), a amígdala foi relacionada ainda ao fenômeno de formação do medo condicionado. Isso foi
demonstrado, entre outros experimentos, quando ratos eram expostos inicialmente a um breve estímulo auditivo e pequenos choques. Após o condicionamento, apenas o estímulo
auditivo era suficiente para gerar ativação da amígdala e respostas de medo, como aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e secreção de hormônios, como os
glicocorticoides.
ASPECTO 03
Logo, constatou-se que a amígdala exerce papel primordial em detectar ameaças do ambiente e gerar os comportamentos adequados a elas. Lesões da amígdala levam à perda da
capacidade de reconhecer perigos e ameaças, o que pode ser prejudicial à sobrevivência, deixando indivíduos sujeitos a situações reais de perigo.
CÓRTEX PRÉ-FRONTAL
O córtex pré-frontal corresponde à porção mais anterior do lobo frontal e pode ser dividido em três regiões: orbitofrontal, ventromedial (relacionada à emoção) e dorsolateral
(relacionada a funções cognitivas).
 Localização das regiões ventromediais e orbitofrontais do córtex pré-frontal.
[...] OS ESTUDOS NESSA ÁREA INICIARAM-SE APÓS O CLÁSSICO DE PHINEAS GAGE, MENCIONADO
ANTERIORMENTE. PORÉM, O GRUPO DO NEUROLOGISTA PORTUGUÊS ANTÔNIO DAMÁSIO
CONTRIBUIU BASTANTE PARA O ESTUDO DO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL. ELES IDENTIFICARAM UM
HOMEM CUJA PERDA DE PARTE DO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL SE DEU DEVIDO À RETIRADA CIRÚRGICA
DA REGIÃO EM TRATAMENTO, EM RAZÃO DE UM TUMOR AGRESSIVO.
(DAMÁSIO, 1996)
ANTÓNIO ROSA DAMÁSIO (PORTUGAL, 1944)
Neurocientista português que tem como foco de seus estudos o cérebro humano e as emoções. Sua maior e mais impactante contribuição ao campo da Psicologia foi mudar a
concepção que havia acerca da relação “razão x emoção”; quase subordinando a primeira à segunda.
Nesse contexto, o homem também passou a apresentar condutas alteradas, principalmente no que dizia respeito a julgamentos e tomadas de decisão, que eram constantemente
inapropriadas.
Você saia, que em testes realizados, puderam perceber que os indivíduos, a fim de tomares decisões acertadas, além do componente racional, necessitam de uma espécie de
antecipação emocional, a qual pode gerar modificações fisiológicas que podem ser perceptíveis ou não (como sudorese, taquicardia, entre outras).
TAL HIPÓTESE É DENOMINADA HIPÓTESE DO MARCADOR SOMÁTICO E PROPÕE
BASICAMENTE QUE, QUANDO ANTECIPAMOS ALGUM TIPO DE EMOÇÃO, REGIÕES
ESPECÍFICAS DO CÉREBRO SÃO ATIVADAS EXATAMENTE COMO SE ESTIVÉSSEMOS
VIVENCIANDO-A. DESSA MANEIRA, INDIVÍDUOS COM LESÕES NO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL
PERDEM A CAPACIDADE DE ANTECIPAR TAIS ESTADOS, E ISSO OS LEVA A TOMAR
DECISÕES ERRÔNEAS.MOTIVAÇÃO
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Com certeza, você já ouviu, especialmente em ambiente educacional, alguém falar em motivação. Porém, o que significa motivação para você?
Quando nos sentimos motivados, temos a tendência de realizar algo ou ir ao encontro de alguma coisa. Não é basicamente essa a ideia que você tem?
 ATENÇÃO
Em Neurociências, podemos chamar tal fenômeno de estado motivacional. Tais estados geram comportamentos motivados. Assim, a motivação está associada ao movimento.
Por exemplo, o estado motivacional de frio nos leva ao comportamento motivado de buscar agasalho.
É muito comum associarmos motivação a questões emocionais, quase como se fosse uma emoção por si só. Entretanto, quando tratamos de motivação e comportamentos motivados
em neurociências, estamos falando de questões que dizem respeito à adaptação e sobrevivência.
Basicamente, a regulação da motivação pode ser dividida em dois sistemas: sistema apetitivo e sistema defensivo ou aversivo.
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SISTEMA APETITIVO X SISTEMA DEFENSIVO
 Clique nas figuras abaixo para ver as informações.
Sistema apetitivo
Esse sistema está relacionado à sobrevida e procriação, portanto inclui estados motivacionais de fome, sede, regulação da temperatura e sexo, por exemplo.
Sistema defensivo ou aversivo
Já o sistema defensivo está associado a situações de perigo e ameaça e, portanto, gera comportamentos motivados de esquiva e fuga.
No sistema apetitivo, existem órgãos importantes, como o hipotálamo, participando do processo de controle de ingestão alimentar. Tal controle envolve a liberação de
neurotransmissores e hormônios, em um arranjo complexo a fim de manter a homeostasia.
Apesar de entendermos por que os organismos buscam comida, água, dentre outros fatores de sobrevivência, ainda existe a dúvida sobre o que nos leva a determinados
comportamentos geradores de prazer, como comprar, jogar, dentre inúmeras outras atividades.
A resposta reside na obtenção de recompensa; dessa forma, muitos dos comportamentos podem ser motivados por recompensas que não necessariamente têm a ver com a
manutenção da espécie no planeta, mas, sim, com a busca pela sensação de prazer.
HOMEOSTASIA
O conceito de homeostase foi desenvolvido por Walter Cannon [já citado anteriormente]. Ele realizou trabalhos em fisiologia experimental, denominando homeostase como o
princípio de “meio interno em que o sangue e os demais fluidos que circundam as células constituem o meio interno com o qual ocorrem as trocas diretas de cada célula e, por
isso, deve ser mantido sempre com parâmetros adequados à função celular, independentemente das mudanças que possam estar ocorrendo no ambiente externo”. Assim,
propôs que a função final de todos os mecanismos fisiológicos é a manutenção da homeostase, que deve ser compreendida como “a manutenção da estabilidade do meio
interno”. (SOUSA; SILVA; GALVÃO-COELHO, 2015)
REFORÇO E RECOMPENSA
Como os pesquisadores conseguem estudar motivação e comportamentos motivados em animais? Utilizando técnicas de autoestimulação elétrica.
Em experimentos clássicos da década de 1950, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, posicionaram um rato em uma caixa com uma alavanca.
Quando pressionada a alavanca, um breve estímulo era acionado por meio de eletrodos colocados em regiões específicas do encéfalo do animal. Inicialmente, o rato pressionava a
alavanca de maneira randômica, porém, depois de um tempo, o animal permanecia próximo, pressionando-a incessantemente, a ponto de evitar água e comida.
Fonte: Shutterstock
 Autoestimulação elétrica.
Por esses experimentos, entendemos que a recompensa (no caso, o estímulo elétrico em regiões específicas) reforçava o comportamento de puxar a alavanca. Por que comemos?
Porque o ato de comer nos reforça o comportamento de buscar comida, já que o alimento é necessário para a sobrevivência.
A região e os circuitos que configuram as vias de recompensa e reforço estão associados às fibras liberadoras de dopamina (neurotransmissor), originárias da área tegmentar
ventral e se projetam para o prosencéfalo.
 Sistema dopaminérgico mesocorticolimbico
Neste vídeo, você aprofundará seu conhecimento sobre reforço, recompensa e motivação.
Os experimentos demarcaram um momento marcante para identificação das emoções e como elas estão associadas ao cérebro. Compreenda mais alguns aspectos:
 Clique nas setas para ver o conteúdo.
No mesmo modelo de experimento citado anteriormente, os pesquisadores injetaram drogas bloqueadoras de receptores dopaminérgicos, ou seja, impediram a atuação da dopamina,
causando diminuição na autoestimulação.
Esses experimentos sugerem fortemente que há reforço de certos comportamentos associados a recompensas naturais, como água e alimentos. Interessante frisar que áreas
dopaminérgicas cerebrais são ativadas em antecipação à recompensa propriamente dita.
É o que ocorre quando vemos o garçom vindo em nossa direção com o prato que escolhemos. O cérebro percebe o que está por vir e já ativa áreas relacionadas à recompensa em
si.
Uma dúvida recorrente quando o assunto é o sistema de reforço e recompensa é a seguinte: como se estabelecem os vícios? Basicamente, em situações nas quais buscamos
avidamente por uma recompensa de forma incessante e repetitiva, a fim de obter o que a Neurociência chama de resposta hedônica (prazer).
Podemos utilizar como exemplo a nicotina para explicar o processo que se forma no cérebro. Este composto, presente em altas doses no cigarro, atua diretamente nos circuitos
encefálicos de motivação de comportamento. Logo, a ligação da nicotina a seus receptores em neurônios dopaminérgicos estimula a liberação da dopamina em tais circuitos,
reforçando o comportamento pela busca da droga.
O problema de tal reforço comportamental (além dos malefícios da própria nicotina em si em outras regiões do organismo) é o efeito de tolerância. Tal efeito se dá como ajuste para
a estimulação acentuada frente ao uso crônico da substância, fazendo com que a resposta à nicotina diminua. Para obter os mesmos efeitos, serão necessárias, daí por diante, doses
cada vez maiores da droga.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SEGUNDO A TEORIA DE JAMES-LANGE, AS SENSAÇÕES PERIFÉRICAS NOS FORNECEM SUBSTRATO PARA AS EMOÇÕES; LOGO,
SENTIMOS TRISTEZA PORQUE CHORAMOS, E ASSIM POR DIANTE. APESAR DE DESACREDITADA DURANTE UM TEMPO, A IDEIA ORIGINAL
RESSURGIU COM O ADVENTO DA TEORIA DO MARCADOR SOMÁTICO, DE ANTÔNIO DAMÁSIO. DE QUE MANEIRA SE DÁ TAL
ASSOCIAÇÃO?
A) Segundo a Teoria do Marcador Somático, os indivíduos necessitam do componente emocional para a tomada de decisão em maior proporção do que a análise racional de fatos.
B) Segundo Damásio, a percepção de fatores somáticos corporais afetaria de forma negativa a percepção de informações cognitivas, o que levaria a decisões ruins.
C) A antecipação emocional que se dá via marcadores somáticos oferece pistas importantes na tomada de decisão quando analisadas com fatos.
D) Damásio sugere que as emoções são afetadas diretamente pelas reações corporais que temos frente às situações cotidianas; dessa maneira, a Teoria de James-Lange é
corroborada por completo.
2. OS COMPORTAMENTOS MOTIVADOS SÃO FREQUENTEMENTE DESENCADEADOS POR ESTADOS MOTIVACIONAIS INTERNOS. DESSA
MANEIRA, A PERCEPÇÃO DE SENSAÇÕES E MODIFICAÇÕES SOMÁTICAS SE TRADUZ EM COMPORTAMENTO ESPECÍFICO, O QUE NOS
LEVA À BUSCA POR RECOMPENSAS. QUANDO OBTEMOS A RECOMPENSA, ACIONAMOS CIRCUITOS CONHECIDOS, QUE, EM
CONTRAPARTIDA, REFORÇAM TAIS AÇÕES. FOI DEMONSTRADO QUE, ANTES MESMO DE TERMOS A RECOMPENSA EM MÃOS, ÁREAS DO
CÉREBRO JÁ SE ENCONTRAM ATIVAS, COMO SE ESTIVÉSSEMOS REALMENTE VIVENCIANDO O PROCESSO. DENTRE AS SITUAÇÕES A
SEGUIR, QUAL NÃO SE RELACIONA COM A GERAÇÃO DE REFORÇO POSITIVO?
A) Ingerir alimento saboroso.
B) Beber água gelada no calor.
C) Vestir um casaco em situação de frio.
D) Fugir de situação potencialmente perigosa.
GABARITO
1. Segundo a Teoria de James-Lange, as sensações periféricas nos fornecem substrato para as emoções;logo, sentimos tristeza porque choramos, e assim por diante.
Apesar de desacreditada durante um tempo, a ideia original ressurgiu com o advento da Teoria do Marcador Somático, de Antônio Damásio. De que maneira se dá tal
associação?
A alternativa "C " está correta.
Segundo a Teoria do Marcador Somático, as modificações somáticas que nos acometem, ainda que imperceptíveis, atuam como direcionadores na tomada de decisão. Dessa forma,
corrobora, em certo aspecto, com a ideia de que sistemas periféricos têm influência na maneira como sentimos. Entretanto, Damásio deixa claro que não há necessidade de que tais
alterações sejam processadas conscientemente.
2. Os comportamentos motivados são frequentemente desencadeados por estados motivacionais internos. Dessa maneira, a percepção de sensações e modificações
somáticas se traduz em comportamento específico, o que nos leva à busca por recompensas. Quando obtemos a recompensa, acionamos circuitos conhecidos, que, em
contrapartida, reforçam tais ações. Foi demonstrado que, antes mesmo de termos a recompensa em mãos, áreas do cérebro já se encontram ativas, como se
estivéssemos realmente vivenciando o processo. Dentre as situações a seguir, qual NÃO se relaciona com a geração de reforço positivo?
A alternativa "D " está correta.
O enunciado da questão já nos dá pistas de que, ao falarmos de reforço positivo, estamos nos referindo ao reforço relacionado à recompensa, como estudamos nesse módulo. A
situação de fugir de uma situação potencialmente perigosa não se enquadra nesse processo, especialmente porque a ação do indivíduo não provém de uma experiência de
recompensa, mas, sim, de aversão.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao chegarmos ao fim deste tema, esperamos que você tenha percebido a importância de reconhecer que, como humanos, somos seres extremamente complexos e que até mesmo
atitudes mais simples – como observar uma paisagem, cantarolar uma música, decidir se ignoro ou reajo a uma provocação – são fundamentadas por bases neurais, que também são
complexas.
No entanto, outro ponto merece destaque: esse conhecimento, especialmente acerca da linguagem, das funções executivas, da emoção, deve levar-nos a tomar consciência daquilo
que nos define como espécie. Isso permite que compreendamos como as respostas que damos a situações cotidianas são padronizadas, do ponto de vista neurológico. Ao mesmo
tempo, tal como o próprio desenvolvimento do cérebro se deu por adaptações, como vimos, cada indivíduo também é capaz de adaptar-se às circunstâncias que o envolvem, até
mesmo em situações limites (como no caso de Phineas Gage). Isso caracteriza a importância do indivíduo, inclusive no contexto da espécie.
É exatamente aqui que gostaríamos que você percebesse a importância de, cada vez mais, conhecer e se aprofundar no fantástico mundo da mente humana. Aproveite cada
indicação feita no Explore + e nas referências a seguir.
REFERÊNCIAS
BEAR, M.; CONNORS, B.; PARADISO, M. Neurociências: Desvendando o sistema nervoso. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
CENTER ON THE DEVELOPING CHILD AT HARVARD UNIVERSITY. How Early Experiences Shape the Development of Executive Function. 2011.
CENTER ON THE DEVELOPING CHILD AT HARVARD UNIVERSITY. How Early Experiences Shape the Development of Executive Function. 2012.
DAMASIO, A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
MARCHETTI, P. et al. Influência da lateralidade nas assimetrias morfológicas e funcionais em indivíduos sedentários. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano VII, nº 22,
out/dez 2009. p. 08-14.
SOUSA, M.; SILVA, H.; GALVÃO-COELHO, N. Resposta ao estresse I: homeostase e a teoria da alostase. Estudos de Psicologia. Vol. 20, no.1, Natal, jan/mar 2015.
WEINTRAUB, S. Cognition Assessment Using the NIH Toolbox. Neurology, 80 (Suppl 3), March 12, 2013.
EXPLORE+
Confira o artigo: Influência da lateralidade nas assimetrias morfológicas e funcionais em indivíduos sedentários.
Consulto o Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria ele é uma excelente fonte de artigos sobre bases neurobiológicas dos distúrbios de linguagem.
A Universidade de Harvard disponibiliza em seu site excelentes materiais sobre as funções executivas. Um deles é o guia absolutamente completo sobre o desenvolvimento de
funções executivas desde a infância até a fase adulta e sobre como desenvolvê-las de forma contínua (material disponível em inglês). Vale a pena conferir.
Pesquise sobre o Dr. António Damásio que é uma referência no âmbito do processamento das emoções pelo cérebro. É possível encontrar vídeos deles em plataformas como
Youtube. Vale a pena ouvi-lo.
CONTEUDISTA
Virgínia Baptista Chaves Duarte de Lima
 CURRÍCULO LATTES
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