Prévia do material em texto
IANI SOARES LUZ XIII – MED SEMANA 10 – EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS Conceito: As urgências e emergências psiquiátricas (EP) podem ser definidas como: “qualquer alteração de natureza psiquiátrica em que ocorram alterações do estado mental, as quais resultam em risco atual e significativo de morte ou injúria grave, para o paciente ou para terceiros, necessitando de intervenção terapêutica imediata. • As definições de emergências psiquiátricas sugerem ainda a presença de perturbação urgente e grave de conduta, afeto ou do pensamento, bem enfrentamento mal adaptativo Situações de emergências psiquiátricas • Ideia e tentativa de suicídio; • Agitação, agressividade e risco de violência aguda; • Ansiedade aguda; • Intoxicação aguda e síndrome de abstinência do álcool e outras substâncias psicoativas; • Surtos psicóticos. - As EPs podem ocorrer nos diversos ambientes de tratamento, como hospitais comunitários e ambulatórios. Epidemiologia - Em torno de 4% de todos os atendimentos médicos gerais de emergência ocorrem devido a uma condição de saúde mental ou comportamental. • Entre os atendimentos de EP, um terço ocorre para avaliação de risco de suicídio. - A necessidade de hospitalização é evidenciada em 40% dos pacientes atendidos que apresentam manifestações de comportamento decorrentes: de transtornos do humor, esquizofrenia e uso de substâncias psicoativas, principalmente de álcool. - Mesmo considerado um importante serviço para a organização das redes de saúde mental, os dados brasileiros sobre as emergências psiquiátricas são escassos, não havendo muitas informações relativas à distribuição dos serviços de emergência psiquiátrica (SEPs) em território brasileiro. • Mulheres > homens • Adultos, jovens, solteiros, separados ou viúvos • 20% suicidas, 10% violentos • Idosos 5% Classificação de risco - A Portaria no 2.048 de 05 de novembro de 2002, do Ministério da Saúde, propõe a implantação do Acolhimento e da “Triagem Classificatória de Risco” nas unidades de atendimento às urgências. • De acordo com a Portaria, este processo “deve ser realizado por profissional de saúde, de nível superior, mediante treinamento específico e utilização de protocolos preestabelecidos IANI SOARES LUZ XIII – MED e tem por objetivo avaliar o grau de urgência das queixas dos pacientes, colocando-os em ordem de prioridade para o atendimento”. - É um processo dinâmico de identificação dos pacientes que necessitam de tratamento imediato. - A agilidade do atendimento é de acordo com o potencial de risco, agravos a saúde ou grau de sofrimento. Objetivos da classificação de risco: • Avaliar o paciente (de acordo com a sua complexidade); • Descongestionar a emergência psiquiátrica; • Reduzir o tempo para o atendimento médico; • Determinar área de atendimento primário; • Informar o tempo de espera. - Essa classificação consiste basicamente no atendimento por enfermeira treinada que ouve as queixas principais, coleta dados clínicos e psiquiátricos (doenças prévias, medicamentos em uso, existência ou não de internações anteriores), medida de sinais vitais (pressão arterial, pulso, oximetria, dextro) e, mediante análise dessas informações, classifica-se com cores dependendo da prioridade do caso: vermelho (emergência), amarelo (urgência maior), verde (emergência menor) e azul (não urgente). • Todos os pacientes que chegam ao Pronto-Socorro Psiquiátrico devem passar por essa etapa. Divisão da emergência Área vermelha.: Área devidamente equipada e destinada ao recebimento, avaliação e estabilização das urgências e emergências clínicas e traumáticas. Após a estabilização estes pacientes serão encaminhados para as outras áreas; Área amarela .: Área destinada à assistência de pacientes críticos e semicríticos já com terapêutica de estabilização iniciada; Área verde .: Área destinada a pacientes não críticos, em observação ou internados aguardando vagas nas unidades de internação ou remoções para outros hospitais de retaguarda; Área azul .: Área destinada ao atendimento de consultas de baixa e média complexidade. IANI SOARES LUZ XIII – MED GRAU DE PRIORIDADE COR DA PULSEIRA MINUTOS DE SEGURANÇA PARA PRIMEIRA OBSERVAÇÃO MÉDICA • Intoxicação grave por álcool • Delirium tremens • Intoxicação grave por drogas (overdose) • Tentativa de suicídio/homicídio • Agitação extrema VERMELHA IMEDIATO EMERGÊNCIA • Síndrome de abstinência • Intoxicação moderada por álcool • Agitação menos intensa • Estado de pânico • Potencialmente agressivo • Alucinações e/ou desorientação • Pensamentos / atitudes suicidas e/ou homicidas AMARELA ATÉ 60 MINUTOS URGÊNCIA MAIOR • Distúrbios situacionais (família/trabalho/etc) • Gesticulando, mas não agitado • Insônia • Intoxicação leve por álcool (embriaguez) • Intoxicação leve por drogas VERDE 120 MINUTOS URGÊNCIA MENOR • Demais condições não agudas • Questões sobre medicações ou desejo de receita • Paciente necessitando de suporte psiquico, etc AZUL ATÉ 240 MINUTOS NÃO URGENTE IANI SOARES LUZ XIII – MED SUICÍDIO DEFINIÇÕES: O comportamento auto lesivo é uma prática complexa que envolve aspectos biológicos, psicológicos, genéticos, sociais e culturais. Para compreender o assunto em sua totalidade, é imperativo conhecer conceitos básicos ligados ao tema, o que tem como prerrogativa facilitar a comunicação entre profissionais, a formulação de hipóteses diagnósticas e a estimativa do risco de maneira pragmática. FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO - O comportamento suicida é influenciado por uma série de fatores de risco e de proteção. A avaliação dessas variáveis é imprescindível para determinar o risco e adotar uma conduta adequada. - Os fatores de risco podem ser divididos didaticamente em não modificáveis e modificáveis. Os não modificáveis são relativamente duradouros ou estáveis, podendo aumentar a suscetibilidade de uma pessoa a comportamentos suicidas, como fatores genéticos e neurobiológicos, gênero, personalidade, cultura e nível socioeconômico. - Os modificáveis são os que geralmente podem ser foco de intervenção e incluem posse de arma de fogo, transtornos psiquiátricos, doenças clínicas, entre outros. IANI SOARES LUZ XIII – MED IANI SOARES LUZ XIII – MED Também devem ser avaliados os fatores de proteção, que são capacidades, qualidades, recursos ambientais e pessoais que aumentam a resiliência, ajudam a lidar com diferentes eventos da vida e conduzem o indivíduo para o crescimento, a estabilidade e/ou a saúde IANI SOARES LUZ XIII – MED AVALIAÇÃO A avaliação do comportamento suicida por profissional de saúde mental capacitado é uma peça- chave para a condução do caso. Durante essa avaliação, devem-se obter informações sobre o estado mental do paciente e de seu histórico, o que pode ser feito por observação, questionamento direto ou coleta de história com terceiros. Isso permite ao médico estimar o risco e tomar as condutas necessárias para evitar um desfecho desfavorável. - Os sinais de alerta devem ser observados, uma vez que são preditores de um possível comportamento auto-lesivo em um futuro próximo. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Esses sinais podem ser observados na ausência de fatores de risco evidentes 9 ou mesmo na negação da ideação suicida, evidenciando uma ameaça de comportamento auto-lesivo. Idealmente, o paciente em risco de suicídio deveria ser identificado antes do ato ou tentativa, porém, na maioria dos casos, essa identificação só acontece depois. - A avaliação de pacientes após tentativas de suicídio geralmente ocorre em setoresde emergência e deve ser pormenorizada, a fim de favorecer a compreensão global do ato e a determinação de seu contexto. - O comportamento suicida está altamente associado à presença de transtornos psiquiátricos. São fundamentais a avaliação cuidadosa dos pacientes com distúrbios mentais quanto ao risco de comportamento auto-lesivo e a avaliação dos pacientes em risco de suicídio quanto à possível presença de transtornos mentais. - Além disso, o exame físico deve necessariamente ser realizado, pois pode mostrar evidências de intoxicação ou de doenças clínicas que agravam o quadro. Exames laboratoriais devem ser solicitados de acordo com o julgamento clínico. ESTIMATIVA DO RISCO - Entende-se que o comportamento suicida se apresenta em um continuum, que se estende entre a vontade de continuar a viver e a certeza da intenção de se matar. O percurso entre um extremo e outro pode levar anos ou minutos, a depender das peculiaridades de cada paciente. - O risco de suicídio não é uma característica estática, estando em constante flutuação. Logo, por ser um atributo dinâmico, com inúmeras variáveis, não há modelo preditivo exato e validado para estimar seu risco com precisão absoluta. - Dessa maneira, as diretrizes, livros e artigos sobre o tema não se prestam a ser o padrão-ouro em relação à avaliação de cada paciente em particular, mas colaboram com informação sobre o assunto e ajudam na tomada de decisão. - Para a avaliação do risco, o examinador deve obter toda a informação possível sobre a intenção do paciente de se engajar em um comportamento auto-lesivo, avaliar os fatores que podem aumentar ou diminuir o risco de que esse ato ocorra e integrar esses dados para que seja feita a estimativa - Determinados fatores, como transtorno do uso de substâncias ou intoxicação aguda, acesso a meios letais e teste de realidade negativo, aumentam o risco em qualquer estágio. A evidência de comportamento preparatório deve ser levada em consideração, mesmo na negação de ideação suicida. - A formulação do risco de suicídio se baseia não só no somatório de fatores de risco e de proteção, mas também na interação entre eles. - Apesar da existência dos guias de conduta e algoritmos, o profissional de saúde deve estar preparado para tomar sua conduta considerando as inevitáveis variações que ocorrem na prática e ser flexível para aperceber-se de maneira apropriada das necessidades de cada paciente, levando em conta os recursos disponíveis no momento e as limitações de cada serviço. - O profissional deve avaliar essas condutas preestabelecidas como referências, mas também fazer uso de seu julgamento clínico e bom senso para cada situação em particular. IANI SOARES LUZ XIII – MED PREVENÇÃO - Estima-se que, no ano de 2020, o suicídio acarretará 2,4% de todo o global burden of disease. - Por se tratar de um grande problema de saúde pública, a OMS tem envidado esforços para aumentar a atenção à prevenção desse agravo. - O trabalho consiste em formular estratégias efetivas como a redução do acesso a meios comuns de tentativas, como armas de fogo e pesticidas, o acompanhamento de pessoas com tentativas de suicídio prévias e a implementação de call centers de emergência. - Visa também a estimular políticas de aumento do acesso a tratamentos de transtornos que aumentam o risco de suicídio, como depressão e transtorno de uso de álcool, além de aumentar a divulgação de políticas de prevenção e as discussões sobre o tema. IANI SOARES LUZ XIII – MED AGITAÇÃO PSICOMOTORA - A agitação psicomotora pode ser definida como um quadro agudo de aumento excessivo da atividade verbal e da psicomotricidade, associado à experiência subjetiva de tensão, irritabilidade, ausência de cooperação à contenção verbal e risco de agressão física. - Nos serviços de emergência médica, as alterações de comportamento relacionadas com a agitação psicomotora correspondem a aproximadamente 5% dos atendimentos nos EUA e a 3% em nosso meio. Já nos serviços de emergência psiquiátrica, os quadros de agitação psicomotora são responsáveis por até 10% dos atendimentos. - A maior parte dos episódios são quadros de intoxicação aguda por abuso de substâncias e episódios psicóticos por diferentes causas, como esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar ou psicose induzida por substância Os fatores de risco associados aos quadros de agitação psicomotora: • Sexo masculino • Idade de 15 a 24 anos • Baixo nível sociocultural • Desemprego • Ausência de suporte social • Atos violentos prévios • Envolvimento em assaltos • Homicídio • Ser vítima de violência na infância • Baixa tolerância a frustrações • Uso de mecanismos de defesa primitivos, como dissociação e projeção • Baixa autoestima APRESENTAÇÕES E CONDIÇÕES ASSOCIADAS - A agitação psicomotora é uma manifestação complexa e inespecífica associada a inúmeras condições clínicas e psiquiátricas primárias. - Cabe ao profissional responsável o conhecimento e o raciocínio clínico para investigar com competência as diferentes associações possíveis. Em virtude da baixa capacidade de insight e comprometimento da crítica para tomada de decisões e julgamento da realidade, dificilmente há procura espontânea do indivíduo em agitação pelo serviço de emergência. - Com o aumento da psicomotricidade, contato difícil, taquipsiquismo e atitude hostil, geralmente os pacientes são levados para atendimento pelo corpo de bombeiros, policiais, familiares, amigos e até desconhecidos. - As associações com condições clínicas podem apresentar alteração do nível de consciência com flutuação quantitativa e alterações qualitativas nos estados crepusculares e oniroides, alteração da atenção com distraibilidade e hipotenacidade, sinais diretos e indiretos de alucinações visuais, ausência de reatividade a fatores psicossociais recentes, além de desorientação importante no tempo e no espaço. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Já em quadros psiquiátricos primários, além da história psiquiátrica prévia, encontra-se, com maior frequência, reatividade a circunstâncias familiares, mudanças recentes no tratamento, entre outros fatores estressores profissionais e sociais antecedendo os episódios de agitação, principalmente em transtornos de personalidade do cluster B, quadros dissociativos, transtornos afetivos e até nas psicoses. - Hipervigilância geralmente ocorre associada aos delírios persecutórios com alterações da forma do pensamento, frouxidão de laços associativos até desagregação, além de solilóquios e outros indícios de alucinações auditivas nas esquizofrenias e outros transtornos esquizofreni-formes. - Já aceleração do pensamento, fuga de ideias, hipersexualidade e delírios de grandeza são mais comuns nos quadros manitiformes do transtorno afetivo bipolar. Menos frequentemente, o episódio de agitação pode acontecer durante o atendimento em pacientes inicialmente calmos e colaborativos. - Nesses casos, pode-se observar alguns preditores de comportamentos violentos, como aumento das exigências, elevação do tom da voz, comentários pejorativos, irritabilidade, sinais de desconfiança, permanecer em pé ou andando pela sala, desacatando as orientações dadas pelo médico, e até percepção do sentimento contra-transferencial de medo pelo profissional mais experiente. Os transtornos mentais primários associados à agitação psicomotora: • Esquizofrenias • Transtorno afetivo bipolar • Psicose induzida por substância • Transtorno delirante persistente • Transtorno de personalidade do cluster B • Crise de pânico • Deficiência intelectual • Episódio conversivo e dissociativo • Primeiro episódio psicótico • Intoxicação aguda As principais condições clínicas associadas à agitação psicomotora: • Delirium • Hipoglicemia • Hipoxia • Encefalopatia hepática • Insuficiência renal com uremia• Hipo/hipernatremia • Hipo/hipercalcemia • Hipo/hipertireoidismo • Insuficiência suprarrenal • Porfiria aguda • Epilepsia • Estado pós-ictal IANI SOARES LUZ XIII – MED • Traumatismos cranioencefálicos • Neoplasias cerebrais • Demências • Hemorragia subaracnoides • Acidentes vasculares encefálicos • Doença de Huntington • Doença de Wilson • Intoxicação com quimioterápicos • Intoxicação com anticonvulsivantes • Alteração de comportamento induzido por corticosteroides • Encefalites virais • Encefalopatia pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV, human immunodeficiency virus) • Lúpus • Encefalite anti-NMDA (N-metil-D-aspartato) glutamatérgico • Esclerose múltipla EXAMES COMPLEMENTARES - Devem ser solicitados obviamente após a estabilização do quadro e de acordo com a suspeita clínica. Deve-se avaliar hemograma, eletrólitos, sorologias, funções tireoidiana, renal e hepática, enzimas hepáticas, bilirrubina total/frações, além de exame toxicológico. - Na investigação direcionada em casos de maior suspeita de condição clínica associada, encontram-se os exames de imagem do sistema nervoso central (SNC), sendo a ressonância magnética superior à tomografia computadorizada em relação à qualidade de investigação, mas têm maiores custos e menor disponibilidade. - Na investigação direcionada, recomenda-se pesquisa de HIV para apresentação atípica da panencefalite esclerosante subaguda do HIV, eletroencefalograma (EEG) para pesquisa de manifestações atípicas de epilepsia, além de encefalopatias por toxinas. Deve-se coletar líquido cefalorraquidiano na suspeita de quadros desmielinizantes, infecciosos e inflamatórios/autoimunes. - De acordo com as probabilidades diagnósticas de cada caso, deve-se verificar anticorpo antifosfolipídico, cálcio, paratormônio, anticorpos do lúpus, se houver suspeita de psicose lúpica, exame toxicológico de urina, pesquisa de metais pesados para intoxicação e ceruloplasmina na suspeita de doença de Wilson. CONDUTA IMEDIATA - Pode-se dividir o manejo em quatro diferentes níveis: 1. Ambiente 2. Manejo comportamental 3. Medidas farmacológicas 4. Contenção mecânica IANI SOARES LUZ XIII – MED IANI SOARES LUZ XIII – MED IANI SOARES LUZ XIII – MED IANI SOARES LUZ XIII – MED CATATONIA Catatonia é uma síndrome neuropsiquiátrica caracterizada por anormalidades comportamentais impressionantes que podem incluir imobilidade ou excitação motora, negativismo profundo ou ecolalia (imitação da fala) ou ecopraxia (imitação de movimentos). CONDIÇÕES ASSOCIADAS DIAGNÓSTICO - Na prática clínica, fechar o diagnóstico de quadros intermediários pode ser difícil. Existem diversas escalas com diferentes pontos de corte para o diagnóstico. - O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) considera catatonia quando há três ou mais características das 12 a seguir: • Estupor catatônico (imobilidade ou extrema hipoatividade sem relação com o ambiente); • Catalepsia (manutenção de postura contra a gravidade após indução passiva); • Flexibilidade cérea; • Mutismo (total ou quase ausência de fala); • Negativismo; • Posturas bizarras espontâneas; • Maneirismos; • Estereotipias; • Agitação súbita não influenciada por fenômenos externos; • Sustentação bizarra da mímica facial (grimacing); • Ecolalia; • Ecopraxia. - Já a Bush-Francis Catatonia Rating Scale (BFCRS) apresenta um baixo limiar diagnóstico, exigindo apenas dois dos 14 itens, contendo todos os sinais do DSM-5, mas contando com ecolalia e ecopraxia como critério único, e mais três critérios possíveis: rigidez, staring (presença de olhos abertos fixos sem foco) e verbigeration (repetição de palavras sem sentido). IANI SOARES LUZ XIII – MED - Em razão da real possibilidade de associação com condições clínicas (cerca de 20% dos casos não são transtornos psiquiátricos primários), é necessário um raciocínio clínico amplo na investigação clínica de modo análogo à agitação psicomotora e à investigação de psicoses secundárias a causas orgânicas estabelecidas INVESTIGAÇÃO - Preconizam-se, além da anamnese detalhada, exame físico e neurológico completos, assim como investigação laboratorial com hemograma, velocidade de hemossedimentação (VHS), eletrólitos, glicemia, ureia, creatinina, função hepática e hormônios tireoidianos. - Exames de imagem do encéfalo também são úteis quando disponíveis, com superioridade da ressonância magnética em relação à tomografia computadorizada para investigação dos diagnósticos diferenciais possíveis. - Na investigação direcionada, recomenda-se pesquisa de HIV, eletroencefalograma (EEG) para episódios atípicos de convulsão e encefalopatias por toxinas. Líquido cefalorraquidiano deve ser coletado na suspeita de quadros autoimunes, desmielinizantes ou infecciosos. - Outros exames devem ser solicitados de acordo com a probabilidade do diagnóstico de desequilíbrio hidroeletrolítico (sódio, potássio, cálcio, magnésio e paratormônio); anticorpo antifosfolípide para coagulopatia, deficiência vitamínica pela dosagem de B12 e ácido fólico; anticorpos do lúpus para psicose lúpica. Por fim, toxicológico de urina, pesquisa de metais pesados e ceruloplasmina na suspeita de doença de Wilson. IANI SOARES LUZ XIII – MED TRATAMENTO - Inicialmente, o suporte clínico imediato para evitar complicações graves é mandatório. Hidratação IV, correção de possíveis distúrbios hidreletrolíticos e suporte nutricional via sonda nasoenteral são necessidades esperadas em casos graves. - O tratamento específico dependerá da condição clínica associada. Já nos quadros psiquiátricos primários, amobarbital IV e solução salina IV. IANI SOARES LUZ XIII – MED DELIRIUM - Perturbação da consciência, com seus sintomas acompanhantes sendo considerados secundários ou fenômenos derivados e sua etiologia orgânica em um sentido forte. Suas definições, em geral, ressaltam sua natureza transitória, intermitente e estereotipada. EPIDEMIOLOGIA - Associa-se a morbidade e mortalidade aumentadas, permanência mais prolongada em hospital, declínio cognitivo e funcional e internação em unidades de longa permanência. 2 - Na população geral, o delirium não é comum. Na subpopulação de 65 ou mais anos, sua prevalência varia entre 1,75 e 2,3%3 e, em populações com maiores proporções de idosos com demência, atinge até 22%. ETIOLOGIA • Idade avançada • Déficit cognitivo, demência ou história de delirium • Prejuízo funcional • Comprometimento visual e/ou auditivo • Comorbidade ou doença física grave • Depressão • Abuso de álcool • História de acidente vascular cerebral ou episódio isquêmico transitório. Uso de cateter urinário • Uso de contenção física • Qualquer evento iatrogênico • Medicamentos: polifarmácia, uso de medicação psicotrópica (p. ex., antipsicótico, antidepressivo, anticonvulsivante, • anticolinesterásico), uso de sedativos • Infecção • Alterações da glicemia e dos eletrólitos (sódio e potássio), albumina sérica anormal, ureia aumentada, elevada relação • ureia/creatinina, acidose metabólica • Coma • Cirurgias de aneurisma de aorta, torácica não cardíaca e de neurocirurgia • Internação de urgência ou em unidade de trauma. FISIOPATOLOGIA - A fisiopatologia do delirium ainda é pouco compreendida, uma vez que envolve interações dinâmicas complexas entre vários fatores de risco. Em um modelo de estudo das alterações que levam a essa condição, são considerados dois tipos de agressão ao cérebro. - No primeiro tipo, os danos cerebrais são causados por agressão direta de um fator de risco, como hipoglicemia ou hiponatremia. IANI SOARES LUZ XIII – MED - No segundo,são causados pela resposta inflamatória exacerbada. Vários fatores ou condições médicas gerais associadas a delirium causam a ativação da uma cascata inflamatória com liberação de mediadores inflamatórios na corrente sanguínea. - Há forte evidência de que a estimulação inflamatória aguda periférica induz a ativação de células do parênquima cerebral, a expressão de citocinas pró-inflamatórias e de outros mediadores inflamatórios no sistema nervoso central. - Essas respostas neuroinflamatórias induzem disfunção neuronal e sináptica com consequentes sintomas cognitivos e neurocomportamentais. Adicionalmente, o envelhecimento e doenças neurodegenerativas intensificam respostas da micróglia após a estimulação por inflamação periférica e/ou infecção. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - No delirium, o início é geralmente agudo, variando de horas a dias. A característica flutuante e intermitente dos sintomas demanda reavaliações periódicas para o diagnóstico. São listados sinais e sintomas que podem compor o quadro clínico: • Atenção: desatenção, hipotenacidade, testes simples de atenção prejudicados (p. ex., teste seriado de 7, contagem regressiva de 20) • Orientação: desorientação quanto a pessoa, tempo e/ou espaço • Memória: prejuízo da memória de curto e longo prazo • Linguagem: fluência anormal, compreensão reduzida, dificuldade para achar palavras, dificuldade de nomeação, agrafia, déficits na comunicação, mistura de palavras, mutismo • Habilidade visuoespacial: dificuldade para transitar pelos locais onde mora (perder-se), desenhar, copiar um desenho, organizar pedaços de um quebra-cabeças • Processo do pensamento: pensamento tangencial, pensamento circunstancial, afrouxamento de associações • Sintomas neuropsiquiátricos: delírios, ilusões, interpretações equivocadas, alucinações, labilidade afetiva, apatia, alterações de humor • Distúrbios do ciclo sono-vigília: sonolência excessiva, cochilos durante o dia, despertares noturnos, inversão do ciclo vigíliasono, pesadelos ou sonhos vividos • Atividade motora: hiper ou hipoatividade motora, perseveração, comportamento sem propósito (p. ex., procurar ou escolher), delirium ocupacional e impersistência motora • Sinais e sintomas físicos: tremores de ação, asterixe, mioclonia, disartria, disfunção autonômica, apetite reduzido, anormalidadesdo reflexo e do tônus. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de delirium é primordialmente clínico • Método de Avaliação de Confusão (Confusion Assessment Method – CAM) • No idoso, a investigação laboratorial inicial deve incluir hemograma completo, eletrólitos, níveis de ureia, creatinina, glicose, cálcio, magnésio e fósforo, testes de função hepática, exame de elementos e sedimentos anormais na urina, gasometria arterial, eletrocardiograma (ECG) e radiografia de tórax. • EEG • Neuroimagem IANI SOARES LUZ XIII – MED • DSM-5 PREVENÇÃO E TRATAMENTO - No tratamento, o objetivo é prevenir o aparecimento desse quadro, identificar e reverter causas possíveis de delirium e manejar sintomas neuropsiquiátricos (p. ex., agitação, agressividade) que põem o paciente ou terceiros em risco. - A prevenção é a estratégia mais eficaz para reduzir sua frequência e suas complicações. Estima-se que até um terço dos casos de delirium possa ser prevenido. - Os pacientes devem ser avaliados quanto aos fatores de risco para delirium, minuciosamente nas primeiras 24 h da internação. - Otimização do sono, mobilização física, hidratação oral, uso de próteses auditivas e óculos diminuem a incidência de delirium. 5 - O uso profilático de medicamentos para prevenção de delirium ainda é controverso e não amparado pela literatura médica. A identificação do delirium e o início de seu tratamento devem acontecer o mais rápido possível. - O manejo inicia-se com o tratamento não farmacológico, como medidas de desescalada para agressão e agitação psicomotora. Uma equipe multiprofissional (enfermeiros, psicólogo, clínico geral, psiquiatra) é necessária para atender às necessidades do bom cuidado aos pacientes com delirium e deve estar atenta para: • Comunicar-se com frequência com o paciente e a família • Garantir um ambiente calmo e confortável • Informar sobre ruídos ou equipamentos não familiares • Informar sobre ou apresentar pessoas desconhecidas no ambiente • Orientar o paciente frequentemente sobre onde está e o que faz naquele lugar • Fornecer calendários, relógios, sinalização e boa iluminação • Facilitar visitas de amigos e familiares e, se possível, envolvê-los nos cuidados de reorientação e prevenção de danos • Deixar o ambiente mais familiar, permitindo itens pessoais ou porta-retratos perto do leito • Utilizar atividades que estimulem cognitivamente • Corrigir qualquer déficit sensorial (p. ex., remover cera, disponibilizar óculos) • Oferecer bebidas quando visitá-lo, para mantê-lo hidratado • Interessar-se pela boa nutrição (p. ex., fornecer dentaduras, envolver nutricionista) • Encorajar a mobilidade precoce • Evitar barulhos ou iluminação que possa prejudicar o sono • Durante o tratamento, a equipe médica deve ser diligente para: • Corrigir hipoxia e hipotensão • Manter-se vigilante em relação à infecção • Monitorar as eliminações e tratar obstipação intestinal • Identificar e tratar dor • Revisar as medicações (suspender as com propriedades anticolinérgicas) • Evitar cateteres, aplicar medicação intravenosa ou coletar exames laboratoriais desnecessariamente • Não perturbar o sono do paciente com procedimentos ou administração de fármacos. IANI SOARES LUZ XIII – MED SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA - A dependência de álcool, em seus variados graus, bem como as complicações dela advindas, têm alta prevalência na população, podendo trazer graves consequências aos indivíduos acometidos, incluindo o óbito - Estima-se que, no Brasil, 12,3% da população preencha critérios para dependência de álcool e que, nos EUA, existam cerca de oito milhões de dependentes. Neste país, por ano, ocorrem 500.000 episódios de síndrome de abstinência alcoólica (SAA) que necessitam de tratamento farmacológico. - Nesse contexto, o médico deve estar familiarizado com a SAA e preparado para prover o manejo adequado de seu paciente, visando a cumprir os seguintes objetivos: • Tratar adequadamente os sintomas de abstinência alcoólica; • Evitar que a síndrome evolua para delirium tremens (dt) e morte; • Após a completa recuperação da saa, fazer o adequado encaminhamento do paciente para o tratamento definitivo da dependência do álcool. FISIOPATOLOGIA - O álcool é um depressor do sistema nervoso central (SNC), agindo tanto pela potencialização das vias inibitórias (GABAérgicas) quanto pela inibição das vias excitatórias (glutamatérgicas). - Com a exposição crônica ao álcool, ocorre a neuroadaptação, com dessensibilização dos receptores GABA (ácido gama-aminobutírico) e hipersensibilização dos receptores NMDA, na tentativa de manter a homeostase entre inibição e excitação no SNC. - Assim, quando o consumo de álcool é interrompido, ou mesmo quando a quantidade de álcool ingerida é apenas menor do que a habitual, ocorre hiperestimulação glutamatérgica, entrada excessiva cálcio nos neurônios, hiperexcitabilidade do SNC e morte neuronal - É importante lembrar que, para que essa neuroadaptação ocorra, é necessária a manutenção de nível sérico de álcool alto por um período prolongado. Especula-se que a exposição contínua por 1 semana seja suficiente para o desenvolvimento de sintomas leves e 1 mês para sintomas graves de abstinência. QUADRO CLÍNICO - Os critérios diagnósticos para a SAA são: História clara de parada ou diminuição da ingestão de álcool há 24 ou 48 h em paciente com uso prolongado e pesado de álcool IANI SOARES LUZ XIII – MED Três ou mais dos seguintes sintomas e sinais: • Taquicardia ou hipertensão• Sudorese • Tremores de membros superiores, pálpebras ou língua • Insônia • Náuseas ou vômitos • Cefaleia • Agitação psicomotora • Mal-estar ou fraqueza • Alucinações transitórias • Convulsões do tipo grande mal Entre as complicações possíveis, há: Alucinose alcoólica. Trata-se de um quadro de início precoce no decorrer da SAA, com início entre 12 e 24 h e resolução em 24 a 48 h. Geralmente, as alucinações são visuais, mas podem ser de qualquer natureza. Este quadro se distingue do DT por ser precoce, sem alteração do nível de consciência e dos sinais vitais. Convulsões. As convulsões secundárias à abstinência alcoólica também ocorrem precocemente no curso da síndrome de abstinência, geralmente entre 12 e 48 h após a última dose, e são do tipo tônico-clônicas generalizadas. Elas acontecem em até 5% dos pacientes com SAA não tratados adequadamente. Importante: convulsões recorrentes ou prolongadas ou status epilepticus requerem investigação imediata para causa estrutural ou infecciosa [deve-se solicitar tomografia computadorizada (TC) de crânio e punção lombar, p. ex.]. DT. É uma grave complicação da SAA e trata-se de um quadro caracterizado por alucinações, confusão mental, taquicardia, hipertensão, hipertermia (aumento da temperatura em até 2°C), agitação e diaforese. Geralmente, tem início entre 48 e 96 h após a última dose e pode durar até 7 dias, se não houver complicações. Na maior parte dos casos, o DT encerra em 4 a 5 dias. Cerca IANI SOARES LUZ XIII – MED de 5% dos pacientes com SAA desenvolvem DT, e a mortalidade deste varia de 5 a 37%, a depender da qualidade da assistência prestada ao paciente. A morte geralmente é secundária a complicações clínicas, especialmente arritmias, pancreatite e hepatite, ou à própria lesão do SNC acarretada pela hiperexcitabilidade neuronal. Os fatores de risco para desenvolvimento do DT são: • História prévia de DT • Idade > 30 anos • Presença de comorbidades clínicas • SAA grave mesmo com altos níveis séricos de álcool • Período longo após a última dose, geralmente acima de 48 h. CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA Nível I: SAA leve e moderada • Aspectos biológicos: leve agitação psicomotora, tremores finos de extremidades, sudorese facial discreta, náuseas sem vômito • Aspectos psicológicos: bom contato com o profissional de saúde, orientado temporoespacialmente, sem prejuízo da crítica, leve ansiedade; sem história de auto ou heteroagressividade • Aspectos sociais: mora com familiares ou amigos e essa convivência está regular ou boa, mantém uma atividade produtiva, mesmo que momentaneamente afastado ou desempregado. A rede social está mantida • Aspectos comórbidos: sem complicações e/ou comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas graves. Nível II: SAA grave • Aspectos biológicos: agitação psicomotora intensa, tremores generalizados, sudorese profusa, náuseas com vômitos, sensibilidade visual intensa, convulsões ou relato de convulsões anteriores • Aspectos psicológicos: contato prejudicado com o profissional da saúde, desorientação temporoespacial, comprometimento do juízo crítico, ansiedade intensa, presença de delírios e/ou alucinações, história de auto ou heteroagressividade • Aspectos sociais: mau relacionamento com familiares e amigos, sem desenvolver qualquer atividade produtiva, ausência de suporte social • Aspectos comórbidos: com complicações e/ou comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas graves. IANI SOARES LUZ XIII – MED AVALIAÇÃO DO PACIENTE Anamnese História clínica completa. Deve-se realizar a anamnese com especial atenção para a história do uso do álcool (padrão de consumo nos últimos anos; quantidade e frequência; último consumo ou diminuição do consumo; SAA anterior, com ou sem convulsões), pesquisa de comorbidades psiquiátricas e avaliação da rede de suporte social. Fatores preditores de SAA grave. Deve-se pesquisar história anterior de SAA grave; presença de alcoolemia alta sem sinais de intoxicação ou com sintomas de abstinência; uso concomitante de tranquilizantes e hipnóticos; associação de problemas clínicos ou cirúrgicos; sintomas de base moderados a graves; idade avançada; maior gravidade da dependência alcoólica. ESCALA DE AVALIAÇÃO DE SINTOMAS A CIWA-Ar (Clinical Institute Withdrawal Assessment Scale for Alcohol Revised – Figura 25.3) é uma escala para avaliação objetiva da gravidade dos sintomas da SAA, permitindo classificação e guiando a conduta medicamentosa, inclusive provendo bases para a escolha do contexto em que o paciente poderá ser tratado. • Sintomas leves: escores menores que 10 • Sintomas moderados: escores entre 10 e 14 • Sintomas graves: escores maiores ou iguais a 15. Atenção: maior risco de complicação, se não tratado. EXAMES COMPLEMENTARES - O diagnóstico de SAA é exclusivamente clínico e, portanto, para sua devida confirmação, pode ser necessária uma extensiva investigação na tentativa de excluir outros diagnósticos diferenciais (p. ex., infecção, trauma, alterações metabólicas) ou a detecção de comorbidades que tragam aumento do risco de morte ou complicações para o paciente. Essa investigação frequentemente inclui: • Exames laboratoriais: hemograma, transaminases, coagulograma e eletrólitos • Exames de imagem: radiografias (deve-se descartar a presença de fraturas ou de infecção pulmonar); tomografia de crânio (deve-se descartar a presença de hematomas, originados de possíveis quedas que o paciente não consiga relatar). - O principal diagnóstico diferencial a ser considerado é o de delirium IANI SOARES LUZ XIII – MED TRATAMENTO | CONCEITOS GERAIS - Uma vez adequadamente descartados os diagnósticos diferenciais e detectadas as comorbidades que porventura existam, o tratamento da SAA deve ser sempre multiprofissional, visando a um olhar amplo sobre o paciente e atendimento integral às suas necessidades de saúde. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Deve-se colocar o paciente em local calmo e protegido, com adequado suporte nutricional e que possibilite reavaliações frequentes, especialmente dos sinais vitais. Na maioria das vezes, o tratamento deve ocorrer em regime de internação hospitalar. PACIENTES CLASSIFICADOS EM NÍVEL I - Deve-se realizar intervenção psicoeducacional (orientar o paciente sobre o seu diagnóstico, sobre a dependência do álcool e sobre a síndrome de abstinência) e prover o adequado acompanhamento clínico, por exemplo, para ambulatório especializado, onde o tratamento para a fase de privação aguda será feito de acordo com a necessidade. PACIENTES CLASSIFICADOS EM NÍVEL II - O tratamento deve ser realizado na emergência clínica-psiquiátrica. Nesse caso, utiliza-se a terapia guiada por sintomas, em vez de uma terapia de doses pré-fixadas. - Uma das vantagens dessa abordagem é o uso de menor concentração de medicação e menor duração do tratamento. Sua principal desvantagem é o risco teórico de maiores taxas de convulsão, especialmente em pacientes com história prévia de SAA, embora não haja evidências que comprovem tal risco. A família deve ser orientada do ponto de vista psicoeducacional. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO - A SAA moderada a grave deve sempre ser tratada com farmacoterapia, buscando recuperar a homeostase metabólica (glicose, tiamina e fluidos) e reduzir a irritabilidade do SNC com o uso de benzodiazepínicos. O QUE NÃO FAZER • Hidratar indiscriminadamente • Administrar glicose sem ter usado tiamina • Administrar clorpromazina, por conta da diminuição do limiar convulsígeno que esse fármaco pode causar • Hidantalizar • Administrar diazepam intravenoso, sem recursos para reverter uma possível parada cardiorrespiratória QUANDO INTERNAR O PACIENTE • Pacientes com sintomas moderados a graves • Pacientes que não consigam fazer uso de medicaçãopor via oral • Pacientes sem rede de suporte social que garanta tratamento ambulatorial adequado • Paciente com doença psiquiátrica ou clínica descompensada • DT atual ou prévio • Convulsões secundárias a SAA atuais ou prévias • Paciente gestante IANI SOARES LUZ XIII – MED SÍNDROME NEUROLÉPTICA MALIGNA INTRODUÇÃO - Emergência neurológica potencialmente fatal, associada ao uso de antipsicóticos, caracterizada por alteração do estado mental, rigidez, febre e disautonomia. - A mortalidade é decorrente das manifestações disautonômicas e de complicações sistêmicas provocadas pela doença. Atualmente, a mortalidade gira em torno de 10 a 20%. Requer rápida suspeita diagnóstica e tratamento. EPIDEMIOLOGIA - A incidência varia entre 0,2 e 3% dos pacientes em uso de antipsicóticos, de acordo com a população estudada e o rigor diagnóstico aplicado. É mais frequente em pacientes internados utilizando altas doses de antipsicóticos. Pode acometer indivíduos de qualquer idade e, apesar de ser mais frequente em adultos jovens, a idade não constitui um fator de risco. - Medicações associadas são mais frequentemente utilizadas com antipsicóticos típicos de alta potência (p. ex., haloperidol). Entretanto, agentes típicos de baixa potência (p. ex., clorpromazina) e agentes atípicos (p. ex., risperidona, olanzapina, quetiapina) também estão frequentemente associados, assim como agentes antieméticos (p. ex., metoclopramida). - A retirada ou diminuição da dose de medicações agonistas dopaminérgicas na doença de Parkinson (p. ex., L-dopa) pode precipitar uma síndrome semelhante. Geralmente se trata de um quadro mais leve, com prognóstico um pouco melhor. FATORES DE RISCO • Altas doses de antipsicóticos • Aumento rápido de dose • Aplicação parenteral • Catatonia aguda • Agitação psicomotora intensa • Uso concomitante de lítio • Antipsicóticos de depósito • Uso concomitante de substâncias de abuso • Comorbidade neurológica • Desidratação • Outra condição médica aguda (trauma, cirurgia, infecção). PATOGÊNESE - A causa da síndrome neuroléptica maligna (SNM) é desconhecida. Supostamente, a síndrome teria alguma relação com o bloqueio central de receptores de dopamina, principalmente da via nigroestriatal. - Alguns outros neurorreceptores também parecem estar envolvidos direta ou indiretamente [ácido gama-aminobutírico (GABA), serotonina, norepinefrina e acetilcolina]. QUADRO CLÍNICO IANI SOARES LUZ XIII – MED - Uso de medicação que bloqueia neurotransmissores dopaminérgicos + tétrade clínica característica: febre, rigidez, alteração do estado mental e instabilidade autonômica. • Alteração do estado mental: é o sintoma inicial em 82% dos pacientes. Geralmente se dá como delirium hiperativo com confusão mental ou catatonia e mutismo. Pode evoluir com estupor e coma • Rigidez muscular: grave e generalizada. Pode apresentar resistência total à mobilização passiva, com “rigidez em cano de chumbo”, com tremor sobreposto ou com “sinal da roda denteada”. Menos frequentes: distonia, opistótono, trismo, coreia, outras discinesias, sialorreia, disartria e disfagia • Hipertermia: sintoma definidor de acordo com a maioria dos critérios diagnósticos; > 38°C em 87% dos casos e > 40°C em 40% • Instabilidade autonômica: taquicardia (88%), oscilação da pressão arterial (61 a 77%), taquipneia (73%). Podem ocorrer arritmias e geralmente apresenta diaforese importante. DIAGNÓSTICO - Não há critérios diagnósticos validados para a SNM. Sempre que suspeitada, algumas medidas devem ser tomadas até a exclusão de todos os diagnósticos diferenciais (ver Tratamento). - É fundamental que se solicite algum exame de imagem cerebral [ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada (TC) de crânio] e coleta de líquido cefalorraquidiano para afastar causas estruturais ou infecciosas. - A TC e a RM geralmente são normais ou apresentam edema cerebral difuso. Deve-se solicitar todos os exames laboratoriais que podem vir alterados, além dos necessários para afastar os diagnósticos diferenciais possíveis. TRATAMENTO - Consiste na retirada do agente causador e de agentes que podem contribuir para agravamento do quadro (lítio, anticolinérgicos, agentes serotoninérgicos). - Os cuidados de suporte intensivo são de fundamental importância. Várias complicações são frequentes, graves e potencialmente fatais. Entre elas: • Desidratação • Trombose venosa profunda (TVP) • Desequilíbrio hidreletrolítico • Trombocitopenia • Falência renal aguda pela rabdomiólise • Coagulação intravascular disseminada • Arritmias (inclusive torsades de pointes e parada cardíaca) • Falência respiratória por rigidez da parede torácica, pneumonia aspirativa e/ou tromboembolismo pulmonar • IAM • Tromboflebite venosa profunda • Cardiomiopatia • Convulsões secundárias à hipertermia • Desarranjos metabólicos IANI SOARES LUZ XIII – MED • Falência hepática • Sepse. As medidas de suporte devem ser as seguintes: • Manter a estabilidade cardiorrespiratória (ventilação mecânica, antiarrítmicos, marca-passos podem ser necessários) • Manter a volemia com fluidos intravenosos (IV); se a CK estiver muito elevada, realiza-se hiper-hidratação com alcalinização da urina • Controlar hipertemia com cobertores de resfriamento, bolsas de gelo nas axilas e/ou lavagem gástrica com água fria • Controlar pressão arterial, se muito elevada (fármacos sugeridos: clonidina ou nitroprussiato) • Prevenir TVP com heparina ou heparina de baixo peso molecular • Usar benzodiazepínicos para controlar agitação, se necessário. TERAPÊUTICA ESPECÍFICA Apesar da falta de evidência, há relatos de casos de sucesso terapêutico com algumas medicações. São eles: • Dantroleno: relaxante muscular que ajuda a controlar a rigidez muscular e a hipertermia 1 a 2,5 mg/kg IV. Dose máxima 10 mg/kg/dia. Contraindicado em caso de prejuízo de função hepática • Bromocriptina: agonista dopaminérgico geralmente bem tolerado por pacientes psicóticos; 2,5 mg por sonda nasogástrica (SNG) a cada 6 h. Dose máxima de 40 mg/dia. Manter por até 10 dias com redução gradual da dose • Amantadina: alternativa à bromocriptina. Dose inicial de 100 mg VO ou SNG e dose máxima de 200 mg a cada 12 h • Eletroconvulsoterapia (ECT): alguns relatos de caso mostraram sucesso terapêutico com ECT. Sugere-se não utilizar anestésicos que possam causar hipertermia maligna. PROGNÓSTICO - A maioria se resolve em 2 semanas, geralmente entre 7 e 11 dias. Tal prazo é prolongado em casos de medicação de depósito ou dano cerebral decorrente de hipoxia ou hipertermia prolongada. - Mortalidade de 5 a 20%, sendo os principais fatores de risco para pior prognóstico a falência renal pela rabdomiólise (50%) e drogadição comórbida (38,5%). Orientações para reintrodução do neuroléptico: • Aguardar pelo menos 2 semanas após a remissão dos sintomas • Evitar agentes de alta potência • Iniciar com doses mais baixas e aumentar gradualmente • Evitar uso concomitante de lítio • Prevenir desidratação • Monitorar com rigor o reaparecimento de sintomas da SNM. IANI SOARES LUZ XIII – MED SÍNDROME SEROTONINÉRGICA INTRODUÇÃO - É o conjunto de sinais e sintomas provocados pelo aumento da atividade de serotonina no sistema nervoso central (SNC). ETIOLOGIA - Na maior parte dos casos, é causada por superdosagem de alguma medicação serotoninérgica ou por algumas associações medicamentosas. - Pode ocorrer também em doses terapêuticas. Medicações que podem precipitar ou, quando em associação, contribuir para uma síndrome serotoninérgica: antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), inibidores da monoaminoxidase (IMAO; mais comum), opioides, antitussígenos, antibióticos, antieméticos, agentes antimigranosos, produtos fitoterápicos,ecstasy (metilenedioximetanfetamina). QUADRO CLÍNICO - O quadro clínico é muito variável e as manifestações podem ser desde um discreto tremor de extremidades e diarreia, nos casos mais leves, até um quadro de delirium, rigidez neuromuscular, hipertermia e óbito, nos casos extremos. - Os sintomas da síndrome serotoninérgica podem ser divididos em três grupos: • Alteração do estado mental: agitação, ansiedade, desorientação, inquietação • Alterações neuromusculares: tremores, clônus, hiper-reflexia, rigidez muscular, sinal de Babinski bilateral, acatisia • Hiperatividade autonômica: hipertensão, taquicardia, taquipneia, hipertermia, midríase, diaforese, mucosas ressecadas, flushing, calafrios, vômitos, diarreia, arritmias, ruídos hidroaéreos intestinais aumentados CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS IANI SOARES LUZ XIII – MED MANEJO E TRATAMENTO - O tratamento é variável, de acordo com a gravidade do quadro. - De modo geral, deve-se suspender o agente causador, oferecer suporte clínico e usar benzodiazepínicos (diazepam) para controlar a agitação. - A contenção mecânica só deve ser feita com sedação, pois pode promover contrações musculares isométricas e consequente aumento da temperatura corporal. • Casos leves. Benzodiazepínicos para aliviar sintomas. • Casos moderados. Correção de sinais vitais com fluidos intravenosos (IV), sedação e monitoramento rigoroso da temperatura. • Casos graves (temperatura > 41,1°C). Correção agressiva dos sinais vitais (fluidos e medicações vasoativas), sedação imediata, intubação orotraqueal, correção da temperatura. Considerar o uso de fármacos que bloqueiam receptores 5-HT2A: o Cipro-heptadina: via oral (VO) ou por sonda nasogátrica; dose inicial de 12 mg e 2 mg a cada 2 h até remissão dos sintomas o Olanzapina: 10 mg sublingual. EVOLUÇÃO Geralmente a intoxicação se resolve após 24 h. Tal intervalo pode ser maior em pacientes com disfunção renal ou em metabolizadores lento. IANI SOARES LUZ XIII – MED SIGILO MÉDICO - O sigilo médico é a confidencialidade de toda e qualquer informação tratada durante um serviço de saúde, seja uma consulta, exame, procedimento ou tratamento. - O profissional de saúde não pode compartilhar informações e comentários do paciente para ninguém, muito menos permitir que seus dados se tornem públicos. - Além disso, atualmente, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) é mais uma lei que reforça que dados pessoais não podem ser violados ou expostos, sendo obrigação legal de quem trata os dados garantir essa segurança. - O sigilo profissional é um direito do paciente, e é obrigação do médico mantê-lo, podendo, portanto, só ser quebrado com o aval por escrito do paciente ou em situações permitidas por lei. Código De Ética - O Código de Ética do CFM específica de forma clara como o sigilo médico deve ser mantido pelos profissionais. Dentro os principais artigos do Código de Ética do CFM, podemos destacar os principais: • Artigo 11: o médico deve manter sigilo quanto às informações confidenciais de que tiver conhecimento no desempenho de suas funções. O mesmo se aplica ao trabalho em empresas, exceto nos casos em que seu silêncio prejudique ou ponha em risco a saúde do trabalhador ou da comunidade; • Artigo 74: revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive, a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente; • Artigo 75: fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente; • Artigo 76: revelar informações confidenciais obtidas quando do exame médico de trabalhadores, inclusive, por exigência dos dirigentes de empresas ou de instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade. Código Penal • Artigo 153: divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem; • Artigo 154: revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem; • Artigo 269: deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória; • Artigo 325: revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação. IANI SOARES LUZ XIII – MED Resolução nº 1.605/2000 do CFM - O Código de Ética Médica aborda várias normas sobre o sigilo médico, mas a resolução nº 1.605/2000 também deve ser um ponto de atenção, porque trata diretamente do sigilo profissional. - Nessa resolução existem alguns artigos considerados principais, como, por exemplo: • Artigo 1: o médico não pode, sem o consentimento do paciente, revelar o conteúdo do prontuário ou ficha médica; • Artigo 2: nos casos do artigo 269 do Código Penal, no qual a comunicação de doença é compulsória, o dever do médico restringe-se exclusivamente a comunicar tal fato à autoridade competente, sendo proibida a remessa do prontuário médico do paciente; • Artigo 3: na investigação da hipótese de cometimento de crime, o médico está impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo criminal; • Artigo 4: se, na instrução de processo criminal, for requisitada, por autoridade judiciária competente, a apresentação do conteúdo do prontuário ou da ficha médica, o médico disponibilizará os documentos ao perito nomeado pelo juiz, para que neles seja realizada perícia restrita aos fatos em questionamento; • Artigo 5: se houver autorização expressa do paciente, tanto na solicitação como em documento diverso, o médico poderá encaminhar a ficha ou prontuário médico diretamente à autoridade requisitante. Lei Geral de Proteção de Dados - A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garante o sigilo médico e foi promulgada pelo Governo Federal e está sendo aplicada desde 27 de agosto de 2021. - Essa lei determina que os dados pessoais pertencem às pessoas, não às instituições. - A legislação comentada protege os direitos fundamentais de liberdade, privacidade, intimidade e personalidade do usuário, portanto, o sigilo médico não poderá violar tais direitos, visto que, ao tratar os dados do paciente, o profissional deverá estar em consonância com a lei. - No mesmo sentido, os fundamentos estabelecidos pela Lei Geral de Proteção de Dados possuem consonância com as normas éticas estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina, nas quais são voltadas à proteção da intimidade, à vida privada, à honra, aos direitos humanos e à imagem do usuário. - Dessa forma, está terminantemente vedada a utilização indiscriminada de dados pessoais e, se acaso a determinação não for cumprida pelas empresas, estarão sujeitas às punições previstas. Quando o sigilo médico pode ser quebrado? - Código de ética médica, Cap. IX – art. 79 Cap. X – art. 89, art. 90 - Art. 79. Deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de honorários por meio judicial ou extrajudicial. https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=96997 https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=96997 https://blog.iclinic.com.br/lgpd-na-saude/ IANI SOARES LUZ XIII – MED - Art. 89. Liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando autorizado, por escrito, pelo paciente, para atender ordem judicial ou para a sua própria defesa. - Art. 90. Deixar de fornecer cópia do prontuário médico de seu paciente quando de sua requisição pelos Conselhos Regionais de Medicina. - O segredo médico só pode ser quebrado em casos específicos previstos na lei e no código de ética.Dentre esses casos específicos, podemos destacar: • Autorização expressa do paciente; • Autorização expressa dos responsáveis legais; • Notificação compulsória de doenças transmissíveis; • Suspeita de abuso ao cônjuge; • Suspeita de abuso a idosos; • Suspeita de dano causado por ato criminoso; • Dano causado por arma de fogo ou similar. MANEJO DO PACIENTE COM TENDÊNCIA SUICÍDA 01. Realizar a entrevista do paciente (comportamento suicida e automutilação). 02. Investigar uso abusivos de medicamentos. 03. Acolher o paciente. 04. Avaliar necessidade de encaminhamento para o tratamento especializado imediato. 05. Avaliar necessidade de quebra de sigilo médico.