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Emergências Psiquiátricas ▶ Conceito de emergências psiquiátricas Emergências psiquiátricas podem ser caracterizadas como uma condição em que há transtorno de pensamento, emoções ou comportamento, na qual um atendimento médico se faz necessário imediatamente, objetivando evitar mais prejuízos à saúde psíquica, física e social do indivíduo ou eliminar possíveis riscos à sua vida ou à de outros. Fazem parte desse grupo tanto indivíduos que apresentam história de transtorno psiquiátrico crônico, que se encontram em um momento de recaída, como pacientes sem história psiquiátrica pregressa, que vivenciam uma crise aguda. As situações de emergência psiquiátrica também podem ser definidas como qualquer alteração de comportamento que não pode ser manejada de maneira rápida e adequada pelos serviços de saúde, sociais ou judiciários existentes na comunidade. Essa definição sugere que as emergências em Psiquiatria não são função exclusiva de determinada alteração psicopatológica, mas também do sistema de serviços oferecidos por determinada região, na qual o indivíduo está inserido. ▶ Epidemiologia Os principais motivos de atendimento, independentemente do diagnóstico, costumam ser: ● agitação psicomotora e agressividade; ● comportamento suicida e automutilação; ● delirium ou estado confusional agudo; ● surto ou episódio psicótico; ● depressão grave; ● transtornos por uso de substâncias (intoxicações, sín dromes de abstinência, dependência grave e quadros induzidos); ● transtornos ansiosos. ▶ Tipos de locais de atendimento |Serviço de Emergência Psiquiátrica, estrutura e equipe SEP pode ser definido como uma unidade de atendimento em saúde destinada a prestar as funções essenciais de acesso imediato para avaliação e tratamento, além de condições de manejo dos mais graves casos psiquiátricos a qualquer hora. No Brasil, porém, as referidas situações de emergência são atendidas principalmente nos seguintes locais: ● Serviços de emergência psiquiátrica vinculados a hospitais psiquiátricos: o atendimento nessas unidades não tem como objetivo somente o controle das alterações comportamentais que justificaram o atendimento emergencial e a tomada de decisão sobre a necessidade de admissão hospitalar. Inclui também uma avaliação pormenorizada para direcionar o tratamento mais adequado para o paciente. Entretanto, o suporte é insuficiente para condições orgânicas, sejam elas clínicas ou cirúrgicas. É comum, nesse contexto, que a equipe recorra à solicitação de transferências para hospitais gerais ou de auxílio de unidades móveis ● Unidades de emergência em hospitais gerais (UEHG): em sua imensa maioria, não dispõem de psiquiatra nem de equipe multiprofissional treinada para atendimentos de emergência/urgência psiquiátrica. Ademais, os leitos psiquiátricos em hospital geral ainda são escassos na nossa realidade ● Unidades móveis de urgência: considera-se nível pré-hospitalar móvel na área de urgência o atendimento que procura chegar precocemente à vítima após a ocorrência de agravo de natureza clínica, cirúrgica, traumática e psiquiátrica, que possa levar a sofrimento, sequelas e mesmo a morte. Uma rede de saúde mental ideal estruturada deverá ter SEP e UEHG conjugadas na mesma unidade hospitalar. Essa relação pode individualizar o tratamento ofertado aos pacientes, com enfoque nas alterações comportamentais, na doença física ou no acompanhamento conjunto de ambas, quando necessário. Entretanto, há carência de leitos nos hospitais gerais e a consequente falta de vagas para internação psiquiátrica, o que causa sobrecarga de atendimentos no SEP. Nesse tipo de serviço é importante que os leitos masculino e feminino sejam separados para limitar situações de conflitos e abusos físicos ou sexuais. Alguns cuidados são necessários em relação a objetos que podem ser facilmente destruídos. Nesses casos, eles precisam ser acondicionados em estruturas protetoras adequadas. Agitação psicomotora | Abordagem verbal, medicamentosa e contenção ▶ Causas da Agitação Psicomotora Para abordagem de um paciente agitado, o primeiro passo é a avaliação, na qual o médico deve realizar exame inicial de estado mental o mais rápido possível, com o objetivo de determinar a causa mais provável dessa condição, de modo a orientar as intervenções preliminares para acalmar o paciente. Uma vez que o paciente tenha sido acalmado, uma avaliação psiquiátrica mais ampla pode ser completada. Os possíveis diagnósticos diferenciais de um estado de agitação encontram-se na Tabela 46.5. A abordagem sempre deve ser acompanhada de medidas de proteção ambiental para a equipe e o paciente. Uma vez detectada a agitação e averiguada a necessidade de intervenção, deve-se começar pela menos invasiva possível. Apesar de não ter comprovação científica, por questões éticas é recomendável iniciar pela abordagem verbal. De todas as técnicas, a mais mencionada na literatura é a técnica do verbal de-escalation (técnica da desescalada verbal). Trata-se de uma abordagem verbal progressiva com o intuito de atenuar as defesas e a agressividade do paciente. Caso a abordagem verbal falhe, o próximo passo poderá ser a abordagem medicamentosa, novamente, também seguindo a proposta de primeiro utilizar a medida menos invasiva, isto é, medicações por via oral. Somente caso essa medida falhe, medidas mais invasivas podem ser utilizadas, como medicações por via intramuscular e contenção física. O uso de medicações por via intravenosa não é recomendável. Caso opte-se pela abordagem medicamentosa por via oral, é importante lembrar que isso requererá a colaboração do paciente, capacidade de deglutir e maior tempo de espera do efeito, em média 60 minutos. A via parenteral tem efeito mais rápido, aproximadamente 30 minutos, entretanto pode apresentar maior número de efeitos colaterais e monitoramento mais rigoroso. PRINCÍPIOS GERAIS DA DESESCALADA VERBAL: 1. Respeitar o paciente e o seu espaço pessoal. 2. Não provocar. 3. Estabelecer contato verbal. 4. Ser conciso. 5. Identificar desejos e sentimentos. 6. Ouvir atentamente o que o paciente está dizendo. 7. Concordar ou concordar para depois discordar. 8. Ter regras e limites claros. 9. Oferecer opções e otimismo. 10. Informar o paciente e a equipe. ▶ Contenção física Uma abordagem controversa é a contenção física. Apesar de não ser recomendada por alguns especialistas, às vezes, faz-se necessária para a própria proteção do paciente em estado de agitação com ou sem agressividade grave. Quando for tomada a decisão de utilizá-la, deve ser acompanhada da abordagem medicamentosa e o paciente precisa ser liberado assim que estiver tranquilo. Essa conduta requer monitoramento rigoroso, a cada 15 minutos na primeira hora, principalmente com medida de sinais vitais, e a cada 30 minutos nas 4 horas subsequentes . A reclusão, isto é, a chamada seclusion, que significa isolamento involuntário, no qual o paciente é colocado em ambiente fechado e protegido, não demonstrou superioridade à contenção física. PASSOS DA CONTENÇÃO FÍSICA 1.Falha das abordagens não medicamentosas e medicamentosas.2.Comunicar a equipe e planejar a intervenção. Mínimo de cinco pessoas. 3.Um interlocutor comunica o paciente. Após a comunicação, não é possível retroceder. 4.O interlocutor dá o sinal para a equipe. Cada profissional imobiliza um membro. O quinto protege a cabeça do paciente. 5.O paciente deve ser colocado em decúbito dorsal. A contenção mínima deverá imobilizar os dois antebraços e as duas pernas. 6.Medicar assim que o paciente estiver contido. 7. Monitorar sinais vitais, grau de sedação, nível de agitação e circulação e sensibilidade dos membros a cada 15 minutos na primeira hora e a cada 30 minutos nas 4 horas subsequentes. 8. As contenções devem ser retiradas assim que o paciente estiver tranquilo. Não é necessária sedação. ▶ Abordagem medicamentosa da agitação psicomotora (sugestões). Antipsicóticos de primeira geração (típicos) ● Inibem a transmissão de dopamina cerebral, pelo antagonismo no receptor D2 ● Pode causar sintomas extrapiramidais ● Os mais utilizados são: clorpromazina, levomepromazina e haloperidol Antipsicóticos de segunda geração (atípicos) ● São antagonistas da serotonina e dopamina, antagonistas parciais D2 ou antagonistas da serotonina nos receptores H5T2A ● Mais utilizados: aripiprazol, risperidona, olanzapina ● Menores efeitos extrapiramidais Benzodiazepínicos ● Aumentam os efeitos do ácido gama-aminobutírico (GABA) no receptor GABA-A, produzindo efeitos sedativos, hipnóticos (indutores do sono), ansiolíticos, anticonvulsivantes e miorrelaxantes. ● Os efeitos colaterais dos BZD incluem: tontura, fraqueza, perda de orientação, dor de cabeça, confusão, irritabilidade, efeito paradoxal, comprometimento da memória, falta de coordenação, risco de quedas, boca seca, visão turva, hipotensão, ataxia, depressão respiratória e parada cardiorrespiratória. Opções por via oral (VO) ● Olanzapina 2,5 a 10 mg, orodispersível ou comprimidos ○ Sintomas extrapiramidais, efeitos hemodinâmicos, convulsões, disfagia, arritmia cardíaca, hipotensão, tontura ● Risperidona 0,5 a 6 mg, solução oral ou comprimidos ○ Sedação, tontura, sintomas extrapiramidais, efeitos hemodinâmicos, convulsões, disfagia, náusea, arritmia cardíaca, hipotensão ● Levomepromazina 10 a 100 mg, solução oral ou comprimidos ● Clorpromazina 25 a 100 mg, solução oral ou comprimidos ● Clonazepam 2 a 4 mg, solução oral ou comprimidos ○ Amnésia, ataxia, sedação excessiva, tontura, efeito paradoxal Opções por via intramuscular (IM) ● Haloperidol 2,5 a 5 mg, podendo ser repetido a cada 30 min. Até 3 vezes em 24 h ○ Convulsões, sintomas extrapiramidais, sonolência, cefaléia, tontura ● Midazolam 5 a 15 mg, máximo de 0,35 mg/kg, repetição a cada 30 min ○ Sedação excessiva, depressão respiratória ● Lorazepam 2-4 mg, máximo 4 mg, repetição a cada 1h ○ Dificuldade respiratória, náusea, tontura com lorazepam ● Olanzapina 2,5-10 mg ○ Sedação excessiva, sintomas extrapiramidais, hipotensão ortostática, sonolência, hematúria ● Ziprasidona 10 mg a cada 2 h ou 20 mg a cada 4 h, máximo 40 mg/dia ○ Sedação excessiva, sintomas extrapiramidais ● Aripiprazol 9,75 mg, máximo 30 mg, repetição a cada 2h ○ Cefaleia, tontura, náusea, insônia, sintomas extrapiramidais, taquicardia ● Droperidol 2,5-10 mg, máximo 20mg, repetição a cada 30 min ○ Intervalo QT anormal, hipotensão, tontura, sintomas extrapiramidais ● Flunitrazepam 1-2 mg, máximo 2 mg, repetição a cada 24h ○ Parada respiratória, sedação excessiva, hipersalivação, tontura, amnésia, sonolência ● Levomepromazina 12,5-25mg, máximo 100mg, repetição a cada 6h ○ Intervalo QT anormal, hipotensão, tontura, sintomas extrapiramidais ● Clonazepam 1-2mg, máximo 8mg, repetição a cada 3h ○ Parada respiratória, sedação excessiva, hipersalivação, sonolência, tontura, amnésia Associações ● Haloperidol 2,5 a 5 mg + prometazina 50 mg IM ● Haloperidol 2,5 a 5 mg + midazolam 5 a 15 mg IM Comportamento suicida O suicídio figura entre as três principais causas de morte de pessoas que têm de 15 a 44 anos. Segundo os registros da Organização Mundial da Saúde (OMS), ele é responsável anualmente por 1 milhão de óbitos, o que corresponde a 1,4% do total de mortes. Para a avaliação correta do risco de suicídio é importante lembrar-se de recorrer a um ambiente sigiloso e tranquilo. O profissional deve ser amistoso e empático, e não fazer pré-julgamentos sobre a atitude do paciente. Um erro comum é atribuir prontamente o ato como uma atitude de chamar a atenção. Outro erro é achar que conversar sobre a tentativa pode induzir o paciente a novos atos. Pelo contrário, a conversa aberta possibilita ao paciente extravasar suas emoções e tornar mais efetivo seu pedido de ajuda. Conceitos ● Suicídio completo – Um comportamento autolesivo que resultou em fatalidade e foi associado a pelo menos alguma intenção de morrer como resultado do ato. ● Atos preparatórios ou plano de suicídio – O in divíduo toma medidas para ferir a si mesmo, mas é impedido por ele mesmo ou outros de iniciar o ato autolesivo antes que o potencial de dano tenha começado. ● Tentativa de suicídio – Um comportamento potencialmente autolesivo, associado a pelo menos alguma intenção de morrer, por causa do ato. A evidência de que o indivíduo pretendia se matar, pelo menos até certo ponto, pode ser explícita ou inferida do comportamento ou circunstância. Uma tentativa de suicídio pode ou não resultar em lesão real. ● Ideação suicida – Pensamentos passivos sobre querer estar morto ou pensamentos ativos sobre se matar, não acompanhados de comportamento pre paratório. Indicações e diretrizes para a contenção física. ● Falha das abordagens não medicamentosas e medicamentosas ● Comunicar à equipe e planejar a intervenção. Mínimo 5 pessoas ● Um interlocutor comunica ao paciente. Após a comunicação, não é possível retroceder ● O interlocutor dá o sinal à equipe. Cada profissional imobiliza um membro. O quinto protege a cabeça do paciente ● O paciente deve ser colocado em decúbito dorsal. A contenção mínima deverá imobilizar os dois antebraços e as duas pernas ● Medicar assim que o paciente estiver contido ● Monitorar sinais vitais, grau de sedação, nível de agitação, circulação e sensibilidade dos membros a cada 15 min na primeira hora e a cada 30 min nas 4 h subsequentes ● As contenções devem ser retiradas assim que o paciente estiver tranquilo. Não é necessário sedação Fatores de risco para o suicídio. Transtornos mentais ● Transtornos do humor (p. ex., depressão) ● Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas (p. ex., alcoolismo) ● Transtornos de personalidade (principalmente borderline, narcisista e antissocial) ● Esquizofrenia ● Transtornos de ansiedade ● Comorbidade potencializa riscos (p. ex., dependência de álcool e transtorno depressivo) Condições clínicas incapacitantes ● Doenças orgânicas incapacitantes ● Dor crônica ● Lesões desfigurantes perenes ● Epilepsia ● Traumatismo medular ● Neoplasias malignas ● Síndrome da imunodeficiência adquirida Fatores sociodemográficos ● Sexo masculino ● Faixas etárias entre 15 e 35 anos e acima de 75 anos ● Estratos econômicos extremos ● Residentes em áreas urbanas ● Desempregados (principalmente perda recente do emprego) ● Aposentados ● Isolamento social ● Solteiros ou separados ● MigrantesFatores psicológicos ● Perdas recentes ● Perdas de figuras parentais na infância ● Dinâmica familiar conturbada ● Datas importantes ● Reações de aniversário ● Personalidade com traços significativos de impulsividade, agressividade, humor lábil Pacientes intoxicados por substâncias devem permanecer em observação e ter a avaliação completada somente após passados seus sintomas e comportamentos pelo uso abusivo da substância. Este deve ser levado em consideração para pacientes sedados, pacientes que não colaboram, pacientes psicóticos, agitados ou cujo histórico, em especial do suporte familiar ou comunitário, não é possível ser obtido. O comportamento suicida é uma das poucas situações em que o médico pode indicar a observação ou internação de maneira involuntária, mesmo que o paciente apresente-se consciente, sem sintomas psicóticos, sem estar confuso ou intoxicado. Para isso, novamente, devemos recorrer aos fatores de risco. Para os pacientes em que houve opção pela alta é imprescindível o encaminhamento associado ao monitoramento ou, até mesmo, solicitar retorno breve ao pronto-socorro, quando o acesso ao serviço de saúde não for possível a curto prazo. ■ O USO DE ANTIDEPRESSIVOS AUMENTA O RISCO DE SUICÍDIO? Apesar de a literatura sugerir a associação de comporta mento suicida após o uso de antidepressivos nos primeiros dias do tratamento, principalmente em jovens, tal relação se mostrou contraditória: a melhora dos sintomas é protetora e sobrepõe o risco. Porém, devido a tal possibilidade, é importante que se amplie a vigilância ao paciente nos primeiros 30 dias de tratamento. ■ QUESTIONAR O PACIENTE SOBRE O COMPORTAMENTO SUICIDA AUMENTA O RISCO DE SUICÍDIO? Avaliar o suicídio em relação a resultados negativos não demonstrou efeitos iatrogênicos da triagem. Portanto, tal abordagem não pode ser considerada de risco, mas um fator de proteção. ■ Fatores de proteção ao comportamento suicida ● Conexão com a escola ● Qualidade de sono satisfatória ● Religiosidade ● Tratamento antidepressivo para pacientes com depressão (principalmente adultos e idosos) ● Tratamento com clozapina, na esquizofrenia, e no transtorno esquizoafetivo Avaliação do paciente com comportamento suicida ● Descartar outras emergências médicas que requeiram atendimento imediato, como traumas e intoxicações ● Durante a avaliação, deve-se obter informações sobre a história do paciente e outros antecedentes médicos e o estado mental atual. ● Deve-se perguntar sobre pensamentos, planos e comportamento suicida; métodos específicos considerados para suicídio, incluindo sua letalidade e a expectativa do paciente sobre ela, bem como se as armas de fogo estão acessíveis; ● Deve-se procurar evidência de desesperança, impulsividade, anedonia, ataques de pânico ou ansiedade; motivos de vida e planos para o futuro; álcool ou outra substância associada à apresentação atual; e pensamentos, planos ou intenções de violência contra os outros. ● Determinar a presença ou ausência de sinais e sintomas associados a diagnósticos psiquiátricos específicos ● Avaliar a história psiquiátrica (p. ex., diagnóstico/hospitalizações anteriores e outro tratamento, ideação suicida anterior); revisar o histórico de tratamento médico (p. ex., identificar tentativas de suicídio e diagnósticos médicos anteriores ou atuais); e avaliar a força e estabilidade das relações terapêuticas atuais e passadas ● Avaliar a história familiar de suicídio e tentativas de suicídio e hospitalizações psiquiátricas ou doença mental, incluindo transtornos por uso de substâncias. ● Avaliar reações emocionais severas ou estressores psicossociais crônicos que podem aumentar o risco de suicídio ■ Seguimento 1ᵃ semana: ● Explicação do programa ao paciente e estabelecimento de relacionamento. ● Obtenção da história (comportamento psiquiátri co e suicida). ● Avaliação do estado atual (risco de suicídio, psiquiátrico, cuidadores). ● Se necessário, desenvolvimento/revisão do Plano de Segurança. ● Trabalho com o paciente na construção de valores e no começo de uma vida baseada nesses valores. 2ᵃ semana: ● Avaliação do estado atual do paciente (risco de suicídio, aumento dos sintomas psíquicos e identificação de provedores de tratamento e adesão). ● Se necessário, revisão do Plano de Segurança. ● Continuação da discussão sobre a vida baseada em valores. ● Ajuda ao paciente no desenvolvimento de um “Plano de Vida” para monitorar e reduzir ou eliminar os fatores de risco potenciais identificados. ● Obtenção de permissão do paciente para entrar em contato com outras pessoas significativas, bem como dos dados necessários para tal contato. ● Ênfase na importância do monitoramento colaborativo e da resolução de problemas com outras pessoas importantes. 3ᵃ semana: ● Explicação do programa ao paciente e estabelecimento de relacionamento. ● Levantamento de outras preocupações em relação ao paciente. ● Realização de psicoeducação breve em relação ao suicídio e fatores de risco. ● Apresentação de plano de vida/segurança a outras pessoas. 4ᵃ, 10ᵃ, 22ᵃ, 34ᵃ e 48ᵃ semanas: ● Avaliação do risco de suicídio e da presença de sintomas psiquiátricos. ● Revisão do Plano de Segurança e adesão do paciente ao tratamento. ● Discussão/resolução informal dos problemas/fatores de risco identificados. 8ᵃ, 20ᵃ e 32ᵃ semanas: ● Revisão de outras preocupações e percepções significativas do paciente. ● Revisão do Plano de Segurança e adesão do paciente ao tratamento. ● Discussão/resolução informal dos problemas/fatores de risco identificados. Abordagem ao paciente com intoxicação devido ao comportamento suicida ● Manter o paciente em ambiente seguro até que haja certeza que a intoxicação cessou ● Oferecer uma breve intervenção terapêutica após o fim da intoxicação. Na verdade se indivíduo estiver mais suscetível à discussão sobre o Plano de Segurança e outras intervenções específicas para ele, deve-se deve incluir a eliminação do acesso a armas de fogo e a outros meios de suicídio, incluindo objetos cortantes, mangueiras, cordas ou fios, e a garantia de armazenamento ou distribuição segura de medicamentos como alta prioridade. ● Deve-se estar atento ao risco de complicações clínicas por intoxicação e lesões físicas que podem surgir por piora de comportamento pelo uso excessivo de substância ou medicamento. Tratamento ■ PSICOTERAPIAS SUGERIDAS PARA ABORDAGEM DO COMPORTAMENTO SUICIDA ■ PSICOFÁRMACOS ■ INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO FRENTE AO COMPORTAMENTO SUICIDA Verbalização e manutenção do plano suicida ● Várias tentativas prévias recentes ● Falta de suporte familiar com falta de acesso a atendimento ambulatorial ● Doença mental não compensada como transtorno psicótico, transtorno do humor, uso e uso abusivo de substâncias ● Impulsividade com histórico de autolesões, comportamento de risco ou uso abusivo de substâncias POSVENÇÃO Uma posvenção é uma intervenção conduzida após um suicídio para gerenciar as suas consequências e prevenir fatalidades. Combate o estigma da tragédia, operacionaliza as consequências confusas e promove a recuperação do cuidador. No entanto, os estudos sobre sua eficácia são mínimos. Com relação à eficácia das pós-intervenções, há poucas evidências,pois há muitas diferenças em termos, modelos, níveis e foco.? ● Psicoterapia ● Intervenção escolar ● Suporte on-line ● Programa de tratamento residência Delirium Delirium pode ser definido como uma síndrome neurocognitiva marcada pela alteração da consciência: obnubilação, redução da clareza quanto ao ambiente; e da atenção: redução da capacidade de direcionar, focalizar, manter ou deslocar a atenção; acompanhada de déficit cognitivo, como déficit de memória, desorientação, perturbação da linguagem; que não pode ser explicado por um quadro demencial preexistente. A síndrome se desenvolve em curto período de tempo, e a intensidade de sintomas tende a flutuar durante o dia. Na 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-11),24 divulgada em 2018, o delirium (6D.70) está classificado nos transtornos neurocognitivos (6D.7) e é caracterizado por perturbação de atenção (isto é, capacidade reduzida de dirigir, focar, sustentar e deslocar a atenção) e de consciência (isto é, redução da orientação para o ambiente), que se desenvolve em um curto período de tempo e tende a flutuar durante o curso de 1 dia, acompanhada de outras deficiências cognitivas, como déficit de memória e desorientação ou prejuízo na linguagem, na capacidade visuoespacial ou na percepção. Perturbação do ciclo sono-vigília (redução do sono com despertar de início agudo ou perda do sono total com reversão do ciclo sono-vigília) também pode estar presente. Os sintomas são atribuíveis a um distúrbio por intoxicação ou abstinência de substâncias ou medicamentos, ou a uma doença não classificada como mental e comportamental. ▶Prevalência A prevalência de delirium varia conforme as características individuais, o local de atendimento e a sensibilidade do método de detecção. Sua prevalência na comunidade é baixa (1 a 2%); entretanto, aumenta com a idade, chegando a 14% entre pessoas com mais de 85 anos. Atinge entre 10 e 30% das pessoas idosas que vão a setores de emergência e sua presença pode indicar doença clínica de base, que deve ser pesquisada. A prevalência em pacientes admitidos em hospitais varia de 14 a 24%, com estimativas da incidência dessa condição durante a hospitalização entre 6 a 56% em hospitais em geral. Ocorre ainda em 15 a 53% dos idosos no pós-operatório e em 70 a 87% daqueles em unidades intensivas; em até 60% das pessoas em instituições para idosos ou em locais de atendimento pós-agudo; e em até 83% de todas as pessoas no fim da vida. ▶Fatores de risco Os fatores de risco ambientais são prejuízo funcional, imobilizações, história de quedas, baixos níveis de atividade, uso abusivo de substâncias psicoativas, principalmente álcool e medicamentos com propriedades psicoativas, como os anticolinérgicos. Os fatores genéticos e fisiológicos são transtornos neurocognitivos maiores e leves. Nos idosos, quando há concomitância com demência é referido como delirium sobreposto à demência (DSD). Nesse caso, prejuízo cognitivo prévio dificulta o diagnóstico de delirium. A prevalência de DSD em pacientes varia de 1,4 a 70%. Outros fatores de risco que indicam vulnerabilidade são baixo nível de escolaridade, idade avançada, presença de muitas comorbidades, deficiência visual, história de uso abusivo de álcool, depressão, desnutrição e uso abusivo de opioides ou benzodiazepínicos. ▶Avaliação A abordagem ao paciente deve incluir a identificação de fatores predisponentes e precipitantes, bem como intervenções adequadas visando à resolução do quadro de base. O diagnóstico depende da avaliação clínica cuidadosa e que inclua coleta de história ampla: doenças, medicações, início e curso dos sintomas, exame físico, neurológico e psíquico acurados. Essa condição pode progredir até estupor, coma, convulsões ou morte, em especial quando a causa subjacente continua sem tratamento. Além das complicações das condições clínicas prévias, uma das principais causas de delirium é a medicamentosa, principalmente em idosos, seja em razão do uso incorreto das doses prescritas, seja de origem iatrogênica. É importante lembrar que o paciente idoso, por exemplo, é mais sensível aos efeitos adversos dos medicamentos, principalmente os de efeito sedativo e anticolinérgico. Também é importante ressaltar que esse grupo de pacientes é mais propenso a prejuízos sensoriais como deficiência visual e auditiva, por exemplo, imobilizações e maior risco de quedas. O Confusion Assessment Method (CAM), desenvolvido por Inouye et al. em 1990 é um instrumento para o diagnóstico de delirium com base nos critérios da 3a edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III). Trata-se de um instrumento que avalia nove aspectos do delirium: início abrupto, alteração da atenção, pensamento desorganizado, alteração do nível de consciência, desorientação, prejuízo da memória, distúrbio da percepção, agitação ou retardo psicomotor e alteração do ciclo sono-vigília. O diagnóstico de delirium pelo CAM exige a presença de início agudo e distúrbio da atenção associados com a alteração do nível de consciência ou pensamento desorganizado. Para a aplicação do instrumento, é necessário treinamento prévio, e o manual para treinamento em inglês pode ser encontrado na internet. No momento, estão disponíveis as versões validadas do CAM20 e CAM-ICU21 para o português. A Escala de Avaliação de Delirium (Confusion Assessment Method – CAM) não é autoaplicável, mas é um instrumento a ser respondido com base na observação de uma entrevista com o paciente. Apresenta 10 perguntas, com quatro alternativas: 0 – nenhuma; 1 – leve; 2 – moderada; 3 – grave; pontuação máxima por questão de 3 e total do instrumento de 30 pontos. O valor de corte para essa escala é 6, assim, pacientes que tiverem o somatório dos pontos maior que 6 são considerados com delirium. Para facilitar a entrevista e a observação, recomenda-se iniciar com as questões 2, 3 e 4, pois por meio destas possibilita-se ao mesmo tempo avaliar os itens observacionais e subjetivos. Os itens a avaliar são: ● Redução do nível de consciência: caracteriza-se pelos diferentes níveis de consciência e estado de alerta, hipervigilante, letárgico, comatoso. Pode ser acompanhada de alterações da labilidade (mudança rápida de sintomas associados ao humor). Deve-se observar a interação do paciente com o ambiente e outras pessoas ● Desorientação: caracteriza-se por confusão (não reconhece as pessoas, lugar, tempo e situação) e, também, pensamento desorganizado (pensamentos confusos, desconexos e vagos) ● Perda de memória a curto prazo: refere-se a perda de memória de fatos recentes, falta de atenção (inabilidade de foco e pensamento organizado) ● Ordem dos números prejudicada (span de dígitos): refere-se a perda de memória recente e pensamento desorganizado (pensamentos confusos, desconexos e vagos) e falta de atenção do paciente ● Capacidade reduzida de manter e desviar atenção: refere-se à inabilidade de foco ● Pensamento desorganizado: refere-se a falta de atenção e alterações da consciência,que podem ser acompanhadas ou não de psicose (perda de contato com realidade) ● Distúrbio de percepção: possibilidade de apresentar alucinações auditivas e/ou visuais (percepção de objetos ou situações inexistentes) ● Delírios: definido pela fixa e falsa crença, julgamento errôneo que não modifica e que pode se apresentar como paranóia, persecutória ou de grandiosidade. O delírio pode ser persecutório, de referência e/ou de grandiosidade ● Diminuição ou aumento da atividade psicomotora: apresenta-se por agitação psicomotora que pode ser incontrolável, excessiva, sem intenção cognitiva ou atividade motora ● Distúrbio do ciclo sono-vigília: alteração com início agudo que varia de minutos a dias, oscilando ao longo do tempo. Essa variação pode ser crescente ou decrescente e sofre alterações de intensidade e rapidez. A avaliação para identificar o delirium é um processo detalhado e contínuo, mas obrigatoriamente deve observar os sinais e sintomas dessa síndrome e suas mudanças ao longo do tempo, ter conhecimento da doença e comorbidades do paciente e os objetivos de cuidados com o paciente e familiares e/ou cuidadores. Estudos de identificação de delirium são de difícil avaliação por seus profissionais, resultando na alta variação de números na prevalência e incidência do delirium. Há duas escalas validadas para o portuguêspara o diagnóstico de delirium de pacientes de unidade de cuidados intensivos sob diferentes graus de sedação (intubados ou não).. A Delirium Rating Scale-Revised-98 (DRS-R-98) é a escala mais antiga e a mais tradicional, criada para medir o grau de delírio em pacientes. Entre as escalas que possibilitam a estratificação do delirium, a DRS-R-98 é uma das mais conhecidas e frequentemente usada em idosos. A DRS-R-98 consiste em uma escala com 16 itens (3 deles utilizados apenas no momento do diagnóstico e 13 utilizados para estratificação em avaliações sucessivas). Cada item recebe pontuação de 0 a 2 ou 0 a 3, e, quanto maior o resultado final, maior a gravidade da condição. Uma das dificuldades desta escala é a sua complexidade; ela requer treinamento de profissionais qualificados, para que não gere resultados divergentes. A DRS-R-8 já foi estudada e validada para o português por Negreiros et al. A escala mais estudada e a melhor adequada para uso na unidade de terapia intensiva foi a Intensive Care Delirium Screening Checklist (ICDSC) por sua praticidade, precisão e validação para a língua portuguesa. ▶ Manejo O tratamento deve ser ágil, dados os altos índices de morbimortalidade relacionados com o delirium, devendo ser principalmente dirigido à correção da etiologia, mas também abordando os fatores agravantes. Devem-se considerar sempre, na estratégia terapêutica adotada, os fatores precipitantes e predisponentes de cada caso. Administrar o delirium implica identificar e gerir a causa subjacente. A maioria das evidências apoia o uso de haloperidol, e as doses mais elevadas associadas a efeitos adversos. Se realmente for necessário, recomenda-se o uso de medicações. É importante que seja realizado o diagnóstico diferencial. Tratamento farmacológico do delirium. Via oral (preferência) ● Risperidona 0,25 a 1 mg à noite ● Lorazepam 0,5 a 1 mg à noite ou clonazepam 0,25 a 0,5 mg à noite Via parenteral ● Haloperidol 1 a 5 mg intramuscular (não ultrapassar 7,5 mg/dia) a cada 30 min até tranquilização Tratamento não farmacológico do delirium. ● Reorientação dos pacientes ● Correção dos déficits sensoriais ● Medidas para normalizar o ciclo do sono ● Evitar desidratação ou desnutrição ● Mobilização precoce ● Melhor adequação ambiental do quarto ● Analgesia adequada e cuidados gerais Uso e uso abusivo de substâncias Entre as emergências relacionadas com o uso e o uso abusivo de substâncias temos as intoxicações, a síndrome de abstinência, a dependência grave e sintomas induzidos como psicose e mania. Na abordagem das intoxicações, a prioridade é o suporte de vida, iniciando primeiro pela abordagem clássica da permeabilidade das vias respiratórias, respiração, circulação e tratamento de condições clínicas adversas que venham a surgir como efeitos da substância. Caso seja pertinente, algumas substâncias podem ter seus efeitos amenizados pelo uso de algumas medicações. Ressalta-se que o diagnóstico de outras condições de saúde mental só poderá ser realizado após 48 horas do uso da substância, e não é prudente o diagnóstico imediato de sintomas psicóticos, maniformes, risco de suicídio, depressão, transtorno ansioso, logo na admissão do indivíduo intoxicado. No caso da dependência, casos com preservação da consciência e crítica, sem repercussões físicas graves, devem ser encaminhados ao ambulatório. Casos moderados, mas com certa colaboração do paciente, podem ser encaminhados para centros especializados como hospital-dia, ambulatórios para dependência química ou CAPS. Entretanto, qualquer encaminhamento só deve ocorrer após avaliação clínica e do estado mental de maneira cuidadosa, descartando certas emergências ou indicações de internação, como desnutrição grave, infecções, delirium, distúrbios metabólicos, traumas, surto psicótico ou maniforme, ideação suicida, cardiopatias, entre outros. Independentemente da condição de intoxicação, abstinência, dependência ou outro, pacientes com certo grau de comprometimento nutricional devem sempre receber reposição de tiamina, por via oral ou parenteral, antes de qualquer aporte de glicose para evitar o desenvolvimento de síndrome de Wernicke ou futuro desenvolvimento de síndrome de Korsakoff. Sintomas psiquiátricos induzidos, como mania e psicose, devem receber tratamento específico, além da abordagem relacionada com o uso abusivo de substâncias. Sinais e sintomas das intoxicações e condutas sugeridas.* Sinais e sintomas de abstinência e condutas sugeridas de acordo com a substância. Síndrome da abstinência Alcoólica O tremor de intensidade variável, que aparece algumas horas após a diminuição ou parada da ingestão, mais pela manhã, acompanhado de irritabilidade, náuseas e vômitos, hiperatividade autonômica (taquicardia, aumento da pressão arterial, sudorese, hipotensão ortostática e febre menor que 38 °C). Os níveis de gravidade variam de um quadro biológico de alterações do SNC (insônia, irritabilidade, piora das funções cognitivas, como a memória) até outros, marca damente autonômicos, com delirium e crises convulsivas. Preditores de gravidade, como história pregressa de SAA grave, alcoolemia alta sem sinais e sintomas de intoxicação, alcoolemia de 300 mg/dL, uso concomitante de sedativos, comorbidades (clínicas e psiquiátricas) e idade avançada agravam a SAA ÁLCOOL E COVID-19 ● 43% aumentaram o consumo de álcool ○ Desses, 36% aumentaram o consumo durante períodos iniciais da manhã ○ 30% beberam em festividades virtuais ● Transtornos Mentais: 41% aumentaram o consumo de álcool durante a pandemia ○ Causas mais comuns: ansiedade, tempo livre e solidão FATORES DE RISCO que predispõem um jovem a consumir bebida alcoólica: 1) genética; 2) exposição fetal; 3) prejuízo das funções parentais;4) TMs na infância e na adolescência; 5) amigos usuários; 6) estilo de vida; e 7) ambiente familiar e comunitário facilitador de consumo. SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA NÍVEL I SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA NÍVEL II Álcool: encefalopatia de Wernicke Cocaína, crack e anfetaminas: intoxicação Cocaína, crack e anfetaminas: abstinência O tratamento da abstinência por estimulantes tem como objetivo o alívio dos sintomas (1) fissura, (2) agitação psicomotora, (3) sintomas depressivos e/ou ansiosos e (4) distúrbios do sono. A retirada da metanfetamina, por exemplo, é relativamente segura, desde que não haja fatores adicionais envolvidos, como o uso de múltiplas substâncias ou comorbidades clínicas e psiquiátricas. O manejo da fissura é essencial no tratamento da dependência de estimulantes, já que, dada sua intensidade, é o principal fator que leva à volta ao uso em pacientes abstinentes. Dado o alto risco de recidiva, a duração do tratamento deve ser de pelo menos 3 semanas, principalmente no caso de consumo intenso e regular. O tratamento da agitação psicomotora pode ser feito por meio de BZD, desde que administrados por pouco tempo, dado o potencial de dependência dessa classe de medicação. Uma alternativa aos BZD são os antipsicóticos sedativos, como olanzapina ou risperidona. Contudo, essas recomendações são extrapolações do tratamento da agitação psicomotora, não especificamente relacionada à abstinência de estimulantes. De forma geral, os sintomas depressivos podem ser manejados com uso de antidepressivos sedativos. No caso específico de sintomas agudos e que acarretam risco de auto ou heteroagressividade, pode-se associar BZD durante um curto período. Sintomas como hipersonia ou fadiga podem ser manejados com o uso de bupropiona ou antidepressivos tricíclicos. Por fim, no tratamento dos distúrbios do sono podem ser utilizados antidepressivos ou antipsicóticos sedativos. No caso de insônia, recomenda-se fortemente não utilizar BZD, dado o alto potencial de dependência. Benzodiazepínicos: intoxicação Podemos resumir o tratamento da intoxicação por BZD em duas medidas: suporte clínico e flumazenil. O suporte clínico tem como principal objetivo manter o funcionamento pulmonar, com as vias aéreas pérvias, a fim de garantir a ventilação e a oxigenação. Já o flumazenil tem como objetivo manter o status neurológico, preservando o nível de consciência. O flumazenil é um antagonista farmacológico dos efeitos do BZD no SNC. Pertence à classe farmacológica dos imidazobenzodiazepínicos e se comporta como um antagonista dos receptores GABA-A. Ele atua bloqueando competitivamente o sítio do receptor, onde se ligaria, com menor afinidade, ao BZD. Como resultado, há diminuição no influxo de cloreto para o interior do neurônio, revertendo, dessa forma, a ação do BZD. O uso de flumazenil resulta em um despertar completo, com restauração dos reflexos protetores das vias aéreas superiores, permitindo a realização de medidas clínicas, como lavagem gástrica e carvão ativado. A retomada da respiração espontânea eficaz permite extubação precoce, desmame da ventilação mecânica ou prevenção da IOT. A medicação está disponível em ampolas de 50 mL, contendo 0,5 mg, ou seja, 0,1 mg/mL. A dose inicial recomendada é de 0,1 a 0,2 mg, EV, administrada de forma lenta (30 segundos). A dose pode ser repetida após 1 minuto até a recuperação do nível de consciência, não excedendo o máximo de 2 mg. O início da ação se dá em cerca de 1 a 2 minutos, sendo que 80% da resposta é observada nos primeiros 3 minutos. Paciente com intoxicação por múltiplas substâncias podem necessitar de doses maiores, ou então da manutenção de uma infusão contínua de 1 mg/h, a fim de manter o nível de consciência. Contudo, a ausência de resposta a doses altas de flumazenil sugere fortemente uma intoxicação por outras medicações, e não somente por BZD. Benzodiazepínicos: síndrome de abstinência O tratamento da síndrome de abstinência por BZD constitui um desafio na prática clínica. De forma didática, podemos dividir o manejo dos sintomas de abstinência em: (1) prevenção da dependência (ou uso racional); (2) prevenção da abstinência (ou redução gradual); (3) psicoterapia adjuvante; e (4) farmacoterapia adjuvante. Abordagem terapêutica ● Retirada gradual do BZD em um período de semanas ou meses (Alto) ● Se fizer uso de mais de um BZD, manter apenas um deles antes de iniciar o desmame ● Trocar por um BZD de ação prolongada (diazepam) (baixo) ● Associar carbamazepina ● Associar pregabalina, gabapentina e betabloqueadores (baixo) ● Associar flumazenil ● Associar psicoterapia ● Tratamento dos distúrbios do sono com antidepressivos, anti-histamínicos, melatonina, higiene do sono, restrição de sono, técnicas de relaxamento Opióides: intoxicação O tratamento preconizado para intoxicação por opióides pode ser resumido da seguinte forma: ● Manutenção dos sinais vitais, controle da pressão, temperatura e outras alterações autonômicas e suporte ventilatório. ● Caso haja edema pulmonar, não usar diuréticos, pois a fisiopatologia de edema está relacionada ao extravasamento do conteúdo vascular através nos capilares pulmonares, e não à sobrecarga volêmica. ● Naloxona: iniciar com 0,8 mg, EV, e repetir a dose a cada 15 minutos, até o máximo de 32 mg ou resposta satisfatória (midríase e melhora do nível de consciência) Opióides: síndrome de abstinência É preconizado o uso de metadona 10 mg. A dose total de metadona nas primeiras 24 horas, que raramente é maior do que 50 mg, é definida como a dose de estabilização. No segundo dia, a última dose é dividida em duas. A dose total diária de metadona é então reduzida em variações de 5 mg/dia, até que se complete a retirada. Após a última dose de metadona, pode ser utilizada clonidina em uma dose de 0,3 a 1,2 mg, objetivando evitar ou aliviar os sintomas noradrenérgicos causados pela síndrome de abstinência Ansiedade, trauma e vítimas de violência Os transtornos ansiosos são basicamente de abordagem ambulatorial. Reservam-se à emergência casos de agudização da ansiedade, com desconforto respiratório, palpitações, sensação de perda de controle, tremores exacerbados, entre outros, muitas vezes fechando diagnóstico de crise ou ataque de pânico. O primeiro passo sempre é descartar sintomas ansiosos secundários a doenças físicas. Uma vez descartado, deve-se tentar sempre a conduta não medicamentosa , como respiração lenta e profunda, técnicas cognitivo-comportamentais, técnicas de neurofeedback, entre outros. As medicações só deverão ser utilizadas em casos de sintomas intensos, com falha de outras medidas e/ou recorrência dos sintomas nas últimas horas ou dias. Entretanto, a escolha pela medicação deve sempre considerar, além dos efeitos colaterais, o início de ação, que muitas vezes é superior à remissão espontânea da crise ansiosa, como ocorre nas crises de pânico. A prescrição de antidepressivos deve ser limitada ao ambulatório, visto que requer acompanhamento. Sugestões de medicações para crise de ansiedade / TEPT na emergência ● Alprazolamcomprimidos (1,5-6mg), intervalo de 8, 12 ou 24 h ● Bromazepam comprimidos ou solução oral, intervalo de 12 ou 24 h ● Clonazepam comprimidos ou solução oral (0,5-6mg), intervalo de 6, 8, 12 ou 24 h ● Cloxazolam comprimidos, intervalo de 12 ou 24 h ● Diazepam comprimidos (5-30mg), intervalo de 24 h Situação do primeiro atendimento de vítimas de grandes catástrofes Quando um clínico se defronta com um paciente que vivenciou trauma significativo, as principais abordagens são: apoio, encorajamento para discutir o evento e educação sobre uma variedade de mecanismos de enfrentamento como relaxamento. Ao encorajar as pessoas a falarem sobre o que aconteceu, é imperativo que o clínico lhes possibilite avançar conforme o próprio ritmo. Algumas não estarão dispostas a falar até que o evento tenha passado, e sua vontade deve ser respeitada. Pressionar a pessoa aumenta o risco de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) em vez de reduzir. Um apoio adicional para o paciente e a família poderá ser obtido por meio de grupos de apoio local ou nacional para pessoas com TEPT. Um indivíduo que sofre evento traumático grave ou aquele revitimizado deve ser submetido a tratamento bastante integrado, nos quais todos os aspectos de sua saúde física e mental estejam contemplados. O tratamento do TEPT inclui tanto medicações quanto tratamento em psicoterapia. O terapeuta precisa ser habilitado para, junto com o paciente, focar nos detalhes do evento traumático e auxiliar para que o paciente possa processar cognições, emoções e reações somáticas e memórias relacionadas com o evento. O efeito de melhora ocorre quando o paciente consegue solucionar e integrar a vivência traumática e mudar de perspectiva quanto ao trauma sofrido. Os sintomas diminuem ou até mesmo remitem por completo. Com relação à psicofarmacologia, as melhores evidências de eficácia medicamentosa no tratamento do TEPT são para os antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, seguidos pelos inibidores de recaptação de serotonina e norepinefrina e, ainda com poucas evidências, mirtazapina e tricíclicos. Estratégias de potencialização com antipsicóticos atípicos e prazosina (agente antiadrenérgico) podem ser recomendadas segundo alguns guias de tratamento, mas não indicadas em outros, pois não há consenso. Importante salientar que as medicações devem ser prescritas nos ambulatórios clínicos que ofereçam o tratamento habitual, pois existe resposta às medicações, mesmo que limitada. Os benzodiazepínicos são contraindicados na fase imediatamente posterior ao trauma , a qual está relacionada com a fixação de memórias traumáticas. Em fases posteriores, não mostraram benefícios para reduzir sintomas de hipervigilância e revivescência, e não devem ser associados nos casos em que há comorbidade com uso abusivo de substâncias. Os primeiros socorros psicológicos parecem ser a alternativa segura de intervenção preventiva nessas situações. O conhecimento do TEPT precisa evoluir para a compreensão dos fatores de risco e resiliência para que se possa trabalhar com a prevenção desse transtorno de alta prevalência. SÍNDROME NEUROLÉPTICA MALIGNA (SNM) O tratamento da SNM deve seguir dois princípios básicos: ● Suspensão imediata do antipsicóticos. ● Internação em unidade de terapia intensiva com o objetivo de garantir estabilidade hemodinâmica, corrigir eventuais distúrbios hidroeletrolíticos, controlar a hipertermia e fornecer hidratação vigorosa. Uma das consequências mais importantes dessas medidas é a diminuição da rigidez muscular, reduzindo assim o risco de rabdomiólise e consequente insuficiência renal aguda. SÍNDROME SEROTONINÉRGICA (SS) Prevenção da SS A medida mais importante para SS é a prevenção. Os médicos devem evitar prescrever o uso combinado de antidepressivos ou de associar antidepressivos a outras medicações serotoninérgicas, como opioides. As trocas entre antidepressivos devem respeitar o período de washout, (intervalo entre a suspensão de um medicamente e a introdução de outro), principalmente quando se trata de inibidores irreversíveis da monoaminoxidase. Retirada das medicações A principal medida para o tratamento da SS já estabelecida é a retirada imediata de todas as medicações com ação serotoninérgica. A maior parte dos sintomas da SS remitem espontaneamente em até 24 horas, e uma minoria deles necessitará de suporte clínico e psiquiátrico. Por ser uma condição dose-dependente, os casos graves são aqueles que ingeriram a maior quantidade de medicamento ou que são metabolizadores lentos para aquela medicação. Raramente, em casos extremos, o indivíduo pode necessitar de internação em unidade de terapia intensiva, devido rebaixamento do nível de consciência e instabilidade hemodinâmica. Suporte clínico e ciproeptadina Dentre as medidas de suporte clínico para o tratamento da SS grave, estão: Controle pressórico: crises hipertensivas podem requerer tratamento com nitroprussiato, uma vez que agentes de ação prolongada, como propranolol, não devem ser usados pelo risco de hipotensão e de mascarar a taquicardia. Pacientes hipotensos devem receber hidratação vigorosa e casos graves podem requerer o uso de drogas vasoativas. Controle da hipertermia: minimizar o excesso de atividade muscular e o resfriamento são medidas que podem ser usadas para tratar a hipertermia. Antipiréticos não são úteis nestes casos, por se tratar de um aumento da atividade muscular e não de uma desregulação hipotalâmica. Para temperaturas superiores a 41°C, o paciente deve ser sedado, paralisado com um agente despolarizante, como o vecurônio ou rocurônio, e intubado. Succinilcolina não deve ser usada devido a risco de hipercalemia e possível agravamento da rabdomiólise12. Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos. Antagonistas 5HT2: casos refratários podem ser tratados com ciproeptadina, um antagonista serotoninérgico. A dose inicial recomendada é de 12 mg, seguidos de 2 mg a cada 2 horas, até estabilização clínica. A dose máxima preconizada é de até 32 mg/dia. Pacientes que não apresentarem melhora poderão receber uma dose de manutenção de 8 mg a cada 6 horas, até controle dos sintomas. Agitação psicomotora na SS A principal medida de suporte psiquiátrico para o tratamento da SS grave é o controle da agitação psicomotora. Nestes casos, os BZD são a medicação de escolha, como lorazepam, diazepam ou midazolam. Deve-se evitar ao máximo a contenção física, pelo risco de rabdomiólise. Episódio psicótico Psicose é um estado mental no qual o indivíduo apresenta um prejuízo claro do teste de realidade, considerando seus próprios pensamentos e fantasias como acontecimentos reais, independentemente da verificação objetiva e tendo como consequência a criação de uma nova realidade particular. A psicose em si não é uma emergência, mas pode se constituir se os sintomas ocasionarem agressividade, agitação psicomotora e ideação suicida ou homicida. A tarefa do psiquiatra é identificar a causa e possíveis fatores desencadeantes. Em vários países, serviços de emergência psiquiátrica frequentementesão o primeiro contato com o sistema de saúde ou a principal fonte de encaminhamento para tratamento de pacientes em primeiro episódio psicótico. Algumas características inerentes aos atendimentos de emergência psiquiátrica podem interferir na precisão do diagnóstico. Geralmente, o diagnóstico psiquiátrico em contexto de emergência é elaborado com base em uma avaliação única, em um corte transversal e sem informações adicionais de acompanhantes. Além disso, não há a possibilidade de seguimento do paciente, perdendo-se, com isso, a observação da evolução do quadro clínico. ▶Epidemiologia No Brasil, estudo realizado na cidade de São Paulo verificou que serviços de emergência foram o primeiro contato com o sistema de saúde em cerca de 70% dos pacientes em primeiro episódio psicótico, 39% e em 50% dos casos esse contato é feito em até 4 semanas do início dos sintomas psicóticos. ▶Avaliação Na avaliação desse tipo de paciente, é de fundamental importância a diferenciação entre os dois grandes grupos de síndromes com sintomatologia psicótica, psicoses orgânicas e psicoses funcionais, bem como para avaliação de fatores auxiliares para o diagnóstico mais assertivo possível. Deve-se saber sobre o curso da psicose (se abrupto ou insidioso), sinais e sintomas e uso de substâncias psicoativas. Diagnósticos diferenciais do episódio psicótico. Médicos e neurológicos ● Induzidos por substâncias: anfetamina, alucinógenos, alcaloides da beladona, alucinose alcoólica, abstinência de barbitúricos, cocaína, fenciclidina (PCP) ● Epilepsia: especialmente epilepsia do lobo frontal ● Neoplasias, doença cerebrovascular ou trauma: especialmente frontal ou límbico ● Outras condições: porfiria intermitente aguda, AIDS, deficiência de vitamina B12, envenenamento por monóxido de carbono, lipoidose cerebral, doença de Creutzfeldt-Jakob, doença de Fabry, doença de Fahr, doença de Hallervorden-Spatz, envenenamento por metais pesados, encefalite herpética, homocistinúria, doença de Huntington, leucodistrofia metacromática, neurossífilis, hidrocefalia de pressão normal, pelagra, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Wernicke-Korsakoff, doença de Wilson Psiquiátricos ● Psicose atípica, transtorno autista, transtorno psicótico breve, transtorno delirante, transtorno factício com sinais e sintomas predominantemente psicológicos, simulação, transtornos do humor, adolescência normal, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos da personalidade – esquizotípica, esquizoide, borderline, paranoide; transtorno esquizoafetivo; transtorno esquizofreniforme Fatores auxiliares do diagnóstico da síndrome psicótica. Curso ● Início abrupto dos sintomas, duração de dias, sem pródromos: pensar em transtorno afetivo. Frequentemente induzida por drogas ou secundária à condição clínica ● Início insidioso, duração de semana ou meses, com pródromo: esquizofrenia, transtorno delirante, retardo mental Sinais e sintomas associados ● Sintomas maníacos e/ou depressivos: transtorno do humor ou esquizoafetivo ● Sinais neurológicos focais, alteração do sensório, déficit de memória, cefaleia, crises epilépticas, febre, alteração de peso: epilepsia, massa intracraniana, acidente vascular encefálico (AVE), demência, trauma cranioencefálico (TCE) ● Doenças infecciosas (AIDS, sífilis, herpes, meningite) ● Doenças inflamatórias, endócrinas e neoplasias Uso de substâncias psicoativas ● Drogas de abuso, intoxicações e abstinência: anfetaminas, cocaína, maconha, álcool, alucinógenos ● Medicamentos: agonistas dopaminérgicos, cimetidina, teofilina, opióides, hipnóticos A entrevista com a família é importante para obter dados objetivos para determinar a extensão do problema, o comprometimento funcional do paciente e os riscos existentes, e é de grande auxílio na obtenção de dados de episódios prévios. ▶Manejo Deve-se identificar e tratar o fator desencadeante. Inicialmente devemos hierarquizar o atendimento e focar no sintoma que oferece maior risco, como priorizar o tratamento da agitação psicomotora, com medidas comportamentais e farmacológicas já mencionadas. É importante ressaltar que um paciente paranóide e hipervigilante pode perceber de modo equivocado a oferta de ajuda de um membro da equipe como agressão e partir para o ataque em autodefesa. Alucinações auditivas de comando podem fazer o paciente negar sintomas e jogar receitas médicas no lixo logo após deixar o setor de emergência. Deve evitar o uso de celulares e fazer anotações adiáveis durante a entrevista, sob o risco de interpretações delirantes. Para o tratamento da agitação psicomotora, deve-se dar prioridade aos antipsicóticos típicos ou atípicos, conforme recomendado no item sobre agitação. Os pacientes sem indicação de internação, após resolução do quadro agudo, devem ser encaminhados para tratamento psiquiátrico com a prescrição inicial do antipsicótico mais adequado a sua sintomatologia, a eventuais comorbidades e a sua realidade financeira. Transtornos do humor Emergências nos transtornos do humor. Episódio depressivo na depressão maior ● Descartar doença orgânica ou comorbidade, avaliar estado nutricional, avaliar risco de suicídio, avaliar sintomas psicóticos. Definir o local de tratamento e acompanhamento. A conduta antidepressiva só deverá ser iniciada no local se a mesma equipe fizer o acompanhamento longitudinal e a longo prazo Episódio depressivo bipolar ● Idem “Episódio depressivo na depressão maior”. Medicações sugeridas: lítio, lamotrigina, quetiapina, lítio ou divalproato + ISRS, olanzapina + ISRS, lítio + divalproato, lítio ou divalproato + bupropiona Episódio de mania ● Descartar doença orgânica ou comorbidade. Avaliar critérios de internação. Descartar doença orgânica ou comorbidade, avaliar estado nutricional, avaliar sintomas psicóticos, avaliar estado de agitação e agressividade. Medicações sugeridas: lítio, divalproato, divalproato ER, olanzapina, risperidona, quetiapina, aripiprazol, ziprasidona, asenapina, paliperidona, lítio ou divalproato + risperidona ou quetiapina ou olanzapina ou aripiprazol ou asenapina. Episódio misto do humor ● Descartar doença orgânica ou comorbidade, avaliar estado nutricional, avaliar risco de suicídio, avaliar sintoma psicótico, avaliar estado de agitação e agressividade. Medicações sugeridas: idem “Episódio de mania” Aspectos éticos e legais Em relação aos aspectos éticos e legais do atendimento das emergências psiquiátricas, alguns documentos são de referência: Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) no 2.057/2013, Lei no 10.216/2001 e Código de Ética Médica. Uma grande ressalva ética que deve ser considerada no atendimento de emergências é que nenhum estabelecimento de hospitalização ou de assistência médica em geral, público ou privado, poderá recusar atendimento médico sob a alegação de que o paciente seja portador de doença mental. Como consta nos documentos mencionados e em diversos outros, os portadores de transtorno psiquiátrico devem ser tratados sem diferencial perante outros. Uma atitude frequente e que deve ser evitada é sobrepor a doença mental perante outras doenças e queixas físicas, muitas vezes, o real motivo da buscapelo atendimento. Um aspecto importante das emergências é o consentimento. Considerando a necessidade de avaliação rápida, condutas imediatas em pacientes agudizados e na maioria das vezes sem crítica e em risco à vida, alguns cuidados devem ser tomados. No artigo 14 da Resolução CFM no 2.057/2013 consta que quando não é possível a obtenção do consentimento, as condutas devem ser caracterizadas e justificadas em prontuário sob a justificativa de evitar danos imediatos ou iminentes ao paciente ou a terceiro. Além disso, deve-se buscar o consentimento do responsável legal. Por sua vez, é dever do médico respeitar e garantir o direito ao sigilo profissional de todas as pessoas com doença mental sob sua responsabilidade profissional, exceto nas situações previstas em lei ou no Código de Ética Médica, como quando o sigilo pode colocar o paciente e/ou terceiros em risco. É muito importante que a falta de crítica do paciente, estados de agitação ou intoxicação, tenham igual cuidado na preservação do sigilo como qualquer outra situação. Por fim, os de internação por doença mental são previstos na Lei no 10.216/2001: internação voluntária, isto é, com o consentimento do paciente; involuntária: sem seu consentimento; e compulsória, quando determinada pela Justiça. A internação involuntária requer apenas a indicação médica, porém deve ser minuciosamente registrada em prontuário e os órgãos competentes como o Ministério Público devem ser comunicados da entrada e saída do paciente. Uma dúvida sempre presente e importante é definir quais são as indicações de internação que podem ser justificadas mesmo sendo involuntárias (Resolução CFM no 2.057/2013): incapacidade grave de autocuidados; risco à vida ou de prejuízos graves à saúde; risco de autoagressão ou de heteroagressão; risco de prejuízo moral ou patrimonial; risco de agressão à ordem pública. Para finalizar, a avaliação psiquiátrica deve ter respondido cinco questões antes que se decida um planejamento: ● É seguro para o paciente estar no pronto-socorro? ● O problema é orgânico, funcional ou uma combinação dos dois? ● O paciente está psicótico? ● O paciente está suicida ou homicida? ● Até que ponto o paciente é capaz de cuidar de si mesmo?