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Introdução ao estudo das máquinas térmicas Apresentação As máquinas térmicas compõem uma das subáreas da termodinâmica, na qual são tratados os processos ou ciclos de conversão de calor (energia térmica) em trabalho (energia mecânica). Para estudar esse assunto, é importante que você conheça a Segunda Lei da Termodinâmica, que diz que a transferência de energia térmica somente é possível se realizada de um corpo de temperatura maior para outro de temperatura menor. É impossível que todo o calor transferido de um corpo a outro seja convertido em energia mecânica na sua totalidade. Como exemplo de máquinas térmicas, é possível mencionar os motores de combustão interna (motores de carros, caminhões, aviões, etc.) e os de combustão externa, tais como as caldeiras. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as diferentes características que envolvem as máquinas térmicas, como se determina a eficiência térmica e quais são os ciclos ideais de máquinas térmicas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Definir as características das máquinas térmicas. • Determinar a eficiência térmica. • Relacionar máquinas térmicas com os enunciados de Clausius e de Kelvin-Planck • Desafio Em relação à construção de máquinas térmicas utilizadas na indústria ou no dia a dia, a Segunda Lei da Termodinâmica é a que tem mais aplicabilidade, pois determina diretamente o rendimento teórico das máquinas. Com base nesses princípios, suponha que você trabalhe como engenheiro em uma indústria de celulose, e o seu supervisor tenha lhe informado sobre a diminuição da produção de energia elétrica de um dos geradores, especificamente o de uma caldeira que movimenta uma turbina. O operário que mediu de forma indireta constatou que a eficiência térmica da caldeira era de 10%. O seu supervisor, então, lhe solicita um relatório sobre essa problemática e exige uma melhora da eficiência térmica da caldeira de 100%, para que seja possível, desse modo, aumentar a produção de energia elétrica. Considerando o cenário apresentado, redija um laudo para o seu supervisor que explique a problemática apresentada e a possibilidade de aumento da eficiência da caldeira. Infográfico As máquinas térmicas respondem aos princípios da termodinâmica, portanto, segundo as definições de Clausius e de Kelvin-Planck, nenhum sistema terá uma eficiência de 100%. Sistemas de aquecimento por caldeiras, usinas térmicas e nucleares, motores de carros, motores a pistão e rotativos são considerados máquinas térmicas e respondem a esses princípios aqui mencionados. Veja, a seguir, as principais características das máquinas térmicas. Conteúdo do livro Uma máquina térmica transporta alguma sustância de trabalho por meio de um processo cíclico e contínuo. A modo de exemplo, considere uma máquina de vapor, em que a água seja a sustância de trabalho. No ciclo da água (fluido de trabalho), primeiramente, ela é convertida em vapor em uma caldeira. Em seguida, esse vapor expande um pistão. Posteriormente, o vapor é condensado e convertido em água líquida novamente, para, então, regressar à caldeira para que o processo inicie novamente. Desse modo, uma máquina térmica é um dispositivo que converte energia térmica em outras formas de energia, tais como energia elétrica e/ou mecânica. Assim, o estudo das máquinas térmicas é uma subárea da termodinâmica, na qual são abordados os ciclos de conversão de calor em trabalho. No capítulo Introdução ao estudo das máquinas térmicas, da obra Máquinas primárias, você verá exemplificada a Segunda Lei da Termodinâmica (a transferência de energia térmica em forma natural ocorre de corpos de temperatura maior em direção a corpos de temperatura menor). Além disso, você poderá comprovar, na teoria, que é impossível que todo o calor transferido de um corpo a outro seja convertido em energia mecânica na sua totalidade. Boa leitura. MÁQUINAS PRIMÁRIAS Anselmo Cukla U N I D A D E 1 Introdução ao estudo das máquinas térmicas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: ◼ Definir as características das máquinas térmicas. ◼ Determinar a eficiência térmica. ◼ Relacionar máquinas térmicas e os enunciados de Clausius e de Kelvin-Planck. Introdução As máquinas térmicas são consideradas uma subárea da termodinâmica, na qual são tratados os processos ou ciclos de conversão de calor (energia térmica) em trabalho (energia mecânica). A segunda lei da termodinâmica estabelece que a energia térmica só pode ser transferida de um corpo de temperatura maior para um corpo de temperatura menor. O calor transferido de um corpo a outro nunca é convertido em energia mecânica na sua totalidade. Como exemplo de máquinas térmicas, podemos citar os motores de combustão interna, como os motores de carros, caminhões e aviões, e os motores de combustão externa, como as caldeiras. Neste capítulo, você vai estudar as diferentes características das máqui- nas térmicas e vai aprender como se determina a eficiência térmica. Você também vai identificar quais são os ciclos ideais das máquinas térmicas. Características das máquinas térmicas Diferentemente de outros tipos de máquinas, as máquinas térmicas utilizam o calor como fonte de energia primária para a obtenção de um trabalho 2 Introdução ao estudo das máquinas térmicas Figura 1. O trabalho pode ser convertido em calor de forma direta, mas nem sempre de forma inversa. Fonte: Designua/Shutterstock.com. mecânico. Ou seja, é possível o aproveitamento do calor como trabalho útil. Por exemplo, quando você desloca uma caixa sobre uma superfície irregular, a caixa possui determinada massa. Durante o deslocamento, parte do esforço é utilizado para vencer o atrito, como você pode observar na Figura 1. Esse atrito faz com que parte da energia se perca em forma de calor, produzida pela fricção dos materiais. Agora, se você tentar realizar o processo inverso, não será possível; isto é, aquecendo-se a superfície, a caixa não se deslocará. Isso é o que torna tão especiais as máquinas térmicas e a sua relação com os princípios da termodinâmica, como afirmam Çengel e Boles (2013) e Potter e Somerton (2017). As máquinas térmicas, amplamente utilizadas em meios industriais e de transporte, são dispositivos capazes de converter energia térmica em energia mecânica. É impossível imaginar a vida sem esses dispositivos, e a cada dia eles estão mais aprimorados (por exemplo, os veículos automotores, a turbina a vapor, entre outros), como afirma Teixeira (2018). Essas máquinas têm ca- racterísticas particulares em relação às demais máquinas, mas comuns entre si. As características essenciais das máquinas térmicas são: Introdução ao estudo das máquinas térmicas 3 Figura 2. Em uma máquina térmica, uma parte do calor rece- bido é convertido em trabalho útil e a outra é desperdiçada. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 280). ◼ recebem calor de uma fonte de maior temperatura (combustão de lenha, reatores, fornalha, etc.); ◼ parte do calor recebido é convertido em trabalho útil, geralmente em forma de energia mecânica; ◼ o restante do calor que não foi convertido em energia mecânica é des- perdiçado, isto é, absorvido por outro elemento de menor temperatura, como atmosfera, água, etc., conforme mostra a Figura 2; ◼ todas as máquinas térmicas trabalham em ciclo contínuo. As máquinas térmicas frequentemente utilizam um material para trans- portar a energia térmica, que normalmente é um fluido, chamado de fluido de trabalho (ÇENGEL; BOLES, 2013; BORGNAKKE; SONNTAG, 2013;POTTER; SOMERTON, 2017; YOUNG; FREEDMAN, 2008). Segundo Çenguel e Boles (2013), o conceito de máquina térmica é usado para um grupo abrangente de sistemas mecânicos, que não necessariamente trabalham com ciclos termodinâmicos e contínuos. Exemplos disso são os 4 Introdução ao estudo das máquinas térmicas Figura 3. Esquema simplificado de uma usina a vapor. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 281). motores de veículos (ciclos Otto, diesel, entre outros) e as turbinas a gás que operam em usinas termoelétricas e até mesmo em aviões. Esses dispositivos operam em um ciclo mecânico, não termodinâmico. Um dispositivo clássico e sempre exemplificado nas definições de máquina térmica é o sistema de caldeira, ou usina de potência a vapor, que é uma máquina de combustão externa, na qual a combustão e a absorção da energia calórica ocorrem fora da máquina. A Figura 3 mostra um esquema simplificado de um sistema de caldeira + turbina a vapor, que conformam uma usina a vapor. Com base na Figura 3, Çengel e Boles (2013) definem as variáveis das máquinas térmicas, listadas a seguir: ◼ Q ent : energia calórica fornecida ao vapor d’água da caldeira a partir de uma fonte à alta temperatura (fornalha); Introdução ao estudo das máquinas térmicas 5 É importante observar que as máquinas térmicas atendem ao princípio da conservação de energia, e que o trabalho obtido (geralmente energia mecânica) nunca vai ser maior ou igual à quantidade de energia que entra no sistema térmico. ◼ Q sai : energia calórica perdida pelo vapor no condensador, transferida a corpos com temperatura inferior (por exemplo, atmosfera, rios, etc.); ◼ W sai : trabalho mecânico realizado pelo vapor por meio da turbina; ◼ W ent : quantidade de energia injetada na caldeira. Com essas variáveis, é possível representar a lei de conservação de energia, que estabelece que a quantidade de trabalho ou energia que entra no sistema deve ser igual à quantidade de energia que sai da máquina térmica. Assim, o trabalho líquido da máquina é dado pela diferença entre essas quantidades de energia, de acordo com a equação (1). O trabalho líquido pode ser obtido pelas mesmas grandezas, mas identifi- cadas como a quantidade de energia calórica líquida absorvida pelo sistema, que é representada pela equação (2): Eficiência térmica Como foi apresentado na seção anterior, as máquinas térmicas são capazes de realizar trabalho a partir de calor, e o sentido da transferência de energia calórica se dá desde uma fonte quente até uma fonte fria. O princípio de fun- cionamento dessas máquinas consiste em retirar calor de uma fonte quente e convertê-lo em trabalho útil. Assim, uma parte do calor é aproveitada mediante energia mecânica, e a outra parte é absorvida por uma fonte fria. Sabendo a quantidade de energia que foi utilizada e a que foi devolvida à atmosfera, é possível definir a eficiência da máquina. 6 Introdução ao estudo das máquinas térmicas De acordo com os autores Potter e Somerton (2017), Young e Freedman (2008) e Çengel e Boles (2013), o sistema térmico tem maior eficiência quando transforma mais calor em trabalho e, portanto, desperdiça menor quantidade de energia térmica, que vai para a fonte fria. Como mostra a equação (2), Q sai é a quantidade de energia que foi des- perdiçada dentro do ciclo termodinâmico. Esse valor nunca será zero, e o trabalho útil e líquido nunca será igual à quantidade de energia injetada no sistema. Conforme Çengel e Boles (2013), a fração de calor convertida em trabalho útil em relação à energia fornecida à máquina térmica é denominada eficiência térmica, η t . Segundo esses mesmos autores, sempre se espera obter a maior quantidade de trabalho líquido possível dos sistemas térmicos em relação a uma deter- minada quantidade de energia fornecida. Assim, a eficiência térmica de uma máquina é expressa de acordo com as equações (3) e (4). Ou: Juntando-se as equações 2 e 4, obtemos a seguinte expressão: Quando se pretende obter maior eficiência de máquinas de ciclos contínuos que operam em duas temperaturas diferentes, como os refrigeradores e as bombas de calor, são definidos dois meios de temperatura: o meio de alta temperatura, ou T H , e o meio de baixa temperatura (também definido como reservatório de energia), ou T L . Dessa forma, é possível definir a energia calórica entrante (Q ent ) e a energia calórica saliente (Q sai ): ◼ Q H : quantidade de calor que é transferida da fonte de maior temperatura (T H ) à máquina térmica; ◼ Q L : quantidade de calor que é transferida da máquina térmica para a fonte de menor temperatura (T L ). Desse modo, o valor da quantidade de trabalho líquido, definido na equação 2, e os valores de trabalho líquido e eficiência térmica, definidos nas equações 4 e 5, podem ser reescritos da seguinte forma: Introdução ao estudo das máquinas térmicas 7 A eficiência térmica é uma medida que relaciona a quantidade de trabalho mecânico útil obtido de uma máquina térmica à quantidade de energia que foi injetada no sistema em forma de calor. As máquinas térmicas são dese- nhadas para aproveitar a energia térmica em trabalho. Assim, os engenheiros buscam constantemente novos métodos e formas de melhorar a eficiência das máquinas atuais, visando a obter melhor relação custo-benefício. Segundo Young e Freedman (2008), uma máquina térmica mais eficiente terá melhor aproveitamento dos recursos disponibilizados, maior quantidade de energia aproveitada e menor poluição do meio ambiente, produzida pelos gases e pela queima de combustíveis que são liberados na atmosfera. Em geral, as máquinas térmicas apresentam baixo rendimento quando comparadas a outros tipos de sistemas. Por exemplo, um automóvel conven- cional possui uma eficiência próxima aos 25%, o que significa que a cada litro de combustível, 750 ml são queimados e liberados na atmosfera em forma de gases e calor. Quando falamos de grandes turbinas de gás e usinas termoelétricas (UTEs), a eficiência desses sistemas pode chegar aos 60%. Isso significa que, para gerar energia elétrica a partir de UTEs, quase a metade da energia utilizada para gerar eletricidade acaba sendo liberada na atmosfera, nos rios, nos lagos, etc. A Figura 4 apresenta um exemplo de eficiência de duas máquinas tér- micas, a máquina 1, com eficiência de 20%, e a máquina 2, com eficiência de 30%, ambas alimentadas com 100 kJ de energia calórica. Veja que, em ambos os casos, a energia que não foi utilizada é de magnitude importante. Se consideramos sistemas ainda mais ineficientes, podemos dizer que es- sas máquinas estão contribuindo para a poluição do nosso meio ambiente, como afirmam os autores Young e Freedman (2008) e Potter e Somerton (2017). Portanto, seja sempre consciente e utilize ao máximo o conceito de eficiência energética. 8 Introdução ao estudo das máquinas térmicas A Figura 5, elaborada por Çengel e Boles (2013), apresenta um ciclo ter- modinâmico que relaciona os conceitos vistos até o momento, mediante três componentes principais: ◼ uma fonte de energia de maior temperatura (reservatório de alta tem- peratura T H ); ◼ uma máquina térmica de ciclo contínuo, que converte parte da energia calórica em trabalho (MT); ◼ um reservatório ou sumidouro de energia, que absorve a energia que não foi utilizada (reservatório de baixa temperatura T L ). Figura 4. Exemplificando o desempenho de duas máquinas térmicas. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 280). Introdução ao estudo das máquinas térmicas 9 Como melhorar a eficiência de máquinas térmicas A únicaforma de otimizar um sistema térmico é diminuir o desperdício de energia calórica (Q sai ). Por exemplo, em usinas termoelétricas, o condensador é o dispositivo que dissipa grandes quantidades de calor na atmosfera ou nos rios. Pelo fato de o condensador ser um elemento indispensável no processo contínuo termodinâmico da máquina térmica, não é possível substituí-lo. Seguindo o exemplo apresentado por Çengel e Boles (2013), suponha que uma máquina térmica, como a apresentada na Figura 6, seja utilizada para levantar pesos. Essa máquina está composta por um arranjo de pistão-cilindro com dois conjuntos de batentes; o fluido de trabalho é o gás do cilindro. Em um Figura 5. Fluxograma de uma máquina térmica. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 282). 10 Introdução ao estudo das máquinas térmicas Figura 6. O ciclo de uma máquina térmica necessariamente tem um desperdício de energia, que é transferida a um sumidouro de baixa temperatura. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 283). primeiro momento, a temperatura do gás está a 30ºC. O pistão carregado com pesos repousa sobre os batentes inferiores. Logo em seguida são transferidos 100 kJ de energia calórica para o gás do cilindro dentro do reservatório, a partir de uma fonte de 100ºC. Isso produz a expansão do gás e, como consequência, a elevação do cilindro até alcançar os batentes superiores. No segundo instante, a temperatura do gás alcança os 90ºC, e então é retirado o peso do cilindro. Aplicando-se a lei de conservação de energia, podemos dizer que o trabalho realizado para movimentar a carga foi igual à variação de energia potencial (15 kJ). Conforme Young e Freedman (2008), mesmo sob condições ideais, a quantidade de calor fornecida ao gás é maior que o trabalho realizado, pois parte do calor fornecido é usada para elevar a temperatura do gás. Agora, considerando-se somente a energia utilizada para expandir o gás (85 kJ), é possível devolver essa energia para a fonte? A resposta é não. Isso se deve ao fato de a temperatura do reservatório utilizado ser maior que os 90ºC do gás do pistão; lembrando que o calor somente flui de uma fonte Introdução ao estudo das máquinas térmicas 11 Um método utilizado hoje em dia para aumentar a eficiência em máquinas térmicas, como turbinas a gás utilizadas em UTEs, são os chamados ciclos regenerativos e combinados, que têm como objetivo reutilizar parte do calor dos gases de saída para aquecer o ar de entrada do sistema térmico. Veja mais sobre o assunto no Capítulo 10 de Termodinâmica, de Çengel e Boles (2013). quente a uma mais fria. Assim, para resfriar esse gás aos 30ºC originais, você deve utilizar uma fonte de menor temperatura. Por exemplo, nesse caso, uma fonte de 20ºC. Assim, o gás devolverá os 85 kJ utilizados da primeira fonte, tal como apresentado na Figura 6. Essa energia não é utilizada e é chamada de energia indisponível. Çengel e Boles (2013) concluem que toda máquina térmica deve rejeitar alguma quantidade de energia, que é transferida para uma fonte de menor temperatura, para completar o ciclo sob condições ideais. Ainda segundo esses autores e Borgnakke e Sonntag (2013), o fato de que uma máquina térmica deve trocar energia térmica com dois reservatórios diferentes para trabalhar de forma contínua é a base dos enunciados da segunda lei da termodinâmica de Clausius e Kelvin-Plank, que serão abordados a seguir. Máquinas térmicas e os enunciados de Clausius e de Kelvin-Planck Como vimos, para que o ciclo termodinâmico de uma máquina seja contínuo, mesmo em condições ideais, a máquina térmica desperdiçará uma fração de energia calórica. Ou seja, não existe máquina térmica com eficiência de 100%. Esse fenômeno, conforme Çengel e Boles (2013) e Borgnakke e Sonntag (2013), serve como fundamento para o enunciado de Kelvin-Planck da segunda lei da termodinâmica, apresentado a seguir: Enunciado de Kelvin-Planck. É impossível construir um dispositivo que opere em ciclo termodinâmico e que não produza outros efeitos além do levantamento de um peso e da troca de calor com um único reservatório térmico (Figura 7). 12 Introdução ao estudo das máquinas térmicas Segundo Borgnakke e Sonntag (2013), esse enunciado está vinculado à discussão sobre a eficiência dos motores térmicos e estabelece ser impossível construir um motor térmico que opere com rendimento de 100%. Ou seja, conforme o enunciado, é impossível que uma máquina térmica receba uma determinada quantidade de calor de um corpo à alta temperatura e produza igual quantidade de trabalho. Ainda segundo Borgnakke e Sonntag (2013), a única alternativa é transferir certa quantidade de calor do fluido de trabalho à baixa temperatura para um corpo à temperatura inferior. Isso significa que um ciclo só pode produzir trabalho se estiverem envolvidos dois níveis de temperatura e o calor for transferido do corpo à alta temperatura para a máquina térmica, e também dessa máquina térmica para o corpo à baixa temperatura. Ou seja, não é possível a construção de uma máquina térmica cuja eficiência seja igual a 100%. Observe que a inexistência de uma máquina térmica cuja eficiência seja igual à unidade não se deve ao fato de existir atritos, superfícies e acabamentos imperfeitos, folgas ou outros efeitos dessa natureza. Trata-se de uma limitação intrínseca mesmo às máquinas térmicas ideais e, principalmente, às reais que utilizamos no nosso dia a dia. A segunda lei da termodinâmica também pode ser abordada segundo o enunciado de Clausius. Esse enunciado trata mais especificamente de aplicações que envolvem refrigeração e bombas de calor. Figura 7. Máquina térmica que não cumpre com o princípio de Kelvin-Planck. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 285). Introdução ao estudo das máquinas térmicas 13 Figura 8. Exemplo de um ar- condicionado cujo funcionamento comprova o enunciado de Clausius sobre a segunda lei da termodinâmica. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 291). Enunciado de Clausius. É impossível construir um dispositivo que opere em um ciclo e que não produza outro efeito além da troca de calor de um corpo à baixa temperatura para um corpo à alta temperatura. Dessa forma, conforme o enunciado, não pode ser transferida energia térmica de uma fonte de menor temperatura para uma fonte de maior temperatura, a não ser que seja utilizado um trabalho externo líquido para essa finalidade. Podemos afirmar que é exatamente isso o que faz um ar-condicionado doméstico. Conforme explicam Çengel e Boles (2013) e Borgnakke e Sonntag (2013), adaptando-se o enunciado ao funcionamento de um aparelho de ar-condicionado, estabelece-se que o ar-condicionado não pode funcionar a menos que o seu compressor seja acionado por uma fonte externa de energia (trabalho líquido fornecido por um motor elétrico), tal como apresentado no exemplo da Figura 8. Com base no enunciado de Clausius, o efeito de transferir calor de uma fonte mais fria para um corpo mais quente requereria o consumo de algum tipo de energia disponível no ambiente. Portanto, um ar-condicionado, ou mesmo um refrigerador, são evidências físicas que comprovam o enunciado de Clausius da segunda lei da termodinâmica. 14 Introdução ao estudo das máquinas térmicas Com base nos princípios apresentados, podemos realizar algumas observa- ções, embora seja impossível provar que um enunciado é negativo. Conforme Borgnakke e Sonntag (2013), a segunda lei da termodinâmica está evidenciada empiricamente, isto é, experimentos realizados já demonstraram essa lei. Sendo assim, a segundalei da termodinâmica é experimental. Pode-se verificar que os enunciados de Clausius e de Kelvin-Planck são equivalentes, tendo em vista que dois enunciados são equivalentes se a verdade de um implicar a verdade do outro, ou se a violação de um implicar a violação do outro, e vice-versa. A demonstração de que a violação do enunciado de Clausius implica a violação do enunciado de Kelvin-Planck é feita a seguir. A combinação de um refrigerador + máquina térmica, apresentada na Figura 9a, opera entre dois reservatórios. Admite-se que a máquina térmica, contrariando o enunciado de Kelvin-Planck, tem uma eficiência térmica de 100% e, portanto, converte todo o calor recebido Q H em trabalho W. Esse trabalho é então fornecido a um refrigerador, que remove uma quantidade de calor Q L do reservatório à baixa temperatura e entrega uma quantidade de calor Q H + Q L para o reservatório à alta temperatura. Durante esse processo, o reservatório recebe uma quantidade de calor líquida Q L (na Figura 9a, é a diferença entre Q L + Q H e Q H ). Portanto, a combinação desses dispositivos configura um ar-condicionado ou mesmo um refrigerador (Figura 9b), que transfere uma quantidade Q L de calor de um corpo mais frio para um corpo mais quente, sem interação com o meio externo. Dessa forma, mediante o exemplo da Figura 9, fica clara a violação do enunciado de Clausius, o que também implica em uma clara violação do princípio de Kelvin-Planck. Portanto, como afirmam Çengel e Boles (2013) e Young e Freedman (2008), fica demonstrado que os enunciados de Clausius e de Kelvin-Planck são expressões equivalentes da segunda lei da termodinâmica. Introdução ao estudo das máquinas térmicas 15 1. A eficiência do motor de um 2. Um sistema de caldeira + turbina automóvel é igual a 30%. Se o de uso industrial consome um combustível que consome possui material combustível de 1.000 KJ/ uma energia de 35.000 KJ/kg, ton. A caldeira foi abastecida com 15 qual é a quantidade de energia toneladas de material combustível, e mecânica (trabalho útil) que o motor perdeu-se na atmosfera 7.000 KJ de transforma com 1kg de combustível? energia térmica. Qual foi a energia a) 10.000 KJ. ou o trabalho líquido obtido com b) 10,5 MJ. essa quantidade de combustível? c) 10.100 W. a) 8 MJ. d) 10.500 J. b) 8.000.000 J. e) 10.500 KJ. c) 7.000 KJ. Figura 9. Prova de que a violação do princípio de Clausius leva à violação do enunciado de Kelvin-Planck. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 291). 16 Introdução ao estudo das máquinas térmicas d) 7.500.000 J. e) 8.500 KJ. 3. Um sistema de caldeira + turbina industrial consome um material combustível de 1.000 KJ/ton e foi alimentado com 15 toneladas de material combustível; perdeu-se na atmosfera 7.000 KJ de energia térmica. Qual é o rendimento dessa caldeira? a) 48%. b) 0,33. c) 50%. d) 90%. e) 53%. 4. O calor transferido de uma fornalha a uma máquina térmica é de 80 KJ. Se a máquina obteve uma potência mecânica de 1 KW durante 50 segundos, qual é o rendimento dessa máquina térmica? a) 0,625. b) 53%. c) 0,55. d) 80%. e) 50%. 5. Um motor de carro consome um combustível que possui 30.000 KJ/ kg, se o motor possui uma potência de 120 HP e um rendimento de 30%. Por quanto tempo o motor vai estar funcionando a plena carga se for alimentado com 5 kg desse combustível? a) 5 minutos. b) 8,4 minutos. c) 1 hora. d) 25 minutos. e) 45 minutos. BORGNAKKE, C.; SONNTAG, R. E. Fundamentos da termodinâmica. São Paulo: Blucher, 2013. ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. POTTER, M. C.; SOMERTON, C. W. Termodinâmica para engenheiros. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. TEIXEIRA, M. M. História das maquinas térmicas. Brasil Escola, 2018. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/fisica/historia-das-maquinas-termicas.htm>. Acesso em: 13 jun. 2018. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física II: termodinâmica e ondas. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2008. Leitura recomendada STROBEL, C. Termodinâmica técnica. Curitiba: Intersaberes, 2016. Introdução ao estudo das máquinas térmicas 17 Conteúdo: Dica do professor De acordo com os princípios da termodinâmica, o calor não pode fluir espontaneamente de um objeto frio a outro de maior temperatura. Portanto, o enunciado de Clausius determinou como deve ser o sentido do fluxo de calor entre dois corpos a diferentes temperaturas. O calor somente flui de um corpo frio para um quente se houver uma fonte externa de trabalho. Por outra parte, as máquinas térmicas convertem somente uma pequena fração da energia térmica absorvida em trabalho mecânico. Baseada nesse fato, a definição de Kelvin-Planck da Segunda Lei da Termodinâmica define que é impossível construir uma máquina térmica que opere em ciclo contínuo e que seja capaz de absorver toda a energia térmica e convertê-la em trabalho. A seguir, a dica do professor exemplifica os conceitos teóricos da Segunda Lei da Termodinâmica, assim como os enunciados de Kelvin-Planck e Clausius. Exercícios 1) A eficiência do motor de um automóvel é igual a 30%. Se o combustível que consome tem uma energia de 35.000 KJ/kg, qual é a quantidade de energia mecânica (trabalho útil) que o motor transforma com 1kg de combustível? A) 10.000 KJ B) 10,5 MJ C) 10.100 W D) 10.500 J 10.500 KJ 2) Um sistema de caldeira + turbina de uso industrial consome um material combustível de 1.000 KJ/ton. A caldeira foi abastecida com 15 toneladas de material combustível, e 7.000 KJ de energia térmica perderam-se na atmosfera. Qual foi a energia ou o trabalho líquido obtidos com essa quantidade de combustível? A) 8.000 MJ C) 7.000 KJ D) 7.500.000 J E) 8.500 KJ 3) A partir do sistema de caldeira + turbina industrial, que consome um material combustível de 1.000 KJ/ton e foi alimentada com 15 toneladas de material combustível, e 7000 KJ de energia térmica perderam-se na atmosfera, determine o rendimento dessa caldeira. A) 48% B) 0,33 C) 50% D) 90% 4) O calor transferido de uma fornalha a uma máquina térmica é de 80 KJ. Se a máquina obteve uma potência mecânica de 1 KW durante 50 segundos, qual é o rendimento dessa máquina térmica? 0,625 B) 53% C) 0,55 D) 80% E) 50% 5) Um motor de carro consome um combustível que tem 30.000 kJ/kg. Se o motor tem uma potência de 120 HP e um rendimento de 30%, em quanto tempo o motor estará funcionando à plena carga, se é alimentado com 5kg de combustível? A) 5 minutos B) 8,4 minutos C) 1 hora D) 25 minutos E) 45 minutos Na prática Em sistemas industriais, equipamentos e máquinas térmicas, sempre é de muita importância conhecer qual é o rendimento ou a eficiência nos quais se está trabalhando. Essa informação é um parâmetro indicativo sobre o seu aproveitamento energético, que, em definitiva, são indicativos de custos econômicos e definem quanto está sendo aproveitado, efetivamente, para a realização de um trabalho. Veja um exemplo a seguir. Maquinas térmicas (Definição e Classificação) Apresentação A aplicação de máquinas térmicas iniciou no século XVIII, focada principalmente no desenvolvimento de meios para propulsão de máquinas. Com o advento da revolução industrial, elas foram incorporadas ao processo produtivo, trazendo como consequência direta o aumento da capacidade de produção. A partir desse fato, houve uma abrangência na sua utilização, sendo atualmente empregadas em diversas áreas como meios de transporte, processos fabris, máquinas industriais econversão de energia. Com o aumento e a diversidade da sua utilização, houve a necessidade do desenvolvimento das áreas de metalurgia, materiais e processos de fabricação, considerando principalmente a sua aplicação e eficiência energética. Portanto as máquinas térmicas estão presentes em diversas áreas tecnológicas, tornando-se necessário o entendimento sobre elas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar o surgimento e a importância das máquinas térmicas, aprender as definições e a classificação das máquinas térmicas e entender como ocorre a transformação de calor em trabalho por meio das máquinas térmicas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Reconhecer a importância das máquinas térmicas e as circunstâncias de seu surgimento. • Analisar a classificação das máquinas térmicas e suas definições. • Identificar como ocorre a transformação de calor em trabalho por meio das máquinas térmicas. A máquina térmica é um dispositivo capaz de transformar energia térmica em energia mecânica. Também podemos dizer que ela transforma calor em trabalho. A Solutionary Consultoria é uma empresa que atua na área de energia, em projetos cujo foco é o planejamento e desenvolvimento de soluções. Uma das áreas da Solutionary é a de termoeletricidade, na qual você trabalha. Uma nova demanda foi encaminhada, proveniente de uma concessionária de energia, que consiste da seguinte situação: O desenvolvimento de novos materiais utilizados em geradores termoelétricos está em constante evolução, tendo como um dos objetivos a obtenção de melhor eficiência térmica. Para atingir maior eficiência térmica e, consequentemente, melhor rendimento, a dificuldade consiste em que o material tenha baixa condutividade térmica e alta condutividade elétrica, conseguindo dessa forma gerar energia sem um alto percentual de perdas. Para isso, é preciso avaliar alguns novos materiais termoelétricos, que apresentam as seguintes características: A temperatura de operação do material é na faixa de 25 a 30 °C. De acordo com os dados fornecidos, responda às seguintes questões: a) Em relação à temperatura, considerando que a temperatura de operação é o ponto mais frio do processo, qual dos materiais acima teria a possibilidade de realizar maior transformação de calor em trabalho? b) Considerando as características do ponto de fusão e condutividade térmica, qual material teria melhor eficiência térmica? Infográfico Nas máquinas térmicas de transformação de energia, tanto as máquinas de deslocamento positivo quanto as máquinas de fluxo utilizam um fluido em seu meio. A diferença entre as duas é que na primeira o fluido fica confinado em alguma região do equipamento, enquanto na segunda isso não ocorre, havendo fluxo contínuo através da máquina. Dessa forma, a utilização dessas máquinas deve atender uma determinada classificação. Veja no Infográfico a seguir. MÁQUINAS TÉRMICAS Gerson Paz Teixeira Máquinas térmicas (definição e classificação) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: ■ Reconhecer a importância das máquinas térmicas e as circunstâncias de seu surgimento. ■ Analisar a classificação das máquinas térmicas e suas definições. ■ Identificar como ocorre a transformação de calor em trabalho por meio das máquinas térmicas. Introdução A aplicação de máquinas térmicas teve início no século XVIII e estava focada principalmente no desenvolvimento de meios para a propulsão de máquinas. Com a Revolução Industrial, as máquinas térmicas foram incorporadas ao processo produtivo, aumentando a capacidade de pro- dução. A partir desse fato, houve uma abrangência em sua utilização e, atualmente, são empregadas em diversas áreas, como meios de trans- porte, processos fabris, máquinas industriais e conversão de energia. Com o aumento da diversidade de sua utilização, surgiu a necessidade do desenvolvimento das áreas de metalurgia, materiais e processos de fabricação, considerando, principalmente, a sua aplicação e eficiência energética. Assim, as máquinas térmicas estão presentes em diversas áreas tecnológicas, tornando-se necessário o seu entendimento. Neste capítulo, você vai estudar o surgimento e a importância das máquinas térmicas, aprender sua classificação e definições e entender como ocorre a transformação de calor em trabalho por meio das má- quinas térmicas. 2 Máquinas térmicas (definição e classificação) Figura 1. Primeira turbina desenvolvida por Heron de Alexandria. Fonte: Morphart Creation/Shutterstock.com. Surgimento e importância das máquinas térmicas O primeiro registro histórico deve-se a um matemático e mecânico grego chamado Heron de Alexandria no século I. Ele desenvolveu a primeira turbina, denominada Eolípila. Contudo, convém destacar que Heron desenvolveu o conceito primário da máquina térmica: a pressão do vapor sobre os corpos. Essa máquina consistia em uma esfera com dois tubos abertos. A esfera era preenchida com água e, quando aquecida, girava a certa velocidade, de maneira que a pressão era expelida pelos tubos. A Figura 1 traz o modelo dessa máquina. Máquinas térmicas (definição e classificação) 3 Figura 2. Representação da máquina térmica de Cugnot Trolley. Fonte: Bockhaus (2018). A aplicação de uma máquina térmica surge com o projeto a vapor de Cugnot Trolley em 1769. Essa máquina tinha como finalidade o transporte de canhões de artilharia do exército francês, sem a utilização de tração animal. O modelo dessa máquina é apresentado na Figura 2. Esse projeto consistia em uma caldeira a vapor que abastecia um motor de combustão interna, e sua direção era uma manivela. Essa máquina tinha a capacidade de tracionar até quatro toneladas com uma velocidade máxima de 4 km/h. James Watt teve participação fundamental no desenvolvimento das má- quinas térmicas. Em 1763, atuando na Universidade de Glasgow, foi chamado para reparar uma máquina de Newcomen. Durante a avaliação diagnóstica, notou que havia grande perda no sistema de arrefecimento da máquina. Após a implementação de uma câmara de condensação, houve um acréscimo de 75% em seu rendimento. A partir disso, James Watt desenvolveu diversos mecanismos que impulsionaram a utilização das máquinas a vapor. Em 1775, um conjunto cilindro-pistão foi utilizado no bombeamento de água na área urbana. Seu projeto é apresentado na Figura 3. Em 1824, foram produzidos 1.124 equipamentos, consolidando a utilização das máquinas térmicas no processo produtivo. 4 Máquinas térmicas (definição e classificação) Desde então, o desenvolvimento e a utilização de máquinas térmicas cres- ceu em larga escala, com aplicação nas mais diversas áreas. Citando alguns exemplos de aplicação temos automóveis, aviões, geradores termoelétricos e caldeiras. Definições e classificação das máquinas térmicas Primeiramente, temos que entender o que é uma máquina térmica. A máquina térmica é um dispositivo capaz de transformar energia térmica em energia mecânica. Também podemos dizer que ela transforma calor em trabalho. Para um melhor entendimento, na Figura 4 temos um modelo de máquina térmica. Entrada do vapor Pistão Cilindro Condensador Figura 3. Conjunto cilindro-pistão com câmara de condensação. Fonte: Adaptada de WATT’S Engine (2018). Máquinas térmicas (definição e classificação) 5 Na Figura 4, a máquina está em contato com duas fontes de calor: uma fonte quente (alta temperatura) e uma fonte fria (baixa temperatura). Sob a forma de calor, a energia da fontequente é absorvida pela máquina. Contudo, no momento em que o calor é processado, uma parte se transforma em trabalho, enquanto a outra é dissipada na fonte fria. Dessa forma, o trabalho realizado é a energia mecânica resultante do processo. Lembrando que, a condição inicial é que o valor da T q seja maior que a T f . A capacidade de converter a maior quantidade possível de calor em trabalho determina a eficiência térmica da máquina. Na obtenção do trabalho de uma máquina térmica, ocorre a troca de energia entre um sistema mecânico e um fluido. Esse fluido é chamado de fluido de trabalho. O fluido de trabalho pode ser líquido, gás, vapor ou gás de combustão. Tq > Tf W Trabalho realizado Figura 4. Modelo de uma máquina térmica. Tq, alta temperatura; Tf, baixa tem- peratura; Qq, calor da fonte quente; Qf, calor da fonte fria; W, trabalho. Fonte: Adaptada de PUC Motors (2010). Fonte de calor à temperatura Tf Fonte de calor à temperatura Tq 6 Máquinas térmicas (definição e classificação) O processo no interior da máquina pode ocorrer por meio de um ciclo termodinâmico ou do tipo de combustão. O ciclo termodinâmico é caracte- rizado por processos que ocorrem no sistema com a finalidade de se realizar trabalho. Podemos classificar os ciclos da seguinte maneira (SANTOS, 2016, documento on-line): ■ Máquina térmica de ciclo fechado — Nesse tipo de máquina tér- mica, o f luido de trabalho passa por um ciclo que o obriga a apre- sentar as mesmas condições termodinâmicas no início e no fim da realização de trabalho. As centrais a vapor representam esse tipo de máquina. ■ Máquina térmica de ciclo aberto — Nesse tipo de máquina térmica, as características do fluido de trabalho não são as mesmas no início e no fim da realização de trabalho. Os motores à combustão representam esse tipo de máquina. Quando utilizamos no processo um tipo de combustão para obtenção de energia mecânica, podemos classificar da seguinte forma: ■ Máquinas térmicas de combustão externa — Nessas máquinas, o fluido de trabalho não entra em contato com os produtos da combustão da mistura ar-combustível. Nesse formato, é necessária a presença de trocadores de calor no sistema. As caldeiras são um exemplo de máquinas de combustão externa. ■ Máquinas térmicas de combustão interna — Nessas máquinas, o fluido de trabalho é justamente a mistura ar-combustível, portanto, não é necessária a utilização de trocadores de calor, o que aumenta a eficiência da máquina. Os motores de ciclo Otto são máquinas de combustão interna. Como já vimos as classificações das máquinas quanto às características termodinâmicas, veremos agora a sua classificação quanto ao trabalho e ao tipo de transformação de energia. Máquinas térmicas (definição e classificação) 7 ■ Classificação quanto ao trabalho: ■ Máquinas térmicas motrizes — Transformam energia térmica em trabalho mecânico. Têm como função acionar outras máquinas. ■ Máquinas térmicas geratrizes — Recebem o trabalho mecânico e transformam em energia térmica. Seu funcionamento só é possível quando acionadas por outras máquinas. ■ Classificação quanto ao tipo de transformação de energia: ■ Máquinas térmicas de deslocamento positivo — A transferência de energia ocorre em um sistema fechado. O sistema tem um elemento móvel que pode ser um pistão ou um embolo, o qual pode ter um movimento de translação alternada ou rotação. ■ Máquinas térmicas de fluxo — A transferência de energia ocorre em um sistema aberto. O elemento móvel é um disco ou tambor, que possui em sua extremidade um sistema de pás, montadas de maneira a formar canais por onde o fluido de trabalho escoa. O movimento desse elemento é rotativo. Transformação de calor em trabalho Em um primeiro momento, veremos os conceitos de Calor (Q) e de Trabalho (W): Calor é definido como a forma de energia transferida entre dois sistemas (ou entre um sistema e sua vizinhança) em virtude da diferença de temperaturas. Ou seja, uma interação de energia só é calor se ocorrer devido a uma dife- rença de temperatura. Dessa forma, não pode haver qualquer transferência de calor entre dois sistemas que estejam à mesma temperatura (ÇENGEL; BOLES, 2013, p. 60). Ainda conforme Çengel e Boles (2013, p. 62): [...] trabalho é a transferência de energia associada a uma força que age ao longo de uma distância. Podemos simplesmente dizer que o trabalho é uma interação de energia que não é causada por uma diferença de temperatura entre um sistema e sua vizinhança. Com o entendimento desses conceitos, analise a figura a seguir. 8 Máquinas térmicas (definição e classificação) Fonte fria Qq Wrealizado Qf Nota-se que tem um fluxo de energia no sistema. Se Q é o calor total absorvido pela máquina, temos a seguinte equação: Q = Q q + Q f Porém, como sabemos que o calor não é totalmente aproveitado no sistema, a equação fica da seguinte forma: Q = Q q – Q f De acordo com a primeira lei da termodinâmica “a energia não pode ser criada nem destruída durante um processo; ela pode apenas mudar de forma”, que é o princípio da conservação de energia. Portanto, de acordo com a primeira lei, podemos afirmar que: W = Q Como temos perdas no processo, então: W = Q q – Q f Então, o trabalho realizado em máquinas térmicas será a diferença do calor fornecido pela fonte quente em relação ao calor absorvido pela fonte fria. Em algumas literaturas, o W resultante também é denominado W líquido de saída. Fonte quente Máquin a térmica Máquinas térmicas (definição e classificação) 9 Fornalha Rio Produção de trabalho de uma máquina térmica O calor é transferido de uma fornalha para uma máquina térmica a uma taxa de 80 MW. Considerando que a taxa em que o calor é rejeitado para um rio próximo é de 50 MW, determine o trabalho realizado pela máquina. Solução: uma representação esquemática da máquina é apresentada na figura a seguir. A fornalha serve como reservatório de alta temperatura (fonte quente), e o rio, como reservatório frio (fonte fria). Os dados fornecidos são os seguintes: Q q = 80 MW Q f = 50 MW Sabendo que W = Q q – Q f , temos: W = 80 MW – 50 MW W = 30 MW Para saber a eficiência energética da máquina, teríamos que aplicar a seguinte fórmula: η = W Q q Nesse caso, a eficiência obtida seria η = 30 MW = 0,375 ou 37,5%. 80 MW Qq = 80 MW Wliq, sai MT Qf = 50 MW Fonte: Adaptado de Çengel e Boles (2013). 10 Máquinas térmicas (definição e classificação) 1. Por definição, uma máquina térmica é aquela que consegue transformar energia térmica em: a) energia elétrica. b) energia cinética. c) energia mecânica. d) energia química. e) energia magnética. 2. Para ser realizado trabalho (W) em uma máquina térmica, existe uma condição inicial a ser atendida. Que condição é essa? a) A máquina precisa ter uma boa eficiência. b) O tamanho da fonte quente tem que ser maior que o da fonte fria. c) A temperatura da fonte quente não pode ser maior que a da fonte fria. d) O tamanho da fonte fria tem que ser maior que o da fonte quente. e) A temperatura da fonte fria tem que ser menor que a da fonte quente. 3. Uma determinada máquina térmica tem como definição que a sua transferência de energia ocorre em um sistema fechado, e que os elementos que a compõem são móveis. Qual é a classificação dessa máquina? a) Máquina térmica de ciclo aberto. b) Máquina térmica de ciclo fechado. c) Máquina térmica motriz. d) Máquina térmica de deslocamento positivo. e) Máquina térmica de fluxo. 4. Um motor absorve 10.000 J e realiza um trabalho de 3.000 J a cada ciclo. Qual será o calordissipado em cada ciclo? a) 13.000 J. b) 7.000 J. c) – 7.000 J. d) 10.000 J. e) 3.000 J. 5. Uma máquina térmica produz 2.400 J de trabalho mecânico e rejeita 4.200 J de calor em cada ciclo. Qual será o valor de calor fornecido a cada ciclo e sua eficiência energética em percentual? a) 6.600 J e 36,36%. b) 1800 J e 133,33%. c) 1800 J e 42,45%. d) 6.600 J e 275%. e) – 6,600 J e 36,36%. Máquinas térmicas (definição e classificação) 11 BOCKHAUS, F. A. Carro a vapor Cugnots, Paris 1769. Disponível em: <https://commons.wi- kimedia.org/wiki/File:Nicholas-Cugnots- Dampfwagen.png>. Acesso em: 18 jun. 2018. ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. FREEDMAN, R. A.; YOUNG, H. D. Física 2: termodinâmica e ondas. 14. ed. São Paulo: Pearson, 2016. PUC Motors. Aplicação da 2ª Lei da Termodinâmica às máquinas térmicas. 2010. Dispo- nível em: <http://pucmotors.blogspot.com/2010/03/aplicacao- da-2-lei-da-termodi- namica-as.html>. Acesso em: 18 jun. 2018. SANTOS, R. Revolução Industrial e máquinas térmicas. 2016. Disponível em: <https:// aprendafisica.wordpress.com/2016/03/11/revolucao- industrial/>. Acesso em: 20 jun. 2018. WATT’S Engine, 1769. Disponível em: <http://wbraga.usuarios.rdc.puc- rio.br/fentran/ termo/hist4.htm>. Acesso em: 18 jun. 2018. http://pucmotors.blogspot.com/2010/03/aplicacao-da-2-lei-da-termodi- http://pucmotors.blogspot.com/2010/03/aplicacao-da-2-lei-da-termodi- http://wbraga.usuarios.rdc.puc-rio.br/fentran/ http://wbraga.usuarios.rdc.puc-rio.br/fentran/ Exercícios 1) Por definição, uma máquina térmica é aquela que consegue transformar energia térmica em _________________________________. A) energia elétrica. B) energia cinética. energia mecânica. D) energia química. E) energia magnética. 2) Para ser realizado trabalho (W) em uma máquina térmica, existe uma condição inicial a ser atendida. Que condição é essa? A) A máquina precisa ter uma boa eficiência. B) O tamanho da fonte quente tem que ser maior que a fonte fria. C) A temperatura da fonte quente não pode ser maior que a da fonte fria. D) O tamanho da fonte fria tem que ser maior que o da fonte quente. A temperatura da fonte fria tem que ser menor que a da fonte quente. 3) Uma determinada máquina térmica tem como definição que a sua transferência de energia ocorre em um sistema fechado e que os elementos que a compõem são móveis. Qual a classificação dessa máquina? A) Máquina térmica de ciclo aberto. B) Máquina térmica de ciclo fechado. C) Máquina térmica motriz. Máquina térmica de deslocamento positivo. E) Máquina térmica de fluxo. 4) Um motor absorve 10.000 J e realiza um trabalho de 3.000 J a cada ciclo. Qual será o calor dissipado em cada ciclo? A) 13.000 J. 7.000 J. C) - 7.000 J. D) 10.000 J. E) 3.000 J. 5) Uma máquina produz 2.400 J de trabalho mecânico e rejeita 4.200 J de calor em cada ciclo. Qual será o valor de calor fornecido a cada ciclo e sua eficiência energética em percentual? 6.600 J e 36,36%. B) 1.800 J e 133,33%. C) 1.800 J e 42,45%. D) 6.600 J e 275%. E) - 6.600 J e 36, 36%. Na prática A crescente preocupação com o esgotamento dos recursos energéticos indispensáveis à vida moderna, tais como petróleo, gás natural e carvão, está incentivando o desenvolvimento de novas tecnologias baseadas no uso de recursos alternativos da natureza, como energia solar, hidrelétrica, eólica, geotérmica e outras. Quanto à energia térmica, ela ocupa um lugar especial nas atividades, pois acompanha todos os processos industriais e da natureza. Na maioria dos casos esse calor residual é perdido, sem utilidade econômica, causando aquecimento do meio ambiente. A forma de aproveitá-lo é transformar esse calor em eletricidade. O fenômeno de conversão direta de calor em energia elétrica foi descoberto por Thomas Johann Seebeck (em 1821) e Jean Charles Athanase Peltier (em 1834). Esse fenômeno consiste na geração de corrente elétrica em energia térmica por um dispositivo que unindo dois materiais condutores sujeitos a uma variação de temperatura ligados a um galvanômetro surge uma diferença de potencial. A esse conjunto de elementos ligados e sujeitos à variação de temperatura foi dado o nome de Termopar. Como temos um lado quente e outro frio, por meio dessa diferença de potencial obtemos a geração de energia elétrica. Esse dispositivo, capaz de realizar essa conversão, é chamado de termogerador. Apresentação Muito utilizados na indústria, os trocadores de calor são dispositivos que facilitam a troca de calor entre dois fluidos, podendo assumir diversas formas e diferentes tamanhos. Recebem uma nomenclatura diferenciada quanto ao seu tipo e tamanho, à sua funcionalidade e, também, às suas características construtivas. O coeficiente global de transferência de calor relaciona as resistências térmicas de um trocador, sendo um fator determinante na seleção do trocador correto. Além disso, existem dois métodos muito comuns empregados na análise de trocadores de calor: o método LMDT e o método da efetividade-NTU, que são fatores de desempenho do dispositivo. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer os tipos de trocadores de calor e seus métodos de análise. Ainda, vai aprender a calcular o coeficiente global de transferência de calor. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Diferenciar entre os tipos de trocadores de calor, as formas construtivas e os trocadores compactos. • Calcular o coeficiente global de transferência de calor. • Reconhecer métodos de análise de trocadores de calor. Os trocadores de calor facilitam a troca de calor entre dois fluidos. Operam, portanto, com temperaturas de fluido quente e frio entrando e saindo do dispositivo. Métodos de análise de trocadores são empregados para trabalhar com as temperaturas envolvidas na troca de calor. Neste Desafio, coloque-se no papel de profissional e considere que um trocador de calor compacto de placas interno precisa de um reparo. Para isso, é necessário conhecer alguns dados de operação do dispositivo. Acompanhe, a seguir: Para realizar os reparos, determine as temperaturas de saída dos fluidos e indique o método de análise que deve ser utilizado nesse caso. Infográfico Visando a facilitar a troca de calor entre dois fluidos, os trocadores de calor podem assumir diferentes formatos e tamanhos, variando de acordo com o modo de operação. Assim, podem ser classificados quanto às suas características construtivas. No Infográfico a seguir, você verá esquemas e desenhos construtivos dos principais trocadores de calor. FENÔMENOS DE TRANSPORTE Cezar Augusto Schadeck Trocadores de calor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: ◼ Diferenciar entre os tipos de trocadores de calor, as formas construtivas e os trocadores compactos. ◼ Calcular o coeficiente global de transferência de calor. ◼ Reconhecer os métodos de análise de trocadores de calor. Introdução Os trocadores de calor são dispositivos destinados a facilitar a troca de calor entre dois fluidos com temperaturas diferentes. Um trocador de calor tem utilização na indústria de sistemas de refrigeração, ar-condicionado, produção de potência, etc. As trocas são realizadas pelo escoamento de fluidos, normalmente sem contato entre si, através de condução na parede da tubulação interna do trocador e correntes convectivas através da superfície do dispositivo, e a efetividade da troca é avaliada por meio de umcoeficiente global de transferência de calor, o qual também seleciona o tipo e o tamanho do trocador a ser utilizado. Os métodos de análise de trocadores de calor são realizados por meio da diferença de temperatura média logarítmica (LMTD, do inglês log mean temperature difference) e o método da efeti- vidade (NTU, do inglês number of transfer units). Os trocadores de calor podem variar quanto aos seus aspectos construtivos, assumindo vários tipos diferentes. Neste capítulo, você aprenderá a diferenciar entre os tipos de troca- dores de calor, suas formas construtivas e os trocadores compactos. Além disso, aprenderá a calcular o coeficiente global de transferência de calor, bem como reconhecerá os métodos para a análise de trocadores de calor. 2 Trocadores de calor Figura 1. Trocador de calor de tubo duplo em a) paralelo e em b) contracorrente. Fonte: Adaptada de Çengel e Ghajar (2012, p. 630). Classificação dos trocadores de calor Os trocadores de calor são facilitadores de troca de calor entre dois fluidos que se cruzam no seu interior com temperaturas diferentes, porém sem que haja mistura entre os fluidos. As formas pelas quais esses dispositivos trocam calor envolvem geralmente a condução através das paredes do trocador e a convecção em cada fluido. Conforme a aplicação de transferência de calor, um trocador de calor pode assumir vários tipos diferentes (ÇENGEL; GHAJAR, 2012). Trocador de calor de tubo duplo É o dispositivo mais comum, composto por dois tubos concêntricos e diâme- tros diferentes, conforme mostrado na Figura 1. Um fluido escoa através do tubo de menor diâmetro, enquanto outro fluido escoa através da região anelar entre os dois tubos. Para escoamento paralelo, os fluidos mais aquecido e menos aquecido entram e escoam na mesma extremidade e direção do tubo paralelamente. Já em escoamento contracorrente, os fluidos entram em extremidades opostas e seguem direções de escoamento distintas. Trocador de calor casco e tubo Bastante utilizado na indústria, esse trocador de calor possui vários tubos no interior de um casco, com eixos paralelos entre si e ao próprio casco. Um trocador de calor casco e tubo é apresentado na Figura 2. Figura 3. Trocador de calor casco e tubo de um passe no casco e dois passes no tubo. Fonte: Çengel e Ghajar (2012, p. 632). Esses eixos permitem o escoamento de um fluido juntamente com o es- coamento que ocorre no interior dos tubos. Os tubos partem de uma caixa de distribuição, onde o fluido é armazenado para, posteriormente, escoar no interior do tubo. Na saída do tubo, também há uma caixa de distribuição para acúmulo do fluido antes de ele deixar o dispositivo. Com o intuito de forçar o fluxo no casco para fora dos tubos, são colocadas chicanas, fazendo a transferência de calor aumentar entre as regiões que compreendem os fluidos. Os trocadores de casco e tubo podem ser classificados como trocador de um passe no casco e dois passes nos tubos, por exemplo. Nesse trocador, todos os tubos dão a volta no casco. O trocador de casco e tubo pode ser também de dois passes no casco, e quatro passes, no tubo, pois ocorrem mais voltas pelo casco. Dois exemplos desses trocadores podem ser vistos nas Figuras 3 e 4, respectivamente. Figura 2. Trocador de calor casco e tubo. Fonte: Çengel e Ghajar (2012, p. 631). 4 Trocadores de calor Trocador de calor regenerativo Armazena grande quantidade de calor e é avaliado com passagem alternada de dois fluidos pela mesma área. É caracterizado por um trocador estático, em que os dois fluidos escoam de forma alternada em um meio poroso, fazendo o fluido mais aquecido ser envolvido por dois fluidos mais aquecidos, e vice-versa. O calor é transportado do fluido quente de um regenerador para uma matriz, que faz armazenamento de calor, no fluxo de fluido quente e, quando ocorre o fluxo de fluido frio, transfere o calor para o fluxo frio. Esses trocadores de calor podem ser estáticos ou dinâmicos. Trocador de calor de placa É constituído por várias placas corrugadas com fluxo de fluido quente e frio. O escoamento ocorre de forma alternada, fazendo cada fluxo de fluido quente ser envolvido por dois fluxos de fluido frio, e vice-versa. Esses troca- dores de calor são bastante eficientes e podem ser utilizados na troca entre dois líquidos, porém com pressões aproximadas. Um trocador de placa é mostrado na Figura 5. Figura 4. Trocador de calor casco e tubo de dois passes no casco, e quatro passes, no tubo. Fonte: Çengel e Ghajar (2012). Condensador e caldeira Quando um dos fluidos em escoamento é resfriado e condensado, o dispositivo que realiza o processo é chamado de condensador. O trocador é chamado de eva- porador ou caldeira quando um dos fluidos vaporiza à medida que absorve calor. Trocador de calor compacto Garante uma grande região de troca de calor por unidade de volume. A densi- dade de área β é a região que contém a relação entre a superfície de transferência de calor e seu volume, como, por exemplo, os radiadores de carro, que podem ser considerados compactos – assim como todos os trocadores de calor – por possuir β > 700 m²/m³. Os trocadores de calor compactos possuem altas ta- xas de transferência de calor entre fluidos. A superfície desses trocadores é constituída por aletas onduladas, espaçadas entre si, que separam os fluidos Figura 5. Trocador de calor de placa. Fonte: Çengel e Ghajar (2012, p. 632). 6 Trocadores de calor Figura 6. Trocador de calor compacto. Fonte: Çengel e Ghajar (2012, p. 631). envolvidos na troca, que pode ser entre dois gases ou um gás e um líquido. Os dois fluidos escoam em 90° um ao outro (perpendicularmente), chamado de escoamento cruzado, podendo haver ou não mistura de fluidos. O escoamento com mistura ocorre com o fluido livre, para avançar na direção transversal ao trocador, e ambos os fluidos são misturados, conforme mostrado na Figura 6. Já o escoamento ocorre sem mistura quando as aletas forçam o escoamento através de uma região determinada, paralela ao tubo, evitando a mistura (ÇENGEL, GHAJAR, 2012). Coeficiente global de transferência de calor Além dos modos de transferência de calor por condução e convecção, o modo de transferência por calor por radiação é agregado ao coeficiente de transferência de calor do trocador. O calor é transferido do fluido quente para a superfície do tubo por convecção, e através do tubo, por condução. Em seguida, da parede para o fluido frio, a troca ocorre por convecção novamente. A resistência térmica total de um trocador é definida na equação 1, com duas trocas por convecção, uma chamada de interna (índice i), e outra, externa (índice e), mais uma troca por condução na parede do tubo (índice c) (MORAN et al., 2009). (1) Quadro 1. Valores de coeficiente global de transferência de calor em trocadores de calor Fonte: Adaptado de Çengel e Ghajar (2012, p. 634). Onde: k – condutividade térmica do material da parede do tubo; L – comprimento do tubo; h – coeficiente de transferência de calor por convecção; A – área da superfície de contato que separa os dois fluidos. Assim, a taxa de transferência de calor para trocadores é dada pela equação 2: (2) Onde A S é a área de superfície de contato e U é o coeficiente global de transferência de calor. Quando o trocador de calor possui áreas interna e externa diferentes, existirão dois coeficientes globais de transferência de calor, mostrados na equação 3. (3) A unidade do coeficiente de transferência decalor no SI é o W/m 2 K; valores desse coeficiente são apresentados no Quadro 1 para trocadores de calor. Tipo de trocador de calor U [W/m²K] Água – água 850–1.750 Água – óleo 100–350 Água – gasolina ou querosene 300–1.000 Aquecedores de água de alimentação 1.000–8.500 Vapor – óleo combustível leve 200–400 Vapor – óleo combustível pesado 50–200 Condensador de vapor 1.000–6.000 Condensador de freon (resfriado a água) 300–1.000 Condensador de amônia (resfriado a água) 800–1.400 Condensador de álcool (resfriado a água) 250–700 Gás–gás 10–40 8 Trocadores de calor Pelo fato de envolverem diferentes tipos de fluidos, os trocadores de calor podem se deteriorar ao passar do tempo, formando uma camada de depósitos na superfície do trocador, a qual representa uma resistência térmica adicional à transferência de calor. Esse efeito é chamado de fator de incrustação, R f , que, muitas vezes, é chamado de corrosão ou precipitação de sólidos acumulados no fluido na superfície, que realiza a troca de calor. O fator das incrustações deve ser levado em consideração no projeto de trocadores de calor, e a manutenção dos dispositivos deve ser feita periodicamente, a fim de evitar esse inconveniente. Métodos de análise de trocadores de calor É necessário escolher um trocador de calor com maior desempenho nas va- riações de temperatura e com vazões definidas. Para essa escolha, são usados os métodos LMTD (diferença de temperatura média logarítmica) e método da efetividade-NTU (número de unidades de transferência). O escoamento em trocadores de calor é, na maioria das vezes, conside- rado permanente, com vazão mássica e temperaturas constantes e pequenas variações de velocidade, e a superfície externa do trocador é considerada isolada das suas vizinhanças. Desse modo, a taxa de transferência de calor é calculada, de acordo com equação 4, como: (4) Onde: – é a taxa de escoamento, vazão mássica; c p – calor específico à pressão constante; T s – T e – são as temperaturas de saída e entrada, respectivamente, no trocador. A equação 4 é aplicada a fluidos quentes e frios, e o produto da vazão mássica pelo calor específico é comumente chamado de taxa de capacidade térmica, C h (ÇENGEL, GHAJAR; 2012). À diferença entre temperaturas quente e fria é atribuída uma diferença média de temperatura, ∆T m , a qual geralmente é maior na entrada do trocador do que na saída. Por meio da temperatura média, é adotado o método de temperatura média logarítmica ∆T lm , apresentado na equação 6, utilizado na análise de trocadores de calor. ∆T1 e ∆T2 são as diferenças de temperatura entre dois fluidos na entrada e saída do trocador, respectivamente (FOX et. al., 2018). (5) (6) A LMTD é sempre utilizada para determinação da taxa de transferência de calor em trocadores de calor. A variação das temperaturas dos fluidos quente e frio entram no trocador de calor de contracorrente em extremidades opostas. Para esse trocador, a temperatura de saída do fluido frio pode superar a temperatura de saída do fluido quente. Contudo, a temperatura de saída do fluido frio não pode ser maior do que a temperatura de entrada do fluido quente, pois violaria a segunda lei da termodinâmica. A LMTD para esse trocador de calor é sempre maior que a do trocador de escoamento paralelo, por exemplo. As variações de temperatura são mostradas na Figura 7. No trocador de contracorrente, a diferença de temperatura entre os fluidos quente e frio permanecerá constante quando as taxas de capacidade térmicas forem iguais (ÇENGEL, GHAJAR; 2012). Figura 7. Trocador de calor de contracorrente com as variações de temperatura explicitadas na entrada e na saída do trocador. Fonte: Çengel e Ghajar (2012, p. 643). O método LMTD é bastante indicado na especificação do tamanho do trocador de calor e do valor do coeficiente global de transferência de calor. 10 Trocadores de calor Quando a taxa de transferência de calor precisa ser expressa sem o conhe- cimento das temperaturas de saída, o método da efetividade-NTU é mais indicado, uma vez que apresenta, sobretudo, a efetividade da transferência de calor do trocador (equação 7). (7) A taxa real pode ser expressa em termos de dados do fluido quente ou do fluido frio, de acordo com a equação 8, onde C é a taxa de capacidade térmica do fluido (quente ou frio). (8) Em contrapartida, a taxa de transferência de calor máxima envolve uma diferença de temperatura máxima entre as temperaturas de entrada dos fluidos quente e frio. A transferência de calor é máxima quando o fluido quente é resfriado até a temperatura de entrada do fluido frio, e este é aque- cido até a temperatura de entrada do fluido quente. A taxa de transferência de calor máxima é encontrada por meio da menor taxa de capacidade térmica (calorífica), C min , e a diferença entre as temperaturas dos fluidos quente e frio na entrada do trocador, conforme a equação 9. na entrada do trocador de calor (9) Finalmente, o número de unidades de transferência NTU é dado pela equação 10: (10) As temperaturas de saída podem ser encontradas por meio da relação entre as temperaturas de entrada e as taxas de capacidade térmica ou calorífica. A equação 11 apresenta a relação que pode ser aplicada ao fluido quente ou frio na saída do trocador. (11) A Figura 8 mostra as relações do NTU para trocadores de calor. Determinação da taxa de transferência de calor máxima de um trocador de calor. Figura 8. Valores do NTU para trocadores de calor. Fonte: Çengel e Ghajar (2012, p. 658). 12 Trocadores de calor ÇENGEL, Y. A.; GHAJAR, A. J. Transferência de calor e massa: uma abordagem prática. 4. ed. São Paulo: LTC, 2012. FOX, R. W. et al. Introdução à mecânica dos fluidos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. MORAN, M. J. et al. Princípios de termodinâmica para engenharia. 6. ed. São Paulo: LTC, 2011. Leitura recomendada BRUNETTI, F. Mecânica dos fluidos. 2. ed. Rio de Janeiro: Pearson, 2008. ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. Porto Alegre: Bookman, 2013. CRISTINE, E. Fenômenos de transporte I: aula teórica 11. Campina Grande: UFCG, [20-?]. Disponível em: www.hidro.ufcg.edu.br/twiki/pub/FTEletrica0/MaterialDisciplina/Aula11. pptx. Acesso em: 6 abr. 2019. POTTER, M. C.; SOMERTON, C. W. Termodinâmica para engenheiros. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. RESNICK, R.; WALKER, J.; HALLIDAY, D. Fundamentos de física: mecânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. http://www.hidro.ufcg.edu.br/twiki/pub/FTEletrica0/MaterialDisciplina/Aula11 Exercícios 1) Um trocador de calor é caracterizado quanto aos seus aspectos construtivos e à sua funcionalidade. O trocador de calor composto por várias placas paralelas, as quais podem receber um fluxo de fluido frio entre dois fluxos de fluido quente de forma alternada recebe o nome de: A) trocador de calor regenerativo. B) trocador de calor compacto. C) condensador. D) trocador de calor casco e tubo. trocador de calor de placas. 2) Existem dois métodos de análise muito comuns usados em trocadores de calor: o método LMDT e o método da efetividade-NTU. Nesse contexto, o método LMDT é o mais indicado para quais análises? A) Determinação do coeficiente global de transferência de calor e da temperatura na saída do trocador. B) Tipo e tamanho de trocador e temperatura de saída do trocador. C) Tipo e tamanho do trocador e efetividade da transferência de calor. Tipo e tamanho do trocador e determinação do coeficiente global de transferência de calor. E) Determinação do coeficiente global de transferênciade calor e efetividade da transferência de calor. 3) Normalmente, a transferência de calor em trocadores de calor ocorre pelo contato do fluido com as paredes da tubulação (ou das placas internas), seguido da transferência de calor ao longo da tubulação ou das placas e, finalmente, da transferência entre a superfície sólida (tubo ou placa) e o fluido na saída do trocador. Portanto, pode-se dizer que as formas de transferência de calor envolvidas nesse processo, são, respectivamente: A) condução, convecção e radiação. B) convecção, condução e radiação. convecção, condução e convecção. D) radiação, condução e convecção. E) condução, convecção e condução. 4) Considere que óleo quente deve ser resfriado por um trocador de calor, e que a água escoa pelo tubo do trocador, que é do tipo contracorrente, com coeficiente de convecção igual a 7600W/m2K. Para que o óleo seja resfriado, e sabendo que o coeficiente de transferência de calor por convecção do óleo vale 75W/m2K, qual será o coeficiente global de transferência de calor do trocador? A) 0,0135W/m2K. C) 7675W/m2K. D) 7600W/m2K. E) 65W/m2K. 5) O método da efetividade-NTU é utilizado para encontrar o coeficiente global de transferência de calor quando as temperaturas, na saída de um trocador de calor, são desconhecidas. A efetividade do método é calculada levando em consideração a relação entre quais grandezas? A) A transferência de calor pela transferência máxima de calor do trocador. A taxa de transferência de calor pela taxa máxima de transferência de calor. C) A taxa de transferência de calor pelo número NTU. D) A taxa de transferência de calor pela taxa de capacidade térmica. E) A transferência de calor pela taxa de capacidade térmica. Na prática Existem diversos tipos de trocadores de calor, sendo estes utilizados para diversas aplicações, como em sistemas de aquecimento e ar-condicionado doméstico, em usinas elétricas a vapor, em usinas de processamento químico, em radiadores de automóveis, entre outros. Nesse sentido, os dispositivos mais robustos atuam em complexos produtivos e em centrais que operam com fluidos industriais. Na Prática, veja como funciona um trocador de calor especial, conhecido como torre de resfriamento. Projeto e seleção de trocadores de calor Apresentação Certamente, todos já utilizaram, em algum momento, um equipamento que faz uso de um trocador de calor. Aquecedores de água residenciais, sistemas de refrigeração de motores de automóveis e sistemas de ar condicionado são exemplos de tais equipamentos. Muito além deles, os trocadores de calor desempenham um importante papel na indústria. A maioria das indústrias utiliza a troca de calor para a realização de seus processos e fabricação de produtos; essa troca é, na maioria das vezes, realizada por trocadores de calor. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá os diferentes modelos de trocadores de calor e suas vantagens e limitações. Conhecerá também a que aplicação se destina cada modelo e quais são os princípios físicos envolvidos. Aprenderá, por fim, a avaliar e dimensionar trocadores de calor por métodos de cálculo reconhecidos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Descrever os tipos de trocadores de calor. • Diferenciar as possíveis aplicações de trocadores de calor. • Calcular projetos e desempenhos de trocadores de calor. Trocadores de calor são equipamentos muito comuns na indústria, sendo aplicados nas situações mais diversas. No projeto de novos processos, os trocadores de calor utilizados geralmente são escolhidos por catálogos de fabricantes, de forma que atendam à demanda. Já grandes trocadores de calor, como condensadores ou trocadores casco-tubo utilizados na indústria química, são fabricados sob medida, levando em consideração as especificações da aplicação para qual foram concebidos. Dependendo do processo em que são utilizados, das dimensões e dos custos envolvidos, alguns modelos de trocadores de calor podem ser mantidos como sobressalentes em almoxarifados de plantas industriais, para repor equipamentos que parem de operar. Imagine que você trabalha em uma indústria onde um novo processo de tratamento da água está sendo testado. Infográfico Apesar de existirem em diversas formas e modelos, alguns trocadores de calor são muito populares e atendem a variadas aplicações. Esses trocadores, muitas vezes, são coringas nas indústrias, podendo ser adaptados a condições diferentes de aplicação, inclusive com diferentes fluidos de trabalho. Trocadores de tipo casco-tubo, por exemplo, são muito conhecidos e difundidos em segmentos variados. Entretanto, existem modelos de trocadores com construções mais específicas, que atendem casos e aplicações particulares; eles são, contudo, menos comuns em parques industriais. Confira, neste Infográfico, os modelos mais comuns de trocadores de calor encontrados na prática, assim como os segmentos da indústria e comércio e até equipamentos domésticos que utilizam trocadores de calor. MÁQUINAS TÉRMICAS Conrado Ermel Projeto e seleção de trocadores de calor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: ■ Descrever os tipos de trocadores de calor. ■ Diferenciar as possíveis aplicações de trocadores de calor. ■ Calcular projetos e desempenhos de trocadores de calor. Introdução Trocadores de calor são dispositivos presentes em diversas aplicações na indústria, no comércio e em nossas casas. Seja nos grandes condensadores encontrados em centrais termelétricas, seja nas unidades condensadoras e evaporadoras de equipamentos de ar-condicionado, sempre que a troca térmica entre fluidos fizer parte do processo, um trocador de calor será utilizado. Diante dos inúmeros modelos existentes, é necessário entender a aplicação de cada um, as suas características construtivas e as suas vantagens e limitações, o que possibilita a escolha do equipamento mais adequado para a aplicação em questão. Neste capítulo, você vai estudar os modelos mais utilizados de tro- cadores de calor, assim como os princípios físicos envolvidos em seu projeto. Você vai compreender também os métodos de avaliação e di- mensionamento mais utilizados para trocadores de calor. 1 Tipos de trocadores de calor Os trocadores de calor, conforme explicam Incropera et al. (2011), são equi- pamentos utilizados em processos que visam a promover a transferência de energia entre dois fluidos, reduzindo assim a temperatura de um deles, em função do aumento da temperatura do outro. 2 Projeto e seleção de trocadores de calor (a) (b) Figura 1. Conceito de trocador de calor: (a) diagrama do conceito geral de trocadores de calor; (b) representação do balanço de energia no volume de controle de um trocador de calor. Fonte: (b) Adaptada de Kakaç, Liu e Pramuanjaroenkij (2012). Conceitos básicos Como esses equipamentos lidam com o escoamento de fluidos, é usual associar o conceito de entalpia à transferência de energia entre as correntes. Em rela- ção ao balanço de energia geral aplicado ao volume de controle do trocador, observa-se que não há nenhum tipo de trabalho envolvido, logo, o balanço se concentra na diferença de entalpia entre os pontos de entrada e saída de cada corrente mostrados na Figura 1a. Os pontos 1-2 caracterizam a corrente com menor temperatura, que geralmente é constituída de ar, água ou algum fluido refrigerante, e os pontos 3-4 correspondem à corrente de alta temperatura, cujo fluido pode ser vapor, água quente, ar, entre muitos outros. Projeto e seleção de trocadores de calor 3
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