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FUNDAMENTOS E OBJETO DA AUDITORIA Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Nathália Laffin CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Jorge Krening Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 957.45 L163f Laffin, Nathália Fundamentos e objeto da auditoria / Nathália Laffin. Indaial: UNIASSELVI, 2018. 83 p. : il. ISBN 978-85-53158-01-0 1. Auditoria I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Nathália Laffin Contadora formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem mestrado em Administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina (ESAG-UDESC) e é doutoranda na área de Contabilidade na Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professora na UFSC na área de Auditoria e Perícia Contábil. Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................01 CAPÍTULO 1 Introdução À Auditoria ........................................................09 CAPÍTULO 2 Fundamentos e Processos de Auditoria ............................25 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 Normas de Auditoria e Parecer do Auditor ......................43 Demonstrações Contábeis ...................................................59 APRESENTAÇÃO Vivemos em uma época digital, onde o dinamismo é palavra chave na vida e rotina das pessoas. A informação – seja de qual tipo – é amplamente distribuída e acessível em qualquer lugar do mundo a qualquer instante. Esse cenário tem impacto direto na economia. A globalização de conteúdos e informações demanda a necessidade de transformação das pessoas e empresas para se manterem competitivas nesse novo contexto em que se inserem. A contabilidade, como ciência social aplicada às rotinas financeiras e econômicas não pode distanciar-se desse acompanhamento às mudanças e precisa evoluir conforme a dinâmica do mundo. O Brasil, ao adotar as normas internacionais de contabilidade, mostra-se pronto para lidar com essas mudanças e viabilizar a inserção de nossas empresas num mercado global. O livro Fundamentos e Objeto da Auditoria traz, para seus leitores, informações sobre uma das especializações da contabilidade: a auditoria. A auditoria acompanha diretamente essa evolução do mundo. Quanto mais informação disponível, maior a exigência dos usuários dessa informação, requerendo, cada vez mais, uma maior transparência. As empresas, nesse intuito, otimizam seus processos para gerar informação útil, fidedigna e tempestiva a seus usuários. Além disso, pelo rápido e fácil acesso a informações de diferentes empresas, cada uma destas precisa tornar-se atrativa a seus usuários. A auditoria nasce justamente nessa premissa, pois confere confiabilidade aos controles utilizados pela empresa e à informação transmitida por meio de suas demonstrações contábeis. O intuito do livro é fazer o leitor compreender os conceitos, evoluções e contextualizações da auditoria na prática contábil, bem como as características e exigências necessárias para ser um auditor. Desta forma, discutiremos quais as atribuições e/ou funções desempenhadas no dia a dia das atividades e como o nosso país normatiza as rotinas de auditoria. Por fim, falaremos do produto da auditoria, o relatório (parecer) emitido pelo auditor e que retrata sua opinião acerca das informações coletadas e averiguadas em seus trabalhos. Bons estudos! CAPÍTULO 1 Introdução À Auditoria A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender o conceito de auditoria, identificando suas transformações durante a história. � Conhecer as características e objetivos da auditoria. � Saber os tipos de auditoria existentes e quais as normas que as embasam 10 Fundamentos e Objeto da Auditoria 11 Introdução À Auditoria Capítulo 1 Contextualização O contexto social de um mundo globalizado se configura, cada vez mais, de maneiras específica nas mudanças que ocorrem nas organizações, trazendo para os mercados consumidores, diferentes consequências. As instituições sociais, sejam de natureza pública ou privada, precisam acompanhar as transformações do ambiente externo como premissa básica de continuidade de suas atividades e de manutenção do patrimônio administrado. Nesse cenário, a informação é adquirida e repassada de maneira muito fácil e rápida pelas redes, o que gera uma exigência de transparência quanto às informações prestadas pelos diferentes entes. Não distante disso, para permanecer no mercado, competitivo e instável, para além de oferecer serviços e/ou produtos de qualidade, e nisto ter a continuidade de suas atividades, as empresas precisam, adotar formas seguras e adequadas de gerir o capital investido, tanto na produção de bens e serviços quanto na administração do negócio. A contabilidade possui o patrimônio como seu objeto de estudo, para assegurar a integridade desse patrimônio, utiliza-se de fundamentos teóricos e práticos de orientação de gestão patrimonial, gerando informação que deve ser considerada útil e fidedigna ao usuário. Desta forma, nesse capítulo abordaremos os aspectos iniciais da área da contabilidade responsável pela verificação e estudos das rotinas contábeis, a auditoria. Conceito de Auditoria O contador, ao realizar suas atividades, possui fundamentos teóricos e práticos de orientação de gestão patrimonial que contribui de forma singular para administração de um patrimônio. Dentro das diferentes atribuições e atividades realizadas, a auditoria corresponde a uma área da contabilidade, que dá ênfase à qualidade dos processos, otimização dos recursos e também verifica a integridade dos eventos contábeis. A auditoria compreende o exame de documentos, livros, registros e obtenção de informações, sejam internas ou externas, que estejam relacionadas a um patrimônio específico. Em sua percepção inicial, a auditoria era utilizada para a verificação dos registros contábeis, sendo suas funções restritas ao confronto da escrita com seus registros correspondentes, conforme descreve Pierucci (1977, p. 14): 12 Fundamentos e Objeto da Auditoria No campo específico da verificação é que entra a tarefa do auditor. Onde quer que haja um trabalho de registro, um documento, um relatório contábil, há que presidir a certeza dos seus conteúdos. É pressuposto inarredável a existência do fato registrado, pois a auditoria atua sobre ele. O exame comprovará sua exatidão, procedência, acerto etc. A auditoria, identifica e corrige erros, sejam dolosos ou simplesmente acidentais. Este conceito restringe o campo de atuação da auditoria contábil em verificar a veracidade e exatidão dos registros contábeis e das demonstrações surgidas destes registros. No entanto, a auditoria atual não se vincula à mera ação corretiva do processo, mas ao processo de prevenção, ampliando, desta forma, o campo de atuação da auditoria contábil. Para o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) (2007, p. 28), a auditoria contábil “compreende o exame dos registros e dos documentos e na coleta de informações e confirmações, mediante procedimentos específicos, pertinentes ao controle do patrimônio de uma unidade, entidade ou projeto”. Assim, o objeto da auditoria é, para Franco e Marra (2009, p. 31), o “conjunto de todos os elementos de controle do patrimônio administrado”,podendo citar como exemplo os registros contábeis, papéis e documentos internos e também dados externos que podem vir a confirmar ou confrontar uma determinada informação. No próximo capítulo, veremos quais são os elementos que compõem o conjunto do controle do patrimônio administrado. Para Attie (2010), a auditoria testa a eficiência e eficácia do controle patrimonial existente em uma empresa, expressando uma opinião sobre um dado analisado, ou seja, a auditoria, além da função de verificar a veracidade e exatidão dos registros contábeis, tem ainda a função de testar a eficiência do controle patrimonial. Em complemento a essas informações, Sá (2002) aponta que a auditoria é uma tecnologia contábil aplicada de forma sistemática ao exame de qualquer informação contábil, trazendo conclusões e orientações sobre situações patrimoniais que ocorreram ou estejam por ocorrer. Nesse sentido, o autor acrescenta que qualquer dado de natureza contábil é objeto de exame da auditoria, sendo esta responsável não somente pela verificação da exatidão 13 Introdução À Auditoria Capítulo 1 e veracidade deste dado, e sim, responsável pela apresentação de opiniões, conclusões, críticas e orientações sobre as circunstâncias ou fenômenos que geraram este dado. No contexto econômico e político em que nosso país está inserido, você teve conhecimento, por meio das mídias, de questões relacionadas à auditoria? Muito provavelmente, sua resposta a esse questionamento será sim. No cenário político e econômico brasileiro, há muitas notícias relacionadas à auditoria. Isso por que escândalos envolvendo grandes empresas brasileiras foram descobertos, em suma, em razão de auditoria contábil. Embora a auditoria externa não se destine especificamente à descoberta de fraudes, erros ou irregularidades, ela auxilia na descoberta de tais fatos (MENEGUSSI; IANESKO, 2007; FRANCO; MARRA, 2009). Os problemas apresentados nas demonstrações contábeis da Petrobras, por exemplo, deram grande visibilidade às empresas de auditoria. Dessa forma, a premissa de revisar os procedimentos utilizados nos registros contábeis busca verificar e identificar os corretos procedimentos realizados no dia a dia dos registros contábeis bem como também a possível existência de erros nos processos. Na disciplina Ética profissional do auditor será estudado com maior afinco as questões relacionadas aos deveres e responsabilidades de um auditor e como isso impacta nas demonstrações contábeis. A auditoria contábil, ainda que seja uma das diferentes áreas de estudo da grande ciência que é a contabilidade, tem fundamental importância para a informação gerada, pois assegura que esta segue padrões e exigências tanto legais quanto gerenciais, além de representar com fidedignidade um determinado patrimônio. 14 Fundamentos e Objeto da Auditoria Evolução Histórica da Auditoria A auditoria, como visto anteriormente, é uma especialização da contabilidade e sua evolução está intimamente ligada à evolução da sociedade. O aparecimento de grandes empresas em diferentes lugares do mundo e o desenvolvimento do mercado fizeram com que as demandas sobre o patrimônio evoluíssem. Desta forma, com os processos de crescimento das empresas frente à evolução dos mercados, houve a necessidade de confirmação, tanto por investidores quanto por proprietários, da realidade econômico-financeira do patrimônio em análise. A auditoria, ao longo dos tempos, perpassou atribuições e aplicabilidades distintas e condizentes às necessidades de cada período. Entretanto, seu surgimento, datado e registrado, não consta nos registros, conforme descreve Pinho (2007, p. 5): Todo aquele que possuía a função de verificar a existência de bens, e posteriormente, a legitimidade dos fatos econômico- financeiros, prestando contas a uma proprietária ou representante deste, poderia ser considerado como auditor. Quando da antiguidade, os proprietários que confiavam seus bens à guarda de terceiros conferiam ou mandavam conferir os rendimentos auferidos, já estava presente a auditoria. Na literatura há divergências no que diz respeito ao nascimento das práticas de auditoria. Além da teoria de Pinho, alguns autores acreditam na possibilidade de um guarda-livros ter exercido as funções de um auditor. Entretanto, a maioria dos pesquisadores afirma que o termo auditor apareceu em 1285, século XIII, na Inglaterra, no Reinado de Eduardo I. De acordo com Franco e Marra (2009) e Sá (2002), a Inglaterra era dominadora dos mares e controladora do comércio mundial e, desde 1314, já praticava auditoria das contas públicas. Em 1494, quando Luca Paccioli publicou a teoria do método das partidas dobradas, as associações profissionais, que examinavam os fatos escriturados, tiveram que acompanhar a evolução da contabilidade. Assim, a importância de uma figura auditando as informações fornecidas pela contabilidade já demonstravam relevância. Com o advento da Revolução Industrial, deu-se início às atividades industriais e empresariais e, a partir de então, os investidores não mais participavam da administração, exigindo, desta forma, relatórios imparciais sobre a integridade dos seus investimentos, conforme destaca Santi (1988, p. 18): 15 Introdução À Auditoria Capítulo 1 A Revolução Industrial, na Inglaterra [...] mudou o eixo do desenvolvimento prático dessa disciplina para aquele país. Mas a real necessidade da contabilidade pública (auditoria) somente se manifestou a partir da institucionalização do investidor capitalista (não participante da administração). Os procedimentos de auditoria foram impulsionados a uma evolução em função da Revolução Industrial, que demandou novas diretrizes e técnicas e, por isso, em 1845, a Consolidação das Leis das Companhias das Estradas de Ferro já obrigava uma verificação anual dos balanços. Essa verificação deveria ser realizada por auditores (SÁ, 2002) e, como visto anteriormente, buscava verificar se as empresas estavam utilizando da melhor forma o dinheiro dos investidores, ou seja, surgiu a partir da necessidade de dar mais credibilidade aos números apresentados pelas empresas aos usuários da informação contábil. Com a evolução da contabilidade e com o surgimento da auditoria, a fim de proteger a integridade profissional, foram criadas, em diversos países da Europa, as Associações de Contadores Públicos, nas quais era necessário o registro para exercer a atividade de contabilidade. Desta forma, o aparecimento de auditoria como prática sistemática ocorreu quando do surgimento destas associações. Na década de 1940, juntamente com as companhias multinacionais, a auditoria chegou ao Brasil, em decorrência da necessidade dos investidores de ter garantias de que seus investimentos estavam sendo verificados por seus auditores. Attie (2010), ratifica essa condição ao determinar que a evolução da auditoria no Brasil está relacionada à instalação de empresas internacionais de auditoria independente. Dessa forma, escritórios de auditoria foram abertos no Brasil e cada vez mais auditores brasileiros estavam sendo treinados. A primeira associação de auditores surgiu em meados de 1960 e chamou-se “Instituto dos Contadores Públicos do Brasil”, que em 1971 passou a se chamar “Instituto dos Auditores Independentes do Brasil”, depois de “Instituto Brasileiro de Contadores” (IBRACON). Segundo Jund (2002, p. 5): Apesar de formalmente organizada em 26 de março de 1957, quando formado o Instituto de Contadores Público no Brasil, em São Paulo, a auditoria foi oficialmente reconhecida apenas em 1968, por ato do Banco Central do Brasil. O fortalecimento da atividade, todavia, ocorreu em 1972, por regulamentações do Banco Central do Brasil, Conselho Federal de Contabilidade e Instituto dos Auditores Independentes. A primeira menção à exigência da auditoria no Brasil, foi em 1965 por meio da Lei n. 4.728, que instituía o mercado de capitais.Em seu artigo 20, letra b, versava sobre a competência do Conselho Monetário Nacional de expedir normas 16 Fundamentos e Objeto da Auditoria relativas a informações de demonstrativos contábeis e relatórios e pareceres de auditores independentes. A auditoria foi legalmente reconhecida em 1972, por meio da Resolução n. 220 do Banco Central, que apresentava normas relativas à auditoria e ao profissional auditor no exercício de sua profissão, e da Resolução n. 321 de 1972, editada pelo CFC, que aprovou as Normas e os Procedimentos de Auditoria. Se você quiser conhecer mais sobre a história da auditoria, existem bons livros. A seguir, vai a dica de um livro bem completo e muito interessante. FRANCO, Hilário; MARRA, Ernesto. Auditoria contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. Objetivos da Auditoria Em simples palavras, o objetivo da auditoria é verificar a autenticidade dos registros contábeis de um determinado dado em período de tempo específico, ou seja, busca-se, com o exame dos registros contábeis, expressar uma opinião sobre a propriedade desses registros, assegurando que eles representem adequadamente um determinado dado. De acordo com Attie (2010, p. 11), “o objetivo principal da auditoria pode ser descrito, em linhas gerais, como sendo o processo pelo qual o auditor se certifica da veracidade da totalidade das demonstrações contábeis preparadas pela companhia auditada”. De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (2007, p. 28), as atividades de auditoria Objetivam obter elementos comprobatórios suficientes que permitam opinar se os registros contábeis foram efetuados de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade e se as demonstrações deles originárias refletem, adequadamente, em seus aspectos mais relevantes, a situação econômico- financeira do patrimônio, os resultados do período administrativo examinado e as demais situações nelas demonstradas. A forma pela qual esse objetivo será atingido está relacionada ao tipo de auditoria que é realizado, tema que será abordado na seção seguinte. 17 Introdução À Auditoria Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) “Como visto, o objetivo da auditoria consiste na confirmação dos registros contábeis. Dessa forma, a auditoria deve apresentar uma opinião sobre as demonstrações contábeis”. Reflita sobre essa afirmação e responda: o objetivo da auditoria pode se confundir com o objetivo da Contabilidade? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Tipos de Auditoria De forma geral, existem dois tipos de auditoria: a) Auditoria interna Atividade de avaliação realizada de forma independente dentro da empresa e que objetiva verificar as operações ali realizadas, seja em alguma área específica, seja relacionada a um processo, a atribuições de setores etc. Para Crepaldi (2004, p. 41), a auditoria interna constitui “o conjunto de procedimentos que tem por objetivo examinar a integridade, adequação e eficácia dos controles internos e das informações físicas, contábeis, financeiras e operacionais da entidade”, ou seja, na auditoria interna, a gerência de uma empresa estabelece pontos a serem investigados e o auditor averigua sua conformidade com os planos e padrões da empresa. Na auditoria interna, o auditor, por ser funcionário da empresa, possui um menor grau de independência e seu trabalho, em consequência, é realizado de forma contínua, com maior volume de testes. Em síntese, o trabalho do auditor interno envolve, conforme Crepaldi (2004): - revisão das demonstrações contábeis; - revisão do sistema de controles internos; 18 Fundamentos e Objeto da Auditoria - exame de informações financeiras e operacionais; - revisão das operações da empresa; - revisão do cumprimento de leis e regulamentos; - revisão de políticas internas. • Revisão de sistemas contábeis e de controle interno As tarefas de um auditor interno podem ser tão abrangentes quanto as operações da empresa, respondendo, o auditor interno, à gerência da empresa, que geralmente determina o escopo de seus trabalhos. Assim, suas responsabilidade são de informar e assessorar a administração da empresa, ou seja, agregar valor, auxiliando a empresa a atingir seus objetivos. A finalidade da auditoria interna é promover melhorias nos controles internos da empresa, por meio de recomendações contidas em relatórios. O escopo dos trabalhos contemplam a eficácia e eficiência operacional, que é representada pela conformidade com leis e normas internas de qualidade das informações para a tomada de decisão. Lembrando que a empresa é a maior interessada nesses trabalhos. O auditor interno, por estar alocado ao quadro de funcionários, conhece os detalhes das operações, as dificuldades dentro da empresa, quais são os principais pontos que precisam de atenção, os desvios de político e os planos da empresa e, por isso, em seus trabalhos, é um agente de transformação nos processos de assessoria aos gestores da entidade para evitar a omissão, o erro e a fraude. b) Auditoria externa (independente) Provavelmente, todas as grandes empresas conhecidas no Brasil são auditadas independentemente sendo o Vale do Rio Doce, Gerdau e Petrobras. Isso por que essas empresas utilizam, em suas atividades, muitos recursos de terceiros (sejam públicos ou privados). Preconiza-se que a utilização desses recursos seja feita da melhor forma possível e, para averiguar se de fato ocorre, as empresas contratam auditores externos para análise de seus registros. Assim, a auditoria externa, também chamada de independente, constitui o conjunto de procedimentos técnicos realizados com o objetivo de emitir um relatório de auditoria que informe se os dados auditados refletem a posição patrimonial e financeira, o resultado das operações das mutações do patrimônio líquido e das origens e aplicações de recursos da entidade auditada mediante as normas brasileiras de contabilidade. Diferentemente da auditoria interna, na auditoria externa quem realizada os trabalhos é um profissional independente (o termo auditoria independente) que presta serviços à empresa, ou seja, que não está ligado ao quadro de funcionários. 19 Introdução À Auditoria Capítulo 1 A finalidade da auditoria externa é opinar sobre as demonstrações financeiras e elaborar um relatório de auditoria sobre estas, sendo os maiores interessados nesses trabalhos a empresa e os usuários da informação contábil (sócios e acionistas, principalmente). De acordo com o Resolução n. 1.203/09 do CFC (NBC TA 200 – Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução da Auditoria em Conformidade com Normas de Auditoria): O objetivo da auditoria é aumentar o grau de confiança nas demonstrações contábeis por parte dos usuários. Isso é alcançado mediante a expressão de uma opinião pelo auditor sobre se as demonstrações contábeis foram elaboradas, em todos os aspectos relevantes, em conformidade com uma estrutura de relatório financeiro aplicável. De acordo com Crepaldi (2004), as atividades de auditoria externa têm diversas finalidades, dentre elas: - revisão das demonstrações contábeis; - revisão do sistema de controles internos; - proteção dos investidores; - emissão de parecer sobre as demonstrações contábeis; - repressão e prevenção contra erros e fraudes. Atualmente, o mercado de auditoria independente é dominado pelas chamadas Big Four (em português, as quatro grandes). São quatro empresas multinacionais de auditoria e consultoria que alternam entre si o posto entre maior e melhor empresa de auditoria do mundo. São elas: Price WaterHouse Coopers (também conhecida como PwC), KPMG,Deloitte e Ernst & Young. Nessa seção, foi possível perceber as particularidades de cada um dos tipos de auditoria. Entretanto, no que diz respeito às demandas contábeis, tanto o auditor interno quanto o auditor externo buscam verificar se os registros apontam a um efetivo sistema de controle interno que salvaguarde o patrimônio da empresa e que esteja funcionando de forma satisfatória dentro das normas da empresa e das exigências legais; e se há um sistema contábil que seja capaz de fornecer todos os dados de elaboração das demonstrações contábeis, a posição contábil e o resultado das operações da empresa em um determinado período (CREPALDI, 2004). 20 Fundamentos e Objeto da Auditoria É sempre pertinente lembrar que, os objetivos das auditorias (interna e externa) são diferentes, mas os meios para alcançá-los são semelhantes. Existem, ainda, outras formas de se analisar o tipo de auditoria, que são identificados de acordo com: - extensão dos trabalhos; - profundidade dos exames; - tempestividade; - fins a que se destina. c) Extensão dos trabalhos A extensão dos trabalhos está relacionada ao escopo da auditoria. Nesse sentido, são três formas de auditoria: • auditoria geral: que é a mais completa, podendo destinar-se a várias finalidades, como atender aos interesses de investidores e acionistas, a atender exigências legais, verificar controles internos etc; • auditoria parcial ou específica: apura a situação econômico/financeira, revisa custos, verifica o cumprimento de obrigações fiscais e tributárias, apura erros e fraudes etc; • auditoria limitada: por fim, é um exame periódico dos registros sem que se aplique todos os procedimentos de auditoria. No capítulo 2 trataremos sobre os procedimentos de auditoria. d) Profundidade dos exames Diz respeito à quantidade de registros que serão analisados. Pode ser um exame integral, que verificará todos os registros contábeis, de todos os documentos e de todo o sistema de controles internos da entidade que está sendo auditada nota do revisor; pode ser um exame com amostragem ou testes, no qual é examinada uma porcentagem dos registros que o auditor considera suficiente para gerar sua opinião nota do revisor; por fim, o exame analítico, que consiste em um exame minucioso de todo o fluxo dos controles internos e das operações de determinada natureza ou determinado período. 21 Introdução À Auditoria Capítulo 1 Destaca-se que a revisão integral é raramente praticada em função do elevado número de horas necessárias e, consequentemente, gerando elevados custos para os usuários. Atualmente, a metodologia de auditoria com foco em riscos possibilita ao auditor trabalhar com uma amostragem cem por cento estatística, contribuindo para um aumento da eficiência na execução dos trabalhos de auditoria. e) Tempestividade As auditorias podem ser realizadas habitualmente, em todos os exercícios sociais, podendo ser: • continuadas: é realizado o exame constante das operações registradas e dos controles internos; ou • periódicas ou sazonal: exame realizada em períodos específicos. Podem, ainda, ser realizadas de forma eventual ou especial, para atender a exigências legais, e apurar valor real do patrimônio líquido da entidade, para controle administrativo etc. f) Fins a que se destina A auditoria pode ser classificada de acordo com o fim a que se destina, ou seja, sobre qual área debruçará seus esforços, por exemplo, auditoria da área contábil de uma determinada empresa, auditoria de sistemas baseados em normas da International Standard Organization (ISSO), áreas de processamento de dados, área de gestão etc. Atividades de Estudos: 1) O que é auditoria? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Qual o objeto da auditoria? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 22 Fundamentos e Objeto da Auditoria ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Qual o objetivo da auditoria? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Quais os tipos existentes de auditoria? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5) O que é auditoria interna? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 6) O que é auditoria externa ou independente? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Neste capítulo, trouxemos fundamentos iniciais sobre a auditoria, perpassando seu conceito, seus objetivos, sua evolução histórica diante da evolução da sociedade e quais os tipos de auditoria existentes. A correta aplicação das normas e procedimentos contábeis na administração do patrimônio contribui de forma singular para sua administração, pois, ao passo que as informações expõem a real situação de uma empresa, é possível que os 23 Introdução À Auditoria Capítulo 1 elementos adquiridos a partir da contabilidade orientem as decisões dos diretores e gestores e, desta forma, aprimorem o patrimônio constituído. No próximo capítulo, abordaremos os processos de auditoria, a figura do auditor e suas rotinas e atividades. Referências ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010. CFC; CRSs. Conselho Federal de contabilidade. Manual de auditoria do sistema CFC/CRCs. Brasília: CFC, 2007. CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria contábil: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004. FRANCO, Hilário; MARRA, Ernesto. Auditoria contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. JUND, Sergio. Auditoria. Rio de Janeiro: Impetus, 2002. MENEGUSSI, Elires Marinho de Melo; IANESKO, José Augusto. A Importância da auditoria contábil na prevenção e combate aos erros e às fraudes nas organizações. Revista Eletrônica Lato Sensu, Unicentro, 2007. Disponível em: <http://web03.unicentro.br/especializacao/Revista_Pos/P%C3%A1ginas/6%20 Edi%C3%A7%C3%A3o/Aplicadas/PDF/1-Ed6_CS-ImpAu.pdf>. Acesso em: 3 jan. 2018. PIERUCCI, Antônio. Roteiro de auditoria contábil. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977. PINHO, Ruth Carvalho de Santana. Fundamentos de auditoria: auditoria contábil, outras aplicações de auditoria. São Paulo: Atlas, 2007. SÁ, Antônio Lopes de. Curso de auditoria. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SANTI, Paulo Adolpho. Introdução à auditoria. São Paulo: Atlas, 1988. 24 Fundamentos e Objeto da Auditoria CAPÍTULO 2 Fundamentos e Processos de Auditoria A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Saber os fundamentos de auditoria das demonstrações contábeis e qual seu objetivo. � Saber o que é um processo auditorial. � Compreender as exigências, demandas, atribuições e responsabilidades de um auditor. 26 Fundamentos e Objetoda Auditoria 27 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 Contextualização No capítulo anterior, foi visto que o objeto de estudo da contabilidade é o patrimônio, e para assegurar a integridade deste são utilizados fundamentos teóricos e práticos que geram informações úteis e fidedignas ao usuário da informação contábil. Neste contexto, vimos que existe uma área da contabilidade que é responsável pela verificação e estudo das rotinas contábeis de uma entidade: a auditoria. Dentre os diferentes tipos de auditoria, temos a auditoria independente, também conhecida como auditoria das demonstrações contábeis. Neste capítulo, aprofundaremos os fundamentos para realização de auditoria nas demonstrações contábeis e como fazê-la. Para atingir seu objetivo, a auditoria examina os registros contábeis e expressa uma opinião sobre esses registros, assegurando que eles representem adequadamente o patrimônio em um dado momento do tempo. Assim, na auditoria, o objeto de estudo são todos os elementos de controle que assegurem a integridade dos saldos patrimoniais. Os processos de auditoria só podem ser realizados por um profissional qualificado. Portanto, além de abordar o processo auditorial, discutiremos aqui quais as exigências e características para se tornar um auditor independente e qual a postura ética e responsabilidade legal que este auditor deve ter. Fundamentos De Auditoria Das Demonstrações Contábeis As demonstrações contábeis vão de acordo com a Estrutura Conceitual do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (00–R1), são “demonstrações cujo propósito reside no atendimento das necessidades informacionais dos usuários externos que não se encontram em condições de requerer relatórios especificamente planejados para atender as suas necessidades peculiares” (CPC, 2011, s.p.). Desta forma, retratam os efeitos patrimoniais e financeiros que ocorrem em uma determinada entidade durante um período de tempo, geralmente (mas não exclusivamente) um ano. Auditar as demonstrações contábeis significa que o auditor concentra sua atenção em cada uma das afirmações contidas nas demonstrações em exame, “o objeto, nesse caso, é o enfoque que o auditor dá aos saldos e valores constantes nas informações da empresa sob auditoria e o que tais saldos e valores representam em termos patrimoniais” (ATTIE, 2010, p. 3). Demonstrações cujo propósito reside no atendimento das necessidades informacionais dos usuários externos que não se encontram em condições de requerer relatórios especificamente planejados para atender as suas necessidades peculiares 28 Fundamentos e Objeto da Auditoria O objetivo das demonstrações contábeis é de fornecer informação contábil-financeira que seja útil a seus usuários, isto é, que façam a diferença na tomada de decisão e representem autenticidade nos dados contábeis. Para que sejam úteis, essas informações precisam respeitar as características qualitativas fundamentais, ou seja, identificam os tipos de informações que muito provavelmente são reputadas como as mais úteis para a tomada de decisão. Para tanto, precisam conter relevância e fidedignidade. a) Para ter relevância, a informação fornecida na demonstração contábil precisa ter: • valor preditivo; • valor confirmatório. Valor preditivo significa que a informação pode ser utilizada pelos usuários para resultados futuros, enquanto valor confirmatório serve como um feedback para informações anteriores, confirmando-as ou corrigindo-as. Uma informação pode ser, ao mesmo tempo, preditiva e confirmatória quando apontar resultados passados que podem refletir tendências futuras. b) Para ser fidedigna, uma informação precisa ter três atributos: • ser completa; • ser neutra; • ser livre de erro. Uma informação completa é aquela que fornece ao usuário tudo o que ele precisa para compreender o fenômeno que está sendo reportado, incluindo todas as descrições e explicações necessárias. O objetivo das demonstrações contábeis é de fornecer informação contábil-financeira que seja útil a seus usuários, isto é, que façam a diferença na tomada de decisão e representem autenticidade nos dados contábeis. Um retrato completo de um grupo de ativos incluiria: a) descrição da natureza dos ativos que compõem esse grupo; b) o retrato numérico de todos os ativos desse grupo; c) a descrição acerca do que o retrato numérico representa (por exemplo, se foi avaliado por custo histórico ou custo histórico ajustado). 29 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 Para ser neutra, a informação precisa ser desprovida de viés, seja na sua seleção ou apresentação, ou seja, deve ser isenta de qualquer tipo de manipulação que aumente a probabilidade dessa informação ser recebida por seus usuários de modo favorável ou desfavorável. A prudência (ou conservadorismo) foi, por muitos anos, condição de fidedignidade da informação contábil. Sua prerrogativa consiste na subavaliação de ativos e superavaliação de passivos no sentido de proteger o patrimônio administrado. Entretanto, em consonância à convergência às normas internacionais, no Brasil a prudência não é mais característica de fidedignidade, pois é incompatível com a neutralidade da informação contábil. Por fim, a informação livre de erro significa que não há erros ou omissões no evento que está sendo retratado e que o processo utilizado para produção da informação foi selecionado e aplicado livre de erros. Essa é uma característica na qual grandes esforços são produzidos, pois nem todas as informações são reconhecidas com facilidade, por exemplo, a estimativa de preço de um produto. Essa não pode ser qualificada como algo exato ou inexato, contudo, o que a normatização orienta é que o montante estimado para esse item seja descrito clara e precisamente como sendo uma estimativa, que a natureza e as limitações do processo sejam devidamente reveladas e que nenhum erro possa ter sido cometido no processo de desenvolvimento dessa estimativa. É importante atentar para o fato de que, para ser útil, a informação precisa ser, ao mesmo tempo, relevante e fidedigna. Não importa o grau dos esforços realizados para gerar uma informação com tempestividade se essa informação não reporta, com fidedignidade, o evento, assim como não importa se um determinado registro é evidenciado com exatidão, mas não corresponde a uma realidade atual. A figura a seguir apresenta um esquema que representa a utilidade da informação contábil: É importante atentar para o fato de que, para ser útil, a informação precisa ser, ao mesmo tempo, relevante e fidedigna. 30 Fundamentos e Objeto da Auditoria Figura 1 – Utilidade da informação contábil Fonte: A autora. Para Attie (2010, p. 5), “a ação da auditoria não pode se limitar àquilo que está registrado nos livros oficiais, mas também àquilo que pode ter sido omitido nos registros principais”. Nesse sentido, como a auditoria das demonstrações contábeis tem seu foco em atestar a representatividade destas, o trabalho e esforço do auditor estão centrados em verificar se foram observadas, nas atividades que produzem as demonstrações, as características qualitativas fundamentais para sua publicação. Observamos que as normatizações de procedimentos contábeis fluem para uma aproximação da maior veracidade e autenticidade das informações contábeis retratadas pelas demonstrações contábeis. Você acha que isso diminui a necessidade de auditoria independente? 31 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 A resposta a este questionamento é negativa. A realização de auditoria das demonstrações contábeis testa a eficiência dos controles internos da empresa, aumentando o grau de confiabilidade dos saldos contábeis da empresa. Objetivo da Auditoria das Demonstrações Contábeis O objetivo da auditoria das demonstrações contábeis é expressar uma opinião sobre estas demonstraçõese assegurar que representem a posição patrimonial e financeira, o resultado das operações, as mutações do patrimônio líquido e demais demonstrativos de uma determinada entidade em um determinado momento. Assim, o principal propósito desse tipo de auditoria é obter segurança razoável e não absoluta sobre a veracidade das demonstrações contábeis da empresa auditada. No Capítulo 4 veremos todas as demonstrações contábeis exigidas atualmente no Brasil. Assim, o principal propósito desse tipo de auditoria é obter segurança razoável e não absoluta sobre a veracidade das demonstrações contábeis da empresa auditada Registro do Auditor Independente A Instrução nº 308 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de 14 de maio de 1999, alterada pelas Instruções nº 509/11, nº 545/14 e nº 591/17, dispõe sobre o registro e o exercício da atividade de auditoria independente e define os deveres e responsabilidades dos administradores das entidades auditadas na relação com os auditores independentes. O exercício da atividade de auditoria independente é prerrogativa de contador legalmente habilitado com registro no Conselho Regional de Contabilidade. Seu registro como auditor independente deve ser solicitado junto à CVM por meio das orientações previstas na Instrução nº 308/99. Logo, o registro na CVM não constitui nova categoria profissional, mas uma habilitação no escopo do contador. 32 Fundamentos e Objeto da Auditoria Os auditores independentes registrados na CVM, além de se subordinarem às normas emanadas por esta, estão subordinados à Lei de Regência da profissão contábil – Decreto-Lei nº 9.295/46 com posteriores alterações, e à regulamentação do exercício da atividade profissional do Conselho Federal de Contabilidade e à orientação técnica emanada do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON). Ética Profissional Um auditor independente deve seguir as orientações previstas na legislação em que atua e obedecer aos parâmetros instituídos socialmente, que norteiam tanto a vida social quanto profissional. No caso específico das profissões, cada uma tem seu código, que confere ao ser humano as diretrizes para sua conduta no exercício da profissão. Müller (2003, p. 22) entende que a ética: Contribui para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral. É a ética que irá questionar toda a fundamentação dos valores e das normas de uma determinada cultura e sociedade. A existência de qualquer reflexão sobre o comportamento humano moral somente é possível porque o ser humano é racional e criativo; porque é um sujeito do conhecimento, tem capacidade de comunicação, interage com a natureza e seus semelhantes, e possui a vontade livre de decidir e agir. Na Contabilidade, a legislação vigente que regulamenta o exercício profissional no Brasil é o Código de Ética Profissional Contábil (CEPC), instituído em 1996 pelo CFC em sua Resolução nº 803/96 e posteriores alterações. O CEPC “apresenta deveres, proibições, normas de conduta e penalidades aplicáveis ao contador em exercício, inclusive na atuação como perito, assistente técnico, auditor ou árbitro” (ITO; NIYAMA; MENDES, 2008, p. 6). Assim, o contador tem o dever de “exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade, observada a legislação vigente e resguardados os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais” (BRASIL, 1996, p. 2). Na Contabilidade, a legislação vigente que regulamenta o exercício profissional no Brasil é o Código de Ética Profissional Contábil (CEPC). 33 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 A Resolução nº 803/96, desde sua instituição, sofreu algumas alterações, o que é natural com o desenvolvimento da sociedade. O CEPC tem sido bastante discutido entre os profissionais, e até o início de 2018 a minuta do novo CEPC está disponibilizada para audiência pública no site do CFC. Os profissionais de contabilidade podem conhecer e opinar sobre o conteúdo que revoga a Resolução nº 803/96 (e alterações posteriores). Confira! Lembrando que o CEPC, após a audiência pública, será transformado na Norma Brasileira de Contabilidade Profissional Geral (NBC PG) 01. De acordo com seu art. 1º, o Código de Ética Profissional “tem por objetivo fixar a forma pela qual se devem conduzir os Contabilistas, quando no exercício profissional”. Para Müller (2003, p. 26), “o objetivo do código de ética para o profissional é habilitá-lo a adotar uma conduta pessoal, de acordo com os princípios éticos conhecidos e aceitos pela sociedade”. A auditoria, como já discutido anteriormente, é uma área da Contabilidade e, assim sendo, responde e respeita o CEPC. Para assegurar que os itens averiguados estejam de acordo ou sugerir correções, é necessário que o profissional respeite as diretrizes fundamentadas na legislação, a fim de resguardar não somente as suas atividades, mas a adequada postura diante de um mundo globalizado e competitivo. Há muitas discussões que permeiam o campo da ética na auditoria. Se o auditor ou firma de auditoria são pagos pela Empresa X, como poderão agir de forma que a prejudiquem emitindo relatórios contraditórios e desfavoráveis? Uma empresa, ou um auditor, deve sempre se pautar pelos princípios éticos de sua profissão, não se deixando levar por pressões de superiores. Grandes firmas se consolidam no mercado em razão de sua postura ética e não corrupta. Pense a respeito. 34 Fundamentos e Objeto da Auditoria O trabalho executado pelo auditor deve ser realizado de tal forma que tenha e mereça toda credibilidade possível, não havendo quaisquer sombras de dúvidas quanto à honestidade e à moralidade do auditor. A seguir, será abordada a profissão do auditor, que exige obediência e princípios éticos profissionais de independência, integridade, eficiência e confidencialidade: a) A independência é condição primeira para o trabalho de auditoria. O auditor deve ser absolutamente independente e imparcial na interpretação de tudo que estiver em seu campo de averiguação, atestando conclusivamente cada um dos dados verificados. b) A integridade do profissional em seus compromissos que envolvam a empresa auditada, o público em geral e pessoas interessadas na opinião emitida e à classe dos contadores. A Instrução CVM nº 308, em seu artigo 25, identifica como ato de descrédito o auditor que, no desempenho de suas funções, agir com falta de integridade, como por exemplo, não registar um fato importante que conheça, não reunir evidências suficientes para justificar sua opinião, não relatar qualquer desvio importante ou omissão que tenha percebido. c) A eficiência dos trabalhos prestados está relacionada à objetividade e clareza das conclusões apresentadas, seja em caso favorável ou não à empresa auditada. d) A confidencialidade é elemento singular na atividade de auditoria e as informações obtidas só podem ser utilizadas para a execução do serviço para o qual o auditor foi contratado. Assim como na questão da integridade, a CVM também prevê punições ao auditor que não respeitar os limites da confidencialidade de auditoria das demonstrações contábeis. Resumindo, a técnica não sobrevive sem a ética. Por mais que o contador domine todas as ferramentas e técnicas da contabilidade, jamais será um profissional completo sem obediência aos ditames éticos que regem a profissão. Nesse processo de humanização do profissional contábil, o CEPC exerce papel de suma relevância, norteando a conduta esperada pela sociedade dos verdadeiros contadores. Responsabilidade Legal em Auditoria Na auditoria independente, a responsabilidade do auditor é ampla em razão da complexidade e do volume das operações. Sua responsabilidade sobre seus trabalhos se inicia no momento em que determina o número de operações a serem examinadas para obter elementos que sejam válidos para sua conclusão. 35 Fundamentos e Processosde Auditoria Capítulo 2 Todo trabalho de auditoria está fundamentado no estabelecimento de critérios e de metodologia que vislumbrem segurança sobre a totalidade dos dados apresentados nas demonstrações contábeis analisadas. O auditor pode ser responsabilizado quando agir com negligência na execução das normas de auditoria ou em consequência de não tê-las aplicado devidamente. São atribuições de um auditor: • entender do negócio do cliente e do setor no qual este negócio está inserido; • obter e avaliar evidências referentes às demonstrações contábeis; • verificar consonância das demonstrações às exigências legais; • emitir sua opinião no relatório de auditoria; • entregar relatório de auditoria ao cliente; • apresentar recomendações que agreguem valor para a companhia e seu conselho. DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS AUDITORES INDEPENDENTES O artigo 25 da Instrução nº 308 da Comissão de Valores Mobiliários traz os deveres e responsabilidades de um Auditor Independente em seus trabalhos. Veja a seguir quais são esses direitos e deveres: No exercício de suas atividades, no âmbito do mercado de valores mobiliários, o auditor independente deverá, adicionalmente: I- Verificar: a) se as demonstrações contábeis e o relatório de auditoria foram divulgados nos jornais em que seja obrigatória a sua publicação e se estes correspondem às demonstrações contábeis auditadas e ao relatório originalmente emitido; b) se as informações e análises contábeis e financeiras apresentadas no relatório da administração da entidade estão em consonância com as demonstrações contábeis auditadas; c) se as destinações do resultado da entidade estão de acordo com as disposições da lei societária, com o seu estatuto social e com as normas emanadas da CVM; d) o eventual descumprimento das disposições legais e regulamentares aplicáveis às atividades da entidade auditada e/ou relativas a 36 Fundamentos e Objeto da Auditoria sua condição de entidade integrante do mercado de valores mobiliários, que tenham, ou possam vir a ter reflexos relevantes nas demonstrações contábeis ou nas operações da entidade auditada. II- elaborar e encaminhar à administração e ao Conselho Fiscal, relatório circunstanciado que contenha suas observações em relação aos controles internos e aos procedimentos contábeis da entidade auditada, descrevendo, ainda, as eventuais deficiências ou ineficácias identificadas no transcorrer dos trabalhos; III- conservar em boa guarda pelo prazo mínimo de cinco anos, ou por prazo superior por determinação expressa desta comissão em caso de inquérito administrativo, toda a documentação, correspondência, papéis de trabalho, relatórios e pareceres relacionados com o exercício de suas funções; IV- indicar com clareza, e em quanto, as contas ou subgrupos de contas do ativo, passivo, resultado e patrimônio líquido que estão afetados pela adoção de procedimentos contábeis conflitantes com os princípios fundamentais de Contabilidade, bem como os efeitos no dividendo obrigatório e no lucro ou prejuízo por ação, conforme o caso, sempre que emitir relatório de revisão de informações intermediárias ou relatório de auditoria adverso ou com ressalva; V- dar acesso à fiscalização da CVM e fornecer ou permitir a reprodução dos documentos referidos no item III, que tenham servido de base à emissão do relatório de revisão de informações intermediárias ou relatório de auditoria; VI- possibilitar, no caso de substituição por outro auditor, resguardados os aspectos de sigilo e mediante prévia concordância da entidade auditada, o acesso do novo auditor contratado aos documentos e informações que serviram de base para a emissão dos relatórios de revisão de informações intermediárias ou relatórios de auditoria dos exercícios anteriores. VII- garantir que todos os sócios, diretores, gerentes, supervisores ou quaisquer outros integrantes, com função de gerência, na equipe destinada ao exercício da atividade de auditoria em entidades reguladas pela CVM, tenham sido aprovados em Exame de Qualificação Técnica específico para a CVM. VIII- comunicar os principais assuntos de auditoria nos relatórios de auditoria de demonstrações financeiras de todas as entidades 37 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 reguladas ou supervisionadas pela CVM, nos termos das normas profissionais de auditoria independente aprovadas pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC. Parágrafo único. Constatada qualquer irregularidade relevante em relação ao que estabelece os incisos I e II, o auditor independente deverá comunicar o fato à CVM, por escrito, no prazo máximo de vinte dias, contados da data da sua ocorrência. Fonte: Adaptado de: <http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/ notas-explicativas/anexos/nota308.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2018. Processo Auditorial: o Que é e Como se Constitui O processo auditorial é o conjunto de técnicas que permite ao auditor obter evidências ou provas suficientes e adequadas para fundamentar sua opinião sobre as demonstrações contábeis analisadas. Na figura a seguir, podem ser visualizadas as etapas desse roteiro: Figura 2 – Etapas do processo auditorial Fonte: Adaptado de Attie (2010). 38 Fundamentos e Objeto da Auditoria Uma afirmação é uma informação passada pela empresa e que será escopo de averiguação da auditoria, por exemplo, o Balanço Patrimonial da Empresa ABC representa a posição patrimonial e financeira da Empresa ABC em um dado momento. Esta é uma afirmação de ABC em relação ao seu patrimônio e sua posição financeira. Análise da Afirmação O primeiro passo realizado num processo de auditoria é a análise da informação. A análise da informação compreende: revisão analítica, planejamento, conhecimento e conteúdo. Assim, o pressuposto da análise baseia-se na identificação do significado da afirmação, traçando um plano estratégico para se obter conhecimento das atividades da entidade e identificar eventos e transações relevantes que afetem as demonstrações contábeis. Seguindo o exemplo do Balanço Patrimonial como uma afirmação, seu significado é o reflexo patrimonial e financeiro da empresa por meio dos itens que o compõe, como bens, direitos e obrigações. Cada um desses itens é uma afirmação isolada e, uma vez identificada a natureza e origem da afirmação, pode-se entender qual sua importância e seu impacto no patrimônio da empresa. Avaliação da Afirmação A avaliação da afirmação é a determinação dos métodos e medidas utilizados para o levantamento e recolhimento de evidências. Alguns fatores podem influenciar nessa determinação, como o nível de efetividade e qualidade dos controles internos, a subjetividade do item estudado, a integridade dos administradores etc. Imagine uma empresa que compra e revende sapatos. O controle desse estoque de sapatos pode ser realizado tanto numérica quanto fisicamente, certo? Então, em uma auditoria, para se determinar qual a melhor forma que esse estoque será analisado, é preciso saber quais os modelos, valores e quantidades de sapatos compõem as transações da empresa e definir se a análise será feita de forma física ou numérica. 39 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 Obtenção de Elementos Comprobatórios A obtenção de elementos comprobatórios implica a escolha e aplicação dos procedimentos de auditoria. É a fase de concretização dos trabalhos. Nesse momento, o auditor reúne os elementos comprobatórios por meio da utilização de testes. Os principais testes são o teste de procedimentos (também chamados de testes de observância) e o teste de saldos (também chamados de testes substantivos). O teste de procedimentos tem o intuito de provar a efetividade das atividades de controle interno praticadas pela empresa: a) verifica-se se há consonância entre informações dos funcionários acerca das transações e o funcionamentodo sistema; b) determina-se a natureza e a quantidade de erros que possam ter ocorrido na aplicação dos procedimentos de controle previstos no sistema. O teste de saldos tem a finalidade de comprovar que as transações ocorridas em determinado período de tempo de fato existiram, que os saldos demonstrados existem e são correspondentes à empresa e estão corretamente avaliados e aferidos. Formação de Opinião A emissão de opinião é o último passo a ser cumprido num processo de auditoria. Com base nas informações obtidas nas outras três etapas, o auditor tem conteúdo suficiente para opinar acerca das demonstrações contábeis em análise. Caso tenha interesse em aprofundar seus conhecimentos sobre cada uma dessas etapas do processo auditorial, o terceiro capítulo do livro Auditoria: conceitos e aplicações, explora muito bem esse conteúdo. Fonte: ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 40 Fundamentos e Objeto da Auditoria 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Atividades de Estudos: 1) O que são demonstrações contábeis? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2 Analise as sentenças a seguir e assinale V para as verdadeiras e F para as falsas: a) ( ) O objetivo das demonstrações contábeis é o de reportar informações econômico-financeiras apenas para os gerentes e sócios da empresa. b) ( ) Uma informação é relevante quando ela possui três atribu- tos: é completa, é neutra e é livre de erro. c) ( ) As características qualitativas da informação contábil iden- tificam os tipos de informação que muito provavelmente são repu- tadas como as mais úteis para a tomada de decisão. d) ( ) Em geral, uma informação não tem utilidade caso não seja relevante ou não tenha representação fidedigna. Entretanto, caso a entidade maximize seus esforços para aplicação das caracte- rísticas qualitativas de melhoria, o resultado desses esforços pro- duz utilidade na informação contábil reportada. e) ( ) Ainda que as demonstrações contábeis sejam elaboradas obedecendo a preceitos de relevância e fidedignidade, é impor- tante a realização de auditoria independente. 3) Qualquer pessoa pode solicitar registro como um auditor independente? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Sobre o Código de Ética Profissional Contábil, qual o dever de um auditor no dia a dia de suas práticas? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 41 Fundamentos e Processos de Auditoria Capítulo 2 ____________________________________________________ 5) O que é um processo auditorial? Quais são as suas etapas? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações A auditoria das demonstrações contábeis é de fundamental interesse para toda a sociedade. Ainda que estes demonstrativos sejam produzidos para representar fielmente o patrimônio e a saúde financeira da empresa, o processo de auditoria garante a todos os interessados na informação contábil que aquilo que foi publicado é, de fato, um reflexo da empresa. Desta forma, descrevemos passo a passo o processo de auditoria das demonstrações contábeis. Discutimos neste capítulo, além dos fundamentos da auditoria das demonstrações contábeis, questões que envolvem a figura do profissional. A questão ética é muito importante para o exercício da auditoria e é tema discutido no mundo dos negócios. A ética profissional recai sobre o profissional da contabilidade, este atuará no âmbito da auditoria, sendo necessário cumprir com seus deveres, e que tenha conhecimento da matéria, mas, sobretudo, conhecimento de seus deveres éticos. Desta forma, destacamos as responsabilidades do auditor no exercício de sua função. No próximo capítulo, abordaremos quais são as normas de auditoria que orientam a profissão e os fundamentos sobre o parecer de auditoria. Referências ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução nº 803, 10 out. 1996. Aprova o Código de Ética Profissional do Contador – CEPC. Brasília, DF, p. 42 Fundamentos e Objeto da Auditoria 1-11, 1996. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1) - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Brasil, 2016. ITO, Elisabeth Yukie Horita; NIYAMA, Jorge Katsumi; MENDES, Paulo César de Melo. Controle de qualidade dos serviços de auditoria independente: um estudo comparativo entre as normas brasileiras e as normas internacionais. Revista Unb Contábil, Brasília, n. 11, p. 312-328, jan. 2008. LAFFIN, Nathália Helena Fernandes. Normas profissionais de auditoria: o que mudou com a adoção das normas internacionais. 2011. 59 f. Monografia (Graduação) – Curso de Ciências Contábeis, Departamento de Ciências Contábeis, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011. MÜLLER, Rodrigo. Sobre ética para o exercício da profissão contábil. 2003. 69 f. Monografia (Graduação) - UFSC, Florianópolis, 2003. CAPÍTULO 3 Normas de Auditoria e Parecer do Auditor A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer as normas que envolvem a auditoria. � Conhecer as diferenças entre normas profissionais de auditoria e normas técnicas de auditoria. � Compreender o que é um parecer de auditoria e qual sua finalidade. � Conhecer quais tipos de parecer existem. 44 Fundamentos e Objeto da Auditoria 45 Normas de Auditoria e Parecer do Auditor Capítulo 3 Contextualização O avanço das ciências e das comunicações marca o fenômeno da globalização. A conversa existente entre diferentes locais e setores do mundo permite que as informações sejam de rápido e fácil acesso. Laffin (2011) destaca que esse avanço traz novas contribuições para os processos produtivos e decisórios. Além disso, em muitas instituições, estas novas tecnologias têm alterado de forma substancial os processos produtivos e gerenciais. Assim sendo, além de contribuir com novas formas de perceber e transformar a realidade da sociedade em geral, esse avanço demanda alternativas e soluções para as atividades mercantis e produtivas, buscando otimizar os processos e as informações que subsidiam a tomada de decisão. Não distante dessa realidade, a contabilidade, sendo de fato a ciência social aplicada, busca aprofundar e melhorar seus instrumentos de controle nas decisões sobre o patrimônio administrado para melhor se adequar ao mercado competitivo. Assim, sua ciência avança com alinhamento nas questões práticas e teóricas. A auditoria, como uma das especializações da contabilidade, revê constantemente suas normas e procedimentos e seus instrumentos legais para que possa fundamentar sua operacionalidade, ampliando seu espaço e atuação na gestão patrimonial. Assim sendo, a convergência às normas internacionais possibilita cada vez mais uma conversa entre as práticas e processos realizados pelas empresas brasileiras com o mundo globalizado. Normas de Auditoria As normas de auditoria estão alicerceadas nas normas que regem a profissão contábil como um todo, entretanto, por suaespecificidade, apresentam regulamentações específicas. Neste capítulo, abordaremos as normas de auditoria dentro do contexto das Normas Brasileiras de Contabilidade. Normas Brasileiras de Contabilidade As Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) são elaboradas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e apresentam consonância com as 46 Fundamentos e Objeto da Auditoria Normas Internacionais de Contabilidade. A estrutura das NBC está regulamentada na Resolução nº 1328/11 do CFC e, de acordo com esta resolução, as normas estabelecem preceitos de conduta profissional e padrões e procedimentos técnicos necessários para o adequado exercício profissional. Atualmente, as NBC classificam-se em: • Normas Profissionais, que estabelecem regras de exercício profissional e dividem-se em: NBC-P Geral; NBC-P do Auditor Independente e NBC-P do Perito Contábil. • Normas Técnicas, que estabelecem conceitos doutrinários, regras e procedimentos que devem ser aplicados nas atividades contábeis. Estas dividem-se em: NBC-T Geral; NBC-T Completas; NBC-T Simplificadas para Pequenas e Microempresas; NBC-T aplicadas ao Setor Público; NBC-T de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica; NBC-T de Revisão de Informação Contábil Histórica; NBC-T de Serviço Correlato; NBC-T de Auditoria interna; NBC-T de Perícia. No Brasil, as instituições e documentos envolvidos com a adoção das normas internacionais de contabilidade são o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), o Comitê Administrador do Programa de Revisão Externa de Qualidade (CRE), o Cadastro Nacional dos Auditores Independentes (CNAI) e o Código de Ética do Profissional Contábil. As Normas Brasileiras de Contabilidade que abordam as questões de auditoria classificam-se tanto como profissionais quanto técnicas, ou seja, pautam o exercício da profissão e pautam as rotinas e atividades que devem ser realizadas. 47 Normas de Auditoria e Parecer do Auditor Capítulo 3 Figura 3 – Classificação das normas Fonte: A autora. Dentro dessa classificação existem diferentes normas equiparadas às internacionais. A seguir, veremos uma a uma, quais as normas existentes no Brasil atualmente e o que abordam: a) Normas Brasileiras de Contabilidade Profissionais do Auditor Independente As normas profissionais de auditoria estão relacionadas à qualidade, independência e registros/qualificações do contador no exercício da auditoria independente. O quadro a seguir retrata os Profissionais do Auditor Independente (NBC) e evidencia todas as normas profissionais atualmente redigidas e editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade: Quadro 1 – Profissionais do Auditor Independente (NBC) NBC Nome da Norma NBC PA 01 Controle de Qualidade para Firmas (Pessoas Jurídicas e Físicas) de Auditores Independentes NBC PA 290 (R2) Independência – Trabalhos de Auditoria e Revisão NBC PA 291 (R2) Independência – Outros Trabalhos de Asseguração NBC PA 11 Revisão Externa de Qualidade pelos Pares 48 Fundamentos e Objeto da Auditoria NBC PA 13 (R2) Exame de Qualificação Técnica - Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI) Fonte: A autora. Normas Com Enfoque de Qualidade As normas profissionais de auditoria editadas pelo CFC e que possuem escopo voltado às questões da qualidade são as NBC PA 01 e NBC PA 11 (NBC PA 11 entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2019). A primeira menção à qualidade é percebida na Resolução CFC nº 910/01 (NBC T 14), em que: A qualidade, neste contexto, é medida pelo atendimento das normas técnicas e profissionais, estabelecidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, e, na insuficiência destas, pelos pronunciamentos do Instituto de Auditores Independentes do Brasil – Ibracon, e eventualmente, das normas emitidas por órgãos reguladores (BRASIL, 2001, s.p.). De acordo com a Declaração Internacional de Conceitos de Contabilidade Financeira (Statement of Financial Accounting Concepts SFAC), “a qualidade da informação garante que a informação seja razoavelmente livre de erro e viés e represente fielmente o que visa representar”. Assim, o Controle de Qualidade, previsto na NBC PA 01: É composto por políticas desenhadas para alcançar um sistema de controle de qualidade para obter segurança razoável, a firma e seu pessoal cumprem as normas técnicas e as exigências regulatórias e legais aplicáveis; os relatórios sobre demonstrações contábeis e demais relatórios emitidos pela firma e pelos sócios encarregados do trabalho são apropriados nas circunstâncias (BRASIL, 2009, s.p.). Além disso, o sistema de controle de qualidade deve abranger procedimentos necessários para implementar e monitorar o cumprimento dessas políticas, ou seja, o controle de qualidade é um mecanismo que garante que as informações prestadas pelo contador atuante como auditor estarão estritamente vinculadas às normas de auditoria, bem como a todas as outras regulamentações as quais esteja vinculado. A NBC PA 01 tem o objetivo de que a firma estabeleça e mantenha um sistema de controle de qualidade razoável para o cumprimento de suas funções 49 Normas de Auditoria e Parecer do Auditor Capítulo 3 de auditoria. A NBC PA 11, que entrará em vigor em 2019, é legislação que tem o intuito de exercer revisão pelos pares, ou seja, é um processo de acompanhamento do controle de qualidade dos trabalhos realizados pelos auditores independentes. O objetivo da revisão dos pares, de acordo com a própria resolução, é o de “avaliar os procedimentos adotados pelo contador que atua como auditor independente com vistas a assegurar a qualidade dos trabalhos de auditoria e asseguração desenvolvidos” (BRASIL, 2009, s.p.). Neste sentido, o contador consegue ampliar o alcance de seus resultados a partir da manutenção do controle de qualidade. Normas Com Enfoque na Independência A primeira menção ao conceito de independência nas normas profissionais de auditoria, ocorreu em 1991, quando o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), por meio de sua Resolução nº 701, aprovou a NBC P 1, que são Normas Profissionais do Auditor Independente. A NBC P 1, por meio de seu item 1.2.1, caracterizou a figura do auditor independente: “o auditor deve ser independente, não podendo deixar-se influenciar por fatores estranhos, por preconceitos ou quaisquer outros elementos materiais ou afetivos que resultem perda, efetiva ou aparente, de sua independência” (BRASIL, 2009, s.p.). Independência compreende: • Independência do pensamento: na qual o auditor não sofre influências que comprometam seu julgamento profissional, podendo agir com integridade, objetividade e ceticismo profissional. • Aparência de independência: não basta ser independente, é necessário que terceiros, com experiência, conhecimento e bom senso, provavelmente, ao analisar os trabalhos, concluiriam a independência do auditor. Desta forma, as normas que tratam sobre independência têm os objetivos de: • NBC PA 290 (R2): auxiliar as firmas e os membros das equipes de auditoria para a conquista e manutenção da independência. • NBC PA 291 (R2): auxiliar as firmas e os membros das equipes de asseguração para a conquista e manutenção da independência 50 Fundamentos e Objeto da Auditoria Normas Para o Exame de Qualificação A NBC que dispõe sobre o Exame de Qualificação Técnica para Registro no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI), do Conselho Federal de Contabilidade, é a NBC PA 13 (R1), publicada em 16 de maio de 2014 e tem por objetivo verificar o nível de conhecimento e competência técnico-profissional da figura do auditor para o exercício da auditoria independente. A realização do exame é requisito básico para registro do contador no CNAI. A norma versa sobre as questões burocráticas do examede qualificação e sobre direitos e obrigações do auditor interessado no registro. O conteúdo exigido no exame compreende as áreas de legislação e ética profissional, Normas Brasileiras de Contabilidade, legislação societária, legislação e normas de reguladores de mercado, por exemplo, a Comissão de Valores Mobiliários e língua portuguesa aplicada. Normas Para o Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI) O Cadastro Nacional de Auditores Independentes (NBC) é a Resolução nº 1.495/2005. A legislação consta com apenas 11 artigos em seu corpo e traz as exigências para registro e manutenção no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI). A principal exigência consta que o contador, devidamente habilitado, tenha a aprovação no Exame de Qualificação Técnica e que participe do Programa de Educação Continuada exigido pelo Conselho Federal de Contabilidade. a) Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica As normas técnicas estabelecem os conceitos doutrinários, as regras e os procedimentos devem ser respeitados no exercício da função do auditor. Cada uma das atividades a ser desenvolvida no processo de auditoria possui uma regulamentação formal que a orienta. No Brasil, atualmente, entre normas e orientações, existem mais de 50 documentos que norteiam a profissão do auditor. Essas normas perpassam a estrutura conceitual, os objetivos gerais do auditor independente, a condução da 51 Normas de Auditoria e Parecer do Auditor Capítulo 3 auditoria em conformidade com as normas, o controle de qualidade, a documentação de auditoria, a responsabilidade do auditor e demais itens importantes. A maioria destes conceitos foi (ou será) discutido durante nosso curso. Acesse o site do Conselho Federal de Contabilidade. Disponível em: <http://www.cfc.org.br/>. Busque o Menu “Normas Brasileiras de Contabilidade” e fique por dentro de todas as normas técnicas que dizem respeito à auditoria. b) Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas de Auditoria Interna A NBC TI 01 trata da atividade e dos procedimentos de auditoria interna contábil, também vista neste livro como auditoria interna. Em suas disposições gerais, a norma traz a conceituação e objetivos da auditoria interna, bem como alguns detalhes a serem vistos: • Papéis de trabalho: de acordo com a norma, a auditoria interna deve ser documentada por meio de papéis de trabalho, que podem ser elaborados física ou eletronicamente e que devem ser organizados de forma sistemática e racional. Esses papéis de trabalho constituem os documentos e registros dos fatos, informações e provas obtidos no curso da auditoria. • Fraude e erro: deve ser realizado, pela auditoria, um trabalho a fim de prevenir e evitar fraudes e erros, obrigando a administração da entidade a informar à auditoria, por escrito, sobre quaisquer indícios ou confirmações de que houve ato intencional (fraude) ou não intencional (erro) de omissão e/ou manipulação de transações e operações e alterações de documentos. • Normas de execução dos trabalhos: deve seguir um planejamento, observar os riscos e os procedimentos de auditoria e trata dos detalhes que devem ser percebidos quando utilizada amostragem para os testes de auditoria. • Aspectos abordados: a norma traz alguns aspectos que devem ser abordados na auditoria interna, como já visto no Capítulo 1 deste livro. 52 Fundamentos e Objeto da Auditoria Parecer de Auditoria: Conceito e Finalidade O parecer de auditoria é o trabalho final do auditor. Por meio dele o auditor informa tudo sobre seu trabalho e qual realizou, informando o alcance abrangido, a forma como foi realizado, os fatos relevantes observados e as conclusões a que chegou. Um parecer, quanto a sua natureza de opinião, classifica-se em: • parecer sem ressalva (parecer com opinião não modificada ou sem modificações); • parecer com ressalva; • parecer adverso; • parecer com abstenção de opinião. a) Parecer com opinião não modificada ou sem modificações O parecer com opinião não modificada e sem modificações demonstra que o auditor, após toda sua investigação, está de acordo com as demonstrações contábeis publicadas pela entidade, ou seja, o auditor se convence de que as demonstrações obedecem às Normas Brasileiras de Contabilidade. O parecer sem ressalva possui uma redação padronizada com três parágrafos para evitar expressões que deem margem para dupla ou má interpretação por parte dos usuários da informação contábil. É um documento conciso e diz apenas o necessário para atender às normas de auditoria (FRANCO; MARRA, 2009). • O primeiro parágrafo identifica as demonstrações contábeis e as responsabilidades da administração e dos auditores. • O segundo parágrafo se refere à extensão dos trabalhos. • No terceiro parágrafo consta a opinião sobre as demonstrações contábeis. b) Parecer com ressalva O parecer com ressalva indica que o auditor conclui que o efeito produzido por qualquer discordância ou restrição na extensão dos trabalhos não é significativa o suficiente para emissão de parecer adverso ou abstenção de opinião. A elaboração de um parecer com ressalva é similar ao sem ressalva, com utilização de expressões, por exemplo, “exceto por”, “com exceção de” ou “exceto quanto” ao se referir aos efeitos do objeto assunto de ressalva. 53 Normas de Auditoria e Parecer do Auditor Capítulo 3 Para Franco e Marra (2009), um parecer com ressalva pode ser ocasionado pelos seguintes fatos: • falta de comprovantes suficientes; • comprovantes inválidos; • restrição ao alcance do exame; • parte do exame realizado por outros auditores independentes; • afastamento às normas de contabilidade; • mudança nos princípios ou no método de aplicação de um período para outro; • incertezas. Quando um auditor emite um parecer com ressalvas é importante que descreva, claramente, todas as razões que fundamentam sua opinião e qual a quantificação dos efeitos sobre as demonstrações contábeis. c) Parecer adverso Um parecer adverso indica que as demonstrações contábeis não representam de forma adequada as posições patrimoniais e financeiras da entidade, nem o resultado do exercício e/ou as mutações do patrimônio líquido e/ou as origens e aplicações de recursos. Apresentam consonância com as Normas Brasileiras de Contabilidade e demais legislações aplicáveis. O parecer adverso é emitido quando o auditor verifica que as demonstrações contábeis estão incorretas ou incompletas, de tal forma que impossibilite a emissão de parecer com ressalvas. Sendo que, no parecer com ressalva, e no seu parecer adverso, o auditor deve revelar, em parágrafo destacado: • Todas as razões fundamentais para dar parecer adverso. • Os efeitos principais dessas razões nas demonstrações da empresa. d) Parecer com abstenção de opinião Quando o auditor não possui comprovação suficiente para fundamentar sua opinião, ele emite um parecer com abstenção de opinião. Assim, esse tipo de parecer declara que o auditor não expressa opinião sobre as demonstrações contábeis. Nesse caso, devem ser indicadas, em parágrafo específico, todas as razões que o fizeram negar opinião. Esse tipo de parecer geralmente ocorre quando o auditor não possui condições de realizar um exame com alcance necessário para que ele reúna elementos o suficiente para formar uma opinião. 54 Fundamentos e Objeto da Auditoria Forma e Conteúdo do Relatório do Auditor Independente Com Opinião Modificada De forma geral, existem dois tipos de auditoria. A seguir, será apresentado um modelo de Parecer Com Ressalva: PARECER DOS AUDITORES INDEPENDENTES DESTINATÁRIO: (1) Examinamos os balanços patrimoniais da Empresa ABC, levantados em 31 de dezembro de 20X1 e de 20X0, e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e das origens e aplicações de recursos correspondentes aos exercícios findos
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